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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

JULIANA RAFAEL DE QUEIROZ

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO


RELATO DE CASO: USO DA AUTO-HEMOTERAPIA ASSOCIADO A THUYA
OCCIDENTALIS E THUYA AVÍCOLA NO TRATAMENTO DA
PAPILOMATOSE ORAL CANINA (Canis lupus familiaris)

MOSSORÓ
2018
JULIANA RAFAEL DE QUEIROZ

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO


RELATO DE CASO: USO DA AUTO-HEMOTERAPIA ASSOCIADO A THUYA
OCCIDENTALIS E THUYA AVÍCOLA NO TRATAMENTO DA
PAPILOMATOSE ORAL CANINA (Canis lupus familiaris)

Relatório de estágio apresentado a


Universidade Federal Rural do Semi-Árido
como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Medicina Veterinária.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Rociene


Abrantes

MOSSORÓ
2018
JULIANA RAFAEL DE QUEIROZ

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO


RELATO DE CASO: USO DA AUTO-HEMOTERAPIA ASSOCIADO A THUYA
OCCIDENTALIS E THUYA AVÍCOLA NO TRATAMENTO DA
PAPILOMATOSE ORAL CANINA (Canis lupus familiaris)

Relatório apresentado a Universidade


Federal Rural do Semi-Árido como
requisito para obtenção do título de
Bacharel em Medicina Veterinária.

Defendida em: 17/09/2018


AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me sustentado até aqui, permitido que eu seguisse forte para a
realização desse sonho.
A minha filha Letícia, que mesmo tão pequena sempre foi minha fonte de forças
nos momentos mais difíceis, de onde eu sempre tirei todo o significado e ânimo para
continuar.
Ao meu esposo João Werley, por toda a compreensão e apoio nos momentos
mais difíceis dessa jornada.
Aos meus pais, Itêonio Queiroz e Socorro Rafael , que mesmo longe sempre se
fizeram tão presentes em todos os momentos.
Aos meus irmãos, Igor Rafael e Italo Sorac, por todo o apoio e cuidado comigo
desde o início até hoje.
A minha professora e orientadora, Maria Rociene Abrantes, que me deu toda
assistência e orientação necessária, com paciência e sabedoria, para a confecção desse
trabalho.
As minhas amigas de faculdade Lorena Nogueira, Iandra,Rebouças, Viviane
Medeiros, Thayane Cunha e Aline Rosendo, que sempre estiveram comigo nos
momentos de alegria e tristeza. Que mesmo ao terminarem o curso continuaram comigo
me ajudando e dando forças.
Aos médicos veterinários do hospital veterinário da instituição por terem
compartilhado seus conhecimentos. Em especial á Kayana Marques que muito me
ensinou durante o estágio.
Ao professor Eraldo Calado, por toda a compreensão e apoio no período de
minha gestação e licença.
RESUMO

O relatório descreve as atividades desenvolvidas durante o estágio


supervisionado obrigatório (ESO) que tem como objetivo agregar os conhecimentos
adquiridos em sala de aula na teoria, aos conhecimentos práticos de uma rotina clínica.
Além disso, objetivou-se avaliar o uso da auto-hemoterapia no tratamento de um cão
acometido de Papilomatose canina. Dessa forma, foi acompanhado na rotina clínica
durante o ESO, no Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia da Universidade Federal
Rural do Semiárido um caso clínico de um cão, macho, sem raça definida (SRD),
pesando 4Kg, com 7 meses de idade. O animal apresentava histórico de prurido intenso
no focinho e corpo, falta de apetite, feridas no corpo e queda de pelos. Ao exame físico,
observou-se que o paciente se encontrava-se apático, magro, com lesões no rosto e
corpo, presença de papilomas na boca, linfonodos submandibulares e pré-escapulários
direito e esquerdos reativos. Foi diagnosticado que o animal apresentava papilomatose
canina, cinomose e demodicose. Para o tratamento foram prescritos medicamentos de
uso tópico, sistêmico e posteriormente cirúrgico. Passados os tratamentos, observou-se
diminuição do quadro de demodicose, cinomose e aumento da quantidade de papilomas.
Não havendo remissão dos papilomas, foi reestabelecido uma nova terapia, a auto-
hemoterapia associado ao uso de Thuya tópica e oral. Após 30 dias da nova terapia, o
paciente relatado não teve nenhuma melhora considerada relevante. A infecção de cães
com doenças imunossupressivas ou debilitantes favorece a replicação e a manifestação
clínica do Papillomavirus, que é o caso do animal em questão. Assim, o estágio
supervisionado obrigatório na área de clínica médica de pequenos animais, permitiu
abranger os conhecimentos teóricos aos práticos, e acompanhar o desenvolvimento
deste caso desde sua chegado ao hospital até a conclusão do tratamento.

Palavras-chave: Cavidade oral. Imunossupressão. Papilomatose canina.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA, Mossoró-RN,


2018.................................................................................................................................23

Figura 2- Consultório do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA,


Mossoró-RN, 2018 .........................................................................................................24

Figura 3 - Sala de internamento das doenças não infecciosas do Hospital Veterinário


Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA, Mossoró-RN,
2018.........................................................24

Figura 4 - Farmácia do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA,


Mossoró-RN, 2018. ........................................................................................................25

Figura 5 - Cão atendido Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia - UFERSA,


Mossoró-RN, 2018..........................................................................................................27

Figura 6- Cão após 30 dias de tratamento atendido Hospital Veterinário Dix-Huit


Rosado Maia, UFERSA, Mossoró-RN,
2018................................................................................30

Figura 7- Procedimento de auto-hemoterapia em cão no Hospital Veterinário Dix-Huit


Rosado Maia - UFERSA, Mossoró-RN, 2018................................................................32

Figura 8- Papilomas retirados cirurgicamente e fixados em formol para análise


histológica. Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró-RN,
2018.................................................................................................................................34

Figura 9- Papilomas oral com aspecto de verrugas de um cão atendido Hospital


Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN,
2018.................................36
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Resultado do hemograma de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-


Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN,
2018...................................................................28

Tabela 2: Resultado do hemograma de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-


Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN,
2018...................................................................31

Tabela 3: Tabela de acompanhamento de regressão das lesões de um cão atendido no


Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN,
2018...................32

Tabela 4: Tabela de acompanhamento e descrição do método de auto-hemoterapia em


andamento de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia,
UFERSA, Mossoró/RN,
2018..........................................................................................33
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALT Alanina aminotransferase


CRE Creatinina
CO Gás Carbônico
COPV Papiloma vírus oral canino
CPVs Vários papilomavírus caninos
DNA Ácido desoxirribonucleico
ESO Estágio Supervisionado Obrigatório
EDTA Ácido etileno diamina tetra acético
ICVT Comitê Internacional sobre Taxonomia de Vírus
IgG Imunoglobulina G
PV Papiloma vírus
PT Proteínas totais
HC Hematócrito completo
HOVET Hospital veterinário
SMF Sistema Mononuclear fagocitário
SC Subcutâneo
SRC Sem raça definida
UR Ureia
VCC Vírus da cinomose canina
LISTA DE SÍMBOLOS

ºC Graus Celsius
% Porcentagem
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................12
2. OBJETIVOS..............................................................................................................14
2.1. Objetivos geral........................................................................................14
2.2. Objetivo específico.................................................................................14
3. REVISÃO LITERÁRIA...........................................................................................15
3.1 Etiologia .....................................................................................................15
3.2 Fisiopatologia e epidemiologia...........................................................16
3.3 Transmissão .............................................................................................16
3.4 Sinais clínicos............................................................................................17
3.5 Diagnóstico................................................................................................19
3.6 Tratamento..................................................................................20
3.6.1Autohemoterapia..................................................................................21
3.7 Prognóstico...........................................................................................................22
4. METODOLOGIA .....................................................................................................23
4.1 Local do estágio.......................................................................................23
4.2 Rotina do hospital...................................................................................25
4.3 Rotina do estágio.....................................................................................25
5. RELATO DE CASO..................................................................................................27
6. RESULTADOS E DUSCUSSÃO.............................................................................35
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................39
REFERÊNCIAS.............................................................................................................40
1. INTRODUÇÃO

O presente relatório de Estágio Supervisionado Curricular Obrigatório, na área


de Clínica Médica de Pequenos Animais, expõe as atividades desenvolvidas no Hospital
Veterinário Dix-Huit Rosado Maia-HOVET, na Universidade Federal Rural do Semi-
Árido -UFERSA, Campus Mossoró/RN, no período de 26 de junho de 2018 a 14 de
setembro de 2018, totalizando 240 horas de estágio. Devido a casuística do HOVET,
justifica-se a escolha desse local para o estágio, além da oportunidade de realizar
atividades sob a supervisão dos médicos veterinários. Durante esse período foram
realizadas práticas, como o acompanhamento de consultas de animais, além de
acompanhamentos de exames complementares laboratoriais e de imagem. Sendo
possível, nesse período, aprimorar conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula.
Foram acompanhados vários casos durante esse período, dentre estes destacou-se um
caso de um cão (Canis lupus familiaris) acometido por Papilomatose.
A papilomatose canina é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus da
família Papillomaviridae, gênero Lambdapapillomavirus. Não há conhecimento por
predileção quanto a sexo, raça e sazonalidade na ocorrência da doença, sendo
identificada predominantemente em cães jovens ou adultos imunossuprimidos (WALL;
CALVERT, 2006).
A papilomatose canina é conhecida por desencadear pailomas em cavidade oral,
cutâneos, supondo desempenhar um papel na etiologia de certos tipos de carcinomas de
células escamosas nesta espécie. As lesões papilomatosas são frequentemente múltiplas
na papilomatose oral e de pele invertida, mas também foram relatadas lesões solitárias
devido à infecção por papilomavírus (NARAMA et al., 2005).
Na literatura veterinária, poucos estudos descrevem a utilização da auto-
hemoterapia no tratamento da papilomatose oral em cães. Esta é uma prática de uso
clínico crescente na medicina veterinária, apesar de ainda se tratar de um procedimento
terapêutico sem comprovação científica por não existir estudos clínicos que comprovem
os seus benefícios. O processo de retirada do sangue venoso do animal e sua aplicação
na musculatura provocam uma resposta imunológica inespecífica e essa condição pode
desencadear a queda dos papilomas (CESARIMO, 2008).

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Dessa forma, o objetivo do estudo foi avaliar o uso da auto-hemoterapia no
tratamento da papilomatose oral canina atendido no Hospital Veterinário Dix-Huit
Rosado Maia-HOVET, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido -UFERSA,
Mossoró/RN.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Participar da rotina de um hospital veterinário com elevada casuística, agregando


os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula, aos conhecimentos práticos, e
relatar um caso clínico sobre o uso da auto-hemoterapia no tratamento da papilomatose
oral canina (Canis lupus familiaris).

2.2 Objetivos específicos

 Aplicar os conhecimentos teóricos e técnicos adquiridos no


transcorrer do curso;
 Acompanhar e auxiliar aos médicos veterinários nas atividades
desenvolvidas na clínica médica de pequenos animais;
 Relatar um caso um caso clínico sobre o uso da auto-
hemoterapia no tratamento da papilomatose oral canina (Canis
lupus familiaris).

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Etiologia

Os Papilomavírus (PVs) são vírus de DNA, que apresentam espécies e sítios


anatômicos específicos, infectando e transformando queratinócitos em verrugas
cutâneas e papilomas mucosos. A especificidade do sítio parece ser uma função
biológica do tipo viral, provavelmente determinada pela interação da região reguladora
viral com o hospedeiro (SANCAK et al., 2015).
Estes são vírus icosaédricos pequenos, não envelopados, que infectam o epitélio
escamoso estratificado de muitas espécies de mamíferos, bem como algumas espécies
aviárias e reptilianas. Seu genoma circular de DNA de fita dupla tem cerca de 8.000
pares de base (MUNDAY; PASAVENTO, 2017).
Vários Papilomavírus caninos que infectam cães foram identificados nos últimos
anos. Até o momento, foram descritos 49 gêneros diferentes no Comitê Internacional
sobre Taxonomia de Vírus (ICTV) pertencentes à família Papillomaviridae, e vinte
tipos foram distribuídos com base em seus critérios genômicos em três gêneros
Lambdapapillomavirus, Taupapillomavirus e Chipapillomavirus (REITOR; VAN
RANST, 2013; OĞUZOĞLU et al., 2017).
O Papilomavírus tem a capacidade de manter-se viável por até 63 dias entre 4-
8°C ou 6 horas a 37°C, porém, temperaturas entre 45 e 80°C por 60 minutos inativam o
vírus (NICHOLLS; STANLEY, 1999). Esse vírus apresenta alta especificidade por
espécies animais e tecidos ou órgãos, podendo ocorrer lesões de forma isoladas ou
múltiplas, localizadas principalmente na região oral, genital, cutânea e ocular
(BRANDSMA9, 1994).
São descritas seis síndromes clínicas relacionadas a papilomatose em cães. Entre
elas, observa-se a papilomatose oral canina, a papilomatose genital, os papilomas
múltiplos de coxim plantar, os papilomas caracterizados por placas pigmentadas de
origem viral, também denominados verrugas planas e os papilomas cutâneos, que
incluem os papilomas cutâneos invertidos. A papilomatose oral canina, considerada a
forma mais comum, causa lesões em consequência de infecção pelo papilomavírus oral
canino (COPV). A forma cutânea de ocorrência esporádica, é desencadeada pelo
Papilomavírus canino tipo 1 (MEDLEAU, 2009).

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3.2 Fisiopatologia e epidemiologia

Uma vez que os PVs entra em contato com um epitélio mucocutâneo, ocorre a
infecção de células basais, resultando na produção de pequenas cópias de DNA circular
de PV dentro da célula (SCHILLER; DAY; KINES, 2010).
Como os PVs completam seu ciclo de vida promovendo a proliferação de células
epiteliais, a histologia de uma lesão induzida pelo PV irá revelar espessamento do
epitélio. Se o PV induzir proliferação marcante de células epiteliais, isso pode causar o
enrolamento do epitélio espessado e um papiloma. Os Papilomavírus que promovem
apenas moderadamente a replicação epitelial contêm um espessamento epidérmico mais
moderado que geralmente aparece como uma placa elevada. A presença de replicação
viral dentro de uma lesão pode ser visível histologicamente como alterações celulares
induzidas por PV que poderiam incluir células aumentadas com um núcleo encolhido
cercado por um halo citoplasmático claro, células com quantidades aumentadas de
citoplasma fibrilar cinza ou azul, células com inclusões intracitoplasmáticas ou células
com núcleos vesiculares aumentados. Inclusões intra-nucleares podem ser visíveis,
embora possam ser transitórias e difíceis de diferenciar dos nucléolos. A aglomeração
de grânulos de queratina e hialina na camada de células granulares também está
frequentemente presente dentro de lesões induzidas por PV (MUNDAY et al., 2017).
Os papilomas orais causados pelo PVs oral canino são comuns em cães jovens.
A epidemiologia da infecção pelo PV ainda é pouco compreendida (LANGE et al.,
2011). Wall e Calvert (2006), referem que não há predileção por sexo, raça e
sazonalidade na ocorrência da doença, podendo ocorrer em qualquer animal em
condições favoráveis ao vírus.
A morbidade é alta em canis, hospitais veterinários, clínicas ou ambientes
similares com alto fluxo e rotatividade de animais, podendo acometer ninhadas inteiras.
Todavia, a mortalidade é baixa, exceto nos casos com complicações secundárias que
comprometam o estado geral do animal (CORRÊA; CORRÊA, 1992).

3.3 Transmissão

Nos cães, as verrugas transmissíveis foram observadas pela primeira vez em


1898, com uma etiologia viral confirmada em 1959. Usando microscopia de luz e

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eletrônica, a evidência de uma etiologia do PV foi sugerida em 1969 e o primeira PV
canina foi totalmente sequenciado em 1994 (MUNDAY et al., 2017).
Há relatos de surtos de papilomatose oral canina, sugerindo que a doença pode
ser adquirida através do contato com cães afetados. No entanto, uma vez que os cães são
comumente infectados de forma inaparente pelo vírus, evitar cães com papilomas pode
não ser suficiente para prevenir a doença (LANGE et al., 2011).
De acordo com Calvert (2006), a papilomatose canina pode ser transmitida por
contato direto ou indireto com secreções ou sangue provenientes dos papilomas
presentes em animais contaminados. A inoculação do Papilomavírus oral canino através
de solução de continuidade presente na epiderme ou no epitélio mucoso do animal
favoreça a infecção, mas esta pode ocorrer também em decorrência de transmissão
iatrogênica, utilizando-se instrumentos contaminados; fômites.
Os cães, após terem sido acometidos por infecções naturais ou experimentais se
tornam imunes à papilomatose canina desencadeada pelo vírus. Parece que a imunidade
humoral tem importância na prevenção da infecção, mas que esta não é efetiva na
regressão das lesões. Após a regressão completa das verrugas, o animal se torna
resistente à uma reinfecção pelo mesmo tipo viral anteriormente instalado durante um
período, através de uma imunidade mediada por anticorpos neutralizantes produzidos
contra as proteínas (ZEE, 2003).

3.4 Sinais Clínicos

A papilomatose canina de origem infecciosa é uma enfermidade tumoral


benigna, causada pelo Papilomavírus, caracterizada pelo aparecimento de papilomas
principalmente na região oral, nos lábios, na faringe e na língua. Os tumores se
desenvolvem entre um e cinco meses, e regridem espontaneamente na maior parte dos
animais entre quatro e oito semanas após o início das lesões tumorais (AZEVEDO;
GAMBA; PICCININ, 2008).
A apresentação clínica de uma infecção por PV é largamente determinada pelo
grau de proliferação celular induzida pelo vírus. A maioria dos tipos apenas aumenta
levemente a proliferação celular e a sua replicação ocorre lentamente na ausência de
lesões visíveis (DOORBAR et al., 2012). Alternativamente, uma minoria de tipos de PV
aumenta significativamente a replicação celular, resultando na rápida produção de um

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grande número de partículas virais. Tais infecções causam hiperplasia epitelial marcada
que é visível clinicamente como um papiloma (verrugas) (MUNDAY, 2014).
Na maioria dos cães e gatos, a infecção por PVs é inaparente (THOMSON;
DUNOWSKA; MUNDAY, 2015). Essas infecções geralmente não resultam em
hiperplasia epitelial clinicamente visível, porque o sistema imunológico é capaz de
impedir que o PV altere de maneira marcante a regulação normal das células epiteliais
(EGAWA; DOORBAR, 2017). No entanto, se mudanças no hospedeiro permitirem
maior expressão da proteína desse vírus, a hiperplasia epitelial resultante pode produzir
uma lesão. Atualmente, os fatores do hospedeiro que determinam se a infecção por PV
causará ou não uma lesão hiperplásica visível é pouco compreendida. Entretanto, a
imunossupressão parece predispor ao desenvolvimento de algumas lesões induzidas por
PVs e o aumento da frequência de placas pigmentadas em certas raças de cães sugere
que, fatores genéticos também podem influenciar se uma infecção por PV permanece
assintomática ou resulta em doença clínica (NARAMA et al., 2005; LUFF et al., 2016).
O desenvolvimento da papilomatose oral resulta no desenvolvimento de
anticorpos que previnem novas infecções pelo PV. No entanto, é provável que alguns
cães permaneçam aparentemente infectados após a resolução dos papilomas iniciais
(DOORBAR et al., 2012). A maioria dos cães não apresenta sinais sistêmicos da
doença, embora haja relatos de doença extensa que interfere na alimentação ou na
respiração. A histopatologia revela uma massa exofítica composta por epitélio dobrado
e espessado, frequentemente com numerosas alterações celulares induzidas por PV
(MUNDAY et al., 2017).
Uma vez que a maioria das replicaçãoes virais ocorrem nas camadas epiteliais
externas na ausência de lise celular, as infecções por PVs frequentemente provocam
apenas uma fraca resposta imunitária do hospedeiro (DOORBAR, 2006). O
desenvolvimento de uma resposta mediada por células resulta na resolução de infecções
estabelecidas (EGAWA; DOORBAR, 2017). Uma vez que existe uma variação
individual significativa no tempo que o corpo leva para montar uma resposta mediada
por células, há também uma variação no tempo necessário para resolver um papiloma
clinicamente visível, além do atraso em animais imunossuprimidos (MUNDAY et al.,
2017).
Nos animais com doenças imunossupressivas ou debilitantes (erliquiose,
cinomose, parvovirose) torna-se favorável a replicação e a manifestação clínica do
Papillomavirus. Geralmente animais que sofreram infecção e regressão total dos

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papilomas se tornam resistentes a reinfecção. No entanto, podem ocorrer casos de
recidiva dos papilomas devido ao não estabelecimento da resposta imune adequada ou
por deficiências a imunidade do animal (WALL; CALVERT, 2006).

3.5 Diagnóstico

O diagnóstico da papilomatose pode ser baseado na idade e no histórico do


animal, no aspecto macroscópico das massas orais (SILVA et al., 2011), e no exame
histopatológico dessas nodulações (SANTOS et al., 2008; YHEE et al., 2010), seguido
de microscopia eletrônica (LANGE et al., 2013), análise da sequência de nucleotídeos
(estudo citogenético) utilizando primers degenerados, além de avaliação por PCR. O
diagnóstico diferencial da papilomatose oral inclui todas as neoplasias que podem
comprometer a cavidade oral (SHIMADA et al., 1993; SANTOS et al., 2008).
As verrugas orais e cutâneas são a manifestação mais frequente da doença pelo
PVs em cães e a maioria destes casos pode ser diagnosticada clinicamente. Embora os
papilomas orais felinos também tenham uma apresentação clínica típica, eles podem não
ser reconhecidos devido à sua raridade. Devido à variação na apresentação clínica do
restante das lesões induzidas pelo PVs, a histopatologia é recomendada para permitir o
diagnóstico definitivo (MUNDAY et al., 2017).
No diagnóstico destas lesões cutâneas ou mucosas induzidas por vírus do
papiloma em cães, a detecção dos corpos de inclusão virais nas células epiteliais da
mucosa ou nos queratinócitos é útil. No entanto, os papilomas sem corpos de inclusão
viral detectáveis são frequentemente observados na mucosa oral, pálpebras e outras
áreas de pele não cabeluda do cão (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001).
A histopatologia possibilita a identificação de neoplasias intra-epiteliais, que
podem estar associadas a vírus oncogênicos. No entanto, não é possível através da
histopatologia identificar o tipo de papilomavírus associado com o efeito citopático
observado (FLORES, 2007) . Várias técnicas tradicionais são empregadas para a
detecção de antígenos e anticorpos desencadeados pelos vírus, como por exemplo,
cultivo celular, microscopia eletrônica com capacidade de localizar e demonstrar a
partícula viral e a sorologia. A técnica de imunoistoquímica utilizando-se o método de
complexo avidina biotina, através da coloração do antígeno viral relacionado ao grupo
dos papilomavírus auxilia no diagnóstico (LECLERC, 2003). Entretanto, este é um

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método de baixa especificidade e sensibilidade, e exige a presença de grande
concentração de proteínas virais. Os métodos sorológicos ainda estão em estudo.
A impossibilidade de cultivo dos papilomavírus em sistemas in vitro tem
direcionado o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico baseadas na identificação do
DNA viral. As principais incluem a hibridização de ácido nucléico e a reação em cadeia
da polimerase. O PCR tem sido amplamente utilizado para o diagnóstico e a
caracterização molecular dos papilomavírus com bons níveis de sensibilidade e
especificidade, e os segmentos dos genes L1 são os mais utilizados para a amplificação
tanto com objetivo de diagnóstico, quanto para a caracterização molecular de novas
espécies e tipos virais. Os diferentes métodos de hibridização foram desenvolvidos para
a detecção do DNA do papilomavírus em fragmentos de tecidos e em esfregaços,
incluindo a técnica de Southern blot, um método muito valioso com intuito de pesquisa.
A técnica Dot blot, a hibridização in situ e a hibridização in situ com filtro, todas
consideradas variações do método de hibridização. Em geral, todas essas técnicas
possuem o limiar de detecção do DNA variável e esses métodos apresentam baixa
sensibilidade e especificidade (FLORES, 2006).

3.6 Tratamento

A maioria dos papilomas sofre regressão espontânea que é geralmente


considerada mediada por células, uma vez que está associada a linfócitos que parecem
infiltrar e destruir células basais infectadas. Em animais infectados simultaneamente por
mais de um tipo de PVs, a regressão espontânea parece ocorrer entre os papilomas
induzidos pelo mesmo tipo de PVs, sugerindo que a resposta imune mediada por células
é específica do tipo PVs (GHIM et al., 2000). Nos papilomas induzidos
experimentalmente, a resolução ocorre tipicamente dentro de oito semanas. No entanto,
a resolução dos papilomas naturais parece ser mais variável, com resolução de até 12
meses em alguns cães (SANCAK et al., 2015).
Nos casos em que não há regressão, Santos et al. (2011), indicam a identificação
e correção da causa primária da imunossupressão associada à exérese cirúrgica dos
papilomas e administração de fármacos antivirais e homeopáticos, realização de auto-
hemoterapia, aplicação de vacina autógena e utilização de imunomoduladores. A
remoção cirúrgica e a eletrocirurgia são indicadas em cães com papilomas orais isolados

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ou persistentes após os demais tratamentos não invasivos (MEGID et al., 2001;
FERNANDES et al., 2009).
Como forma de tratamento há no mercado algumas formulações que podem ser
utilizadas e há tratamentos homeopáticos. Sobre os homeopáticos, Fernandes et al.
(2009), relataram o fármaco Thuya 30CH (0,5ml/animal, por via oral, a cada 12 horas,
durante 15 dias seguidos ou mais) e, em seguida, Nitric acid 30CH (na mesma dosagem,
via oral, a cada 12 horas, por três dias consecutivos). De acordo com Monteiro e Coelho
(2008), a ação da tintura alcoólica da Thuya parece estar relacionada à presença de um
óleo volátil em sua composição que é imunoestimulante e purificador sanguíneo. Estes
autores também citaram que a tintura-mãe da planta Thuya occidentalis pode ser
utilizada de forma tópica nos papilomas.
Biricik et al. (2008), ainda relataram a utilização do antimicrobiano taurolidina
em cães jovens com papilomatose oral, por via intravenosa, na dose de 45mg/kg
associado com solução Ringer, a cada três dias, com resultados promissores após a
quinta aplicação do produto e sem a ocorrência de efeitos adversos. Segundo esses
autores, a taurolidina possui propriedade imunomoduladora, minimizando o
crescimento e propagação dos papilomas e que até o presente momento, não há outros
relatos na literatura sobre o uso desse fármaco em tal afecção oral.
Oferecer alimentação de boa qualidade ao paciente e mantê-lo em ambiente com
poucos fatores estressantes também favorecem a eficácia do tratamento da doença, além
de evitar casos de recorrências (HARTMANN et al., 2002; FERNANDES et al., 2009).

3.6.1 Auto-hemoterapia

A auto-hemoterapia consiste na retirada do sangue venoso do paciente e


reinjeção intramuscular; esta prática teve seu primeiro relato de uso em 1911, com
François Ravaut e desde então tem sido utilizada em várias doenças, inclusive
dermatopatias (LEITE, 2008). Segundo Cesarino et al. (2009), a auto-hemoterapia
consiste na aplicação do sangue autólogo por via intramuscular, com o objetivo de
estimular o sistema imunológico através da ativação do sistema mononuclear fagocitário
(SMF) e sua eficácia foi comprovada no tratamento de papilomatose canina e bovina.
Essa técnica também permite a redução de células neoplásicas em cães (DRUMONT,
2009).

21
A auto-hemoterapia promove a ativação do SMF através do aumento da taxa de
macrófagos de 5% para 22% mantendo esta taxa por 5 dias, logo em seguida a taxa
começa a declinar, voltando ao seu valor basal no sétimo dia, sendo indicado a repetição
a cada 7 dias (MOURA; 2011). O sangue venoso extraído é rico em CO² (gás
carbônico) e em contato com a seringa (corpo estranho), provoca modificações físico-
químicas na estrutura da hemácia, por isso quando injetado no organismo atua como
uma proteína estranha. As proteínas por sua vez, tem efeito um estimulante sobre o
sistema simpático e parassimpático, desencadeando reações vasomotoras e teciduais em
todo organismo, assim como a ação do SMF estimulado pela auto-hemoterapia
(TEIXEIRA, 1940). Satin e Brito (2004), relatam que os produtos da degradação
eritrocitária estimulam eritropoiese ao ativar o sistema imune, permitindo a manutenção
da homeostasia.

3.7 Prognóstico

Em geral o prognóstico é bom, com regressão espontânea na maioria dos casos.


Sugere-se que um prognóstico reservado seja dado a cães que tenham papilomas por
mais de 18 meses (MUNDAY et al., 2017). Geralmente a mortalidade é baixa, exceto
em casos com complicações secundárias que comprometam o estado geral do animal
(CORRÊA; CORRÊA, 1992).

22
4. METODOLOGIA

4.1 Local de estágio

O estágio supervisionado obrigatório ocorreu na mesma instituição de ensino,


UFERSA, campus Mossoró-RN, mais precisamente no Hospital Veterinário Dix-Huit
Rosado Maia, no período entre 26 de junho de 2018 a 14 de setembro de 2018 (Figura
1).
A estrutura do hospital veterinário do setor de pequenos animais, conta com uma
recepção, local onde os tutores dos animais aguardam pelo atendimento, cinco
consultórios (Figura 2), 2 salas de internamento (Figura 3), um para animais com
doenças não infecciosas e outra para animais com doenças infecciosas, uma farmácia
(Figura 4), um laboratório, para análises clínicas, uma sala para exames radiográficos e
uma para exames de ultrassonografia, uma sala para medicação pré-anestésica, dois
centros cirúrgicos, uma sala pós-cirúrgica, um auditório, direção, três salas para
acomodar os médicos veterinários, uma copa, um almoxarifado, uma sala de autoclave e
esterilização de material.

Figura 1: Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA, Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal, 2018.

23
Figura 2: Consultório do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA,
Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal, 2018.

Figura 3: Sala de internamento das doenças não infecciosas do Hospital Veterinário


Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA, Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal, 2018.

24
Figura 4: Farmácia do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia – UFERSA,
Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal, 2018.

4.2 Rotina do hospital

As consultas acontecem por meio de agendamento prévio, todas as sexta-feiras


são marcadas 24 pacientes, sendo 12 para ser atendido em cada tuno de manhã e á tarde,
atendendo a população de animais da cidade e região. Para que ocorra o atendimento, o
tutor preenche uma ficha na recepção, fornece dados pessoais e informações do
paciente. Ainda na recepção, o animal é pesado e aguarda pelo atendimento.Ao chegar
ao hospital, será direcionado diretamente ao atendimento clínico; caso não esteja
agendado, deverão passar pela triagem onde os animais considerados em estado de
urgência e emergência são atendidos de acordo com a disponibilidade de vagas. Durante
o atendimento, o paciente passa por exame clínico, exame físico e anamnese, realizado
por um dos veterinários do HOVET, e comumente há participação de estagiários. De
acordo com a necessidade individual de cada paciente, pode ser preciso realizar exames
complementares e/ou aplicação de medicamentos. Os exames complementares são
requisitados a fim de auxiliar no diagnóstico e posterior tratamento do paciente; são
eles, os exames de (radiografia e ultrassonografia), e exames laboratoriais (citologias,
hemograma, bioquímicas, raspados cutâneos, tricogramas, entre outros).

25
O setor de clínica médica de pequenos animais conta com dois médicos
veterinários efetivos, cinco médicos veterinários residentes e estagiários em diferentes
semestres do curso de medicina veterinária, podendo haver discentes da instituição ou
de outras instituições.

4.3 Rotina de estágio

Normalmente, ao chegar ao consultório o tutor juntamente com seu animal são


recebidos pelo médico veterinário. Em seguida, é realizada a anamnese, onde se observa
os motivos pelos quais o tutor procurou o atendimento. Sabendo da queixa principal e
do histórico do paciente, o médico veterinário realiza o exame físico, avalia todos os
parâmetros do animal bem como avalia suas respectivas alterações. Se necessário, são
solicitados exames complementares e aplicação de medicações. Após o exame clínico, o
médico veterinário conversa com o tutor sobre o diagnóstico ou sobre as suspeitas
clínicas que possam levar ao diagnóstico. Posteriormente ao diagnóstico, são repassadas
ao tutor as orientações sobre como realizar o tratamento corretamente visando obter
sucesso na terapia.
O estagiário ao acompanhar a rotina do hospital, auxilia no acompanhamento do
paciente, realiza coleta de sangue para hemograma, acesso venoso para realização de
fluidoterapia, administra as medicações indicadas pelo veterinário no prontuário, avalia
constantemente os sinais vitais dos animais e auxilia nos procedimentos mais
complexos realizados pelo clínico. Todos os procedimentos são supervisionados e
orientados por médicos veterinários do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia
(HOVET).

26
5. RELATO DE CASO

No dia 29 de maio de 2018, um cão macho SRD, pesando 4 kg, de 7 meses de


idade (Figura5), chegou ao Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido, Campus Mossoró/RN, para uma consulta médica. Na
queixa principal o proprietário relatou que o animal apresentava intenso prurido em todo
o corpo há mais de um mês, principalmente na região da cabeça e que devido a isso
estava causando lesões de automutilação, e apresentando queda de pelos. Além disso, o
animal encontrava-se com apetite reduzido há cerca de três dias. Conforme o
proprietário o animal havia realizado cirurgia para retirada de papilomas na boca,
período não citato. O animal se encontrava com a vacinação e a vermifugação atrasadas.

Figura 5: Cão atendido Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia - UFERSA,


Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal (2018).

No exame clínico o animal se encontrava-se em estação e com comportamento


dócil. O animal apresentou 38,6°C de temperatura retal, linfonodos submandibulares
direito e esquerdo e pré-escapulares direito e esquerdo reativos, mucosas normocoradas,
ausência de ectoparasitas e de desidratação, e estado nutricional normal. Na ausculta
cardíaca não foram verificados alterações. No exame do sistema digestório foi

27
verificado os papilomas na cavidade oral, hiporexia, normodipsia e normoquesia.
Verificou-se a presença de papilomas na cavidade oral do animal, de forma que estavam
dificultando a ingestão de água e comida pelo mesmo
Visando avaliar o animal de uma forma mais específica foram solicitados
exames complementares, como o hemograma completo (eritograma, leucograma e
hematoscopia) (Tabela 1).
Tabela 1: Resultado do hemograma de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-
Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN, 2018.
HEMOGRAMA COMPLETO
ERITOGRAMA VALORES VALORES DE DE REF.
EM CÃES
Hemácias 4,02 milhões/mm 6 – 7 milhões/mm
Hemoglobina 8,6 g/dl 14 – 17 g/dl
Hematócrito 26 % 40 – 47 %
VCM 66 fL 65 – 78 fL
CHCM 32 % 30 – 35 %
LEUCOGRAMA
Leucócitos 27.500./mm 9 – 15 mil/mm
Neutrófilos % (Ref. %) ABSOLUTO (Ref.)
Segmentados 85 (55 – 70) 23375 (4950-10500)/mm
Bastonetes 0 (0 – 1) 0 (0-150)/mm
Metamielócitos 0 (0) 0 (0)/mm
Mielócitos 0 (0) 0 (0)/mm
Eosinófilos 1 (1 – 6) 275 (150-900)/mm
Basófilos 0 (0 – 1) 0 (0-150)/mm
Linfócito 5 (20 – 40) 1375 (1800-6000)/mm
Monócitos 9(2 – 8) 2475 (180-1200)/mm
Plasmócito 0 (0) 0 (0)/mm
HEMATOSCOPIA
Plaquetas 402 mil/mm (Ref. 180 – 500 mil/mm)
Morfologia: Anisiocitose e hipocromia leves
Plaquetas gigantes
Presença de Anaplasma platys e Hepatozoon sp.
Fonte: Laboratório de patologia do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia/UFERSA,
2018.

No hemograma foram visualizadas alterações nas plaquetas; anisocitose,


hipocromia moderada, neutrofilia, linfopenia e presença de Anaplasma Platys e
Hepatozoon sp.
Foi realizado também um teste rápido de detecção semi-quantitativa dos
anticorpos IgG anti o vírus da cinomose, o qual apresentou alta concentração e teve
resultado positivo. Por fim, também foi realizado um raspado profundo de pele, onde foi

28
possível ver o demódex na lâmina após a fixação através de análise microscópica.
Também foi realizado no animal punções de medula e linfononos.
Diante dos sintomas, testes diagnósticos e das alterações avaliadas durante o
exame clínico, o animal foi diagnosticado com Demodicose, Cinomose e Papilomas
Bucais. Perante este fato, foram prescritos os seguintes medicamentos para o controle e
cura das patologias: Infervac® 1ml IM a cada sete dias, totalizando 4 aplicações
(indicado para melhorar a imunidade do animal a fim de corrigir também a
papilomatose), Ivermectan Pet®3mg na dose de 0,5mg/kg durante 60 dias (indicado
para o tratamento de sarna demodécica), mupirocina duas vezes por dia durante 15 dias
(indicado para o tratamento tópico de infecções dermatológicas), Simparic ® 10mg 1
dose a cada 30 dias, 3 doses no total, (indicado para o tratamento de sarna demodécica)
e banhos com Amitraz 4ml/L a cada 7 dias).
No dia 30/05/2018, o cão retornou e após a análise do hemograma pôde-se
verificar que o animal apresentava Anaplasma Platys e Hepatozoon sp. Durante o
atendimento foi realizado a aplicação de Atropina 0,7ml SC e Diazen® 0,2ml SC
recomendados para ser repetidos após 14 dias ambos (Antiparasitário; indicado para o
tratamento de anaplasmose).
Após 35 dias de tratamento, no dia 05/07/2018, o animal retornou para uma nova
avaliação e verificou-se uma melhora com o tratamento. Neste período já havia
terminado as aplicações do Infervac®, mupirocina e Simparic ®. Em relação à pele, já
havia grande melhora do quadro de Demodicose, as lesões estavam quase que
totalmente curadas, não havia mais prurido e já havia presença de pelo na maioria do
corpo. Quanto à cinomose, não havia mais nenhum tipo de sintoma de doença viral. Já
em relação aos papilomas, estes aumentaram significantemente em tamanho e
quantidade, não havendo nenhuma melhora com o tratamento (Figura 6).

Figura 6: Cão após 30 dias de tratamento atendido Hospital Veterinário Dix-Huit


Rosado Maia, UFERSA, Mossoró-RN, 2018. 2018.

29
Fonte: Acervo pessoal (2018).

Diante do quadro clínico do animal, foi sugerido uma nova terapia para os
papilomas. Desta vez, foi prescrito a manipulação de Thuya Occcidentalis 30CH,
administrado 5 gotas por via oral a cada 24 horas durante 30 dias, e Thuya Avícola
administrado de forma tópica diretamente na base dos papilomas a cada 12h durante 15
dias. Além destes, também foi recomendado o tratamento através da auto-hemoterapia.
Após a autorização da proprietária por meio de um termo, ficou definido que em 5 dias
o animal retornaria para avaliação e assim avaliar o quadro clínico do animal, em
ausência de melhora pelo tratamento tópico e oral seria iniciado a auto-hemoterapia em
um protocolo de 4 aplicações inicialmente (podendo ser mais), com intervalos de 7 dias
cada.
Após 5 dias, no dia 10/07/2018, o animal retornou e constatou-se que não houve
melhora do animal e com o Hemograma favorável (Tabela 2), foi realizada a primeira
sessão de auto-hemoterapia (Figura 7).

30
Tabela 2: Resultado do hemograma de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-
Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN, 2018.
HEMOGRAMA COMPLETO
ERITOGRAMA VALORES VALORES DE DE REF.
EM CÃES
Hemácias 4,02 milhões/mm 6 – 7 milhões/mm
Hemoglobina 10,6 g/dl 14 – 17 g/dl
Hematócrito 34 % 40 – 47 %
VCM 63 fL 65 – 78 fL
CHCM 31 % 30 – 35 %
LEUCOGRAMA
Leucócitos 12.100./mm 9 – 15 mil/mm
Neutrófilos % (Ref. %) ABSOLUTO (Ref.)
Segmentados 76 (55 – 70) 9196 (4950-10500)/mm
Bastonetes 0 (0 – 1) 0 (0-150)/mm
Metamielócitos 0 (0) 0 (0)/mm
Mielócitos 0 (0) 0 (0)/mm
Eosinófilos 5 (1 – 6) 605 (150-900)/mm
Basófilos 0 (0 – 1) 0 (0-150)/mm
Linfócito 11 (20 – 40) 1331 (1800-6000)/mm
Monócitos 8(2 – 8) 968 (180-1200)/mm
Plasmócito 0 (0) 0 (0)/mm
HEMATOSCOPIA
Plaquetas 402 mil/mm (Ref. 180 – 500 mil/mm)
BIOQUÍMICAS SERICAS
TGP/ALT 34 UI/L (Ref. 21 – 73 UI/L)
Proteínas totais 7,1 g/Dl (Ref. 5.8 – 7,9 g/dL)
Creatinina 1 mg/dL (Ref. 0,5 – 1,5 mg/dL)
Fonte: Laboratório de patologia do Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado
Maia/UFERSA, 2018.

31
Figura 7: Procedimento de auto-hemoterapia em cão no Hospital Veterinário Dix-Huit
Rosado Maia - UFERSA, Mossoró-RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Durante o tratamento, antes de cada sessão de auto-hemoterapia era realizado


hemograma completo para monitorar o tratamento semanal , e avaliado a evolução da
remissão dos papilomas através de uma tabela onde era acompanhado a análise da
regressão dos papilomas (Tabela 3).

Tabela 3: Tabela de acompanhamento de regressão das lesões de um cão atendido no


Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN, 2018.
BOCA GENGIVA LÍNGUA PALATO LÁBIOS PATAS JOELHO VENTRE FOCINHO

10/07/2018 X X X X X X X X X
16/07/2018 X X X X X X X X X
24/07/2018 X X X X R.C X X X R.C
31/07/2018 X X X X X X X X X
X - Presença de papilomas naquela região no dia avaliado
R.C - Remoção cirúrgica.

32
Foi montado um cronograma terapêutico de auto-hemoterapia específico para o
animal, levando em consideração sua idade, peso, raça e condições de saúde no
momento do tratamento. Após avaliação clínica e análise do hemograma ficou definido
o seguinte cronograma terapêutico descrito na tabela 4.

Tabela 4: Tabela de acompanhamento e descrição do método de auto-hemoterapia em


andamento de um cão atendido no Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia,
UFERSA, Mossoró/RN, 2018.
Data Aplicação Local da coleta Local da aplicação Exames realizados
10/07/2018 1º V.J.E M.G.D.E HC, PT, ALT, UR, CRE.
16/07/2018 2º V.J.D M.G.D.E HC, PT, ALT, UR, CRE.
24/07/2018 3º V.J.E M.G.D.E HC, PT, ALT, UR, CRE.
31/07/2018 4º V.J.D M.G.D.E HC, PT, ALT, UR, CRE.
V.J.E: veia jugular esquerda; V.J.D: veia jugular direita, HC: hemograma completo, PT: proteínas totais,
ALT: alanina aminotransferase, UR: uréia, CRE: creatinina).

O protocolo da auto-hemoterapia ocorria da seguinte forma:


o Realização de 4 sessões de auto-hemoterapia com intervalos de 7 dias entre elas.
o Ao início de cada sessão o animal foram realizados exames laboratoriais (HC,
PT, ALT, UR, CRE) para ser analisado se o animal estaria apto a receber o
sangue autógeno.
o Antes de iniciar o procedimento o animal era colocado no acesso venoso para o
caso de necessitar de alguma intervenção durante o tratamento ou após ele, uma
vez que o mesmo ficava 1h sendo monitorado após o procedimento para avaliar
possíveis efeitos colaterais que necessitassem de intervenção médica.
o Deixar sempre calculado em seringas identificadas dexametasona 4mg/ml (na
dose de 4mg/ml) e Prometazina (na dose de 0,2mg/kg), para serem utilizados em
caso de reação.
o Realizava-se tricotomia e antissepsia do pescoço em região jugular.
o Realizava-se tricotomia e antissepsia da região de aplicação do sangue (músculo
grácio direito e esquerdo).
o Eram coletados 5 ml de sangue em seringa sem EDTA e aplicados
imediatamente 2,5ml em cada músculo grácil.
o O animal permanecia sob monitoração por 1 hora após o procedimento.

33
Após a primeira sessoão, verificou-se a necessidade de realizar a retirada
cirúrgica de papilomas da cavidade oral no animal, pois o mesmo estava com
dificuldades de se alimentar e ingerir água devido ao tamanho e crescimento dos
papilomas (Figura 8).

Figura 8: Papilomas retirados cirurgicamente e fixados em formol para análise


histológica. Hospital Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró-RN,
2018.2018.

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Ao final das quatro sessões de auto-hemoterapia associada à terapia com Thuya


Occidentalis e Thuya avícola, o animal continuava com a presença dos papilomas e
estes continuavam a crescer e nascer em todas as regiões descritas antes do tratamento.
Havendo assim, a necessidade de reavaliar o animal e realizar outro tipo de terapia.

34
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente relato expôs um caso de um cão SRD, diagnosticado com


Papilomatose oral canina, onde o mesmo apresentou resistência aos tratamentos. Ao
verificar as massas verrugosas com aspectos de papiloma e diante do exame clínico, o
paciente foi diagnosticado com Papilomatose, sendo posteriormente confirmado esse
diagnostico através do resultado da avaliação histopatológica após a retirada cirúrgica
dos papilomas. Segundo Silva (2011), diagnóstico da papilomatose deve sempre ser
baseado na idade e no histórico do animal, no aspecto macroscópico das massas orais,
no exame histopatológico dessas nodulações seguido de microscopia eletrônica. O
diagnóstico diferencial da papilomatose oral inclui todas as neoplasias que podem
comprometer a cavidade oral (SHIMADA et al., 1993; SANTOS et al., 2008), como os
epúlides, tumor venéreo transmissível e carcinoma de células escamosas. Papilomas
generalizados em outras regiões do corpo deverão ser diferenciados de dermatofitoses,
lesões cutâneas secundárias a fotossensibilização e alergias decorrentes da picada de
ectoparasitas (HARTMANN et al., 2002).
O Papillomavirus possui mecanismos de evasão da resposta imune do
hospedeiro, que permitem a sua replicação e manifestação patogênica. Esta patologia
acomete preferencialmente cães jovens entre um a cinco meses de idade ou adultos
imunossuprimidos (DUMON et al., 2005), como o deste caso que apresentava outras
afecções e com 7 meses de idade.
Segundo Santos (2011), a maioria das infecções regride espontaneamente após
algumas semanas, características não observadas no caso relatado, onde não se verificou
redução dos papilomas. O autor supracitado relata também que, ocasionalmente, os
papilomas podem persistir ou recidivar, especialmente em cães imunossuprimidos. A
infecção de cães com doenças imunossupressivas ou debilitantes (erliquiose, cinomose,
parvovirose) favorece a replicação e a manifestação clínica do Papillomavirus, que foi o
que provavelmente acorreu com o animal em questão. Este não havida recebido as
vacinas recomendadas enquanto filhote e foi diagnosticado com cinomose, fatores que
causam imunossupressão e favoreceram o aparecimento e a persistência dos papilomas.
A cinomose canina ocorre principalmente em cães com três a seis meses de idade,
devido ao desaparecimento da imunidade passiva transmitida pela mãe aos filhotes.

35
Durante o exame clínico foi verificado a presença dos papilomas em toda a
cavidade oral do animal. Lesões na cavidade oral são a principal forma de apresentação
clínica da papilomatose nos cães e Segundo Chambers (1990), esta patologia ocorre
preferencialmente na boca acometendo lábios, língua, palato, mucosa da faringe e
esôfago.
Além dos sintomas de demodicose e cinomose apresentados pelo animal, o
mesmo ainda tinha ptialismo, halitose, infecções bacterianas secundárias, acompanhada
por secreção purulenta na região dos papilomas, que são complicações clínicas
observadas na doença em cães e relatados por Calvert (1998).
Os papilomas geralmente se apresentam com aspecto de verrugas e com a
consistência dura. A coloração pode variar da tonalidade branco acinzentada a negra,
com superfícies ásperas e friáveis que se destacam facilmente gerando as hemorragias.
As lesões variam de pequenos nódulos circunscritos – menores que 0,5 cm de diâmetro
– até grandes massas desuniformes, popularmente denominadas “couve-flor” ou
“verrugas” (CALVERT, 1998), como observado no cão do relato. (Figura 9).

Figura 9: Papilomas oral com aspecto de verrugas de um cão atendido Hospital


Veterinário Dix-Huit Rosado Maia, UFERSA, Mossoró/RN, 2018.

Fonte: Acervo pessoal (2018).

Segundo Santos et al. (2011), nos casos que necessitam de tratamento, indica-se
a identificação e correção da causa primária de imunossupressão no animal, associada a

36
exérese cirúrgica dos papilomas, assim como eletrocirurgia, crioterapia com nitrogênio
líquido, administração de fármacos antivirais e homeopáticos, realização de auto-
hemoterapia, aplicação de vacina autógena, medicamentos imunomoduladores. Após o
tratamento realizado para cinomose e demodicose, esperava-se que a imunidade do
animal voltasse ao normal e o próprio sistema imunológico começasse a reagir contra os
papilomas, o que não foi verificado.
Através da análise dos hemogramas um achado importante foi a persistência da
linfopenia mesmo após os tratamentos. A linfopenia é considerada uma característica
marcante da infecção do Vírus da Cinomose Canina (VCC), mas pode estar ausente em
alguns casos por não ser um achado específico. Mangia (2011), observou uma
linfopenia persistente em tratamentos de animais com cinomose. Também pode ser
justificada pela atrofia e necrose do tecido linfoide, causada pelo vírus.
Geralmente cães que sofreram infecção e regressão total dos papilomas se
tornam resistentes a reinfecção. No entanto, podem ocorrer casos de recidiva dos
papilomas devido ao não estabelecimento da resposta imune adequada ou por
deficiências da imunidade do animal susceptível (WALL; CALVERT, 2006).
Como não houve a resposta imunológica esperada pelo animal e a quantidade de
papilomas aumentou significativamente, foi iniciado o tratamento homeopático citado
por Fernandes et al. (2009), com o fármaco Thuya 30CH e com a Thuya Avícola,
conforme prescrição já relatado anteriormente. De acordo com Monteiro e Coelho
(2008), a ação da tintura alcoólica da Thuya parece estar relacionada à presença de um
óleo volátil em sua composição que é imunoestimulante e purificador sanguíneo. Estes
autores também citaram que a tintura-mãe da planta Thuya occidentalis deve ser
utilizada de forma tópica nos papilomas.
Associado ao uso das Thuyas, foi realizado a auto-hemoterapia, que consiste na
retirada de sangue venoso do animal acometido por papilomatose (aproximadamente 2
mililitros de sangue sem anticoagulante) e aplicado nele mesmo imediatamente, por via
intramuscular. Esse procedimento foi relatado por Silva (2011), com a finalidade de
estimular o sistema imunológico pela ativação do sistema mononuclear fagocitário, o
que pode aumentar o número de anticorpos circulantes, com custo relativamente baixo.
Essa técnica também pode ser chamada de terapia do soro, imunoterapia, auto-
hemotransfusão ou transfusão de sangue autólogo (SHAKMAN, 2007). Todos os
cuidados necessários foram tomados na autoterapia, pois essa prática pode causar
reações adversas imediatas ou tardias, de gravidade imprevisível, ressaltando-se que o

37
risco e a gravidade destas reações aumentam quando o procedimento é realizado por
pessoas não habilitadas ou pelo próprio paciente (LEITE, 2008). O método é seguro,
porém não isento de complicações. Deve ser praticado e indicado através de
profissionais da saúde habilitados e em local adequado, sendo este caso realizado no
Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-árido em Mossoró,
realizado por profissional qualificado.
Sabemos que terapia através da injeção do sangue autólogo, praticada e
supervisionada por profissionais não pode ser proibida, nem se constituir em ato
criminoso ou antiético (OLIVEIRA JR, 2007). Ressalta-se ainda que os procedimentos
da imunoterapias específica e inespecífica podem ser aplicados a todos os tipos de
patologias, pelo fato de que na maioria das doenças infecciosas, parasitárias,
neoplásicas, degenerativas e auto-imunes o sistema imune está sempre envolvido no
desenvolvimento de todo o processo - início, evolução, controle e cura(VERONESI,
1976).
Ao final das quatro aplicações de auto-hemoterapia, o animal continuava com os
papilomas orais. Mesmo após a retirada cirúrgica, estes voltaram a desenvolver-se.
Comprovando-se a ineficácia da terapia para este animal em questão, um novo
protocolo terapêutico foi feito com o objetivo de promover a remissão dos papilomas.
A papilomatose é uma doença viral que se estabelece principalmente quando o
animal tem uma queda na imunidade, e geralmente regride quando a imunidade se
reestabelece. Podendo ainda persistir ou recidivar em cães imunossuprimidos. Portanto,
podemos atribuir a persistência dos papilomas do animal citado neste relato à presença
de uma doença imunossupressiva (cinomose) aliado à falta de imunização precoce
(vacinas), e ainda á possibilidade de possíveis fatores de resistência ao tratamento
inerentes ao mesmo.
Há na escassa literatura relatos positivos ao uso de homeopáticos e auto-
hemoterapia no tratamento de Papilomatose oral canina. Pois essas técnicas são
comprovadamente capazes de estimular o sistema imunológico dos animas e torná-lo
capaz de combater e acabar com esta patologia.

38
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sobre o estágio, pode-se constatar a importância de vivenciar a prática hospitalar


e colocar em prática tudo o que foi aprendido durante a carreira acadêmica. O estágio
possibilitou o conhecimento de diversas doenças e o aprimoramento de técnicas e
procedimentos da rotina clínica de um médico veterinário de pequenos animais,
permitindo assim, uma maior vivencia e experiência nessa área da medicina veterinária.
O paciente relatado não obteve melhora significativa com a auto-hemoterapia no
tratamento de Papilomatose oral canina que possa ser considerada relevante ou remissão
dos papilomas, provavelmente devido o animal apresentar imunossuprimido. Contudo,
devido ao reduzido número da amostra, mais estudos são necessários para comprovação
do tratamento, abrindo assim, caminhos para novas pesquisas na área da auto-
hemoterapia em pequenos animais de companhia.

39
REFERÊNCIAS

CESARINO M, ÁVILLA DF, FERNANDES CC, SILVA CB, SCHERER DL, DIAS
TA, MENDONÇA CS, CASTRO JR. Efeito da autohemoterapia associada com
clorabutanol no tratamento da papilomatose oral em cão (Canis familiaris). Arq. Bras.
Vet. Zootec. 2008; 46: 145-148
AZEVEDO, F. F.; GAMBA, G.; PICCININ, A. Papilomatose canina. Revista
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