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Faculdade de Ciências

Departamento de Física
Mestrado em Risco de Desastre e Adaptação a Mudanças Climáticas
Módulo: Avaliação do Risco e Necessidades de Adaptação

Exercício III#:
Efeito da precipitação na Incidência da Malária em Moçambique

Elaborado por: Nehemias Horácio Lasse


Docente: Professor Doutor Agostinho Vilanculos

Maputo, 08 de Abril de 2022


RESUMO

A malária é uma doença muito importante devido a sua distribuição global e constitui um
dos grandes desafios para o sector da saúde, sendo exacerbada pela sua sensibilidade aos
factores climáticos, tais como alterações na temperatura, humidade, precipitação e outras
condições climáticas têm impacto na sua transmissão, ciclo de vida e no desenvolvimento de
parasitas. Em Moçambique, cerca de 605 de internamentos são associados à incidência da
malária, e este fenómeno tem vindo a ser crítico durante a ocorrência dos desastres naturais
de forma recorrente no país. Portanto, este trabalho, teve como objectivo, avaliar o efeito dos
factores climáticos (caso específico da precipitação) na incidência da malária no país, e
especificamente, identificar os locais de maior incidência e estimar os casos de malária
previstos para o período sazonal Outubro Novembro Dezembro (OND-2021) e Janeiro
Fevereiro Março (JFM-2022) com vista a desenhar mecanismos de prevenção e mitigação da
doença. Neste contexto, foi determinada a relação existente entre a precipitação e malária,
utilizando dados de cada variável compreendido entre 2012 – 2019, obtendo um modelo de
regressão para cada província em cada tercil (OND e JFM). De seguida, foi determinada a
incidência da malária substituindo a precipitação esperada para os tercis (OND 2021 e JFM
2022). Resultados obtidos mostram uma relação positiva entre Malária e Precipitação nas
províncias de Niassa, Tete, Manica, Gaza, Sofala e Inhambane no período OND e Niassa,
Tete, Gaza, Cabo Delgado, Nampula, Inhambane, Zambézia e Maputo no período JFM.
Quanto à incidência da malária, as províncias de Zambézia e Nampula foram classificadas
como de alta incidência no período de OND 2021, enquanto que no período de JFM, a alta
incidência foi observada para além da Zambézia, em Nampula, Cabo Delgado e Niassa.
Maputo, Gaza e Tete, são as províncias que registaram em ambos períodos, baixa incidência
de malária.

Palavras-chave: incidência de malária; efeito da precipitação na malária.

Nehemias Lasse i
Índice

RESUMO ................................................................................................................................ i

Lista de Figuras ..................................................................................................................... iv

Lista de Tabelas ..................................................................................................................... iv

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1.1. Contextualização ...................................................................................................... 1

1.2. Problema de estudo .................................................................................................. 1

1.3. Objectivos ................................................................................................................ 2

1.3.1. Objectivo geral: ................................................................................................ 2

1.3.2. Objectivos específicos: ..................................................................................... 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 3

2.1. Descrição geral da malária ....................................................................................... 3

2.2. Efeito dos factores climáticos na incidência da malária .......................................... 4

2.2.1. Precipitação ...................................................................................................... 4

2.2.2. Temperatura ...................................................................................................... 6

2.2.3. Altitude ............................................................................................................. 7

2.2.4. Humidade relativa............................................................................................. 8

2.3. Efeito dos factores socioeconómicos na incidência da malária ............................... 9

2.3.1. Susceptibilidade dos hospedeiros ..................................................................... 9

2.3.2. Resistência do hospedeiro .............................................................................. 11

2.3.3. Ambiente social .............................................................................................. 12

2.3.4. Recursos económicos ..................................................................................... 13

2.4. Ciclo de vida do mosquito Anopheles.................................................................... 14

2.5. Habitats de ocorrência de malária .......................................................................... 15

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2.6. Ocorrência da malária em Moçambique ................................................................ 16

2.7. Gestão da Malária em Moçambique ...................................................................... 17

3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...................................................................... 19

3.1. Localização geográfica de Moçambique ............................................................... 19

3.2. Descrição Climática de Moçambique .................................................................... 20

3.3. Descrição do Relevo .............................................................................................. 23

3.4. Uso e Cobertura de terra ........................................................................................ 24

3.5. Recursos hídricos ................................................................................................... 26

3.6. Demografia de Moçambique.................................................................................. 28

3.7. Rede sanitária em Moçambique ............................................................................. 28

4. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 29

4.1. Dados de entrada .................................................................................................... 29

4.2. Análise de Dados ................................................................................................... 29

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 31

5.1. Relação existente entre a precipitação e os casos de malária em Moçambique .... 31

5.2. Precipitação esperada no período OND 2021 e JFM 2022 .................................... 32

5.3. Casos de Malária esperados em Moçambique ....................................................... 33

6. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 37

7. RECOMENDAÇÕES ................................................................................................... 38

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 39

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Lista de Figuras
Figura 2.1. Ciclo de vida do Plasmodium. ............................................................................. 4
Figura 2.2. Ciclo de vida do mosquito Anopheles ............................................................... 14
Figura 3.1. Localização geográfica de Moçambique. ........................................................... 19
Figura 3.2. Distribuição da precipitação média anual em Moçambique. ............................. 21
Figura 3.3. Temperatura média anual em Moçambique. ...................................................... 22
Figura 3.4. Variação da temperatura e Precipitação ao longo do ano em Moçambique. ..... 23
Figura 3.5. Descrição do declive de Moçambique. .............................................................. 24
Figura 3.6. Uso e Cobertura do solo de Moçambique .......................................................... 25
Figura 3.7. Recursos hídricos de Moçambique. ................................................................... 26
Figura 3.8. Bacias hidrográficas de Moçambique. ............................................................... 27
Figura 5.1. Precipitação prevista para o período de OND. ................................................... 32
Figura 5.2. Previsão da ocorrência da precipitação no período de JFM de 2022. ................ 32
Figura 5.3. Incidência da malaria no período de OND 2021 em Moçambique. ................... 33
Figura 5.4. Incidência da malaria no período de OND 2021 em Moçambique. ................... 34
Figura 5.5. Casos de malaria observados nos períodos OND 2021 e JFM 2022 em
Moçambique. ........................................................................................................................ 35

Lista de Tabelas
Tabela 3.1. Dados demográficos das Províncias em estudo. ................................................ 28

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contextualização

Moçambique é um país caracterizado como vulnerável à ocorrência de desastres climáticos


devido à sua localização geográfica à jusante de cerca de 9 rios partilhados com países
vizinhos, aliado à extensa faixa costeira (cerca de 2700 km) e localização na Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) (INGD, 2017).

Associado à alterações climáticas, baixo poder económico das populações, as quais cerca de
80% reside em zonas rurais, vários desastres tem impactado negativamente a segurança
alimentar assim como a saúde pública através da eclosão de doenças, tal como é o caso da
malária (PNCM, 2017; Siya et al., 2020).

A malária é uma doença endémica a nível mundial, regional e em Moçambique me particular.


Constitui um dos grandes desafios do governo Moçambicano pois cerca de 60% de
internamentos assim como mortes, são associados à esta doença (PNCM, 2017; WHO,
2021b).

Neste contexto, surgiu a necessidade de avaliação do efeito da precipitação na incidência da


malária, especificamente, identificar as regiões com maior índices de malária com vista a
recomendar estratégias de mitigação informadas.

1.2. Problema de estudo

A malária é uma doença muito importante devido a sua distribuição global e constitui um
dos grandes desafios para o sector da saúde, sendo exacerbada pela sua sensibilidade aos
factores climáticos, bem como à capacidade local do seu controle (Caminade et al., 2014).
Alterações na temperatura, humidade, precipitação e outras condições climáticas têm
impacto em factores importantes que determinam a transmissão da malária, como o ciclo de
vida do mosquito e o desenvolvimento de parasitas da malária no insecto (Moore, 2022).
Estes factores climáticos, geralmente são influenciados pelas actividades humanas tais como
o desmatamento, a queima de combustíveis fósseis, o uso intensivo de áreas agrícolas, a
poluição das águas, que consequentemente tendem a aumentar a temperatura global causando

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a ocorrência dos desastres naturais e eclosão e distribuição de doenças transmitidas pelo
mosquito, como o caso da malária (Bryn & Hemsing, 2012; Zhou et al., 2015). Em altitudes
baixas, onde a malária já predomina, o aumento da temperatura, precipitação tende a reduzir
o ciclo de crescimento do parasita, aumentando as taxas de transmissão da doença. Por outro
lado, a ocorrência de secas associada a altas humidades, transformam os rios e águas
estagnadas em pontos de reprodução do mosquito, aumentando a taxa de reprodução e de
transmissão de doenças (Ryan et al., 2020). Sendo Moçambique um país que tende a registar
ocorrência recorrente dos eventos climáticos extremos tais como os ciclones, cheias e secas,
aliado ao fraco sistema de saneamento (Manjoro et al., 2020), caracteriza-se como um país
vulnerável à ocorrência de doenças transmitidas pelo mosquito, com registo de cerca de 10
milhões de casos de malária desde 2018 (Harp et al., 2021), doença esta responsável por
cerca de 60% de internamentos e 30% de óbitos no país (Colher, 2019). Neste contexto, o
presente trabalho visa a avaliar o efeito dos factores climáticos (caso específico da
precipitação) na incidência da malária no país, e especificamente, identificar os locais de
maior incidência e estimar os casos de malária previstos para o período sazonal Outubro
Novembro Dezembro (OND-2021) e Janeiro Fevereiro Março (JFM-2022) com vista a
desenhar mecanismos de prevenção e mitigação da doença.

1.3. Objectivos

1.3.1. Objectivo geral:

 Avaliar o efeito da precipitação na incidência da malária em Moçambique

1.3.2. Objectivos específicos:

 Determinar a relação existente entre a precipitação e os casos de malária em


Moçambique;
 Determinar o número de casos de malária para os períodos Outubro-
Novembro-Dezembro (OND) 2021 e Janeiro-Fevereiro-Março (JFM) 2022;
 Identificar as áreas susceptíveis à incidência de malária em Moçambique.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Descrição geral da malária

Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2021b, 2021a) a malária é uma doença
aguda e crónica causada por protozoários do gênero Plasmodium, compreendido por cinco
espécies causadoras da malária humana, das quais as espécies Plasmodium falciparum e
Plasmodium vivax, representam a maior ameaça pelo facto de ser mortais e mais prevalecente
na maioria dos países da África Subsaariana. Esta doença, é transmitida para o Homem
através da picada da fêmea do mosquito do género Anopheles.

De acordo com França et al. (2008); James (2000), após a picada pelo mosquito do género
Anopheles este injecta o parasita Plasmodium no sangue humano na forma de um parasita
denominado esporozoíta, o qual circula no sangue até chegar ao fígado onde invade as células
do fígado por cerca de 10 dias, sofrendo a transformação em milhares de novos parasitas
conhecidos como merozoitos, os quais recém-formados são liberados na corrente sanguínea,
invadindo os glóbulos vermelhos e depois se reproduzem. Alguns merozoitos entram em uma
célula sanguínea, cresce e se divide assexuadamente para formar até 20 novos merozoitos,
os quais saem da célula e invadem os glóbulos vermelhos vizinhos durante 48 horas.

Os parasitas que não formam merozoitos, desenvolvem-se em um estágio sexual do ciclo de


vida chamado gametócitos. Estes são absorvidos por um mosquito quando se alimentam de
um humano infectado, e dentro do intestino do mosquito, os gametócitos se transformam em
gametas maduros (ovos e espermatozoides) que se fundem e se desenvolvem em um
oocineto, o qual cava através do forro de parede do intestino do mosquito e forma um oócito
no qual dezenas de milhares de esporozoítos são formados. Eles saem do oócito e viajam
para a glândula salivar do mosquito onde o ciclo recomeça através de uma nova picada a
humanos (James, 2000).

Adicionalmente, a malária pode também ser adquirida através de contacto directo com o
sangue de uma pessoa infectada tal como o caso de transfusões sanguíneas ou transplante de
órgãos ou ainda pela partilha de seringas entre usuários de drogas injetáveis (WHO, 2021b).
O período de incubação da malária vai desde os 7 a 30 dias, dependendo da espécie do
Plasmodium (Figura 2.1) (CDC, 2022; Sleiman et al., 2020).

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Figura 2.1. Ciclo de vida do Plasmodium.
Fonte: (James, 2000).

De acordo com Arroz (2016) vários são os factores que contribuem para a ocorrência da
malária, desde as condições climáticas e ambientais, destacando-se a temperatura, padrões
de chuvas favoráveis, existência de locais propícios para a reprodução do vetor (locais com
charcos), situação socioeconómica das populações relacionadas com a pobreza, habitações
inapropriadas (feito com base no material local) e acesso limitado aos meios de prevenção à
doença.

2.2. Efeito dos factores climáticos na incidência da malária

2.2.1. Precipitação

As condições climáticas determinadas principalmente pela precipitação e temperatura,


constituem um determinante importante na distribuição e ocupação espacial das espécies

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vegetais e animais na Terra, portanto, a sua alteração influencia bastante nas condições de
vida assim como na distribuição e proliferação dos agentes transmissores de doenças
(Mendonça, 2000).

As secas levam à redução da água potável, seguidas por um período prolongado de


aquecimento, resultando na insegurança alimentar, problemas respiratórios causados por
poeira, pólen e partículas transportadas pelo ar, enquanto que por outro lado, um clima quente
e húmido, cria condições favoráveis para existência de vectores causadores de diversas
doenças, transportadas por mosquitos como é o caso da malária, e ainda assim como a
ocorrência de novas doenças transmitidas por mosquitos (Colher, 2019).

Associado às alterações dos padrões da precipitação, podem aumentar o risco de inundações


e problemas de saúde relacionados com cheias, tal como é o caso da cólera e malária que
surgiram em Moçambique como resultado da passagem do ciclone Idai em 2019 no Centro
do País (Colher, 2019).

Os factores climáticos (temperatura e precipitação), estão intimamente ligados ao ciclo de


desenvolvimento da malária e infecção através da influência que têm sobre os ciclos de vida
do parasita Plasmodium e da fêmea do mosquito Anopheles, influenciando a disponibilidade
de locais de reprodução do mosquito através de chuvas melhoradas assim como a taxa de
transmissão da doença através de aumento da frequência de picadas por mosquito (MacLeod
et al., 2015).

Surtos de malária podem ocorrer como resultado de anomalias climáticas tais como períodos
prolongados de chuva ou ondas de calor, particularmente em regiões onde a transmissão da
malária é fortemente sazonal, entretanto, a relação entre as variáveis meteorológicas e a
malária não é linear, apesar de a água constituir o elemento necessário para formar mosquitos
criadouros, através do excesso de chuvas e inundações que condicionam a deposição de
larvas (Caminade et al., 2014; MacLeod et al., 2015; Morse et al., 2005).

Vários estudos têm sido conduzidos no mundo avaliando o efeito das alterações climáticas
na incidência da malária, neste contexto, Ankamah et al. (2018); Confalonieri (2008)
destacam a importância das variáveis climáticas na distribuição espacial da malária e a
prevalência do seu impacto.

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Estudo conduzido por Kifle et al. (2019), modelando a o efeito da precipitação sobre a
incidência de malária na Eritreia constatou que as mudanças nos padrões da precipitação
afectam a incidência da malária, e concluiu que a utilização de relatórios de casos de malária
de rotina e dados de precipitação, as incidências de malária podem ser previstas com precisão
aceitável.

2.2.2. Temperatura

Para que o mosquito se torne infecioso tem de viver tempo suficiente para que o parasita
complete a parte do ciclo que se desenvolve nele, um dos factores climáticos importantes
para tal é a temperatura (Tiu et al., 2021; Webber, 2005).

Quanto à temperatura, o seu aumento (acima de 29ºC, considerada a temperatura máxima


óptima), aumenta a taxa de parasitas e replicação vetorial, mas temperaturas extremas
reduzem suas respectivas taxas de sobrevivência e a capacidade de transmissão da malária
(Paaijmans et al., 2012).

Apesar da resistência do mosquito às elevadas temperaturas, o seu comportamento é


extremamente sensível a este factor podendo afectar aspetos como a duração do período de
incubação e o estímulo à alimentação, assim como o desenvolvimento do parasita no interior
do mosquito, portanto, o aumento da temperatura, o período de incubação do parasita diminui
tornando-se infecioso mais rapidamente (Webber, 2005).

A transmissão da malária é fortemente determinada pela temperatura ambiente, porém, o


ambiente raramente é constante. Portanto, os mosquitos e parasitas não são apenas expostos
à temperatura média, mas também à variação diária da temperatura (Arab et al., 2014).

Estudo conduzido por Carrington et al. (2013); Zhao et al. (2014) apontam que além de
temperaturas, as flutuações diárias na temperatura podem afectar as características essenciais
de mosquitos e parasitas, determinando a intensidade de transmissão da malária, assim como
determinar o desenvolvimento do mosquito e a taxa da picada, mas também a velocidade de
desenvolvimento e sobrevivência de os parasitas dentro do mosquito, ou seja, quanto maior
for a temperatura, dada a maior sensibilidade do mosquito à temperaturas elevadas, menor

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será o ciclo dos parasitas e consequentemente, aumentando desta forma a taxa de transmissão
da malária.

Resultados similares foram obtidos por Blanford et al. (2013); Lambrechts et al. (2011) que
apontam a influência da temperatura diária associada à temperatura média no
desenvolvimento do mosquito assim como no parasitoide responsável pela transmissão da
malária.

2.2.3. Altitude

Para além da precipitação e da temperatura, a altitude1 desempenha um papel muito


importante na incidência e distribuição geográfica da malária. Com o aumento da altitude, a
temperatura diminui e vice-versa que por sua vez, influencia a dinâmica de transmissão da
infecção. Além disso, o deslocamento geográfico do Anopheles mosquito devido à mudança
climática facilita a transmissão da malária em áreas anteriormente não-maláricas, o que
resulta em uma distribuição desigual da doença (Dabaro et al., 2021).

Historicamente, muitas partes das terras altas eram consideradas muito frias para suportar a
transmissão da malária. Entretanto, actualmente existe um consenso de que a malária é um
problema crescente nas terras altas principalmente no continente africano (Bødker et al.,
2003; Morelle, 2014).

Estudo conduzido por Bødker et al. (2003) mostrou que nas terras altas da Tanzânia, as baixas
temperaturas impediram o desenvolvimento de parasitas nos mosquitos durante as chuvas da
estação fria e, portanto, a transmissão da malária foi limitada à estação quente e seca, com
uma densidade de vetores baixas.

De acordo com Bishop & Litch (2000); Siya et al. (2020), a transmissão da malária não ocorre
em altitudes acima de 2.000 a 2.500 m (dependente da latitude), e em temperaturas abaixo
de 16°C ou acima de 33°C. Em grandes altitudes, isso se deve à interrupção do ciclo sexual
do parasita da malária no mosquito, devido às baixas temperaturas ambientes. No entanto,
muitas áreas de alta altitude do mundo estão localizadas em regiões tropicais e semitropicais,

1
Define-se altitude como sendo a altura de um certo ponto tendo como referência o nível do mar.

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gerando o potencial para exposição à malária durante a passagem de moradores e visitantes
das zonas de altitude. Para além da passagem de visitantes e moradores, o uso de terra e a
ocorrência das precipitações, desempenharam o maior papel nas tendências da malária (Siya
et al., 2020).

2.2.4. Humidade relativa

Adicionalmente, a humidade relativa constitui um dos factores climáticos que tem sofrido
alterações devido aos efeitos das alterações climáticas, as quais afectam directamente a
transmissão da malária, alterando o alcance geográfico do vetor e aumentando as taxas
reprodutivas e de picada e reduzindo o período de incubação do Plasmodium (Kotepui &
Kotepui, 2018; Tiu et al., 2021).

Regiões que sofrem das monções, geralmente apresentam temperaturas elevadas associadas
à alta humidade relativa durante todo o ano, condições estas considerada propícias para a
reprodução do vetor da malária – mosquito Anopheles (Kotepui & Kotepui, 2018). Estes
autores, avaliando a influência de variáveis climáticas (temperatura, precipitação e humidade
relativa) na Tailândia, um país tropical, constataram uma correlação positiva entre todos os
factores isoladamente com a incidência da malária.

Resultados similares, foram obtidos por Mohammadkhani et al. (2019); Tiu et al. (2021),
avaliando a relação entre os factores climáticos com a incidência da malária, observaram uma
relação negativa entre a precipitação e humidade relativa abaixo de 60% com a incidência da
malária, porém, acima disto, os autores verificaram uma relação positiva. E ainda, resultados
obtidos por Santos-Vega et al. (2022), indicam que a humidade relativa é um factor crítico
na disseminação da malária principalmente nas regiões urbanas para além da transmissão de
outras epidemias pelos mosquitos.

Além dos factores climáticos e ambientais, a malária também é influenciada por factores
relacionados com o hospedeiro, desde os socioeconômicos na comunidade, mudanças no uso
da terra, intervenções de saúde pública, mudanças na habitação, migração humana,
conhecimento, atitudes e práticas comunitárias em relação à malária (Tiu et al., 2021).

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2.3. Efeito dos factores socioeconómicos na incidência da malária

2.3.1. Susceptibilidade dos hospedeiros

De acordo com Webber (2005), a susceptibilidade de um hospedeiro à uma certa doença é


definida por diversos factores, desde os genéticos, idade, sexo, gravidez. A disposição
genética determina a resposta do hospedeiro a organismos infectantes. Quanto a idade, certas
doenças afectam idades específicas dada a sua imunidade.

No estudo conduzido por Schwartz et al. (2001), aponta que a maior taxa de mortalidade
causada pela malária em regiões endêmicas é observada entre as crianças, provavelmente
devido à sua falta de imunidade. Por outro lado, adultos nativos em países onde a malária é
endêmica podem ser portadores subclínicos de malária devido a uma imunidade natural
adquirida durante a infância.

Resultados similares foram observados por Coulibaly et al. (2021), que reportam um declínio
de incidência da malária no continente Africano em crianças de idade superior a 5 anos,
enquanto por outro lado, verifica-se aumento de casos de malária em crianças de idade abaixo
de 5 anos. Entretanto, no Quénia, Khagayi et al. (2019) aponta evidências de que a malária
em crianças entre 5 e 14 anos e adultos em termos de mortalidade é maior do que se pensava
anteriormente, e, as taxas de mortalidade diminuíram em crianças abaixo de 5 anos e pessoas
com idade ≥ 15 anos, mas permaneceram estáveis em crianças de 5 a 14 anos.
adicionalmente, crianças mais velhas e adultos funcionam como reservatórios de transmissão
devido aos altos níveis de infecções assintomáticas. No Gana, as taxas de hospitalização por
malária permanecem altas particularmente entre crianças pequenas (abaixo de 5 anos)
(Mpimbaza et al., 2020).

Quanto ao género, existem muitos factores que podem contribuir para as diferenças nas
medidas de malária entre mulheres e homens, desde as diferenças sociais, culturais e
comportamentais que influenciam no risco de exposição a mosquitos, percepção de doença,
comportamento de busca de saúde e práticas de gerenciamento de casos (Finda et al., 2019).

Em Uganda, os homens contribuem desproporcionalmente para a incidência da malária


diagnosticada em unidades de saúde pública em Uganda, especialmente quando atingem a

Nehemias Lasse 9
idade fértil. Portanto, os factores contribuintes incluíram visitas mais frequentes a essas
instalações independentemente da malária e um maior risco relatado de procurar atendimento
nessas instalações para doenças febris (Okiring et al., 2022).

As respostas imunes específicas diferem no envelhecimento de homens e mulheres. Além


dos factores genéticos, essas diferenças podem ser explicadas pelos níveis muito divergentes
e variáveis das hormonas esteroides sexuais e sua interacção com o sistema imunológico,
sendo que os estrogénios promovem enquanto os andrógenos suprimem as respostas imunes
durante infecções, após vacinação ou em caso de autoimunidade. Por isso, os homens são
mais susceptíveis a muitos táxons, enquanto as mulheres sofrem mais com doenças com
maior impacto imunopatológico, e elas, perdem a sua vantagem imunológica após a
menopausa (Bernin & Lotter, 2014; Giefing-Kröll et al., 2015).

No mesmo âmbito, avaliando a diferença da incidência da malária por género, Briggs et al.
(2020), não observou diferença entre homens e mulheres na incidência da malária, entretanto,
constatou que as mulheres eliminam infecções assintomáticas de malária em um ritmo mais
rápido do que os homens. Entretanto, no Quénia, Ng’ong’a et al. (2011), constatou uma
correlação positiva entre a incidência da malária com o género, onde níveis mais altos de
parasiternia foi observada em homens do que em mulheres que vivem nas mesmas áreas
evidenciando que os homens são mais vulneráveis à infecção por malária do que as mulheres.

Além da idade e sexo, especificamente para as mulheres, a malária durante a gravidez é um


grave problema de saúde pública na África Subsaariana, e estima-se que a cada ano
aproximadamente 25 milhões de mulheres grávidas na África Subsaariana vivam em risco
de infecção por malária (Steketee et al., 2001). E esta está associada a resultados indesejados
da gravidez, aumento do risco de aborto, natimorto, parto prematuro e bebês com baixo peso
ao nascer (Tegegne et al., 2019), assim como com a Idade, idade gestacional e educação em
saúde reprodutiva (Gontie et al., 2020).

As mulheres grávidas geralmente são vulneráveis à infecção pela malária porque as hemácias
infectadas com o parasita podem se sequestrar na placenta e, assim, causar efeitos fetais
adversos. Se os medicamentos anti maláricos não atingirem níveis terapêuticos na placenta,
os parasitas ali sequestrados podem ser liberados intermitentemente no sangue periférico e
causar infecção materna recorrente (Wylie et al., 2022). Quando uma mulher estiver grávida,

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os mecanismos fisiológicos são alterados e ela se torna mais susceptível à infecções. A
malária ataca as mulheres grávidas como se ela tivesse pouca imunidade (Webber, 2005).

2.3.2. Resistência do hospedeiro

A susceptibilidade e os mecanismos de defesa de um indivíduo podem ser alterados pela sua


resistência, e esta pode ser conferida pelos seguintes aspectos: nutrição, trauma e condições
debilitantes e existência de infecções múltiplas (Webber, 2005).

Quanto à nutrição, em um estudo conduzido por Lewnard et al. (2014), a insegurança


alimentar grave foi associada ao aumento do risco de resultado positivo do teste de malária.
A insegurança alimentar grave pode ser um factor de risco para a incidência da malária
principalmente para os grupos de idades susceptíveis à malária.

Adicionalmente, a revisão de estudo feita por Shankar (2000), indicam que a nutrição é um
factor chave na modulação da morbidade e mortalidade da malária. Deficiências em vários
micronutrientes específicos (vitamina A e zinco) também tendem a exacerbar a incidência da
malária. Diferentes nutrientes, como vitamina A, Zinco e Ferro, modificam selectivamente
diferentes aspectos da imunidade e patologia da malária. Portanto, a malária afecta
principalmente as comunidades carentes e com problemas de desnutrição devido a debilidade
do seu sistema imunológico. Embora as crianças sejam geralmente as mais vulneráveis, a
doença pode ser agravada naquelas que estão desnutridas (Sakwe et al., 2019; Shankar,
2000).

Para além da desnutrição crónica, a prevalência de múltiplas infecções constitui um dos


factores de aumento de risco de incidência da malária (Webber, 2005). Isto é, um organismo
com prevalência de outras doenças apresenta maior susceptibilidade à ocorrência da malária,
pois os seus glóbulos brancos encontram-se debilitados (Williams & Pinto, 2012).

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2.3.3. Ambiente social

O ciclo de transmissão da malária que o mosquito segue até o hospedeiro, ocorre dentro de
um ambiente que determina a sua incidência e severidade da infecção. Este ambiente pode
ser físico assim como social (Webber, 2005).

A educação desempenha um papel muito importante na prevenção da malaria assim como


sobre a maioria das doenças transmissíveis para que sejam prevenidas. Não se trata apenas
de ensinar as pessoas, mas eles devem entender a tal ponto que sejam capazes de modificar
suas vidas. Isto é não um processo repentino; alterações feitas por uma geração são usadas
como ponto de partida para melhorias ou modificações nas gerações seguintes. Além disso,
a educação não é apenas a adição de novo conhecimento, mas a avaliação racional de crenças
e costumes tradicionais (Webber, 2005).

Um estudo conduzido por de Sousa Pinto et al. (2021) em Moçambique, constatou que
factores socioeconómicos e culturais influenciam a ampla adopção de medidas preventivas
de controle da malária, tais como o reconhecimento precoce da doença, a busca de cuidados
médicos, dormir sob mosquiteiros tratados com insecticida e fazer tratamento preventivo
intermitente para mulheres grávidas. Adicionalmente, resultados mostram que os
voluntários/ativistas/professores desempenharam um papel importante na divulgação de
mensagens de prevenção da malária, e consequentemente, os beneficiários possuem mais
conhecimento da transmissão da malária, identificação de sinais e sintomas, e adopção de
medidas preventivas e onde obter tratamento.

Resultados obtidos por Singh et al. (2014), em um estudo conduzido no Norte da Nigéria
apontam que a posse do conhecimento sobre as medidas preventivas não necessariamente se
traduz em melhoria das práticas de prevenção, portanto, há necessidade de programas
educacionais direccionados para aumentar os esforços das comunidades no desenvolvimento
de atitudes e práticas desejáveis em relação ao controle da malária. Resultado similar foi
observado por Mwanje (2013) em Uganda, onde a maioria da população do estudo possuía o
conhecimento sobre a prevenção da malária porém, não seguia boas práticas.

Entretanto, estudo conduzido no mesmo país por Ojong et al. (2013), avaliando a relação
entre o conhecimento das medidas preventivas pelas mulheres grávidas e as respectivas

Nehemias Lasse 12
práticas, constatou-se uma correlação positiva, mostrando que a maioria das mulheres tinha
bom conhecimento de prevenção da malária e boas práticas de estratégias de prevenção. Este
resultado, mostra que as mulheres grávidas possuem mais conhecimento e engajam-se na
prevenção contra a malária.

Vários estudos apontam que o aumento do nível de escolaridade assim como a integração de
medidas de mitigação da incidência da malária nos diferentes níveis de ensino constitua uma
estratégia de redução da ocorrência da malária (Webber, 2005). Neste contexto, Bambo et al.
(2017); Ribeiro & Rooke (2010), afirmam que a educação comunitária constitui um recurso
muito importante na prevenção de doenças, pois facilita a adopção de práticas de saneamento
e reduzindo desta forma as fontes de reprodução dos vetores da malária.

2.3.4. Recursos económicos

De acordo com Webber (2005), a falta de recursos está associada à pobreza, e esta, está
relacionada à falta de recursos para fazer face à incidência da malária e outras doenças. Em
um estudo conduzido por em Uganda por Tusting et al. (2016) constatou evidências de que
a associação entre posição socioeconómica e infecção por malária foi explicada em parte pelo
tipo de casa e segurança alimentar prevalecente.

A malária e a pobreza estão intimamente ligadas, tanto como causa assim como consequência
da pobreza. Em países e comunidade pobres, o seu tratamento é muito difícil, pois enfrentam
um ciclo vicioso de pobreza e problemas de saúde (Red Cross, 2007).

De acordo Gallup & Sachs (2001), quaisquer outras doenças graves predominantemente
encontradas em países pobres são claramente uma consequência directa da pobreza, causada
pela ineficiência do sistema de drenagem, saneamento, água potável insegura e falta de
higiene ou habitação precária. A malária, porém, não segue esse padrão; sua gravidade e a
dificuldade de controlá-la são determinadas principalmente pelo clima e pela ecologia, o
comportamento pessoal, como o uso de redes mosquiteiras, e o nível geral de
desenvolvimento, especialmente a urbanização, também afectam a prevalência da malária,
mas não são os principais determinantes.

Nehemias Lasse 13
2.4. Ciclo de vida do mosquito Anopheles

Durante o seu ciclo de vida, o mosquito passa por quatro fases de desenvolvimento: ovo,
larva, pupa e adulto. Na passagem de larva a pupa e de pupa a adulto, o mosquito sofre
metamorfoses (Figura 1) (Williams & Pinto, 2012).

Figura 2.2. Ciclo de vida do mosquito Anopheles

Fonte: (Williams & Pinto, 2012).

De acordo com Williams & Pinto (2012), descreve-se o ciclo de vida do mosquito Anopheles
abaixo:

Fase da larva:

A larva tem uma cabeça bem desenvolvida, apresentando escovas bucais que são usadas para
se alimentar. A larva alimenta-se de micro-organismos e de matéria orgânica existente na
água onde que se criam. Estas, passam por quatro estádios de desenvolvimento, designados
por instares e denotados como L1, L2, L3 e L4 até se transformarem, por metamorfose, em
pupa. Nesta etapa, a temperatura da água influencia o tempo necessário ao desenvolvimento

Nehemias Lasse 14
larvar, que é mais curto em águas mais quentes. Dependendo da espécie do mosquito, o
desenvolvimento da larva até à fase de pupa pode durar cerca de 5 a 10 dias, em condições
de temperatura tropicais.

Fase de pupa:

A pupa tem a forma de uma vírgula e mantem-se à superfície da água. A pupa não se alimenta,
mas é móvel e responde a estímulos. Esta é uma fase de repouso ou inactividade, durante a
qual ocorre uma grande transformação do organismo do mosquito (metamorfose), que leva
à passagem do meio aquático para o meio terrestre. A fase de pupa dura cerca de 2 a 3 dias.

Fase adulta:

Em geral, o adulto emerge da pupa ao anoitecer, de seguida, o mosquito adulto repousa por
um curto período de tempo, a fim de endurecer seu corpo. Pouco tempo após a emergência,
os mosquitos acasalam. Os machos formam grandes enxames, geralmente ao anoitecer, e as
fêmeas voam para os enxames para acasalar. Tanto os mosquitos machos como as fêmeas
alimentam-se de néctares vegetais para obter energia.

Após o acasalamento, as fêmeas procuram uma refeição de sangue para desenvolver os seus
ovos. Para algumas espécies uma refeição sanguínea é suficiente para o desenvolvimento dos
ovos. Em outras espécies, são necessárias duas alimentações, pelo menos para o
desenvolvimento da primeira postura de ovos. O período de tempo entre o ovo e o adulto
pode variar entre 7 dias, a 31ºC, e 20 dias a uma temperatura de 20ºC.

2.5. Habitats de ocorrência de malária

O tipo de colecção de água adequado para o desenvolvimento das larvas de mosquitos é


bastante variável entre espécies de mosquitos, e mesmo dentro da mesma espécie. Algumas
espécies preferem corpos de água sombrios, enquanto outros preferem habitats expostos ao
sol. Algumas espécies preferem águas não poluídas, enquanto outras reproduzem-se em água
poluída. Algumas espécies exploram corpos de água de natureza mais permanente tais como
drenagens, tanques, canais de irrigação e outras ocupam poças e charcos temporários
(Williams & Pinto, 2012).

Nehemias Lasse 15
Os mosquitos Anopheles não costumam reproduzir-se em águas muito movimentadas, como
em algumas ribeiras ou rios, já que as larvas não estão adaptadas para suportar a ondulação.
Mas os criadouros larvares podem ser tão diversos como pântanos, campos de arroz, poças,
charcos, sapais, valas de drenagem, canais de irrigação, buracos de árvores, recipientes de
armazenamento de água e latas vazias (Tadei et al., 1988).

2.6. Ocorrência da malária em Moçambique

A malária continua a ser o maior problema de saúde pública em Moçambique, sendo


responsável (em 2015) por cerca de 29% de todas as mortes hospitalares e 42% das mortes
de crianças menores de cinco anos. Entretanto, foram alcançados progressos importantes,
tendo-se registado em 2015 um declínio de 9% nos casos confirmados e não confirmados em
relação a 2009, e uma redução de 34% na mortalidade (PNCM, 2017).

Segundo o inquérito de indicadores da malária, HIV/Sida e imunização realizado em 2015,


as províncias da Zambézia (68%) e Nampula (66%) apresentaram as taxas de prevalência da
malária acima de 50% e as províncias de Maputo e Cidade de Maputo com prevalência
menores que 5% com uma média nacional de 40,2% (PNCM, 2017).

Em África, o nível de endemicidade da malária varia de país para país e, por vezes, de região
para região, dentro do mesmo país. Alguns dos factores responsáveis pelas variações na
endemicidade incluem: condições climáticas (Temperatura, Altitude, Pluviosidade),
condições socioeconómicas, presença de vectores eficazes, fraca cobertura da rede sanitária
e de medidas de prevenção (Mabunda et al., 2009; PNCM, 2017).

A abundância da precipitação também está associada a uma elevada transmissão da malária,


enquanto os locais situados em elevada altitude e com temperaturas baixas tendem a ser
caracterizados por baixas taxas de transmissão (Arroz, 2016; PNCM, 2017).

Em Moçambique, a malária constitui um dos principais problemas de saúde pública, devido


o registo de uma série de factores, nomeadamente: climáticos favoráveis, abundância de
criadouros de mosquitos e socioeconómicos (pobreza, meios de prevenção inacessíveis). Por
outro lado, a maior proporção da população Moçambicana vive em áreas de alto risco à
infecção malárica. Esta doença é endémica em todo o país, variando entre regiões

Nehemias Lasse 16
mesoendémicas e hiperendémicas e a sua transmissão ocorre ao longo do ano, com picos
durante e depois das estações chuvosas, entre Dezembro e Abril (INS et al., 2019).

Contudo a intensidade de transmissão varia dependendo da precipitação e temperaturas


observadas em cada ano e também das condições ambientais específicas de cada região,
sendo as regiões secas/áridas propensas a surtos epidémicos (Sequeira, 2017; Snow et al.,
2003).

A infecção malárica constitui também um grande problema de saúde pública durante a


gravidez. Cerca de 34% das mulheres grávidas estão parasitadas, entre estas as primigrávidas
apresentam maior prevalência de parasitémia. A doença representa um peso enorme para as
autoridades sanitárias de Moçambique. Cerca de 44% das consultas externas, são devido à
malária, enquanto nas admissões, sobretudo nas enfermarias de pediatria é de 57% e em
relação às mortes intra-hospitalares, a malária contribui em cerca de 23% (INS et al., 2019;
Sequeira, 2017).

2.7. Gestão da Malária em Moçambique

Para garantir a análise e tomada de decisão sobre alguma acção em tempo útil, o Ministério
da Saúde possui o Boletim Epidemiológico Semanal (BES), que é uma ferramenta do sistema
de informação para a vigilância epidemiológica em Moçambique, direccionada para as
principais doenças infecciosas que constituem problema de saúde pública no País, utilizado
em todas as unidades sanitárias do País, onde os dados produzidos são agregados ao nível
distrital, provincial e nacional (Arroz, 2016).

Face ao controle desta doença, o país estabeleceu um Programa Nacional de Controlo da


Malária (PNCM) que é responsável pelo desenvolvimento de políticas, normas, planificação
e coordenação de todas as actividades de controlo da malária no país. Em 2016, foi feita
avaliação final do plano estratégico da malária 2012-2016 (PEM), e as constatações da
revisão foram usadas na elaboração do Plano Estratégico da Malária para o período 2017-
2022, o qual centra-se na redução da incidência da malária em áreas de transmissão elevada
e na sustentação dos ganhos alcançados em áreas de transmissão reduzida, de modo a
intensificar os esforços para a eliminação (INS et al., 2019).

Nehemias Lasse 17
Os objectivos do PEM 2017-2022 são baseados nas seis áreas temáticas nomeadamente: (i)
Fortalecer as competências de gestão do programa e nível central, provincial e distrital, de
modo a alcançar os objectivos do plano estratégico; (ii) Disponibilizar pelo menos, 85% de
cobertura da população com, no mínimo, uma intervenção de controlo vectorial em todos os
distritos do país; (iii) Testar 100% dos casos suspeitos de malária e tratar 100% dos casos
confirmados de malária ao nível das unidades sanitárias e a nível comunitário, de acordo com
as directrizes nacionais; (iv) Implementar uma abordagem efectiva de comunicação para
mudanças social e comportamento para assegurar que, pelo menos, 70% das pessoas
procuram cuidados de saúde apropriados e atempados, e que, pelo menos 85% da população
utiliza um método de protecção adequada; (v) Acelerar os esforços para a eliminação da
malária, através da implementação de intervenções epidemiologicamente adequadas e (vi)
Reforçar o sistema de vigilância de modo a que 100% das unidades sanitárias e distritos
notifiquem dados completos, atempados e de qualidade (INS et al., 2019).

No âmbito da prevenção da malária no país, o Serviço Nacional de Saúde tem implementado


programas de pulverização domiciliar acompanhados de campanha e palestras de
sensibilização comunitária sobre saneamento do meio com vista a reduzir ambientes de
reprodução do mosquito. Adicionalmente, faz-se a distribuição de redes mosquiteiras ao
nível das unidades sanitárias às mulheres grávidas durante a consulta pré-natal assim como
a distribuição domiciliar (PNCM, 2017; Sequeira, 2017).

Nehemias Lasse 18
3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

3.1. Localização geográfica de Moçambique

De acordo com o Ministério para Coordenação da Acção Ambiental (MICOA, 2005a) a


República de Moçambique está localizada no continente Africano, especificamente na costa
oriental da África Austral entre os paralelos 10º 27´ e 26º 52´ de latitude sul e entre os
meridianos 30º12´ e 40º51´ de latitude oeste. Faz fronteira com 6 países sendo a África do
Sul, Essuatini (antiga Suazilândia), Malawi, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábwè, e a nível
nacional, possui 11 Províncias e com uma extensão costeira de cerca 2515 km, da foz do rio
Rovuma, no Norte do país, à Ponta do Ouro, no Sul do país (Figura 3.1).

Figura 3.1. Localização geográfica de Moçambique.


Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 19
O país é dividido em três regiões topográficas através do rio Zambeze e do rio Save. A região
norte localizada a norte do rio Zambeze, compreende a linha costeira estreita que vai entre
as colinas e o litoral, até as montanhas do Niassa, Namúli e o planalto dos Macondes
(Manjoro et al., 2020).

A região centro, situada entre o rio Zambeze e o rio Save e a região sul situada a sul do rio
Save vai do relevo montanhoso no interior (com as plataformas de Mashonaland e as
montanhas de Lebombo) às terras baixas no litoral. O país é atravessado por nove rios
principais sendo o mais importante o rio Zambeze onde se situa a barragem hidroeléctrica de
Cahora Bassa (PNCM, 2017; Waterhouse, 2009).

3.2. Descrição Climática de Moçambique

Moçambique é um país possui tropical a subtropical, com distribuição de chuva seguindo o


gradiente Norte-Sul, com maior precipitação ao longo da zona costeira, e média anual entre
800 e 1200 mm (MICOA, 2005b; World Bank, 2022).

É um país banhado pelo Oceano índico que passa entre a ilha do Madagáscar e a porção
sudeste do continente africano (Paloschi, 2016).

O país possui um clima tropical a subtropical, com distribuição de chuva seguindo o gradiente
Norte-Sul, com maior precipitação ao longo da zona costeira, e média anual entre 430 e 1847
mm (Figura 3.2).

Nehemias Lasse 20
Figura 3.2. Distribuição da precipitação média anual em Moçambique.
Fonte: O Autor.

O país apresenta temperaturas mais quentes (entre 25 a 27ºC no verão e 20 a 23ºC no inverno)
ao longo da zona costeira relativamente ao continente que apresenta temperaturas mais frias.
As temperaturas médias na região sul são 24 a 26°C no verão e 20 a 22°C no inverno (Figura
3.3) (World Bank, 2022).

Nehemias Lasse 21
Figura 3.3. Temperatura média anual em Moçambique.
Fonte: O Autor.

Em média, ao longo do ano, os meses chuvosos estão compreendidos entre Novembro e


Abril, e o período seco, entre Maio e Outubro. Relativamente à temperatura, a partir de Abril

Nehemias Lasse 22
começa a decrescer até Junho, mês que atinge a temperatura mínima, voltando a aumentar a
partir de Agosto (Figura 3.4).

30 250

25
200

Precipitação (mm)
Temperatura (ºC)

20
150
15
100
10

50
5

0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Prec (mm) TºC

Figura 3.4. Variação da temperatura e Precipitação ao longo do ano em Moçambique.


Fonte: O Autor.

3.3. Descrição do Relevo

Moçambique apresenta zonas baixas ao longo da faixa costeira, aumentando a altitude da


costa em direcção ao interior (Albino, 2012), onde encontram-se diferentes formações
montanhosas, designadamente, a cadeia da Maniamba-Amaramba, na província do Niassa, a
de Serra Jéci a que apresenta maior altitude com 1836 metros; as formações de Chire-Namúli,
na província da Zambézia, cujo ponto mais elevado é o Monte Namúli com 2.419 metros; a
cadeia de Manica, com o ponto mais alto de Moçambique com 2436 m e a cadeia dos
Libombos, na zona ocidental sul do país (Figura 3.3) (Gustafsson & Johansson, 2006;
MICOA, 2005b).

Nehemias Lasse 23
Figura 3.5. Descrição do declive de Moçambique.
Fonte: O autor.

3.4. Uso e Cobertura de terra

A cobertura vegetal de Moçambique é caracterizada desde a floresta alta e de baixa altitude,


matagal, pradarias arborizadas e mangais assim como florestas exóticas. Regionalmente,
distinguem-se: as florestas montanhosas de altitude (Zambézia, Manica, Niassa e Tete); as
florestas de altitude (planaltos do Centro e Norte); Matagal (Centro e Sul do país, em zonas

Nehemias Lasse 24
de pastoreio); Savana (interior da zona Sul e Tete); Pradaria (planícies da zona sul, facilmente
alagáveis) e Mangais (na zona costeira, principalmente nos estuários das águas salgadas)
(Figura 3.6) (MICOA, 2005).

Figura 3.6. Uso e Cobertura do solo de Moçambique


Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 25
3.5. Recursos hídricos

Moçambique possui treze (13) bacias hidrográficas principais, sendo de Sul a Norte, as bacias
dos rios Maputo, Umbelúzi, Incomáti, Limpopo, Save, Búzi, Púnguè, Zambeze, Licungo,
Ligonha, Lúrio, Messalo e Rovuma. O país, encontra-se à jusante de cerca de nove (9) das
quinze (15) bacias hidrográficas internacionais da região da SADC (Figura 3.7) (ENGRH,
2007).

Figura 3.7. Recursos hídricos de Moçambique.


Fonte: (FUNAE, 2022).

Nehemias Lasse 26
Portanto, é considerado um país vulnerável à ocorrência de eventos climáticos extremos
(secas, ciclones e cheias), destacando-se as secas de 1981-1984; 1991-1992; 1994-1995,
2016-2017 e as cheias de 1977-1978; 1985, 1988, 2000, 2001 e mais recentemente as cheias
de 2013 e os ciclones que vêm assolando as zonas centro e Norte do País (ENGRH, 2007;
INGD, 2017; Manjoro et al., 2020).

Para além de apresentarem precipitações médias consideráveis em algumas províncias, as


bacias hidrográficas de Moçambique são muito extensas, destacando-se a bacia do Zambeze
com 1.390.000 km2, que escoa água desde a Zâmbia e Angola, passando pelo Zimbabwe e
Botswana. A contribuição internacional é uma parte significativa dos recursos hídricos
Moçambicanos, representando 70% do escoamento total no território (Figura 3.8) (ARA-
SUL, 2021; FUNAE, 2022).

Figura 3.8. Bacias hidrográficas de Moçambique.


Fonte: (FUNAE, 2022)

Nehemias Lasse 27
3.6. Demografia de Moçambique

Moçambique é um país que possui cerca de 27.909.798 habitantes, sendo Nampula e


Zambézia as que apresentam maior número de habitantes (Tabela 3.1) (INE, 2019).

Tabela 3.1. Dados demográficos das Províncias em estudo.

Província Habitantes

Cabo Delgado 2320261

Manica 1945994

Nampula 5758920

Niassa 1810794

Sofala 2259248

Tete 2648941

Zambézia 5164732
Fonte: (INE, 2019).

3.7. Rede sanitária em Moçambique

Em Moçambique, o Sector da Saúde possui um objectivo de garantir a cobertura universal


dos serviços da saúde com enfoque nos cuidados de saúde prioritários (CSP) através de três
(03) sectores: (sector público, sector privado lucrativo e sector comunitário) (MISAU, 2018).

O sector público agrupado no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o mais abrangente


geográfica e tecnicamente, com cerca de 1596 unidades sanitárias, das quais 1532 (96%) são
Centros de Saúde, com 1532 nas áreas rurais, 50 hospitais distritais, hospitais rurais e gerais,
8 hospitais provinciais e 4 hospitais centrais e psiquiátricos. Além do sector privado, existem
os Agentes Polivalentes Elementares (APEs) ao nível da comunidade que cobrem
parcialmente as necessidades básicas nas áreas rurais sem unidades sanitárias,
adicionalmente, existem os praticantes de medicina tradicional (PMT) de grande aceitação
comunitária (MISAU, 2018).

Nehemias Lasse 28
4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Dados de entrada

Para a análise de incidência da malária em Moçambique foram utilizados os seguintes dados:


(i) Dados do Boletim Epidemiológico Semanal (BES) do Ministério da Saúde (MISAU)
correspondentes ao período entre 2012 e 2019 (8 anos); (ii) Dados climáticos,
especificamente da variável precipitação obtidos do Instituto Nacional de Meteorologia
(INAM) correspondentes ao mesmo período; (iii) Dados de previsão sazonal de Moçambique
dos tercies de Outubro-Novembro-Dezembro (OND) 2021 e Janeiro-Fevereiro-Março (JFM)
2022 fornecidos pela Direcção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (DNGRH) e por
fim (iv) Dados vectoriais (Polígono) de Moçambique.

4.2. Análise de Dados

Para a determinação da relação entre a precipitação e o índice de malária, seguiu-se os


seguintes procedimentos:

(i) Organizou-se os dados de cada província, tanto de malária quanto de precipitação


em tercies, ou seja, em cada ano, somou-se valores observados de JFM e por outro
lado de OND.
(ii) Tendo os somatórios dos tercies, em cada tercil, para cada província, fez-se a
regressão linear entre os casos de malária e precipitação observada, obtendo desta
forma um modelo característico, sendo dois modelos por província (OND e JFM),
totalizando 20 modelos de regressão, onde a variável dependente é a malária e a
independente é a precipitação (mm).

Após a obtenção dos modelos, extraiu-se a precipitação esperada para os períodos de OND
2021 e JFM 2022 mediante os seguintes procedimentos:

(iii) Através do Forecast Interpretation Tool – FitTool V.5, digitalizou-se a previsão


sazonal de SARCOF atribuindo as probabilidades esperadas de precipitação para
cada região;
(iv) De seguida, exportou-se o Raster digitalizado para o ArcGIS 10.8;

Nehemias Lasse 29
(v) Criou-se um shapefile de pontos e fez-se a digitalização de 10 pontos
correspondentes a cada Província e a devida extracção da precipitação existente
no Raster proveniente do FitTool;
(vi) A precipitação esperada, foi exportada para o Excel, e valor de OND e JFM foi
colocado no modelo de regressão da província e tercil correspondentes,
calculando desta forma os casos de malária esperados para cada província em
cada tercil.
(vii) Após o cálculo dos casos de malária para cada província no EXCEL, estes
resultados foram importados para o ArcGIS, onde foi criada uma coluna para a
inclusão de casos de malária de cada tercil (Malária OND2021 e Malária
JFM2022) no shapefile de pontos anteriormente criado.
(viii) Interpolou-se com base no IDW os casos de malária para cada tercil, e classificou-
se a incidência de malária em cada província baseando no limiar endêmico.

O limiar endémico foi determinado através do método de quartis que consistiu na construção
do canal endêmico da malária para o período 2012 – 2019. Neste caso, os dados do BES,
foram agregados por meses e construído um gráfico que permitiu estabelecer o padrão ou
tendência da malária ao longo do tempo e por fim definir o limiar de epidemia. Os dados
referentes a casos de malária foram convertidos em taxas, usando a população do País como
denominador de acordo com o ano em causa e expressas por 100.000 habitantes. Calculou-
se o 1º, 2º e o 3º quartil, tendo gerado as seguintes zonas: zona de sucesso (abaixo do quartil
1); zona de segurança (entre quartil 1 e 2); zona de perigo/alerta (entre quartil 2 e 3); e zona
epidêmica (acima do quartil 3).

O método C-Sum foi usado para controlo do método dos quartis. Para o cálculo do limiar
para um determinado mês, somou-se o mês anterior e o posterior ao mês em causa, e o
resultado foi dividido por 15. Por exemplo: para calcular o limiar de fevereiro, somou-se os
dados de janeiro, fevereiro e março e dividiu-se o resultado por 15. O resultado é um gráfico
com linha contínua (linha C-Sum) que determina o limiar da epidemia. Valores acima da
linha C-Sum são considerados epidêmicos.

Nehemias Lasse 30
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Relação existente entre a precipitação e os casos de malária em Moçambique

Da análise feita, observou-se para o período de 2012 – 2019 entre os meses de JFM uma
variação positiva para as províncias de Niassa, Tete, Manica, Gaza, Sofala e Inhambane e
para as demais (Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e Maputo), observou-se uma variação
negativa com o aumento da precipitação. Ademais, para os meses de OND, observou-se uma
variação positiva nas províncias de Niassa, Tete, Gaza, Cabo Delgado, Nampula, Inhambane,
Zambézia e Maputo e as demais (Manica e Sofala) apresentaram uma variação negativa dos
casos de malária com o aumento da precipitação (Tabela 5.1).

Tabela 5.1. Modelos de regressão entre casos de malária e precipitação entre o período 2012 – 2019.

JFM OND
Província
Equação R2 Equação R2
Niassa y = 79x + 104637 R² = 0.0398 y = 151x + 54454 0.1465
Tete y = 223x + 4311.5 R² = 0.3552 y = 46x + 32060 0.0384
Manica y = 166x + 55609 R² = 0.468 y = -2.1727x + 73029 0.0002
Gaza y = 112x + 71614 R² = 0.0889 y = 141x + 38878 0.2736
Cabo Delgado y = -163x + 261542 R² = 0.0752 y = 51x + 76571 0.0327
Nampula y = -200x + 455029 R² = 0.0482 y = 127x + 218739 0.0104
Sofala y = 166x + 45546 R² = 0.4142 y = -183x + 149634 0.1357
Inhambane y = 147x + 97885 R² = 0.3822 y = 118x + 71302 0.4139
Zambezia y = -211x + 450262 R² = 0.0892 y = 666x + 25311 0.1825
Maputo y = -233x + 111764 R² = 0.1813 y = 51x + 12122 0.2051
Fonte: O Autor.

No período de JFM as províncias de Manica, Sofala, Tete e Inhambane apresentaram uma


regressão linear que varia entre 35 a 47% entre a precipitação e os casos de malária
observados. A província de Manica apresentou a maior regressão linear (46%) seguida por
Sofala, Inhambane e Tete, com cerca de 41, 38 e 35%, respectivamente.

Este resultado, pode ser explicado pelas condições de saneamento deficitárias observadas
nestas regiões assim como a deficiência dos sistemas de saúde nestas regiões para fazer face
à ocorrência da malária (INS et al., 2019; Sequeira, 2017).

Nehemias Lasse 31
5.2. Precipitação esperada no período OND 2021 e JFM 2022

Para Moçambique, no período de OND2021, era prevista uma precipitação entre 101 a 600
mm, sendo o maior intervalo, observado entre 401 e 600 mm na província da Zambézia. A
probabilidade de ocorrência desta precipitação, era acima de 80% nas Províncias de Maputo,
Gaza e Cabo Delgado (Figura 5.1).

Figura 5.1. Precipitação prevista para o período de OND.

Fonte: O Autor.

Entretanto, no período entre JFM 2022, esperava-se a ocorrência de uma precipitação entre
101 e 1000 mm, sendo a província da Zambézia com a maior precipitação esperada seguida
pelas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa. A probabilidade da ocorrência deste
evento, era acima de 90% nas regiões Norte e Centro do país com excepção de Tete (Figura
5.2).

Figura 5.2. Previsão da ocorrência da precipitação no período de JFM de 2022.


Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 32
5.3. Casos de Malária esperados em Moçambique

Resultados deste estudo mostram que no período entre Outubro-Novembro-Dezembro


(OND) de 2021, através do modelo de regressão de cada província, observou-se maior casos
de malária relacionada com a precipitação na província da Zambézia, seguida pela província
de Nampula, classificadas como províncias com incidência moderadamente alta e alta,
respectivamente. As províncias com incidência de malária baixa são as de Maputo, Manica,
Sofala e uma parte de Tete (Figura 5.3).

Figura 5.3. Incidência da malaria no período de OND 2021 em Moçambique.


Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 33
Para o período de Janeiro-Fevereiro-Março (JFM) de 2022, observou-se maiores casos de
malária nas províncias da Zambézia, Nampula, um pouco de Cabo Delgado e Niassa, com
incidência classificada como alta, para as primeiras duas províncias e moderadamente alta
para as duas províncias. A província com baixa incidência da malária destaca-se Tete,
Maputo e Gaza (Figura 5.4).

Figura 5.4. Incidência da malaria no período de OND 2021 em Moçambique.


Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 34
Estes resultados, são similares aos obtidos pelo INS et al. (2019) assim como pelo PNCM,
(2017) e Arroz (2016), onde as províncias de Zambézia , Cabo Delgado e Nampula
apresentaram maiores casos de Malária, principalmente no período compreendido entre
Outubro e Abril, tendo associado o resultado ao período chuvoso assim como às condições
socioeconómicas das regiões, onde maior parte da população não possui condições para fazer
face à ocorrência de doenças (Sequeira, 2017). À semelhança dos estudos referidos,
resultados deste estudo, podem ser explicados pela precipitação observada nas regiões
supracitadas, assim como à relação positiva obtida nessas províncias com a precipitação,
sendo que a precipitação, de acordo com Caminade et al. (2014); Mohammadkhani et al.
(2019); Webber (2005) a precipitação desempenha um papel muito importante na reprodução
dos mosquitos devido a existência de charcos e águas paradas em resíduos.

A baixa ocorrência da malária nas províncias de Gaza e Tete, podem estar associados à altas
temperaturas destas regiões, facto que faz com que o mosquito não se desenvolva pois
temperaturas acima de 33ºC não possibilita a reprodução do mosquito (Ankamah et al., 2018;
Blanford et al., 2013; Confalonieri, 2008).

Quantitativamente, as províncias da Zambézia e Nampula, tanto no período de OND 2021,


quanto no período de JFM 2022, apresentaram maior número de casos de malária. O menor
número de casos foi observado na Província de Maputo, Gaza, Sofala Tete (Figura 5.5).

490

420

350
Mmalária (x 1000)

280

210
JFM 2022
140
OND 2021
70

0
Zambezia
Tete

Gaza

Sofala
Niassa

Cabo Delgado
Manica

Nampula

Inhambane

Maputo

Figura 5.5. Casos de malaria observados nos períodos OND 2021 e JFM 2022 em Moçambique.
Fonte: O Autor.

Nehemias Lasse 35
Na Província de Maputo, o baixo número de casos de malária, pode estar associado à
capacidade de resposta das populações à doença assim como ao acesso a diversos serviços
da saúde (INS et al., 2019).

Nehemias Lasse 36
6. CONCLUSÕES

 Para o período de 2012 – 2019 entre os meses de JFM uma variação positiva para as
províncias de Niassa, Tete, Manica, Gaza, Sofala e Inhambane e para as demais (Cabo
Delgado, Nampula, Zambézia e Maputo), observou-se uma variação negativa com o
aumento da precipitação. Para os meses de OND, observou-se uma variação positiva
nas províncias de Niassa, Tete, Gaza, Cabo Delgado, Nampula, Inhambane,
Zambézia e Maputo e as demais (Manica e Sofala) apresentaram uma variação
negativa dos casos de malária com o aumento da precipitação;
 Quanto à incidência da malária, no período entre Outubro-Novembro-Dezembro
(OND) de 2021, através do modelo de regressão de cada província, observou-se maior
casos de malária relacionada com a precipitação na província da Zambézia, seguida
pela província de Nampula, classificadas como províncias com incidência
moderadamente alta e alta, respectivamente. As províncias com incidência de malária
baixa são as de Maputo, Manica, Sofala e uma parte de Tete;
 Para o período de Janeiro-Fevereiro-Março (JFM) de 2022, observou-se maiores
casos de malária nas províncias da Zambézia, Nampula, um pouco de Cabo Delgado
e Niassa, com incidência classificada como alta, para as primeiras duas províncias e
moderadamente alta para as duas províncias. A província com baixa incidência da
malária destaca-se Tete, Maputo e Gaza.

Nehemias Lasse 37
7. RECOMENDAÇÕES

 Considerando a precipitação como o factor principal de incidência da malária em


Moçambique, é preciso fortalecer medidas de saneamento e higiene nas regiões com
ocorrência de precipitação, principalmente durante a época chuvosa através de
campanhas de sensibilização comunitária;
 Reforçar as campanhas de pulverização e distribuição de redes mosquiteiras nas
comunidades em todo país.

Nehemias Lasse 38
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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