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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

IZABELLE CRISTINA GAZAL DA SILVA

INFLUÊNCIA DA OZONIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE FERIDA CUTÂNEA


EM UM EQUINO: RELATO DE CASO

CURITIBA
2020
IZABELLE CRISTINA GAZAL DA SILVA

INFLUÊNCIA DA OZONIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE FERIDA CUTÂNEA


EM UM EQUINO: RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de


Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária.
Orientador Acadêmico: Prof. MSc. Rodrigo Azambuja Machado
de Oliveira.
Orientador Profissional: Médico Veterinário Stefano Strano
Calomeno.

CURITIBA
2020
Reitor
Prof. João Henrique Faryniuk

Pró-Reitora Promoção Humana


Prof. Ana Margarida de Leão Taborda

Pró-Reitor Acadêmico
Prof. João Henrique Faryniuk

Secretário Geral
Sr. Marco Aurélio Cardoso

Coordenador do Curso de Medicina Veterinária


Prof. Welington Hartmann

Supervisora de Estágio Curricular


Prof. Jesséa de Fátima França Biz

Campus Barigui
Rua Sydnei A Rangel Santos, 238
CEP: 82010-330 – Curitiba – PR
Fone: (41) 3331-7958
TERMO DE APROVAÇÃO

IZABELLE CRISTINA GAZAL DA SILVA

INFLUÊNCIA DA OZONIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE FERIDA CUTÂNEA


EM UM EQUINO: RELATO DE CASO

Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do grau
de Médica Veterinária no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do
Paraná.

Curitiba, 22 de junho de 2020

BANCA EXAMINADORA

____________________________________
Prof. M. Sc. Rodrigo Azambuja Machado de Oliveira
Presidente

____________________________________
Prof. Dr. Welington Hartmann

_____________________________________
Prof. M. Sc. Guilherme Paes Meirelles
AGRADECIMENTOS

Agradecer primeiramente a Deus, por iluminar meu caminho e me guiar nessa


jornada.
Aos meus pais, Danielle e Marco, por acreditarem em mim e me
proporcionarem todas as oportunidades que me fizeram chegar até aqui. Sem o apoio
deles a realização desse sonho não seria possível. Eu amo muito vocês!
Ao meu irmão, Caio, por mesmo de longe se fazer presente torcendo por mim
e me apoiando.
Ao meu namorado, Luis Felipe, por permanecer ao meu lado me incentivando
e acreditando no meu potencial.
A minhas amigas, Caroline e Amanda, por me acompanharem nesses cinco
anos da graduação, sempre sendo meu apoio e conforto nos dias difíceis.
Aos meus colegas de estágio, Karine, Priscila e Giovani pelo companheirismo
e crescimento que tivemos juntos. Eles tornaram tudo mais fácil de lidar.
A equipe da Equivet Clínica Veterinária, em especial ao Médico Veterinário
Thiago, por me proporcionarem a oportunidade de realizar meu estágio e pelo
aprendizado pessoal e profissional.
A Médica Veterinária, Elza Ribas, pela paciência, dedicação, pelos
ensinamentos e por permitir que eu acompanhasse a evolução do caso.
Ao meu professor orientador, Rodrigo Azambuja, por aceitar me guiar nessa
etapa importante da minha vida.
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades,
lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossível.”
Charles Chaplin
APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina Veterinária


da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná,
como requisito parcial para obtenção do grau de Médica Veterinária, é composto pelo
Relatório de Estágio, onde foram descritas as atividades realizadas durante o período
de 17 de fevereiro a 24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, localizada em
Piraquara – PR, local de cumprimento do estágio curricular, e um relato de caso sobre
a influência da ozonioterapia no tratamento de ferida cutânea em um equino, com sua
respectiva revisão de literatura.
RESUMO

A ozonioterapia é um procedimento recente na medicina veterinária. Trata-se da


utilização de ozônio medicinal que pode ser usado por diversas vias e com propósitos
distintos. O presente relato descreve o tratamento com ozonioterapia de uma ferida
cutânea no membro anterior esquerdo de um equino da raça Crioula, fêmea, com 1
ano de idade, apresentando laceração em cerca de arame liso, com sua respectiva
literatura. O ozônio foi utilizado pelo método de bagging, cuja técnica implica na
aplicação tópica do gás. O acompanhamento do caso teve uma duração de 22 dias
de evolução e o resultado foi satisfatório até o momento em que se pôde acompanhar
o caso.

Palavras-chave: bagging; cicatrização; manejo de feridas.


LISTA DE ABREVIATURAS

AINE: Anti-inflamatório não esteroidal


ANVISA: Agência nacional de vigilância sanitária
BID: Duas vezes ao dia
cm: Centímetros
EGG: Éter gliceril guaiacol
H: Hora
IM: Intramuscular
IV: Intravenoso
Kg: Quilogramas
MAE: Membro anterior esquerdo
mg: Miligrama
mg/Kg: Miligrama por quilo
mg/m³: Miligrama por metro cúbico
mL: Mililitro
MPA: Medicação pré-anestésica
O2: Oxigênio
O3: Ozônio
PR: Paraná
SID: Uma vez ao dia
VO: Via oral
°C: Graus celsius
γ: Gama
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Aspecto da ferida no dia em que o animal foi encaminhado para a Equivet Clínica
Veterinária, Piraquara/2020....................................................................................... 20
Figura 2: Ferida no dia da primeira sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica
Veterinária, Piraquara/2020................................................................................................... 22
Figura 3: Sessão de ozonioterapia utilizando a técnica de bagging, realizada na Equivet
Clínica Veterinária, Piraquara/2020....................................................................................... 23
Figura 4: Curativo realizado na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020: Limpeza com
sabão (A); Enxágue (B); Aplicação do óleo de girassol ozonizado (C); Bandagem
absorvente (D); Algodão ortopédico (E); Atadura (F)............................................................ 24
Figura 5: Ferida no dia da segunda sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica
Veterinária, Piraquara/2020....................................................................................... 25
Figura 6: Ferida no dia da terceira sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica
Veterinária, Piraquara/2020................................................................................................... 26
Figura 7: Ferida no dia da quarta sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica
Veterinária, Piraquara/2020................................................................................................... 27
Figura 8: Aplicação perilesional de ozônio, realizada na Equivet Clínica Veterinária,
Piraquara/2020...................................................................................................................... 27
Figura 9: Ferida no dia que o paciente foi retirado da Equivet Clínica Veterinária
Piraquara/2020...................................................................................................................... 28
Figura 10: Foto encaminhada pelo proprietário no dia 18 de março de 2020.................... 29
Figura 11: Foto encaminhada pelo proprietário no dia 12 de maio de 2020....................... 29
LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Atendimentos acompanhados em suínos no período de 17 de fevereiro a 24 de


abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020......................................... 16
Quadro 2: Atendimentos acompanhados em felinos no período de 17 de fevereiro a 24 de
abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020......................................... 16
Quadro 3: Atendimentos/procedimentos acompanhados em ovinos no período de 17 de
fevereiro a 24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.................. 16
Quadro 4: Atendimentos/procedimentos acompanhados em caninos no período de 17 de
fevereiro a 24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.................. 16
Quadro 5: Atendimentos/procedimentos acompanhados em equinos no período de 17 de
fevereiro a 24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.................. 17
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ...................................................... 15

2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E CASUÍSTICA ................................. 16

3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 19

4 RELATO DE CASO ...................................................................................... 21

5 DISCUSSÃO ................................................................................................. 31

6 CONCLUSÃO ............................................................................................... 34

REFERÊNCIAS................................................................................................ 35
13

1 INTRODUÇÃO

O ozônio (O3) é uma molécula gasosa natural composta por três átomos de
oxigênio (O2) é uma estrutura dinamicamente instável. Ele foi descoberto em meados
do século XIX e foi descrito como um gás incolor e com odor característico, sendo
explosivo na sua forma líquida ou sólida (DI PAOLO, BOCCI, GAGGIOTTI, 2004;
BOCCI, 2005). A molécula de O3 é instável e decai rapidamente para O2, liberando
um átomo de oxigênio (YAMAYOSHI, TATSUMI, 1993; SONG, et al., 2017). Além
disso, possui meia vida curta, suportando 40 minutos a 20 graus Celsius (°C) e 140
minutos a 0°C e na natureza é abundante apenas na atmosfera, onde suas
concentrações atingem 16 – 20 miligramas por metro cúbico (mg/m³) (DI PAOLO
BOCCI, GAGGIOTTI, 2004). Segundo BOCCI (2005), esta camada é fundamental
para absorver a maior parte da radiação ultravioleta que adentra o planeta terra.
O O3 medicinal é obtido a partir do O2 puro medicinal para evitar a presença de
subprodutos tóxicos de outros gases (OLIVEIRA JUNIOR e LAGES, 2012). Ao se
utilizar o ar do ambiente, que possui uma concentração de 78% de nitrogênio, o
mesmo ao ser convertido produziria óxido nítrico, que é tóxico (DI PAOLO, BOCCI,
GAGGIOTTI, 2004). O mesmo autor relata que o O3 se forma por uma reação quando
o O2 puro recebe uma corrente elétrica, onde apenas 5% do O2 é convertido em ozônio
através do ozonizador médico. A conversão é feita por geradores de ozônio, no
momento próximo do uso, devido sua capacidade de se dissipar no ambiente
(OLIVEIRA JUNIOR & LAGES, 2012).
A terapia com ozônio induz estresse oxidativo moderado ao interagir com
lipídios. Essa interação aumenta a produção endógena de antioxidantes, perfusão
local e fornecimento de oxigênio, além de melhorar as respostas imunes (SMITH et
al., 2017). As concentrações mais altas de ozônio, que no uso medicinal não
ultrapassam os 5%, são utilizadas, por exemplo, nas injeções intradiscais, reduzindo
as compressões exercidas pelas hérnias. As concentrações mais baixas são utilizadas
para as respostas de linha regenerativa (OLIVEIRA JUNIOR & LAGES, 2012).
A via tópica pode ser utilizada com a exposição simples da área-alvo
umedecida com água, solução fisiológica ou óleo pré-ozonizados ou não, com ou não
acoplamento a sistemas de sucção. As demais vias são utilizadas pela injeção ou
insuflação da própria mistura gasosa O3 / O2 ou através do sangue ozonizado
(OLIVEIRA JUNIOR & LAGES, 2012). Em infecções bacterianas YAMAYOSHI e
14

TATSUMI (1993) relatam que o único átomo de O2 após a degradação do O3 reage


com a membrana celular de bactérias, ataca os componentes celulares, interrompe a
atividade celular normal e depois as destrói. Entretanto, em um estudo experimental,
a ozonioterapia demonstrou ter efeitos benéficos quando aplicada como um
complemento ao tratamento antibiótico padrão (SILVA et al., 2009).
O ozônio é um gás tóxico para animais e humanos, que pode afetar os pulmões
e olhos. Inalações em baixas concentrações de ozônio podem causar tosse e irritação
na garganta. Concentrações altas danificam a mucosa brônquica, pneumócitos e pode
levar a edema pulmonar (DI PAOLO, BOCCI & GAGGIOTTI, 2004). Exposição a altas
concentrações de gás de ozônio podem levar a morte dentro de 4 horas (h) ou minutos
(BOCCI, 2005). Já em relação aos aparelhos geradores de ozônio, todos devem
resistir à oxidação, pois este gás é um dos agentes mais oxidantes já conhecido,
sendo capaz de deteriorar a maioria dos plásticos (exceto polietileno, polipropileno,
silicone e teflon) e a maioria dos metais ferrosos (exceto aço inoxidável e titânio) (DI
PAOLO, BOCCI & GAGGIOTTI, 2004).
15

2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

A Equivet Clínica Veterinária está localizada na Rua Nova Tirol, n° 250C, bairro
São Tiago, Piraquara – Paraná (PR). A Equivet existe há 12 anos, mas está situada
neste local desde 2015, com atendimento 24 horas para grandes e pequenos animais.
Possui uma área de aproximadamente 10 hectares, dividida em espaço verde e
espaço construído, composta pela clínica e alojamento. Na entrada principal, a clínica
inicia pelo espaço destinado ao atendimento de cães e gatos. O primeiro ambiente é
composto pela recepção onde mais à frente os proprietários podem aguardar na sala
de espera. Nas laterais da unidade, encontram-se duas salas de administração, uma
sala dos veterinários e um consultório de pequenos animais, este com acesso à rua e
a um ambulatório. Este primeiro ambiente se comunica com um corredor que dá
acesso ao laboratório de análises clínicas e a área de internação e isolamento para
pequenos animais, este também com acesso à rua. O mesmo corredor liga a um
espaço restrito, composto pelo bloco cirúrgico de pequenos animais, com outro
acesso onde se encontram o banheiro e ambiente de preparação do cirurgião. Neste
mesmo caminho estão as salas de esterilização de materiais, lavanderia, sala de
materiais estéreis e almoxarifado, estes dois últimos se comunicam com o bloco
cirúrgico de equinos. O bloco cirúrgico de equinos também tem comunicação com a
área de preparação do cirurgião e com a sala de indução para equinos, com acesso
pela área de atendimento de equinos. A área de atendimento de equinos tem um
portão principal por onde entram os cavalos. Esta parte é dividida em desembarcador,
sete baias para internação de equinos, três baias para isolamento, uma sala
maternidade, lavatório para equinos, uma farmácia (com produtos para pequenos e
grandes animais), enfermagem para equinos, um tronco de contenção para equinos,
sala de ração, selaria e acesso aos departamentos anteriormente citados. Na área
externa à clínica está o depósito de serragem, quatro piquetes para soltura dos
cavalos internados e o alojamento dos veterinários responsáveis pela clínica,
residentes e estagiários. A equipe é composta por quatro veterinários, dois residentes,
um administrador e duas pessoas responsáveis pelo setor financeiro.
16

2.1 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E CASUÍSTICA

Durante o período de estágio foi possível acompanhar as consultas internas de


pequenos e grandes animais além das consultas externas de equinos. Nos
atendimentos foi possível acompanhar a anamnese, realizar o exame físico dos
pacientes e auxiliar nos procedimentos, bem como raciocínio clínico dos casos. Nos
procedimentos cirúrgicos de pequenos e grandes animais participar como volante,
acompanhar a rotina hospitalar, auxiliando na organização do ambiente de trabalho,
reposição de materiais, preparação de pacientes, esterilização de materiais,
acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes e realização da aferição dos
parâmetros vitais, sendo eles frequência cardíaca e respiratória, avaliação da
coloração de mucosas, tempo de preenchimento capilar, pulso, temperatura,
motilidade intestinal para equinos e motilidade ruminal para ruminantes.
Dentre os casos acompanhados no período de estágio supervisionado (17 de
fevereiro a 24 de abril de 2020), 1,56% correspondem aos casos de suínos (Quadro
1), 1,56% de felinos (Quadro 2), 3,12% de ovinos (Quadro 3), 43,75% de caninos
(Quadro 4) e 50% de equinos (Quadro 5). Os quadros a seguir correspondem às
enfermidades e procedimentos acompanhados de acordo com o sistema ou
especialidade de cada espécie.

Quadro 1: Atendimentos acompanhados em suínos no período de 17 de fevereiro a 24 de abril de


2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.
Sistema Enfermidade Número de casos Total
Tegumentar Laceração por ataque de cães 1 1
TOTAL 1

Quadro 2: Atendimentos acompanhados em felinos no período de 17 de fevereiro a 24 de abril de


2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.
Sistema Enfermidade Número de casos Total
Infectocontagioso Micoplasmose 1 1
TOTAL 1
17

Quadro 3: Atendimentos/procedimentos acompanhados em ovinos no período de 17 de fevereiro a 24


de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.
Sistema Enfermidade Número de casos Total
Digestório Prolapso retal 1 1
Geniturinário Cesárea 1 1
TOTAL 2

Quadro 4: Atendimentos/procedimentos acompanhados em caninos no período de 17 de fevereiro a


24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.
Sistema/especialidade Enfermidade/procedimento Número Total
de casos
Eutanásia Trauma crânioencefálico 2 2
Digestório Torção gástrica 1 1
Geniturinário Piometra 1
Orquiectomia profilática 1
Prolapso de pênis 1
Cesárea 5 8
Hemoparasitose Babesiose 1 1
Infectocontagiosa Parvovirose 2 2
Neurologia Intoxicação por ivermectina 1 1
Oftalmologia Enucleação 1 1
Outros Acidente ofídico 3
Acidente aracnídico 1 4
Respiratório Pneumotórax 1 1
Sem diagnóstico Nodulectomia 1
definitivo Mastectomia bilateral total 1 3
Convulsão 1
Tegumentar Miíase 2
Caudectomia 1 3
TOTAL 28
18

Quadro 5: Atendimentos/procedimentos acompanhados em equinos no período de 17 de fevereiro a


24 de abril de 2020, na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.
Sistema/especialidade Enfermidade/procedimento Número Total
de casos
Eutanásia Torção de cólon e sofrimento de alça 1
intestinal
Ruptura de cólon maior 1 2
Digestório Colite 1
Compactação de cólon maior 3
Sobrecarga gástrica 5
Laparotomia exploratória 4 13
Geniturinário Orquiectomia 1
Reparação de Fimose Congênita 1
Hernioplastia inguinal 1 3
Musculoesquelético Osteossintese 1 1
Neoplasias Ressecção de Sarcoide 2
Ressecção de Papiloma 1 3
Neurologia Neurectomia 2 2
Ortopedia Artroscopia 1
Laminite 2 3
Sem diagnóstico Tumor em vesícula urinária 1
definitivo Sinais neurológicos 1 2
Tegumentar Laceração cutânea 3 3
TOTAL 32
19

3 REVISÃO DE LITERATURA

O tegumento comum ou pele forma a barreira externa do organismo e trata-se


do primeiro contato com o meio ambiente. É o maior órgão de todos os mamíferos e
desempenha várias funções, sendo elas, proteção do corpo, receptores sensoriais,
armazenamento de água, eletrólitos, vitaminas e gordura, termorregulação, defesa
imunológica e comunicação (KONIG & LIEBICH, 2011; REED & BAYLY, 2016).
A domesticação dos equinos modificou os hábitos desses animais, tornando-
os predispostos a apresentarem alterações e enfermidades em seus sistemas. O
manejo inadequado e estresse por confinamento são exemplos de alterações de
rotina que fazem com que os cavalos estejam susceptíveis a síndrome cólica,
claudicações e também lesões cutâneas. A cicatrização destas lesões nos membros
dos equinos é lenta devido a fatores como maior facilidade de contato com sujidades,
pouco tecido e menor vascularização, além de diferenças fisiológicas da resposta
inflamatória celular (WILMINK et al., 1999; PAGANELA et al., 2009).
A cicatrização de um tecido pode ocorrer de duas formas, sendo por primeira
intenção quando uma ferida ausente de contaminação se restaura sem a necessidade
de tecido de granulação ou quando não é possível a reparação cirúrgica, a
cicatrização ocorre pelo que se chama de segunda intenção (CANCELA, 2004).
Durante a cicatrização de uma ferida, algumas fases são levadas em
consideração. A fase inflamatória na qual se inicia logo após a lesão, cujo objetivo é
preparar o tecido para as próximas fases. A seguinte é a fase de proliferação celular,
onde o tecido de granulação começa a surgir. Fibroplasia, angiogênese e epitelização
são as etapas desta fase. Por último a síntese de matriz e remodelação encerra este
ciclo cicatricial (STASHAK & THERORET, 2008).
Diversos tratamentos e protocolos terapêuticos tópicos e sistêmicos são
utilizados e descritos com sucesso para tratamento de feridas. A ozonioterapia é
relativamente nova na medicina veterinária e vem ganhando seu espaço. Esta terapia
é um tratamento de baixo custo e de eficácia relatada há vários anos, sendo uma
alternativa a ser utilizada em tratamentos na rotina clínica. Seu uso consiste na
utilização do gás ozônio em diversas afecções, tendo efeito microbicida, analgésico,
imunomodulador e promotor da cicatrização tecidual (MARQUES et al., 2017). YING,
MEI & MIN (2005) afirmam que utilização da ozonioterapia é vantajosa, pois é
20

minimamente invasiva, possui poucas complicações, pouca dor, similar a algumas


terapias convencionais.
MORETTI et al., (2005); RE (2005); YING, MEI & MIN (2005) relatam a
ausência de efeitos colaterais quando aplicado corretamente, além de observar ação
anti-inflamatória e analgésica eficaz.
Devido ao efeito germicida e ao poder oxidativo do O3, sua utilização permite
erradicar germes e eliminar o tecido desvitalizado das feridas. Aumento do número de
fibroblastos, melhora na capacidade do transporte de oxigênio por parte dos eritrócitos
e estímulo do sistema imunológico também fazem parte dos seus benefícios
(AMARAL, MEDEIROS & PARADA, 2013).
Em baixas doses o O3 pode desempenhar um papel importante na
funcionalidade vascular e na limitação da inflamação devido à liberação reduzida de
mediadores inflamatórios (RE, 2005). Seu uso é válido para distúrbios inflamatórios e
degenerativos do sistema músculo-esquelético (MORETTI et al., 2005), além de não
causar poluição nem danificar os tecidos, pois se decompõe em O2 rapidamente por
ser instável (YING, MEI e MIN, 2005).
Na medicina veterinária a ozonioterapia é utilizada como auto-hemoterapia, que
consiste na retirada do sangue do paciente, seguido de tratamento deste sangue com
O3 e reinfusão no paciente por via IV (intravenosa) ou IM (intramuscular), de acordo
com seu objetivo. Outras vias utilizadas são a intramamária, insuflação retal,
perilesional ou via tópica, podendo citar o bagging. Este é comumente utilizado em
feridas externas como bactericida, fungicida e inativador de vírus (PENIDO, LIMA &
FERREIRA, 2010).
Em equinos há relatos de aplicação de ozonioterapia em diversas afecções,
tais como osteoartrite, tendinopatias e até mesmo como tratamento de equinos com
síndrome cólica, pois as propriedades bioquímicas do O3 induzem a modulação de
enzimas antioxidantes, o que leva a um efeito conservador do trato gastrintestinal
(HADDAD, 2009).
21

4 RELATO DE CASO

No dia 18 de fevereiro de 2020 chegou às dependências da Equivet Clínica


Veterinária para atendimento, um equino, fêmea, raça Crioula, com um ano de idade
e aproximadamente 290 quilogramas (Kg). O animal apresentava laceração profunda
em membro anterior esquerdo (MAE). Segundo o proprietário o histórico era de que o
animal havia prendido o membro em uma cerca de arame liso com mais de 24 horas.
Durante exame físico foi observado que a ferida apresentava um flap de tecido
cutâneo pendurado, exposição de terceiro metacarpo, tecido morto, presença de
infestação por ectoparasitas (miíase) e lesão em tendão extensor digital lateral (Figura
1).

Figura 1: Aspecto da ferida no dia em que o animal foi encaminhado para a Clínica Veterinária Equivet,
Piraquara/2020.

.
22

O primeiro procedimento realizado foi a tentativa sem sucesso da retirada da


miíase. Por conta da dor o animal não deixou manipular o membro e então foi decidido
anestesiá-lo para realizar uma limpeza mais adequada e revitalização dos tecidos.
Como medicação pré-anestésica (MPA) foram administradas 0,5 miligramas por quilo
(mg/kg) IV de xilazina 10%. Após trinta minutos a indução anestésica foi realizada
administrando 2 mg/kg IV de cetamina e 0,05 mg/kg IV de midazolam. A manutenção
anestésica foi realizada com a técnica de triple drip, onde em um frasco de 500
mililitros (mL) de glicose 5% foram adicionados (EGG (éter gliceril guaiacol) 5% +
xilazina 500 mg + cetamina 1000 mg) em uma taxa de infusão inicial de 2 mL/kg/h e
final de 0,5 mL/kg/h, objetivando que mais ao final do procedimento o animal não
esteja em plano anestésico profundo.
Ao final do procedimento o curativo foi realizado com gaze, algodão ortopédico
e atadura. A atadura foi posta no sentido distal para proximal favorecendo retorno
linfático e evitando formação de edema, além de proporcionar relaxamento dos
tendões.
Durante o período de internação a antibioticoterapia utilizada foi a base de
penicilina 1 mL para cada 20 kg por via IM a cada 24 h (SID) por 7 dias e gentamicina
6,6 mg/kg IV/SID por 4 dias. Como protocolo analgésico foi administrado no primeiro
dia fenilbutazona 4,4 mg/kg IV/SID e a partir do segundo dia meloxicam 0,6 mg/kg
IV/SID por 4 dias. Como protetor gástrico foi administrado omeprazol 4 mg/kg por via
oral (VO) a cada 12 horas (BID) mantido durante todo o período de internamento,
inicialmente por conta do uso dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) e
posteriormente por conta do possível estresse de manipulação.
O curativo era realizado duas vezes ao dia sempre removendo completamente
o anterior. Inicialmente era realizada a limpeza com água e iodo-degermante e
esfregado com o auxílio de uma escova de antissepsia, a ferida era secada e utilizava-
se uma solução a base de própolis e camomila com função removedora de crosta. A
ferida era secada novamente com o uso de gaze e por fim era utilizada outra loção
com função hidratante e reparadora de tecido. Por cima da ferida era colocada uma
bandagem absorvente, envolto por algodão ortopédico e atadura.
A partir do dia 20 de fevereiro de 2020 foi iniciado o uso da ozonioterapia
(Figura 2). A técnica utilizada era de bagging usada quando existe uma lesão tópica
onde se pode envolver o membro como um todo. O objetivo era promover cicatrização
23

interrompendo o processo inflamatório restaurando todo o tecido lesionado, gerar


tecido de granulação para recobrir o periósteo e fechar a ferida.

Figura 2: Ferida no dia da primeira sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica Veterinária,
Piraquara/2020.

O bagging é realizado após limpeza prévia com água e sabão, sendo


suspendida a utilização do iodo-degermante, pois ele pode queimar o tecido de
granulação. O membro era envolvido com um saco plástico rígido, ainda molhado para
que o gás de ozônio se espalhasse como um todo (Figura 3). Este plástico tinha sua
extremidade fechada e por um orifício um conector era acoplado a uma bomba a
vácuo que retirava todo o ar. Pelo mesmo conector o gás ozonizado era introduzido
através de um gerador de ozônio. Este gás permanecia por 20 minutos em contato
com a ferida e sua concentração neste dia foi de 50 gamas (γ). Novamente o ar
residual era retirado com a bomba a vácuo, pois apenas ela tem a capacidade de
realizar a quebra da molécula de O3 através de um catalisador automático.
24

Figura 3: Sessão de ozonioterapia utilizando a técnica de bagging, realizada na Equivet Clínica


Veterinária, Piraquara/2020.

Para realizar este procedimento o aparelho usado foi o Gerador de Ozônio


Philozon Medplus MX com registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) número 80472910001, utilizando gás de O2 medicinal para sua conversão
em O3.
A partir do dia da primeira sessão de ozonioterapia a limpeza da ferida foi
modificada (Figura 4). A limpeza ainda era feita com apenas água e sabão, mas as
loções foram substituídas por uma camada de óleo de girassol ozonizado. O curativo
ainda era realizado com bandagem absorvente, algodão ortopédico e atadura.
25

Figura 4: Curativo realizado na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020: Limpeza com sabão (A);
Enxágue (B); Aplicação do óleo de girassol ozonizado (C); Bandagem absorvente (D); Algodão
ortopédico (E); Atadura (F).

A B

C D
26

E F

No dia 25 de fevereiro de 2020 foi realizada a segunda sessão de ozonioterapia


(Figura 5). Neste dia a concentração de ozônio foi de 25 γ.

Figura 5: Ferida no dia da segunda sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica Veterinária,
Piraquara/2020.
27

Dia 27 de fevereiro de 2020 foi realizada a terceira sessão de ozonioterapia,


utilizando 30 γ de concentração de ozônio (Figura 6).

Figura 6: Ferida no dia da terceira sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica Veterinária,
Piraquara/2020.

A partir do dia 4 de março de 2020 o protocolo de curativo foi modificado, pois


o tecido de granulação nos bordos da lesão já tinha atingido o nível desejado. A
limpeza da ferida não era mais realizada com o auxílio da escova de antissepsia e o
óleo ozonizado foi suspenso. Uma solução salina (10 mL de cloreto de sódio em 1 litro
de solução fisiológica) foi aplicada nos bordos da ferida para retardar seu crescimento.
No dia 6 de março de 2020 foi realizada a quarta sessão de ozonioterapia com
uma concentração de 20 γ de ozônio (Figura 7). Além do bagging, neste dia foi feita
uma aplicação perilesional com scalp 27G curto, 3 mL de gás de ozônio por ponto
com uma distância de 2 centímetros (cm) de cada ponto por todo bordo da ferida para
estimular a cicatrização (Figura 8).
28

Figura 7: Ferida no dia da quarta sessão de ozonioterapia, realizada na Equivet Clínica Veterinária,
Piraquara/2020.

Figura 8: Aplicação perilesional de ozônio, realizada na Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.

No dia 9 de março de 2020 foi realizada uma nova modificação nos curativos.
Pela manhã era realizada uma limpeza com água e sabão e aplicado um modulador
frequencial floral tópico. Este floral tem a mesma função do óleo de ozônio, pois ele
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reorganiza a pele e promove cicatrização. Ao fim da tarde uma nova limpeza com
água e sabão era realizada. Após, solução salina era aplicada sobre toda a ferida. O
curativo era realizado apenas com algodão ortopédico e atadura, pois a bandagem
absorvente estava absorvendo a solução salina.
No dia 11 de março de 2020 o tratamento foi interrompido (Figura 9) pois o
proprietário retirou o paciente da clínica, sem alta médica, por conta de restrição de
custos.

Figura 9: Ferida no dia que o paciente foi retirado da Equivet Clínica Veterinária, Piraquara/2020.

Por não ter mais acompanhamento do caso, foi entrado em contato com o
proprietário para ter informações do paciente. Ele encaminhou uma imagem da ferida
no dia 18 de março de 2020 (Figura 10) onde foi notado tecido de granulação
exacerbado na porção proximal da ferida. No dia 12 de maio de 2020 ele encaminhou
outra imagem da ferida (Figura 11), que estava com curativo, então só foi possível
perceber aproximação parcial da borda da ferida.
30

Figura 10: Foto encaminhada pelo proprietário no dia 18 de março de 2020.

Figura 11: Foto encaminhada pelo proprietário no dia 12 de maio de 2020.


31

5 DISCUSSÃO

De acordo com estudo de PESSOA et al., (2014) que relatara a incidência de


doenças de pele em equídeos no semiárido brasileiro, de 535 casos de dermatopatias,
23,04% foram de feridas traumáticas. Estas lesões estão de acordo com as más
instalações, manejos e estresses anteriormente citadas. Estas lesões para um melhor
prognóstico devem ser rapidamente tratadas.
De acordo com o caso relatado, um tempo superior a 24 h foi descrito como
distância entre o ocorrido e a disposição do proprietário em solicitar um atendimento
médico. Durante este tempo o processo cicatricial já iniciou e o aumento do processo
inflamatório pode retardar a intervenção posterior. Além disso, tecido morto e larvas
de moscas já estavam presentes na ferida, o que propiciou uma diminuição de tecido
local e intervenção mais minuciosa para a retirada deste tecido e da miíase. Dentro
do protocolo usado para sedação do animal, YOUNG et al. (1993); TAYLOR et al.
(1998); HELLU, MARQUES NETO & DUQUE (2012) relatam da mesma forma a
técnica de triple drip, sendo possível o uso de solução salina a 0,9%, água destilada
ou glicose 5% para a diluição dos fármacos. A taxa de infusão é a mesma relatada
pelos autores e a técnica de diminuir a taxa de infusão com o passar do procedimento
foi de escolha do anestesista local da Equivet, para que o plano anestésico estivesse
mais superficial ao término do procedimento. Isso diminuiria o tempo entre final do
procedimento e recuperação anestésica.
Durante o internamento algumas medicações foram realizadas no paciente. A
associação dos dois antibióticos proporcionou uma cobertura ampla contra bactérias
Gram negativas e positivas. Este protocolo garantiu que uma infecção local não se
dissipasse. A utilização da fenilbutazona no primeiro dia garantiu uma analgesia mais
eficaz, mas não teve seu uso prolongado por conta do seu efeito colateral em agredir
a mucosa gástrica. Para evitar este processo, até mesmo por conta do estresse de
confinamento e manipulação, omeprazol foi administrado diariamente a fim de evitar
uma gastrite e suas complicações. A partir do segundo dia o meloxicam foi suficiente
para manter o animal sem dor e apoiando melhor o membro, além de reduzir o
processo inflamatório local.
Os curativos iniciais tiveram ação adjuvante no tratamento o uso de uma
solução a base de camomila e própolis. Durante séculos, a camomila vem sendo
utilizada como planta medicinal, principalmente para o tratamento de afecções
32

gastrointestinais. Também é usada por via oral para aliviar a ansiedade e a insônia, e
topicamente para estimular a cicatrização de ferimentos (MACCHIONI et al., 2004).
Própolis é uma resina produzida por abelhas e tem sido empregado na ortopedia,
endocrinologia, dermatologia, pneumatologia, gastroenterologia e odontologia. Foram
identificados muitos elementos químicos no própolis, entre eles ferro e zinco, que são
relevantes para a síntese de colágeno. Também foi demonstrada a presença de
aminoácidos, como arginina e prolina, importantes estimuladores da mitose celular e
matéria-prima para síntese proteica (MAGRO-FILHO & CARVALHO, 1994).
De acordo com médicos veterinários que trabalham com ozonioterapia, é muito
importante que o aparelho gerador de O3 seja de boa procedência e com registro na
ANVISA, pois um aparelho de má qualidade pode não apresentar o resultado
esperado. Isso implica em má fama da terapia quando efeitos não esperados são
alcançados. Concentrações altas de O3 têm efeito antimicrobiano e aumentam o efeito
de granulação (BOCCI, 2005). A dose depende de cada paciente. No relato de caso
a dose variou, pois dependia do estado em que a ferida se apresentava no dia da
sessão.
O O3 medicinal produzido pelos geradores deve ser produzido imediatamente
antes do seu uso, pois como mencionado anteriormente, sua instabilidade decompõe
a molécula rapidamente. Além disso, medidas de precaução devem ser tomadas uma
vez que ao inalar este gás causa toxicidade. OLIVEIRA (2007) relatou que o
tratamento tópico, com bolsa, bagging ou touca, consiste em um método muito
eficiente para o tratamento de lesões, úlceras, escaras, feridas abertas e lesões pós-
operatórias localizadas nos membros dos animais. Necessita de um sistema fechado,
para limitar a área de atuação do gás. O membro é revestido por um material ozônio
resistente para restringir a concentração do gás apenas no interior deste material.
Utiliza-se por cerca de 20 a 30 minutos, e os resultados após algumas sessões são
muitos satisfatórios.
A utilização de óleo de girassol foi citada no relato de caso. O mesmo era
utilizado com adição de O3, resultando em efeitos benéficos por conta do seu poder
bactericida, mesmo sobre as bactérias mais resistentes, agindo também como anti-
inflamatório e protetor da pele, ao agir nos tecidos conjuntivos, caracterizando
aumento no potencial de cicatrização (AMARAL, MEDEIROS & PARADA, 2013).
Como já mencionado por OLIVEIRA JUNIOR & LAGES (2012), o ozônio é
muito reativo, então se colocar com ar dentro ele vai reagir com o ar ao invés de reagir
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com a lesão. Por isso o ideal é tirar o ar com a bomba de vácuo para ele agir
diretamente com a lesão. O caso relatado tinha como meio de contato a água e o
efeito foi satisfatório. As bombas a vácuo já possuem um catalisador que faz a
degradação automática do O3 após o término do procedimento. Para profissionais que
não possuem este material, a ozonioterapia deve ser realizada em local arejado,
evitando assim possível aspiração do gás.
De acordo com a AEPROMO (2010) as concentrações de O3 usadas com a
técnica de bagging devem ser de 60-40-30-20 γ, de acordo com o estadiamento e a
evolução da lesão, por 20 a 30 minutos. As concentrações de 60-70 γ deverão ser
usadas apenas em infecções purulentas. Sempre que as lesões apresentarem
melhora havendo controle da infecção e formação de tecido de granulação, deve-se
reduzir a concentração e espaçar as sessões para favorecer a cicatrização.
O O3 perilesional foi utilizado com o objetivo de estimular a cicatrização, mas
não foram encontrados relatos que comprovam sua eficácia em lesões cutâneas.
De acordo com o modulador frequencial floral utilizado, quando administrados,
sua ação não é bioquímica e sim biofísica, via campo informacional. A terapia quântica
associada ao tratamento com ozônio se mostra eficaz no tratamento de feridas
(AMARAL, MEDEIROS & PARADA, 2013).
Infelizmente, como é a realidade em muitos casos, se torna caro para muitos
proprietários manter seus cavalos internados em um ambiente hospitalar e com
enfermagem 24 h por dia. Como citado por PAGANELA et al. (2009), os tratadores,
treinadores ou proprietários deviam ser capacitados para realizar este serviço de
enfermagem em casa ou propriedade onde o animal se encontra. Mesmo que a
intervenção médica seja realizada com êxito, o sucesso do trabalho e o resultado final
satisfatório dependem destes cuidados de higiene diários.
34

6 CONCLUSÃO

A realização do estágio curricular proporcionou um aprendizado pessoal e


profissional muito grande e importante, onde foi possível acompanhar na prática o que
foi estudado na graduação e a rotina de médicos veterinários que trabalham em clínica
e a campo.
A ozonioterapia é uma forma de tratamento ainda questionada por muitos
médicos veterinários. Com este trabalho foi possível perceber que essa técnica é
eficaz, podendo até substituir tratamentos convencionais em alguns casos. A técnica
de ozonioterapia com uso do bagging e o óleo de girassol ozonizado, citados no relato
de caso, se mostraram muito eficientes para cicatrização de feridas, não apresentando
efeitos colaterais se aplicados de maneira correta.
Infelizmente não foi possível realizar o tratamento até a cicatrização completa,
mas mesmo assim se obteve uma evolução significativa em um curto espaço de
tempo, evolução suficiente para confirmar que essa forma de tratamento foi eficiente.
35

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