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DIREITO DO CONSUMIDOR P1 hipossuficiência a critérios de direito

PROF JOAO VICENTE processual.

As características são retiradas da sua base legal  – Espécies de vulnerabilidade pelo STJ
a Lei nº 8.078. -Técnica: é a falta de conhecimentos técnicos
1°) O CDC é norma de ordem pública do produto que foi adquirido ou do serviço
contratado.
Ser norma de ordem pública significa ser
de aplicação cogente, ou seja, é uma norma -Jurídica: é a falta de conhecimentos jurídicos,
obrigatória e não uma norma meramente o STJ amplia para os conhecimentos contábeis.
programática. Esta característica repercute na -Real/ fática: pode ser exemplificado por um
prática, pois se é de ordem pública, o juiz exercício de monopólio do fornecedor, em que
poderá de ofício conhecer uma abusividade no só ele vende aquele produto ou presta aquele
contrato de consumo. serviço. 
O juiz poderá conhecer de ofício uma cláusula Também ocorre nos casos de poder financeiro
abusiva em qualquer espécie de contrato? Sim, muito maior do que do consumidor.
salvo no contrato bancário conforme súmula
381 do STJ “Nos contratos bancários, é vedado –Informacional: os consumidores são
ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade prejudicados com a falta de informação clara e
das cláusulas.” precisa do produto que está sendo contratado ou
Esta súmula é um contrassenso para este direito do serviço que está sendo adquirido.
primordial ao consumidor por vedar o
conhecimento de ofício do juiz as abusividades
das cláusulas dos contratos bancários, sendo  4°) Multidisciplinar
necessário o requerimento da parte lesada. O CDC é composto por uma variedade de
disciplinas diferentes como o Código civil,
2°) Norma de interesse social Direito administrativo, Direito penal, Direito
É ser uma lei de função social, ou seja, tem processual civil. Ou seja, é uma norma
como função preocupar-se com os interesses multidisciplinar que possui reflexos nos mais
individuais e da coletividade ou diversos ramos do Direito.
metaindividuais.
5°) Norma principiológica
Por exemplo, a relação do consumidor e o
fornecedor com interesses individuais. No É uma norma que estabelece fins a serem
entanto, essa relação não pode ferir interesses de alcançados e que veicula valores. 
terceiros. Como exemplo, o parágrafo único, do
Art.2° do CDC preocupa-se com a coletividade
ao equipará-la com o consumidor.
Outro exemplo está no art.6°, inciso VI, do
CDC que estabelece a reparação do dano moral A vulnerabilidade do consumidor
individual, coletivo e difuso. Ou seja, o Código
se preocupa com o dano coletivo. A vulnerabilidade é um conceito de
direito material, desta forma não se
3°) Microsistema jurídico relaciona a critérios processuais. Isso
significa que há uma realidade na relação
Essa lei ordinária é considerada um de consumo. O consumidor é a parte
microssistema jurídico, o que significa dizer que vulnerável na relação de consumo e não há
o Código nasce para tutelar o elo mais fraco na nenhuma excludente que possa retirar tal
relação de consumo, que é o vulnerável. A característica.
vulnerabilidade é a principal característica
do consumidor.  Portanto, é um Ainda no que tange a vulnerabilidade, a
microssistema jurídico porque nasce pra doutrina aponta três vertentes desse
tutelar o desigual. conceito:
Cuidado! Não confunda vulnerabilidade com a) Vulnerabilidade técnica: É o
hipossuficiência! desconhecimento, por parte do
consumidor, das características do
A vulnerabilidade está ligada a critérios de produto/serviço. Essa vulnerabilidade
direito material, enquanto que a decorre da não participação do consumidor
do processo de produção, distribuição ou Ainda no tocante a hipossuficiência outro
comercialização do bem, participando critério adotado, é aquele previsto na lei de
apenas da última etapa do processo de assistência judiciaria
fornecimento de um bem de consumo, que
é o consumo propriamente dito. A
vulnerabilidade informacional pode ser 4. Conclusão
considerada como espécie de
vulnerabilidade técnica, é considerada a Numa interpretação logico-sistemática do
falta de informação. Direito do Consumidor, é certo que todo
consumidor é vulnerável mas nem todo
consumidor é hipossuficiente. Desta forma,
b) Vulnerabilidade jurídica: É o quanto a hipossuficiência há uma
desconhecimento, por parte do presunção relativa da mesma, isto é,
consumidor, dos direitos e deveres da admite-se prova em contrário. Porém no
relação jurídica de consumo. Para Claudia tocante a vulnerabilidade, há uma
Lima Marques, essa espécie de presunção absoluta.
vulnerabilidade, denominada jurídica ou Sendo assim, importante que os conceitos
científica, também inclui a ausência de não sejam trocados até mesmo porque as
conhecimentos de economia ou de diferenças entre os conceitos são
contabilidade. substanciais.
c) Vulnerabilidade econômica ou fática: O
consumidor é frágil diante do fornecedor,
seja em razão do forte poder econômico do
fornecedor, seja em razão do fornecedor
deter o monopólio fático ou jurídico da
relação, ou seja, em razão de esse
fornecedor desenvolver uma atividade
considerada essencial.

Outro ponto a ser esclarecido: a vulnerabilidade


é inerente ao consumidor, mas pode ser
comprovada por uma Pessoa Jurídica. Por
outro lado, a hipossuficiência é um critério para
inversão do ônus da prova e pertence ao ramo
do Direito Processual. Aqui a presunção é
relativa, já que nem todo consumidor é
hipossuficiente.

A hipossuficiência é um conceito de
direito processual e constantemente
confundida com vulnerabilidade . Mas para
que não seja feita a confusão dos
conceitos, basta associar a
hipossuficiência no tocante ao ônus da
prova no direito consumerista. A inversão
do ônus da prova é regra de instrução : a
decisão que determina a inversão do ônus
da prova deve ser proferida na fase de
saneamento ou, pelo menos, assegurar à
parte a quem não incumbia inicialmente o
encargo a reabertura de oportunidade para
manifestar-se nos autos.

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