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Relatório de Avaliação psicológica II

Turma P3E: Flávia Soares (up201800708), Stefânia da Costa (up201800692)

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Psicologia, 2020/2021

Docente: Professor António Abel Pires

Dia 7 de Junho, 2021

Porto
Índice

1. Entrevista Cognitiva 2
História Familiar 2
História Educacional 3
História Profissional 4
História Conjugal 4
História da Saúde 5
Tarefas de Desenvolvimento 5
Competências de Vida 5
Contextos Sociais 6

2. Hipóteses de Avaliação 6

ICAC 7
Síntese Teórica 7
Aplicação 9
Análise dos Resultados 9
Conclusão Crítica 10

IACLIDE 10
Síntese Teórica 10
Aplicação 10
Análise dos Resultados 11
Conclusão Crítica 12

STAI 13
Síntese Teórica 13
Aplicação 14
Análise dos Resultados 15

1
Conclusão Crítica 15

NEO-PI-R 15
Síntese Teórica 15
Aplicação 17
Análise dos Resultados 17
Conclusão Crítica 18

3. Síntese Crítica 19

4. Bibliografia 21

5. Anexos 22

1. Entrevista Cognitiva

A entrevista decorreu na modalidade online, por meio da plataforma Zoom, no dia 14


de abril de 2021. O sujeito alvo, homem brasileiro de 61 anos, se encontrava em sua casa,
isolado de sua companheira, e foi entrevistado por um dos membros do grupo do qual é
conhecido. Apontou estar confortável com a entrevistadora e se mostrou disposto e até
mesmo motivado para responder à entrevista, afirmando também que responderia da forma
mais honesta possível.

Antes de dar início à entrevista foram assegurados a confidencialidade e anonimato


dos dados e informações fornecidas, bem como realçada a finalidade académica da atividade
em questão.

A entrevista prolongou-se por cerca de 1 hora, sendo que o indivíduo demonstrou, em


diversas ocasiões, estar relaxado e confortável com a situação, compartilhando até mesmo
histórias de vida.

História Familiar

No que toca às suas relações familiares, o sujeito descreve sua mãe - a qual trabalhou
boa parte da vida como professora e faleceu em janeiro deste ano com 88 anos de idade -
como uma mulher culta, inteligente, educada, refinada e ligada às artes, como a poesia e a

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música. Demonstrou certa tristeza ao falar da mãe com a qual, diferentemente do pai, possuía
uma relação de melhor qualidade, proximidade e intimidade, mesmo havendo algumas brigas,
as quais considerou dentro da normalidade da relação parental, sendo esses episódios mais
frequentes na juventude - período no qual havia mais cobrança por parte da mãe.

Quanto ao seu pai, comerciante de 89 anos, descreve-o como altruísta, inteligente,


bem sucedido e muito focado em seu trabalho. Revela ter tido a pior relação possível com o
pai durante o seu crescimento (aspecto evidenciado pelo fato de apanhar de cinta quando
criança). Até os dias de hoje afirma que os problemas com o pai não estão resolvidos.
Entretanto, o distanciamento consequente da relação conturbada mostrou-se um facilitador e
atualmente afirma terem um relacionamento melhor. Ademais, menciona que os pais tinham
uma boa relação no passado mas essa se tornou tensa por consequência de frequentes
episódios de ciúmes manifestados pela mãe em relação ao seu pai, após ser diagnosticada
com demência.

Indica também ter ciúmes do irmão mais novo, de 58 anos de idade, com o qual
também tem uma relação perturbada, devido a superproteção (sobretudo pelo pai) após um
episódio de quase morte na infância.

História Educacional

No pré-escolar o sujeito frequentou uma escola de padres que ministrava uma


educação muito rígida e por isso se mostrava revolto com as regras e exigências inflexíveis.
Na mesma escola, durante a educação básica, revela um episódio marcante em que foi alvo
de um ato de violência física por parte de um dos padres. Após o ocorrido relatou que pediu
para o seu pai que batesse no padre para defendê-lo, e este negou. Entretanto, posteriormente
a uma conversa com os responsáveis da escola, o agressor foi demitido. Além disso,
confessou que dentro de uma janela de oportunidade, tendo como motivação a vingança,
riscou o carro do padre com chaves. Durante a entrevista demonstrou gratificação verbal e
não-verbal ao relembrar o fato, até mesmo rindo daquela situação.

No nível secundário foi transferido para uma escola com menos exigências
comportamentais e académicas, sendo assim de qualidade de ensino inferior e por isso
revelou sentir-se com mais liberdade.

Após esse período, tinha a intenção de seguir uma carreira médica entrando para a
lista de espera de uma universidade, mas não foi chamado. Disse que na época não sabia ao

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certo qual profissão seguir, então optou por candidatar-se a Economia e Direito, tendo
atualmente formação no último. Decidiu por Direito pelo fato de acreditar em um senso de
justiça. Porém, após 6 anos exercendo essa profissão percebeu que não era o que realmente
gostaria de fazer. Além disso por seu trabalho, de grande exigência, lhe causar muito stress
escolheu se demitir.

História Profissional

Atualmente o indivíduo se encontra reformado e conta também com recursos


financeiros fornecidos pelo pai e com um montante mensal proveniente do aluguel de uma
loja em um shopping em São Paulo. Dada sua aposentadoria passa a maior parte do seu
tempo dedicando-se aos cuidados da casa e do campo, local para o qual se mudou
recentemente, e indica estar muito satisfeito com essas atividades.

Levando em consideração os outros trabalhos que desempenhou ao longo de sua vida,


se sentiu insatisfeito com o Direito, como mencionado anteriormente, e também com o
trabalho exercido na loja de seu pai. Por outro lado, salienta que a melhor época de sua vida
transcorreu no período em que se dedicou à cunicultura - criação de coelhos. Apesar de - para
além dos cuidados com esses animais - lecionar 12 horas por dia acerca desse tema, relatou
que efetuava esse ofício com amor e dedicação.

História conjugal

O indivíduo em questão nunca se casou, não tem filhos e há 11 anos vive


maritalmente com uma companheira, com a qual iniciou um relacionamento 21 anos atrás.
Acerca desse relacionamento descreve-o como sendo de grande cumplicidade e alto grau de
satisfação, principalmente no último ano por terem se mudado da casa dos pais do sujeito.

Ao longo de sua história de vida, anteriormente ao atual relacionamento, se envolveu


significativamente com três mulheres. Como história marcante, destaca um episódio no qual
um amigo pretendeu iniciar uma relação afetiva com uma ex-namorada e como resposta a
isso, recorreu à violência física dando um soco no rosto do colega. Posteriormente, a mesma
ex-namorada o procurou com o objetivo de concretizar um matrimônio. Todavia, como o
mesmo afirmou, por vingança a uma rejeição anterior dessa namorada, recusou esse avanço e
assegurou a continuidade do rompimento da relação.

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História da Saúde

Referente ao histórico de saúde, anunciou como principal doença do passado a


bronquite e ainda revelou que atualmente sofre com diabetes, pressão alta e síndrome do
pânico, tornando-se relevante ressaltar que todos esses quadros se encontram sob controle de
medicação. Além disso, apontou que os ataques de pânico eram mais recorrentes durante o
tempo que morou no centro de São Paulo e que houve uma redução dos episódios
seguidamente da mudança para o campo.

Tarefas de Desenvolvimento

Ao ser questionado a respeito da percepção de si próprio, o indivíduo exprime que se


vê como um sujeito bem sucedido dentro daquilo que desejou durante a vida. Salientou um
forte desejo de não ser visto como filho de seu pai e sim como uma pessoa individualizada,
dono de si próprio e responsável por conquistar seu espaço e adquirir suas próprias coisas. E
então se considera realizado nesse sentido.

De seguida, relativamente às amizades menciona ter poucos amigos e possuir mais


colegas do que propriamente amigos, afirmando que havia mais contatos no período de
faculdade. Hoje, a maior parte dessas relações, as quais indica serem de boa qualidade,
ocorrem no contexto virtual. Reflete ainda sobre amigos verdadeiros serem aqueles que
marcam presença em momentos difíceis e considera este como um fenômeno raro. Com o
passar do tempo tornou-se mais seletivo na escolha dos indivíduos com os quais inicia
relações de amizade.

Ademais, revela uma baixa participação na comunidade devido a frequente ocorrência


de conflitos, que acabam por serem desgastantes e por isso procura agir sozinho. Valoriza
então os períodos que tem livre, considerando esses momentos como uma válvula de escape.
Durante esses espaços temporais, cultiva suas amizades virtuais participando de grupos no
Facebook e destaca, entretanto, um vício nas redes sociais. Por fim, dedica-se também ao
cuidado de suas galinhas, atividade que considera muito gratificante.

Competências de Vida

Nesta secção expressa facilidade na competência de auto-organização, sendo capaz de


estabelecer planos e objetivos sem dificuldades mas encontrando obstáculos no momento de
colocá-los em prática. Refere ainda ter boas habilidades comunicativas, como falar em
público e ser capaz de escutar aos outros atentamente. Quanto ao envolvimento grupal,

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organizacional e comunitário, apresenta baixa participação (como dito acima) afirmando que
não encontra satisfação em atividades grupais por desejar realizá-las da forma que lhe
interessa e não de maneira conjunta e consensual com os outros elementos.

Contextos Sociais

Por fim, os contextos sociais que mais se destacam no momento presente são o
familiar, nomeadamente a relação com a companheira, e os que abrangem as relações de
amizade. Afirma não ter preocupações nem expectativas no que diz respeito a esses contextos
e que aceita as coisas da maneira como são. Ao ser questionado sobre as mudanças que faria
em si ou em sua vida se pudesse, respondeu que gostaria de ser menos crítico com relação às
coisas que considera erradas e aceitar mais os erros de terceiros.

2. Hipóteses de Avaliação

Baseando-se nas informações recolhidas durante a entrevista cognitiva propomos a


realização de determinados testes psicológicos no sentido de aprofundar a compreensão
acerca do funcionamento psicológico do indivíduo em questão.

Visto o comentário do próprio sujeito onde demonstra que gostaria de ser mais
tolerante para com as outras pessoas, e também a menção de possuir facilidade em determinar
planos e objetivos, mas dificuldades em colocar tais planos em ação, propõe-se como
primeira hipótese que a iniciativa e maturidade psicológica do indivíduo se encontram
prejudicados. Dessa forma, a aplicação do ICAC forneceria informações relevantes para a
compreensão desses aspectos.

O sujeito ainda mencionou a morte da mãe, em janeiro deste ano, e enquanto o fazia
manifestou sinais claros de tristeza diante deste fato. Somando-se ao luto recente há ainda o
fato de, ao longo de sua vida, ter sofrido com a rejeição do pai e sentimentos de abandono
consequentes dessa dinâmica familiar. Percebe-se também uma rede de apoio composta por
poucos elementos, limitando-se à companheira e a poucos amigos. E por fim, uma baixa
participação na comunidade o que pode levar a sentimentos de não pertencimento,
principalmente no momento atual, devido a mudança de residência, a qual se situa mais
distante dos poucos amigos que têm.

Dadas essas informações, mesmo que o indivíduo não tenha exposto claramente
sintomas depressivos durante a entrevista, torna-se importante verificar se tais sintomas estão

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presentes, procedendo-se a aplicação do teste IACLIDE, pois caso essa hipótese se verifique
positivamente constituirá um fator limitante na vida deste indivíduo.

Além disso, o sujeito revelou durante a entrevista ter episódios de ataques de pânico,
relatados com maior frequência no período em que morava na cidade. Apesar de afirmar que
a situação está sob controle de medicação, é relevante verificar se os níveis de ansiedade
encontram-se mesmo diminuídos. Foi proposta então a aplicação do STAI, para o qual
hipotetizamos revelar baixos níveis de ansiedade visto as informações reveladas pelo sujeito.

Pela entrevista verifica-se também a presença de certa hostilidade e impulsividade por


parte do sujeito o qual expressa nos relatos quando riscou o carro de um padre como vingança
e por ter recorrido a violência física quando um amigo demonstrou interesse por sua
ex-namorada, demonstrando assim um nível moderadamente elevado de neuroticismo.
Mostra também uma certa dificuldade em seguir as regras, reforçado pela menção da rigidez
das normas na escola de padres e a sensação de liberdade ao ser transferido para outro
colégio, podendo esse fato revelar certo impacto na conscienciosidade. E por fim, como já foi
mencionado, a exclusão de atividades grupais e comunitárias e diminuição de relações de
amizade ao longo do tempo podem indicar algum nível de introversão. Dessa forma,
propõe-se a realização do teste NEO-PI-R com objetivo de melhor compreender esses fatores.

Inventário clínico de auto-conceito (ICAC)

Síntese Teórica

O autoconceito é um constructo definido através de percepções que o indivíduo tem


sobre si próprio, sendo portanto baseado em características estáveis muito subjetivas e
construído através de acontecimentos pessoais permitindo assim descrever, explicar e
predizer o comportamento humano. É portanto um elemento integrador no que diz respeito ao
desenvolvimento da personalidade, propiciando uma melhor coerência e compreensão dos
padrões comportamentais individuais.

A avaliação desse constructo deve ser feita através de escalas de autorrelato devido ao
seu alto grau de subjetividade, pelo que também são necessárias condições padronizadas de
avaliação, com resultados objetivos de mínima interferência do administrador e quantificada,
pelo que seja possível atribuir valores quantitativamente variáveis de cotação a cada item.

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O autor da escala se propôs a criar um instrumento para avaliar o autoconceito
especificamente em contexto clínico, utilizando-se de descrições acerca de comportamentos
específicos estáveis no tempo, procurando evitar aqueles que representassem manifestação de
sintomas de ansiedade ou depressão ou de aparecimento esporádico. Na construção do
Inventário, foram utilizados itens mais relacionados com o autoconceito social e emocional
(indecisão e dúvida, sentimentos de incapacidade, timidez e isolamento, etc.) os quais
demonstram-se variáveis comuns a populações doentes e não doentes. Fitts (1972) descreve
pessoas com bons níveis de autoconceito como realistas e positivas, seguras, confiantes e
com limites de self bem definidos.

A análise fatorial dos 20 itens possibilitou determinar seis fatores que explicam as
variáveis em 53,42% da percentagem cumulativa da variância. O Fator 1 representa o grau de
aceitação/rejeição social; o fator 2 é caracterizado por questões de auto realização pessoal,
sendo denominado portanto de fator de autoeficácia; no fator 3 conseguimos avaliar a
maturidade psicológica do indivíduo, a partir de noções acerca de si e suas interações sociais;
o fator 4 é determinado por questões de impulsividade e motivação para ação. Os fatores 5 e
6 são considerados mistos e por isso não lhes foi atribuída qualquer denominação ou
características específicas.

Para avaliar a fidedignidade da escala foram usados o coeficiente de


Spearman-Brown, para a consistência interna, sendo obtido um resultado de .791 para os 920
sujeitos da amostra total, valor considerado bastante elevado. A estabilidade temporal foi
aferida a partir do método de teste-reteste, com pelo menos 1 mês entre as aplicações, e
demonstrou uma correlação significativa de .838 (para 108 elementos) com valor de P < .001.

A validade do inventário foi mais difícil de se medir considerando que o autoconceito


é um fenômeno extremamente pessoal, sendo difícil operacionalizá-lo. Foi feita então uma
correlação entre a classificação pessoal, feita em escala likert de 1 (muito mau) a 5 (muito
bom) e a nota global obtida para o autoconceito. Os resultados mostraram-se altamente
significativos, com um valor de .466, sendo assim a maior correlação entre os fatores. Após
essa análise geral foram feitas correlações da classificação pessoal a cada fator, concluindo
que, em seguida a nota global, a aceitação social e a auto-eficácia são os fatores mais
relevantes para a auto-avaliação.

Aplicação

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A aplicação do ICAC decorreu no dia 14 de abril de 2021 tendo início às 10h, através
da plataforma Zoom, sendo os itens respondidos no Formulários Google. O sujeito
entrevistado encontrava-se em um quarto isolado da casa, de forma a bloquear possíveis
ruídos e distrações e concluiu a realização do teste em 15 minutos.

Previamente à aplicação do teste foram comunicadas as instruções, salientando-se que


as respostas deveriam ser dadas com base em como se sentiu nas últimas duas semanas e não
no seu modo habitual de ser e deveria ser respondido de forma rápida e honesta. O sujeito
demonstrou facilidade ao responder aos itens e não apresentou nenhuma dúvida.

Análise dos Resultados

A pontuação final dos resultados, obtida através da soma direta dos itens, tendo em
atenção os itens de cotação invertida, foi de 80 valores o que indica que o entrevistado possui
um autoconceito de nível elevado. Em comparação a amostra de referência portuguesa para
adultos acima dos 60 anos (M= 73.68, DP= 5.16), ele se encontra abaixo apenas de 16% da
amostra.
Ao analisar os fatores individualmente, chegamos a conclusão que o Fator 1
(aceitação/rejeição social) foi o de maior pontuação relativa, totalizando 24 pontos e ficando
bem acima da média de referência (M=15.73, DP= 2.29). O cálculo do valor de z= 3.61
definiu este como um fator positivo altamente significativo para o autoconceito do
entrevistado. Já no fator 2 (z= -1.04) relativo a autoeficácia, o entrevistado pontuou 19
valores, ficando pouco abaixo da média amostral (M= 22.96, DP= 3.81). O valor de z no fator
3 (maturidade psicológica) não se demonstrou significativo (z= -0.627) , apesar de ter obtido
pontuação (14) superior à média (M=15.36, DP= 2.17). O fator 4 associado a
impulsividade/atividade (M= 11.41, DP= 1.40) também se mostrou altamente significativo,
com um valor de z= 2.56, obtendo 15 pontos.
Os fatores 5 (z= -2.39) e 6 (z= 3.03) apesar de não terem uma definição clara de
construtos avaliados, mostraram resultados significativos em seus respetivos z scores.

Conclusão Crítica

A partir dos resultados, percebe-se que apesar de ser o próprio indivíduo que se retira
das situações comunitárias e sociais, alegando desconforto quando há conflitos e desejo de
realizar as atividades da sua própria maneira, ele apresenta alta percepção de aceitação social.

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O indivíduo também apresentou valores de autoeficácia abaixo da média, o que pode
indicar uma percepção negativa nas suas capacidades de enfrentar e resolver problemas,
entretanto de baixa magnitude.

Relativamente às hipóteses propostas, verifica-se um impacto negativo na maturidade


psicológica, embora os resultados sejam acima da média esses não são significativos, o que
aponta para uma possível intolerância, irresponsabilidade, baixa honestidade em expressar
suas preferências e falha na autodeterminação. E apesar de na entrevista ter declarado
dificuldade em colocar os planos e objetivos em prática, apresenta altos valores de
impulsividade/atividade indicando ter iniciativa para a ação.

Inventário de avaliação clínica da depressão (IACLIDE)

Síntese Teórica

O Inventário de Avaliação Clínica da Depressão é uma escala de autoavaliação de tipo


Likert, com 23 questões que variam de 0 (nenhum sintoma) a 4 (sintomas intensos), utilizada
para medir a intensidade dos sintomas depressivos, abrangendo as principais áreas nas quais
estes se manifestam, provocando alterações fisiológicas, cognitivas, interpessoais e de
desempenho de tarefas . A escala refere a gravidade da depressão baseado na quantidade e
intensidade dos sintomas assinalados, procurando analisar até que ponto estes representam
incapacidades nos diferentes sistemas do indivíduo

O inventário foi desenvolvido pelo professor Vaz Serra, a partir da necessidade de um


instrumento de avaliação da Perturbação do Humor Deprimido representativo da população
portuguesa. Influenciado pelos trabalhos de Beck, o autor percebeu que a cultura é uma
variável importante na consideração de atitudes e comportamentos normalizados em
diferentes populações.

A amostra reuniu 340 pacientes, obtendo-se bons resultados de consistência interna: a


correlação “par/ímpar” foi igual a .854 e o coeficiente de Spearman-Brown igual a .920. O
coeficiente de validação concorrente com a versão portuguesa do Inventário Depressivo de
Beck apresentou um valor de .717. Foi realizado também um teste de Mann-Whitney para
comparar a amostra dos deprimidos com outros 340 indivíduos que nunca tiveram qualquer
transtorno psicopatológico, obtendo um ponto de corte da nota global de 20.

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Realizada uma análise fatorial de componentes principais, seguida de rotação
ortogonal do tipo varimax, foram encontrados 5 fatores principais explicativos de 54.24% da
variância total. O Fator 1 foi considerado o de maior importância, com sintomas biológicos e
cognitivos relacionados a dificuldades no desempenho de tarefas, se mostrou um bom
discriminante do tipo de depressão (de acordo com a classificação do DSM-III-R, endógena
ou reativa).

O Fator 2 indica traços de personalidade obsessiva, sensível à censura, hesitante e


pessimista, com a maioria dos sintomas de cariz cognitivo onde se pode concluir que o
indivíduo tem uma relação conturbada consigo próprio. O Fator 3 agrupa elementos
indicadores de ideação suicida, também com variáveis cognitivas. O Fator 4 corresponde a
sintomas associados a instabilidade emocional e dependência dos outros, reunindo elementos
de tipo biológico e interpessoal. O Fator 5 registra variáveis biológicas relativas a transtornos
do sono.

Aplicação

No mesmo dia, em seguida ao ICAC foi aplicado o Inventário de Avaliação Clínica


da Depressão através da plataforma Zoom, sendo os itens respondidos no Formulários
Google. O sujeito entrevistado encontrava-se em um quarto isolado da casa, de forma a
bloquear possíveis ruídos e distrações e concluiu a realização do teste em 20 minutos.

Previamente à aplicação do teste foram comunicadas as instruções, salientando-se que


as respostas deveriam ser dadas com base em como se sentiu nas últimas duas semanas e não
no seu modo habitual de ser e deveria ser respondido de forma rápida e honesta. O sujeito
demonstrou facilidade ao responder aos itens e não apresentou nenhuma dúvida.

Análise dos Resultados

A análise dos resultados do IACLIDE se sucederam por uma tabela disponibilizada


pelo docente, onde foi registrada uma pontuação de 8 valores. De acordo com o manual do
inventário, o ponto de corte que define os limites entre o que pode ser considerado normal e
depressivo é de 20 pontos, pelo que pode-se concluir que o indivíduo não se encontra
deprimido.
Em análise do manual do inventário, concluímos que a pontuação do sujeito é muito
próxima do valor da média da população não doente (M= 7.58, DP= 6.33), pelo que não são

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registradas incapacidades funcionais, causadas por depressão, em nenhum dos aspectos da
vida do entrevistado. No fator 1, o sujeito pontuou 0.97, não indicando qualquer dificuldade
no desempenho de tarefas; no Fator 2 obteve 0.09, o que nos indica que não há personalidade
obsessiva subjacente; no Fator 3 pontuou -0.184, negando qualquer possibilidade de ideações
suicidas; no Fator 4 obteve score de -0.49, descartando a possibilidade de uma dependência
emocional causada por depressão; no Fator 5 pontuou 1.01, mesmo sendo o score de maior
valor, não se pode considerar significativo, não sendo identificados distúrbios de sono.

No que diz respeito às incapacidades, não houve nenhum valor significativo tal qual
os fatores, sendo a Vida de Trabalho aquela com pontuação mais alta, equivalente a 1.59.
Mesmo não estando em valores problemáticos, A Vida Familiar é o segundo fator de valor
mais alto, 1.03, ainda não se registrando qualquer tipo de incapacidade. Em seguida, a Vida
Social (0.96) e a Vida em Geral (0.63) registram valores muito abaixo do ponto de corte para
a significância (2).

Conclusão Crítica

Com base nos resultados, podemos afirmar que o sujeito não é considerado deprimido
e nem registra sintomas de incapacidades causadas por uma depressão. Os resultados dos
fatores individuais não registram mudanças cognitivas, biológicas, interpessoais e nem
dificuldades no desempenho de tarefas significativamente relevantes associadas a um
transtorno de humor.
Relativamente às incapacidades, vale relembrar que o voluntário atualmente é
reformado e relata queixas de insatisfação no ramo do Direito. Uma hipótese a ser
considerada é a insatisfação com a área de estudos escolhida - inicialmente queria fazer
medicina, mas quando não foi aprovado se viu na escolha de áreas completamente diferentes
e distantes da medicina. É possível que se sentisse pouco motivado e isso reflita em suas
percepções acerca das próprias capacidades. Entretanto, relatou também que após mudar de
área de atuação sentia-se bem consigo mesmo e a profissão que exercia (criação de coelhos e
como professor do mesmo tema).
A Vida Familiar registrou a segunda maior pontuação, e mesmo ainda não sendo
considerada problemática, é possível deduzir através da entrevista que esta pontuação reflete
a insatisfação no relacionamento com o pai quando criança e a relação conturbada com o
irmão até os dias de hoje. Apesar do luto pela mãe, não se registram valores preocupantes,
levando-nos a crer que o indivíduo encontra-se num processo de luto normativo.

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Questionário de autoavaliação (STAI)

Síntese Teórica

Por ser um constructo de difícil operacionalização, a ansiedade só foi reconhecida


como parte da personalidade humana em 1936, quando Freud a classificou como um estado
específico ou condição emocional desagradável do organismo humano que implica em
comportamentos, sentimentos e interfere até em sua fisiologia. O Questionário de
Autoavaliação foi então desenvolvido com o intuito de aferir os níveis de ansiedade auto
relatados, sendo possível classificar a ansiedade de duas maneiras: como estado de humor
(STAI forma Y1) e como traço de personalidade (STAI forma Y2).

A escala de E-Ansiedade (Y1) avalia condições recentes de percepção da ansiedade,


caracterizadas por sentimentos subjetivos de tensão, apreensão, nervosismo e preocupação,
gerando uma condição emocional desagradável, temporária e de alta intensidade. Ou seja, é a
forma utilizada para aferir a ansiedade numa determinada situação e assim permitir capacitar
o indivíduo para que este consiga lidar de forma autônoma e satisfatória ao se deparar com
situações ansiógenas - considerando que o instrumento se mostrou sensível a alterações na
ansiedade temporária.

Como traço de personalidade, a ansiedade pode ser definida como a propensão


individual para percecionar situações como estressantes e o modo de reação a estas, o que as
tornam tendências subjetivas estáveis. Campbell (1963) referiu essas características como
“inclinações comportamentais adquiridas”, adquiridas na infância e ativadas por estímulos da
situação presente, como complementado por Atkinson (1964).

Sendo assim, o traço de ansiedade (T-Ansiedade) refere-se às características


idiossincráticas relativamente estáveis na forma de reconhecimento e reação à situações. Já a
ansiedade como estado (E-Ansiedade) é definida pela propensão de resposta, mais ou menos
intensa, relativa à situação estressante. Conclui-se então que pessoas com maiores níveis de
ansiedade como traço experienciam o estado ansiogénico/ansioso com mais intensidade.

O questionário foi inicialmente desenvolvido para avaliação de estudantes


universitários e do ensino secundário, mostrando-se também eficaz para crianças, chegando a
ser desenvolvida a escala STAIC - especificamente para medir a ansiedade de crianças do 1º

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ao 6º ano de escolaridade. Na amostra portuguesa foram incluídas amostras de adultos, de
ambos os sexos, dos 19 aos 69 anos, onde também se verificaram resultados significativos.

A amostra de aferição portuguesa foi composta por 4 populações de grupos etários


diferentes e contextos mais variados que a escala original, reunindo estudantes do ensino
secundário (10º ao 12º ano), estudantes do ensino superior, adultos com idades entre os 19 e
69 anos e militares.

Na avaliação da estabilidade temporal do instrumento foi utilizada a metodologia


teste-reteste com 60 dias entre a primeira e a segunda aplicação. Foram retestados 86
estudantes da licenciatura em Psicologia, apresentando uma correlação de r = 0.59. para a
escala de E-Ansiedade, a qual não espera alta estabilidade temporal por sua natureza, e r =
0.80 para T-Ansiedade, demonstrando elevada estabilidade, como desejado.

Na análise da consistência interna foi utilizado o alpha de Cronbach, o qual


apresentou resultados acima de 0.87 em ambas as escalas nas três populações analisadas
(estudantes do ensino secundário e superior e adultos), representando assim valores de
consistência elevados. Foram feitos cálculos de correlações item-total corrigidas, os quais
reforçam os resultados de consistência, apresentando bons índices de precisão individual.

Aplicação

O STAI também foi aplicado no mesmo dia, logo em seguida ao IACLIDE. Foi
questionado se o sujeito gostaria de fazer uma pausa entre os testes, mas o mesmo referiu que
estava motivado a continuar. O entrevistado encontrava-se em um quarto isolado da casa, de
forma a bloquear possíveis ruídos e distrações e concluiu a realização do teste em 20 minutos.

O indivíduo começou então por preencher o teste na forma Y1, que diz respeito a
escala E- ansiedade, cujo objetivo é avaliar como o sujeito se sente no momento atual. De
seguida, aplicou-se o teste na forma Y2, referente a escala T-ansiedade, que visa perceber
como se sente geralmente, sendo clarificada a diferença entre as duas escalas de forma que
respondesse de forma correta. Também não apresentou dificuldades na compreensão ou
preenchimento dos itens.

Análise dos Resultados

Os resultados foram calculados a partir da soma dos valores ponderados de cada item,
obtendo um score bruto de 21 pontos na escala Estado-Ansiedade (Y1) e 30 pontos na escala

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Traço-Ansiedade (Y2). A análise foi feita através da comparação dos resultados do
entrevistado com a amostra de aferição portuguesa correspondente a adultos não pacientes
acima de 50 anos. Vale ressaltar que o teste foi aplicado a um homem brasileiro e, por este
motivo, os resultados podem não corresponder à realidade do sujeito.

De acordo com os resultados da amostra portuguesa, é possível concluir que os níveis


de E-Ansiedade relatados (21) se encontram bem abaixo da média da amostra de referência
(M= 35.20, DP= 8.42) e o mesmo acontece com a escala de T-Ansiedade (M= 35.11, DP=
8.96), onde foram registrados 30 pontos. No seguimento da análise de percentis, o resultado
da escala de ansiedade como estado encontra-se no percentil 4 com resultados inferiores a
96% da amostra de referência. Já na escala de T-Ansiedade, o score bruto de 30 pontos
corresponde a um percentil de 34, indicando que o entrevistado tem resultados inferiores a
66% da amostra de referência.

Conclusão Crítica

Com estes resultados podemos concluir que o entrevistado possui bons níveis de
ansiedade, que não se atestam problemáticos em seu cotidiano. Apesar de relatar síndrome do
pânico, os resultados mostram que a ansiedade do sujeito é bem controlada, ainda mais no
que tange a escala de E-ansiedade, o que pode ser atribuído aos medicamentos ansiolíticos,
como mencionado pelo sujeito.

NEO PI-R

Síntese Teórica

O Inventário de Personalidade NEO Revisto, foi desenvolvido por Costa e McCrae


em 1992 (a partir do modelo dos cinco fatores) e permite aferir as cinco principais dimensões
da personalidade, englobando 30 diferentes traços que definem essas dimensões:
neuroticismo (ansiedade, hostilidade, depressão, auto-consciência, impulsividade e
vulnerabilidade), extroversão (acolhimento, gregariedade, assertividade, atividade, procura
de excitação e emoções positivas), abertura à experiência (fantasia, estética, sentimentos,
ações, ideias, valores), amabilidade (confiança, retidão, altruísmo, complacência, modéstia,
sensibilidade) e conscienciosidade (competência. ordem, obediência ao dever, esforço de
realização, autodisciplina e deliberação).

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Os autores buscaram incluir, em apenas um instrumento, variáveis que permitissem
compreender como a personalidade individual é caracterizada e assim predizer, com base nos
resultados obtidos, os acontecimentos da vida, desde interesses vocacionais, à saúde/doença e
estratégias de coping. Não foi desenvolvido com um objetivo específico além do supracitado,
sendo muito útil para ser utilizado em diferentes contextos.

As análises da validade do NEO-PI-R indicam uma boa operacionalização dos


constructos propostos, constituindo-se de indicadores ou verificadores da validade das
respostas: validity checks, o controle das não respostas, a aquiescência, a tendência a dizer
não e o controle das respostas aleatórias. Entretanto, não possui nenhuma forma de detecção
de respostas falsas. A filosofia dos autores parte do princípio que o investigador irá
administrar e interpretar corretamente o instrumento, tendo a certeza que o indivíduo
compreendeu a importância e o objetivo da investigação.

Sendo um teste de autorrelato, a desejabilidade social torna-se um fator relevante a ser


considerado, todavia não há, neste instrumento, nenhuma forma de controle ou mensuração
para tal. Os autores consideraram que este fator não representa uma ameaça à validade da
escala, já que estas não são suscetíveis a esse tipo de influência. Não é recomendada a
utilização de uma escala para medir a desejabilidade social juntamente ao NEO-PI-R, pois
este fator é correlacionado com as escalas de Neuroticismo e Abertura à Experiência,
proporcionando assim informações redundantes.

Dois estudos americanos examinaram com afinco a validade convergente e


discriminante nas 30 escalas de facetas do instrumento, obtendo bons resultados de
convergência, com valores superiores a .5 em 66 das 150 correlações testadas. Já a validade
discriminante foi observada no contraste das diferentes facetas (de um mesmo domínio) com
a comparação às facetas de outro domínio, atestando a diferença entre domínios.

As correlações entre os itens (domínios e traços) apresentaram valores acima de .56 e


consistência interna com alpha oscilante entre .86 e .95. Na amostra portuguesa, os
coeficientes de alpha de Cronbach para os cinco domínios analisados variam entre .796 e
.856, não apresentando grande fidelidade - não é considerado um problema desde que seja
evidenciada validade adequada para as facetas.

Para a fidelidade teste-reteste foi observada uma amostra de 31 pessoas, onde as


correlações entre facetas apresentavam amplitude de .66 a .92 e para os domínios entre .86 e

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.91. Investigações longitudinais para avaliar a estabilidade do instrumento em longo prazo
demonstraram

Aplicação

Após afirmar não haver necessidade de uma pausa o sujeito respondeu ao teste
NEO-PI-R. O entrevistado encontrava-se em um quarto isolado da casa, de forma a bloquear
possíveis ruídos e distrações. As instruções foram lidas em voz alta e o respondente não
apresentou nenhuma questão, pelo que se decidiu prosseguir com a aplicação do teste. O
preenchimento demorou por volta de 1 hora e o sujeito não apresentou nenhuma dificuldade
na compreensão ou preenchimento dos itens. Entretanto, no final do teste expressou sinais
verbais e comportamentais de fadiga devido à quantidade de itens.

Análise dos Resultados

Primeiramente, antes de dar início a análise dos resultados, verificou-se os índices de


validade, os quais se mostraram dentro dos limites normais. O valor de aquiescência é de 141,
sendo abaixo de 150, o que indica a ausência de respostas aleatórias. Os itens negativos
também se encontram dentro da normalidade, com valor 77. Não se verificaram valores
omissos, tendo o sujeito respondido a todos os itens, permitindo o seguimento da análise,
partindo de uma perspectiva mais global (relativamente aos domínios) para uma perspectiva
mais detalhada, englobando as facetas de cada domínio.

No domínio do Neuroticismo o indivíduo apresenta valor bruto de 118, com percentil


90. Também se encontra percentil 90 no domínio de Extroversão (valor bruto de 128). O
terceiro domínio com elevado percentil é o de Abertura à Experiência, com percentil 80 e
valor bruto de 126. A Conscienciosidade, por sua vez, se encontra dentro dos valores médios,
com percentil 50 e valor bruto de 120. E por fim, a Amabilidade apresenta valor abaixo da
média, com valor bruto de 112 e percentil 40.

Dentro do Neuroticismo, as facetas com valores muito altos são: Hostilidade (valor
bruto de 26 e percentil 99), Impulsividade (valor bruto de 21 e percentil 90), Vulnerabilidade
(valor bruto de 18 e percentil 90). A ansiedade apresenta valores altos, sendo o valor bruto de
20 e o percentil 70. As facetas que se enquadram em valores médios são a Depressão (valor
bruto de 16 e percentil 60) e Autoconsciência (valor bruto de 17 e percentil 60).

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No domínio Extroversão o indivíduo revela valores muito altos nas seguintes facetas:
Emoções Positivas (com valor bruto de 29 e percentil 99), Atividade (com valor bruto de 22 e
percentil 95) e Assertividade (com valor bruto de 19 e percentil 80). O Acolhimento Caloroso
se encontra com valores altos, sendo 24 o valor bruto e percentil 70. Já a Procura de
Excitação se encontra dentro da média, com valor bruto de 21 e percentil 60. Por fim,
verifica-se muito baixa gregariedade, com valor bruto de 13 e percentil 20.

De seguida, no domínio Abertura à Experiência, manifesta três domínios com valores


muito altos: Sentimentos (valor bruto de 27 e percentil 97), Estética (valor bruto de 27 e
percentil 90) e Fantasia (valor bruto de 22 e percentil 80). Por outro lado, as facetas: Ações
(valor bruto de 17 e percentil 60) e Ideias (valor bruto de 18 e percentil 50) se encontram
dentro da média. Já os Valores exibem valores muito baixos, com valor bruto de 15 e
percentil 20).

Na Amabilidade a única faceta com valor muito alto é a de Retidão, com valor bruto
de 25 e percentil 95. A Confiança (valor bruto de 19 e percentil 50) situa-se dentro da média.
E o Altruísmo (valor bruto de 21 e percentil 40), Modéstia (valor bruto de 18 e percentil 40) e
Sensibilidade (valor bruto de 20 e percentil 40) apresentam valores baixos. Enfim, a
Complacência exibe valores muito baixos, com valor bruto de 9 e percentil 2.

Por fim, no domínio Conscienciosidade, o sujeito apresenta valores muito altos nas
facetas de Competência ( valor bruto de 25 e percentil 90) e Obediência ao Dever (valor bruto
de 26 e percentil 80). O Esforço de Realização se encontra com valores altos, sendo o valor
bruto de 23 e percentil 75. A Deliberação situa-se na média, com valor bruto de 18 e percentil
50. A Autodisciplina, com valor bruto de 17 e percentil 30 e a faceta Ordem, com valor bruto
de 11 e percentil 10 se enquadram em valores muito baixos.

Conclusão Crítica

Baseando-se nos resultados obtidos, verifica-se que o indivíduo apresenta altos nível
de neuroticismo, nomeadamente nas facetas de hostilidade, vulnerabilidade e impulsividade,
o que pode indicar um sujeito vulnerável a situações de stress, que age antes de pensar,
podendo apresentar dificuldade em controlar seus impulsos e manifesta facilmente sinais de
irritação e frustração. Também exibe níveis altos de ansiedade, podendo então ser
caracterizado como apreensivo e tenso. Ainda mostra altos níveis de extroversão,

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expressando-se como uma pessoa alegre, com prevalência de emoções positivas, enérgica,
confiante e decidida. É amigável e possui altos níveis de acolhimento caloroso, porém, por
outro lado evita multidões e se mostra mais solitário, evitando o contato social.

A faceta de maior destaque no domínio de abertura à experiência é a de Sentimentos,


indicando então ser um indivíduo sensível, empático e emotivo. Aprecia também a arte e a
beleza e possui grande capacidade imaginativa. Entretanto, pelos baixos valores apresentados
nas facetas de ações, ideias e valores é um sujeito que busca o familiar, isto é, que não se
distancia muito do comum. Não aprecia desafios intelectuais, tendo baixa curiosidade, é
dogmático, conformista, conservador e pouco tolerante com outras pessoas.

Em relação a amabilidade, manifesta altos níveis de retidão, ou seja, é franco, honesto


e lida com as outras pessoas de forma natural, sem recorrer a manipulação. Os níveis de
confiança se encontram na média, por isso, nem confia, nem suspeita demasiadamente dos
outros. O sujeito é mais focado em si, agressivo, antagônico, competitivo e de difícil
comoção. Além disso, pelo baixo nível de modéstia apresenta tendências narcisistas e
arrogantes, possuindo uma imagem enaltecida de si.

Sente-se como um indivíduo capaz de lidar com as adversidades da vida, adere com
facilidade às regras e normas morais e possui elevado esforço de realização, o que significa
que ao traçar seus objetivos exibe muita motivação para os atingir. Os níveis de deliberação,
entretanto, encontram-se na média, indicando que nem age com cautela em excesso nem é
demasiadamente impulsivo. A baixa auto-disciplina assinala uma dificuldade em seguir seus
objetivos, tendo também alta sensibilidade a frustração o que pode levar a fácil desistência.
Ademais, também exibe níveis muito baixos de ordem, o que pode indicar problemas de
organização, sendo assim pouco metódico.

3. Síntese Crítica

Relativamente às hipóteses propostas após a recolha de informações (realizada


através da entrevista cognitiva) pode-se observar que apesar do processo de luto pela perda da
mãe, a rejeição do pai durante a sua vida e seu comportamento de isolamento social o
indivíduo não apresenta sintomas depressivos, o que é evidenciado pelo baixo valor obtido no
teste IACLIDE, através do qual é possível também dizer que não há presença de incapacidade
em qualquer área de sua vida que seja explicada por sintomatologia depressiva..

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Através do teste STAI é possível verificar que, como mencionado pelo indivíduo, seus
níveis de ansiedade estão de fato controlados pela medicação, exibindo baixos níveis tanto
para Ansiedade-Estado quanto para Traço, o que se revela um fator muito positivo. Contudo,
por meio do NEO-PI-R foi registrado um alto nível de ansiedade, revelando-se então uma
personalidade ansiosa, que pode não ter sido captada pelo STAI devido ao consumo de
ansiolíticos, diminuição da frequência de ataques de pânico e mudança para o campo, local
mais tranquilo, com menos exposição a estímulos ansiogênicos.

Referiu-se que poderia ser observado um certo grau de intolerância, aspecto


mencionado também pelo sujeito, e dificuldade em colocar seus planos em prática. De fato,
através do ICAC e do NEO-PI-R é confirmada a hipótese de o indivíduo ser pouco tolerante,
indicando um elevado nível de conservadorismo. Já em relação a iniciativa, tanto o teste de
autoconceito quanto o teste de personalidade revelam uma motivação para agir conforme seus
objetivos. Entretanto o indivíduo é prejudicado pela dificuldade em planejar suas ações, além
de apresentar baixa auto-disciplina e alta sensibilidade a frustração, que corroboram para uma
facilidade de desistência.

Também foi hipotetizado encontrar níveis moderadamente elevados de neuroticismo,


nomeadamente a hostilidade e impulsividade e também certo nível de introversão, sendo
todos esses aspectos observados e confirmados pelo teste de personalidade. Como última
hipótese temos a dificuldade em seguir regras (comportamento exibido no período em que
estudou na escola de padres), contudo esta foi refutada pelo NEO-PI-R, o qual revelou uma
grande adesão às normas e regras morais por parte do indivíduo. É relevante mencionar
também que apesar do teste de autoconceito mostrar uma percepção negativa na capacidade
de lidar com problemas, o teste de personalidade evidencia o contrário.

Através dos resultados obtidos nos testes e das informações fornecidas pela entrevista
foi possível observar alguns aspectos negativos na personalidade do indivíduo, os quais
podem prejudicar seu ajustamento social e trazer consequências negativas. O sujeito, assim
como relatado pelo próprio, apresenta elevado grau de hostilidade e impulsividade - fatores
que podem ser agravados pela sua vulnerabilidade ao stress e a frustração - por ser facilmente
irritável e pouco tolerante para com os outros. Além disso, essa hostilidade pode ser
alimentada pelo seu espírito competitivo, antagônico e por suas tendências narcisistas e
arrogantes. É observado certo grau de sobrevalorização, facilitando situações onde este pode
competir com outros indivíduos, de forma agressiva, para reforçar seu ego.

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Por outro lado, possui altos níveis de acolhimento caloroso e demonstra ser muito
amigável. Torna-se relevante ressaltar também que apesar de evitar o contato social e a
participação em atividades comunitárias apresenta prevalência de emoções positivas.

Em contrapartida, mostra-se confiante, decidido, motivado, com elevados níveis de


energia e capaz de lidar com as adversidades da vida - fatores esses essenciais para dirigir-se
a um melhor ajustamento social. Dessa forma, propõe-se uma intervenção psicológica focada
no desenvolvimento de estratégias de coping para situações de frustração, stress e
irritabilidade, no sentido de amenizar os fatores que agravam as tendências hostis do
indivíduo, bem como proporcionar uma melhor gestão dessas tendências. Percebe-se que
apesar dos fatores benéficos mencionados anteriormente, como sua elevada confiança e
motivação, o sujeito encontra obstáculos em colocar suas ações em prática e por isso, se
abordada no contexto terapêutico, pode levar a um melhor planejamento das suas ações e
facilitar o alcance dos objetivos terapêuticos.

Em conclusão, é possível verificar que independentemente da presença de


características de personalidade negativas, o sujeito também possui grandes capacidades para,
juntamente com a ajuda de um psicólogo, atingir um melhor nível de adaptação social.

4. Bibliografia

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Estatística das Perturbações Mentais (3ª Ed.).Lisboa: Climepsi Editores.

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Vaz Serra, A. (1994). Inventário de Avaliação Clínica da Depressão (1st ed., pp.
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5. Anexos

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