A proposição do perfil psicológico, o qual se refere
à investigação e à identificação, conforme diferentes demandas e objetivos, de características psicológicas e traços de personalidade e de comportamentos de indivíduos. No contexto jurídico e, mais especificamente, na área criminal, o foco do interesse recai principalmente sobre o perfil psicológico de pessoas envolvidas em crimes, denominado perfil criminal ou criminal profiling. Do perfil psicológico ao perfil criminal
O termo perfil psicológico é originário do termo em
inglês psychological profiling. Os fundamentos e princípios da proposição do perfil (profiling) em Psicologia se referem à prática de identificar e reconhecer características psicológicas e traços de personalidade, bem como comportamentos, intenções e sentimentos de pessoas, em diferentes contextos. No contexto jurídico, a prática de identificar, conhecer e desenvolver perfis psicológicos se constitui como uma das áreas de atuação do(a) psicólogo(a) jurídico(a). Considerando as diferentes áreas do Direito, podem- se vislumbrar diversas demandas advindas do campo jurídico e forense para o entendimento e desenvolvimento de perfis psicológicos. Contudo, o desenvolvimento desses perfis, no âmbito jurídico, ocorre principalmente no contexto criminal. Conforme Bloom (2012), existem diferentes definições para o termo e a prática do profiling, como é denominado na ciência psicológica. O desenvolvimento de perfis envolve tentativas de previsão, identificação e entendimento de características pessoais e de comportamentos. No desenvolvimento de um perfil psicológico, busca- se compreender características psíquicas e, consequentemente, possíveis ações do indivíduo considerando essas características. Nesse sentido, entende-se que é possível realizar o perfil psicológico de qualquer pessoa e conforme diferentes objetivos. No que tange ao âmbito criminal, a prática de psychological profiling é conhecida como criminal profiling, termo cunhado pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) nos EUA; essa prática também é chamada de offender profiling. No Brasil, foi proposto o termo perfil criminal, tradução feita a partir do termo em inglês criminal profiling. A técnica de perfil criminal se insere como ênfase da área da psicologia investigativa, conforme Lino e Matsunaga (2018) e Silveira (2013), a qual se refere a uma disciplina da Psicologia e, mais especificamente, da psicologia jurídica, no âmbito da psicologia criminal, de contributos da ciência psicológica à apuração de crimes. Sendo assim, constitui-se como um campo de conhecimento, de pesquisas e de práticas relacionadas a investigações de âmbito criminal. Trata-se de uma disciplina recente no contexto da Psicologia, tendo iniciado, conforme Silveira (2013), com estudos sobre a realização de perfis criminais, mas, na atualidade, engloba diferentes práticas psicológicas investigativas. PSICOLOGIA CRIMINAL
O método de analisar características psíquicas e
comportamentais de sujeitos criminosos surgiu com agentes do FBI, os quais iniciaram estudos empíricos, por meio de entrevistas com assassinos famosos da época, para compreender o comportamento humano relativo a crimes de homicídio e características de personalidade, como afirmam Silveira (2013) e Canter (2004). Para Canter e Youngs (2009), todo crime se configura em uma série de comportamentos que remetem à personalidade do autor. Desse modo, essas ações do indivíduo podem fornecer indícios sobre os traços de personalidade e as demais características psicológicas do criminoso, sendo esse o foco do perfil criminal. Partindo desse entendimento, a psicologia investigativa propõe desenvolver princípios para a elaboração de um perfil criminal, a partir de observações, pesquisas empíricas, dados de casos e conhecimentos teóricos e técnicos, com vistas a tornar a elaboração de perfis psicológicos criminais um procedimento com rigor científico. Para Canter e Youngs (2009), o conhecimento da ciência psicológica possibilita inferir acerca dessas características psicossociais e de personalidade a partir do ato criminal. A cena do crime pode apresentar indícios físicos observáveis, os quais são resultados de ações do(a) agressor(a) e da vítima. Assim, indícios como o método usado no crime, os objetos deixados e encontrados no local do crime e as características da própria vítima podem ser usados para investigar e inferir sobre o perfil psicológico do ofensor. Além disso, pode-se realizar o perfil psicológico de vítimas de crimes a partir desses indícios encontrados e de diferentes fatores relativos ao crime examinado. NO BRASIL
No Brasil, a realização de perfis criminais consiste
em uma prática ainda pouco difundida, sendo possível encontrar poucos estudos científicos sobre a temática no contexto brasileiro, e não se constituindo esta como prática corrente do profissional de Psicologia nos diferentes níveis de ação e instituições jurídicas. Contudo, vislumbra-se um crescimento de interesse, pesquisas e desenvolvimento de práticas de perfil criminal no país, já tendo o mesmo sido utilizado em investigações, como afirma Silveira (2013). Nesse sentido, é importante destacar a necessidade de mais estudos científicos sobre o tema no âmbito nacional, com vistas a avaliar sua aplicabilidade como recurso investigativo e como prova no processo judicial. Pág.04