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FACULDADE DE VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA
VETERINÁRIA (CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL)
NITERÓI
2023
MARIA EDUARDA BANHATO ALBERTONI PAOLUCCI
NITERÓI
2023
MARIA EDUARDA BANHATO ALBERTONI PAOLUCCI
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. Dr. Mauricio Alves Chagas – Orientador
Universidade Federal Fluminense - UFF
____________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Abidu Figueiredo –
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFFRJ
____________________________________________________
Profa. Dra. Lanna Beatriz Neves S. Correa –
Universidade Iguaçu – UNIG
Agradecimentos
Ao meu filho, Dante Paolucci Jann, agradeço por ter entrado em nossas vidas
nesse momento incrível, nos enchendo de alegria e orgulho. Você é meu milagre,
minha benção, meu amor. É por você que acordo todos os dias e me dedico à minha
profissão, por você que dedico minha vida.
Ao meu querido companheiro Higor Wilson Jann, ao qual com certeza foi
minha base emocional durante todo esse processo e muitos outros, ao qual amo
incondicionalmente e pretendo partilhar todos os meus dias juntos.
Aos meus pais, Alessandra Banhato Albertoni e Renato Alves Paolucci,
obrigada por toda a estrutura que vocês me proporcionaram desde pequena até os
dias de hoje. Pelo carinho, pelo conforto e pela minha educação, que se tornou a
minha base para que todo esse processo fosse possível.
Aos meus queridos professores que não mediram esforços para me abrir
oportunidades e poderem me oferecerem uma das virtudes mais preciosas que é o
conhecimento. Em especial ao meu orientador Mauricio Alves Chagas, ao meu
coorientador Marco Aurélio Pereira Sampaio e a minha coorientadora Vivian Alves
Pereira da Silva. Eles não só me proporcionaram uma base intelectual como também
conselhos no caminho profissional e pessoal.
À minha família Banhato, à minha família Paolucci e à minha família Albertoni.
Obrigada pelos ensinamentos, pelo apoio, base e pelo imenso carinho que sempre
tive com vocês.
Aos incríveis profissionais que pude entrar em contato durante minha atuação
profissional e período de pesquisa. Médicos veterinários com uma gama enorme de
conhecimento, profissionalismo e dedicação. Em especial aos Doutores Renato
Abboud, e Mauro Rodrigues. Pessoas que me auxiliaram, me instruíram, dedicaram
parte de seus tempos para me ensinar, me auxiliar e me motivar dentro dessa
profissão
Por fim à Coordenação da Pós- Graduação de Clínica e Reprodução Animal
e aos professores do curso, por me permitir fazer parte de um grupo de profissionais
excelentes e dedicados. Em especial ao coordenador Professor Fellipe Zandonadi
Brandão por todo o acolhimento e auxílio durante todo o meu mestrado em períodos
tão conturbados.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 16
2 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 18
2.1 TESTOSTERONA .......................................................................................18
2.1.1 Esteroidogênese ......................................................................................19
2.1.2 Testosterona e próstata ...........................................................................22
2.2 MORFOLOGIA DA PRÓSTATA .................................................................24
2.2.1 Humano ...................................................................................................24
2.2.2 Rato .........................................................................................................24
2.3 CHÁ-VERDE................................................................................................27
2.4 BIOMARCADORES INFLAMATÓRIOS ......................................................29
2.4.1 Fator de Necrose Tumoral - TNF-α ..........................................................30
2.4.2 Fator de Crescimento Vascular Endotelial - VEGF...................................31
3 OBJETIVOS .................................................................................................. 32
3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................... 32
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 32
4 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 32
4.1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL .......................................................... 32
4.1.1 Fases do estudo ...................................................................................... 31
4.1.2 Distribuição dos grupos ........................................................................... 33
4.2 INDUÇÃO ................................................................................................... 34
4.3 PESO E CONSUMO .................................................................................. 35
4.4 PREPARO DAS RAÇÕES PADRÃO ......................................................... 35
4.5 PREPARO DO CHÁ VERDE...................................................................... 36
4.6 PROCESSAMENTO HISTOLÓGICO ......................................................... 37
4.7 BIOQUÍMICA, SOROLOGIA E PERFIL HEMATOLÓGICO........................37
4.7.1 Perfil hematológico...................................................................................37
4.7.2 Bioquímica................................................................................................38
4.7.1 Sorologia..................................................................................................38
4.8 COLORAÇÕES HISTOLÓGICAS................................................................39
4.8.1 Hematoxilina-eosina ................................................................................ 39
4.8.2 Picro Sirius Red........................................................................................39
4.9 IMUNOHISTOQUÍMICA ............................................................................. 40
4.10 ANÁLISE MORFOLÓGICA E MORFOMÉTRICA ..................................... 40
4.10.1 Análise histomorfométrica da próstata .................................................. 40
4.10.1.1 Altura de epitélio..................................................................................41
4.10.1.2 Área epitelial........................................................................................41
4.10.1.3 Área alveolar individual e total das próstatas......................................42
4.11 ANÁLISE QUANTITATIVA IMUNOHISTOQUIMICA.................................43
4.12 ANÁLISE QUALITATIVA DO COLÁGENO................................................44
4.13. ANÁLISES ESTATÍSTICAS .................................................................... 44
5. RESULTADOS ............................................................................................. 45
5.1 PESO E CONSUMO....................................................................................45
5.2 PERFIL HEMATOLÓGICO.........................................................................47
5.3 PERFIL LIPÍDICO........................................................................................49
5.4 ENZIMAS HEPÁTICAS E PERFIL PROTEICO...........................................50
5.5 TESTOSTERONA E CITOCINAS SÉRICAS...............................................51
5.6 MORFOMETRIA..........................................................................................52
5.7 ANÁLISE DE COLÁGENO..........................................................................53
5.8 IMUNOHISTOQUIMICA...............................................................................55
6 DISCUSSÃO ................................................................................................. 56
7 CONCLUSÕES ............................................................................................. 64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 65
ANEXO 1 .......................................................................................................... 78
ANEXO 2 ..........................................................................................................79
ANEXO 3 ..........................................................................................................80
ANEXO 4 ..........................................................................................................81
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Painel de citocinas produzidas na resposta inflamatória que foram
utilizados como biomarcadores no estudo, suas características e funções básicas--30
Quadro 2 – Grupos experimentais do estudo. -------------------------------------------------33
Quadro 3 - Balanceamento de nutrientes nas rações utilizadas no estudo (g/100g)-36
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: – Corte histológico de testículo. -------------------------------------------------------21
Figura 2: – Conversão de testosterona em di-hidrotestosterona --------------------------22
Figura 3: – Esquema da anatomia da próstata do rato. -------------------------------------25
Figura 4: –Imagem digitalizada de corte histológico da próstata de um rato. ---------26
Figura 5: – Floração e folhas de C. sinensis. --------------------------------------------------27
Figura 6:– Preparo e inserção cirúrgica do implante de silicone preenchido com
propionato de testosterona. -------------------------------------------------------------------------34
Figura 7: – Imagem digital da lâmina da próstata em HE. ----------------------------------41
Figura 8: – Imagem digital da lâmina da próstata inteira binarizada. --------------------42
Figura 9: – Imagem digital da lâmina da próstata binarizada da objetiva 4x.----------43
Figura 10: – Imagem digital da lâmina marcada com anticorpo anti- VEGF da próstata
da objetiva 40x.-----------------------------------------------------------------------------------------44
Figura 11 - Imagens da próstata dos grupos estudados evidenciando a altura do
epitélio prostático --------------------------------------------------------------------------------------53
Figura 12 - Imagens à esquerda digitalizadas sob luz polarizada de corte da próstata
em comparação com o mesmo corte não polarizado à direita. ----------------------------54
Figura 13 - Imagens da análise qualitativa da marcação citoplasmática específica de
VEGF no epitélio prostático dos grupos de ratos avaliados. --------------------------------56
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1– Percentuais de nutrientes no chá verde-------------------------------------------29
Gráfico 2– Evolução de massa corpórea dos animais em estudo Evolução de massa
corpórea dos animais. --------------------------------------------------------------------------------45
Gráfico 3– Consumo de ração pelos animais dos grupos experimentais ao longo do
experimento. --------------------------------------------------------------------------------------------46
Gráfico 4– Consumo hídrico ao longo do período do experimento. ----------------------46
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
Introduction: Benign prostatic hyperplasia are common conditions in senile men. The
use of exogenous testosterone has been carried out as a supplement due to the natural
deficiencies caused by old age, which may generate some alterations in the prostate.
In addition, functional foods, such as green tea, are of great value in the prevention
and control of inflammatory processes, such as those that naturally occur in the
prostate and during hormonal treatment reducing the damage caused by oxidative
stress. The scientific hypothesis of this work is that the administration of green tea to
rats submitted to supraphysiological doses of testosterone, attenuates the tissue
damage caused by prolonged androgen stimulation in the prostate. Objective: To
evaluate the effects of green tea consumption on the prostate of animals subjected to
prolonged androgenic stimulation with supraphysiological doses of testosterone. They
were evaluated through morphological analysis of the prostate; immunohistochemical
analysis of the vascular endothelial growth factor (VEGF) proliferation index and the
results obtained in laboratory tests (biochemical, hematological, serum testosterone,
serum cytokines – VEGF and TNF-α). Methodology: 28 Wistar rats, 42 days old, were
used at the beginning of the experiment, separated into 4 groups: GCA (Water Control
Group); GIA (Induced Water Group); GCCV (Green Tea Control Group); GICV (Green
Tea Induced Group). Implants containing testosterone propionate were surgically
applied and replaced every four weeks. These animals received standardized diets
and consumed water or green tea (2%) for hydration. After 20 weeks, the animals
received a lethal dose of sodium thiopental. The prostate dissection were performed
for further histological processing and morphometric analysis. The analyzes included
evaluation of the height of the prostate epithelium, epithelial area, individual and total
alveolar area and quantitative analysis of anti-VEGF immunohistochemical staining.
Results: Based on the serological tests done by Silva 2019, it was observed that the
induced groups suffered the expected androgen induction. The animals in the group
induced with the therapeutic diet showed reduced deleterious effects in their prostate
morphology, when compared to the animals induced with the control diet. In addition,
they showed lower anti-VEGF immunohistochemical staing. Conclusion: It is
concluded that green tea acts on prostate histomorphometry and reduces prostate
epithelial height and area in animals with testosterone-induced BPH. The
immunohistochemical analysis of VEGF shows that there is also an anti-angiogenic
factor in the use of green tea on the prostate, reducing marking in animals that used
the nutraceuticals.
1 INTRODUÇÃO
A incidência de doenças associadas ao envelhecimento vem crescendo em
consequência do aumento da expectativa de vida mundial. Na população masculina,
um dos órgãos mais atingidos por afecções patológicas é a próstata (JEMAL, 2008;
LIM, 2017). Os mecanismos que desencadeiam ou fazem progredir rapidamente as
afecções prostáticas ainda não estão totalmente compreendidas. Sabe-se que o
desequilíbrio na interação homeostática entre o epitélio e o estroma prostático pode
iniciar e promover as lesões na próstata (SUNG & CHUNG, 2002; NORMAN, 2008);
outros fatores também são relacionados com o surgimento de lesões, como os
hormônios androgênicos (JARVIS, CHUGHTAI & KAPLAN, 2015), suscetibilidade
genética, hábitos nutricionais (HO, BOILEAU & BRAY, 2004) e contaminantes
ambientais (OMABE 2011; LIM, 2017). O desbalanceamento hormonal associado ao
envelhecimento é um dos processos mais aceitos como iniciador das modificações
celulares que levam a hiperplasia prostática benigna (SAVOLAINEN et al., 2007; LIM,
2017). Geralmente nestes indivíduos, a enzima 5-α-redutase apresenta uma
capacidade aumentada de conversão da testosterona em dihidrotestosterona (DHT),
estimulando a proliferação do tecido prostático (ZHANG et al., 2008, MIRANDA,
2020). Em homens, o balanço dos níveis de androgênios e estrogênios é alterado
significativamente com a idade. O desequilíbrio hormonal leva ao comprometimento
da razão entre andrógenos e estrógenos, e esse é um fator predisponente para que
haja desenvolvimento da HPB (NICHOLSON & RICKE, 2011).
As prescrições de testosterona aumentaram mais de 3 vezes entre 2001 e 2011
em todas as faixas etárias (KWONG, 2019) A deficiência androgênica em homens
idosos é um fator de risco para diversas doenças e condições que afetam a qualidade
de vida do indivíduo (TRAISH et al., 2009; FODE, 2019). MARKS (2006) demonstrou
que o tratamento com testosterona para hipogonadismo teve um efeito nos níveis de
andrógenos do tecido prostático e nas funções celulares. Ainda há consideráveis
controvérsias sobre a influência da reposição de testosterona na próstata, pois a
incidência de HPB e câncer de próstata oculto em idosos são ambos elevados (MINER
& SEFTEL, 2007). Ensaios clínicos mostraram que o tratamento com testosterona de
homens hipogonádicos causa crescimento da próstata e aumento do antígeno
prostático específico (PSA) dentro da faixa normal (RHODEN & MORGENTALER,
2006). A testosterona acelera a mitose de células senescentes contendo defeitos de
DNA, o que resulta na falta de reparo do DNA. (NIESCHLAG et al., 2008). Parece que
17
sua produção devido a idade, pode levar a alterações consideráveis na próstata. Não
se sabe se essas alterações podem levar a uma maior taxa de incidência de HPB ou
câncer prostático em indivíduos machos adultos. O câncer prostático está na segunda
posição em relação aos cânceres mais frequentes no mundo. Já a HPB está
amplamente disseminada, e acomete sobretudo homem e cão, estando sua patogenia
associada a fatores predisponentes como androgenia, estresse oxidativo e estresse
inflamatório. Devido às propriedades anticancerígenas e anti-inflamatórias, o uso de
fitoterápicos como o chá-verde vêm na atualidade para tentar diminuir os riscos de
desenvolver o câncer e HPB.
Por isso, o presente estudo é necessário para a avaliação dos efeitos
relacionados a administração de testosterona e as alterações morfológicas na
próstata, já que são escassamente descritos na literatura. Além disso, é necessária a
avaliação dos efeitos benéficos de componentes nutracêuticos em atenuar essas
alterações.
Esse trabalho tem como objetivo estudar os efeitos de uma dieta experimental
à base de chá verde sobre a morfologia da próstata de ratos submetidos à estimulação
androgênica prolongada com doses suprafisiológicas de testosterona, avaliando a
morfologia da próstata desses animais e o grau de angiogênese gerado no órgão
através da imunohistoquimica com anticorpo anti- VEGF.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 TESTOSTERONA
A testosterona é o principal esteroide circulante no homem. É sintetizada a
partir da molécula de colesterol e secretada pelas células de Leydig no testículo e pelo
córtex da glândula suprarrenal, respondendo ao estímulo do hormônio luteinizante
(LH) e do hormônio adenocorticotrófico (ACTH) respectivamente. O hormônio e seus
derivados ativos são promotores e mantedores das características sexuais masculinas
e condição anabólica dos tecidos. (ZHANG et al., 2008) A testosterona apresenta
efeitos em diversos locais no organismo, e esses efeitos são promovidos pela própria
testosterona ou mesmo pelos seus metabólitos. (HARTGENS & KUIPERS, 2004)
Como veremos a seguir, a metabolização da testosterona pode gerar
esteróides ativos como di-hidrotestosterona (DHT) e o estradiol. Em termos gerais,
sabe-se que a testosterona é convertida irreversivelmente em DHT pela enzima 5-
19
2.1.1 Esteroidogênese
Cerca de 95% da testosterona circulante no homem é de origem testicular. O
percentual restante tem origem suprarrenal, seguido da conversão periférica de
androstenediona. Outros andrógenos detectáveis no sangue têm origem no testículo,
como a di-hidrotestosterona (DHT), di-hidroepiandrosterona (DHEA) e a
androstenediona. (DA SILVA JR & DE LEYDIG, 2001)
O processo de esteroidogênese suprarrenal é altamente modulado e se inicia
pelo estímulo adeno-hipofisário por meio do hormônio adrenocorticotrófico, cujo
nome é geralmente abreviado para a sigla ACTH (adrenocorticotropic hormone em
inglês). O ACTH é um polipeptídeo com trinta e nove aminoácidos produzido pelas
células corticotróficas da adeno-hipófise.
Todos os hormônios sintetizados pelo córtex da adrenal são derivados do
mesmo precursor, o colesterol, que provém essencialmente das lipoproteínas
plasmáticas. O mesmo acontece com os hormônios secretados pelos ovários
(progesterona e estradiol) e pelos testículos (testosterona). Por esta razão, este
grupo de hormônios é chamado de hormônios esteróides. Neste processo, cada zona
do córtex adrenal secreta um distinto subgrupo de hormônios (glicocorticóides,
mineralocorticóides, esteróides sexuais), em decorrência da expressão diferencial de
enzimas envolvidas no processo de metabolização dos derivados do colesterol.
Uma vez estimulada a glândula, o colesterol é clivado de sua cadeia lateral
pela enzima colesterol desmolase, originando a pregnenolona. A pregnenolona pode
ser convertida até di-hidroepiandrosterona (DHEA - um andrógeno), e DHEA sulfato,
via enzimas 17-hidroxilase, C17-20-liase e sulfotransferase. A pregnenolona ainda
pode ser convertida a progesterona via 3-beta-hidroxiesteroide desidrogenase e a
delta-5,4-isomerase. A partir da progesterona, as enzimas 21-hidroxilase e
aldosterona sintase, sintetizam a aldosterona (sendo a desoxicorticosterona e a
corticosterona os intermediários). Assim, os principais mineralocorticóides
secretados pela zona glomerulosa são a aldosterona e a desoxicorticosterona. Ao
20
passo que os principais andrógenos secretados pela zona reticular são a DHEA,
DHEA sulfato e a androstenediona. De uma forma geral, o ACTH estimula estas
reações de forma mais ou menos importante de acordo com a zona do córtex, sendo
seu efeito mais pronunciado sobre a zona fasciculada e a síntese de glicocorticóides.
(FARIA & LONGUI, 2006)
Nos indivíduos do sexo masculino, a produção de precursores e a conversão
em metabólitos ativos ocorre nos testículos. Essa função de sercreção e conversão
testicular da testosterona fica a cargo das células de Leydig e de Sertoli (Figura1).
(GUYTON, HALL & GUYTON, 2006)
A produção de testosterona pelas células de Leydig é controlada pelo
hormônio luteinizante (LH), que se liga especificamente à membrana das células de
Leydig, ativando a adenosina monofosfato cíclica. Este processo dá início a ativação
das proteínas cinases que catalisam a fosforilação das proteínas intracelulares e a
mobilização de precursores esteróides, principalmente através da conversão do
colesterol em pregnenolona. As principais vias biossintéticas a partir da
pregnenolona nesse caso envolvem os intermediários delta 4 e 5. A testosterona
produzida pelas células de Leydig se desloca pelo túbulo seminífero por difusão ativa
ou facilitada, mantendo a concentração de andrógenos aumentada no tecido, a fim
de que exerça suas funções.
A metabolização da testosterona ocorre no contexto das células de Sertolli no
testículo. A função secretória da célula de Sertoli é controlada pelo hormônio folículo
estimulante (FSH). O FSH (assim como o LH) é produzido pela hipófise e regula a
atividade tanto dos ovários como dos testículos. Os receptores para FSH e para
andrógenos estão presentes tanto no núcleo quanto no citoplasma da célula de
Sertoli. São estas células as responsáveis por converter a testosterona produzida
pela célula de Leydig em seus metabólitos ativos, sejam estrogênios, que serão
armazenados nos testículos, sejam andrógenos derivados da testosterona.
(SERAKIDES et al., 2001)
21
Legenda: Corte histológico do testículo onde é possível visualizar as células de Leydig e Sertoli.
Coloração pela Hematoxilina-eosina. Calibração não informada. Fonte: Dutra, 2016 (USP)
2.2.1 Humano
A próstata humana é um conjunto de 30 a 50 glândulas túbulo-alveolares
ramificadas que envolvem uma porção da uretra chamada uretra prostática. A próstata
tem três zonas distintas: a zona central, a zona de transição e a zona periférica; seus
ductos desembocam na uretra prostática. As glândulas túbulo-alveolares da próstata
são formadas por um epitélio cuboide alto ou pseudoestratificado colunar (figura 1).
Um estroma fibromuscular cerca as glândulas. A próstata é envolvida por uma cápsula
fibroelástica rica em músculo liso. Septos dessa cápsula penetram a glândula e a
dividem em lóbulos. As glândulas produzem secreção e a armazenam para expulsá-
la durante a ejaculação. Da mesma maneira como a glândula vesicular, a estrutura e
a função da próstata são reguladas por testosterona. Pequenos corpos esféricos
formados por glicoproteínas, medindo 0,2 a 2 mm de diâmetro e frequentemente
calcificados, são frequentemente observados no lúmen de glândulas da próstata de
adultos. Eles são chamados concreções prostáticas ou corpora amylacea. A HPB é
um aumento do volume da próstata que ocorre normalmente na zona de transição,
podendo causar a obstrução da uretra, levando a sintomas clínicos em 5 a 10% dos
casos. Já os tumores prostáticos malignos ocorrem principalmente na zona periférica
do órgão (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004).
2.2.2 Rato
A próstata do rato é uma glândula exócrina túbulo-alveolar altamente
especializada (LEE & HOLLAND, 1987). Consiste em quatro lobos pares distintos
(direito e esquerdo), a próstata dorsal, a próstata lateral, a próstata ventral e a próstata
anterior ou glândula coaguladora, classificadas de acordo com sua posição em
relação ao uretra, para onde drenam os ductos glandulares (LEE & HOLLAND,
1987; HAYASHI, 1991). O esquema da anatomia desses orgãos pode ser visualizado
mais detalhadamente na figura 3.
A próstata ventral consiste em dois lobos discretos que estão ligados à uretra
por uma camada de tecido conjuntivo e por uma série de ductos revestido
principalmente por epitélio cuboidal que drena para a uretra. Ela surge da face ventral
da uretra, imediatamente abaixo da bexiga. É o maior lobo, constituindo
25
Legenda: Disposição dos lobos prostaticos em relação aos orgão adjacentes; Lobo Ventral (V); Lobo
Lateral (L); Lobo Dorsal (D); Conteudo adaptado de Nascimento-Gonçalves, et. al.
26
2.3 CHÁ-VERDE
O chá verde (CV) é um tipo de chá feito a partir da infusão da planta Camellia
sinensis (Figura 5). O preparo das folhas para a confecção do chá verde difere das
demais porque estas sofrem pouca oxidação durante o processamento. Existem
algumas outras ervas que são comercializadas sob o título de chá verde, mas
originalmente considera-se chá verde apenas a infusão das folhas de C. sinensis.
A infusão desta erva está entre as mais populares bebidas do mundo e seus
benefícios para o ser humano são conhecidos. Os extratos do chá verde e dos seus
polifenóis exibem efeitos inibitórios contra a formação e desenvolvimento de tumores
em diversos sítios do organismo – pulmão, esôfago e cólon - em modelos animais.
(YANG & WANG, 2010; YUAN, 2011) Estudos mostram que a administração do
extrato do CV pode reduzir a incidência e proliferação de tumores no pulmão, em
camundongos. (GU et al., 2013)
Legenda: Figura extraída da página da internet dos Laboratórios Chamel e Kittmed. Acesso
18/06/2023. URL: https.://chamel.com.br/loja/chas-plantas-medicinais/cha-verde-2
Polifenóis 35%
Proteínas 14%
Minerais 10%
Cafeína 5%
Clorofila 3%
Lignina 3%
Aminoácidos 3%
Ácidos orgânicos 3%
Outros 21%
inflamatórias. Esse aumento foi observado em alguns espécimes com HPB quando
comparados aos grupos controles (ZHOU et al., 2018).
3 OBJETIVOS
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.2 INDUÇÃO
A indução com testosterona foi realizada através da introdução de implantes
de silicone de 5cm (Silastic® Cat.No 508-009 - Dow Corning) preenchidos com
propionato de testosterona (1mg). O procedimento obedece ao seguinte protocolo:
Anestesiar os animais utilizando 75mg/kg de xilazina (2%) e 10mg/kg de ketamina
(10%), via intraperitoneal. Após a constatação do plano anestésico através da
ausência do reflexo podal, realizar a tricotomia na região dorso escapular do animal
e fazer a antissepsia do local com álcool 70%. Posicionar o animal em decúbito
ventral e realizar uma pequena incisão (de aproximadamente 10 mm) com um bisturi.
(ABBOUD, 2015)
Figura 6 - Preparo e inserção cirúrgica do implante de silicone preenchido com
propionato de testosterona
1 2
3 4
animais dos grupos chá verde tiveram sua hidratação exclusivamente através do chá,
e a oferta foi de 200ml ao dia.
coletados de cada animal 3ml de sangue total com EDTA (para a análise quantitativa
automatizada) e foi feito um esfregaço sanguíneo (para a análise qualitativa); foram
rejeitadas para a análise amostras com sinais de hemólise ou com coágulos/fibrinas.
Após prévia homogeneização do sangue, o número de identificação do indivíduo
testado foi inserido no equipamento e iniciou-se o processamento da amostra. O
equipamento utilizou 110μl da amostra, e a temperatura do teste variou entre 16 a
32°C. A análise quantitativa foi realizada por meio de diferentes métodos de
avaliação de alta tecnologia combinados para uma maior precisão. No momento da
coleta, também foram realizados esfregaços sanguíneos que foram corados pelos
métodos de coloração segundo Romanowsky (Giemsa e Wright) que são usuais da
hematologia. A análise qualitativa pela avaliação do esfregaço corado foi feita
utilizando microscópio óptico (microscopia de luz), e esses resultados foram
comparados aos resultados obtidos pela avaliação automatizada. Todo o conjunto
do hemograma foi avaliado em parceria com o médico veterinário participante do
grupo de estudo, para aumentar a acurácia dos resultados. O cálculo dos resultados
foi impresso de acordo com as configurações do equipamento.
4.7.2 Bioquímica
O sangue coletado em tubo sem anticoagulante foi mantido em repouso por
cerca de duas horas à temperatura ambiente para retração do coágulo. Após esse
período, foi centrifugado a 958,5 G durante cinco minutos para a obtenção do soro,
e armazenado a -20ºC. As análises bioquímicas (de albumina, proteínas totais,
colesterol, triglicerídeos, LDL [lipoproteína de baixa densidade] e HDL [lipoproteína
de alta densidade] e enzimas hepáticas) foram realizadas mediante a utilização de
kits colorimétricos da LabTest (LabMax, Belo Horizonte, Brasil). A dosagem da
testosterona sérica foi realizada através do método de radioimunoensaio (RIE),
usando kit comercial, em estado sólido, da Beckman Coulter (Immunotech®). Os
exames foram realizados no laboratório do Instituto Brasileiro de Diagnóstico e
Especialidades Veterinárias (PROVET/São Paulo, Brasil), usando o equipamento
WIZARD2, da Perkin Elmer (RIA).
4.7.3 Sorologia
A avaliação de marcadores sorológicos foi também realizada a partir do
sangue armazenado em tubo sem anticoagulante, utilizando-se o soro obtido pela
centrifugação. Foram realizados os marcadores TNF-alfa e VEGF, através do método
39
4.9 IMUNOHISTOQUÍMICA
Foi utilizado o Anticorpo Monoclonal Mouse Anti – human Vascular Endothelial
Growth Factor (VEGF) – Clone VG1 pronto para uso, marca DAKO M7273, juntamente
com o kit TrilogyTM. Os cortes histológicos foram obtidos em micrótomo manual Leica
RM2125 com espessura de 4 μm e coletados em lâminas sinalizadas. Após secagem
em estufa a 60°C por 60 minutos, as lâminas foram submetidas ao processo
automatizado de desparafinização, hidratação e recuperação antigênica. A
recuperação antigênica foi realizada com o kit Trilogy em panela de pressão elétrica
por 15 minutos e posteriormente lavada com tampão PBS (Phosphate Buffered
Saline). O bloqueio da peroxidase endógena foi realizado com água oxigenada 10%,
as seções então foram enxaguadas em água destilada em 3 banhos por 2 minutos
cada e lavadas com PBS. Em seguida, os cortes foram contornados por uma caneta
hidrofóbica Dako e aplicado o Anticorpo anti VEGF incubado overnight e lavado em
tampão fosfato PBS. Em seguida as lâminas foram incubadas com o polímero
específico para VEGF 30 minutos em temperatura ambiente. A revelação da coloração
foi revelada com DAB incubados por 5 minutos em temperatura ambiente. Por fim foi
realizado uma contra-coloração com hematoxilina para visualização de demais
estruturas do tecido. Para todos os anticorpos primários utilizados foram realizados
simultaneamente, controles negativos, onde o anticorpo primário será substituído por
PBS e controles positivos, usando fragmentos de tecido que apresentam os antígenos
pesquisados, conforme prévia descrição literária (de DE AMORIM RIBEIRO et al.,
2017).
Legenda: Mensuração da altura epitelial no aumento de 400 vezes realizada no programa Image J.
Legenda: Imagem binarizada da captura de todo o corte da próstata para análise de partículas e
obtenção da área epitelial no programa Image J.
Figura 10: – Imagem digital da lâmina marcada com anticorpo anti VEGF da próstata
da objetiva 40x.
5. RESULTADOS
400
200
0
0 5 10 15 20 25
Semanas
Consumo de ração
80
Consumo de ração (g)
60
GCA
GIA
40 GCCV
GICV
20
0
0 5 10 15 20 25
Semanas
Consumo hídrico
150
Consumo de líquidos (ml)
100
GCA
GIA
GCCV
50
GICV
0
0 5 10 15 20 25
Semanas
47
Grupo
Grupo
Grupo Grupo Induzido
Controle Valor P
PARÂMETROS Controle Induzido Chá
Chá Verde (<0,05)
(GCA) (GIA) Verde
(GCCV)
(GICV)
Testosterona 314,35 ± 680,00 ± 321,66 ± 270,14 ±
0,0002
(ng/dl) 74,199 a 134,16 b 193,59 a 155,67 a
0,0337± 0,0696 ± 0,0343 ± 0,0391±
TNF-α (pg/mL) 0,0005
0,006 a 0,028 b 0,005 a 0,006 a
1,792 ±
4,204 ± 2,846 ± 6,147 ±
VEGF (ng/mL) 0,714 a 0,0001
0,951 b 1,628 a 1,608 b
Legenda: As letras a e b representam as diferenças significativas entre os grupos. Foi utilizado o teste
ANOVA univariado associado ao teste de comparações múltiplas de Tukey-Kramer. A significância
em todos os testes foi estabelecida ao nível de p < 0,05.
52
5.6 MORFOMETRIA
O estudo confirmou que ocorreu aumento da altura e da área epitelial nos
animais que foram expostos ao propionato de testosterona em comparação aos outros
grupos estudados. A média da área epitelial do GIA se mostrou 81,9% maior do que
a média do GCA, além disso se observou que as médias da área epitelial do GCCV e
GICV se mostraram estatisticamente iguais à do GCA. A média da altura epitelial do
GIA se mostrou 73,8% maior do que a média do GCA, os GICV e GCCV se
comportaram da mesma maneira que na área epitelial, se mostrando estatisticamente
iguais ao GCA nesse parâmetro de avaliação (figura 11). Os resultados encontrados
nas medidas da área alveolar total e da média da área alveolar não demostraram
diferenças estatísticas no presente estudo. É possível observar esses valores
descritos na tabela 5.
Tabela 5 -Parâmetros histomorfométricos das próstatas dos grupos de ratos
avaliados.
Grupo Grupo
Grupo Grupo
Controle Induzido Valor P
PARÂMETROS Controle Induzido
Chá Verde Chá Verde (<0,05)
(GCA) (GIA)
(GCCV) (GICV)
Altura Epitelial 11,036 ± 19,180 ± 12,761 ± 13,798 ±
0,0001
(µm) 1,718 a 2,604 b 2,346 a 1,452 a
Área Epitelial 9,736 ± 17,716 ± 11,062 ± 9,372 ±
0,0007
Total (µm) 2,498 a 4,823 b 3,575 a 3,392 a
Área Alveolar 14,391 ± 13,970 ± 12,020 ± 9,989 ±
0,3736
Total (mm2) 7,506 4,262 1,556 4,484
Média da Área 0,070 ± 0,059 ± 0,053 ± 0,054 ±
0,3671
Alveolar (mm2) 0,025 0,019 0,014 0,015
Legenda: As letras a e b representam as diferenças significativas entre os grupos. Foi utilizado o teste
ANOVA univariado associado ao teste de comparações múltiplas de Tukey-Kramer. A significância
em todos os testes foi estabelecida ao nível de p < 0,05.
53
Legenda: Coloração HE nos 4 grupos estudados. Barra de calibração medindo 50μm. Aumento de
400X.
Figura 12- Imagens à esquerda digitalizadas sob luz polarizada de corte da próstata
em comparação com o mesmo corte não polarizado à direita.
Legenda: Coloração pelo Picro Sirius Red sob luz polarizada à esquerda e sem polarização à direita.
Barra de calibração medindo 100μm. Aumento de 200X.
55
5.8 IMUNOHISTOQUIMICA
Foi possível observar pela análise qualitativa dos grupos estudados que o GIA
teve uma maior área de marcação específica quando comparado com os outros
grupos (figura 13). Ao se realizar a análise quantitativa desses grupos, chegou-se ao
mesmo resultado observado qualitativamente. O GIA apresentou uma porcentagem
de marcação por campo de em média 34,12%, o que se demonstrou sendo 295,7%
maior que a porcentagem observada no GCA. O GCCV e GICV se mostraram
estatisticamente iguais quando comparados com o GCA, sendo assim, a marcação
de VEGF no citoplasma do epitélio prostático demonstrou aumento significativo no
GIA havendo influência da dieta nesse parâmetro de avaliação. Esses valores podem
ser encontrados na tabela 6.
Grupo
Grupo
Grupo Grupo Induzido
Controle Valor P
PARÂMETROS Controle Induzido Chá
Chá Verde (<0,05)
(GCA) (GIA) Verde
(GCCV)
(GICV)
8,624 ± 34,123 ± 11,701 ± 14,907±
VEGF (%) 0,0001
1,889 a 7,750 b 3,017 a 2,731 a
Legenda: As letras a e b representam as diferenças significativas entre os grupos. Foi utilizado o teste
ANOVA univariado associado ao teste de comparações múltiplas de Tukey-Kramer. A significância
em todos os testes foi estabelecida ao nível de p < 0,05.
56
Legenda: Imunohistoquimica de anticorpo primário VEGF com coloração secundaria de HE. Barra de
calibração medindo 50μm. Aumento de 400X.
6 DISCUSSÃO
Como descrito por Silva, 2019, o comportamento da testosterona no grupo
controle foi encontrado semelhante aos valores já referenciados para ratos Wistar
(MELO, 2012), sendo o seu aumento no grupo induzido relativo à uma boa indução
hormonal. Esses dados confirmam a literatura, demonstrando os efeitos
antiandrogênicos do consumo de polifenóis extraído do chá verde, seja pela
modulação do 5- enzima alfa-redutase ou outras vias (HIIPAKKA, 2002; BASU,
2013).
Além disso, é esperado que a concentração de triglicerídeos séricos, esteja
aumentada na presença de estímulo androgênico suprafisiológico, com o uso de
anabolizantes. Esse efeito pode ser visualizado em humanos, mesmo com a prática
de exercícios físicos. (VENÂNCIO et al., 2010) A administração de esteróides,
mesmo que por um curto período, produz efeitos desfavoráveis não apenas nos
57
lipídios totais mas também nas apoliproteínas ligadas ao HDL. (HARTGENS et al.,
2004). Os valores de LDL nos grupos que receberam chá verde se mantiveram
próximos do controle. O chá verde apresenta em sua composição polifenóis e outros
agentes antioxidantes que se mostram eficazes na redução da concentração e da
oxidação LDL. (ANANDH BABU, SABITHA & SHYAMALADEVI, 2006; ROSENBLAT
et al., 2008; TINAHONES et al., 2008; ZHENG et al., 2011) Nesse estudo
encontramos aumentado o valor de LDL no grupo induzido. Uma diminuição
significativa no HDL colesterol e, por vezes, um aumento no LDL colesterol ocorrem
com o uso de esteroides anabolizantes, expondo o usuário a um risco elevado de
desenvolver doença aterosclerótica. Os níveis de colesterol HDL podem ou não voltar
ao normal quando cessa o uso do andrógeno, e essa normalização depende o tempo
de duração da estimulação androgênica. (MARAVELIAS et al., 2005) No entanto,
esses valores podem variar, além do tempo, de acordo com a via de administração
e a molécula de andrógeno utilizada. (GAREVIK et al., 2014)
Os valores mais elevados de HDL no grupo induzido, no entanto, não podem
sozinhos representar uma vantagem, considerando os demais resultados do perfil
lipídico observados nesse grupo. Os animais do nosso estudo que consumiram o chá
verde mantiveram a concentração de HDL estável. Os valores aparentemente abaixo
do controle não representam desvantagem para esses grupos, e ocorreram como
reflexo da redução de todas as frações do colesterol nesses animais. Encontramos
também em nosso trabalho uma redução significativa nos valores de VLDL sérico,
nos animais que receberam o fitoesterol. Esse dado corrobora os anteriores,
mostrando que o chá é eficaz na redução de VLDL, sendo indicados para melhora
do perfil lipídico tanto de usuários de testosterona exógena, quanto de outras
condições patológicas que influenciem o metabolismo de lipídios. (ANANDH BABU,
SABITHA & SHYAMALADEVI, 2006; ROSENBLAT et al., 2008; TINAHONES et al.,
2008; ZHENG et al., 2011)
Os parâmetros bioquímicos da proteína total e albumina se mostraram dentro
do intervalo de referência da literatura no GCA. (MELO et al., 2012) Apesar de terem
ocorrido algumas diferenças entre os grupos, na proteína total, esta não foi
significativa para os grupos GCA, GIA e GCCV. A variação da concentração da
testosterona não parece ser o único fator a ter efeitos significativos na proteína total
sérica nesses animais, pois nos grupos onde ocorreu a introdução da dieta pode ser
observada uma redução das proteínas e sobretudo da albumina. Silva e
58
colaboradores (2018) tratou ratos por três semanas com Decanoato de nandrolona
para indução do estímulo androgênico e não encontrou diferenças significativas na
concentração de albumina sérica, que, tanto nos controles quanto nos induzidos,
ficou abaixo do intervalo de referência da literatura, mostrando que esses resultados
podem ser variáveis.
Uma das hipóteses para redução das proteínas nos grupos GCCV, GICV seria
o potencial anti-inflamatório do chá verde, que reduziria a quantidade de mediadores
inflamatórios no organismo, reduzindo a proteína total, (RAMESH, GERALDINE &
THOMAS, 2010; HSU et al., 2011; KUO et al., 2014) além dos benefícios sistêmicos
dos polifenóis, que melhorariam também o perfil protéico.
Trabalhos anteriores do nosso grupo, utilizando indução como causa de dano
e a linhaça como fator de proteção, mostraram que a proteína total e albumina não
se alteram, (DE AMORIM RIBEIRO et al., 2014) e outros trabalhos já mostraram que
a associação do chá verde com dietas à base de soja – que tem em sua composição
fitoestrógenos semelhantes aos da linhaça, e também é rica em ômega 6, como o
óleo de abacate - foi capaz de melhorar diversos parâmetros inflamatórios em
modelo animal, incluindo proteínas totais. (HSU et al., 2011) Esses dados apontam
para o potencial benéfico das dietas associadas ao chá, para melhora geral dos
parâmetros orgânicos.
Essa melhora geral se confirma quando observamos as enzimas hepáticas.
As enzimas ALT e AST são indicadores sensíveis de dano hepático em diferentes
tipos de doenças. Já foi mostrado que a sobredose de testosterona provoca danos
hepáticos graves. (STIMAC et al., 2002; KESLER, T., SANDHU, R. &
KRISHNAMOORTHY, S., 2014; LUCIANO et al., 2014) Nossos resultados
mostraram o potencial efeito protetor do chá verde, contra o dano causado pelas
altas concentrações de testosterona. Em ratos, estudos mostraram que a
administração de chá verde melhora parâmetros bioquímicos em geral, podendo
atuar positivamente sobre a resposta do fígado à administração de fármacos (SOHN
et al., 1994).
Em outro estudo, realizado em camundongos, ficou provado que a catequina
principal do chá verde é um protetor contra o dano hepático causado por ftalatos.
(GE et al., 2015) Esses achados da literatura, embora não abordem o abuso de
esteróides, corroboram nossos achados. O uso de anabolizantes aumenta o risco do
desenvolvimento de neoplasias hepáticas, com prognóstico grave para o usuário.
59
(KESLER, T., SANDHU, R. S. & KRISHNAMOORTHY, S., 2014; GUPTA et al., 2016)
O consumo de chá verde, como observado, pelos seus efeitos, pode promover efeito
protetor sobre o fígado, e até mesmo ser aliado na terapia contra neoplasias
hepáticas. (DARVESH & BISHAYEE, 2013)
Em relação ao perfil hematológico, é de se esperar que a indução com
testosterona aumente a eritropoiese e os parâmetros de hemoglobina e volume de
hemácias (hematócrito), (GARDNER, PRINGLE & JR, 1961; FREY-WETTSTEIN &
CRADDOCK, 1970) pois uma das vantagens esperadas do uso de esteróides é o
aumento da oxigenação e recuperação tecidual mais rápida. (BEGGS et al., 2014) O
estímulo androgênico já foi testado como tratamento alternativo para anemias que
ocorrem em consequência de doenças graves, (MALGOR et al., 1986) pois além da
eritropoiese, a testosterona atua sobre o metabolismo do ferro. (BEGGS et al., 2014).
Esse fator eritropoietico poderia explicar um aumento do R.D.W (índice de
anisocitose) nos grupos induzidos.
Em nosso estudo, os valores de número de hemácias, hematócrito e
hemoglobina do grupo controle se mostraram dentro do intervalo de referência para
ratos machos, (MELO et al., 2012). Foi observada em nosso estudo uma redução da
hemoglobina nos animais do GICV e redução na Concentração Hemoglobina
Corpuscular Média no grupos que receberam CV. Resultados semelhantes foram
encontrados por Marouani e colaboradores (2007) que em seu trabalho afirma que
esse resultado aparentemente negativo dos parâmetros hematológicos em
indivíduos que consumiram chá verde em infusão, não se dá devido às catequinas
nele contidas, mas sim devido à absorção de outros componentes liberados durante
o cozimento, que alterariam a absorção do ferro.
A leucocitose observada no grupo induzido, não visualizada nos demais
grupos, pode ser efeito de processos inflamatórios agudos que ocorrem como efeitos
adversos do uso de anabolizantes. A literatura mostra que o uso de anabolizantes
está relacionado à inflamação aguda na pele, coração, (KENNEDY & LAWRENCE,
1993) vasos sanguíneos, (ROCKHOLD, 1993) rim, (DAHER et al., 2009) fígado
(ŠTIMAC et al., 2002) e outros órgãos, e que o recrutamento de leucócitos está
aumentado com o uso de doses suprafisiológicas de hormônios esteróides em ratos.
(CHIGNALIA et al., 2015)
Além disso, já foi mostrado que em ratos normais que recebem estímulo
androgênico, ocorre não somente a leucocitose, mas também a diminuição da
60
câncer de próstata (MELEGH et al., 2019). Já se observou que o EGCG pode inibir
a atividade da metaloproteinase da matriz que pode contribuir para invasão de
células tumorais e angiogênese (GARBISA et al., 2001). O EGCG não apenas
reprime a expressão do HIF-1 α, um forte ativador da expressão do VEGF, mas
também pode prevenir a ativação do eixo VEGF/VEGFR. O chá verde então pode ter
efeitos preventivos na angiogênese tumoral e na metástase por meio da redução da
expressão dos receptores VEGF (FERRARA, 2003; KOJIMA-YUASA, 2003;
RASHIDI et al., 2017). Zhou 2018, também encontrou uma baixa expressão de VEGF
em animais tratados com o chá verde. Sendo assim, o chá verde previne a
angiogênese deletéria na prostata, porém continua provendo seus efeitos protetivos
reparação tecidual no sistema cardiovascular dos animais.
Estudos anteriores já haviam demonstrado o aumento da próstata como um
todo em animais induzidos por testosterona (SHIMIZU et al., 2020, CHEN & SONG,
2016), o que também foi possível observar nesse estudo a partir da medida da área
epitelial total. Contudo, a alteração na altura epitelial no grupo induzido sem dieta nos
mostra a alteração gerada pela estimulação androgênica no epitélio prostático. O
mesmo resultado já foi descrito por outros autores em animais induzidos
androgênicamente (VARGAS et al., 2013; SAROBO et al., 2012; ZHOU et al., 2018;).
Embora a patogênese da HPB não seja completamente compreendida,
evidências crescentes demonstram que os processos de hiperplasia epitelial da
próstata e síntese da matriz fibromuscular são modulados por hormônios sexuais
(MINUTOLI et al., 2016; VARGAS et al., 2013). Na próstata, tanto o epitélio quanto o
estroma expressam receptores androgênicos e, consequentemente, podem mediar
a atividade androgênica (BRONSON & MATHERNE, 1997). A sinalização de
receptores androgênicos a proliferação gera uma diferenciação das células epiteliais
da próstata, interferindo nos fatores secretores das células estromais (WANG et al.,
2017). Além de afetar a secreção de alguns fatores de crescimento epiteliais e,
subsequentemente, desencadeia o crescimento da próstata, bem como a síntese e
deposição de colágeno (WU et al., 2017). Zhou 2018 demonstrou que em animais
induzidos há uma elevação significativa da expressão desses receptores
androgênicos. A testosterona é essencial para o desenvolvimento, crescimento e
manutenção da próstata. A 5-alfa-redutase parece desempenhar um papel
importante papel convertendo a testosterona em DHT e atuando nos núcleos
celulares de órgãos-alvo, incluindo o acessório masculino glândulas, pele e próstata.
63
7 CONCLUSÕES
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78
ANEXO 1
79
ANEXO 2
HEMATOXILINA-EOSINA
Finalidade:
Para tecidos em geral.
Corantes e soluções:
1. Hematoxilina de Harris;
2. Eosina aquosa 1%;
3. Álcool 95% acidificado em Àcido clorídrico
Fixador:
Indiferente.
Método de Coloração:
1. Desparafinar em duas mudas de Xilol P.A. por 3 minutos cada;
2. Hidratar álcool 100, 90, 80 e 70° por 1 min cada;
3. Lavar em água de torneira por 5 minutos;
4. Corar pela Hematoxilina de Harris por 1 a 5 minutos;
5. Lavar em água de torneira por 5 minutos;
6. Diferenciar em álcool-ácido até que os núcleos fiquem bem diferenciados;
7. Lavar em água de torneira por 10 minutos;
8. Corar pela Eosina por 3 a 5 minutos;
9. Lavar em água destilada;
10. Desidratar;
11. Montar.
Resultados:
Azul – núcleo, bactérias e cálcio;
Rosa – citoplasma;
Vermelho – hemácias e granulações eosinófilas;
Azul-claro – mucoproteína.
80
ANEXO 3
Corantes e soluções:
1. Sirius Red F3BA 0,1% em solução aquosa saturada de ácido pícrico pH 2,0;
2. Hematoxilina de Harris ou Delafield.
Fixador:
Formalina tamponada 10%.
Método de coloração:
1. Desparafinar em 2 mudas de xilol P.A.;
2. Hidratar em álcool 100°, 90º, 70º e água destilada;
3. Corar por 1 hora no Sirius Red;
4. Diferenciar em 2 mudas de Ácido clorídrico (HCl) 0.01N, 1 minuto cada;
5. Lavar em água destilada
6. Corar em hematoxilina de Harris ou Delafield por 3 minutos;
7. Lavar em água corrente
1. Desidratar, clarificar e montar
Resultados:
Sem polarização
Vermelho – fibras de colágeno
Roxo – núcleos
Com polarização
Birrefringência laranja ou vermelha – Fibras de colágeno tipo I
ANEXO 4
Artigo submetido (14/12/2023) para a revista “The Prostate” – Qualis A2 / Medicina II
Título: “Effects of a green tea-based diet on Wistar rats submitted to induced benign prostatic
hyperplasia”
“
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83