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A abordagem evolutivo-cognitiva do

desenvolvimento de carreira

Prof. Dra. Marucia Bardagi


marucia.bardagi@gmail.com

Ulbra Santa Maria – RS/UFRGS

Bento Gonçalves, agosto de 2007


Abordagens desenvolvimentais de carreira
(Principais expoentes: Donald Super e Eli Ginzberg)

• Escopo teórico e de avaliação preocupado especificamente com o


processo da escolha vocacional e da formação da identidade
profissional, mais do que com o resultado desta escolha; aspecto
seqüencial e dinâmico do comportamento vocacional

• Entende o desenvolvimento vocacional como um aspecto do


desenvolvimento global do indivíduo, parte da experiência vivida nos
diferentes papéis sociais assumidos ao longo do tempo;

• Dentro da metodologia utilizada para intervenção, a abordagem


cognitivo-evolutiva privilegia a perspectiva do aconselhamento
psicológico, com ênfase nas dimensões de saúde do indivíduo, nas
intervenções breves e instrumentalizadoras e no auxílio aos processos
de transição e mudança profissional necessários.
Teoria Cognitivo-Evolutiva de Donald Super
(1910-1994)

• Construída na relação entre o autoconceito e a escolha da


carreira, mostrando como o indivíduo tende a escolher carreiras
que confirmem a percepção que ele tem da própria identidade
pessoal (conjunto de interesses, habilidades e características
de personalidade).

• Influências
Psicologia diferencial (diferenças individuais em termos de habilidades,
competências, aptidões)
Teoria do autoconceito (identidade pessoal)
Psicologia do Desenvolvimento (transformação normativa ao longo do
ciclo vital)
Processo de construção teórica:

• Estágios de carreira (1957)


• Autoconceito/exploração (1963)
• Maturidade
• Life span-life space (1980)
• Adaptabilidade (1996)
• 1957: Estágios de carreira
Career Development Theory

- Resultado da observação empírica de indivíduos ao longo de 25


anos;

- Estágios especificam a aquisição de habilidades necessárias para


cumprir tarefas de carreira requeridas socialmente; a progressiva
complexificação dos contextos sociais e interacionais do indivíduo
estabelece exigências pessoais e de trabalho diferenciadas para
ele e propicia oportunidades para aquisição de aprendizagens;

- Adaptação das perspectivas psicológicas dos estágios de vida e da


psicologia das transições para o âmbito da carreira;
- Estágios: crescimento/exploração/estabelecimento/
manutenção/desengajamento: inicialmente maxi-ciclos correspondentes às
etapas de vida; mais tarde, compreendidos como processos espirais,
dinâmicos e sempre presentes na relação do homem com o trabalho;

- Dimensões contextuais (sócio-econômicas, educacionais, do trabalho) e


características de personalidade fazem com que este percurso não seja
linear ou ocorra com todos os indivíduos da mesma forma;

- Aconselhamento de carreira objetiva auxiliar:

-na compreensão das exigências da etapa de


desenvolvimento;
- na antecipação de tarefas evolutivas
- na formação de atitudes e competências em tomada de
decisão
- no engajamento em comportamentos de coping vocacional
realistas
• 1963: Teoria do autoconceito

Autoconceito: próximo à identidade; percepções sobre si e que


organizam a experiência; Ac vocacional: percepção de
características vocacionalmente relevantes;
Adiciona uma perspectiva fenomenológica e um segmento teórico
novo que enfatiza o papel do AC no desenvolvimento
vocacional.

Aconselhamento de carreira:
- Compreensão de como o Ac afeta o comportamento vocacional
- Análise das dimensões e meta-dimensões do autoconceito (clareza,
certeza, auto-estima, estrutura, harmonia, realismo)
• Exploração: comportamento sistemático de busca de informações sobre si e
sobre o mundo que é fundamental para a formação do autoconceito e a
maturidade de carreira;

Envolve experimentação, investigação, tentativa e teste de hipóteses;


capacidade necessária para a tomada de decisão em todas as etapas e
transições de carreira;

Aconselhamento de carreira:
- Avaliação da capacidade exploratória do indivíduo e o incentivo à exploração;
- Análise das fontes de informação e qualidade da informação pessoal e
ocupacional do indivíduo;
• 1980, 1990:
Life-Span, Life-Space Theory

Acrescenta uma perspectiva contextual que enfatiza a relação entre o papel de


trabalhador, a saliência e os valores de trabalho do indivíduo com os outros
contextos e papéis sociais que ele desempenha;

Maturidade e Adaptabilidade de carreira:

- maturidade: conceito inicial, relativo à capacidade de adotar comportamentos


compatíveis com as tarefas de desenvolvimento que se apresentam ao
indivíduo e estar em relativa sintonia com as demandas sociais em relação a
outros indivíduos no mesmo contexto evolutivo;
- Dimensões: planejamento, exploração, informação, tomada de decisão e
orientação à realidade;

- Adaptabilidade: qualidade de estar apto à mudança, sem grandes dificuldades,


de acomodar-se a circunstâncias novas ou mutáveis; equilíbrio entre o mundo
do trabalho e o espaço pessoal;
Prontidão para lidar com tarefas previsíveis, de preparar-se para ou desempenhar
o papel de trabalhador e com ajustamentos imprevisíveis provenientes das
mudanças no trabalho e nas condições de trabalho.

• Aconselhamento de carreira:
Auxílio no desenvolvimento da maturidade e adaptabilidade
Figura 1. Modelo ‘life span, life space’ de Donald Super. Fonte: Super, D. E., Savickas, M. L. &
Super, C. M. (1996). The life span, life space approach to careers. Em D. Brown, L. Brooks et al.
(Orgs.), Career choice and development: Applying contemporary theories to practice,. São
Francisco, EUA: Jossey Bass.
• Para os profissionais que atuam nesta abordagem, é fundamental a avaliação de
aspectos como o autoconceito (percepção que o indivíduo tem de si mesmo em
termos gerais e em termos vocacionais), o comportamento exploratório
(quantidade e qualidade da informação de si e do mundo do trabalho adquirida
ao longo da vida), a saliência do papel de trabalhador (o quanto o trabalho é um
fator fundamental na identidade pessoal) e os valores de trabalho (quais os
significados e recompensas que o indivíduo busca através do trabalho), entre
outros aspectos, para a construção do processo de aconselhamento de carreira.

• A abordagem cognitivo-evolutiva permite a compreensão da trajetória do


comportamento vocacional ao longo do desenvolvimento e pode servir como
base para a criação e implementação de intervenções com indivíduos nas
diferentes etapas do desenvolvimento de carreira, uma vez que pressupõe que
as relações do homem com o trabalho são dinâmicas, mutáveis e acompanham
o processo de desenvolvimento pessoal.
Referências
Balbinotti, M. A. A. (2003). A noção transcultural de maturidade vocacional na teoria
de Donald Super. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16, 461-473.
Super, D. E. (1957). The psychology of careers: An introduction to vocational
development. New York: Harper & Row.
Super, D. E. (1963c). Vocational development in adolescence and early adulthood:
tasks and behaviors. In: D. E. Super, R. Starishevsky, N. Martin & J. P.
Jordaan, Career development: Self concept theory – essays in vocational
development (pp.79-95). New York: College Entrance Examination Board.
Super, D. E. (1974). Vocational maturity theory: Toward implementing a psychology of
careers in career education and guidance. In: D. E. Super (Ed.), Measuring
vocational maturity for counseling and evaluation (pp. 9-21). Washington,
EUA: National Vocational Guidance Association.
Super, D. E. (1980). A life-span, life-space approach to career development. Journal of
Vocational Behavior, 16, 282-298.
Super, D. E., Savickas, M. L. & Super, C. M. (1996). The life-span, life-space approach
to careers. In: D. Brown, L. Brooks & Ass. (Eds.), Career choice and
development (3.ed.) (pp. 121-178). San Fransisco: Jossey-Bass Publishers.

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