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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Instituto de Psicologia

Laudo Psicológico1

IDENTIFICAÇÃO

O documento foi escrito pelo aluno XXX, DRE: XXX, solicitado pela disciplina
de Criminologia do Instituto Federal de Psicologia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, durante o ensino remoto do período de 2020.2. Este documento tem o objetivo
de analisar e avaliar a disciplina de um modo geral.

DESCRIÇÃO DA DEMANDA

Devido a proposta de avaliação da disciplina de se elaborar um laudo seguindo as


regulamentações postas pelo Conselho Federal de Psicologia para que haja experiência
da turma com esse tipo de documento, este apresenta análises e reflexões do aluno acerca
da disciplina ao decorrer de todo o período.

PROCEDIMENTO

A disciplina como um todo se deu por meio de vinte e duas aulas ministradas
durante o período remoto, considerando-se se aulas síncronas nas segundas-feiras e
conteúdos assíncronos nas quartas-feiras, das 16h40 às 18h20 no horário de Brasília, e
apresentações de seminários como uma das avaliações finais.

1
Em conformidade com a Resolução CFP no 06/2019.
Os responsáveis por apresentar a disciplina foram o Professor Pedro Paulo
Bicalho, os tutores Caíque Azael e Johnny Clayton Silva e as monitoras Giovanna Corrêa
e Mykaella Moreira. Em relação ao cronograma, a disciplina foi estruturada dentre onze
semanas:
Aula 1 (29/03) - Apresentação da disciplina; A Ciência criminológica: pressupostos
epistemológicos, históricos e políticos.

Aula 2 (05/04) - As Criminologias: da pré-história criminológica à criminologia crítica.

Aula 3 (12/04) - Direito Penal e Psicologia.

Aula 4 (19/04) - Como nasce uma política pública?

Aula 5 (26/04) - Psicologia e Sistema de Justiça.

Aula 6 (03/05) - Psicologia e Segurança Pública.

Aula 7 (10/05) - Psicologia e Sistema Prisional.

Aula 8 (17/05) - Políticas de prevenção e combate à tortura.

Aula 9 (24/05) - Apresentação de seminários.

Aula 10 (31/05) – Apresentação de seminários.

Aula 11 (07/06) - As reflexões finais: Ética Profissional e Intervenção em Psicologia.

ANÁLISE

Inicialmente, a disciplina apresenta à turma a ciência criminológica, visando


descrever seus pressupostos epistemológicos, históricos e políticos para se estruturar uma
base de conteúdo para as próximas aulas. Este começo foi fundamental para entender as
escolas criminológicas e suas correlações tanto na história quanto na atualidade, de modo
a reconhecer a criminologia como uma área vasta que demanda perspectivas críticas, e já
refletir acerca das nossas expectativas da temática – uma vez que o crime e a ciência que
o estuda são permeadas por noções de senso comum.
Dentro deste contexto, nosso olhar de estudantes de psicologia já se encontrou
direcionado e confrontado com as diferentes maneiras de se ver e se relacionar com o
crime e seus desdobramentos na sociedade. Há de se pontuar que começar a disciplina
problematizando estratégias positivistas é de extrema importância para que não haja a
naturalização dessas, como identificando delinquentes através de análises de fenótipos de
Lombroso, sociologia criminal de Ferri e prognóstico de Periculosidade de Garófalo.
Além do mais, através da apresentação da criminologia crítica, qualquer armadilha de um
“discurso lombrosiano”, perverso, cai por terra.
Após o contato com as propostas de superação do paradigma etiológico e esse
deslocamento do foco no indivíduo, foi possível articular alguns dos processos presentes
com a área da psicologia. Os conceitos de incriminação e criminalização dos fenômenos
penais possibilitaram o pensamento de uma psicologia próxima à criminologia, de modo
a contribuir para com análises críticas, assim como as citadas pela Criminologia Crítica e
atravessar o olhar reducionista.
Foi nesse momento em que se concluiu que não podemos estudar criminologia
apenas do ponto de vista do crime, mas a partir do que se constrói de processos que são
oriundos às normas. Portanto, o papel da Psicologia já foi possível ser visualizado na
medida em que o professor explicita que os processos de criminalização chegam aos
profissionais de psicologia de uma maneira ou de outra, fazendo com que seja necessário
o reconhecimento de uma desigualdade estrutural, da presença de normas que subjetivam.
Articular a área criminológica com a(s) psicologia(s) auxilia na construção de uma
perspectiva contrária às teorias lombrosianas independente do local de atuação do
profissional. Sendo assim, a disciplina ilustra muito bem que reconhecer dispositivos de
subjetivação transversos pelas relações de poder em diferentes lugares, faz com que nossa
atuação esteja implicada e comprometida ético-politicamente: pode-se afirmar que pensar
a prisão não é somente pensar o sistema prisional, assim como estudar o modo como as
pessoas pensam e sentem a partir de constructos como crime, criminalização e prisão, não
é prática “exclusiva” da área da Criminologia.
Por sequência, a disciplina nos mostra interseções na área das políticas públicas
(segurança pública, justiça, penal, prisional e enfrentamento à tortura). Considerando que
a maioria dos profissionais de psicologia atuam direta ou indiretamente em políticas
públicas, um dos pontos altos da disciplina é enxergar uma psicologia já atuante para além
de suas tradicionalidades como a clínica elitista. A Psicologia veste hoje a camisa da
democracia, da luta por saúde pública, sociedade sem manicômios, construção e
manutenção de diferentes assistências psicossociais, além de ser majoritariamente
ocupada por mulheres. Entretanto, a psicologia enfrenta muitos desafios e um desses se
encontra nas bases curriculares. Há de se atentar para análises de conjuntura como parte
estratégica da formação de psicólogos, assim sendo, de modo a nos contextualizar
inclusive no contexto pandêmico (de aumento da procura por profissionais da psicologia),
a disciplina nos mostra o quão importante é a atuação do psicólogo em políticas públicas.
Ademais, à medida que o Direito Penal, por exemplo, reconhece o conteúdo
subjetivo do processo de incriminação, a Psicologia se aproxima cada vez mais –
inclusive, deve se posicionar firmemente para não ser subserviente de um código penal.
Novamente, é possível assistir uma psicologia comprometida e entendida de sua função,
a fim de reconhecer e evidenciar a interligação entre os dois processos já citados. Vale
ressaltar que o professor comenta várias vezes o quanto os profissionais obtêm
responsabilidades específicas já que a justiça entende que o testemunho de um psicólogo
é uma prova documental – vê-se, ainda, como relações de poder se mostram presentes
também na própria área da psicologia.
De modo esclarecedor, foi possível notar o esforço a equipe da disciplina para
atentar os alunos à função da psicologia, assim como afirmam que o direito e a psicologia,
por exemplo, partem de códigos de éticas diferentes. Além disso, foi explicado diferenças
mais específicas como entre peritos/amicus curae e contratados por uma das partes,
retomando detalhes também do ordenamento jurídico presente no nosso país. Esse
aspecto se mostrou essencial para alcançar àquelas pessoas não familiarizadas com as
discussões da área, fazendo com que haja maior acesso às informações – vale pontuar que
o professor e a equipe sempre se mostraram dispostos e abertos para tirarem dúvidas e
prestarem ajudas.
Outro ponto a ser observado e enaltecido foi a preocupação em trazer recortes de
gênero, raça, classe, sexualidade e territorialidade para o entendimento dos conteúdos. É
inegável que esses marcadores sociais estão presentes nas subjetividades, bem como nos
sofrimentos psíquicos, e são alvos da violência de Estado e políticas de morte,
encarceramento em massa, superlotação de presídios, seletividade penal, dentre outras
questões que são muito reforçadas também no contexto atual. Em concordância com o
que é dito nas aulas, a figuração de um inimigo em nível nacional acaba por ser um
método presente nos discursos e, portanto, nas subjetividades – havendo seleção de quem
é protegido ou não.
A partir de uma retomada histórica, foi possível notar como as políticas públicas
que buscam exercer democracia vêm sofrendo desmonte e ataques, estimulando-se, por
exemplo, várias situações de letalidade policial nas favelas. Com efeito, pensar a
psicologia em torno dessas temáticas é pensar a constituição normativa da nossa
sociedade, a construção de políticas públicas, o compromisso com os direitos humanos e
não menos importante: a análise crítica da própria área e atuação.
Próxima ao fim, a disciplina termina preocupada em passar para a turma a ideia
de que “descolonizar é lutar contra toda forma de intervenção”, ou seja, a Psicologia
precisa construir saberes que considerem lógicas de poder, e buscar enfrentar todas as
formas de opressão, ainda que de maneira inicial e pouco apoiada por outras áreas. Todo
o conteúdo da disciplina traz à tona como as subjetividades são construídas com efeitos
dos tempos fascistas, e por esse motivo, os profissionais da psicologia precisam se
direcionar para o entendimento dos afetos, de modo a nomeá-los e torná-los mais visíveis
para que as políticas genocidas não os capturem.
De um modo geral, a disciplina foi absurdamente rica, apresentando diversos
assuntos e aprofundamentos. Contudo, é preciso pontuar que a carga de aulas não
acompanhou a carga de leituras, uma vez que eram muitos conteúdos a serem consumados
dentro de uma redução de número de aulas. Em relação aos grupos do seminário, houve
atraso para a montagem desses, fazendo com que as pessoas ficassem em dúvida sobre
quais bibliografias realmente leriam para o trabalho. Notou-se certa dificuldade de
acompanhamento, também, das leituras exigidas para a realização desses seminários
finais, fazendo com que algumas pessoas ficassem desalinhadas acerca do assunto, além
de considerar o pouco tempo para a efetivação da leitura propriamente dita. Ainda sobre
os seminários, as apresentações tinham pouco tempo para se realizar de maneira adequada
e vários grupos passaram do tempo, prejudicando os seguintes.
Além dessas questões, a ultrapassagem do tempo estipulado para as aulas de
segunda também não colaborou para maior aprendizado, mesmo que tenha sido realizada
com boas intenções, uma vez que intensificou a carga horária da aula, a qual já apresenta
muitas informações. Seria mais viável, portanto, repensar a estrutura da disciplina de
acordo com a realidade virtual que estamos inseridos e vivendo, a fim de que todos
acompanham e absorvam os assuntos levantados.
Embora o ensino remoto se mostrasse limitante o tempo todo fazendo com que
tivéssemos menos número de aulas síncronas e reduzido o conteúdo realmente proposto
pela disciplina, certamente essa reverberou e ainda reverbera de forma muito viva nos
estudantes. Esse aspecto foi confirmado pela realização dos seminários, os quais
articularam os conteúdos da disciplina com vários e diferentes caminhos temáticos.
Portanto e por fim, a disciplina abordou uma psicologia que não se prendeu à área da
criminologia, aliás, se provou essencial para o curso como um todo desde seu início.
CONCLUSÃO:

Posta a análise, é possível concluir que a disciplina contribuiu muito para a


formação dos alunos de psicologia para além de um aprofundamento na área
criminológica. Sua importância se dá pela reafirmação do comprometimento social e
posicionamento ético-político a fim de lutar e resistir às normativas engessadoras
presentes na sociedade e/ou nas subjetividades. Contudo, visto que o ensino remoto
limitou alguns aspectos, recomenda-se reestruturação da disciplina quanto à combinação
das quantidades de aulas, conteúdos ofertados e apresentações de grupos. Recomenda-
se, ainda, que a disciplina seja obrigatória ao curso de graduação em Psicologia, dada a
sua importância para a formação. Sugere-se que esta proposta seja implementada na
próxima revisão curricular do Instituo de Psicologia da UFRJ.

REFERÊNCIAS:

Aulas ministradas no curso de Criminologia do Instituto de Psicologia em 2020.2


pelo Professor Pedro Paulo Bicalho.

Rio de Janeiro, 05 de junho de 2021.

Assinatura

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Nome

DRE

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