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BOA VISTA, RR
2021
ANA LETICIA FILIZZOLA VASCONCELOS
Boa Vista, RR
2021
ANA LETICIA FILIZZOLA VASCONCELOS
Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUIF) é o termo utilizado para se
referir a qualquer enfermidade que afeta a vesícula urinária ou a uretra dos gatos
domésticos. Acomete principalmente felinos machos, de vivência intradomiciliar e
com baixa ingestão de água. Tem como principais sinais clínicos disúria, hematúria
e polaciúria, que podem estar relacionados a obstrução uretral ou não. A obstrução
uretral representa grande risco à vida do paciente e a condições clínicas que o
conduzem à necessidade de intervenção terapêutica imediata. Em casos
recorrentes, deve-se indicar a cirurgia de uretrostomia perineal. O resultado pós-
cirúrgico evita novas obstruções, mas também pode acarretar complicações se não
houver o cuidado adequado. Desta forma, o objetivo desse trabalho foi relatar o caso
de um felino, macho, de 5 anos de idade, que apresentava anorexia, inapetência e
estrangúria. A partir do diagnóstico de obstrução uretral, foi realizado o
procedimento de desobstrução, contudo, após 25 dias o animal apresentou recidiva,
sendo indicado a cirurgia de uretrostomia perineal. No entanto, o felino apresentou
complicações, uma vez que o pós-operatório não foi realizado de forma apropriada,
o que levou o animal a um quadro de estenose e, posteriormente, a efetuação do
procedimento cirúrgico para correção da estenose.
Feline lower urinary tract disease (FLUTD) is the term used to refer to any pathology
affecting domestic felines' urinary vesicles or urethras. It affects indoor living, low
water intake, male cats, mainly. Its key symptoms are dysuria, hematuria, and
pollakiuria which may or may not be related to the urethral obstruction. Urethral
obstruction represents enormous risks for the patient's life, leading to conditions that
require immediate therapeutic intervention. In recurrent episodes, perineal
urethrostomy must be indicated, whose results prevent new obstructions, but may
also entail complications if not properly taken care. Along these lines, the objective of
this essay was to report the case of a five-year-old male cat, struggling with anorexia,
inappetence, and stranglehold. Starting with the urethral obstruction diagnosis, a
clearance procedure took place, until 25 days later when the animal began relapsing,
which led to the perineal urethrostomy. However, since postoperative care wasn't
properly provided, the animal suffered from stenosis, which later required surgical
intervention.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 14
2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................16
2.1 A IMPORTÂNCIA DOS FELINOS NA MEDICINA VETERINÁRIA......................16
2.2 ANATOMIA DO TRATO URINARIO INFERIOR DE FELINOS MACHOS...........17
2.3 CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DE
FELINOS................................................................................................................... 18
2.3.1 Doença não-obstrutiva do trato urinário inferior.........................................18
2.3.1.1 Cistite Idiopática Felina..................................................................................18
2.3.2 Condições obstrutivas do trato urinário inferior.........................................19
2.3.2.1 Tampões uretrais...........................................................................................19
2.3.2.2 Urolitíase........................................................................................................19
2.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DE FELINOS ACOMETIDOS POR DOENÇA DO
TRATO URINÁRIO INFERIOR DE FELINOS............................................................20
2.5 MÉTODOS DIAGNÓSTICOS..............................................................................20
2.5.1 Exames radiográficos e ultrassonográficos................................................21
2.5.2 Exames laboratoriais......................................................................................21
2.6 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS.......................................................................22
2.6.1 Gatos não-obstruídos.....................................................................................22
2.6.2 Gatos obstruídos............................................................................................23
2.7 MÉTODOS DE PREVENÇÃO DA DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR
DE FELINOS............................................................................................................. 25
3 RELATO DE CASO................................................................................................26
4 DISCUSSÃO.......................................................................................................... 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 36
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 37
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1 INTRODUÇÃO
o exame físico por meio da palpação da bexiga, onde o gato demonstrará dor
(LITTLE, 2015; MARSHALL, 2011).
De acordo com Galvão (2010), o animal obstruído apresenta um elevado
risco de evoluir para óbito, portanto deve ser tratado como caso de emergência e o
tratamento consiste na correção dos efeitos sistêmicos da uremia, no alívio da
obstrução e na prevenção da sua recidiva. Caso os protocolos clínicos não sejam
eficazes, o procedimento cirúrgico é recomendado. Nesses casos, a técnica mais
utilizada é a uretrostomia perineal (CARVALHO et. al, 2020).
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
Os animais de estimação estão cada vez mais inseridos na rotina dos seres
humanos. A relação homem-animal ocorre há anos, sendo a relação com os felinos
a mais atual, há cerca de 10 mil anos atrás, onde os gatos eram domesticados
apenas para controlar o número de ratos, pois estes comiam grãos destinados a
alimentação humana. Essa domesticação inicial do gato não resultou em
modificações comportamentais, contudo, posteriormente, a influência do ser humano
no comportamento felino foi tornando-se cada vez mais significativa (GRISOLIO et
al., 2017; PAZ, 2013).
No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para
Animais de Estimação (ABINPET), a população total de animais de estimação é de
144,3 milhões, sendo destes, 25,6 milhões de felinos (ABINPET, 2019). O gato, foi o
animal que mais cresceu como escolha para domesticação, cerca de 8,1% desde
2013 até 2019 (INSTITUTO PET BRASIL, 2019). Com esse alto número de felinos
domesticados, a procura por profissionais especializados nessa espécie vem
aumentando gradativamente, tornando-se necessário o aprofundamento nessa área
clínica da medicina veterinária (GRISOLIO et al., 2017).
Devido à rotina movimentada da população brasileira, há pouco tempo
disponibilizado para os animais no dia a dia dos tutores, sendo a espécie felina mais
adepta à essas situações comparadas aos cães, pois os gatos domésticos
mantiveram características comportamentais de seus antecessores selvagens. No
entanto, se o animal não tiver recursos ambientais suficientes para expressar seu
comportamento natural, pode haver o surgimento de situações que desencadeie
estresse e ansiedade, que podem contribuir para o aparecimento de alterações
comportamentais e enfermidades em diversos sistemas, como cardiovascular,
locomotor, digestivo e urinário (LIMA et al., 2020).
Os felinos domésticos são frequentemente acometidos por doenças do trato
urinário inferior, sendo este um termo generalista que se refere a qualquer distúrbio
que envolva problemas na bexiga ou na uretra dos gatos (NELSON; COUTO, 2015).
Uma causa importante da Doença do Trato Urinário Inferior de Felinos (DTUIF) é a
obstrução uretral de gatos machos, comum na rotina clínica veterinária e
18
2.3.2.2 Urolitíase
Os gatos são animais que naturalmente possuem uma baixa ingestão hídrica
durante o dia, e esse fator torna sua urina hipersaturada que os deixam mais
predispostos à formação de urólitos (GUNN-MOORE, 2003). Contudo, fatores como
sexo, dieta, pH da urina, obesidade, estilo de vida, distúrbios metabólicos e uso de
fármacos também devem ser considerados predisponentes à formação de urólitos,
sendo os de estruvita e oxalato de cálcio os mais encontrados em felinos (WAKI;
KOGIKA, 2015).
21
Segundo Little (2012), o felino não obstruído tem uma terapêutica voltada
para a melhoria do manejo ambiental, redução de possíveis fatores estressantes,
alterações alimentares, aumento da ingestão hídrica do paciente e tratamento
medicamentoso. De modo geral, a doença tem resolução clínica entre 5 a 10 dias,
contudo, o paciente poderá apresentar quadros de dor e desconforto nos momentos
de crise, que devem ser controlados com uso de analgésicos e anti-inflamatórios
(GUNN-MOORE, 2003; RECHE; CAMOZZI, 2015).
urinário não volte, o próximo passo é a introdução de uma sonda uretral que deve ter
a ponta arredondada, ser atraumática, flexível e lubrificada com lubrificante estéril
para realização do procedimento (GALVÃO, 2010; LITTLE, 2015).
A sonda é introduzida até alcançar a oclusão mecânica para realizar a
hidropropulsão com solução salina estéril, que promove uma pressão sobre o
conteúdo obstrutor fazendo com que ele vá para o interior da vesícula urinária e haja
a desobstrução. Após esse processo, faz-se necessário a realização da lavagem
vesical, que consiste na introdução e remoção de solução salina diversas vezes até
que se obtenha uma urina clara e livre de cristais e sangue, sendo que a maioria dos
tampões uretrais são expelidos da uretra após essa técnica (NELSON; COUTO,
2010; SOUZA, 2003).
Após a desobstrução, é recomendado a permanência da sonda urinária por
24 a 48 horas para evitar que ocorra recidiva do quadro obstrutivo e seja realizado
lavagens vesicais constantes (GALVÃO, 2010; SOUZA, 2003). Também deve ser
feito administração de analgésicos e anti-inflamatórios para alívio da dor e reposição
hidroeletrolítica (RECHE; HAGIWARA; MAMIZUKA, 1998). Segundo Little (2015), o
uso de antibióticos deve ser instituído apenas quando há resultado positivo de
infecção sistêmica ou do trato urinário, pois grande parte dos animais obstruídos
apresentam urina estéril, e o uso indiscriminado de antibioticoterapia pode induzir à
uma resistência bacteriana.
Após a retirada da sonda, o animal deve ser mantido em observação
hospitalar por 24 horas para avaliação da vesícula urinária e da recorrência da
obstrução (NELSON; COUTO, 2010; SOUZA, 2003).
De acordo com Waldron (2011), quando a cateterização da uretra não é
eficaz no processo de desobstrução ou o felino sofre por recorrentes episódios de
obstrução uretral não responsivos ao tratamento clínico, a conduta mais adequada é
a indicação da uretrostomia perineal. A uretrostomia perineal é um procedimento
cirúrgico, adjuvante à terapia clínica, que consiste na criação de uma fístula na
uretra pélvica três a quatro vezes maior do que a abertura uretral peniana fisiológica
junto com a amputação do pênis, tornando mais difícil a obstrução uretral
(CORGOZINHO, 2006; SOUZA, 2003).
Após a cirurgia, é necessário a utilização de colar elisabetano para evitar
trauma na ferida cirúrgica e sondas uretrais devem ser evitadas pois podem levar a
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3 RELATO DE CASO
O animal deu entrada em uma nova clínica na cidade de Boa Vista/RR, com
quadro obstrutivo causado pela estenose da uretrostomia. O felino apresentava
dificuldade de micção, polaciúria, distensão e dores abdominais. Desta forma, sendo
novamente submetido à realização da correção cirúrgica da estenose. O paciente foi
encaminhado para internação e no pós-operatório, foi sondado com sonda uretral n.
06, que ficou fixada durante três dias para observação do reestabelecimento do fluxo
urinário (FIGURA 5).
31
4 DISCUSSÃO
relato de caso clínico. Interligando com o que foi encontrado em alguns estudos
realizado por Reche, Hagiwara e Mamizuka (1998), Balbinot et. al (2006) e Galvão
et. al (2010), onde 88% dos felinos acometidos pela DTUIF eram machos, 48%
castrados, 80% recebiam apenas alimentação seca e 42,8% apresentavam-se na
faixa etária de 4 a 6 anos, sendo esta a de maior risco.
No estudo de Balbinot et. al (2006), notou-se que animais com acesso à
outras fontes de água apresentaram duas vezes menos chance de ocorrência da
DTUIF comparado àqueles que bebiam somente água de um único pote, indicando
que uma maior ingestão hídrica aumenta o fluxo urinário e dificulta a obstrução
uretral, diferente do que foi relatado no presente caso, uma vez que o animal fazia
pouca ingestão de água durante o dia, aumentando as chances da ocorrência da
doença.
Os sinais clínicos apresentados pelo felino não foram exatamente os
mesmos que Boavista (2015) e Galvão (2010) referiram em seus estudos, onde
mostraram que o principal sinal clínico foi a hematúria, seguido da polaciúria e
prostração. Contudo, de acordo com Corgozinho e Souza (2003), Nelson e Couto
(2015) e Little (2015) os sinais apresentados neste relato são clássicos de DTUIF
obstrutiva.
Além disso, foi verificado pênis arroxeado e edemaciado, distensão da
vesícula urinária e dor abdominal durante a avaliação do exame físico, semelhante
aos relatos de Galvão (2010), Souza (2003), Reche e Camozzi (2015) e Xavier Jr.
et. al (2020).
O diagnóstico da obstrução do presente caso foi realizado por meio do
histórico, anamnese, inspeção do paciente e realização de hemograma completo de
análises bioquímicas, porém sem a realização da urinálise e exames de imagem
como radiografia e ultrassonografia. Rosa (2010) relata que o diagnóstico de
obstrução uretral é baseado no histórico clínico e exame físico do paciente,
contudo, a avaliação radiográfica e ultrassonográfica, além de exames laboratoriais
de urinálise, cultura e antibiograma, são ferramentas que podem ser utilizadas para
auxiliar o diagnóstico e verificar a existência de cálculos vesicais e/ou outros
distúrbios que afetam o trato urinário inferior, como por exemplo hidronefrose, devido
ao quadro de congestão urinária.
No presente relato de caso, o exame de hemograma completo apresentou
um aumento anormal na concentração do hematócrito. Conforme constatado no
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GRAUER, G.F. Urinary Tract Disorders. In: NELSON, R.W., COUTO, G. Small
Animal Internal Medicine. St. Louis: USA, Mosby, 2003, p.816-827.
INSTITUTO PET BRASIL. População pet Mundial cresce liderada por gatos.
Disponível em: < http://institutopetbrasil.com/fique-por-dentro/populacao-pet-
mundial-cresce-liderada-por-gatos/>. Acesso em: 28 de setembro de 2021
NELSON, R. W., COUTO, C.G. Manifestações clínicas dos distúrbios urinários. In:
Medicina Interna de Pequenos Animais. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p
609-696.
RECHE Jr., A.; CAMOZZI, R. B. Doença do Trato Urinário Inferior dos felinos -
Cistite Intersticial. In: JERICO, M.M; ANDRADE, J.P; KOGIKA, M.M Tratado de
Medicina Interna de cães e gatos. 1 ed. Rio de Janeiro: Roca, v. 2, 2015, p. 1483-
1492.
RECHE, Jr., A.; HAGIWARA, M.K.; MAMIZUKA, E. Estudo clínico da doença do trato
urinário inferior em gatos domésticos de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary
Research and Animal Science. São Paulo, v. 35, n. 2, p. 69-74, 1998.