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dançando e RA

com a família
--
CARL A. WHITAKER
WILLIAM M. BUMBERRY

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dançando COM PHli

W577d Whitaker, A.
Dançando com a família. / A. Whitaker e William
com a família
M. Bumberry; trad. por Rose Eliane Starosta.
- Porto Alegre: Anes Médicas, 1990. uma abordagem simbólico-experiencial
159 p.

CDU: 159.97-055.5/.7
Tradução :
ROSE ELIANE STAROSTA

Índices para o catálogo sistemático:

Terapia familiar 159.97-055.5/.7


Ficha catalográfica elaborada por Carla P. de M. Pires CRB 10/753

PORTO ALEGRE/ 1990


PubllcadO originalmente em lrards oob o lftulo
Danang - ,,,. tam,ty
Cl 1988 by Brunner/Maz1el. lnc. New Yo~.

Sumário
Capa:
tMrlo Rõhnen

Supervis.1o editorial:
Prefácio . .. .... . .. •. . .•. ..•... .. . . .. ... . .•...... . 7

1. Iniciando com a famllia: aliando-se, redefinindo


ru a 13 de makl, 468 • caxlas do sul · rs e expandindo o sintoma ... .... ....• .. ... •..•. ... ... 11

2. A pessoa do terapeuta: Integridade pessoal e estrutura


do papel profissional .•.•. . .• ... . . .• . •.. .. ..•...... 29

3. O processo de terapia familiar: aspectos político-administrativos


e estágios da terapia .........•.•.. . ...... ... ....... 42

. 4. Terapia familiar simbólico-experiencial ....... .• . . ... . . . 57

Reservados todos os direitos de publicação à 5. Tomando-se íntimo: desafiando estruturas


EDITORA ARTES MÉDICAS SUL LTDA. e criando caminhos . . .. . . . . .. . . . .. ..... . ..... .... . . 70
Av. Jerónimo de Ornelas, 670 - Fones: 30.3444 e 30.2378
90.040 - Porto Alegre - RS, Brasil • 6. O dilema universal: homens desesperançados e
mulheres esperançosas ..... . .. . ... •... ...... .... ... 85
LOJA - CENTRO
Rua General Vitorino, 277 - Fone: 25.8143 7. O segredo para a infelicedade: obtendo-se o que quer . . ... . !05
90.020 - Porto Alegre - RS, Brasil
, 8. O cuidar revisto ...•.. ... .. . . ... ... ... ... ...... .. 121
,...__
:, . ,c, s/~.
--
- ---7- 9. A família saudável e a patologia nonnal . .. . .. ... .. . .. .. 135
BIBLIOr ··u., •. ' I I O. Em que direção há crescimento?
;_, 1 C N TN.-, L
N"..::Lst;_Ç/_ 0 ' ~J_/-} f.[4EJ O acompanhamento três anos após .• ... . ...• • • •• . .. ... 143

Referências bibliográficas • ............ .. . ..•• ••• ... 159

IMPRESSO NO BRASIL
PRI NTED IN BRAZIL
Prefácio

Às 8 lwras, numa manhã de segwida-feira, no final do verão de 1981,


eu estava sentado na tmlrada do consuil6rio de Carl Whitaker, esperando
sua chegada. Este seria meu encontro iniciai com Carl, um encontro com o
desconhecido. Tinha completado meu curso de graduação hd trls anos e via
isto co';,,,, uma oportunidade para uma fascinante experiência de aprendiza-
do. Com meu curriculum vitae na mão, esperava ansi~rue. Ensaiava
uma frase inteligente para iniciar a conversação e um agradecimt!!nto por
ter sido aceito para a visita de três dias.
Alguns momentos ap6s, ele apareceu na esquina. Enquanto eu me le-
vantava para cwnprimt!!ntd-lo, uma mãe •••, após um pai ... , então três
crianças seguiram-no atl! a porta de seu consult6rio. Algo estava errado!
l sto não era o que eu tinha planejado! Antes de poder entender o que estava
acontect!!ndo, Carl disst!!: "Ei, você dt!!Ve ser Bill. Venha t!! vamos iniciar''.
Confuso, t!!U St!!gui a famllia alt o consuil6rio de Carl, consegui s e ~ t!!
imt!!diatamt!!nte a/undf!!i-me no sofd. É verdade, eu tinha vindo apnnder so-
brt!! tt!!rapia simb6lico-expt!!rienciai, mas eu não tinha antt!!cipado st!!r o pa•
ciente!
Quando chegou o meio-dia, quatro Jamllias tinham sido att!!ndidas. À
medida t!!m que a manhã passava, t!!U me ncobrt!!i do meu estupor, t!!mergi
do t!!stado iniciai de irrt!!alidade t!! comecei a aproveitar a t!!Xpt!!r~ncia. A
tarde troUXt!! mais duas Jamflias, um casal e uma sessão de supervisão com
um dos rt!!Sidentes.

Dançando com• famR/a 7


Às J7h30min, seguindo-se à dltima sessão fmniliar, eu estava exausto! a Muriel Whitaker por suas contribuiç&s a num;!ros~ d~cussóes relacio-
o dia tinha sido preenchido com tensão, excitação e drama. Enquanto eu nadas com este projeto. Minha apreciação profunda a minha mul~r, K_a-
inspirava profundamente e suspirava preparando-me para discutir, final- thy, pelo seu enconrajamenlo constante e apoio, bt!m como por sua crfnca
mente, os eventos do dia com Carl, ele ollwu de relance seu relógio, pulou construtiva, que muito enriqueceu este üvro. _
de sua cadeira e direcionou-se para a porta. Antes de desaparecer atrczv1s Agradeço, tambim, a Steve Tenenbawn por sua colaboraçao em pro-
dela, voltou-se e alegremente disse: "Mesma hora, amanhã?'' Enquanto duzir o videoteipe; a Jan Martinson pelo seu profissionalismo ao f i ~ .º
eu acenava assentindo, ele acrescentou: • •Apenas chaveie o consult6rio material e aos meus amigos do Instituto ,u Terapia Familiar da Calif6rma
quando terminar. Vejo-o amanhã às 8". do Sul por seu apoio na condução do teipe. .
Novamente fui pego de surpresa. Alguns minutos passaram-se ati que Finalmente, gostaria de t!Xprt!ssar a minha mais profunda gratidão
me movi. Eu estava rodopiando num mundo surrealista, rodeado pelos à faml/ia. Sua gt!nerosidade em compartilhar t!Sta parte tU suas v ~ , pa,-_a
eventos do dia e pelos muitos brinquedos, objetos, arte/atos do consultório. que as nossas pudesst!m st!r enriquecúia.s i inspirador. Foi wn pr1v1b!g,o
Seguindo-se a um dia exaustivo, a energia de Carl e seu entusiasmo eram trabalhar com ela.
debilitantes. Afinal, ele estava próximo dos 70 anos. Eu ainda não tinha JO.
Este dia convenceu-me de que havia algo a ser aprendido com este W.B.
homem. Os anos que se seguiram trouxera,n-me em visitas contfnuas. Cada
experiência era muito valiosa, de um ,nodo diferente. Quando Carl apo-
sentou-se da Universidade de Wiscon.sin e não foi mais posslvel participar
de sua cllnica particular, a idiia de passar adiante alguns dos meus apren-
dizados veio-me à menle. Este livro t! wn videoteipe que o acompanha são 0
resultado desta idiia.
O objetivo deste livro i o de apresentar algo de interesse clínico, e
não o de oferecer uma teoria abrangente da terapia familiar. Acredito que,
pela exploração do trabalho de Carl com uma dnica famllia, o cerne dos
elemenlos de seu trabalho se revelarão. Em vez de, apressadamente, per-
passar atravis de um museu para assegurar-se de dar uma rdpida olhada
em cada pintura, despender tempo com uma Wlica obra-prima pode ofere-
cer um profundo entendimento e apreciação da arte.
Ao longo deste texto, um foco dual serd enfatizado. O leitor ser6 soli-
citado a permanecer inleirado da centralidade da pessoa do terapeuta, bem
como do processo evolutivo da terapia. Sem este tipo de visão binocular,
pode ser impossfvel integrar reau,u,nte o material.
Enquanto o material transcrito vem diretamente do trabalho de Carl
com a faml/ia, o texto de apoio e o material tt!órico são produto de ambos
os autores. A maneira como as uMias tk Carl me impactaram estd exprt!ssa
atravis tk minha miio. Aqueles tk voeis que conhecem Carl e seu trabalho
podem sentir que hd distorções e omissões. Peço tksculpasl Confio q"" vo-
ds se sentirão livres para editar o texto e tornd-lo mais rltil para St!U pr6-
prio trabalho. Divirtam-sei
Al,!m dos eeforços ,u Carl e dos meus para preparar este livro, outrtJS
pessoas contribufram significativamente. Os mais calorosos agradecimenlOS

8 Dançando com• fam"/a


9
~----~ ::;::;=::=::
-
-=
~-"""'
~ nictando com a farajlia: -
- --=--
~ iando-se~ edefinindo e
~ ~ andindo osmtoma
- ~ -~-:-

Enquanto nos acomodávamos para a sessão inicial, havia um clima de


tensão no ar. João e Maria escolheram o sofá à minha direita, nervosamente
inquietos, enquanto três dos seus cinco filhos adultos encontravam lugar no
outro sofá. Os dois filhos que faltavam juntar-se-iam a nós para o áltimo dia
desta experiencia de tres dias.
Esta era obviamente uma fanúlia rural, talvez similar àquela em que eu
cresci. O pai estava vestido com um macacão novo, enquanto a mãe, simples
mas agradavelmente vestida. As tres filhas: Vanessa de 30 anos, Dóris de 27
e Maria de 18 estavam mais dentro da moda e pareciam menos provincianas.
Enquanto nos engajávamos em uma conversa corriqueira, Vanessa emergiu
como a porta-voz da famfiia.
Revisamos brevemente como eles decidiram vir para estas sessões e
discutirmos a logística para nossa experi8ncia de ires dias. V ancssa tinha in-
citado a id6ia do encontro. Ela estava em processo de aprendizado para tor-
nar-se terapeuta. Apesar de geograficamente distante do resto da farnfiia, ela
sentia-se amarrada pelas rixas familiares e desejava alfvio. Ela tamb6m esta-
va preocupada com sua irmã de 28 anos, Gail. Gail tinha sido hospitalizada
devido a estresses emocionais. Ela tinha recentemente entrado em um pro-
grama de hospital-dia e estava sendo mantida com o uso de medicação.
Curiosamente, o terapeuta de Gail sentia que seu tratamento atual era
bem sucedido e opôs-se à sua participação nas sessões familiares, com medo
de que isso· pudesse pôr em perigo seu progresso. Apesar dos riscos, Gaii

Dançando com a famfl/a


11
f
decidiu comparecer 30 dltimo dia, aparentemente com o assentimento de seu
vas de abandonar o controle ou a responsabilidade a mim nada farão para
rerapeuta. · - bé
Milce, de 23 anos, 0 llnico homem entre os mnaos, tam _ m chegaria valorizar seu modo de viver.
atraSado, Ele tinha conflitos em seu trabalho e devia trazer ~ali às sessões. ,
Todos viviam fora da cidade e teriam longas Jornadas na clireçao dos carros. Carl: Como vods decidiram vir? O que 6 que voc!s desejam obter? Como
posso ajudá-los?
Deixem-me dizer-lhes como eu trabalho. Eu gostaria de ouvi-los
Iniciando para ter uma idéia do sofrimento que estão atravessando. Assim posso
sentir meu jeito de proceder com a famfiia. Mas eu preciso ser bem
Os momentos de abertura da sessão inicial são com freqüência decisi- claro com vocês, eu sou uma esp6cie de treinador de um time de bei-
vos. o nível de ansiedade excede em muito o mero desconforto social, UOJ sebol, eu não estou jogando no timc, Vods tem que fazer as decisões
processo intenso, encoberto e bilateral de expectativa instintivamente se ini- finais sobre o que voc!s fazem com suas vidas.
cia. Embora nós seguidamente mascaremos as tensões subjacentes, elas
existem. Perguntas como: ucomo vocês realmente são?" "O que vocês me (pausa)
farão"? e "Até onde poderemos ir juntos?", inundam nosso inconsciente
coletivo. Devo avisá-los de que eu me tomo mesquinho.
Esta 6 a hora para estabelecer alguma ~ ãQ,!ilǧ§"al e não para per-
manecer "profissional" e distante. Uma das f as iniciais é deixá-los saber TraJar de modo direto com a famllia sobre as minhas condições para
alguma coisa sobre como eu ajo e o que eu espero deles. Eu preciso estabe- trabalhar com eks é crocial. Eu quero que eks entendam, que embora eu
lecer os parAmetros do meu envolvimento com eles e clarear minhas condi- est-eja disposto a trabalhar com eles. não estou interessado em tornar-me
ções para o relacionamento, wn membro real dafamllia.
Minha responsabilid,;uk inclui ser tão pessoa/menu responsivo quomo
Assim que eu tomo uma posição, um processo interativo é desencadea- possa para com seu sofrimento, mas nóo implica em aceitar qualquer res-
do, Minha ação origina suas reações. Quando eles reagem, eu respondo, e ponsabilidade por suas vidas.
um jogo interativo se inicia. Espera-se que esta dialética leve finalmente a Meu adendo sobre tornar-me mesquinlw é para livrd-los da fantasia
uma s!ntese de mais alta ordem. de cura que e/,es trouxeram. Eu tento contaminar esta idéia. Meramente
Outro componente para entender como isto funciona é considerar a di- atendê-los nlio trard rumhwn beneffcio. Hd trabalho duro pela frente. Eu
ferença muito real entre asserção e agressão. Ao tomar uma posição clara, eu não posso fazê-lo por eks, ou poupd-los do conflito.
não estou tentando provocá-los, mas, em vez disto, estou pronto a comparti-
lhar com eles algumas das minhas convicções. Eles, é claro, permanecem li- Pai: Nós estamos acostumados a isto lá na fazenda,
vres para responder de qualquer forma que desejem. Eles podem opôr-se, re- Carl: Vocês estão acostumados a isto lá na fazenda? Eu nasci e cresci numa
belar-se, capitular ou agir de modo completamente indiferente e desinteres- fazenda pastoril, Eu deveria ter trazido minha vaca. Eu fui fazer com-
sado. Em qualquer caso, o processo está em movimento. Em vez de a pri- pras e alguém me deu uma vaquinha de brinquedo com t1beres, para
0

meira sessão girar em tomo das revelações pomográficas de uma estéril quando cu estivesse me sentindo só e quisesse me aconchegar em uma
"entrevista de avaliação", nós estamos aprendendo a dançar. vaca n..:,vwnente .
. No breve seg_mento de abertura que se segue, note-se o posicionamento
político _que organiza a estrutura para o que virá a seguir. Minha intenção é A reação do pai ao meu oferecilnento desencadeou wna resposta de
compartilhar com eles minha crença de que sua disposição para expor sua aliança da minha pane. Eu queria que a famllia soubesse que eu também
dor é essencial ao crescimento em terapia. Além disso, ele precisa aceitar o fora wn fazendeiro. Que eu poderia semir empatia. Que eu poderia nle re-
fato de que permanecem responsáveis pelas suas próprias vidas. As tentati- lacionar com eles de fonna pessoal, com relação aos seus conflitos.

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Dançando com a famnta 13
tipo de aliança pode ser panic,,~nte poderosa porque ,! muito Apesar dela estar falando sobre o macacão, a implicação real era cla•
rraJ. de uma e tpt!rilncia de vida em comum. Isto,! muito mais Pt!s- ra. Esta era uma /omui de deftnir-.re como nllo .rendo ruponstfvel por ne-
SCJtJI do 'l"" a alitlldt! profissional padrão de ''eu gostaria de ajudd-los' •. nhum dos seus conflitos.

Neste momento da entrevista, a mlie parecia inquieta. Ela poderia estar Completamos agora um ciclo de um processo que ocorrerá repetida-
prcocupnda que o pai e eu tiv6sscmos coisas demais em comum. Sua reação mente ao longo do curso da terapia. Nestes poucos momentos iniciais, eu me
aitomática foi de esboçar uma queixa levemente dissimulada contra ele. Se coloquei de modo a me aliar, assim como de individualizar-me deles. Esta li-
ela pudesse desacreditá-lo, de alguma fonna, poderia reduzir as chances de berdade de mover-se para dentro e para fora é uma tarefa básica da terapia, e
cu ser seduzido por ele. Embora sua preocupação possa ter algum mérito, eu de todo o viver. Nós buscamos, simultaneamente, níveis mais profundos de
nlio estava preparado para ser colocado sob fogo cruzado numa fase tão pre- pertcncirnento e de individuação.
coce. Quando falamos sobre vida, nós estamos realmente falando sobre rela-
cionamentos. Não existimos isoladamente. A vida emocional implica sempre
Mát!: Ele tinha mesmo que vestir seu macacão. Eu disse: "Voce acha que é em o uoutro" estar envolvido.
adequado vesti-lo em uma reunião como esta?
Ele já o tinha há seis meses e nem o experimentara! Eu deveria • • *
encuná-lo. Bom, finalmente eu o medi comparando-o com um maca-
cão velho e o costurei ontem à noite. Pergunta: O.K., Carl, eu tenho algumas dtlvidas sobre este segmento ini•
Carl: Eu seguidamente tinha a sensação de que uma das coisas que eu con- cial. O que você estava tentando conseguir com este tipo de
servaria da minha infância, seria quando algo se quebrasse, como 0 abertura? Especialmente sobre este seu aviso de ser mesquinho?
trator, a máquina de cortar grama ou qualquer coisa••• Isto quer dizer que você não se importa com eles ou o quê?
Mlk: Sim. Resposta: É claro que eu não me importo com eles! Acabei de conhecê-los!
Carl: ... e meu pai viesse até cm casa para apanhar as chaves do carro. Mi- Eu espero ficar preocupado com eles, porque seria muito solitário
nha mãe diria: "Você vai até a cidade? Não é melhor colocar um par sentar-me ali e falar a estranhos. Mas cu quero deixar claro que
de calças?!" E ele diria: "Eu não vejo nada de mal com meu maca- eu não estou ali artificialmente bancando o receptivo. Eu sou co-
cão." Esta é mais ou menos a discussão mais séria que eles jamais ti- mo qualquer cirurgião. Estou interessado em ver a patologia re-
veram, pelo menos que eu saiba. solvida, e não em prcvinir o derramamento de sangue. Eles preci-
M&: Verdade? sam saber que a coisa ! dolorosa, para se prepararem. É como o
Carl: Eu tenho a impressão de que ainda trago isto comigo. Que cu posso dentista lhes dizendo: "Você sabe que isto irá doer", antes de
comprar um temo e fazê-lo parecer-se a um macacão em mais ou me- colocar a agulha em seu dente.
nos três dias. Eu chamo isto a "batalha pela iniciativa". Isso os faz manter
a iniciativa cm suas próprias vidas. Toma-os certos de que a an-
(risos) siedade que os trouxe permanece ali. Que eles não sairão livres
de ansiedade, nem desfalecerão e esperarão que eu tome conta de
Ponanto, eu ainda estou brigando com minha mãe sobre vestir seu mundo.
roupas boas. Perguma: Mas eles o procuraram para obter ajuda com sua ansiedade. É por
isto que eles estão ali! Você está dizendo que você não fará isto?
Resposta , Correto. Eu não quero aliviá-los de sua ansiedade. Eu quero que
Esta foi uma reação instintiva aos esforços da mãe para seduzir-me
sua ansiedade seja a força que propulsione o movimento das coi-
em altar-me com ela contra o pai. Ela queria que eu concordasse que O pai
,! vresponsdvel. sas. Então, eu quero associar-me a isto e tomar sua ansiedade
mais produtiva.

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Dançando com a famflla
. d fi 1 deste segmento, você começou a falar sobre v
. Proxnno o m at Eu, freqüentemente, tive a experiência de ver o pai, não como um membro
Perg11nta. d e que você era de uma fazenda. Para que isto?
cas e a fnzen a, · da família, mas como o homem que vive na casa ao lado. Ele é como uma
rocedimento que Minuchin chama de aliança. Se voe·
é
Resposra: Este um P E e pessoa que vai para casa em busca de comida ou sexo, mas não para ser in-
não acha uma causa comum... u pe~so que . a transferência, .••
cluído na intimidade. Desafiar esta pseudoposição é crucial para a tarefa de
Freud fez um erro muito sério, •... eu nao deveria d1zê_-lo, ... ao su.
criar uma sensação de unidade familiar. É difícil chegar a uma coesão fami-
por que é a transferência do paciente que faz a terapia funcionar • liar quando o pai está fisicamente presente, mas emocionalmente ausente. Ao
Eu não acho que isto seja correto. Eu penso que é a amamentação
trazê-lo para a discussão, estou oferecendo um sentimento de esperança para
materna que faz com que a criança ame a mãe, e não que O amor
a famflia de que a vida pode realmente mudar.
da criança pela mãe a faça ter leite. . . .
Eu penso que O terapeuta precisa mtemahzar a dor do pa-
Carl: Pai, você pode me contar sobre a famflia? Não sobre as pessoas, mas
ciente, de modo que se identifique com ele. De forma que ele
sobre como ela funciona.
obtenha uma resposta empática em si mesmo. E, então, ele tem Pai: Bom, hoje em dia é difícil na fazenda. Há muita interferência de fora
que ser muito cuidadoso para não ser tragado e tomar conta do
e ••• oh, eu diria, muita competição.
processo.
. .. Bem, é claro, quem quer que esteja resrrito à fazenda ou tenha
que operá-la ..• bem, não se gosta disto. A gente fica melindrado. A
gente tenta manter o local funcionando. Uma coisa leva à outra e à
Em Busca do Pai outra, às vezes não é com a melhor das vontades. A única vez que
eles retomam é para uma consulta.
Na abertura da sessão inicial, eu envolvo a família em um processo tí-
pico de construção da história. E esta não é apenas a história que circunda a
Os pais tipicamente têm uma tarefa muito difícil ao responder a este
queixa principal. Na verdade, o oposto é o verdadeiro. ~u pretendo conhecer
tipo de questão. Embora a resposta paterna tenha sido um lanto vaga. ela
mais sobre a família como um todo. Através da obtençao de um quadro total não parecia evasiva. Ele identificou áreas de tensão e revelou uma cons-
da família, eu os deixo saber que os vejo através de uma ótica diferente. Eu ciência da insatisfação.
lhes digo que estou interessado em todos eles. Que eu de forma alguma
aceito a vítima do sacrifício com a estrela. À medida que a descrição paterna da família continuava, ele listou as
Este tipo de história familiar delineia um contexto mais rico a partir do idades de todos os filhos. Ao falar sobre Maria, a mais moça, ele iniciou
qual posso operar. Algumas das origens centrais do sofrimento familiar e de com: "Ela é o bebê". Talvez o fato desta apresentação ser a mais pessoal é
seus conflitos são revelados. Uma estrutura trigeracional começa a entrar em que me levou a comentá-la.
foco. Sua mitologia concernente a assuntos tais como morte, doença, raiva e
divórcio vem à luz. Isto toma o esboço familiar muito mais abrangente. Carl: Você não parece muito infantil. Suponho que atualmente vocês devem
Também provê a oportunidade de abordar algumas áreas muito carregadas ter trocado a palavra para "gatinha"(*)
emocionalmente de forma não ameaçadora. A fam11ia é solicitada a ser muito P.ai: Sim. Ela é uma gatinha também, se você quer colocar as coisas deste
íntima, desde o início. Como este é nosso encontro inicial, eles não desen- modo.
volvem o sentimento subjacente de paranóia que emerge da sensação de ter Carl: Bem, eu não estava querendo me referir a ela nestes termos, já que
sido imaginado ou descoberto de antemão. vocês estão aqui. Voce sabe. A gente tem que ser cuidadoso quando o
Meu ponto de partida usual é iniciar com o pai. Em nossa cultura, o pai pai está por perto.
é, tipicamente, o progenitor mais periférico. É minha intenção engajá-lo Pai.' Sim.
imediatamente. •Notada R.: Babe, no original. Enquanto baby(bcM), temo sentido de infantil, ou o mais jovem cm
um grupo conaidendo, babe, na g(ria, o epíteto carinhoso para uma mulher jovem usualmente uma
Em vez de ser um ato de deferência ao homem como chefe da casa, eu namo111.da. O termo .. gatinha", da g(ria bruilcira tem um tignHicado semelhante e porta tam~m a
estou desafiando sua posição impessoal, de ser um não-membro da fanúlia. conotação levamente sensual que o autor pretendeu introdw:ir . .

Dançando com• famllll 17


16
(risos)
Pai: Em 1972.
. fi mw um tanto dissinm/nda de explorar uma se.tl«lliA-,
Esta foi uma O • • . '-'<"le Carl: Qual foi a causa?
. mas não conseg111a identificar.
lat~nte. que eu ~nna, Pai: Ele tinha 89 anos. Estava velho e doente. Ele levou uma vida muito
boa.
. t s após 8 descrição paterna da famflia recomeçou, Cabe Carl: E sua mãe ?...
Poucos nunu O • . . • • _
. . ecessidade de dmgll'-me duetamente à mae. Eia estava fii-
assmalar aqm n ª . Seu pai era fazendeiro, também?
.
cando mqu1e· 1a com toda atenção dirigida ª" p31. Dado
. o seu
. papel de centro Pai: Sim.
.
emocional 1 , é difícil para ela tolerar demasiada tnformação aporia.
d a 1,,arn11·a Carl: Do que sua mãe morreu ?
da por ele. Pai: Ela morreu aos 62 anos, de pneumonia. Nós poderíamos tê-la evitado,
se tivéssemos percebido.
Carl: Conte-me como era a família nos velhos tempos, pai. Mãe, permite Carl: E seu pai? ~ le casou-se novamente?
que eu fale com O pai, para que eu possa ter uma idéia de como ele Pai: Não.
pensa as coisas? Carl: Qüantos irmãos e irmãs você tem?
M&: OK.
Pai: Nenhum.
Carl: Você é filho único? Não admira que você seja mimado, hein ?
Embora pareça um tipo de comentário quase incidental, ele tem wn Mãe: É isto mesmo'
Carl: Este é o ven:ladeiro problema, hum?
propósito claro. Eu estou informando à mãe que não a esqueci, bem como
pedindo a ela para não inte,ferir em minha conversa com seu marido.
À medida que a hist6ria se desenrolava, eu fui subitamente tocado por
esta infonnação. Talvez parecesse incomum em uma famllía rural. Minha
O pai foi em frente, falando sobre a dinâmica interpessoal entre os cin-
resposta foi impensada, no sentido de não ter um prop6sito claro, mas foi
co filhos, bem como enfatizando uma clara divisão no modelo de trabalho no
altamente relevante em tennos de representar minha associação interior ao
que diz respeito ao casamento. Uma clara falta de unidade entre os pais com
dado que emergia . A capacidade de sentir e utilizar estas associações é
relação às práticas envolvidas na educação dos filhos estava bem clara. Ele
central para o meu trabalho. Partir do dado de que o pai era filho único
observou que, freqüentemenle, a falta de consistência delas deixara os filhos
para chamá-lo de mimado foi wna reação automática, não uma intervenção
confusos.
planejada.
O compartilhamento de minha associação foi muito significativo em
termos da resposta que provocou na. mãe. ~ nferência ! ra que ela se via
Alterando as Perspectivas: Criando um Ambiente Interacional como wna vftima inocente de sua insensibilidade.

A medida que o processo de entrevista voltava-se para os assuntos re- Mãe: Sim. Se ele tivesse sido educado ... Ele teria tido uma irmã. Mesmo!
lacionados com a famflia de origem, a tensão tomou-se mais pronunciada. Uma irmã que não teria muida diferença de idade. Molly estava an-
sta
Ne vinheta, a informação histórica será trazida com sua relevância para o dando pela leiteira, um dia, e escorregou. Ela pen:leu o bebê aos 8
presente. Ela revelará francamente, muitos aspectos sobre o estado atual de meses.
relacionamento entre o casal. Ao longo da vinheta, eu questiono o pai sobre Doris: Mais velha ou mais moça?
seus antepassados.
Mãe: Mais moça. Teria sido muito bom, porque ela lhe teria dito: "Sai da-
Carl: Ele está mono, também? qui!" "Não faz isto"! Irmãos e irmãs se dizem estas coisas. Amigos
PaL· Sim. têm medo de dizê-lo.
Carl: Quando ele morreu? Carl: Isto vale para as esposas, também, ou voce está sendo uma innã boa-
zinha?
18
Dançando com a famflla 19
Mãe: Talvez eu sej ·
Ca ri: Por que
·a Talvez eu seja muito boa para ele.
.
vod nõo vai além disso? ....
,.ç ...,. paro mobilizar a mãe a ser mais direta, eu per . Pergunta: Carl, o que você está tentando conseguir aqui? Por que você tJlo
Num e~J'0 • > 0 sona/ize;
rapidamente rotulou o pai de mimado e a mãe de parasita? O que
este assriJ1to para refletir-se c/aronu!llte sobre ela .
você está querendo?
Resposta: Não foi tlio rapidamente, Eu cnfoquei o pai cm seu estilo de vida,
Mãe: Eu nlio sei! É dillci I para mim. descobrindo a respeito de seu pai, sua mãe e sua irmã abortada.
Carl: Você é uma parasita somente? Assim, naturalmente?
Eu descobri que ele era filho itnico e disse o que eu acredito so-
Mãe: O quê? O que você disse? bre filhos i1nicos, que eles se casam com alguém que continuará a
Carl: Você é uma parasita por natureza? mimá-los. Então, eu acusei a mõe de ser parasita.
Fazendo isto, de fonna metafórica, cu coloquei cada um deles
Com O objetivo de libertar a miie de seu papel auto-defir,ido de v(tima como vítima do outro, e também como dominador do outro. As-
da falta de atenção de seu marido, eu a chamei de parasita. Estou sugerin- sim, eu tenho um sistema interacional. Eu já estou falando sobre
do qUJ! luf algo simpJ1!jp em assumi-lo. sistemas, mais do que sobre indivíduos.
Agora o q11adro pode ser mais complexo de que simplesmente um ma- Pergunta: Mas a fonna como você fez isto, então ••. f como se você tomasse
rido incapaz. Agora ela também se encaixa no quebra-cabeças, formando urna idéia de sua própria cabeça, de seu próprio modo de pensar e
•~ ges~cqny,leta da..!!!E!!!filidade ,!J!!!j_tl!l., a impusesse sobre eles. Isto não é perigoso? Eu quero dizer, você
não estava usando a informação da entrevista!
Mãe: Talvez eu seja! Ah, eu fico furiosa com ele muitas vezes, mas ele sim- Resposta: Não. Eu penso que isto é no sentido contrário. Se você toma isto
p:esmente foge. Ele não briga! Ele se afasta por uns 40 (acres) e eu deles, então é perigoso, porque eles têm que lutar contra você. Se
nao consigo encontrá-lo. Eu fico furiosa, porque ele não briga. Ele você produz suas próprias idéias, então eles podem descartá-las,
apenas vai embora! ou mantê-las, ou adotá-las mais tarde, A responsabilidade não é
deles, é sua!
. Aqui a mãe revela perceber que sua abordagem não funciona. Ela Pergunta: Mas isto não é uma coisa arriscada de se fazer profissionalmente?
persrste em respostas ineficazes. Ela afinna querer mudanças, ,nas sente-se Trazer você à frente e para o centro da sala desta forma? Não se
desamparada, porque seu marido não irá cooperar. Ela convive com um supõe que você faça primeiro uma avaliação?
centro de controle Resposta: Eu não acredito nisto! Eu penso que fazer uma avaliação tende a
......_ exterior.
ser licencioso. Provém de sua própria patologia e de sua própria
Carl: curiosidade. Penso que a melhor maneira é fazer um julgamento e
. Por que você nao, arranJa
· um arco e flecha ou algo assim?
D6ns: Pegue o trator. · deixá-los decidir se este seu julgamento é certo ou errado. Isto os
Carl: Ou mantêm em uma posição de respeito, em vez de serem degradados
f uma espingarda
. eh eia
. de pedras de sal? As pessoas costumavam
por você se tomar um detetive ou um voyeur, e eles serem consi-
a1ar sobre tsto, quando eu era criança.
derados como exibicionistas.

tuaçâoPara
E contrabalançar seu contfnuo desamparo, eu decidi a1npliar a si- Este segmento aponta para outro aspecto crucial do trabalho com famí-
. s 1ou tentando conclamá l .
gestão de usar n -a ª
agir co,n ,nois intensidade, pela su- lias. Quando eu encontro uma família, eu estou absolutamente certo de que
arco e ,,echa E mini1
conta de que á
I1
. · . ª
esperança que isto o ajudará a dar-se eles têm em si mesmos a capacidade de lutar e de crescer. Não há necessida-
também di-end mars maneiras _ de 1entar. Eu desejo fortalecê-la! Esto11
de de determinar ou avaliar isto. Eu sei que é possível. A verdadeira questão
- o que eu nao vou ir d ,
wna maneira diven·d e encontro a sua auto-vitimizaçâo. De toma-se a da coragem, tanto deles quanto minha. Estamos dispostos a arris-
'. a, estou oferecendo esperança. car velejar em águas inexploradas?

20 Dançando com a famflia 21


famlli• iniciou com a suposição implícita de que o Pai era o
Esta A chave t a sua inabilidade de falar e de ser u ver. Com este comentário, estou tentando fornecer uma metáfora absurda
·
cád<'"' .,,v-
-.hlelllL
e., t percebida co
mo uma incapacidade sua de envolver-se em v
. . . . •
ln apoi
ez de UJn
o, que permanecerd com eles. Estou oferecendo uma forma nova de ver os fa -
=• 1
.
• mais amplo de envolVJmento e mtrnudade. Eu dese· .
...nhJcma f:uru ,ar Jo hVfá.
tos de sua vida . A imagem do pai abraçando suas vacas permanecerd com
,,,_ . csttcita e criar esperança, desenvolvendo opções altc eles muito tempo após nossas sessões terem tenninado .
los dCSIB I6g,ca - rnat;.
ernplo particular, a mae é o outro lado da moeda. Seu
vas Neste ex . . . E P<>dcr Mãe: Bom. .. Eu não sei. Eu não consigo lembrar. Eu tive um filho após 0
~isa ser ativado, para mudanças reats tere~ m cio. nquadrando juntos os
P . de criança "mimada .. e de "parasita", é possível considerar outro. É diffcil. Eu não sei.
conceitos . seu Carl: O que é que ele pôs em seu lugar quando você começou a amar as
relacionamento como uma .dança h~bilmente coreografada, na qual eles se
crianças em vez dele? Começou a amar o dinheiro ou apenas as va-
movem em perfeita sincronia. Defü~mdo o poder como mutuamente pertenci-
cas?
do e compartilhado, ambos estão hvres para mtctar o processo de transfor-
mação. Identificando um processo paralelo de sua infidelidade, uma -~stalt
Mas t necessário mais! Não apenas o velho modelo deve ser destrufd
mais completa é formcula. Eu quero que eles vejam claramente o curso que
e sua mutualidade ressaltada, mas isto precisa ser feito de uma forma q;
tomou seu casa,nento.
não seja facilmente repudiada. Oferecer à mãe a fantasia de caçar O pai com
arco e flecha pode servir para fortalecê-la. Transmite-lhe a mensagem de que Mãe: Passou a amar o trabalho, provavelmente.
há coisas que ela poderia tentar. Ao mesmo tempo, é claro, o pai está sendo Carl: S6 o trabalho, hein?
avisado para ser um pouco mais cauteloso. Se a mãe realmente começa a to-
mar a si ·e às suas necessidades mais seriamente, seu marido pode ser forçado
a segui-la. A metáfora do arco e flecha é uma maneira maravilhosa de enco-
rajá-la a levar-se em conta mais seriamente, sem correr o risco de eu tomá-la Pergunta: Bem, eu posso ver a mutualidade aqui, Carl. Eu posso ver que
mais seriamente do que ela o faz. eles estão juntos, que ambos são parte desta coisa toda. Mas, vo-
Com a continuidade da sessão, o tema do afastamento emocional entre cê sabe, a imagem do pai acariciando as vacas e a mãe, os fi-
mãe e pai persistiu. Apesar da mãe queixar-se, ela parecia resignada a isto. lhos ... Que imagem mais maluca!
Ela continuava a ver isto como a decisão dele e sentir-se vitimizada por sua Resposta: Este é um tema muito crítico! Se você fala sobre algo que é tão
indiferença. louco que não pode ser incluído no seu processo programado de
Como no segmento anterior, meus esforços são no sentido de ajudá-la a pensamento, então você os deixa com um quadro que é seu, e não
descartar-se da lógica linear. Eu desejo jogá-la num mundo de mutualidade e deles, e eles podem começar a atribuir uma simbolização a este.
dctemrinação bilateral. Este tema aflorará repetidamente, porque ele serve Eles podem começar a atribuir-lhe força, até que se tome uma
como um pilar real da balança homeostática do casal. Como o dilema das al- parte muito carregada de suas vidas.
gemas chinesas: a fim de romper o impasse, ela precisa estar disposta a Pergwrta: É verdade mesmo que os fazendeiros se apaixonam por suas va-
abandonar a posição que mantém tenazmente. Ela precisa enfrentar o fato de cas, em vez de por suas mulheres?
sua completa participação no conflito. Resposta: É claro! Eles têm 60 vacas e podem nomear cada uma delas.
Como na vinheta anterior, note-se o esforço para enquadrar sua dança
como requerendo cooperação mútua. Não é un;i ou o outro, é um e o outro.
Ambos, mutuamente, criaram um estilo de vida que impossibilita a intimida-
de marital.
Este segmento expõe uma difundida e culturalmente sancionada forma
de infidelidade conjugal. A infidelidade bilateral do pai se apaixonando por
Carl: Quanto tempo depois de terem se casado você decidiu que ele amava seu trabalho e da mãe por seus filhos é exuberante.
mais as vacas do que você?
22 Dançando com a famOia
. d dinfunica eu freqücntementc, faço questão de
Ao revelar este UPo e , ,
. . ai do casamento como um caso. Embora esta pa- Carl: Mesmo?
i· cstn traição emoc1on -
rotu ar . a ·ociada a uma conotaçao sexual, eu me esforço pa- Mãe: Sim. Ele é um excelente dançarino. Ele pode patinar também. Ele é
lipicamcntc esteJa ss '
lnvrn ,., . - Eu quero estabelecê-la como uma entrega emocio- muito jeitoso. As mulheres o adoram. Todas as mulheres o adoram!
r• ampliar esta dc,1mçao. • . É . ..
lgo que não o seu conJuge. 1mponante aux1har os Carl: Exceto as que são casadas com ele.
nal a alguém ou a a . .
membros do casa l a ape rceberem-se de que há
. muitas fonnas
_ de se distancia-
. Mãe: Sim. É bem isso.
rem um d o outrO • Eu quero que eles apreciem a noçao de que um investi-
mento significativo externo pode drenar a vit~lidade do ~asamento. (risos)
Embora a variedade sexual de infldehdade frequentemente carregue
consigo sentimentos especiais de ressentimento e a_mar~ura, o s casos,~ão se- Carl: Você pode ter que trocar de lugar com elas. Então, você poderá
xuais são também poderosos. Através da dessexuahzaçao da palavra caso", amá-lo e elas poderão tomar conta.
espero transformá-la em uma descrição que se tome pane_ da maneira do _ca- Mãe: Sim. É isso mesmo! Elas não percebem o que é viver com ele. Eu lhe
sal pensar sobre a vida do dia-a-dia. Quando bem sucedida, parece sunir 0 digo: uoh, como é difícil viver com você, pai. Você é tão e,cigente."
efeilo de elevar seu nível de consciência no que se refere a como um trata o Carl: Você o chama de pai. Imagino que ele a chame de mãe.
Mãe: Não, ele não.
outro.
Carl: Ele não a chama de mãe? Ele apenas espera que você continue sendo
o cenário usual para o desenvolvimento desta infidelidade bilateral
sua mãe. hein?
ocorre da seguinte maneira. Com a progressão da primeira gravidez da mãe,
ela toma-se cada vez mais envolvida com seu filho. Ela e a criança tornam-
Aqui estamos diretamente discutindo o fato de que as relações podem
se um, enquanto o pai, não importa o quanto esteja envolvido, fica um pouco
ser vistas sob uma variedade de ângulos. Estamos falando sobre a diferença
mais distante. Após o nascimento, o caso mãe/filho continua, com o pai ain-
entre ser uma mulher para um marido ou uma mãe para um menino. Embo-
da do lado de fora. Sentindo-se rejeitado e abandonado, ele pode ir buscar
ra ambos os papéis possam ser parte de um relacionamento real, wn deles
amor alhures. Ele cone o risco de super-investir seu trabalho, seu jogo de deve predominar.
golfe ou a secretária. A maturidade para permanecer focalizado na família
parece faltar. Poucos homens têm a capacidade de conter-se e esperar que a A discussão mudou para a decisão familiar de não convidar a avó ma-
simbiose mãe/füho se desfaça para que eles possam ingressar completamen- terna para assistir às sessões. O pai era o membro da famflia mais favorável a
le.
convidá-la, enquanto a mãe era a que mais claramente se opunha.
Durante este período de transição de um casal para uma famflia, as ta- O segmento que se segue revela algumas das complicadas dinâmicas
refas de desenvolvimento massivas em questão freqüentemente sobrecarre- que permeiam a família.
gam o par. A não ser que eles encontrem com êxito o caminho de volta um
para o outro, ainda que incorporando também o bebê, o casamento está em Carl: Eu tive uma idéia maluca. Vocês alguma vez têm idéias malucas? Eu
perigo. Ou eles crescem juntos ou crescem separados; não há um curso neu- tenho esta teoria, eu tenho teorias que me saem pelos ouvidos. Uma
tro.
delas é que a gente se apaixona pela mãe e então casa com a filha.
Dando continuidade ao segmento prévio, surge uma dicotomia interes- Você já pensou nisto? Que ele se apaixonou por sua mãe e então se
sante. São expostas as complexidades de ser uma mãe para o marido. casou com você?
Mãe: Sim, porque eles se dão perfeitamente bem.
Carl: Ele é mesmo um viciado no trabalho? Ele ama apenas o trabalho e na-
da mais? (risos)
M,ú: Sim.
Carl: Ele não pode divertir-se? Nós vamos até a casa dela e ela corre e diz: "Oh, John"! Ela o
Mtk: Ah, pode sim! Ele dança muito bem. agarra!

24
Dançando com a famR/a 25
Carl: E ele a leva para dançar? Aqui estou tentando contaminar o sossego da mãe com sua visão
Mãe: Não. ? amortecida do casamento. O que ela estd chamando de conrwnça, pode, na
Carl: Você dança também. verdade, ser falta de interesse •
. . mas não tão bem quanto .••
Mãe. 5 1m, _ . ?
1 Não tão bem quanto sua mae, hem •
_ .
Car · té ito bem Ela é muito mrus flexível do que eu. Isto foi engraçado! Era uma oportunidade de falar ironicamente e ainda
Mãe: Ela se man m mu . , - .
Carl: Provavelmente esta é a razão por que voce n~o ~ugm do casamento em ser muito direto ao mesmo tempo. Ao incomodar a mãe sobre a confiança no
todos estes anos. Você não pode levar sua mae Junto. pai, eu desafio também a família inteira a reavaliar sua idéia de confiança.
Mãe: N6s somos muito chegadas, não poss~. .
Carl: Você quer dizer que é um tipo de b1ganua? Ele está casado com am-
O Pai Começa a Emergir
bas vocês?
Mãe: É. Mais ou menos isto.
À medida que a sessão inicial aproximava-se do fim, o foco voltou no-
Isto t! importante. Estti claro agora que o pai pode estar próximo das vamente a centrar-se no pai. Desta vez, a discussão versou sobre a sua infe-
pessoas. É apenas ele e sua mulher que estão distantes. licidade. Ele descreveu-se como consumido pelo trabalho na fazenda e pelo
pesado esforço que isto exigia.
Mais tarde, o foco deslocou-se para o tópico das antigas namoradas do
Carl: O que você acha disto, mãe? Você pensa que o pai se desgatava há IO
pai. Isto proporcionou uma outra oportunidade para atacar a tendência da
anos atrás?
mãe de não levar-se mais a sério. Ao desafiar isto, estou tentando ajudá-la a
Mãe: Bem, eu não sei o que é que você quer dizer com "se desgatava".
tomar-se mais gente. Isto fornecerá o impulso para toda a família arriscar-se
Carl: Encheu-se. Estar de saco cheio com este trabalho. Pronto para mudar.
a crescer.
Penso que, se eu pudesse falar abertamente, à beira do suicídio. Você
sabe. Sentindo-se sobre o topo da colina e esperando a morte vir apa-
Mãe: O pai ainda fala sobre suas antigas namoradas. nhá-lo.
Carl: Elas alguma vez voltaram para competir com você? Mãe: Eu não sei. Ele sempre falou de coisas como esta. Ele era mórbido.
Máe: Sim. Ele as joga na minha cara todo o tempo. Ele gostava de funerais. Agora ele não gosta mais de ir.
Carl: Você já se preocupou sobre onde ele vai quando vai para a cidade? Carl: Ele não gosta mais de ir a funerais?
Máe: Não.
Mãe: Não. Ele não gosta mais de ir. Ele quer se mudar para não ter que ir
Carl: Você pensa que ele é velho demais, hein? mais aos funerais de seus amigos.
Máe: Não. Eu só penso que ele ••• eu confio nele. Carl: Quando isto mudou?
Carl: Você confia nele? Bem, meu Deus! Mãe: Um ano atrás. Ele disse: "Vamos para Califórnia. Assim não teremos
Isto é loucura! que ir a todos os enterros deles".
Você pode imaginar isto? Uma mulher confiando num homem. Carl: Você se sente sozinho?
Mãe: Bem, eu confio nele, porque eu não faço nada que não devesse! Pai: Sim.
Carl: Ela ainda é uma parasita.
D6ris: É. A progressão de sentir-se des,?astado até falar de sua solidão muito
Máe: Talvez eu seja uma parasita. encorajadora. Sugere que ele pode ser capaz de enfrentar sua necessidade
Carl: Sim. Confiar num homem! Qualquer um que confie num homem é pelos outros.
um parasita.
Carl: Quanto tempo mais você acha que vai viver?

26 Dançando com a famflla 27


boa pergunta. No que diz respeito a mim, estou pronto
Pai: Esta é uma
qualquer dia.
Carl: Oh, mesmo?
Pai: Certo.
carl·· Por que?
. · f azer. Se eu
"da boa. Eu fiz tudo o que eu sempre qms
Pai• Eu 11ve uma vt .
. . se que viver tudo de novo, eu fana o mesmo.
11ves . ?
l: E você não faria isto dez vezes IlllllS •
ear . ?
Pai: Bem. .. como você podena.
• me referia a mim. Somente sobre você.
Carl: Bem, eu nao .. _
Pai: Bem, se eu vivesse novamente, eu ma da mesma forma. Eu nao te-
nho arrependimentos.
Foi um trabalho duro, mas a vantagem é que com ele você sem-
pre tem a satisfação de ver seus resultados. Enquanto que com uma
série de coisas, um bom trabalho numa fábrica, por exemplo, você
ganha bom dinheiro, mas não tem nada de produto para mostrar.
Mas, na fazenda, se você tem sorte e tem uma boa colheita, dá para
sustentar sua comida e suas roupas. Você não tem dívidas, nem cré- O processo de terapia fanúliar gira em torno de pessoas e relaciona-
ditos. mentos, não de técnicas de intervenção ou abstrações teóricas. O terapeuta,
Carl: Eu tive uma sensação estranha. Ele é suscetível? Eu pensei que ele ia como ser humano, é básico. Como Betz e Whitehorn (1975) tão bem coloca-
chorar. ram: "A dinâmica da psicoterapia está na pessoa do terapeuta". Teoria e
MM: Ele nunca chora nos funerais, ou em qualquer outra ocasião. Nem técnica tornam-se vivas e tomam forma apenas quando filtradas através da
mesmo no enterro de seu pai. Eu estava me esvaindo em lágrimas. personalidade do terapeuta.
Como pessoas a quem sucede sermos terapeutas, seríamos insensatos
Dóris: Ele chorou no fim.
em não encarar seriamente o papel central de nossa personalidade, nossas
Mã~: Sim, eu o vi no fim. Um pouquinho.
suposições filosóficas e preconceitos pessoais no processo ter&pautico. Nos-
Dóris: Bem, todos nós temos nossos níveis.
sas crenças sobre a natureza dos seres humanos, sobre o poder dos relacio-
Carl: Eu pensei que ele ia chorar há pouco. Você achou que ia chorar há
namentos e a ess!ncia do papel de terapeuta são guias que dirigem nossas
um minuto atrás?
ações freqüentemente sem consentimento consciente.
Pai: Bem, eu senti ... às vezes eu fico assim. Você sabe, mas ... Bem, como
Se a psicoterapia deve ser realmente um encontro humano, ela requer
meu pai. Se você visse o que ele passou. Eu estava feliz que ele pu-
um terapeuta que tenha retido a capacidade de ser uma pessoa. Como tera-
desse descansar.
peuta profissional você precisa inquie~se o suficiente para entrar no jogo e
Novamente, ser capaz de qualificar o pai como um ser humano, em ficar envolvido, embora retendo suficiente auto-estima para suportar o man-
vez de uma mdquina, é crucial. Estabelecer o fato de que ele também tem dato cultural de sacrificar-se para salvar a fam.Oia. O pressuposto social de
sentimentos é vital. que voce deve ser capaz de salvar todas as famOias que aparecem no seu
coosultdrio é fatal. Para ser um salvador, v<d deve requerer também uma
Ao término da sessão inicial, o pai começou a dar sinais de humanida- coro/l de espinhos. Embora a compaixão seja essencial, o terapeuta profis-
de e .a relação marital ,,01· red e fi1m·d a como uma associação
. • -
mútua. A sensaçao sional não pode esperar ser dtil, ou mesmo sobreviver, se for demasiada-
subliminar de um pro ta gomsta · .
e um antagonista foi substituída por um mo- mente tragado pelo altruísmo. Neste sentido, tornar-se um missionário, j!
delo mais fluido · ·s ua nature7.a interativa
. é agora destacada. bom apenas para os canibais ••• ao menos para uma gloriosa refeição.

28 Dançando com• faml• 29


Para ser ótil a uma famOia em sofrimento, um terapeuta precisa
. 1 gem as ações. Em certo sentido, nós parecemos muito mais com um estu-
escJarecido quanto à estrutura do papel pro fi ss1ona que ele assumirá. 0
dante principiante de cinema que recomenda mudanças radicais no roteiro
que estabelecemos fala eioqüentemente de nossa individualidade bcpa-
pe 1 E 'd . bás' · ' m favorito de um diretor de cinema ganhador de Oscar. Quem o ouve?
como de nossa visão dos outros, u cons1 ero um guia 1co para meu Quando uma famOia se aproxima de um terapeuta, todos os membros
.. ' tdtod 1 · Papei
profissional O de maxmuzar o cresc"'.1en o e os os envo v1dos no proees- querem ver sua visão pessoal validada. Embora este seja o seu desejo, não é
so 1erapautico, inclusive o meu pnSpno. ~alvez ante_s de tudo, o meu pr6prio. o que eles precisam. O que eles precisam é de uma experiência que os liberará
Apenas permanecendo conhecedor de mmha própna necessidade de cre das perspectivas bloqueadas que eles desenvolveram. Eles precisam de urna
e do desejo de evitar o desgaste, minha capacidade de ser dtil aos outr:r oportunidade para ver suas fam0ias a partir de uma ótica mais complicada.
preservada. Mas isto é mais do que uma função profilática, Minha capacida~ Para livrarem-se das dicotomias distorcidas dos bons x maus às quais regre-
de de ser real, de estar vivo durante a sessão, de responder de forma pes soa, 1 diram. Com efeito, eles precisam ter sua comodidade perturbada. Eles preci-
é a essência do que _eu tenho para oferecer. Isto requer que eu ganhe algo em sam estar livres para desenvolver o tipo de ansiedade necessária para ali-
troca. Não há tal c01sa como o puro altruísmo. mentá-los num esforço de crescimento massivo, Eu cheguei a pensar nisto
como um tipo de fertilizante de amplo espectro. Pode não cheirar bem, mas é
necessário para estimular crescimento. Pergunte a qualquer fazendeiro.
Integridade pessoal '!é Sinto-me à vontade para pressionar a família, porque acredito que eles
têm um potencial ilimitado. Eles têm a capacidade de expandir e progredir,
• Parece-me muito
. . . desvairado, mesmo para mim • tentar di·ze ragopara 1 basta que eles tenham a coragem de tentar. Meu trabalho é esforçar-me para
voce
... sobre d sua md1v1dualidade.
,. . Então, deixe-me dizer alg osoreomeu
b mobilizar esta coragem~ Deixá-los ver que conflitos e diferenças de opinião
hs!Slema e. crenças
_ . Deixe-me compartilhar com você um pouco das mi- . não precisam ser desastrosos. A dnica saída da estagnação é começar a se
o as supos1çoes e preconceitos como forma de veicular algo pessoal sobre mexer. Mas é mais do que um ingênuo ponto de vista do tipo " nada se arris-
meu trabalho com famll!as. Este "sistema de crenças", como eu o chamo, ca, nada se ganha". Os membros de uma família importam-se uns com os
está no cem~ de qualquer trabalho terapêutico. outros! Eles têm profundos investimentos emocionais! Eles realmente preci-
A ..
pnmerra suposição a aferrar-se é a sua visão bás'
~orno você os vê? O que os leva a agir como eles fazem?
amfinalme
um ao toutro
;:r ~::a::~
d
q:~
sam uns dos outros!
Não pressionar, pressupondo que isto pode piorar as coisas, é decidir
pela família que eles estão demasiado doentes para se importarem e são de-
eu d . deste jeito?. Após mrus · d e 40 anos nesta atividade maluca
n e e1-me conta de que não acreditO ' masiado ineptos para crescer. Estas são pressuposições perigosas. Elas re-
como o indivíduo Nó nas pessoas. Não há tal coisa fletem urna posição desumanizante. Na núnha forma de pensar, elas não são
tando viver a vid; Tosdasomods apenas fragmentos de famílias flutuando, ten-
. a v1 a e toda a patolog· - . verdadeiras.
se sobre um processo •· t - .
" raps1qmco em uma
ia sao interpessoais. Centrar-
. * É um negócio ardiloso, porém, é meu dever pressionar, mas não é o
mente simplificar 8 vida lé d . pessoa em particular é mera- meu trabalho ou o meu direito dizer-lhes como crescer. Tentar vender-lhes
a m a realtdade A art · d .
naturalmente escolhi trab lh . · P ir esta perspectlva, eu meu modelo de vida iria meramente solapar seus recursos e suas capacida-
ro poder e a energia da vida.
ª ar com famOtas É a -
. 1 que se encontra o verdadei- des. Eles precisam.descobrir sua própria f6noula e não tentar imitar a minha.
As famílias não são frágeis Elas - Toda esta coisa de "ajudar" a eles é realmente aterrorizante. É aviltante
mente deveríamos nos . sao fortes e flexíveis. Nós, provavel- tentar "ajudá-los", porque isto sugere que núnha forma de vida é superior à
preocupar menos e
tes com eles. Talvez u _ m sermos excessivamente influen- deles. Dados os muitos terapeutas que conheci, inclusive eu mesmo, não
. ma preocupaçao mais . t 1'fi1 á
mabilidade em ating·-I d JU S c vel centre-se em nossa V.!JO nenhuma evidência para esta pressuposição. De forma suscinta: "Aju-
i os e alguma fo . ·r, .
e~tra no consultório de rma sigm icatJva. Quando uma família dar não ajuda".
mas, de quem é a culp um terapeuta- ' eJeg 1·á d eci'd'iram quais
-
são os proble- Os terapeutas, na verdade, não têm o poder de insultar o crescimento
atr'b
1 ·
u1 a Mark Tw · ª• e .
O que precisa s
er i;eito
· para corrigir isto Como se da fan10ia. Você não pode dizer-lhes como se tornarem mais reais. Seu im-
to" N aio ter dito: "Mesmo 0 b.b . pacto pode vir somente do processo pessoal em que você participa com eles.
· 0 drama da vida f . e ado da cidade é um cargo elei-
' as amlhas criam o s papé'1s, atnbuem. as partes e diri-
30 Dançando com a famflla 31
ar e sair adequadamente quando trabalhar co
! aprender a en Ir El m • fa-
se voe . --"- processo com 11lgo de va 1or. es aprenc1e.a- de nutriz-dureza devem existir em um certo equillbrio. Na verdade, você só
m11· eles tenrunaiav o •au algo
pode confrontar, na medida em que puder oferecer apoio.
••• de individuaÇio e o de pertencimento. Se voe! se ,_,_,
sobre O processo . . . . á .--ue e É muito parecido com o dilema enfrentado por todos os pais . Você de-
e--dtico qU11nto em ser 1nc1s1vo satr ganh11 ndo
fraC&SS& tanlo em ser uopu . _ • ve ser capaz de encorajar e dar apoio, bem como de di sciplinar seus filhos.
onna de colocar isto é que as famfüas nao crescem devido
i. Outta f d . . a aJ. Encontrar um bom ponto de equilíbrio é difíc il ; permanecer neste níve l é im-
ta tenha feito com eles. O verda erro crescimento é ai
go que o 1erapeu go q11e possível. Tem sido dito que não se trata realmente de uma questão de ter s u-
família fazem um com o outro. Não é II família ou tera
O
0
terapeuta e a pcu. cesso ou fracassar em criar seus filhos. Não é e sta a e scolha. Você será
ta; é a família ,, 0 terapeuta que compõem o veícul~ do _crescimento.
muito rígido ou muito permissivo? Muito controlador ou excessivamente íle-
que tom• isto uma noção.~str11nha é que •~ph~a ~m que "nós" não
0 xível? Não importa como você reparta isto, o fracasso é parte do traba-
somos em nada diferentes "deles . Que somos mais s1mtlares do que dife.
lho.Não obstante, a tarefa de encontrar um equilíbrio viável persiste.
rentes das fam~as que trataffiOS. Se isto é verdade, o que temos para ofere.
Sua disposição de trazer mais e mais de s i mesmo para a s sessões é o
cer? Como operamos quando somos despidos da casaca de guru ou do manto ingrediente catalítico que pode desencadear a experiência de crescimenlo da
do sQiio? o papel de perito ou de guru tem uma certa atração, porque nos famOia. É um aprendizado rnagnffico quando uma família pode finalmente
ilude com O sentimento de que somos especiais. Que temos a sabedoria ou 8 aceitar que seus cuidados podem ser, ao mesmo tempo, finnes e gentis . E é
inteligblcia para deixá-los conhecer algo mais sobre a vida. Isto é muito se- ainda mais profundo quando eles se dão conta de que apes ar de sua preocu-
dutor, mas fatal. Afinal de contas, as chances são de que você morra tam- pação com eles, você cuida ainda mais de s i mesmo . E mbora possa advir
bém. Eu estou rondando a noção de que eu não sobreviverei para sempre. corno um choque para os vestígios da ilusão do "guru ' º, é também um alí-
A parte realmente traiçoeira disto tudo é que, mesmo que sejamos ca- vio. Alivia-os da necessidade de ficarem preocupados em tomar conta de vo -
pazes de captar um relance de nossa fragilidade e nossa humanidade, as fa. cê. Urna vez liberados deste fardo não explicitado, a famOia pode enfocar
mllias que nos vêern podem estar detemúnadas a ver-nos como oniscientes.
suas próprias necessidades.
Torna-se, então, nossa responsabilidade esvaziar esta ilusão. Nós devemos Finalmente, devemos compreender que devido à intensidade e à pro-
deixá-los saber que nós não podemos lhes mostrar o caminho. Que, para que fundidade com que a família nos chega, estamos sujeitos a ter uma inten s a
eles cheguem em qualquer lugar, terão que sujar as próprias mãos. Minha reação de contratransferência. Esta sobrepassa em muito a que é típica da te-
forma favorita de fazer isto é a de revelar fragmentos de minha própria hu- rapia individual. De fato, nós chegamos a pensar nisto como co-transferên-
manidade. E encorajá-los a reconhecer um pouco das minhas limitações. cia, significando que se trata mais de uma transferência real do que mera-
Uma resposta freqüente a um pedido de dizer-lhes o que fazer com ro• mente de uma contratransferência reativa. Inversamente, os membros da fa-
Pnas
. v,.d as é·. "E u nao- sabena . agora o que dizer sobre sua situação.asEu p já
mJlia, devido à sua presença física enquanto uma unidade, tipicamente rea-
1"nho munos problemas apenas cuidando de minha própria vida. Mas eu fi. gem de forma mais profunda uns aos o utros do que ao terapeuta.
care, fehz de ser de alguma utilidade, enquanto vocês lutam com s 6p · Estas supos ições, ou preconceitos, como quiserem. provêm das mi-
vida" . ua pr na
nhas crenças sobre as pessoas. Elas têm pouco a ver com qualquer tipo de
·ctadUma vez que você ultrapasse todos os quesitos de sua própria grandio- construtos teóricos. De fato, eu não acredito realmente que as teorias que
s1
IOd eeoaspectoc
ê orre Iª t 0 d e nao
- ser nmguérn
. justamente por oferecer-se a lemos a respeito tenham algo a ver com nossa base de suposições. Eu penso
Par:;.,::'rn ; stará pronto ª considerar O que o cuidado realmente envolve. que isto funciona ao contrário - que descobrimos teorias que se encaixem em
erapeuta que realmente se · nossos preconceitos. Quando tropeçamos com uma idéia de que gostamos,
semelhante você tem importa com seus pacientes, ou algo
• que ser capaz de andar rei b automaticamente a fazemos passar por nosso computador. Caso se encaixe
pacidade de ser out • . na co a amba. Embora a ca•
nz SCJa central a capac.1d d d . em nosso programa, nós ficamos com ela. Se não, nós a rejeitamos como
essencial. Ser bo ' ª e e ser mcisivo é igualmente
m em apenas um dest - sendo errada ou indtil.
excessiva, tipicament . . es aspectos nao resolve. A nutrição
e, cai na annad1lha d O u . d º
reza exagerada é freqüe te ªJU ar , enquanto que urna du•
n mente sádica. Ambos os componentes da dualida•

32 Dançando com a tamH/a 33


Usio do "self'' neles que ajuda a torná-la tolerável . Se eles sentem minha pre~upação, eles
considerarão a jornada. Caso contrário, acharão mais sensato evná-la . .
Antes de nos fortificannos com a armadura das teori_as e das técnicas A confrontação pessoal, evidentemente, é o outro lado dos cuidados
que oferecem proteção quando _nossa coragem falha, é vital sondar nosso pessoais. Você é capaz de amar apenas na medida em q~e es~ li~re para
'mundo de valores e de preconceitos. Isto é especialmente váltdo se O instru. odiar. Como Winnicott (1949) uma vez disse: "Se você nao fot od1a~~ por
m,,nto primário do terapeuta é seu próprio self. seu terapeuta, você foi roubado". A confrontação pessoal é uma expenenc1a
Num certo sentido, isto sugere que devemos reinventar a roda, 8 fim de valor. É um evento que vivifica todos nós. Eu quero que eles tenham que
de sermos terapeutas. Necessitamos nos ater à vida e a nós mesmos, até que "me" enfrentar. Isto provoca o fluxo sangüíneo. É a experiência que é im-
possamos ver abaixo da superfície. Precisamos ter alguma conexão e acesso portante, não o resultado. Como acontece no casarnent_o, u~ relação que te-
aos nossos próprios impulsos, intuições e associações. Apenas quando você nha urna subestrutura de companheirismo pode ser ennquec1da e desenvolvi-
lutou consigo m,,smo, você está livre para trazer sua pessoa, e não apenas da pela confrontação. Uma vez que não tenha este alicerce, ela desabará.
seu uniforme de terapeuta, para o consultório psicoterápico. Talvez seja mesmo mais fácil na arena terapêutica do que na conjugal. Como
Um dos grandes perigos do nosso campo é o de olhar muito intensa- terapeuta, meu investimento está em tornar-me envolvido em uma experiên-
mente para os fatos externos que permitirão que sejamos um terapeuta. É im- cia real com a famflia, e não em tentar mudá-los. A confrontação é mais uma
portante dar-se conta de que filtramos e organizamos estes "fatos: · através questão de compartilhar urna perspectiva, e não urna manipulação. Meus es-
de nossos próprios mecanismos internos. Isto permite que eles se encaixem forços são de ser honesto com eles, deixando-Os livres para decidir o que fa-
em nosso sistema personalizado de preconceitos. Lembre-se, eu posso vê-lo zer. Demos um exemplo deste tipo de compartilharnento.
apenas através do eu que eu conheço. Eu posso entender sua farntlia apenas Aproximadamente na metade da entrevista inicial com uma famtlia, a
através do filho de minha mãe. A minha busca do self é, então, central ao sessão chegou a um beco sem saída. Como eles pararam, eu me encontrei
meu uso do "self". pensando sobre uma problema que eu tinha tido com um barco à vela. O se-
Um dos indícios iniciais sobre quão bem eu poderei trabalhar com uma guinte diálogo ocorreu:
famOia é a extensão com a qual posso ver-me neles. Isto tem um valor prog- Pai: Bom, sobre o que devemos falar? Você é o especialista aqui.
nóstico com respeito a quão completamente eu serei capaz de realmente Terapeuta : Engraçado que você pergunte. Eu estava sentado aqui, pensando
"entrar" ou ernpatizar com eles. Se eu posso realmente me ver em seus con- sobre um problema que eu estou tendo com meu barco. A cor-
flitos, nós temos uma chance. Se, porém, eles parecem muito diferentes, rente está quebrada e eu não fui capaz de consertá-la.
muito estranhos, nós temos um problema. Se nossos mundos são muito dife-
rentes, acrescentar um co-terapeuta que mais intimamente conheça o seu (pausa)
mundo pode ser de muito valor. Uma grave dissonância cultural não necessa-
riamente impede a terapia, mas você deve tomá-la seriamente. Mãe : Você está aborrecido também? Durante os dltimos dez minutos,
De forma similar, se eu noto que estou tendo muita dificuldade em eu estava morrendo de tédio e me perguntando do que nós esta-
preocupar-me com uma farntlia em particular, é uma boa idéia deixá-los saber mos nos escondendo.
dmo. Respondendo com: "Vocês sabem, estou tendo muita dificuldade em
ouvir alguma coisa pessoal de vocês. Eu não estou tendo idéia nenhuma de O mais louco de tudo é que eu mesmo não me dera conta de que estava
seu sofrimento· Se voe ê s pu dessem se tornar mais pessoais talvez eu possa aborrecido. Quando a mãe nomeou isto, eu percebi que ela estava certa. Mi-
me envolver mais". Isto pode trazer vida a uma sessão. • nha honestidade automática nesta situação levou a família de volta à questão
Q_ualqÀuer terapia que seja dtil envolve uma certa quantidade de agonia de assumir a responsabilidade. Demoveu-os da fantasia de dependência de
e con 0 llo. medida f n·18
0 terre ª
que
no toma-se ardiloso p
am se esforça para alcançar novos 1erritórios,
real
que eu tinha que ensiná-los.
cisam . . . • ara mente se arriscarem à jornada, eles pre- Outra das minhas crenças é que quando atendo urna famOia, quaisquer
ace,tar a 1déia de que a d - é . . . É idéias, pensamentos ou associações que irrompem na minha consciência
nheira. É real . or nao O uunugo. muito mais uma compa•
mente rrunha capacidade de me importar com eles, de investir
34
Dançando com II fllmfl/11 35
~ m 11 <'ks, ianto quanto a mim . É n combinoçiio do 111cU1-wnbicn1c fa. meu. Com efeito, é minha responsabilidade forç6-los a aceitar completa res-
m0aa-<"1'11J'C'lla que dá 0 n.gcm n cslas noções o u 1mogcns. Como tal, pnrecc ponsabilidade por suas vidas. . .
,propnado ron,pnit.,lhá-lns com o frunília. É cloro, mmhu consciência destas A outra área da minha responsabilidade está cm um domímo ma.,s téc-
assc.,o!IÇ'ÓCS csi5 concc1llllo no quonlo conheço sobre mnn mes mo. A quão li- nico ou teórico. Dados os meus preconceitos particulares e crenças sobre a,
,tt cu ClilOU para cn1rnr cm sinlonia com meus próprios processos interiores. pessoas e sobre o que o crescimento acarreta, eu devo fazer algumas deci-
Eis o.lguns poucos c.,emplos: sões profissionais. Neste ponto de vista de minha carreira, cu viso mais um
·'<oet' sabe este pequeno sorriso que nu-avessou sua face quando você ponto ótimo de crescimento, em vez de um crescimento marginal . E u, por-
wssc nunca pensar em trair suo esposa'! Bem, eu 1ive uma associação maluca tanto, tomo como minha responsabilidade reunir condições que favoreçam a
rom isto. Rckmbrou-me de um menino pequeno que foi pego com sua mão mudança. Eu quero criar condições que ampliem as possibilidades de cres-
no saco de balas. Eu me pergun10 por que estas balas sempre tem um gosto cimento real. Alívio temporário ou alterações menores, que não serão de im-
o:rlhor" . pacto real, são de pequeno interesse.
Este acwnulo de condições requer que toda a família compareça às ses-
-A forma como vocês dois ficam tão cuidadosamente afastados um do
O\llrOme amedronta. Eu esperaria que vocês ficassem tentados a terem um sões. Eu vejo o organismo familiar como a fonte real de poder e influência.
"caso... Ao menos vocés poderiam iludir-se um pouco com a pseudo-intimi- Não tomar isto seriamente é criar um situação em que qualquer crescimento
dadc". pode ser um pseudocrescimento. A rede mais ampla de relações familiares
"'Voet's sabem, a forma como o menino de vocês luta tão intensamente pode facilmente desfazê-lo e fazer retomar ao equilíbrio homeostático. Nesta
rootra o pai lembrou-me uma história blblica. Eu tive a estranha associação área, eu preciso ser aquele que assume as responsabilidades. É muito seme-
CJt1e voeis criaram o pequeno David para matar Golias". lhante ao cirurgião que precisa ter certos instrumentos antes de iniciar uma
operação séria. Seria est6pido iniciar sem a possibilidade de uma aventura de
sucesso. A presença de toda a fwnflia é a 6nica fonna que eu conheç o para
A nesponsabilidade do terapeuta gerar suficiente ansiedade e motivação para a mudança.
Embora cada situação familiar possa merecer uma avaliação individual
" Uma das áreas mais problemáticas para os terapeutas é a de discernir do que são as suas "condições mínimas" antes de iniciar, seja prudente cm
qual ~ªsua responsabilidade para com a famOia com que estão trabalhando. aceitar muito pouco. É melhor falhar em iniciar do que iniciar e falhar . Eu
Esta é uma_ área enganadora devido às suposições implíciuis, não vert,aliza- me esforço para conseguir que eles levem a sério a sua própria vida emocio-
das. que sao. os subJazem às po siçoes · - ad atadas. Quanto mois o 1empcuta nal. Mas é imperativo que eu não os tome mais seriamente do que eles mes-
,entr necessodade . de assumir responsabilidades por um cliente menos ele mos estão dispostos a levar-se .
acredita
, na capacidade desI e c I',ente ser umn pessoa competente. • Devemos A linha de base é que eu devo acei!'lr a responsabilidad_e .total pelas de-
e, rtar convencer as pessoas 1 - . cisões g_ue eu tomo e pelas ações que executo.
JJHJJlo resLStido à dé' d que e as sao rnepuis. Por exemplo, eu te nho há
1 'ª e chamar o profe
pro
blema de ssor d e uma cnança
. para discutir seu
comportamento. A razã0 bás • .
reforçar a idéia d . _ ica para isto é que eu não desejo
e que os pais sao obt S- Estrutura do papel profissional
o professor e não e EI usos. aó eles que precisam falar com
• u. cs conhecem lh .
nhecerei . Eles amam a cri . ª
me or cnança do que eu jamais co-
Além dos in6meros fatores pessoais que inlluenciam a forma como so-
,1 É rrunha ança mai s do que eu jamais poderia.
postura lutar para ser . mos terapeuticamente, um modelo profissional mais fonnalizado e stá em jo-
poMávcl por eles Eu lid reccpt,vo uara a família, sem ser res-
0 go. O treinamento profissional que recebemos e as idéias e valores que en-
nunca assumindo~ com elesª um nível de "como se", ou simbólico,
m papel real Meu 0 b · · conu-amos através dos livros, cursos e supervisores, todos contribuem para
Uvo quanto possa. Eu d . · ~et,vo é ser tão pessoalmente recep-
M eseio que ocorra . este modelo em questão. Embora possa ser difícil definir este modelo no
as cu tomo cuidado no~ . um llllcr-relacionamento humano. abstrato, ele torna-se muito claro quando olhamos para o nosso funciona-
,..... • evitar qual
no 5enlldo de abdicar d quer esforço subjacente da parte deles mento clínico diário.
ª responsabiUdad e por suas vidas. O jogo é deles, não
36
Dançando com II famBia 37
·ru•ciais a abordar é o de definir o que é um !e
um dos

pc,ntos • i11peuta
fi seu papel profissional e sua função? O que você e"• . ·
Minha resposta tem a intenção tanto de expor a intenção manipulativa
,.,..,,,, voe• de tn• . ..., d11- oculta corno de sublinhar o absurdo de pedir a alguém para dirigir a sua vi-
'--'"'- r? Como você optará por responder em diversas situações .,_ .
..osto a faze 1• . é , b . c..,q• da.
..- --•-nte nenhum modelo c uuco pr -,a ncado que você
rrao
cas1· A idéia básica de aliança também merece ser examinada mais de perto
. rpre•~ão idiográfica das I·dé'ias dos outros cria sua PDssa
há=·~
adotar• Sua rnte -, 0Jarca ao trabalhar com famllias. Embora ser capaz de empatia e de oferecer apoio
singular. Examinemos este assunto. a um indivíduo atormentado seja um tópico mais ou menos tranqüilo, isto é,
Eu passei a pensar no papel de terapeuta como sendo uma espécie de muito mais complicado com uma famOia. Qualquer comentário que você faz
. • arental Talvez mais como uma função pseudoparental, porque é ouvido e filtrado por vários ouvidos. Um movimento para ser empático
pos1çao P · . eu
nunca estou tão investido a ponto de estar ali como no mundo real. Eu não com a esposa pode ser ouvido pelo marido como você estar se deixando en-
me disponho realmente a levá-los para casa comigo, quan~o ~les precisam de ganar ao acreditar no lado da história que ela conta. Deixar um pai saber que
um lugar para ficar. Eu estive bastante envolvido na cnaçao de meus pró- é difícil criar os filhos é encarado por estes como voe! estando do lado do
prios filhos e não estou mais disponível parn outro tanto. Meu envolvimento inimigo. Os exemplos deste tipo de desentendimento seletivo estão por toda
é mais no domúiio de uma figura parental s1mb6hca. parte.
Talvez a idéia de um pai adotivo descreva isto melhor. Um terapeuta A solução é deixá-los saber que vocc! toma a unidade familiar como
cenamente não possui o laço de identificação primitivo de um pai biológico. ponto enfocado. Que você não tem nenhum interesse em se alinhar a favor
Embora ele possa cuidar deles, fica em geral claro que ele não é pane real ou contra qualquer membro individual ou subgrupo. Que você está empur-
deles. À parte este componente biológico, mesmo o papel de um pai adotivo rando toda a farnOia a crescer.
Uma das razões básicas pelas quais somos contratados como terapeutas
é muito intenso. Meu investimento tem mais limitações do que aquele papel
é para sermos honestos. Ninguém realmente necessita de apoio falso. Ser
invoca. Mas a imagem de um pai adotivo se ajusta. Os limites são claros, e
uma prostituta psicológica pode oferecer algum nível de conforto corrompi-
há concordância sobre eles de antemão. Estou me oferecendo para envolver-
do, mas não é este o ponto. Parte do papel, então, é o de estabelecer um en-
me, mas eu relenho a opção de decidir que quero sair. Não é um compromis-
quadre em que você desenvolva a liberdade de ser direto com eles, sem se
so para toda a vida. Por último, há uma troca de dinheiro. Isto toma claro
tomar judicativo. Quando você confronta a famOia, você o faz a partir de um
que nosso arranjo não é de altruísmo desmedido. sentido de sua própria honestidade, não com a intenção de levá-los a con-
A partir deste modelo básico, é fácil evitar a tentação de ser colocado
cordar com você. Dizer "não penso que você está sendo honesto" é muito
concreiamen1e no papel de esposo, amante ou innão. É necessário ficar claro
diferente de dizer "você é mentiroso". Eu não estou acusando ou tentando
que eu pertenço a uma geração diferente. Que eu estou operando em um
impor algo, estou apenas compartilhando minha impressão.
meta-nível com relação à sua vida. Quando sinto-me coagido a preencher um
papel diferente, eu, rapidamente, movimento-me para expor e contaminar
,esta situação . .Durante uma sessão recente, com um casal, em impasse, esta
quesloo emergiu. Pai: Eu me ofendo com isto' Viemos aqui porque estamos preocupa-
dos com que Johnny faça outra tentativa para acabar com sua
vida. Agora você está tentando me convencer que ele está fa-
Esposa: Bem, doutor, o que você acha? Você ouviu todos os nossos pro- zendo estas coisas loucas para impedir-me de matar sua mãe?
blemas e sabe como eu sou infeliz. Você deve ter trabalhado
Isto é ridículo!
com outros casais em situação semelhante. Você pensa que seria Terapeuta : Bem, eu estou apenas tentando ser honesto com você. Acredito
melhor divorciar-me dele? que você não obtém isto muito freqü;,ntemeote.
Terapeuta.· Bem • eu nao
- s abe na
. responder. Eu realmente não estou disponí-
Na minha maneira de pensar, a famfiia está brincando com fogo.
vel. Estou casado há 4 7 anos e não estou disposto a deixar mi- Todos parecem viver com medo de sua explosividade. Espe-
nha mulher por você. Eu também não acredito em ~ligarnia. cialmente sua esposa. Johnny encontrou uma forma de fazê-lo

Dançando com a famllia 39


38
considel111" as possíveis conscqü!ncias, caso isto passe dos 1uni-
.
lCS,
Há um elemento adicional a ser considerado aqui . Desde que urna das
Pai: Isto é absurdo! minhas crenças é de que a ansiedade é necessária para alimentar as mudan-
ças, eu não estou interessado em prematuramente reduzir sua tensão. Fazer
r~rap,,uta: Sinto muito. Tomo como meu trabalho o de ser honesto com vo-
cês. Eu não estou interessado em juntar-me à lista daqueles u isto seria contraterapêutico. Aceitar segredos freqüentemente tem um efeito
l!m medo de você e, portanto, lhe mentem. q e do tipo confessional. Isto é, diminui a culpa, mas, infelizmente, também di-
minui a motivação para mudar.
o assunto da confidencialidade é outro componente desta estrut
pap6s . Acredito que não pode haver
.. confidencialidade entre os membura de~.
uma famOia. Meu papel é o d_e fac1lttar sua luta para crescer. Ser um reposi-
tório de segredos e ser seduzido a entrar em altanças encobertas não cum
Minha visão das famílias é que os membros estão profundamente inter-
conectados. Eu tenho muito pouca confiança em que idéias ou informações
possam levar ao crescimento. Para que mudanças reais ocorram, a família
precisa engajar uns aos outros emocionalmente. Eles prcciswn de experiên-
este papel. Há um custo, porém, em tomar tal posição. Você tem que se r pre cias reais, não de insights intelectuais. Meu estilo é o de enfati zar e xperiên-
ca..
paz de tolerar a idéia de que os membros da família possam decidir não vei- cias emocionais, e não aprendizados educacionais.
O objetivo da terapia é ajudar as famílias a alcançar níveis mais adap-
cular informação "crucial". Eles podem preferir ser enganosos do que levar
tativos e satisfatórios da vida. A mera remissão de sintomas não é suficiente .
esta informação ao conhecimento pi1blico da famOia. Encontrar-se apenas
Eu vejo a remissão dos sintomas como um efeito colateral de uma terapia
com a família pode, é claro, minimizar as oportunidades para tais manobras.
produtiva, não como seu objetivo. De fato, pode ser que viver sem s intomas
Mas o assunto seguidamente emerge de formas diferentes. Telefonemas, car-
seja apenas urna ilusão destrutiva. Um objetivo mais realista e apreciáve l se-
tas ou encontros não programados são familiares a todos terapeutas.
ria o de desenvolver a liberdade para ter bodes expiatórios rotati vos na vida
A linha de base funciona mais ou menos da seguinte forma. Não há in-
familiar. Todos os membros da família poderiam, então, beneficiar-se da ex-
formação tão valiosa que me convença a entrar em um acordo conspiratório
periência de jogar em todas as posições.
de um membro da famOia contra o outro. Estar disponível para tal tipo de
manobra política pode efetivamente invalidar você como pessoa potencial-
mente útil. Por exemplo, se você concorda em falar confidencialmente com 0
marido e este lhe conta que está envolvido num caso amoroso, o que você
faz quando encontra com o casal? Se você conta para a mulher, você trai sua
confiança. Se você permanece com o acordo de confidencialidade com O ma-
rido, v~ê e_stá subrepticiamente conspirando com ele contra ela. Quando
ela, _entao, diz que sente que o marido já não a ama, 0 que fazer? A opção de
furtivamente revelar a presença de um .. segredo", sem identificar seu con-
teúdo, parece-me muito enganosa para ser de real valor.
A verd adeira questão aqui são as guias que você escolheu para operar.
Qua nd0 cu recebo um telefonema, carta, etc., é minha política levar o fato no
próxtmo encontro, à completa revelação. Isto clareia o ambiente e nos man-
tém no cammho certo. Evidentemente também me libera de estar amarrado e
preocupado em manter um segredo. Uma das minhas caricaturas favoritas
mostra um terapeuta se ntad o em uma cadeira, . amarrado O c11·ente está di-
zen do- ··IJo · ·
utor, est0 u sofrendo tanto. Por que você não me ajuda?". Embo-
m isto possa ser inevitável de tempos em tempos ao menos não vamos for-
necer a corda. '

40 Dançando com a famllla 41

l
penso que é tipicamente aconselhável fazer algum tipo de contraproposta Jo-
go de princ!pio. Você precisa se proteger de ser cooptado pela familia. Em-
bora não seja preciso ditar rigidamente uma série impossfvel de condições,
você deve tomar uma posição clara. Um processo poHtico bi-dirccional se
segue. Este contato telefônico para o estabelecimento da consulta inicial dá o
tom do que se segue. Esta batalha inicial é chamada de Batalha pela Estrutu-
ra.

Batalha pela estrutura

O ponto-chave aqui é o terapeuta encarar a necessidade de agir com


integridade pessoal e profissional. Você deve agir seg undo o que você ac re-
dita. Traições não ajudam ninguém. A Batalha pela Estrutura é, rea lmente,
você defrontar-se consigo mesmo e apresentar isto para eles. Não é uma t&:-
nica ou jogo de poder. É o estabelecimento das condições rrúnimas necessá-
rias antes de iniciar.
O caminho da terapia familiar inicia-se com um encontro cego e termi-
Mãe: Alô! Dr. Whitaker? Eu sou a sra. Johnson e gostaria de falar com você
na com um ninho vazio. Como qualquer outro tipo de relacionamento, passa
a respeito de alguns problemas que estou tendo. O meu médico de fa-
por um certo odmero de fases e conflitos pelo caminho. Embora muitos des-
mfiia, o Dr. Jones, deu-me seu nome.
tes pontos sejam predizíveis, o resultado é sempre incerto. Você ~almeote
Carl: Certo. Traga seu marido e podemos marcar uma hora.
não sabe se irá obter sucesso com uma nova pessoa.
Mãe: Bom, não é isso que eu tinha pensado. Você sabe, ele é um homem
te· Quando você ateo~e ao telefonema e é convidado para sair por um per- muito ocupado. Além disso, ele não acredita em conversar sobre pro-
it~ - ou não tão perfeito - estranho, uma complicada seqüência de investi-
blemas.
gaçoes e testes tipicamente tem m,c10. · ' · Além d e descobnr · como seu nome e Carl: Parece que temos um problema. Você sabe, eu não trabalho com indi-
mhnero . . de. telefone foram revelados, VU\.-c --• de imediato
· • levanta tópicos como víduos.
a fanúhandade mdtua , sobrepostçao · - de mteresses
• e planos específicos para o Mãe: Você não me atenderia sozinha apenas esta primeira vez? Desta for-
encontro. Se este devesse se dar à mod .
iria cu·dad .
1 osameote avaliar O propo
ª aoaga, a mulher convidada para sair
. _
ma, eu poderia explicar toda a situação para você.
. (s nente e suas mtençoes. Se sua proposta Carl: Não, sinto muito. Eu não poderia faz.er isto.
1oc1u se um encontro taro· .
A...ria sugestão Tft' 10, num lugar rebrado, ela poderia contrapor sua Mãe: Mas eu não contei a ele que eu lhe telefonaria. Isto pode desgostá-lo.
pr"'t'
melhores • • cuvez sua oferta pod ena · ser um almoço com três de
suas Carl: Sinto muito.
anugas, no local ma· dbr . Mãe : Mas o Dr. Jones disse que você poderia me ajudar. Ele especifica-
aceitar ou recusar. De ual ue is p tco da cidade. Ele estará livre para
Quando procuradq . ~ . r forma, ela pensará que agiu com sabedoria. mente me deu seu nome. Agora você está me dizendo que não vai me
o IDICJalmente po ç •
ajudar?
dilema sinúlar voe• ac . r uma ..am1ba, o terapeuta está num
• e; e1ta sem · Carl: Não, eu não estou dizendo isto.
V. <>cê engaja-se em um p queSbonar a proposta que estão lhe faz.eodo?
. .
1mcia em termos acei·•" rocesso . e--
de troca para
estar certo de que a relação se Mãe: Então, você me verá sem meu marido?
uave1s 7 a.:.awu co . Carl: Não.•• mas se você o trouxer consigo poderemos nos ver.
iniciar pela identificação d nvicto de que o terapeuta deve sempre
contraproposta que julgue n~=~sta da famflia, e, então, fazer qualquer Mál!: Bem••. eu tentarei. Mas eu não posso prometer nada.
4rio para dar início ao processo. De fato, eu Carl: Está bem. Nem eu. Quando você tiver isto organizado poderemos nos

42 Dançando com a famRla 43


Falando nisso, seria importante trazer as crianças lambé
encontrar-
__, _ seria um erro. Eles não sabem que Jack e eu es,,.m, ........_ Há, ao menos, dois o(veis para serem atentados ao se considerar estas
Mllr . Isto ,....,mcn,~ . --•rvs
· mcntos diffceis. Nós não deseJamos expô-los demais. condições para terapia. Um lida com a realidade, é o componente factual -
tendo mo · .
. como sendo importantes na família, também. É realme quem está presente nas sessões, a quem se pede para falar primeiro, o que
Carl: Eu os VCJO . • ntc
necessário que eles esteJam aqui. 0 terapeuta aceita como definição do problema, etc. Estas decisões são sem-
pre tomadas (mesmo decidir não decidir é uma decisão) e me recem uma aten-
Mãe: Eu não poderia fazer isto.
ito seu direito de fazer esta escolha. ção direta por parte do terapeuta. Suas decisões reais podem variar de uma
Carl : Bem'eu respe . ?
Mãe: Você, então, nos verá sem as cnanças . época para outra. Certamente, se espera variem de terapeuta para terapeuta.
Carl: Não, eu não disse isto. Minha própria maneira de pensar sobre estes assuntos cristalizou-se através
.
Mãe: OK, OK. Qual o horário que você tem d1spon(vel? do tempo, mas permanece variável em certo grau. Esta variação tende a
refletir meus próprios processos a um nível mais profundo. Minhas crenças e
Tendo lutado para superar este obstáculo inicial, a terapia tem chance valores ditam o que é negociável e o que não é.
de iniciar com uma nota positiva. A minha descoberta mais pungente ao fa- Ao fixar estas condições, quero engajar a fam(lia num processo intera-
zer tal tipo de discussão telefônica é de que o resultado tem a ver mais comi- cional que leve a um intercâmbio experiencial. Para que o processo terapêu-
go do que com eles. Eles sentem o quão convencido eu estou do que estou tico tenha impacto, em vez de ser meramente educacional ou social , ele de-
dizendo e reagem de acordo com isto. ve consistir de experiências reais e não meramente de vôos intelectuais. Em-
Se você acredita que é necessário um certo agrupamento antes que va- bora a educação possa parecer dtil, ela tipicamente leva apenas a uma forma
mais sofisticada de explicar a vida, e não de vivê-la.
lha a pena começar, você o obtém. Não é o caso de aborrecê-los. É uma
Outro componente crucial neste processo é a capacidade do terapeuta
questão de deixá-los saber o que é importante para você. Obviamente, até que
de levar seriamente em conta as suas próprias necessidades. Tomar-se um
você saiba em que acredita, é difícil ser claro. Mas esteja alerta: excessiva
mártir profissional, sacrificando-se pela famfiia, não é um modelo apropria-
flexibilidade compensa apenas para contorcionistas . Você pode ter duas,
do. Desistir ou comprometer suas próprias crenças, padrões e necessidades
tr!s, às vezes, quatro gerações, se você pedir. Namorados, namoradas, ex-
leva apenas ao desgaste do terapeuta. Estou convencido de que o desgaste é
cõnjugcs, parceiros atuais, etc., todos jogam se voc8 os abordar.
o efeito colateral de nossa própria luta, fracassada pela integridade, e não
Eu lembro uma sessão em que estavam presentes um advogado e sua
uma função de nossa luta com os membros da família. A decisão de tentar
esposa, sua ex-esposa e sua namorada atual. Foi uma loucura ouvir as três
tomar-se aquilo que eles desejam é culpa do terapeuta.
mulheres comparando suas impressões sobre ele durante duas horas. Ele fi. Meu comentário padrão para as famfiias, "eu não estou aqui por voc8s,
rou feliz em voltar para o foro. esto u aqui pelo que eu posso obter da situação" , é uma forma de d izer que
A Batalha pela Estrutura é o período inicial de luta política com a fa- cu não sou alugável como uma prostituta profissional. Deixa-os saber que c:u
mOia. Eu preciso estabelecer o que Bowen chamaria uma "posição de eu" permanecerei o centro de minha própria vida. Que eles não se preocupem em
com relação à família. Quando eles começam a ouvir e absorver as condições proteger-me. Novamente a preocupação real com o outro requer distância
e limitações que estou apresentando, sua resposta automática é a de começar preocupação consigo e a capacidade de ficar pessoalmente envolvido. A não
a colocar cm conjunto sua própria "posição de nós". Embora esta tipica- ser que o seu motivo central seja seu próprio crescimento, isto degenera em
mente leve tempo para se desenvolver completamente , a iniciação deste tipo um "ajudar". Uma vez que isto ocorra, está tudo perdido. Eles tomam-se
de processo unificador é um dos aspectos centrais do trabalho com as fanú- ineptos, e você, impotente.
lias. ~ um passo na evolução de um sentimento de lealdade familiar ou na- Esta observação também reflete minha crença de que, se eu puder obter
cionalismo. Em certo nível, todas as famílias têm um sentimento de lealdade algo de pessoal no contato com a famfiia, as experiências entre nõs serão ví-
e s ~ o para ser despertado. A emergência mais clara de seus sentimentos vidas. A vivacidade da experiência também lhes oferece oportunidade para
de identificação e orgulho familiar não é algo que precisa ser criado; as se- crescer. Eu desejo criar condições nas quais o crescimento seja possível, mas
mentes já estão lã. EI . . . ,__ aceito totalmente que não posso forçá-lo ou orquestrá--lo.
as precisam apenas da oportumdade de cnar rau.<,S e
crcsccr.

Dançando com a famBla


45
pi

AUand(Hlle
ressado em jogar no time, apenas cm ajudj..lo a jogar ow.is efetivamente.. Se
eu me permito 1Cr sedu rido cm jogar uma vez por e les, ~ diflcil retomar l
A idc!ia de aliança e! importante de ser considerada aqui. A aliança e 0 metaposiçio de treinador. Eles esperaria, com todo o d ireito, que eu real-
processo de desenvolvimento suficiente de uma con~do para, ao meoo., mente faça as jogadas por e les.
sentir que vale a pena prosseguir. Embora nós, ~ucntemc_n te, pensemo. A men._ugem mai5 dcstruidont que tal tipo de atitude veicula . e ntretan-
nisto como algo que o terapeuta faz a uma famOla, eu . passei a v&-la COOto to, ~ que eu consid ero os jogadon:s do time muito ru ins. ~ uma forma de di-
algo que fazemos com uma famOia. Isto e!, nós nos en gaJamos em um lipo de ur-lhes que minha maneira de viver I! melhor do que a deles. Esta l uma
experiencia mdtua. forma aroil058 de convencb-los a desistir de desenvolver seus próprios rccur-
A qualidade desta experiencia vem de um certo n~ro de f ~ . 809 e vender-lhes o meu pei_Ãe. Eles podem passar !lem este tipo de sabota-

Parte dela e! a sensação subjacente de o quanto e stamos dispostos a nos en- gem.
volver uns com os outros. Seril que a famOia sente que nós temos a capaci-
dade ou mesmo queremos conhec&-los e entend&-los? Podemos realmente Rftllli.n do o cll
ouvir? Podemos responder de uma forma real, em vez de uma forma fingida?
Sentimos que eles si.io pessoas em quem estamos dispostos a investir? Os Uma du minhu foro-. de concretizar cata qucado I! lentar reunir todo
critc!rios pessoaiJl sõo infindáveis. o cll antes de iniciar. A8im como acria pueril para um ~ inadol' começar
Outro fator e! a aliança autoo1'tica que emerge de um referencial co- o jogo sem ter um time completo, hf um rillCO consider'~I em come,ç.v a lle-
mum, de c itperiencias similaR:s ou perspectivas COR1)artilhadas. Este tipo de rapia sem todas as penJOn&gCJD-Chavcs prc.!ICfJte.s. Os membros que faltam
essencia compartilhada conota uma capacidade aumentada de empa tia. Nds podem sentir-ac deaprcz.ados, pois nlo slo cooaiderados vitais pera o fu ncio-
não somos dependentes apenas de palavras panl ve.icula r a profundidade de namento completo da famlliL Eles tatnblm desenvolvem uma Justific,vel scn-
nossas eitperiencias. Evidentemente este nível de conexão tambt!m carrega saçAo de parancSia com rc..p eito ao que foi dito em sua aullncia. Quando
e mbutido cm si o dilema dos pontos cegos e da superidcn tific ação. E u "sei" qualquer uma de$ta$ reações c5t6 ~nte. u IJCIDCtllq d a ~ criam
o que ele quer dizer, quando um pai fazendeiro fala sobre sentir-se isolado, raízes. Eu quero permissão para toda a urudadc ficar cnvolvtda. U m esforço
ou amar as vacas. Infelizmente, cu posso nlo ter a menor noção de que haja concentrado de qualquer membro da fam.m a que caeja au1Cntc pan mm• a
algo problemático com isto. Mas, ao menos, cu posso ingressar ar. capacidade de mudança da familia comuna ter suceuo •
Com este tipo tio comum de fam Oia, eu devo tambl!m b'abalhar para Esta regra de reunir todo o cli rcpn:seota um esforço pan cnar uma
descobrir maneiras de pular fora dela e ganhar alguma dist.Anc ia. Eu podia scnsaçlo da fam1lia como um todo e para validar o vaJcx de cada membro in-
brincar com alguma coisa de forma ausente, tomar páginas e pág inas de no- di vidualmente. Tant>~m !ICl'VC para evitar uma fonte poderosa de sabc:Ju&em
tas para ficar visualmente distraido, ou trabalhar com um co-tcrapcuta a fim e força~s a capituJar l minha crença de que a famJlia iotcara I! o pacicoo:.
de ter um "nds" a quem pertencer. Finalmente, minimiza a probabilidade de que cu v, ....- levado a uma poúçio
de um e nvolvimen to exagerado e destrutivo.
Um efeito col•eraJ desta dccislo l que, com toda a famOia prcsc.n~. hf
Estabelecendo uma Metaposição 00'\& escalada c m seu nfvcl de ansiedade. Com todos lf., nlo ~ nlngu6n de
que m se fale pelas costas, ningu&n pwa ser culpado sem repercussões íntcr-
No início • meu esforço e~ o d e esta be lccer uma rnctapos1ção
. com rela• peuoais, e não h4 forma de negar o que for d1scuudo. Este tipo de an.sic:dadc
çllo à famOia. Eu dese•o que I nd . tipicamente toma as mudanças mais pos:sfvcis.
. , e es ente am mws sobre o que e les podem es-
perar. de mim e o que eu posso esperar de lcs. Isto não I! concebido como um Parece particulanncntc perigoso decidir pela manutenção da scssAo,
relacionamento entre igu818 · E . q uando a esposa-mãe ou o mando-pai e5lão D\L'iCntcs. Por CÃCmplo. encontrar-
de • u quero que seJa entendido que no meu papel
terapeuta, eu sou membro de uma geração mais velha. • .: sem o marido-pai l u ma forma clara de ouvir apenas uma parte. Vocf est,
A metáfora de um Ire ma · d d . e ncontrando penoas j' c n volvtdas cm relacionamentos. Portanto . envolve~
u or e Ume de beisebol e! uma boa fonna de
9C na d(ade esposa-marido, tomando o lugar dele, automaticamente e n a u m
escrever o que a relação será C 0 .
• mo tre inador, e u real mente não estou inte-
'6 Dançando com• famlla 41
. tarobbn, podem v&-lo como um pai preferível. Esta E
triADgulº· As cnaDÇ85,
para
algUl!m interessado em ser dtil para a farnru kers de Green Bay, vod saberia o que dizer. Voce sabe: quem produz
. ~•
uma p<>SI~º esttaoba e você esteja infeliz com a sua pr6pna. • a. a
mais para o time, quem não o faz. Quão bem o volante joga as bolas
010 ser, é claro, qu_ de uma propriedade emergente também cabe aqui A para os pontas. Quem é o líder espiritual/em ocional. Eu presumo que
A ooçlo te6nca --ente afirma que você não pode ter uma boa .n
ri~~e~c voce sabe mais sobre sua famfiia do que sobre os Packers.
0 oçl0 de prop . és da dissecção e do exame de suas partes co ~
arusmo, atrav . m.. Pai: Eu ainda oão estou certo sobre o que vod quer saber.
ção de um org ra você possa gerar idéias e desenvolver hipóteses sobre toda
Carl: Bem, talvez vod possa começar com algo sobre vod. Quer dizer.
pooentes. E.mi><>
.__ 11 • baSeado oo cootato com parte dela, o fator de. erro ou .distorção fica quais são as suas preocupaçõe s. Que coisas o deixam preocupado e
a fzunul8 ·ameote elevado. Por definição, o nível de mferênc1a envolvido E acordado durante a noite. Quais são os seus temores mais íntimos.
desoecessan
___ ,008do Isso faz vir . à mente a história dos três cegos que tentaram dcs- Qualquer coisa que nos faça começar.
~ •
um elefante asea
b dos no toque de apenas uma de suas partes. As dife-
crever . trazidas pela tromba, orelhas e perna são profundas. o Esta maneira de começar é realmente mais complicada do que apenas
ientes perspectivas .
mesmo é verdadeiro com as famfüas. focalizar primeiro sobre o pai. Tem a ver realmente com envolver e engajar
& ·t _.,;s desastroso entretanto, seJa•
Talvez o e,e1 o ,._, o. que acontece com a emocionalm ente a estranhos. Tomando-os envolvidos, a configuraçã o se al-
om menos que todo o grupo, pnva-o da oportunidade tera. Novos potenciais se abrem. É o meu crit6rio deixar a mãe e qualquer
famflia. E ncontrar- Se C .
de uma expencnc1a
.... . tera.Jutica em seu melhor nível. Em vez de unificar a paciente identificado para o fim. Eu desejo falar com todos os outros mem-
r-
famfiia, triângulos, alianças e coalizões são fonnados. bros da famJlia antes de me voltar para eles.

Iniciando com o pai Expandindo o sintoma

No inlcio da primeira sessão, há algumas avenidas adiconais que eu


A vinheta precedente tamb6m aborda uma outra manobra inicial. As
procuro. É meu estilo normal, realmente, começar a entrevista pedi~do ao pai famfiias tipicamente vem h terapia com um membro familiar, em particular,
pera contar-me como a famfiia funciona na ve~ade. Isto proced~ d1retame~te manifestand o um sintoma que deixa a famfiia preocupada. A minha opinião é
da minha crença em que os homens estão muito menos envolvidos elllOClo- que isto deve ser visto como o bilhete de entrada. Nunca acredite que este é
oalmente e disponíveis do que as mulheres. Se o pai pode ser levado a des- o dnico, ou se quer o mais importante problema da famO.ia. Meu objetivo é,
pertar emocionalmente e a tomar-se um ser humano real, isto .pode
. oferecer
. .
tão rapidamente quanto possível, expandir o quadro de quais são os proble-
uma esperança inesperada para toda a farnllia. Em vez de permitir ao pai agu mas e por que eles estão ali.
como se ele fosse o cara que more na casa ao lado, eu desejo que ele se en- É como o inlcio de um jogo de pôquer. É importante que todos fiquem
volva. atentos. Algumas famOias fazem isto com relativa facilidade, enquanto ou-
tras são muito mais resistentes. As famílias resistentes, na verdade, estão
Carl: Então, pai, você poderia me dizer algo sobre a família? mais é com medo, e é freqüenteme nte estimulante desafiá-las a este respeito.
Pai: Claro. Nós decidimos telefonar-lhe devido ao problema que estamos Recentement e~ uma família composta de tres pessoas - mãe. pai e filha
tendo com nossa filha. Ela está faltanto muito à aula e isto tem que de 6 anos de idade - comparecera m a uma sessão inicial. A filha estava com
fobia escolar. A mãe era muito obesa, e o pai era, obviamente, um homem de
acabar.
carreira muito ambiciosa. Meus esforços iniciais para expandir os sintomas
Carl: Isto é o que sua mulher disse no telefone. Ela falou-me um pouco so-
da família all!m dos temores escolares de Sarah não obtiveram um bom re-
bre isto. Neste momento, eu estou interessado em ouvir algo sobre 8
sultado. O pai fazia-se de surdo, recusando-se a abordar quaisquer preocu-
família e sobre como ela funciona. pações pessoais e negando qualquer conflito na relação. A mãe veio cm sua
Pai: Não estou certo do que você está querendo dizer. ajuda quando eu sublinhei o assunto de sua excessiva dedicação h carreira.
Carl: Se eu tivesse pedido para contar-me sobre o time de futebol dos Pac· Eia comentou o quão orgulhosa estava de seu marido e do seu sucesso ao

48 Dançando com a famRla 49


1
nus rouco,-. ,•11105. ' e le usccndero a uma posição poderosa
. ern A estnJtura do s intoma tinha s ido e xpandida. Casos e xtrn-con;ugars,
trUbalho. En_ npc E bora e le trabalhasse cerca de 75 horas por sellla
. -peru!ve I . m na ingestão e xcessiva e auto-destrutiva de alimentos e um hiato na relação, fo-
uma firma rcs . nté muito tarde da no rte fora de casa, ela aceita
freqúcnrcmcn 1e • _ va estabelecidos. Eles podem não concordar com algumas destas formula-
e esuvcsse f . Ela encerrou suas a firmaçocs, acrescentando q r am á .
0 reço da ama. . . uc ões, mas deixam a sessão com algo mais a considerar. Não é necess n o que
1s10 corno P . 0 de home m que realme nte prec isava estar imerso nesse
11
O
seu nmrrdo era P
d de negóc ios. O seg uinte d ,. 'á logo, entao,
- ocorreu· ;Jes concordem. Meu trabalho era complicar sua e xagerada s implificação
v.:107 e c>.cl!ante mun o . inic ial, que distorcia a realidade familiar.
Além de meramente ampliur a constelação sinto mática, eu também luto
. que ele pen.leu totalme nte o interesse em você')
Carl: Você quer d rzer . . . . · para alterar sua perspectiva para um ponto de vista interpessoal. Quan_do a
. É . penas que o seu Jeito de con1nbu1r para a família é
Mâe: Não é ISSO. a . recusa de Sarah em ir à escola é ligada à sua função de protetora da mae, o
estur certo d e que::• nós remos tudo do .que necess11amos. quadro muda. Passa a enfocar o assunto familiar e não uma ma nia o u pato lo-
Carl: Exceto um mando e pai, você quer dizer. g ia individual. Ao envolver o pa i na alimentação excessiva da mãe, eu to m o
M ãe: Não. Ele é um bom pai. isto uma função da relação, e não uma indicação da falta de força de vonta-
Carl: (vol!anc.Jo-se para a filha): Sarah, ~ocê acha que a ma'.11~e est~ preo- de.
cupad a que o Papai possa estar be rJando a sua secretána . Yoce sabe , Outro aspecto deste trabalho centra-se na capacidade do terapeuta d<!
ele passa ta nto te mpo no trabalho. Talvez ele_lique sozinho, também. ser " mesquinho". Neste contexto, "mesquinho" representa tanto uma dispo-
Sarah: Não. Papais não ficam soztnhos. S_ 6 as ~amaes, mas como a mamãe sição de ser honesto em minhas reações a eles, como uma recusa a abando-
tem a mtn· 1, ela n:.o tem que ,;e sentir sozinha também.
u nar mrnha posição e ser artificialmente maternal. É minha responsabilidade
Carl: Bem estou contente que você c uide tão bem de sua mãe, mas eu ajudá-los a olharem-se a si mesmos de forma mais corajosa. E ncobrir preo-
aind~ me preocupo sobre os papais. É muito difícil de dizer quando cupações ou ignorar áreas problemáticas, / algo sem valor para todos. Eles ,
eles estão sozinhos. podem obter isto em casa.
Ao lutar para ser tão honesto quanto possa, o meu objetrvo é provocar
Tenho ferio O trabalho de base para que eles começassem a se questio- uma interação real, que não fique restrita a um mero role-playing social. Eu
nar sobre sua relação, embora não pressionando por uma e xploração aberta quero que a coisa se tome mais pessoal. Quando vista desta perspectiva, a
nesse momento, eu continuei a sessão numa direção diferente. Eles natural- postura mais tradicional de um cuidado a utomático pode ser vista como do lo-
mente retornaram ao assunto da recusa de Sarah em ir para a escola. Nós rosamente superficial, Para o cuidado ser real, ele precisa estar envolvido e m
dançamos em volta do assunto de sua óbvia dedicação à mãe e do seu desejo um contexto honesto. No sentido contrário, minha " mesquinhez" é a repre-
de ajudar a mãe a esconder seus sentimentos de depressão. sentação de minha capacidade de c uidar.
Mais tarde, na mesma sessão, eu queria que a mãe tivesse uma oponu- Até então, a família foi exposta a um po uco do meu modo de pensar.
nidade de olhar a sr mesma . Ela estava se queixando de sua incapacidade de Outra fase da terapia se aproxima. Esta é chamada a Batalha pela Iniciativa.
;ogar tênrs com seu poderoso marido , devido ao seu peso.
Nesta fase, a questão é impulsionar a família a ser mais ativa. Eles precisam
assumir mais a responsabilidade pelo que transpira na terapia.
Carl: (voltando-se para o Pai): Você se preocupa sobre o peso dela, tam-
bém, ou você prefere Jogar com outros companheiros?
Pai: É daro que eu adoraria que ela jogasse também, mas não é possível. A Batalha pela iniciativa
Seria J:k!ngoso para ela se esforçar com tal excesso de peso.
Carl: Então você não quer sentir-se como se a tivesse matado por forçá-la a Quando você combateu com êxito na Batalha pela Estrutura e foi capaz
jogar tênis. Eu acho que eu posso entender isto. Mas, como é que vo- de estabelecer sua metaposição e condições para a terapia, o processo se al-
ce consegue viver com o conhecimento de que ela está vagarosamente tera. Agora que a família, num certo sentido, capitulou a suas exig!ncias, o
cometendo suicídio através de sua obesidade? risco é que eles se acovardem e passem a bola para você. A próxima fase,
entAo, é levá-los a assumir a responsabilidade pelo que acontece na terapia.

50 Dançando com a familia 51


- 1· mo a
ub ·acente é, algumas vezes: "OK, Whi~er , você nos fezjo- o fato deles olharem para mim à espera de !"o luçocs , ass m c o .
0 senumento s ? S você pensa que é tão bom, e ntao nos c ure". Este é
. . . idéia de que se alguém fornecer as "palavras mágicas" tudo estará reso lv ido,
• da sua maneira. e
gar . Alguns podem ac har isto atraente para seu narc isismo·. podem ser prejudici ais para a familia. Quando e les co nscientem ente colocam
um terreno perigoso.
. apavorant e e absu rdo . · a possibilid ade de mudança em minhas mãos, eles estão se sa~o ta~do . E u
eu ac ho 1s 10 . · ·
e a segunda e ntrevista se m1c 1e mais o u menos corno quero q ue eles enfrentem a realidade de que eles são os verdade iros Jogado-
Não é 1ncomu m qu
res mas e u posso oferecer o conforto de ser um trei nado r co mpetente .
esm: ' É imperativ o que este aprendiz ado venha atravéc; de algum tipo de tro-
que devemos falar? ca experienc ial e não de um ens inamento dista nte. O utra mane ira de ten-
Pai: Bem , sobre O . xima ses-
tar impor esta idéia é nunca iniciar uma·con versa sobre te r uma pró
Carl: Eu não sei bem. untamen te
são. Eles precisam trazer e ste ass u nto . EJcc; prec isam decidir conj
Você tem mais perguntas para nos fazer? Você precisa de mais infor-
Pai: o faço . Eu
se vão retomar. Se eles n ão abordam este assunto, eu também não
mações?
Carl: Não, obrigado. Eu me sinto bem assim. freqüente mente os pro voco da forma contrária , recus ando-me a marcar o utra
ho ra até que e les reto m em à sua ca,;a e discutam o assunto .
(Silêncio)
Mãe: Você acha que devemos continua r o nde paramos da t1ltima vez,
ou
prefere que aborde mos um outro tópico?
Alia.n ça terapêut ica
Carl: De qualquer jeito está bem para mim.
(Silbu:io) Completa r de forma bem s ucedida a Batalha pela Estrutura e a Batalha
Pai: Bem, eu gostaria de um pouco de direciona mento. Afinal de contas, pela Jn ic iativa forma o que cu penso ser a aliança terapêutic a. Apenas quan-
estamos pagando pelos seus serviços, não apenas para sentar a í. do se estabelec e a natureza de nosso relaciona mento e tomamos as rédeas, é
que e stamos pro nto s para ir à frente. Nós so mos agora um supra-sistema fun-
Carl: Eu não estou realmente interessa do em dizer-lhes qua l assunto é im-
ciona l.
portante para vocês falarem a respeito. Vocês se conhecem melhor do
Toda idéia de formar uma aliança terapêuti ca com uma farnfl ia é ardilo-
que eu. Meus conhecim entos dizem-me que o que eu acho não é muito
sa. Minha intenção é identHica r a família como o paciente. Eu não e s tou in-
important e agora. O que vocês resolvere m é que é crucial.
teressado cm aceitar a ovelha negra que eles o ferecem, o u o c avaleiro branco
Pai: De que utilidade você é para nós, então? Por que precisam os de você?
que e les veneram (Cuidado ! O cavcle1ro branco é tão vulnerdv el quanto a
Carl: Eu não estou certo de que vocês precisem de mim. Eu esto u aqui para
ovelha negra), o u mes mo um sub-sis tema como um paciente vdlido . Eu não
aumentar seus esforços para ficarem mais envolvid os uns com os ou-
estou sequer disposto a aceitá-los como pacientes cm o rdem seriada. É com a
tros. Seria muito idiota da minha parte tentar ens iná-los a viver. A mi-
famflia que cu negocio. A fa.mllia transcend e a soma das partes .
nha forma de viver oão é mais válida que a de vocês. Vocês p recisam
É minha capacida de de sempre vê-los como um organ ismo mu ltifaceta-
é fazer com que o jogo comece.
do, massivam ente intercone ctado, que permite minha aliança c om eles. Em-
bora isto possa não ser dctectávc l a um observad or, tem sido minha expe-
Neste ponto da terapia, a luta é para fazê-los ir e m frente. Ter coragem
riência que a familia pode perceber que cu estou interessa do neles como uma
para tomar a iniciativa de se encararem , e não procurar que o terapeuta o fa. unidade.
ça por eles. Você prec isa desfazer a fantasia de que você to mará tudo me-
lhor. Isto evolui para uma fase em que a política toma-se menos central.
Nossa conexão to ma uma conotaçã o mais pessoal. À medida que somos li-
Este é um período marcado pela tensão e pelo silêncio ansioso. Eu o
bertados deste conflito, há mais liberdade para SCntlOS espontân eos e criati-
cn_caro como a água esquentan do na chaleira antes que se possa fazer o café.
Nao se trata de O terapeuta tomar-se ninguém. É uma questão da familia tor- vos. Sou capaz de te r cada vez mais acesso ~ minhas associaç ões internas e
nar-se algu~m Eles prec 1·sam se cn tirentar. É um convite para que eles se imagens. Sou livre para ser receptivo para e les cm vez de por eles. Tipica-
• •
tomem pessoas e parem de represent ar. mente, a família aceita mais meus movimen tos para tomar-m e ma.is Cntimo,

D•nçando com• fllmlla 53


52
. decisões de scparaMnc e ficar de fora. Eu posso indi .
tdl COIJIO ~ sem demasiada distorção. Eles são claramente Ví- A decisão de partir precisa ser deles mesmos. A vida 6 deles. Se as coi-
cfull"'IIIC e e teln uma melhor idBa de si mesmos. Estamos mais à v : : sas foram bem, eles partem com mais amor a mais liberdade para serem pes-
~vidullÇlo e com a aliança. o que reflete um crescimento ~ e aa,.. soas de verdade.
Quando sinto esta fase se aproximando, procuro ouvir as insinuações e
~ : um sistana mais adap(lltivo e saudável.
as pistas que surgem, de que eles cstlo prontos para terminar. Quando as
siDll ~ ~ este período que a familia começa_a fazer ~gumas l11Udançag_
detecto, cu as deixo à mostra. A decisão de terminar precisa ,cr manejada
Eles mo'YCJD-'SC para a frente e sio capaz.es de amscar 1Il81S, sem O CScudo de
com cuidado. Voe! deve respeitar seu processo.
~ do problema apresentado. Cada passo que tomam 6 mais ~
deixar claro que são eles que realizem as mudanças, não eu
te. e eu quero d. .. 1 •
Eu IICDto encorajar seus movimentos, sem mg1- os.
NlnhoVa.do
Nós podemos comparar cxperi8ocias, compartilhar sonhos, etc. Minhas
associações romam-sc mais vívidas. Por exemplo, ao falar com uma familia
A nova caneca de caf~ que con~m o ditado: ..A vida 6 uma droga, Da!,
~ a forma como a cólera do pai deixava todo mundo paralisado, uma
voe! morre", às veus parece apropriada. Quando a fam1lia se despede, h4
imagem ocorreu-me. "Voc!s sabem, agora mesmo cu tive uma id6ia maluca,
uma sensação de perda. Nós investimos uns nos outros e, agora, expcricn-
voces wnb6n já tiveram-na? A imagem foi. a de um aparelho gigante, do ti- ciamos a dor da separação. Embora exista freqüentemente um lado alegre, a
po de um moedor de carne, rotulado de "moedor de gente". Eu acho que sua
perda E real.
funçlo era faz,er ao pai o mesmo que sua cólera faz com todos vocês. Voe& Como isto ~ uma parte muito comum na vida de um terapeuta, algumas
estio pensando cm arranjar um?" precauções vem a calhar. Ter um grupo profissional onde se aconchegar 6 a
Isto levou a uma discussão muito mais direta de seus medos cm relação melhor forma de diminuir a dor. Quando voe! pertence a um grupo, voe!
ao pai. Por último, abordou-se o fato do pai não gostar do seu papel de ogro, nunca está realmente sozinho. ~ melhor não insistir cm que sua famflia tomc1
mas olo saber ser mais nada. conta de todas estas necessidades. A capacidade de separar seu papel profis-
sional de sua vida real 6 essencial.

T&mlno
Temas adicionais
Com a continuação do crescimento familiar, eles usam cada vez mais Estabelecendo o Card6plo
os 1CUSpróprios recursos. Eles desenvolvem a confiança para rejeitar o meu
modo de pensar e começam a acreditar mais profundamente nos seus. FJes Um dos aspectos realmente excitantes da sessão inicial 6 que, como se
me v!cm cada vez mais humano, com as fraquezas agora incluídas. E estio trata de um encontro cego, oingu&n realmente conhece um ao outro. Isto
permite que voe! inquira e explore os assuntos sem a sensação de que isto 6
livres para importunar-me a respeito de meus erros e id6ias absurdas. Com
premeditado. Eu, tipicamente, faço questão de aventurar-me numa ampla
efeito, el.e s começam a me ver como pessoa, e não como um papel. FJes tor-
margem de tópicos difíceis durante o primeiro encontro. ~ um tipo de mo-
~se seus próprios terapeutas, assumindo a responsabilidade por sua pró-
mento mágico. As famflias podem lidar com inqu&itos de quase qualquer ti-
pria vida.
po sem queixar-se. Quando voe! estabelece que estes assuntos são relevantes
. Apesar do meu sentimento de perda iminente, 6 meu trabalho dcsi» para a vida. há uma coocordAncia tácita de que podemos retomar a eles mais
di-los com minha bmção. Semelhante ao que um pai sente quando os filhos
tarde. Os tópicos sobre assassinato, impulsos suicidas, impulsos sexuais. e
saem de casa. eu expcricncio um sentimento de perda. Mas cu os abençôo e outros; todos merecem menção. Quando estes temas primitivos são estabele-
eles estio livres para retomar cm qualquer momento que escolham. Porbn.
cidos como oonnais, tomartrsc menos tóxicos.
Dio saem de mãos vazias. O impacto da experi!ncia tera~utica compartilha-
Se voe! falha cm fazer isto logo de início, mais tarde voce encontrara
da cd entmecido na trama de suas vidas.
mais negação e defesa. Quando voe! pergunta sobre os impulsos homicidas

Dençando com a famllla 55


mãe na décima sesslo, ela suspeitará que você está perguntando deVido a
da ... _.... nela não apenas porque você sabe que todas as n.e.
algo que voe.. v<> ' .--oaa
~ tais iropUI.SOS.

Udando com Impasses

Os impasses são inevitáveis! Os períodos cm que você se sente bl


eado e não sabe que caminho tomar sao- parte do processo. o-
qu . 1. ºd
Minha fomia favorita de romper com isto ,. convi ar um consultor p
ão seguinte. Isto me dá alguém a quem ficar unido. Oferece uma visar_:,
a sess . difi ~
binocular e me dá espaço para ver as c01Sas erentemcnte. Além de ajudar.
me, uma consultoria ajuda a famflia através da destruição de sua fantasia
mãgica que só eu posso ajudá-los. Como agora eles podem ver mais clara.
mente algumas das minhas dóvidas, eles tem que enfrentar a questão da ne-
cessidade de mudança.
o ponto de vista renovado de um consultor, freqüentemente, desfaz 0
que está emperrado e ajuda a tirar o terapeuta de uma posição cooptada. Às Todo este ncg&:io de terapia simbólica é difícil de ser abordado de
vezes, wna verdadeira sacudida vem a calhar. uma forma não-simbólica. É como falar de amor. Voce pode encontrar pala-
vras para representar apenas um nível bastante superficial deste. Falar atra-
vés de metáforas, como os poetas já descobriram, pode oferecer a ónica es-
perança.
Eu passei a considerar a terapia sirnb61ica como similar à infra-estrutu-
ra de uma cidade. Olhar para as coisas que existem abaixo das ruas e de edi-
ffcios é que é importante. Isto é o que permite que a vida na superfície pros-
siga.. Embora eu possa não vê-los quando olho de fora, sei que existem enca-
namentos de gás e água e, às ve:zes, linhas telefônicas abaixo da superfície.
Este mundo subterrâneo é essencial para o que acontece cm qualquer lugar.
Além de não ser diretamente observável, outra característica deste nível de
operações é que ele tem wna espécie de impacto amplo e geral em toda uma
variedade de casas, consultórios e negócios. O efeito é disseminado.
Isto é similar à forma como eu conccitualizo a terapia simbólica.. Nos-
sos mundos subterrâneos pessoais são dominados pelo fluxo de impulsos e
símbolos em evolução. Apesar de não serem sempre visíveis, eu sei que eles
estão ali. Eu não tenho que me preocupar sobre isto ou questioná-los. Assim
como a água flui através de canos sob as nossas ruas, os impulsos fluem
através do nosso inconsciente. Sob este aspecto nós somos todos iguais.
N6s todos temos estas infra-estruturas emocionais que asseguram o flu-
xo de nossa vida impulsiva. Apesar de freqüentemente escondidos de nossas
vistas ou, ao menos, disfarçados, eles existem.

56 Dançando com a famRla 57


-
,_JJneole olhar para a terapia familiar sem ~la COlll()
6 difkil simb6lica da mais aJta ordem. Afinal de contas llltl de satisfação e de alegria. A chave para isto es" em suas capaci<ladÚ de ex-
projeel> de ~ a id6ia de que podemos ajudá-la, que pode,_'_ª fa-
. lo perienciar o mundo de forma mais ampla e mais profunda. Com a expansão
mdJa OOI procura _,. for,.
de nossa experiencia de vida, nós levamos vidas mais ricas, mesmo quando
mclb«· Ndl. ~ claro, olo estar{amos nesta sttuaç maluca se nlio estj.
_. • 1,.,,m .,...u afligidos pela mesma noção. Queremos se ,. os elementos da realidade se mantem inalterados.
v6sl r71, em - -·ar- .
• mais plenas e fehzes. •
Nós queremos
r 11tcig ~ claro que a realidade, às vezes, muda ~ m . Nlo 6 que eu seja
Jev'-101 vidas 11n11,.;__ _
- c,ulrOI,
. .
"--tllllf contra as mudanças do mundo real. Longe disto 1 ~ apeou que o papel que
um do 10frimcllto do nnmdo. .
pouco
.-J.INnll surge quando pammos desta 1~1a para Ol)CJ'acionalizar eu construo para mim mesmo nlo es" enfocado nos eventos reais de suu
o.,......- . 1s · o
vidas. Eu não vivo na fantasia de que estou encmegado de suu realidades,
devemos fuer. ~ que maneira consegwmos ass tir ou sermos dteia
que
~ t o da famOia, sem sabotar unpe
· nsadamente o p,upno ao
..,, · progl'Caao que A medida que interagimos no mundo simbdlico-experiencial, pomn, eles
. ? Novamente volta-se à questão de nos vennos como os pais .....;. podem extrair algo que os levará a mudar suas vidas. Eu nlo 01 transformo,
desejamOS filh ·--.a, mas frcqiientemcnte, eles se transformam.
C(llD 10das as obripç6es de fazer com que nossos os façam as coisas eorr&,
ias. ou estamoS menos obrigados concretamente? Podemos nos pennitir dei-
xar• cfimenSlo da realidade da escolha e~ ação para eles? Talvez a queatlo
Mundo simbólico
rw 1eja: pooemos pennitir-nos não fazer isto?
&d suficientemente claro em minha mente que o terapeuta deve ocu-
Todos n6s filtramos nossas experiencias de vida atram de um ndmero
par uma metaposiçlo com relação à família. Isto ~. voce precisa ter uma vi-
relativamente reduzido de pressupostos. ~ a riqueza ou a pobreza destes que
alo geral de todo o gropo, manter alguma distJncia e não ser levado a tomar
levam, num caminho muito extenso, à determinação da experiencia subjetiva
coora deles no nível real. F.mbora eu esteja intensamente interessado em falar
de viver. Como a capacidade dos esquimds de experienciar 17 tipos diferen-
can eles sobre suas vidas e participar de uma experiSncia real, na sala de te.
tes de neve, em oposição a uma wúca categoria "neve" conhecida pelo ha-
nipia, isto p6ra por aC. Eu não tenho interesse em ser o cerne de seu Pl'OCCSso bitante suburbano de uma região ensolarada. O sentido e o impacto da reali-
decisório na vida real. Eles devem manter controle neste nível, e ~ minha ta-
dade externa slo determinados por nossa realidade interna. A mesma sinfo-
refa cuidar para que eles o façam. Não apenas eu preciso evitar tomar conta nia pode ser experienciada como gloriosamente estimulante ou dolorosa-
de cudo, mu preciso fazer com que eles evitem de me ver como al~m que mente aborrecida. Depende do ouvido do expectador.
leCplCí pudesae faz~lo. Os eventos concretos de suas vidas são de inte~ Numa terapia orientada para o crescimento, a questão central 6 a de fo-
apeou porque são maoüestações das suas infra-estruturas emocional e rela- car sobre a expansão do significado da experiencia e a ampliaçlo dos hori·
cional, e não devido à sua realidade literal. zontes da vida. Nós organizamos nossas vidas em tomo de nossos próprios e
Trma-ae de uma justaposição realmente interessante. Eu entro na rela, limitados sistemas internos de representação. Quanto mais rico e maia diver-
çlo nlo delCjando ser seduzido a ser demasiado literal e orientado para 1 so este mundo, mais liberdade e criatividade nds temos. Se nós podemos
nlidade. A famfiia chega pensando que eles desejam coisas concretas. Fles ajudar na expansão do mundo simb6Iico du famfiiu que atendemos, elas
quemn que eu lhes ofereça soluções concretas para suas vidas e que provenha podem viver vidu mais ricas.
com • poçlo mjgica que curará seus males. Mesmo o m6dico que exisle em Há um certo ndmcro de temas universais que, pelo fato de sermos hu-
mim sabe que isto 6 ridículo. Freqíientemente , respondo a eles que minha va- manos, nós somoa abençoados, tanto quanto amaldiçoados, a abor<U-los. A.
riJlba de coodlo está estragada, deade que uma criança de 4 anos de idade, suntoa tais como solidão, raiva, sexualidade e morte, todos são parte de to-
dos oda. Nda todos carregamos impulsos homicidu e suicidas, ~m de im-
auito curiou, puxou a estrela da ponta do bastJo, tomando-a uma estrela
pullos sexuais primitivos.~ parte de nossa condição humana. Muitu de·nos-
morta. Nlo h' pal1VI111 mágicas, truques ou exercício de comunicação que
01 tnmfonnarlo num grupo perpetuamente euftSrico. A vida envolve con- au viv!nciu intemas, endo, tocam nestes usuntoe, enquanto a maior parte
do que demonstramos externamente 6 construido para ser maia socialmente
fli1ot e 01 relaciooamentos exigem trabalhos. Não há forma de evitar isto.
tolerivcl. Nossa cultura profbe a expresslo primitiva deues impulsos,~
. M• ~ h4 deaesperaoçal As pessoas podem ap~nder a levar vidas
çando-nos a mantb-los em xeque. Apesar destas iniunçõea sociais, eles con-
IIIIU poduttvu e mau íntimas, Elas podem encontrar níveis mais inteDSOS

SI 0.npndo com• famlla 5ll


vos tntc,mnmcntc. E..tcs lmpulso11 dei .. _
- - " - ~ t r •d UWUTll\la
••••■ a .« P " " - -_..,ao em toda a nossa vida concreta. No nrve1 IUbja.
0 grupo ret6n cxceHo de poder aobre 09 lndJvfduot, ou este~ lrwufldenre7
__. - bC!8 ,-.,. dd,u. a vida nlo tem u:.mporabllidadc. Paalado, Como eles negociam a lndlviduaçlo e o pertencimcnto7 Como eles lidam
. . . . . . . . prl Plb.
e.- ed<)mr9CladOS- com oa feriados? O aiau:ma repre1Cntacional limbdllco da familia .cs(j C,t•
- - e f1IDII\) dLucminado o mundo dos impulsos e símbol posto aqui. Elte• evento, tendem a moltra' como a ramrua ~-
_.. ..- Je 111ft' n,11110 ' OS
~ . ados- Os símbolos vão desde oquelcs nbsolutarnen
_ - - a ft~-eu ,..., R • di le
...,--- 1c1amcntc ldJognUicos. cpn:scntaçoes retas de nos..
_ ,~ . • m COl'l'.1'
L-"·ica estão universalmente d 1spon
. (veis.
. a::.,
~s _
irupu•--- Olhando lntemammte
,da .mrui.s-.,... o.s 1 ._
51 '
r--·-
.
---6ritis encontram e~.,.~-..-c•o similar cm todas os cu turas.
._
Os símbolos
doS dent:cS na raiva, o olhar deses perado da sohdao ou O ter-
se-
H~ somente uma fonna de ..entender" o onmdo complexo dos impuJ.909
nas- o nan~ morte todos são familiares a todas as pessoas. Cada cultu e símbolos. Esta fonna ~ olhar internamente. Apenas quando voe! pode
de' cnfff'ntar • · • . •
ror ~ deixar uma imprcssao particular no mundo rcprcscntaci0- realmente identificar um certo impulso búico dentro de sl meamo voe! sabe
n pode, m. tema ed(pico atravessa várias culturas, mas há. li~ que ele realmente existe. Uma vez que voce o descobriu cm 1i rne■mo, ele
ui dr 9r\l povo. 0 • -
de variações. Cada cultura pode, tam~m. desenvolver sua toma-se real. Ab! cotão, pennanecA: um conceito ou teoria interessante, ma■ ~
m,:IIIIC. dcZ:CNS b .
forma propri• de eitpressar amizade, ceie raro nascunento, marcar a adolcs- de pouco valor para v~. Eu acredito que a fdnnula funcione no outro senti-
câJn.l c lamentar a morte. . . . do, tamb6n. Se voe~ nio puder acha-lo cm si me.9mo, cntAo, para os prop6-
Cada 6JCa deite mundo 1imb6lico precisa, . tambc!m, ser ~ l>CUoal- sitos práticos, ele nlo existe. Se voce nunca foi capaz de identificar e en-
meme dcíuudo dentrO da mitologia de cada fam01a. Pon.an~, o IDStinto un.- frentar seus prdprioe impulsoa bomicidu, voe! nlo acrcdita,-j que ele■ exia-
'ICfW de ,ot,reviv&cia, glorificado nesta cultura pelo nuto do 1C1f-1Jade tam. Nlo nu pcuoaa ..normais", ao meooa. Por dcfiniçlo, cntAo, qualquer
ftlCd>e uma face ma.is idiogr4fica quando interpretado por qualquer r.. um que admite tais impulsos 6 anonnal, confonne suas nonnas internas se>
: an particular. "Nós aomos a. Smith. Ser um Smith significa que "'Cd cretaB.
amca. pede ajuda. voce carrega 1eua prdprio1 problemu". E.ata l um inle,-. Minbaa crcnçaa vlo em outra dircçlo. Eu acredito que parte da coodi-
pdliiÇAo t(pica do instinto universal. A forma c1pccffica como ea1a per. çlo humana 45 ter dentro de 1i uma vida impuhiva rica e efervescente. Todo■
pcc:11Y11 IC aplica influenciará dcciaivamcnte cada membro da famOiL 90m<>a uauaioo1, todos temo■ conflitoe suicida■, todos temo■ faotuiu io-
Em algumas famfiiu, este instinto de sobreviv~ncla h'aico com o qual ceatuosaa, todos ficamos apavorado, com a idBa de morte. O fracuao c.m
~ pode acabar di1torcido cm um intenso e l.ncana6vd esforço cm n,coohcccr csrea fatos limples da vida~ bloquear boa parte de noaaa huma-
obler coisa ... um■ interpretação dos viciados no trabalho. Eles podem ~ nidade.
aepir o "sucesso" às custas do relacionamento, terminando com a 00111a A con■cieocia pnSpria de seu mundo impul■ ivo i rcalmcntc um pr6-re-
...._.. bem cheia, e suas vidas pessoais vazias. Outros podem proc:unr qui■ito para sua capacidade de ver, quanto mai1 de entender, o mundo aim-
- vida mais equilibrada, mas permanecem conflituados pela culpa aobre bdllco doe outroL Na medida cm que v~ puder enfrentar a■ manifcataç&a
- falta n:lativa de sucesso tangível. As variações slo infinitas. limb6licu mtUtiplu de scua prdpri09 in1tinto11 voce c1t6 livre para gencn.U-
A forme como cada famOia em particular encena seu mundo 1imbdlico d-lu para IUU relaçõca com oe outro■•
pode e,,,oluir com o tempo, mas tipicamente reb!m algumas maoifes1aç6ea
ce■11'àa que 11o maia ou menoa comistcocca. Uma forma de dar uma olhada
aa . , . modeloa centrais 6 cooaidcrv seua rituais intapcsaoais. PrCIW Terapia ■imbóUco-experlendal
~ • forme como elea operam quando ficam juntos 6 revelador. A rociDa
---a. o ritual do ,antar e o modo como eles funcionam dwantc 01 feriadol Toda• id6ia de terapia lint>dlico-cxpericncial emerge do fato que en-
• a.apw itimeoeos que cooram oomo 9CU mundo 6 organizado. quanto pcnumo■ e falamo1 ■obre ooisu cm um nível, vivemos num nfvcl
C.mno O pai pRICOChe a imepm cultwal de força. e a mie a de nutriz? que i muíto diferente. A terapia 1imbdlica1 entlo, cat.6 envolvida no esforço
C.cao a maac:uUaidedc e a fernP,Uidade do def'tnidu e cxprcasas?' Sai que para uo, movermo, d.iretmncnte no ofvcl cm que vivcmoa e nlo compactuar

• o.nç._, ~ a laml• .,
oom o nível do pensar. falar e raciocinar. ~ uma terapia cm que voe! não li- lbcr ou a infantilizaç ão que todos sentimos, pode levar ao crcacimento. To-
da com 01 dados que a famQia apresenta enquanto dados. Nlo 6 educaçlo. doS estes territórios podem ser abertos. Trata-se de 6rcu sobre u quais u
Lembra o velho ditado: "Nada que valha a pena conhecer pode ser ensina- pessoas comumcnte não ~alam, ou nem mesmo pensam. provavelmente por-
que são importante s dclDB.ls.
do." Nlo se trata de um treinamento de amiptaçlo social. A terapia simb6li-
Um dos aapectOI excitantea deste tipo de trabalho 6 a dcacobcrta de
ca 6 um caforço para lidar com o sistema rcprescntac ional sub1acente
"
."" q~ que à medida que a terapia evolui e nós estamos cada vez mais livres para
cst4 realmente sendo dito. Envolve selecionar os itens e fragmentos simbóh-
nos engajannos numa troca simbólica. ela toma-se uma expcri8ncia de CTCS-
cos que voe! detecta ou sente. Cada um deslel fragment01 rc~rcsenta outro
cimento para mim tamb6m. Com frcqQeocia. me parece que quanto mais
território. uma infra<strut ura que se desenvolve sob a nossa VJda de superfí-
proveitosa para mim a expcri8ncia, mais proveitosa para eles. O resultado do
cie. Penso nisto como uma tentativa de penetrar num território mais hol{s- encontro de nosaoa mundos simbdlicos pode ser verdadeiramente excitante.
. d "d IV'nnAn--
bCO e Vl a. e n ão r---·,.._,· encarcerad o no territdrio do .pensamento . é
Em certo sentido, nós todos nos tomamos pacientes do processo.
Um dos padrões c14ssicoe da terapia IÍIIlb6lica 6 o proccsao de lidar
uma certa extrapolação dos velhos padrões da Gutalt que ~luíam movi-
......c com a morte. A morte do terapeuta, a morte de um membro da famllia, o fato
mentos co,yvreos, senaaç,.._s
.,., co......c-..
•yv•-- e uma consc~ncia mais lo total. Eu a
. {- universal da morte e de que ningu6n ~ poupado. Todas estas bcu podem
vejo como parte de uma evolução gJBdual para al6n da cone~ m ~
scr profundas cm seu impacto. Todos nds gostarlamoa de poder congelar o
quica freudiana cm direção a um padrlo interpeuoal de terapia e uma visão
tempo, de viver para sempre, de ser eternamente lembrados. Numa cultura
de mundo interacional. ·• d que cuidadosam ente luta para despcnooa lizar a morte e, automaticamente, se
A terapia · sim
· ból'1ca centra-se na . noçlo de que há um certo numero e
· · na VJda.
· Aasuntos que e,............ torce para negá-la, a expcri!ncia de eofrent.4-la com os olhos abertos pode ser
queltões umvcrSBlS ..., ..., carregados que com fro-
profunda. A id6ia de que apenas enfrentando sua própria morte ~ que vod
qü8ncia os abordamos de forma disfarçada ou oculta. Embora e~es poss_am cst4 livre para viver realmente, 6 assombrosamente acurada.
ser demasiado assustadores para se enfrentar a nível da superflcie, eles un-
De forma similar, os tcSpicos de loucura. &Uícfdio, homicídío, sexuali•
pregnam o nlvel subestrutura! de nossas vidas.
dade, etc., todos c8rTCgam um peso considcr!ve l. Por exemplo, cu freqOco-
A terapia simbólica, portanto, centra..c em ajudar u peuo~ a ficarem
temente digo aos membros da famllia: "Se voe! f01se ficar louco, realmente
mais l vontade com seu mundo impulsivo, a serem menos ameaçador as por
maluco, como voe! o faria? Pegaria uma espingarda e subiria em alguma tor-
ele e a integrá-lo mais completamente em sua vida concreta. O mundo impul-
re para praticar tiro ao alvo nas pessoas lá embaixo? Correria floresta
sivo não~ para ser evitado. Voe! não pode escapar dele! adentro para tomar-se uma árvore? Com que a sua loucura pessoal realmente
A dnica fotma de encorajar boneatameote u pellOU a se aventurare m
se pareceria?" Ao fazer isto, estou enco rajando a expressão externa de sua
num territdrio tão ameaçador 6 usar a li mcamo. O terapeuta deve estar dis-
vida interior de forma não destrutiva. ~ uma oportunidade de olhar para seu
posto a expor algo de suas próprias experiencial simbólicas. a revelar seu
próprio mundo impulsivo sem medo de que ele tomar4 conta. Ao enfrcnd-lo ,
sistema pessoal de crenças e a oferecer relanocs de sua infra-estrutura. Quan-
vod pode começar a integrar os impulsos em vez de preservá-los intactos
do voe~ tem coragem de expor a famflia a ilto, cm fragmentos mindaculos. atrav6s do isolamento . O s esforços para isolar e negar os impulsos, tipica-
eles incorporam uma parte sua neles próprios. Quando ficam face a face com
mente os intensificam , freqüentemente a ponto de que quando eles ganharem
parte de seu mundo interior. eles taro de decidir o que fazer com ele. &tio expressão, tomar-se-ã o incontralávcis e explosivos.
livres para produz.ir suas extrapolaçõea, dependendo de como isto reverbera
Minha sondagem e estimulação não requerem que toda a carga impulsi-
dentro deles mesmos. va seja expressa de uma s6 vez. Com frcqüancia, 6 preferível que ela se ex-
Se o terapeuta, por exemplo, começa a falar de ai como um ser imper- presse em pequenas partes. Por exemplo, pedir a uma rcc6m-casada que
feito, ou revela acus sentimentos de dcpeodeoci a. medo ou confualo. a famí-
compartilh e seus impulsos homicidas com relação ao seu marido pode ser
lia pode ficar tentada a olhar tamb6m para dentro de ai. Eata abordagem se
excessivo. Por6m, perguntar se ela já pensou cm colocar sal demais cm sua
destina a ofeR!>CCr•lhes uma imagem especular da oportunida de de explorar
comida como fomia de ficar quites com ele ou mesmo de ver-se livre dele, 6
e talvez expor mais o seu próprio sistema de valores e a sua infra-estrut ura.
mais tolerável.
Tomando penonaliza da a feminilidade no homem. a masculinid ade na mu-

Dançando com • familia 63


62
Confusão
Para ajudá-los a desbravar novos territórios, eu _posso compartilhar
al das minhas associações ou pressioná-los a cons_iderar pólos opostos
gumas .
de suas posições explfc1tas. Por exemp o, -r11
l o mando que proclamava um dos obj~tivos básicos por trás do trabalho simbólico é ajudar as
r--
. se ela O rejeitaSSC, eu posso perguntar: pessoas a expandir o alcance de suas experiências de vida. Fazb.los abrirem-se
amar tanto sua esposa, que morrena_ uebrar com esta tirania?" para uma maior extensão de ~da. Ser capaz de romper O estabelecido, ti-
"Já pensou em homicfdio como a dmca forma de q
picamente, requer uma contaminação real de suas perspectivas atuais... uma
Para a esposa que proclamava amar tanto o marid~•-e, ~rtaoto, nunca criti-
experiencia de desprogramação . Uma das formas mais poderosas de faur
cá-lo eu posso responder: "Isto 6 absolulBIDCDte vic~oso. .
• isto 6 atrav6s do poder da confusão. Eu quero ser capaz de perturbar suas
Nestcs exemplos, eu quero r01J1)Cr c om a dicotomia do .
amor ser o
ntá-los como sentimentos conJugados: se vo- certezas e destruir sua noção de que a vida é simples. Quando a clareza de
oposto d o ódio. Eu quero ap rese . . .
,,,. ut ma..:A•-nte presente. Quando a d1cotOIIU7.aÇlo sua dicotonúa certo/errado é eliminada, um novo mundo se descortina. Eles
ce tem um, o outro est.. a o ...,.......
artificial destas emoções 6 removida, o referencial para uma abordagem mais cntlo se defrontam com as questões de crescimento: escolha, vaJorcs e res-
ponsabilidades num mundo incerto. Mais uma vez, eu quero participar cm
h ~sta "m . . .
· staura Com um conflito suficiente, isto pode mesmo levar à in-
timidade. Eu quero impulsioná-los para um novo tcrnt6rio,_aquel~ no qual uma experi!ncia que os abale. Uma que os surpreenda o suficiente para que•
• n,ve ,. 1 de id
seu antigo v a e de pensar sobre o viver nlo 6 mrus suficiente. Ao brar o estado hipnótico da famOia de origem a que todos estamos sujeitos.
cxperienciar a contaminação atra~s de meu siStema ~ cre~, eles podem A confusão é, por si s6, uma das formas mais potentes pera abrir sim-
ser liberados para expericnciar mais de seu mundo 1mpuls1vo, deste modo bolicamente a in~strutura da famOia. Toda vez que um membro da fa-
k>mando-se mais humanos. famflia diz algo, eu quero poder ser 11tiJ ao revisá-lo, modificá-lo ou torcê-lo
& se uidamcnte tento expandir o entendimento familiar dos sintomas de tal fonna que n6s fiquemos com uma assertiva vazia. Eu quero dei-
atrav6s de :ua extensão para o passado, para as gerações pr6vias. Outro ~ xá-los com novas opções e considerações para explorar. Isto os deixa com a
todo 6 impeli-los para a frente, em direção às novas ge~s. ~o supor que possibilidade de explorar novos territórios, ao mesmo tempo que na pior :ias
os sintomas tem continuidade attav6s das gerações, cu deseJo &Judá-los a ter hipóteses, deixa-os com uma contaminação que, devido à sua universalidade,
acesso ao rico mundo simbólico que percorre a famflia extensiva. Se há dez é fácil de desfazer.
crianças na famnia, eu quero que eles saibam que a forma como a próxima Para um marido infantilmente queixoso, o comentário "eu quero mi-
geração vai lidar com o tamanho da famftia está claramente conectada com a nha mãe também" pode ter um i01>acto significativo. Mesmo se nunca mais 6
experiertcia familiar presente. Eles podem esforçar-se para alcançar os dez mencionado pode ter um resultado significativo. Eu tamb6m não lhe dei nada
ou recusar-se inflexivelmente a ter filhos. O modelo pode ser positivo ou de especifico com o que ele precise discordar de mim. Isto deixa-o perplexo
negativo. Mais provavelmente, cont6m elementos de ambos. De forma se- oom a mensagem.
melhante, os mitos familiares de paternidade, vida conjugal, etc., estão rica- Uma das melhores formas de oferecer à família o benefício da confusão,
mente interligados. 6 o terapeuta livremente fazer uso das crenças universais que ele tem sobre
Encorajar que cada um seja menos opressivo com o outro, pode tamb6m pessoas e fanúlias. Enfocando deliberadamente o fato de que as famílias
facilitar o crescimento. Eu, com freqüência, os provoco quanto à flexibilidade compartilham certas características, você está livre para se mover com menos
de papéis dentro da famllia. Ao perguntar ao pai quando foi a dltima vez em inibição. Ao assumir que todo o estresse, toda a salide, toda a patologia de
que ele se sentiu suficientemente seguro para permitir que o pequeno Mikey, qualquer famfiia está tamb6m disponível e operante em qualquer outra fa-
de seis anos, colocasse leite cm seu copo, ou liderasse as orações, ou deci- mfiia, voe! está pronto para dançar com eles. Embora algumas dessas áreas
disse que programas de televisão a famnia poderia ver, a noção de mudança possam estar encobertas e escondidas da consciência, elas ai.oda existem.
é introduzida. Funciona em outra direção, tamb6m. Talvez O pai possa se A capacidade do terapeuta de operar a partir de tal base universal,
aconchegar e falar como um bebe, como as crianças de 4 e 5 anos fazem mesmo que ela não seja aparente nesta famOia cm particular, 6 crucial. Per-
quando brincam de papai-mamãe. Estes tipos de invenão de pap6is podem mite-lhe operar no nível da infcr!ncia. Enquanto eles pennancccm leais aos
ter um impacto libertador em todos os membros da famQia. "fatos" de sua consci&cia, você pode operar num plano diferente. Isto per-
mite-lhe mover-se diretamente no nível infra-estrutural, enquanto eles conti-
64
D•nçando com a famRla
65
ouam restritos pela realidade. Esta descontinuidade pode, cotão, gerar coofu. veram a oportunidade de desconsiderá-la com base em um debate int.electual
slo. Mais especificamente, qualquer parte do processo psico~~pico que que eles sintam que tenham vencido.
possa ser diretamente subsumida ao processo de pensamento f31:11har comum Há muitas font185 de incluir o benefício da confusão ou desorientação
e programado, nao- e,,. d e uti'l'dade
1
para O crescimento.A confusao
- _
é a essên- nas sessões de wna forma t1til. Uma das minhas preferidas é brincar com a
eia real da dcsaprendizagem e da nov1Lapreruft_zagem. Se nao há confusão, confusão de papéis. Eu redefino as interações que vejo em tennos de papéis,
não pode haver mudança, nem progresso. Até que v~ê rompa com seus. pa- não importa quem os desempenhe. Por exemplo, ao jovem rapaz que esui re-
drões, a rotina continua a se aprofundar. A vida continua, enquanto O Viver preendendo sua mãe por ela não manter sua palavra, eu diria: "Deixe-me
se deteriora. ver. Se você fosse o pai de sua mãe••• a forma como você a está corrigindo,
Uma das maiores preocupações que assaltam qualquer um que trabalhe voe! sabe ... isto o toma seu próprio avõ." Ou a esposa que sempre cede ao
com fam1lias é como obter um impacto significativo. Como e~volver-se de seu marido explosivo: "Voe! sabe, eu aposto que ele está tão louco porque
~
UIIIII ,onna que
realmeo~ '=a düere..,..,
•- ,..,, ~r-o em vez de apenas
. agitar
. a superff-
. voe! não esui sendo uma boa mãe para ele." Este tipo de jogo com os seus
·
c1e. Mais uma vez a i---+ª"cia
, UJVV•..... de abordar o mundo s1mbdlico é
pod que é. a 10- papéis, embora pareça um tanto estdpido a princípio, freqüentemente toma-
fra-estrutura que O conecta. Assim. o crescimento nesta área e ter impli- se significativo quando eles decidem que é o momento de viver de maneira
cações pervasivas, com impacto duradouro. . . diferente.
Tenha em mente, porém, que o impacto pode não ser 1med1ato. A ex- Outra maneira consiste em oferecer uma série de "soluções" ridículas
pansão do mundo representacional pode levar algum tempo para ocorrer e quando solicitado a resolver um problema. Isto os coloca em contato com
encontrar expressão 00 contexto da realidade. Como meus ~forços o~o estão sua necessidade de serem responsáveis por si mesmos, em vez de agir como
dirigidos para alterações comportamentais e enfatizam mais uma onentação se eu tivesse a resposta e a estivesse retendo até que eles a possam arrancar
de crescimento, 0 comportamento concreto pode ser enganador. Eu espero de mim. O uso de palavras de duplo sentido ou frases de efeito pode ser
que eles possam achar uma forma personalizada de integração para sua vida, muito poderoso. Misturar os significados literais e os contextuais pode tam-
não um coiq>ortamentc, düerente. bém revelar alicerces encobertos. Por exemplo, uma nova família entrou com
O temio que eu uso para descrever como isto realmente opera é "se- o marido furioso com sua esposa, por esta não ter comprado um acendedor
meando o inconsciente". Eu considero boa parte do meu estímulo à famfiia de lareira no Natal. Ele estava possesso, porque ela havia comprado uma pa-
romo sendo similar a plantar sementes em um campo. Se as sementes slo su- ra seu pai e outro para seu innão, mas não para ele. Quando ela respondeu,
ficientemente fortes, o campo suficientemente fértil e as condições corretas, dizendo o quanto ele a estava fazendo sentir-se culpada com o que estava di-
elas podem criar rafzes e crescer. Quando a famtlia e eu nos acertamos e fa- zendo, eu comentei: "Vocês sabem, eu acabei de ter uma idéia estranha. En-
zemos um contato real, as sementes parecem crescer bem, freqüentemente quanto vocês falavam, me veio a imagem do acendedor de lareira como al-
trazendo uma boa colheita. Quando algo está distorcido, elas não se desen- gum objeto sexual." Ambos riram muito e, com o olhar encabulado, mencio-
volvem. Mas a verdadeira colheita é deles, não minha. Eles lutaram por ela e naram que a razão verdadeira pela qual tinham vindo era que eles estavam
tem o direito de reivindicar sua posse. Se eu permaneço por demais investido tendo problemas sexuais. Aparentemente, a esposa vinha fingindo orgasmos
no resultado, isto retira deles a capacidade de realmente possuir sua colheita. há anos, mas apenas recentemente tinha deixado o marido saber disso. Seu
O outro componente de semear o inconsciente é que é tão delicioso que marido verdadeiramente poderia ter usado um acendedor de lareira.
eu não preciso lutar conscientemente com eles para colocar as sementes. Eu Eu também me esforço para usar palavras com sentido afetivo muito
posso colocar as idéias num nível de inferência que não desperte nada para volátil para atrair a atenção e sublinhar uma questão. Às vezes, sublinhar
ser concretamente contestado ou discutido. Como eu não preciso conven- exageradamente um assunto é a t1oica forma de colocá-lo em aberto. Acusar
d-los de minhas interpretações, eu não os atraio para a necessidade de con- alguém de ser desonesto ou, melhor ainda, de ser mentiroso, pode ser necessá-
trapor-se a mim. Eu não preciso jogar o trunfo preferido do terapeuta e ro- rio para provocar uma resposta. Perguntar onde eles adquiriram umaklbili-
tular sua discordância comigo como resistência. Não tendo uma discordância ~d.cUio elegante para negar os problemas com um sorriso tão convi~cente
sobre quem realmeot.e está certo, eles partem com a experi!ncia. Eles não ti- pode, também, desencadear uma resposta.

66 Dançando com• famlla 67


M aianças, CrcqOentemcnte, adoram as minhas est6rias sobre o que eu fluxo para frente e para tr4s cria a flexibilidade para expandir e acrescenta
fazia quando eu era uma menininha. E las podem divertir-se com a bobagem e mais a ambos. Quanto mais você ousa pertencer, mais liberdade você tem pa-
amidde fazem um trabalho maravilhoso ao ensinar seus pais a relaxar. Apc.. 18 ser independente. Quanto maior sua capacidade para se individualizar,
oas adultos mais infaotis levam-se demasiadamente a s6rio.
05 mais livre voe! é para pertencer.

Experif:nd•

Eu estou ainda por encontrar uma pessoa que tenha sido capaz de cres-
cer emocionalmente através da educação intelectual. O verdadeiro cresci-
mento emocional ocorre apenas como resultado da experiência. Meu prdximo
adesivo de carro dirá: "Nada que vale a pena saber pode ser ensinado." Isto
não é dizer que aprendizado e crescimento não são possíveis, apenas que ser
apresentado a sugestões, recomendações ou estímulos cognitivos é irrele-
vante. E não s6 isto, é freqüentemente danoso ao processo.
/nsiglú e corrq,rcensão ocorrem como resultado da experiência, não
como precursores dela. Como Kierk.egaard disse: "N6s vivemos nossas vidas
pana adiante, mas as compreendemos apenas retrospectivamente." N6s todos
precisamos reinventar a roda se quisermos ter algum benefício. É muito pare-
cido com a experiência de tomar-se pai. Até que eu tivesse meu primeiro fi-
lio, eu sabia tudo o que se pudesse saber sobre criar os filhos. Uma vez que
me tomei pai, meu conhecimento desmoronou e meu aprendizado começou.

ere.clmento

Uma das formas em que vejo as famfiias crescerem atrav6s desta forma
de trabalho 6 a emerg&cia de uma tolerAocia aumentada para o absurdo da
vida. Eles pa,ccem mais capazes de transcender a dor que previamente consi-
deravam insuport4veL O fato de que a vida permanece dolorosa não mais os
impede de viver.
Eles são mais capazes de enfrentar seu medo, rompendo deste modo, 0
estranguJamento que ele lhes provocava. É como a idéia de que os alcoóla-
cras bebem porque t!m medo de ficar com medo. Uma vez que você real-
mente enfrente o terror que é real, você est4 livre para viver com ele e não
fugir perpetuamente dele. •
Talvez a melhor maneira de explicar o crescimento é pensá-lo como a
obtc~io de um estado equilibrado entre pertencimento e individuação. O
aescuncnto é _u m processo que dura a vida inteira, um esforço contínuo por
melhores níveis de comunhão assim como de individualização crescente. o

66 Dançando com• fam'flla 69


agindo apenas reativamente, mas sim oferecendo também um relance ~e ~-
nhas respostas internas. Em outras palavras, eles estão tendo a cxpenênc1a

5- da min.h a experiência de mim mesmo, não apenas um feedback sobre eles.


Por exemplo, em determinado momento da segunda entrevista, os se-
guintes tipos de comentários emergem com frcqilência:

Tornando-se íntimo: ~ Carl: Bom pessoal, eu estou preocupado conosco. Nós estivemos sentados
aqui durante os dltimos vinte minutos sem que eu tenha uma sensação
real da dor que vocês dizem que sentiram. Nós precisamos achar um
desafiando estrutu ras jeito para sair desta confusão ou cu não serei dtil para vocês. Como
vocês podem me mobilizar o suficiente para permitir que cu me sinta
e criando caminh os ~
- ligado a vocês?
Carl: Puxai Isto é mesmo assustador! A fonna como voe! recém olhou para
seu marido. Eu estava certo que você poderia esfaqueá-lo se ele a
molestasse novamente. O que você pensa Jim? Ela finalmente está
deixando de ser ninguém?
Carl: Você sabe, Jill, a maneira como Larry fica furioso quando voe! diz
uma vez que você completou o encontro inicial e valeu-se de algumas que se sente sozinha leva-me a pensar que ele pode realmente amá-la
das políticas de abertura, a natureza do processo terapêutico começa a mu- afinal. Você j4 sentiu isto? Que ele apenas se sente tio inadequado
dar. Enquanto que o primeiro encontro é freqüentemente colorido pela fanta- que descarrega isto cm você?
sia de cura com que a família chega, no encontro seguinte a perspectiva muda.
Você começa a se tomar uma pessoa, em vez da imagem de um guru bidi-
mensional. Neste ponto, eu desejo guiar o supra-sistema terapeuta-fam1lia cm Desafiando a famfiia a crescer
desenvolvimento na direção de mais abertura e honestidade. Eu quero que
Quando recomeçamos, na manhã seguinte, a famfiia tinha recuperado
ele se tome mais íntimo.
Minha fonna de fazer isto é responder à fam.Oia de modo mais pessoal. sua compostura. Mesmo assim, o novo dia trouxe uma certa dose de experi-
Quando eu sou capaz de me tomar mais íntimo em minhas respostas a eles, mentação e incertez.a. Como podcnamos reiniciar? Quem assumiria a lide-
as sessões naturalmente se movem nesta direção. Há um paradoxo engraçado rança? Quais sio as expectativas que temos todos nós? Este 6 um período
embutido neste tecido. Quando eu me encontro tentando ser mais pessoal ou importante! ~ crucial que eles tomem a responsabilidad e pelo andamento da
respondendo com a intenção de forçá-los a responder da mesma forma, nada coisa. Se eu dissipo a tensão fornecendo um foco, isto priva-os da experi!n-
acontece. Cuidado planejado simplesmente não funciona. ~ necessário que cia de encarregar-se de sua pr6pria vida.
ele emerja livremente da minha capacidade crescente de cxpericnciar seu so- Após alguns momentos, Vanessa deu o pontapé inicial para fazer a
frimento e me relacionar com seu conflito. bola rolar. Ela veio com o assunto de seus pais estarem tentando ser muito
Mesmo dizer que cu estou tentando ser mais pessoal soa muito cnsail- protetores com seus filhos. Estávamos iniciando de forma vagarosa. mas eles
estavam claramente fazendo um esforço. Enquanto eles hesitavam sobre 0
d~. ~ mais uma questão de maior vivacidade. Se cu posso realmente estar
estou livre ~unto, o tópico foi centrando-se na mie pedindo ajuda a Maria para deci-
. . . para ter um sentimento pessoal de sua dor, cotão
ali, 00 presente,
dir-se sobre quais roupas trazer para a experiência de tr& dias. Ela então
~ : : r 105tinbvamentc receptivo ao que está oco1TCodo. Minha responsabi-
comentou que esquecera sua camisola e o pijama de seu marido. Enquanto
. para com a familia é ser tão pessoalmente receptivo quanto possa. Isto
ela pronunciava estas palavras, a imagem da mie e do pai nus, revistando
é diferente de ser responsável por ou meramente reativo a eles. Eu não estou

10 Dançando com• famnla n


ha cabeça. Eu instintiva mente me juntei à diacua.
__ aflorou cm min
sua n-•· Carl: Ele (o pai) provavel mente só lhes disse que era como nas vacas.
1

sJo. cami90la e minha associaçã o com isto foram a cba,. Mlle: Eu rcalmcnt e o1o lhes disac isto.
8
A conversa sob~ xualizado do momento . De forma provocante Maria: Sím. Vacas e touros.
-o1~me o tom ac 'dad Minh . • eu
\"C par-a su5--:- . te ao tópico da scxuali e. Mãe: Eu contei mais sobre o parto, e não como entrou ali.
_. ,..: <rl IJlll.lS diJ1:l8,lllCn a mtençlo era ter-
. DtJrís: Voe! nos mostrou alguns livros•••
tJJC Wl'b" tons encobertos. Isto oferece uma oportumd adc para cnfo-
nar eXplfcitos os tópico emociona lmente carrcgad o. Mãe: Sím. Eu encomen dei alguns livros, mas eles eram tio profundo s
car mais claramente um que cu mal podia. •• Eu os coloquei de volta na estante. Sei JA. Mas
vanessa: voce vem querendo algum tipo de assist!nc ia. cu arranjei mesmo os livros.
Carl: Se voe! em algwn momento ficar com muito desejo sexual, voe!
Dóris· Atenção. . __ _.
· arl di pode pegar uma escada e subir na prateleira .
vanes.10. M a ssc esta manhã que voe! qucna••, estava col<>cando
Vu..;c:;
• roupas numa mala e voce queria saber quais roupas traz.cr. v~
85
estava perguntando a Maria! (risos)

Máe: Sim.
D6ris: Se voe! precisar muito, muito mesmo!
Pai: Sim ·
Máe: Sim. Eu não sabia o que trazer. Eu esqueci oúnha camisola, de Carl: Voe! não pode mais ob~lo na fanMCia da esquina.
qualquer forma. Eu não trouxe a dele, tamb6n.
Carl: Você não trouxe a dele, tam~m? ~ • voc!s tem problemas.
(si!Lncw )
Como é que voc!s vão fazer hoje à noite? Voe& podem ir para
Este silêncio profundo , desconfo rtável, assinalo u a crescent e inco-
quartos separados. modidad e com o tópico da sexualida de, Ne~ ponw, eles devem tkcidir
entre pression ar ou retrocet kr.
(risos)
Com sexualidade clarame nu enfocada , Vanessa optou pel.o risco tk
tomar-se mais pessoal. Isto i um bom exemplo do qlU! eu chamo ck " se-
Neste ponlO eu me dei conta dos tons de sexualida de encoberta. Meu
mear o inconsci enu". Ajudand o-os a enfrentar a sexualid ade latenu, eu
comentdrio i em resposta a isto. Eu os estou provocan do sobn quenran
ckixei que eles soubesse m que este i um assunto real. Eu estou disposto a
estar nus juntos e agindo de f onna inocente.
enfrentd- /o, mas não vouforçd -lo, como um voyeur. A escolha i ckles.

Carl: Os problemas dos velhos ficam complica dos. Vanessa: ~ uma questão difícil para mim, neste momento.
Máe: Eles são! Eles realmente são! .É terrível! Carl: Educaçã o sexual?
Vanessa: Sim. Bem, sexo e amor. EJcs csdlo separado s••• cu não sei. Eu to-
O comentdrio da mãe coloca isto como wna questão rekvanle . Sua nho duas imagens. Uma ~ casar-me e ter filhos. Isto ~ doloroso ,
capacidade de rir de si mesma atr~s do exagerad o ••1 terrfvell' ' nos jus- pesado e 5'!rio. Vod fica amarrado nisto e eu não quero ter nada
tifica a dar continuação para o foco aberto sobre a sexualida de. que ver. O outro lado l que sexo ~ divertido e vivaz, e l divertido
ser solteira. São dois quadros totalmen te distintos .
Vanessa: Eu acho isto engraçad inho. Quando cu começo a pensar cm me casar, cu tenho uma ~rie
Carl: Eu penso que é bom que ela possa admitir isto para você. Educa- de sentimen tos contradit órios sobre isto. Eu tenho tido momento s
ção sexual é uma coisa difícil de acontece r. Especialm ente se voe! difíceis para encontra r um companh eiro adequad o para mim. Eu
tenta obte-la de sua mãe. realment e não sei se escolho sempre a pessoa errada ou se eu re-
Mãe: Esta é uma coisa. •• , quando eu estava grávida da Maria cu tentei pito o mesmo problema . Estou preocupa da com isto.
contar-lhes sobre os bebês. Eu não sei se eu disse o suficiente. Carl: Voe! está preocupa da que nunca o fará?

72
Dançando com a famRla
13
(,isOS)
Sua disposição em fazblo reflete sua coragem~ mas, ~ m , o fato de
pcJlavras que formam ,riensagens de duplo sentido, f r ~ que eu aceitei o risco de abordar a sexualidade. Compartilhando suas pró-
O USo de uma tomada dupla. Tais coment4rios pode,n bar,,_ prias respostas e reações, novos territdrioe podem ser abertos.
abertura Nesta situação, toda fi'--". . Com a continuação da sessão, surgiu uma dinlnúca triangular interes-
temenU resulta em
mais liberdade e • . ,
ª ..,,.,za parece e~ Q
~ sante entre Vanessa e seus pais. Eu quero ajudar nomeando os componentes
r.
meu jogo com a,,ase
"nunca o fartf' . patológicos desta situação. Atrav& da quebra da rigidez, eu espero promo-
ver o desenvolvimento de um caminho.

vanessa: Sim! . . Pai: A Vanessa preocupa-ae muito com coisas que nlo a afetam.
Carl: O.K. Voe! acha que o sexo .,ode lDlpedrr o amor? Eu tenho cata
Carl: Como a artrite da mãe?
fantaSia que••• uma das coisas com que eu tenho conflitos com a Pai: Sim. E com o fato de Gail e eu não cstamX>s tão bem em casa. Eu
geração mais jovem é••• , e eu sou coo:'° s~a av6, eu ~ sinto anti. aei que ela 6 sensível. Quando cu escrevo uma carta, ela sempre
quado••• , é como um pênis e uma vagma mdo o ~ ;1agem, e não responde com um telefonema. Portanto, eu não escrevo mais. Isto
tut pessoas junto. Eu me preocupo se as pessoas Jama.is chegarão. a aborrccc e ela fica preocupada. A dltima carta que escrevi, eu
esqueci de endereçá-la e a carta foi devolvida.
Mais uma vez a capacidade de deix4-l.os com outra metdfora vi.ruai, Mãe: Eu lhe digo: "Nlo escreva para ela porque ela fica muito sobrecar-
esta da pênis e da vagina num encontro, l excitante. Talvez rt!Vewd algo regada com a famfiia". Ele lhe conta que u coisas nlo vlo tio
sobre a questão da sexo sem amor. bem. Isto sd piora tudo, voe! sabe. Eu não menciono isto.
Meu conumtdrio sobre sentir-me antiquado representa um esforço pa- Vanessa: Bem, eu preferia ouvir isto de vods. Eu sei que às vez.cs eu reajo
ra t!Vitar ser desqualificada por estar fora de alcance. Como eu me declarei exageradamente.
umpaJeta a necessidade de el.esfazerem isto l reduzida. Mãe: Reage mesmo!
Vanessa: Eu gosto de saber o que esd acontecendo.
Direcionar-me tão rapidamente para um t6pico tabu, como é a sexuali. Carl: Voce prefere a verdade dolorosa do que as mentiras suaves de sua
dade, foi uma certa surpresa para mim. É muito incomum ter uma conversa- mãe?
ção como esta tão no inicio da terapia. É um caminho atípico para estabelo- Vanessa: Sim!
cer uma relação terapêutica mais aberta. Não obstante, eu o detectei em sua Carl: Voce sabia sobre as mentiras de sua mãe?
conversa e optei por tomá-lo aberto. É realmente um processo de decifração, Vanessa: Mentiras? Nlo!
pelo qual eu os ouço falar sobre ~xualidade através da metáfora do esque-
cimento da camisola. Apesar deles não estarem completamente conscientes Uma das formas pelas quais as familias ficam paralisadas cons~ no
desta comunicação, ela estava suficientemente clara para mim. desenvolvimenlO de modos de t!ViJar o contaw real uns com os ourros. Este
Este processo de estar aberto às minhas associações internas é central l um exonpw. Quando a informação l suprimida, as frustrações podem ser
para o meu trabalho. É a forma COIIK> eu posso me tomar pessoalmente en- evitadas, mas h4 aumento da distíincia. Meu esforço l para explorar este
volvido. Isto também toma a sessão uma experiência real para mim. Eu nlo processo insidioso, rotu/ondo-o da forma menos benevoúmle. Chamar a
estou incapacitado pela noção de que estou ali s6 para ajudá-los. Estou tam- mãe de menlirosa traz a quutlio para terreno aberto e permite a reavalia-
b6n ali para obter algo de pessoal para mim. Se eu posso permanecer livre
do papel de ajudante, a família pode pennanecer livre da necessidade de ser
~-
inferior. Eles podem reter a coragem necessária para explorar suas próprias Carl: Ela estava dizendo agora mesmo: "Não lhe conte".
vidas com uma sensação de aventura. Vanessa demonstrou esta capacidade Mãe: Eu digo ao pai para não lhe contar.
através da abordagem franca de suas preocupações com a sexualidade.

14
Dançando com• ,.mHla 15
-
Vanessa: Eu acho que voe! gosta de manter segredos. Eu não gosto disto! (pausa)
Eu sei que voe! quer nos proteger, mas eu acho que ~ difícil para
voe!. Vanessa: OK (pausa).•. Uma das coisas sobre as quais cu gostaria de falar t
Mãe: e.Eu sou a grande protetora. sobre minhas relações com os homens. Eu fico frustrada 80 tentar
Carl: Voe! fica fingindo que eles ainda tem quatro ou cinco anos. achar um parceiro. De alguma forma, eu acho que isto tem a ver
Mãe: O que voe! quer dizer? com a forma como eu me relaciono com O pai.
Carl: Bem, ... que eles são muito pequenos para saber.
Eu me sinto muito, muito triste e desgostosa. (Ela começa a
Mãe: Sim!
chorar e a soluçar). Não sei como encontrar alguMi, que realmente
Vanessa: Isso mesmo. Às vezes voe! nos trata como se fôssemos muito me ame. Eu não posso mais ag(lcntar isto!
crianças. Como se nós não pud~mo s lidar com a verdade. Pai: Bem. talvez tudo IIC oriai - de quando __
o....
_. ""•-
•u,,;ç ,_u, porque voec::
.a

ficou com sua avd.


Para realmente alterar este processo, I necessdrio desbancar a noç6o M6e: Sim, talvez.
de que ele sirva a uma Junção positiva de proteção. Estou auxiliando-os a Vanessa: Eu não sei.
wr que isto I algo que infantiliza ou iniJ:Je o cresciment o. Uma wz tkfiflido Mãe: Eu não estava bem. Nds ficamos com minha mie por seis semanas,
desta maneira, a famOia se moverd para corrigi-lo. quando ela nasceu, porque cu me sentia muito fraca.

"Mentir" ~ um tipo especial de palavra. É uma palavra que se faz no-


tar. É uma palavra ditTcil de ignorar. Quando uma palavra de tal intensidade
À medida que Vanessa ingrUJJQ em uma dna de grande sofrimento,
~ escolhida, uma discussão que poderia ter passado e sido rapidamente es-
seus pais tenlam diluir esta inlensidade. Eks se mol't!m para Jo,age do pre-
quecida ~ destacada como sendo significativa. Atacando um processo intera-
sente, optando por um t6pico hisu1rico. Vanessa persiste, criando, deste
tivo que evita a intensidade e, deste modo, diminui a intimidade , cu estou
modo um nuvo caminho no mapa familiar.
abrindo canúnho para um trajeto mais aberto e honesto de comunicaç ão.
Eu não penso que se possa obter o mesmo efeito sendo cufemístico. O
1 Vanessa: Eu não sei se se origina disto. Apenas sei que t muito ditTcil en-
que precisa ocorrer ~ uma experiência . algo que ~ vivenciado e não apenas contrar um homem que me ame.
compreend ido. AJtm disto, eu não tenho interesse em ser C<M>ptado a com- Carl: Quem sabe um com que v~ se impone?
prar o estilo fanúliar. Eles t~ habilidade em evitar as crises, desconsideran- 1
Vanessa: Eu os encontro e, então, eles simplesmente me abandonam. Eles
do-as. Eu preciso desafiar este estilo apaziguado r. vão embora todo o tempo, ou apenas me rejeitam!
Com a continuaçã o da sessão, eles passaram a falar de um tópico con- 1 M6e: Ela t muito fone. Ela t agressiva. Eu nlo sei, muitas moças s1o
fordvel, sobre Gail, a filha ausente. A sessão imediatamente suavizou-s e. Eu assim hoje.
optei por desafiar este status quo mantendo o movimento. Eu queria blo- Pai: Isto estA se tomando uma tend!ncia.
quear seus esforços de evitar o desenvolvi mento da tensão. Quando v~ Vanes.RJ: Eu não entendo. Eu me importo muito. Eu estou saindo com Marte
remove a rede de segurança sobre falar cm um membro ausente, cria-se um agora. Eu gosto dele, mas ele não~ o homem certo para mim. Ele
vazio para ser preenchido . Isto significa que aqueles que comparece ram n~ tem outra namorada.
cessitam dar um passo à frente ou a sessão fica monótona. M&: F.otlo voe! não deveria sair com ele.
Neste caso particular, eu encorajei Vanessa a arriscar. Freqüentemente, Vanessa: Eu não sei porque cu continuo envolvida com homens que não
eu sou menos diretivo e espero por suas decisões. estão disponíveis . Eu venho fazendo isto h' dou anos. Estou
realmente cansada. Quando eu passei dos trinta, algo mudou den-
Carl: Deixem-me dar um passo a~. tro de mim, e eu decidi que eu iria mudar isto.
Vamos falar sobre a loucura de voe&, e não sobre Gail, att Pai: Sim.
que ela chegue aqui. ~ desleal falar sobre ela pelas costas.
71
76 0.nçando com• familia
-
\'a,w:s.ta.: ai me dei para mim mesma uma grande festa de aniversário, quan. deixava e se casava... Bem, hli muitos grãos de areia na praia. Eu
do fir. 30 anos. Um dos meus amigos, Peter, encontrou uma das faço amigos facilmente.
minhas amigas, e eles saíram juntos, Eu senti que perdera outro vanessa: Eu encontro os homens com facilidade, também, mas eu não es-
homem por quem eu estava realmente começando a me apaixonar. colho o cara certo panl uma relação. Um era muito fechado e não
Eu sinto que isto continua acontecendo 1 me dava nenhum carinho. Outro foi embora com outra moça. Ago-
Pai: Talvez vd aeja como cu, neste aspecto. Eu era mais velho, ra, Mark tem outra namorada também.
quando 6oalmcntc me casei. Carl: Senl que ele está com medo de que v~ vá co~lo?

Nesu rno,,tt!nlo, 0
c~n1drio do pai~ mais pessoal. Parece expressar Esta lista tk fracassos nos relacionomenlos parece ligada à imensida-
pr,!OCl,IIJOI;", em vez tk ser evasivo. de de sua necessidade em encontrar um companheiro.
Meus esforços aqui são para fornecer uma met4fora para a forma co-
Vanes.sa.· Eu estava pensando sobre isto. mo ela esteja assustando os homens.
Mãe : Ele se divertiu muito a~ os 33 anos.
VanesJl:"l : Eu penso que muitos homens t!m medo de minha intensidade.
Enquanto Cristo/oi crucif,cado com 33 anos, John se casou. Carl: Voe! acha que voe! os "come" para encher um buraco dentro de
si?
Pai: Eu me aposentei quando me casei 1 VanesJl:"l: Sim.
Carl: Boa id!ia ! Isto o previne de ter problemas com sua esposa. Carl: Voe! não pode encher um buraco cm voe! com alguma outra pes-
soa.
Esta /oi uma resposta intuitiva, levantando a possibilidade tk um Ca.R, VanesJl:"l: Eu sei! Eu tenho que fazer algo conúgo. Porém, cu não sei como
ano-o.so, como um tema a ser considerado. Eles escolheram tkixar isto de ench~lo. Eu tenho comido muito nos tlltimos dias, tentando me
lado. ~ mom,enlQ. preencher.

P ai.: A raz.ão pela qual cu me casei é que mamãe tinha falecido. Eu preci- Tudo isto de tend!ncias e padrões familiares ~ muito poderoso. As re-
sava de al~m cm casa. Eu conhecia sua famflia e sabia que ela era lações emocionais que existem entre os pais freqOcntementc t&n profundas
uma boa moça. Mas provavelmente cu nunca me teria casado se ma- implicações para as crianças. Crescer em um clima familiar marcado pela
mie oio tivesse morrido. distAncla e não-envolvimento entre marido e mulher tipicamente leva as
Carl: Vcx:! quer dizer que Vanessa não se casará a~ que voe~ morra? aianças a problemas de intimidade. Neste caso particular, a descrição do pai
/>ai: Eu olo sei. Ela podenl se casar tarde. sobre o casamento como uma forma de conveni!ncia ~ marcante. Elas lutam
Mtz : Ela vai se casar taroe 1 para evitar um destino similar, apenas para, com freqü~ncia, encontrarem o
mesmo resultado.
Este breve segme,nlQ lança um pouco tk luz sobre alguns dos assunlOS Nossa capacidade para enfrentar estas questões de uma maneira mais
_fr,niüaru iaunleS. Vane.ua potk estar lutando para evitar o tipo tk llla- aberta e direta pode criar condições que permitam a mudança. Pode quebrar
donamenlo que ela vi entre seus pais. Ela o faz com tal intensidade que ela a maldição hipndtica que parece manter os filhos leais ao padrão familiar.
ta'llbmafica conflituoda. Enfrentar a distAncia conjugal, a dor e o isolamento concomitantes coloca in-
cisivamente a questão: "Escolherei eu este caminho?". Isto oferece a opção
de procurar um tipo diferente de relacionamento.
V ~ : M• me abon-ccc. Eu fico muito frustrada. Mais tarde na sessão, a rede mais ampla da d.inAmica familiar foi trazi-
Pai: Nlo me aborrecia. Se cu catava saindo com uma moça e ela me da à superfície.

71 Dançando com• famDla


Carl: Voe~ sabe que, se voe~ diminuísse seu marido, isto ajudaria as suas A idéia de que um terapeuta possa "ensinar" uma farnOia como funcio-
filhas a aprender a diminuírem seus namorados? nBf melhor é patente~nt~ narcisista. _Eu tenho problemas suficientes reme-
Máe: Sim. Provavelmente sim. V~ quer dizer na sua frente? Às vezes, cu ndo na minha pr6pna vida para sentir que cu possa engarrafar e exportar a
faço isto pelas costas. "~ ha forma própria de vida. E tentar vender algo que cu não seja capaz de
Carl: Oh ! Eu vejo. A verdade aparece. ~ r é psicopático. O ~lhor que cu posso fazer é ajudá-los a dar uma olha-
Mãe: Bem, ele sempre ia embora. Ele nunca sentava e conversava. da em si mesmos e ªaceitarª completa responsabilidade por decidir e viver.
Carl: V~ poderia tê-lo derrubado, quando ele saísse pela porta afora. Mas isto não é ab~don4-los às intempéries. Eles ~m recursos e capa-
Mãe: Ele diz que tem pressa cm sair. Então, ele ficava furioso quando cu 'dades interiores às quws recorrer. 1:. minha responsabilidade acreditar que
CI • . ui" J
falava com Mike. seus recursos existem e estun ... os para que os procurem. Outro tipo de
Carl: V~ quer dizer que Mike era sua mãe? ,esp0sta é prestar-lhes u~ dessc~iço ao supor que eles são estéreis e desco-
nectados. O fluxo emocional subJaccnte da família está sempre ali e é inva-
Ao rotular Mike como funcionando no papel de mãe de sua própria riavelmente rico. Apenas, necessita ser alcançado. Mesmo se houvesse famf..
mõe, eu espero chamar atenção para a natureza disfuncional do tritSngulo. lias sem esta riqueza, eu me negaria a amamentá-las. Isto exigiria demais de
Novamente, a Jonna de fazer isto estd fora do seu estilo normal. Pode ter mim!
algum impacto. Mais para o final da sessão, a mãe começou a discutir sua frustração
com O pai. Ela abordou espccifiamcntc seu comportamento quando eles
Mãe: Sim.~ mais ou menos isto. saíam para dançar. Ela afirmou que seu marido não a ouvia protestar e a dei-
Carl: Puxai Esta é uma família confusa. Ninguém sabe quem é quem! xava sozinha.
Mãe: Mike e eu pod(arnos falar. Ele entende tudo muito claramente.
Carl: Então, se Mike é sua mãe... (risos) isto quer dizer que ele é avô de Carl: Você não lhes disse que v~ fica su.rpresa que ninguém a tire para
Marla. dançar, a não ser que esteja ~bado?
Mãe: Não, eu não lhes disse. 1:. verdade que me incomoda que ninguém
Aqui estou pressionando sobre a confusão de papiis. Eu quero que dance comigo.
eles realmenJe sintam o lado absurdo de parte de seu funcionamento. D6ris: Por que é assim?
Mãe: Um pouco por causa da artrite. Eles têm medo.
D6ris: Quem é meu irmão? D6ris: Eles têm medo de guiá-la.
Carl: Fica muito complicado. Mãe: Mas eles me vêem 14 dançando. Mas eles não querem... eu sou ngi-
da. Eles têm medo, eu acho.
Eu gostaria de falar mais sobre esta "técnica" de jogar com os papéis D6ris: Uma coisa que você pode fazer é convidá-los para dançar. Se eles
familiares. Minha intenção é expor algumas das áreas nas quais os papéis ou têm medo de lhe convidar... mas se você chega e diz: "Eu não vou
funções que eles apresentam são disfuncionais. Fazer isto desta maneira qua-
quebrar minha perna!"
se rid(cula freqüentemente tem o efeito de permitir à farnfiia ver claramente o Carl: Ou você poderia fazer o pai recusar-se a dançar com qualquer uma, a
absurdo. O fato de Mike consolar sua mãe quando ela está aflita com não ser que alguém dance com você.
seu marido é um problema. Este tipo de aliança transgeracional pode ser
muito danosa para a famOia como um todo. Eu quero perturbar a sua como- Aqui eu estou apontando o fato deles serem um casal. Que as ações de
didade em manter esta posição, mas não quero "ensiná-los" como ser a fa- um t2m conseqii€ncia sobre o outro. Eu também estou instigando a mãe a
mfiia ideal. Este tipo de jogo metaf6rico com a estrutura destrutiva dos pa- ser menos passiva e a perceber que ela pode agir•
péis familiares deixa o processo decis6rio real para eles. Sua capacidade de
ingressar, em certa medida, neste absurdo é um sinal de que eles podem tra- M ue:
J: s·1m. Bem, 1·sto é O que acontece. Eu quero dizer se um casal. .. Ele
balhar com este tipo de incitamento.
81
80 Dançando com s fsmOls
pede a uma mulher paca dançar e o cara fica ali ou apenas vai embora! tender mas não se sentissem pressionados
Acontece sempre. Não é isto, pai? cri • k . rbc a responder. Se isto vem a se
ar mais expl ato, as reve rações se seguirão
Pai: Sim, acontece. Ultimamente, eu não tenho dançado com muitas outras. toro . "téc .
De uma perspectiva nica"• este tipo de 1.0 tc....,.11
Carl: Por que v~ não diz ao caro: "Minha mulher é uma boa dançarina e · - Estou tomando · · ~0 pode ser considc-
d e amp liaçao.
o um movunento
eu gosto da sua. Vamos ttocar?" J1Id · • . O que e 1es apresentam um
blemA repeuuvo quando dançam, e levantando . 1·
pro
resenta
. .
muito mws. 1sto pode ter o efeito de conta.mi
ª unp 1cação de que •isto
(risada q uieta dos .filhos) reP . - nar o conforto que
têm com a s1tuaçao. 1sto se transformará no co te t d
eles . . n x o e uma nova dan-
Eles estarão bvres para continuar com O J·ogo mas ã _
ça. • n o para nao notá-lo.
Mãe: Sim.
Carl: "Vejo-o para o café da manhã". Pergunta: Carl, esta coisa toda é louca! Você está realrne .
nte dazcndo que
dançar é um caso sexual?
(n·sos) Carl: É claro. Eu penso .•• a idéia que um caso não te ad .
. . m n a ma1s que
um pêrus e uma vagma é que é maluca. Nós temos casos sicol~
gicos todo o tempo. P
Eu tomei o seu jogo social e o sexualizei. Ao amplificar o cenário es-
tou contaminando sua cêJmoda falta de coragem. Eu quero que eles fiquem Este homem está tendo casos psicológicos com todas estas
mais livres para associar este dançar com uma infidelidade mais profunda. pessoas, dançando. Dançar é uma experiertcia sexual. Você colo-
Ao deixá-los saber que acredito que seu dançar tem wn componente sexual, ca sua perna entre as dela e ela coloca a dela entre as suas. A
eu aumentei sua ansiedade. Seu nfvel do conforto foi contaminado. Napr6-
coisa que eu deveria ter dito, mas não o fiz, é que talvez os ho-
:dma dança, seu jogo serd diferente. mens não dancem com ela, porque ela parece muito sexy, e eles
ficam com medo de ter uma ereção.
Toda a idéia de ficar para o café da manhã é que eu chamo
Carl: Temos que tenninar.
de semear o inconsciente. É deixá-los com uma extrapolação a
Pai: Sim. Esta é uma abordagem diferente.
partir de onde sua fantasia estava, porque minha fantasia vai mais
(risos) longe.
Pergunta: Bem, realmente pareceu como se você estivesse derramando ga-
solina no fogo. Que você estivesse tomando impossível para
Carl: Você pode se oferecer para pagar o café da manhã. eles ...
Carl: Você não pode ter orgasmo se você não fica excitado! Você tem
(risos) que empurrar estas pessoas. Você não pode permanecer com suas
vidas. Você está tentando amplfar a vida deles para tomá-la mais
Ao ter este didlogo na presença dos filhos, estou destruindo sua fanta- bem sucedida e prazeirosa.
sia dos pais como seres assexuados. Eu quero liberd-los para rirem de si Pergunta: Bem, deixe-me fazer uma pergunta simples. Por que você não os
mesnws. ensina, então? Por que você não os educa e diz-lhes diretamente
Ao deixar a acusação de infulelidade no nfvel inferencial, eles não po- que eles precisam se comunicar melhor? Que eles precisam res-
dem realmente rejeiJd-la. Tenninar com as coisas no ar, com uma sensação peitar mais uns aos outros? Que eles precisam ser melhores uns
de falta de completude e confusão leva com freqiiência a uma integração com os outros?
real e crescimento! Carl: Rapaz, estou contente que você trouxe este assunto! Você sabe,
esta é a idéia mais maluca, que a educação por um terapeuta pro-
Novamente, este tipo de semeadura pode ter um impacto poderoso. To- fissional é diferente da educação por um padre, pelos Dez Man-
do o tópico da infidelidade foi ampliado de uma forma que eles pudessem damentos, pelo mandato cultural, pelo vizinho ao lado! Você não

82 Dançando com a famflia 83


pode fazer isto! Ensinar••. nós n!io somos capazes de lidar com
nossa vida pelo i11sigh1 intelectual. Tem que ser algo mais invasi-
vo. É dislo que se traia, quando falamos de inconscienle. É dislo
que trata esta fanlasia de semeadura. E você não lem que se preo-
cupar com sementes demais. Aquela velha história de Crislo jo-
gando as sementes •.. se elas não cafrem em terra fértil, elas não
-6 -
::_~--:__
- :__:_--~ :::= ::-.::=
crescerão. Se elas caem cm terra fértil, elas crescem! Então, 0
que crescer será colhido. Assim, eu acho muito possível que tudo - O dilema universal:
isto terá efeito semanas depois.
Perg11111a: Então, você não acredita em educação ? homens desesP-erançados
Carl: Talvez ao final da terapia você possa começar a diz.er coisas que, - -
devido à sua relação, possam ser suficientemente significativas - e mullieres esJ:!erançosas
-~ ----
para durar, mas, ordinariamente a educação não é terapêutica.

Esposa: Diga-me que me amas.


Marido : Eu te amo.
Esposa: Você não é sincero!

A vida é maluca! Nós nos apressamos em busca de intimidade e envol-


vimento pessoal, apenas para morrer de medo quando a possibilidade apare-
ce. É freqüentemente mais confortável nos definirmos pelos nossos papi!is
sociais - eu sou um terapeuta, um pai, ou um marido - do que lidar com um
ser humano. Quanto mais falamos sobre sermos pessoais, mais nos ligamos
aos papéis que desenvolvemos.
Assim como cada pessae precisa lutar com este dilema, tam~ é ne-
cessário para cada famfiia. Cada famllia consiste numa complexa matriz de
valores, imagens e mitos referentes ao território de sua humanidade. O quan-
to somos abertos uns com cs outros? Quão determinados são os papéis cm
nossa famfiia? Podemos enfrentar nossos impulsos ou eles devem ser ocul-
tos? Homem e mulher são mais semelhantes ou diferentes? As crianças são
pessoas autônomas ou meras reflexões de seus pais? A famfiia mais ampla
deve ser valorizada ou temida? As questões são intermináveis. O processo de
lidar com elas é eterno.
Um dos assuntos afetivamente carregados da fam!Iia que acompanha-
mos é o tópico das relações entre homem e mulher. Como eles se relacionam,
quanta distância é mantida, como eles procuram a intimidade silo temas cen-

Dançando com• famlla 85


84
'li

trais. Quando recomeçamos as sessões, Vanessa fala sobre seu envolvimento A inte~idade de suas necessidades sugere que esta é uma drea boa
prévio numa seita e sobre seus conflitos com os homens. para ser mais completamente
, explorada · Meu es"orço
,, é O de remontar estas
necessidades de volta afamflia e a seu desejo de obter mais de seu pai.
Vanessa: Eu medito todas as manhãs por dez minutos mas eu não vou a ne-
Carl: E você não pode agarrar-se em seu pai?
nhuma prática ou grupo em especial, ou qualquer coisa assim.
Mãe: Sim! Está absolutamente certo!
Carl: Como você escapou? Ou você foi realmente capturada?
Vanessa: Sim. Eu não sei.
Vanessa: Oh, eu fui! Eu fui realmente capturada! Eu acho que me afastei da
Carl: Você disse ontem que esta coisa de namorado tinha algo a ver
seita, da meditação e destas práticas para pôr mais energia em mi-
com o pai.
o has relações pessoais.
Vanessa: Sim.
Carl: Como você fez isto?
Carl: Você acha que você não pode apoiar-se nele, porque ele não se
Vanessa: Minhas relações amorosas.
apóia em Deus como um guru?
Carl: Meu Deus! Isto é o que eu disse na minha discussão (após as ses-
sões, ontem). Que minha suspeita era de que o seu sofrimento on- Vanessa : Eu não sei. Eu somente não me sinto muito segura em meu vín-
tem, por não ter sucesso com o namorado, era porque você estava culo com ele. Eu não acho que possa dizer: "Pai, eu estou real-
tentando, de alguma forma, colocá-lo no lugar do guru que você mente com medo !" Eu não sinto que eu tenha este tipo de relação
com ele.
estava acostumada a ter.
Carl: Quando você parou de poder se aconchegar em seu pai?
Um dos grandes problemas da vida é entrar em relacionamentos com Vanessa : Oh, eu não sei! Eu não sei (cada vez mais ansiosa). Eu nem mes-
a fantasia de ser protegido ou cuidado. Esperar que um namorado a proteja mo sei!
da necessidade de ser uma pessoa real é um risco. Se ele fracassa, você fica Carl: Quando você era pequena, hein ?
amargamente desapontada. Pior ainda se ele consegue : você não é nin- Vanessa : Sim.
guém. Carl: Você teve alguma impressão de que ele estava com medo de ter
sentimentos sexuais para com você ?
Vanessa : Eu sei. É verdade. Meu namorado costumava dizer isto. Ele dizia: ' Vanessa: Sim. Eu senti isto.
"Você faz uma confusão entre seus namorados e seus gurus".
Carl: Você pensa que poderia enfrentar a vida sem um guru? Enquanto discutíamos suas dificuldades reais em se aproximar do pai,
Vanessa: Ou um namorado? ela ficou muito ansiosa. Isto foi especiabnente pronunciado quando eu per-
Carl: Não, não. guntei sobre aconchegar-se com ele. Minha resposta tinha a intenção de
Vanessa: S6 sem um guru? trazer este assunto à supe,ffcie . Ao expor a ansiedade com relação ao tabu
do incesto, eu espero ajudar a liberar Vanessa, para que ela veja sua vida
Carl: Sim. Porque se você puder viver sem um guru, talvez você possa
ter um namorado. atual mais claramente.
Mãe: Certo.
Carl: Você tem qualquer idéia de quando foi isto? Porque estava muito
Vanessa: Eu ... eu ... eu fico com medo disto. Eu acho que quero algo para
me agarrar. claro para mim - tornou-se claro no decorrer dos anos posteriores,
é claro - que minha mãe entrou em pânico sobre sentimentos se-
xuais comigo quando eu tinha 13 anos.
Aqui Vanessa é capaz de expressar em palavras os sentimentos de
querer ser protegida. Ela quer fazer crer que ela é uma menina pequena
Ao compartilhar esta parte de minha própria vida, eu nonrwlizei a
novamente, desta vez tendo a criação e a proteção que ela deseja.
questão dos sentimentos sexuais existirem entre pais e filhos. Isto tende a
diminuir sua defensividade .

86 Dançando com a famO/a 87


.vo se;a a ilusão de grandeza que fi .
(tlltl , ca •~
Esta forma de comunicação i dif(cil de ser rejeitada . Eles poderiam des capacidade do terapeuta de ser dti! está d' ressa no terapeuta. Parece
facilmente desconsiderar qualquer pergunta direta sobre sentimentos in- que a de que ele não pode ajudar. •retamente ligada à aceitação
do fato
cestuosos. Quando eles me ouvem falar sobre minha pr6pria vida, porim,
eles não podem invalidá-los tão facilmente . É parte de mim, não deles . • ••
Mas, como i universal, i sobre eles tambiln!
perg
unta·· Carl, .este• foium diálogo pesado Aq .
· ui voe! esta
Vanessa : Mmmhhuummm. própna vida, suas próprias expenên . va usando sua
. . . c1as para falar ob
Carl: Você tem alguma idéia de que idade você tinha quando você e 0 muito d1fíc1J e pessoal. Por que você 80 d s re algo
· pai não podiam mais agüentar a excitação provocada pelo outro? incesto? Ainda mais, por que você col n ou toda CSta questão do
ocou sua mãe • ?
Vanessa: Eu diria em alguma época após os 12. Doze vem à minha cabeça. Carl: Bem, eu acho que, quando você fala sob nisto .
. • . . re a sexualidade tran
racional, voce tem que JUStificar O fato d I sge-
. . • e cs se exporem pcl
A forma como Vanessa respondeu à minha pergunta com respeito à própna expos1çao. Se você não O faz -• a sua
, V.,..; está apc d
falta de aconchego com o pai assinalou o assunto como sobrecarregado. pornográfico. Você está apenas sendo su· 1 S nas sen o
Mais uma vez, minha inclinação natural foi impulsioná-lo para um nível em io. e você se ex -
e eu acho que você apenas pode fazer isto . poc, ...
que evocasse mais ansiedade. Para dar à família o benefício de navegar em - se teve terapia sufi-
ciente par~ nao ter que pedir ajuda com isto ... , você está nas
outras áreas. contando isto como uma experiência simb6li·c ad apc
Este não é um assunto tão controverso, porém. Trata-se meramente de . . a pass a. Isto faz
com que se abra terntóno, para que eles possam pensar sobre is-
tornar explícita uma realidade universal. Trazer os impulsos à luz, não os
to.
cria, apenas os expõe. Pais e filhos têm sentimentos sexualizados, uns em
Eu tento não pedir que eles façam comentários sobre sua ex-
relação aos outros. É o pânico em negá-los que freqüentemente os torna tão
periên~ia. Eu posso fazer perguntas academicas como "que idade
perigosos. Separar-se dos filhos em resposta aos seus próprios impulsos em-
você unha quando pensou que seu pai se amedrontars?" , não di-
baraçosos causa dano à família. Eu queria que eles fossem capazes de en-
zendo nada sobre quando ela ficou amedrontada. Daí, eu posso
frentar o impulso, e não viver com medo dele.
A decisão de compartilhar com eles esta parte de minha vida baseia-se contar sobre minha experiência com minha mãe, porque é um fato
em minha crença de que, para ser realmente eficaz, você tem que ser pessoal.
e porque está descatexizado. Eu não sinto mais nenhum pânico
Quando eu olho para eles, eu preciso ser capaz de encontrar parte de mim. sobre isto.
Quando eles olham para mim, eu quero que eles encontrem parte de si mes- Pergunta: Mas você não corre o risco de fazer soar como doente? Como se
mos. A capacidade de ver o outro como um ser humano é central para qual- você tivesse tido este relacionamento maluco ...
quer terapia. Eu não me preocupo com o temor de que eles me vejam como Carl: É claro que sou doente! Eu não tenho a intenção de tentar me en-
inepto ou inadequado, baseados na informação que eu decido compartilhar. caixar no mito de ser saudável. Eu acho que sou mais louco que
Eu não preciso de sua aprovação ou adoração para sentir-me bem sobre mim eles. Exceto que eu ganho dinheiro com isto e me divirto! E cu os
mesmo como pessoa. Quando você se encontra dependendo do (eedbnck de encorajo a serem loucos. O problema é como impedi-los de serem
seus clientes para sua própria sensação de valor, você está com problemas. estdpidos!
Isto o impede de ser um terapeuta e deixa-o num vínculo sociopático. Pergunta: Bem, qual é a diferença? Eu quero dizer, louco e estdpido, você
Atualmente, esta coisa toda de tentar escapar da dicotomia profissional os faz soar diferente!
do "terapeuta saudável" e do "paciente doente" é um fenômeno interessan- Carl: Bem, se você é estdpido e louco, você termina num hospital de
te. Manter a dicotomia cria tal separação que as trocas reais ficam minimiza- crônicos. Se você é inteligente e louco termina como Picasso e
das. Deixa os clientes com a crença de que nós podemos consertá-los e que faz urna contribuição para o mundo. Ou, ao menos, você ganhaª
eles têm defeitos suficientes para precisarem de conserto. Talvez ainda mais vida corno eu.

88 89
Dançando com a famDia
Pergunta: Bem, parece que sua abordagem funcion_o u '."lui. Foi poderosa C arl: E sobre isto, pai? Você lembra os momentos em que Vu,..ç
__. .
podia se
e talvez õtil. Mas deve haver algumas d1retnzes neste assunto. aconchegar com sua filha mais velha?
Você não anda por aí falando sobre sua própria relação com sua pai: Bem, o avô mais ou menos tomou conta. Ele O fazia todo O tempo.
mãe com qualquer cliente que você trabalha, com qualquer um Carl: N6s, os homens velhos, somos muito sedutores. Nós ficamos muito
que você veja. Como você sabe quando fazê-lo? Como você sabe carentes.
quando não faza-lo? Pai: Ele queria sempre alguém perto.
Carl: Eu não decido antes do tempo. Eu penso que um dos problemas Mãe: Ele queria alguém para se apegar e ele o fazia. Ele aconchegava todos
que os terapeutas freqüentemente têm é que eles tentam repensar- eles. O pai não aconchegava nenhum.
se. Se eles se repensam ... É como perguntar a uma moça se você Pai: Não.
pode beijá-la. Então, já é muito tarde. Se você tem que repensar Mãe: Eu costumava alcançar as crianças para o pai e ele s6 as segurava. Ele
seus movimentos terapêuticos, então você é um impostor. Eles s6 as segurava e não os aconchegava. Ele s6 segurava.
reagirão então como impostores, porque irão repensar suas res- Carl: Os homens são muito desencorajadores.
postas. Mãe: Sim.
Assim é como isto ocorre. Isto é uma experiência criativa pa- Carl: Esta é a razão pela qual se fala de uma segunda inflncia. Porque a
ra mim. Eu acredito que isto vem de um olho clínico. maioria dos homens desistem de ser seres humanos durante os anos
Pergunta: Ainda me deixa desconfonJ!vel. A idéia é de que qualquer coisa em que trabalham. Quando eles ficam mais velhos, dão-se conta do
que surja em sua cabeça durante a sessão saia pela sua boca? que perderam e ficam freneticamente tentando chegar perto de al-
Carl: Certo. Certo. Deixa-me ver se eu posso lhe diz.er ... É necessário guém. Você sentiu algo parecido com isto nele?
que haja algum treinamento aqui. Estes 20, 30, 40 anos de expe- Mãe : Um pouco, talvez.
riência que eu tenho tomam-me muito mais à vontade e confiante
em minhas intervenções. Durante os primeiros 10, 15, 20 anos eu Estou oferecendo a oportunidade ao pai de olhar para o estado atual
estava protegido, guiado, treinado por um co-terapeuta para mo- de sua vida e de ousar encarar sua solidão.
dificar, discordar, concordar, para me dar o tipo de liberdade que Os homens seguidamente parecem tentar sobreviver permanecendo in-
eu precisava, porque o terapeuta era a dupla. sensfveis para a vida real e agindo como se fossem coisas em vez de pes-
Assim como a figura parental õnica, o terapeuta único é soas. Estou oferecendo ao pai um relance de sua humanidade, como a/Jer-
doente. A família é muito poderosa para um s6 terapeuta. É ne- nativa, continuar insensfvel .
cessário haver um par de pais. E há necessidade de um par de te-
rapeutas. Quando você fica mais velho, quando você se toma Carl: Evidentemente, isto se complica no caso de vocês porque ele pode
avô, você pode criar um filho sozinho. Como eu cheguei a ser um aconchegar-se com sua mãe, já que ela não é sexualizada. É como a
avô, eu posso tratar algumas famílias sozinho. Mas eu prefiro mãe dele.
muito mais ter um companheiro e deixar a equipe faz.er o traba- Mãe: Certo. Ele era muito ligado à sua mãe. Ele e sua mãe eram assim (cru-
llto. zou dois dedos), e seu pai estava de fora.
Carl: Eu tive uma idéia maluca. (rindo) Quando você disse que ele e sua
*** mãe eram assim (cruza os dedos), eu vi os dedos retorcidos e pensei
que havia algo retorcido entre ele e sua mãe.
Com a continuidade da sessão, o foco sobre a capacidade do pai para
envolvimento pessoal emergiu. Nós vemos, então, que ele sentiu-se esmaga- Ao compartilhar minha imaginação, eles JICarão com um quadro claro
do por seu pai ao criar seus próprios filhos .
de algo doentio entre o Pai e sua mãe.

90 91
Dançando com a fsmflia
Este compartilhar reflexivo com outra das minhas imagens visuais é in-
Este nível d~ relaciona~nto, ou falta de relacionamento, se você pre-
dicativo de minha crescente capacidade para ser livre com eles. Nós fomos ferir, parece perfeitamente acenável para a maioria dos homens. Começa a se
além da fase poutica inicial. Embora a política sempre permaneça uma parte
romper quando você traz para ele as mulheres, as quais parecem saber que
da relaçiio, ela recua agora para o segundo plano. intimidade é possível e que vale a pena procurá-la. Eu suponho que a origem
É como qualquer outro relacionamento em termos de crescimento por
seja a relação tão íntima que a mulher tem com seus filhos dentro do lltero.
estágios. Agora eu estou menos amarrado pelos seus conflitos reais e mais
À medida que esta relação se desenvolve, toma-se uma profunda experiência
livre para ficar em contato com minhas próprias reações internas. Isto é uma
para a mãe. O pai geralmente está alheio a isto, até que O bebê nasça. Eu não
fase essencial, a se atingir para nossas sessões serem proveitosas. Na medida
estou seguro que eles realmente sejam capazes de se igualarem. Certamente,
em que eu sou capturado pela realidade de seu dilema e pela procura de so-
a divisão histórica do trabalho, quando o homem saiu para caçar O dinossau-
luções, eu sou cooptado pelo seu sistema. Uma vez dentro, eu fico neutrali-
ro, enquanto a mulher protegia as crianças na caverna, contribuíram para
zado. Uma vez seduzido desta forma, meus esforços parecem com os de Ali-
este desequillbrio.
ce, que enquanto corria com a Rainha de Copas exclamava: "Quanto mais
nipido eu corro, mais eu fico para trás". Apesar das objeções de nossa cultura atual, eu acredito que a biologia
transcenda a psicologia. Os homens podem certamente aprender a ser mais
íntimos e aconchegantes, mas eu duvido que eles possam vir a se tomar tão
Homem/mulher: a eterna dialética intuitivamente aconchegantes como a mulher. Mesmo a alteração do modelo
sócio-cultural tradicional não terá este efeito. Eu uso a analogia da roda de
O velho axioma "o homem usa o amor para obter sexo, enquanto a mu- bicicleta para descrever o modelo familiar tradicional. A mãe é o centro da
lher usa o sexo para obter amor", parece ter algum mérito. Exemplifica a roda. Ela é responsável pelo mundo interno da família, por providenciar para
perspectiva básica, primitiva e divergente mantida pelo sexo masculino e que haja suficiente aconchego e cuidados. O pai é o aro e a roda. Sua função
pelo feminino em muitas culturas. Embora na sociedade de hoje, moderna e é lidar mais diretamente com o mundo externo. Ele deve proteger o resto da
sofisticada, isto possa ser percebido como fora de moda, a evidência humana famfiia de alguns dos aspectos perigosos do mundo real, bem como preparar
é difícil de refutar. as crianças para lidar com as demandas daquele mundo. As crianças são os
O homem tem momentos difíceis com a intimidade. Em vez de procurar raios. Eles são o que une a mãe e o pai. Eu suponho que eles tendem também
sentido através de relacionamentos pessoais, os homens procuram-no pelas a mantê-los separados, se levarmos mais longe a analogia. De qualquer for-
conquistas, aquisições e possessões. Muito parecido com o rapaz que cole- ma, este modelo não é um que promova a intimidade enue mãe e pai como
ciona modelos de carro ou figurinhas de baseball, os garotos crescidos tam- marido e mulher.
bém o fazem. Os brinquedos mudam para dinheiro, carros esporte, ou com- Voltando à nossa fam0ia, sua versão idiográfica deste assunto univer-
panhias ... É tudo a mesma coisa. Os homens se vestem de realizações e su- sal vem à luz.
cessos. Sem eles, sentem-se nus e envergonhados. Eles se definem pelo que
eles têm, e não pelo que são. A própria questão de quem eles são soa ridí- Carl: O verdadeiro problema é, com a maioria dos homens, que eles desis-
cula. O que realmente significa? tem de obter algo da vida quando ainda são muito jovens. Eles são
Mas há mais! Os homens parecem precisar deste tipo de foco para pro- treinados para se apaixonarem por coisas. Por máquinas, animais e
tegê-los de algo que parece assustador. A própria idéia de realmente deixar trabalho.
alguém conhecê-lo é ameaçadora demais até para ser admitida. Quando
os homens estão com outros homens, isto não é tão difícil. Eles realmente Para o sexo ma.sculirw, a quem desde cedD I ensinado que o envolvi-
enfocam matérias que são de alguma importância. Você sabe, como os Dod- men10 emocional , Jrfvolo, a vida toma-se um desafio para enconrrar
gers foram, o que houve com os Packers, o que está acontecendo com o mer- dreas, assumas ou objetos seguros para investir.
cado de ações, dê uma olhada no meu carro novo, você já reparou na nova
secretária ?

92 93
Dançando com II famlill
r
Mãe: Eu não sei. Eu sei que desde
Mãe: Sim! Sim! É exa1amente assim! Ele está apaixonado por seu trator. . . que eu tenho artri
estou d epmruda. Faz 14 anos. te reumat6ide eu
Quando estava com defeito e não funcionava, ele se lamentava: "Oh,
Carl: E sui piorando?
cu tenho que ter aquele trator. Você sabe que eu preciso daquele tra-
Mãe: Eu não sei.
tor". Então, Mikc teve que consertá-lo.
Carl: Deixe-me fazer uma pergunta maluca
Carl: Com paixão ! que a doença de Gail impediu qu 'qu~ me ocorreu. Voe! acha
Mãe: Sim! Com paixão! Esta é a sua paixão! e sua artrite •
Mãe : Talvez um pouquinho. Eu não sei. pmrasse?
Carl: Você tem alguma idéia de quando é que você desistiu de tentar hurna.
nizá-lo? Quanto tempo de casado vocês tinham quando você decidiu Carl: É as sim que eu penso sobre as fanúl •as.
·
Mãe: Eu não tenho tempo de pensar em •
que ele era sem esperança? mun por causa dei
Mãe: Não foi logo em seguida, não .
Vanessa: Você também gnta com Gail um mo te V ª·
va ne la. n · oc! extravasa muita rai-
(risos)
Mãe: Sim. Eu brigo com ela.
Este comentdrio sublinha wn conflito t(pico do infcio da vida de casa- Carl: Então você está realmente tendo um caso com a Gail en
está tendo um caso com O trator. • quanto ele
dos. A mu./her tenta ajudar o homem a viver no presente. A envolver-se com
Mãe: Talvez.
ela num nfvel pessoal. Seu riso confirmou o reconhecimento da luta e, tal-
vez , o desespero de sua realidade .
Mais uma vez , casos psicológicos são marcados por um mtenso . .
mves
fimento de afieto . E ste teve o benefício de pennitir à mãe -
Carl: Bem, usualmente não é logo em seguida, porque a mulher confunde · · ida expressar um pou-
sexo com amor. Ela não se dá conta de que o homem não está real- co de sua raiva repnm , mas é auto-derrotivo a longo prazo.
mente amando, é s6 sexualidade.
Este. é um exemplo
. claro dos duplos níveis de impacto que preenchem
Mãe: Certo. Bem, levou mesmo um par de anos. Talvez uns cinco anos.
nossas
. vidas e cnam os paradoxos
. com os quais lutamos. Emb ora supcrfi-
Meus esforços aqui são para trazer a mãe de volta para a equação. ".'almente pareça. q_u e a cap~1dade da mãe em descarregar sobre Gail pode-
Agora que estabelecemos os homens como desesperançados, eu quero que a na, ao menos, ahv1ar sua raiva, nos níveis mais profundos isto volta-se con-
mãe esteja livre para olhar a realidade de sua vida. Para realmente enfrentar tra ela. Nada se resolve, e um sistema triangular de interação é reforçado.
o fato de que seu marido não compartilha muito carinho com ela. Que ela Dada esta forma de interação, Gail está agora empregada. Embora 0
pagamento seja baixo, há um grande status em ser o objeto primário da in-
está sozinha.
Ser enganada pelo interesse masculino em sexo é uma das formas mais tensidade materna. A conseqüência automática de nunca poder crescer é um
antigas pelas quais as mulheres tentam convencer-se de que os homens se preço pequeno para a segurança de toda a vida de ser tão desesperadamente
importam com elas. Embora seja temporariamente tranqüilizador, isto é de- necessária. Parte do problema é que, embora a mãe possa realmente obter al-
sumanizante a longo prazo. gum alívio, a um nível mais profundo ela sabe que está escondendo-se dos
Eu parto da pressuposição que antes que a mãe possa realmente se mo- assunto_s que realmente a preocupam. Ela pode até ter alguma consciência de
bilizar para crescer, ela precisa enfrentar a realidade que tenta ignorar. So- estar ativamente perpetuando-os.
mente então, sua dor e sua solidão tomam-se aliadas em seus esforços para Além disso, não é nem sequer saudável para o pai sair da encrenca tão
facilmente. Ele precisa sentir-se procurado morto ou vivo, que seja. Ser de-
crescer. Somente então, elas lhe dão coragem e direção. Até que possa in-
sejado é uma parte essencial da vida. Sua distância certamente mantém o seu
corporá-la, sua dor a manterá congelada e isolada. É claro, incorporá-la tam·
nível de conforto, mas também grandemente contribui para sua sensação de
bém será doloroso, mas é uma dor com promessa e esperança, e não debili-
falta de sentido.
tante por natureza.
Talvez o componente mais devastador deste tipo de estilo familiar se
Carl: ... e desde então você esui deprimida? relacione com sua falta de vontade para realmente enfrentarem-se e aos as-

95
94 Dançando com a famfl/11

L
Mãe: Sim! Sim! É exatamente assim! Ele está apaixonado por seu t~~or. Mãe : Eu não se!.
Eu sei que desde que eu tenho artrite reumatóide eu
estou depnm,da. Faz 14 anos.
Quando estava com deleito e não funcionava, ele se lamentava: Oh,
eu tenho que ter aquele trator. Você sabe que eu preciso daquele tra- Carl: Está piorando?
Mãe : Eu não sei.
tor". Então, Mike teve que consertá-lo.
Carl: Com paixão! Carl: Deixe-me fazer uma pergunta maluca, que me ocorreu. Você acha
Mãe: Sim! Com paixão! Esta é a sua paixão! . . que a doença de Gail impediu que sua artrite piorasse?
Carl: Você tem alguma idéia de quando é que você des1suu de tentar hu'.11'.'. Mãe: Talvez um pouquinho. Eu não sei.
nizã-lo? Quanto tempo de casado vocês tinham quando você decidiu Carl: É assim que eu penso sobre as famílias.
que ele era sem esperança? Mãe : Eu não tenho tempo de pensar em mim por causa dela.
Mãe: Nlio foi logo em seguida, não. Vanessa : Você também gnta com Gail um monte. Você extravasa muita rai-
va nela .
(risos)
Mãe : Sim. Eu brigo com ela.
Este comentdrio sublinha wn conflito t(pico do início da vida de casa- Carl: Então você está realmente tendo um caso com a Gail, enquanto ele
dos. A mulher tenta ajudar O homem a viver no presente. A envolver-se com está tendo um caso com o trator.
ela num ntvel pessoal. Seu riso confirmou o reconhecimento de, luta e, tal- Mãe: Talvez.
vez. o desespero de sua realidade.
Mais urna vez , casos psicológicos são marcados por um intenso inves-
Carl: Bem, usualmente não é logo em seguida, porque a mulher confunde timento de qfeto. Este teve o beneffcio de pennitir à mãe exp~ssar um pou-
sexo com amor. Ela não se dá conta de que o homem não está real- co de sua razva repnmúia, mas auto-derrotivo a longo prazo.
mente amando, é só sexualidade.
Mãe: Certo. Bem, levou mesmo um par de anos. Talvez uns cinco anos. Este é um exemplo claro dos duplos níveis de impacto que preenchem
nossas vidas e criam os paradoxos com os quais lutamos. Embora superfi-
Meus esforços aqui são para trazer a mãe de volta para a equação . cialmente pareça que a capacidade da mãe em descarregar sobre Gail pode-
Agora que estabelecemos os homens como desesperançados, eu quero que a ria, ao menos, aliviar sua raiva, nos níveis mais profundos isto volta-se con-
mãe esteja livre para olhar a realidade de sua vida. Para realmente enfrentar tra ela. Nada se resolve, e um sistema triangular de interação é reforçado.
o fato de que seu marido não compartilha muito carinho com ela. Que ela Dada esta forma de interação, Gail está agora empregada. Embora o
está sozinha. pagamento seja baixo, há um grande status em ser o objeto primário da in-
Ser enganada pelo interesse masculino em sexo é uma das formas mais tensidade materna. A conseqüência automática de nunca poder crescer é um
antigas pelas quais as mulheres tentam convencer-se de que os homens se preço pequeno para a segurança de toda a vida de ser tão desesperadamente
importam com elas. Embora seja temporariamente tranqüilizador, isto é de- necessária. Parte do problema é que, embora a mãe possa realmente obter al-
sumanizante a longo prazo. gum alfvio, a um nível mais profundo ela sabe que está escondendo-se dos
Eu parto da pressuposição que antes que a mãe possa realmente se mo- assuntos que realmente a preocupam. Ela pode até ter alguma consci~ncia de
bilizar para crescer, ela precisa enfrentar a realidade que tenta ignorar. So- estar ativamente perpetuando-os.
mente então, sua dor e sua solidão tomam-se aliadas em seus esforços para Além disso, não é nem sequer saudável para o pai sair da encrenca tão
crescer. Somente então, elas lhe dão coragem e direção. Até que possa in- facilmente. Ele precisa sentir-se procurado morto ou vivo, que seja. Ser de-
corporá-la, sua dor a manterá congelada e isolada. É claro, incorporá-la tam· sejado é uma parte essencial da vida. Sua distância certamente mantém o seu
bém será doloroso, mas é uma dor com promessa e esperança, e não debili• nível de conforto, mas também grandemente contribui para sua sensação de
tante por natureza. falta de sentido.
Talvez o componente mais devastador deste tipo de estilo familiar se
Carl: ... e desde então você está deprimida? relacione com sua falta de vontade para realmente enfrentarem-se e aos as-

94 Dançando com a tamma 95


Aqui eu queria plantar a uMia q~ hd fi
suotos envOlvl.dos na relação, que serão passados para as gerações futuras. A
• que você pode escapar sem um arranhão é absolutamente desastrosa · •n/íO está morto ainda. onnas ele abordar o velho. Ele
fantasia .
Carl: Onde mais há paixão nesta famfiia ? Eu tive uma impressão quando 0 Carl: Bem, eu não me surpreenderia, ele pod
pai fez uma brincadeira com. .. Maria? É este seu nome ? ... Loucura! mente velho e que se vacas colocasse e
.
csW: ficando suficieme-
m as coisas diretame te
Minha avó se chamava Maria. Esta é a razão pela qual eu não estava ra ele, ele talvez tivesse mais forÇa do que .....,. . n pa-
seguro. Quando o pai fez aquela brincadeira sobre Maria ter bebido . V~s lhe creditam
Ou mms amor, para usar um termo vulgar. ·
ontem, eu tive a impressão que havia uma luta de paixão entre eles. Você acha que ele os ama?
Isto é verdade? O pai está preocupado com seu futuro? Ele pensa Maria: Sim.
que você acabará sendo uma má moça e que ele está tentando fazê-la Carl: De seu próprio jeito, hein?
se submeter, e ser urna boa dona-de-casa para algum fazendeiro ?
Mãe: Acho que está certo.
Agora eu _q uer~ ajudd-los a reconhecer o ladc, anoroso da fanllia .
Maria: Eu nunca tinha pensado sobre isto antes. Eu suponho que poderia E,nbora não seJa fácil de se ver, eu sei que ele estd ldJ Se eu pudt!r ajudd.
ser. los a olhar para ele, eles serão mais capazes ele tratar uns aos oiaros como
Mãe:: Sim, ele está preocupado. pessoas, e não como funções .
Carl: Você pode lutar com ele? Você pode medir forças com o velho?
Maria : Sim. Carl: Vocês acham que ele ama a mãe?
Carl: Você pode realmente vencer alguma vez? Maria: Sim.
Maria: Não, realmente.
Tendo obtido uma concordância, eu os pressiono para o grande jogo.
Era minha impressão que a queixa do pai sobre o f ato de Maria ter
Eu quero Jorçd-los a enfrentar diretamente a questão: "Serd que o pai
bebido era uma forma de dizer que ele estava investido no que acontecia
realmenle ama a mãe?" É algo que todos eles se esquivam e cleixam no ar.
com ela. Embora tomasse a forma de controle , demonstrou algum tipo de Eles precisam lidar com isto!
investimento. Talvez , a única maneira em que ele é capaz de pennitir-se
compartilhar.
Carl: Por isso, eu não acreditei naquela bosta de ontem sobre ser um ca-
samento de conveniência ! Eu acho que é uma forma de eles engana-
Carl: Não realmente, hem? Quando ele vence e você parece mal ... , algu-
rem-se sobre seu investimento um no outro.
ma vez ele volta atrás e pede desculpas, quando ele descobre que
Pode não ser o tipo de llIOOr que eles gostariam, mas eu não
está errado?
acho que eles possam se impedir de investir um no outro. E eu não
Maria: Não.
acho que este investimento possa ser retirado! Mesmo quando você
Carl: Você alguma vez pediu isto a ele? O que você acha que poderia se divorcia e casa de novo, com duas ou trts pessoas, uma depois da
acontecer se você o fizesse ? Se você viesse 24 horas depois e dis- outra.
sesse : "Olha, eu olhei aquela coisa na enciclopédia, seu velho filho
da mãe, e você estava errado! Completamente errado! Você me en- O casamento um processo que inb!rliga as pessoas ele uma f orma
fiou isto goela abaixo até que eu tive que aceitar. Agora eu que ro profunda. A vivência compartilhada que se segue é real, com ra fus profun-
que você peça desculpas". Você alguma vez fez isto? das. Apesar da popularidack do divórcio, eu não acredito que se possa
Maria: Não.
realmente erradicar este sistema de enraizamento.
Carl: O que você acha que aconteceria?
Mãe: Nenhum de nós fez isto.
Você pode se apaixonar, mas voce nunca cai· fora de verdade. Este na-
Maria: Nada, provavelmente. .
morado com o qual você está terrrunando, sempre estará em sua cabeça. Vo-

l
96 97
Dançando com a famRia
e! pode decidir nlo passar sua vida com ele, mas isto é diferente. Você ain- Apesar dos conflitos que se seguem, pode ser que estas dificuldades
da o tem 16 dentro de si mesma. sejam centrais para o desenvolvimento de um sentimento real de intimidade.
Afinal de contas, a intimidade é um processo, não um evento. J:. algo que se
M&: Estou certa de que isto a incomoda! (Maria está chorosa.) desenvolve e evolui com o tempo, não algo que simplesmente exista. Quan-
Carl: A coisa boa a respeito do amor é que ele não é como sabão. Não se do o casamento provê a segurança necessária para enfrentar bilateralmente
acaba quando voce usa. Parece mais com os mdsculos, quanto mais seus próprios medos, assim como os de seu cônjuge, então a intimidade se
voce aprende a amar, mais você pode amar! desenvolve. Ficar atolado em uma projeção bilateral de culpa faz muito pou-
co para encorajar o crescimento.
J:. uma coisa maluca a forma como nossa cultura encara o casamento. l:. Voltando à família, todas as mulheres estão chorando pelo sofrimento
como se nós acreditássemos que é possível compartilhar uma vida sem se do conflito de Maria com seu namorado. Como de costume, o pai parece
envolver ou investir emocionalmente. Isto é simplesmente impossível! Viver inatingível.
juntos durante anos automaticamente envolve o contato e a imersão um no
outro. Pode não ser ideal, mas é real. Carl: Isto foi uma coisa muito bonita. Foi muito bom para mim, ontem, a
Eu acredito que nós selecionamos parceiros com os quais estamos psi- forma como vocês puderam chorar.
cologicamente combinados. Não é, de forma alguma, um processo aleatório. Eu acho que é muito ruim que vocês não possam ter ensinado o
Eu não acredito que a gente acabe casado com uma pessoa em particular por velho a chorar.
erro. A desculpa de "insanidade temporária" não encaixa na minha expe- Mãe: Ele não chora.
riência. Obviamente, há uma conspiração massiva neste processo, pelo qual Carl: Talvez você consiga que ele chore pelo trator, algum dia.
nós mub.lameote concordamos em ser de uma certa forma um com o outro,
como parte de uma estratégia de vendas. De alguma maneira, o tempera- Meu comentário expõe um ponto nevrálgico da famllia . Enquanto as
mento dele não se mostra até depois da cerimôoia de casamento. O perfec- mulheres se envolveram, o pai caiu fora.
cionismo dela é visto como esmero, até que se volte contra ele durante a lua-
de-mel. Mas dizer que eles estavam completamente inconscientes, para infe- Mãe: Oh, ele o fará! Eu sei que ele o fará.
rir que eles realmente não se davam conta daquilo em que eles estavam in- Pai: Sim. Quando eu não puder mais dirigi-lo.
gressando, é ridículo. Carl: Quando você não puder dirigir mais? Bem, eu ... é engraçado, mas eu
Embora superficialmente pareça que nós escolhemos alguém que pre- lembrei que, quando eu tinha mais ou menos 10 anos ... Eu comecei a
encherá todas as nossas necessidades e nos completará, o relacionamento real dirigir o trator quando eu tinha 7. Quando eu tinha 10, eu não con-
é mais profundo. Paradoxalmente, quanto mais nossa seleção parece preen- segui fazer uma curva. Nós tínhamos um velho Case (tipo de trator)
cher de forma clara nossas necessidades superficiais, mais profundo será o e ele não fazia bem as curvas. Eu caí de uma ribanceira para dentro
conflito pera rcalg:leme nos tomarmos um casal saudável. Com freqüência, do rio e fiquei com água até a minha cintura. O trator ficou todo em-
parece que, em razão da nossa seleção conjugal, defrontamo-nos com a baixo d'água.
oportunidade de lutarmos com alguns de nossos temores mais apavorantes.
Casar com alguém, porque sua força o faz sentir-se segura, no final trans- Aqui, em reação ao surto de afeto do pai pelo trator, eu segui seu te-
forma-se na necessidade de desafiar e derrotar esta força para se tomar uma ma. Foi uma reação automdtica, e minha intervenção serviu para ampliar a
pessoa. Quando você derrota sua força, ele precisa enfrentar os medos e in- opressão que eles sempre sentiram com respeito a conversa paterna sobre o
certezas que ela mascarava. Selecionar uma esposa, porque ela é muito deli- trator.
cada e atenciosa com suas necessidades, pode terminar no dilema de ficar
aborrecido com sua falta de individualidade. As distorções são infinitas, com Vanessa: Eu não quero mais falar sobre tratores! (gritando, com raiva). Eu
tremendas variações e diversidade de estilo. não quero mais falar sobre estes malditos tratores! Eu quero saber

98 99
Dançando com a famO/a
oomo Maria está se sentindo! Eu não quero ouvir mais falar sobre
um avião, um satélite, ou uma teoria psiquiátrica. Eu não acho
tratores!
que faça qualquer diferença. Eu acho que ainda estamos no ccr-
Jesus Cristo! Tem al~m sofrendo aqui! Eu não quero mais
cadinho de brinquedos em que nossa mãe nos deixou .
ouvir falar em tratores!
Eu quero ouvir falar de Marla! Eu quero ouvir falar de seu
namorado!
...
Pai: Sim. Isto é verdade. Mas, mais cedo ou mais tarde, vocês t!m que
Um silêncio pronunciado e doloroso seguiu-se à explosão de Vanessa.
ter coisas materiais também. Apenas o soluço abafado de Maria interrompia o silêncio. A mãe falou pri-
Vanessa: Bem, eu quero ouvir sobre Marla. Eu não quero ~uvir vods dois
rreiro, numa manobra instintivamente protetora para aliviar a tensão.
falar sobre estas merdas de tratores! Que se fodam .
Mãe : Parte disto é que, em cada refeição ...
A losão de VanesJ» em oposição a este estilo familiar, agora ua-
Carl : Deixe-a falar, mãe.
gerado, j inlensa. É sua forma de lutar com a mãe em sua batalha e com-
partilhar mais de seu desespero sobre os homens . .
Eu quero permitir-lhes que possam dar-se o lww de experienciar mais
Minha aliança com O pai deixou-a com mu110 medo de que todos os
completamente a dor . Talvez eles sejam capazes de obter algum /Jeneffcio
homens fossem desesperançados. Que todos os homens fossem vê-la come
disto, se não fugirem tão rapidamente .
um tratar. Se ela funciona suficienlt!mente /Jem, para sexo ou paro o que
for, eles estão interessados. Se não, eles estão ocupados com outras coisas.
( silêncio)
A resposta do pai ao seu apelo passional foi desencorajante.

Maria: Eu não sei se eu devia terminar com ele .


••• Mãe: Você lhe falou ?
Pergunta: Carl, quando Vanessa teve aquela explosão, por que você não a
Maria: Ainda não.
Carl: Você quer terminar porque a família lhe diz isto ou por que você
consolou? Vock parecia que tinha ignorado sua dor!
quer?
Carl: É claro! Se eu a tivesse consolado, eu seria sua mãe, e não seu
Maria: Porque eu quero. A famllia provavelmente não quer que cu faça
pai. Eu estaria representando a pessoa que se importa, que ela
isto.
está desejando, cm vez da que não se importa que ela precisa
Carl: Está claro para você que você pode temúnar com o namoro e vol-
aprender a elaborar. Ela está tentando achar um homem que seja
tar para ele daqui a cinco anos se você quiser?
um ser humano. Encontrar a mim não a ajudaria. Ela precisa en-
Maria: Eu não sei.
contrar seu pai! Ela precisa ousar ser pessoal com ele.
Vanessa: Você acha que não gosta mais dele?
Isto tem um tipo estranho de qualidade pessoal. Ela está
Maria: Não, cu não acho isto.
muito raivosa com ele, mas isto, ao menos, é de natureza explosi- Mlie : Então por que você quer terminar o namoro?
va, não é desesperançado e dissociado como ele. Maria: Eu não sei. Eu não quero ficar assim tão envolvida com alguém!
Pergunta: Você sabe, todas estas idéias dos homens serem desesperançados (O pai passa a caixa de lenços de papel.)
soa como um conceito antiquado. Será que nós não avançamos Mlie: Ele está muito firme com você. Vai ser muito difícil para os dois.
bastante nisto nas dltimas gerações? Pai: Sim. Vai ser difícil. Eu gosto do cara.
Carl: Eu não acho que nos movemos um centímetro sequer. Eu penso
naquele velho clichê ... de que a dnica diferença entre o homem e Maria revela uma realidade dolorosa da famnia. A relUlância mi en-
o menino é que os brinquedos do homem custam mais caro. Seja volver-se devido à dor que isto possa trazer.

100
Dançando com• faml/la 101
Um pouco mais tarde, estou falando com Vanessa sobre seus problemas
com os homens. Ela fala sobre seu estilo típico de aproximar-se, at~ que ela guém para seguir em frente . Na condição dela, seria muito ruim para
sinta que o homem pode realmente estar ligando para ela. Neste momento, ela e para o resto da famOia se ela não tivesse algu~m em quem se
ela se retrai . apoiar.
Carl: Talvez ela entrasse num bar e convidasse alguém.
Carl: Vocé tem medo de que, se você não se retrai, você ficará presa
como sua mãe ficou? Enquanto o pai continuava a definir o assunto como i"elevante, eu
Vanessa : Sim! É exatamente isto! continuava minha sondagem. Não havia impacto aparente, mas ele pode
ocorrer mais tarde.
Aqui, eu estou chamando atenção para as influências transgeracio-
nai.s. Isto pode servir para estimular um esforço real de mudança. Vanessa: Eu acho que ela depende de Mike.
Mãe: Sim. É verdade.
Carl: Então, por que você não ajuda sua mãe a levantar-se sobre suas Pai: Certamente.
próprias pernas e lutar contra o pai? Vanessa : É difícil para o Mike ter relacionamentos.
Vanessa: Eu tenho tentado, de formas diferentes, todos estes anos. Eu acho Carl: Esta é a razão pela qual ele não veio? Ele não queria revelar que
que por isto que cu quis estas sessões familiares. Eu não sei co- ele é o novo homem da mãe?
mo enfrentar o pai cu mesma!
Vanessa: Ele estará aqui amanhã.
Mãe: Ning~m sabe! Ninguém sabe como! Ninguém na vizinhança 0 Carl: Sim, mas ..• você sabe.
cnfrcnlaria. O que ele diz está dito! Mãe: Eu sei. Ele não quer vir.
Carl: Marla d iz que o faz. Ela não pode vencer, mas ela resiste.
Com a famllia mais ampla sendo enfocada, a temperaJUra cresce. A
Mãe: Niog~m pode ganhar dele.
mãe revela sua forma de lidar com a distância do pai. Ela compartilha a
Carl: Bem, seu terrível velho bastardo, o que você irá fazer a seu res-
cenlralidode de seu filho em sua vida. O pai, novamente. opta pela i"ele-
peito?
vlincia, vollando-se para a n:aüdade .
Pal · Viver tanto quanto possa, daí...
Carl: Daí, vocé irá morrer, hein?
Pai: Isto é ruim. Se você depende demais de ...
Pai: Bem, suponho que não há alternativa. É inevitável. Mãe: Ele é o i!nico que me entende! Ele entende toda a situação. Ele vê
tudo claro como água! Claro como num quadro!
Aqui, eu coloquei a raiva deles em palavras mais expressivas, espe- Pai: Quando eu morrer, alg~m tem que tomar conta. É claro, ele já
rando impulsionar o processo. está tomando conta da fazenda agora.
Mãe: É demais para ele!
Carl: Vocé acha que ela vai ficar melhor da artrite quando vocé morrer?
Pai: Pode ser. À medida que a sessão aproxima-se do fim, Vanessa e sua mãe revisam
Mãe: Eu não acho. a impossibilidade de lidar com o pai. O tema é antigo, mas sua crescente
Carl: Vocé acha que ela tem um homem mais jovem de reserva? Talvez ela vontade de discuti-lo na frente dele é encorajante.
esteja meio que esperando que você saia do cwninho, e então ela pode
ter uma vida feliz ? Mãe: Eu não gosto disto. Eu não posso me aproximar dele. Ele foge. Se
Pai: Eu não saberia. Mas há rapazes em volta. ele fica, ele se volta para o rádio, com o Paul Harvey a todo vo-
Carl: Vocé chegou a suspeitar disto? lume. Ele come, come .•. ou cotão vai embora. Eu não posso falar
Pai: Bem, cu mais ou menos encorajo as pessoas para não depender com- com ele sobre coisas humanas.
plc:tameote de um só. Mais cedo ou mais tarde, você precisará de al-
103
102 Dançando com• famll/a
. ue eu reagi tanto à conversa sobre
O1 ~•-
ssa · Acho que é por isto q . --
VDM • (olhando para o pai). Eu fiquei funosa, porque voce não queria

~•~-
. so bre a situaça·0 de Maria ou sobre a sitn•"ão
falar nem ouvir -. da
mie. Voe! quer falar sobre as coisas da faz.enda, e nós ternos que ~ .:-
ouvir a sua conversação.
Nds estamos jantando, e voe! conve~a sobre .º tempo. H.t
coisas mais importantes para se falar. Eu_sei que~ difícil falar so- -=--
=
bre as coisas. Eu sei que não conseguimos muita coisa com a
Maria, mas eu sinto que temos que tentar.
.
M6e · Eu sempre d1sse, eu estou cansada e farta de estar na mesa c~ .. ,
· dois homens. Tudo O que eles falam é sobre o trabalho e O tempo.
Tratores e parafusos. Eu sempre interromp0 cem vezes por dia.
Carl: voce ainda não desistiu, não é?
M6e : Não.
Carl: Mas usar apenas um martelo de borracha contra uma Parede de
pedra faz sentido?

"A única coiso pior do qut ndo


.st obter o que St qutr I
st obtttr o qw .st qutr."

A verdade encontrada nesta afinnação aparentemente ridícula é, de


fato, aterrorizante. Todos nós trabalhamos e lutamos para atingir certos ob-
jetivos. Nós nos sacrificamos para chegar lá, apenas para descobrir que a
alegria que esperávamos é fugaz e enganadora.
Apesar de repetitivamente registrado atravl!s de toda a história, por que
deve ser assim comigo? Será que eu não sou diferente? Será que eu não en-
contrarei a verdadeira alegria ao atingir meus objetivos? Talvez a ligação es-
teja não na idéia de que as conquistas são sem sentido, mas na noção de que
através da vida elas se tomarão mais fáceis. Que eu viverei sem desilusões,
dor ou tristeza. Esta crença é destruitiva! Uma perspectiva mais produtiva
seria lutar para transcender a dor através de sua aceitação. Apenas ao incor-
porar a dor estaremos livres de seus grilhões. Como Sheldon Kopp disse,
muito sucintamente: "Voe! pode fugir, mas voe! não pode se esconder".
A razão pela qual obter o que se quer é tão devastador é que o que se
quer é muito mal orientado. Quando nos oentramos nas realizações, estamos
fadados ao fracasso, mesmo no sucesso. Quando procuramos objetivos il~
rios, a resposta é do mesmo tipo. Apenas enfrentando seus próprios conflitos
e aceitando sua responsabilidade pode o crescimento verdadeiro começar.

104 105
Dançando com • famlla
cês, mas não vou fazê-lo! Eu quero que vocês dois o façam. Vo-
completa o ciclo. Quando a gente vê o "fato" da seqü~ncia interativa com-
cês que construam sua própria casa. Isto é realmente importante!
pleta, as colunas se igualam. Cada ação é compartilhada, mesmo se O com-
Eu acho que vocês não conseguem dar andamento à casa por. partilhar está encoberto.
que vocês então vão ter que ficar nela juntos. Eu não acho que
vocês queiram enfrentar um ao outro. Estou consada de ser urna Vanessa: Eu acho que a outra parte responsável por eu me sentir com rai va,
distração para o que um vai fazer para o outro, quando não tive.
é que vocês não me dão o apoio que eu preciso para resolver al-
rem mais crinças com quem gritar! guns de meus problemas. Eu sinto que eu não posso usar vocês
Mãe: Acho que é verdade. Isto começou há muitos anos. O pai dizia: como um recurso, ou como pais.
"OK, mãe, você vai à igreja com as crianças. Você vai ao casa- Carl: Espere um núnuto! Você diz que quer ser um ad ulto e não cuidar
mento com as crianças". Ele nunca foi conúgo. Então, ele manda. deles, e quer ser uma criança para que eles cuidem de você? Po-
va os filhos conúgo como substitutos. nha ordem nessa sua cabeci nha! Você quer ter 7 ou J 8?

Ap6s esta queixa apaixonada de sua filha, a mãe teruou evitar qual- Aqui eu estou tentando contaminar o que pareceu ser urna li~ação
quer responsabilidade. Eia tentou retrair-se sob a salva11uarda (a'11i/iar de exagerada ao mundo infantil dos desejos. Eu quero que Vanessa realm,,rrte
designar o pai como verdadeiro vilão. Isto a deixaria como mera vftima. lute com a crença de que seus pais têm a responsabilidade lÍI! tomar suo vi-
da mais plena. Embora seja normal querer apoio e cuiaados de seus pais, a
Meu esforço aqui I para conlmninar o conforto destD posição. Eu que-
intensidade de seus sentimentos era prob/em4Jica. Isto a manthn infantil.
ro que a fomllia veja isto como wna associação entre o pai e a mãe, e niio
como wna dança do tipo vilão/vitima.
Vanessa: Bem, eu quero ser um adulto mas eu não quero cuidar deles. Eu
Carl: Você já pensou qual o truque que você usa para fazê-lo agir assim? também quero algum apoio deles. Eu sinto ••• , como eu posso di-
M áe: Eu não sei. Eu não pensava que houvesse... Ele é que não queria ir zer••• ?
junto. Eu não sei por que. Carl: Você não precisa diut. Você jã disse.
Carl: Oh, eu acho que você tem que aceitar metade da responsabilidade por Vanessa; Que eu quero ser tanto um adulto quanto uma criança•
isto. Eu não acho que você deve deixar para ele todo o crédito. Carl: Claro! Voe! quer que eles cuidem de voe! mas não quer arcar
com a despesa. Se voce quer ser filha e quer que eles cuidem de
Eu quero que a mãe tenha a oportunidmk de enfrentar sua completa você, você tem que deixá-los ser seus filhos e cuidar deles.
participação. Atl que ela o faça, ela estDrd Impotente para mudar. Vanessa: Bem, eu não quero fazer nada disso. Eu quero sair dessa.
Carl: Bem. •• Boa sorte!
A i~ia de asswnir responsabilidades iguais pelos conflitos conjugai&
ou, a propósito, os bitos é uma que recebe uma enorme quantidade de con- Ap,Js as ponderaç&s dela sobre uma propostD do tipo "isto ou aqui-
versa, mas muito pouco suporte real. Quando colocada à prova, esta posição lo", eu teruo voltDr ao fato que os tksejos conjugados de pertencer e indi-
rapidamente desaba. Isto a torna uma postura potencialmente desleal. Dizer vidualizar são companheiros de toda a vida.
uma coisa e agir de outro modo lança as sementes do auto-engano.
Da forma como eu vejo, a confusão ameaça quando nõs !abulamos os Isto é como tem que ser! Embora porte um sentimento paradoxal. isto
acontecimentos e as interações em um deternúnado período de tempo, e não é tão enganoso. Na verdade, todos nós can-cgamos conosco, através de
então fazemos as contas para ver realmente quem é o vilão e quem é a víti- Ioda a vida, 0 desejo de ser cuidado, alimentado e adorado. Paralelamente, há o
ma. As listas de comportamento inaceitáveis são tipicamente desproporcio- desejo de ser independente, auto-suficiente e autônomo. Isto ~. sentir_que es-
nais. Isto ocorre porque o que é notado são os comportamentos observáveis tamos encarregados de nossas próprias vidas e não demasiadamente influen-
em vez do ciclo completo de uma seqüencia interacional. Nós registramos o ciados ou controlados pelos outros. Ninguém ultrapassa isto, sequer O alcan-
comportamento sem notar a resposta do tipo "não-resposta" do cônjuge que ça completamente.
112 113
Dançando com• fllmR/a
PortaDIO, u duas forças estlo colocadas num jogo ativo _durante tOda 1
vida. f.ncontramOS muitos foros nos quais encenar este conflito. A solução Agora, de forma mais pronunciada, o poder de seu desamparo fica rt!•
não esperar por um vencedor inquestionável, mas compor estas necessida- velado, Ao ml!smo tempo que luta cnntra a itM/a de st!duzir os homens pt!lo
des de forma complementar. Sua capacidade final de ser uma pessoa auto. truque dafrOJlueza, t!la t!'!/rt!nta o sofri,nt!nto de seus rt!lacionomentos. Pa-
noma e auto-suficiente cst! diretamente ligada à sua capacidade de Partilhar ra conseguir St! desviar dos de sua mát!, t!la primeiro prt!cisa en-
e de realmente pertencer aos outros. Pertencimento e individuação estão en-
frt!ntar o preço a ser pago.
trelaçados. Eles nio são conccilOS antagônicos, mas operam em simetria.
Vanessa: Bem, isto pode ser bom para atrair alguém, mas não é bom para
Quanto mais voe! possuir de um deles, mais voce tem acesso ao outro. Eles
um relacionamento!
,e fortalecem cm vez de oporem-se. fula relação do tipo yin/yang aponta
Carl: Bem. ••
para a integração como objetivo dltimo.
Co1RO o caso de grande parte de nossa vida emocional, nós estamos Vanessa: Bem, por mim...
influenciados, talvez hipnotizados pela maneira como nossos pais lidam com Carl: Então, sofra!
estas questões universais. A disposição para pô-los a claro pode servir para
desmistificar o poder de sua influencia. Com a abertura do conflito com 0
Com este comt!ntdrio, eu estou dizendo-lht! que pode não haver solu-
ção a encontrar. Que a verdadeira questlio I como ml!lhor tolerar a dor.
tema individualizar-pertencer, toda a famOia pode v!-lo sob uma ótica dife-
Aceitar a dor como wna parceira na vida, e não tentar t!Vitd-la.
rente. Eles podem começar a tomar certas decisões baseados no que real-
mente querem da vida, não meramente baseados na mdsica subliminar que to-
Vanessa: ... ou lutar contra isto.
ca em suas cabeças.
Carl: ... ou ambos! Se você luta contra isto, voce ficará muito sozinha.
V oc! ve, a mãe está escravizada, mas ela não está sozinha. Você
Vanasa: Em frente das pessoas eu me sinto envergonhada. Sinto-me como
pode lutar contra isto e ser independente, não casar com ningu~m,
uma menina pequena.
mas então você ficará terrivelmente sozinha.
Carl: Você não se sente como uma menina pequena de qualquer forma? Mát!: É verdade!
Vanessa: Oh, sim! Eu sinto! Carl: Então você tem que fazer sua escolha. Você tem que ficar com um
Carl: Acredito que parte de sua ambival!ncia. .. , que você se sente deles, e é um alio preço, de qualquer forma,
como uma menina pequena. Mát!: É difícil ficar só.
Carl: Você não deve se casar a não ser que esteja disposta a ficar só.
Aqui, eu utou
nlunt! .
tentando ajudar Van,,ssa a en'-t!ntar
"''
d'••tamen te seus
H~

!Jt! . ntos dt! infanti/idadt!, Estes nllo entram t!m acordo com seu desejo dt! (risos)
ser inlkpeNit!nte.

Este comentdrin final aparenteml!nte jocoso chama menção vara a im-


VUllt!.SSa: Sim, eu sinto. Isto aparece com o meu trabalho, com meus casos possibilidade de conservar o seu bolo de casamento e com.i-lo ao mesmo
tamMm. Este meu lado de criança pequena interfere muito com tempo. Tem como objetivo contaminar a fantasia de que o casamento ia
minha vida.
cura para a solidlio. Ele freqiienteml!nte a intenslfu:a,
Carl•· Bem, 15 · to tam'-~ ·
=m 8JUda. .,.
e verdade no reino animal tamMm.
Quando 8 fênea do pássaro está no cio, ela age como um filhote
de pássaro. É assim que ela atrai o macho. Muitas mulheres Este diálogo toca no conflito humano básico de querer cresu:r e, ao
apre nderam O truque ... , bancar a desprotegida. Olhe para sua mãe. mesmo tempo, não querer ficar sozinho. A parte complicada ê a ilusão uni-
Eu acho que ela bancou a desproteg,da . e por isto ele a agarrou. versal de que podemos ter os dois o tempo inteiro. Talvez um dia nós aceita-
Ele pensou que pode · 1 á 1 remos a idêia de que o conflito ê uma dialêtica a ser vivida, e não soluciona-
muito bem. ª
na ev • para onde quisesse! E funcionou
da. Ele é central para nossa existência.

Dançando com a famflla 115


Nossa visão cultural complexa do casamento pode representar a fonna samento de seus próprios pais, através da procura inconsciente do tipo
mais avançada deste dilema. Como Helmuth Kaiser ( 1965) muito adequada. oposto de pessoa. Isto, é claro, freqüentemente toma-se uma cópia carbono
mente colocou, nós entramos no casamento com uma "ilusão de fusão" muito pouco disfarçada do mesmo quadro que eles estavam determinados a
completamente desenvolvida. Esta representa um retomo à experiência sim-- evitar, Do mesmo modo que para os pais, sua dinâmica nunca será mais a
biótica que experienciamos, quando bebes, com a mãe. Uma expectativa de mesma, agora que sua dança foi exposta. Eles podem escolher repetir os pas-
que uma vez que os votos maritais tenham sido propriamente consumados, sos, mas não podem nunca mais recuperar completamente o mesmo nível de
nossas vidas tomar-se-ão completas, nossos vazios preenchidos e nossas ne- comodidade e indiferença enquanto dançam .
..:essidades satisfeitas. Embora isto possa, de fato, ocorrer por tempo linúta- Mas os padrões bem estabelecidos são duros de morrer. Aqui, a mãe
do, é tipicamente maculado antes que o dia seguinte amanheça. O que é es- cita outro exemplo de como ela foi deixada sozinha com as crianças. Há uma
pecialmente atraente sobre esta ilusão é a convicção de que, não apenas a f,,. diferença, porém. Neste ponto, ela introduz a noção de que ela poderia ter
são será maravilhosa, mas que após esta fusão, você estará no controle outra tentado algo mais sério. Embora ela possa ter mencionado o "forçá-lo com
vez. A proximidade é esperada, com a suposição de que a vida seguirá O ro- um revólver•• de uma forma figurada. ou sem nenhuma idéia de realmente
teiro fantasiado. É uma pena que os cônjuges tendam a ser tão imperfeitos. fazê-lo. mas cu optei por levá-la a sério. Eu queria acrescentar à sua produ-
Em última instância, a necessidade do atrito e da contaminação das fantasias ção fantasiada.
deve emergir, se há busca de intimidade.
Um primeiro passo para transcender esta "ilusão de fusão" é assumir- Mãe: N6s nunca estivemos muito juntos, porque as crianças estavam sempre
se como indi~uo. Os ingredientes básicos de um completo "ela" e de um presentes. Eles iam a todos os lugares comigo. Algumas vezes eu dis-
completo "ele"' são necessários para a criação de um "nós" que possa apro- se: "Você sabe. John, você deveria ir à lavanderia"". É claro. eu não o
ximar-se da intimidade. Não tendo um "ele" e um "ela" com alguma matu- forcei na ponta de um revólver, como eu deveria.

ridade, o processo de tentar tomar-se "nós" é repleto de confusão, desen- Carl: Você tem uma arma? Você deveria ter uma destas pequenas Serenas
italianas. Elas são bem pequenas e você poderia carregar uma em sua
tendimento e desapontamento.
Ao deixar Vanessa com "você não deve se casar, a não ser que queira bolsa. As de calibre 0.25 são melhores que as de 0.22.
ficar sozinha" eu estou tentando contaminá-la e à sua fantasia de "e eles vi-
Elahorandt> a idlin da '7fãP de forçar o pai a participar com um revól-
veram felizes para sempre". Nossa cultura tem em alta conta a fantasia de
ver t excitante. Acrescenta-se a idlia da mãe decidir ser uma pessoa.
que o casamento é um fim a ser atingido, e não uma jornada na qual embar-
camos. É engraçado como as regras e manobras do cortejarnento raramente
Mãe: A última vez que eu disse algo para ele •.•
sobrevivem à vida de casado.
Carl: Você deveria ter um tocador de gado com choque elétrico. Você os
Embora o diálogo nesta ocasião se passe mais entre Vanessa e eu, 0
comentário da mãe revela seu reconhecimento do assunto em discussão. Por conhece?
caminhos tortuosos a escolha feita por ela e John é destacada e considerada Mãe: Sim.
Car 1: Eles são ótimos! Daí, cada vez que você quisesse que ele fosse a al-
como um ato volitivo, não como um acidente. A explicação típica usada por
gum lugar com você, você poderia dizer: "Por favor, John, zzzzzzzt!"
muitos casais de "insanidade temporária" para explicar a escolha de parceiro
Mãe: .Ele sempre diz: "Estou cansado, vou para a cama!"
caiu por terra.
Carl: Mas ele mudaria. Eu posso ouvi~lo: "Estou cansado. Eu preciso ir pa-
Este diálogo público relativo à dinâmica da seleção de parceiros abre o
ra a cama agora... AAAIII!"
caminho para todos os membros da família pensarem mais claramente. Eles
Mãe: Claro, ele pode mudar.
püdem agora examinar, fantasiar e perseguir ativamente todos os tipos de
Carl: "OK. Vamos dançar. Eu irei! Não me dê choque de novo!"
relações que desejem. Ouvindo esta linha de ação em linguagem clara, os
filhos podem escapar ao padrão familiar de cair numa dinâmica idêntica ao
Nossa discussc'Jo metaf6rica fica mau familiar com um implemento que
fazer sua própria seleção de parceiro. Eles também podem ficar ltkOnos pro-
os faundeiros conhecem. Esta conversa pode acordar o pai. Ampliando
pensos às reações de supen:ompensação pelos problemas percebidos no ca-

Dançando com• famflla 111


116
a fantasia atravb de uma discussão real do como isto pareceria, acrescen.
Novam,enJe, derrubar a crmça de qu,e algulm mais pode fazer isto por
ta-se um componLnle de realidade .
vocl I vilai. Entregar sua vida a um guru pode !IU uma segwunça tempord-
Com a continuaçiio da sessão, o tema de Vanessa e seus namorados rio, mas voei tem que ~-la de volta para tornar-~ uma pessoa real.
reaparece. Sua forma de atrrur homens, fazendo-se de menininha ressurge.
Ela refere que escolhe homens que gostam desta imagem de menininha, Com a proximidade do fim da sessão, o pai decide se envolver de uma
forma mais pessoal. Como foi observado antes, a ,ensaçio de' emergente
Carl: Então agora você sabe como arranjar um, se você precisar, abcrtW'8 na família toma mais seguro para o pai aventurar-lC. Aqui , ele per-
Vanessa: f só ser uma menina de 7 anos. gunta IC OI abortos podem ser relacionados com o uso de herbicidas para
matJlr ervu danínhas. Ele expressa considcr,vcl culpa sobre os quatro abor-
(risos) tos na famOía. associando cada um com uma ocasião de W10 de herbicidas.

Carl: E ele pode lhe comprar uma bela boneca no circo,


Carl: Voe! alguma vez falou com a mãe sobre isto anie..7 Sobre wd sen-
Ao concretizar o lado infantil de sua ambiva"ncia, eu espero que ela tir-se culpado &Obre isto?
possa ficar livre para movimenJar-se. M6e: Nlo.
Pai: Bem, nós diacutimos como cu nlo gostava de usar o pulverizador.
Vanessa: Jesus! Eu acho que isto está ficando ridículo! Carl: (para a mie):
Ele pode acabar se tomando um ser humano. se voe! nio tornar
Carl: Bem, já é ridículo. Eu estou s6 tentando tomá-lo mais pitoresco,
cuidado. Ele tem vivido oom toda esta culpe por anos e nio dísx na-
da a n~m. Nem para você, nem para ncnhwna das crianças. Al-
(risos)
gum de voe& sabia?
CMris: Nio.
. Eu q~ro manei-la respons4vel por sua pr6pria vida. Seus protestos Carl: Por que nlo diz as coisas para os outros? i; s6 porque voc:l é bobo?
disto ser ridfculo são apenos uma outra f orma de pedir para que eu tome
Pai: Pode ser. Às vezes, eu nlo penso ,obre isto, até que seja muito tarde.
conJo. Eu recuso o pedido.
Carl: Eu nio falo sobre os fatos. Eu estou me referindo ao seu sofrimento.
Eles lhe dizem. Por que voe! não fala com eles?
Vanessa: E~ sei! Você está insistindo nisto, Eu entro neste papel real de
cnança com os homens. Eu quero que eles me cuidem e sejam ma-
Em vez de meramente servir para mantu os CNlr'OS de fora , a concha
ternais comigo. Eu quero colocar estas noccssidades aqui com 0 5
protetora do pai l, claramenu, uma forma de conler • . - pn1prúJ dor.
meus pais, mas eu vejo que não é apropriado aqui também.
Est<JM sugerindo wna (Ol'?lttl de aliviar a prt!ssdo.
Carl: Bem, pode ser apropriado, mas se voce a aluga, voce terá que pa-
gá-la.
F.mbora isto tenha apuccido de urna forma disfarçada. o fato do pai
Vanessa: Certo! A troca é completa. trazer sua própria vida emocional interior diante da família clwna a aten-
Maria: Talvez teu guru a dê sem querer algo em troca. ção. Após anos mantendo a culpa e o terror que ele sentia por poder ter pro-
Vanessa: Sim.
vocado quatro abortos, ele cst6 procurando alívio. Sua dccisio de tornar-se
Carl: O que você quer dizer? Ele quer sua alma não é? maia pessoal e mais é um lellllemUllho do pocencial de crescimento da
Vanessa: Oh, sim! Certo! '
fam11iL
Eate E um fenõmeno tlpico no proccsao de tcnpia familiar. Com o pro-
(risos)
l!JeSIO scsaõca e o estabelecimento do ambiente terapêutico, os vmos
Eu entreguei minha alma! membros da famflia desenvolvem suficiente conforto e coragem para toma-

111 1111
Dançandl, com• tamlla
• ín · Quando fica claro que a dor não é realmente o in;_,
rcm-sc lll8IS amos. -~•ug0
,.,_ resultam cm aniquilação, o lado humano emerge
e que os conflitos nau . . •
Eu queria sublinhar o risco que o pru correu, de~ando claro que não
passou despercebido. uma ocorr!ncia rara numa famlha'. e pode levar a urn
caminho de mudanças contínuas. Meu esforço_ é para apoiar este tipo de rnu.
danças, provocando o pai sobre o risco de V1f ª t~mar-se um ser htunano.
Não valeria a pena ser muito sentimental ou flondo c~m ele, Eu lambérn
8
quero que os filhos dêcm-se conta de que talvez ele seJa uma pessoa lltais
complicada do que um pai solene e distante. Embora ele t~nha desempenha.
do este papel por anos, ele não precisa estar fadado a continuar com ele, Eu
quero que eles considerem a possibilidade de que ele seJa uma pessoa, cheia
de sentimentos, temores e fraquezas, não apenas um valentão estóico.
o cuidarrevisto
Chamá-lo de bobo é um outra fonna de desafiar este papel, embora en.
corajando a pessoa a dar um passo à frente. Eu quero dirigir-me para ele de
um modo que chame a sua atenção. Chamar um homem de bobo é um boa
maneira. Eu quero lhe sugerir uma outra fonna de ser que não seja tão boba.
Isto é, falar com a famfiia sobre seu mundo interior, uma forma de rcdcfi.
nição. Embora ele previamente operasse como se compartiJhar sua vida emo-
cional fos,c uma estupidez, eu quero agora que isto seja visto pelo outro la- Um dos aspcctos mais complexos de ser um terapeuta é trabalhar de um
do, o de que conter toda a sua dor é que é bobagem I Como isto vem de um modo que promova o crescimento, cm vez de ser meramente informativo, ou
outro homem, ele pode ser capaz de considerá-lo. mesmo destrutivo. A maioria de nós entra neste negócio com uma capacida-
Seu sil&icio através dos anos não é, evidentemente, apenas uma função de inata de ser empático e interessado. Nós somos bons em nossa capacidade
de sua personalidade. A famllia também deve ser considerada. Talvez nin- de cuidar nos termos tradicionais, de dar apoio e sermos compreensivos. Esta
guém quisesse conhecer realmente este seu lado. Talvez ele fosse forçado ao capacidade é central ao nosso papel. Sem ela não podemos fazer nada. Para
isolamento, ou, ao menos, intimidado. Um pai-marido muito participante po- podermos ser dteis, nós precisamos ser capazes de sentir a dor dos nossos
de ter sido muito ameaçador, clientes e apreciar seus conflitos. Embora isto seja essencial, não é o sufi-
ciente! Se este é todo o tipo de cuidado que podemos oferecer, a relação tc-
ra~utica fica severamente limitada. Como em qualquer outro tipo de rela-
ção, profundidade e intimidade só podem crescer como resultado de trocas
reais e conflitos reais.
Para ser realmente capaz de cuidar, vocé também precisa desenvolver a
capacidade de confrontar. Você tem que estar disposto a desafiar as pessoas
a enfrentar os assuntos que eles preferem não reconhecer. Quando eu forço
uma famfiia ou membro da famfiia a tomar uma posição, estou expressando
que me importo! Estou deixando-os saber que cu sei ameaçá-los melhor do
que ninguém. claro, confrontação pura é raramente de algum valor. Ser
sádico e esconder isto através de um sentido autoritário de profissionalismo é
um truque sujo.
O verdadeiro cuidar requer uma mistura de sustento com confrontação,
uma integração de amor e ódio como conceitos igualados. Eles são complo-
120
Dançando com a famR/a 121
A • Com O aumento de sua capacidade Mike: Não realmente. Vods podem apenas continuar.
za não antagu01cos. .
mentareS por nature ' . rdad d odiar Seu cuidar é o mgrediente que Carl: Bem, se eu o faço, vod está com problemas. Meu sentimento é que
ta sua hbe e e ·
de 11111B1', aumen dtil m vez de abusiva. Confrontação sem cuida. todo o mundo nesta famOia é igualmente maluco. Nós tentamos e ~
rmite à confrontBÇlio ser 'e riorizar isto em todos. Eu sei que voe! gosta de motores e que vod é
pe .
do é mero sadismo. . . a-se com 8 amplitude das emoções que suficientemente maluco para herdar a fazenda do velho. Isto é muito
O utro as pecto do. cuidar A re1ac1on . .
d' rsi'dade dos sentimentos t1p1camente au- maluco, porque ele estará sempre olhando aqui para baixo pera ver o
! te por seus clientes. 1ve .
voe sen C interação ao longo do tempo, a nqueza emo- que voce ellt4 faz.endo com a "11ua" fazenda.
menta com o tempo. om nossa do amor ao 6dio é rei
•ooal se expande. Mais uma vez, todo ~ ~ • ' e- Assim, talvez vod pudesse compartilhar um pouco de sua loucura.
ci . od pe-ber os sentimentos do terapeuta para com eles Mike: O que voce quer que eu demonstre?
vaote. O s c 1tentes p em •-
e tipicamente, respondem de acordo. . . Carl: Eu olio sei. Eu imagino o quão maluco voce pode ser•.• ou o quão
' • de toda 8 questão do cuidar é respeitar 08 maluco voce costumava ser. Como quando voe! pensou que poderia
Outro componente cruc1a1 .
'dades de nossos clientes. Parte disto é estar a par de su&E dirigir sua prdpria vida, em vez da famfiia dirigi-la para v~.
recursos e capac1 .
próprias limitações como terapeuta. Apesar das famfiias poderem nos procu- Mike: Eu ollo sei, eu ollo mudei tanto assim.
rar no meio de uma crise, eles não estão, de forma alguma, de~~os. Carl: O que voe! fará quando o velho se mudar para a casa nova e oão es-
Pela sua própria interconexão, eles t&n imensos recu~os. O dt~o um tiver mais lá para incomodá-lo? Arranjar uma mulher? Talvez voce
.. d B mlíe vale um milhão de beijos de um terapeuta é verdadeiro. Eles possa usar uma irmã?
be IJO • . .
têm O potencial de ser de ajuda uns aos outros, de msp1rar crescimento. Em Mike: Eu não sei. Talvez ter outras pessoas morando ali. Rapazes que eu
comparação, nosso potencial é um tanto d&il. . . . conheço.
Singulannente, nosso maior poder ou impacto ongma-~ diretamente de Carl: Bem, esta é uma idéia! Voce pode iniciar uma comunidade para ho-
nossa capacidade de ser real. Na extensão em que somos reais com eles, eles mens. V~ teria que ter um bom cozinheiro.
aprendem a s!-lo conosco. Em parte, isto significa nunca trair-se realmente. Mike: Sim. Alguém que pudesse realmente ajudar.
Uma vez estando claro que voe! permanece o centro de sua própria vida, Carl: V~ pode põr um andncio num destes jornais para homossexuais,
eles começarão a se tomar seu próprio centro. Aderir à ilusão conjunta de procurando um cozinheiro homem.
que voe! é o deus que eles precisam não serve para ninguém. Está fadado à Mike: Eu não estou procurando por isto! Eu chamaria alguns amigos que
amargura e ao ressentimento. Freqilentemente, eu digo para as famfiias: conheço.
" Ouçam, eu não estou realmente aqui por voc!s. Eu estou aqui por mim e
pelo que eu posso obter disto aqui." Eu quero que eles enfrentem seu pró- É sempre uma coisa estranha tentar que alguém se integre em um am-
prio poder e responsabilidade. Ao voltarmos à famflia, o assunto do meu biente já estabelecido. Mike está compreensivelmente cauteloso, não queren-
cuidar e de seus recursos toma-se focal. do expor muito de si mesmo. Mas não é somente a dificuldade da situação, é
O terceiro dia de consultas foi marcado pela chegada de Gail e Mike, também seu estilo pessoal. Ele parece preferir finnar o pé antes de arriscar-
os dois filhos que faltavam. Com toda a famfiia nuclear reunida, o ar estava se. Isto pode refletit seus sentimentos sobre o que é seguro faz.er dentro da
preenchido com um sentimento renovado de apreensão e incerteza. Embora famfiia.
um pouco disto seja a conseqü!ncia natural de ter todo o time presente, um Nós estamos no último dia, porém, e não há tempo para entradas leves.
pouco resultava da mudança em nosso ambiente. Em ceno sentido, Mike , Como com os outros membros da famfiia, ele também precisa ser iniciado.
Gail eram agora intrusos num processo já estabelecido com o subsistema ori• Quando ele evitou o meu convite aberto para auto-revelar-se, eu voltei à
ginal. O seu direito de nascimento como membros completos da famQia não f6nnula que a famfiia tinha revelado previamente, a da sexualidade. Quando
e&tava em questão, mas sua posição no supra-sistema ter&peutico não estave eu perguntei-lhe sobre arranjar uma esposa e ele respondeu com a idéia de
clara. ter al8':1ns rapazes mudando-se para lá, eu respondi automaticamente. o co-
m~ntário sobre um anúncio num jornal homossexual foi reflexo, e não pla-
Carl: Eu não sei como incluir voe! nisto, Mike. Eles fizeram? neJado.
O

122 Dançando com a famllla


123
Tendo feito este esforço e acreditando que Mike estava ao menos mi-
nunamcnte envolvido, eu voltei-me para Gail. Estand~ a par de seu pape] na
- A chegada de Gail permite que este assunto SCJB · mata
· pungcntemente
família como O bode expiatório designado, eu me movi a fim de desafiar este enfatizado. S~u me~o de ser uma pessoa está claro, e toda 8 famOia tende 8
ve-Ia como d1sfunctonal. Através do meu enfrentamento aberto com ela, 88
papel. questões são mais claramente levantadas. Isto poderá forçar todos 08
bros da família a olhar para si mesmos mais honestamente. mem-
Carl: Vod sabe uma das coisas sobre as quais falamos, Gail, foi O quão
parasita a mãe é. Aparentemente, ela é uma doçura para todos 08 fa. Ao voltarmos ll sessão, este conflito continua.
mllia. Eu fiquei pensando se voce está tentando ser a doçura da flllllí-
Carl: Se você continuasse a usar fraldas, eu acho que 8 mãe estaria ótima
lia, para que ela oão tenha que se-lo?
Ela não teria que dar-se conta de que está ficando mais velha. Mas,
Gail: Eu alo sei se me encaixo no papel de doçura. Eu só quero ser eu
você alguma vez tentar ser uma pessoa, cm vez de um bebé para ela ...
mesma ... , não necessariamente como minha mãe.
Gail: Estou tentaoto ! Eu penso que é uma identidade que tem que vir com
Carl: Bem, ela alo tc:ve ocohuma chance de ser ela mesma, assim é melhor
os anos.
vod alo ser como ela! Carl: Esta é uma das coisas que me aborrece! Não diga que você está ten-
Gail: Bem, eu alio acho que sou como ela oeste sentido. Eu acho que sou
tando! Tentar oão ajuda! Só ajuda o que voce fizer. É como dizer que
eu mesma. Eu quero ser cu mesma. você está tentando ganhar dinheiro. Só importa se você conseguir.
Carl: Vod acha que há alguma chance de você conseguir isto?
Você pode ter que ser tão mesquinha quanto o diabo para conseguir
Gail: Espero que sim. isto. Você já aprendeu a ser mesquinha?
Carl: Isto alo é uma resposta! Não me faça de bobo! Você acha que háal-
guma chence? Meu ataque um tanto diretc ao seu pppel impessoal l bem real. Eu te•
Gail: Eu gostaria. nho medo de que eia sacrifique sua identidade para salvar afamO/a. Meu
Carl: Outra não-resposta! voce acha que conseguirá? questionamento tem como objetivo ajudd-ia a levar sua vida mais a slrw.
Gail: Sim. Isto poderd ajudd-ia a virar-se sozinha e não ser a doçura da famO/a
Carl: Você acha que sim? Isto é bom. Vai dar um trabalho dos diabos!

Aqui, Gail não está se comprometendo e está sendo evasiva. Eu a Gail: Esta é boa! Eu sou fundamentalmente boa demais para ser mesqui-
nha!
compeli a dar uma resposta definitiva, portanto abandonando sua postura
de não ser ning~m e assumindo uma posição pessoal. Isto, l claro, tam- Carl: É com isto que cu estou preocupado. É assim que a mãe é. Ela é boa
demais até para ganhar o céu. Eu não acho que eles conseguiriam
bmi tem a mãe como objetivo.
agüentá-Ia. Deus ficaria encabulado.
Gail: Ela é uma boa mulher.
Carl: Com quem você terá que lutar?
Carl: Isto é terrível! É uma ofensa! Ela devia envergonhar-se de si mesma.
Gail: Bem•.• eu oão tenho que lutar contra ninguém, oa verdade. Eu apenas
Significa que ela oão 6 uma pessoa, só uma coisa.
tenho que lidar comigo mesma. Eu tenho que aprender a fazer as coi-
sas por mim. Eu estou interessado em contaminar a crença de que ser uma vftima
Carl: Você sabe, eu não acredito nisto! Você terá que aprender a lutar com passiva l uma definição adequada de ser uma pessoa. Eu quero salientar o
eles se voce quiser ser uma pessoa, em vez da famOia Cristo! elemente desumanizante disto. Acima de tudo, minha intenção l que eles
vejam mais claramente o preço terrfvel que estão pagando.
Estou agora pressionando com mais força sobre o tema generalizado da
postura não pessoal da famOia. A liberdade e a coragem para lutar e desafiar Gail: Ela é uma pessoa.
um ao outro. Eu quero dar forma a isto e pressioná-los a adotar este estilo.
Talvez eles sejam capazes de arriscar.

Dançando com a famnla 125


124
huma evidencia disto. Tudo o que eu vi foi sua dor, seu Colocaria vidro mo(do em minha sopa?
,_,. Eu olo
e,,,,. v1 oen
·meato e seu vazio. Eu sequer ac red ,to
'
em sua h 1S,una
' .......,
sobre o D6rls: Talvez ela o afogasse na pia.
,olii Eu ho que ela fez algo a ele. Ela o fez levá-lo por aJ, então
ve)bo. ac . p Mike: Derrubaria água fervendo cm você.
. -• ";nan.!m e acusá-lo por isto. arece que você está fa
ela podena - ,~..,- . Carl: Ou banha fervendo!
zendo o mesmo. D6ris: Tem muito toucinho por a(.
(;ai/: Nlo. Eu nlo sou exatamente como ela.
Carl: voce é mais jovem, hein? A partir do esforço prlvio em tl!nlar nonnalizar impulsos assassinos,
eu estou tenJando fazer a famflia enfrenJd-/os no aqui e agora. Eu quero
(risoS) que reconheçam sua humanidade· Apesar da mãe nlJo responder direta-
menJe, os filhos felizmenJe participaram na fanJasia assassina. lst,o I um si-
Mai.< ""'°wz, o outro lado da moeda I revelado. O papel da mãe co- nal positivo.
mo vitima I agora retratado como sendo de sua pr6pria construção. O pa; 1
a,locado como seu c,1,np/ice. Ele estd ali para suportar o peso de suas acu- PergunJa: Carl, eu não entendo. Para que serve toda esta enfase cm violen-
sações para senJ)re. cia e impulsos assassinos? Pior ainda, por que você pediu para a
mãe falar sobre a forma que ela pensaria para matá-lo? Isto pare-
Carl: Alguma vez você fica mesquinha lá por dentro? Você sabe, como se ce loucura!
você qui~e matar toda a gang? Carl: Bem, deixe-me ir um passo além. Nós falamos anteriormente da
sexualidade e de como se poderia exp~la, transformando assim
suas fantasias interiores em algo menos ameaçador. Isto é a mes-
(pausa) ma coisa. A dnica coisa no mundo mais importante do que sexo é
a morte! E nós todos somos, potencialmente, suicidas e homici-
Uma das minhas filhas, quando ela tinha 10 anos, acordou uma
das. Como Camus (1955) colocou de forma tão bonita: "Você
noite chorando. Ela disse que ela tinha tido um sonho ruim e tinha
não pode se fazer nenhuma outra questão ali! que você tenha de-
que matar a família inteira. cidido se vale a pena viver. "
Gail: Isto soa como um pesadelo! Portanto, eu pensei nisto •.• Gail indicou de forma muito bo-
Carl: Bem, foi um pesadelo. Ela nunca mais lembrou disto. Eu sim, porque
nita como deixou de ser uma pessoa. Ela fez isto para que a ar-
estava preocupado que ela atirasse em mim no dia seguinte.
trite da mãe não piorasse, para evitar que ela enfrentasse o fato
Você tem que aprender a ser assassina! Você tem que poder sen•
de estar ficando velha, para evitar que ela se sentisse muito mal
tir como se matasse as pessoas dentro de você, para aprender a ser
sobre o seu casamento, etc. Eu estou acusando-a de estar desper•
uma pessoa. De outro modo, você acabará sendo um parasita. A mãe
diçando sua vida! De expressar seu amor de uma forma que não
nunca teve sequer a coragem de querer matar alguém, a não ser que
precisa ser necessariamente assim. Estou dizendo que ela não
seja eu.
precisa permanecer nas fraldas. Que a dnica forma de vencer isto
Se você fosse me matar, como você o faria?
f aprender a ser perigosa, a ser violenta, a ser mesquinha, a ser
assassina!
(risos)
Agora, você só pode ir longe assim no absurdo e na provoca-
ção. Daí, eu me volto para a mãe, porque acho que Gail poderia
Ao compartilhar um fragmenlO de minha própria vida com respeito
aprender a ser mesquinha apenas se a mãe o fosse. Ali! agora, a
aos impulsos assassinos manifest,os em um sonho, eu est,ou tornando nonnal
mãe não teve coragem suficiente para ~-lo. Assim, eu ofereço-
a existLncia de tais impulsos. Se eles oco"em em minha vida, I claro que
lhe a possibilidade de odiar-me, porque eu sou impessoal. Eu
eles são nonnais. Talvez ist,o os libere para tambbn serem mais reais.

126 Dançando com• famllla 127


pergunto como ela me mataria se ela decidisse faz.e-lo? M_anter o conjunto ~e qua~ almofadas e'." forma de bastão. Esta idéia surgiu a partir
"se" toma possível para ela fantasiar . Estou se~ndo o mcons- de minha mteraçao com a famfiia. Não foi premeditada. Eu voltei alguns mi-
ciente, como eu, às vezes. o chamo. Eu colc:ico ~01 ~ qu~ slio ri- nutos depois com estas quatro almofadas, duas vermelhas e duas azuis.
dículas, mas que podem formar uma expenênc1a s1mbóhca, que
mais tarde toma-se criticamente significante. Talvez, então, ela Carl: Você prefere as azuis ou as vermelhas?
possa falar sobre me matar. . . . Gail: Eu prefiro as vermelhas.
Pergunta: Mas isto não é perigoso? Não é pengos~ encoraJá-la a fantasiar Carl: Eu vou dar ao velho esta aqui. Está meio rebentada, como as coisas
sobre algo que ela possa sentir-se compelida a atuar? do velho podem estar.
Carl: Pelo contrário! Não é falar que toma isto perigoso. Falar sobre
sexo não O toma perigoso. É fingir que ele não é importante que (risos)
é perigoso. É dizer para a sua filha "Eu es~ro que ~':cê tenha
uma noite maravilhosa hoje. Eu te esperarei acordada , em vez Novamente, ajam/lia reag iu à conotação sexual.
de dizer "Não esqueça! Assim que você sai de casa, é sua res-
ponsabilidade se você engravidar ou não, n~ minha". . Carl: Você quer uma? E você? Eu tenho apenas quatro. Ocorreu-me que
voce enfrenta a realidade na sua fantasia e, então, esvazia a talvez vocês possam fingir que estão fazendo coisas suaves enquanto
realidade de sua vida. Você não pode fazer de conta que nada batem uns nos outros na cabeça com estas almofadas macias que não
está ali! Nós somos todos assassinos! machucam de verdade.
(Os membros da família est&> segurando as almofadas-bastão,
*** mas parecem relutantes em usá-las).
Vocês podem bater com força e ainda assim olio machuca.
Como foi discutido antes, a universalidade do mundo impulsivo é wna
realidade psicológica que é, de alguma forma, desvalorizada e freqilente- Em resposta à sua dificuldade real de serem abertos com sua raiva, eu
mente ignorada! Talvez a melhor forma de redescobri-la e tomar reconheci- mudei de tdlica. Eu estava me sentindo bloqueado ao nfvel do confronto
do seu poder seja olhar para dentro de nós mesmos. Olhar nossos clientes de verbal e esperava que a introdução das aúno/adas-bastão encorajaria mais
um ponto de vista superior é muito distanciado. Se os impulsos homicidas überdade .
são fenemeno universal - e eu acredito que eles o sejam - então devemos ser
capazes de encontrá-los dentro de nós. Qual é o significado de não os en- (A mãe se bate levemente com a almofada, e Maria também).
contrarmos? Isto prova que eles realmente não existem? Ou indica que eles Vanessa: É típico da mamãe atingir-se com isto.
existem apenas em algumas pessoas, isto é, nossos pacientes doentes? Ou Carl: É a mesma coisa que a Maria fez.
poderia ser que não ousamos olhar tão profundamente? Maria: Eu estava apenas testando.
É loucura pensar que você possa trabalhar com uma famfiia e seu mun- Carl: Você estava apenas testando? Eu pensei ontem que voce tinha as
do impulsivo se você não pode ter acesso ao seu próprio. É pior que loucura! melhores chances de desenvolver-se num ser humano. Você não
É perigoso para todos eles! Por um longo tempo, eu costumava carregar co- me parece muito boazinha.
núgo uma lista de seis pessoas que eu queria que morressem Então. à medi- Maria: Isto é o que me dizem.
da que eles momam, um a um, a lista encolheu. Eu acho que é hora de fazer Carl: Bata-lhe na cabeça e veja como funciona.
uma nova lista! (0 pai, então, suavemente bate na mie e ela revida. Ela bate
Embora o diálogo anterior com a famllia estava claramente endereçado repetidamente na cabeça dele, enquanto ele baixa os braços e sim-
a uma área crucial, eu fiquei frustrado de não poder mais completamente plesmente deixa-se atingir.
ajudá-los a ter acesso ao 6dio subjacente. Repentinamente, uma associação Durante toda esta parte, os filhos estão gritando e rindo deli-
apareceu em minha cabeça. Eu dei um pulo e deixei a sala em busca de um ciosamente ansiosos). Mais forte! Mais forte! Mais forte!

128 Dançando com• famRle 129


Quando a mãe aqueceu-se, ela se transformou de uma mulher enco- lentas. São os bons rapazes que são perigosos. Há, também, é cla-
lhida e derrotada em um ser humano ativo, agressivo e com força. As al- ro, os criminosos. Não estou falando sobre eles. Mas as pessoas
mofadas serviram tanto para intensifrcar como para libertar sua agressão comuns têm tanto medo de suas próprias fantasias que se você
interior. pode ajudá-las a tê-las de uma forma justificável, e não aterrori-
A parte melhor deste inJercâmbio i a qualidade ftctfcia disto. En- zante, então elas não têm que se preocupar com seu comporta-
quanto ela atingia o pai, a almofada-bastão era tanto um "faz-de-conta", mento. É também minha experiência. Tenho feito isto por um
quanto um bastão de beisebol real. Afinal de conras, l apenas ficção! Não t longo, longo tempo e nunca tive repercussões realmente ruins.
não, t real! Éjicçáo! É real! Jogo! Realidade! Pergunta: Mas, qual é a mensagem com que a mãe fica enquanto ela está
A mãe e a famtua toda estão aprendendo algo sobre seus sentimenlos. batendo em seu marido? Será que ela pensa que isto é uma brin-
Eles estão tendo a experiência de que seus impulsos assassinos não têm que cadeira, ou ela pensa que está realmente matando-o?
necessariamente resultar em assassinato. Com este tipo de conhecinU!nto, Carl: Ambos! Ambos! Ela está expcrienciando a fantasia de estardes-
eles podem f,car livres para expressar seus sentimentos. truindo-o, mas nada está acontecendo de tão perigoso. Ela está
tendo a expressão emocional disto. É um tipo de psicodrama, se
você quer. É uma forma de encenar o perigo, porque você se
Carl: Ele não é um cachorrinho de estimação. Você tem que fazer melhor sente perigoso sem o ser.
Pergunta: E você não se preocupa que, quando ela volte para casa, ela
do qt•e isto.
Mãe: Agora você me atingiu.
substituirá a almofada-bastão pela machadinha?
(risos) Carl: Não. Certamente que não. Eu penso de outra forma. Eu penso que
Carl: Ela é mais parasita do que ele. é bem possível que a artrite seja uma forma de não usar o macha-
(O pai tira os óculos) do. As almofadas são uma melhor maneira de não usar o macha-
Carl: Agora, sem os óculos, você poderá fazer um bom serviço nele. Agora do.
você pode bater-lhe no rosto!
Mãe: Com isto! Não! Isto o machucaria. * ••
Carl: Não. Seria bom para ele. Seu nariz é muito grande de qualquer jeito.
Com a continuação da sessão, a famOia estava incitando Gail a usar as
À medida que a mãe começa a retrair-se da surpreendente liberaçáo almofadas no pai. Ela resistia a este encorajamento. Vanessa, então, comen-
de agressão e raiva, ela tenta recuar do que acabou de transpirar. Eu que- tou que queria ver Gail ficar realmente com raiva alguma vez. Gail respon-
ro que ela saiba que eu o vi e senti que isto era importante. Muito impor- deu que, às vezes, ficava muito furiosa com Vanessa. Ela acrescentou que
tante para agir como se nada tivesse aconJecido. Ao sugerir que ela poderia estava, no momento, zangada com ela porque estava deixando a famflia ime-
ser mais dura e mais impiedosa, eu esperava eliminar o tipo de culpa que diatamente após a sessão, para viajar para Nova York. Ela achava que, como
leva aos encobrimentos e negações. a famfiia raramente reunia-se entre todos, estarem juntos deveria ser uma
prioridade maior.
No meio desta discussão, o pai saiu-se com uma pergunta sobre as al-
*** mofadas-bastão.
Pergunta: E sobre esta cena com as almofadas-bastão? Parcce perigoso! Pa-
Pai: Há algum jogo que você jogue com isto?
rece arriscado estimular as pessoas a atuarem este tipo de impul-
sos no mundo real. Carl: Sim. Igual ao que que vocês dois estavam jogando.
Pai: Quem é o vencedor?
Carl: Não é verdade. É completamente ao contrário. São as pessoas que
Carl? O que bate mais forte. O que desistir primeiro é o perdedor.
não têm oportunidade de atuar sua violência que se tornam vio-
Dóris: Vamos lá, Gail!

130 Dançando com a fam11ia 131


Mãe : Será que todas as famfiias precisam ter um bode expiatório? . .
~ : Ten~, Gail! . Carl: Se o estresse é muito grande. Se há um casamento de conveniê ncia
eu nlo se1. e se a mãe e o pai não estão se relacionando bem um com o outro.
Gai/: Bcn>, • ~-
V_ ........ Eu jOl!art''. c001 ievantarlllD, c om Vanessa batendo de fonna nonnai Então, eles colocam os filhos no meio para ter algum conforto de-
(As duas inn&s les. E isto, freqüentemente, acaba com uma vítima.
e Gail mal toeando-ll)-
. GaiJ ma) me tocaodO.
V..,,.......,.
c;oil · Ni<> bala mui
·10 fotte . (silêncio)

·. Voe! olo é frigil.


V.-.s>"' (Enquanto Vanessa atinge Gail e Gail defende-se fracamente, 8 Vanessa: Então é assim que a Gail ficou louca?
Carl: Claro. Ao ser eleita.

GaiJ · r~;: aclama • ação).
tem que se sentar aí aclamando? Vanessa: E se nós não quisermos elegê-la mais?
1)6ri.s:. 0
que vod quer que a gente faça? Carl: Eu acho que vocês terão que votar novamente. Não é fácil troc8J
de presidente uma vez que ele esteja no cargo. Eles faz.em tantas
vane.s:,a: Isto foi engraçado.
coisas pelos outros. Como deixar que batam neles sem revidar.
lha agora completada, a famfiia sentou-se de volta
Com a scgu od a b a ta Eles precisam ter claro a quantidade de trabalho que a tran.s:formação
sofis. Gail iniciou a discussão.
005 exige. Não é fácil.
Gail · Eu fico mesmo com raiva, às vezes.
Mlir; TodoS ficamos. Eu fico furiosa com vo:::ê, às vez.es. •
Como estamos chegando ao fim desta experiência de três dias, eu lhes
dou a oportunidade de expressar algumas idéias finais.
Gail · É tudo a forma como lidamos com a raiva e com nossas emoçoes.
ear~- Que droga de conversa! Por que vocês não falam diretamente em vc,
deste lixo social? Digam o que querem diz.er! Tudo o que eu ouço t Carl: Há alguma pergunta que vocês queiram fazer antes de terminarmos?
Van : Uma coisa que eu notei nestas sessões, é que há um bocado de tristo-
cstJl conversa tipo sallde mental!
za, um bocado de lágrimas na famOia. Eu sinto como se o pai estives-
se querendo morrer. Às vez.es, eu fico preocupada que Maria beba
(Silhtcio)
tanto. Assim, como, algumas vez.es, a gente corre muito de carro e se
Mais JlntJ .,.,,z, estou tentando retird-/a da posição de pacienu ou sente auto-destrotivo. Às vezes, eu não sei onde você está, Gail. Eu
d,xrru e DICL}l"ajd-/a a ser mais real. acho que você desistiu. Eu acho, Dóris e Mike, que vocês não desisti-
ram ainda. Vocês estão lutando. Vocês são muito estáveis. Às vezes,
Carl : Quem você pensa que será o próximo Cristo na fam11ia, se você dcci• eu sinto uma onda de depressão e um ar realmente mórbido na famí-
dir abandonar esta posição? lia.
Gail: O próximo Cristo? Mãe: A vida sempre foi muito dura.
Carl: Quem ficará louco agora se você se decidir a virar normal? Carl: A vida é muito dura.
Gail: V ane,;sa. Mãe : É mesmo.
Carl: Eu não sei. Ela pode ser muito tola. Não sei se não seria Maria ou Carl: Mas não há nenhuma razão para que vocl!s não possam ...
Dóris. Mãe : •.• ter um pouco de humor. Eu tentei colocar um pouco de humor
Se você decide superar a loucura, alguém mais precisará sê-lo. nisto tudo. Toda vez que eu fiz isto, o pai cortou.
Carl: Então, voei! finalmente desistiu, ap6s dois anos de casamento.
Aqui estou pressionando a uMia que eles estão, de fato, intercon«ll1· Mãe: Não, cu continuei tentando.
dos. Qu<e a f amQia funciona como unidade interativa, com todos os paplis Carl: Você tem alguma pergunta, Mike.
disponfvei.s para todbs.
Dançando com a famllia 133
132
Nada mais,
Mike: Não,
Carl: Gail?
Gail: Não,
Carl: [)áris?
. Não realmente.
Oóns: •
Carl: Maria?
Maria: Não.
Mãe: Não.
Carl: Pai?
Pai: Não.
Carl: Eu gostei de tê-los aqui e de ter a chance de conhecê-los. Eu sempre
pensarei em vocês.

0 processo de terminação com uma família é parte integral do Processo


terapêutico. um componente cro~ial em como eles vêe~ e integram a tera.
pia em sua atual experiência de vida. Com~ qualquer pai, no ~apel de tera-
peuta enquanto pai adotivo, estou tanto tnste em vê-los partir como feliz
deles serem capazes de aventurarem-se. Uma das dificuldades de trabalhar com famflias reside na tentativa de
Eu quero transmitir uma mensagem de preocupação, cuidado e interes- determinar o que é saudável e o que não é. Como nós podemos diferenciar
se, embora não sugira, de forma alguma, que discordo com a escolha deles uma famflia que funciona em escala "normal" e outra imersa na "patolo-
de terminar. Eles precisam saber que eu tenho uma certa confiança neles. gia?" Não existe nenhum critério universalmente reconhecido, mas todos nós
Eles podem enfrentar o mundo por si mesmos. Eu também quero que eles temos algumas noções que guiam nosso pensamento.
saibam que, embora não vá retê-los, eu também estou disponível, se eles, a). Talvez a forma mais válida de entrar nestas águas lodosas é considerar
guma vez, decidirem voltar. nosso próprio critério pessoal. Nós todos. fazemos este tipo de julgamento
Este tipo de finalização deixa a responsabilidade por viver onde é O seu sobre os outros o tempo todo. Nenhuma dose de pensamento cientffico, neu-
lugar, bem nas suas mãos, de forma coletiva. Eles precisam dirigir seu pró- tralidade clínica ou abertura pessoal pode realmente desfazer este fenômeno
prio navio. Eles, é claro, podem sempre chamar quando quiserem recomeçar. naturalmente humano. Apesar de nossa história educacional e treinamento
Eu quero que eles saibam que vou estar disponível para eles. profissional, os referenciais que automaticamente aplicamos refletem nossa
Como com todos os outros, quando eles se vão eu me sinto abandona- própria constelação de perspectivas pessoais, preconceitos e distorções. Nós
do. Ter um grupo profissional de apoio é a melhor forma que eu conheço pa- podemos ver os outros apenas através dos olhos de nossa própria experiên-
ra relaxar e manter esperança no futuro. cia.
Quando eu começo com uma famflia, é mais freqüente para mim come-
çar com o pai. Ao fazer isto, eu naturalmente o comparo com meus modelos
intemalizados sobre o que um pai é e o que ele faz. Este composto é alta-
mente auto-reflexivo, moderadamente ligado ti minha visão de meu próprio
pai e levemente relacionado a outras figuras "paternas" que encontrei. Este
novo pai sob o microscópio recebe boas notas pelas coisas que eu gosto em
mim, no meu pai e nas figuras paternas acessórias que eu intemalizei.
Similarmente, más notas se acumulam, da mesma forma, do lado oposto do

134 Dançando com a fllmflla 135


_..,_.,, instintiva tamb6n ocorre com respeito à tnlc
eapecao, E1D a......,.-
e pai 01 filhos, u
• a tcl1-
suas rclaçõcs mdtuas, as relações entre .
Um dos componentes básicos na estrutura de famllias cm bom funcio-
ç1o eoue ailc_ ' diante. Este tipo de sistema de avaliação pefSOn Pllls namento é uma c lara separação de gerações. claro que os pais e os lilhoa
.,,..,,. e asam par 'nfl ._ 1 a11 lido não são iguais em termos de autoridade e responsabilidade. Os pais são a es-
e ,,......, ceoUO de iodoS 05 julgamentos e I ua,c as que cu faço sobre
esd 00 . ......,. narurahJlenlle, cu encaixo o grupo que encontro no ,_,._ pinha dorsal da famOia, com as crianças obtendo sua sensação de segurança
-r--- ..,_..v:. . - que cu (lcsenvo1v1. nos _., . -......,lo
1"IJlGPCs,011 --u- ... --
_ L,.
wbmos anos.
.
um .....,,..._oc.n realmente planeJado ou consciente Sunp
1
. . ' 1 .
a partir da liderança e da solidariedade parentais. Mas uma saudável separa-
ção de gerações não deve ser confundida com uma estrutura hierárquica rígi-
_ 1 n.•• ...t.~ • mie diz algo que provoca uma lembrança d . da. Não se esUI pregando a idéia de que os pais exerçam uma dominação so-
mente aoon~ ~~ _
_._ eu automaticamente suponho que ela quer dizer O .,,._
e nu- bre os ftlhos, mas, em vez disso, a idéia de que a força provê seb'llrança e
nha .,...,....• "-'• . . _ ··=rno proteção. É mais um fenômeno subjacente. Sua força é sentida, mas nem
_,_,. __ ..., dizia. Pode ter muito pouco a ver com a mtençao desta mãe
que--~ . ,OU o sempre expressa abertamente.
modo como • família O interpreta. . mas eu a ouço da úmca _ forma
. que posso. 0 Numa fwnOia saudável, a força dos pais opera de forma encoberta. Já
faln de que eu esteja consciente deste processo, nao o mterrompe. To-
que sua força está clara, eles não têm que continuwnente prová-la, seja para
dos o65 fazctmS tranSfer!ncias recíprocas o tempo todo. Eu só posso expc..
os filhos, seja para si mesmos. Eles criam uma abertura com relação à brin-
rienciar O outro atra~ do meu "eu" que conheço. Talvez a vantagem de, ao
cadeira, a experimentação e troca de papéis. A família pode viver numa
menos isto claro que eu aprendi a não forçar você a ser eu. Eu certa- estrotura "como se", através da qual todos são livres para trocar de papéis e
mede nio gostaria que você tentasse me transformar em você, portanto eu funções, dentro de wna estrutura com sólida segurança.
IClllll da mesma forma, de antemão. Você não tem que experien- Por exemplo, o pai está suficientemente seguro de que ele não prec isa
àar O tmDdo da mesma fonna que eu para eu considerá-lo "são".
vencer todas as lutas de poder com seu filho de 4 anos . Ele não tem que
manter um padrão rígido de vida para sentir que ele é a pessoa que está
realmente no comando. Ele pode deixar o pequeno Johnny brincar de papai e
A rida familiar tentar cortar a carne na mesa de jantar. O pai pode até ser capaz de entrar na
situação o suficiente para aluar no papel de Johnny e resmungar sobre as
'..( Apear da universalidade deste fator pessoal, há um m1mcro de formas verduras ou reclamar sobre o arroz integral. Pelo seu lado. a mãe pode per-
" significativas de olhar e falar sobre as famílias. Em primeiro lugar, uma fa. mitir que sua filha de 8 anos lhe faça uma massagem nas costas quando ela
ma. saud'vcl dinâmica, não estática. Está em contínuo processo de evolu- sente-se muito cansada, ou que ela dobre a roupa lavada, mesmo que ela não
çio e mxl.ança. Saóde E um estado pe~o de "vir a ser". Você nunca o faça perfeitamente. Ela pode permitir ao seu filho a flexibilidade de esco-
a:almeote "chega lá" ou termina a jornada. Portanto, uma família saudável~ lher quando ele arrumará o seu quarto, sem tomar-se rígida. As crianças es-
um li5lmJa em movimento. Pode-se dar uma olhada num quadro do tipo tão livres para tratar a mãe de forma especial, às vezes, sem que o pai fique
a>ngclado, ou avaliar uma imagem transeccional, mas você precisa ter uma ciumento. Eles podem fazer algo agradável para o pai , sem que a mãe sinta-
id6a da famfiia em movimento no tempo para realmente conhec8-la. Em se com ciúmes. Este tipo de fle xibilidade de papéis não corrói uma estrutura
momento do tempo, o quadro que você apreende pode distorcer a sólida, só a fortifica.
'\. ialidadc. Uma fam{)ia saudável pode viver com triângulos cambiantes e coali-
"'- Quando nds começamos a olhar para uma fam.fiia em movimento, nos zões flutuantes, sem dar margem à insegurança e ao ci6me. De fato, ter a li-
damos conta de que a dança não aleatória. Como qualquer outta organiza- berdade de experienciar todas as possíveis combinações triangulares e per-
çio IOcial, b.6 regras, polfticas e padrões. As regras estão tipicamente enco- mutações ê uma experiência enriquecedora. Ser livre para formar uma equi-
bcltas e dcsaticuladu, freq0entcmente sequer conscientes, mas, apesar dis- pe, daí desengajar-sc e trocar de parceiros, é vital para o estabelecimento de
1>, slo potenles. Em famllias sadias, estas regras servem de guias e estão a fronteiras sadias. Isto twnbêm inclui a necessidade de separar-se realmente,
!el'Viço dos caforços de ctescimento. Em famfiias patológicas, de sair e de ser um indivíduo sem sentir-se culpado de deixar a fam{)ia.
uudaa para inibir a m nter o status quo. apenas quando você é livre para não pertencer, que juntar-se a alguém tem

1315 Dançando com a fsmflls 137


rJ
algum sentido. O agrupamento é então claramente volitivo, uma questão de podem olhar para o futuro e falar sobre a próxima geração, sem medo de que
escolha e não de obrigação. isto leve para longe do presente. Todos estes intercâmbios familiares são
Este tipo de esttutura oferece a cada membro da fam0ia a expenência vistos corno sendo parte de urna cultura familiar sempre emergente.
de ser parte de um todo seguro e acolhedor, enquanto, _ao mesmo temPO, Finalmente, a famOia saudável é um organismo social aberto, em vez
encoraja a independência e a auto-expressão. A sohdanedade que emerge de fechado. Não-membros são incorporados, em vez de excluídos da vida
então é real, porque é livremente escolhida. Cada pessoa é livre para partir e, familiar. Amigos, vizinhos, etc., podem entrar no espaço familiar, serem
então, voltar a reunir-se, separar-se novamente e retomar ad infinitwn . Estas aceitas e aproveitados, não sendo vistos corno suspeitos. Qualquer membro
capacidades crescem em sincronia, elas não são conce itos antagónicos. Sob da famOia sente-se livre para trazer amigos para a farnOia, sem medo que ele
estas condições, um certo sentido de lealdade à família ou de nacionalismo seja rejeitado.
surge. Eles tendem a querer estar juntos. Ao querer estar junto com os ou- Ao falannos sobre famílias, é importante ter em mente que nós estamos
tros, cada membro sente-se mai s total, mais completo. mais ligados pelas similaridades do que separados pelas diferenças. Que to-
Quando urna família saudável percorre o ciclo vital, ela está livre para dos os caminhos ou mecanismos que consideramos patológicos e, portanto,
mudar, adaptar-se e crescer sem medo e apreensão. Novas circunstâncias re- indicadores de farnOias não saudáveis são encontrados, também, em todas as
presentam urna oportunidade, e não uma ameaça. Os conflitos inevitáveis e famílias "normais" .A diferença está na intensidade, tigidez e no momento de
os problemas que surgem são tratados de forma que eles não percam de aparecimento destes problemas.
vista seu amor e seus cuidados subjacentes. Em momentos diferentes, em si- Quando você vê urna famOia ao longo do tempo, seu comportwnento
tuações diferentes, diferentes membros da famllia vão acabar no papel de não só torna-se mais inteligível, mas tipicamente, faz mais sentido. A inter-
bode expiatório. Esta capacidade de ter e aceitar bodes expiatórios rotativos conexão massiva de seus membros, com cada ação sendo tanto um estímulo
é mais sadia do que viver estetilmente, esperando que nenhum bode expiató- como uma resposta, mantém todo o sistema movendo-se de forma interna-
tio emerja. Ser um bode expiatório só é devastador quando o papel torna-se mente consistente.
fixo e rígido. As famflias que vivem em um mundo senú-f6bico de tentar
evitar toda patologia tornam-se vítima dela.
Talvez um dos pontos altos de uma famfiia saudável é a capacidade de Casamento
usar as ctises para provocar o crescimento, em vez de permitir que o que-
brem. O conflito devetia ser corretamente considerado como fertilizador da Ao falar sobre a família, é importante reservar alguns momentos para
vida. Embora nem sempre flagrante, ele é crucial para um crescimento ótimo. enfocar especificamente o alicerce da famOia, o casamento.
Outro indicador de sallde familiar é o espaço para a intimidade do Um casamento saudável realmente é uma mistura de duas culturas es-
amor, bem como para o transtorno do 6dio. Todos estão livres para se enga- trangeiras. É um esforço para fundir estas duas culturas em uma cultura no-
jarem numa troca intensa, com base no amor tanto quanto no ódio. Questões va, que é ao mesmo tempo similar e distinta de cada um dos clãs contribuin-
mobilizadoras como sexualidade, religião, criar os filhos, çtc., podem se! tes. Eu, freqüentemente, descrevo a política trans-geracional como duas fa-
discutidos sem ameaçar a continuidade e a coesão da unidade. O centro é mílias enviando bodes expiatórios para se reproduzirem. A vida é, então vi-
sólido o suficiente, não apenas para suportá-los, mas também, para crescer a vida para ver quem vence. A verdadeira chave para evitar este tipo de con-
partir de tais encontros. corrência ridícula é alcançar um nível transcendente de vida. Não é aceitável
Há, também, liberdade para reconhecer e incorporar a unidade familiar reproduzir uma família ou a outra. Todos perdem sob estas condições. Um
tri ou tetrageracional. Os pais podem enfocar os bons e velhos tempos, casal novo precisa diferenciar-se claramente de cada família de origem, em-
mantendo o interesse dos filhos. As crianças podem estar envolvidas com bora permaneça conhecedor dos aspectos de cada uma que valem a pena ser
preservados,
seus avós, ~em se envolverem numa triangulação patológica com os pais. A
geração mais velha pode engajar-se com a geração mais jovem, sem escon- isto não acontece magicamente, nem mesmo pela troca dos votos de ca-
samento. Toda a conspiração do "viver felizes para sempre" que trata o ca-
der-se atrás de uma exigência distanciadora por "respeito" impessoal. Todos
samento como o ponto final, em vez do início, é terrivelmente destrutiva.

138 Dançando com a famf/la 139


J
. b os parceiros antecipando um amor e urna satisfação espon••
Deixa am os . . ..,.
. . tíveis ao mesmo tempo que ignoram a realidade da necessid d
ocos e arres1s , . a e A noção de compromisso no casamento é também crucial, mas tipica-
. relação mais madura. Quanto mais cedo você ficar livre do m· mente pouco compreendida. O dito "até que a morte os separe" não deve ser
de cnar uma 110
do casal perfeito ou do casal feito no céu, mais cedo você poderá trabalhar percebido como uma sentença perpétua sem liberdade condicional. O com-
pela intimidade. promisso realmente procura assegurar que há uma concordância sobre tentar
0 que acontece que toma o casamento tão especial? Tão especial que, crescer juntos, comunicar-se mais honestamente e pôr as necessidades de seu
sar de todos os conflitos e problemas, persiste como uma instituição tão cônjuge quase em pé de igualdade com as suas. A idéia de compromisso tem
:.avilhosamente popular? Freqüentemente, ele inicia com a crença ilusória a intenção de abortar o impulso de romper e fugir ao primeiro sinal de desi-
de você tomar-se um todo, ou ser satisfeito em todas as suas necessidades, lusão.
mas raramente permanece neste nível. A promessa de euforia rapidamente Todos os casamentos saudáveis expcrienciam literabncnte dezenas de
esbarra na realidade da vida do dia-a-dia. Para ser capaz de elevar-se acima divórcios emocionais no curso dos anos. Eles podem durar três minutos, três
da vida do dia-a-dia, você precisa ir além do "ele" e do "ela" e procurar horas ou três dias, mas o sentimento de pen:la pode ser absoluto. Para O casal
pelo "nós" que enriquece o casamento. Esta região do "nós" é o local de compromissado, estes períodos de separação emocional são dolorosos, mas
intersecção e de integração. Achar um equilíbrio que funcione é realmente 0 eles não chegam ao dese~pcro irreversível ou à falta de esperança. Eles re-
problema. têm um sentimento de conforto baseado na sua história de estarem capazes e
Incidentalmente, é a perda deste ••nós" que torna o divórcio tão de- dispostos a trabalhar e lutar produtivamente. Eles "sabem" que eles podem
vastador e a infidelidade tão destrutiva. O divórcio legahnente declara 0 sobreviver a este período doloroso.
"n6s" uma entidade extinta. Declara que o ambiente não mais existe. Embo- A capacidade de lidar com diferenças é um desenvolvimento que
ra possa ser um fato legal, eu não acredito que aconteça desta fomia no estabiliza e amplia muito a qualidade de um casamento. Quando as diferen-
mundo das realidades emocionais. Você pode nunca recuperar reabnente 0 ças são vistas como inerenternente ruins ou como algo a ser eliminado, elas
investimento emocional que você colocou em um cônjuge. Você certamente causam dissociação, evocam defesas e levam ao estranhamento. Porém,
pode escolher não viver com alguém, mas você não pode decretar que o que quando as diferenças podem ser vistas como representando oportunidades
aconteceu não aconteceu. Vocês permenecem parte um do outro para sem- para crescer, elas tomam-se valiosos. Nossas diferenças são o que aos per-
pre. O que toma os casos extra-conjugais tão desastrosos é não só que eles mitem expandir. A capacidade de realmente engajar-se cm um processo bi-
definen o "nós" atual como sendo muito pouco importantes, mas também lateral de contaminação ml1tua é central para uma relação dinâmica, cm vez
criam um "pseudern6s H.
de estática. Quando nos atritamos um com o outro, estamos nos enriquecen-
Os casos extra-conjugais parecem surgir em relacionamentos condena- do. Os passos envolvidos em chegar a usar as diferenças produtivamente le-
dos. O termo "beco sem sakla" parece apropriado aqui. Os cônjuges ficam, vam do reconhecimento à aceitação, ao respeito, à gratificação e, finalmente,
de fato, sentindo-se envelhecidos e a estagnação se instaura; eles notam, en- ao estimá-los como preciosidades.
tão, a morte e a solidão. A idéia de tentar encontrar novamente o tipo de
excitação que uma vez existiu é atraente. Embora a fantasia de troca fre-
Paternidade
qilentemente impulsiona em direção a um caso amoroso, em geral permanece
muito superficial. A fantasia de achar o par perfeito e ter prazer espontAnea-
Este tipo de crescimento como casal é também o que nos prepara para
mente é tentadora, mas ilusória. Intimidade exige trabalho. Emerge através
sermos pais bem sucedidos. A qualidade da relação marido-mulher é que é
do tempo, através dos conflitos vividos juntos e compartilhados. O casa-
acionada quando o casal faz a mudança para tomar-se mãe e pai. É o laço
mento ou cresce junto ou cresce separado. Não há mudanças neutras. Um ca-
afetivo entre mãe e pai que é crucial para a criança. Eles relacionam-se di-
so extra-conjugal pode servir para elevar o termostato e criar alguma intensi-
retamente com a qualidade dos cuidados e do amor entre seus pais. Seus
dade, mas O custo é tipicamente muito alto. O resíduo emocional nunca da- sentimentos de segurança ou de pânico é o reflexo da ligação emocional en-
saparccc totalmente.
tre seus pais. Não é a relação com a mãe que é central, ou sua relação com o
pai, mas sim sua relação com o relacionamento deles.
140
Dançando com a famflla 141
Inversamente, a incapacidade ~o marido e da mulhe~ estabelecerem urn
relacionamento antes de tomar-se mae e _Plll coloca o ambiente propício !>ara
infidelidade emocional e as tnangul açoes transgerac1onm s. Na falta de urn
3
relacionamento acolhedor entre o marido e a mulher, eles tomam-se facil-
mente sobrecarregados quando têm que enfrentar as exigências da paternida-
de. 0 casal que nunca eleborou seus conflitos sobre quem " vence" com re-
lação às atividades de fim de semana, tarefas de casa, as famílias de origem
que programa de televisão ver, etc., não tem esperança quando as criança~
entram neste quadro.
A ilusão de que ter um filho pennitirá uma relação estremecida se refa.
zer é perigosa. Tratar o bebê como um novo Cristo com a missão de salvar 0
casamento é ridículo. Tipicamente, tennina numa dissociação mais profunda
e cm mais desespero.
o processo de evolução de um casal para uma família contém um n~-
mero de mudanças predizíveis. A simbiose natural entre mãe-bebê torna-se 0
panto focal de afeto na família. Se o pai tem suficiente maturidade para ver
isto e não se enciumar, a fan10ia está livre para progredir. Quando o pai tor-
na-se muito ressentido, porém, ou zanga-se ou grita porque as suas nesseci-
dadcs sexuais adolescentes estão sendo infringidas, o verdadeiro problema Tentar avaliar o sucesso ou o fracasso da terapia de família é algo en-
começa. Se ele fala ruidosamente e enfurece-se, a mulher fica dividida entre ganador e ilusório. A questão óbvia de "a terapia foi um sucesso?" é fre-
a necessidade do bebê e a do seu marido. Se ele volta-se para outro lugar qücntemente muito perigosa: Perigosa, porque pressupõe critérios de comum
procurando proximidade, seja em sua carreira, ou no tênis ou na secretária, acordo para o sucesso. Critérios não s6 clinicamente válidos, mas, também,
sua esposa sente-se abandonada. Ela é deixada só com a responsabilidade da coofiavelmente medidos e coletados. Neste momento, nosso campo é mais
criança. Com a ampliação de sua distância, o padrão de afastar-se um do ou- arte do que ciência. Apesar desta condição, porém, cada um de nós precisa,
tro se estabelece. de alguma fontl8, lidar com a questão do que funciona e do que não funcio-
Quando a vida se desenvolve e o bebê se torna uma criança, a falta de na. Todos temos alguma idéia do que constirui sucesso e do que constirui
aproximação parental torna-se dolorosamente aparente! A mãe sente-se so- fracasso.
brecarregada em lidar com Johnny sozinha. Johnny pode sentir sua mãe co- É minha convicção que a terapia é um processo de esforço dirigido ao
mo muito restritiva e, portanto, se rebelará. Se o pai falha em tomar uma crescimento. Seu objetivo básico não é a eliminação dos sintomas' ou mudan-
atitude clara de apoio à mãe, Johnny sabe que esta é uma fonna encoberta de ças de primeira ordem. Nós precisamos ir além das idéias de referentes rcdu-
ajudá-lo. Ele pressiona com a segurança do conhecimento de que está agra- cionistas e comportamentais como reflexos adequados da "realidade". O
dando a seu pai. Novamente, o tema da proximidade parental é central. crescimento ou o ºsucesso" está mais relacionado ao processo de evolução
Outro tipo comum de dança é a mãe demasiado envolvida, tornar-se in- da famnia, à capacidade de seus membros serem genuinamente pessoais um
capaz de controlar sua filha. Eia então requisita o pai distante como o disci- com o outro. A idéia de "ensinar" habilidades de comunicação direta tam-
bém parece incorreta. Você não pode faze-10 suficientemente bem para criar
plinador. Quando ele relutantemente concorda, ele é percebido pela mãe co-
intimidade.
mo excessivamente duro e punitivo. Isto estimula a mãe a vir em defesa de
O processo de crescimento realmente começa com a coragem dos mem-
sua filha. E serve para enrijecer o ambiente patológico. O envolvimento ex-
bros da famllia de se arriscarem ser mais íntimos uns com os outros. É sua
cessivo entre a mãe e a filha aumenta, e a distância paterna é reforçada. vontade de iniciar a jornada, sem uma rota claramente mapeada, que é essen-
cial. O envolvimento do terapeuta com uma famllia não deve objetivar privá-

142 Dançando com• famllla 143


.
101 de ansiedade.
De
vc en focar a traosfonnação de. sua ansiedade ern aigo Embora eu tenha abandonado a tentativa de influenciar a forma de sua
dlil li o produtivo. Baixar a temperatura da famOia pod_c, às vczeo, evitar criaÇão, eu tenho algumas idéias bem definidas a respeito. Esta 6 a trajetória
ex '1os!cs, mas qualquer movimento prcmaruro que dunmua a inte?•id8de na qual cu os engajo.
mata a perspcctiva de crescimento real. Numa cultura de alienação Embora seja o meu processo interativo com eles que possa estimular o
crescente, um terapeuta Pr-isa
_, ser capaz de tolerar esforços envolvendo ris. crescimento, é o processo de evolução deles mesmos que consiste no cresci-
co e intensidade. d ·d ·fi mento. Por exemplo, ao provocar a mãe a respeito de martirizar-se, a auto-
Embora haja um certo atrativo cm ser cllP8'.' e • cnu tear mudanças em vitimização pode levá-la a considerar a mudança, mas não é o crescimento.
termos de comportamentos concretos, o crcsctmcnto é mws um proecsso o crescimento ocorre apenas quando ele inicia a jornada. Não 6 necessário
transcendente. A analogia do câmbio do cano vem à mente. ~oce ()Ode atin. que ela obtenha um sucesso completo. Talvez a coragem de tentar seja tudo
ir somente algumas coisas em primeira marcha. ~ua. v~loctdadc fina) e a 0 que 6 necessário. Conseguir ultrapassar o medo de tentar pode ser O sufi-
g .
extensão duma do fu nc1on
· amonto do motor são muito . hm1tados.
. . Voc! pode , ciente.
certamente, operar o veículo em primeira, mas é mutto 1nefic1~ntc e muito Mas novamente cu não estou interessado em como eles mudam ou se
resaito. Ao mudar para a segunda marcha no momento apropn_a~~• ~Ili, seguem um caminho particular. &tou mais interessado em agitar as coisas ao
você obtém melhor desempenho e abre um mwor _Ambtto de posstbthdades. ponto deles tomarem-se livres para começar. À medida que 88 pessoas tor-
assim que eu vejo as faoúlias. É minha função aJudá-los a .".'udar para outro nam-se mais livres para viver, isto é tipicamente detectado na qualidade de
nível de vida. Eu quero ajudá-los a ter acesso às suas habihdades e capaci- suas dinâmicas interpessoais. Há uma sensação de espontaneidade e abertu-
dades pouco utilizadas. . ra, uma capacidade para ser diferente e aceitar as diferenças sem pânico ou
Um componente essencial desta mudança é aJudá-lo~ a olhar além de terror. A necessidade de uma conformidade fwniliar completa é substituída
sua dor. Ajudá-los a reconhecer e apreciar o absurdo da ~•da. Eu quero que pelo prazer com as áreas de diferenças. A habilidade de rir de si e um com 0
eles aprenda,n não apenas a tolerar, mas também a aproveitar a ansiedade e a outro substitui a risa.da cínica do outro.
dor que toma,n a vida real. A escolha sempre consiste em aneste~iar-se ou É uma sensação de transccnd!ncia. Por mais que os acontecimentos e
cxpericnciar tanto a agonia quanto o praz.cr. Eu quero que eles SeJ&Dl capa- dilemas da realidade externa sejam, às vezes, morosos em mudar, a famOia
i.cs de considerar a experiência de viver, e não escolher automaticamente 8 os enfrenta com menos peso e menos temor. A sensação crescente de asso-
sedação. Voe! prefere enfrentar seu cônjuge ou esconder-se atrás do apare- ciação e liberdade serve como liberação do isolamento e da irrealidade que
lho de televisão? Tópicos difi:eis não podem ser evitados. A concordllocia os sobrecarregava.
cm esconder os assuntos reais tipicamente cria um ambiente de frieza e dis• Se Johnny ainda molha a cama, ou se a mãe ainda não consegue deci-
tância. dir-se pela nova carreira, não é o problema. Se o terapeuta deixa-se seduzir
Uma forma pela qual cu tento evitar a armadilha de tomar-me muito pelo modelo de mudança comportamental, ele toma-se seu empregado e será
interessado cm sua vida concreta é pennanecer centrado em minha própria controlado por suas ações. Embora eles podem concordar com alterações
experiência de vida. Mesmo na sala de terapia, eu tento manter-me no centro temporárias de comportamento, o terapeuta está, em dltima instância, à sua
de minha existência. Eu permaneço mais dedicado ao esforço de me expandir mercê. Quando eles fracassam cm fazer mudanças significativas, o terapeuta
e crescer do que em tentar esticar a família como um dever. Quando eu tento está de mãos amarradas. A dnica fonna de sair disto é declarar-se incapaz ou
esticá-los, eles tomam-se elásticos e facilmente retomam à sua forma origi- culpar a resistência deles.
nal, quando eu os deixo. Quando eles encarregam-se da tarefa de remodela- Meus esforços são de dirigi~-me inteiramente para fora desta confusão.
rem-se, as mudanças t!m uma chance de realmente acontecerem. Pane do ':través d_a manutenção de mim mesmo no centro de minha vida e na prote-
problema é que eu realmente não sei como dar-lhes uma forma. Meus csfor• çao de mmhas fronteiras, um processo paralelo pode ter início. Eles estabe-
ços de fazê-los tomar uma forma particular estão fadados a serem contorcio- lecem limites mais apropriados e tomam responsabilidade pela sua própria
nistas. Quando eles a guiwn, porém, a nova fonna será naturalmente mais vida, assim iniciando seu crescirrento.
agradável.

144
Dançando com a fam,7/a
145
Atendendo nov emente a famfila Gail: Ambos.
Carl: Bom, isto é melhor que um s6 de qualquer fonna.
sado desde a ses silo inicial, a famfiia
• voltou Para
Mãe : Sim,é.
Três anos tendo se pas Ao revisarmos esta sessao, mantenha um
sessão de acompanhamento. ·mcnto ou mudança que possam ter Carl : Às vezes, estas pcs80as querem casamento, e não sexo. Eu vi um
UDla . . ad O res de cresci 'd
t,e casal há poucos dias atrás, que estavam casados há um ano. Eles
olho • rto para os 10d1c , . marcada cm segui a a um telefo-
hamento ,01
•do A sessão de acompan . stava plancjando outra reunião · concordaram com o casamento, porque o marido disse que não
ocom • . ueafam1ae 0 haveria sexo.
nema de Vanessa, que d1s_se q nível para encontrá-los. _E u ac~itei pronta.
Maria : Oh, não diga!
EJ a pcrguntou se eu estana dispaveitosas noss
as visitaS antcnores Unham sido,
. . .
Carl: O que ficou claro é que ele queria dizer que estava OK ser casa-
mcote, lembrando-me quão 1
pro do acomp anhamcnto, Ga1l sohc1tou que fos-
fstica
Ao elaborarmos a og •moira parte fosse uma sessão tera. do, mas que ele ia ser homossexual. Não ficou muito bem.
EJ cria que a pn
se um coconll'O duplo. a dqu servir. apenas como acompanhamento do traba-
Esta história trabalha com a mudança dafigura-ft,ndo . É umafonna
~utica adicional, cm vez e
de jogar com o fato de que as pessoas vivem de vdrias ~iras. A abertura
lho pn!vio. . havia uma sensação de ansic_ciade e excitação,
Quando a famfüa chegou _ . f eis. Eles pareciam diferentes. O do didlogo I reveladora . Hd uma nova liberdade de participação ,
recnsao d,sccm v A
mas nenhum temor ou ap an!ncia era menos camponesa. . s roupas de
Carl: Vod já encontrou um novo namorado?
pai• tinha emagrecido e sua ap
'zadas menos extravagantes. Ga1l estava mais
Gail: Não! Eu não estou procurando por um homem.
V nessa cstavwn mais suavt ' aumento considerável de peso. A
a d lhos mais brilhantes, com um . Mãe : IÔ certo. Ela nem mesmo está procurando.
alerta e e O para sua artrite.
I s Carl: O que está errado com voce? Não procurar por um homem é ridí-
mãe usava ata.duras nos pu so , amos 8 sentinno-nos uns aos outros, Gail
culo.
Quando sentamos e começ tecimentos de sua vida desde os en-
a contar os acon . ã A. Gail: Bem, não agora. Eu estou saindo com amigos. Eu quero me juntar
avançou. Ela começou .d d arnaticarnentc sua rned1caç o . ma-
. Ela tinha reduzi o r . de 'd a um grupo religioso. Um grupo de solteiros da igreja!
coottOS antenores. . ue eram tão proeminentes unham saparc~, o. Maria: Solteiros que se trocam, na igreja.
tividadc e o afeto contido q . • vivia e estava morando sozmha.
Ela conseguira sair da insutu1çao cm que Carl: Certo! Alguns dos melhores namorados se conseguem na igreja.
bém trabalhando. E Minha primeira namorada cu consegui lá, e era do tipo enfadonha
Ela estava taro ó ·co de seus conflitos com os namorados. ra e velha. Estou feliz que não continuei com ela.
Gail então, trouxe o t p1 d uma filha total desta famfiia: ela, tam-
como se ela, agora, tivesse se toma o rados ! Ao acompanhannos a cooª Vanessa: Eu notei, Gail, que você andava procurando Maria e Ddris e que
d roblemas com os namo elas te deram um chcga-pra-lá. Eu também estava ficando irritada
bém, estava ten P °
versação, notem as mudanças em r
elação às sessões prévias.
oom você. Agora eu entendo isto, com a perda do namorado. E u
fico na pior quando eu termino com um namorado.

Carl: Voct dei xou seu namorado? ir com outra moça. Eu disse que
GaH: Ele me deixou. Ele começou a sa Esta I wna mudança boa. Vanessa responde espontaneamente de for-
ma a dar apoio, empaticamente . É (ntima, sem traços de cr(tica ou desa-
ele podia e ele fez. oisas também! Por exemplo, sexo e casamento provação.
Vanessa: Mas hav,'.11" outras c V ê não queira isto, então ele disse
corno coisas importantes. oc
Carl: Talvez vocês duas possam procurar algum, uma para a outra.
adeus. Vanessa: O que?
Mãe : Sim. ?
Maria: Ele pediu que você casasse com ele, certo . ?
Carl: Você sabe. Procurar uma para a outra. Ela vai lhe conseguir um
Carl: Ele queria um ou ambos? Casamento ou só sexo. namorado, e você conseguirá um para ela.
Vanessa: Bem, eu tenho um namorado agora.

Dançando com a famflla


146 147
. Ent!o voe! não necessita ajuda agora? Bem, voce poderia Dlanda, bre não saber a que lugar você pertence, eu tive a sensação que você
cor/. 1 de onde voce v,ve. Apesar de eu saber que ele - falava em suicídio. Você se sente suicida?
um par• e a, s nac
estJo !AO disponíveis por ld. voce pade mandar pelo correio. N11n.
A mãe, ao falar sobre não saber a que lugar pertence e sobre a suo
engradad 0 •
. . Com a cobrança na chegada. deprt!ssão com a artrite, deixou-me com a sensação de sua desesperanç o .
Mike- --• vai precisar o tamanho certo de engradado. Quando diretamente perguntada, ela foi capaz de deixar o fan1llia saber
l)dns· Mas V"'-~
· . voce ...vteni precisar encolhê-lo. quão mal ela se sentia. Como Mikt! e Dóris compartilharam sua preocupa-
cor/: 5 un. .,.,..
pío, a mãe sentiu-se mais livre para continuar.
Nou,-se aqui O ar de brincadeira. Todas parecem aproveitar a troea .
Eles aprenderam algo sobre brincar. Mãe : Bem ... , às vezes.
Carl: Você precisa telefonar p ara estes caras quando voe! se sente as-
Além de serem mais espontâneos com rela~ão a tó_picos de baixa e mo- sim e dizer: .. Digam-me cinco palavras bonitas ? ..
dersda intensidade, eles ampliar ~s tóp'.cos ma,s difíceis. Anterior- Mãe: Você quer dize r para o telefone do suicídio?
mente, famflia tendia a idenuficar_ o pai e Gall como aqueles com proble- Carl: Não! Ao inferno com o telefone do suicídio!
8
mas ..reais". Na parte que se segue, isto muda. _ (ri.,;o.,;)
Um dos indicadores de salfde de uma farnJha é a presença de bodes ex-
Carl; Sério! Quando você se sente sozinha ... , você sabe que não pode
. ~· rotativos em vez de fixos. É patológico tentar encapsular 8 dor de
p1atuJOS • faJar com o velho, ele fala com as vacas.
uxla família dentro da pele de um ou do_is de seus membros. A dor é pane
8 Você pode telefonar pra o bando e di ze r: .. Eu me sinto mal. E u
da vida, não é algo a ser evitado, A capacidade de enfrentar e aceitar a dor l
me sinto deprimida .. ?.
um elemento essencial da vida equilibrada. Todos os membros da famfiia
Mãe: Eu não sei. (c '1nrn.-.aJ.
estão autorizados a experienciar seus próprios sofrimentos e a ter a oportuni-
Vanessa: Você pode me telefonar, mãe .
dade de receber apoio dos outros.
Mãe: Eu acho que eu prefiro manter isto para mim mesma. Eu não quero
A capacidade de enfrentar, em vez de negar, a dor e fazê-lo na presen-
sobrecarregá-los com isto.
ça da famfiia revela uma abertura e urna sensação de confiança que torne 8
Carl: Isto é um monte de besteiras, por Deus. Você cuidou deles todos
vida mais pessoal e recompensadora. Aqui a conversação enfoca a mãe.
estes anos. Por que eles não podem cuidar de você ?
Se o pior acontecer, você pcxle chegar para o velho e ver se ele
Mãe: Eu odeio esta categoria de ser considerada inválida (pela artrite)! Mi-
pode lhe dar um abraço. Ele pode não saber como fazer isto, mas
nha irmã diz que eu deveria obter uma licença com uma cadeira de
você poderá investir nisto e tentar ensiná-lo. Ele até poderá gos-
rodas, para eu poder estacionar no lugar dos deficientes físicos.
tar .
Carl: Uma mãe desempregada.
Mãe: Sim. Eu não sei se eu quero estar nesta categoria, também! Às vezes, Aqui eu estou pressionando a mâ.t! a transformar seus impulsos suici-
eu não sei qual é o meu lugar! das. internos num assunto familia.r . Se t!ks tornam-se abertamenJe inkrpes-
Carl: Você sente muita dor?
.R::)(lis e envolvem toda afamflia, a t!sperança de mudança potú! crescer.
Mtie: Bem, claro. Se faço muita coisa. Especialmente em meus punhos e Talv~z nwn ~fvel mais bdsico, o suicfdio seja um esforço para fazer 0
seu organismo b1ol6gico f,car de acordo com O seu mundo emocional. A
pés.
crença de que ninguim reabnen1e se preocupa com voei i, enlão, a bal.a
Mike · Seus tornozelos estão muito mal.
para fazer o trabalho. Quando esta fantasia i expo.sta à realidad,, familiar
Dóris. ~cus tornozelos estão muito fracos. Ela distende um cada mês.
o isolamento pode acabar t! os relacionamenkJs reanimart!m-se. •
Mãe: Eu tenho muletas.
Carl: Você sabe, eu tive outro sentimento maluco. Quando você falou SO· Mãe : Ele sempre foge.

Dançando com a famR/a


148 149
Carl: É claro! os homens todos, pressupõem-se, têm medo da PIOximida.
de. Nós somos todos ridículos, malditos cada um de nós! que alguém mais na família a quisesse mona. A pessoa óbvia se-
. . Eu estaria que você me telefonasse. Às vezes, você me telefo ria o marido.
Ddris. g ., na e
cu penso: "Puxa, isto é uma boa surpresa 1• Pergunta: Bem, este é um tipo de idéia estranha. Você quer dizer qu~, se a
Mãe : Eu não tenho dinheiro suficiente para tel~fonar. mãe está suicida, é porque alguém quereria que ela esuvesse
Dóris: Quem se importa com o dinheiro? Nós hdaremos com isto mais tar. mona?
de. 0 que impona é o que você está sentindo. Se você está sozinha e Carl: É claro! É claro! Suicídio é como tudo o mais. Todas estas coisas
se sentindo infeliz, eu quero falar com voc.ê sobre isto! são interpessoais. Eu realmente acredito nos sistemas! Eu não
acredito que os indivíduos operam como unidades. Eu penso que
eles operam apenas como pane de unidades maiores.
Este tipo de procura pode salvar wna vida. O cuidar sub)aceme come.
Pergunta: Não poderia ela apenas estar se sentindo desesperadamente sozi-
ça a emergir. Isto pode servir para comrabalançar a dor do isolamenro
nha?
crónico. Carl: É claro! Isto significa que ele não a quer. Isto significa que ele a
quer fora do caminho. Então, ele poderia dançar com quem qui-
*** sesse.
Esta é a forma como eu penso sobre isto. Este é um suicídio
Perguma: Carl, neste segmento, o que o ajudou a saber que ela estava sen-
sub-clínico, isto do que estamos falando agora. Se ela estivesse
tindo-se suicida? Não estava realmente aparente.
realmente suicida, eu faria a família ser o seu hospital.
Carl: Eu não sei, na verdade. Uma porção destas coisas são intuições
Pergunta: Eu não entendo bem! Como você faria isto?
clínicas. Eu não sei de onde elas vêm. Havia uma sugestão quan-
Carl: Eu os faria responsáveis por ela estar suicida. Nossa tarefa seria
do eu disse: achar o porquê esta família a quer mona. Quem está liderando o
"Você é uma mãe desempregada", e ela disse:
pacote? O que aconteceria se ela morresse? Se ela cometesse sui-
"Eu não gosto disto também", significando que não havia nada
cídio, quem choraria? Estaria o pai disposto a deixar o seu trator
que ela realmente quisesse ser. Isto para mim é uma asseniva sui- e ir ao enterro? Será que os filhos, será que Vanessa estaria dis-
cida. posta a vir para o funeral de sua mãe? Quem choraria por mais
Pergunui: Vocé sabe que o suicídio é um negócio sério. Você é bem suce- tempo? Eu perguntaria todas estas questões para a mãe. Eu a for-
dido uma vez, e acabou. Nesta situação, você chegou a pensar cm çaria a estender a fantasia até além de sua mone. Isto contamina
medicá-la ou hospitalizá-la? Você considerou as formas mais tra- a fantasia que toma o suicídio possível. É como a famosa história
dicionais de lidar com alguém com quem você realmente esteja sobre o policial que estava tentando dissuadir um homem de pular
preocupado? da ponte. Uma história real! O homem não estava interessado na
Carl: Bem, se ela estivesse ativamente, deliberadamente e operacio- conversa. Finalmente o policial não podia agüentar mais, então
nalmente suicida ... Eu não penso que isto seja verdade. Eu acho ele puxou sua arma e disse: "Seu filho da puta, se você pular, eu
que ela é mais como um alco61atra cronico. Ela está envolvida em vou te dar um tiro!" Daí o homem desceu. Agora, isto é psicote-
um tipo gradual de auto-destruição. Como a filha que tomou-se rapia real! Ele quebrou a fantasia que este homem tinha sobre o
ningw!m. Ela tem sido ninguém por tanto tempo que a morte virá que aconteceria se ele morresse. Ele gritou isto bem forte! Isto é
em boa hora. Uma das formas de cometer suicídio é manter-se vi• o que eu gosto de fazer. Isto é o que eu acho que é tltil e impor-
vo. Eu não a vejo como perigosamente suicida. Estivesse ela pe- tante. A medicação apenas encobre isto. Assim como ir dormir é
rigosamente suicida e eu convencido que ela era perigosa, eu fa- uma forma de terminar uma discussão com sua mulher, mas não
ajuda muito. Só encobre. Você acorda na manhã seguinte e finge
laria muito mais abenarnente sobre isto. Eu envolveria todos eles,
que nada aconteceu.
pressupondo que ela não estaria perigosamente suicida a menos

***
Dançando com • famflla
150 151
Ao continuannos, pennanecemos com o tópico do suicídio. Eu a
centei outro vetor interativo ao falar com e mãe a respeito de como cres. A chave aqui é abertamente desafiar a posição de mártir da mãe de
o Pai li-
daria com o fato, se ela realmente se matasse. não ter razão para esrar deprimida. Eu quero que ela se dl conra de que ela
estd se escondendo dafamflia sob o pretexto de não sobrecarregd-/os.
Carl: Você sabe o que aconteceria com ele, se você cometesse suicídio? Eu termino com uma lembrança clara do que a mãe perdeu. Agora, a
M~N~ . família toda estd consciente de sua dor.
Carl: Eu posso lhe dizer. Eu aposto que ele desapareceria e morre .
na ern A discussão brevemente volta-se para as realidades concretas da vida
seis meses.
Mãe : Eu não sei. na fazenda. Eles falam de como o pai ainda trabalha na fazenda com Mike e
Carl: Eu tenho esta fantasia sobre mim, se minha mulher morresse. Eu como a mãe, freqüenternente, vem ajudar também. Está claro que Mike está
. E"' pen. em freqüente contato com seus pais.
so que cu desaparecena no mato. u nao se, quanto tempo levaria até
Aqui, Vanessa decide questionar seu innão, portanto desafiando a
que cu fosse capaz de voltar. Eu não acredito que eu realmente rne
crença familiar de que os homens não são seres humanos. Ela está pergun-
matasse, mas eu estaria em mau estado.
tando se ele realmente não se dá conta da dor que a mãe sente, ou se ele s6
age desta fonna.
Aqui estou ampliando o espectro do suic(dio para abranger taml,,!m 0
pai. Estou dizendo que a culpa que ele experiencia sobre os abortos, etc., 0
Vanessa: Você vê o Mike praticamente todos os dias, certo, mãe?
visitaria novamente.
Mãe : Sim.
Isto também sublinha sua dependência subjacente da mãe e derrota 0
Mike : Dia sim, dia não, é certo.
mito de que ele dançaria para o coração de uma mulher mais jovem .
Pai: Ninguém tem tempo.
Deixando-os com minha fantasia sobre mim, eu os deixo com algo
Vanessa: Você sabia que a mãe estava se sentindo tão sozinha? Você con-
contra o qu2 rebelar-se. seguiu dar-se conta disto nos últimos meses?
Mike: De alguma forma .. . , mas ... você sabe, eu não tenho tempo tam-
Mãe: Bem, e se ele morresse primeiro? Eu também me sentiria muito mal.
bém. (Mike começa a chorar)
Carl: Claro. Carl: Você é como o pai. Sempre trabalhando na maldita fazenda.
Mãe: Eu não poderia lidar com isto.
Carl: Clero. Poderia curar sua artrite, mas esteja certa, você ficaria depri-
mida e sozinha como o diabo. (afamflia chora)
Você alguma vez escreve para o pessoal e fala sobre a sua solidão
por carta?
Que bom indicador de mudança! Agora um dos homens pode possuir
Dóris: Não! Ela apenas manda cartas com novidades. Ela não fala sobre si
sua própria dor e ousa expressd-la através das ldgrimas. Isto é crescer! Mi-
mesma.
ke não está mais acorrentado ao mito familiar de que os homens não tê,n
Carl: Então você foge como ele! afeto.
Mãe: Sim.
Carl: Eu não acho que você deva fugir de seus filhos. Você acha que au- Mike: Não há nunca tempo!
mentaria sua cruz se você lhes contasse? Vanessa: Então você não tem tempo para visitar a mãe?
Mãe: Não há razão para eu estar tão deprimida. Estou somente saudos11. Mãe: Ele me visita muito. Nós não sabemos o que fazer, exceto traba-
Carl: Claro. Você está saudosa devido à fazenda, e pelos cinco filhos, e por lhar.
todo o passado que você não tem mais.

Dançando com a famflia


152 153
A liberdade aumentada da famllia para enfrentar a dor e
. . envoJv serem completados. O pai foi a figura central nesta conversa, com as mulhe-
uns com os outros é unpressionante. O outro lado da moeda é sua _er-sc
rmanecendo bem periféricas. Embora os fatos desta conversa fossem
aimentada de brincar e rir. Esta sensação emergente de abertura caéP8cid8de ~pe . . te~
essen • muito similares aos de três anos antes, havia uma diferença mt.eressa_n
plll'll o crescimento. c1a1
Com a continuação da sessão, eu perguntei mais diretamente era fortemente evidente. Não havia sentimentos de raiva ou resseno_mentos
mOia acerca dos efeitos posteriores de nossas sessões anteriores.7 ª fa. por parte das mulheres. Se algo havia elas pareciam estar um pouco mteres-
frcqüentemente meu estilo, eu optei por iniciar pelo pai. Eu quena Olno ,.E
. que sadas e aproveitando.
Ao olhar para trás, isto parece bem claro. Como a capacidade do pai de
tomasse uma posição. e"'
estar presente na famfiia tinha aumentado, eles tomaram-se mais capazes de
vê-lo como uma pessoa, e não como alguém que impedisse a intimidade fa-
Carl: Eotlo esta é a minha festa. Eu gostaria de saber em que aqueJ .
18 miliar, sem importar-se. Agora, quando ele começa a falar sobre a fazenda ,
entrevistas que tivemos resultaram. Para ter uma idéia do que as se
ceu com a fam.Oia. aconte. eles podem ver isto como uma forma de lidar com o mundo, em vez de ser
algo que ele está fazendo contra eles.
E sobre voe!, pai? Você pode dizer algo sobre o que a experiên- Com o término desta conversação, eu me voltei para a mãe.
cia foi para você?
Pai: Bem. .• foi esclarecedor dar uma olhada mais de perto na família. 0 Carl: Foi bom esta manhã que voe! pudesse chorar por causa dos seus
que eles significam para você e o que você significa para eles. impulsos suicidas. Isto foi muito impressionante e surpreendente-
Desde nosso dltimo encontro, não hoje, mas antes, construí uma mente flexível. A maioria das pessoas é muito mais rígida. Quan-
casa para a aposentadoria. do você pergunta sobre suicídio, elas dizem: "Oh, não! Não eu!
Eu nunca tive um pensamento suicida em minha vida."
Mãe: Eu não gostaria de admiti-lo para os outros. Não para os vizinhos,
O pai, também, tornou-se mais orientado para as pessoas. Ele estd
porque eles não entenderiam.
mais consciente dos componentes interpessoais do viver.
Carl: Você pode dar-lhes crédito por eles serem um pouco melhores do
que os seus vizinhos.
Eu me senti bem em poder construir esta casa. Principalmente
Mãe: Sim.
pela Marie, porque é conveniente, aconchegante e agradável.
M~: É bom vir para a casa, também. (risos)
Pai: Eu não fui um bom marido, mas eu achei que nisto eu podia contri-
buir. Ddris: Talvez um meio passo à frente.
Carl: Meio passo? Desculpem. Então, o que mais aconteceu durante as
(risos) sessões?
Mãe: Houve sessões de choro. Vanessa foi dramática em uma.
Isto é um testemunho do aumento de intimidade na famflia . Embora o Maria: Houve almofadas para lutar.
modo de expressão possa estar carente de tennos para a expressão verbal, Mike: E Gail não o fazia.
eleérMI. Mãe: O pai e eu lutamos. Não, foi só eu. Ele não lutaria. Assim como
A capacidade do pai de nomear a construção da casa como a tentativa Gail.
de ser um marido melhor é impressionante. Poderd levar a uma maior Carl: Então ele é o culpado.
aproximação com o tempo. Vanessa: A mãe chorava muito. O pai falou sobre sentir-se derrotado e cho-
rou. Havia u'.°a sensação de sua vida ter terminado. Eu lembro
Neste ponto houve uma extensa discussão sobre a vida na fazenda. que .eu fiquei contente por estar aqui quando voc!s estavam se
Como é típico, esta parte da conversação enfocou O trabalho e os projetos 8 sentmdo tão mal.

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Pai: Sim. Eu achei que cu nunca faria o que cu fiz. Fez-me ter
·a de estar mais próxima, mas não conseguiu.
jctivo e alcançá-lo. O tempo voa se você não anda Eu pe um ob-
. · nsei qu Carl: Agora você gostan
Mane tem nove anos a menos do que eu. Se é conforme . e Antes você não queria.
ela tem nove anos a mais para sofrer. ª
idade, Vanessa : Sim.

(risos) Outra mudança estd clara. Agora, Vanessa mais capaz de ver s~u
. • mo um nnpel. Ela pode admitir querer um relacto·
pai como pessoa, nao co ,--. . . .
Mais wna vez, um gesto tocante de um homem que não estd acostuma namento com ele, e não apenas escapar a tuanza.
do ao mundo das palavras. •
G,:lil: Eu estou mais próxima de meus pais agora. Eu tinha urna raiva
Carl: O que havia nas entrevistas que o fez mudar? encoberta do pai antes. mas não agora .
Pai: Bem, foi apontado que eu não era ... as crianças estavam sem re
em volta da mãe e eu não podia nunca estar ali. p Com a sessão chegando ao seu final, eu fiz mais uma 0ferta de abertura
Eu nunca estava por perto. Eu achei que a dnica coisa que para ouvir mais sobre as mudanças familiares. Vanessa decidiu tornar a
poderia dar a todos vocês era a casa. Agora, vocês tem uma casa oportunidade .
para vir.
Vanessa: Eu gosto disto. Carl: E o que mais?
Gail: Eu vi a relação entre a mãe e o pai reflorescer. Eu os vejo bastan- Vanessa : Eu acho que as sessões familiares trouxeram-nos mais proximida-
te. O pai tem tentado com muita força. O ajustamento da mãe tem de como família. Eu posso vê-lo com a mãe e com o pai . Espe-
sido mais difícil, porque ela está mais isolada. Ela precisa fazer cialmente, desde que vocês mudaram para esta casa nova. É como
mais força e alcançar os outros como eu faço. se o relacionamento de vocês tivesse um reinício.
Mãe: Sim. Bem, sem os filhos é mais fácil.

Com o tom tão pouco acentuado, a diferença real estava aparentemente


A mãe aproveita a oportunidade de compartilhar uma mudança básica
mais clara. Eu queria inquirir diretamente sobre esta mudança de atitude. Eu
em sua perspectiva . Ela quer dizer que, com os filhos tendo deixado a casa,
queria ouvir como o resto da fanúlia agora via e se relacionava com o pai.
ela e John podem decidir desenvolver seu relacionamento. Hd, até, uma su-
gestãn de estar aproveitando isto. Talvez ela esteja superando a desperso-
Carl: Eu tive a sensação da dltima vez, eu não estou certo o quão exa-
nalização.
tamente eu me lembro disto, de que a famOia estava, em geral,
com raiva do pai. Isto é verdade?
Todos: Sim.
Vanessa: Eu penso que me ajudou com os meus relacionamentos. O tipo de
Carl: Isto mudou ? Eu tenho a sensação de que a mãe estava com raiva
pessoa _que estou escolhendo agora é muito diferente. Eu sinto que
do pai . Parece que ela ainda se sente mal pelo fato dele não ser as sessoes aJudaram desta maneira.
mais íntimo ou pessoal com ela, mas parece que há mais amor na
Carl: Eu tive a sensação de que uma das coisas que eu notei estar dife-
forma como ela diz isto, agora.
rente é que você parece mais séria. Antes, eu tinha a sensação de
Vanessa: Eu posso dizer como é para mim. Eu estava com mais raiva de vo-
que você estava meio que rindo de si mesma.
cê, pai, há três ou quatro anos atrás pelas várias coisas que você Vanessa: Sim, eu me sinto mais séria.
tez e não fez. Agora, eu me sinto podendo aceitá-lo mais. Eu ain- Carl: Com mais vontade de assumir-se.
da não ... , eu estou consciente de não me sentir realmente perto de
você.

156 Dançando com a famRla


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Este I um dos objetivos da terapia . Libertar as pessoas de mod,o
que
elas possam assumir suas vidas. De modo a realmente experienciar a Vida
não apenas pensar S10bre ela. ·

Com o encerramento da sessão, houve uma sensação de relaxamento e


calma. Eles não estavam em pãnico ante a perspectiva de serem deixados sós
uns com os outros. Não havia uma sensação de que eles precisavam de mim
para ter coragem de serem eles mesmos. Eles formavam um ambiente fami-
liar e eu estava mais claramente de fora do que anteriormente. Referências bibliográficas
O seu sentido ampliado de liberdade e coragem era impressionante.
Eles abertamente discutiram a capacidade de desfrutar, e não só de tolerar,
0
fato de estarem uns com os outros. Eles desenvolveram a capacidade de
realmente estar uns com os outros. De olhar a vida e responder de uma forma
cuidadosa e pessoal.
Com o término da terapia, isto também continua. A família carrega 0
terapeuta com eles, e o terapeuta tem a família dentro de si. Com a continui-
dade da vida, o terapeuta fica com a excitação de ter estado envolvido em
uma experiencia humana tocante.
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