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Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

INTRODUÇÃO
1.1. O que são plumas e porque estudá-las?
Plataformas continentais recebem águas e materiais transportados em suspensão
pela descarga fluvial que provem do continente. A estrutura dinâmica formada pelo
processo de descarga de águas de origem continental junto à zona costeira é uma massa
de água de densidade normalmente contrastante a densidade das águas oceânicas, e com
altas concentrações de materiais em suspensão, chamadas de plumas costeiras. O
encontro das massas de águas continentais de baixa salinidade com as águas oceânicas
criam regiões chamadas de zonas de frente, as quais têm como característica marcante a
formação de linhas de espuma ou detritos, além de fortes gradientes de cor entre as
diferentes massas de água.
Um estudo pioneiro a respeito dos processos físicos que controlam a dinâmica
das plumas foi realizado por Garvine e Monk (1974) para a pluma do rio Connecticut,
em Long Island. Estes autores observaram movimentos convergentes e o afundamento
de massas de água ao longo da zona de frente formada entre a pluma e as águas
oceânicas. A Baía Chesapeake, na costa leste americana, por exemplo, é local de
despejo de águas de diversos rios, condição que proporciona a formação de zonas de
frente (Pritchard, 1952).
Mann e Lazier (1991) comentaram sobre diversos estudos que mostram a
importância das frentes formadas pelas plumas na intensificação das atividades
biológicas e recrutamento de peixes. Levasseur et al. (1984) observaram que a formação
de uma camada superficial bem misturada pela descarga fluvial e o aquecimento
superficial controlaram a abundância e produtividade das diatomáceas no estuário St.
Lawrence, no Canadá.
Águas costeiras em regiões influenciadas por águas continentais apresentam
altas concentrações de pigmentos fitoplantônicos (Kishino et al., 2005) e material
orgânico colorido dissolvido (Johnson et al. 2003; Kishino et al., 2005) fornecido da
ressuspensão do fundo ou descarga de rios. Tyler e Seliger (1978; 1981) encontraram
altas concentrações de espécies de fitoplâncton em regiões das frentes. Brandt et al.
(1986) documentaram o movimento de dinoflagelados da boca da Baía Chesapeake até
250 km em direção ao continente, sendo levadas junto às camadas de fundo, pelo padrão
de circulação estuarina induzida pela descarga fluvial.
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Pearcy e Keene (1974) estudaram as águas na costa do Oregon através de


sensoriamento remoto e observaram um aumento na biomassa de fitoplâncton na frente
formada pela pluma do rio Columbia e Owen (1968) verificaram que a captura de atum
é maior nas proximidades da frente formada pela pluma. Na costa oeste Japonesa, a
desova e desenvolvimento das sardinhas foram altamente correlacionados à posição das
frentes formadas pelas plumas (Tsujita, 1957).
Mais recentemente, Miller e MacKee (2004) verificaram a influência do material
em suspensão para os processos bentônicos e produtividade do fitoplâncton no norte do
Golfo do México. Warrick et al. (2007) verificaram que as plumas formadas na Baía do
Sul da Califórnia após tempestades são importantes vetores de contaminantes e
substâncias patogênicas para a região costeira, devido à alta correlação entre a matéria
orgânica dissolvida e a salinidade da água. Filippino et al. (2009) verificaram que a
pluma formada pela descarga da baía de Chesapeake influencia a produtividade da
região com um atraso de tempo associado a eventos meteorológicos, períodos em que os
processos de reciclagem associados à ressurgência ou subsidência ocorrem. Nas águas
da pluma do rio Changjiang, plataforma leste da China, a atividade do fitoplâncton não
consegue exaurir os nutrientes, durante o verão, apesar a alta produtividade, devido à
alta turbidez das águas, que dificulta a penetração da luz nas camadas inferiores da
pluma (Isobe e Matsuno, 2008).
As águas costeiras podem sofrer também com problemas de eutrofização
associados à introdução de águas de origem continental. Lacroix et al. (2007)
verificaram que a região sul do Mar do Norte, especialmente as águas da Bélgica,
experimenta problemas deste tipo associados à introdução de nitrogênio e fósforo
através da descarga fluvial dos rios Scheldt, Rhine e Seine.
A descarga fluvial é também responsável por carregar sedimentos finos para as
regiões costeiras. De acordo com as condições dinâmicas e dos padrões de dispersão e
de assentamento destes sedimentos, características morfológicas podem ser criadas ao
longo das zonas costeiras e serem modificadas em um amplo espectro de variabilidade
espacial e temporal. As regiões influenciadas pela descarga fluvial são supridas por um
contínuo transporte de sedimentos finos, os quais são distribuídos ao longo da zona
costeira por uma variedade de processos (Wright e Nittouer, 1995; Wright e Friedrichs,
2006; Blaas et al., 2007; Wang et al., 2007a; 2007b). Geyer et al. (2004) e Wright e
Friedrichs (2006) concluíram que a anomalia de densidade entre as águas de origem
continental e oceânica induzem importantes conseqüências na distribuição, transporte e

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destino final dos sedimentos de origem continental. De acordo com Wright e Nittrouer
(1995) o destino dos sedimentos que chegam à zona costeira adjacente passa por pelo
menos quatro estágios: suprimento através das plumas, deposição inicial, re-suspensão e
transporte por processos marinhos, e acumulação líquida de longo termo. De uma forma
geral, a introdução de água doce nos ecossistemas costeiros acarreta alterações na
dinâmica pela intensificação dos efeitos baroclínicos, e contribui para o aporte de
materiais dissolvidos, em suspensão ou particulados.
A plataforma continental do sul do Brasil, limitada pelas latitudes de 28° e 35°S,
é uma região marcada pela presença de longas faixas de águas de baixa salinidade em
regiões próximas à costa. Este padrão é o resultado da interação entre o aporte de água
doce dos estuários do Rio da Prata, Lagoa dos Patos e das correntes costeiras originadas
no extremo sul do continente Sul-Americano. A interação da água doce com os
processos costeiros e o aporte de materiais podem contribuir para a manutenção de
ambientes dinamicamente favoráveis a reprodução e desenvolvimento de espécies,
sustentando padrões de transporte ou deposição de materiais.
A descarga do rio da Prata, Lagoa dos Patos e a influência de processos de
ressurgência de quebra de plataforma sustentam a alta biomassa de fitoplâncton
encontrada na plataforma continental do sul do Brasil (Ciotti et al., 1995), onde são
encontradas taxas anuais de produção primária em torno de 160 g Cm-2ano-1
(Odebredcht e Garcia, 1996). Estas condições contribuem para que a plataforma
continental do sul do Brasil seja considerada uma das mais importantes zonas
pesqueiras da costa brasileira (Castello et al., 1990). A interação da descarga da Lagoa
dos Patos e os processos remotos na zona costeira contribuem para a manutenção dos
padrões de variabilidade dos nutrientes, material em suspensão e deposição de
sedimentos na porção costeira adjacente. Hartmann et al. (1980) verificaram a
importância da descarga da Lagoa dos Patos no enriquecimento da plataforma em sais
nutrientes, encontrando um decréscimo nas concentrações de materiais em suspensão
em direção ao oceano.
Períodos de moderada a alta descarga fluvial na Lagoa dos Patos promovem uma
maior exportação de águas de origem continental, a manutenção de condições de alta
estratificação salina ou circulação típicas de vazante de rio na região da desembocadura
da laguna (Marques et al. 2009, Marques et al. (submetido)). Os padrões de circulação
típicos de vazante de rio contribuem para homogeneidade do material em suspensão ao
longo da coluna de água (Hartmann et al., 1986) na região estuarina. Nestes períodos,

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maiores volumes de água e materiais em suspensão e dissolvidos são exportados para a


zona costeira (Hartmann e Silva, 1988; Abreu et al., 1995).
A descarga da Lagoa dos Patos representa uma importante contribuição local
para o balanço de nutrientes e sedimentos em suspensão da Plataforma Continental
Interna do Sul do Brasil. Existem evidências de problemas com a deposição de
sedimentos coesivos ao longo da Praia do Cassino, ao sul da desembocadura da Lagoa
dos Patos desde 1973 (Martins e Urien, 1979). Calliari e Fachin (1993) observaram
fundos argilo-sílticos e síltico-argilosos ocorrendo ao sul da desembocadura lagunar, e
Torronteguy (2000) verificou que a espessura da camada de lama fluida aumenta para o
sul e em direção à costa.
Os efeitos dissipativos de fundos cobertos por lama fluida foram estudados por
Oliveira (2000) ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos (ao longo da Praia do
Cassino) e por Cuchiara et al. (2009). Dados recentes obtidos entre 2004 e 2005 (Sperle
et al. 2005; Calliari et al. 2007) fornecem um detalhado mapeamento da lama fluida
entre as isóbatas de 5 e 12 m. Calliari et al. (2009) mostraram uma compilação de dados
sobre a cobertura sedimentar da plataforma continental do Rio Grande do Sul
determinando o padrão de distribuição dos depósitos lamíticos na região da costa
adjacente a desembocadura da Lagoa dos Patos. Martins et al. (2003) afirmaram que
essa é uma lama de contribuição atual, resultante da drenagem fluvial da laguna.
Entretanto, a importância da descarga da Lagoa dos Patos para a região costeira
adjacente não se restringe somente ao aumento da estratificação das águas oceânicas e à
exportação de materiais dissolvidos e particulados. Estudos anteriores de Soares (2003)
e Vaz (2005) indicaram que a descarga da Lagoa atua como uma barreira dinâmica a
propagação das águas costeiras, formando uma zona de convergência que poderia
contribuir para o recrutamento de larvas na região. Busoli (2001) associou o aporte de
água doce na zona costeira à formação de uma região propícia à retenção do
ictioplâncton.
Soares (2003) observou a formação de uma zona de correntes residuais fracas
entre o Rio da Prata e a desembocadura da Lagoa dos Patos, que poderia favorecer a
acumulação de partículas passivas. Por outro lado, pode-se especular que esta zona de
convergência também seja responsável pelo padrão gradativo de deposição de
sedimentos finos na região ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos. Vaz (2005)
verificou a formação de células de recirculação induzidas pela circulação baroclínica da

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Lagoa dos Patos e Rio da Prata sugerindo um mecanismo de retenção de organismos em


regiões próximas à costa.
Esta breve compilação de estudos anteriores apresenta a relação entre a descarga
fluvial e a dinâmica do ecossistema costeiro, que podem ter como mediador a pluma
costeira, ressaltando sua importância para diversas regiões do planeta. Desta forma,
investigações que esclareçam a formação, desenvolvimento e os processos que
controlam o destino das plumas são fundamentais para o bom entendimento do
funcionamento destes ecossistemas.

1.2. A dinâmica das plumas costeiras

Ao estudo das plumas pode ser associada uma alta complexidade em função dos
inúmeros tipos de fontes de água doce, e a existência de rios ou estuários de diferentes
tamanhos e localizações ao redor do planeta, onde os mecanismos físicos que controlam
a dinâmica do sistema atuam de maneira específica. Aliado a este fato, temos que as
fontes de água doce naturais estão localizadas em oceanos costeiros, onde todos os
fatores complicadores da dinâmica têm que ser considerados. Tendo em vista estas
características, é inerente que a formação, comportamento e destino destas plumas
sejam controlados por inúmeros processos lineares e não-lineares.
De acordo com Bates (1953), as plumas geradas por descarga de rios podem ser
classificadas de acordo com o contraste de densidade com as águas oceânicas em três
categorias básicas: plumas hipo-picnais, homo-picnais e hiper-picnais. As plumas hipo-
picnais são as mais comuns, e nelas a água de origem continental é menos densa que a
água oceânica, e uma flutuabilidade positiva causam o seu espalhamento horizontal.
Nas plumas homo-picnais, não há contraste entre as densidades, formando massas de
água bem misturadas e com flutuabilidade nula. Nas plumas hiper-picnais, a massa de
água de origem continental tem densidade maior que as águas oceânicas, de forma que a
flutuabilidade negativa causa um espalhamento horizontal de plumas junto às camadas
de fundo.
Chao (1988a) subdividiu as plumas em supercríticas, supercríticas-difusivas,
subcríticas e subcríticas-difusivas pela relação entre o número de Froude (Fr), dado pela
razão entre a velocidade de fluxo e a velocidade de fase das ondas internas, e um
parâmetro dissipativo adimensional, que relaciona as velocidades de propagação de

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ondas internas no campo distante e campo próximo da pluma. Este autor observou que
plumas supercríticas (Fr > 1) apresentam uma larga protuberância próxima à boca do
estuário e um estreito jato costeiro na região da cabeça da pluma. Inversamente, nas
plumas subcríticas (Fr < 1) a largura da protuberância e do jato costeiro é comparável.
As plumas difusivas apresentam características similares às anteriores, porém, são mais
largas devido ao maior efeito da mistura.
Garvine (1995), baseado em análises de escala, utilizou o número de Kelvin (K),
obtido pela razão entre a largura da pluma transversalmente à costa e o raio baroclínico
de Rossby, para estabelecer outro esquema de classificação. Seus resultados mostraram
que plumas com K << 1 apresentam fortes termos de advecção e pouco efeito de
rotação, enquanto que plumas com K >> 1 apresentam fraca advecção e muita
influência da rotação. Plumas não rotacionais têm frentes bem marcadas, onde os
processos de transporte de massa dominam, mas não formam correntes costeiras. Por
outro lado, plumas rotacionais mostram frentes tênues e largas protuberâncias, onde à
força de Coriolis deflete o fluxo formando subseqüentemente uma corrente costeira
(Garvine, 1987).

Figura 1.1 Esquema de formação e desenvolvimento de uma pluma típica para o hemisfério sul
(modificado de Pritchard, 2000). Ri indica um raio de Rossby interno e λ um comprimento de
onda.

O processo de formação de uma pluma típica (Figura 1.1) pode ser dividido em
uma fase supercrítica não-linear durante a formação da protuberância (Fr >1) e uma fase
subcrítica linear (Fr < 1) na região próxima a corrente costeira (Pritchard, 2000), que se
forma a uma distância de aproximadamente dois raios internos de Rossby (2Ri) da boca

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do estuário. Este comportamento sugere a presença de anomalias internas na estrutura


da frente (McClimans, 1988), já previstas por simulações numéricas do espalhamento
de plumas não-lineares (Garvine, 1984; O’Donnell, 1990).

A dependência de fatores como intensidade da descarga fluvial, efeitos


rotacionais e termos não-lineares insere um alto grau de variabilidade a estas massas de
água, que podem assumir uma variedade de formas sobre a plataforma continental. A
intensidade da descarga fluvial pode controlar o tamanho da pluma de água doce
formada (Dinnel et al., 1990), determinando, por conseqüência, a contribuição dos
efeitos de rotação da Terra para sua expansão. O efeito da rotação é transformar uma
pluma em uma corrente costeira, fazendo a transição de uma fase não-linear para outra
linear (Pritchard, 2000). Uma vez sobre a plataforma continental, as plumas respondem
externamente à ação do vento, das marés e a interação com as correntes costeiras e de
contorno.
O fluxo de água doce sobre uma porção costeira pode produzir uma resposta na
forma de um campo de pressão trapeado na costa (Csanady, 1978), que se desloca na
mesma direção de propagação de fase das ondas de Kelvin (Brink, 1991; Wong e
Münchow, 1995; Kourafalou et al., 1996a, Soares et al. 2007a, Marques et al. 2009). No
hemisfério sul, as águas continentais descarregadas na plataforma continental começam
a ser defletidas pelo efeito de rotação da Terra, podendo deixar a costa a sua esquerda.
Porém, a orientação tomada pela pluma de água doce pode ser controlada pela ação
local dos ventos dominantes (Kourafalou et al. 1996b; Hickey et al., 1998; Fong e
Geyer, 2001; Cugier e Le Hir, 2002; Hordoir et al. 2006; Warrick et al. 2007; Xia et al.
2007; Lihan et al. 2008; Marques et al. 2009, entre outros) ou variabilidade temporal
das correntes costeiras (Zhang et al., 1987; Fong e Geyer, 2002; Morey et al. 2003).
As plumas são muito sensíveis às perturbações causadas na camada de Ekman
superficial pela alteração na direção preferencial do vento (Chao, 1988b; Kourafalou et
al., 1996a; 1996b, Ghisolfi, 2001; Ghisolfi e McKee, 2003; Xia et al. 2007; Soares et al.
2007a; 2007b, Marques et al. 2009, entre outros). A ação de ventos favoráveis a
ressurgência contribui para a expansão da pluma em direção ao oceano, aumentando a
estratificação da coluna d’água. Por outro lado, ventos não favoráveis a ressurgência
enfraquecem as correntes superficiais promovendo mistura e espalhando a pluma sobre
a plataforma, formando subseqüentemente uma corrente costeira (Chao, 1988b;
Kourafalou, 1996b; Ghisolfi e McKee, 2003; Xia et al. 2007; Soares et al. 2007a;

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2007b, Marques et al. 2009, entre outros). Ventos favoráveis a ressurgência podem
também intensificar os efeitos da mistura vertical, pois, a expansão em direção ao
oceano torna as plumas mais finas, promovendo o cisalhamento vertical da velocidade,
a mistura e o entranhamento das águas superficiais na região próxima a zona de frente
(Chao, 1988b; Soares et al. 2007b).
A ação das marés tem efeitos moduladores sobre as plumas costeiras,
contribuindo para uma maior efetividade dos processos de mistura e reduzindo a
estratificação induzida pelo vento. Sua contribuição para formação, movimento e
mistura das plumas é significativa, mas não é o fator dominante (Pritchard, 2000). Chao
(1990) mostrou que as marés exercem um importante papel no espalhamento das
plumas em direção ao oceano. Os processos de mistura forçados pelas correntes de maré
podem continuar mesmo após a mudança na direção das mesmas (O’Donnel, 1990).
Pois, durante a fase de vazante uma pluma pode ser formada, e subseqüentemente
separada da costa na forma de pulsos de água doce durante a fase de enchente (Hickey,
2000).
As correntes de contorno podem atuar como barreiras dinâmicas a propagação
das águas de origem continental, inibindo a advecção de propriedades sobre a
plataforma continental (Blanton, 1981). A presença de uma corrente costeira na mesma
direção de propagação da pluma de água doce ou a sua interação com as correntes de
contorno pode aumentar o transporte ao longo da plataforma continental e distorcer a
estrutura da pluma (Fong e Geyer, 2002; Soares et al. 2007b).
Garvine (1999) observou que a penetração das propriedades da pluma em
direção ao oceano é também significativamente dependente da viscosidade da água.
Kourafalou et al. (1996a) constatou através de experimentos de modelagem numérica
que o aumento da viscosidade turbulenta reduz a expansão lateral da pluma e o
meandramento de sua corrente costeira. Instabilidades barotrópicas e baroclínicas
podem controlar os processos de entranhamento vertical ou lateral nas fronteiras das
plumas (Hickey, 2000), as quais são regiões marcadas pela convergência de massas de
água e movimentos subsidentes (Garvine e Monk, 1974; O’Donnel e Garvine, 1983).

1.3. A evolução no estudo das plumas costeiras

O estudo das plumas vem sendo realizado ao longo do tempo através da


obtenção e análise de medidas diretas, pelo rastreamento superficial das imagens de
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satélite, e pelo desenvolvimento de modelos analíticos e numéricos. Em função da


evolução da capacidade computacional, da complexidade dos processos envolvidos no
estudo de plumas costeiras, e do alto custo da obtenção de medidas diretas, nos últimos
anos o estudo das plumas costeiras se desenvolve principalmente através de técnicas de
modelagem numérica.
Garvine e Monk (1974) fizeram as primeiras observações detalhadas de uma
pluma de pequena escala no começo dos anos 70. Estes estudos abriram caminho para o
desenvolvimento de modelos numéricos que representassem os processos físicos nas
frentes das plumas e ao longo de seu corpo (Garvine, 1974a). Os conceitos introduzidos
por Garvine (1974a, 1981) relacionados à circulação na zona de frente e corpo da pluma
foram adotados e melhorados para explorar vários aspectos da hidrodinâmica das
plumas nas zonas costeiras.
Beardsley e Hart (1978) utilizaram um modelo teórico linear, de duas camadas
para descrever o fluxo de um estuário para a plataforma continental em condições
estacionárias, considerando efeitos de Coriolis, aceleração local, fricção e topografia de
fundo. Eles encontraram para o hemisfério norte que o fluxo na camada superior se
concentra no lado esquerdo da costa, e o da camada inferior à direita. Seus resultados
contrariam os obtidos pela maioria das observações ou pelo modelo de uma camada,
talvez pela não consideração dos efeitos não-lineares.
A utilização de imagens aéreas foi introduzida com sucesso no mapeamento das
plumas costeiras e investigação dos processos de transporte e dispersão de propriedades
no final da década de 70. Simpson e Bowers (1979) utilizando imagens da costa Inglesa
verificaram que o movimento das frentes formadas pelas plumas mostra um ajuste
mínimo relativo a um ciclo semi-mensal de mistura forçado pela maré. Na mesma
região, Prandle (1987) e Prandle e Matthews (1990) observaram a dominância da
componente semi-diurna nas correntes de maré e a resposta, em baixa freqüência, das
correntes superficiais à ação do vento, às contribuições costeiras e às alterações no
campo de densidade.
As alterações causadas pela maré no campo de salinidade ao longo da costa da
Geórgia foram estudadas por Kendall e Blanton (1981) através de medidas
radiométricas. Os autores identificaram o rio Savannah como maior tributário da região
e observaram a ocorrência de várias frentes de salinidade paralelamente à costa se
movendo de acordo com o ciclo de enchente e vazante da maré.

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Csanady (1984a) utilizou um modelo de características para estudar a influência


do vento em um sistema jato-frente formado pela descarga de rios. Seus resultados
mostraram que o gradiente de pressão ao longo das isóbatas é o maior responsável por
reduzir o transporte de volume transversalmente à frente para uma fração do transporte
de Ekman. Posteriormente, Csanady (1984b) resolveu o campo de pressão sobre uma
plataforma continental sujeita a descarga fluvial utilizando campos de altura dinâmica e
campos criados pela interação da baroclinicidade e topografia. O autor observou a
intensidade da circulação residual variando diretamente com a descarga fluvial e
inclinação do fundo e inversamente com velocidade de fluxo ao longo da costa e
parâmetro de Coriolis.
Zhang et al. (1987) desenvolveram um modelo analítico para descrever um fluxo
estacionário com estratificação de densidade em duas camadas na região entre o estuário
e a plataforma, relacionando em primeira ordem o campo de pressão com o
deslocamento da interface e topografia de fundo. Seus resultados mostraram que o
comportamento da pluma estuarina depende da estrutura vertical do fluxo na boca do
rio, da inclinação do fundo e do fluxo da corrente costeira.
Na Baía Mobile, EUA, Dinnel et al. (1990) estudaram a morfologia das plumas
formadas e determinaram volumes de material em suspensão transportados para a zona
costeira através de imagens de satélite (Landsat). Stumpf et al. (1993) combinaram
observações diretas com imagens radiométricas para estudar as influências do vento e
maré nas plumas da Baía Mobile. Os autores verificaram a rápida resposta da pluma a
ação dos ventos ao longo da costa e atribuíram às altas velocidades encontradas a forte
estratificação que limita a transferência de momento ao longo da coluna d’água.
As zonas de frente formadas pelas plumas podem ainda ser observadas em
imagens de radar através da modulação estabelecida nas zonas de convergência e
cisalhamento das massas de água (Vogelzang et al. 1997). Recentemente, Miller e
MacKee (2004), através da utilização de imagens de sensoriamento remoto orbital,
verificaram a influência do material em suspensão sobre os processos bentônicos e a
produtividade do fitoplâncton no norte do Golfo do México. Warrick et al. (2007)
combinaram a utilização do sensoriamento remoto orbital, observações de bóias
meteorológicas, flutuadores e radares para investigar o comportamento dinâmico e
dispersão de sedimentos das plumas forçadas por tempestades na Baía Sul da Califórnia.
Lihan et al. (2008) correlacionaram a área da pluma do Rio Tokachi com a
intensidade de sua descarga fluvial, observando que seu padrão de distribuição é

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influenciado pela direção e intensidade dos ventos, ocorrência de vórtices junto as costa
e correntes superficiais. Piola et al. (2008) combinaram imagens de cor do oceano com
observações de salinidade para investigar a variabilidade espaço-temporal da pluma do
Rio da Prata e acessar seu espalhamento sobre a plataforma continental. Estes autores
verificaram que o algoritmo utilizado pelo sensor remoto para o cálculo da clorofila-a
pode ser usado como traçador da salinidade.
Entretanto, as técnicas de estudo apresentadas acima apresentam algumas
limitações. Observações diretas instantâneas ao longo de todo o corpo das plumas são
difíceis de serem realizadas devido à sua extensão. Embora este problema possa ser
resolvido pela utilização de imagens aéreas, estas têm como desvantagem a falta de
informações ao longo da coluna de água. Além disso, como o entendimento dos
processos que controlam as plumas costeiras requer muitas vezes a consideração de
efeitos complexos e não-lineares, se torna difícil (quase impossível) o seu estudo por
modelos analíticos. Neste sentido, a utilização de modelos numéricos se tornou uma
ferramenta difundida e quase indispensável ao estudo das plumas costeiras.
Inicialmente, uma série de experimentos numéricos foi conduzida utilizando um
modelo que trata frentes como descontinuidades para estudar a descarga do rio
Connecticut, USA (Garvine 1981, 1982, 1987; O’Donnell e Garvine, 1983; O’Donnell,
1990). Estes modelos fazem cálculos em dois domínios distintos, um frontal onde as
trocas turbulentas ocorrem, e um domínio invíscido para o restante do corpo da pluma
costeira. Além disso, estes modelos consideram uma corrente costeira uniforme e
condições supercríticas, onde a velocidade de fluxo no canal é maior que a velocidade
de fase das ondas internas.
Posteriormente, o desenvolvimento de modelos não-lineares de circulação
oceânica se tornou uma importante ferramenta na evolução do estudo das plumas
costeiras, sendo utilizado por diversos autores (Royer e Emery, 1985; Chao e Boicourt,
1986; Chao, 1988a, 1988b; Chapman e Lentz, 1994; Kourafalou et al. 1996a; Garvine,
1999; Fong e Geyer, 2001, entre outros). Estes modelos são forçados pela descarga de
água doce em uma região costeira sendo considerados diferentes forçantes e efeitos
dissipativos nos diferentes trabalhos, porém, seus resultados mostraram como
característica comum à formação de uma região de giro próximo a boca dos estuários,
subseqüentemente defletida anti-ciclonicamente para formar um jato costeiro na direção
de propagação das ondas de Kelvin.

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Chao e Boicourt (1986) utilizaram um modelo de equações primitivas tri-


dimensional de tampa rígida e fundo plano para estudar os efeitos da descarga fluvial
em um oceano inerte. Seus resultados mostraram que a zona de transição entre a zona de
giro e o jato costeiro foi caracterizada por um fluxo ciclônico e movimentos
subsidentes. A zona de transição é menos intensa com o aumento do coeficiente de
mistura vertical e a penetração da pluma é inibida pelo aumento do cisalhamento de
fundo.
Chao (1988a), Kourafalou et al. (1996a) e Garvine (1999) aplicaram modelos
numéricos tridimensionais para verificar e influência da inclinação do fundo no
desenvolvimento, manutenção e dissipação das plumas. Nestes trabalhos foi verificado
que a inclinação de fundo dentro do estuário intensifica a circulação vertical e favorece
a ressurgência, e a inclinação do fundo na costa aumenta a divergência superficial,
imprimindo vorticidade anti-ciclônica à região de giro e reduzindo a penetração na
costa. Garvine (1999) observou ainda que a penetração da pluma ao longo da costa é
fortemente dependente do parâmetro de mistura vertical escolhido.
Chapman e Lentz (1994) incluíram a advecção de densidade e desprezaram os
termos de advecção não-linear de momento em suas simulações numéricas. Seus
resultados reproduziram uma pluma advectada pelo fundo e com zonas de giro pouco
definidas, sugerindo que sua expansão fosse controlada pela camada de Ekman de
fundo, e que a formação da zona de giro fosse principalmente controlada pela advecção
de quantidade de movimento.
A influência dos ventos foi considerada nas aplicações de modelos numéricos de
Royer e Emery (1985), Chao (1986b), Kourafalou et al. (1996b), Pimenta (2001),
Ghisolfi (2001), Fong e Geyer (2002), Soares (2003), Soares et al. (2007a, 2007b),
Marques et al. (2009), Marques et al. (submetido), entre outros. Royer e Emery (1985)
incluíram informações de vento em um modelo de duas camadas com diferenciação
semi-implícita, previamente desenvolvida para estudar a influência da maré na pluma do
Rio Fraser. Os autores encontraram boa concordância com as observações após
expressarem a velocidade de entranhamento como função da estratificação e reduzirem
a transferência de momento do vento para a pluma.
Chao (1988b) observou que ventos favoráveis à subsidência contribuíam para a
ocorrência de um jato costeiro, alongando a pluma ao longo da costa, e ventos
transversais à costa retardavam o transporte de Ekman pela formação de desníveis entre
a costa e a boca do estuário. Este autor verificou ainda que ventos direcionados para o

12
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

oceano reforcem a circulação estuarina, aprofundando a camada superficial, induzindo


cisalhamento vertical e promovendo a mistura.
Kourafalou et al. (1996a) verificaram que a alta descarga fluvial e ventos
favoráveis a ressurgência condicionam a exportação de águas continentais para longe da
costa. Kourafalou et al. (1996b) consideraram condições realísticas para investigar a
circulação da Baía do Atlântico Norte durante a primavera. Os autores determinaram
que a forte estratificação nas águas costeiras devido à alta descarga fluvial causou o
desacoplamento entre as camadas próximas a superfície e próximas ao fundo.
Verificaram também que a permanência de ventos favoráveis a ressurgência causou
transporte para longe da costa na camada de Ekman superficial.
Fong e Geyer (2002) investigaram o transporte ao longo da costa para uma
pluma trapeada na superfície utilizando um modelo numérico tri-dimensional de
equações primitivas em uma bacia retangular e com fundo plano. Os autores verificaram
que a ação de uma forçante externa como o vento ou uma corrente costeira seja
necessária para que o volume de água descarregado pelo rio seja inteiramente
transportado pela corrente costeira, caso contrário, ocorre à formação de uma zona de
giro que cresce continuamente devido à re-circulação da água.
Pimenta (2001), Ghisolfi (2001), Soares (2003), Soares et al. (2007a, 2007b)
conduziram estudos na plataforma do Sul do Brasil onde puderam verificar a
contribuição da circulação dirigida pelo vento no desenvolvimento e manutenção da
pluma do Rio da Prata utilizando o modelo numérico da Universidade de Princeton
(POM). Os resultados de Pimenta (2001) mostraram que a intrusão das águas do Rio da
Prata sobre a plataforma continental é dependente da alta descarga fluvial, da não
ocorrência de persistentes ventos de nordeste e da ação contínua de ventos de sudoeste,
os quais reduzem a expansão da pluma transversalmente a costa.
Ghisolfi (2001) observou que os efeitos do vento em simulações bidimensionais
dependem da estratificação vertical de densidade que controlam o desenvolvimento das
camadas limite de fundo e de superfície. Suas simulações tridimensionais mostram que
a alternância do padrão de ventos pode propagar a frente para longe da costa, porém, o
fluxo residual mantém a estrutura frontal junto à costa. Soares (2003) e Soares et al.
(2007a; 2007b) consideraram condições realísticas de ventos, maré e correntes de
contorno no estudo das correntes dirigidas por gradiente de densidade ao longo da
plataforma sul do Brasil.

13
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Seus resultados mostraram que o transporte das águas do Rio da Prata e sua
interação com as águas da Lagoa dos Patos são promovidos por ventos favoráveis a
subsidência. Estes autores observaram que a influência das marés contribui para o
aumento no transporte devido a uma corrente residual produzida pela interação das
marés com a topografia, e que a influência das correntes de contorno também contribui
para a intensificação do transporte.
Recentemente, Marques et al. (2009) e Marques et al. (submetido) tem
conduzido estudos na plataforma continental do sul do Brasil para verificar a
contribuição das principais forçantes para a circulação e processos de mistura da pluma
da Lagoa dos Patos. Marques et al. (2009) estudaram as forçantes físicas que controlam
a dinâmica da pluma da Lagoa dos Patos através de experimentos tri-dimensionais de
modelagem numérica. Os autores verificaram que a pluma costeira da Lagoa dos Patos
se comporta como uma pluma de pequena a média escala, sendo que o modo de
variabilidade dominante é associado ao transporte em direção ao sul, controlado pela
combinação da dominância de ventos de quadrante norte e a variabilidade sazonal da
descarga fluvial na região. Marques et al. (submetido), através de experimentos
numéricos mais realísticos, verificaram a dominância dos efeitos associados à advecção
e deformação do campo de densidade para o controle da estratificação/mistura na pluma
da Lagoa dos Patos.
Esta breve compilação de metodologias e resultados de estudos de plumas
costeiras realizados ao longo dos últimos 40 anos demonstra as dificuldades envolvidas
neste tipo de estudo, qualificando o problema e explicitando as opções e ferramentas
consideradas ao estudo de um processo natural que se mostra extremamente importante
ao ecossistema costeiro de uma maneira geral. Dentro deste contexto, a utilização da
combinação de ferramentas mencionadas acima representará uma significativa
contribuição para o entendimento da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos na
plataforma continental do sul do Brasil.

1.4. Descrição da Região de estudo

A plataforma continental do Sul do Brasil (Figura 1.2A), limitada entre os


paralelos de 28° e 35°S, é uma plataforma continental de contorno oeste no Oceano
Atlântico Sul formada por uma suave linha de costa, longas praias de areia e lagoas

14
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

costeiras. A plataforma continental tem um gradiente transversal médio de 1.41 m km-1


(Figueiredo, 1980). A quebra de plataforma é localizada em torno da isóbata de 180 m
(Castro e Miranda, 1998) e a plataforma continental é mais estreita (100 km) na
fronteira ao norte, se torna mais larga (198 km) na porção central e mais estreita
novamente na fronteira ao sul (170 km) (Soares e Möller, 2001).
A Lagoa dos Patos é a maior laguna costeira do tipo estrangulado do mundo
(Kjerfve, 1986), e está localizada no extremo sul do Brasil, entre 30° e 32°S de latitude
e 50° e 52°W de longitude (Figura 1.2B). Os maiores rios do sul do País descarregam
suas águas nesta laguna, e estas são posteriormente lançadas na zona costeira adjacente.
A laguna possui uma área superficial que perfaz um total de 10.360 km², tem uma
profundidade média de aproximadamente 5 m e é ligada ao oceano por um único canal,
com aproximadamente 1 km de largura. Morfologicamente, a Lagoa dos Patos pode ser
dividida em lagoa superior, lagoa central e lagoa inferior (região estuarina), e a
separação entre as porções estuarina e lagunar ocorre nos bancos de areia da Ponta da
Feitoria (Delaney, 1965). A laguna apresenta um gradiente de declividade de
aproximadamente 1 m para 120 km, e um desnível médio de 2 m entre o rio Guaíba e o
canal do Rio Grande (Delaney, 1965).
A porção lagunar é formada por células elípticas interconectadas, moldadas pela
ação do vento e ondas (Toldo Jr., 1994), a topografia é mais regular com menores
gradientes batimétricos sendo formada por bacias maiores que 5 m de profundidade em
suas partes centrais e rasas margens ao longo de suas bordas. A porção estuarina
apresenta gradientes batimétricos mais intensos, e a profundidade média é de
aproximadamente 2 m, exceto nos canais que são constantemente dragados para fins de
navegação, onde à profundidade pode alcançar os 18 m.
A Lagoa dos Patos possui uma extensa bacia de drenagem com
aproximadamente 201.626 km². Os rios afluentes pertencem à bacia Atlântica que
engloba sub-bacias importantes como as dos Rios Jacuí, Caí, Sinos, Gravataí e Guaíba
(Veeck, 1997). Os mais importantes afluentes são os rios Jacuí e Taquari, e segundo
Herz (1977), 84% do fluxo de água doce que chega à Lagoa dos Patos através do Rio
Guaíba são provenientes desta sub-bacia. Os máximos de descarga ocorrem
normalmente do fim do outono ao início da primavera, e a média anual de descarga dos
Rios Jacuí e Taquari é de aproximadamente 2000 m³s-1 (Marques, 2003, Marques e
Möller, 2009). A descarga dos Rios Jacuí e Taquari apresenta um padrão sazonal

15
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sobreposto a padrões de variabilidade interanuais, principalmente associados a eventos


de El Niño Oscilação Sul (ENOS) (Marques, 2003; Marques e Möller, 2009).

Figura 1.2. A) A plataforma continental do Sul do Brasil, a Lagoa dos Patos e seus principais
rios afluentes (Rio Jacuí, Taquari e Camaquã). B). Destaque da região estuarina da Lagoa dos
Patos.

16
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A região sul do Brasil mostra consistentes anomalias de precipitação associadas


a eventos de ENOS (Grimm et al., 1998; Grimm et al., 2000, Montecinos et al., 2000).
Em anos de ocorrência de El Niño, o período de primavera tende a ser mais úmido e em
anos de ocorrência de La Nina, no mesmo período fortes anomalias secas ocorrem
(Grimm et al., 1998, Montecinos et al., 2000).
A região de estudo tem seu clima classificado como subtropical úmido (Strahler
e Strahler, 1997). É uma região afetada por sistemas sinóticos e fatores associados à
circulação de larga escala. Esta região é atingida por dois sistemas meteorológicos: o
anticiclone do Atlântico Sul que gera sobre a área uma circulação de ventos de nordeste
(NE), durante maior parte do ano (Braga e Krusche, 2000; Krusche et al., 2002), e
anticiclones móveis de origem polar, que se propagam para regiões de baixas latitudes.
Ventos de sul (S), sudoeste (SW) e sudeste (SE) estão associados a estes centros
(Krusche et al., 2002). Camargo et al. (2002) criou um atlas eólico para o Estado do Rio
Grande do Sul a partir de medições realizadas por anemômetros e dados de reanálise,
para um período representativo de quinze anos (Figura 1.3).

Figura 1.3. Freqüência e direção dos ventos no litoral do Estado do Rio Grande do Sul
(Camargo et al. 2002).

17
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Camargo et al. (2002) mostram que nas estações mais ao norte, ventos de
nordeste (NE) e de leste (E) são dominantes e de maior intensidade. Da região de
Mostardas para o sul do Estado, a freqüência e a intensidade dos ventos de nordeste
(NE) diminuem, e as componentes de sudeste (SE) e de sul (S) começam a apresentar
maior influência.
De acordo com as tábuas de marés da Diretoria de Hidrografia e Navegação do
Ministério da Marinha do Brasil, a amplitude média de maré no Rio Grande do Sul é de
0.5 m. Estudos anteriores de Möller (1996) e Fernandes et al. (2004) mostraram que as
marés astronômicas da região são mistas com dominância diurna, e que a sua
importância é secundária para o controle da circulação da Lagoa dos Patos.

1.4.1. Dinâmica dos compartimentos do sistema

A região de estudo é bastante ampla e pode ser fragmentada em três diferentes


áreas: as porções lagunar, estuarina e costeira. Podemos utilizar como parâmetro de
subdivisão, o fato de cada uma destas regiões terem seus processos dinâmicos
controlados de maneira bem peculiar, no que diz respeito à influência das principais
forçantes do sistema (descarga fluvial, os ventos, as marés e a circulação costeira).

A. Porção lagunar
A ação da descarga fluvial e dos ventos são as forçantes mais importantes da
circulação na Lagoa dos Patos (Möller et al., 2001). O efeito dos ventos nas lagunas
costeiras pode ser separado em efeitos local e não-local, e a ação do vento soprando
sobre a porção lagunar (ação local) é o principal fator de controle da circulação. A ação
local do vento se traduz através da transferência de momento pela fricção direta sobre o
corpo da lagoa, forçando correntes ou desníveis entre suas extremidades em intervalos
de 3 a 17 dias (Möller et al., 2001; Möller, 1996; Möller et al., 1996; Fernandes, 2001;
Castelão e Möller, 2003), coincidentes com a passagem de sistemas meteorológicos na
região.
A ação local dos ventos pode ainda forçar oscilações de curto período, como
seiches que podem ter períodos de aproximadamente 24 h na parte central e superior da
Lagoa (Möller, 1996). A Figura 1.4 apresenta um esquema do principal mecanismo de
oscilações forçado pela ação local do vento na porção lagunar em duas condições de

18
Estudo da
d dinâmica daa pluma costeeira da Lagoa dos
d Patos

ventoo dominantees na regiãoo de estudoo. Nesta regiião, a ação local de veentos de norrdeste
proporciona o aumento
a doos níveis dee água na reegião da Feeitoria induuzindo fluxo
os em
direçção ao estuáário, por ouutro lado, oss ventos de sudoeste proporcionam
p m a enchen
nte da
porçãão lagunar, aumentanddo os níveiis de água na região da
d cabeceirra da Lagoaa dos
Patoss. Nesta reegião da Lagoa
L dos Patos, o efeito
e da alta
a descarrga fluvial pode
intennsificar o paadrão de dessníveis assoociado à açãão local dos ventos de nnordeste.

Figurra 1.4. Repreesentação essquemática das


d oscilaçõees de níveis de
d água na llaguna sob a ação
de veentos de norddeste (NE) (A
A) e sudoestee (SW) (B) mo
odificado de Möller (19996).

B. Porção
P esttuarina
A porçãoo estuarina é influenciaada pela açãão local e nãão-local doss ventos, maarés e
interação dos prrocessos dirrigidos com
m a topograafia (Fernanndes, 2001; Fernandes et al.
20022; 2004; 20005). A açãão não-locaal dos vento
os é relacioonada a um
m mecanism
mo de
desnííveis forçados na porrção costeira. Seus efeitos são sentidos peelo aumentto ou
decrééscimo dos níveis de água
á na costta transverssalmente a ação
a dos veentos domin
nantes
(trannsporte de Ekman).
E Esttes efeitos ocorrem
o com
m escalas de
d tempo quue variam en
ntre 2
e 20 dias como resposta a mudanças
m n tensão dee cisalhameento do ventto, e as resp
na postas

19
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

da tensão de cisalhamento nos campos de vento são correlacionadas às mudanças no


campo de pressão atmosférica (Kjerfve e Magill, 1989).
A combinação do efeito local e não-local do vento se manifesta na produção de
desníveis entre a zona costeira e a saída da Lagoa (gradientes de pressão barotrópicos),
que condicionam os processos de troca. A introdução ou não das águas oceânicas na
Lagoa dos Patos depende da combinação deste efeito com o volume de água
proveniente da descarga fluvial (Fernandes et al., 2005; Marques et al., (submetido))
(Figura 1.4). A maré observada é mista com predominância diurna, tem altura máxima
de 0,51 m (Möller, 1996) e sua influência é restrita à zona estuarina, pois o canal de
acesso funciona como um filtro dinâmico atenuando as oscilações forçadas pela maré
(Möller, 1996; Fernandes et al., 2004). A região estuarina apresenta uma hidrodinâmica
mais diversa onde, no canal de acesso, o fluxo pode atingir máximos de 2.5 m s-1
(Gafrée, 1927). Este maior potencial hidrodinâmico é condicionado principalmente pelo
decréscimo exponencial da área da seção transversal na direção do oceano (Möller,
1996).
Nesta região, a circulação é intermitente temporalmente, podendo ocorrer três
tipos de situações: fluxo típico de região estuarina com fluxo de vazante de água doce
nas camadas superiores, e fluxo de enchente de água salgada nas camadas inferiores;
fluxos unidimensionais de vazante em períodos de alta descarga fluvial ou ventos
contínuos de quadrante norte ou; fluxos de enchente quando da passagem de frentes
meteorológicas sobre a região, criando fortes gradientes barotrópicos entre a zona
costeira e a Lagoa (Hartmann e Schettini, 1991; Möller e Castaing, 1999, Marques et
al., (submetido)). Em períodos de alta descarga fluvial, a influência das águas oceânicas
se torna mais restrita. Gradientes verticais de salinidade se tornam evidentes, ocorre um
decréscimo no tempo de residência das águas favorecendo a expulsão de materiais
dissolvidos e particulados para a zona costeira adjacente.
No baixo estuário da Lagoa dos Patos a circulação transversal se torna uma
contribuição importante aos processos hidrodinâmicos (Fernandes, 2001; Fernandes et
al., 2005), onde todas as forçantes do sistema podem interagir tornando o fluxo não
linear. Perfis típicos de velocidade em uma seção transversal da porção norte do canal
de acesso (próximo a cidade de São José do Norte) podem ser observados nas Figuras
1.5 e 1.6 para condições de descarga fluvial moderada (2000 m³s-1) e ventos da NE e
SW simulados ao longo de 70 horas, respectivamente (Fernandes, 2001).

20
Estudo da
d dinâmica daa pluma costeeira da Lagoa dos
d Patos

Figurra 1.5. Perffis de velociidade (longittudinal e tra


ansversal) em
e uma seçãão transverssal na
regiãão do canal estuarino
e da Lagoa dos Patos
P na altu
ura de São José
J do Nortee durante o evento
e
de NE E (modificaddo de Fernanndes, 2001).

Figurra 1.6. Perffis de velociidade (longittudinal e tra


ansversal) em
e uma seçãão transverssal na
regiãão do canal estuarino
e da Lagoa dos Patos
P na altu
ura de São José
J do Nortee durante o evento
e
de SWW (modificaddo de Fernanndes, 2001).

Nos perffis de ventoos de NE (F


Figura 1.5)), as alteraçções observadas na sérrie de
níveiis de água utilizadas
u coomo fronteiiras do mod
delo pelo auutor, indicam
m a contrib
buição

21
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

das forçantes não-locais para a reversão do fluxo longitudinal (contornos coloridos).


Onde, nas primeiras 15 horas observa-se o fluxo de enchente, e posteriormente de
vazante ao longo de toda coluna d’água. Nos perfis de ventos de SW (Figura 1.6), a
contribuição da forçante não-local reforça a ação local dos ventos, condicionando um
fluxo de enchente ao longo de toda a coluna d’água. A circulação transversal (vetores) é
dirigida para a esquerda como conseqüência do gradiente de pressão gerado pelo
aumento dos níveis de água na margem direita do estuário (Figura 1.6). Inversamente, a
circulação transversal é dirigida para a direita durante eventos de vazante (Figura 1.5),
devido ao aumento de níveis no lado esquerdo do estuário.
Com relação à estrutura salina, a Lagoa dos Patos experimenta variações que
alcançam de 0-33 ups. A combinação da ação local e não-local do vento é o principal
mecanismo de introdução de sal dentro do estuário (Hartmann e Schettini, 1991; Möller,
1996, Möller et al., 2001). Os processos de mistura e estratificação podem ter escalas de
tempo mais variáveis, desde períodos de maré diurna até processos em bandas de
passagem de frentes meteorológicas. No estuário da Lagoa os três tipos de estrutura
vertical de sal podem ser observados: estuário de cunha salina, parcialmente
estratificado ou bem misturado (Hartmann e Schettini, 1991; Möller e Castaing, 1999).

C. Porção costeira
Este é o compartimento do sistema onde ocorre a interação final dos processos
dirigidos pela ação dos ventos, descarga de rios, marés e correntes costeiras e de
contorno. A plataforma continental do Sul do Brasil está geograficamente localizada em
uma região de larga complexidade dinâmica, devido principalmente à influência de
grande aporte de água doce, sazonalidade dos ventos e convergência de correntes de
contorno oeste. Padrões observados nas propriedades físicas, químicas e biológicas
desta área sugerem que o padrão da circulação costeira é principalmente dirigido pela
ação dos ventos (Miranda, 1972; Lima e Castelo, 1995; Castro e Miranda, 1998; Ciotti
et al., 1995; Vaz, 2005). Esta região é também marcada pela presença de largas faixas
de águas de baixa salinidade próximas à costa causadas pela influência de altos aportes
fluviais, provenientes do rio da Prata e Lagoa dos Patos, além da influência de correntes
costeiras originadas na costa da Patagônia (55°S).

22
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 1.7. Imagem de cor do oceano (“true color”) obtida do sensor remoto MODIS
(Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) para o dia 29 de julho de 2002. Processada
pelo LOCFIS / IO-FURG

Na região da costa da Argentina, a intensa precipitação, descarga fluvial e


derretimento de gelo resultam na formação de uma massa de água salinidade muito
baixa, a qual é transportada para regiões de baixa latitude via corrente de plataforma, a
chamada Corrente da Patagônia (Guerrero e Piola, 1997, Piola e Rivas, 1997). Próximo
à fronteira sul da plataforma do continental do Sul do Brasil, outra fonte de água doce é
encontrada. O Rio da Prata, o qual drena a segunda maior bacia hidrográfica da América
do Sul, e descarrega sobre a plataforma continental um volume médio anual de água de
22.000 m³s-1 (Guerrero et al., 1997; Framinãn e Brown, 1996). Este volume é advectado
sobre a plataforma continental pelas correntes costeiras.

23
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A terceira fonte de água doce nesta região é a Lagoa dos Patos, que descarrega
em média 2.400 m³s-1 de água na plataforma continental (Vaz, 2003; Vaz et al., 2006)
com médias sazonais de 700 m³s-1 durante o verão e valores maiores que 4.000 m³s-1 no
fim do inverno e início da primavera. Picos extremos de 25.000 e 12.000 m³s-1 foram
observados por Rocherfort (1958) e Möller et al. (2001), respectivamente. Durante
períodos de descarga fluvial acima da média e/ou ação de contínuos ventos de quadrante
norte, a zona de mistura pode ficar restrita ao canal de acesso ou ser completamente
expulsa para a costa adjacente, formando plumas de águas menos densa (Hartmann e
Silva, 1988; Möller, 1996; Möller e Castaing, 1999; Fernandes et al., 2002, Marques et
al. 2009). A Figura 1.7 mostra uma imagem de cor do oceano para o dia 29 de julho de
2002. Nesta imagem, podemos identificar uma longa faixa de re-suspensão ao longo da
costa, e a pluma formada pela descarga da Lagoa dos Patos com seu desenvolvimento
em direção ao sudeste.
A porção externa da plataforma continental do Sul do Brasil é influenciada pela
convergência bilateral de duas correntes de contorno oeste. A Corrente do Brasil (CB),
originada na parte oeste do giro oceânico do Atlântico Sul (Peterson e Stramma, 1991),
flui sobre o talude continental transportando águas quentes na direção aos trópicos. Esta
se encontra com outra corrente de contorno, a Corrente das Malvinas (CM), que flui em
direção ao Equador transportando águas frias em uma região chamada Zona de
Confluência Brazil-Malvinas (Gordon, 1989). Piola et al (1999; 2000) observaram
através de distribuições de salinidade e temperatura a formação da Frente Sub-Tropical
de Plataforma (FSTP) (entre 32º e 34ºS) na região onde a zona de confluência Brasil-
Malvinas se separa do talude continental.
A presença de várias fontes de água doce e a presença e o encontro de duas
correntes de contorno de características termo-halinas contrastantes, conferem à região
de estudo uma alta complexidade dinâmica. Maiores detalhes sobre a dinâmica deste
compartimento são apresentados nos estudos de Thompsen (1962), Miranda e Castro
Filho (1977), Ciotti et al. (1995), Soares e Möller (2001) e Piola et al (2000), entre
outros. A Figura 1.8 mostra o caminho percorrido pelas Correntes de Brasil e Malvinas
ao longo da plataforma do Sul do Brasil, e a posição aproximada onde estas correntes se
encontram formando a Confluência Brasil-Malvinas (CBM).

24
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 1.8. Mapa esquemático representando a plataforma continental do Sul do Brasil e parte
da plataforma Argentina. O mapa mostra as correntes de contorno oeste, Corrente do Brasil
(CB) e Corrente das Malvinas (CM) com a Zona de Confluência (CBM). A corrente costeira do
Brasil (CCB), a localização representativa da Frente Sub-Tropical de Plataforma (FSTP) e das
plumas da Lagoa dos Patos e do Rio da Prata. (modificado de Burrage et al. 2008).

A massa de água quente e salgada transportada superficialmente pela Corrente


do Brasil na quebra de plataforma é chamada de Água Tropical (AT) e pode
eventualmente ser encontrada ao longo da plataforma média e externa. Na base do
talude continental pode ser encontrada a massa de água mais fria e menos salgada
chamada Água Sub-Antartica (ASA), que é advectada pela Corrente das Malvinas. A
mistura destas duas massas de água dá origem à Água Central do Atlântico Sul (ACAS)
na Zona de Convergência Sub-Tropical pelo afundamento e transporte em sub-
superfície em direção ao Equador (Miranda, 1972). Ao longo da plataforma continental
(Figura 1.8) pode ser observada uma zona de transição sub-superficial chamada de
Frente Sub-Tropical de Plataforma (FSTP), na qual as águas de origem sub-antártica se

25
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

encontram com as águas de origem sub-tropical (Piola et al. 2000; 2008). De acordo
com Souza e Robinson (2004), existe sobre a plataforma continental (ao norte da
latitude de 25ºS) uma corrente costeira fluindo em oposição à Corrente do Brasil,
chamada Corrente Costeira do Brasil (CCB) (Figura 1.8).
Sobre a plataforma continental, a presença de fontes de descarga fluvial dá
origem à massa de água costeira que se distribui superficialmente sobre a plataforma
(Ciotti et al. 1995). Ao longo da plataforma continental da Argentina e do Sul do Brasil,
processos de mistura dão origem a novas massas de água. A diluição das águas de
origem Sub-Antártica sobre a plataforma (~55ºS) devido ao excesso de precipitação e
descarga fluvial dá origem à massa de Água Sub-Antártica de Plataforma, e a diluição
da Água Central do Atlântico Sul com a descarga fluvial na costa do Brasil dá origem a
Água Sub-Tropical de Plataforma (Piola et al. 2000).

1.5.1. Dinâmica sedimentar dos compartimentos do sistema


A Lagoa dos Patos está localizada sobre a planície costeira do Rio Grande do
Sul, e planícies costeiras são definidas como áreas de transição, onde o produto da
desintegração de rochas é trazido pelos rios, acumulado e re-distribuído pela ação dos
ventos, ondas e correntes (Hartmann, 1996). O limite entre as planícies costeiras e a
plataforma continental depende de regressões e transgressões marinhas, controladas por
processos de erosão e deposição resultantes dos movimentos tectônicos locais ou
variações globais do nível do mar (Villwock et al. 1989; Martin e Domingues, 1994;
Bird, 1994).
A planície costeira do Rio Grande do Sul é fonte de diferentes formações
sedimentares que datam do período Quaternário Brasileiro, sendo ocupada por corpos
lagunares sujeitos a sedimentação fina intensa (Hartmann, 1996). O depósito e
organização em terraços registram de forma adequada os estágios de nível do mar,
apresentando um bom estado de conservação e diversidade morfológica (Godolphim,
1976; Long, 1989). A compreensão da evolução da planície costeira depende
principalmente de análises morfológicas no complexo do Guaíba e na extremidade sul
da Lagoa dos Patos (Herz, 1977).
Da mesma forma que fragmentamos as diferentes partes do sistema de acordo
com as forçantes mais importantes em cada setor, o mesmo será feito no que diz
respeito ao transporte de sedimentos e materiais dissolvidos e em suspensão, dado que

26
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sua distribuição ao longo do sistema mostra uma dependência relativa aos processos
dinâmicos mais importantes em cada porção do sistema.

A. Porção lagunar

A maior parte dos sedimentos de origem continental (fonte externa) provenientes


do Planalto Sul-Rio-Grandense ingressa na porção norte da Lagoa dos Patos (Villwock,
1972). Este aporte representa a maior parte da sedimentação lagunar chegando através
dos Rios Jacuí, Sinos, Taquari, Gravataí e Caí pelo complexo do Guaíba (Herz, 1977;
Long, 1989; Toldo Jr., 1994; Hartmann e Schettini, 1996; Hartamann e Calliari, 1995).
Como fonte interna de sedimentação, soma-se o material arenoso dos depósitos
costeiros das barreiras (Villwock, 1978), e a carga bioclástica associada à produção de
organismos (Toldo Jr., 1989).

Figura 1.9. Mapa de tipos de sedimento de fundo amostrados ao longo do corpo lagunar da
Lagoa dos Patos (Toldo Jr. 1994).

27
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A pequena diversidade de processos hidrodinâmicos e as menores intensidades


de corrente observadas nesta região contribuem para a deposição de sedimentos mais
grosseiros (Toldo Jr., 1994). Sete tipos de sedimento de fundo (Figura 1.9) podem ser
identificados ao longo do corpo principal da Lagoa dos Patos (Martins e Villwock,
1987; Toldo Jr., 1994). Areia muito grossa, grossa e média são encontradas na porção
norte da laguna e na superfície dos pontais de areia encontrados na sua porção central.
Areia fina bordeja estes tipos de fundo, caracterizando a variação lateral ao longo da
margem oeste. Areia muito fina também é encontrada na margem leste, onde se conecta
lateralmente com fundos formados por areia muito fina, silte e argilas.

B. Porção estuarina

Nesta porção da Lagoa dos Patos os sedimentos e material em suspensão se


originam em diversas fontes externas e internas. Os de origem continental podem ser
provenientes dos rios que deságuam no complexo do Guaíba (Villwock, 1978), do rio
Camaquã que traz os sedimentos provenientes do escudo Sul-Rio-Grandense e do canal
de São Gonçalo, que faz a conexão entre a Lagoa dos Patos e a Lagoa Mirim (Hartmann
et al., 1986; Hartmann et al., 1990; Hartmann e Schettini, 1991).
Além destas fontes, a bruscas alterações morfológicas que ocorrem na transição
da porção lagunar para a estuarina, processos como a ação de ondas, introdução de água
salgada ou re-introdução de águas previamente exportadas para a costa adjacente,
podem re-suspender sedimentos, influenciando a concentração do material dissolvido e
em suspensão (Hartmann et al., 1990; Hartmann e Schettini, 1991; Abreu et al., 1995).
Segundo Niencheski et al. (1999) a re-suspensão de sedimentos pela introdução
de água salgada junto ao fundo é importante na variabilidade de curto período dos
nutrientes e materiais em suspensão observados ao longo do estuário. Niencheski e
Windom (1994) observaram que a descarga de água doce sozinha não explica as
concentrações de nitrogênio e fósforo dissolvidos e de silicato ao longo do estuário da
Lagoa. Os autores atribuíram os excessos encontrados a introdução antropogênica pela
manufatura de fertilizantes na região. Um estudo posterior realizado por Niencheski e
Jahnke (2002) demonstrou que os sedimentos exercem um papel fundamental no
metabolismo e reciclagem de nutrientes na região do estuário da Lagoa dos Patos.

28
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

As condições hidrológicas no canal de acesso podem se modificar rapidamente


em função de condições meteorológicas locais (Hartmann e Schettini, 1991; Fernandes,
2001, Fernandes et al., 2004) ou sazonalmente em função da variabilidade na descarga
fluvial (Hartmann e Schettini, 1991). Durante períodos de baixa a moderada descarga
fluvial, padrões típicos de circulação estuarina podem ocorrer e nestas condições, a zona
de máxima turbidez pode ser encontrada no fundo do canal de Rio Grande (Hartmann et
al., 1991). Em períodos de cheia, padrões de circulação típicos de vazante de rio
contribuem para homogeneidade do material em suspensão ao longo da coluna d’água
(Hartamann et al., 1986).
Hartmann et al. (1990) observaram que o São Gonçalo tem a maior carga
sedimentar em suspensão ao longo do ano por desaguar diretamente no estuário,
diferentemente das águas provenientes da porção lagunar, que tem maior parte da sua
carga sedimentar depositada ao longo do caminho percorrido. De forma geral a
concentração do material em suspensão aumenta em direção ao canal e com a
profundidade, e como resposta a maior contribuição do Canal de São Gonçalo ao aporte
de material em suspensão, Hartmann et al. (1990) observaram a ocorrência de
gradientes laterais de material em suspensão aumentando em média da margem leste
para a margem oeste.
Em função das inúmeras fontes externas e internas, o padrão de sedimentos
observados ao longo do corpo do estuário mostra-se mais diversificado que ao longo da
porção lagunar. Nesta região (Figura 1.10), os sedimentos de fundo são mais finos,
como silte, argila e areia fina (Calliari, 1980; Calliari et al., 2009), pois sendo
provenientes da descarga fluvial e da própria remobilização interna, estão menos
propensos a precipitar em regiões de baixas velocidades na porção superior da Lagoa,
alcançando então a zona estuarina onde podem ser depositados ou expulsos de acordo
com as condições hidrológicas.
Seis diferentes tipos de sedimento de fundo encontrados na região estuarina
podem ser relacionados à profundidade e níveis de energia da hidrodinâmica (Figura
1.10). Sedimentos como silte e argila dominam os canais mais profundos e as áreas
mais rasas e protegidas (Martins, 1967; Calliari, 1980). Ambientes transicionais que
aparecem com o decréscimo das concentrações de silte e argilas e fundos arenosos, são
características sedimentares do estuário associadas com as margens rasas, mas podem
ocorrer em canais com alta atividade hidrodinâmica.

29
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

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31 40' S

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1- Silte
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3- Síltico Argilosa
4 - Areno Síltica
5 - Mista (Areia + Silte + Argila)
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6 - Argilo Síltica
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10 - Argila
0 2,4 4,8 km

32010'
52010' 520
0
51 50' W

Figura 1.10. Tipos de sedimento de fundo no estuário baseado em proporções de areia, silte e
argila (Calliari, 1980).

C. Porção costeira
A porção costeira atua como o receptor final dos sedimentos e material em
suspensão provenientes da descarga fluvial de todos os tributários da Lagoa dos Patos.
Assim como na porção estuarina, processos associados às condições meteorológicas
locais ou com escalas de variabilidade sazonal na descarga dos rios influenciam a
concentração do material em suspensão e padrão de sedimentos observados ao longo da
costa adjacente.
Hartmann et al. (1980) realizaram um estudo do material em suspensão e
dissolvidos nas águas de superfície da plataforma continental do Rio Grande do Sul e
observaram que as maiores concentrações de material em suspensão total foram
medidas nas proximidades da desembocadura da Lagoa, decrescendo nas direções
paralela e transversalmente à costa. Os autores estabeleceram ainda uma relação
polinomial que permitia calcular o material em suspensão total como função da
distância à barra da Lagoa.

30
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O deságüe das águas continentais sobre a plataforma continental leva a zona de


máxima turbidez para a zona costeira, estando associada à re-suspensão de sedimentos
devido à ação de ondas geradas por ventos ou correntes litorâneas (Hartmann e Silva,
1988). A influência da descarga fluvial sobre a costa adjacente reflete ainda um alto
aporte sedimentos finos provenientes do estuário da Lagoa dos Patos (Calliari e Fachin,
1993) que após serem expulsos floculam e depositam em forma de lama fluída na costa
adjacente.
Calliari e Fachin (1993), por meio da análise de mapas texturais observaram a
ocorrência de fundos argilo-sílticos e siltico-argilosos ocorrendo ao sul da
desembocadura lagunar, com as maiores espessuras de lama (até 0,8 m) entre as
isóbatas de 14 e 20m, coincidindo com a área de ocorrência esporádica de depósitos
lamíticos no perfil praial.
A influência de eventos de El Nino na região contribui para uma anomalia
positiva de precipitação e conseqüentemente para um aumento na exportação de
sedimentos finos para a zona costeira adjacente. Torronteguy (2000) estudou os
processos sedimentológicos na Praia do Cassino, entre junho de 1998 a abril de 1999,
encontrando depósitos de lama entre 4 e 12 m de profundidade com espessuras de lama
total e lama fluída de 1,70 e 1,20 m, respectivamente. Este autor verificou que a
espessura da lama fluida aumenta para o sul e em direção à costa sugerindo uma relação
entre deposições de lama na praia e a incidência de ondas de tempestade. O mesmo
evidenciou que a deriva da pluma estuarina influencia nas características dos depósitos
paralelamente à costa e o empilhamento pela ação de ondas nas características
transversalmente a costa.
A ocorrência dos depósitos lamíticos acarreta transtornos às atividades turísticas
locais, e também pode contribuir para a maior atenuação de ondas e alterar o padrão
normal das alterações morfológicas ao longo da costa. Oliveira (2000) observou que um
perfil praial, ao longo da Praia do Cassino, mais próximo dos molhes sofreu maiores
alterações morfológicas quando comparado com um perfil mais exposto à ação de
ondas. A autora atribuiu este efeito a localização de grandes depósitos de lama fluida,
que se estendem por 12 km ao longo da costa.

31
Estudo da
d dinâmica daa pluma costeeira da Lagoa dos
d Patos

Figurra 1.11. Maapa da porccentagem dee lama na plataforma


p c
continental do Sul do Brasil
B
(Fernnandes et al. 2009).

Dados reecentes obttidos entre 2004 e 2005 (Sperle et al. 20055; Calliari et al.
20077) usando ecobatimetrria, reflexãão sísmica, e amostraas in situ permitiram
m um
detallhado mapeamento da lama fluidaa e mais com
mpactada enntre as isóbatas de 5 e 12 m
na reegião onde os depósittos ainda não
n haviam
m sido mapeados. Ressultados reccentes
apressentados em
m um relaatório técnico de Ferrnandes et al. (20099) mostrou uma
comppilação de dados conttidos em diiversos estu
udos sobre a coberturra sedimenttar da
plataaforma conttinental do Rio Grandee do Sul. Neste
N estudoo foi possívvel determiinar o
padrãão de distrribuição dos depósitoss lamíticos na região, sugerindo que as maaiores
concentrações de
d lama sãoo observadaas em profu
fundidades maiores
m quue 50 m. Ab
baixo
destaa isóbata, a principall concentraação de lam
ma é a Fáácies Patoss, localizad
da na
desem
mbocadura da Lagoa dos
d Patos.

32
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 1.12. Espessura da lama fluida em metros, obtida através de estudos geofísicos e
observações durante os anos de 2004 e 2005 ao longo da zona costeira adjacente a
desembocadura da Lagoa dos Patos. (Sperle et al. 2005; Calliari et al. 2007).

A Figura 1.11 mostra à porcentagem de lama na plataforma continental do Sul


do Brasil, indicando altas concentrações (maiores que 70%) próximas a desembocadura
da Lagoa dos Patos que podem ser justificadas pela alta taxa de deposição de lama
ocasionada pelo deságüe da laguna. Martins et al. (2003) comentaram que na altura do
Cone de Rio Grande encontra-se uma zona de maior concentração de lama porque esse
local, em tempos pretéritos (de nível de mar mais baixo), recebia sedimentos finos
provenientes do deságüe do Rio da Prata e das Terras Altas do Rio Grande do Sul.
De forma a visualizar o padrão deposicional junto à desembocadura da Lagoa
dos Patos, a Figura 1.12 mostra um mapa de isópacas de lama ao sul da desembocadura

33
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

(região da Praia do Cassino), indicando uma máxima espessura de 0.6 m no centro do


depósito. Este depósito apresenta um padrão semelhante ao encontrando anteriormente
em outras observações, com a espessura da lama fluida decrescendo em direção a costa
e ao oceano e um máximo em uma região intermediária da plataforma continental
interna.

1.6. Hipótese do trabalho


A ação da rotação da Terra e dos efeitos baroclínicos pode ser tão importante
quanto à ação dos ventos para a formação e o desenvolvimento da pluma da Lagoa dos
Patos, sendo fundamentais para determinar seu comportamento e o padrão de
sedimentação da plataforma continental interna.

1.7. Objetivos

1.7.1. Objetivo geral

O principal objetivo deste trabalho é investigar a formação, o comportamento e o


destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos, de forma a avaliar sua contribuição para a
dinâmica sedimentar observada na região costeira adjacente, em escalas temporais de
poucos dias a alguns meses.

1.7.2. Objetivos específicos

• Avaliar a influência das principais forçantes (marés, ventos, rotação da Terra,


campos de densidade da zona costeira e dos processos costeiros remotos) para a
formação, o desenvolvimento e o destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos;

• Analisar a estrutura do corpo da pluma e sua zona de frente sob diferentes


condições de descarga fluvial, ventos, marés e campos de densidade na zona
costeira, investigando a evolução dos processos de mistura e estratificação;

34
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• Avaliar o papel da pluma costeira no trapeamento de sedimentos finos


continentais, de forma a contribuir para o entendimento da formação de bancos
de sedimentos coesivos (bancos de lama) na zona costeira adjacente.

1.8. Organização da tese

O capítulo 1 apresenta a introdução do trabalho, destacando a importância


associada ao estudo das plumas na zona costeira, suas contribuições para o ecossistema,
bem como, o estado da arte do estudo de plumas. A caracterização da área de estudo do
ponto de vista físico e geomorfológico, além dos objetivos gerais e específicos são
apresentados neste capítulo.
O capítulo 2 apresenta a metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho,
descrevendo os modelos numéricos utilizados, as fontes de dados observacionais e de
sensoriamento remoto utilizados nos exercícios de calibração e validação do modelo,
bem como, as ferramentas utilizadas nas análises dos resultados. O capítulo 3 apresenta
o domínio computacional, as condições iniciais e de contorno utilizadas, e os testes de
calibração e validação dos modelos numéricos.
O capítulo 4 apresenta os resultados obtidos para: a investigação da formação,
desenvolvimento e destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos; análise da evolução
dos processos de estratificação e mistura na pluma, bem como, o padrão de deposição
de sedimentos ao longo da zona costeira adjacente. O capítulo 5 apresenta as discussões
relacionadas aos resultados obtidos. O capítulo 6 apresenta as conclusões do estudo e
algumas sugestões para trabalhos futuros, e finalmente, no capítulo 7 são listadas as
referências citadas nos capítulos anteriores.
Dois apêndices são incluídos, trazendo informações a respeito do procedimento
de acoplamento dos modelos utilizados neste trabalho (Apêndice A) e da produção
científica associada ao desenvolvimento da tese (Apêndice B).

35
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

METODOLOGIA
2.1. Histórico

O estudo associado aos processos hidrodinâmicos e ao transporte de sedimentos


em rios, estuários e zonas costeiras são fundamentais para o correto gerenciamento do
ecossistema, de forma a permitir a continuidade do processo de desenvolvimento
humano. O estudo destes processos pode ser realizado através da utilização de
observações diretas medidas em campo, através do sensoriamento remoto e através da
aplicação e desenvolvimento de modelos numéricos.
Cada uma destas técnicas apresenta suas vantagens e desvantagens, e de maneira
geral uma pode ser utilizada para complementar a deficiência da outra. O estudo
realizado através de observações diretas é o mais preciso, porém, o de mais alto custo,
fato que conseqüentemente dificulta a realização de estudos em largas escalas espaciais
e curtas escalas temporais, concomitantemente. A utilização de sensores remotos
orbitais permite a realização de investigações em amplas escalas espaciais com boa
precisão, porém, a investigação fica restrita a superfície do ambiente marinho e com
baixa resolução temporal. A utilização de modelos numéricos aparece como uma
técnica de estudo menos precisa que a análise direta de dados, porém permite a
investigação em escalas espaciais e/ou temporais tão amplas ou detalhadas quanto o
necessário.
De maneira geral, pode-se inferir que a investigação dos processos naturais que
controlam o ecossistema marinho será realizada de maneira mais precisa se todas estas
técnicas forem combinadas de forma a aproveitar suas vantagens e suprir as
desvantagens pela utilização do outro método. Portanto, neste trabalho foi empregada
como ferramenta principal a aplicação de um modelo numérico, que foi calibrado e
validado com a utilização de dados observacionais e de sensoriamento remoto orbital,
para a investigação dos processos hidrodinâmicos e do transporte de sedimentos na zona
costeira do Sul do Brasil.
As equações de Navier-Stokes são utilizadas no estudo da dinâmica dos fluidos
geofísicos, enquanto que o transporte de sedimentos pode ser descrito por equações que
seguem leis de conservação de massa. Estes sistemas de equações podem ser resolvidos
pela aplicação de métodos de diferenças finitas, volumes finitos ou elementos finitos.

36
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Cada um destes métodos apresenta vantagens para estudos específicos, e neste trabalho
optamos por utilizar um modelo hidrodinâmico que emprega técnicas de elementos
finitos e um morfodinâmico que utiliza técnicas de volumes finitos para a resolução das
equações.
Os métodos de elementos finitos têm origem na mecânica dos sólidos (na década
de 60), e suas aplicações se propagaram para a dinâmica de fluidos na década de 70.
Análises detalhadas de Pinder e Gray (1977) mostraram que o método apresentava
problemas de resolução e problemas associados ao alto custo computacional. Na década
de 80, foi descoberto que Lynch e Gray (1979), transformando a equação de
continuidade em uma equação de onda de ordem mais alta, solucionaram os problemas
de resolução e de custo computacional. As principais vantagens do método de
elementos finitos é que eles são inerentemente melhor adaptados a geometrias
complexas e fluxos com grandes descontinuidades espaciais (Kantha e Clayson, 2000).
Técnicas de elementos finitos pertencem à classe de métodos de Garlekin, onde
a variável é expandida em termos de bases de funções de certas estruturas espaciais, de
forma que estas bases de funções são polinomiais e diferentes de zero em um domínio
limitado (Kantha e Clayson, 2000). A utilização destes métodos permite ainda utilizar
grades computacionais não uniformes e não estruturadas com elementos de tamanho
variável, que permitem obter alta resolução em regiões onde seja necessário sem
sacrificar a extensão horizontal do modelo (Lynch et al., 1996).
O método de volumes finitos é um método de resolução de equações diferenciais
baseado na utilização de balanços de massa, energia e quantidade de movimento em um
determinado volume de controle em um meio contínuo. Este método evoluiu a partir do
método de diferenças finitas, e não apresenta problemas de instabilidade ou
convergência, por garantir que, em cada volume discretizado, a propriedade em questão
obedece à lei de conservação. O seu desenvolvimento está intrinsecamente ligado ao
conceito de fluxo entre regiões, ou volumes adjacentes, onde o fluxo de uma grandeza
como massa ou energia, é a quantidade dessa grandeza que atravessa uma fronteira com
uma área pré-definida (Bortoli, 2000; Fortuna, 2000, Jones, 2002). Stansby e Lloyd
(2001) comentaram que em modelos que utilizam elementos finitos, a discretização
espacial pode ser feita arbitrariamente, enquanto que em volumes finitos, geralmente
são limitados a precisão de segunda ordem, entretanto, este método garante a
conservação global do sistema.

37
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Ao longo das últimas duas décadas, os métodos de elementos finitos foram


empregados para diversos fins. Lynch et al. (1996) comentam sobre alguns estudos
recentes que empregaram estas técnicas em estudos oceanográficos do Golfo da
Venezuela/Lago Maracaibo (Lynch et al., 1990); no mar Alboram (Lynch et al., 1989);
no Golfo de Maine (Lynch et al., 1992); na Baía de Abaco (Westerink et al., 1989); na
costa sudoeste da ilha de Vancouver (Foreman e Walters, 1990; Foreman et al., 1992a,
1992b; Walters e Foreman, 1992); na Baía do Atlântico Norte (Werner et al., 1993); na
Baía de Delaware (Walters, 1992); e no Golfo do México (Westerink et al., 1992). Mais
especificamente, podemos citar o modelo de fluxo costeiro OCKE3D que usa o método
de elementos finitos para calcular a salinidade e o material em suspensão total na
presença de frentes e plumas de rios (Durand et al. 1996). Além do modelo AMAZON,
descrito por Hu et al. (2000), que usa um esquema em volumes finitos unidimensional
de alta resolução para simular ondas em águas rasas que passam sobre barreiras no mar.
Vários exemplos de utilização de modelos que usam aproximações em volumes
finitos podem ser encontrados em Jones (2002). Aoki e Isobe (2007) utilizaram um
modelo de volumes finitos para fazer a previsão das variações do nível do mar
produzidas pelo vento na baía Fukuoka. Um modelo de malha não estruturada, tri-
dimensional de equações primitivas (FVCOM), baseado em esquemas de volumes
finitos, foi desenvolvido para o estudo de circulação costeira e estuarina por Chen et al.
(2003). Chen et al. (2007) utilizaram este modelo para fazer comparações com
resultados obtidos para o mesmo estudo com dois modelos populares de diferenças
finitas (Princeton Ocean Model (POM) e o Estuarine and Coastal Ocean Model
(ECOM-si). Estes autores verificaram que considerando uma malha não estruturada
triangular, o modelo FVCOM forneceu resultados melhores e mais precisos capturando
os processos associados à maré, ventos, ondas geradas pela flutuabilidade e fluxo em
oceanos costeiros
Na Lagoa dos Patos e seus embaiamentos, as técnicas de elementos finitos foram
aplicadas para a realização de estudos da hidrodinâmica do sistema (Fernandes, 2001;
Fernandes et al., 2001; 2002; 2004; 2005; Monteiro et al., 2006; Fernandes et al., 2007).
Um modelo de volumes finitos foi utilizado para verificar a influência dos ventos e
descarga fluvial na dispersão de hidrocarbonetos na Lagoa dos Patos (Janeiro et al.
2008). Neste trabalho, modelos numéricos que empregam estas técnicas serão utilizados

38
Estudo da
d dinâmica daa pluma costeeira da Lagoa dos
d Patos

orte de sediimentos da Lagoa dos Patos


para a investigação da hidrrodinâmica e do transpo
e plaataforma conntinental doo Sul do Braasil.

2.2.. O Sistema TEL


LEMAC e o Mod
delo TEL
LEMAC
C-3D

ma TELEM
O sistem MAC foi desenvolvido pelo ©ED
DF - Laborratoire Nattional
d´Hyydraulique et Environ
nnement daa companh F), na
hia Electriccité de Fraance (EDF
França. Este modelo
m é foormado porr um conju
unto de móódulos, em
m duas e/ou
u três
dimeensões, paraa o estudoo de aspecttos relacion
nados à hiddrodinâmica, transporrte de
sedim
mentos, onddas e qualiddade de águaa de regiõess costeiras e oceânicas. Os módullos do
sistem
ma TELEM
MAC podem
m ser utiliizados sepaaradamente ou acoplaados ao mó
ódulo
hidroodinâmico como
c mostrra a Figura 2.1
2

Figurra 2.1. Esqueema ilustratiivo de funcioonamento do sistema de modelagem


m T
TELEMAC com
c os
seus principais
p m
módulos.

O sistem
ma TELEM
MAC possuii módulos de
d pré-proccessamento que podem
m ser
utilizzados para a digitalizzação de dados batim
métricos (SIINUS-X); ppara geraçãão de

39
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

malhas de elementos finitos, discretização do domínio do modelo no espaço e o


estabelecimento do tipo de condições de contorno (MATISSE) e para a especificação
dos parâmetros utilizados nas simulações (EDAMOX). Os módulos hidrodinâmicos
TELEMAC2D e TELEMAC3D resolvem as equações de Navier-Stokes integradas
verticalmente e ao longo das três dimensões do espaço, respectivamente. Os módulos de
transporte de sedimentos em suspensão e substâncias dissolvidas bi-dimensional
(SUBIEF2D) e tri-dimensional (SUBIEF3D), e o módulo morfodinâmico de sedimentos
não-coesivos (SYSIPHE) são acoplados aos módulos TELEMAC2D e TELEMAC3D.
O módulo utilizado para o estudo de ondas de gravidade de curto período
(TOMAWAC) pode ser utilizado para gerar condições de contorno para os módulos
hidrodinâmicos ou pode ser acoplado ao módulo morfodinâmico SYSIPHE. O módulo
POSTEL3D processa os dados tridimensionais e gera seções transversais verticais e
horizontais que podem ser visualizadas no módulo de pós-processamento RUBENS.
O TELEMAC3D resolve as equações de Navier-Stokes assumindo ou não
condições de pressão hidrostática. O modelo considera a evolução da superfície livre
como função do tempo, e utiliza equações de advecção-difusão para o transporte de
concentrações de traçadores (salinidade, temperatura ou sedimentos em suspensão). Os
principais resultados obtidos em cada ponto da malha computacional são a velocidade
nas três direções e a concentração de quantidades transportadas, e o principal resultado
da malha na camada superficial é a elevação da superfície livre. Este modelo pode ser
aplicado para estudos de ambientes marinhos e/ou estuarinos, e leva em conta a
influência de efeitos como:
• Influência da temperatura, salinidade e concentração de sedimentos em suspensão
na densidade do fluido;
• Fricção de fundo;
• Influência da força de Coriolis;
• Influência de condições meteorológicas: pressão atmosférica e ventos;
• Consideração de trocas de calor com a atmosfera;
• Fontes e sumidouros de fluido e/ou quantidade de movimento dentro do domínio;
• Modelos de turbulência simplificados ou mais complexos (k-epsilon);
• Zonas secas dentro do domínio:
• Transporte de traçadores e difusão pelas correntes com a criação ou
desaparecimento de termos.

40
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Abaixo será apresentado um apanhado sobre: notações, geometria, sistema de


equações, as condições de contorno e termos fontes utilizados pelo modelo
TELEMAC3D. Este resumo é baseado nos trabalhos de: Hervouet e Bates (2000),
Hervouet (2001) e Hervouet (2007), onde informações mais detalhadas podem ser
encontradas.

2.2.1. Notação e geometria

O domínio de estudo Ω (Figura 2.2) em um referencial R = (O,x,y,z) é limitado


inferiormente pelo fundo, que pode ser descrito pela equação z = Zf (x,y,t), ou em
algumas situações z = Zf (x,y). O domínio é ainda limitado pela superfície livre que é
descrita pela equação z = Zs (x,y,t). Ele é limitado lateralmente por linhas verticais e
contornos Γ. Então, o domínio de cálculo em três dimensões pode ser definido por:

Ω = {( x, y, z ) ∈ R 3 → ( x, y ) ∈ Ω2 D ∝ Z f ( x, y, t ) ≤ z ≤ Z s ( x, y, t )} (2.1).

A gravidade é direcionada no sentido de decréscimo de z. A altura da coluna de


água ou a profundidade da água, chamada de h, é igual à Zs-Zf. A elevação do fundo é
um dado conhecido, e a profundidade da água é normalmente uma incógnita. O tempo
será denotado por t.
A superfície livre é uma função que depende de x e y e varia com o tempo, e sua
equação tem a forma de z = Zs(x,y,t). Ela também pode ser escrita como Ф(x,y,z,t) = 0,
com:

φ ( x, y , z ) = z − Z s ( x, y , t ) (2.2).

Normal à superfície e direcionado no sentido de aumento de z, temos o vetor não


normalizado que indica a direção de máxima variação da função Ф, que aponta no
sentido do crescimento de z.

∂Z s ˆ ∂Z s ˆ ˆ
n s = ∇φ = − i− j + 1k (2.3).
∂x ∂y

De forma análoga podemos expressar o vetor normal ao fundo substituindo Zs


por Zf e com um sinal negativo de forma a apontar para fora do volume de água.

41
Estudo da
d dinâmica daa pluma costeeira da Lagoa dos
d Patos

∂Z f ∂Z f
n f = −∇φ = iˆ + ˆj − 1kˆ (2.4).
∂x ∂y

Figurra 2.2. Domíínio de cálcuulo do modeloo numérico (modificado


( de Hervouett, 2007).

É imporrtante ressaaltar que noo modelo hidrodinâmi


h ico a elevaação do fun
ndo é
funçãão apenas das
d coordenaadas espaciais x e y, diiferentemennte da funçãão de elevaçção da
superrfície livre. Pois, não é consideradda a evoluçãão temporal da forma ddo fundo.

2.2.22. Equaçãão de Navvier-Stokees para su


uperfície livre
l

A equação de conseervação de massa (equ


uação de coontinuidade)) e a equação de
conservação de momento são derivadaas das relaçõ mica dos fluuidos geofísicos,
ões da dinâm
e reppresentadass em um sistema dee coordenaadas cartesiiano. Considerando que
q a

densiidade do fluuido é denootada por ρ, a pressão por p e o vetor


v veloccidade U teem as
compponentes (U
U, V, W), poodemos escrrever as equ
uações do movimento
m em coorden
nadas
carteesianas paraa um escoam
mento incom
mpressível, como:
c

Conservaação da masssa:
∂U ∂V ∂W
+ + =0 (2
2.5a).
∂x ∂y ∂z

Conservaação de quaantidade de movimento


o:

42
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

∂U ∂U ∂U ∂U 1 ∂p
+U +V +W =− + ∇ 2 (νU ) + Fx (2.5b).
∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂x

∂V ∂V ∂V ∂V 1 ∂p
+U +V +W =− + ∇ 2 (νV ) + Fy (2.5c).
∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂y

∂W ∂W ∂W ∂W 1 ∂p
+U +V +W =− − g + ∇ 2 (νW ) + Fz (2.5d).
∂t ∂x ∂y ∂z ρ ∂z

Onde: Fx, Fy e Fz são termos fonte, e v é o coeficiente de viscosidade


cinemática e g é a aceleração da gravidade. Estas equações apresentam quatro
incógnitas (p, U, V e W) sem a formulação de hipóteses para o tratamento da pressão, de
forma que são chamadas de equações de Navier-Stokes não-hidrostáticas.

2.2.3. Condições de contorno

A. Fronteiras superficiais e de fundo

Acompanhando o movimento de um ponto na superfície livre (ver equação 2.2)


a quantidade Ф(x,y,z,t) e sua derivada temporal são nulas, de acordo com hipóteses
Lagrangianas, que significam que a partícula de água na superfície livre permanece no
mesmo ponto conforme o tempo evolui. Se a velocidade de um ponto fixo na superfície
tem as componentes: Us, Vs e W,s então a equação:

dφ ∂Z ∂Z s ∂Z s
= W s − s −U s −V s =0 (2.6).
dt ∂t ∂x ∂y

Ou de forma mais compacta:

∂Z s r s r
− U • ns = 0 (2.7).
∂t
r
Com ns apontando para cima. De forma análoga podemos definir a condição de

contorno para o fundo como:

∂Z f r r
+U f • nf = 0 (2.8).
∂t
r
Onde: o versor n f aponta para baixo.

43
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B. Fronteiras sólidas e contornos líquidos

A condição de contorno utilizada para as velocidades em uma fronteira sólida é


chamada de condição de não-deslizamento, onde o módulo da velocidade decai a zero.
Entretanto, devido aos efeitos da turbulência e a existência de uma condição de
contorno, a velocidade próximo a uma fronteira sólida pode ser diferente de zero e a
condição de não deslizamento é substituída por duas condições mais fracas: a
impermeabilidade e a especificação de uma tensão de cisalhamento tangencial devido à
fricção na fronteira.

Em uma fronteira, a condição de impermeabilidade pode ser escrita com:


r r
U •n = 0 (2.9).
r
∂U
A tensão de cisalhamento tangencial é dada como ρν . Na teoria, esta tensão
∂n
será conhecida se o fluxo na região também for. Contudo na prática, sob certas
condições, esta tensão pode ser estimada pelos modelos de turbulência. Quando a tensão
de cisalhamento é nula, uma condição de deslizamento é aplicada na fronteira sólida.
Em fronteiras abertas (contornos líquidos) é necessário o conhecimento de alguma
variável do problema, como: a pressão, ou a profundidade da água, a velocidade, e
descarga fluvial, etc.

2.2.4. Aproximações utilizadas

A. Aproximação hidrostática

A hipótese de considerar a pressão hidrostática consiste em simplificar a


equação para a velocidade vertical w, de forma que, desprezando a difusão, os termos
fonte e aceleração, obtemos:

∂p
= − ρg (2.10).
∂z

E substituindo ρ por: ρ = − ρ 0 + Δρ temos:

44
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

∂p Δρ
= − ρ 0 g (1 + ) (2.11).
∂z ρ0

Na qual obtemos a expressão para a pressão na elevação z:


ZS
Δρ
p = p atm + ρ 0 g ( Z S − z ) + ρ 0 g ∫ dz ' (2.12).
z
ρ0

De forma que a pressão em um ponto vai depender apenas da pressão


atmosférica na superfície e do peso da coluna de água sobre uma partícula em uma
posição arbitrária da coluna de água.

B. Linearização - Aproximação de Boussinesq

A diferença na densidade Δρ em relação a um valor de referência ρ0 é


supostamente pequena. Isto é dado por uma equação de estado que relaciona a
densidade do fluido ρ0 para a concentração de traçadores transportados na massa de
água, e que influenciam nas equações hidrodinâmicas. A equação de estado tem a
forma:

Δρ
= f (T 1,......., Ti ,......., Tn ) (2.13).
ρ0

Onde: Ti é o iésimo traçador transportado. O aumento na densidade é


proporcional as diferenças na concentração, por um coeficiente de dilatação volumétrica
β i:

Δρ
= −∑ β i (Ti − Ti 0 ) (2.14).
ρ0 i

Onde: βi pode ser positivo (para a temperatura) ou negativo (para salinidade e


sedimentos em suspensão). Ti0 é o valor de referência do traçador i. Desta forma, o
termo do gradiente de pressão nas primeiras duas equações de momento é expandido em
primeira ordem para:

1 ∂ρ 1 Δρ ∂p
− ≈− (1 − ) (2.15).
ρ ∂x ρ0 ρ 0 ∂x

45
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

1 ∂ρ 1 Δρ ∂p
− ≈− (1 − ) (2.16).
ρ ∂y ρ0 ρ 0 ∂y

Podemos substituir (2.15) e (2.16) na equação (2.12), e teremos:

∂ ⎛⎜ s Δρ ' ⎞⎟
Z
1 ∂ρ 1 Δρ ∂p atm Δρ ∂Z s
∂x ⎜⎝ ∫z ρ 0
− ≈− (1 − ) − g (1 − ) −g dz (2.17).
ρ ∂x ρ0 ρ 0 ∂x ρ 0 ∂x ⎟

∂ ⎛⎜ s Δρ ' ⎞⎟
Z
1 ∂ρ 1 Δρ ∂p atm Δρ ∂Z s
∂y ⎜⎝ ∫z ρ 0
− ≈− (1 − ) − g (1 − ) −g dz (2.18).
ρ ∂y ρ0 ρ 0 ∂y ρ 0 ∂y ⎟

Os primeiros termos no lado direito das equações (2.17) e (2.18) indicam o


efeito da pressão atmosférica sobre a pressão da água. Os dois gradientes que podem ser
observados subseqüentemente nas equações acima caracterizam os efeitos de variação
no gradiente de pressão pela elevação da superfície livre (variação barotrópica) e a
variação no gradiente de pressão causada por efeitos de densidade (variação
baroclínica). Os termos associados à inclinação da superfície livre são
incorporados diretamente as equações do movimento, enquanto, os termos associados
ao efeito da densidade são separados como:

∂ ⎛ s Δρ ' ⎞⎟
Z
Δρ ∂Z s
g −g ⎜∫ dz (2.19).
ρ 0 ∂x ∂x ⎜⎝ z ρ 0 ⎟

∂ ⎛ s Δρ ' ⎞⎟
Z
Δρ ∂Z s
g −g ⎜∫ dz (2.20).
ρ 0 ∂y ∂y ⎜⎝ z ρ 0 ⎟

Estes efeitos são somados a influência dos gradientes de pressão barométricos e


incluídos no modelo numérico através dos termos fonte. Considerando então as
hipóteses e convenções adotadas anteriormente, podemos agora obter o conjunto de
equações de Navier-Stokes hidrostáticas:

Conservação de massa:

∂U ∂V ∂W
+ + =0 (2.21a).
∂x ∂y ∂z

46
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Conservação de momento:

∂U ∂U ∂U ∂U ∂Z
+U +V +W = − g s + div (υ ∇U ) + Fx (2.21b).
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x

∂V ∂V ∂V ∂V ∂Z
+U +V +W = − g s + div (υ ∇V ) + Fy (2.21c).
∂t ∂x ∂y ∂z ∂y

Pressão:
Zs
Δρ
p = p atm + ρ 0 g ( Z s − z ) + ρ 0 g ∫ dz ' (2.21d).
z
ρ0

Este conjunto de equações é utilizado pelo modelo hidrodinâmico


TELEMAC3D para o cálculo da profundidade da água e das componentes da
velocidade de corrente em cada ponto do domínio computacional durante cada passo de
tempo. As equações que descrevem o processo de advecção e difusão de traçadores
serão apresentadas na seqüência, de forma a perfazer o conjunto completo de equações
utilizadas pelo modelo hidrodinâmico utilizado neste trabalho.

2.2.5. Traçadores

Qualquer propriedade ou substância presente na água (temperatura, salinidade,


agentes coloridos, sedimentos, etc) é considerada como um traçador. Se o traçador
interage com a hidrodinâmica, ele é considerado como ativo, se não ele é passivo. A
salinidade, temperatura e os sedimentos são considerados como traçadores ativos,
enquanto que os passivos são mais aplicados em estudos de qualidade de água.

Fisicamente, a evolução temporal dos traçadores depende das correntes que


controlam os processos de advecção; dependem dos processos de difusão que são na
maioria das vezes processos turbulentos, e por fim dependem de fontes ou sumidouros
de traçadores.

A equação de traçadores pode ser escrita em três dimensões em sua forma


conservativa como:

47
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

∂ ( ρT ) r r
+ div ( ρTU + q ) = F fonte (2.22).
∂t
r
Onde: o F fonte é a taxa de criação, o q é o fluxo devido à difusão molecular ou
turbulenta como:
r r
q = − ρυ T ∇T (2.23).
Com, νT representando o coeficiente de difusão (molecular ou turbulenta) do
traçador. Se a equação de advecção e difusão for utilizada em sua forma não
conservativa temos:

∂T r r r
+ U∇T = div (υ T ∇T ) + Q (2.24).
∂t

Onde: Q é um termo que representa a presença de uma fonte ou sumidouro de


traçador. Esta equação pode ser escrita na sua forma expandida como:

∂T ∂T ∂T ∂T ∂ ∂T ∂ ∂T ∂ ∂T
+U +V +W = (υ T ) + (υ T ) + (υ T )+Q (2.25).
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂z

As condições de contorno para os traçadores nas paredes são a condição de fluxo


zero:

∂T
υ =0 (2.26).
∂n

∂T r r r
Onde: a notação representa ∇T • n e n é o versor perpendicular apontando
∂n
para fora da fronteira. A condição de fluxo na fronteira pode ser escrita como:

∂T
υ = at T + bt (2.27).
∂n

Onde: at é um coeficiente de fricção na fronteira e bt é um coeficiente linear de


fricção.

48
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

2.2.6. Termos fonte

A. Fricção com o fundo

No fundo, a tensão de cisalhamento atuando no fluido se opõe a velocidade de


corrente e pode ser descrita como:
r
r ∂U
τ = − ρυ (2.28).
∂n

O conhecimento desta tensão de cisalhamento é possível a partir do


conhecimento do comportamento do fluxo. Modelos de turbulência podem fornecer esta
estimativa, baseado no conhecimento da velocidade de corrente próximo ao fundo.
Através de análise dimensional, pode-se obter a seguinte equação para representar a
tensão de cisalhamento como:

r 1 r
τ = − ρC f U 2 + V 2 U (2.29).
2

Onde: as unidades são dadas em kgm-1s-2, e Cf é um coeficiente de fricção


adimensional. Por definição, esta equação para a determinação da tensão de
r
cisalhamento é baseada na hipótese de que U é obtido longe o suficiente da barreira
sólida. De forma que pode ser escrita como:
r
∂U 1 r
υ = C f U 2 + V 2U (2.30).
∂n 2
r
∂U
A tensão υ será obtida na formulação variacional dos termos de difusão em
∂n
elementos finitos. Portanto, qualquer modelo de turbulência irá fornecer uma fórmula
para a estimativa desta tensão baseada no conhecimento da rugosidade do fundo e do
fluxo na vizinhança da barreira. Freqüentemente, os modelos de turbulência fornecem a
expressão para o cisalhamento de velocidade ou o coeficiente de arrasto. Existe uma
série de fórmulas para a estimativa do coeficiente de arrasto que podem ser usadas pelo
modelo TELEMAC3D, dentre elas, vamos apresentar as que serão utilizadas neste
trabalho: as fórmulas de Manning e Nikuradse.

49
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• Fórmula de Manning

2 gm 2
Cf = 1
(2.31).
h 3

Onde: m é o coeficiente de Manning e h é profundidade da água.

• Fórmula de Nikuradse

A partir desta fórmula o coeficiente de Chézy pode ser obtido a partir da


equação

h
Ch = 7.83 ln(12 ) (2.32).
ks

Onde: h é a profundidade da água e ks é o tamanho do grão no fundo. A partir do


conhecimento de Ch, o coeficiente de arrasto é obtido pelo cálculo da equação 2.33.

C f = 2 gCh −2 (2.33).

B. Influência do vento

A influência dos ventos é considerada no modelo como uma condição bi-


dimensional no contorno superficial. A tensão de cisalhamento gerada pelo vento segue
a equação:
r
∂u H ρ ar r r
υ = a vento w w (2.34).
∂n ρ
r
Onde: a densidade do ar ρar = 1.29 kgm-3. u H é a velocidade horizontal na
r r
superfície do domínio, w é a intensidade do vento e w o módulo da mesma. O

coeficiente de influência do vento avento (adimensional) é dado por Flather (1976) como:
r
a vento = 0.565 x10 −3 se w ≤ 5m / s
r r
a vento = (−0.12 + 0.137 w ) x10 −3 se5m / s ≤ w ≤ 19.22m / s (2.35).
r
a vento = 2.513x10 −3 se w ≥ 19.22m / s

É importante ressaltar que a influência do vento é um fenômeno complexo que


depende da rugosidade da superfície livre, da intensidade do vento e da distância da
qual a observação é feita a partir da superfície.

50
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

C. Força de Coriolis e força centrífuga

Estas forças são levadas em consideração pelo fato de a Terra não ser um
referencial inercial. Elas aparecem devido ao movimento de rotação da Terra em torno
de seu próprio eixo, de forma que será somada a equação do movimento em referenciais
inerciais.

Se considerarmos um referencial (ref. A) fixo no centro da Terra e um


referencial (ref. B) em rotação junto com a Terra, onde os eixos Ox e Oy são colocados
no plano do Equador e o eixo Oz ao longo do eixo de rotação, a relação entre as
velocidades expressas nos dois referenciais pode ser escrita como:
r r r r
Va = Vb + ω ∧ ra (2.36).
r r
Onde: ω é a velocidade angular da Terra e ra é o raio da Terra. De forma que
pode ser representa pela derivada total do vetor posição na superfície da Terra como:
r r
⎛ dra ⎞ ⎛ drb ⎞ r r
⎜ ⎟ =⎜ ⎟ + ω ∧ ra (2.37).
⎝ dt ⎠ ref .a ⎝ dt ⎠ ref .b

Derivando no tempo novamente todos os termos da equação, e fazendo uma


r
separação conveniente, temos que a aceleração no referencial em rotação γ b pode ser
escrita como:
r r r r r r r
γ b = γ a − 2ω ∧ V a − ω ∧ (ω ∧ ra ) (2.38).
r
Onde: γ a é a aceleração no referencial inercial. A aceleração de Coriolis é dada
por:
r r
− 2ω ∧ V a (2.39a).

E a aceleração centrifuga é dada por:


r r r
− ω ∧ (ω ∧ ra ) (2.39b).

Em um ponto na superfície da Terra, podemos escolher um sistema de


referências de forma que o vetor de aceleração angular pode ser escrito como função da
latitude λ , e os produtos matriciais denotados por (2.39a) e (2.39b) podem ser

51
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

resolvidos. Por definição, considerando de forma escalar, o coeficiente de Coriolis pode


ser escrito como:

2ω sin( λ ) (2.40).

E a influência da força de Coriolis nas equações de Navier-Stokes é controlada


pelo Número de Rossby:

vel
R0 = (2.41).
2ω sin(λ )l

Onde: vel e l são a velocidade e a escala de comprimento características do fluxo


estudado. A força de Coriolis se torna importante quando R0<<1, típicos em regiões
oceânicas de grande área. A componente vertical da força de Coriolis e os termos
associados à velocidade vertical são desprezados, porém, sua influência pode ser
considerada importante em fluxos oceânicos de meso-escala (Mahadevan et al., 1996),
principalmente em aplicações não-hidrostáticas. A força centrífuga não é incluída nas
equações de Navier-Stokes, pois, é considerado que a superfície livre do fluido em
repouso coincide com uma superfície equipotencial de gravidade aparente, a qual, por
definição já incorpora o efeito da força centrifuga.

D. Trocas de calor

A potência térmica liberada para a atmosfera por unidade de superfície P é


supostamente proporcional a T - Tar onde T é a temperatura da água na superfície e Tar é
a temperatura do ar. Podemos definir através de conceitos de termodinâmica que:

P = A(T − Tar ) (2.42).

Onde: A é o coeficiente de troca de calor em Wm-²°C-1. Portanto, o fluxo de


calor pode ser escrito como:

r r ∂T
Φ = − ρC Pυ T ∇T • n = − ρC Pυ T (2.43).
∂z

Com o coeficiente de difusão de calor na água CP= 4.18 J kg-1°C-1. Pelo


acoplamento das duas equações podemos obter as equações das condições de contorno:

52
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

∂T A
υT =− (T − Tar ) (2.44).
∂z ρC P

O coeficiente A inclui fenômenos como a radiação, convecção do ar em contato


com a água e o calor latente produzido pela evaporação da água. Sweers (1976)
expressa o coeficiente A (Wm-²°C-1) de acordo com a temperatura da água T e a
velocidade do vento w medida no ponto sobre consideração em ms-1, como:

A = ( 4.48 + 0.049T ) + 2021.5b(1 + w)(1.12 + 0.018T + 0.00158T 2 ) (2.45).

O parâmetro b varia de acordo com a localização. Seu valor médio para o


Atlântico é de 0.0025, e seu valor máximo no Mediterrâneo alcança valores de
aproximadamente 0.0035.

E. Termos de flutuabilidade e pressão atmosférica

Os termos do gradiente de pressão atmosférica e os termos de flutuabilidade que


aparecem nos termos do gradiente de pressão são integrados com os termos fonte, de
forma que são relativos aos eixos Ox e Oy:

∂ ⎛⎜ s Δρ ' ⎞⎟
Z
1 Δρ ∂p atm Δ ρ ∂Z s
∂x ⎜⎝ ∫z ρ 0
− (1 − ) + g( ) −g dz (2.46).
ρ0 ρ 0 ∂x ρ 0 ∂x ⎟

∂ ⎛⎜ s Δρ ' ⎞⎟
Z
1 Δρ ∂p atm Δ ρ ∂Z s
∂y ⎜⎝ ∫z ρ 0
− (1 − ) + g( ) −g dz (2.47).
ρ0 ρ 0 ∂y ρ 0 ∂y ⎟

A salinidade é expressa em kg m-3 e a temperatura T em °C. A utilização destes


traçadores possibilita o cálculo de variações na densidade para os termos de
flutuabilidade. O modelo TELEMAC considera algumas possibilidades de cálculo de
densidade no modelo incorporando os efeitos dos traçadores em conjunto ou
separadamente através de equações simplificadas. A densidade pode ser calculada como
função da temperatura, salinidade e concentração de sedimentos em suspensão ou
somente em função de um dos traçadores. Será apresentada apenas a formulação
utilizada neste trabalho.

53
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• Lei de densidade como função da temperatura, salinidade e concentração de


sedimentos em suspensão

As variações no modelo TELEMAC3D são dadas de acordo com a equação


abaixo:

ρ = ρ ref (1 − α T T (T − Tref ) 2 + α s S + α C C ) (2.48a).

α C = ( ρ S − ρ 0 ) /( ρ 0 ρ S ) (2.48b).

Onde: T, S e C são a temperatura, salinidade e concentração de materiais em


suspensão, αT e αS são chamados coeficientes de expansão térmica e contração salina,
respectivamente. ρref e Tref são valores de densidade e temperaturas de referência, ρS é a
densidade do sedimento seco e ρ0 a densidade de referência da água do oceano, de
forma que αC representa um coeficiente de influência dos sedimentos em suspensão. A
temperatura de referência é Tref = 4°C, a densidade de referência da água ρref = 999.972
kgm-3 representa a densidade para esta temperatura com salinidade nula. A densidade do
sedimento seco ρS = 2650 kgm-³ e da água do oceano ρ0 = 1025 kgm-³. É importante
ressaltar que quando não é considerada a concentração de materiais em suspensão (C =
0), a lei de densidade passa a ser influenciada apenas pela salinidade e temperatura.

2.2.7. Modelo da turbulência

O modelo TELEMAC3D permite realizar a modelagem dos processos


turbulentos pela aplicação de diferentes modelos, que são aplicáveis as velocidades e
aos traçadores. Em função do custo computacional associado à aplicação de modelos de
turbulência complexos, neste trabalho foi escolhido o modelo de comprimento de
mistura para jatos de flutuabilidade. Este modelo apresenta uma formulação simples e
foi exclusivamente desenvolvido para a modelagem de plumas de maneira bastante
satisfatória. Este modelo é baseado no modelo de comprimento de mistura proposto por
Prandtl em 1925, porém, com modificações propostas por Rodi (1984) para a estimativa
da escala de comprimento de mistura. Este autor propôs que a escala de comprimento de
mistura deve ser de 8% da meia altura do jato. Esta altura é definida como a distância
entre a elevação do eixo do jato e a posição onde a velocidade não excede 1% do valor
no eixo (Figura 2.3A), dada como o valor δ.

54
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Na prática, para cada posição vertical, a elevação do máximo vetor de


velocidade é determinada primeiramente (elevação do eixo do jato), então as meia
alturas da superfície e do fundo (dsup e dinf). O comprimento de mistura é um ponto
proporcional a meia-altura local. De acordo com Hervouet (2007), a escala de
comprimento de mistura Lm pode ser estimada pela relação:

Lm = 0.2k = 0.082h (2.49).

Onde: k = 0.41, é a chamada de constante de van Karman. Esta relação permite o


cálculo da escala de mistura de maneira continua até a posição em que o jato alcança a
superfície, para jatos planos ou circulares investigados por Rodi (1984). A Figura 2.3B
apresenta um perfil vertical que indica os diferentes estágios de desenvolvimento de um
jato de flutuabilidade. No fundo, o decréscimo linear do comprimento de mistura
permanece inalterado, e muito longe da fonte a escala (dinf) é proporcional a
profundidade.

Figura 2.3. Meia altura do jato (A), diferentes estágios de expansão do jato (B). Modificado de
Hervouet (2007).

2.2.8. Métodos empregados na resolução das equações de Navier


Stokes

Os primeiros modelos numéricos tri-dimensionais para fluxos com superfície


livre datam da década de 70 (Deardoff, 1970). A consideração de assumir a
aproximação de pressão hidrostática (Nihoul e Jamart, 1987) leva a conhecidos modelos
tri-dimensionais de equações de Saint-Venant, como por exemplo, o Princeton Ocean
Model (POM). Existem diferentes modelos que usam as mais diversas técnicas de

55
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

discretização de domínio, de aplicação de condições de contorno, bem como, de


métodos numéricos, para a resolução das equações de Navier-Stokes. A resolução das
equações de Navier-Stokes em elementos finitos usando métodos de passos fracionados
é aplicada ao modelo TELEMAC3D e será descrita abaixo de acordo com Hervouet
(2007).

De acordo com Hervouet (2007), o método de elementos finitos é baseado em


um método de interpolação e um método variacional conhecido como resíduos
ponderados, que tem como objetivo transformar um problema contínuo em um
problema discreto. Segundo este autor, se uma função u é definida pela equação L(u) =
0 em um domínio contínuo Ω, o método de interpolação irá fornecer uma função
aproximada de u construída a partir de um número finito de números reais. Já o método
variacional, irá substituir a equação contínua L(u) = 0, válida em cada ponto de Ω, por
um número finito de equações. De maneira geral, a interpolação discretiza a incógnita e
o princípio variacional discretiza a equação.

A. Método de passos fracionados

O algoritmo base utilizado consiste em três passos fracionados que podem ser
escritos como:
n +1
∂f f − f D + f D − fC + fC − f n
= (2.50).
∂t Δt

Que leva a resolução sucessiva de três passos:

1) O passo de advecção

fC − f n

Δt + termos de advecção = 0 (f = U,V,K, ε ou T) (2.51).

2) O passo de difusão

f D − fC
Δt + termos de difusão = termos fonte (f = U,V,K, ε ou T) (2.52).

Para o traçador T, o termo fonte é devido às fontes ou sumidouros e pode


também conter o termo de produção ou destruição.

56
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

3) O passo de continuidade-pressão
n +1
f − fD
Δt + termos de pressão = 0 (2.53)

Este último passo inclui a resolução da equação de continuidade que ajuda na


dedução da profundidade da água h e da componente vertical da velocidade W. Quando
o modelo TELEMAC3D utiliza o método de passos fracionados, a integração temporal
é obtida pelo método de Euler.

B. Discretização espacial

A discretização espacial utilizada está baseada no método de elementos finitos,


utilizando prismas com seis nós de forma que os lados quadrangulares são verticais. Sua
projeção horizontal bi-dimensional constitui de elementos finitos triangulares com
interpolação linear, de forma que é possível construir uma malha tri-dimensional
duplicando os triângulos no domínio Ω quantas vezes se fizer necessário (Figura 2.4).
Neste sentido o cálculo em duas e/ou três dimensões é possível utilizando a mesma
malha.

Figura 2.4. Malha tri-dimensional obtida pela superposição da malha bi-dimensional de


elementos triangulares (modificado de Hervouet, 2007).

57
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Para construir o domínio prismático tri-dimensional, basta realizar a repetição do


domínio bi-dimensional ao longo da vertical em camadas superpostas (planos). Estes
planos têm elevações variáveis e a condição necessária é que a elevação dos pontos
pertencentes à vertical deve aumentar do fundo para a superfície.

C. Transformação sigma

A superfície livre do modelo evolui com o tempo de forma que as elevações z da


malha 3D variam de um passo de tempo para outro. As variáveis fn+1, fD, fC e fn (f= u, v
ou T) são definidas em diferentes malhas. Contudo é possível executar a mudança das
variáveis, tanto como fixar a malha durante um passo de tempo. A mudança das
variáveis adotada neste trabalho foi a de transformação sigma, a qual consiste em passar
de um sistema de coordenadas vertical z para um sistema z* independente do tempo.

A transformação sigma clássica utilizada neste trabalho é representada pela


relação:

z−Zf
z* = (2.54).
ZS − Z f

Onde: Zf representa a profundidade local medida na malha e ZS a elevação da


superfície livre. Esta transformação é realizada nas equações do movimento e de
concentração de traçadores para que seja feita a troca de um sistema de coordenadas
(x,y,z) para o sistema de coordenadas (x,y,σ), que permite acompanhar os limites
superficiais e de fundo.

Neste trabalho foram utilizados 15 níveis sigma em todas as simulações, sendo


que estes níveis foram distribuídos de forma a fornecer uma melhor resolução das
camadas superficiais e de fundo. A Figura 2.5 mostra uma visão esquemática da
distribuição dos 15 níveis sigma ao longo de uma seção transversal da desembocadura
da Lagoa dos Patos, com os níveis de profundidade em coordenadas verticais (z)
representados pela barra de cores.

58
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 2.5. Distribuição vertical dos níveis sigma utilizada neste estudo. Esta figura mostra
uma seção transversal da desembocadura da Lagoa dos Patos, onde a profundidade é real é
representada pelas cores e os níveis sigma representados pelas linhas.

D. Passo de advecção

O tratamento das equações de transporte aplicadas ao método de elementos


finitos requer a aplicação de alguns métodos específicos e que não dependam da
regularidade da malha. Devido à sua natureza hiperbólica, as derivadas espaciais
presentes nestas equações necessitam de um tratamento adiantado do tempo
(“upwind”). Neste sentido, o primeiro passo na resolução destas equações pelo modelo
TELEMAC3D em uma malha transformada fixa, no caso transformada em coordenadas
sigma, é realizar cálculo da velocidade vertical em cada passo de tempo com base no
resultado do instante anterior. O uso do método de características em uma malha com
este tipo de transformação surge como uma técnica atrativa por não gerar complicações.
Apesar de o modelo TELEMAC3D disponibilizar métodos mais complexos como: o
SUPG (“Streamline Upwind Petrov-Garlekin”) ou esquemas distributivos, neste
trabalho optamos por utilizar o Método de Características.

59
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

E. Método de Características

A principal vantagem do Método de Características é sua estabilidade


incondicional e monotonicidade de soluções. As duas principais desvantagens são sua
natureza difusiva e dificuldade em conservação de massa. Estes problemas são
corrigidos pela aproximação “fraca” onde o método é aplicado utilizando uma estrutura
de elementos finitos estendida ao tempo (Benque et al., 1982; Hervouet, 1986).

Utilizando este método, o campo de advecção é desconhecido no tempo tn+1


antes do fim do passo de tempo. De forma a reduzir o custo computacional, o tempo de
advecção tn é escolhido como fixo. As características são calculadas usando um método
Runge-Kutta de primeira ordem e a interpolação no passo de característica se ajusta ao
tipo de elemento finito escolhido. Maiores detalhes sobre o método e processos
utilizados pelo modelo TELEMAC3D podem ser encontrados em Hervouet (2007). O
Método de Características foi empregado como esquema na solução da advecção de
velocidades neste trabalho.

F. Esquema distributivo MURD + PSI

Os esquemas distributivos que foram primeiramente utilizados em malhas


regulares foram posteriormente adaptados a malhas triangulares (Deconinck et al. 1993;
Paillere, 1995). O esquema MURD (“Multidimensional Upwind Residual
Distribution”) (Janin, 1995) é uma adaptação para o trabalho em prismas de esquemas
PSI (“Positive Steramline Invariant”). De acordo com Hervouet (2007), o esquema
MURD é perfeitamente compatível com a necessidade de conservação requerida para a
análise de traçadores em algumas circunstâncias. Desta forma, este método foi o
empregado como esquema no tratamento da advecção de traçadores neste trabalho.

60
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

G. Passo de difusão

O tratamento dos termos associados à difusão apresenta um caráter parabólico e


as condições de existência e singularidades das soluções para este tipo de problema é
bem documentado por Raviart e Thomas (1983) e Pironneau (1988). Devido à
complexidade de tratar o estágio da difusão em transformadas sigma e as dificuldades
numéricas associadas, este estágio é tratado na malha real. Entretanto, o Jacobiano da
transformação isoparamétrica de um prisma não é constante, de forma, que não se
consegue uma expressão polinomial constante para a interpolação nos elementos. Este
problema é resolvido quebrando um prisma formado pela malha tri-dimensional em três
tetraedros e utilizando interpolação linear. Após o cálculo dos elementos matriciais em
cada tetraedro, eles são reconstituídos. Neste trabalho, o modelo TELEMC3D utilizou o
Método de Características de forma implícita para o cálculo da difusão de velocidades e
traçadores, pois o tratamento explícito da difusão leva a limitações no passo de tempo.
Utilizando o método implícito, não se faz necessária a consideração de passos de tempo
diferentes para os cálculos de processos difusivos que ocorrem na horizontal e vertical.

H. Termos de flutuabilidade, fricção e outras fontes externas

Os termos de flutuabilidade são um dos principais pontos das equações tri-


dimensionais e seu correto tratamento para representar as condições de estratificação
perfazem uma grande dificuldade da modelagem numérica. Os termos são calculados na
malha no instante tn com base nas diferenças de densidade. Estas diferenças são
previamente calculadas através da equação do estado da água do mar, na qual as
concentrações dos traçadores ativos aparecem.

O cálculo do atrito de fundo pode ser obtido através da formulação de Chézy,


que considera um perfil de velocidade integrado verticalmente, ou pela utilização das
fórmulas de Manning e Nikuradse, que permitem a utilização de um fator local de
rugosidade assumindo um perfil logarítmico de velocidade próximo ao fundo.

Considerando que a malha tri-dimensional é obtida através do empilhamento de


prismas o modelo admite que o primeiro plano acima do fundo fique dentro do perfil

61
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

logarítmico de velocidade que é escrito como um fluxo hidráulico não laminar. O


tratamento de outros termos fonte externos como: força de Coriolis, a troca de calor
com atmosfera, a influência dos ventos, etc. são tratados também durante o estágio de
difusão.

I. Passo de pressão-continuidade

Considerando a hipótese de aproximação hidrostática, a integração das equações


da continuidade e da quantidade de movimento ao longo da vertical ajuda a obter
equações similares as equações de Saint-Venant. A integração das componentes da
velocidade é realizada após o passo de advecção e difusão, desta forma, os termos
associados à advecção, difusão, atrito com o fundo ou outros termos fonte, não
aparecem na resolução. Portanto, a resolução das equações de continuidade e da
quantidade de movimento entre os instantes tn e tn+1 permite encontrar a superfície livre
e as velocidades horizontais médias no instante tn+1. A partir disso, o modelo pode
calcular em cada ponto da malha as três componentes da velocidade através da
resolução da equação da continuidade.

2.2.9. A técnica de elementos finitos aplicada ao modelo TELEMAC3D

Na aplicação do método de elementos finitos, a matriz que contém toda a


informação do sistema contínuo a ser modelado (matriz global) é formada pela
contribuição das matrizes formadas pelos elementos (elementos triangulares) que são
expressas como funções de incógnitas em cada um dos pontos dos triângulos. Existem
vários métodos de armazenamento de informações em matrizes de elementos finitos. De
acordo com Hervouet (2007), o modelo TELEMAC3D aplica como padrão o método de
armazenamento EBE (Element-By-Element), que usa performances de arquitetura
computacional vetorial, pois dentro de programas de elementos finitos que usam
métodos iterativos de computação, as matrizes são geralmente multiplicadas por vetores
e o método EBE tende a fazer o produto de maneira mais eficiente.

62
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A resolução de problemas matriciais passa pela solução de um sistema linear que


pode ser feita através de técnicas iterativas e de pré-condicionamento. Supondo que
ZX=Y é o sistema linear a ser resolvido, podemos considerar que Z é uma matriz
resultante da formulação variacional em métodos de elementos finitos que armazena as
informações utilizando a técnica EBE. O método de solução deste tipo de sistema
empregado pelo modelo TELEMAC3D é o método iterativo, que se baseia na
minimização do funcional, e necessita apenas de produtos matriz-vetor e produtos
escalares, entretanto, são sensíveis ao condicionamento (Hervouet, 2007).

O método de escalonamento adotado pelo modelo TELEMAC3D como padrão


neste trabalho é o de gradiente conjugado. De acordo com Hestness e Stiefel (1952), a
idéia por trás do método de gradiente conjugado é distinguir o residual e a direção de
escalonamento, garantindo que cada nova iteração irá levar a um mínimo para qualquer
direção de escalonamento previamente testado, de forma, que a convergência é
garantida se a matriz é simétrica e positivamente definida. O modelo TELEMAC3D usa
como padrão de pré-condicionamento a diagonalização da matriz de forma a otimizar as
técnicas de solução (Hervouet, 2007).

2.2.10. Tratamento numérico das condições de contorno

As condições de contorno utilizadas pelo modelo TELEMAC3D são escolhidas


de acordo com o método empregado na solução das partes advectiva e difusiva das
equações. Neste trabalho, a advecção e a difusão de velocidades e a difusão dos
traçadores foi resolvida utilizando o Método de Características, e neste caso é
empregado um Método Radiativo nas condições de contorno. De acordo com Hervouet
(2007), as condições de contorno radiativas podem ser adaptadas ao Método de
Características sob algumas considerações. As condições locais nas fronteiras que são
estudadas usando a Teoria de Características e Invariantes de Riemann fazem parte dos
desenvolvimentos realizados por Thompson (1987). Na prática, a aproximação
considera que as variáveis (elevação e velocidade) são impostas nas fronteiras abertas.
Caso uma destas variáveis não seja fornecida pelo usuário do modelo, a partir do
conhecimento da primeira, a segunda pode ser calculada usando estas técnicas.

63
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A advecção dos traçadores foi resolvida utilizando o método distributivo MURD


+ PSI e segundo Hervouet (2007), nestes esquemas não se faz necessária a prescrição de
valores nos contornos, pois estes métodos utilizam o valor de um traçador no tempo tn e
garantem sua conservação e monotonicidade. Entretanto, quando se faz necessária a
prescrição de valores de traçadores nos contornos, é empregada a condição de contorno
do tipo Dirichlet.

2.3. O Modelo Morfodinâmico

2.3.1. Formulação e aproximações utilizadas

O modelo de transporte de sedimentos de fundo e em suspensão utilizado neste


trabalho foi o SediMorph, desenvolvido pelo Federal Waterways Engineering and
Research Institute e pelo Institute für Wasserwesen da Universidade das Forças
Armadas de Munique. O SediMorph é um modelo tri-dimensional morfodinâmico e
de transporte de sedimentos fracionados (Malcherek et al., 2005) que tem como
finalidade calcular: a rugosidade do fundo como função do tamanho do grão e sua
forma, a tensão de cisalhamento do fundo como função da rugosidade e intensidade do
fluxo, as taxas de transporte de fundo, taxas de erosão e a evolução da superfície do
fundo. O SediMorph é implementado de forma que possa ser acoplado por diferentes
modelos hidrodinâmicos através de interfaces que usam linguagem FORTRAN90.
O modelo SediMorph foi acoplado ao módulo hidrodinâmico TELEMAC3D,
entre agosto e outubro de 2008, através da interação do grupo de modelagem numérica
do Laboratório de Oceanografia Costeira e Estuarina da IO-FURG com pesquisadores
do grupo de pesquisa da Universidade das Forças Armadas de Munique (Institute für
Wasserwesen). O trabalho foi financiado pelo Projeto UNIVERSAL (processo número:
476696/2007-0) e Projeto DESPORT (processo número 590006/2005-3). Detalhes do
acoplamento entre os modelos são apresentados no apêndice A. Um fluxograma que
ilustra o funcionamento dos modelos é apresentado na Figura 2.6.
No Modelo SediMorph, o fluxo de um ambiente com superfície livre e os
sedimentos do fundo devem ser considerados como um sistema acoplado, pois de uma
maneira geral a superfície do fundo tem certa rugosidade que insere um grau de
cisalhamento no fluxo, e devido a esta tensão de cisalhamento o fluxo pode transferir
momento para os sedimentos do fundo, induzindo o seu movimento. O transporte destes
64
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sedimentos muda a forma do fundo, sua rugosidade, a tensão que é inserida no fluxo e
em longo prazo tende a gerar modificações morfológicas no sistema como um todo.

Figura 2.6. Esquema de funcionamento e troca de informações entre os modelos hidrodinâmico


(TELEMAC3D) e morfodinâmico (SediMorph).

Neste sentido, o modelo morfodinâmico tem como objetivo principal calcular a


evolução do fundo que ocorre como função dos processos associados ao transporte de
sedimentos. Algumas das principais características do modelo são apresentadas abaixo.

A. Evolução do fundo

A equação que descreve a evolução do fundo pode ser escrita como o balanço
total de volume no fundo assumindo a porosidade da camada superior sendo igual a np:

1 (2.55).

Onde: zB=zb(x,y,t) indica a coordenada vertical da camada superior dos


sedimentos, é a taxa de transporte de sedimentos que será apresentada mais adiante,
(dado em kgm-2s-1) representa o fluxo de sedimentos entre a coluna de água e o
fundo, e é a densidade do sedimento seco. O fluxo de sedimentos entre a coluna de
água e o fundo consiste na soma entre o fluxo de erosão e de deposição, dado como:

65
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

(2.56).

B. Grãos e distribuição dos sedimentos

Devido aos processos abrasivos pelos quais os sedimentos passam durante seu
transporte, eles podem adquirir diferentes formas e serem caracterizados de diferentes
maneiras. Uma maneira tradicional de definir o diâmetro d é pela utilização da fórmula
de Stokes, que mede o diâmetro através da velocidade de assentamento wc em uma
coluna de um fluido de densidade conhecida, considerando a densidade do sedimento
como =2650 kgm-³.
O tamanho de uma partícula de sedimento é classificado pelo modelo
SediMorph de acordo com a escala de tamanhos de grão da escala da American
Geophysical Union mostrada na Tabela 2.1. Nesta tabela são destacadas as classes de
sedimentos utilizadas neste trabalho: silte fino, areia fina e areia grossa como
sedimentos de fundo, e silte fino como sedimento em suspensão.

Tabela 2.1. Escalas Udden-Wentworth. As velocidades de deposição são mostradas de acordo


com a formulação de Stokes e uma densidade padrão de 2650 kg/m³.d indica o diâmetro dos
sedimentos e wc a velocidade de deposição de Stokes.
-log2(mm) d(µm) wc(cm/s)
Cascalho >-6 64000-2000
Areia muito grossa >0 2000-1000 20.2
Areia grossa >1 1000-500 5.0
Areia média >2 500-250 1.2
Areia fina >3 250-125 0.3
Areia muito fina >4 125-62 0.07
Silte grosso >5 62-31 0.19.10-1
Silte médio >6 31-16 0.51.10-2
Silte fino >7 16-8 0.11.10-2
Silte muito fino >8 8-4 0.31.10-3
Argila grossa >9 4-2 0.81.10-4
Argila média >10 2-1 0.20.10-4
Argila fina >11 1-0.5 0.50.10-5
Argila muito fina >12 0.5-0.24 0.13.10-5
Colóides <12 <0.24 <0.13.10-5

66
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O modelo trabalha com uma massa de sedimentos no fundo que é distribuída


através de uma gama de classes que representam um conjunto de propriedades do grão.
Estas informações são transmitidas ao modelo através de um arquivo de entrada,
chamado pelo modelo de arquivo de classificação de sedimentos (Sediment
Classification File - SCF). O material que se encontra no fundo consiste de um material
particulado definido por certa distribuição de sedimentos, água e gases. Normalmente
no cálculo da porosidade np, os gases e outros sólidos são desprezados, de forma que
esta grandeza pode ser definida como a fração entre o volume de água VF e do volume
total Vtot = VF+VS.
(2.57).

A porosidade do material do fundo depende da distribuição de tamanhos do grão


e do estado de compressão e consolidação dos sedimentos. Para partículas de
sedimentos de tamanhos uniformes, a porosidade mínima é np = 0.26. Pelo fato de não
ser considerado o efeito de consolidação neste trabalho, o valor constante de 0.26 foi
adotado para a porosidade em todas as simulações.

C. Rugosidade do fundo

A rugosidade do fundo considera os efeitos das irregularidades geométricas no


fluxo junto ao fundo. O coeficiente efetivo de rugosidade do Nikuradse ks descreve o
efeito da estrutura do fundo no fluxo, independentemente do fluxo observado. O modelo
assume que a rugosidade efetiva de fundo é dada pela soma da rugosidade do grão e da
forma do fundo.
(2.58).
A rugosidade do grão resulta da estrutura irregular dos grãos na superfície do
fundo, sendo calculada através da utilização de fórmulas empíricas que dependem de
diferentes parâmetros de distribuição de tamanhos de grão. A determinação deste
parâmetro é obtida considerando um tamanho médio dos grãos dm de acordo com
Malcherek (2001). De forma que resulta em:
3 (2.59).

67
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O coeficiente de rugosidade devido à forma do fundo representa os efeitos


das pequenas ondulações e dunas observadas no fundo. A rugosidade de forma pode ser
calculada como a soma destes dois efeitos, entretanto, neste trabalho o efeito da
formação de dunas no fundo não é considerado. Portanto, a rugosidade pode ser obtida
como:
(2.60).
Onde o coeficiente de rugosidade devido ao efeito das ondulações é calculado
de acordo com Van Rijn (1993).

D. Tensão de cisalhamento do fundo

O modelo SediMorph estima a tensão de cisalhamento do fundo sem levar em


consideração o efeito de ondas geradas pelo vento, utilizando a fórmula apresentada por
Nikuradse (1933) como:

para 0 < ks << h (2.61).

Onde: h’ e ’ são a altura e as velocidades obtidas no primeiro elemento acima


do fundo. ρ é a densidade da água, e k a constante de Van Karman. A fórmula utiliza
ainda o coeficiente de rugosidade efetiva de Nikuradse definido na seção anterior.

E. Capacidade de transporte de sedimentos

A capacidade de transporte de sedimentos representa o fluxo volumétrico de


sedimentos em uma unidade de comprimento, e depende da disponibilidade do mesmo.
As formulações para a capacidade de transporte de sedimentos podem incluir o
transporte de fundo, o transporte em suspensão e o transporte total, incluindo as cargas
de fundo e superfície.
O fluxo de sedimentos é considerado paralelo ao vetor de tensão de
cisalhamento de fundo sendo, portanto, calculado a partir da capacidade de transporte
escalar qs de acordo com:

(2.62).

68
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Quando o vetor de capacidade de transporte de sedimentos de fundo é


conhecido, este é decomposto para diferentes frações. O modelo SediMorph considera
que as diferentes frações são transportadas pela mesma intensidade, enquanto que
fórmulas de capacidade de transporte mais sofisticadas levam em conta as propriedades
das diferentes classes e da distribuição total. A fórmula utilizada neste trabalho foi à
desenvolvida por Hunziker (1995), que distingue entre duas camadas de sedimentos. A
primeira é uma camada superficial de sedimentos que está em contato direto com o
fluido e determina as propriedades do transporte. A camada inferior se localiza logo
abaixo da primeira, sendo influenciada de forma secundária pela ação direta do fluxo. A
fórmula é dada por:
.
5 (2.63).

Onde dD e dU são os tamanhos médios dos grãos das camadas de fundo e


superficiais, respectivamente. pi é a razão de volume da classe de sedimentos i na
camada superior do fundo. A função pesa o excesso da tensão de cisalhamento para
cada fração de sedimentos, comparando o tamanho do grão relativamente ao tamanho
médio observado.
. . .
(2.64).

0.24 1 4
.
0.14 4 10
.
0.04 10 20
.
0.013 20 150
0.055 150
Onde: di indica o diâmetro da iésima fração da distribuição discreta definida no
modelo, dm o diâmetro médio, e a parametrização de Shields para diferentes
parâmetros das partículas D*.

F. Taxa de erosão e fluxos

O fluxo de erosão no modelo SediMorph é calculado de acordo com a


formulação proposta por Partheniades (1965) como:

69
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

1
(2.65).
0

Onde é a taxa de erosão e o é a tensão de cisalhamento crítica. A


formulação assume que o sedimento será erodido quando a tensão de cisalhamento de
fundo for maior que a tensão de cisalhamento critica. A taxa de erosão assim como a
tensão de cisalhamento crítica depende da composição do material do fundo, bem como,
do estado de consolidação do material. Como este último processo não é considerado,
ambos os parâmetros tem que ser definidos pelo usuário em cada classe de grãos. A
tensão de cisalhamento crítica para a ocorrência de erosão é estimada pelo modelo
numérico usando a formulação de Shields e a tensão de cisalhamento de fundo,
calculada de acordo com a intensidade da velocidade de corrente na primeira camada
acima do fundo.
É importante ressaltar que, em um sistema físico real, o que diferencia se um
material será transportado pelo fundo (bed load) ou se será re-suspendido, é justamente
a intensidade da tensão de cisalhamento imposta pelo fluxo. Entretanto, nesta versão do
modelo SediMorph, o modelo considera separadamente materiais que serão
transportados no fundo e materiais que serão transportados em suspensão. Neste caso,
são definidas previamente as classes de sedimentos que são considerados para o
transporte de fundo e a classe de sedimentos considerada para o transporte em
suspensão. Somente esta última sofre efeitos de erosão e deposição.

G. Transporte de sedimentos em suspensão

O transporte de sedimentos em suspensão, bem como o fluxo de deposição de


sedimentos, é calculado pelo modelo TELEMAC3D, sendo posteriormente
transferidos para o modelo SediMorph. Os sedimentos em suspensão são
considerados como um terceiro traçador ativo do sistema modelado, e a equação de
transporte utilizada para o cálculo é a mesma apresentada na seção 2.2.5.

70
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

H. Velocidade de deposição

A velocidade de deposição de sedimentos em suspensão utilizada pelo modelo


TELEMAC3D neste trabalho incorpora os efeitos da turbulência e da concentração para
a deposição dos sedimentos. Este efeito é importante, pois os gradientes de velocidade
observados são importantes para a formação de flocos devido ao aumento do número de
colisões entre as partículas de sedimento, enquanto, o aumento dos movimentos
turbulentos contribui para a quebra dos flocos.
A equação utilizada para o cálculo da velocidade de deposição levando em conta
o efeito turbulento para a deposição de sedimentos segue a teoria de Van Leussen
(1994), que considera que a velocidade Wc depende do gradiente de velocidade absoluto
G. Este parâmetro é relacionado à taxa de dissipação , que exerce um papel
significativo na quebra de flocos de sedimentos. A equação é apresentada como:
(2.66a).

(2.66b).

Onde: k1 e m1 são constantes empíricas, C a concentração de sedimentos ao


longo da coluna de água, a é o coeficiente relativo à floculação e b é o coeficiente
relativo à destruição do floco, v é o coeficiente de viscosidade turbulenta. Os valores de
a = 0.3 e b = 0.09 que são utilizados neste estudo foram obtidos por Van Leussen (1994)
para a deposição de lama do rio Erms em experimentos de colunas de deposição.
A influência da concentração de sedimentos para a intensidade da velocidade de
deposição foi considerada em primeira ordem (m = 1), de maneira similar ao estudo
feito por Malcherek (1995) modelando a zona de turbidez máxima no estuário do
Weser, na Alemanha. O coeficiente k1 foi obtido através de testes nos exercícios de
calibração, devido à ausência de observações de campo.

I. Fluxos de deposição

O fluxo de deposição é baseado na formulação definida por Krone (1962) e


Parteniades (1965) como:

1
(2.67).
0

71
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Onde: C é a concentração de sedimentos na camada de fundo, τb é a tensão de


cisalhamento de fundo e τcd é a tensão de cisalhamento critica para a deposição de
sedimentos. De acordo com Malcherek et al. (2005), em modelos tri-dimensionais, o
valor de τcd deve ser ajustado para valores muito altos, ou mesmo ser desconsiderado,
pois o balanço entre os processos turbulentos junto ao fundo e o assentamento dos
sedimentos é modelado explicitamente. Nestes modelos é considerado que os perfis de
velocidade assumem valor zero na camada de fundo, onde a concentração de
sedimentos é diferente de zero. A escala de variação da tensão de cisalhamento crítica
τcd para a deposição de sedimentos é dependente de muitas variáveis: como o tipo, forma
ou tamanho dos sedimentos, e o grau de estratificação da coluna de água e da própria
intensidade e estrutura da turbulência do fluxo junto ao fundo.
Uma análise de experimentos com uma aproximação global para uma classe de
sedimentos, baseado na formulação de Krone e Partheniades mostrou tensões criticas de
deposição bem maiores que as tensões críticas de erosão (Gananoui et al. 2004) no rio
Rhone e plataforma continental adjacente (Golfo de Lion e Mar Mediterrâneo).
Krishnappan e Marsalek (2002) também observaram este mesmo comportamento
analisando a floculação e o transporte de sedimentos coesivos em uma lagoa de
detenção de águas pluviais. Como não foi possível determinar uma tensão critica de
deposição correta, Gananoui et al. (2004) não utilizaram este parâmetro na formulação
do fluxo de deposição. É também notável que para τb > τcd, a taxa de deposição de
sedimentos não é nula, mas nem todo o sedimento irá depositar, de forma que uma parte
permaneceria em suspensão.
Metha (1988) introduziu um valor de tensão crítica de cisalhamento de fundo
considerado alto (τcd = 1.5 Nm-²) onde segundo seus resultados, durante a ocorrência de
tensões desta ordem ou maiores junto ao fundo, os efeitos turbulentos seriam capazes de
manter os sedimentos em suspensão completa. Neste sentido, em função de não se
conhecer valores observados para a região de estudo e devido às simplificações no
tratamento da turbulência neste estudo, optamos por usar o valor de tensão crítica
introduzido por Metha (1988).

72
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

2.3.2. Funcionamento do modelo SediMorph e métodos empregados


para a simulação da evolução do fundo

O SediMorph utiliza um arquivo de classificação de sedimentos, onde as


diferentes classes são definidas, sendo caracterizados o diâmetro e a densidade de cada
classe de sedimentos. Através deste arquivo, é gerada uma grade tridimensional de
fundo, que consiste da mesma malha bi-dimensional triangular e não-estruturada do
TELEMAC3D com diversos níveis na vertical, perfazendo assim uma malha tri-
dimensional de volumes finitos. A fração volumétrica de cada classe de sedimentos
especificada no arquivo de classificação é definida para cada elemento da malha. A
estrutura da malha tri-dimensional utilizada pelo SediMorph é apresentada na Figura
2.7.
A camada de interface é onde ocorrem os fluxos de erosão e deposição, cada
camada vertical pode apresentar uma distribuição sedimentar diferente e a camada
rígida é o limite vertical da malha, onde não podem mais ocorrer processos erosivos.
Todas as informações sobre a composição granulométrica do fundo são passadas ao
SediMorph em cada um dos diferentes pontos (nós) da malha. Estes valores são
interpolados para o centro do polígono definido pelo conjunto de nós adjacentes
utilizando métodos de interpolação pelo vizinho mais próximo, de forma a definir as
características sedimentares do polígono.

Figura 2.7. Estrutura da malha de volumes finitos do SediMorph (adaptado de Malcherek et al.
2005).
Posteriormente, uma malha prismática da composição de sedimentos contidos no
fundo é montada por camadas horizontais discretizadas na direção vertical, e o volume

73
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

de cada célula é então definido pela soma dos sedimentos e volume de água presentes
em cada estrutura. A estrutura tri-dimensional considerada pelo modelo SediMorph
junto ao fundo leva à necessidade de consideração do conceito de camada de troca. Esta
camada é definida como a camada mais superficial, que sofre a influência da circulação
do fundo, e tem a espessura aproximada de cinco vezes o máximo diâmetro encontrado
na classe de sedimentos utilizada na camada.
Entretanto, neste estudo foi considerada uma camada vertical apenas, não
levando em conta as diferentes variações nas camadas de sedimentos depositadas ao
longo do tempo em uma região. Esta escolha foi baseada em uma série de fatores:
primeiramente, as medidas de estrutura vertical de sedimentos ao longo de toda a região
de estudo são muito localizadas, não cobrindo de maneira ampla toda a área investigada.
Um segundo ponto é o fato de que como não existe um modelo de consolidação
implementado para trabalhar em conjunto com o TELEMAC3D + SediMorph, a
consideração de uma estrutura vertical de sedimentos não traria informações relevantes
para o estudo, visto que, o que mantém uma estrutura vertical de sedimentos e suas
propriedades em um meio real, são justamente as diferentes porosidades e viscosidades,
associadas ao processo de consolidação destes sedimentos.
Um terceiro ponto é que um dos objetivos do estudo é verificar as condições que
geram o padrão de sedimentação da zona costeira, e como neste trabalho somente uma
classe de sedimentos em suspensão é considerada, a utilização de uma camada vertical,
poupa tempo computacional e fornece um resultado adequado ao objetivo proposto.
O modelo SediMorph considera que sedimentos que são transportados pelo
fundo sofrem apenas efeitos de rolamento, deslizamento e salto, enquanto que os
sedimentos que são transportados em suspensão pelo modelo hidrodinâmico sofrem
apenas efeitos de deposição e re-suspensão. Porém, a altura do fundo pode ser
modificada como um efeito acumulativo devido ao transporte de fundo e aos efeitos de
deposição ou erosão de sedimentos. A mudança do fundo pelo transporte de fundo é
descrita pela soma entre a variação local do fundo e o divergente da taxa de transporte
de sedimentos, a qual tem seu resultado somado diretamente ao balanço entre o fluxo de
massa depositado e erodido (equação 2.55).
Segundo Malcherek et al. (2005), o algoritmo utilizado para resolver esta
equação é baseado em aproximação de volumes finitos. Seguindo esta técnica, a
equação de evolução de fundo para uma classe de sedimentos específica é integrada
sobre o volume de um polígono definido, usando fórmula de Gauss para a integração da

74
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

divergência, a formulação de Euler para o cálculo da variação local e uma discretização


temporal explicita para os outros termos (Malcherek et al. 2005). Isto implica que o
esquema é baseado no critério de Courant, que relaciona a velocidade de advecção das
formas de fundo com a distância entre dois centros de polígonos (Malcherek et al.,
2005). O método de volumes finitos é baseado na resolução de balanços de massa,
energia e quantidade de movimento em um determinado volume de um meio contínuo.
Este método evoluiu das diferenças finitas, porém, não apresenta problemas de
instabilidade ou convergência por garantir que em cada volume discretizado, a
propriedade em questão obedece à Lei de Conservação.
As condições de contorno e os métodos aplicados ao tratamento dos sedimentos
em suspensão seguem o mesmo procedimento descrito anteriormente para o tratamento
de traçadores ativos no modelo TELEMAC3D, visto que a dinâmica destes sedimentos
e sua prescrição são realizadas diretamente no modelo hidrodinâmico. Por outro lado, o
modelo SediMorph considera um campo inicial de sedimentos de fundo que são
distribuídos através do transporte de fundo para outras regiões do domínio sem
considerar condições de contorno, apenas levando em conta critérios de conservação de
massa e energia para fazer à re-distribuição destes sedimentos.
O acoplamento entre os modelos TELEMAC3D e SediMorph foi realizado por
uma série de questões associadas: a parceria entre projetos, ao tempo computacional e a
capacidade de utilização e implementação de futuros sub-modelos dentro da estrutura
hidrodinâmica + morfodinâmica. Primeiramente, o acoplamento entre os modelos foi
assumido como uma necessidade do projeto “Desenvolvimento de Estratégias para o
Manejo Sustentável dos Portos Brasileiros (DESPORT)”. Entretanto, o seu uso neste
trabalho se deveu, em específico, ao fato de o acoplamento entre estes modelos
proporcionar um menor custo computacional para a obtenção dos resultados necessários
ao estudo. Além disso, o modelo SediMorph pode ser facilmente acoplado a outros
módulos que já existem ou serão desenvolvidos no futuro, podendo trabalhar em
conjunto com o sistema hidrodinâmico + morfodinâmico (TELEMAC3D +
SediMorph). Como exemplo, pode ser citado um módulo de consolidação de
sedimentos coesivos no fundo, que será desenvolvido e incorporado ao código em uma
fase futura do trabalho. Ou mesmo, a utilização de um módulo de estimativa de volume
de dragagem e efeitos associados ao despejo, que já existe, e está em fase de negociação
para a utilização na FURG.

75
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

2.4. Estratégia utilizada na calibração do TELEMAC3D

O modelo hidrodinâmico foi calibrado com a utilização de dados observados de


elevação do nível do mar, velocidade de corrente e salinidade, de acordo com a sua
disponibilidade. Estes dados foram fornecidos pelo Laboratório de Oceanografia
Costeira e Estuarina da IO-FURG. Séries temporais de elevação do nível do mar e
intensidade e direção de corrente foram coletadas com um ADCP (Acoustic Doppler
Current Profiler) na Estação dos Práticos da Barra, localizada na região estuarina da
Lagoa dos Patos. Dados de velocidade de corrente foram ainda obtidos com um ADCP
nas regiões do Parcel do Carpinteiro e do Navio Altair, na zona costeira adjacente.

Tabela 2.2. A tabela indica o tipo de dado, sua posição em graus, período e ano de coleta.
Dados em azul foram utilizados para a calibração do modelo, dados em verde, laranja e cinza
foram utilizados para a validação do modelo.
Medida Latitude Longitude Período Ano Posição
Elevação do 32.1367ºS 52.1027ºW 29/abril – 31 maio 2004 Praticagem
nível do mar
Velocidade 32.1367ºS 52.1027ºW 29/abril – 31 maio 2004 Praticagem
Velocidade 32.4196°S 52.2052ºW 22/outubro – 30/novembro 2006 Navio Altair
Elevação do 32.1367ºS 52.1027ºW 22/outubro – 30/novembro 2006 Praticagem
nível do mar
Velocidade 32.1367ºS 52.1027ºW 22/outubro – 30/novembro 2006 Praticagem
Velocidade 32.2481ºS 51.7522ºW 29/agosto – 23 setembro 2008 Parcel do Carpinteiro
Elevação do 32.1367ºS 52.1027ºW 29/agosto – 23 setembro 2008 Praticagem
nível do mar
Velocidade 32.1367ºS 52.1027ºW 29/agosto – 23 setembro 2008 Praticagem
Salinidade 32.3072ºS 52.0981ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.4091°S 52.1119ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.5280°S 52.1236ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.6416°S 52.1333ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.5852ºS 52.2222ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.5077ºS 52.2008ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.4222ºS 52.2000ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.3444ºS 52.1999ºW 26/outubro 1998 Zona costeira
Salinidade 32.2100ºS 52.0609ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.2566ºS 51.9691ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.4168ºS 51.6070ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.4896ºS 51.4597ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.5831ºS 51.2628ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.8140ºS 50.8072ºW 09/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.2561ºS 51.9733ºW 11/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.4150ºS 51.6073ºW 11/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.4887ºS 51.4596ºW 11/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.6156ºS 51.1932ºW 11/outubro 2007 Zona costeira
Salinidade 32.8140ºS 50.8072ºW 11/outubro 2007 Zona costeira

Foram utilizados também dados de salinidade obtidos por perfiladores verticais


CTD (Condutivvity-Temperature-Depth Profilers) no Navio Comandante Varella e no

76
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Navio Oceanográfico Atlântico Sul. A Tabela 2.2 contém as informações a respeito da


localização geográfica, período e ano em que foram feitas as medições. A Figura 2.8
apresenta a localização das estações de medidas.

Figura 2.8. Posição dos dados utilizados na calibração do modelo hidrodinâmico. O ponto P1
indica a estação da Praticagem de Rio Grande, os pontos A1 – A6 indicam a posição dos perfis
do projeto Amazônia Azul do dia 09/outubro/2007 e os pontos A11 – A55 indicam os perfis do
dia 11/outubro/2007. O ponto C1 indica a posição dos dados do Parcel do Carpinteiro e o
ponto N1 os dados do Navio Altair. Os pontos V1 – V8 indicam as posições dos perfis obtidos
pelo Navio Comandante Varella.

2.5. Estratégia utilizada na calibração do modelo


TELEMAC3D + SediMorph

Em virtude da falta de dados observacionais disponíveis para a calibração de


experimentos numéricos que considerem o transporte de sedimentos em suspensão na
zona costeira do Sul do Brasil, neste trabalho foi adotada uma metodologia alternativa
para a calibração e validação de resultados de material em suspensão simulado pelo
modelo numérico. A idéia é baseada nos trabalhos de Miller e McKee (2004) e Miller et
al. (2005), que utilizaram dados de sensoriamento remoto para estudar o transporte de

77
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sedimentos em suspensão na região do Golfo do México e Lago Pontchartrain,


respectivamente.
A estratégia adotada foi a de utilizar algumas imagens de um sensor remoto
orbital e medidas diretas de material em suspensão para a construção de um algoritmo
regional que explicasse a concentração do material em suspensão como função da
reflectância calibrada do sensor. A partir do conhecimento da relação entre as variáveis,
seria possível realizar experimentos numéricos, obtendo a concentração de material em
suspensão calculada, e comparar seus resultados com a concentração de material em
suspensão obtida pelo algoritmo regional em uma imagem de satélite do mesmo dia.
O sensor remoto utilizado foi o MODIS-Aqua (Moderate-resolution Imaging
Spectroradiometer) em função da disponibilidade gratuita dos dados, moderada
resolução espacial e alta resolução temporal obtida para a região de estudo. As imagens
foram solicitadas na página da Agência Espacial Americana (http://laad.gsfc.nasa.gov/)
e foram processadas com o auxilio do software SeaDAS (SeaWiFS Data Analysis
System), disponível gratuitamente no endereço (http://oceancolor.gsfc.nasa.gov/seadas/).
As imagens foram processadas desde o nível 1A até a obtenção de produtos com
resolução espacial interpolada de 250 m.
Para a análise da distribuição espacial da pluma de sedimentos da Lagoa dos
Patos e construção do algoritmo que relacionou o material em suspensão com a
reflectância captada pelo sensor, foi utilizada a reflectância emergente da superfície do
mar, centrada no comprimento de onda 667 nm (Rrs 667). De acordo com Li et al.
(2003), este comprimento pertence à faixa espectral de energia que apresenta grande
sensibilidade à turbidez em águas costeiras de 0.4 a 0.7 µm e pode ser perfeitamente
utilizado para o mapeamento do material em suspensão. Foram testados vários
comprimentos de onda e verificado que o comprimento de onda centrado em 667 nm é o
que melhor representou a pluma de material em suspensão da Lagoa dos Patos (Moraes,
2008). Miller e McKee (2004), em estudos realizados no norte do Golfo do México,
utilizaram o comprimento de onda de 620nm a 670nm para estimar o material em
suspensão em vários ambientes, afirmando que estudos com o sensor MODIS nesse
comprimento de onda forneciam bons resultados.
Para o desenvolvimento do polinômio, foram realizadas coletas de material em
suspensão nos anos de 2006, 2007 e 2008. Durante os anos de 2006 e parte de 2007, os
dados foram retirados dos relatórios anuais do Programa de Monitoramento do Porto do
Rio Grande, de acordo com o local onde foi coletado o material (interior da pluma) e a

78
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

presença de imagens para a análise (Tabela 2.3). As coletas de material em suspensão


feitas em 2007 e 2008 tiveram como objetivo complementar as informações necessárias
para formular o polinômio para a região em estudo, e contaram com o apoio da
Praticagem da Barra de Rio Grande (Tabela 2.3).
O material em suspensão foi processado pelo Laboratório de Oceanografia
Geológica, e pelo Laboratório de Hidroquímica, ambos da IO-FURG, e a concentração
foi determinada através de gravimetria de volatilização, onde um volume conhecido de
amostra passa por um filtro pré-pesado de 0,45 µm e após secagem, o filtro contendo o
material retido é repesado. O método é adaptado de Strickland e Parsons (1972), com as
modificações citadas por Sharp (1974) e Bodungen et al. (1991), e proposto por
Baumgarten et al. (1996). As coletas aconteciam sempre no período da tarde, de acordo
com as condições climatológicas do dia e disponibilidade da lancha da Praticagem.
Com as imagens já processadas e o comprimento de onda já definido, foi
desenvolvido um polinômio correlacionando o material em suspensão (kgm-³) com a
reflectância emergente (sr-1) captada pelo sensor (Tabela 2.3). Este polinômio foi obtido
através de análises de regressão com base no método de mínimos quadrados (Emery e
Thompson, 1998) para estimar a melhor relação entre as variáveis analisadas. De acordo
com Emery e Thompson (1998), o método de mínimos quadrados pode ser usado para
encontrar uma relação polinomial de uma variável randômica Var (variável dependente)
como função de variáveis não randômicas xn (variáveis independentes) como:

x b b x … b x Є (2.68).

Onde: n é a ordem do ajuste polinomial e b0, b1,..bn são os coeficientes do ajuste.


De acordo com Triola (2005), um intervalo de confiança e o erro padrão da estimativa
foram obtidos de forma a melhorar a estimativa da concentração de material em
suspensão e comparar com os resultados obtidos pelo modelo numérico. Foi obtido um
polinômio de primeira ordem em função do pequeno número de observações
disponíveis (Figura 2.9), pois o aumento na ordem do polinômio causou problemas de
estabilidade na conversão de imagens em períodos anômalos aos observados durante as
medidas.

79
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 2.3. Coleta dos dados de material total em suspensão (TSM).


DATA LATITUDE LONGITUDE REFLECTÂNCIA(Sr-1) TSM (kgm-3)
27/04/06 -32,20318 -52,05421 0,00322 0.02021
27/04/06 -32,23781 -51,96776 0,00507 0.02180
23/02/07 32,23720 52,07600 0,00253 0.01210
23/02/07 32,42000 52,20613 0,00201 0.02080
23/02/07 32,41950 52,20522 0,00201 0.01120
20/03/07 -32,19371 -52,06418 0,00482 0.01763
20/03/07 -32,20195 -52,05131 0,00475 0.01490
17/04/07 -32,18710 -52,07175 0,00552 0.01700
17/04/07 -32,18908 -52,07246 0,00552 0.02040
17/04/07 -32,18793 -52,06938 0,00528 0.01360
17/04/07 -32,17856 -51,94530 0,00126 0.01120
12/07/07 -32,18936 -52,07445 0,01796 0.04360
12/07/07 -32,19003 -52,06726 0,01831 0.06200
12/07/07 -32,19216 -52,06281 0,01843 0.06200
12/07/07 -32,18708 -52,04208 0,01843 0.04300
12/07/07 -32,16688 -51,94913 0,01375 0.03540
25/06/08 -32,20116 -52,05330 0,01316 0.03880
25/06/08 -32,19700 -52,06100 0,01346 0.05280
06/07/08 -32,20116 -52,05330 0,01304 0.04120
06/07/08 -32,19700 -52,06100 0,01340 0.03560
06/07/08 -32,19200 -52,06858 0,01382 0.02225
09/07/08 -32,18830 -52,03610 0,00501 0.01640
16/07/08 -32,19686 -52,06100 0,00514 0.00820
16/07/08 -32,19200 -52,06858 0,00514 0.00880
17/07/08 -32,22131 -52,03648 0,00320 0.03240
17/07/08 -32,20888 -52,05005 0,00435 0.01300
06/08/08 -32,19200 -52,06858 0,01359 0.05040
13/08/08 -32,20116 -52,05190 0,00934 0.01620
13/08/08 -32,19670 -52,06035 0,00969 0.02020

Figura 2.9. Diagrama de dispersão entre as medidas de material em suspensão (MS) e


reflectância calibrada do sensor (REF) da Tabela 2.3. O modelo polinomial de primeira ordem
é apresentado pela linha preta, às linhas vermelhas indicam o erro calculado e a equação
obtida e que será utilizada para transformar as imagens em mapas de concentração aparece na
base inferior da figura.

80
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Na calibração da concentração do material em suspensão, foram utilizadas 3


imagens de diferentes dias do ano de 2002 que foram transformadas em imagens de
concentração de material em suspensão e comparadas qualitativamente e
quantitativamente com os resultados do modelo numérico. Para a validação do modelo,
foi utilizado um conjunto de 5 imagens para os anos de 2003 e 2005, de forma a
verificar a qualidade dos parâmetros utilizados na calibração do modelo. As datas das
imagens são apresentadas na Tabela 2.4.

Tabela 2.4. Tabela indicativa dos períodos e número de imagens do sensor MODIS utilizadas
para a calibração e validação do modelo numérico.

Teste Dia e mês Ano


Calibração 14/ julho 2002
Calibração 16/julho 2002
Calibração 29/julho 2002
Validação 11/ maio 2003
Validação 14/ maio 2003
Validação 28/ maio 2005
Validação 31/ maio 2005
Validação 08/ junho 2005

2.6. Métodos de análise dos resultados

2.6.1. Análise de variabilidade espacial e temporal da pluma costeira

A análise da variabilidade espacial e temporal da salinidade em regiões distintas


do domínio de estudo foi investigada através da análise de EOF (Empirical Orthogonal
Function), a qual fornece uma descrição compacta da variabilidade espacial e temporal
das séries de dados em termos de modos estatísticos. De acordo com Emery e
Thompson (1998), a maior parte da variância das séries distribuídas espacialmente pode
ser observada nos primeiros poucos modos estatísticos. O padrão de variabilidade
temporal das EOF’s foi obtido através da análise espectral cruzada das séries temporais
dos coeficientes de expansão com o espectro de energia da descarga fluvial e das
principais componentes do vento.
As análises de espectro energético deste trabalho foram realizadas pela
utilização da análise de ondaletas (wavelets). As ondaletas são funções capazes de
decompor e descrever outras funções no domínio da freqüência de forma a podermos
analisar estas funções em diferentes escalas de freqüência e de tempo, simultaneamente.

81
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

As análises foram aplicadas aos dados usando adaptações do método de ondaletas


descritos por Torrence e Compo (1997) e Morettin (2004), onde informações detalhadas
podem ser encontradas.
Para análise dos processos de curta escala associados à influência dos ventos
foram utilizadas ondaletas do tipo Morlet, enquanto, para a investigação dos processos
sazonais associados à influência da descarga fluvial foi escolhido a ondaleta tipo chapéu
Mexicano (DOG =2). De acordo com Torrence e Compo (1997), as ondaletas tipo
chapéu mexicano apresentam cones de influência menos estreitos, permitindo a análise
de processos de mais longo período.
A quantificação dos processos de troca foi realizada pela estimativa de volumes
de água e massa de material em suspensão exportado para a zona costeira adjacente.
Estas informações foram obtidas pela integração do fluxo de água ou massa normal a
uma seção vertical localizada exatamente na desembocadura da Lagoa dos Patos. Foi
realizada a integração dos fluxos em cada elemento de área, definido pelas dimensões
entre cada nível vertical e seus respectivos comprimentos ao longo da seção,
considerando os fluxos de entrada e saída em cada instante.

2.6.2. Análise dinâmica e esquema de classificação de plumas

A quantificação dos principais fatores que controlam a dinâmica da pluma


costeira da Lagoa dos Patos foi realizada pela aplicação do método dinâmico proposto
por Garvine (1995), que classifica as plumas de acordo com a aplicação do número de
Kelvin (K), que representa a relação entre a largura da pluma e o raio baroclínico de
Rossby, além de outros parâmetros. De acordo com Garvine (1995), as equações do
movimento são utilizadas na forma integrada na vertical de forma que uma análise de
escala das mesmas se torna representativa para o estudo de plumas persistentes com
pouca variabilidade local. Neste sentido, o método é perfeitamente aplicável a análises
de processos com escalas temporais maiores que uma semana.
A Figura 2.10 mostra o sistema de coordenadas utilizado, onde o eixo ao longo
da costa é representado pelo x, localmente curvado para seguir a linha de costa, e o eixo
y é transversal a linha de costa. A profundidade local da pluma é definida por H, e nos
casos onde a massa de água é perfeitamente misturada, H é igual a profundidade da
coluna de água. As componentes da velocidade na direção x e y são chamadas de u e v.

82
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 2.10. Esboço para as escalas de uma pluma (A) considerando um sistema de
coordenadas ao longo da costa (x) e transversal a costa (y). A linha pontilhada demonstra a
zona de frente definida pela diferença de densidade ρ0-Δ ρ. A água costeira tem uma densidade
típica ρ0. U é a velocidade típica ao longo da costa, L a escala de comprimento ao longo da
costa e γL a escala típica transversal a costa, onde γ representa a espessura da pluma. Seção
vertical típica (B) de uma pluma com profundidade h transversalmente a desembocadura do
rio. Figura modificada de Garvine (1995).

De acordo com Garvine (1995), as equações do movimento integradas na


vertical e com a variabilidade temporal desprezada podem ser escritas como:

(2.69a).

(2.69b).

Onde: ƒc indica o parâmetro de Coriolis, p a pressão, ρ0 a densidade média das


águas costeiras, τW a tensão de cisalhamento do vento, τB a tensão de cisalhamento de
fundo, e H a profundidade típica da massa de água. Devido ao fato da flutuabilidade ser
a forçante principal no sistema, a parte baroclínica do gradiente de pressão médio na
vertical é apresentada na seguinte forma:

~ (2.70).

Onde: c é a velocidade de fase das ondas internas baseado na diferença média de


densidade Δρ entre a pluma e as águas costeiras. Após a realização de uma análise de
escala, Garvine (1995) reescreve as equações do movimento na forma de símbolos que
representam a advecção (Ad), o efeito de Coriolis (Cr), a pressão (Pr), a tensão de
cisalhamento do vento (W) e do fundo (B) para as direções x e y como:

83
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

(2.71a).
(2.71b).
Ou, definindo na forma de parâmetros, como:

1 (2.72a).

1 (2.72b).

Onde K, conhecido como número de Kelvin, representa a razão entre a escala


transversal a costa e o raio baroclínico de Rossby.
(2.73).
/

F é conhecido como número de Froude, e representa a relação entre a inércia do


fluxo do rio e a gravidade (flutuabilidade).
(2.74).

A tensão de cisalhamento do vento é considerada como:


/
(2.75).

Onde VE representa o transporte de Ekman escalonado para a coluna de água. No


mesmo sentido, a tensão de cisalhamento de fundo é representada por:
(2.76).

Onde: r representa o coeficiente de fricção com o fundo. Aliado ao método


dinâmico desenvolvido por Gravine (1995) foi empregado um esquema de classificação
proposto por Chao (1988a). Este método considera a relação entre o número de Froude
e a taxa de dissipação da pluma introduzida na plataforma continental para definir as
plumas entre subcríticas e supercríticas. O parâmetro que mede a taxa de dissipação da
pluma é definido pela razão entre a velocidade de fase de ondas internas, obtidas a partir
do primeiro modo baroclínico, na desembocadura do estuário e na região de giro da
pluma, onde ocorre a máxima propagação transversalmente a costa.

2.6.3. Análise da evolução dos processos de mistura e estratificação

A análise dos processos que controlam a mistura da pluma da Lagoa dos Patos
foi realizada pelo uso da equação de anomalia de energia potencial. Partindo do
pressuposto que a anomalia de energia potencial é a quantidade de energia necessária

84
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

para transformar uma massa de água estratificada em uma massa de água bem
misturada, alterando assim a posição do centro de massa deste corpo de água.
A equação de anomalia de energia potencial é apropriada para a análise de
resultados de modelos numéricos tri-dimensionais ou observações de campo. de Boer et
al. (2008) derivaram esta equação usando a equação de advecção-difusão de médias de
Reynolds para a densidade com fontes e sumidouros e obtiveram:

′ ′

′ ′ ′ ′
′ ′ ′ ′
| | (2.77a).

Com:
(2.77b).

Onde: é a anomalia de energia potencial; t, x, y, z representa o tempo e as


coordenadas de posição, respectivamente; ρ, u, v, w representa a densidade e as
componentes da velocidade, respectivamente; , , representa os valores integrados
verticalmente; , , representa os desvios com relação aos valores médios; H é a
profundidade da água; g é a aceleração da gravidade; η é a elevação da superfície livre.
′ ′ ′ ′ ′ ′
Aqui, , , são os fluxos turbulentos de massa nas direções x, y e z.
Informações detalhadas sobre os cálculos podem ser encontrados em Simpson et al.
(1990), de Boer et al. (2008), e Burchard e Hofmeister (2008).
Neste trabalho, os processos com escalas temporais mais curtas que um dia não
foram investigados. Então, todos os termos turbulentos foram desprezados.
Considerando as simplificações, a equação se reduz a:

(2.78).

Os símbolos foram definidos para representar cada termo de forma a simplificar


a referência ao longo do trabalho. Considerando a mesma ordem definida na equação
2.78, cada termo é nomeado com uma letra e um índice indicando sua posição na
equação como:

(2.79a).

(2.79b).
(2.79c).

85
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Onde, SUMT representa a soma de termos dentro da integral (de Sx a Wz).


Estudos anteriores mostraram que estes termos são os mais importantes no controle das
modificações na estratificação de sistemas reais (Burchard e Hofmeister, 2008; de Boer
et al., 2008). AS representa a soma dos termos de deformação e advecção.
A equação 2.79a representa a variação local da anomalia de energia potencial no
lado esquerdo. No lado direito:
• Sx e Sy: representam a deformação do campo de densidade transversalmente a ao
longo da costa.

• Ax e Ay: são referentes à advecção de uma estrutura vertical por uma corrente
integrada na vertical transversalmente e ao longo da costa.

• Nx e Ny: representam a interação não linear entre as flutuações de densidade e da


velocidade na vertical, transversalmente e ao longo da costa.

• Cx e Cy: são os termos de dispersão médios na vertical, transversalmente e ao longo


da costa. Estes termos representam os termos Nx e Ny integrados na vertical.

• Wz: é relacionado aos processos de ressurgência e subsidência.

• BH e Bη: são apresentados devido às mudanças na profundidade da água e na


elevação da superfície.

Similarmente a de Boer et al. (2008), dois métodos de análise foram adotados de


forma a quantificar a influência dos processos. O primeiro é a análise de covariância

entre um termo arbitrário α da equação 2.79a e a anomalia de energia potencial

calculada como:

, ∑ (2.80a).

∑ (2.80b).

Onde: α representa um termo na equação (2.79a), i é um contador de passos de


tempo e n número de passos de tempo. O segundo método é a análise direta da série
temporal em pontos selecionados ao longo da plataforma continental interna do Sul do
Brasil. O primeiro método permite verificar espacialmente os mais importantes termos
que controlam os processos de mistura durante todo o período de estudo, enquanto, o
segundo método permite investigar a variabilidade temporal dos termos mais

86
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

importantes, verificando sua importância durante a evolução temporal. Os resultados


obtidos com o modelo numérico foram utilizados para acessar a variabilidade espacial e
temporal da anomalia de energia potencial da pluma da Lagoa dos Patos através destas
analises.

2.7. Limitações do estudo

A utilização de modelos numéricos permite a investigação de processos em


escalas espaciais e/ou temporais tão amplas ou detalhadas quanto o necessário.
Entretanto, diversas limitações são associadas à aplicação da técnica de modelagem
numérica, como:

• A falta de conhecimento de todos os processos físicos envolvidos no problema


analisado, ou mesmo, pela maneira idealizada de se representar alguns processos em
um modelo numérico, como a utilização de parametrizações para considerar: a
influência dos ventos, do arrasto com o fundo e fronteiras laterais, as trocas de calor,
e mesmo, a representação dos processos turbulentos de pequenas escalas.
• A incapacidade de se incluir todos os processos físicos relevantes a análise do
problema como, por exemplo, as simplificações necessárias para a utilização das
equações de Navier-Stokes em sua forma hidrostática e para fluidos
incompressíveis, que funcionam de maneira adequada, mas, ignoram efeitos que
nem sempre são desprezíveis.
• Outro problema está associado à variedade de escalas temporais e espaciais
envolvidas no problema. Nos estudos de modelagem numérica é muito comum a
escolha de parâmetros que são adequados a representação de processos em escalas
distintas, mas que podem não funcionar de maneira geral. Por exemplo, modelos de
turbulência de comprimento de mistura são mais simplificados e representam bem a
influência dos processos turbulentos em escalas de tempo mais longas. Certamente,
estes modelos não são adequados para as análises de processos em curtas escalas de
tempo.
• Os erros associados ao truncamento dos modelos, ou mesmo, os erros nos dados de
entrada, qua acabam induzindo a propagação de erros que serão observados nos
resultados finais.

87
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO
3.1. Geração da grade batimétrica

As simulações numéricas realizadas neste estudo estão baseadas no cenário que


considera a utilização de dados batimétricos obtidos de cartas históricas e algumas
medições no canal de acesso ao Porto de Rio Grande feitas anteriormente ao ano de
2009. Tendo em vista o início das atividades junto ao curso de pós-graduação no ano de
2006, simulações que considerem o cenário atual de configuração morfológica e
batimétrica do canal de acesso, o qual foi definido a partir do ano de 2009, não foram
consideradas neste estudo.

3.2. Dados Batimétricos

A qualidade dos resultados calculados pelo modelo está diretamente relacionada


com a qualidade dos dados batimétricos utilizados para a geração da grade do modelo.
De forma a obter a melhor representação possível das características batimétricas da
Lagoa dos Patos, seu estuário e a região costeira adjacente, foi necessário combinar
dados batimétricos de diferentes fontes.

Para a região estuarina, foram utilizados dados batimétricos extraídos das


seguintes cartas náuticas da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) (Figura 3.1):

• N° 2101: Costa Sul – Porto do Rio Grande;

• N° 2102: Lagoa dos Patos – São José do Norte ao Canal da Setia;

• N° 2103: Lagoa dos Patos – Barra do Canal São Gonçalo às Porteiras;

• N° 2106: Lagoa dos Patos – Saco do Rincão e Proximidades;

• N° 2112: Lagoa dos Patos – Rio Grande à ponta da Feitoria.

88
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.1. Pontos batimétricos da região estuarina extraídos das cartas náuticas da DHN.

De forma a atualizar as informações batimétricas para o baixo estuário da Lagoa


dos Patos, os dados batimétricos da região do canal de acesso ao Porto de Rio Grande
foram substituídos por dados de um levantamento feito no primeiro semestre de 2006
pela Superintendência do Porto de Rio Grande (SUPRG) (Figura 3.2).

Figura 3.2. Dados batimétricos do canal de acesso ao Porto de Rio Grande coletados no
primeiro semestre 2006.

89
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A batimetria da Lagoa dos Patos foi representada através dos dados da carta
náutica 2140 (Figura 3.3).

Figura 3.3. Pontos batimétricos da Lagoa dos Patos extraídos da carta 2140.

Para a zona costeira, a batimetria foi representada através das seguintes cartas
náuticas da DHN (Figura 3.4A):

• D0031: Rio Grande-RS ao Rio da Prata

• D0090: Paranaguá ao Rio da Prata

• D1900: Florianópolis a Torres

• D2000: Torres a Mostardas

• D2200: Mostardas ao Chuí

• D2210: Santa Vitória do Palmar ao Chuí

Os dados das cartas batimétricas na região costeira foram complementados com


um levantamento batimétrico realizado pela Marinha do Brasil como parte do projeto
Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) (Figura 3.4B).

90
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.4. Dados das cartas náuticas da DHN (A) e dados do levantamento feito pela Marinha
do Brasil (B).

3.3. Domínio numérico

De forma a garantir uma boa representação das características batimétricas e


morfológicas na grade do modelo, é fundamental a utilização de grades batimétricas

91
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

não-estruturadas (com elementos triangulares). Este tipo de grade otimiza a simulação,


permitindo representar com resolução adequada morfologias complexas, como por
exemplo, a região de conexão entre a Lagoa dos Patos e a zona costeira adjacente.

A grade batimétrica produzida para este trabalho (Figura 3.5) se estende entre as
latitudes de 28° S (Florianópolis-SC) a 36° S (Punta Del Este – Uruguai) e as longitudes
de 45° W e 54° W, atingindo profundidades superiores a 3700 m.

Figura 3.5. Grade batimétrica utilizada para a modelagem hidrodinâmica (A), detalhe do baixo
estuário (B) e da região do Porto Novo (C).

92
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A grade batimétrica apresentada na Figura 3.5 possui um total de 8974 nós para
os quais as equações são resolvidas. A Figura 3.6 apresenta a representação batimétrica
produzida pela grade da Figura 3.5.

Figura 3.6. Representação batimétrica produzida pela malha.

3.4. Condições iniciais e de contorno

3.4.1. Condições iniciais e de contorno utilizadas para a calibração,


validação e estudo de caso do modelo hidrodinâmico

De forma a assegurar a qualidade dos resultados produzidos pelo modelo, foi


realizado um teste de calibração, para o ano de 2004, e quatro testes de validação, para
93
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

os anos de 1998, 2006, 2007 e 2008. Em todos estes testes foram prescritas condições
iniciais e de contorno semelhantes.
Campos de salinidade, temperatura são utilizadas para inicializar o modelo
TELEMAC3D. Estes dados foram obtidos do projeto OCCAM (Ocean Circulation and
Climate Advanced Modeling Project - http://www.soc.soton.ac.uk/), e prescritos de
forma tri-dimensional em todo o domínio. Um nível de água de 0.5 m, valor
aproximado da média de maré na região, e um campo de velocidades iniciais nulas
foram prescritos em todo o domínio numérico como condições iniciais em todas as
simulações.
A figura 3.7 mostra como exemplo, os campos de salinidade e temperatura no
nível superficial do modelo de forma a ilustrar a estrutura termohalina típica da região
de estudo. Podemos observar uma língua de baixa salinidade junto à costa,
representando a influência da descarga do Rio da Prata, e um núcleo de salinidade mais
baixa embebida nesta massa de água, representando a pluma da Lagoa dos Patos (Figura
3.7A). Com relação ao campo de temperaturas, podemos observar a influência da
corrente do Brasil sobre a plataforma continental com maiores temperaturas (Figura
3.7B) e a intrusão de águas de temperatura menor provenientes do sul.

Figura 3.7. Campos de salinidade (A) e temperatura (B) utilizados como condição inicial na
camada superficial do modelo (janeiro de 1998).

Entretanto, os dados do projeto OCCAM cobrem o período entre 1984 e 2004,


deixando uma lacuna para as condições iniciais necessárias aos testes de validação dos
anos de 2006 e 2008. De forma a contornar este problema, foram calculadas médias de
salinidade e temperatura para 10 anos (entre 1994 e 2004), de forma a obter um campo
climatológico de condições iniciais e de contorno para o modelo numérico.

94
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Além de condições iniciais pré-definidas, o modelo numérico necessita de


condições de contorno para possibilitar o cálculo das variáveis. O modelo
TELEMAC3D considera dois tipos de contorno. O primeiro são os contornos líquidos,
onde podem ser prescritas oscilações, fontes de momento ou de descarga fluvial (como
por exemplo, a desembocadura de rios ou as fronteiras oceânicas). Os contornos
líquidos utilizados neste trabalho são as fronteiras continentais do Rio Guaíba, do Rio
Camaquã e do Canal São Gonçalo, onde são prescritas séries temporais de descarga
fluvial. E a fronteira oceânica, onde é prescrita a maré, os níveis de água em baixa
freqüência, velocidades de correntes, salinidade e temperatura. O segundo tipo são os
contornos superficiais, onde podem ser prescritas ondas de superfície, ventos ou campos
de escalares. No contorno superficial deste trabalho foram prescritos dados de vento
dinâmico e temperatura do ar de forma a simular as trocas de calor com a atmosfera.
As séries temporais de descarga prescritas nas fronteiras continentais do rio
Guaíba e do rio Camaquã foram extraídas da página da Agência Nacional de Águas
(www.ana.gov.br/, ANA). Os dados foram obtidos para estações fluviométricas nestes
rios na forma de medidas diárias, e interpolados linearmente para cada passo de tempo
do modelo. Os dados de descarga do Canal São Gonçalo foram considerados constantes
em 760 m³s-1 (Viegas e Franz, 2006) em função de não se ter séries temporais
disponíveis.
A Figura 3.8 mostra os dados de descarga fluvial utilizados nas simulações
numéricas de calibração, validação e estudo de caso do modelo hidrodinâmico. As
séries de descarga dos rios Guaíba e Camaquã para os testes de calibração de 2004 e
1998 são apresentadas nas Figuras 3.8A e 3.8B. A descarga do rio Guaíba para o teste
de calibração de ano de 2004 é composta apenas pelo rio Jacuí devido à ausência de
informações para o rio Taquari no mesmo período. Para o ano de 2006, apenas os
dados de descarga fluvial do rio Guaíba (Figura 3.8C) estavam disponíveis, neste
sentido a descarga do rio Camaquã foi simulada com sua média anual de 307 m³s-1 de
acordo com Vaz (2003).
A série de descarga dos anos de 1998 e 1999, utilizadas para o estudo de caso
são apresentadas na Figura 3.8D, refletindo a influência do evento de El Niño Oscilação
Sul sobre a região durante o ano de 1998, e mostrando um padrão próximo do normal
esperado para a região no ano de 1999. Para os testes de validação dos anos de 2007 e
2008 foram utilizadas as médias anuais para a descarga dos rios em função de não se ter

95
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

medidas disponíveis. Um valor médio de 2000 m³s-1 foi utilizado para os rios Jacuí e
Taquari (Marques, 2005; Marques e Möller, 2009), e o mesmo valor médio para o
Camaquã, de 307 m³s-1, obtido por Vaz (2003) foi utilizado. Um resumo dos dados de
descarga utilizados na calibração e validação da hidrodinâmica, e no estudo de caso
hidrodinâmico e morfodinâmico é apresentado na Tabela 3.1.

Tabela 3.1. Dados de descarga utilizados nas simulações hidrodinâmicas.


SIMULAÇÃO Período dos dados de descarga fluvial

Calibração 1 de Abril a 31 de Maio de 2004

Validação 01 de setembro a 30 de outubro de 1998

Validação 01 de outubro a 30 de novembro de 2006

Estudo de caso 01 de janeiro de 1998 e 19 de novembro de 1999.

Figura 3.8. Séries temporais de descarga fluvial do Rio Guaíba (Rios Jacui + Taquari) e Rio
Camaquã. Para o teste de calibração de 1 de Abril a 31 de Maio de 2004(A), para o teste de
validação de 01 de setembro a 30 de outubro de 1998 (B), para o teste de validação de 01 de
outubro a 30 de novembro de 2006 (C), e para o estudo de caso realizado entre 01 de janeiro
de 1998 e 19 de novembro de 1999 (D).

96
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Na fronteira oceânica do domínio foram prescritos dados de amplitude e fase das


cinco principais componentes de maré da região, calculadas pelo Grenoble Model
FES95.2 (Finite Element Solution – v.95.6). A Figura 3.9 apresenta a amplitude e a fase
das cinco principais componentes (K1, M2, N2, O1 e S2) da região para facilitar a
visualização. As oscilações de maré foram representadas como uma soma de funções
cossenoidais calculadas para cada ponto da fronteira oceânica em cada passo de tempo
da simulação numérica.
Devido às dimensões do domínio considerado, as variações espaciais do vento
não podem ser desprezadas. Dados de vento para a região foram extraídos da página do
National Oceanic & Atmospheric Administration (NOAA), disponíveis no site
www.cdc.noaa.gov/cdc/reanalysis/reanalysis.shtml, com resolução temporal de 24
horas. Estes dados foram interpolados usando um método de interpolação cúbica, para a
grade de elementos finitos e prescritos em cada ponto do domínio. A fronteira
superficial do modelo foi forçada também por processos de troca de calor com a
atmosfera através da utilização de dados de temperatura do ar junto à superfície do
oceano. Estes dados foram obtidos através da página virtual da NOAA sendo
preparados de maneira similar aos dados de ventos antes de serem incorporados ao
modelo numérico. A posição onde são prescritos os contornos oceânicos é mostrada na
Figura 3.10.

Figura 3.9. Amplitudes (A) e fases (B) das principais componentes da maré como função da
latitude na fronteira oceânica do domínio.

Com o objetivo de inserir no modelo a influência dos efeitos remotos do vento; a


variabilidade temporal das correntes costeiras observadas na plataforma continental;

97
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

bem como, a influência da circulação dirigida por gradientes de densidade ao longo da


plataforma continental do Sul do Brasil, o contorno oceânico externo foi forçado ainda
com variações de nível em baixa freqüência (variações médias de 30 dias). Os contornos
oceânicos transversais a região costeira foram forçados com variações de velocidade de
corrente em baixa freqüência (variações médias de 30 dias) e todos os contornos
oceânicos foram forçados com variações de salinidade e temperatura em baixa
freqüência (variações médias de 30 dias).
As variações médias mensais de nível do mar, velocidade de corrente,
salinidade e temperatura utilizados para forçar o modelo foram obtidos do projeto
OCCAM (http://www.noc.soton.ac.uk/), e para os anos de 2006 e 2008, foi utilizado o
mesmo procedimento de cálculo de médias de longo período, entre os anos de 1994 e
2004, explicado anteriormente.

Figura 3.10. Contornos líquidos e superficiais considerados nos exercícios de calibração,


validação e estudo de caso. Também são apresentados pontos de onde foram extraídas séries
temporais de temperatura e salinidade (T1, T2 e S1, S2), velocidade de corrente (V1,V2) e
níveis de água (L1,L2) prescritas como condições de contorno de baixa freqüência.

Os contornos oceânicos considerados neste estudo são apresentados na Figura


3.10, indicando o tipo de dado prescrito. A variação mensal dos níveis de água foi

98
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

prescrita pela soma direta as variações de nível causadas pela maré, e a imposição de
variações temporais de velocidade de corrente, salinidade e temperatura, ao longo dos
contornos, foi feita pela imposição em cada ponto do domínio e para todas as camadas
(níveis verticais) do modelo. São apresentadas, como exemplos, séries temporais de
nível de água (Figura 3.11A) e intensidade da velocidade de corrente (Figura 3.11B)
prescrita como condições de contorno na camada superficial do modelo, em dois
diferentes pontos ao longo da fronteira oceânica (ver Figura 3.10), utilizados na
simulação de estudo de caso.

Figura 3.11. Contornos líquidos e superficiais considerados para o estudo de caso do modelo
para os pontos L1, L2 (elevação do nível do mar) (A), V1 e V2 (intensidade da velocidade de
corrente) (B) apresentados na figura 3.10.

Nestas séries temporais podemos observar as variações em escala mensal, e


principalmente a variação anual dos níveis de água e intensidade de corrente impostas
nas simulações numéricas. A variabilidade sazonal e anual da salinidade e temperatura
impostas para representar a influência indireta da descarga do Rio da Prata e das
correntes de contorno oeste ao longo da plataforma continental do Sul do Brasil pode
ser observada na Figura 3.12A e Figura 3.12B, respectivamente.

99
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.12. Contornos líquidos e superficiais considerados para o estudo de caso do modelo
para os pontos T1 e T2 (temperatura e salinidade) apresentados na figura 3.10.

3.4.2. Condições iniciais e de contorno utilizadas para a calibração,


validação e estudo de caso do modelo hidrodinâmico + morfodinâmico

As condições iniciais e de contorno utilizadas na calibração e validação do


modelo TELEMAC3D + SediMorph foram as mesmas aplicadas à calibração e
validação do modelo TELEMAC3D explicadas na seção anterior. Entretanto, foram
realizadas simulações de calibração e validação para períodos diferentes, nos anos de
2002, 2003 e 2005. As séries temporais de descarga prescritas nas fronteiras
continentais do rio Guaíba e do rio Camaquã foram extraídas da página da Agência
Nacional de Águas (www.ana.gov.br/, ANA). Para o Canal São Gonçalo foi novamente
considerada a média de 760 m³s-1 (Viegas e Frans, 2006). A Figura 3.13 mostra os
dados de descarga fluvial utilizados nas simulações numéricas de validação e de estudo

100
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

de caso do modelo. A Tabela 3.2 apresenta um resumo dos dados de descarga utilizados
para os testes de calibração e validação do modelo hidrodinâmico e morfodinâmico.

Tabela 3.2. Dados de descarga utilizados nas simulações hidrodinâmicas


SIMULAÇÃO Período dos dados de descarga fluvial

Calibração 1 de Junho a 31 de Julho de 2002

Validação 01 de Abril a 31 de Maio de 2003

Validação 01 de Abril a 15 de Junho de 2005

Figura 3.13. Séries temporais de descarga fluvial do rio Guaíba (rios Jacui + Taquari) e rio
Camaquã. Para os testes de calibração de 1 de junho a 31 de julho de 2002 (A), para o
primeiro teste de validação de 01 de abril a 31 de maio de 2003 (B), e para o segundo teste de
validação de 01 de abril a 15 de junho de 2005 (C).

A concentração de material em suspensão inicial foi considerada nula ao longo


de todo o domínio. Foram consideradas também condições de contorno para as
concentrações de material em suspensão junto aos contornos líquidos continentais, onde
é prescrita a descarga dos rios. Devido à ausência de séries temporais observadas de

101
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

concentração de material em suspensão, foram testadas duas estratégias: 1) prescrever


valores constantes; 2) utilizar uma relação polinomial obtida por Le Normant (2000)
através de observações de descarga fluvial e concentração de materiais em suspensão
para o estuário Loire, França, entre maio de 1981 e agosto de 1982. A relação obtida por
esta autora é descrita como:

1 log 2 (3.1).

Onde: C representa a concentração de material em suspensão em kg m-3 e Qf


representa a descarga fluvial em m³ s-1. Os coeficientes Coef1 e Coef2 foram testados e
no trabalho de Le Normant (2000) valiam 0.040 e 0.080, respectivamente. Durante os
testes de calibração, diferentes valores constantes de concentração de material em
suspensão, além de diferentes coeficientes para a equação 3.1 foram testados, de forma
a produzir a melhor correlação entre as plumas simuladas junto à desembocadura da
Lagoa dos Patos e as plumas obtidas pelas imagens do sensor remoto MODIS.

Figura 3.14. Condição inicial de silte fino (A), areia fina (B), areia grossa (C) e areia fina
oceânica (D).

102
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Foram prescritas condições iniciais de distribuição de sedimentos no fundo para


a utilização do modelo morfodinâmico (Figura 3.14) de acordo com medidas realizadas
entre 1975 e 1979 (Toldo Jr., 1994). As classes de sedimentos prescritas são distribuídas
em silte fino, areia fina e areia grossa na região lagunar e estuarina da Lagoa dos Patos.
A maior parte dos dados foi obtida na região estuarina da Lagoa dos Patos e a
distribuição de sedimentos para a região lagunar é baseada no estudo de Toldo Jr.
(1994).

No fundo da região costeira foram utilizados sedimentos com diâmetros de areia


fina em toda a área (Figura 3.14). Não foram utilizadas condições de contorno para os
sedimentos de fundo, de forma que, não foi considerada a presença de fontes ou
sumidouros destes materiais no interior ou nos contornos do domínio. Neste sentido,
todo o material inicializado no fundo do modelo poderia ser remobilizado para outras
regiões do domínio utilizando princípios de distributividade e conservação, não sendo
exportado para fora do mesmo. Para o material em suspensão foram consideradas
condições de contorno, onde a desembocadura dos rios foi tratada como fonte, e os
contornos oceânicos foram mantidos livres, podendo atuar como sumidouros.

3.5. Calibração do módulo hidrodinâmico

3.5.1. Calibração do módulo hidrodinâmico – Período de 01 de abril a


31 de maio de 2004

Testes de calibração vêm sendo realizados com o modelo TELEMAC para a


região de estudo (Lagoa dos Patos e zona costeira) onde são testados coeficientes físicos
de rugosidade do fundo e influência do vento. Fernandes et al., (2001; 2005; 2007) e
Monteiro et al. (2006) apresentaram a calibração do modelo TELEMAC para o estuário
da Lagoa dos Patos nas versões bi- e tri-dimensional.

Nesta secção será apresentado na forma de tabelas o resultado de vinte e seis


testes de calibração, onde um parâmetro proposto por Sutherland (2001) foi utilizado
para fazer a estimativa da reproducibilidade do modelo para a região do baixo estuário
da Lagoa dos Patos e zona costeira adjacente. Este método calcula o erro quadrático
médio (Root Mean Squared Error - RMSE) entre as observações e os valores calculados
pelo modelo. Um parâmetro que indica o erro relativo médio (Relative Mean Absolute

103
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Error – RMAE) entre as medidas e os resutlados calculados pelo modelo, também


proposto por Sutherland (2001), foi utilizado para quantificar a qualidade dos resultados
encontrados no melhor teste de calibração e nos testes de validação do modelo
hidrodinâmico. A tabela 3.3 mostra a escala de coeficientes que indicam a qualidade dos
resultados de acordo com o método de RMAE.

Tabela 3.3. Coeficientes indicativos da qualidade dos resultados encontrados com o modelo
numérico com relação às observações de acordo com o método de RMAE.
Qualidade dos resultados Coeficiente
Excelente < 0.2
Boa 0.2 - 0.4
Razoável 0.4 – 0.7
Pobre 0.7 – 1.0
Ruim > 1.0

O exercício de calibração foi realizado de acordo com a disponibilidade de um


conjunto de dados de elevação do nível do mar e velocidade de corrente para um
período entre abril e maio de 2004. Conforme explicado na seção anterior, o modelo foi
inicializado do repouso com condições reais de salinidade e temperatura, obtidas do
Projeto OCCAM. Os primeiros 28 dias de simulação foram usados como
“aquecimento” do modelo, de forma a estabilizar as condições hidrodinâmicas. Os
resultados obtidos entre 29 de abril e 31 de maio de 2004 foram utilizados para
comparação com dados de campo. Os principais parâmetros físicos utilizados na
simulação de calibração do modelo são apresentados na Tabela 3.4.

Tabela 3.4. Parâmetros utilizados na calibração do modelo.

Passo de tempo 90 s
Coeficiente de Coriolis -7.70 x 10-5 N m-1 s-1
Modelo de turbulência horizontal Smagorinsky
Modelo de turbulência vertical Mixing length (Jet)
Lei de fricção de fundo Manning e Nikuradse

No exercício de calibração foram testadas duas leis de fricção de fundo


(Nikuradse e Manning), dois valores de coeficiente de influência do vento, a escala do
comprimento de mistura do modelo de turbulência vertical e diferentes coeficientes de

104
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

rugosidade espacialmente constantes. A idéia principal nestes exercícios de calibração


foi de estabelecer uma parametrização ideal para a utilização do modelo.
As séries temporais de elevação do nível do mar e velocidade de corrente, a 1m
e 10m de profundidade, calculadas pelo modelo entre 29 de abril e 31 e maio foram
comparadas com observações obtidas na Estação da Praticagem de Rio Grande. Para
facilitar a comparação entre dados observados e calculados, um filtro de janela de
Lanczos foi utilizado para remover as oscilações de alta freqüência (períodos menores
que 24 h) das séries. A Tabela 3.5 mostra as diferentes combinações de parâmetros
testadas.
Foram realizados vinte e seis testes, e para cada teste foi calculado o RMSE para
indicar a capacidade do modelo em reproduzir as observações de campo. A Tabela 3.6
mostra os coeficientes calculados para cada teste realizado. O parâmetro RMSE, que dá
a idéia da magnitude do módulo do erro do modelo, indicou que a elevação do nível do
mar apresenta erros em módulo que variam entre 0.10 e 0.23 m. Para as velocidades de
superfície, o erro varia entre 0.36 e 0.44 m s-1. A reprodução das velocidades de fundo é
mais acurada, com erros variando entre 0.30 e 0.42 m s-1.
Os testes 3, 4, 11, 12, 13 e 14 apresentaram problemas para a obtenção de
convergência. No modelo TELEMAC3D, estes problemas se refletem em um elevado
número de iterações necessárias para que haja a convergência, devido à combinação de
pequenos coeficientes de rugosidade e altos coeficientes de influência do vento, ou vice
versa. Portanto, testes que apresentaram problemas com o número de iterações foram
desprezados.
Os testes apresentaram resultados bastante similares, com pequenos erros
associados à elevação do nível do mar calculada e os maiores erros associados às
velocidades de superfície. Portanto, o critério de seleção dos melhores parâmetros
envolveu a análise dos coeficientes RMSE e a análise do numero de iterações numéricas
associada à escolha destes parâmetros, visto que seriam utilizados posteriormente em
simulações de diferentes períodos com condições ambientais totalmente diversas.

105
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 3.5. Parâmetros testados na calibração do modelo. O teste considerado como mais
estável e de boa precisão aparece marcado em azul.
LEI DE ESCALA COEFICIENTEDO
TESTES FRICÇÃO COEFICIENTE FUNDO (m) VENTO
TESTE1 Manning 0.04 - 5 1,00E-05
TESTE2 Manning 0.04 - 10 1,00E-05
TESTE3 Manning 0.02 - 5 1,00E-05
TESTE4 Manning 0.02 - 10 1,00E-05
TESTE5 Manning 0.03 - 5 1,00E-05
TESTE6 Manning 0.03 - 10 1,00E-05
TESTE7 Manning 0.04 - 5 5,00E-06
TESTE8 Manning 0.04 - 10 5,00E-06
TESTE9 Manning 0.03 - 5 5,00E-06
TESTE10 Manning 0.03 - 10 5,00E-06
TESTE11 Manning 0.04 - 5 1,00E-06
TESTE12 Manning 0.04 - 10 1,00E-06
TESTE13 Manning 0.03 - 5 1,00E-06
TESTE14 Manning 0.03 - 10 1,00E-06
cascalho
TESTE15 Nikuradse 0.008 médio 5 5,00E-06
cascalho
TESTE16 Nikuradse 0.008 médio 10 5,00E-06
TESTE17 Nikuradse 0.001 areia grossa 5 5,00E-06
TESTE18 Nikuradse 0.001 areia grossa 10 5,00E-06
cascalho
TESTE19 Nikuradse 0.004 fino 5 5,00E-06
cascalho
TESTE20 Nikuradse 0.004 fino 10 5,00E-06
TESTE21 Nikuradse 0.00025 areia fina 5 5,00E-06
TESTE22 Nikuradse 0.00025 areia fina 10 5,00E-06
TESTE23 Nikuradse 0.000031 silte médio 5 5,00E-06
TESTE24 Nikuradse 0.000031 silte médio 10 5,00E-06
TESTE25 Nikuradse 0.0000010 argila fina 5 5,00E-06
TESTE26 Nikuradse 0.0000010 argila fina 10 5,00E-06

Segundo a análise dos resultados, o teste 2 apresentou coeficientes RMSE


razoavelmente baixos com um baixo número de iterações para a solução do passo de
difusão do modelo. Neste sentido, este foi escolhido como o conjunto de parâmetros
ideal para o estudo. A Figura 3.15 mostra as séries temporais de elevação do nível do
mar e velocidades de superfície e fundo observadas (preto) e calculadas pelo modelo
(vermelho). A série de elevação em baixa freqüência (Figura 3.15A) indica que o
modelo reproduz bem as flutuações sub-mareais, porém, entre 150 e 250 horas de
simulação, o resultado calculado pelo modelo é subestimado e mostra algum atraso de
fase.

106
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 3.6. Testes de calibração e valores do parâmetro RMSE. O resultado do RMSE para o
teste considerado como a melhor reprodução aparece marcado em azul.
VELOCIDADE
TESTES NÍVEL BAIXA NÍVEL ALTA SUPERFÍCIE VELOCIDADE FUNDO
TESTE1 0,2275 0,0990 0,3723 0,3061
TESTE2 0,2263 0,0989 0,3654 0,2959
TESTE3 - - - -
TESTE4 - - - -
TESTE5 0,2239 0,0989 0,3973 0,3129
TESTE6 0,2239 0,0989 0,3973 0,3062
TESTE7 0,2101 0,0977 0,3438 0,2992
TESTE8 0,2098 0,0958 0,3438 0,2992
TESTE9 0,2049 0,0976 0,3360 0,2870
TESTE10 0,2049 0,9770 0,3359 0,2869
TESTE11 - - - -
TESTE12 - - - -
TESTE13 - - - -
TESTE14 - - - -
TESTE15 0,2033 0,0997 0,3722 0,2974
TESTE16 0,2022 0,0971 0,3682 0,2936
TESTE17 0,2010 0,0971 0,3919 0,3194
TESTE18 0,2010 0,0971 0,3919 0,3194
TESTE19 0,2029 0,0997 0,3807 0,3049
TESTE20 0,2017 0,0971 0,3769 0,3010
TESTE21 0,2029 0,0973 0,3572 0,2851
TESTE22 0,2029 0,0973 0,3572 0,2851
TESTE23 0,2029 0,0973 0,3572 0,2851
TESTE24 0,2001 0,0972 0,4203 0,3714
TESTE25 0,2004 0,0972 0,4409 0,4181
TESTE26 0,2010 0,0973 0,4412 0,4167

A elevação em alta freqüência (Figura 3.15B) indica que o modelo consegue


estimar as flutuações de maré que ocorrem na região da desembocadura da Lagoa dos
Patos, entretanto, o mesmo problema de sub-estimativa é observado entre as 150 e 250
horas de simulação. Este problema pode estar associado à utilização de dados de vento
de Reanálise no contorno superficial do modelo, que apesar de sua qualidade
comprovada em representação de tendências (Kalnay et al. 1996), apresenta para a
região do Hemisfério Sul valores subestimados para a intensidade dos ventos durante
períodos de altas intensidades (Simionato et al., 2006a). Este fator, associado ao fato de
a descarga fluvial utilizada no período de calibração não estar completa, devido à falta

107
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

de informação do Rio Taquari, podem ter contribuído para a baixa qualidade na


reprodução da elevação do nível do mar entre 150 e 250 h.

Figura 3.15. Série temporal de elevação do nível do mar em baixa freqüência (A), elevação do
nível do mar em alta freqüência (B), velocidade de superfície - 3 m de profundidade (C) e
velocidade de fundo -14 m de profundidade (D) entre 29 de abril e 31 de maio de 2004. Séries
temporais em vermelho indicam os valores calculados pelo modelo. A posição das medidas é
apresentada pelo ponto P1 da figura 2.8.

As séries temporais de velocidade de corrente calculadas pelo modelo em


superfície e no fundo (Figuras 3.15C e 3.15D) indicam que modelo consegue reproduzir
bem as tendências observadas, entretanto, a série temporal calculada próximo ao fundo
mostra maior precisão, como indicado na Tabela 3.6. As velocidades de superfície
calculadas pelo modelo normalmente são subestimadas durante períodos de vazante
(velocidades negativas), indicando que a possível sub-estimativa na descarga fluvial
pode estar associada às discrepâncias observadas. As estimativas obtidas pelo parâmetro
RMAE indicam que os níveis de água são calculados com boa precisão, enquanto as
velocidades de corrente apresentam estimativas razoáveis (Figura 3.15).

108
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

3.6. Validação do módulo hidrodinâmico

3.6.1 Validação do módulo hidrodinâmico – Período de 1 de setembro a


30 de outubro de 1998

Durante os testes de calibração do modelo foi escolhido um modelo de fricção


de fundo, e foram estimados valores para o coeficiente de rugosidade e de influência
dos ventos que seriam posteriormente utilizados no teste de validação e nos estudos de
caso (teste2 da seção anterior). De forma a realizar um primeiro teste de validação do
modelo, foi escolhido um conjunto de dados na região costeira adjacente, de acordo
com a disponibilidade dos mesmos.
Os resultados calculados pelo modelo foram comparados com oito perfis
verticais de salinidade observados no dia 26 de outubro de 1998, próximo a
desembocadura da Lagoa dos Patos. Foi utilizada uma simulação hidrodinâmica de 60
dias, entre 01 de setembro e 30 de outubro de 1998, para a obtenção dos dados
utilizados na comparação. O modelo foi inicializado e forçado de maneira similar ao
exercício de calibração.
Os parâmetros RMSE e RMAE foram novamente utilizados para quantificar a
qualidade dos resultados obtidos pelo modelo. Este exercício de validação indicou uma
razoável reprodutibilidade do modelo para a salinidade na zona costeira (Figura 3.16).
Os resultados mostraram que os perfis modelados apresentam acordo com os valores de
salinidade observados e a profundidade da haloclina, entretanto em alguns pontos
(Figura 3.16A e 3.16B) os resultados na camada de superfície apresentam as maiores
discrepâncias. Estes resultados sugerem que a representação da contribuição da
descarga de água doce da Lagoa dos Patos e do Rio da Prata apresenta acordo com as
condições esperadas para a salinidade ao longo da plataforma continental durante a
primavera.
De acordo com Ciotti et al. (1995), as águas costeiras apresentam características
termohalinas que variam com o ciclo anual da descarga dos rios e a mistura com as
águas oceânicas. Soares e Möller (2001) observaram salinidade das águas costeiras
adjacentes na plataforma continental do Sul do Brasil alcançando valores entre 24 e 34.5
durante o período de primavera. A análise do RMSE indicou que apesar das
dificuldades na representação da real variabilidade temporal e espacial da dinâmica da
plataforma, os resultados modelados apresentam erros absolutos menores que 3.6

109
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

unidades de salinidade. Os valores de RMAE calculados indicam que as estimativas do


modelo podem ser consideradas excelentes.

Figura 3.16. Perfis de salinidade de 26 de outubro de 1998 na posição 1 (A), posição 2 (B),
posição 3 (C), posição 4 (D), posição 5 (E), posição 6 (F), posição 7 (G), posição 8 (H). As
posições das medidas são apresentadas pelos pontos V1, V2, V3, V4, V5, V6, V7 e V8 da figura
2.8.

110
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

3.6.2. Validação do módulo hidrodinâmico – 01 setembro a 15 de


outubro de 2007

O segundo teste de validação do módulo hidrodinâmico foi realizado para um


conjunto de dados de salinidade obtidos junto à zona costeira adjacente em setembro de
2007. Os resultados calculados pelo modelo foram comparados com onze perfis
verticais de salinidade observados nos dias 09 e 11 de outubro de 2007, localizados
transversalmente a desembocadura da Lagoa dos Patos. Uma simulação hidrodinâmica
de 45 dias foi utilizada, entre 01 de setembro e 15 de outubro de 2007, para a obtenção
dos dados utilizados na comparação. O modelo foi forçado com médias anuais de
descarga fluvial nos contornos continentais, devido à ausência de séries temporais para
estas forçantes no período investigado. As condições aplicadas foram similares as
utilizadas nos exercícios de calibração e validação anteriores no que diz respeito à
utilização de condições iniciais e de contorno.
Neste exercício de validação para dados de salinidade na zona costeira
adjacente, vemos que os resultados são satisfatórios, sendo sua qualidade quantificada
pelos parâmetros RMSE e RMAE (Figura 3.17), apesar da discrepância obtida na região
próxima a desembocadura (Figura 3.17G) para a região da haloclina. Apesar da
necessidade de se utilizar valores médios para a descarga fluvial e as médias
climatológicas para forçar os contornos oceânicos do modelo, novamente vemos que os
valores de salinidade medidos estão de acordo com os modelados, e a profundidade da
haloclina é correspondente. Neste caso, os erros absolutos calculados são ainda menores
que os encontrados no primeiro exercício de validação da salinidade na zona costeira e
os valores de RMAE obtidos também indicam que os resultados calculados são de
excelente qualidade. O maior erro absoluto encontrado é da ordem de 2 unidades de
salinidade (Figura 3.17G). Esta análise indica que os resultados modelados podem ser
usados com um bom grau de confiabilidade para o estudo na plataforma continental do
Sul do Brasil.

111
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.17. Perfis verticais de salinidade calculada e simulada para o dia 09 e outubro 2007
(A, B, C, D, E, F). Perfis verticais de salinidade calculada e simulada para o dia 11 e outubro
2007 (G, H, I, J, L). As posições das medidas para o dia 09 de outubro são apresentadas pelos
pontos A1, A2, A3, A4, A5 e A6 da figura 2.8. As posições das medidas para o dia 11 de
outubro são apresentadas pelos pontos A11, A22, A33, A44, A55 da figura 2.8.

112
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

3.6.3. Validação do módulo hidrodinâmico – Período de 01 de outubro


a 30 de novembro de 2006

Para a realização do terceiro teste de validação do modelo, foi escolhido outro


conjunto de dados. Os resultados calculados pelo modelo foram comparados com séries
temporais de elevação do nível do mar e velocidade de corrente na região da Praticagem
de Rio Grande, e dados de velocidade de corrente obtidos ao sul da desembocadura da
Lagoa dos Patos na zona costeira. Foi utilizada uma simulação hidrodinâmica de 60
dias, entre 01 de outubro e 30 de novembro de 2006, para a obtenção dos dados
utilizados na comparação. Os primeiros 22 dias de simulação foram usados como
“aquecimento” do modelo, e os resultados obtidos entre 22 de outubro e 30 de
novembro de 2006 foram utilizados para comparação com dados de campo.
O modelo foi inicializado e forçado de maneira similar aos exercícios
anteriores, entretanto, para a prescrição das condições iniciais de salinidade e
temperatura, e as condições de contorno de velocidade de corrente, elevação do nível do
mar, salinidade e temperatura, foram consideradas as médias de 10 anos (ver seção
3.4.1). Com o objetivo de melhorar a comparação entre as séries temporais observadas e
calculadas, um filtro de Lanczos foi aplicado para remover as oscilações de alta
freqüência (períodos menores que 24 h) destas séries temporais.
Os parâmetros RMSE e RMAE foram novamente utilizados para quantificar a
qualidade dos resultados obtidos pelo modelo. Este exercício de validação indicou de
maneira geral uma razoável reprodutibilidade do modelo para as variáveis na região
estuarina e zona costeira adjacente (Figura 3.18 e Figura 3.19), indicando que o modelo
consegue captar as tendências dos sinais apesar das sub-estimativas em alguns eventos.
Os resultados de elevação do nível do mar em baixa (Figura 3.18A) e alta freqüência
(Figura 3.18B) mostram erros da ordem de 0.10 m, indicando alguma melhora para a
elevação em baixa freqüência com relação ao exercício de calibração. Com relação à
elevação em alta freqüência, vemos uma pequena redução na qualidade dos resultados
comparados com o teste de calibração, porém, ainda dentro de uma faixa bastante
aceitável. Os valores de RMAE indicam (Figura 3.18) que os níveis em baixa e alta
freqüência são caluclados com um razoável grau de precisão.

113
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.18. Séries temporais de elevação do nível do mar em baixa freqüência (A), alta
frequência (B), velocidade de superfície – 3 metros de profundidade (C) e de fundo – 14 metros
de profundidade (D) entre 22 de outubro e 30 de novembro de 2006. As posições das medidas
são apresentadas pelo ponto P1 da figura 2.8.

As velocidades calculadas pelo modelo na região da Praticagem (Figuras 3.18C


e 3.18D) apresentam erros da ordem de 0.34 m s-1 na superfície e 0.19 m s-1 no fundo,
indicando um padrão similar ao obtido no teste de calibração. Como visto
anteriormente, a captação de tendências é boa, porém, as intensidades são ainda
subestimadas, especialmente na superfície, durante eventos extremos de enchente ou
vazante. O parâmetro RMAE indica que as velocidades de corrente na superfície são
calculadas pelo modelo com um nível razoável de precisão, enquanto as velocidades de
fundo são calculadas com um menor nível de precisão.
As velocidades de corrente calculadas para a região da zona costeira também
indicam de maneira geral uma razoável reprodução de tendências, apesar de alguma
sub-estimativa, especialmente nas componentes de superfície. O erro observado para a
componente norte/sul da velocidade da zona costeira foi de 0.21 m s-1 (Figura 3.19A),
menor do que o observado no canal de acesso devido à maior intensidade de
velocidades observadas neste ponto. As velocidades de fundo (Figura 3.19B e 3.19D),
assim como na Praticagem, apresentam menores erros em comparação com as

114
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

velocidades de superfície (RMSE = 0.14 e 0.08 m s-1), e as componentes leste/oeste, de


superfície e fundo, apresentam menores valores de RMSE, quando comparadas com as
componentes leste/oeste, devido a sua menor intensidade. O parâmetro RMAE, indica
que a componente norte/sul de velocidade é estimada com um nível razoável de
precisão, enquanto a componente leste/oeste apresenta um nível de precisão mais pobre.

Figura 3.19. Séries temporais de velocidade de corrente entre 22 de outubro e 30 de novembro


de 2006. Componente norte/sul na superfície – 3 metros de profundidade (A), componente
leste/oeste na superfície (B), componente norte/sul no fundo – 14 metros de profundidade (C) e
componente norte/sul no fundo (D). As posições das medidas são apresentadas pelo ponto N1
da figura 2.8.

3.6.4. Validação do módulo hidrodinâmico – 15 julho a 25 de setembro


de 2008

Neste último teste de validação do modelo hidrodinâmico, foram comparadas


séries temporais de velocidade de corrente medida na Praticagem de Rio Grande e na
zona costeira entre 02 de agosto e 22 de setembro de 2008. Uma simulação
hidrodinâmica de 70 dias foi utilizada, entre 15 de julho e 25 de setembro de 2008, para
a obtenção dos dados utilizados na comparação. Foram utilizadas médias anuais de
descarga de rios, devido à ausência de séries temporais no período investigado. As
condições iniciais e de contorno oceânicas foram utilizadas de maneira similar as
aplicadas nos exercícios de calibração e validação para os anos de 2006 e 2007. O filtro
115
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

de Lanczos foi novamente aplicado para remover as oscilações de alta freqüência


(períodos menores que 24 h) das séries temporais.

Figura 3.20. Séries temporais observadas e calculadas (componente norte/sul) em 3 m (A) e 14


m (B) de profundidade na Praticagem entre 02 de agosto e 22 de setembro de 2008. As posições
das medidas são apresentadas pelo ponto P1 da figura 2.8.

A comparação das velocidades observadas e calculadas indica o mesmo padrão


obtido nos testes para os anos de 2004 e 2006, onde o modelo consegue reproduzir bem
as tendências dos sinais (Figura 3.20 e 3.21), mostrando uma tendência de subestimar as
intensidades das velocidades superficiais. Na região da Praticagem, os erros encontrados
são da ordem de 0.30 m s-1. Na região da plataforma continental os erros são reduzidos
alcançando 0.20 m s-1 para a componente norte/sul da velocidade superficial (Figura
3.21A), sendo menor que 0.10 m s-1 para as outras componentes (Figura 3.21B, 3.21C e
3.21D). As maiores discrepâncias aparecem na componente norte/sul de fundo após 900
horas de simulação e na componente superficial norte/sul. Os valores de RMAE
indicam novamente que o modelo consegue reproduzir as velocidades observadas com
um grau de precisão razoável. Em algumas situações, seu nível de precisão decresce
sensivelmente.

116
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.21. Séries temporais observadas e calculadas em 2 m de profundidade da componente


norte/sul (A) e componente leste/oeste (B). Séries temporais de velocidade de fundo observadas
e calculadas em 22 m de profundidade da componente norte/sul (C) e componente leste/oeste
(D) próximo a região costeira entre 02 de Agosto e 22 de Setembro de 2008. As posições das
medidas são apresentadas pelo ponto C1 da figura 2.8.

De maneira geral, para todos os testes de calibração e validação considerados, os


valores subestimados calculados para as velocidades podem ser associados à
consideração do coeficiente de influência do vento espacialmente constante utilizado
neste estudo, ou a utilização de dados de reanálise com baixa resolução espacial e
temporal. Flather (1976) sugeriu a variação deste coeficiente de acordo com a
intensidade dos ventos. De fato, a influência dos ventos depende da rugosidade da
superfície livre, a qual é dependente da intensidade dos ventos e de sua área de ação.
Por outro lado, alguns autores usando dados de ventos de reanálise observaram
alguns problemas na captura da variabilidade espacial e temporal de processos físicos.
Simionato et al. (2006a) realizaram análises usando dados de reanálise (resolução
temporal de 24 h) para a região do Rio da Prata, e também observaram que os eventos
de maior intensidade eram subestimados em até 50% quando comparados com dados de
campo. Ruti et al. (2008) atribuíram aos dados de reanálise de baixa resolução a
principal fonte de erros comparando campos de ventos analisados sobre a bacia do
Mediterrâneo.

117
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Contudo, uma análise geral de todos estes testes de calibração e validação do


modelo numérico hidrodinâmico indicou que, apesar das limitações apresentadas nos
dados utilizados para inicializar e forçar o modelo numérico, as séries temporais de
velocidade de corrente calculadas representam satisfatoriamente as tendências dos sinais
observados em campo na região da desembocadura da Lagoa dos Patos e na plataforma
continental interna do Sul do Brasil.
Através das comparações obtidas pela realização destes vários testes, foi
possível comparar a capacidade do modelo em reproduzir também observações de
elevação do nível do mar e salinidade. De maneira geral, a parametrização utilizada para
o modelo hidrodinâmico, apesar de não considerar uma alta complexidade associada à
utilização de modelos de turbulência modernos, os quais acarretariam um considerável e
indesejado aumento no tempo computacional, ou mesmo, devido à aplicação de
coeficientes de rugosidade constantes espacialmente, apresentou-se adequada a
realização do estudo proposto neste trabalho. Neste sentido, podemos considerar que a
realização de estudos associados aos processos hidrodinâmicos que controlam a
formação, o desenvolvimento e o destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos, em
escalas temporais maiores que 1 dia, podem ser realizados satisfatoriamente.

3.7. Calibração do módulo hidrodinâmico + morfodinâmico

3.7.1. Calibração do módulo hidrodinâmico + morfodinâmico – 01 de


junho a 30 de julho de 2002

Considerando como completados os exercícios de calibração e validação do


modelo hidrodinâmico, o passo seguinte foi à realização de testes de calibração e
validação para os resultados de material em suspensão calculados pelo modelo. Em
função das dificuldades encontradas na obtenção de observações diretas de séries
temporais de material em suspensão, foi adotada uma estratégia de criação de um
modelo polinomial para transformar imagens de reflectância do sensor remoto MODIS-
Aqua em imagens de concentração de material em suspensão que fossem passíveis de
comparação com os resultados do modelo. Uma metodologia similar foi adotada por
Miller e Mackee (2004) e Miller et al. (2005).

A mesma parametrização considerada como ideal para o estudo da


hidrodinâmica foi aplicada nas simulações com o modelo morfodinâmico. Entretanto,

118
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

outros parâmetros tiveram que ser testados. Nesta secção será apresentado na forma de
tabelas o resultado dos vinte e quatro testes realizados. A qualidade dos resultados
obtidos pelo modelo foi quantificada pelo cálculo do erro quadrático médio (RMSE),
calculado entre as observações e os valores simulados pelo modelo.

O exercício de calibração foi realizado de acordo com a disponibilidade de um


conjunto de imagens para o período de julho de 2002. A simulação foi realizada
seguindo a mesma parametrização dos testes de calibração e validação hidrodinâmica, e
as condições iniciais de sedimentos no fundo mostradas na seção 3.4.2. A simulação
cobriu o período entre 1 de junho e 30 de julho de 2002, e os primeiros 30 dias de
simulação foram usados como “aquecimento” do modelo, de forma a estabilizar as
condições hidrodinâmicas, e principalmente de materiais exportados em suspensão para
a zona costeira. Os principais parâmetros físicos utilizados na simulação de calibração
do modelo são apresentados na Tabela 3.7.

Tabela 3.7. Parâmetros utilizados na calibração do modelo.


Passo de tempo 30 s
Coeficiente de Coriolis -7.70 x 10-5 N m-1 s-1
Modelo de turbulência horizontal Smagorinsky
Modelo de turbulência vertical Mixing length (Jet)
Escala de comprimento de mistura 10 m
Lei de fricção de fundo Nikuradse
Coeficiente de influência do vento 6 x 10-6 N m-1 s-1
Velocidade de deposição de sedimentos Van Leussen
Modelo de transporte de fundo Hunziker
Lei de erosão Quadrática
Sedimento transportado em suspensão Silte fino

Alguns parâmetros da configuração utilizada nas simulações hirodinâmicas


(Tabela 3.4) foram alterados de forma a garantir o baixo número de iterações do modelo
na simulação do transporte sedimentar. Primeiramente, o passo de tempo foi reduzido
de 90 para 30 s, de forma a garantir a convergência nos cálculos realizados pelo módulo
morfodinâmico. A lei de fricção de fundo utilizada foi a de Nikuradse, em função de o
modelo morfodinâmico considerar apenas esta lei como opção de uso. Os problemas
que foram encontrados quando da utilização desta lei de fricção de fundo no modelo
hidrodinâmico não foram observados, pois o módulo SediMorph calcula e atualiza o
coeficiente de rugosidade de acordo com a distribuição de sedimentos e a forma do
fundo a cada passo de tempo. Este procedimento insere um maior grau de realidade na

119
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

configuração da rugosidade do fundo, o que não era possível com a utilização do


modelo hidrodinâmico isoladamente.
Em função de se utilizar a lei de Nikuradse, o coeficiente de influência do vento
foi também reduzido para garantir o baixo número de iterações. A relação entre a lei de
Nikuradse e o coeficiente de influência do vento pode ser observada na seção de
calibração hidrodinâmica para o ano de 2004 (ver seção 3.5.1). A velocidade de
deposição de sedimentos aplicada foi a formulada por Van Leussen, com o objetivo de
inserir a influência da formação ou quebra de flocos que está associada à influência dos
efeitos turbulentos na deposição de sedimentos em suspensão. A lei de transporte de
fundo de Hunziker foi aplicada em função de ser a mais utilizada na atualidade, e
considerar o efeito da tensão de cisalhamento de fundo para o transporte de sedimentos
na forma de camadas, onde as mais superiores sofrem maior efeito do arrasto. A lei de
erosão quadrática foi utilizada pelo fato de representar melhor os processos de erosão de
fundo quando da consideração de sedimentos coesivos. O silte foi considerado como o
material em suspensão utilizado no modelo devido à maior facilidade de exportação
deste material pelos estuários.
Os parâmetros testados nestes exercícios de calibração foram:
• O coeficiente de deposição associado à fórmula de Van Leussen. Este
coeficiente deveria ser obtido através de observações de campo,
entretanto, não existem medidas disponíveis, por este motivo este
parâmetro foi testado diretamente no modelo.
• O coeficiente de erosão associado à formulação de Malcherek et al.
(2005), também foi testado em função de não se conhecer valores
medidos para a região.
• Diferentes valores de concentração de sedimentos em suspensão
exportados pelos principais rios afluentes, considerando valores
constantes e valores associados à intensidade da descarga fluvial, os
quais foram obtidos pela aplicação de um modelo polinomial criado por
Le Normant (2000) para o estuário Loire, França. Este procedimento foi
também necessário pela indisponibilidade de séries temporais de
concentração de material em suspensão junto à boca dos principais rios
afluentes da Lagoa dos Patos, ou mesmo de medidas concomitantes de
concentração de material em suspensão e descarga dos rios que
pudessem ser utilizadas para a construção de um algoritmo local. Neste
120
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sentido, a consideração do melhor método de imposição de concentração


de sedimentos junto aos contornos foi obtida pela comparação
qualitativa e quantitativa com as imagens obtidas através de
sensoriamento remoto orbital.

Tabela 3.8. Parâmetros testados na calibração do modelo hidrodinâmico+morfodinâmico. O


teste considerado como mais estável e de boa precisão aparece marcado em azul.
COEF. VAN COEF. SÃO COEF.
TESTES LEUSSEN EROSÃO GUAÍBA CAMAQUÃ GONÇALO FÓRMULA
TESTE1 5.E-6 1.E-3 0.5 0.3 0.1 -
TESTE3 5.E-6 1.E-3 0.7 0.3 0.4 -
TESTE4 5.E-6 1.E-3 0.6 0.3 0.2 -
TESTE5 5.E-6 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.04 e 0.08
TESTE6 5.E-6 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.06 e 0.1
TESTE7 5.E-6 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.08 e 0.08
TESTE8 5.E-4 1.E-3 0.5 0.3 0.1 -
TESTE9 5.E-4 1.E-3 0.6 0.3 0.2 -
TESTE10 5.E-4 1.E-3 0.7 0.3 0.4 -
TESTE11 5.E-4 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.04 e 0.08
TESTE12 5.E-4 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.06 e 0.1
TESTE13 5.E-4 1.E-3 Calculado Calculado Calculado 0.08 e 0.08
TESTE14 5.E-6 5.E-1 0.5 0.3 0.1 -
TESTE15 5.E-6 5.E-1 0.7 0.3 0.4 -
TESTE16 5.E-6 5.E-1 0.6 0.3 0.2 -
TESTE17 5.E-6 5.E-1 Calculado Calculado Calculado 0.04 e 0.08
TESTE18 5.E-6 5.E-1 Calculado Calculado Calculado 0.06 e 0.1
TESTE19 5.E-6 5.E-1 Calculado Calculado Calculado 0.08 e 0.08
TESTE20 5.E-4 5.E-1 0.5 0.3 0.1 -
TESTE21 5.E-4 5.E-1 0.6 0.3 0.2 -
TESTE22 5.E-4 5.E-1 0.7 0.3 0.4 -
TESTE23 5.E-4 5.E-1 Calculado Calculado Calculado 0.04 e 0.08
TESTE24 5.E-4 5.E-1 Calculado Calculado Calculado 0.06 e 0.1
TESTE25 5.E-4 5.E-1 calculado Calculado Calculado 0.08 e 0.08

Foram testados apenas dois valores diferentes para os coeficientes da fórmula de


deposição de sedimentos e de erosão devido ao alto custo computacional envolvido em
cada teste realizado. Foram consideradas três combinações de concentração de
sedimentos constantes impostos em cada contorno, além de três combinações de
coeficientes usados no modelo polinomial obtido por Le Normant (2000). Os valores
utilizados e suas combinações são mostrados na Tabela 3.8.

121
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 3.9. Testes de calibração e apresentação de parâmetros RMSE. Os resultados do RMSE


para os testes considerados como mais aceitáveis aparecem marcados em azul. Perfil T1, T2 e
T3 indicam o perfil transversal para a primeira, segunda e terceira imagem considerada. Perfil
L1, L2 e L3 indicam o perfil longitudinal para a primeira, segunda e terceira imagem
considerada.
TESTES PERFIL T1 PERFIL T2 PERFIL T3 PERFIL L1 PERFIL L2 PERFIL L3
TESTE1 0.0111 0.0085 0.0176 0.0246 0.0261 0.0171
TESTE3 0.0447 0.0259 0.0578 0.0615 0.0549 0.0621
TESTE4 0.0223 0.0126 0.0184 0.0384 0.0312 0.0152
TESTE5 0.0114 0.0082 0.0175 0.0273 0.0226 0.0112
TESTE6 0.0353 0.0203 0.0243 0.0521 0.0415 0.0232
TESTE7 0.0686 0.0428 0.0440 0.0867 0.0682 0.0447
TESTE8 0.0128 0.0087 0.0200 0.0271 0.0281 0.0215
TESTE9 0.0238 0.0133 0.0334 0.0391 0.0373 0.0370
TESTE10 0.0465 0.0274 0.0657 0.0627 0.0569 0.0692
TESTE11 0.0122 0.0083 0.0174 0.0281 0.0233 0.0114
TESTE12 0.0375 0.0214 0.0262 0.0543 0.0420 0.0249
TESTE13 0.0727 0.0451 0.0482 0.0894 0.0683 0.0478
TESTE14 0.0108 0.0085 0.0182 0.0244 0.0263 0.0183
TESTE15 0.0446 0.0259 0.0598 0.0610 0.0552 0.0651
TESTE16 0.0216 0.0121 0.0298 0.0369 0.0359 0.0332
TESTE17 0.0114 0.0083 0.0178 0.0274 0.0233 0.0117
TESTE18 0.0353 0.0205 0.0254 0.0522 0.0422 0.0246
TESTE19 0.0685 0.04274 0.0456 0.0866 0.0694 0.0471
TESTE20 0.0127 0.00870 0.0209 0.0271 0.0280 0.0232
TESTE21 0.0236 0.0133 0.0351 0.0388 0.0378 0.0396
TESTE22 0.0464 0.0271 0.0687 0.0625 0.0570 0.0736
TESTE23 0.0123 0.0081 0.0179 0.02830 0.0241 0.0120
TESTE24 0.0377 0.0218 0.0277 0.0543 0.0432 0.0269
TESTE25 0.0723 0.0448 0.0516 0.0897 0.0711 0.0522

Estes testes foram realizados para o mesmo período e comparados visualmente e


quantitativamente com mapas de concentração de material em suspensão calculadas a
partir de imagens de sensoriamento remoto (Figura 3.22). A comparação quantitativa foi
obtida pela análise de dois perfis superficiais de concentração de material em suspensão
obtidos dos resultados do modelo e dos mapas de concentração de sedimentos em
suspensão. A posição dos perfis pode ser observada na Figura 3.22 longitudinalmente e
transversalmente a zona costeira. Os valores de RMSE de cada teste podem ser
observados na Tabela 3.9 e os valores mínimos obtidos em cada perfil aparecem
marcados em azul. O parâmetro RMAE não foi utilizado para a quantificação da
qualidade dos resultados calculados pelo modelo. A qualidade foi testada comparando

122
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

os resultados calculados pelo modelo com as faixas de erros estimadas a partir do


modelo linear aplicado as imagens do sensor remoto.

Figura 3.22. Concentração de material em suspensão calculado pelo modelo (A) e através da
imagem do sensor (B) para o dia 14 de julho de 2002. Concentração de material em suspensão
calculado pelo modelo (C) e através da imagem do sensor (D) para o dia 16 de julho de 2002.
Concentração de material em suspensão calculado pelo modelo (E) e através da imagem do
sensor (F) para o dia 19 de julho de 2002. Perfis longitudinais e transversais utilizados para a
comparação quantitativa são apresentados na figura 3.22A.

123
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Dentre os testes realizados, alguns apresentaram erros maiores, como os testes


13 e 25, onde os erros podem alcançar valores de 0,072 a 0,089 kg m-3. Dois testes
apresentaram boas combinações de erros, o teste 5 e o teste 14, com valores mínimos de
0.008 kg m-3 e máximos de 0.026 kg m-3 (Tabela 3.8). O teste 14 foi escolhido como o
mais representativo, em função dos valores de RMSE encontrados para cada perfil
estarem muito próximos dos mínimos de cada perfil. O teste 5 que considera a aplicação
do modelo polinomial para a prescrição das condições de contorno de material em
suspensão nas fronteiras dos rios, mostrou bons resultados nos testes de calibração,
entretanto, não mostrou bons resultados para os testes de validação subseqüentes.
Portanto, a parametrização utilizada no teste 14 foi considerada ideal e utilizada nos
estudos de caso, apesar de considerar valores de concentração de material em suspensão
constantes nos contornos dos rios.
Os resultados obtidos com o melhor teste (teste 14) são apresentados na Figura
3.22. No dia 14 de julho (Figura 3.22A) temos a formação de uma pluma orientada em
direção a sudeste sendo forçada pela ação de ventos de noroeste. A imagem do dia 16 de
julho indica uma pluma transportada em direção ao norte causada pela transição de
ventos de quadrante norte para o quadrante sul (Figura 3.22C). A Figura 3.22E mostra
uma situação onde a pluma é forçada pela ação de ventos de nordeste. As imagens
obtidas através do sensor remoto (Figuras 3.22B, 3.22D e 3.22F) corroboram os
resultados obtidos pelo modelo numérico no que diz respeito à direção de propagação
da pluma. Podemos dizer que, qualitativamente, os resultados são aceitáveis tendo em
vista as dificuldades encontradas para a criação das condições de contorno para o
material em suspensão, além da utilização dos coeficientes, que foram obtidos através
de testes e não por observações diretas. É importante ressaltar a dificuldade de
calibração de resultados deste tipo, fato que levou a criação de uma estratégia de
calibração baseada em um método alternativo, devido à ausência de observações diretas
na forma de séries temporais ou campos superficiais instantâneos.
Os perfis selecionados para as comparações entre os resultados do modelo e do
sensor (Figura 3.23) indicam que, de uma maneira geral, os valores calculados pelo
modelo numérico estão dentro da faixa de erro obtida com a criação do modelo
polinomial para a conversão das imagens de reflectância em material em suspensão. Os
perfis transversais (Figuras 3.23A, 3.23B, 3.23C) mostram uma boa concordância e os
erros observados na Tabela 3.6 indicam valores menores que 0.018 kg m-3. Os perfis
longitudinais à zona costeira foram mais difíceis de representar, onde erros de até 0.026

124
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

kg m-3, foram encontrados no dia 16 de julho (Figura 3.23E). Para os dias 14 e 19 de


julho (Figuras 3.23D, 3.23F), os resultados foram melhores, com erros menores que
0.024 kg m-3.

Figura 3.23. Perfis superficiais de concentração de material em suspensão obtidos do sensor


remoto e do modelo numérico como função da posição no domínio numérico. Perfil transversal
(A) e longitudinal (D) a costa para o dia 14 de julho de 2002. Perfil transversal (B) e
longitudinal (E) a costa para o dia 16 de julho de 2002. Perfil transversal (C) e longitudinal (F)
a costa para o dia 19 de julho de 2002.

3.8. Validação do módulo hidrodinâmico + morfodinâmico

3.8.1. Validação do módulo hidrodinâmico + morfodinâmico – Período


de 01 de Abril a 31 de Maio de 2003

Considerando o sucesso da calibração do modelo hidrodinâmico +


morfodinâmico para a obtenção dos coeficientes e parâmetros utilizados, foi
125
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

selecionado um período para a realização de um teste de validação do modelo. A mesma


parametrização considerada como ideal na seção 3.7.1 foi aplicada. Nesta secção será
apresentado o resultado do teste de validação comparando os resultados do modelo com
imagens nos dias 11 e 14 de maio de 2003. A qualidade dos resultados obtidos pelo
modelo foi quantificada pelo cálculo do erro quadrático médio (RMSE) obtido entre as
observações e os valores calculados pelo modelo.

Figura 3.24. Concentração de material em suspensão calculado pelo modelo (A) e através da
imagem do sensor (B) para o dia 11 de maio de 2003. Concentração de material em suspensão
calculado pelo modelo (C) e através da imagem do sensor (D) para o dia 14 de maio de2003.
Perfis longitudinais e transversais utilizados para a comparação quantitativa são apresentados
na figura 3.24A.

O exercício de validação foi realizado seguindo a mesma parametrização citada


nos testes de calibração da hidrodinâmica + morfodinâmica. A simulação cobriu o
período entre 1 de abril e 31 de maio de 2003, e os primeiros 30 dias de simulação
foram usados como “aquecimento” do modelo. Os resultados apresentados (Figuras
3.24A e 3.24C) mostram duas situações onde a pluma é forçada por ventos de quadrante

126
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

norte, sendo forçada em direção ao sul. Nos dois casos, vemos que o modelo representa
qualitativamente a direção de propagação da pluma, que mostra um bom acordo com as
imagens obtidas pelo sensor remoto. No dia 11 de maio (Figura 3.24A), a pluma
calculada apresenta uma área superficial um pouco menor que a observada pelo sensor,
enquanto que no dia 14 de maio (Figura 3.24B) o resultado modelado é um pouco
superestimado.

Figura 3.25. Perfis superficiais de concentração de material em suspensão obtidos do sensor


remoto e do modelo numérico como função da posição no domínio numérico. Perfil transversal
(A) e longitudinal (C) a costa para o dia 11 de maio de 2003. Perfil transversal (B) e
longitudinal (D) a costa para o dia 14 de maio de 2003.

A comparação quantitativa dos resultados modelados e obtidos através do sensor


remoto indica um bom acordo entre os resultados. Os maiores erros observados não
ultrapassam 0.018 kg m-3 transversalmente a costa (Figura 3.25A) para o dia 11 de
maio. Longitudinalmente a costa, os erros observados no teste de validação são bem
menores que os observados no teste de calibração anterior. Neste caso, os maiores erros
não ultrapassam 0.014 kg m-3 observado para o dia 14 de maio de 2003. Assim como
nos testes de calibração, vemos que os resultados obtidos através da modelagem
numérica normalmente estão dentro da faixa de erro aceitável do modelo polinomial
obtido para o sensor remoto.
127
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

3.8.2. Validação do módulo hidrodinâmico + morfodinâmico – 01 de


Abril a 15 de Junho 2005

Outro período de dados foi selecionado para a realização de um segundo teste de


validação do modelo. A mesma parametrização considerada como ideal na seção 3.7.1
foi aplicada. Nesta secção será apresentado o resultado do teste de validação
comparando os resultados do modelo com imagens nos dias 28 e 31 de maio e 8 de
junho de 2005. A qualidade dos resultados obtidos pelo modelo foi quantificada pelo
cálculo do erro quadrático médio (RMSE) obtido entre as observações e os valores
calculados pelo modelo.
O exercício de validação foi realizado seguindo a mesma parametrização citada
nos testes de calibração hidrodinâmica + morfodinâmica. A simulação cobriu o período
entre 1 de abril e 15 de junho de 2005, e os primeiros 30 dias de simulação foram
usados como “aquecimento” do modelo. Os resultados apresentados mostram uma
condição onde a pluma é forçada para o sul pelos ventos de quadrante norte (Figura
3.26A) e duas situações, onde os ventos de quadrante sul induzem o transporte da pluma
em direção ao norte (Figura 3.26B) e promovem uma intensa mistura na zona costeira e
a enchente no canal de acesso a Lagoa dos Patos (Figura 3.26C). Em ambos os casos
vemos que o modelo representa qualitativamente bem a direção de propagação da
pluma, mostrando um bom acordo com as imagens obtidas pelo sensor remoto. Nos dias
28 e 31 de maio (Figuras 3.26A e 3.26C), a pluma calculada apresenta uma área
superficial menor que a observada pelo sensor.
A comparação quantitativa novamente indica um bom acordo entre os
resultados. Os maiores erros observados normalmente não ultrapassam 0.029 kg m-3
transversalmente a costa (Figura 3.27A) para o dia 28 de maio. Novamente, os erros
encontrados para o perfil longitudinal são baixos. Neste teste de validação, os maiores
erros não ultrapassam 0.017 kg m-3, valor observado para o dia 28 de maio de 2005
(Figura 3.27D). Como característica comum aos testes de calibração e validação do
modelo hidrodinâmico + morfodinâmico, os resultados obtidos através da modelagem
numérica normalmente se apresentam dentro da faixa de erro aceitável do modelo
polinomial obtido para o sensor remoto.

128
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.26. Concentração de material em suspensão calculado pelo modelo (A) e através da
imagem do sensor (B) para o dia 28 de maio de 2005. Concentração de material em suspensão
calculado pelo modelo (C) e através da imagem do sensor (D) para o dia 31 de maio de 2005.
Concentração de material em suspensão calculado pelo modelo (E) e através da imagem do
sensor (F) para o dia 8 de junho de 2005. Perfis longitudinais e transversais utilizados para a
comparação quantitativa são apresentados na figura 3.26A.

129
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 3.27. Perfis superficiais de concentração de material em suspensão obtidos do sensor


remoto e do modelo numérico como função da posição no domínio numérico. Perfil transversal
(A) e longitudinal (D) a costa para o dia 28 de maio de 2005. Perfil transversal (B) e
longitudinal (E) a costa para o dia 31 de maio de 2005. Perfil transversal (C) e longitudinal (F)
a costa para o dia 8 de junho de 2005.

3.9. Sumário dos testes de calibração e validação do sistema


de modelagem numérica
Os resultados obtidos através dos testes de calibração e validação do modelo
numérico utilizado indicam que, de uma maneira geral, as tendências dos parâmetros
avaliados são razoavelmente representadas, além de serem observados erros relativos
moderados entre as variáveis observadas e calculadas. O modelo consegue representar
bem a elevação do nível do mar em baixa freqüência (escalas de tempo sub-mareal) e
em alta freqüência (escala de tempo mareal) e as salinidades. As intensidades das
velocidades de corrente são razoavelmente representadas e as intensidades das
velocidades superficiais são normalmente subestimadas. A direção de propagação da
pluma modelada mostra sempre acordo com as imagens obtidas pelo sensor remoto, e as

130
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

concentrações de material em suspensão calculadas estão sempre dentro da faixa de erro


aceitável do modelo polinomial utilizado nas imagens.
Entretanto, o modelo tem dificuldades em representar os processos associados à
circulação de alta freqüência (escalas de tempo menores que um dia) devido a fatores
como a baixa resolução espacial e temporal dos ventos utilizados para forçar o modelo;
a utilização de coeficientes de influência do vento constantes no espaço e no tempo; a
utilização de modelos de turbulência mais simplificados, que são menos custosos
computacionalmente e não comprometem a realização de estudos de mais longo prazo,
mas, por outro lado, não tem condições de fornecer uma real estimativa dos coeficientes
de viscosidade da água, bem como, a advecção dos processos turbulentos.
Em função destas constatações, todas as análises realizadas com a
parametrização descrita nas seções anteriores estarão restritas a investigação de
processos de escalas temporais maiores que um dia. Neste sentido, vamos explorar a
capacidade do modelo em representar as tendências dos processos de mais longas
escalas de tempo, que são importantes para a análise de variabilidade e espacial e
temporal associadas à influência dos ventos e descarga fluvial na região de estudo, bem
como, a evolução dos processos morfodinâmicos da região costeira adjacente.

131
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

RESULTADOS
O estudo da formação, comportamento e o destino da pluma costeira da Lagoa
dos Patos foram realizados através de simulações numéricas que consideram as
condições iniciais, de contorno e configurações apresentadas no capítulo anterior. Os
anos de 1998 e 1999 foram escolhidos para a realização do estudo de caso em função
das condições de descarga fluvial observadas. O ano de 1998 apresenta uma situação
anômala em função do fenômeno El Niño - Oscilação Sul, com baixas descargas
durante o verão e outono, e moderadas a altas descargas durante o outono e inverno. O
estudo dos processos hidrodinâmicos foi realizado com a utilização de 689 dias de
simulação (01 de janeiro de 1998 a 19 de novembro de 1999). O estudo do transporte de
sedimentos foi realizado com a utilização de 606 dias de simulação (01 de janeiro de
1998 a 29 de agosto de 1999).

4.1. Condições para a formação da pluma

A partir do perfil integrado de descarga líquida obtido na seção transversal da


desembocadura da Lagoa dos Patos (Figura 4.1A) e dos dados de descarga fluvial dos
rios Jacuí, Taquari e Camaquã foi possível obter as taxas volumétricas anuais de água
importada e exportada pela Lagoa dos Patos. A Tabela 4.1 indica que a Lagoa recebe
um volume de água de 4.2169x1013 m³ ano-1 dos principais rios afluentes, de forma que,
a mesma exporta um volume de 2.4038x1013 m³ ano-1 para a zona costeira. Um balanço
direto entre o volume de água importado pela Lagoa dos Patos e o exportado pelo canal
indica que aproximadamente 57% da água introduzida pela descarga fluvial ao longo de
um ano são exportados para a zona costeira. A descarga média integrada para todo o
período na seção transversal da desembocadura do canal de acesso a Lagoa dos Patos é
de aproximadamente -2088 m³s-1 indicando uma condição de vazante como a condição
dominante nesta região.
A investigação das principais forçantes controladoras da formação da pluma
costeira da Lagoa dos Patos foi realizada através da utilização de séries temporais de
descarga fluvial integrada ao longo de uma seção transversal da desembocadura da

132
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Lagoa dos Patos, combinadas com séries temporais de salinidade e intensidade e direção
dos ventos (Figura 4.1) obtidos do modelo.

Figura 4.1. Figura indicando a posição onde foram obtidas as séries temporais de salinidade e
ventos (posição P1) e a posição da seção vertical (posição S1) onde foi integrada a série
temporal de descarga fluvial. Seção vertical S1com a variação de profundidade e níveis sigma
(B). Série temporal integrada de descarga fluvial junto à desembocadura da Lagoa dos Patos
(C), séries temporais de salinidade superficial e de fundo medidos na Estação Naval (D), série
temporal de intensidade e direção dos ventos medidos na Estação dos Práticos da Barra de Rio
Grande (E). Valores negativos indicam ventos provenientes do quadrante norte.

A análise da descarga fluvial integrada (Figura 4.1C) indica eventos de vazante


ocorrendo por períodos mais longos que os períodos de enchente. Normalmente, durante
longos períodos de vazante (valores negativos) a salinidade alcança valores mínimos

133
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

(Figura 4.1D) e os ventos de quadrante sul (Figura 4.1E) não conseguem reverter às
condições de vazante.

Tabela 4.1. Taxa anual volumétrica de água importada (rios Jacuí, Taquari e Camaquã) e
exportada pela Lagoa dos Patos, através do canal de acesso. Valores negativos indicam que o
fluxo ocorre em direção a zona costeira e valores positivos para dentro da Lagoa dos Patos.

Descarga liquida anual dos rios 4.2169x1013 m³ ano-1


Descarga líquida anual do canal - 2.4038x1013 m³ ano-1
Descarga média anual pelo canal - 2088 m³ s-1
Taxa de saída média anual 57%

Os campos médios de salinidade (Figura 4.2A) e intensidade da componente da


velocidade normal (Figura 4.2B) à seção transversal do canal (Figura 4.1B) são
apresentados de forma a ilustrar as estruturas esperadas para esta região durante o
período de estudo. É possível observar a variação de salinidade vertical que alcança 10
unidades na porção central do canal, indicando a formação de uma pluma que ocupa a
maior parte da coluna de água nesta região do canal. De maneira similar, o campo de
intensidade de velocidade média indica uma vazante como condição residual ao longo
de toda a seção, com valores de velocidade de corrente que podem alcançar, em média,
0.7 m s-1 na porção central do canal.
Com o objetivo de confirmar a importância da descarga fluvial para a
manutenção do campo de salinidade junto à desembocadura da Lagoa dos Patos, foi
realizada uma análise de EOF da variação espacial da salinidade calculada pelo modelo
em uma seção no canal de acesso (Figura 4.1B), com uma análise posterior de seu
padrão de variabilidade temporal. O primeiro modo empírico da análise de EOF (Figura
4.3) indicou um núcleo de menor cisalhamento ao longo do canal principal, cobrindo os
primeiros 12 m de profundidade, sendo muito similar aos campos médios observados de
salinidade e da componente de velocidade normal a seção transversal do canal (Figura
4.2). Este primeiro modo empírico explica aproximadamente 93% da variabilidade da
salinidade nesta região. O cisalhamento desta região indica a presença de condições
dominantes de um fluxo unidimensional de vazante durante o período simulado.
A análise direta do espectro cruzado de energia local obtido entre as séries
temporais de descarga fluvial integrada e de coeficientes do primeiro auto-vetor
resultante da EOF (Figura 4.4A) indica que a descarga fluvial contribui para a vazante
do sistema (formação da pluma costeira), seguindo um ciclo de curto período (centrado
em uma banda de 32 dias) que ocorre durante quase todo o período de estudo.
134
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Sobreposto a este ciclo, aparecem o ciclo sazonal (128 dias) e o anual, típicos de regiões
de clima temperado (Figura 4.4B). Este resultado indica que a influência dos ciclos mais
curtos da descarga fluvial para a manutenção do padrão de salinidade é mais importante
no primeiro ano de estudo.

Figura 4.2. Média temporal da salinidade (A) e componente de velocidade normal a seção (B)
para os 689 dias de simulação. Valores negativos indicam a vazante do sistema.

Figura 4.3. Primeiro modo da EOF da salinidade simulada ao longo da seção transversal do
canal de acesso. O percentual da variância explicada por este modo é apresentado na figura.

135
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O primeiro semestre do ano de 1999 (dias 365 a 545) é marcado pela menor
influência da descarga fluvial em função de sua baixa intensidade (Figura 4.4B) e a
ocorrência do ciclo anual começca a aparecer entre o segundo semestre do ano de 1998
e o primeiro semestre do ano de 1999, entretanto, em função do comprimento das séries
temporais não podemos observar este ciclos com boa definição de ocorrência nas
análises. O espectro de potência global confirma (Figura 4.4C) que a ocorrência dos
ciclos de escala mensal, sazonal e anual são 95% confiáveis ao longo do período
estudado. A variância média (Figura 4.4D) do espectro analisado para os processos com
escala temporal maior que 20 e menor que 365 dias indica que nesta região os diferentes
ciclos de descarga se combinam fornecendo uma contribuição significativa ao padrão de
variabilidade da salinidade durante todo o período.

Figura 4.4. Séries temporais da amplitude relativa do primeiro auto-vetor (EOF1) e da


descarga fluvial (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Chapéu
Mexicano (B). Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído
vermelho de 0.25. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das
bordas passam a ser importantes. Espectro de potência cruzado global (C) das séries temporais
e a linha pontilhada indicam o nível de 95% de confiança. Série temporal da variância (escalas
de tempo maiores que 20 e menores que 365 dias) com o nível de 95% de confiança
apresentado pela linha pontilhada preta.

O espectro cruzado de energia local obtido entre as séries temporais de


intensidade do vento e dos coeficientes do primeiro auto-vetor (Figura 4.5A) indicam a
contribuição dos ventos seguindo um ciclo de mais curto período em escalas de tempo
sinóticas (Figura 4.5B). A análise deste espectro de energia indica que os ventos não
apresentam o mesmo padrão anual e sazonal bem definido que pode ser observado para
a descarga fluvial. Entretanto, sua influência para a manutenção do padrão de vazante e

136
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

enchente da desembocadura da Lagoa dos Patos também parece mais importante


durante o primeiro ano de estudo.

Figura 4.5. Séries temporais da amplitude relativa do primeiro autovetor (EOF1) e da


intensidade dos ventos (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Morlet (B).
Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído vermelho de
0.75. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das bordas passam a
ser importantes. O espectro de potência cruzado global (C) das séries temporais e a linha
pontilhada indica o nível de 95% de confiança. Série temporal da variância (escalas de tempo
menores que 20 dias) com o nível de 95% de confiança apresentado pela linha pontilhada
preta.

O espectro global desta análise (Figura 4.5C) indica com 95% de confiança a
ocorrência de processos com escalas temporais menores que 20 dias durante o período
de estudo. A análise da variância média (Figura 4.5D) para os processos que ocorrem
com escala temporal menor que 20 dias sugere a compensação entre os ventos e a
descarga para a manutenção dos processos de vazante do canal de acesso.
Durante os eventos em que são observadas as maiores variâncias da análise com
a descarga fluvial (Figura 4.4D) são observados valores menos significativos para a
análise feita com os ventos (Figura 4.5D), indicando dominância dos efeitos da descarga
fluvial para a vazante do sistema. Por outro lado, nos períodos em que as variâncias são
menos intensas para a análise com a descarga (entre 100 e 200 dias), a contribuição
associada à ação dos ventos parece ser bastante significativa para a formação da pluma
costeira.

137
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

4.2. A análise do comportamento e o do destino da pluma

A análise do comportamento e do destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos


sob a ação das principais forçantes foi realizada considerando os primeiros 180 dias de
simulação. As forçantes do movimento (efeito da rotação da Terra, marés, ventos,
forçantes remotas) foram incluídas separadamente e posteriormente consideradas em
conjunto. A escala de tempo foi considerada significativa, pois, todas as forçantes e
efeitos considerados para esta análise atuam em escalas de variabilidade temporal
menor que 40 dias. Primeiramente, foi considerada a descarga fluvial dos principais rios
afluentes da Lagoa dos Patos e a contribuição da força de Coriolis.

Figura 4.6. Salinidade e velocidade na superfície após 180 dias de simulação com a força de
Coriolis (A). Perfis de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (B) e
transversalmente a costa (C) após 180 dias de simulação. Nos perfis verticais, os níveis sigma
foram apresentados igualmente espaçados de forma a melhorar a visualização. A posição dos
perfis (PL – perfil longitudinal) e (PT – perfil transversal) é apresentada na figura A.

138
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A investigação do comportamento da pluma devido à rotação da Terra mostrou


que a descarga sob a ação desta forçante se espalha sobre a plataforma continental
seguindo anti-ciclonicamente na direção norte, direção de propagação das ondas de
Kelvin no Hemisfério Sul, perfazendo um padrão de circulação assimétrico (Figura
4.6A). Os perfis verticais extraídos na região da pluma gerada considerando a rotação
da Terra mostraram um padrão de salinidade bem distribuído acima dos 5 metros de
profundidade ao longo (Figura 4.6B) e transversalmente (Figura 4.6C) a zona costeira.
Também é possível observar uma fraca estratificação de salinidade na horizontal e uma
estratificação vertical quase constante ao longo e transversalmente a costa (Figuras 4.6B
e 4.6C).

Figura 4.7. Campos de salinidade e velocidade de corrente na superfície (A). Perfis verticais de
salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (B) e transversalmente a costa (C) após
180 dias de simulação considerando a Força de Coriolis e as marés. Nas figuras verticais, os
níveis sigma foram apresentados como igualmente espaçados para melhorar a visualização.

139
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O efeito das marés foi considerado na simulação subseqüente pela prescrição das
principais componentes de maré da região de estudo na fronteira oceânica do domínio
numérico. A Figura 4.7 apresenta os campos de salinidade e velocidades de corrente
calculados pelo modelo, indicando que a pluma da Lagoa dos Patos sob a ação das
marés se espalha sobre a plataforma continental, reduzindo sua área superficial e o
gradiente de salinidade horizontal na direção transversal a costa (Figura 4.7C). O
processo de mistura induzido pelas marés reduz a intrusão da pluma em direção ao norte
em comparação com a situação não realística forçada apenas pela Força de Coriolis.
Estes resultados sugerem que é essencial incluir os efeitos das marés para produzir a
estrutura esperada para a pluma, e representar a intrusão em direção ao norte das águas
provenientes do continente.
A estrutura vertical ao longo da plataforma continental após 180 dias de
simulação (Figura 4.7B) apresenta uma estrutura assimétrica com uma fraca tendência
de espalhamento em direção ao norte. As correntes de maré geram um efeito residual
que tende a aumentar a circulação vertical junto à desembocadura da Lagoa dos Patos,
promovendo a mistura e intensificando o transporte de águas continentais ao longo da
costa (Figura 4.7B). As correntes de maré ainda contribuem para o espalhamento da
pluma transversalmente a costa, reduzindo a estratificação vertical em direção ao
oceano e aumentando em direção a costa (Figura 4.7C).
O padrão de circulação induzido pelas marés transversalmente a costa se alterna
entre eventos de ressurgência e subsidência seguindo o período dominante (ciclo
diurno) das marés. No fim do período de simulação, os padrões de circulação associados
às marés induzem condições de ressurgência transversalmente a zona costeira. Junto à
entrada da Lagoa dos Patos, a influência das marés reduz a estratificação promovendo
condições bem misturadas (Figura 4.7C).
Após a investigação da resposta da pluma costeira da Lagoa dos Patos aos
efeitos rotacionais e aos efeitos da maré, a influência dos ventos foi considerada como
espacialmente e temporalmente variável ao longo de todo o domínio. Os resultados
indicaram que a influência de ventos de sudeste (Figura 4.8A) induz o transporte da
pluma em direção ao nordeste (Figura 4.8B). Nestas condições, a intensidade da
circulação vertical é reduzida, a advecção horizontal é dominante e condições bem
misturadas são observadas verticalmente ao longo (Figura 4.8C) e transversalmente
(Figura 4.8D) a costa. O padrão de espalhamento previamente observado para os ventos
de sudeste (Figura 4.8A) foi intensificado pelos ventos de sudoeste observados no dia

140
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

seguinte (Figura 4.8E). Estas condições mantêm o padrão de circulação horizontal e


intensificam o espalhamento da pluma em direção a nordeste e os processos de mistura
ao longo da costa (Figura 4.8F). Estas condições de vento intensificam a advecção
horizontal mantendo os gradientes horizontais de salinidade e as condições
verticalmente bem misturadas ao longo da costa (Figura 4.8G) e transversalmente
(Figura 4.8H) a costa.
Os resultados também indicaram que ventos de nordeste (Figura 4.9A)
contribuem para o espalhamento da pluma em direção ao sudoeste e em direção ao
oceano aberto (Figura 4.9B). A influência dos ventos intensifica a estratificação vertical
junto à boca da Lagoa dos Patos (Figura 4.9C) induzindo o deslocamento das águas de
origem continental ao longo da costa. Estas condições de ventos intensificam os
processos de ressurgência (Figura 4.9D) espalhando a pluma e intensificando a
estratificação vertical em direção ao oceano aberto. Ventos de noroeste (Figura 4.9E)
contribuem para o espalhamento da pluma em direção ao oceano aberto (Figura 4.9F),
revertendo o padrão de circulação superficial ao longo da costa observado no dia
anterior. Estas condições (Figura 4.9G) induzem um fluxo ao longo da costa e em
direção ao nordeste reduzindo a estratificação vertical na região ao norte da boca da
Lagoa dos Patos. Estas condições de ventos intensificam os processos de mistura
(Figura 4.9H) junto à zona costeira evitando o espalhamento da pluma junto à costa.
A análise prévia considerando a ação da descarga fluvial, o efeito da rotação da
Terra, a ação das marés e o efeito dos ventos permitiram estabelecer um padrão
descritivo de circulação da zona costeira adjacente e sua influência para o controle do
destino da pluma da Lagoa dos Patos. Posteriormente, foi considerada a influência dos
efeitos remotos nos níveis de água e na circulação dirigida por gradientes de densidade
ao longo da plataforma continental, incluindo indiretamente o efeito da pluma do Rio da
Prata e da Corrente do Brasil, bem como, das trocas de calor com a atmosfera.

141
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.8. Ventos de SE (A), e salinidade e velocidade de corrente calculadas (B). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa
(C) e transversalmente a costa (D) após 135 dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Ventos de SO (E), e salinidade e
velocidade de corrente calculadas (F). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (G) e transversalmente a costa (H) após 136
dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Nas figuras verticais, os níveis sigma foram apresentados como igualmente
espaçados para melhorar a visualização.

142
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.9. Ventos de NE (A), e salinidade e velocidade de corrente calculadas (B). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa
(C) e transversalmente a costa (D) após 144 dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Ventos de NO (E), e salinidade e
velocidade de corrente calculadas (F). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (G) e transversalmente a costa (H) após 145
dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Nas figuras verticais, os níveis sigma foram apresentados como igualmente
espaçados para melhorar a visualização.

143
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Os mesmos eventos analisados anteriormente são agora analisados considerando


todas as forçantes, de forma a permitir a avaliação da contribuição dos efeitos remotos
para o padrão de circulação analisado nestas escalas de tempo. Os resultados indicam
que a dinâmica da zona costeira durante os eventos de quadrante sul (dias 135 e 136)
não apresenta mudanças significativas em relação à tendência da direção das correntes
ou do transporte dominante (Figura 4.10). Entretanto, a intensidade das velocidades de
corrente é sensivelmente aumentada, acarretando o aumento nos processos de mistura, o
que pode ser verificado superficialmente (Figuras 4.10B e 4.10F) e verticalmente
(Figuras 4.10C, 4.10D, 4.10G e 4.10H).
Os resultados também indicam que a consideração da variabilidade da salinidade
da zona costeira com a inclusão do efeito indireto da pluma do Rio da Prata gerou um
aumento na salinidade da zona costeira para índices termohalinos associados a esta
massa de água, aumentando a estratificação horizontal ao longo da zona costeira
(Figuras 4.10D e 4.10G) e reduzindo a estratificação transversalmente a costa (Figuras
4.10E e 4.10H). De maneira análoga, vemos que a dinâmica da zona costeira durante os
ventos de quadrante norte (dias 144 e 145) também não apresentaram mudanças
significativas com relação à tendência de transporte dominante (Figura 4.11).
Entretanto, as intensidades das correntes foram sensivelmente aumentadas e as
modificações ocorreram no campo de salinidade. Ao longo da costa, o campo de
salinidade apresentou um aumento de estratificação refletido em um aumento no
gradiente vertical (Figuras 4.11C e 4.11G). Transversalmente a costa, a influência das
águas do Rio da Prata reduziu a intrusão da pluma da Lagoa dos Patos em direção ao
oceano pela intensificação dos processos de mistura (Figuras 4.11D e 4.11H).

144
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.10. Ventos de SE (A), e salinidade e velocidade de corrente calculadas (B). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa
(C) e transversalmente a costa (D) após 135 dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Ventos (E), e salinidade e velocidade
de corrente calculadas (F). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (G) e transversalmente a costa (H) após 136 dias de
simulação considerando a força de Coriolis, as marés, os ventos e as forçantes remotas da plataforma continental. Nas figuras verticais, os níveis sigma
foram apresentados como igualmente espaçados para melhorar a visualização.

145
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.11. Ventos (A), e salinidade e velocidade de corrente calculadas (B). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (C) e
transversalmente a costa (D) após 144 dias de simulação considerando a força de Coriolis, as marés e os ventos. Ventos (E), e salinidade e velocidade de
corrente calculadas (F). Perfis verticais de salinidade e velocidade de corrente ao longo da costa (G) e transversalmente a costa (H) após 145 dias de
simulação considerando a força de Coriolis, as marés, os ventos e as forçantes remotas da plataforma continental. Nas figuras verticais, os níveis sigma
foram apresentados como igualmente espaçados para melhorar a visualização.

146
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

4.3. Análise da variabilidade espacial e temporal da pluma

4.3.1. Análise da camada superficial

O campo superficial médio de salinidade (Figura 4.12) é apresentado de forma a


ilustrar a estrutura dominante da pluma costeira da Lagoa dos Patos formada nesta
região durante o período de estudo. De acordo com Möller et al. (2008) águas com
salinidades menores que 33.5 nesta região da plataforma continental podem ser
consideradas águas influenciadas pela pluma do Rio da Prata. Considerando que a
pluma costeira da Lagoa dos Patos está normalmente embebida nas águas da pluma do
Rio da Prata, águas com salinidade menores que 31 encontradas nas adjacências, foram
consideradas neste trabalho como associadas à influência direta da descarga da Lagoa
dos Patos. Neste sentido, o padrão médio desta pluma sugere um comportamento
subcrítico, onde não é possível identificar claramente uma grande diferença entre a
protuberância formada próximo a região do canal de acesso e a região da corrente
costeira localizada ao norte. As menores salinidades são encontradas ao sul do canal de
acesso, indicando que esta pluma, em média, apresenta um desvio para o sul da
desembocadura.

Figura 4.12. Campo superficial médio de salinidade calculado para os 689 dias de simulação.
São apresentados na figura os pontos 1, 2 e ,3 que serão utilizados na análise dos processos de
mistura.

147
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.13. Primeiro modo da EOF da salinidade simulada na camada superficial do modelo.
O percentual da variância explicada por este modo é apresentado na figura.

Figura 4.14. Segundo modo da EOF da salinidade simulada na camada superficial do modelo.
O percentual da variância explicada por este modo é apresentado na figura.

A investigação do padrão de variabilidade temporal e espacial da pluma costeira


da Lagoa dos Patos foi realizada através da análise de EOF da salinidade calculada na

148
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

camada superficial do modelo, com uma análise posterior de seu padrão de


variabilidade temporal através do método de ondaletas.
Os dois principais modos de variabilidade são apresentados nas Figuras 4.13 e
4.14. A análise do primeiro modo de variabilidade nos informa qualitativamente a
posição dominante da pluma costeira, nos indicando a ordem de grandeza de suas
escalas espaciais, bem como as regiões onde podemos esperar uma influência direta da
pluma para a dinâmica do ecossistema costeiro adjacente. O primeiro modo ortogonal
empírico explica aproximadamente 70% da variabilidade espacial da pluma, refletindo
sua migração dominante em direção ao sudoeste na zona costeira adjacente. O segundo
modo empírico explica aproximadamente 19% da variabilidade espacial e indica uma
região com uma maior variabilidade localizada ao norte e outra zona com menor
localizada ao sul. O segundo modo mostra que a região mais ao norte da desembocadura
será mais influenciada pelas águas de origem continental de maneira intermitente de
acordo com as mudanças no padrão de circulação costeira.
As análises de espectro cruzado de ondaletas entre os coeficientes de expansão
das EOF’s, descarga fluvial e intensidade dos ventos indicou um padrão bastante similar
ao obtido na região da desembocadura da Lagoa dos Patos, com algumas diferenças
obtidas na análise do segundo modo empírico. A análise de espectro cruzado de energia
local entre as séries temporais de descarga fluvial e de coeficientes do primeiro auto-
vetor (Figura 4.15A) indicam que a descarga fluvial contribui para o desenvolvimento
da pluma costeira seguindo os mesmos ciclos mensal, sazonal e anual (Figura 4.15B).
Os ciclos de escala mensal ocorrem praticamente durante todo o período de
estudo, com exceção do primeiro trimestre de 1999 (entre dias 300 e 450) que é bastante
seco. A contribuição dos ciclos sazonais aparece mais marcada nos períodos de
inverno/primavera de 1998 (entre 100 e 200 dias) e inverno/primavera de 1999 (entre
500 e 600 dias). A influência do ciclo anual aparece no período de transição entre os
anos de 1998, alta descarga de primavera, e de 1999 com sua baixa descarga de verão.
O espectro de potência global confirma (Figura 4.15C) a ocorrência dos ciclos
de escala mensal, sazonal e anual com 95% de confiança ao longo do período estudado.
A análise da variância média (Figura 4.15D) do espectro analisado para os processos
com escala temporal maior que 20 e menor que 365 dias indica que a manutenção do
primeiro modo de variabilidade depende da disponibilidade de águas de origem
continental ao longo de todo o período independente dos ciclos dominantes no mesmo.

149
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.15. Séries temporais da amplitude relativa do primeiro auto-vetor (EOF1) e da


descarga fluvial (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Chapéu
Mexicano (B). Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído
vermelho de 0.25. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das
bordas passam a ser importantes. O espectro de potência cruzado global (C) das séries
temporais e a linha pontilhada indica o nível de 95% de confiança.Série temporal da variância
(escalas de tempo menores que 20 dias) com o nível de 95% de confiança apresentado pela
linha pontilhada preta.

Figura 4.16. Séries temporais da amplitude relativa do primeiro auto-vetor (EOF1) e da


intensidade dos ventos (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Morlet (B).
Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído vermelho de
0.75. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das bordas passam a
ser importantes. O espectro de potência cruzado global (C) das séries temporais e a linha
pontilhada indica o nível de 95% de confiança.Série temporal da variância (escalas de tempo
menores que 20 dias) com o nível de 95% de confiança apresentado pela linha pontilhada
preta.

150
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

O espectro cruzado de energia local entre as séries temporais de intensidade do


vento e dos coeficientes do primeiro auto-vetor (Figura 4.16A) indicam que a principal
contribuição dos ventos segue um ciclo de mais curto período (Figura 4.16B).
Novamente, o padrão sazonal e anual não é tão claro quanto o que pode ser observado
para a descarga fluvial. Entretanto, sua influência para o desenvolvimento da pluma
costeira também parece mais importante durante o primeiro ano de estudo. O espectro
global da análise (Figura 4.16C) indica com 95% de confiança a ocorrência de
processos com escalas temporais menores que 20 dias durante todo o período de estudo.
A análise da variância média (Figura 4.16D) para os processos com escala temporais
menores que 20 dias sugere um efeito compensatório entre a ação dos ventos e a
descarga para o desenvolvimento da pluma costeira da Lagoa dos Patos.
As análises de espectro cruzado de ondaletas entre os coeficientes de expansão
do segundo auto-vetor da EOF, descarga fluvial e intensidade dos ventos (Figuras 4.17 e
4.18) indicou um padrão similar ao obtido para o primeiro modo no que diz respeito à
ocorrência de processos e os ciclos de ocorrência. Entretanto, fica claro nos resultados
de análise de variância (Figura 4.17D e 4.18D) que a influência da descarga fluvial
assume um papel secundário para a manutenção deste modo de variabilidade. A ação
dos ventos se torna mais importante durante todo o período de estudo, especialmente
durante o período de transição do ano de 1998 para o ano de 1999, quando o efeito da
descarga fluvial se torna naturalmente menos importante.
De maneira geral estes resultados indicam que as condições de formação e
desenvolvimento da pluma costeira da Lagoa dos Patos são dominantemente
influenciadas por uma combinação de efeitos associados à descarga fluvial dos
principais rios afluentes da Lagoa dos Patos e à ação local dos ventos. Por outro lado, a
migração intermitente desta pluma em direção ao norte é influenciada principalmente
pela ação local dos ventos, sobretudo, em períodos de descarga fluvial baixa a
moderada.

151
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.17. Séries temporais da amplitude relativa do segundo auto-vetor (EOF2) e da


descarga fluvial (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Chapéu
Mexicano (B). Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído
vermelho de 0.25. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das
bordas passam a ser importantes. O espectro de potência cruzado global (C) das séries
temporais e a linha pontilhada indica o nível de 95% de confiança.Série temporal da variância
(escalas de tempo menores que 20 dias) com o nível de 95% de confiança apresentado pela
linha pontilhada preta.

Figura 4.18. Séries temporais da amplitude relativa do segundo auto-vetor (EOF2) e da


intensidade dos ventos (A), espectro cruzado de energia local utilizando ondaleta de Chapéu
Mexicano (B). Linhas pretas indicam regiões de 95% de confiança para um processo com ruído
vermelho de 0.75. A linha pontilhada preta indica o cone de influência onde os efeitos das
bordas passam a ser importantes. O espectro de potência cruzado global (C) das séries
temporais e a linha pontilhada indica o nível de 95% de confiança. Série temporal da variância
(escalas de tempo menores que 20 dias) com o nível de 95% de confiança apresentado pela
linha pontilhada preta.

152
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

4.3.2. Análise dos perfis verticais

A análise da variabilidade espacial e temporal da estrutura vertical da pluma


costeira da Lagoa dos Patos foi realizada considerando dois perfis selecionados de
acordo com as regiões de maior ocorrência da pluma ao longo e transversalmente a zona
costeira adjacente. Estes dois perfis foram selecionados de acordo com as análises de
variabilidade da seção anterior e suas posições podem ser observadas na Figura 4.6A.
Similarmente ao que foi apresentado na seção anterior, o campo médio de
salinidade foi calculado para cada um dos perfis de forma a indicar a estrutura
dominante para a região durante o período estudado. O campo de salinidade vertical
médio ao longo da costa (Figura 4.19A) indica um padrão de propagação com algum
grau de assimetria, indicando a direção de propagação dominante da pluma para o sul.
Transversalmente a zona costeira (Figura 4.19B), o alcance médio de aproximadamente
40 km em direção ao oceano aberto pode ser observado. Em ambos os casos, vemos que
a pluma alcança o fundo na região junto à desembocadura da Lagoa dos Patos, em
profundidades de até 10 m, sendo rapidamente espalhada pelo efeito positivo da
flutuabilidade. Nas regiões mais afastadas, a pluma se torna uma massa de água bem
superficial, onde suas profundidades médias normalmente não excedem os 6 m.

Figura 4.19. Média temporal da salinidade para os 689 dias de simulação para o perfil
longitudinal (A) e transversal (B) a plataforma continental. As posições P1, P2 e P3 indicam os
pontos onde foram extraídas series temporais de salinidade e componente da velocidade
longitudinal ao perfil.
153
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.20. Primeiro modo da EOF (A), segundo modo da EOF (B) da salinidade simulada no
perfil longitudinal a zona costeira. O percentual da variância explicada pelos modos é
apresentado nas figuras.

Figura 4.21. Primeiro modo da EOF (A), segundo modo da EOF (B) da salinidade simulada no
perfil transversal a zona costeira. O percentual da variância explicada pelos modos é
apresentado nas figuras.

154
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

As análises de EOF dos perfis verticais de salinidade confirmaram a existência


dos máximos de variabilidade dominantes ao sul no perfil longitudinal à costa (Figura
4.20) e transversalmente (Figura 4.21) a plataforma continental. Similarmente ao
observado no campo de salinidade superficial, os primeiros modos de variabilidade
(Figura 4.20A e 4.21A) representam bem as feições médias dos campos de salinidade,
sugerindo o comportamento residual destas feições. A análise dos modos empíricos
confirma ainda regiões de máxima variabilidade ocorrendo nos primeiros 5 m da coluna
de água e a cerca de 40 km ao sul e em direção ao oceano aberto. O modo secundário de
variabilidade espacial (Figura 4.20B) confirma a existência dos centros de variabilidade
ao norte e ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos, observado anteriormente no
modo de variabilidade da superfície.
Transversalmente à plataforma continental (Figura 4.21B) novamente é
observado um duplo núcleo de variabilidade espacial no campo de salinidade, indicando
uma zona de máximo em direção ao oceano e outra de mínimo junto à desembocadura
da Lagoa dos Patos. Este modo confirma o padrão de migração da pluma durante a
influência de ventos de quadrante sul, onde os mínimos observados junto à
desembocadura sugerem que a formação da pluma pode ser interrompida e a massa de
água espalhada em direção ao norte. De acordo com os resultados, a sua influência pode
se estender a regiões afastadas cerca de 40 km da desembocadura da Lagoa dos Patos
em direção ao oceano (Figura 4.21B) e mais de 35 km ao norte (Figura 4.20B).
As análises espectrais cruzadas das séries de coeficientes das analises de EOF
dos perfis verticais com as principais forçantes foi realizada e confirmou o mesmo
padrão de variabilidade temporal observado no campo superficial de salinidade. Onde,
o desenvolvimento da pluma é dominantemente influenciado pela combinação de
efeitos associados à descarga fluvial e à ação local dos ventos e sua migração
intermitente em direção ao norte é influenciada principalmente pela ação local dos
ventos. Portanto, estes resultados não serão apresentados na seqüência do capítulo.
Por outro lado, uma análise da correlação temporal dos perfis de salinidade e
velocidade de corrente (componente longitudinal ao perfil) na região da zona costeira
influenciada pela pluma da Lagoa dos Patos foi obtida através da análise direta de sua
evolução temporal e análises de espectro cruzado bi-dimensional de ondaletas. Para
isso, foram selecionados três pontos localizados ao sul e ao norte da desembocadura ao

155
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

longo da costa, e um terceiro ponto localizado transversalmente a desembocadura em


direção ao oceano aberto (Figura 4.19).

Figura 4.22. Variação temporal do perfil vertical de salinidade na posição 1 (A), posição 2 (C)
e posição 3 (D). Variação temporal do perfil vertical da componente longitudinal da velocidade
de corrente na posição 1 (B), posição 2 (D) e posição 3 (F).

Podemos observar que, de maneira geral, as águas da Lagoa dos Patos são mais
bem distribuídas ao longo da plataforma continental (Figuras 4.22A e 4.22C) em
direção ao sul. Os padrões da velocidade de corrente (Figuras 4.22B e 4.22D) são
também bastante complexos, com períodos de uniformidade ao longo da coluna de água
ou mesmo de fluxos com reversão entre a superfície e o fundo. As menores salinidades
ao sul (norte) são normalmente melhor correlacionadas com as velocidades negativas

156
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

(positivas). Por outro lado, os períodos em que são observadas as maiores salinidades
estão associados a perfis de velocidades mais complexos com fluxos reversos entre
superfície e fundo o que acaba por favorecer os processos de mistura.
No ponto colocado transversalmente a plataforma continental (Figura 4.22E)
vemos um padrão de variabilidade temporal bastante similar ao perfil localizado ao sul.
Porém, o campo de velocidade longitudinal ao perfil (Figura 4.22F) indica o padrão
típico de circulação transversal dirigida pelo vento em plataformas continentais, onde a
circulação na camada de Ekman de superfície é balanceada pelo fluxo de ajuste na
camada de fundo. Os menores (maiores) valores de salinidade observados neste perfil
estão associados a velocidades positivas (negativas).
A correlação entre a salinidade e as velocidades longitudinais nos perfis verticais
(P1, P2 e P3) foi analisada em diferentes escalas de tempo pela aplicação de análises
espectrais cruzadas bi-dimensionais utilizando o método de ondaletas. As análises
foram realizadas considerando processos de escalas temporais distintas, onde no
primeiro caso foram investigados os processos com escalas temporais maiores que 20
dias e menores que 365 dias. No segundo caso somente os processos com escalas
menores que 20 dias foram analisados.
Analisando o espectro cruzado da salinidade e velocidade no ponto P1 (Figura
4.23A) em escalas de tempo mais longas, podemos observar a maior correlação entre as
variáveis ocorrendo em escalas sazonais, com valores máximos ocorrendo entre 250 e
500 dias, sendo modulada por perturbações de menores níveis energéticos e escalas
temporais. Analisando o espectro cruzado da salinidade e velocidade no ponto P1
(Figura 4.24A) em escalas de tempo mais curtas, vemos a correlação entre as variáveis
ocorrendo de maneira inversa ao anterior, com valores máximos nos primeiros 250 dias
e nos últimos 180 dias do estudo.
A análise da variância média ao longo da vertical integrada em todo o tempo de
estudo (Figuras 4.23B e 4.24B) indica que em ambas as escalas de tempo, a correlação
significativa entre as variáveis ocorre nos primeiros 3 m de profundidade. As séries
temporais de variância média das análises ao longo de todas as profundidades (Figuras
4.23C e 4.24C) indicam um caráter complementar, onde, as maiores correlações em
escalas menores que 20 dias ocorrem em períodos de maior disponibilidade de águas,
enquanto, a maior contribuição dos eventos de descarga fluvial para o padrão de
circulação aparece durante os períodos mais secos.

157
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.23. Análise espectral cruzada para eventos de escala temporal maiores que 20 e
menores que 365 dias, ao longo da vertical, entre as séries temporais de salinidade e
velocidade de corrente no ponto P1 (A). O contorno preto indica o nível de 95% de confiança.
Variância média da análise ao longo de todo o tempo (B) e série temporal da variância média
da análise ao longo de todas as profundidades (C). A linha preta pontilhada indica o nível de
95% de confiança.

Figura 4.24. Análise espectral cruzada para eventos de escala temporal menor que 20 dias, ao
longo da vertical, entre as séries temporais de salinidade e velocidade de corrente no ponto P1
(A). O contorno preto indica o nível de 95% de confiança. Variância média da análise ao longo
de todo o tempo (B) e série temporal da variância média da análise ao longo de todas as
profundidades (C). A linha preta pontilhada indica o nível de 95% de confiança.

158
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A maior contribuição das correntes (em escalas temporais menores que 20 dias)
para a manutenção das menores salinidades do ponto P1 é observada durante os
períodos de maior disponibilidade de águas de origem continental na região (primeiros
250 dias e últimos 180 de estudo). Nestes períodos, as águas de origem continental
podem ser melhores distribuídas ao longo da plataforma continental por condições de
ventos favoráveis (ventos de quadrante norte). Por outro lado, durante os períodos de
menor disponibilidade de águas de origem continental da região (entre 250 e 550 dias)
aparecem às maiores correlações entre as variáveis em escalas sazonais e anuais
respondendo as condições eventuais de descarga associadas a este período, e que nem
sempre estão associadas à ocorrência de ventos de quadrante norte.
O espectro cruzado da salinidade e velocidade no ponto P2 (Figura 4.25A) em
escalas de tempo mais longas indica um padrão de variabilidade um pouco diferente do
observado no ponto P1. Podemos notar que existe correlação entre as variáveis nestas
escalas de tempo durante praticamente todo o período de estudo na forma de uma
sobreposição de perturbações de escalas intra-sazonais, sazonais e do ciclo anual. Em
escalas temporais mais curtas (menores que 20 dias), o espectro cruzado da salinidade e
velocidade no ponto P2 (figura 4.26A) indica um padrão similar ao observado no ponto
P1, com maiores valores ocorrendo no primeiro ano e no fim do segundo ano de estudo.
Entretanto, alguns ciclos que são mais energéticos quando observados no ponto P1 são
observados com menores níveis de energia no ponto P2 devido a sua orientação com
relação à desembocadura da Lagoa dos Patos.
A variância média ao longo da vertical integrada em todo o tempo de estudo
(Figuras 4.25B e 4.26B) indica que em ambas as escalas de tempo, a maior correlação
entre as variáveis ocorre nos primeiros 2 m de profundidade, indicando menor
influência das águas de origem continental nesta região. As séries temporais de
variância média das análises (Figuras 4.25C e 4.26C) ao longo de todas as
profundidades indicam algum grau de complementaridade entre os processos físicos
observados em diferentes escalas temporais observados nas análises de espectro
energético, assim como no ponto P1. Entretanto, ocorrem condições em que existe alta
correlação entre as variáveis em diferentes escalas de tempo durante o mesmo período
(primeiros 300 dias), pois a ocorrência de baixas salinidades no ponto P2 está associada
à disponibilidade de águas de origem continental associada a condições de velocidades
favoráveis (positivas) que são atribuídas à passagem de frentes meteorológicas na
região.

159
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.25. Análise espectral cruzada para eventos de escala temporal maiores que 20 e
menores que 365 dias, ao longo da vertical, entre as séries temporais de salinidade e
velocidade de corrente no ponto P2 (A). O contorno preto indica o nível de 95% de confiança.
Variância média da análise ao longo de todo o tempo (B) e série temporal da variância média
da análise ao longo de todas as profundidades (C). A linha preta pontilhada indica o nível de
95% de confiança.

Figura 4.26. Análise espectral cruzada para eventos de escala temporal menor que 20 dias, ao
longo da vertical, entre as séries temporais de salinidade e velocidade de corrente no ponto P2
(A). O contorno preto indica o nível de 95% de confiança. Variância média da análise ao longo
de todo o tempo (B) e série temporal da variância média da análise ao longo de todas as
profundidades (C). A linha preta pontilhada indica o nível de 95% de confiança.

160
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Nos períodos de menor disponibilidade de águas de origem continental na região


(entre 300 e 400 dias), assim como no ponto P1, aparecem as correlações entre os ciclos
mais longos de descarga fluvial e a redução da salinidade, sem contribuição associada
ao vento. Nestes períodos, podemos inferir que a contribuição da descarga para este
padrão de salinidade é mais associado à inércia do fluxo introduzido na plataforma
continental que tende a se espalhar radialmente durante períodos de ventos fracos, por
exemplo.
A análise de correlação entre a salinidade e as velocidades longitudinais no
perfil vertical P3 foi analisada em diferentes escalas de tempo e apresentou um padrão
similar ao observado no ponto P1, de forma que não será apresentada na seqüência dos
resultados.

4.4. Análise qualitativa do destino da pluma: imagens de


sensoriamento remoto orbital X dados de ventos

Os resultados obtidos através de experimentos de modelagem numérica


indicaram que os ventos são o principal mecanismo forçante no controle do
comportamento e destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos em escalas sinóticas de
tempo. Com o objetivo de corroborar esta constatação, uma comparação qualitativa
entre imagens de cor verdadeira obtida a partir do sensor remoto MODIS-Aqua foram
utilizadas para a comparação visual com dados de ventos de Reanálise obtidos para o
mesmo dia da imagem.
Condições de ventos de sudoeste (Figura 4.27A) observadas em 13 de setembro
de 2002 associadas à passagem de frentes meteorológica induzem a ocorrência de
processos de subsidência junto à zona costeira, e como resposta a este processo, a pluma
costeira da Lagoa dos Patos se espalha em direção ao norte junto à linha de costa
(Figura 4.27B). A segunda situação, ocorrida em 24 de setembro de 2002, apresenta um
período de transição de ventos de sudoeste para nordeste, indicando a reversão da
direção dos ventos após a passagem da frente meteorológica (Figura 4.27C). Estas
condições de ventos contribuem para o transporte das águas de origem continental em
direção ao oceano aberto, intensificando os processos de re-suspensão ao longo das
regiões mais rasas. Nestas, condições, a pluma costeira se afasta da linha de costa, sendo
transportada para o sudeste em direção ao oceano aberto (Figura 4.27D).

161
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.27. Dados de ventos de Reanálise (A) e imagem de cor verdadeira (B) para o dia 13
de setembro de 2002. Dados de ventos de Reanálise (C) e imagem de cor verdadeira (D) para
24 de setembro de 2002. Dados de ventos de Reanálise (E) e imagem de cor verdadeira (F)
para 15 de novembro de 2005.

A última situação apresentada mostra condições de ventos de nordeste que


começam a enfraquecer antes da passagem de uma frente meteorológica (Figura 4.27E)
no dia 15 de novembro de 2005. Estas condições contribuem para a propagação da
pluma costeira da Lagoa dos Patos em direção a sul/sudeste. As imagens de satélite
mostraram três situações diversas que ajudam a esclarecer a contribuição dos ventos no

162
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

controle do comportamento e destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos em escalas


de poucos dias, corroborando assim os resultados obtidos através da modelagem
numérica.

4.5. Análise dinâmica das condições médias da pluma da


Lagoa dos Patos

A investigação das principais forçantes que controlam a formação, o


desenvolvimento e o destino da pluma costeira da Lagoa dos Patos foi realizada
primeiramente através da análise direta com experimentos de modelagem numérica,
métodos estatísticos, e através da análise qualitativa de algumas imagens de satélite e
dados de ventos. A análise seguinte segue o esquema proposto por Garvine (1995), que
utiliza uma série de parâmetros adimensionais como esquema de classificação dinâmica
de plumas de caráter “persistente”, que segundo a classificação deste autor, são as mais
importantes para a ecologia do ambiente.
Estas plumas são definidas como persistentes quando as análises são realizadas
em escalas de tempo maiores que uma semana, de forma que os termos que representam
suas variações locais podem ser desprezados e as soluções passam a ser representadas
de maneira integrada verticalmente. Com o objetivo de obtermos resultados consistentes
com as hipóteses propostas por Garvine (1995), as análises dinâmicas deste trabalho
foram realizadas considerando as condições médias obtidas para a pluma costeira da
Lagoa dos Patos durante os 688 dias de simulação.
A Tabela 4.2 mostra todos os parâmetros físicos necessários para o cálculo dos
parâmetros adimensionais, que foram obtidos a partir dos resultados médios deste
estudo ou de referências bibliográficas prévias. A análise pelo método de Garvine
(1995) utiliza como parâmetro principal o número de Kelvin (K), dado pela razão entre
a largura da pluma e o raio baroclínico de Rossby, além de outros: como o número de
Froude (F), que expressa à relação entre a inércia do fluxo e a ação da gravidade
(flutuabilidade), e os transportes associados à ação dos ventos (Ve/HU), e o coeficiente
de fricção com o fundo (r/ƒH) que indica a importância das tensões de cisalhamento do
vento e de fundo para a dinâmica da pluma.

163
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 4.2. Parâmetros aplicados nos cálculos do esquema de classificação dinâmica obtidos
pelos resultados do modelo (X) ou de outra fonte (G95- Garvine (1995)).
Parâmetro Valor Fonte
(unidade)
Latitude 32ºS X
Fluxo médio ao longo da costa 0.12 m s-1 X
Extensão da pluma ao longo da costa 90411 m X
Extensão da pluma transversal a costa 32165 m X
Profundidade média da pluma 5m X
Diferença de densidade da superfície ao fundo no canal de 16 kg m-³ X
acesso
Tensão média de cisalhamento do vento 0.0035 N m-² X
Coeficiente de fricção 0.0001 m s-1 G95
Aceleração da gravidade 9.81 m s-1 X

Na Tabela 4.3, temos um quadro comparativo com estimativas realizadas por


Garvine (1995) e Burrage et al. (2008) para outras plumas no mundo, e as estimativas
calculadas para a pluma costeira da Lagoa dos Patos neste estudo. Os valores
encontrados para a Lagoa dos Patos se encontram nos limites inferiores ou superiores
definidos para cada um dos parâmetros, sugerindo um comportamento bastante
contrastante da pluma costeira da Lagoa dos Patos quando comparada com as demais.

Tabela 4.3. Parâmetros não-dimensionais obtidos a partir do esquema de classificação de


Garvine (1995). Valores deste trabalho são indicados pela fonte (G95), valores obtidos de
Burrage et al. (2008) são indicados por (B08), e os obtidos neste trabalho por X e apresentados
em negrito. Nesta tabela: K indica o número de Kelvin, F o número de Froude, KF indica o
produto de Kelvin pelo Froude, 1/G indica o inverso da razão de aspecto, Ve/HU representa a
influência dos ventos no transporte da pluma, r/ƒH a importância da tensão associada ao
arrasto de fundo.
Pluma K F KF 1/G Ve/HU r/ƒH Fonte
Gaspe 2 0.4 0.8 10 0.01 0.1 G95
Rhine 3 0.1 0.3 5 0.2 0.7 G95
Algerian 3 0.3 0.9 8 0.01 0.06 G95
Delaware 4 0.1 0.4 5 0.3 0.4 G95
Norwegian 4 0.1 0.4 10 0.01 0.02 G95
Scottish 10 0.1 1 5 0.05 0.1 G95
Plata 5.3 0.04 0.19 5.9 0.09 0.09 B08
Patos 2.4 0.09 0.22 3 0.63 0.65 B08
Patos 2.8 0.05 0.14 2.8 0.73 0.25 X

De maneira geral, os valores encontrados neste trabalho através de resultados


médios obtidos por experimentos de modelagem numérica mostram um ótimo acordo
com valores encontrados por Burrage et al. (2008) para a pluma da Lagoa dos Patos

164
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

através de observações diretas. Valores de K e F encontrados sugerem uma influência


moderada dos efeitos da rotação da Terra na dinâmica da pluma e um comportamento
médio subcrítico, indicando que a estratificação de densidade e flutuabilidade têm uma
grande contribuição para a estrutura observada da pluma na zona costeira. Os valores
encontrados para Ve/HU e r/ƒH, indicam uma grande influência da ação dos ventos para
a dinâmica e menor contribuição do arrasto com o fundo, implicando que esta pluma se
comporta como uma lente de água doce na região costeira.

Tabela 4.4. Balanço de momento (não dimensional) obtido a partir dos parâmetros
adimensionais calculados neste trabalho para a Lagoa dos Patos e baseado no esquema de
classificação de Garvine (1995).
Direção Advecção Coriolis Gradiente de Tensão do Tensão de
Pressão vento fundo
Ao longo da 0.0025 0.1411 1 0.2928 0.1029
costa
Transversal a 0.0003 0.1411 1 0.1042 0.0130
costa

Com o objetivo de quantificar a dominância das forçantes no movimento da


pluma ao longo e transversalmente a costa (Tabela 4.4), foi realizada a análise de
balanço de momento adimensional proposta por Garvine (1995), utilizando os
parâmetros obtidos neste trabalho, e que foram apresentados na Tabela 4.3. De acordo
com os resultados, a influência da rotação da Terra para o movimento da pluma costeira
da Lagoa dos Patos apresenta uma importância secundária para o balanço de momento
ao longo da costa, sendo seguida pela influência da fricção de fundo. Nesta direção o
movimento é dominado pela ação do vento.
Na direção transversal à costa, a rotação da Terra e da ação dos ventos passam a
ter praticamente a mesma influência para o balanço dinâmico da pluma. O efeito da
fricção de fundo é mais importante ao longo da plataforma continental do que
transversalmente a mesma devido ao declive observado da direção do oceano aberto.

4.6. Esquema de classificação de plumas

A análise visual do campo médio de salinidade superficial da pluma costeira da


Lagoa dos Patos apresentado anteriormente na Figura 4.12 indica um padrão médio de
espalhamento subcrítico, com uma tendência dominante de espalhamento para o sul e
sem a formação de uma corrente costeira bem definida em direção ao norte. A

165
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

confirmação da análise qualitativa realizada no campo de salinidade pode ser obtida


pela aplicação do método proposto por Chao (1988a), que se baseia na comparação
entre o número de Froude e um parâmetro de dissipação.
A análise dinâmica mostrada na seção anterior indica que a pluma da Lagoa dos
Patos possui um número de Froude médio da ordem de 0.05. Um mapa de número de
Froude médio para a região é apresentado na Figura 4.28. Vemos que os valores variam
entre 0.005, ao sul do canal de acesso junto à zona costeira, e 0.045 na região próxima a
desembocadura da Lagoa dos Patos, onde podem ser encontrados os maiores gradientes
de salinidade associado à descarga de água doce da Lagoa dos Patos.
Os baixos valores de Froude (menores que 1) sugerem o comportamento de
fluxos subcríticos, onde o efeito da gravidade ou da flutuabilidade positiva, associada à
menor densidade da água proveniente da laguna, prepondera sobre o efeito das forças de
inércia do fluxo.

Figura 4.28. Mapa do número de Froude médio ao longo dos 688 dias de simulação.

A aplicação do diagrama que relaciona o número de Froude e o termo


adimensional de dissipação (Figura 4.29A) mostra que a pluma costeira da Lagoa dos
Patos pode se desenvolver com condições subcríticas, subcríticas difusivas ou
supercíticas difusivas. Vemos que para valores de dissipação maiores que 0.125, os
pontos ou valores de número de Froude que se localizam abaixo da reta (inclinação
aproximada de 1.8) são classificadas como subcríticas. Estas plumas têm um caráter
pouco dissipativo, podendo se espalhar de forma mais eficiente ao longo da plataforma
continental com baixas taxas de mistura.

166
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Plumas que possuem valores de dissipação menores que 0.125 com números de
Froude que se localizam abaixo da reta são classificados como subcríticas difusivas. Por
outro lado, plumas com valores de dissipação menores que 0.125 e números de Froude
localizados acima da reta são classificadas como supercríticas difusivas. Plumas
difusivas têm um caráter altamente dissipativo e sua propagação ao longo da costa são
reduzidas, de forma que se tornam mais largas, pois os processos de mistura ocorrem de
forma mais eficiente.
O valor médio calculado para todo o período de simulação, indicado pelo ponto
preto na Figura 4.29A indica um padrão subcrítico, que corrobora a análise qualitativa
que pode ser realizada pela observação direta do campo médio de salinidade da Figura
4.12. O gráfico de freqüência de ocorrência dos tipos de plumas observadas segundo o
esquema de classificação definido indica que 82% da ocorrência são de plumas
subcríticas, somando apenas 17% para as plumas do tipo difusivas.

Figura 4.29. Esquema de classificação de plumas baseado em dois parâmetros adimensionais:


número de Froude e dissipação atuando para retardar a intrusão da densidade (A). Gráfico de
percentual de ocorrência dos diferentes tipos de pluma observados (B). O ponto preto mostrado
indica a classificação média da pluma costeira da Lagoa dos Patos.

A evolução temporal da estratificação vertical na região próxima a


desembocadura da Lagoa dos Patos foi comparada diretamente com séries temporais do
número de Froude (Figura 4.30A) e do parâmetro adimensional de dissipação (Figura
4.30B). Podemos observar que quanto maior a estratificação menor a intensidade do
número de Froude calculado. O parâmetro de dissipação mostra valores relativamente

167
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

altos durante todo o período, indicando um caráter pouco dissipativo durante maior
parte do período analisado. Pois, quanto maior o a razão entre as velocidades de
propagação de fase de ondas internas entre campo distante da pluma e a boca do
estuário, menor a dissipação de energia.
Durante alguns períodos, que estão normalmente associados a picos de descarga
que ocorrem em escalas mais curtas de tempo (ciclos de 30 a 60 dias), vemos os
menores valores do parâmetro de dissipação, indicando um caráter mais dissipativo para
as plumas que ocorrem durante estes períodos. De forma a ilustrar os tipos e formas que
a pluma costeira da Lagoa dos Patos pode assumir, foram selecionados três plumas que
ocorreram nos dias 21, 126 e 127 de simulação para ilustrar a ocorrência de plumas
supercríticas difusivas, subcríticas difusivas e subcríticas, respectivamente (Figuras
4.31A, 4.31B e 4.31C).

Figura 4.30. Séries temporais de número de Froude e estratificação vertical de salinidade na


região próxima a desembocadura da Lagoa dos Patos (A). Séries temporais do parâmetro
adimensional de dissipação e estratificação vertical de salinidade próxima a desembocadura da
Lagoa dos Patos (B).

Segundo o critério de classificação de Chao (1988), a característica marcante das


plumas do tipo supercríticas, é a formação de uma zona de giro (bulge) bem
desenvolvida junto à desembocadura do estuário e uma corrente costeira bem definida
no campo distante, junto à cabeça da pluma. Este é o típico caso que não é observado
para a Lagoa dos Patos, pois, as principais características das plumas formadas pela

168
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

descarga da laguna são: baixos números de Froude, grande espalhamento radial e pouca
diferenciação entre sua zona de giro e a região da cabeça.
Estas características são típicas de plumas subcríticas e/ou altamente difusivas.
A Figura 4.31 mostra exemplos em que podemos observar estas características
acompanhando a isolinha menor que 28.5 (linha amarela), que dá um indicativo da zona
de frente da pluma. A pluma supercrítica difusiva (Figura 4.31A) mostra alguma
diferença de largura entre e a região próxima a desembocadura e a cabeça. As plumas
subcríticas mostram um espalhamento radial mais bem definido, como no caso da
subcrítica difusiva (Figura 4.31B). A pluma subcrítica, mais típica para o caso da Lagoa
dos Patos, mostra uma menor taxa de dissipação e por conseqüência um maior
espalhamento ao longo da costa (Figura 4.31C) comparada com a pluma subcrítica
difusiva. Também é possível observar que em todos os casos não se estabelece uma
corrente costeira bem formada, e muito menos persistente, visto que esta pluma tem seu
comportamento fortemente controlado pela ação local do vento.

Figura 4.31. Mapas de salinidade superficial. Caso de uma pluma supercrítica difusiva (A)
para o dia 21. Caso de uma pluma subcrítica difusiva (B) para o dia 126. Caso de uma pluma
subcrítica (C) para o dia 127.

169
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

4.7. Análise dos processos de mistura

A investigação dos termos dominantes no controle dos processos de mistura nos


campos próximo (junto à desembocadura, Ponto 1) e distante (na região da zona de
frente, Ponto 2) da pluma costeira da Lagoa dos Patos foi realizada com a utilização da
simulação numérica de 688 dias de 01 de Janeiro de 1998 a 19 de Novembro de 1999.
Considerando que a pluma costeira da Lagoa dos Patos é um sistema físico controlado
por processos que atuam em diferentes escalas de tempo, os principais mecanismos
dominantes que controlam o comportamento da mistura da pluma foram investigados
separadamente. A definição das principais escalas de variabilidade temporal foi definida
através da análise dos ciclos energéticos e da correlação entre a série temporal de
anomalia de energia potencial φt, intensidade dos ventos e descarga de água doce nos
pontos 1 e 2 (ver Figura 4.12) usando análise de ondaletas cruzadas.
A análise do espectro de potência local (Figuras 4.32B, 4.32E, 4.33B e 4.33E)
indicou dois principais grupos de escalas de tempo que controlam o comportamento da
mistura da pluma costeira da Lagoa dos Patos. No primeiro grupo, os processos físicos
são associados à ação local dos ventos (períodos menores que 16 dias), sendo o
principal mecanismo responsável pela manutenção das anomalias de energia potencial
na pluma em escalas de tempo sinóticas. Análises dos espectros de potência locais
(Figuras 4.32B e 4.32E) indicam a influência dos ventos ocorrendo durante todo o
período de estudo. Entretanto, sua contribuição é mais efetiva para a manutenção das
anomalias de energia potencial no campo distante da pluma (ponto 2) durante períodos
de alta descarga fluvial durante o ano de 1998 (do dia 1 até o dia 365) e do outono a
primavera de 1999 (após o dia 500).
Por outro lado, no segundo grupo, os processos físicos são associados à descarga
fluvial dos principais rios afluentes da Lagoa dos Patos, que contribuem para estas
anomalias cobrindo ciclos de variabilidade mensais (entre 20 e 25 dias), de intra-
sazonais a sazonais (de 64 a 128 dias) e um ciclo de escala anual (de 256 - 344 dias)
(Figuras 4.33B, 4.33E). É importante ressaltar que o ciclo anual não é observado com
uma escala de tempo apropriada de 365 dias devido ao comprimento das séries
temporais de 688 dias. Segundo o critério de Nyquist o ciclo mais longo com
significado físico neste caso é de 344 dias. Durante o período de baixa intensidade de
descarga fluvial (verão ao outono de 1999, do dia 365 até o dia 500), a influência da
mesma é restrita ao campo próximo (ponto 1) da pluma costeira da Lagoa dos Patos.

170
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.32. Série temporal de anomalia de energia potencial φt no ponto 1 (normalizada para
o máximo valor de φt = 7.14x10-4 W m-³) e a intensidade do vento utilizada para a análise de
ondaletas cruzada (A), assim como o espectro local de potência de ondaletas das séries
temporais utilizando a ondaleta de Morlet (B). O contorno preto indica regiões com mais de
95% de confiança para um ruído-vermelho com um coeficiente de atraso de 0.72. A linha
pontilhada indica o cone de influência onde os efeitos da borda se tornam importante. O
espectro de ondaletas global (C) das séries temporais e a linha pontilhada indicam o nível de
95% de confiança. Série temporal de anomalia de energia potencial φt no ponto 2 (normalizada
para o máximo valor de φt = 3.12x10-5 Wm-³) e a intensidade do vento utilizada para a análise
de ondaletas cruzada (D), assim como o espectro local de potência de ondaletas das séries
temporais utilizando a ondaleta de Morlet (E). O contorno preto indica regiões com mais de
95% de confiança para um ruído-vermelho com um coeficiente de atraso de 0.72. A linha
pontilhada indica o cone de influencia onde os efeitos da de borda se tornam importantes. O
espectro de ondaletas global (F) das séries temporais e a linha pontilhada indica o nível de
95% de confiança.

171
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.33. Serie temporal de anomalia de energia potencial φt no ponto 1 (normalizada para
o máximo valor de φt = 7.14x10-4 Wm-³) e a descarga fluvial utilizada para a análise de
ondaletas cruzada (A), assim como o espectro local de potência de ondaletas das séries
temporais utilizando a ondaleta de Chapéu Mexicano (B). O contorno preto indica regiões com
mais de 95% de confiança para um ruído-vermelho com um coeficiente de atraso de 0.25. A
linha pontilhada indica o cone de influencia onde os efeitos da de borda se tornam importantes.
O espectro de ondaletas global (C) das series temporais e a linha pontilhada indica o nível de
95% de confiança. Serie temporal de anomalia de energia potencial φt no ponto 2 (normalizada
para o máximo valor de φt = 3.12x10-5 Wm-³) e a descarga fluvial utilizada para a análise de
ondaletas cruzada (D), assim como o espectro local de potência de ondaletas das séries
temporais utilizando a ondaleta de Morlet (E). O contorno preto indica regiões com mais de
95% de confiança para um ruído-vermelho com um coeficiente de atraso de 0.25. A linha
pontilhada indica o cone de influencia onde os efeitos da de borda se tornam importantes. O
espectro de ondaletas global (F) das series temporais e a linha pontilhada indica o nível de
95% de confiança.

Espectros de potência locais (Figuras 4.33B e 4.33E) indicam a contribuição da


descarga de água doce ocorrendo de maneira mais importante durante os períodos de
moderada a alta descarga fluvial. A contribuição dos ciclos mensais, intra-sazonais e

172
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

sazonais é mais efetiva para a manutenção as anomalias junto ao campo próximo da


pluma (ponto 1) durante os períodos de alta descarga fluvial no ano de 1998 e no fim do
ano de 1999. No campo distante (ponto 2) a contribuição da descarga fluvial nestas
escalas de tempo é mais restrita.
A influência do ciclo mais longo associado à variabilidade anual da descarga de
água doce aparece com mais destaque a partir do inverno de 1998 ao inverno de 1999
(do dia 150 ao dia 450) e sua contribuição se estende desde o campo próximo ao campo
mais distante da pluma. O espectro global de energia da série temporal de anomalia de
energia potencial φt (Figuras 4.32C, 4.32F, 4.33C e 4.33F) corrobora as constatações
feitas no espectro local, indicando a importância destes processos em diferentes regiões
da pluma e esclarecendo as contribuições das diferentes forçantes em escalas de tempo
bem separadas. A influência da ação local dos ventos ocorre em períodos menores que
16 dias e a influência direta da descarga de água doce na plataforma continental
ocorrendo em escalas de tempo mais longas (de 20 até 344 dias).
O método de covariância foi utilizado para investigar a variabilidade espacial
dos termos dominantes no controle dos processos de mistura. A covariância entre os
termos individuais (equação 2.79a) e a variação local da anomalia de energia potencial
(φt) é apresentada nas Figuras 4.34, 4.35 e 4.36. Baseado nos espectros cruzados entre
as forçantes principais e a anomalia de energia potencial, a análise de covariância foi
realizada para três importantes escalas de tempo, consideradas como representativas
para a influência dos ventos e da descarga fluvial.
De forma a investigar a contribuição dos ventos, foi selecionado um período de
685 dias com um passo de tempo de 5 dias (Figura 4.34), e outro período de 675 dias
com um passo de tempo de 15 dias para a realização das análises de covariância (Figura
4.35). A contribuição da descarga fluvial foi investigada utilizando um período de 660
dias com um passo de tempo de 30 dias (Figura 4.36). De acordo com a equação 2.80a,
a magnitude da covariância depende do produto de φt e do termo a ser considerado.
Portanto, as anomalias em φt são mais fortes nas regiões onde a covariância é mais alta
(regiões mais vermelhas), ou o termo considerado é importante para a manutenção das
anomalias.

173
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.34. A covariância entre os vários termos na equação 2.79a e φt como calculada da equação 2.78. A auto variância de φt é proporcional ao
quadrado da amplitude (A), SUMT indica a soma dos primeiros nove termos na equação 1.4 (B) e AS indica a soma dos primeiros 4 termos da equação 2.79a
(C). A escala de cores é apresentada em escalas logarítmica de base 2 de forma a melhorar a visualização. As linhas pretas indicam as isolinhas de 24 e 26
isolinhas médias no tempo para a superfície (média sobre 688 dias). A escala de tempo utilizada nas análises é de 685 dias com um passo de tempo de 5 dias.

174
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.35. A covariância entre os vários termos na equação 2.79a e φt como calculada da equação 2.78. A auto variância de φt é proporcional ao
quadrado da amplitude (A), SUMT indica a soma dos primeiros nove termos na equação 1.4 (B) e AS indica a soma dos primeiros 4 termos da equação 2.79a
(C). A escala de cores é apresentada em escalas logarítmica de base 2 de forma a melhorar a visualização. As linhas pretas indicam as isolinhas de 24 e 26
isolinhas médias no tempo para a superfície (média sobre 688 dias).A escala de tempo utilizada nas análises é de 675 dias com um passo de tempo de 15
dias.

175
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.36. A covariância entre os vários termos na equação 2.79a e φt como calculada da equação 2.78. A auto variância de φt é proporcional ao
quadrado da amplitude (A), SUMT indica a soma dos primeiros nove termos na equação 1.4 (B) e AS indica a soma dos primeiros 4 termos da equação 2.79a
(C). A escala de cores é apresentada em escalas logarítmica de base 2 de forma a melhorar a visualização. As linhas pretas indicam as isolinhas de 24 e 26
isolinhas médias no tempo para a superfície (média sobre 688 dias). A escala de tempo utilizada nas análises é de 660 dias com um passo de tempo de 30
dias.

176
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A autovariância (φ2t) apresentada nas Figuras 4.34, 4.35 e 4.36 indica a


contribuição de todos os termos para a anomalia de energia potencial. A posição média
das isolinhas de 24 e 26 foi calculada para todo o período de estudo (688 dias) e indica
o espalhamento dominante do campo de salinidade superficial para o sudoeste da
desembocadura da Lagoa dos Patos. As isolinhas indicam a posição média da região de
frente da pluma. As maiores variações de φt estão restritas ao campo próximo da pluma,
próximo a desembocadura, e na zona de transição da região de frente (isolinha de 24).
Valores intermediários são observados além da zona de frente, no campo distante e mais
ao sul do limite da isolinha de 26.
A covariância entre SUMT e φt é bastante similar a autovariância nos campos
próximo e distante da pluma, indicando que os primeiros 9 termos da equação 2.79a são
os mais importantes na determinação da variabilidade de φt na pluma costeira da Lagoa
dos Patos (Figuras 4.34, 4.35 e 4.36). A análise de autovariância indica que os processos
de mistura associados a ação local dos ventos (Figuras 4.34 e 4.35) são os mais efetivos
no controle das anomalias de energia potencial nos campos próximo e distantes da
pluma, enquanto, as anomalias associadas a variabilidade mensal da descarga fluvial são
mais restritas a região do campo próximo (Figura 4.36).
A covariância entre AS e φt mostra um comportamento similar, onde os menores
valores observados no campo próximo indicam a contribuição de outros processos que
não estão incluídos na variabilidade de AS. Valores similares são observados próximos
a zona de frente nos mapas de covariância de AS e SUMT, com algumas diferenças que
podem ser notadas a sudoeste da pluma. Este resultado sugere que, no campo distante,
os termos de advecção e deformação dos campos de densidade são representativos para
explicar os processos de estratificação e mistura decorrente, e a soma da dispersão,
termos não-lineares e advecção vertical se cancelam mutuamente. Por outro lado, estes
termos se tornam importantes no campo próximo da pluma.
Os termos de deformação e advecção parecem ser as contribuições mais
importantes para as anomalias de energia potencial desde poucos dias até escalas de
tempo mensais. As contribuições individuais dos termos de deformação e advecção são
apresentadas nas Figuras 4.34, 4.35 e 4.36. A deformação transversal a costa (Sx) é
importante na região do campo próximo, sugerindo que as perturbações da velocidade
média ao longo da vertical influenciam consideravelmente a dinâmica desta região. A
ocorrência da deformação ao longo da costa (Sy) na área da pluma é um indicativo de
regiões com grandes perturbações da velocidade média ao longo da vertical. A advecção

177
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

devido ao campo médio de velocidade horizontal apresenta importância nos campos


próximo e distante, e o transporte dominante é em direção ao sudoeste, com um
moderado espalhamento conforme a pluma se move em direção ao oceano.
Os termos que descrevem as interações não-lineares entre as perturbações nos
campos de densidade e velocidade ao longo da vertical (termos Nx e Ny), e suas
contribuições integradas na vertical (termos Cx e Cy) são similares aos termos de
advecção e deformação dos campos apresentados anteriormente. Estes resultados
indicam que as interações entre as perturbações nos campos de velocidade e densidade
desta região contribuem para os processos de estratificação (mistura) da coluna de água,
modulando os efeitos gerados pela advecção e deformação de campos.
Estes termos apresentam maiores contribuições em escalas curtas de tempo
(Figuras 4.34 e 4.35) modulando os processos advectivos e de deformação dos campos
que são associados à ação local dos ventos nos campos próximo e distante da pluma. A
advecção vertical contribui efetivamente para os processos de mistura no campo
próximo da pluma costeira da Lagoa dos Patos, onde as velocidades verticais são mais
intensas, em todas as escalas de tempo.

Tabela 4.5. Parâmteros de covariância e correlação entre cada um dos termos individuais da
equação 2.79a e a série temporal de anomalia de energia potencial (PHI) nos três pontos
considerando um período de análise de 685 dias com um passo de tempo de 5 dias. Os termos
mais importantes são colocados em realce.
Ponto 1 Ponto 1 Ponto2 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 3
Termo Covariância Correlação Covariância Correlação Covariância Correlação
PHI +5.698 +100 +0.267 +100 +0.736 +100
SUMT +5.697 +99 +0.266 +99 +0.735 +99
AS -0.092 -06 +0.338 +95 +0.534 +62
Sx -0.427 -32 -0.040 -75 +0.088 +27
Sy -0.068 -43 +0.164 +88 +0.104 +18
Ax +0.560 +53 -0.176 -75 +0.400 +23
Ay -0.156 -36 +0.390 +90 -0.059 -03
Nx +0.491 +33 +0.068 +81 -0.091 -25
Ny +0.121 +32 -0.212 -86 -0.108 -16
Cx +0.040 +17 -0.033 -31 -0.071 -08
Cy +0.860 +77 +0.115 +66 +0.448 +45
Wz +4.275 +97 -0.010 -66 +0.022 +31

De forma a investigar a contribuição de cada um dos termos individuais na


equação 2.79a para a variabilidade nas anomalias de energia potencial (φt) em pontos
específicos localizados no campo próximo e distante da pluma costeira da Lagoa dos
Patos (ver figura 4.12), séries temporais das anomalias de energia potencial foram
obtidas em três posições (ponto 1, ponto 2 e ponto 3) e comparados com séries

178
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

temporais de cada termo individual através de parâmetros de covariância e correlação


para cada uma das escalas de tempo relacionadas a ação dos ventos (Tabelas 4.5 e 4.6) e
a descarga fluvial (Tabela 4.7).
O ponto 1 (Figura 4.12) é localizado no campo próximo, nas proximidades da
desembocadura da Lagoa dos Patos. Uma visão geral mostra que os primeiros 9 termos
da equação (SUMT) são responsáveis pela maior parte das anomalias na energia
potencial nesta região. A análise para os outros termos da equação indicou que o mais
importante termo nesta região é a advecção vertical (Wz), o qual mostra alta covariância
e correlação com a série temporal de φt em todas as escalas de tempo analisadas
(Tabelas 4.5, 4.6 e 4.7).
Este resultado sugere que a região próxima a desembocadura é dominada pelos
efeitos da advecção vertical que geram anomalias negativas (positivas) na φt devido ao
deslocamento das isopicnais para cima (para baixo), respectivamente. A contribuição
secundária está associada com o termo de dispersão ao longo da costa (Cy), indicando
uma pequena contribuição para a manutenção da estratificação desta região (Tabelas
4.5, 4.6 e 4.7).
O ponto 2 (figura 4.12) está localizado na região de frente da pluma costeira da
Lagoa dos Patos, orientada na mesma direção dos molhes. Nesta região, os termos de
advecção e deformação (AS) aparecem como os mais importantes durante todo o
período de simulação e para todas as escalas de tempo. A deformação (Sy) e advecção
(Ay) ao longo da costa são os mais importantes termos que contribuem para as
anomalias positivas de φt em todas as escalas de tempo analisadas (Tabelas 4.5, 4.6 e
4.7). Uma importante contribuição para as anomalias negativas de φt é fornecida pela
advecção transversal a costa (Ax).
Nesta região, o efeito da advecção é ainda modulado negativamente pelos efeitos
não-lineares, e neste caso, o termo não-linear de interação entre as perturbações de
velocidade e densidade (Ny e Nx), fornecem uma contribuição para as anomalias
negativas de φt (Tabelas 4.5, 4.6 e 4.7). A influência dos termos AS se reflete pela
intensificação da estratificação (mistura) próxima a região da frente da pluma
representada por anomalias positivas (negativas) de φt. A sua importância é
provavelmente devido à advecção intermitente de águas menos densas da descarga da
Lagoa dos Patos na região costeira.
No ponto 3 (Figura 4.12), foram observadas as maiores diferenças das mais
curtas para as mais longas escalas de tempo. Também nesta região os termos de

179
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

advecção e deformação (AS) aparecem como os mais importantes durante todo o


período de simulação, e para todas as escalas de tempo. Entretanto, em escalas
associadas à influência dos ventos (Tabelas 4.5 e 4.6) o efeito das não-linearidades e da
dispersão são mais importantes para perfazer a anomalia de energia potencial na região.
A deformação (Sx) e advecção (Ax) transversalmente à costa são os mais importantes
termos que contribuem para as anomalias positivas de φt em todas as escalas de tempo
analisadas (Tabelas 4.5, 4.6 e 4.7).

Tabela 4.6. Parâmetros de covariância e correlação entre cada um dos termos individuais da
equação 2.79a e a série temporal de anomalia de energia potencial (PHI) nos três pontos
considerando um período de análise de 675 dias com um passo de tempo de 15 dias. Os termos
mais importantes são colocados em realce.
Ponto 1 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 3
Termo Covariância Correlação Covariância Correlação Covariância Correlação
PHI +5.559 +100 +0.203 +100 +0.546 +100
SUMT +5.558 +99 +0.202 +99 +0.545 +99
AS -0.137 -14 +0.242 +94 +0.570 +89
Sx -0.310 -31 -0.020 -57 +0.105 +44
Sy -0.057 -40 +0.103 +87 +0.126 +33
Ax +0.320 +44 -0.105 -59 +0.274 +23
Ay -0.090 -28 +0.265 +85 +0.064 +05
Nx +0.352 +31 +0.045 +67 -0.109 -40
Ny +0.098 +29 -0.135 -82 -0.127 -30
Cx +0.054 +33 -0.008 -15 -0.076 -18
Cy +0.855 +74 +0.065 +61 +0.277 +50
Wz +4.335 +97 -0.007 -60 +0.010 +25

Os termos não-lineares contribuem para as anomalias negativas em todas as


escalas de tempo. Em escalas de 5 dias são observadas contribuições significativas das
duas componentes (Nx e Ny), em escalas quinzenais apenas a Ny é significativa e para as
escalas de tempo associadas ao efeito da descarga fluvial apenas a componente
transversal a costa (Nx) é significativa. A contribuição da dispersão ao longo da costa
(Cy) aparece com alguma importância para as anomalias positivas apenas nas escalas de
tempo associadas à influência dos ventos.

180
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 4.7. Parâmetros de covariância e correlação entre cada um dos termos individuais da
equação 2.79a e a série temporal de anomalia de energia potencial (PHI) nos três pontos
considerando um período de análise de 660 dias com um passo de tempo de 30 dias. Os termos
mais importantes são colocados em realce.
Ponto 1 Ponto 1 Ponto 2 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 3
Termo Covariância Correlação Covariância Correlação Covariância Correlação
PHI +5.276 +100 +0.164 +100 +0.571 +100
SUMT +5.275 +99 +0.162 +99 +0.570 +99
AS +0.045 +05 +0.214 +95 +0.602 +93
Sx -0.034 -03 -0.034 -81 +0.193 +67
Sy -0.066 -49 +0.113 +91 +0.036 +09
Ax +0.193 +32 -0.169 -80 +0.662 +47
Ay -0.045 -16 +0.305 +91 -0.289 -24
Nx +0.024 +02 +0.067 +84 -0.215 -64
Ny +0.013 +44 -0.160 -89 -0.021 -05
Cx +0.078 +45 -0.035 -62 -0.033 +09
Cy +0.820 +69 +0.085 +75 +0.162 +30
Wz +4.170 +96 -0.009 -68 +0.009 +23

Séries temporais de outros pontos entre as isolinhas de 24 e 26 foram também


analisadas, mas não são apresentadas. O resumo desta análise indica que os pontos
localizados a nordeste da região de frente mostraram comportamento similar ao ponto 3,
enquanto que as regiões localizadas a sudoeste da desembocadura mostraram um
comportamento similar ao ponto 2. Neste sentido, os resultados acima sugerem que: no
campo próximo da pluma, próximo da desembocadura da Lagoa dos Patos, a advecção
vertical explica maior parte da variabilidade de φt. Por outro lado, os termos associados
à deformação e advecção dos campos de densidade transversalmente e ao longo da costa
explicam a maior parte da variabilidade na região da frente e do campo distante da
pluma. As não-linearidades e os termos de dispersão não são desprezíveis. Entretanto,
sua contribuição está mais associada a efeitos de modulação, especialmente próximo a
região de frente e principalmente nas escalas de tempo associadas à influência dos
ventos.
Os resultados que resumem a contribuição dos principais termos associados à
advecção e deformação dos campos de densidade para a anomalia de energia potencial
na pluma costeira da Lagoa dos Patos nas três escalas de tempo selecionadas para a
análise são apresentados na Figura 4.37. Esta figura demonstra a propagação dominante
para sudoeste da pluma costeira da Lagoa dos Patos, associada com as condições médias
de velocidade de corrente na plataforma continental interna do Sul do Brasil durante os
688 dias de simulação.

181
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.37. Esquema que resume os termos (Advecção e Deformação dos campos de
densidade) que são dominantes no controle dos processos de mistura e estratificação da pluma
costeira da Lagoa dos Patos considerando escalas de tempo associadas a influência dos ventos
(processos de 5 e 15 dias) e a influência da descarga fluvial (processos de 30 dias). Na
legenda: Wz indica a advecção vertical; Sx e Sy a deformação dos campos ao longo e
transversalmente a costa; e Ax e Ay a advecção ao longo e transversalmente a costa.

Estes resultados indicam que a estratificação e os processos de mistura são


diferentemente controlados em algumas regiões da pluma. Três regiões podem ser
destacadas: a região próxima a desembocadura da Lagoa dos Patos, dominada pela
advecção vertical (Wz). Nesta região, as mais intensas velocidades verticais são
observadas devido ao padrão de circulação gerado pela interação da circulação
gravitacional com a circulação da zona costeira adjacente, criando zonas de
convergência de fluxo, que são favorecidas pelas características topográficas da parte
oceânica do canal de acesso.
A parte nordeste da pluma, controlada pelos termos de deformação e advecção
transversais a costa (Sx e Ax). Nesta região da pluma, a convergência entre as correntes
costeiras e os fluxos associados à circulação gravitacional promovem a formação de
zonas de convergência de fluxos que promovem o máximo espalhamento da pluma em
direção ao oceano aberto transversalmente a zona costeira. A região localizada a
sudoeste da desembocadura da Lagoa dos Patos é controlada pela deformação e
advecção ao longo da costa (Sy e Ay) e a advecção transversal a costa (Ax). Na parte
sudoeste da pluma os termos da adveccão e deformação de campos ao longo da costa

182
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

associados à influência da advecção transversal a costa controlam a evolução da


estratificação. Nesta região da pluma que está localizada mais distante da
desembocadura, os processos de mistura dependem da prévia advecção das águas de
origem continental e são principalmente controlados pela ação direta da circulação
costeira ao longo da costa e pelo transporte de Ekman induzido pela ação remota do
vento.
A contribuição dos diferentes mecanismos físicos para a manutenção das
anomalias de energia potencial φt próximo a desembocadura da Lagoa dos Patos e na
região de frente da pluma (pontos 1 e 2) pode ser verificadas pelas séries temporais da
Figura 4.38. Os resultados mostram que as variações na anomalia de energia potencial
ocorrem em escalas de vários dias, e que as intensidades das anomalias são uma ordem
de grandeza maiores na região próxima a desembocadura da Lagoa dos Patos. Pela
análise destas séries é possível confirmar os resultados apresentados anteriormente,
onde a advecção vertical controla a maior parte da variabilidade de φt no campo
próximo (Figura 4.38A), e a advecção e deformação ao longo da costa contribuem
positivamente para as anomalias que são moduladas negativamente pelo efeito da
deformação transversal a costa (Figura 4.38B).

Figura 4.38. Série temporal de φt e os termos de advecção e deformação dos campos de


densidade da equação 2.79a no ponto 1 (A), e ponto 2 (B) para todo o período de
simulação. Dois eventos marcados (dias 220 e 390) serão analisados abaixo.

Os mecanismos que controlam a variabilidade de φt foram analisados em dois


eventos (dia 220 e dia 390). Durante o primeiro evento, um período de alta descarga
fluvial associado à ação de ventos de quadrante norte induz o espalhamento de uma

183
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

pluma bem desenvolvida em direção a sudoeste da desembocadura da Lagoa dos Patos


(Figura 4.39A), promovendo a estratificação vertical ao longo da região costeira
adjacente. Durante este período, velocidades verticais positivas (Figura 4.39B) estão
associadas às anomalias positivas de φt (Figura 4.38A) no ponto 1, enquanto, a advecção
da massa de água continental em direção ao sul (Figura 4.39B) contribui para as
anomalias positivas na região do ponto2 (Figura 4.38B).
Uma situação inversa é mostrada na Figura 4.39C, onde temos um período de
descarga moderada associado à ocorrência de ventos de quadrante sul. Estas condições
proporcionam o espalhamento da pluma em direção ao nordeste ao longo da zona
costeira e promovem a mistura vertical. Nesta situação, as velocidades verticais
negativas (Figura 4.39D) estão associadas às anomalias negativas de φt (Figura 4.38A)
no ponto 1, enquanto, a advecção da massa de água continental em direção ao norte
(Figura 4.39D) contribui para as anomalias negativas na região do ponto2 (Figura
4.38B).

Figura 4.39. Salinidade na camada superficial do modelo para os dias 220 (A) e 390 (B). Perfis
verticais de salinidade e velocidade para os dias 220 (C), 390 (D). A linha branca indica a
posição do perfil vertical que liga os pontos 1 e 2 utilizados nas análises anteriores.

Este conjunto de resultados indica que a análise da formação e comportamento


da pluma de salinidade da Lagoa dos Patos permitiu o desenvolvimento de um modelo

184
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

conceitual que diz respeito a influência e mecanismos de controle associados as


principais forçantes e escalas de variabilidade em que as mesmas atuam, para a
manutenção de seus campos médios e estruturas dominantes.

4.8. Análise da pluma de sedimentos e do padrão de deposição


de sedimentos finos na zona costeira

Nesta seção investigaremos a influência do material em suspensão carregado


pela pluma quando o mesmo entra na plataforma continental, estabelecendo padrões de
comportamento médio e estimativas de taxas de trocas e deposição ao longo da
plataforma continental interna. O período estudado é o mesmo utilizado para as análises
da hidrodinâmica, porém, a simulação foi finalizada com 62 dias de antecedência
devido aos problemas de quedas de luz. Portanto, o período simulado cobre o período
entre 01 de janeiro de 1998 e 29 de agosto de 1999.

4.8.1. Estimativa do transporte de massa para a zona costeira

Na seção 4.1 foi verificado o comportamento do estuário da Lagoa dos Patos


como um exportador de águas de origem continental para a plataforma continental
interna do Sul do Brasil. Neste sentido, podemos esperar um comportamento similar
associado ao transporte de materiais em suspensão. A figura 4.40 mostra que
comportamento médio do material em suspensão ao longo da seção transversal (ver
figura 4.1A) do canal de acesso é bastante similar ao padrão médio de salinidade,
indicando um padrão de comportamento de uma pluma hipopicnal ou de flutuabilidade
positiva. Valores maiores que 0.1 kg m-3 podem ser encontrados ao longo da vertical
acima dos 5 m de profundidade.
A estimativa do transporte de massa para a zona costeira foi realizada por meio
de integração do material transportado ao longo de toda a seção para o período de
simulação (figura 4.41). A série temporal segue o padrão da descarga fluvial, com
valores moderados no início do ano de 1998, até os valores máximos que são
observados entre o inverno e primavera do ano de 1998. Valores mínimos são
observados novamente no verão e outono do ano de 1999, e seguem aumentando
durante o inverno deste ano. Os valores negativos indicam a exportação para a zona

185
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

costeira, podendo alcançar -2.5 x 105 ton dia-1 nos períodos de descarga mais intensa.
Durante todo o período também podem ser observadas pequenas taxas de importação de
material, indicando que o material em suspensão previamente exportado para a zona
costeira eventualmente é reintroduzido devido a um processo de enchente de mais curto
período causado pela ação de ventos de quadrante sul.
A integração no tempo da série temporal de transporte de massa indica que a
Lagoa dos Patos exportou para a zona costeira cerca de -2.28x107 ton de materiais em
suspensão durante o período estudado (606 dias), resultado em uma taxa anual de
material da ordem de -1.37x107 ton ano-1 (Tabela 4.8).

Figura 4.40. Mapa de concentração média de material em suspensão ao longo dos 606 dias de
simulação para a seção da desembocadura da Lagoa dos Patos.

Figura 4.41. Série temporal do fluxo de massa integrado na seção transversal da


desembocadura da Lagoa dos Patos para o período de 606 dias de simulação. Valores
negativos indicam a exportação de material.

186
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Tabela 4.8. Massa total de material exportado pela Lagoa dos Patos para a zona costeira
adjacente e a taxa anual de material exportado. Valores negativos indicam exportação.

Massa total de material exportado -2.28x107 ton


Descarga líquida anual do canal - 1.37x107 ton ano-1

4.8.2. Análise do comportamento médio da pluma de


sedimentos

A concentração média de todo o período para o material em suspensão nas


camadas de superfície e de fundo do modelo são apresentadas na Figura 4.42A. Vemos
um comportamento bastante similar ao observado para o campo de salinidade, com uma
suave tendência de propagação em direção ao sudoeste da desembocadura da Lagoa dos
Patos, e sem a formação de uma corrente costeira bem definida.
A camada de fundo do modelo (Figura 4.42B) apresenta um padrão bem mais
restrito, indicando que, na média, esta pluma alcança o fundo nas regiões mais próximas
da zona costeira, principalmente a sudoeste da desembocadura. Este padrão de
comportamento do material em suspensão próximo ao fundo indica as regiões em que a
sua deposição pode ser proporcionada pelo padrão de circulação da região.
A análise do fluxo de erosão médio do período ao longo da zona costeira (Figura
4.43) indica as regiões onde os maiores fluxos de erosão por efeito da circulação podem
ser observados. Os resultados mostram que praticamente toda a região costeira em
regiões de isóbatas superiores aos 10 m de profundidade sofre o efeito da erosão com
valores da ordem de 10-9 kg m-2s-1. Na região do canal de acesso e junto à
desembocadura, devido as maiores intensidades de correntes, são observados fluxos de
erosão da ordem de 10-8 kg m-2s-1. Em regiões mais abrigadas ao sul e ao norte dos
molhes não observamos um padrão significativo de erosão.
O fluxo de deposição médio (Figura 4.44) indica um padrão similar ao
considerado para o fluxo de erosão, sendo mais importante nas isóbatas superiores a 10
m, ou seja, nas regiões da maior influência média do material em suspensão próximo as
camadas de fundo (ver Figura 4.42B). Os maiores fluxos de deposição são observados
no canal de acesso (valores da ordem de 10-7 kg m-2s-1) e regiões abrigadas do estuário,
devido à influência dos processos de floculação dos sedimentos que alcançam a região.

187
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.42. Concentração média de material em suspensão na camada superficial (A) e na


primeira camada acima do fundo (B) no modelo numérico após 606 dias de simulação.

188
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.43. Fluxo de erosão médio na plataforma continental interna do Sul do Brasil após
606 dias de simulação. A escala de cores é mostrada como logarítmica natural de forma a
melhorar a visualização.

Figura 4.44. Fluxo de deposição médio na plataforma continental interna do Sul do Brasil após
606 dias de simulação. A escala de cores é mostrada como logarítmica natural de forma a
melhorar a visualização.

Como nesta região também são observados em média altos fluxos de erosão, o
padrão de deposição de sedimentos é resultado da competição entre os dois fatores. Na
região costeira, fluxos de deposição da ordem de 10-8 kg m-2s-1 são observados ao sul do
canal de acesso, principalmente na região mais abrigada. Fazendo uma rápida conversão

189
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

é possível notar que, em média, fluxos de 0.21 a 1.3 kg m-2ano-1 podem ser observados
nas regiões mais criticas da zona costeira. Ao longo desta área também ocorrem zonas
onde é possível observar altos fluxos de erosão e deposição. O padrão de deposição
também resulta da competição destes fatores.

Figura 4.45. Percentual de silte na plataforma continental interna do Sul do Brasil após 606
dias de simulação. A escala de cores é mostrada como logarítmica natural de forma a melhorar
a visualização. P1 e P2 indicam pontos onde serão analisadas séries temporais de fluxo de
deposição.

Tendo em vista as condições médias de concentração de material em suspensão


junto ao fundo, bem como os fluxos de erosão e deposição, podemos verificar o
percentual de silte encontrado ao longo da zona costeira após 606 dias de simulação
(Figura 4.45). Considerando que a simulação foi inicializada com um percentual nulo de
silte nesta região, podemos considerar este resultado como um sinalizador do
enriquecimento da zona costeira pelo silte transportado em suspensão pela pluma
costeira da Lagoa dos Patos. Ao longo de toda a região costeira em isóbatas superiores a
10 m, temos um enriquecimento de pelo menos 3%. Nas regiões mais abrigadas, como
nas regiões próximas ao canal de acesso, este valor pode alcançar entre 5 e 15%.
O enriquecimento da zona costeira em silte, causado pelo transporte de
sedimentos em suspensão da descarga da Lagoa dos Patos, sugere uma evolução
positiva do fundo (Figura 4.46). As regiões mais próximas à costa mostram um aumento

190
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

no fundo que varia de 0.1 a 1 mm. Junto à desembocadura, ocorre uma região de
evolução positiva do fundo mais significativa (valores maiores que 2.5 mm). Entretanto,
não se observa uma contribuição tão significativa proveniente do enriquecimento por
silte nesta área (Figura 4.45). Este resultado sugere que esta evolução positiva do fundo
está associada à soma dos efeitos de deposição de silte trazido pela pluma costeira da
Lagoa dos Patos e o transporte de fundo (bed load) de areia fina do baixo estuário.

Figura 4.46. Evolução de fundo na plataforma continental interna do Sul do Brasil após 606
dias de simulação.

Os resultados de enriquecimento por silte e evolução de fundo podem ser


considerados como sinalizadores do padrão de deposição dos sedimentos finos trazidos
pela pluma costeira da Lagoa dos Patos. Na próxima seção será investigado sob que
circunstâncias estes sedimentos são depositados na zona costeira a medida que são
trazidos pela pluma.

4.8.3. Análise do padrão de deposição de sedimentos finos na


zona costeira

O padrão de deposição inicial de sedimentos na zona costeira adjacente está


diretamente associado à disponibilidade de sedimentos trazidos pela descarga fluvial da
Lagoa dos Patos e à ação local dos ventos. Nesta seção, são apresentadas séries

191
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

temporais de intensidade dos ventos e fluxo de deposição para dois pontos (ver Figura
4.45) na zona costeira adjacente (Figuras 4.47A e 4.48A).
Analisando diretamente as séries temporais de fluxo de deposição e intensidade
dos ventos, é possível observar a ocorrência de picos de deposição ocorrendo em escalas
de vários dias, além de um padrão de mais longo período, que parece estar associado à
disponibilidade de águas continentais e materiais em suspensão na zona costeira. Pela
análise do espectro local de ondaletas (Figuras 4.47B e 4.48B) vemos que no período de
maior disponibilidade de sedimentos em suspensão na zona costeira (entre os dias 100 e
320 e após o dia 450), existe uma relação bem definida entre a intensidade dos ventos e
a deposição dos sedimentos na zona costeira adjacente, com ciclos que ocorrem entre 2
e 16 dias.
Embora as duas regiões pareçam sujeitas as mesmas condições de vento durante
o processo de deposição inicial de sedimentos, na região mais distante da
desembocadura (ponto 2), eventos de deposição de menor intensidade ocorrem também
durante períodos de menor disponibilidade de sedimentos. Estes podem estar associados
à advecção intermitente deste material para a região mais ao sul durante condições
favoráveis e mais duradouras de ventos de quadrante norte, que acabam por preceder as
mudanças de direção nos ventos que estão associadas a condições de baixas
intensidades de corrente. A análise da série temporal de variância média para períodos
menores 20 dias confirma esta constatação (Figuras 4.47D e 4.48D), indicando que nos
períodos de maior disponibilidade de sedimentos (entre os dias 200 e 330) ocorrem
importantes eventos de deposição de sedimentos nos dois pontos da zona costeira.
Entretanto, durante os eventos de menor disponibilidade de sedimentos (entre dias 100 e
200) eventos significativos ocorrem somente na região mais afastada.

192
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.47. Série temporal de fluxo de deposição no ponto 1 (figura 4.45) e a intensidade do
vento utilizada para a análise de ondaletas cruzada (A), assim como o espectro local de
potência de ondaletas das séries temporais utilizando a ondaleta de Morlet (B). O contorno
preto indica regiões com mais de 95% de confiança para um ruído-vermelho com um
coeficiente de atraso de 0.72. A linha pontilhada indica o cone de influência onde os efeitos da
de borda se tornam importantes. O espectro de ondaletas global (C) das séries temporais e a
linha pontilhada indica o nível de 95% de confiança.

Figura 4.48. Série temporal de fluxo de deposição no ponto 2 (figura 4.45) e a intensidade do
vento utilizada para a análise de ondaletas cruzada (A), assim como o espectro local de
potência de ondaletas das séries temporais utilizando a ondaleta de Morlet (B). O contorno
preto indica regiões com mais de 95% de confiança para um ruído-vermelho com um
coeficiente de atraso de 0.72. A linha pontilhada indica o cone de influência onde os efeitos da
de borda se tornam importantes. O espectro de ondaletas global (C) das séries temporais e a
linha pontilhada indica o nível de 95% de confiança.

193
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Com o objetivo de confirmar a influência dos ventos de quadrante norte para a


deposição inicial dos sedimentos em suspensão ao longo da costa adjacente ao sul da
desembocadura da Lagoa dos Patos, foram analisados três eventos de deposição que
ocorreram durante o período de máxima disponibilidade de sedimentos na zona costeira:
dia 256 (Figura 4.49), dia 283 (Figura 4.50) e dias 316 (Figura 4.51). Como
característica comum, durante todos os eventos as condições meteorológicas indicam
ventos de quadrante norte (Figuras 4.49A, 4.50A e 4.51A), com intensidade de
moderada a forte nos dias 256 e 283, mais fracos no dia 316.

Figura 4.49. Intensidade e direção dos ventos (A), concentração do material em suspensão
(primeiro nível acima do fundo) e velocidade de corrente (B), rotacional do campo de
velocidade (C) e perfil vertical de concentração do material em suspensão (D) para o dia 265.
A linha branca indica a posição do perfil vertical utilizado para as análises.

A concentração de material em suspensão na primeira camada acima do fundo


mostra uma língua de material em suspensão que se estende pela zona costeira adjacente
a partir da desembocadura da Lagoa dos Patos (Figuras 4.49B, 4.50B e 4.51B). Outra
característica notável em todas as situações é a formação de um vórtice ao sul da
desembocadura da Lagoa dos Patos causado pela deflexão das linhas de fluxo ao
contornarem os molhes em direção ao sul. A análise do rotacional do campo de
velocidades na camada acima do fundo (Figuras 4.49C, 4.50C e 4.51C) confirma a

194
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

ocorrência do vórtice ao sul do canal de acesso, sendo indicado por regiões onde o
rotacional é negativo (vórtice ciclônico).

Figura 4.50. Intensidade e direção dos ventos (A), concentração do material em suspensão
(primeiro nível acima do fundo) e velocidade de corrente (B), rotacional do campo de
velocidade (C) e perfil vertical de concentração do material em suspensão (D) para o dia 283.

Figura 4.51. Intensidade e direção dos ventos (A), concentração do material em suspensão
(primeiro nível acima do fundo) e velocidade de corrente (B), rotacional do campo de
velocidade (C) e perfil vertical de concentração do material em suspensão (D) para o dia 316.

195
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Na região mais protegida, atrás do molhe oeste, vemos uma região onde o
rotacional é positivo, indicando a formação de um pequeno vórtice anti-ciclônico que
fica aprisionado. A seção vertical de concentração de material em suspensão e
velocidade de corrente (Figuras 4.49D, 4.50D e 4.51D) indica o padrão de deposição
gerado pelas condições hidrodinâmicas da região, onde as maiores velocidades verticais
são observadas justamente na região onde o vórtice ciclônico é encontrado (região de
rotacional negativo). Na região mais protegida, onde a condição de vorticidade anti-
ciclônica é observada, os sedimentos ficam trapeados pela zona de re-circulação
formada na parte mais externa, o que dificulta a ressuspensão ou transporte destes
sedimentos mais para o sul.

Figura 4.52. Diagrama esquemático que mostra os mecanismos de circulação que condicionam
a deposição inicial de sedimentos finos na região adjacente ao sul da desembocadura da Lagoa
dos Patos durante a ocorrência de ventos de quadrante norte.

A análise dos resultados mostrados nas Figuras 4.49, 4.50 e 4.51 nos permite
criar um modelo esquemático conceitual sobre as condições físicas que contribuem para
o padrão de deposição inicial de sedimentos junto a zona costeira adjacente ao sul da
desembocadura da Lagoa dos Patos (Figura 4.52).
Vemos que ventos de quadrante norte condicionam o transporte em direção a
sudoeste nesta região, e conforme as linhas de corrente contornam os molhes do canal
de acesso a Lagoa dos Patos, ocorre à formação de uma zona de recirculação ao sul do
molhe oeste. Estas zonas de recirculação condicionam uma situação de altas velocidades
verticais e intenso fluxo de deposição na região do giro ciclônico, e condições de

196
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

trapeamento na região mais protegida junto à raiz do molhe onde os sedimentos ficam
retidos na zona de frente durante o evento onde acabam se depositando.
Finalmente vamos realizar a análise da evolução dos processos de deposição ao
longo da zona costeira adjacente ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos
acompanhando a evolução dos ventos (Figura 4.53) e da concentração do material em
suspensão (Figura 4.54) dos dias 265 a 270, representando a passagem de uma frente
fria sobre a região. Neste período podemos observar à evolução do vento que
inicialmente tem intensidade moderada a forte e direção de nordeste (Figura 4.53A), um
dia depois tem sua intensidade reduzida (Figura 4.53B) até que muda para leste com
intensidade muito baixa (Figura 4.53C). No quarto dia sua direção volta a ser de
nordeste com baixa intensidade (Figura 4.53D), virando para noroeste (Figura 4.53E)
com fracas intensidades no quinto dia, até que muda para sudoeste com intensidade de
moderada a forte no último dia (Figura 4.53F).
Analisando as seções de concentração de material em suspensão e velocidades
de corrente, é possível observar que no primeiro dia ocorre a condição ideal para a
deposição de sedimentos na região próxima a desembocadura (Figura 4.54A), com
ventos fortes de nordeste intensificando as velocidades verticais descendentes.
Conforme o vento enfraquece no segundo dia, a padrão de deposição permanece, mas
com menor intensidade (Figura 4.54B). A condição de vento de leste no terceiro dia
contribui para a ocorrência de re-suspensão ao longo da seção e aprisionamento de
águas na região próxima ao canal de acesso Figura 4.54C. A situação observada para o
quarto dia é similar a do primeiro, porém, devido às menores intensidades dos ventos,
são observadas menores intensidades da velocidade vertical (Figura 4.54D), e por
conseqüência menores taxas de deposição.

197
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.53. Intensidade e direção dos ventos para os dias 265 (A), 266 (B), 267 (C), 268 (D), 269 (E) e 270 (F), representando a passagem de uma frente
fria sobre a região.

198
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Figura 4.54. Concentração do material em suspensão e intensidade e direção da corrente para o perfil ao longo da zona costeira para os dias 265 (A), 266
(B), 267 (C), 268 (D), 269 (E) e 270 (F).

199
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A situação de ventos de noroeste é similar a observada para ventos de leste


(Figura 4.54E), onde podemos observar alguma re-suspensão na região central da seção
e aprisionamento na região próxima a desembocadura. Por fim, quando os ventos
mudam de quadrante, ocorre a reversão das correntes, o que favorece a ressuspensão
próxima a desembocadura e a deposição dos sedimentos ainda disponíveis junto à
região próxima ao ponto 2, devido às baixas intensidades de correntes.
Neste sentido, temos que o padrão de deposição inicial de sedimentos finos na
região costeira adjacente influenciada pela pluma costeira da Lagoa dos Patos é
associado à combinação da disponibilidade de águas de origem continental durante a
ocorrência de ventos de nordeste ou condições de baixas intensidades de correntes
associadas normalmente durante os períodos de transição dos ventos.

200
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

DISCUSSÃO

5.1. A formação da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Os resultados apresentados neste estudo indicaram a contribuição da descarga


fluvial e ação local dos ventos para a formação da pluma costeira da Lagoa dos Patos,
atuando em diferentes escalas de tempo e de forma complementar. A análise direta das
séries temporais de descarga fluvial integrada e salinidade na região da desembocadura
da Lagoa dos Patos indicou um padrão residual de exportação de águas de origem
continental para a zona costeira adjacente durante o período estudado. Cerca de 60% das
águas de origem continental introduzidas na laguna são diretamente exportadas para a
zona costeira pela descarga direta através do canal de acesso, o que apresenta uma
vazão média de aproximadamente 2000 m³ s-1.
Nos períodos de maior influência da descarga fluvial, como no ano de 1998, a
influência da ação dos ventos para a salinização do baixo estuário é bastante restrita.
Enquanto que nos períodos mais secos, como no verão e outono de 1999, a sua
contribuição é mais efetiva neste aspecto. É importante ressaltar que pela alta
variabilidade temporal associada à descarga fluvial dos principais rios afluentes da
Lagoa dos Patos, condições variadas na estrutura de salinização vertical podem ser
observadas na região do baixo estuário.
O campo médio de salinidade e velocidade de corrente normal a seção
transversal do canal de acesso apresentam um padrão de circulação unidimensional. As
águas de baixa salinidade aparecem ao longo de toda a coluna de água, e um núcleo
com as maiores velocidades de vazante aparece na parte central da seção do canal. O
primeiro modo de variabilidade obtido através da análise de EOF, que explica 93% da
variabilidade espacial, mostra uma feição bastante similar à observada para os campos
médios de velocidade de corrente e salinidade, indicando que este padrão de vazante
observado pode ser realmente considerado como dominante no período estudado.
A análise da variabilidade temporal dos coeficientes obtidos para este modo de
variabilidade espacial indicou que o padrão desta região é controlado pela combinação
da ação local dos ventos e da influência direta da descarga fluvial. A multiplicidade de

201
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

escalas temporais (de dias a um ano) associadas às principais forçantes do sistema se


combina de forma a perfazer o padrão de vazante dominante do sistema. A influência da
descarga fluvial e da ação local dos ventos é distintamente separada por dois grupos de
escalas temporais. A influência dos ventos é observada para ciclos menores que 20 dias,
enquanto que a ação da descarga ocorre para processos que variam entre 20 dias e um
ano.
Os ciclos mais importantes da descarga fluvial são: o de variabilidade mensal
(ciclos entre 20 e 30 dias) que pode ser atribuído à influência direta da precipitação na
bacia de drenagem, causada pela passagem de frentes na região; o ciclo de variabilidade
intra-sazonal e sazonal (ciclos entre 60 e 130 dias) que estão associados à variabilidade
sazonal das precipitações; e o ciclo de variabilidade anual (ciclos de aproximadamente
340 dias) que está associado ao padrão de precipitação de regiões temperadas, com
máximas ocorrendo nos períodos de inverno e primavera.
É importante ressaltar que o sul do Brasil apresenta anomalias de precipitação
associadas à ocorrência do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) (Grimm et al.,
1998; Grimm et al., 2000; Montecinos et al., 2000). Os anos de El Niño tendem a ser
mais úmidos e durante os anos de La Niña anomalias secas ocorrem (Grimm et al.,
1998, Montecinos et al., 2000). A observação destes ciclos de variabilidade e sua
contribuição para a dinâmica da circulação da Lagoa dos Patos já foi investigada por
diversos autores (Moller, 1996; Möller et al. 2001; Fernandes et al. 2002; Vaz, 2003;
Marques, 2005; entre outros). Entretanto, o seu estudo através de ferramentas mais
modernas, que preservem simultaneamente as informações nos domínios do tempo e da
freqüência, nunca foi realizado para esta região.
O primeiro ano de estudo (ano de 1998) foi influenciado pelo fenômeno ENOS,
tendo um padrão anômalo de descarga fluvial com valores que superaram as médias
anuais durante praticamente todo o ano. Por outro lado, o ano de 1999 apresentou um
padrão mais próximo do normal, com valores de descarga abaixo da média no verão e
outono, e acima da média no inverno e primavera. De acordo com os resultados, os
diferentes ciclos de descarga fluvial irão contribuir para a vazante do sistema junto a
desembocadura de forma diferenciada em períodos mais úmidos ou secos. Os ciclos de
descarga fluvial de mais curto período (entre 20 e 30 dias) podem ocorrer em qualquer
período do ano de acordo com a ocorrência de precipitações associadas à passagem de
frentes meteorológicas, sendo, portanto mais freqüentes durante o ano de 1998. Nos
períodos secos, como na primeira parte do ano de 1999, estes ciclos são observados com

202
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

menor freqüência. Os ciclos de escalas temporais mais longas (de escalas intra-sazonais
a anuais) ocorrem independentemente do processo inter-anual que esteja influenciando
o período, de forma que o processo inter-anual contribuirá somente para intensificar ou
enfraquecer a ocorrência dos anteriores.
A influência dos ventos para o padrão de vazante do sistema ocorre em escalas
temporais que variam desde 2 até 18 dias. Entretanto, os processos mais importantes, ou
mais energéticos, nestas escalas de tempo são os de períodos maiores que 8 dias. No
período estudado, a contribuição dos ventos para a vazante do sistema (ventos do
quadrante norte) foi considerada mais importante no primeiro ano de estudo (ano de
1998) devido a ocorrência do fenômeno El Niño. Barros et al. (2002) e Silvestrini
(2004) atribuíram as altas anomalias de precipitação sobre a região Sul da América do
Sul e as anomalias de ventos de nordeste sobre o Atlântico sudoeste durante anos de El
Niño a intensificação da porção oeste do centro de alta pressão do oceano Atlântico Sul.
Entretanto, de acordo com as análises feitas neste trabalho, foi possível constatar
que o padrão de variabilidade da região da desembocadura do canal de acesso, e por
conseqüência a formação da pluma costeira da Lagoa dos Patos, é controlada
principalmente pelo padrão de variabilidade da descarga fluvial, de forma que a ação
local dos ventos atua de forma complementar. Nos períodos de alta disponibilidade de
águas de origem continental, a ação favorável dos ventos, como no ano de 1998,
contribui para os maiores eventos de vazante do sistema de forma que maiores plumas
serão formadas na zona costeira. Nestes períodos, nem sempre a ação de ventos
desfavoráveis impede a formação de plumas. Por outro lado, durante os períodos de
menor disponibilidade de águas, como no início do ano de 1999, a contribuição de
ventos favoráveis a vazante do sistema é fundamental para a formação das plumas de
maior escala. Nestes períodos, ventos desfavoráveis certamente irão proporcionar a
salinização do estuário.
A intensidade da descarga fluvial pode controlar o tamanho da pluma de água
doce formada (Dinnel et al., 1990), determinando por conseqüência a contribuição dos
efeitos de rotação da Terra para sua expansão. A influência da inclinação do canal de
acesso com relação à zona costeira (Garvine, 1982) e a própria variabilidade de longo
período na descarga fluvial (Garvine, 1991) também podem ser determinantes no
controle da posição da frente e distribuição de propriedades. Desta forma, uma mesma
fonte de descarga fluvial pode forçar a expansão de plumas estruturalmente diferentes e
que podem ser diferentemente influenciadas pelos processos físicos.

203
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

5.2. A análise do comportamento e o do destino da pluma

A investigação do comportamento da pluma devido à rotação da Terra mostrou


que a descarga sob a ação desta forçante se espalha sobre a plataforma continental
seguindo anti-ciclonicamente na direção norte, direção de propagação das ondas de
Kelvin no Hemisfério Sul, contribuindo para um padrão de circulação assimétrico.
Csanady (1978) comentou que o fluxo de água doce sobre a plataforma continental pode
produzir este tipo de resposta na forma de um gradiente de pressão trapeado ao longo da
costa. Vários autores observaram que este campo de pressão trapeado se propaga na
mesma direção de propagação de ondas de Kelvin (Brink, 1991; Kourafalou, 1996a; Xia
et al. 2007). Estudos realizados por Garvine (1987) e O’Donnel (1990), por exemplo,
mostraram que a pluma do rio Connecticut se espalha a partir de sua boca, sendo
defletida na direção de propagação das ondas de Kelvin (à direita no hemisfério norte).
Estes autores comentaram que este fato poderia estar relacionado à força de Coriolis
e/ou correntes ao longo da plataforma.
Xia et al. (2007) verificaram um comportamento similar quando estudaram a
pluma do rio Cape Fear sem a ação de ventos. Simionato et al. (2004) simularam a
pluma do rio da Prata considerando a descarga de água doce e a força de Coriolis,
observando o transporte em direção ao norte das águas sobre a plataforma continental
do Sul do Brasil, corroborando os resultados obtidos neste trabalho. Os perfis verticais
extraídos na região da pluma considerando somente a rotação da Terra mostram um
padrão de salinidade bem distribuído acima dos 5 metros de profundidade ao longo e
transversalmente a zona costeira, com uma fraca estratificação de salinidade observada
na horizontal e uma estratificação vertical quase constante ao longo e transversalmente a
costa.
O efeito das marés foi considerado na simulação subseqüente pela prescrição das
principais componentes da região de estudo na fronteira oceânica do domínio numérico.
Os campos de salinidade e velocidade de corrente obtidos indicaram que a pluma da
Lagoa dos Patos sob a ação das marés se espalha sobre a plataforma continental,
reduzindo sua área superficial e o gradiente de salinidade horizontal na direção
transversal a costa. O processo de mistura induzido pelas marés reduz a intrusão da
pluma em direção ao norte em comparação com a situação não realística forçada apenas
pela força de Coriolis. Estes resultados sugerem que é essencial incluir os efeitos das

204
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

marés para produzir a estrutura esperada para a pluma. Chao (1990) e Garvine (1999)
também observaram a redução do gradiente de salinidade, e um espalhamento radial
mais realístico da pluma com um aumento de sua área superficial sob a ação das marés.
Nestas condições, a estrutura vertical da pluma ao longo da plataforma
continental após 180 dias de simulação apresentou um comportamento assimétrico, com
uma fraca tendência de espalhamento em direção ao norte. As correntes de maré
geraram um efeito residual que tende a aumentar a circulação vertical junto à
desembocadura da Lagoa dos Patos, promovendo a mistura e intensificando o transporte
de águas continentais ao longo da costa. As correntes de maré ainda contribuíram para o
espalhamento da pluma transversalmente a costa, reduzindo a estratificação vertical em
direção ao oceano e aumentando em direção a costa.
Zimmerman (1981) e Chao (1990) mostraram que canais onde ocorre a interação
entre a plataforma continental e o estuário são regiões caracterizadas pela circulação
não-linear e dominadas por vórtices ciclônicos e anti-ciclônicos em cada um dos lados
do canal, sendo controlados pelo regime de vazante e enchente. Chao (1990) comentou
que a força de Coriolis pode intensificar os vórtices anti-ciclônicos, contribuindo para a
geração de assimetria. Diversos autores comentam que a ação das marés contribui para
o aumento dos processos de mistura, reduzindo a estratificação de salinidade
(O’Donnel, 1990; Pritchard, 2000, Guo e Valle-Levinson (2007), entre outros). Guo e
Valle-Levinson (2007) verificaram que a influência das marés intensifica a mistura e
enfraquece a estratificação junto à entrada da Baía de Chesapeake, resultando no
decréscimo de gradientes verticais.
A influência de ventos de quadrante sul induz o transporte da pluma em direção
ao nordeste. Nestas condições, a intensidade da circulação vertical é reduzida, a
advecção horizontal é dominante e condições bem misturadas são observadas
verticalmente ao longo e transversalmente a costa. Por outro lado, ventos de quadrante
norte podem contribuir diferentemente para o transporte da pluma. Ventos de nordeste
contribuem para o espalhamento da pluma em direção ao sudoeste e em direção ao
oceano aberto. A influência dos ventos intensifica a estratificação vertical junto à boca
da Lagoa dos Patos, induzindo o deslocamento das águas de origem continental ao
longo da costa. Estas condições de ventos intensificam os processos de ressurgência,
espalhando a pluma e intensificando a estratificação vertical em direção ao oceano
aberto.

205
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Ventos de noroeste contribuem para o espalhamento da pluma em direção ao


oceano aberto induzindo um fluxo ao longo da costa e em direção ao nordeste. Estas
condições reduzem a estratificação vertical na região ao norte da boca da Lagoa dos
Patos, intensificando os processos de mistura junto à zona costeira e evitando o
espalhamento da pluma junto à costa. É importante ressaltar que os resultados indicam
que a resposta desta pluma a ação dos ventos ocorre rapidamente, em escalas de tempo
menores que 1 dia. Burrage et al (2008) observaram, através da metodologia proposta
por Whitney e Garvine (2005), que ventos atuando por cerca de uma hora são capazes
de gerar modificações significativas nos campos de densidade da pluma costeira da
Lagoa dos Patos.
A influência dos efeitos remotos para o padrão de circulação da pluma costeira
da Lagoa dos Patos foi analisada em escalas curtas de tempo pela consideração: 1) da
influência dos efeitos remotos nos níveis de água; 2) da circulação dirigida por
gradientes de densidade ao longo da plataforma continental, incluindo indiretamente o
efeito da pluma do Rio da Prata e da corrente do Brasil; 3) das trocas de calor com a
atmosfera. Nestas condições, a dinâmica da zona costeira não apresentou mudanças
significativas em relação às tendências da direção das correntes ou do transporte
dominante da pluma. Entretanto, a intensidade das velocidades de corrente foi
sensivelmente aumentada e as maiores diferenças apareceram no campo de salinidade
no que diz respeito à estratificação vertical e horizontal.
A consideração da variabilidade da salinidade da zona costeira com a inclusão
do efeito indireto da pluma do Rio da Prata gerou um aumento na salinidade da zona
costeira para índices associados a esta massa de água, aumentando a estratificação
horizontal ao longo da zona costeira e reduzindo a estratificação transversalmente a
costa durante os períodos de ventos de quadrante sul. Möller et al. (2008) estabeleceram
índices de salinidade menores que 33.5 para as águas da pluma do Rio da Prata ao longo
da costa do Sul do Brasil. Durante os períodos de ventos de quadrante norte, o campo de
salinidade apresentou um aumento de estratificação refletido em um aumento no
gradiente vertical ao longo da costa. Transversalmente à costa, a influência das águas do
Rio da Prata reduziu a intrusão da pluma da Lagoa dos Patos em direção ao oceano pela
intensificação dos processos de mistura.
Chao (1988b) demonstrou através de experimentos de modelagem numérica que
ventos favoráveis a ressurgência contribuem para alongar a pluma ao longo da costa.
Este autor observou que ventos favoráveis a subsidência enfraquecem e revertem às

206
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

correntes superficiais, promovendo os processos de mistura vertical da coluna de água.


Soares (2003) e Soares et al. (2007b) verificaram que ventos favoráveis a subsidência
intensificam os processos de mistura formando plumas estreitas com estruturas
verticalmente bem misturadas. Xia et al. (2007) observaram que a intensidade dos
ventos tendem a reduzir o tamanho da superfície da pluma e distorcer a forma da
protuberância formada junto a desembocadura devido a intensificação da mistura
induzida pelo vento na superfície.
Outros estudos de modelagem demonstraram que as plumas se tornam mais
finas, sendo advectadas em direção ao oceano aberto pelo transporte de Ekman
transversal a costa induzido por ventos favoráveis a ressurgência (Chao, 1988b;
Kourafalou, 1996a, 1996b; Fong and Geyer, 2001; Soares (2003); Soares et al., 2007b;
Xia et al., 2007, Marques et al., 2009). Soares (2003), Soares et al. (2007b) e Marques
et al. (2009) observaram que ventos favoráveis a ressurgência inicialmente causam um
aumento na estratificação vertical devido a remoção das águas continentais em direção
ao oceano aberto. Fong and Geyer (2001), Soares (2003) e Soares et al. (2007b)
verificaram que as plumas mais finas apresentam um forte cisalhamento vertical de
velocidade na região da frente, promovendo intensa mistura e entranhamento das águas
da pluma em direção ao fundo, reduzindo a estratificação. Chao (1988b) observou que
ventos em direção ao oceano intensificam o cisalhamento vertical das correntes,
misturando a coluna de água a partir da superfície em direção ao fundo.
A importância dada aos mecanismos que controlam o destino das plumas é
diretamente dependente das taxas de descarga de águas continentais. Plumas de larga
escala, normalmente apresentam alguma modulação associada à ação local dos ventos,
mas seu destino final é normalmente controlado pela ação do efeito associado à rotação
da Terra, seguindo a mesma direção de propagação de fase de ondas de Kelvin. Piola et
al. (2005), Piola et al. (2008) e Möller et al. (2008) utilizaram modelagem numérica,
imagens de satélite e observações diretas, respectivamente, para estudar a pluma de
larga escala formada pela descarga do Rio da Prata. Estes estudos demonstraram a
importância da tensão de cisalhamento dos ventos ao longo da costa na intensificação da
propagação desta pluma em direção ao norte em escalas sazonais e inter-anuais.
Por outro lado, plumas de pequenas escalas são menos influenciadas pelos
efeitos da rotação, e respondem rapidamente a ação local dos ventos ou das marés,
alterando rapidamente suas condições de estratificação. Através da análise de imagens
de sensores remotos, Warrick et al. (2007) verificaram a rápida e forte resposta das

207
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

plumas formadas na baía do Sul da Califórnia devido a ação local dos ventos em escalas
curtas de tempo. Lihan et al. (2008) estudaram a pluma do rio Tokachi utilizando
imagens de sensores remotos e observaram a resposta dos efeitos do vento, vórtices
próximos a costa e correntes superficiais controlando o seu destino em escalas de tempo
sazonais. Xia et al. (2007) utilizaram modelagem numérica para investigar a
importância da ação local dos ventos na reversão da direção dominante da pluma do
cabo Fear, assim como a importância de fortes ventos na intensificação dos processos de
mistura vertical.
A pluma costeira da Lagoa dos Patos é uma pluma de média escala que tem seu
comportamento dominado em curtas escalas de tempo pela ação local do vento
(Marques et al., 2009). A pluma se desenvolve em uma região onde a estratificação
pode mudar rapidamente e apresenta um comportamento cinemático distinto com
relação à influência da pluma do rio da Prata. Burrage et al. (2008) investigaram a
interação da pluma costeira da Lagoa dos Patos e a pluma do Rio da Prata em
condições de inverno (no ano de 2003) e condições de verão (no ano de 2005). Estes
autores verificaram que a pluma do rio da Prata é altamente assimétrica, com um
desenvolvimento ao longo da costa em direção ao norte e um comportamento dinâmico
similar a uma corrente costeira dirigida por gradientes de densidade, na qual ocorre um
balanço quase geostrófico na direção transversal a costa. Por outro lado, estes autores
verificaram que a pluma da Lagoa dos Patos, manteve sua integridade com uma
condição relativamente simétrica, ageostrofica, e dominada pela fricção com um
significativo desenvolvimento transversal a costa e moderado desenvolvimento ao longo
da costa. Portanto, os resultados apresentados neste trabalho, bem como, os obtidos por
estes autores indicam que o destino final da pluma costeira da Lagoa dos Patos é
dominado pela ação local dos ventos, e não pela circulação dirigida por gradientes de
densidade na zona costeira.

5.3. Análise da variabilidade espacial e temporal da pluma

O campo médio de salinidade superficial ao longo da zona costeira adjacente


fornece um indicativo do comportamento residual esperado para a pluma costeira da
Lagoa dos Patos durante o período estudado. Os resultados indicaram um campo quase
simétrico disposto ao longo da zona costeira adjacente onde não se pode distinguir

208
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

perfeitamente a formação de uma corrente costeira bem definida e com uma suave
tendência de propagação de águas de menores salinidades em direção ao sul. De acordo
com o esquema clássico de classificação de plumas proposto por Chao (1988a), esta
pluma se enquadra visualmente como a de um comportamento subcrítico.
As análises de EOF indicaram a dominância de dois principais modos para o
controle da variabilidade espacial desta pluma ao longo da plataforma continental
adjacente em escalas de poucos dias a um ano. As análises de variabilidade temporal
indicaram uma combinação de efeitos para o controle do primeiro modo de
variabilidade espacial e a dominância da influência dos ventos para o controle do modo
de variabilidade secundário. O primeiro modo explica cerca de 70% da variabilidade
espacial da pluma, e apresenta um padrão bastante semelhante ao campo médio de
salinidade observado. Este modo reflete a migração dominante da pluma costeira da
Lagoa dos Patos em direção ao sul ao longo da zona costeira.
Este padrão dominante de propagação pode ser interpretado pela combinação
entre a disponibilidade de águas de origem continental na zona costeira associados à
ação dominante de ventos de quadrante norte durante a maior parte do ano na região de
estudo. Havendo uma grande disponibilidade de águas de origem continental, a
influência dos ventos de quadrante norte é fundamental para o deslocamento da massa
de água para o sul, pois a contribuição do efeito rotacional nestas condições fornece
uma contribuição mais significativa, induzindo o transporte para o norte. Por outro lado,
durante eventos de descarga menos intensos, as plumas formadas são pouco
influenciadas pela rotação da Terra e não necessitam da contribuição dos ventos para se
deslocar em direção ao sul, seguindo a direção preferencial do canal de acesso.
O segundo modo, que explica 19% da variabilidade, indica duas regiões distintas
ao norte e ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos. Este padrão de variabilidade
sugere a migração intermitente da pluma em direção ao norte durante a ocorrência de
ventos de quadrante sul. Para este modo de variabilidade, a relação entre a
disponibilidade de águas de origem continental na zona costeira e a migração da pluma
em direção ao norte é direta. Durante os períodos de dominância de ventos de quadrante
sul que estejam associados à maior disponibilidade de águas de origem continental, a
influência mais significativa desta massa de água ao norte da desembocadura da Lagoa
dos Patos pode ser verificada. Por outro lado, nos períodos mais secos os ventos de
quadrante sul podem rapidamente misturar a massa de água influenciando menos a
região ao norte da desembocadura.

209
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Diversos estudos utilizando análises de séries temporais e modelagem numérica


(Möller, 1996; Möller et al., 1996; Möller et al., 2001; Fernandes, 2001; Fernandes et
al., 2002; Fernandes et al., 2004; Castelão and Möller, 2006) mostraram que a
circulação da porção estuarina e lagunar da Lagoa dos Patos durante períodos de baixas
a médias descargas são controlados pela ação dos ventos em escalas de tempo que
seguem ciclos entre 3 e 17 dias.

O campo médio de salinidade ao longo da vertical em dois perfis selecionados


ao longo e transversalmente à zona costeira confirma os resultados encontrados para a
camada superficial, indicando a tendência da pluma em se deslocar preferencialmente
ao longo da costa em direção ao sul e transversalmente a costa como uma lente de água
de menor densidade. As análises de variabilidade espacial destes perfis confirmaram o
padrão obtido para a camada superficial, onde os dois primeiros modos explicaram à
maior parte da variância, e o primeiro modo responde similarmente a condição média
observada.

A evolução temporal de séries temporais de salinidade e velocidade de corrente


ao longo de dois perfis verticais colocados em posições próximas a desembocadura da
Lagoa dos Patos, ao longo da costa, indicou que condições de fluxo unidimensional, ou
mesmo, a reversão de fluxos entre a superfície e o fundo, podem ser observados. Por
outro lado, transversalmente a zona costeira, o padrão de circulação típico associado ao
transporte de Ekman superficial e de fluxo de ajuste na camada de fundo foi mais
observado.

Na região ao longo da zona costeira, ao sul da desembocadura, a maior


contribuição das correntes (em escalas temporais menores que 20 dias) para a
manutenção das menores salinidades deste ponto ocorre durante os períodos de maior
disponibilidade de águas de origem continental na região. Nestas situações, ciclos mais
curtos de descarga fluvial associados a condições favoráveis de ventos (ventos de
quadrante norte) otimizam a distribuição das águas continentais ao longo da costa.
Durante os períodos de menor disponibilidade de águas de origem continental na região,
aparecem às maiores correlações entre as variáveis em escalas sazonais e anuais,
sugerindo a importância dos ciclos mais longos de descarga fluvial. Os eventos que
ocorrem nestas escalas de tempo nem sempre são os que disponibilizam o maior volume
de águas continentais, e não estão associados à influência dos ventos de quadrante norte,
entretanto, contribuem para o aumento na estratificação vertical da região mais próxima

210
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

a desembocadura, simplesmente pela inércia associada ao fluxo de água que entra na


zona costeira.

Na região ao longo da zona costeira, ao norte da desembocadura, a maior


contribuição das correntes (em escalas temporais menores que 20 dias) para a
manutenção das menores salinidades deste ponto ocorre também durante os períodos de
maior disponibilidade de águas de origem continental ao longo da zona costeira. Nesta
região da costa, a ocorrência de ventos de noroeste ou de quadrante sul é necessária para
o espalhamento das águas nesta direção. Durante os ciclos mais intensos e curtos de
descarga fluvial (escalas intra-sazonais e sazonais) a ação dos ventos favoráveis pode
contribuir para o aumento mais efetivo da estratificação desta região. Durante os
períodos de menor disponibilidade de águas de origem continental da região, o efeito da
inércia associada ao fluxo de água que entra na zona costeira parece também influenciar
esta região localizada próxima a desembocadura.

Durante os períodos de menor disponibilidade de águas de origem continental, a


inércia associada ao fluxo de água que entra na plataforma continental gera um
espalhamento radial da massa de água influenciando igualmente as regiões próximas ao
norte e ao sul da desembocadura. Este espalhamento está associado à conversão efetiva
da energia cinética, de um jato estreito e mais profundo na desembocadura do canal, em
energia potencial, na forma de uma pluma de maior área, menor profundidade e
velocidades menos intensas.

A advecção das águas de origem continental influenciada ou não pela ação dos
ventos exerce uma influência direta mais efetiva na região localizada ao sul da
desembocadura, alcançando regiões mais profundas da coluna de água, enquanto, ao
norte esta influência é mais restrita, devido ao efeito de mistura associado à ação dos
ventos favoráveis ao transporte nesta direção.

5.4. Análise dinâmica das condições médias da pluma da


Lagoa dos Patos e do esquema de classificação

A análise qualitativa e estatística dos campos de salinidade da pluma costeira da


Lagoa dos Patos indicou que a influência da descarga fluvial não se restringe a

211
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

disponibilidade de águas de origem continental na zona costeira, sendo importante


também para a dinâmica do campo próximo da pluma (localizado nas regiões mais
próximas da desembocadura). Por outro lado, a ação local dos ventos controla em
escalas de poucos dias o comportamento e o destino final desta pluma. A análise
dinâmica realizada através da metodologia proposta por Garvine (1995) forneceu
parâmetros quantitativos para embasar estas constatações. A análise realizada para o
campo médio da pluma da Lagoa dos Patos é bastante consistente com os resultados
obtidos com Burrage et al. (2008), que utilizou a mesma metodologia associada a
observações de campo.
De acordo com as análises desenvolvidas neste trabalho, temos a pluma costeira
da Lagoa dos Patos com um moderado número de Kelvin (K = 2.8), indicando que a
mesma é influenciada pela ação da rotação da Terra. De acordo com Garvine (1987;
1995), para valores muito pequenos de K (K << 1), o fluxo no campo próximo da pluma
se comporta de forma não-rotacional. Esta condição pode ocorrer para plumas de
pequena escala localizadas em médias latitudes, ou plumas de larga escala localizadas
próximo ao equador. Os resultados de Garvine (1995) mostraram que plumas com K <<
1 apresentam fortes termos de advecção, números de Froude de ordem um e pouco
efeito de rotação, por outro lado, plumas com K >> 1 mostraram advecção menos
intensa, números de Froude menores que um e muita influência da rotação.
Os valores muito baixos de número de Froude encontrados indicam que os
efeitos associados à ação da aceleração gravitacional (efeito da flutuabilidade) são mais
importantes que a inércia do fluxo quando a pluma é formada na região da plataforma
continental interna. De acordo com Kourafalou (1993) estas duas forças impõem um
tipo hidráulico de controle do campo próximo da pluma. No caso da pluma da Lagoa
dos Patos, estes valores de Froude indicam que seu comportamento típico será de uma
expansão do tipo subcrítica, onde sua expansão em direção ao oceano é reduzia pelo
fato do efeito da inércia do fluxo ser mais restrito a região da desembocadura. Portanto,
neste tipo de pluma não se pode observar muitas diferenças entre sua corrente costeira
(junto à cabeceira) e sua zona de giro localizado mais próximo a desembocadura. A
descarga da Lagoa dos Patos pode também favorecer a formação de plumas do tipo
difusivas, as quais são caracterizadas pela excessiva mistura que tende a torná-las mais
largas do que extensas. Estes tipos de pluma podem ser estimulados pelo efeito das
marés ou pela mistura topograficamente induzida (Chao, 1988a)

212
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A razão de aspecto calculada indica que esta pluma tem um modesto


deslocamento transversal a costa, quando comparado com o deslocamento longitudinal.
Os valores de transporte associados a influência dos ventos e influência da fricção de
fundo confirmam o que foi observado para os campos médios. Como esta pluma se
comporta como uma lente de água na superfície, ela tende a ser rapidamente
influenciada pela ação local dos ventos e sofrer menos influência do atrito conforme se
afasta da desembocadura.
De acordo com o balanço dinâmico realizado, podemos dizer que esta pluma
apresenta um comportamento complexo típico de uma pluma de pequena a média
escala, corroborando as análises anteriores. Isto ocorre porque a pluma tende a
apresentar um deslocamento ao longo da costa mais bem desenvolvido, que é
principalmente influenciado pela ação dos ventos, com as forças de Coriolis e de arrasto
de fundo contribuindo de forma secundária, mais não desprezível. Transversalmente a
costa, o balanço de forças é associado à força de Coriolis e influência dos ventos, com
uma influência muito reduzida do arrasto de fundo, devido ao aumento da declividade
do fundo em direção ao oceano. Portanto, podemos dizer que as influências dos ventos e
da força de Coriolis são as mais importantes forçantes externas a dinâmica da pluma
para o controle de seu desenvolvimento e destino.

5.5. Análise dos processos de mistura

A equação de anomalia de energia potencial tem sido utilizada em diversos


estudos para quantificar a contribuição de diferentes mecanismos que promovem a
mistura de sistemas estratificados em estuários e oceanos costeiros (van Aken, 1986;
Sharples e Simpson, 1993; Rippeth e Simpson, 1996; Simpson et al., 2002; Burchard e
Hofmeister, 2008; de Boer et al., 2008; entre outros). Neste estudo, a equação de
anomalia de energia foi utilizada com sucesso na investigação dos termos dominantes
que controlam a estratificação ao longo da plataforma continental interna do Sul do
Brasil influenciada pela pluma costeira da Lagoa dos Patos.
Foram selecionadas três escalas temporais consideradas como mais importantes
de acordo com as análises de espectro de energia cruzado entre as anomalias de energia
potencial e as principais forçantes (a descarga fluvial e a intensidade dos ventos).
Existem importantes diferenças entre o campo próximo da pluma. Junto à

213
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

desembocadura, os eventos mais importantes ocorrem intermitentemente durante todo o


período, indicando a ocorrência de processos de estratificação e mistura associada com
os processos de troca entre o estuário e a zona costeira adjacente, com menor
dependência da intensidade da descarga fluvial. Por outro lado, na região da frente e
campo distante da pluma, os eventos mais energéticos são observados durante períodos
de moderada a alta descarga fluvial. Este comportamento indica que a advecção das
águas menos densas durante os eventos mais intensos de descarga, associada à ação dos
ventos contribui para a manutenção do padrão de estratificação e mistura desta área,
como no ano de 1998 e segunda metade do ano de 1999.
van Aken (1986) mostrou que em certas áreas do mar do Norte, existe um
padrão sazonal de estratificação causado pela advecção diferencial na presença de fortes
gradientes de salinidade. Rippeth e Simpson (1996) verificaram que durante a transição
da primavera para o verão, a região do Mar Clyde se torna suscetível a episódios
completos de mistura vertical devido à inversão na estrutura de temperatura. Qualquer
destes resultados sugere alguma modulação, porém nada pode ser inferido a respeito dos
processos de estratificação e mistura ao longo da plataforma sul do Brasil.
No presente estudo, estes processos foram examinados considerando três escalas
temporais diferentes. Processos que ocorrem em escalas de 5 e 15 dias foram
considerados mais significativos para a influência dos ventos, enquanto que a escala de
30 dias foi considerada a mais significativa para a descarga, tendo em vista o tempo de
simulação considerado.
As análises indicaram que a influência da descarga fluvial para a manutenção
dos processos de advecção e mistura é mais restrita ao campo próximo da pluma,
enquanto, a influência dos ventos é mais ampla, influenciando todo o corpo da pluma.
De maneira geral, a advecção e a deformação dos campos de densidade são os mais
importantes para a manutenção da variabilidade dos processos de estratificação e
mistura no campo próximo e distante da pluma costeira da Lagoa dos Patos em escalas
de 5 e 30 dias. As interações não-lineares entre as perturbações nos campos de
densidade e velocidade ao longo da vertical, assim como os termos de dispersão, são
importantes em toda a parte, porém associados a efeitos de modulação.
A importância destes efeitos é diferenciada de uma escala de tempo para outra,
indicando que as grandes alterações nos padrões de estratificação e mistura da pluma
para diferentes processos associados à ação dos ventos ou influência direta da descarga
são atribuídas a efeitos não-lineares ou a dispersão integrada das massas de água. Este

214
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

padrão de variabilidade com diferentes termos contribuindo para a evolução da


estratificação em diferentes regiões da pluma já foi observado por de Boer et al. (2008),
que investigaram a pluma da região do Rhine, e por Burchard e Hofmeister (2008), que
analisaram resultados numéricos para um estuário idealizado observando um padrão
similar, com efeitos da advecção e deformação de campos controlando a evolução das
condições de estratificação e mistura.
Na região do campo próximo, junto à desembocadura da Lagoa dos Patos, a
advecção vertical controla os processos de mistura e estratificação. Nesta região, as
mais intensas velocidades foram observadas devido ao padrão de circulação gerado pela
interação da circulação gravitacional e estreitamento do canal de acesso. As
características topográficas da parte oceânica do canal de acesso favorecem a
intensificação da circulação vertical. Nesta região de estratificação estável, velocidades
direcionadas para baixo geram condições de deslocamento das isopicnais para baixo na
coluna de água, diminuindo as anomalias de energia potencial, e vice-versa. De acordo
com Hetland (2005) a mistura vertical e o correspondente entranhamento das águas do
ambiente é maior perto da boca dos estuários, onde a mistura gerada pelo cisalhamento
do campo de velocidades devido à inércia do fluxo é maior.
O campo próximo da pluma (junto à desembocadura) é caracterizado pela rápida
aceleração e afundamento das isopicnais, e a presença da turbulência desacelera o
avanço da pluma, modificando sua taxa de expansão (Macdonald et al., 2007). Burchard
e Hofmeister (2008) encontraram que as mais intensas contribuições da advecção
vertical estavam próximas a cabeça do estuário onde o afundamento das isolinhas era
observado. Os resultados apresentados por de Boer et al. (2008) indicaram que a região
junto à desembocadura do estuário foi a mais afetada pelas interações não-lineares e
advecção vertical.
Os quatro termos associados à deformação e advecção dos campos de densidade
transversalmente e ao longo da costa explicam a maior parte das anomalias de energia
potencial na região da frente da pluma e no campo distante da mesma em todas as
escalas de tempo analisadas. Entretanto, foram consideradas duas regiões com
diferentes contribuições destes termos. A parte nordeste da pluma, que é caracterizada
pela convergência entre as correntes costeiras e os fluxos associados à circulação
gravitacional. Esta condição dinâmica promove o máximo espalhamento da pluma em
direção ao oceano aberto, portanto, os termos associados à advecção e deformação de
campos transversalmente a costa são os mais importantes para o controle dos processos

215
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

associados à mistura e estratificação desta região. A parte sudoeste da pluma é


dominada pelas correntes costeiras, promovendo o máximo espalhamento da pluma ao
longo da costa e a dominância de processos de ressurgência na área.
Estas condições corroboram os resultados que indicam os termos da advecção e
deformação de campos ao longo da costa associados à influência da advecção
transversal a costa controlando a evolução da estratificação nesta região. Durante
eventos de baixa a moderada descarga fluvial, a ação da corrente de nordeste, associada
a influência de ventos de sudoeste, diminuem as anomalias de energia potencial na
região. Por outro lado, durante eventos de alta descarga, os efeitos das correntes de
nordeste tendem a ser menos correlacionados com os processos de mistura. A
ocorrência simultânea de eventos de alta descarga fluvial e correntes de sudoeste,
associadas à influência de ventos de nordeste, contribuem para o espalhamento das
águas continentais ao longo da costa, estratificando a coluna de água e aumentando as
anomalias de energia potencial.
De acordo com os processos físicos dominantes e as escalas de tempo
consideradas, diferentes regiões mostraram diferentes mecanismos que controlam a
evolução da estratificação. De acordo com Hetland (2005), o campo próximo das
plumas é caracterizado pela mistura associada ao cisalhamento inercial e aos efeitos do
vento, quando presente, por outro lado, o campo distante é apenas influenciado pela
mistura associada aos efeitos dos ventos. A mistura no interior de uma pluma, causada
pela mistura associada a processos advectivos e cisalhamento do vento é relacionada à
área superficial das isolinhas dentro da pluma (Hetland, 2005). A dominância de ventos
favoráveis a ressurgência na região de estudo resultam num transporte médio da pluma
em direção ao sudoeste da desembocadura da Lagoa dos Patos durante os 688 dias de
simulação.

5.6. Análise da pluma de sedimentos e do padrão de deposição


de sedimentos finos na zona costeira

A Lagoa dos Patos atua como um exportador de águas de origem continental


para a plataforma continental interna do Sul do Brasil. De maneira similar, o mesmo
padrão é observado para a exportação de materiais em suspensão. O comportamento
médio do material em suspensão ao longo da seção transversal do canal de acesso é

216
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

bastante similar ao padrão médio de salinidade, indicando um comportamento de uma


pluma hipopicnal ou de flutuabilidade positiva.
O fluxo total de massa estimado através de integração ao longo da seção
transversal do canal de acesso resultou em uma série temporal de caráter similar ao da
descarga fluvial, onde os máximos ocorrem associados aos máximos eventos de
descarga e, durante a ocorrência de ventos de quadrante sul, materiais previamente
exportados podem ser reinseridos na região estuarina. As modificações nas condições
meteorológicas influenciam rapidamente o comportamento do material em suspensão
em regiões costeiras, como observado por Talke e Stacey, (2008) na baía de São
Francisco.
A integração temporal do transporte de massa resultou numa taxa de
aproximadamente 1.37x107 ton ano-1 exportados para a zona costeira durante o período
estudado, com uma razão média entre sedimentos carregados e a descarga fluvial de
aproximadamente 0.1 kg m-3. De acordo com Wright e Friedrichs (2006), a maior parte
dos sistemas estuarinos mundiais descarrega suas águas na forma de plumas
hipopicnais, pelo fato de a razão entre os sedimentos carregados e a descarga dos
mesmos ser muito pequena. Estes autores apresentam estimativas de exportação para
três proeminentes rios mundiais: os rios Amazonas, Yangtze e Mississipi, com taxas
aproximadas de 1.2x109, 0.48x109 e 0.21x109 ton ano-1, respectivamente. Estes rios
apresentam razões médias de água para descarga bastante pequenas, de
aproximadamente 0.14, 0.53 e 0.36 kg m-3, respectivamente (Wright e Nittrouer, 1995).
Estas razões podem ser consideradas baixas dadas as taxas de exportação anual de
sedimentos que estão muito mais associadas ao volume de águas descarregadas na
plataforma, do que propriamente a quantidade de sedimentos carregada por unidade de
tempo.
A concentração média de todo o período para o material em suspensão nas
camadas de superfície e de fundo confirmam a formação e o desenvolvimento de uma
pluma hipopicnal, onde a influência do material em suspensão próximo a camada de
fundo é mais restrita. Este padrão de comportamento para o material em suspensão
indica as regiões em que a sua deposição pode ser proporcionada pelo padrão de
circulação da região. A descarga da Lagoa dos Patos representa uma importante
contribuição para o balanço de nutrientes e sedimentos em suspensão da plataforma
continental do Sul do Brasil.

217
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Existem evidências de problemas associados à deposição de sedimentos coesivos


ao longo da Praia do Cassino, ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos, observados
desde 1973 (Martins e Urien, 1979). Dados recentes obtidos entre 2004 e 2005 (Sperle
et al. 2005; Calliari et al. 2007; Holland et al. 2009) usando ecobatimetria, reflexão
sísmica, e observações diretas permitiram um detalhado mapeamento da lama fluida e
mais compactada entre as isóbatas de 5 e 12 m. Guerra et al. (2009), estimaram valores
médios da concentração de material em suspensão superficiais ao sul da desembocadura
da Lagoa dos Patos variando entre 0.011 e 0.091 kg m-3 para um cruzeiro realizado em
maio de 2005.
O padrão de deposição médio de sedimentos na região costeira adjacente é
produto do balanço entre processos de erosão e deposição de sedimentos decorrentes da
descarga fluvial e circulação costeira. Os resultados obtidos sugerem que a direção
dominante de propagação da pluma costeira da Lagoa dos Patos em escalas de tempo
sinóticas é compatível com a posição dos depósitos de sedimentos coesivos observados
ao sul da desembocadura. A evolução percentual de silte na região indicou um
enriquecimento de até 13% em regiões costeiras acima da isóbata de 10 m, causado pela
deposição destes sedimentos diretamente associada à presença da pluma na região.
Calliari et al (2009) verificaram que os sedimentos exportados pela Lagoa dos Patos se
depositam entre as isóbatas de 6 e 20 m, em camadas que variam de poucos milímetros
a 2 m, e com grandes gradientes laterais entre os grãos dos sedimentos.
Calliari et al. (2009) verificaram através de observações recentes que a
ocorrência de lama fluida aumenta em direção à costa, mas que o depocentro deste
material permanece na mesma região previamente mapeada há duas décadas. Este efeito
pode estar associado à redução da influência das ondas geradas pelo vento na região
mais próxima a costa, devido ao efeito dissipador dos bancos de lama localizados entre
as isóbatas de 6 e 20 m. Os efeitos dissipativos da lama para os processos
hidrodinâmicos na zona costeira já foram constatados por Oliveira (2000) e Cuchiara et
al. (2009). Neste sentido, os resultados do modelo para a deposição do silte servem
como um sinalizador de como e em que condições ambientais, os processos de
deposição estão ocorrendo ao longo da costa adjacente.
A evolução do fundo na região costeira adjacente acima da isóbata de 10 m pode
ser separada em duas áreas: uma área mais influenciada pela deposição direta dos
sedimentos da pluma, que possui uma evolução mais lenta e que alcançou 1 mm após os
606 dias de estudo, como nas zonas mais protegidas ao sul do canal; outra área

218
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

localizada na região próxima a desembocadura da Lagoa dos Patos, junto à isóbata de


10 m, onde o padrão de evolução do fundo é resultado da deposição direta de
sedimentos somada ao efeito do transporte de fundo propriamente dito. Nesta região, os
valores de evolução podem alcançar 7 mm após os 606 dias de simulação. Taxas de
sedimentação obtidas através de datação radioativa (210Pb) de um ponto na isóbata de 14
m ao sul da desembocadura da Lagoa dos Patos na região do depocentro de lama fluida,
forneceu uma taxa de acumulação de 25±0.09 mm ano-1 (Calliari et al. 2009; Reed et al.
2009). Esta taxa de acumulação que considera escalas decadais indicou um valor três
vezes maior que o obtido por Toldo Jr. (2006) para a região lagunar da Lagoa dos Patos.
Estas taxas também são bastante altas quando comparadas com os valores de 2 mm ano-
encontradas por Tessler (2001) ao analisar medidas diretas na plataforma continental
interna e média na região da costa de São Paulo.
Novamente, os valores obtidos através da modelagem de curto período deste
trabalho têm que ser avaliados como sinalizadores de regiões de maior ou menor
deposição de sedimentos, visto que o modelo considera apenas uma classe de materiais
em suspensão (silte). Esta limitação não permite que estes resultados sejam utilizados
para fazer a previsão de ocorrência de lama. Além disso, o modelo não considera o
efeito da consolidação dos sedimentos coesivos previamente depositados no fundo. O
efeito da consolidação pode ser considerado como a variação das características
(densidade e viscosidade) dos depósitos coesivos ao longo do tempo, ou seja, o seu grau
de compactação.
Considerando que os sedimentos coesivos consolidados são mais dificilmente
remobilizados pelo efeito do arrasto de fundo ou mesmo da ressuspensão para a coluna
de água, este efeito pode ser considerado como uma importante contribuição para as
elevadas taxas de deposição encontradas por Calliari et al. (2009) e Reed et al. (2009)
ao longo da região costeira adjacente da Lagoa dos Patos. As taxas encontradas por
estes autores são comparáveis as taxas encontradas em regiões costeiras altamente
influenciadas por sedimentos lamosos, como na costa dos rios Amazonas (Kuehl et al.
1986), Mississipi (Corbett et al. 2006), Atchafalaya (Neill e Allison, 2005) e Ganges-
Brahmaputra (Kuehl et al. 1997).
A região adjacente à desembocadura da Lagoa dos Patos é influenciada pela
ocorrência de uma pluma onde o material trazido em suspensão pela mesma passa por
um processo de deposição inicial que contribui para a formação dos bancos de
sedimentos ao sul da desembocadura. De acordo com Wright e Nittrouer (1995) o

219
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

destino dos sedimentos que entram nas regiões costeiras sendo transportados pela
descarga continental passa por quatro processos específicos de distribuição: suprimento
pelo transporte da pluma, deposição inicial, ressuspensão e transporte por processos
marinhos, e acumulação de longo período.
A deposição dos sedimentos ao longo da zona costeira depende primariamente
da disponibilidade dos mesmos, associada a condições favoráveis de ventos. Na região
adjacente a desembocadura da Lagoa dos Patos, os ventos de quadrante norte associados
à descarga de águas continentais e material em suspensão geram um padrão de
circulação que condiciona esta deposição. Durante períodos de ventos de quadrante
norte, as correntes de sudoeste formadas junto as costa, contornam os molhes gerando
zonas de recirculação ao sul dos mesmos. Nesta região, ocorre a formação de um vórtice
ciclônico (rotacional negativo) que intensifica as velocidades verticais, e por
conseqüência, a deposição inicial dos sedimentos em suspensão da pluma. Na região
mais abrigada, ao sul do canal de acesso, ocorre uma região de menor intensidade com
rotacional positivo, onde um pequeno vórtice anti-ciclônico normalmente se forma. Na
região de transição entre os dois, ocorre a formação de zonas de frente com maiores
concentrações de sedimentos e altas taxas de deposição.
Na região mais distante, ao sul da desembocadura, o padrão de deposição
depende da prévia advecção do material em suspensão proveniente da descarga
continental, associada a condições de mudanças na direção dos ventos (de quadrante
norte para o quadrante sul) para que ocorram condições de baixas velocidades
horizontais e haja uma intensificação da deposição dos sedimentos em suspensão. As
regiões influenciadas pela descarga fluvial são supridas por um contínuo transporte de
sedimentos finos, os quais são distribuídos ao longo da zona costeira por uma variedade
de processos (Wright e Nittouer, 1995; Wright e Friedrichs, 2006; Blaas et al., 2007;
Wang et al., 2007a; 2007b). De acordo com Wright e Nittouer (1995), o comportamento
e deposição inicial dos sedimentos da pluma dependem da razão de sedimentos para
descarga fluvial e dos fatores de mistura, como a tensão de cisalhamento do vento,
marés e altura de ondas. Geyer et al. (2004) e Wright e Friedrichs (2006) mostraram que
a diferença de densidade das águas continentais para as oceânicas induzem importantes
conseqüências na distribuição, transporte e destino final dos sedimentos de origem
continental.
A taxa na qual os sedimentos são inicialmente depositados nas regiões
adjacentes aos estuários, onde ocorre o espalhamento e desaceleração das plumas,

220
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

depende em parte da taxa de desaceleração da pluma e em parte da intensidade das


velocidades de deposição dos sedimentos (Wright e Nittouer, 1995). No caso da pluma
da Lagoa dos Patos, onde as velocidades dependem da intensidade da turbulência, a
geração de zonas de aprisionamento de sedimentos se torna importante para a
intensificação da deposição. Em regiões onde a introdução de águas de origem
continental é alta com relação à quantidade de sedimentos em suspensão, sobretudo em
regiões onde a velocidade de deposição é baixa, os sedimentos podem se dispersar
relativamente para longe da fonte antes de iniciar o processo de deposição (Wright e
Nittouer, 1995). Existem evidências de estudos observacionais e de modelagem
numérica sugerindo que a convergência de fluxos associados ao transporte gravitacional
associado ou não ao efeito de ondas é a causa principal do transporte transversalmente a
costa e formação de bancos de sedimentos coesivos (Wright e Friedrichs, 2006).
De acordo com Blaas et al. (2007), a efetividade do transporte horizontal de silte
depende fortemente da mistura vertical associada à tensão de cisalhamento superficial
dos ventos e intensificação da tensão de cisalhamento de fundo pelo efeito de ondas
geradas pelo vento. Segundo estes autores, eventos de maiores intensidades de ondas
associados com fortes ventos são as melhores condições para a otimização do transporte
destes materiais. Wang et al. (2007c), Traykovski et al. (2007) e Warner et al. (2008)
mostram evidências da contribuição das ondas geradas pelo vento associadas ou não a
condições extremas de ventos para o aumento da ressuspensão de sedimentos e o seu
posterior transporte para longas distâncias de suas fontes.

221
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

CONCLUSÕES
A plataforma continental do Sul do Brasil é uma região fortemente influenciada
pela descarga de origem continental. Nesta região, a descarga da Lagoa dos Patos
representa uma importante contribuição local para a dinâmica do ecossistema costeiro.
Neste sentido, o estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos foi
conduzido pela aplicação da modelagem numérica em combinação com dados de campo
e de sensoriamento remoto, de forma a contribuir para o melhor entendimento de seu
comportamento hidrodinâmico e sua influência para a dinâmica sedimentar observada
na região costeira adjacente.

De acordo com a análise da formação da pluma costeira da Lagoa dos Patos,


algumas conclusões específicas podem ser ressaltadas:

• A Lagoa dos Patos atua como uma exportadora de águas de origem


continental para a plataforma continental interna com um valor médio
integrado de vazão de aproximadamente 2000 m³ s-1.

• A formação da pluma costeira da Lagoa dos Patos é controlada


principalmente pelo padrão de variabilidade da descarga fluvial com a ação
local dos ventos atuando de forma complementar. Nos períodos de maior
disponibilidade de águas de origem continental, a ação favorável dos ventos
(ventos de quadrante norte), contribui para os maiores eventos de vazante.

• Durante os períodos de menor disponibilidade de águas de origem


continental, a contribuição de ventos favoráveis a vazante do sistema é
fundamental para a formação das plumas de maiores escalas.

222
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A análise do comportamento e destino da pluma indicou:

• O efeito da rotação da Terra contribui para o desenvolvimento da pluma


sobre a plataforma continental. A influência das marés é importante como
efeito modulador e contribui para os processos de mistura. A ação local dos
ventos figura como principal mecanismo no controle do comportamento da
pluma em escalas de dias a semanas.

• A influência de ventos de sudeste e sudoeste contribuem para o transporte da


pluma em direção ao norte intensificando os processos de mistura. Ventos de
nordeste e noroeste contribuem para o transporte da pluma em direção ao
sudoeste e sudeste, respectivamente, espalhando a pluma em direção ao
oceano aberto e aumentando a estratificação vertical das águas costeiras.

• A influência das forçantes remotas apresenta uma contribuição fundamental


para a manutenção da estratificação na zona costeira. Entretanto, a sua
influência em escalas de dias a meses não altera cinematicamente o
comportamento ou destino da pluma induzido pela ação local dos ventos.

• A pluma costeira é dominantemente desviada para o sul da desembocadura


da Lagoa dos Patos, devido à combinação da disponibilidade de águas de
origem continental na zona costeira associada à dominância de ventos de
quadrante norte na região de estudo.

• A migração intermitente da pluma em direção ao norte está associada à


passagem de frentes na região, que ocorrem durante todo o ano e não
apresenta comportamento dominante.

• Durante os períodos de maior disponibilidade de águas de origem


continental, a ação dos ventos é fundamental para o efetivo espalhamento da
pluma para as regiões mais afastadas da desembocadura.

223
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• Durante os períodos de menor disponibilidade de águas de origem


continental, a inércia associada ao fluxo que entra na plataforma continental
gera um espalhamento radial da massa de água influenciando igualmente as
regiões mais próximas da desembocadura.

• O balanço dinâmico indicou que a influência dos ventos e da força de


Coriolis são as mais importantes forçantes externas a dinâmica da pluma
para o controle de seu desenvolvimento e destino.

• Esta pluma apresenta um deslocamento mais desenvolvido ao longo da costa


que é principalmente influenciado pela ação dos ventos, com as forças de
Coriolis e as associadas ao arrasto de fundo contribuindo de forma
secundária.

• Transversalmente a costa, o balanço de forças é associado à força de Coriolis


e influência dos ventos, com uma influência muito reduzida do arrasto de
fundo, devido ao aumento da declividade do fundo em direção ao oceano.

• A pluma da Lagoa dos Patos apresenta um comportamento subcrítico, onde


sua expansão em direção ao oceano é reduzida pelo fato do efeito da inércia
do fluxo ser mais restrita a região da desembocadura e proximidades.

A análise dos processos que controlam a evolução dos processos de


estratificação e mistura indicou que:

• Na região do campo próximo da pluma, a influência dos ventos é mais


restrita, sendo mais importante o efeito associado à circulação gravitacional e
aos processos costeiros associados à morfologia local. No campo distante, os
efeitos mais importantes ocorrem nas escalas associadas a ação local dos
ventos.

224
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• Na região do campo próximo da pluma, os eventos mais importantes de


mistura ocorrem intermitentemente durante todo o período com menor
dependência da intensidade da descarga fluvial.

• Na região da frente e campo distante da pluma, os eventos mais importantes


de mistura são observados durante períodos de moderada a alta descarga
fluvial, indicando que a advecção das águas menos densas contribui para a
manutenção do padrão de estratificação e mistura desta área.

• Os termos associados à advecção e deformação dos campos de densidade


controlam a evolução dos processos de estratificação e mistura no campo
próximo e distante da pluma em escalas de tempo que variam entre 5 e 30
dias.

• As interações não-lineares, assim como, os termos de dispersão, são


importantes em toda a parte, porém associados a efeitos de modulação. A
influência destes termos é bastante variável de uma escala temporal para
outra, especialmente na região próxima à zona de frente da pluma

• Na região próxima à desembocadura da Lagoa dos Patos, a advecção vertical


controla os processos de mistura e estratificação. Nesta região, as mais
intensas velocidades são observadas devido ao padrão de circulação gerado
pela interação da circulação gravitacional com as características topográficas
da parte oceânica do canal de acesso.

• Os quatro termos associados à deformação e advecção dos campos de


densidade transversalmente e ao longo da costa explicam a maior parte das
anomalias de energia potencial na região da frente e campo distante da
pluma em todas as escalas de tempo analisadas.

• A parte nordeste da pluma que é caracterizada pela convergência entre as


correntes costeiras e os fluxos associados à circulação gravitacional. Esta
condição promove o máximo espalhamento da pluma em direção ao oceano.
Portanto, os termos associados à advecção e deformação de campos

225
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

transversalmente a costa são os mais importantes para o controle dos


processos associados à mistura e a estratificação desta região.

• Na parte sudoeste da pluma os termos da adveccão e deformação de campos


ao longo da costa associados à influência da advecção transversal a costa
controlam a evolução da estratificação. Nesta região a influência da
circulação costeira associada à ação dos ventos é mais importante para a
manutenção das anomalias de energia potencial.

A análise do transporte de materiais em suspensão e do padrão de deposição


inicial de sedimentos junto à zona costeira indicou:

• A Lagoa dos Patos atua como uma exportadora de materiais em suspensão,


com uma taxa aproximada 1.37x107 ton ano-1, exportados para a zona
costeira adjacente.

• O padrão de deposição médio de sedimentos na região costeira adjacente é


produto do balanço entre processos de erosão e deposição dos sedimentos em
suspensão da pluma. A direção dominante de propagação da pluma em
escalas de tempo sinóticas é compatível com a posição dos depósitos de
sedimentos coesivos observados ao sul da desembocadura.

• Na região adjacente a desembocadura da Lagoa dos Patos, os ventos de


quadrante norte associados à descarga de águas continentais e material em
suspensão geram um padrão de circulação que condiciona a deposição destes
sedimentos. Nesta região ocorre a formação de zonas de re-circulação que
intensificam as velocidades verticais e a deposição inicial dos sedimentos.

• Na região mais distante, ao sul da desembocadura, o padrão de deposição


depende da prévia advecção do material em suspensão proveniente da
descarga continental associada a condições de mudanças na direção dos
ventos.

226
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Baseado nas conclusões obtidas neste trabalho e nas limitações associadas ao


estudo realizado, algumas sugestões para a realização trabalhos futuros podem ser
obtidas:

1) É necessária a obtenção de observações diretas do material em suspensão junto a


desembocadura dos principais rios afluentes da lagoa dos Patos, para que se
possa ao menos construir um algoritmo de relação entre descarga fluvial e
concentração de materiais em suspensão. Seria também interessante que
houvesse medições continuadas de turbidez junto a zona costeira ou
desembocadura da Lagoa dos Patos (séries temporais e/ou perfis verticais) para
que se pudesse realizar a calibração e validação direta dos modelos
TELEMAC3D + SediMorph.

2) É necessária a interação direta com a EDF (Dr. Jean-Michel Hervouet) em busca


de implementar condições de utilização de mais de um traçador (material em
suspensão) no modelo hidrodinâmico de forma a poder representar o transporte
de lama associado a pluma ou mesmo remobilização junto a zona costeira.

3) É necessário o desenvolvimento de um módulo de consolidação que funcione


acoplado aos modelos TELEMAC3D + SediMorph de forma a obter boa
representatividade dos processos de enriquecimento da plataforma em
sedimentos finos (coesivos) além de um maior grau de precisão no que diz
respeito as taxas de deposição da zona costeira ou mesmo para a previsão da
estrutura vertical de deposição de sedimentos ao longo de regiões de interesse.

4) É necessária a interação direta com a EDF (Dr. Jean-Michel Hervouet) em busca


de aprimorar o paralelismo do modelo TELEMAC3D que já se encontra
funcionando bem no que diz respeito a prescrição de condições de contorno e
iniciais, porém, não funcionando corretamente por questões de ordem técnica
associada a utilização de métodos numéricos específicos de elementos finitos
desenvolvidos para estas condições.

5) É necessária a interação direta com a BAW (Dr. Andreas Malcherek) em busca


de resolver os problemas associados ao paralelismo do modelo SediMorph
quando em funcionamento acoplado ao modelo TELEMAC3D.

227
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

6) A solução dos tópicos 4 e 5 permitirão o desenvolvimento de estudos da ordem


de dezenas, centenas e até milhares de anos que são fundamentais para a
abordagem dos processos de longo período que são inerentes ao estudo do
transporte de sedimentos.

228
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

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APÊNDICE A
Technical report about the coupling between the hydrodynamic model
TELEMAC3D and morphodynamical model Sedimorph

A.1. Background

Several aspects related to the hydrodynamics of the Patos Lagoon have been
investigated at the Physical Oceanography Laboratory at FURG (Fundação
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(Möller, 1996; Möller et al., 1996; Möller et al., 2001; Fernandes, 2001; Fernandes et
al., 2002; Fernandes et al., 2005). More recently, the DESPORT Project
(Desenvolvimento de Estratégias para o Manejo Sustentável dos Portos Brasileiros,
process 590006/2005-3), an international colaboration project between Brazil (FURG,
Prof. Dr. Elisa Helena Fernandes) and Germany (UniBw, Prof. Dr. Andreas Malcherek),
sponsored by the Brazilian Research Agency (CNPq, Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), focus on understanding the dynamics of
fine sediment in this area.
The general objective of the DESPORT Project
(http://www.ocfis.furg.br/desport) is to develop tools (numerical models) which can
contribute for the sustainable environmental management of harbor activities in the
Brazilian coastal regions, by forecasting processes related to the hydrodynamics and
sediment transport in these areas. One of the specific objectives of the project is to
understand the dynamics of the Patos Lagoon coastal plume, responsible for the
exchange of fine sediment between the lagoon and the coastal area. This specific topic
is developed by Wilian Correa Marques, a PhD student of the Programa de Pós-
Graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica from FURG, which is
investigating the influence of the coastal plume in trapping cohesive sediments at the
coast, and contributing to the formation and consolidation of mud banks along the
Southern Brazilian inner shelf. The current stage of this research is based on the
development and application of bi-dimensional hydrodynamic and sediment transport
model. However, this assumption represents a severe limitation for the proposed study,
as the dynamic of coastal plumes is essentially a tridimensional process.

251
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A.2. Justification

The SBS is considered one the most important fishing zones of the Brazilian
coast (Castello et al. 1990). The freshwater discharge pattern and the upwelling process
on the shelf break enhance the phytoplankton biomass encountered on the SBS (Ciotti et
al. 1995), where annual mean rates of primary production around 160 gCm-2year-1 were
observed by Odebrecht and Garcia (1996). The interaction of the Patos Lagoon
discharge driven on the coastal zone contributes to maintaining the nutrients variability
pattern, suspended matter and sediments deposition along the adjacent coastal zone.
Hartmann et al. (1980) verified the importance of the Patos Lagoon discharge on
enriching the continental shelf for nutrients observing the decreasing of concentration
toward the ocean.
During low to moderate discharge periods, the wind action can form weak
plumes over the coastal region (Hartmann and Silva, 1988). But, during periods of high
discharge condition, higher volumes of water, suspended and dissolved matter can be
exported to the coastal zone contributing to maintenance of sedimentological and
biological patterns observed along the adjacent coast (Hartmann and Silva, 1988; Abreu
et al., 1995). Calliari and Fachin (1993) observed clay-silt bottom occurring to south of
the Patos Lagoon mouth and Torronteguy (2000) verified that the thickness of the fluid
mud layer increase to south and toward the coast. The dissipative effects of the fluid
mud bottom layer were studied by Oliveira (2000) along the Cassino beach (to south of
Patos Lagoon). Cuchiara et al. (submitted) verified that fluid mud bottom layer of that
region attenuate about 90% of the wave energy that comes to coastal zone.
Numerical modeling studies on the SBS are rare and either lack in space-time
resolution or do not include the adequate forcing needed for realistic simulations of the
coastal circulation (Soares et al., 2007a, 2007b; Piola et al., 2005), therefore these
results were limited to considering the large scale coastal currents. Studies on the
dynamics of the Patos Lagoon coastal plume are even more limited. Zavialov et al.
(2003) monitored the behavior of this plume under intense river runoff conditions using
salinity and temperature observations. Hartmman and Silva (1989) observed the wind
contribution for the river plume formation under low to moderate discharge conditions.
Recently, Marques et al. (submitted) investigated the contribution of the wind,
rotational and tidal effects controlling the fate and behavior of the Patos Lagoon plume

252
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

through bidimensional numerical modeling experiments. However, in order to move


further in understanding the dynamics of the Patos Lagoon coastal plume, it is necessary
to move from the bidimensional modeling structure developed by BAW and Prof.
Andreas Malcherek, and already implemented at FURG, to a tridimensional modeling
structure. This can be achieved by coupling the already available TELEMAC-3D model
(EDF, France) to a tridimensional version of the SediMorph model has been developed
in Germany.

A.3. Objectives

The principal aim is accomplish the coupling between the hydrodynamic module
TELEMA3D and the morphodynamic model SediMorph

A.3.1. Specific objectives

• To set the TELEMAC3D model to solve the transport equations for one fraction
of suspended sediment and several fractions of bed load sediments;
• Implement the bed shear stress on the transport sediment model from
parameters obtained through the hydrodynamic model;
• Implement the flux erosion on the morphodynamic model and introduce the
deposition flux on the suspended transport model;
• Implement different sink velocity equations to consider the effect of the
cohesive suspended sediments;
• Accomplish a case study to the Patos Lagoon and its adjacent coastal region
investigating the principal factors associated to the suspended sediment
transportation and the bottom morphodynamic.

A.4. A short description of the models

The model used on the hydrodynamic simulations will be the TELEMAC3D


(©EDF – Laboratoire National d’Hydraulique et Environnement of the Company
Eletrecité de France (EDF)). This model solves the Navier-Stokes equations

253
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

considering the local variations on the free surface, ignoring the density variations on
the mass conservation equation, considering the hydrostatic pressure and the Boussinesq
approximation to solve the momentum equation (Hervouet, 2007). The model applies
the finite element technique to solve the hydrodynamic equations using the sigma
coordinates on the vertical discretization to follow the surface and bottom boundaries.
The finite element technique permits to obtain high resolution over complex
morphology and topography areas. The model considers two types of boundary
conditions, the open and closed ones. At the closed boundaries the model assumes the
impermeability and the drag forces and at the open boundaries the occurrence of mass
exchange is taking account. The TELEMAC model considers the Thompson method to
calculate expected values at the open boundaries. For instance, we can obtain the
velocity at the boundaries since has been prescribed the sea surface elevation.
The sediment transport model used will be the SediMorph, developed by the
Federal Waterways Engineering and Research Institute and by the Institute für
Wasserwesen of the Armed Forces University of München. The SediMorph is a tri-
dimensional model for the bed load transport (morphological model) and the suspended
fractioned sediments that considers the drag generated by the flux, the bottom
roughness, the sediment transportation capacity, the erosion flux and the bottom
evolution. This model uses the same mesh of finite elements of the hydrodynamic
process that improve the information exchange between the modules and reduces the
computational time.
The SediMoprh uses as initial condition a file of classification of sediments
where the different class of sediments are defined, being characterized the diameter and
the density for each class. In this way, the model can work with anyone sediment class
and generate a tri-dimensional mesh that consists of a bi-dimensional non structured
mesh with several vertical levels, performing a finite volumes mesh. Besides, this model
has an option of computational time optimization through the speed up factor that can
increase the effective sediment transport rate for ten times making possible reproduce
long term scenarios.
Actually, the SediMorph model is coupled to the hydrodynamic model
TELEMAC2D that is working on the Physical Oceanography Laboratory (FURG).
However, considering that the oceanic circulation and the plumes have a tri-dimensional
behavior it is necessary accomplish the coupling between the SediMorph and the tri-
dimensional hydrodynamic model TELEMAC3D.

254
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

A.5. The coupling procedure

The coupling between the models followed a similar procedure used on the
Sedimorph/TELEMAC2D coupling adapted to Windows System (Fernandes et al.
2009). The SediMorph library communicates with the other software systems by the
user interface module mod_p_sedimorph_ui.f90 e by the module responsible to
initialize and setup the Sedimorph for the TELEMAC applications
mod_m_mac3d_sm.f90. The program SediMorph has to be installed in the machine
following the same way discussed in (Fernandes et al. 2009). The sources
mod_m_mac3d_sm.f90 and declarations_telemac3d.f must to be included into the
SediMorph sources and compiled at the same project. The libraries and modules
resulting of the compiling process must to be transferred to the TELEMAC3D directory
(C:\TELEMAC\V5P5\telemac3d\tel3d_v5p5\win).

• FIRST STEP

The first step of the coupling is to create the variables used by the SediMorph in
the modules of the TELEMAC3D model. The modules used were:
declarations_telemac3d.f (declarations of variables module); point_telemac3d.f
(declarations of structures); lecdon_telemac3d.f (declarations of keywords).

The following variables must be declared in declarations_telemac3d.f are:

- FLUDP : deposition flux


- FLUER : erosion flux
- WCS : settling velocity
- DUM1 and DUMM1 : output variables
- DUM_SM1 and DUMM_SM1 : output variables
- DUM2 and DUMM2 : output variables
- DUM_SM2 and DUMM_SM2 : output variables
- DUM_SM3 and DUMM_SM3 : output variables
- DUM_SM4 and DUMM_SM4 : output variables

255
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

- vel_sm: matrix used to store velocities from TELEMAC3D

All of the variables created above have to be called in the TELEMAC3D model
to be used.

- NFRAC: number of sediment fractions


- IFRAC : counting variable for sediment fractions
- TAUCD : critical bed shear stress
- WCCON : constant settling velocity
- CSED0 : initial sediment concentration
- SEDIMORPH: logical to call the program SediMorph
- STOKES : logical to call the stokes settling velocity
- TOMAWAC: logical to call the tomawac result files

The other ones have to be associated to different channels and called in the
telemac3dv5p5.dico. The structure of programming used to set these variables is
showed below:

SUBROUTINE: declarations_telemac3d.f
.............................................................................................................................................

TYPE(BIEF_OBJ), TARGET :: WCS,FLUDP,FLUER


TYPE(BIEF_OBJ), TARGET :: ERO,DEPF,EVOL
TYPE(BIEF_OBJ), TARGET :: DUM1, DUMM1, DUM_SM1, DUMM_SM1
TYPE(BIEF_OBJ), TARGET :: DUM2, DUMM2, DUM_SM2, DUMM_SM2
TYPE(BIEF_OBJ), TARGET :: DUM_SM3, DUMM_SM3, DUM_SM4, DUMM_SM4
DOUBLE PRECISION :: TAUCD(10),WCCON(10)
DOUBLE PRECISION, POINTER :: vel_sm(:,:)
INTEGER :: NFRAC , IFRAC
LOGICAL:: SEDIMORPH, STOKES, TOMAWAC
.............................................................................................................................................

The following variables must be allocated in point_telemac3d.f are:

WCS; FLUDP; FLUER, DUM1, DUMM1, DUM_SM1, DUMM_SM1, DUM2,


DUMM2, DUM_SM2, DUMM_SM2, DUM_SM3, DUMM_SM3, DUM_SM4,
DUMM_SM4

The structure of programming used to allocate these vectors and matrices


follows below:

256
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

SUBROUTINE: point_telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C ALLOCATION OF THE STRUCTURES USED BY TELEMAC AND SEDIMORPH
CALL ALLVEC(1, DUM1, 'DUM1 ', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUMM1, 'DUMM1', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUM_SM1,'DUM_SM1', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUMM_SM1,'DUMM_SM1', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUM2,'DUM2', IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, DUMM2,'DUMM2', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUM_SM2,'DUM_SM2', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUMM_SM2,'DUMM_SM2', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUM_SM3,'DUM_SM3', IELMU, 1, 1)
CALL ALLVEC(1, DUMM_SM3, 'DUMM_SM3 ', IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, DUM_SM4,'DUM_SM4', IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, DUMM_SM4,'DUMM_SM4',IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, ERO,'ERO', IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, DEPF,'DEPF',IELMU,1,1)
CALL ALLVEC(1, ZFOLD, 'ZFOLD', IELM2H,1,1)
CALL ALLBLO(WCS,'WCS')
CALL ALLVEC_IN_BLOCK(WCS,NFRAC,1,'WCS',IELMU,1,2)
CALL ALLBLO(FLUDP,'FLUDP')
CALL ALLVEC_IN_BLOCK(FLUDP,NFRAC,1,'FLUDP',IELMU,1,2)
CALL ALLBLO(FLUER,'FLUER')
CALL ALLVEC_IN_BLOCK(FLUER,NFRAC,1,'FLUER',IELMU,1,2)
CALL ALLBLO(EVOL,'EVOL')
CALL ALLVEC_IN_BLOCK(EVOL ,1,1,'EVOL',IELM2H,1,2)
..........................................................................................................................................................................

And the structures used to get the results must to be addressed to the block for
2D output compatibility following the sequence below.

SUBROUTINE: point_telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................

C VARSOR BLOCK FOR 2D OUTPUT COMPATIBILITY

IF(SEDIMORPH)THEN
CALL ALLBLO(VARSOR ,'VARSOR')
CALL ADDBLO(VARSOR,U2D) !U 01 VELOCITY ALONG X
CALL ADDBLO(VARSOR,V2D) !V 02 VELOCITY ALONG Y
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_10) !C 03 EFF. BED SHEAR STRESS
CALL ADDBLO(VARSOR,H) !H 04 DEPTH
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_01) !S 05 FREE SURFACE
CALL ADDBLO(VARSOR,ZF) !B 06 BOTTOM
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_02) !F 07 FROUDE NUMBER
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_03) ! F2 08 FRACTION 2
CALL ADDBLO(VARSOR,EVOL%ADR(1)%P) !T 09 BED EVOLUTION
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) !D 10 K
CALL ADDBLO(VARSOR,FLUDP%ADR(1)%P) !E 11 DEPOSITION FLUX
CALL ADDBLO(VARSOR,FLUER%ADR(1)%P) !V 12 EROSION FLUX
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_04) !I 13 EFF. BED ROUGHNESS
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_05) ! F1 14 FRACTION 1
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_06) ! F3 15 FRACTION 3
CALL ADDBLO(VARSOR,WIND%ADR(1)%P) ! X 16 WIND COMPONENT X
DIRECT

257
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

CALL ADDBLO(VARSOR,WIND%ADR(2)%P) ! Y 17 WIND COMPONENT Y


DIRECT
CALL ADDBLO(VARSOR,PATMOS) ! K 18 ATMOSPHERIC PRESSURE
CALL ADDBLO(VARSOR,RUGOF) ! W 19 FRICTION COEFFICIENT
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_08) ! F4 20 FRACTION 4
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) !G 21 DRIFT ALONG Y
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) !L 22 CFL NUMBER
CALL ADDBLO(VARSOR,ZR) ! RB 23 RIGID BED
CALL ADDBLO(VARSOR,EPAI) ! FD 24 FRESH DEPOSITS
CALL ADDBLO(VARSOR,FLUER) ! EF 25 EROSION FLUX
CALL ADDBLO(VARSOR,PDEPO) ! DP 26 DEPOSITION PROBABILITY
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 27 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 28 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 29 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 30 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_07) ! US 31 FRICTION VELOCITY
C QUASI - OTHER VARIABLES, AN EMPTY BLOCK
CALL ALLBLO(VARCL,'VARCL ')
ELSE
CALL ALLBLO(VARSOR ,'VARSOR')
CALL ADDBLO(VARSOR,U2D) ! U 01 VELOCITY ALONG X
CALL ADDBLO(VARSOR,V2D) ! V 02 VELOCITY ALONG Y
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_10) ! C 03 WAVE CELERITY
CALL ADDBLO(VARSOR,H) ! H 04 DEPTH
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_01) ! S 05 FREE SURFACE
CALL ADDBLO(VARSOR,ZF) ! B 06 BOTTOM
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_02) ! F 07 FROUDE NUMBER
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_03) ! Q 08 Q SCALAR FLOW RATE
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! T 09 TRACER
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! D 10 K
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! E 11 EPSILON
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! P 12 VISCOSITY
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_04) ! I 13 HU
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_05) ! J 14 HV
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_06) ! M 15 SQRT(U**2+V**2)
CALL ADDBLO(VARSOR,WIND%ADR(1)%P) ! X 16 WIND COMPONENT X DIRECT
CALL ADDBLO(VARSOR,WIND%ADR(2)%P) ! Y 17 WIND COMPONENT Y DIRECT
CALL ADDBLO(VARSOR,PATMOS) ! K 18 ATMOSPHERIC PRESSURE
CALL ADDBLO(VARSOR,RUGOF) ! W 19 FRICTION COEFFICIENT
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! A 20 DRIFT ALONG X
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! G 21 DRIFT ALONG Y
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! L 22 CFL NUMBER
CALL ADDBLO(VARSOR,ZR) ! RB 23 RIGID BED
CALL ADDBLO(VARSOR,EPAI) ! FD 24 FRESH DEPOSITS
CALL ADDBLO(VARSOR,FLUER) ! EF 25 EROSION FLUX
CALL ADDBLO(VARSOR,PDEPO) ! DP 26 DEPOSITION PROBABILITY
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 27 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 28 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 29 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,SVIDE) ! 30 (NOTHING SO FAR)
CALL ADDBLO(VARSOR,T2_07) ! US 31 FRICTION VELOCITY
CALL ALLBLO(VARCL,'VARCL ')
ENDIF
..........................................................................................................................................................................

The following variables used as keywords must be addressed in


lecdon_telemac3d.f are:

258
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

NFRAC; SEDIM; CSED0; TAUCD; WCCON; NOMCOB

These variables are addressed on TELEMAC3D subroutine as:

SUBROUTINE: lecdon_telemac3d.f
.............................................................................................................................................
C ADDRESSING THE KEYWORDS USED BY TELEMAC AND SEDIMORPH

NFRAC = MOTINT( ADRESS(1,228) )


IF(NFRAC.NE.0) THEN
DO K=1,NFRAC
TAUCD(K) = MOTREA( ADRESS(2,223) + K-1 )
END DO
ENDIF
IF(NFRAC.NE.0) THEN
DO K=1,NFRAC
WCCON(K) = MOTREA( ADRESS(2,224) + K-1 )
END DO
ENDIF
SEDIMORPH = MOTLOG( ADRESS(3,221) )
STOKES = MOTLOG( ADRESS(3,227) )
TOMAWAC = MOTLOG( ADRESS(3,229) )
NOMCOB = MOTCAR( ADRESS(4,222))
.............................................................................................................................................
The TELEMAC3D by default uses a different subroutine to give names to the
variables (nomvar_2D_in_3D.f). Therefore, when using the SediMorph model is
necessary call the subroutine nomvar_telemac2d.f to give names to the variables. Only
this subroutine is necessary because all of the SediMorph results will be printed into the
2D result file. Only the tracer (suspended matter) will be printed with the 3D results by
default in TELEMAC3D. The structure that calls the nomvar_telemac2d.f follows:

SUBROUTINE: lecdon_telemac3d.f
.............................................................................................................................................
C CALLING THE SUBROUTINE WITH THE NAME OF VARIABLES USED BY TELEMAC
AND
C SEDIMORPH
IF(SEDIMORPH)THEN
CALL NOMVAR_TELEMAC2D(TEXTE,TEXTPR,MNEMO)
CALL SORTIE(SORT2D , MNEMO , MAXVAR , SORG2D )
ELSE
CALL NOMVAR_2D_IN_3D(TEXTE,TEXTPR,MNEMO)
CALL SORTIE(SORT2D , MNEMO , MAXVAR , SORG2D )
C OUTPUTS WHICH ARE NOT RELEVANT OR NOT PROGRAMMED
SORG2D( 9) = .FALSE.
SORG2D(10) = .FALSE.
SORG2D(11) = .FALSE.
SORG2D(12) = .FALSE.
SORG2D(20) = .FALSE.
SORG2D(21) = .FALSE.
SORG2D(22) = .FALSE.
SORG2D(27) = .FALSE.
SORG2D(28) = .FALSE.
SORG2D(29) = .FALSE.
SORG2D(30) = .FALSE.

259
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

IF(.NOT.SEDI) THEN
SORG2D(23) = .FALSE.
SORG2D(24) = .FALSE.
SORG2D(25) = .FALSE.
SORG2D(26) = .FALSE.
ENDIF
ENDIF
.............................................................................................................................................

• SECOND STEP

The second step of the coupling is to create the keywords used by the
SediMorph in the TELEAMC3D library (telemacV5P5.dico). The keywords used by
SediMorph during coupling with TELEMAC3D are:

- SEDIMORPH : logical keyword indicating the presence of the SediMoprh


modules
- STOKES : logical keyword indicating the using of the Stokes settling velocity
- TOMAWAC : logical keyword indicating the coupling with tomawac results
- NUMBER OF SEDIMENT FRACTIONS: keyword indicating the number of
sediments (suspended + bed load) used in simulation.
- CRIT. SHEAR STRESS PER FRACTION: block indicating the critical bed
shear stress for each fraction of sediment
- SINK VELOCITY PER FRACTION: block indicating the velocity of deposition
for the suspended sediment class
- STEERING FILE FOR SEDIMORPH: name of the steering file used for
SediMoprh

These keywords must be created in the TELEMAC3D dictionary to the model


uses just in case should be necessary.

DICTIONARY: telemac3dV5P5.dico
.............................................................................................................................................
NOM = 'FICHIER DES PARAMETRES POUR SEDIMORPH'
NOM1 = 'STEERING FILE FOR SEDIMORPH'
TYPE = CARACTERE
INDEX = 222
MNEMO = 'NOMCOB'
DEFAUT = ' '
DEFAUT1 = ' '
NIVEAU = 1
AIDE = 'Fichier des parametres de Sedimorph en cas de couplage'
AIDE1 = 'Sedimorph parameter file in cas of internal coupling'

260
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

NOM = 'SEDIMORPH'
NOM1 = 'SEDIMORPH'
TYPE = LOGIQUE
INDEX = 221
MNEMO = 'SEDIMORPH'
TAILLE = 0
DEFAUT = NON
DEFAUT1 = NO
RUBRIQUE = 'SEDIMENTOLOGIE';'GENERAL'
RUBRIQUE1 = 'SEDIMENTOLOGY';'GENERAL'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'coupling with SediMorph or not’

NOM = 'CRIT. SHEAR STRESS PER FRACTION'


NOM1 = 'CRIT. SHEAR STRESS PER FRACTION'
TYPE = REEL
INDEX = 223
MNEMO = 'TAUCD'
TAILLE = 2
RUBRIQUE = 'EQUATIONS, CONDITIONS LIMITES'
RUBRIQUE1 = 'EQUATIONS, BOUNDARY CONDITIONS'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'Shields shear stress of all fractions'

NOM = 'SINK VELOCITY PER FRACTION'


NOM1 = 'SINK VELOCITY PER FRACTION'
TYPE = REEL
INDEX = 224
MNEMO = 'WCCON'
TAILLE = 2
RUBRIQUE = 'EQUATIONS, CONDITIONS LIMITES'
RUBRIQUE1 = 'EQUATIONS, BOUNDARY CONDITIONS'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'Sink velocity of all fractions'

NOM = 'STOKES'
NOM1 = 'STOKES'
TYPE = LOGIQUE
INDEX = 227
MNEMO = 'STOKES'
TAILLE = 0
DEFAUT = OUI
DEFAUT1 = YES
RUBRIQUE = 'SEDIMENTOLOGIE';'GENERAL'
RUBRIQUE1 = 'SEDIMENTOLOGY';'GENERAL'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'coupling with SediMorph then we can use or not the stokes velocity'

NOM = 'NOMBRE DE SEDIMENT FRACTIONS'


NOM1 = 'NUMBER OF SEDIMENT FRACTIONS'
TYPE = INTEGER
INDEX = 228
MNEMO = 'NFRAC'
TAILLE = 0
DEFAUT = 1
DEFAUT1 = 1

261
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

RUBRIQUE = 'PARAMETRES NUMERIQUES';'GENERAL'


RUBRIQUE1 = 'NUMERICAL PARAMETERS';'GENERAL'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'number of sediment fractions'

NOM = 'TOMAWAC'
NOM1 = 'TOMAWAC'
TYPE = LOGIQUE
INDEX = 229
MNEMO = 'TOMAWAC'
TAILLE = 0
DEFAUT = NON
DEFAUT1 = NO
RUBRIQUE = 'SEDIMENTOLOGIE';'GENERAL'
RUBRIQUE1 = 'SEDIMENTOLOGY';'GENERAL'
NIVEAU = 1
AIDE = ''
AIDE1 = 'coupling tomawac with SediMorph or not’
..........................................................................................................................................................................

• THIRD STEP

The third step of coupling is to call the SediMorph program and their necessary
libraries to run into the TELEMAC3D code. The libraries must be used by the
hydrodynamic model, the necessary vectors and matrices must be allocated and the
SediMorph has to be called at each time step of the simulation in order to calculate the
bed shear stress and the erosion flux to update the bottom level information.
At the first time the libraries used by SediMorph module must be called in the
TELEMA3D.

SUBROUTINE: telemac3d.f
.............................................................................................................................................
C 1 ---> LIBRARIES USED TO COUPLE THE SEDIMORPH AND TELEMAC3D
USE m_mac3d_sm, ONLY :
& init_and_setup_sm, set_sm_steering_file_name, set_geo_file_name

USE p_sedimorph_ui, ONLY :


& run_sedimorph,
& stop_sedimorph,
& clear_sedimorph,
& get_sm_poly_bed_evol_rate,
& setup_sm_node_velocity,
& get_sm_poly_erosion_flux,
& setup_sm_poly_deposition_flux,
& setup_sm_node_water_depth,
& get_sm_poly_eff_bedshearstress

USE m_sedimorph_data, ONLY :


& transport_mode

USE m_sedimorph_interpolations, ONLY :


& interpolate_poly_to_node,
& interpolate_node_to_poly

262
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

USE b_error, ONLY :


& init_error,
& any_error,
& setup_error_prn_lun,
& print_error_act,
& no_error

USE sm_tomawac_coupling, ONLY :


& init_couple_tomawac_to_sm,
& read_tomawac_results_file,
& interpolate_tomawac_to_sm

C 1 ---> END OF LIBRARIES USED TO COUPLE THE SEDIMORPH AND TELEMAC3D


..........................................................................................................................................................................

The matrices and variables used to get the necessary information to be


transferred to the SediMorph must be declared.

SUBROUTINE: telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C 2 ---> DECLARATIONS USED IN SEDIMORPH
CHARACTER(LEN=250) :: sedgeo, sedinp
DOUBLE PRECISION, POINTER :: dep_sm (:,:)
DOUBLE PRECISION, POINTER :: ero_sm(:,:)
DOUBLE PRECISION, POINTER :: dep_sm_dummy(:,:)
DOUBLE PRECISION, POINTER :: ero_sm_dummy(:,:)
INTEGER :: n_sus, isus
C2 ---> END OF DECLARATIONS USED IN SEDIMORPH
..........................................................................................................................................................................
The position on the matrix where the variables used by SediMoprh are stored
should be prepared to receive the information.

SUBROUTINE: telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C3 ---> VARIABLES TO BE READ WHEN CALLING SUITE USING TELEMAC AND
SEDIMORPH
C 0 : DO NOT READ 1 : READ (SAME NUMBERING AS IN NOMVAR)

IF(SEDIMORPH)THEN
C VARIABLES TO BE READ BY USING THE SEDIMORPH
C UVCHSBFQTKEDIJMXYPWAGLNORZ
DATA ALIRE2D/1,1,0,1,1,1,0,0,1,1,1,1,0,0,0,1,1,1,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0/
ELSE
C READ THE DEFAULT OF TELEMAC3D
C U V H ZF
DATA ALIRE2D/1,1,0,1,0,1,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,
* 0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0,0/
ENDIF
..........................................................................................................................................................................

263
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Before starting the time loop the coupling interface has to be called. At this time,
the SediMorph steering file and the geomorphological file are read and transferred to
variables sedgeo and sedimp. The matrices used to keep information about the velocity,
deposition, flux, erosion flux must be allocated.

SUBROUTINE: telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C4 ---> START COUPLING BETWEEN TELEMAC3D AND SEDIMORPH
IF(SEDIMORPH)THEN
C 1.CALL OF STEERING AND GEOMORPHOLOGICAL FILES AND THE ALLOCATION
OF
C VELOCITIES
sedgeo=''
sedinp=''
if (ncsize>1) then
sedgeo = trim('T3DGEO'//extens(ncsize-1,ipid))
sedinp = trim('SISCOB'//extens(ncsize-1,ipid))
else
sedgeo = 'T3DGEO'
sedinp = SISCOB'
endif
C THE ALLOCATION OF VELOCITIES
ALLOCATE (vel_sm(npoin2,3))
CALL set_sm_steering_file_name
&('E:\wilian\sim_3d\escalar\sim3d_1998\coupling\str_sedimorph.dat')
C CALLING THE STEERING FILE OF SEDIMORPH
CALL set_geo_file_name
&('E:\wilian\sim_3d\escalar\sim3d_1998\coupling\Igor_corr1.geom')
C CALLING THE GEOMORPHOLOGICAL FILE
CALL init_and_setup_sm ( ngeo, ncob, ncsize )
IF ( any_error( ) ) THEN
print*,'error within init_and_setup_sm !'
print*,'stopping program'
CALL setup_error_prn_lun(6)
CALL print_error_act( 'Telemac-2D' )
CALL PLANTE(0)
STOP
END IF
IF(TOMAWAC)THEN
C COUPLE SEDIMORPH WITH TOMAWAC
CALL init_couple_tomawac_to_sm ()
name=REPEAT( ' ', LEN(name))
name=E:\wilia\sim_3d\escalar\sim3d_1998\coupling\saida.R2D'
READ THE TOMAWAC RESULT FILE
CALL read_tomawac_results_file (name)
ENDIF
C 2. PASSING THE VELOCITIES AND WATERDEPTH TO SEDIMORPH
C 3. GET THE DEPOSITION FLUX FOR EACH POLYGON FROM TELEMAC
ALLOCATE (dep_sm_dummy(nelem2,nfrac ))
DO ifrac = 1, nfrac
dep_sm_dummy(:,ifrac) =
* interpolate_node_to_poly(FLUDP%ADR(ifrac)%P%R)
END DO
C 4. TAKE THE DEPOSITION FLUX OF SUSPENDED LOAD
n_sus = 0
isus = 1
n_sus = COUNT( transport_mode(1:nfrac )==2)

264
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

IF (n_sus .GT. 0) THEN


ALLOCATE (dep_sm(nelem2,n_sus))
DO ifrac = 1, nfrac
IF (transport_mode(ifrac)==2) THEN
dep_sm(:,isus) = dep_sm_dummy(:,ifrac)
isus = isus + 1
END IF
END DO
END IF
C 5. PASS THE DEPOSITION FLUX TO SEDIMORPH
IF ( no_error() ) CALL setup_sm_poly_deposition_flux ( dep_sm )
C 6. GET THE EROSION FLUX OF SUSPENDED LOAD FOR EACH NODE FROM
SEDIMORPH
ALLOCATE(ero_sm_dummy(npoin2,n_sus))
ero_sm_dummy = interpolate_poly_to_node(get_sm_poly_erosion_flux())
C 7. PUT THE EROSION FLUX IN AN ARRAY OF ALL FRACTIONS
isus = 1
ALLOCATE(ero_sm(npoin2,nfrac ))
ero_sm = 0.
DO ifrac = 1, nfrac
IF (transport_mode(ifrac)==2) THEN
ero_sm(:,ifrac) = ero_sm_dummy(:,isus)
isus = isus + 1
END IF
END DO
C 8. THE EROSION FLUX CAN BE PASSED TO TELEMAC
DO ifrac = 1,nfrac
IF ( no_error() ) FLUER%ADR(ifrac)%P%R => ero_sm(:,ifrac)
END DO
END IF
C 9. STORE THE INITIAL BOTTOM DEPTH IN AN ARRAY
DO I =1,NPOIN2
ZFOLD%R(I)=ZF%R(I)
ENDDO
C 4 ---> END COUPLING BETWEEN TELEMAC3D AND SEDIMORPH
..........................................................................................................................................................................

After starting the time loop, the current velocity has to be passed to the allocated
variables and the deposition flux calculated by TELEMAC3D and interpolated to each
polygon of the SediMoprh mesh. The erosion must be interpolated form the Sedimorph
polygons to each of node of hydrodynamic mesh and the bottom level have to be
updated at each of time step. The deposition flux is calculated according to Krone
(1962) using the bottom shear stress calculated from Sedimorph. Malcherek et al.
(2005) mentioned that for 3D simulations the critical shear stress should be set to a very
large value because the balance between turbulent diffusion and settling is modelled
explicitly.

SUBROUTINE: telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C 5 ---> START COUPLING WITH SEDIMORPH
C GET THE NEAR BOTTOM VELOCITIES FROM TELEMAC3D
vel_sm(:,1) = U%R
vel_sm(:,2) = V%R

265
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

vel_sm(:,3) = WS%R
C CALL THE DEPOSITION FLUX SOURCE
CALL
DEPOSITION_FLUX(NFRAC,FLUDP,NPOIN2,TAUCD,WCS,TA,RUGOF,STOKES,U,V,UETC
AR,ZF)
C 2. GET THE DEPOSITION FLUX FOR EACH POLYGON FROM TELEMAC3D
DO ifrac = 1, nfrac
dep_sm_dummy(:,ifrac) = interpolate_node_to_poly
+ (FLUDP%ADR(ifrac)%P%R)
END DO
C 3. TAKE THE DEPOSITION FLUX OF SUSPENDED LOAD
n_sus = 0
isus = 1
n_sus = COUNT( transport_mode(1:nfrac )==2)
IF (n_sus .GT. 0) THEN
DO ifrac = 1, nfrac
IF (transport_mode(ifrac)==2) THEN
dep_sm(:,isus) = dep_sm_dummy(:,ifrac)
isus = isus + 1
END IF
END DO
END IF
C 4. GET THE EROSION FLUX OF SUSPENDED LOAD FOR EACH NODE FROM
SEDIMORPH
ero_sm_dummy = interpolate_poly_to_node
+ (get_sm_poly_erosion_flux())
C 5. PUT THE RESULT IN AN ARRAY OF ALL FRACTIONS
isus = 1
ero_sm = 0.
DO ifrac = 1, nfrac
IF (transport_mode(ifrac)==2) THEN
ero_sm(:,ifrac) = ero_sm_dummy(:,isus)
isus = isus + 1
END IF
END DO
IF(TOMAWAC)THEN
C TOMAWAC COUPLING
CALL interpolate_tomawac_to_sm ( AT )
ENDIF
C TIME STEP (DT) OF SEDIMORPH
CALL run_sedimorph ( DT )
C TIME STEP (DT) OF SEDIMORPH
CALL run_sedimorph ( DT )
C UPDATING THE BOTTOM LEVEL
ZF%R = ZF%R
& + interpolate_poly_to_node(get_sm_poly_bed_evol_rate())*DT
END IF
C CALCULATION THE BED EVOLUTION
DO I =1,NPOIN2
EVOL%ADR(1)%P%R(I) = ZF%R(I)-ZFOLD%R(I)
ENDDO
C 6. UPDATING THE SIGMA LEVELS
C COPY OF MODIFIED BOTTOM TOPOGRAPHY INTO Z
CALL OV('X=Y ',Z(1:NPOIN2),ZF%R,ZF%R,0.D0,NPOIN2)
C COMPUTE NEW BOTTOM GRADIENTS AFTER SEDIMENTATION
CALL GRAD2D(GRADZF%ADR(1)%P,GRADZF%ADR(2)%P,Z3,1,SVIDE,
& T2_01,T2_02,IELM2H,MESH2D,MSK,MASKEL)
C COMPUTE Z COORDINATES
CALL CALCOT(Z,H%R)
PRINT*, ' --> update : sigma levels'

266
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

C 5 ---> END COUPLING WITH SEDIMORPH


..........................................................................................................................................................................

After the finishing of the time loop the variables used to store the velocity,
erosion and deposition flux must be de-allocated.

SUBROUTINE: telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C 6 ---> START COUPLING WITH SEDIMORPH
IF(SEDIMORPH) THEN
DEALLOCATE (vel_sm)
DEALLOCATE (ero_sm)
DEALLOCATE (dep_sm)
CALL stop_sedimorph ()
CALL clear_sedimorph ()
ENDIF
C 6 ---> END COUPLING WITH SEDIMORPH
..........................................................................................................................................................................

The deposition flux is calculated for the (deposition_flux.f) and called at each
time step to give the deposition flux information to the Sedimorph.

CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
C =============================================
SUBROUTINE DEPOSITION_FLUX
C =============================================
& (NFRAC,FLUDP,NPOIN2,TAUCD,WCS,TA,RUGOF,STOKESU,V,UETCAR,ZF)
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
C THIS SUBROUTINE UPDATES THE TELEMAC BED ROUGHNESS ACCORDING TO THE
C EFFECTIVE BED ROUGHNESS FROM SEDIMORPH. THIS SUBROUTINE CALCULATES
THE
C DEPOSITION FLUX ACCORDING TO THE KRONE FORMULATION USING THE
C BED SHEAR STRESS FROM SEDIMORPH. THE USER CAN CHOICE THE SETTLING
C VELOCITY TO BE USED ON THE DEPOSITION FLUX CALCULATIONS ACCORDING
TO
C STOKES OR VAN LEUSSEN FORMULAS.
C WILIAN MARQUES - UNIBAW 02/09/2008
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
USE BIEF
USE p_sedimorph_ui, ONLY :
& get_sm_poly_eff_bedshearstress,
& get_sm_poly_eff_bed_rough

USE m_sedimorph_interpolations, ONLY : interpolate_poly_to_node

IMPLICIT NONE
TYPE(BIEF_OBJ),TARGET, INTENT(OUT) :: FLUDP,RUGOF
TYPE(BIEF_OBJ),TARGET, INTENT(IN):: WCS,TA,ZF,U,V,UETCAR
INTEGER,INTENT(IN):: NFRAC,NPOIN2
DOUBLE PRECISION,INTENT(IN) :: TAUCD(10)
LOGICAL,INTENT(IN) :: STOKES

267
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

INTEGER :: C,CC,M,G
DOUBLE PRECISION :: A,B,DUDZ,UQ,G
DOUBLE PRECISION :: T1(NPOIN2),T2(NPOIN2),BS(NPOIN2,2),BR(NPOIN2)
DOUBLE PRECISION :: WCSVL(NPOIN2)
INTRINSIC :: SQRT
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
C UPDATING THE TELEMAC BED ROUGHNESS
BR=0.D0
BR(:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_eff_bed_rough ())
RUGOF%R(:)=BR(:)
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
IF(STOKES)THEN
C DEPOSITION FLUX CALCULATION USING BED SHEAR STRESS FROM SEDIMORPH
AND
C THE STOKES FORMULATION FOR SINK VELOCITY
BS(:,:)=0.D0
BS(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_eff_bedshearstress ())
T1=BS(:,1)
DO C=1,NFRAC
DO CC=1,NPOIN2
IF (T1(CC).LT.TAUCD(C)) THEN
T2(CC) = 1-(T1(CC)/TAUCD(C))
FLUDP%ADR(C)%P%R(CC)=WCS%ADR(C)%P%R(CC)*TA%ADR(3)%P%R(CC)*
&T2(CC)
ELSE
T2(CC) = 0.D0
FLUDP%ADR(C)%P%R(CC)=WCS%ADR(C)%P%R(CC)*TA%ADR(3)%P%R(CC)*
&T2(CC)
ENDIF

END DO
ENDDO
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
ELSE
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
C DEPOSITION FLUX CALCULATION USING BED SHEAR STRESS FROM SEDIMORPH
C AND THE VAN LEUSSEN FORMULATION FOR SINK VELOCITY
C
C (1+A*G)
C WC= KC*________
C (1+B*G*G)
BS(:,:)=0.D0
BS(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_eff_bedshearstress ())
T1=BS(:,1)
A=0.3 ! FLOCULATION COEFFICIENT (KOLMOGOROV, 1941)
B=0.09 ! COEFFICIENT RELATIVE TO FLOC DESTRUCTION (KOLMOGOROV, 1941)
M = 1 ! POWER OF THE SEDIMENT CONCENTRATION
C K IS AN EMPIRICAL CONSTANT – IN THE FIRST TIME IS USED 5*E-7

DO C=1,NFRAC
DO CC=1,NPOIN2
C
C UETCAR * U_B * DU/DZ
C CALCULATION OF G = SQRT( --------------------------------- )
C NU

UQ = SQRT( (U%R(CC))**2 + (V%R(CC))**2 )

268
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

IF(ZF%R(CC).NE.0)THEN
DUDZ = ABS(U%R(CC)/(ZF%R(CC)-0.98*ZF%R(CC)))
ELSE
DUDZ = 0
ENDIF
G=SQRT(UETCAR%R(CC) * UQ * 1.D06* DUDZ )

IF (T1(CC).LT.TAUCD(C)) THEN
T2(CC) = 1-(T1(CC)/TAUCD(C))
WCSVL(CC)=WCS%ADR(C)%P%R(CC)*(TA%ADR(3)%P%R(CC)**M)*
& ((1+A*G)/(1+B*(G**2)))
FLUDP%ADR(C)%P%R(CC)=WCSVL(CC)*TA%ADR(3)%P%R(CC)*
&T2(CC)
ELSE
T2(CC) = 0.D0
WCSVL(CC)=WCS%ADR(C)%P%R(CC)*(TA%ADR(3)%P%R(CC)**M)*
& ((1+A*G)/(1+B*(G**2)))
FLUDP%ADR(C)%P%R(CC)=WCSVL(CC)*TA%ADR(3)%P%R(CC)*
&T2(CC)
ENDIF
END DO
ENDDO
ENDIF
C END OF DEPOSITION FLUX CALCULATION
CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC
END SUBROUTINE DEPOSITION_FLUX

• FOURTH STEP

The fourth step of coupling is to print the variables obtained from the
SediMorph model. The variables calculated in the TELEMAC code or transferred to the
TELEMAC during the time loop as: the deposition flux, the erosion flux and the bed
evolution are printed automatically according the channels associated to these variables
into the lecdon_telemac3d.f. But, the variables must be extracted from the SediMorph
code will be printed using the preres_telemac3d.f.

SUBROUTINE: preres_telemac3d.f
..........................................................................................................................................................................
C VARIABLES FOR 2D OUTPUTS
IF(LEO.AND.SORG2D(3)) THEN
C=========================================================================
C EFF. BED SHEAR STRESS : PUT INTO T2_10
C=========================================================================
IF(SEDIMORPH) THEN

ALLOCATE (dummy1_sm(NPOIN2,2))

dummy1_sm=0.D0
dummy1_sm(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_eff_bedshearstress ())

DUM1%R = SQRT(dummy1_sm(:,1)**2+dummy1_sm(:,2)**2)
DUMM1%R=1
DEALLOCATE (dummy1_sm)
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_10 , Y=DUM1 , Z=DUMM1 )

269
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

ELSE
C=========================================================================
C CELERITY OF WAVES = SQRT(GH) : PUT INTO T2_10
C=========================================================================
CALL OS( 'X=CY ' , T2_10 , H , H , GRAV )
CALL OS( 'X=SQR(Y)' , T2_10 , T2_10 , H , GRAV )
ENDIF
ENDIF
IF(LEO.AND.SORG2D(8)) THEN
C=========================================================================
C GRAIN FRACTION NO: 2 IN EXCHANGE LAYER : PUT INTO T2_03
C=========================================================================
IF(SEDIMORPH) THEN
ALLOCATE (dummy1_sm(NPOIN2,NFRAC))
ALLOCATE (dummy2_sm(npoin2))
dummy1_sm=0.D0
dummy1_sm(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_exch_layer_fraction ())
dummy2_sm = dummy1_sm(:,2)*100.D0
DUM_SM2%R= dummy2_sm
DUMM_SM2%R =1
DEALLOCATE (dummy1_sm)
DEALLOCATE (dummy2_sm)
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_03 , Y=DUM_SM2 , Z=DUMM_SM2 )
ELSE
C=========================================================================
C SCALAR DISCHARGE : PUT INTO T2_03
C=========================================================================
CALL OS( 'X=N(Y,Z)' , X=T2_03 , Y=U2D, Z=V2D )
CALL OS( 'X=XY ' , X=T2_03 , Y=H )
ENDIF
ENDIF
IF(LEO.AND.SORG2D(13)) THEN
C=========================================================================
C EFF. _BED ROUGHNESS: PUT INTO T2_04
C=========================================================================
IF(SEDIMORPH) THEN
ALLOCATE (dummy2_sm(npoin2))
dummy2_sm=0.D0
dummy2_sm(:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_eff_bed_rough ())
DUM2%R= dummy2_sm
DUMM2%R=1
DEALLOCATE (dummy2_sm)
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_04 , Y=DUM2 , Z=DUMM2 )
ELSE
C=========================================================================
C DISCHARGE ALONG X : PUT INTO T2_04
C=========================================================================
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_04 , Y=H , Z=U2D )
ENDIF
ENDIF
IF(LEO.AND.SORG2D(14)) THEN
C=========================================================================
C GRAIN FRACTION NO: 1 IN EXCHANGE LAYER : PUT INTO T2_05
C=========================================================================
IF(SEDIMORPH) THEN
ALLOCATE (dummy1_sm(NPOIN2,NFRAC))
ALLOCATE (dummy2_sm(npoin2))
dummy1_sm=0.D0

270
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

dummy1_sm(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_exch_layer_fraction ())
dummy2_sm = dummy1_sm(:,1)*100.D0
DUM_SM1%R= dummy2_sm
DUMM_SM1%R =1
DEALLOCATE (dummy1_sm)
DEALLOCATE (dummy2_sm)
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_05 , Y=DUM_SM1 , Z=DUMM_SM1 )
ELSE
C=========================================================================
C DISCHARGE ALONG Y : PUT INTO T2_05
C=========================================================================
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_05 , Y=H , Z=V2D )
ENDIF
ENDIF
IF(LEO.AND.SORG2D(15)) THEN
C=========================================================================
C GRAIN FRACTION NO: 3 IN EXCHANGE LAYER : PUT INTO T2_06
C=========================================================================
IF(SEDIMORPH) THEN
ALLOCATE (dummy1_sm(NPOIN2,NFRAC))
ALLOCATE (dummy2_sm(npoin2))
dummy1_sm=0.D0
dummy1_sm(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_exch_layer_fraction ())
dummy2_sm = dummy1_sm(:,3)*100.D0
DUM_SM3%R= dummy2_sm
DUMM_SM3%R =1
DEALLOCATE (dummy1_sm)
DEALLOCATE (dummy2_sm)
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_06 , Y=DUM_SM3 , Z=DUMM_SM3 )
ELSE
C=========================================================================
C NORM OF VELOCITY : PUT INTO T2_06
C=========================================================================
CALL OS( 'X=N(Y,Z)' , X=T2_06 , Y=U2D , Z=V2D )
ENDIF
ENDIF
C=========================================================================
C GRAIN FRACTION NO: 4 IN EXCHANGE LAYER - T2_08
C=========================================================================
IF(LEO.AND.SORG2D(20)) THEN
IF(SEDIMORPH) THEN
ALLOCATE (dummy1_sm(NPOIN2,NFRAC))
ALLOCATE (dummy2_sm(npoin2))
dummy1_sm=0.D0
dummy1_sm(:,:) = interpolate_poly_to_node
* (get_sm_poly_exch_layer_fraction ())
dummy2_sm = dummy1_sm(:,4)*100.D0
DUM_SM4%R= dummy2_sm
DUMM_SM4%R =1
DEALLOCATE (dummy1_sm)
DEALLOCATE (dummy2_sm)
ENDIF
CALL OS( 'X=YZ ' , X=T2_08 , Y=DUM_SM4 , Z=DUMM_SM4 )
ENDIF
..........................................................................................................................................................................

271
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

The coupling procedure is finished and to run simulations using the


TELEMAC3D and SediMorph we need join all these modified sources into the fortran
file used by the hydrodynamic model. Using these modifications we can run simulations
considering several classes of bottom sediments and one class of suspended sediment.
The boundary and the initial conditions used by TELEMAC3D won´t are
described because we can find a lot of documentation inside the TELEMAC libraries.
And every initial and boundary condition associated to the suspended matter will be
prescribed using the keywords and sources of the TELEMAC3D, but, the suspended
matter is prescribed as the third tracer used in the hydrodynamic model. Therefore, any
information can be found in the TELEMAC libraries and source codes.

A.6. Important FORTRAN functions used in programming

The objective of this section is cite the principal FORTRAN functions used to
accomplish the coupling procedure since had been necessary create some variables to
change information between the modules TELEMAC3D and SediMorph, as well as, to
print the SediMorph results together with the hydrodynamic ones. The most precise and
detailed information about these functions, applications and examples can be found in
any FORTRAN manual.

• TYPE(BIEF_OBJ), TARGET: used to declare variables into the Finite


Element Library (BIEF). These declarations must be done in the declarations of
variables module of the TELEMA3D
• DOUBLE PRECISION, POINTER: function used to declare double precision
variables as pointers
• DOUBLE PRECISION: function used to declare double precision variables
• INTEGER: function used to declare integer variables
• LOGICAL: function used to declare logical variables
• CALL : function use to call vectors, matrix, external functions or subroutines
• IF (condition) THEN ... ELSE ... ENDIF: structure used to manipulate the
control flux of information into the vectors and matrix based in conditions
before defined

272
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

• DO (from begin to end).... ENDDO: structure used to manipulate the control


flux of information into the vectors and matrix from one point to the other
• USE (LIBRARIES): function used to call libraries of the TELEMAC3D and of
the SediMorph modules
• ALLOCATE: function used to allocate vectors or matrix in different points of
the code according to the necessity
• DEALLOCATE: function used to deallocate vectors or matrix in different
points of the code according to the necessity
• SQRT : mathematical function used to calculate the squared root of some
variable

A.7. References

Abreu, P. C., Granéli, H. W. and Odebrecht, C. 1995. Produção fitoplanctônica e


bacteriana na região da pluma estuarina da Lagoa dos Patos – RS, Brasil. Atlântica.
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Calliari, L. J., e Fachin, S. 1993. Laguna dos Patos. Influência nos Depósitos
Lamiticos Costeiros. Pesquisas. 20(1), 57-69.
Castello, J., Duarte, A., Möller, O. O., Niencheski, F., Odebredcht, C., Weiss, G.,
Habiaga, R., Bellotto, V., Kitzmann, D., Souto, C., Souza, R., Ciotti, A., Fillmann,
G., Schwingell, P., Bersano, J., Cirano, M., Freire, K., Lima, I., Mello, R.,
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and subantartic waters for the shelf ecosystem off Rio Grande do Sul. Anais do II
Simpósio de Estrutura, Função e Manejo de Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste, São
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Ciotti, A. M., Odebrecht, C., Fillmann, G., Möller, O. O., 1995. Freshwater outflow
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Research 22, 1699-1713.
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flow of southern Patos Lagoon. Journal of Coastal Research. 20,102-112.
Fernandes, E. H., Marques, W. C., Malcherek, A., Putzar, B. 2009. Development of
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and non-local forcing effects on the subtidal circulation of Patos Lagoon. Estuaries. 24,
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Marques, W. C., Monteiro, I. O., Fernandes, E. H. 2009. Numerical modeling of the
Patos Lagoon coastal plume, Brazil. Continental Shelf Research.

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Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

Odebrecht, C., Garcia, V. M. T., 1996. Pytoplankton. In: Seeliger, U.; C. Odebrecht &
J. P. Castello P. (Eds). Subtropical Convergente Environments, the Coast and Sea in the
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Oliveira, M. B. 2000. Estudo comparativo da morfodinâmica de praias arenosas sob a
influência de deposição de lama na antepraia - Cassino RS. Trabalho de graduação,
Departamento de Oceanologia. Rio Grande. Fundação Universidade do Rio Grande.
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Soares, I. D., Kourafalou, V. and Lee, T. N. 2007a. Circulation on the western South
Atlantic continental shelf: 1. Numerical process studies on buoyancy. Journal
Geophysical Research 112,C04002.
Soares, I. D., Kourafalou, V. and Lee, T. N. 2007b. Circulation on the western South
Atlantic continental shelf: 2. Spring and autumn realistic simulations. Journal
Geophysical Research 112,C04003.
Torronteguy, M. C. 2000. Sedimentologia dos depósitos lamíticos na ante-praia do
Cassino - RS - Brasil , Junho de 1998 - Abril de 1999. Trabalho de Graduação,
Departamento de Geociências. Rio Grande. Fundação Universidade do Rio Grande
Zavialov, P. O., Kostinoy, A. G., Möller, O. O., 2003. Mapping river discharge effects
on Southern Brazilian shelf. Geophysical Research Letters. 30(21), 2126

275
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

PRODUÇÃO CIENTÍFICA
ASSOCIADA AO TRABALHO
B.1 Artigos completos publicados em periódicos

Marques, W. C., Fernandes, E. H. L., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O. Numerical


modeling of the Patos Lagoon coastal plume, Brazil. Continental Shelf Research. , v.29,
p.556 - 571, 2009.

276
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.2 Artigos completos aceitos para publicação


Marques, W. C., Fernandes, E. H. L., Möller Jr., O. O. Straining and advection
contributions to the mixing processes of the Patos Lagoon coastal plume, Brazil.
Submetido ao Journal Geophysical Research em 17/07/2009 e aceito com revisões
submetidas dia 21/10/2009

277
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

278
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.3 Artigos submetidos


Marques, W. C., Monteiro, I. O., Fernandes, E. H. L., Möller Jr., O. O. The
exchange processes in the Patos Lagoon estuarine channel, Brazil. Submetido a Applied
Mathematical Modeling em 22/11/2009 e aguardando pelas revisões.

279
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

280
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.4 Trabalhos completos publicados em anais de


eventos
Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modeling
the hydrodynamics of the Southern Brazilian Shelf In: International Conference of
Southern Hemisphere Metheorology and Oceanography, 2006, Foz do Iguaçu.
Proceedings of 8 ICSHMO, Foz do Iguaçu, Brazil, April 24-28, 2006, INPE. , 2006.
p.1311 – 1314

281
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.5 Trabalhos publicados em anais de eventos (Resumos)


Monteiro, I. O., Marques, W. C., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Análise das
forçantes da pluma da Lagoa dos Patos In: XII COLACMAR - Congresso Latino
Americano de Ciências do Mar, 2007, Florianópolis. XII Congresso Latino-Americano
de Ciências do mar - XII COLACMAR, Florianópolis, 15 - 19 de abril de 2007. , 2007.
v.1. p.393 – 393.

Moraes, B. C., Marques, W. C., Monteiro, I. O., Fernandes, E. H. L. Dinâmica


sazonal da pluma de turbidez da Lagoa dos Patos In: VI Mostra de produção
universitária XVI Congresso de iniciação científica X Seminário de extensão IX
encontro de pós-graduação II Seminário de ensino, 2007, Rio Grande. VI Mostra de
Produção Universitária. , 2007.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem


numérica da Pluma costeira da Lagoa dos Patos, Brasil In: XII COLACMAR -
Congresso Latino Americano de Ciências do Mar, 2007, Florianópolis. XII Congresso
Latino-Americano de Ciências do mar - XII COLACMAR, Florianópolis, 15 - 19 de
abril de 2007. , 2007. v.1. p.389 – 390.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Moraes, B. C., Flores, E. G., Möller Jr., O. O.,
Fernandes, E. H. L. Patos Lagoon Coastal plume study using numerical modeling and
MODIS images In: ERF 2007 Estuarine Research Federation - Science and
Management, 2007, Providence. ERF 2007 Estuarine Research Federation - Science and
Management. , 2007.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Dynamics


of the coastal plume of the Patos Lagoon, Brazil In: VI JORNADAS NACIONALES
DE CIENCIAS DEL MAR, 2006, PUERTO MADRYN. VI JORNADAS
NACIONALES DE CIENCIAS DEL MAR Y XIV COLOQUIO DE
OCEANOGRAFÍA. Córdoba: Fundación Vida Silvestre Argentina, 2006. p.1 – 374.

Monteiro, I. O., Marques, W. C., Fernandes, E. H. L. Modelagem barotropica da


pluma de água doce da Lagoa dos Patos In: V MOSTRA DA PRODUÇÃO
UNIVERSITÁRIA, 2006, RIO GRANDE. V MOSTRA DA PRODUÇÃO
UNIVERSITÁRIA XV CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA IX
SEMINÁRIO DE EXTENSÃO I SEMINÁRIO DE ENSINO VIII ENCONTRO DE
PÓS-GRADUAÇÃO. , 2006.

282
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.6 Trabalhos publicados em anais de eventos (Resumos


Expandidos)

Marques, W. C., Fernandes, E. H. L., Monteiro, I. O., Moraes, B. C. The dynamics


of Patos Lagoon coastal plume - a combination of numerical modeling and remote
sensing techniques In: Physics of Estuaries and Coastal Seas, 2008, Liverpool.
PECS 2008 - Physics of Estuaries and Coastal Seas - Processes studies in the pre-
operational era. , 2008. v.1. p.235 – 238.

Moraes, B. C., Marques, W. C., Monteiro, I. O., Fernandes, E. H. L. Análise da


turbidez da zona costeira do sul do Brasil através de imagens MODIS In: VII Simpósio
sobre Ondas, Marés, Engenharia Oceânica e Oceanografia por Satélite, 2007, Arraial do
Cabo. VII OMARSAT - Simpósio sobre Ondas, Marés, Engenharia Oceânica e
Oceanografia por Satélites. , 2007.

Monteiro, I. O., Marques, W. C., Gonçalves, R. C., Fernandes, E. H. L. Condições


de formação da pluma da Lagoa dos Patos durante um ano de El Niño In: XII
COLACMAR - Congresso Latino Americano de Ciências do Mar, 2007, Florianópolis.
XII Congresso Latino-Americano de Ciências do mar - XII COLACMAR,
Florianópolis, 15 - 19 de abril de 2007. , 2007. v.1. p.393 – 393.

Marques, W. C., Garcia, C. A. E. Influência da descarga e dos ventos no padrão de


variabilidade da concentração de clorofila na região oceânica adjacente à
desembocadura da Lagoa dos Patos, Brasil In: XII COLACMAR - Congresso Latino
Americano de Ciências do Mar, 2007, Florianópolis. XII Congresso Latino-Americano
de Ciências do mar - XII COLACMAR, Florianópolis, 15 - 19 de abril de 2007. , 2007.
v.1. p.386 – 387.

Marques, W. C., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem numérica da


pluma costeira da Lagoa dos Patos (RS), Brasil In: IV Seminário de Pós-Graduação,
2007, Rio Grande. IV Seminário de Pós-Graduação em Oceanografia Física, Química e
Gológica. , 2007.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Moraes, B. C., Flores, E. G., Fernandes, E. H. L.


Modelagem numérica da pluma de sedimentos da Lagoa dos Patos, Brasil In: VII
Simpósio sobre Ondas, Marés, Engenharia Oceânica e Oceanografia por Satélite, 2007,
Arrailal do Cabo. VII OMARSAT - Simpósio sobre Ondas, Marés, Engenharia
Oceância e Oceanografia por Satélites. , 2007.

MARQUES, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. A


dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos, Brasil In: II SEMINÁRIO E
WORKSHOP EM ENGENHARIA OCEÂNICA, 2006, Rio Grande. II SEMENGO06 -
Seminário e workshop em engenharia oceânica. , 2006.

Marques, W. C., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem numérica da


pluma costeira da Lagoa dos Patos (RS). Brasil In: III Seminário de Pós Graduação em
Oceanografia Física, Química e Geológica, 2006, Rio Grande. III Seminário de Pós-
Graduação. , 2006.

283
Estudo da dinâmica da pluma costeira da Lagoa dos Patos

B.7 Apresentação de trabalhos


Marques, W, Fernandes, E. H. L., Malcherek, A., Möller, O. The deposition pattern
of suspended sediment in the Southern Brazilian inner Shelf. Local: Centro de estudos
Geológicos / Casa de cultura; Cidade: Rio de Janeiro / Paraty; Evento: 10th
International Conference on Cohesive Sediment Transport Processes;
Inst.promotora/financiadora: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Marques, W. C., Fernandes, E. H. L., Monteiro, I. O., Moraes, B. C. The dynamics


of Patos Lagoon coastal plume - a combination of numerical modeling and remote
sensing techniques, 2008. Cidade: Liverpool; Evento: PECS 2008 - Physics of
Estuaries and Coastal Seas - Processes studies in the pre-operational era.

Marques, W. C., Garcia, C. A. E. Influência da descarga e dos ventos no padrão de


variabilidade da concentração de clorofila na região oceânica adjacente à
desembocadura da Lagoa dos Patos, Brasil, 2007. Local: Centro de Convenções;
Cidade: Florianópolis; Evento: XII COLACMAR - Congresso Latino Americano de
Ciências do Mar; Inst.promotora/financiadora: AOCEANO.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem


numérica da Pluma costeira da Lagoa dos Patos, Brasil, 2007. Local: Centro de
Convenções; Cidade: Florianópolis; Evento: XII COLACMAR - Congresso Latino
Americano de Ciências do Mar; Inst.promotora/financiadora: AOCEANO.

Marques, W. C., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem numérica da


pluma costeira da Lagoa dos Patos (RS), Brasil, 2007. Local: FURG; Cidade: Rio
Grande; Evento: IV Seminário de Pós-Graduação; Inst.promotora/financiadora:
Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. A dinâmica


da pluma costeira da Lagoa dos Patos, Brasil, 2006. Local: Rio Grande; Cidade: Rio
Grande; Evento: II SEMINÁRIO E WORKSHOP EM ENGENHARIO OCEÂNICA;
Inst.promotora/financiadora: Fundação Universidade Federal do Rio Grande.

Marques, W. C., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Modelagem numérica da


pluma costeira da Lagoa dos Patos (RS), Brasil, 2006. Local: FURG; Cidade: Rio
Grande; Evento: III Seminário de Pós Graduação em Oceanografia Física, Química e
Geológica; Inst.promotora/financiadora: Fundação Universidade Federal do Rio Grande
(FURG).

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Moraes, B. C., Flores, E. G., Fernandes, E. H. L.


Modelagem numérica da pluma de sedimentos da Lagoa dos Patos, Brasil, 2007. Local:
Arraial do Cabo; Cidade: Rio de Janeiro; Evento: OMAR-SAT - VII Simpósio sobre
ondas, marés, engenharia oceância e oceanografia por satélites;
Inst.promotora/financiadora: IEAPM.

Marques, W. C., Monteiro, I. O., Möller Jr., O. O., Fernandes, E. H. L. Numerical


modeling of the Southern Brazilian inner shelf during an El Niño year, 2006. Local:
Blue Tree Tower Hotel; Cidade: Porto Alegre; Inst.promotora/financiadora:
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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