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Revisão técnica:

Caroline Bastos Capaverde


Graduada em Psicologia
Especialista em Psicoterapia Psicanalítica

P974 Psicologia e criminologia [recurso eletrônico] / Eliane Dalla


Coletta... [et al.] ; [revisão técnica: Caroline Bastos
Capaverde]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.

ISBN 978-85-9502-464-9

1. Psicologia. 2. Direito penal. I. Dalla Coletta, Eliane.

CDU 159.9:343.1

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147


Modelos psicológicos
explicativos do crime
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Distinguir o modelo psicanalítico do modelo psicopatológico.


„„ Relacionar criminologia e psicopatologias.
„„ Caracterizar oligofrenias, transtornos orgânicos, esquizofrenia e
transtorno de humor em indivíduos em situações de conflito com
o ordenamento penal.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os modelos psicológicos explicativos
do crime a partir da distinção entre o modelo psicanalítico e o modelo
psicopatológico. Você vai conhecer possíveis relações entre a criminologia
e as psicopatologias. Adicionalmente, vai ver características de doenças
que servem como instrumentos de análise dos indivíduos em situações
de conflito com o ordenamento penal.
Como você vai ver, a psicopatologia, de forma geral, se inclina à ado-
ção de uma perspectiva clínica, contemplando a conduta delitiva como
expressão de um transtorno patológico da personalidade. A psicologia,
por sua vez, estuda o comportamento humano, a conduta. Para a psi-
cologia, interessa o comportamento delitivo tanto como qualquer outro
comportamento humano. A psicanálise, por sua vez, concebe o crime
como um comportamento funcional simbólico, expressão de conflitos
psíquicos profundos.

Modelo psicanalítico e modelo psicopatológico


A criminologia utiliza diversas outras áreas da ciência para criar seus con-
ceitos. Para você compreender melhor os modelos psicológicos explicativos
2 Modelos psicológicos explicativos do crime

do crime, vai estudá-los a partir de dois tipos: o modelo psicanalítico e o


modelo psicopatológico (RIFF, 2003).
A psicopatologia (psiquiatria) é a área da medicina que estuda o psí-
quico patológico do homem doente. Para a psicopatologia, sob uma visão
clínica, a conduta delitiva é a tradução de um transtorno patológico da
personalidade. Já a psicologia entende que o comportamento humano é
o cerne a ser estudado. Ela procura explicar como se adota determinada
conduta levando em consideração os fatores e variáveis mais importantes
(RIFF, 2003).
Para a psicanálise, o crime é um comportamento funcional simbólico, é a
expressão de conflitos psíquicos profundos, de desequilíbrios da personali-
dade que só podem ser revelados introspectivamente, partindo do indivíduo.
A psicanálise pode ser considerada a ligação entre a psiquiatria moderna e a
psicologia (RIFF, 2003).
A psiquiatria, mais precisamente a psicopatologia, de forma geral, auxilia
na conceituação da enfermidade ou transtorno mental e suas manifestações.
Os conceitos criados com o apoio da psiquiatria serão elaborados a partir da
checagem das diversas categorias patológicas (psicopatia, neurose, esquizo-
frenia, etc.) e das manifestações delitivas. A psicologia averigua a estrutura,
o cerne e o desenvolvimento da conduta criminal, bem como estuda todos os
fatores e variáveis envolvidos nessa conduta.
Na psicanálise, se estuda a estrutura psicodinâmica da personalidade,
englobando os seus conflitos e frustrações, o processo de motivação do delin-
qüente e a própria interpretação da conduta delitiva, partindo do inconsciente
do indivíduo, de uma análise introspectiva (RIFF, 2003).
Não há consenso de teorias dentro da psicanálise, tampouco metodologias
únicas. O modelo psicanalítico caracteriza-se, frente aos outros modelos,
por trazer alguns elementos muito específicos, como os que você pode ver
a seguir:

„„ é um modelo psicodinâmico, que corresponde a um poderoso deter-


minismo biológico;
„„ concede particular importância ao instinto sexual, substrato funda-
mental e referência obrigatória do comportamento de todo indivíduo;
„„ sua teoria psicossexual distingue várias etapas no desenvolvimento da
libido, que determinam o psiquismo e a personalidade do indivíduo
(oral, anal, genital, etc.);
„„ a divisão topográfica do psiquismo (consciente, pré-consciente e in-
consciente) ressalta a transcendência etiológica e interpretativa desta
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última, atribuindo à conduta “consciente” um significado simbólico,


como mero reflexo do inconsciente (RIFF, 2003).

No modelo psicanalítico, há três instâncias mentais, conhecidas como


id, ego e superego, que integram o aparato intrapsíquico. Freud, médico
e neurologista, foi o criador da psicanálise. O estudioso “[...] empregou
a palavra ‘aparelho’ para definir uma organização psíquica dividida em
sistemas, ou instâncias psíquicas”, cada uma delas “[...] com funções es-
pecíficas, que estão interligadas entre si, ocupando certo lugar na mente”
(LIMA, 2010, p. 280).

Id
O id foi “[...] concebido por Freud como um conjunto de conteúdos de natureza
pulsional” (LIMA, 2010, p. 280). Ele perfaz o polo psicobiológico da perso-
nalidade, em que ocorrem os processos primitivos do pensamento humano
e as características atribuídas ao sistema inconsciente de cada um. O id é
regido pelo princípio do prazer e apresenta essência orgânica/hereditária,
estando muito ligado ao impulso sexual. O id se apresenta como instintos
que impulsionam o organismo, mantendo relação com todos os impulsos não
civilizados, do tipo animal. O id, assim, poderia ser compreendido como
a voz que ecoa dentro da cabeça dos homens e mulheres; é a expressão do
querer humano.

Ego
O termo ego é latino (“eu”) e essa instância atuará de acordo com o princípio da
realidade, estabelecendo um equilíbrio entre as reivindicações/manifestações
do id e as exigências impressas pelo superego com relação ao mundo externo.
O ego está na zona consciente da mente. Enquanto o id e o superego são as
vozes antagônicas que as pessoas ouvem em sua mente, o ego é o responsável
pela tomada de decisões consciente.

Superego
O superego é a força que atuará contra o id, representando os pensamentos
morais e éticos tidos como civilizados. É originado do complexo de Édipo, a
partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. O superego
será o indicativo das normas e valores sociais a serem respeitados, que foram
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transmitidos pelos pais por meio do sistema de castigos e recompensas imposto


a seus filhos. O superego é a voz interna que alerta para não fazer algo pois
não será certo. O superego é o dever.
É o equlíbrio entre essas três instâncias que garante a estabilidade mental do
indivíduo, sendo que a sua desordem gera diversas patologias, como a neurose.
O marco psicopatológico enquadra-se em conflitos infantis que se manifestam
durante a vida adulta por meio de processos inconscientes, razão pela qual
o único método que permite captar a dinâmica e o significado simbólico do
comportamento humano é o introspectivo (RIFF, 2003). Nesse método, estão
presentes as três etapas de um processo dinâmico:

1. É o conflito mental, que se produziria entre a estrutura primária do


indivíduo — libido — e a expectativa de conformidade à comunidade,
ou entre os três níveis do seu sistema intrapsíquico;
2. Envolve o ego, o id e o superego, que reprimem no inconsciente os im-
pulsos e complexos do indivíduo: estes emergem ao mundo consciente,
vencendo o obstáculo do censor que lhes prendia ali, de sorte que todos os
atos humanos, incluindo os delitivos, são respostas substitutivas ou simbó-
licas que direta ou indiretamente expressam a realidade do inconsciente;
3. Diz respeito ao complexo de Édipo, que tem um poderoso efeito
criminógeno, conforme a teoria psicanalítica, por gerar (quando
não é superado) um complexo de culpa no sujeito cujo componente
autopunitivo leva ao delito: precede e motiva o delito, em lugar de
suceder-lhe (RIFF, 2003).

Além disso, há o pensamento psicanalítico “ortodoxo”, representado pelas


ideias de Freud (1856–1939). É dele a contraposição entre dois instintos básicos
no homem: o da vida (eros), fortemente focado em sua acepção sexual, e o
da morte ou destruição (thanatos), que permite associar as raízes últimas do
comportamento delitivo à referida força destruidora inata (RIFF, 2003).

O complexo de Édipo tem particular importância na teoria freudiana, pois muitos


atos delitivos, segundo Freud, têm sua explicação naquele complexo, que, longe
de suceder, precede e impulsiona o cometimento do delito e teria sua origem na
vivência da criança.
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Criminologia e psicopatologias
As psicopatologias são um campo fértil para a criminologia. Na medicina
legal, há a psicopatologia criminal ou psicopatologia forense, estudada pela
psiquiatria criminal e pela psicologia criminal.
A psicologia criminal tem por objeto de estudo a personalidade “normal”
e todos os fatores que a influenciam, de ordem biológica, mesológica (meio
ambiente) ou social. Já a psiquiatria criminal tem como objeto os transtornos
anormais da personalidade, isto é, as doenças mentais, retardos mentais (oli-
gofrenias), demências, esquizofrenias e outros transtornos, de índole psicótica
ou não (PENTEADO FILHO, 2012).
A psicopatologia (psiquiatria) estuda o fator psíquico patológico no indi-
víduo psiquicamente enfermo, analisando a conduta delitiva e traçando um
paralelo com os transtornos patológicos da personalidade. Na criminologia,
a psiquiatria é a ciência que traz o conceito de enfermidade ou transtorno
mental, bem como as suas maneiras de manifestação. Cabe a essa ciência
trazer para a criminologia os conceitos de psicopatia, neurose e esquizofrenia
e adequá-los às manifestações delitivas.
Na criminologia, existem as teorias psiquiátricas da criminalidade, que,
a partir do século XIX, traçaram uma distinção entre os delinquentes e os
enfermos mentais, porém até essa época os enfermos mentais eram tratados
como qualquer enfermo. O delinquente era tratado, primitivamente, como ser
endemoninhado, anormal e maldito. O positivismo criminológico substituiu a
teoria da “loucura mental” pela da “personalidade criminal”, sendo que esta
estabelece a existência de um conjunto de características ou de uma estrutura
psicológica delitiva (PENTEADO FILHO, 2012).
A teoria da personalidade criminal possui dois postulados:

„„ o princípio da diversidade do delinquente;


„„ a necessidade de isolar, mensurar e quantificar os fatores patológicos
que incidem no indivíduo e que determinam o delito.

Ao verificar possíveis conexões entre transtornos ou anomalias psíquicas


e crime, a psicopatia obteve papel fundamental, apesar de sua delimitação
não estimular consenso algum. Isso ocorre pois não existe um psicopata
comum ou dois psicopatas iguais, o que tem relação com o número das
personalidades psicopáticas, a etiologia diversificada e a complexidade do
problema (PENTEADO FILHO, 2012).
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A psicanálise, no modelo psicodinâmico, estabelece fatores que contri-


buem para o comportamento delitivo, chamados de forças motivacionais,
tendências e impulsos, que estão abaixo do nível de consciência. Para a
psicanálise, a criminologia pode se utilizar do estudo que afirma que no
próprio indivíduo estão enraizadas as fontes do delito, de modo que esse
delito só pode ser investigado por meio do método introspectivo (PENTEADO­
FILHO, 2012).

Patologias comuns em situações de conflito com


o ordenamento penal
Agora que você já estudou os modelos psicológicos explicativos do crime, é
importante que conheça algumas patologias, tais como: oligofrenias, trans-
tornos orgânicos, esquizofrenia e transtorno de humor (PENTEADO FILHO,
2012). Veja mais detalhes de cada patologia a seguir.

Oligofrenias
Oligofrenia é uma palavra de origem grega. Oligos significa “pouco” e phren
sgnifica “espírito”. Assim, oligofrenia remete aos níveis de fraqueza mental. A
debilidade mental foi batizada de oligofrenia leve, a imbecilidade, de oligofrenia
moderada, e a idiotia, de oligofrenia grave (SANCHES; BERLINCK, 2010).
No que tange à “[...] relevância criminológica do retardamento mental, [...]
o déficit congênito ou precoce do desenvolvimento da inteligência depende
de sua maior ou menor gravidade” (MOLINA; GOMES, 2008, p. 254). É
importante considerar, ainda, que o retardamento mental em grau profundo
pode diminuir a capacidade real de delinquir.

Transtornos orgânicos
Na Classificação Internacional de Doenças (CID–10), a expressão transtornos
mentais orgânicos é usada para delimitar diferentes transtornos mentais
unificados por uma etiologia comum — doença ou lesão cerebral que gera
disfunção (PENTEADO FILHO, 2012). As disfunções podem ser primárias
ou secundárias. Nas disfunções primárias, as doenças, as lesões e os compro-
metimentos afetam o cérebro de maneira direta e seletiva. Já nas disfunções
secundárias, as doenças e os transtornos sistêmicos acometem o cérebro apenas
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como um dos múltiplos órgãos ou sistemas orgânicos envolvidos. Observe, a


seguir, a descrição dos principais transtornos orgânicos, conforme Penteado
Filho (2012).

„„ Transtorno paranoide: predomina a desconfiança, a sensibilidade


excessiva a contrariedades e o sentimento de estar sempre sendo pre-
judicado pelos outros; atitudes de autorreferência.
„„ Transtorno esquizoide: predomina o desapego, ocorre desinteresse
pelo contato social, retraimento afetivo, dificuldade em experimentar
prazer; tendência à introspecção.
„„ Transtorno antissocial: prevalece a indiferença pelos sentimentos
alheios, podendo o sujeito adotar comportamento cruel; desprezo por
normas e obrigações; dissimulação, baixa tolerância à frustração e
baixo limiar para descarga de atos violentos.
„„ Transtorno emocionalmente instável: marcado por manifestações
impulsivas e imprevisíveis. Apresenta dois subtipos:
■■ impulsivo — caracterizado pela instabilidade emocional e pela falta
de controle dos impulsos;
■■ borderline — além de instabilidade emocional, o sujeito revela per-
turbações da autoimagem, com dificuldade em definir as preferências
pessoais e consequente sentimento de vazio (observe a Figura 1).
„„ Transtorno histriônico: prevalece o egocentrismo, a baixa tolerância
a frustrações, a teatralidade e a superficialidade. Impera a necessidade
de fazer com que todos dirijam a atenção para a pessoa.
„„ Transtorno anancástico: prevalece a preocupação com detalhes,
a rigidez e a teimosia. Existem pensamentos repetitivos intrusi-
vos que não alcançam, no entanto, a gravidade de um transtorno
obsessivo-compulsivo.
„„ Transtorno ansioso (ou esquivo): prevalece a sensibilidade excessiva a
críticas; sentimentos persistentes de tensão e apreensão, com tendência
ao retraimento social por insegurança de sua capacidade social e/ou
profissional.
„„ Transtorno dependente: prevalece a astenia do comportamento, a
carência de determinação e de iniciativa, bem como a instabilidade de
propósitos (PENTEADO FILHO, 2012).
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Figura 1. Distúrbio psiquiátrico: transtorno de borderline.


Fonte: Estudo... (2017).

Esquizofrenia
A esquizofrenia pode ser compreendida como um transtorno psiquiátrico
complexo, comum, caracterizado por uma alteração cerebral que perturba/
dificulta o correto julgamento sobre a realidade. Esse funcionamento confundirá
ainda a produção de pensamentos simbólicos e abstratos e a elaboração de
respostas complexas de cunho emocional (observe a Figura 2).
Muitas regiões do cérebro e sistemas operam anormalmente na esquizo-
frenia, incluindo estas (SCHIZOPHRENIA.COM, 2010, documento on-line):

„„ Área de compreensão auditiva: na esquizofrenia, o paciente sofre


superatividade na área da compreensão da fala (chamada de área de
Wernicke). Podem ocorrer alucinalções sonoras – ilusão de que pen-
samentos são vozes verdadeiras.
„„ Gânglio basal: na esquizofrenia contribui para a paranoia e alucinações
(bloqueio execessivo de receptores da dopamina no gânglio basal por
medicamentos antipsicóticos tradicionais levam a efeitos colaterais
motores.
Modelos psicológicos explicativos do crime 9

„„ Lobo frontal: perturbações na esquizofrenia levam a dificuldades para


planejar ações e organizar pensamentos.
„„ Lobo occipital: distúrbios nessa área contribuem para dificuldades
como interpretação de imagens complexas, reconhecimentos.
„„ Sistema límbico: área envolvida nas emoções, acredita-se que distúrbios
relacionados a esta área contribuem para agitação frequentemente vista
na esquizofrenia.
„„ Hipocampo: interliga funções que estão desparelhadas na esquizofrenia.

Figura 2. O cérebro de um esquizofrênico e as áreas afetadas.


Fonte: Adaptada de Schizophrenia.com ([2010]).

A esquizofrenia, segundo Penteado Filho (2012), pode ser dividida em:

„„ paranoide — predomínio de alucinações e delírios;


„„ tipo desorganizado — discurso e conduta inadequados;
„„ tipo catatônico — bizarrices, mutismo, negativismo, imobilidade motora;
„„ tipo indiferenciado — não se encaixa nos tipos anteriores;
„„ tipo residual — abulia, discurso pobre, afeto enfraquecido.

A esquizofrenia é a mais frequente das psicoses endógenas. Apesar de o


surgimento da esquizofrenia caracterizar-se “[...] pela perda do contato com a
realidade, é importante recuperar que o esquizofrênico não infringe significa-
tivamente a lei penal”. Entretanto, os crimes cometidos pelos e­ squizofrênicos
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chamam a atenção e, “[...] ainda que não representem índices atraentes, atemo-
rizam porque são atrozes, cruéis” (MOLINA, GOMES, 2008, p. 260).

Esquizofreniforme

Quadro sintomático similar ao da esquizofrenia, porém de menor duração,


de um a seis meses, sem declínio no funcionamento.

Esquizoafetivo

Ocorrem conjuntamente transtornos de humor e sintomas da fase ativa da


esquizofrenia, antecedidos de um período mínimo de duas semanas de delírios
ou alucinações. É categorizado da seguinte forma:

„„ delirante — um mês de delírios não bizarros apenas;


„„ psicótico breve — com duração maior que um dia e remissão em um mês;
„„ psicótico induzido — perturbação desencadeada pela influência de
outra pessoa com delírio similar;
„„ psicótico em face de uma condição clínica geral — consequências
fisiológicas de um quadro clínico geral;
„„ psicótico induzido por substância — decorre de abuso de drogas ou
toxinas;
„„ psicótico sem outra especificação — não se molda a critérios anteriores
(PENTEADO FILHO, 2012).

Transtornos de humor
Desde os primórdios do período grego clássico são feitas descrições de quadros
de transtornos de humor e tentativas de conceituar tais comportamentos sob
a perspectiva médica ou filosófica (CAMPOS; CAMPOS; SANCHES, 2010).
Observe, a seguir, a descrição de transtornos de humor.

Depressivo maior

Pelo menos duas semanas de depressão, acompanhada de pelo menos quatro


dos seguintes sintomas adicionais de depressão: alteração de peso, do sono, da
psicomotricidade (lentidão ou agitação), fadiga, perda de energia, sentimento
de inutilidade, culpa excessiva, dificuldade de concentração ou indecisão,
pensamentos de morte, inclusive ideação suicida.
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Distímico

Pelo menos dois anos de humor deprimido, acompanhado de outros sintomas


depressivos não incluídos no depressivo maior.

Depressivo sem outra especificação

Caracteres depressivos que não se inserem em outros tipos.

Bipolar I

Um ou mais episódios maníacos ou mistos (maníacos e depressivos), em regra


acompanhados de episódios depressivos maiores. Episódio maníaco: humor exa-
gerado por uma semana, adicionado de autoestima inflada, insônia, loquacidade,
fuga de ideias, agitação psicomotora e envolvimento excessivo em atividades
prazerosas de alto risco, tais como compras excessivas e investimentos de risco.
Conforme Molina e Gomes (2008, p. 265), na fase maníaca, podem ser descritos
delitos como “[...] homicídios, lesões, fraudes, delitos sexuais, usurpação de títulos”.

Bipolar II

Um ou mais episódios depressivos maiores acompanhados de no mínimo um


episódio hipomaníaco (similar ao maníaco, mas menos intenso).

Ciclotímico

Pelo menos dois anos de períodos de numerosos sintomas hipomaníacos e de-


pressivos que não se encaixam nas descrições respectivas de mania e depressão.

Bipolar sem outra especificação

Bipolares inadequados ou que não se encaixam nos perfis aludidos do humor


devido a uma condição clínica geral. Perturbação destacada e persistente de
humor como conseqüência fisiológica de uma condição clínica geral.
Como você viu ao longo deste capítulo, no modelo psicológico busca-se
a explicação do comportamento delitivo no mundo anímico do homem. Esse
universo envolve tanto os processos psíquicos anormais quanto as vivências
do subconsciente que têm a sua origem no passado remoto do ser humano e
que só podem ser captadas por meio de tratamentos como a psicanálise.
12 Modelos psicológicos explicativos do crime

De acordo com Molina e Gomes (1997), acredita-se que o comportamento


do delinquente está na sua gênese, ou seja, na aprendizagem, na estrutura
e na dinâmica, e que se rege pelo mesmo processo do comportamento não
delitivo.

CAMPOS, R. N.; CAMPOS, J. A. de O.; SANCHES, M. A evolução histórica dos conceitos


de transtorno de humor e transtorno de personalidade: problemas no diagnóstico
diferencial. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 37, n. 4, 2010. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0101-60832010000400004&script=sci_abstract&tlng=pt>.
Acesso em: 7 jun. 2018.
ESTUDO da USP: pesquisa encontra relação entre transtorno de borderline e adicção.
Vya Estelar, mar. 2017. Disponível em: <https://www.vyaestelar.com.br/var/www/html/
vyaestelar.com.br/web/index.php?/post/9673/estudo-da-usp-pesquisa-encontra-
-relacao-entre-transtorno-de-borderline-e-adiccao>. Acesso em: 7 jun. 2018.
LIMA, A. P.de. O modelo estrutural de Freud e o cérebro: uma proposta de integração en-
tre a psicanálise e a neurofisiologia. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 37, n. 6, 2010. Disponí-
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MOLINA, A. G. P.; GOMES, L. F. Criminologia. 6. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2008.
MOLINA, A. G. P.; GOMES, L. F. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 1997.
PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012.
RIFF, R. C. G. V. Aspectos de correlação entre os fatores biotipológicos e psicopatológicos
nagênese do comportamento criminal. 2003. 102 f. Monografia (Graduação em Direito)
- Faculdades Metropolitanas Unidas Centro Universitário, São Paulo, 2003. Disponível
em: <http://arquivo.fmu.br/prodisc/direito/rcgvr.pdf>. Acesso em: 7 jun. 2018.
SANCHES, D. R.; BERLINCK, M. T. Debilidade mental: o patinho feio da clínica psicana-
lítica. Ágora, v. 13, n. 2, p. 259-274, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S1516-14982010000200008&script=sci_abstract>. Acesso em: 7 jun. 2018.
SCHIZOPHRENIA.COM. Schizophrenia Pictures and Images of Brains. [2010]. Disponível
em: <http://www.schizophrenia.com/schizpictures.html#>. Acesso em: 7 jun. 2018.

Leitura recomendada
FREUD, S. Neurose e psicose: obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1996.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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