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Direito e Sociedade
da Informação
Sumário
CAPÍTULO 2 – Marco regulatório da internet.....................................................................05
2 Inclusão digital............................................................................................................06
6 Privacidade e intimidade...............................................................................................10
7 Neutralidade da rede...................................................................................................12
11 Sistema de responsabilidade........................................................................................17
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Capítulo 2
Marco regulatório da internet
Podemos dizer que figuram como as principais finalidades do Marco, em um primeiro momento,
a regulação do uso da internet no Brasil e, em um segundo momento, o incentivo à inclusão di-
gital. A presença desta lei no nosso ordenamento jurídico reforça as garantias constitucionais do
cidadão, reafirmando e assegurando o seu direito à expressão, à comunicação e à manifestação
de pensamento. Assim, o Marco Civil preza: a) pela defesa da liberdade de expressão; b) pela
privacidade; c) pela intimidade; e d) pelo acesso à informação, à segurança e à responsabilida-
de dos agentes de acordo com suas atividades e participações na rede representando inegável
vitória da cidadania (DE LUCCA, 2015, p. 26). Contudo, na visão de alguns estudiosos sobre
o tema, o Marco Civil poderia ter feito mais, pois avançou muito pouco na regulamentação do
tema e, em alguns momentos, determinou diretrizes que se não impossíveis, são muito difíceis de
se executar (PEREIRA GONÇALVES, 2017, p.12).
Sobre essa questão, é importante realizar a leitura dos artigos 2º e 4º do Marco civil, que tradu-
zem exatamente quais os fundamentos e objetivos da Lei, acompanhe:
Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade
de expressão, bem como: I – o reconhecimento da escala mundial da rede; II – os direitos
humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais;
III – a pluralidade e a diversidade; IV – a abertura e a colaboração; V – a livre iniciativa, a livre
concorrência e a defesa do consumidor; e VI – a finalidade social da rede.
Art. 4º A disciplina do uso da internet no Brasil tem por objetivo a promoção: I – do direito
de acesso à internet a todos; II – do acesso à informação, ao conhecimento e à participação
na vida cultural e na condução dos assuntos públicos; III – da inovação e do fomento à
ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso; e IV – da adesão a padrões
tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade
entre aplicações e bases de dados.
Além disso, a Lei em questão também faz a indicação de alguns termos que serão importantes
para o entendimento da nossa matéria, como consta do art. 5º abaixo transcrito, veja:
Art. 5º Para os efeitos desta lei, considera-se: I – internet: o sistema constituído do conjunto
de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito, com a
finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre terminais por meio de diferentes redes;
II – terminal: o computador ou qualquer dispositivo que se conecte à internet; III – endereço
de protocolo de internet (endereço IP): o código atribuído a um terminal de uma rede para
permitir sua identificação, definido segundo parâmetros internacionais; IV – administrador de
sistema autônomo: a pessoa física ou jurídica que administra blocos de endereço IP específicos
e o respectivo sistema autônomo de roteamento, devidamente cadastrada no ente nacional
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Direito e Sociedade da Informação
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2 Inclusão digital
Um dos pontos de bastante relevância e que está relacionado aos objetivos do Marco Civil da
Internet, é a questão da inclusão digital.
De acordo com o art. 4º da Lei, como já transcrevemos acima, a disciplina do uso da internet no
Brasil tem por objetivo, dentre outras questões, o direito de acesso à internet a todos.
É importante dizer que a Assembleia Geral da ONU (de 2011) alçou o direito ao acesso à inter-
net como um direito humano fundamental e o Brasil, por meio do Marco Civil da Internet, rea-
firma esse compromisso, apesar das críticas de alguns que entendem não ser adequado atrelar
um direito fundamental a uma tecnologia. O fato é que o acesso à internet foi considerado um
direito essencial e devemos assim encará-lo.
Nesse contexto, o art. 7º do Marco Civil da Internet ressalta que o acesso à internet é essencial
ao exercício da cidadania, assim, deve ser considerado como um direito do cidadão. Na vida
social, econômica e política pós-moderna, a internet e demais meios eletrônicos têm sido consi-
derados fundamentais, sendo reconhecidos como um mecanismo indispensável para o exercício
dos direitos e liberdades individuais. Tal situação nos faz pensar que se alguém é privado desse
acesso estará perdendo algo da sua cidadania.
Contudo, sabemos que, apesar da Lei se referir a esse direito de inclusão, nosso país não oferece
soluções e Políticas Públicas eficazes para que o cidadão possa alcançá-lo. Em um país com as
dificuldades econômicas, culturais e sociais em que vivemos, ainda temos que conviver com a
Nesse sentido, há também quem defenda a tese de que a exclusão voluntária é um direito que
deve ser respeitado, ou seja, apesar da Lei reconhecer o direito à inclusão digital, também
devemos respeitar o direito a não ter acesso à internet, ou mesmo o direito de exercer direitos
fundamentais, sem, entretanto, recorrer aos meios eletrônicos. Podemos então defender o direito
ao não acesso à internet? Esta é uma questão ainda em aberto e que muito se tem a discutir.
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Corroborando com a tese do direito à exclusão digital, Gonçalves (2015, p. 188) disserta que
existe um lado positivo e um lado negativo na exclusão. A exclusão digital é interligada à inclusão
digital. Assim, faz parte do direito à privacidade e liberdade do sujeito escolher se quer ou não
ter os seus dados incluídos na rede. Mas o que estamos vendo, de certa forma, é a impossibili-
dade do sujeito/cidadão escolher por total falta de opção tanto nos serviços públicos quanto nas
relações de mercado, como veremos a seguir.
Também é importante ressaltar que o art. 27 do Marco Civil da Internet volta a tratar da questão
da inclusão digital quando fala das iniciativas públicas de fomento à cultura e de promoção da
internet como ferramenta social, confira:
Art. 27. As iniciativas públicas de fomento à cultura digital e de promoção da internet como
ferramenta social devem:
I - promover a inclusão digital;
II - buscar reduzir as desigualdades, sobretudo entre as diferentes regiões do País, no acesso às
tecnologias da informação e comunicação e no seu uso; e
III - fomentar a produção e circulação de conteúdo nacional.
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Direito e Sociedade da Informação
A Constituição Federal de 1988 trata do Direito à informação no seu artigo 5º, incisos IV, XIV
e XXXIII, subdividindo-o em: 1) direito de informar (liberdade de pensamento); 2) direito de se
informar (acesso à informação); e 3) direito de ser informado (receber informação). Atualmente,
inclusive, podemos falar ainda que existe o direito a não ser informado, que estaria dentro da
última categoria, o direito de ser informado. Além disso, entendemos que o direito à informação
tem relevância essencial no exercício dos direitos fundamentais, pois possibilita que o cidadão
exerça seu direito de forma esclarecida e, preferencialmente, consciente. E, para que isso ocorra,
é necessário que a informação seja verdadeira (correta), clara (de fácil entendimento) e precisa
(sem ser prolixa). Trata-se de um direito difuso (CAVALCANTI, 2007, p. 144).
Já o conhecimento é o sentido e o significado que cada pessoa atribui a uma informação como
coisa (PEREIRA GONÇALVES, 2017, p. 48). O conhecimento requer o amadurecimento da in-
formação recebida.
Dessa forma, a informação pode ser um dado de qualquer natureza transmitido por qualquer
meio de comunicação (Lei de Acesso à Informação – Lei n. 12.527, de 2011, art. 4º, inciso I). E
o conhecimento depende do conteúdo da informação recebida, trata-se da construção do saber,
da produção de ideias, da noção sobre algo. Portanto, concluímos que disponibilizar informa-
ções gera conhecimento que, por sua vez, gera mais informações e assim por diante.
Porém, quando o art. 4º, inciso II, do Marco Civil da Internet trata do direito ao acesso à infor-
mação, podemos entender que esse é o direito ao acesso a todo registro ou banco de dados que
contenham informações que possam ser transmitidas a terceiros, sem esquecer, contudo, de que
tal direito encontra limitação no direito à privacidade do usuário, que será tema e objeto de um
item específico nesta unidade.
É importante ressaltar que existe no Brasil uma lei sobre o Direito ao Acesso à Informação (Lei
12.527, de 2011) que regulamentou o art. 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal de 1988,
que busca estabelecer regras de procedimento e transparência para a divulgação de dados e
informações aos cidadãos.
A Lei 12.965 (Marco Civil da Internet), de 2014, regulamentou as normas programáticas para
atuação dos poderes públicos no capítulo IV (arts. 24 e 25). Assim, podemos dizer que o Marco
Civil da Internet contribuiu para traçar diretrizes para a uniformização da atuação da União,
dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal quanto ao uso e desenvolvimento da internet
na relação pública, tratando do chamado “Governo Eletrônico” (E-Government), cujo objetivo
é melhorar e otimizar a gestão pública, propiciando um melhor acesso do cidadão aos serviços
públicos, com transparência e participação do cidadão (controle social). No entanto, novamente
salientamos que a Lei por si só não é eficaz para que tal objetivo seja alcançado, pois precisamos
de Políticas Públicas direcionadas para esse fim.
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Direito e Sociedade da Informação
X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de
internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de
guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei;
XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de conexão à internet e
de aplicações de internet;
XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais,
intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e
XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo
realizadas na internet.
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É importante ressaltar que os direitos aqui listados não são taxativos, ou seja, o rol apresentado
pela lei deve ser entendido como meramente exemplificativo, pois não podemos, por exemplo,
afastar também os direitos reconhecidos pelo Código do Consumidor. Trata-se, portanto, de
uma complementação às leis já existentes que possa, de alguma forma, abraçar os direitos dos
usuários da internet.
Verifica-se que os incisos descritos no artigo acima transcrito ressaltam, em sua maioria, o direito
à intimidade, privacidade, sigilo, qualidade do serviço contratado, informações adequadas a res-
peito dos contratos de prestação de serviços de internet, proteção e tratamento de dados pessoais,
acessibilidade e defesa da relação de consumo e aplicação das regras de defesa do consumidor.
6 Privacidade e intimidade
Uma das questões mais importantes do Marco Civil da Internet é, sem dúvida nenhuma, a prote-
ção dos direitos à privacidade e intimidade do usuário. Em diversos artigos a questão é suscitada
e, além disso, não podemos nos esquecer que a proteção da privacidade do usuário da internet
é um dos princípios da Lei, estabelecido no art. 3º, inciso III.
Ainda mencionando o art. 7º do Marco Civil da Internet, podemos verificar que há a proteção da
inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação. Nesse caso, houve nitidamente uma reafirmação dos direi-
tos já estabelecidos na Constituição Federal. Assim, as relações travadas na internet não podem
Apesar de serem termos com significado muito próximos, existe diferença entre intimidade e vida
privada. A intimidade é a esfera mais íntima e reservada do ser humano, é o que o indivíduo
tem de mais próprio, algo que se mistura aos pensamentos e sentimentos e que, geralmente, é
partilhado apenas e tão somente com pessoas muito próximas, como os familiares. Em regra, a
violação da intimidade ocorre pela divulgação de um segredo, por exemplo. Por outro lado, a
privacidade é aquilo que, apesar de ser íntimo, é partilhado pelo indivíduo com alguns sujeitos
de seu interesse, ou seja, diz respeito aos relacionamentos da pessoa, mesmo que de natureza
comercial ou profissional.
Segundo Lemos (2009, p. 159), o objeto do direito à privacidade engloba todos os direitos
relativos à esfera pessoal do indivíduo, como, por exemplo, o sigilo da correspondência, a in-
violabilidade do domicílio, a proteção dos dados pessoais, a honra e a imagem. Dessa forma, a
privacidade é o direito que tem o indivíduo de não ter exposto, de qualquer forma, fatos de sua
vida. Assim, a privacidade abrange aspectos pessoais, mas que se encontram mais próximos do
público, enquanto o direito à intimidade está mais concentrado nos aspectos personalíssimos da
privacidade, de caráter íntimo, familiar e pessoal, de maneira que a privacidade seria o gênero
e a intimidade uma espécie daquele, ou seja, um círculo menor dentro do círculo maior que é a
privacidade.
Entretanto, o direito à privacidade e à intimidade não pode ser encarado como um direito ab-
solutos. Com isso, esses direitos podem colidir com outros direitos fundamentais expressos na
nossa Constituição Federal, como, por exemplo, o direito à manifestação de pensamento, sendo
vedado o anonimato (art. 5º IV).
Para estudar a questão da intimidade e da privacidade no Marco Civil da Internet (art. 8º), não
podemos deixar de lado o direito à liberdade de expressão, elencado também como direito fun-
damental. Há aqui, sem dúvida nenhuma, uma colisão entre os direitos.
Por outro lado, não podemos pensar no direito à liberdade sem qualquer restrição. Um indiví-
duo tem direito a manifestar suas opiniões, pensamentos e sentimentos, mas deve ter em mente
que, ao exercer tal direito, poderá causar danos a outros e, por isso, deve ser responsabilizado
(MEYER-PFLUG, 2009, p. 82).
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Direito e Sociedade da Informação
Para salientar como a questão é tratada no Marco Civil da Internet, transcrevemos abaixo o
art. 8º, que trata da questão da privacidade e liberdade de expressão como elementos funda-
mentais para a inclusão digital, veja:
Da leitura do artigo, percebe-se, portanto, que sua grande preocupação é, na verdade, a ques-
tão do acesso à internet. Posto que, a proteção da privacidade e liberdade estão bem esclareci-
das no art. 7º, já mencionado anteriormente. Assim, o que fica realmente para analisarmos como
mais vagar é o direito ao acesso à internet.
Apesar da Lei estabelecer este direito, “acesso à internet”, sabemos que somente ocorrerá a sua
eficácia quando tivermos Políticas Públicas adequadas para tanto. Trata-se, portanto, de outro
artigo da Lei que coloca a inclusão digital como direito fundamental do cidadão.
7 Neutralidade da rede
O termo “neutralidade” sempre esteve atrelado ao direito concorrencial e existe em mercados
concentrados, regulados ou com grandes barreiras de entrada, como é o caso de setores elé-
tricos, ferroviários, de água, de saneamento e de telecomunicações. Ou seja, de empresas que
detêm poder de controle. Assim, a neutralidade, nesse contexto, tem como intuito estabelecer
condições igualitárias entre os concorrentes, a fim de se respeitar regras de concorrência e a
defesa do consumidor (PEREIRA GONÇALVES, 2017, p. 89).
No que tange à neutralidade da rede, o art. 9º do Marco Civil da Internet trata do assunto como
um princípio que sugere que o usuário tenha o direito de acessar a informação que quiser, com
liberdade e igualdade. Ou seja, não importa o conteúdo, origem ou destino, os dados devem ser
tratados de forma isonômica. Dessa forma, leva-se em conta a autonomia do usuário na escolha
do que deseja acessar.
De acordo com Ramos (2015, p. 138), a neutralidade da rede é endereçada aos provedores de
acesso e propõe o dever que o provedor tem de tratar pacotes de dados que trafegam em suas
redes de forma isonômica. Existem ao menos três formas de discriminar um conteúdo: bloque-
ando, reduzindo a velocidade ou cobrando preço diferenciado para o acesso à determinado
conteúdo, como corre nos contratos de TV a cabo, por exemplo.
Lembramos que no modelo de internet livre não há ingerência sobre o que será visualizado pelo
internauta. Diferentemente do que ocorre nos países que limitam, de forma política, o acesso ao
conteúdo na internet para seus cidadãos (como na China). Por outro lado, muitos defendem que
a neutralidade, como determinada pelo Marco Civil, dificulta a liberdade contratual dos prove-
dores de acesso, desestimulando inovações na área, acompanhe:
Art. 9º. O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de
forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino,
serviço, terminal ou aplicação.
§ 1º A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada nos termos das atribuições
privativas do Presidente da República previstas no inciso IV do art. 84 da Constituição Federal,
para a fiel execução desta Lei, ouvidos o Comitê Gestor da Internet e a Agência Nacional de
Telecomunicações, e somente poderá decorrer de:
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Percebe-se, entretanto, na leitura do parágrafo 3º do Marco Civil, que os dados cadastrais que
informam qualificação pessoal, filiação e endereço, na forma da Lei e pelas autoridades admi-
nistrativas com competência para tal, não caracterizam violação ao direito do sigilo e da priva-
cidade do usuário. Esses dados foram considerados não sensíveis, e a Lei não determinou que
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Direito e Sociedade da Informação
Outra questão também bastante relevante é a que trata da territorialidade, competência legal
e judicial para o tráfego de dados na internet. Assim, de acordo com o art. 11 da Lei que regu-
lamenta o Marco Civil da Internet, em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e
tratamento de registros de dados pessoais em que pelo menos um ato ocorra no território na-
cional, deverá ser aplicada a legislação brasileira. Assim, havendo tráfego de dados em servidor
brasileiro, deverá ser aplicada a lei brasileira para julgar e dirimir eventuais conflitos, sem esque-
cer, todavia, da aplicação das regras internacionais relacionadas aos direitos humanos (Tratados,
Declarações e Convenções), veja:
Art. 12. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas, as infrações
às normas previstas nos arts. 10 e 11 ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções,
aplicadas de forma isolada ou cumulativa:
I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas;
II - multa de até 10% (dez por cento) do faturamento do grupo econômico no Brasil no seu
último exercício, excluídos os tributos, considerados a condição econômica do infrator e o
princípio da proporcionalidade entre a gravidade da falta e a intensidade da sanção;
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Da leitura do art. 13 chamamos a atenção para o parágrafo 2º, que possibilita à autoridade po-
licial ou administrativa, ou mesmo o Ministério Público, requerer cautelarmente que os registros
de conexão sejam guardados por prazo superior a um ano, porém a Lei não estabelece normas
para este procedimento, deixando uma lacuna importante na questão. Verifica-se na doutrina
fortes críticas a este artigo.
Contudo, é importante ressaltar que o mesmo artigo, no parágrafo 5º, indica a necessidade de
autorização judicial para o acesso a tais dados.
Ainda em tempo e para esclarecer o temo usado, “provedor de conexão à internet” é a pessoa
física ou jurídica que atribui endereço de acesso aos usuários para se utilizarem das redes de
informação e comunicação (PEREIRA GONÇALVES, 2017, p. 131).
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Assim, provedor de aplicação de internet é a pessoa jurídica que presta serviços ou comer-
cializa produtos na internet. Ou seja, trata-se da empresa que presta o serviço de internet, que
realiza determinada função estipulada pelo provedor (PEREIRA GONÇALVES, 2017, p. 134). Po-
demos aplicar esta definição de aplicação de internet para o Facebook, por exemplo, que pode
ser obrigado judicialmente a fornecer os dados do usuário responsável pela criação de um perfil
falso que contém conteúdo ofensivo a outrem.
De acordo com o art. 14 do Marco Civil da Internet, na provisão onerosa ou gratuita, é vedado
guardar os registros de acesso a aplicações de internet. Contudo, no caso do provedor de apli-
cação ser pessoa jurídica que exerça essa atividade de forma profissional e lucrativa, os registros
devem ser mantidos por período de seis meses, de forma sigilosa (conforme art. 15 transcrito
abaixo), observando-se as regras da lei:
Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que
exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá
manter os respectivos registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente
controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.
§ 1º Ordem judicial poderá obrigar, por tempo certo, os provedores de aplicações de internet
que não estão sujeitos ao disposto no caput a guardarem registros de acesso a aplicações de
internet, desde que se trate de registros relativos a fatos específicos em período determinado.
§ 2º A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público poderão requerer
cautelarmente a qualquer provedor de aplicações de internet que os registros de acesso a
aplicações de internet sejam guardados, inclusive por prazo superior ao previsto no caput,
observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 13.
§ 3º Em qualquer hipótese, a disponibilização ao requerente dos registros de que trata este
artigo deverá ser precedida de autorização judicial, conforme disposto na Seção IV deste
Capítulo.
§ 4º Na aplicação de sanções pelo descumprimento ao disposto neste artigo, serão considerados
a natureza e a gravidade da infração, os danos dela resultantes, eventual vantagem auferida
pelo infrator, as circunstâncias agravantes, os antecedentes do infrator e a reincidência.
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E, finalmente, o art. 17 estabelece uma regra, no mínimo, contraditória, pois possibilita que os
provedores de aplicação de internet possam optar por não guardar os registros de acesso às suas
aplicações, desde que não se enquadrem nas hipóteses previstas pela Lei em questão. No entanto,
o artigo deixa claro que a responsabilidade é de quem usa a internet (terceiro) e não do provedor,
mesmo que o provedor não tenha guardado os registros, confira: “Art. 17. Ressalvadas as hipó-
teses previstas nesta Lei, a opção por não guardar os registros de acesso a aplicações de internet
não implica responsabilidade sobre danos decorrentes do uso desses serviços por terceiros”.
11 Sistema de responsabilidade
Como já nos referimos anteriormente, importante questão é a que envolve a responsabilidade
dos sujeitos envolvidos na internet.
De acordo com o art. 18 do Marco Civil da Internet, os provedores de conexão à internet não
podem ser responsabilizados civilmente por danos decorrente de conduta gerada por terceiros
(usuários), já que o provedor apenas oferece o meio de comunicação entre os usuários, acompa-
nhe: “Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”.
Porém, a Lei não esqueceu das situações em que o Provedor pode ser responsabilizado. Trata-se
da situação da responsabilidade subsidiária do provedor de aplicações de internet por danos
causados por terceiros.
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Nesse caso, o art. 19 ressalta a responsabilidade do provedor nos casos em que este não toma
as medidas necessárias e advindas de ordem judicial, desde que seja algo que esteja relacionado
às suas atividades e possibilidades. Assim, nessa situação, a responsabilidade dos provedores
só se inicia a partir da notificação e recebimento da ordem judicial. Recomenda-se fortemente a
leitura do artigo em questão para melhor entendimento da matéria:
Posteriormente, o art. 21 do Marco Civil da Internet trata de uma questão bastante importante,
qual seja, a retirada de conteúdo pornográfico, atos sexuais ou de nudez mediante notificação
extrajudicial, sob pena de ser considerado também responsável (subsidiariamente) pela violação
dos direitos à intimidade e privacidade.
Assim, trata-se de hipótese em que o provedor deve agir mesmo que não haja decisão judicial
sobre o assunto. Aqui, basta que o usuário que executou o requerimento de retirada do conteúdo
divulgado não tenha dado autorização para sua publicação.
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros
será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação,
sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo
cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação
pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito
e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos
que permitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do
participante e a verificação da legitimidade para apresentação do pedido.
Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório em
processo judicial cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que
ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de registros de conexão ou de registros de
acesso a aplicações de internet.
Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos legais, o requerimento deverá conter, sob
pena de inadmissibilidade:
I - fundados indícios da ocorrência do ilícito;
II - justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de investigação ou
instrução probatória; e
III - período ao qual se referem os registros.
Art. 23. Cabe ao juiz tomar as providências necessárias à garantia do sigilo das informações
recebidas e à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do usuário,
podendo determinar segredo de justiça, inclusive quanto aos pedidos de guarda de registro.
i) Educação digital (art. 26 +art. 27 + art. 29 parágrafo único). Fazendo parte do direito-dever
de educação previsto na Constituição Federal em todos os níveis de ensino, a inclusão digital
somente será possível se houver nas escolas e demais instituições de ensino a possibilidade do
seu uso e aprendizado. A capacitação adequada faz parte também da profissionalização do in-
divíduo, situação que lhe dará melhores condições de empregabilidade. Mas não só isso, a edu-
cação digital também deve desenvolver no usuário o senso de responsabilidade e consciência,
fazendo com que a internet seja encarada como uma ferramenta para o exercício da cidadania,
promoção da cultura e desenvolvimento tecnológico.
ii) Acessibilidade (art. 25). O inciso II do art. 25 ressalta a importância da acessibilidade digital.
Leva-se em consideração os direitos da pessoa com deficiência, em especial, os descritos na Lei
Brasileira de Inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que determina a todos, sociedade,
família, Poder Público e entidades privadas, a obrigação de respeitar o princípio da prioridade,
que assegura o atendimento adequado a essas pessoas, eliminando as barreiras que impedem
a inclusão.
iii) Controle parental (art. 29 + art. 21). Como parte do exercício do Poder Familiar, obrigação
de educar e do princípio do melhor interesse do menor, importante é o artigo que traz a possi-
bilidade dos pais ou representante legal interferir no conteúdo de acesso de pessoas menores,
respeitando-se os princípios estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Tal medida
é de vital importância para afastar perigos constantes na rede, como o caso de pedofilia. Apesar
da posição louvável da Lei, não há indicação a respeito das responsabilidades e medidas práti-
cas que favoreçam esse controle.
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Direito e Sociedade da Informação
Fonte: Shutterstock
DE LUCCA, Newton. Marco Civil da Internet – uma visão panorâmica dos principais aspectos
relativos às suas disposições preliminares. In: DE LUCCA, Newton; SIMÃO FILHO, Adalberto;
LIMA, Cintia Rosa Pereira de (Orgs.). Direito & Internet III, tomo I. São Paulo: Quartier Latin,
2015, p. 23-76.
LEMOS, Ronaldo, Uma breve história da criação do Marco Civil. In: DE LUCCA, Newton; SIMÃO
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Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 79-100.
LEONARD, Marcel. Marco civil da internet e proteção de dados pessoais. In: DE LUCCA, Newton;
SIMÃO FILHO, Adalberto; LIMA, Cintia Rosa Pereira de (Orgs.). Direito & Internet III, tomo I.
São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 515-536.
PEREIRA GONÇALVES, Victor Hugo. Direito fundamental à exclusão digital. In: DE LUCCA,
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PODESTA, Fabio Henrique. Marco civil da internet e direitos da personalidade. In: DE LUCCA,
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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2008.
SILVA, Rosane Leal da. A atuação do Poder Público no Desenvolvimento da Internet: das
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Newton; SIMÃO FILHO, Adalberto; LIMA, Cintia Rosa Pereira de (Orgs.). Direito & Internet III,
tomo I. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 207-234.
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