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Diamantina
2023
Katharine Vinholte de Araújo
Diamantina
2023
Catalogação na fonte - Sisbi/UFVJM
DIAMANTINA
OFEREÇO
RESUMO
As veredas são zonas úmidas tropicais que desempenham serviços ecossistêmicos essenciais
para a manutenção hídrica, estocagem de carbono orgânico no solo e para diversidade
biológica no bioma Cerrado. No entanto, a antropização, aliada ao conhecimento limitado
sobre aspectos importantes desse ecossistema tem levado ao aumento das perdas, má
preservação e a redução de seus serviços ecossistêmicos. Neste sentido, visando a ampliação
de pesquisas sobre a qualidade e conservação do solo do ecossistema de veredas os objetivos
desse estudo foram: i) compreender como possíveis alterações nos atributos morfológicos,
físicos, químicos e biológicos de solos de veredas com diferentes estados de conservação
(conservado e antropizado) poderão ser utilizados como indicadores de suas qualidades; ii)
avaliar atributos microbiológicos do solo, como a biomassa microbiana, a respiração basal e a
atividade enzimática, bem como os índices obtidos a partir destas variáveis, como indicadores
de qualidade, para compreensão das correlações, ou ausência delas, entre as suas funções no
solo e as características do ecossistema de veredas; iii) avaliar as frações da matéria orgânica
do solo por meio de seu fracionamento químico; iv) extrair, purificar e caracterizar química e
espectroscopicamente os ácidos húmicos isolados dos solos de veredas em diferentes estados
de conservação; e v) estabelecer uma possível interpretação da relação entre os atributos
avaliados e a qualidade dos solos e da matéria orgânica por intermédio da utilização de análise
multivariada. Para isto, foram estudadas quatro veredas com diferentes estados de
conservação: conservada (V1 – vereda em unidade de conservação); e antropizadas (V2 –
vereda com uso agrícola no entorno; V3 – vereda cortada por estrada; V4 – vereda em área
urbana). Foi realizada a descrição morfológica e avaliados atributos físicos (umidade,
densidade, porosidade e composição orgânica e mineral) e químicos (acidez, disponibilidade
de nutrientes e fertilidade) do solo em perfis de um metro de profundidade nas diferentes
veredas. Também foram avaliados nas camadas superficiais (0-20 cm) os atributos químicos
relacionados a matéria orgânica (C no solo e frações da matéria orgânica) e microbiológicos
do solo (atividade enzimática, biomassa e respiração microbiana), ainda, caracterizados os
ácidos húmicos por meio da análise elementar, acidez total, de dados espectroscópicos (IF,
13
UV-Vis, FTIR e C RMN). Os atributos avaliados e suas relações nos distintos estudos
mostraram-se eficientes na avaliação da qualidade ambiental das veredas, de maneira geral,
ii
atestaram que a proximidade das veredas com áreas que são utilizadas por atividades
antrópicas alteram a qualidade do solo e da matéria orgânica, em destaque, reduzindo
expressivamente o teor de carbono orgânico no solo e nas frações húmicas da matéria
orgânica, a capacidade de retenção de água, a biomassa e respiração microbiana, a atividade
enzimática, bem como, refletindo em ácidos húmicos com menor evolução química (grau de
humificação). Isso sustenta que as veredas são ecossistemas complexos e sensíveis às
mudanças no uso do solo originárias de ações antrópicas e sugere-se sua proteção integral
para manter suas funções ecossistêmicas.
ABSTRACT
Veredas are tropical wetlands that provide essential ecosystem services for water
maintenance, soil organic carbon storage, and biological diversity in the Cerrado biome.
However, the anthropization combined with the limited knowledge about important aspects of
this ecosystem has led to increased losses, poor preservation and the reduction of its
ecosystem services. In this sense, aiming at the expansion of studies on soil quality and
conservation of the veredas ecosystem the objectives of this study were: i) to understand how
possible changes in morphological, physical, chemical and biological attributes of soils of
veredas with different states of conservation (conserved and anthropized) can be used as
indicators of their qualities; ii) evaluate soil microbiological attributes, such as microbial
biomass, basal respiration and enzyme activity, as well as the indices obtained from these
variables as quality indicators for understanding the correlations or lack thereof between their
functions in the soil and characteristics of the veredas ecosystem; iii) avaliar as frações da
matéria orgânica do solo através de fracionamento químico; iv) extrair, purificar e caracterizar
química e espectroscopicamente os ácidos húmicos isolados de solos de veredas em diferentes
estados de conservação; and v) establish a possible interpretation of the relationship between
the evaluated attributes and the quality of soils and organic matter through the use of
multivariate analysis. For this, four veredas with different conservation status were studied:
conserved (V1 - vereda in conservation unit); and anthropized (V2 - vereda with surrounding
agricultural activity; V3 - vereda cut by road; V4 - vereda in urban area). A morphological
description was made and physical (moisture, density, porosity, and organic and mineral
composition) and chemical (acidity, nutrient availability, and fertility) attributes of the soil
were evaluated in one-meter deep profiles in different veredas. Chemical attributes related
with organic matter (soil C and organic matter fractions) and soil microbiology (enzyme
activity, microbial biomass and respiration) were also evaluated in the superficial layers (0-20
cm), and humic acids were characterized through elemental analysis, total acidity,
13
spectroscopic data (FI, UV-Vis, FTIR and C NMR). The attributes evaluated and their
relationships in the different studies were shown efficient in the evaluation of the
environmental quality of veredas, generally attesting that the proximity of the veredas with
areas that are used by anthropic activities changes the quality of the soil and organic matter, in
iv
highlight, expressively reducing the organic carbon content in soil and humic fractions of
organic matter, water retention capacity, microbial biomass and respiration, enzymatic
activity, as well as reflecting in humic acids with lower chemical evolution (degree of
humification). This supports that veredas are complex ecosystems and sensitive to changes in
land use originating from anthropic actions, and their integral protection is suggested in order
to maintain their ecosystem functions.
Keywords: Humic acids. Enzymatic activity. Microbial biomass. Organic matter. Land use
change. Tropical wetlands.
v
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
RESUMO............................................................................................................................... i
ABSTRACT ........................................................................................................................ iii
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... v
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ vi
INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................... 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 3
ARTIGO CIENTÍFICO I: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM OS
ATRIBUTOS DO SOLO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL .............................. 5
RESUMO.............................................................................................................................. 5
ABSTRACT ......................................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 9
2.1 Localização, descrição e amostragem .......................................................................... 9
2.2 Determinações analíticas ............................................................................................. 11
2.2.1 Atributos morfológicos e classificação do solo ...................................................... 11
2.2.2 Atributos físicos e matéria orgânica ...................................................................... 11
2.2.3 Atributos químicos .................................................................................................. 12
2.3 Análises estatísticas ..................................................................................................... 12
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 13
3.1 Atributos morfológicos e classificação do solo .......................................................... 13
3.2 Atributos físicos e composição orgânica .................................................................... 15
3.3 Atributos químicos ........................................................................................................ 3
3.4 Análise multivariada ..................................................................................................... 5
3.4.1 Entrada de materiais orgânicos e inorgânicos ........................................................ 7
3.4.2 Fertilidade natural ................................................................................................. 10
3.4.3 Efeitos da antropização .......................................................................................... 11
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 13
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 14
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 14
ARTIGO CIENTÍFICO II: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM A
QUALIDADE BIOLÓGICA E AS CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA
ORGÂNICA EM SOLOS DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL ........................... 18
RESUMO............................................................................................................................ 18
ABSTRACT ....................................................................................................................... 19
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 20
2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 21
2.1 Localização e amostragem do solo ............................................................................. 21
2.2 Fracionamento químico e índices de qualidade da matéria orgânica .................... 22
2.3 Biomassa microbiana .................................................................................................. 22
2.4 Respiração basal do solo ............................................................................................. 23
2.5 Atividade enzimática do solo ...................................................................................... 23
2.6 Análises estatísticas ..................................................................................................... 24
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 24
3.1 Carbono orgânico total e frações húmicas da matéria orgânica do solo ................ 24
3.2 Biomassa e respiração microbiana do solo ................................................................ 27
3.3 Atividade enzimática do solo ...................................................................................... 29
3.4 Análise multivariada ................................................................................................... 31
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 33
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 34
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 34
ARTIGO CIENTÍFICO III: CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E
ESPECTROSCÓPICA DE ÁCIDOS HÚMICOS ISOLADOS DE SOLOS DE
VEREDAS SOB DIFERENTES ESTADOS DE CONSERVAÇÃO ............................ 38
RESUMO............................................................................................................................ 38
ABSTRACT ....................................................................................................................... 39
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 40
2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 42
2.1 Localização e amostragem do solo ............................................................................. 42
2.2 Extração e purificação dos ácidos húmicos ............................................................... 42
2.3 Caracterização dos ácidos húmicos............................................................................ 43
2.3.1 Composição elementar, acidez total, grupamentos COOH e OH fenólicos .......... 43
2.3.2 Espectroscopia de fluorescência e coeficiente E4/E6 ............................................. 44
2.3.3 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier ........................... 44
2.3.4 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear de 13C .................................. 44
2.4 Análises dos dados ....................................................................................................... 44
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 45
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 53
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 53
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 53
CONCLUSÃO GERAL .................................................................................................... 57
1
INTRODUÇÃO GERAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
ABSTRACT
Veredas play a key role in maintaining the balance of biogeochemical processes regulating
the availability and quality of water resources in the Brazilian Cerrado (savanna) Biome.
With the degradation of these ecosystems, evidence of an extremely fragile environment
and very susceptible to human intervention have been observed. In this study, four soil
profiles (up to one meter deep) were selected from veredas in the central region of Brazil,
located in conserved (V1 – vereda in a conservation unit); and anthropized (V2 – vereda
surrounded by agricultural activities; V3 – vereda cut by a road; V4 – vereda in urban area)
conditions. Morphological, physical, and chemical attributes were analyzed, and
multivariate analysis (PCA) was performed to identify the processes that may be driving
changes in the soils of these veredas. The veredas in the anthropized environments
presented changes in morphological, physical, and chemical soil attributes, where the
urban area around the V4 had excessively reduced the organic carbon content (up to ~94%)
and water retention capacity. The changes in the evaluated attributes of these soil profiles
were related to the input of organic and inorganic materials, and their natural fertility.
These findings support that veredas are complex ecosystems very sensitive to human
interventions and suggests that they need to be protected to maintain their ecosystem
functions.
Keywords: Cerrado biome. Ecosystem services. Organosols. Land use change. Tropical
wetlands.
7
1 INTRODUÇÃO
As zonas úmidas tropicais são sistemas únicos que contribuem para uma
multiplicidade de serviços ecossistêmicos e desempenham um papel importante no ciclo
global de carbono (SJÖGERSTEN et al., 2021). Embora ocupem apenas 4-6% da
superfície terrestre, uma quantidade substancial de carbono orgânico do solo é armazenada
nessas áreas, correspondendo a 20-25% do armazenamento de carbono orgânico global
(Chen et al., 2018).
No Brasil, as veredas são zonas úmidas tropicais amplamente encontradas no bioma
Cerrado e têm como característica dominante a formação de solos hidromórficos
associados a um nível de variação hídrica relativamente estável (HORÁK-TERRA et al.,
2022a). Esses ambientes são facilmente reconhecidos na paisagem pela presença da
palmeira Mauritia flexuosa L. f. (buriti), que emerge em meio a agrupamentos de espécies
arbustivo-herbáceas (RIBEIRO; WALTER, 1998). Como a vegetação da vereda é
dominada pela palmeira buriti, seus restos (folhas, frutos, caules e raízes) são importantes
fontes de matéria orgânica para a formação de horizontes hísticos (HORÁK-TERRA et al.,
2022b). Este tipo de horizonte, de acordo com sua posição no perfil do solo pode definir
classes de Organossolos (SANTOS et al., 2018), classe de grande ocorrência neste
ecossistema (HORÁK-TERRA et al., 2022a).
As veredas desempenham papel fundamental no balanço hídrico dos córregos no
ambiente do Cerrado (RAMOS et al., 2006), funcionando como cabeceiras (nascentes) de
muitos afluentes no norte e noroeste do estado de Minas Gerais (região deste estudo), que
deságuam no Rio São Francisco, um dos rios mais importantes do Brasil e da América do
Sul. Por causa de seus solos orgânicos se comportarem como “esponjas”, amortecem as
mudanças nos eventos de precipitação locais, armazenando a água da chuva e
disponibilizando-a aos córregos por meio de vazão lenta, mesmo nos períodos mais secos
do ano (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). Dessa maneira, as veredas são
essenciais na manutenção do equilíbrio dos processos biogeoquímicos que regulam a
disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos (SOUSA et al., 2015).
Além do importante papel das veredas na recarga dos aquíferos, esse ecossistema
também contribui significativamente para a biodiversidade, com fauna e flora endêmicas
(ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). Armazenam carbono em seus solos, impedindo
sua liberação como gases de efeito estufa, e são importantes arquivos de mudanças
8
Deste modo, a hipótese desse estudo é que as diferentes interferências antrópicas nos
ambientes de vereda alteram significativamente os atributos de seus solos, tendo como
referência os atributos da vereda situada no ambiente conservado. Para testar essa hipótese
foi proposto o objetivo de determinar e avaliar atributos morfológicos, físicos e químicos
em perfis de solo (até um metro de profundidade) de quatro veredas da região central do
Brasil, localizadas em ambiente conservado e antropizados, e identificar os processos que
podem estar controlando a natureza e as mudanças nos solos das veredas.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 1. (a) Mapa de localização e (b) imagens de satélite (GOOGLE EARTH, 2023) de
V1 – vereda em uma unidade de conservação; (c) V2 – vereda com uso agrícola no
entorno; (d) V3 – vereda cortada por estrada; (e) V4 – vereda em área urbana.
11
(VTP) foram obtidos através dos métodos descritos no Manual de Métodos de Análise de
Solo (TEIXEIRA et al., 2017).
O teor de matéria orgânica foi quantificado pelo método de perda de massa por
incineração a 600 °C/6h em mufla (MO_MF) (LYNN; MCKINZIE; GROSSMAN, 1974;
SANTOS et al., 2018) e através do método Walkley-Black (MO_WB) pela oxidação da
matéria orgânica do solo por solução de dicromato de potássio em presença de ácido
sulfúrico e titulação do excesso de dicromato com solução de sulfato ferroso amoniacal
(WALKLEY; BLACK, 1934; TEIXEIRA et al., 2017). O conteúdo de carbono orgânico
por mufla (C_MF) e Walkley-Black (C_WB) foram calculados dividindo os respectivos
valores de matéria orgânica pelo fator “van Bemmelen” (1,724).
SIMKO, 2021). Uma análise multivariada “Principal component analysis” (PCA) também
foi realizada na mesma matriz dos atributos do solo, usando os pacotes FactoMineR (LE;
JOSSE; HUSSON, 2008) e factoextra (KASSAMBARA; MUNDT, 2020).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De maneira geral, a cor variou de bruno muito escuro (10YR 2/2) a bruno muito
claro-acinzentado (10YR 8/2) nos solos das veredas (Tabela 1). V1 variou de bruno-escuro
(10YR 3/3) a bruno (10YR 4/3); V2 de bruno muito escuro (10YR 2/2) a bruno-escuro
(10YR 3/3); V3 de bruno (10YR 5/3) a cinzento-claro (10YR 7/2); e V4 de bruno a bruno
muito claro-acinzentado (10YR 8/2).
Tabela 1. Atributos morfológicos de solos de veredas sob diferentes estados de
conservação.
Hor. Prof. Cor Consistência Textura
von Post FNE FE
cm Grau Classe %
V1 – VEREDA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Hd1 0-20 10YR 4/3 lpl, lpg nat org 8 Sáprico 68 a A 56 a A
Hd2 20-40 10YR 3/4 lpl, lpg nat org 8 Sáprico 68 a A 56 a A
Hd3 40-60 10YR 3/4 npl, lpg nat org 8 Sáprico 75 a A 56 a A
Hd4 60-80 10YR 3/3 npl, lpg nat org 8 Sáprico 61 a A 51 a A
Hd5 80-100 10YR 3/3 npl, lpg nat org 8 Sáprico 67 a A 53 a A
V2 - VEREDA COM USO AGRÍCOLA NO ENTORNO
Hd1 0-20 10YR 3/3 pl, lpg nat org 7 Sáprico 33 a B 23 a B
Hd2 20-40 10YR 3/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 45 a B 23 a B
Hd3 40-60 10YR 3/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 45 a A 20 a B
Hd4 60-80 10YR 2/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 31 a B 16 a B
Hd5 80-100 10YR 2/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 28 a B 13 a B
V3 – VEREDA CORTADA POR ESTRADA
Hd1 0-20 10YR 5/3 mpl, mpg nat org 7 Sáprico 71 a A 52 a A
Hd2 20-40 10YR 5/3 pl, lpg nat org 8 Sáprico 60 a AB 28 a B
47 a
Hdo 40-60 10YR 5/3 pl, lpg nat org 5 Hêmico 64 a A
AB
Ho1 60-80 10YR 6/2 lpl, lpg nat org 4 Fíbrico 72 a A 51 a A
Ho2 80-100 10YR 7/2 npl, npg nat org 4 Fíbrico 63 a B 51 a B
V4 – VEREDA EM ÁREA URBANA
A 0-20 10YR 7/3 pl, pg arg ‒ ‒ ‒ ‒
C1 20-40 10YR 8/2 npl, lpg ar fran ‒ ‒ ‒ ‒
C2 40-60 10YR 8/1 pl, lpg arg sil ‒ ‒ ‒ ‒
C3 60-80 10YR 5/3 npl, npg ar fran ‒ ‒ ‒ ‒
C4 80-100 10YR 5/3 mpl, mpg arg sil ‒ ‒ ‒ ‒
Hor: Horizonte; Prof.: profundidade; FNE: fibras não esfregadas; FE: fibras esfregadas; pl: plástica; lpl:
ligeiramente plástica; npl: não-plástica; mpl: muito plástica; lpg: ligeiramente pegajosa; npg: não-pegajosa; mpg:
muito pegajosa; nat org: natureza orgânica; arg: argila; arg sil: argilo siltosa; ar fran: areia franca; “‒” dados
numéricos não aplicáveis. Letras minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre médias das
diferentes profundidades para a mesma vereda e diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas
entre médias para as mesmas profundidades entre diferentes veredas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
14
Nos perfis V1 e V2 apresentaram valores e cromas mais baixos, que diminuem com
o aumento da profundidade (60-100 cm) exibindo pigmentos mais escuros, que podem ser
associados ao avançado estádio de decomposição de matéria orgânica (sáprico) nesses
ambientes (CIPRIANO-SILVA et al., 2014). No entanto, é importante ressaltar que o
predomínio de uma matéria orgânica muito decomposta pode também estar associada à
idade do material depositado (SILVA et al., 2013), haja vista que este componente está a
mais tempo sob a atuação dos processos pedogenéticos. Por exemplo, V1 localiza-se no
Parque Nacional de Brasília, onde uma vereda tem idade de até 35.000 anos (Pleistoceno
Tardio) (VIANA, 2022).
Em V3 e V4 os valores e cromas foram altos, apresentando cores mais claras. Nos
horizontes hísticos superficiais de V3 predominam resíduos vegetais em estágio de
decomposição mais avançados (sáprico), e as subsuperficiais caráter fíbrico (fracamente
decompostos), possivelmente reflexo da redução do processo de decomposição, devido à
estagnação da água no ambiente. Em V4, as cores mais claras foram devidas à alta
contribuição de materiais minerais, de acordo com as texturas verificadas nas amostras de
solo (Tabela 1).
As texturas em V1, V2 e V3 foram classificadas como de natureza orgânica, assim
como foram classificados em Organossolos de ambientes úmidos por Horák-Terra et al.
(2022) e Soares et al. (2016). De acordo com Santos et al. (2015), quando há muitas fibras
mal decompostas de restos e fragmentos vegetais, impossibilita a identificação das classes
de textura. Em V4, devido seu caráter mineral a textura na camada superficial (horizonte
A) foi classificada como argilosa, enquanto as camadas subjacentes (horizontes C)
alternaram-se entre textura franco-arenosa e argilosa siltosa. Quanto à consistência, V1
apresentou consistência não plástica e ligeiramente pegajosa. Em V2, a consistência de
todas as camadas foi plástica. Em V3 e V4, houve maior predominância de consistência
plástica a muito plástica e ligeiramente pegajosa em suas camadas. Solos com material
orgânico mais decomposto (sáprico) costumam apresentar maior plasticidade, porém, a
distribuição granulométrica da fração mineral também pode influenciar nesse atributo,
onde grandes quantidades de argila tendem a tornar o solo mais plástico e pegajoso
(VALLADARES et al., 2008).
Altos teores de fibras foram observados nos perfis V1 e V3 com média de 68% e
64% para FNE e 54% e 45% para FE, respectivamente (Tabela 1). Semelhante aos
encontrados por Könönen et al. (2015) (Indonésia central), Soares et al. (2016) (sudeste do
15
Brasil), Valladares et al. (2016) (sudeste do Brasil), Wang et al. (2017) (nordeste da China)
e Horák-Terra et al. (2022a) (Brasil central) em solos orgânicos de zonas úmidas de
diferentes regiões tropicais do mundo. Ao comparar as profundidades entre esses perfis,
em 80-100 cm, o teor de fibras foi maior em V1 do que em V3. O perfil V1 apresentou teor
de fibras homogêneo e em estágio de decomposição mais avançado (sáprico) em
profundidade. V3 também não apresentou diferenças em profundidade, no entanto,
conferiu matéria vegetal pouco decomposta, o que pode ter contribuído para um maior
volume de fibras retidas na peneira (método de Lynn, Mckinzie e Grossman, 1974). V2 se
diferenciou das demais, com menores teores de FNE e FE, e apresentou distribuição
homogênea em seu perfil. Para V4, o teor de fibra não foi avaliado devido ao alto teor de
materiais minerais, o que superestimaria os resultados, conforme descrito por Santos et al.
(2018). Segundo Ebeling et al. (2013), o teor de fibra tem sido associado ao grau de
decomposição da matéria orgânica, refletindo vegetação composta por maior quantidade de
fibras (galhos, raízes, troncos) e/ou pela influência do ambiente que proporcione a
decomposição do material orgânico de forma mais lenta.
Os perfis apresentaram diferenças morfológicas no grau de transformação da
matéria orgânica. Os perfis de solo amostrados de V1 e V2 foram classificados como
Organossolo Háplico Sáprico típico, relacionados à presença de grandes quantidades de
fibras e maior grau transformação da matéria orgânica. V3 foi classificado como
Organossolo Háplico Fíbrico típico, devido à saturação/hidromorfismo no ambiente, a
presença de grandes quantidades de fibras e menor grau de transformação da matéria
orgânica. Já para o perfil V4 encontraram-se relevantes transformações (mineralização da
matéria orgânica), sendo classificado como Neossolo Flúvico Tb Distrófico típico
(SANTOS et al., 2018).
Os atributos físicos Ug, Uv, Ds, Dmo, RM, MM e VTP utilizados na caracterização
e classificação dos Organossolos (SANTOS et al., 2018) estão relacionadas ao teor de
carbono orgânico, geralmente, de forma diretamente proporcional (SOARES et al., 2016).
Na Tabela 2 observa-se que os valores de Ug, Uv e VTP dentro do perfil de cada vereda
foram semelhantes, exceto em V2, que apresentou uma leve redução da Ug e VTP em 40-
60 cm.
16
Tabela 2. Atributos físicos e composição orgânica de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.
Hor. Prof. Ug Uv Ds Dmo Dp VTP MM RM C_WB C_MF MO_WB MO_MF
cm g g-1 cm3 cm-3 Mg m-3 g cm-3 % m m-1 g kg-1
V1 – VEREDA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Hd1 0-20 5,01 a A 0,82 a A 0,17 a C 0,12 a A 1,23 a C 86 a A 30 a C 0,04 a C 347,7 c A 404,1 a A 599,4 c A 696,6 a A
Hd2 20-40 7,13 a A 0,84 a A 0,13 a C 0,11 a A 1,24 a C 89 a A 21 a B 0,02 a C 349,7 b A 457,9 a A 602,9 b A 789,4 a A
Hd3 40-60 6,32 a A 0,87 a A 0,14 a C 0,11 a AB 1,16 a C 88 a A 24 a C 0,02 a B 337,2 e A 439,3 a A 581,3 e A 757,4 a A
Hd4 60-80 6,84 a A 0,79 a A 0,12 a B 0,08 a AB 1,37 a C 91 a A 30 a B 0,02 a B 337,8 d A 403,3 a A 582,4 d A 695,2 a A
Hd5 80-100 6,30 a A 0,79 a A 0,13 a B 0,09 a AB 1,39 a B 91 a A 30 a B 0,03 a B 366,8 a A 405,7 a A 632,4 a A 699,5 a A
V2 - VEREDA COM USO AGRÍCOLA NO ENTORNO
Hd1 0-20 2,47 a B 0,84 a A 0,34 b BC 0,11 a A 1,89 b B 82 a B 68 a B 0,16 a BC 126,8 c B 187,9 a B 218,6 c B 324,0 a B
Hd2 20-40 1,68 ab B 0,79 a A 0,48 ab B 0,13 a A 2,08 a B 77 ab B 73 a A 0,23 a B 112,0 e B 157,6 a B 193,1 e B 271,7 a B
Hd3 40-60 0,85 c B 0,55 a AB 0,77 a AB 0,37 a A 2,11 a B 64 b BC 55 a B 0,27 a B 122,4 d B 258,7 a B 211,0 d B 446,0 a B
Hd4 60-80 1,55 ab B 0,74 a A 0,48 ab B 0,15 a A 2,12 a AB 77 ab AB 69 a A 0,22 a B 138,5 b B 178,1 a B 238,8 b B 307,1 a B
Hd5 80-100 1,67 ab B 0,73 a AB 0,47 ab B 0,14 a A 2,19 a A 79 ab A 69 a A 0,22 a B 146,9 a B 179,0 a B 253,3 a B 308,6 a B
V3 – VEREDA CORTADA POR ESTRADA
Hd1 0-20 1,48 a B 0,73 a A 0,51 a B 0,13 a A 2,05 a B 75 a BC 75 a B 0,26 a B 91,6 a C 142,7 a B 157,9 a C 246,1 a B
Hd2 20-40 1,79 a B 0,77 a A 0,45 a B 0,10 ab A 2,13 a B 79 a B 75 a A 0,23 a B 91,2 b C 139,6 a B 157,2 b C 240,6 a B
Hdo 40-60 1,72 a B 0,74 a AB 0,47 a BC 0,12 ab AB 2,20 a AB 79 a AB 76 a AB 0,23 a B 78,5 c C 148,3 a BC 135,3 c C 255,7 a BC
Ho1 60-80 2,00 a B 0,45 a A 0,27 a B 0,06 ab B 1,85 a AB 86 a A 66 a A 0,14 a B 73,0 d C 194,5 a B 125,9 d C 335,3 a B
Ho2 80-100 4,09 a AB 0,75 a AB 0,25 a B 0,06 b B 2,05 a AB 88 a A 71 a A 0,13 a B 63,3 e C 167,1 a B 109,1 e C 288,0 a B
V4 – VEREDA EM ÁREA URBANA
A 0-20 0,60 a B 0,54 a B 0,95 a A 0,10 a A 2,55 a A 63 a C 89 a A 0,56 a A 29,6 a D 62,2 a C 51,0 a D 107,2 a C
C1 20-40 0,49 a B 0,53 a B 1,09 a A 0,08 a A 2,50 a A 56 a C 92 a A 0,67 a A 17,6 d D 44,0 a B 30,3 d D 75,9 a B
C2 40-60 0,39 a B 0,46 a B 1,24 a A 0,06 a B 2,48 a A 50 a C 94 a A 0,79 a A 17,6 d D 32,5 a C 30,3 d D 56,1 a C
C3 60-80 0,52 a B 0,48 a A 1,06 a A 0,07 a AB 2,53 a A 59 a C 92 a A 0,66 a A 18,5 c D 47,4 a B 31,9 c D 81,7 a B
C4 80-100 0,35 a B 0,38 a B 1,15 a A 0,09 a AB 2,37 a A 51 a B 92 a A 0,71 a A 20,0 b D 44,6 a B 34,5 b D 76,8 a B
Hor: Horizonte; Prof.: profundidade; Ug: Umidade gravimétrica; Uv: Umidade volumétrica; Ds: Densidade aparente do solo; Dmo: Densidade da matéria orgânica; Dp:
Densidade de partículas; VTP: Volume total de poros; MM: Material mineral; RM: Resíduo mínimo; C_WB: Carbono orgânico por Walkley-Black; C_MF: Carbono
orgânico mufla 600°C; MO_WB: Matéria orgânica por Walkley-Black; MO_MF: Matéria orgânica mufla 600°C. Letras minúsculas diferentes indicam diferenças
significativas entre médias das diferentes profundidades para a mesma vereda e diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas entre médias para as mesmas
profundidades entre diferentes veredas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
1
Os teores de Ca2+, Mg2+, K+, e P em geral foram baixos nos perfis, exceto para V1
onde os teores de Ca2+ e Mg2+ foram altos em seus horizontes, devido à contribuição do
material calcifilítico do Grupo Paranoá (CAMPOS et al., 2013). Soares et al. (2016) e
Cipriano-Silva et al. (2014) e Soares et al. (2016) encontraram comportamento semelhante
atribuído à contribuição de material geológico de rochas (calcário e nefelina-sienito,
respectivamente), que elevaram os valores de Ca2+ e Mg2+em Organossolos. Em V4, nota-
se que os valores de Mg2+ foram semelhantes aos de V1, e que P foi significativamente
maior em seu perfil, com maiores teores nas camadas superficiais, provavelmente,
associados à adição de materiais provenientes da atividade antrópica.
Com resultado da baixa disponibilidade de nutrientes, baixa SB foram exibidas em
V2, V3 e V4 que variaram de 0,6 a 5,7 cmolc dm³. Em contrapartida, foi significativamente
maior em V1 em todas as profundidades, devido aos altos teores de Ca2+ e Mg2+. Maiores
valores de SB e H+Al contribuíram para uma alta CTC em V1, principalmente na base
quando comparada a superfície. Os valores da CTC nos perfis de V2 e V3 foram similares,
devido à contribuição de Al3+ e H+Al com maiores valores nas camadas superficiais.
O valor de V em V1 foi diferente dos demais, com ocorrência de médias superiores
a 50% em todas as camadas, o que mostra sua característica eutrófica, ou seja, alta
fertilidade (SOBRAL et al., 2015). Os perfis V2, V3 e V4 apresentaram médias inferiores
a 50%, expressando a predominância de H+ no complexo de sorção e, consequentemente, a
característica distrófica nestes solos (VALLADARES et al., 2016). Nos Organossolos de
V2 e V3 por apresentarem baixo Ca2+, Mg2+ e K+ e teor de Al3+ muito elevado, chegando a
apresentar m superior a 60%, também podem ser classificados como solos álicos (muito
pobres) (RONQUIM, 2010).
Maiores teores de Na+ e percentual de ISNa foram encontrados em V4 (ambiente
urbano), com maiores valores em ambos atributos na base (80-100cm), enquanto, valores
semelhantes foram presentes em V2 e V3 e menores em V1, que apresentaram maiores
concentrações nas camadas superficiais, o que mostra baixa proporção de sódio solúvel em
relação à CTC no solo nesses ambientes. De acordo com Cipriano-Silva et al. (2014),
apesar da alta CTC nos Organossolos, a retenção de cátions monovalentes é menor do que
os demais cátions, justificando os teores reduzidos de K+ e Na+.
Essa relação também foi verificada por Horák-Terra et al. (2014) e Horák-Terra et al.
(2022b) em seus estudos de solos orgânicos em ambientes de veredas e turfeiras,
respectivamente.
Na Figura 4a, as mudanças nas pontuações do CP1 em profundidade podem ser
vistas em diferentes perfis. Em geral, as pontuações positivas no CP1 foram associadas a
uma maior predominância de material orgânico (V1), enquanto as pontuações negativas
foram associadas a uma entrada de material mineral (V2, V3 e V4).
Figura 4. Perfil das pontuações da PCA dos dois componentes principais (a) componentes
principais 1 (CP1) e (b) componentes principais 2 (CP2) utilizando atributos morfológicos,
físicos e químicos de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.
Em V1 houve predominância de pontuações positivas em profundidade, pouco
variaram, com apenas um leve aumento em ~40 cm. Por estar localizado em um ambiente
mais conservado, naturalmente permitiu um maior acúmulo de matéria orgânica e sua
contínua manutenção no ambiente. O maior aporte de material vegetal em Organossolos
em áreas úmidas auxilia no armazenamento de carbono, proporciona maior porosidade e
consequentemente aumenta o teor de umidade (SILVA et al., 2009; CIPRIANO-SILVA et
al., 2014). Segundo Horák-Terra et al. (2022a), o alto teor de água nas veredas
possivelmente está associado à maior porosidade devido à matéria orgânica mais
preservada e com muitas fibras. Isso está de acordo com a abundância de restos vegetais
medidos por FNE e FE (Tabela 1) que também apresentaram correlação positiva (r = 0,70
entre Ug e FNE; e r = 0,80 entre Ug e FE) (Figura 2).
Nas áreas de turfeiras tropicais da Indonésia, Könönen et al. (2018) demonstraram
que a manutenção do solo orgânico com diferentes intensidades de manejo (floresta
9
natural, reflorestadas, degradadas e agrícolas) tem sido sustentada pela alta e contínua
deposição e decomposição de material orgânico, mesmo onde a decomposição aeróbica é
sazonalmente reduzida pelo aumento do lençol freático, apresentando melhores estados o
ambiente de floresta natural.
Nas veredas antropizadas V2, V3 e V4 houve predominância de pontuações
negativas em profundidade, com pontuações maiores em V4. Em V2 observa-se a
predominância de pontuações negativas, com ligeiro pico em ~60 cm. Essa alteração pode
estar associada à redução da umidade e da porosidade total, que consequentemente
aumentou os valores de densidade do solo (0,77 Mg m-3), bem como o RM (0,27 m m-1)
(associada as pontuações negativas), quando comparado com as outras profundidades. O
solo da vereda adjacente à área agrícola é protegido por lei, porém, durante a visita de
campo, foi observado escoamento de água para uso doméstico e consumo animal, o que
pode ter contribuído para esse comportamento. Em V3, o comportamento das pontuações
negativas não variou muito em profundidade, exceto abaixo de 80 cm com um pico de
redução, o que provavelmente está associado ao maior teor de fibras (FNE e FE) e,
principalmente, à alta umidade (Ug e Uv) observada nesta profundidade (Tabela 2), que
foram associados ao incremento de material orgânico. No entanto, isso pode ser resultado
da estagnação da água, que dificulta a decomposição da matéria orgânica (material mais
fibroso) e influencia no volume de água retido no local (CIPRIANO-SILVA et al., 2014).
Em V4 as pontuações diminuem até ~60 cm, até atingir os maiores valores
negativos, o que indica maior perda de matéria orgânica (mineralização). Isso está de
acordo com o aumento simultâneo e a correlação positiva de Ds com RM (r = 0,96) e MM
(r = 0,81), uma vez que a matéria inorgânica tem densidade maior que a matéria orgânica
(HORÁK-TERRA et al., 2014). Em ~80 cm, apresentou um leve aumento, porém, ainda
com pontuações negativas associadas à maior contribuição do material mineral. Essa
redução de carbono orgânico no solo pode estar associada a diferentes fatores de
degradação causados pela atividade humana ao longo do tempo, e ainda pode estar
relacionada à influência de sedimentos depositados pelas cheias do rio Urucuia
(aproximadamente 600 m de distância da vereda). Essa situação pode ocorrer em alguns
anos durante a estação chuvosa (pico em janeiro e fevereiro), quando o rio transborda,
alagando o perímetro urbano de Arinos.
No ambiente antropizado de V4, o teor de material mineral mostrou uma redução
significativa da matéria orgânica. Além disso, acompanhou a redução da umidade e
10
entulhos de construção e lixo doméstico. De acordo com Teixeira e Lima (2016), resíduos
como urina e fezes de animais, resíduos vegetais e principalmente ossos e espinhas de
peixes, que são compostos basicamente por apatita biogênica (fosfatos de cálcio) podem
contribuir para o aumento dos teores de Ca2+, P, e Mg2+ em horizontes antrópicos. Da
mesma forma, teores mais elevados de P são comumente encontrados em solos que
apresentam o horizonte A antrópico (SOUSA et al., 2020), como encontrados no horizonte
superficial do perfil de V4.
Conforme mostrado na Figura 4b, as mudanças nas pontuações de CP2
apresentaram tendências crescentes da superfície para a base em V4, devido provavelmente
à influência dos teores de Ca2+ e Mg2+, que também mostraram tendência semelhante ao
longo do perfil (Tabela 3). Avaliando atributos químicos em solos antropizados na
Amazônia brasileira [Terras pretas amazônicas] Sousa et al. (2020), Macedo et al. (2019),
Teixeira e Lima (2016), e Silva et al. (2011) encontraram altos teores de Ca2+, P, Mg2+, SB
e porcentagem de V e atribuíram esses resultados a entrada de materiais advindos da
atividade humana ao longo de anos. Portanto, a fertilidade natural em V4 é provavelmente
atribuída às atividades antrópicas nas proximidades e sob esse ambiente.
As pontuações negativas foram predominantes em V2 e V3, onde os teores de Al3+,
H+Al e porcentagem de m foram mais elevados (Tabela 3). V2 apresentou maiores
pontuações negativa com aumento em profundidade devido aos maiores teores de Al3+ e m
encontradas nessas profundidades. O que também foi observado para V3 principalmente
entre as profundidades de 40 e 60 cm. Uma vez que, devido a elevada acidez e a presença
de ácidos orgânicos em seus solos, exibem muitos íons e poucos íons Ca2+, Mg2+ e K+
adsorvidos em seu complexo coloidal de troca (RONQUIM, 2010). Assim, a quantidade de
cargas negativas disponíveis para adsorver as bases Ca2+, Mg2+ e K+ diminuem, e
consequentemente reduz a V e SB e indicam baixa fertilidade natural.
O comportamento exposto nos perfis de V2 e V3 encontra-se de acordo com os
estudos de Ramos, Haridasan e Araújo (2014), Ribeiro et al. (2019) e Horák-Terra et al.
(2022a) em Organossolos de veredas de diferentes regiões do Brasil, que usualmente são
solos fortemente ácidos, apresentando alta CTC, dominado por H+Al, baixo V e alto teor
de Al3+.
com as respectivas contribuições dos atributos avaliados (Figura 5). A projeção de CP1 vs.
CP2 representou a combinação de matéria orgânica vs. fertilidade natural dos solos de
veredas. A dispersão das pontuações mostrou os diferentes estados de conservação em que
estas veredas se encontram, onde o principal fator está relacionado à redução de matéria
orgânica.
4 CONCLUSÕES
As mudanças nos atributos avaliados do solo das veredas estão relacionadas a dois
principais processos: a) entrada de materiais orgânicos e inorgânicos, e b) fertilidade
14
5 AGRADECIMENTOS
6 REFERÊNCIAS
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17
RESUMO
ABSTRACT
Veredas are important tropical wetlands for storing and supplying local and regional water
networks, as well as for storing organic carbon. However, with urban expansion and
intensification of agricultural activities, extensive areas of native vegetation were
suppressed and replaced in the surroundings of the veredas, compromising their important
ecosystem services. This study aimed to evaluate veredas from central Brazil under
different conservation conditions: conserved (V1– vereda in a conservation unit); and
anthropized (V2 – vereda surrounded by agricultural activities; V3 – vereda cut by a road;
V4 – vereda in urban area), considering chemical (soil C and fractions of organic matter)
and microbiological (enzymatic activity, biomass and microbial respiration) attributes in
superficial soil layers. The soils of the anthropized vereda presented alterations in
microbiological attributes and in the characteristics of the organic matter in relation to the
conserved vereda. Reductions in order of 95% of organic carbon, 231% of microbial
biomass and 74% in the activities of dehydrogenase, β-glicosidase and acid phosphatase
enzymes were observed in the vereda located in urban area (V4) compared to vereda in
conserved environment. In addition, there was an increase in microbial metabolic quotient
in this area, which may be associated with the influence of urban concentration on soil
quality. Changes in land use in areas with veredas, due to agricultural or urban activities,
indicate reduction in quality of the soil in this important ecosystem in central Brazil. The
attributes evaluated showed to be efficient in attesting the changes in characteristics of
organic matter and biological quality in the soils of veredas, especially the evaluation of
the soil enzymatic activity.
Keywords: Enzymatic activity. Microbial biomass carbon. Organic matter. Land use
change. Ecosystem services. Tropical wetlands.
20
1 INTRODUÇÃO
As veredas são áreas úmidas tropicais do bioma Cerrado, onde predomina o estrato
arbóreo-arbustivo que é representado, principalmente, pela palmeira Mauritia flexuosa L. f.
(buriti) que ocorre em alinhamentos ou formações mais densas entre ecossistemas
adjacentes (RIBEIRO; WALTER, 1998; HORÁK-TERRA et al., 2022a). Constituem-se
num importante sistema represador da água armazenada nos planaltos planos, conhecidos
como chapadas e chapadões, ocorrentes no Planalto Central Brasileiro e que alimentam os
cursos d’água que formam a rede hídrica local e regional (RAMOS et al., 2006; SOUSA
et al., 2015).
Os solos das veredas têm origem pedogenética relacionada a processos de
hidromorfismo, o que resulta em ambiente de baixa oxidação e acúmulo de matéria
orgânica (RAMOS et al., 2006; MOREIRA et al., 2021). O Organossolo é a principal
classe de solo ocorrente nesse ecossistema (WANTZEN et al., 2012; HORÁK-TERRA et
al., 2022b), mostrando sua importância para estocagem de carbono orgânico (WANTZEN
et al., 2012; SOUSA et al., 2015). O estoque de carbono orgânico nas veredas do noroeste
de Minas Gerais e no Distrito Federal tem sido formado desde o Pleistoceno Tardio, por
volta de 35 mil anos AP (HORÁK-TERRA et al., 2022a; VIANA, 2022). No entanto, com
a expansão urbana e a intensificação das atividades agrícolas nessas regiões, extensas áreas
de vegetação nativa foram suprimidas e deram origem a campos cultivados ao arredor das
veredas (ROSOLEN et al., 2015; RIBEIRO et al., 2019). Desta forma, mudanças no solo,
causados não só por sua utilização direta, mas, também pelo uso das terras adjacentes
podem promover alterações nos teores e qualidade da matéria orgânica, com consequentes
perdas de carbono orgânico, colaborando para o aumento das emissões de CO2 e
comprometendo seus importantes serviços ecossistêmicos (CHEN et al., 2018; HORÁK-
TERRA et al., 2022a).
A matéria orgânica e suas frações são atributos chaves para a avaliação da
qualidade do solo, uma vez que estão diretamente relacionados à estruturação, fertilidade,
infiltração e retenção de água e atividade microbiana (ARAÚJO et al., 2019; PEREIRA et
al., 2021). A distribuição relativa das frações da matéria orgânica (ácidos húmicos, ácidos
fúlvicos e huminas), bem como proporção de carbono armazenado nessas frações, permite
uma avaliação sistêmica da qualidade da matéria orgânica do solo (SOUSA et al., 2015;
PEREIRA et al., 2021). Do mesmo modo, a fração viva da matéria orgânica do solo,
constituída por microrganismos, é considerada um indicador sensível por exercer funções
21
por essas enzimas, após as amostras de solos serem incubadas com solução tamponada de
substratos específicos. Para a avaliação da atividade da urease, utilizou-se o método
baseado na determinação da amônia liberado após a incubação do solo com ureia
(TABATABAI; BREMMER, 1972).
A atividade da enzima desidrogenase foi obtida conforme a metodologia de
Thalmann (1968), que consiste em incubar a amostra de solo com TTC (cloridrato de 2,3,5
trifeniltetrazólio) e determinação do teor de trifenilformazan (TFF) após o período de
incubação. Já a atividade de hidrólise de diacetato de fluoresceína (FDA) foi determinada
pelo método de Alef (1995), que se baseia na formação de fluoresceína sódica depois da
incubação de amostras de solo com solução de diacetato de fluoresceína por 3 h a 24 °C.
Todas as medidas foram realizadas em quadruplicata.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve diferença no COT das amostras dos solos das diferentes veredas (Tabela 1),
que apresentaram a seguinte ordem de ambientes: V1 > V2 > V3 > V4. Essa variação pode
estar relacionada aos estados ambientais das áreas de estudo, já que o conteúdo de COT é
significativamente reduzido nas veredas com alterações antrópicas, resultado observado
principalmente em V4 situada na área urbana no município de Arinos-MG, que apresentou
redução de ~95% em relação à vereda em área conservada (363,78±3,23 e 20,97±0,19 g
kg-1, respectivamente). Valores de COT menores de 80 g kg-1 indicam solos constituídos
essencialmente por compostos inorgânicos (SANTOS et al., 2018), que apresentam intenso
processo de degradação da matéria orgânica (MOREIRA et al., 2021). Diferentes estudos
25
pode ser atribuído ao processo de humificação direta dos tecidos lignificados modificados
por demetilação, já que os mecanismos de insolubilização e neossíntese microbiana são
reduzidos em ambientes hidromórficos. Em V4, as alterações provocadas pela urbanização
(redução da cobertura vegetal nativa e impermeabilização do solo) provavelmente
estimularam a mineralização até mesmo das frações humificadas mais estáveis como C AH e
CHUM. De fato, observam-se entre V1 e V4 reduções de 93,5% para CHUM, 95,2% para CAH,
enquanto para CAF, essa diferença foi de 93,3%, apontando menor capacidade desse
ambiente em armazenar, de forma estável, carbono nas frações humificadas da matéria
orgânica.
De acordo com a interpretação de Labrador Moreno (1996), a relação CAH/CAF
expressa o grau condensação da matéria orgânica e valores superiores à unidade (1,0)
indicam uma boa evolução da matéria orgânica. Nas áreas V1, V2 e V3, os valores dessa
relação foram de maiores que 1,0, com maior valor presente em V1 (2,18±0,03 g kg-1). De
acordo com Santos et al. (2018) e Silva, Valladares e Ferreira (2020) em horizontes
hísticos, elevados valores desta relação indicam a influência das condições anaeróbias
sobre o processo de humificação (polimerização e condensação). Valores elevados dessa
relação foram também observados por Ebeling et al. (2013), Silva, Valladares e Ferreira
(2020) e Horák-Terra et al. (2022a) no estudo de Organossolos de diferentes regiões do
Brasil. Para V4, a relação CAH/CAF foi menor que 1,0 (0,64±0,04 g kg-1), valor 67,0%
menor que a média das três outras áreas (1,94 g kg-1), que usualmente são encontrados em
solos tropicais com menor intensidade do processo de humificação (condensação e
síntese), que são atribuídas à intensa mineralização dos resíduos e ao baixo conteúdo de
bases trocáveis (CANELLAS; FAÇANHA, 2004).
A variação na participação das frações humificadas em função dos ambientes
resultou também em diferenças nos valores da relação CHUM/(CAH+CAF). Essa relação pode
ser empregada como indicativo da estabilidade estrutural da matéria orgânica, sendo que
maiores valores significam maior estabilidade (LABRADOR MORENO, 1996) e, no
presente trabalho, verificaram-se maiores valores em V3 e menores em V2. Contudo, é
preciso avaliar mais a evolução desta relação do que os valores absolutos propriamente
ditos. Assim, ao avaliar o grau de humificação da matéria orgânica pelo índice
([(CAH+CAF+CHUM)/COT]*100), observou-se que V3 (92,6%) e V4 (93,4%) estão acima
dos valores considerados padrão descritos por Labrador Moreno (1996), que indicam solos
27
O maior valor de C-BMS foi observado em V1 (312,5 μg C g-1 solo seco), seguido
de V2 (251,4 μg C g-1 solo seco), V3 (143,8 μg C g-1 solo seco) e V4 (94,3 μg C g-1 solo
seco) (Figura 1A). O valor de C-BMS em V1 foi aproximadamente 231% maior ao
observado para V4. Silva et al. (2016) verificaram que mesmo com dificuldade de
degradação da serapilheira pelos microrganismos, em função do excesso de água em
ambientes como de veredas, a maior produção de biomassa vegetal em ambiente de mata
preservada auxilia no estoque do carbono e na biodiversidade de compostos orgânicos.
está de acordo com os resultados encontrados nas áreas de veredas com nenhum ou menor
grau de perturbação (V1 e V2). Altos índices de qCO2 usualmente são observados em áreas
sob algum tipo de evento ou manejo resultante em estados ambientais estressantes para a
comunidade microbiana, que pode ser notado a partir do maior gasto energético
(PRIMIERI; MUNIZ; LISBOA, 2017; BRITO et al., 2019). O que foi observado para V3,
ambiente com excesso de água retido no ambiente e com vegetação reduzida, condições
que podem ter contribuído para a menor eficiência metabólica.
Figura 1. A) Carbono da biomassa do solo (C-BMS), (B) Respiração Basal do Solo (RBS),
(C) Quociente metabólico (qCO2), e (D) Quociente microbiano (qMic) da camada
superficial de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. Letras minúsculas
diferentes correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
2009; CAMPOS et al., 2010; SILVA et al., 2013). Os menores qMic observados em V1
(0,09%), V3 (0,17%) e V2 (0,19%) representam menor ciclagem de nutrientes e,
consequentemente, maior acúmulo de carbono. Já em V4, o maior valor de qMic (0,45%)
sugere condição de estresse para a população microbiana em decorrência da redução da
cobertura vegetal nativa, resultante das ações antrópicas, refletindo diretamente na reserva
de substrato orgânico e sugerem proporções mais baixas matéria orgânica do solo estável
(SOUSA et al. 2015; NUNES et al., 2022).
vegetação natural na área da amostragem (área de recarga hídrica), assim como, as áreas
próximas serem cobertas na maioria do ano por cultivos agrícolas, que podem ter
contribuído para a manutenção da biomassa microbiana (SOUSA et al., 2015).
possibilitando inferir que, ao considerar a média das áreas de vereda avaliadas, o aumento
do qMic está associado com redução nas frações de carbono no solo. Em consequência, a
menor disponibilidade de carbono em relação a biomassa microbiana, afeta negativamente
a atividade enzimática no solo. Könönen et al. (2018) descrevem que as interferências
antrópicas no manejo do solo em zonas úmidas modicam as condições bióticas e abióticas
para processo de decomposição, resultado de alterações na entrada de material orgânico e
nível do lençol freático, e consequentemente, a qualidade do substrato para atividade
microbiana.
V3 foi relacionada positivamente com os atributos contribuintes do CP2, que
evidenciou que a condição de estresse microbiano (elevado qCO2) e sua relação com a
estabilidade estrutural e o grau de humificação é resultado do baixo aporte e evolução da
matéria orgânica, o que sugere intensa competição dos microrganismos pelo carbono
orgânico e, consequentemente, maior estresse, provocado pela condição de estagnação de
água, que eleva o consumo de energia e a produção de CO2 pelos microrganismos. De
acordo com Horák-Terra et al. (2022a) interferências antrópicas nos ecossistemas de
veredas refletem diretamente no conteúdo de matéria orgânica e nas perdas de carbono do
solo, e consequentemente, na eficiência metabólica dos microrganismos, corroborando
com resultados encontrados neste estudo.
4 CONCLUSÕES
5 AGRADECIMENTOS
6 REFERÊNCIAS
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36
RESUMO
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO
humificação e que reflete tanto a condição de gênese como a de manejo do solo (SOUZA
et al., 2020).
No processo de humificação ocorre a estabilização do carbono no solo, e isso incide
da adição de compostos mais estáveis com alta energia de fluorescência, por exemplo,
cadeias aromáticas (como grupos quinona), ou pela preservação de compostos mais
resistentes à degradação química, gerando grupos quimicamente estáveis (SENESI et al.,
2016). Devido intervenções humanas nas áreas de veredas, como o aumento de áreas
agrícolas, retirada de água, construção de canais e barragens, supressão da vegetação, e
aumento de infraestruturas como a expansão da urbanização, têm contribuído para
descaracterização e perdas desse ecossistema (ROSOLEN et al., 2015; BRASIL et al.,
2021). Além disso, as mudanças climáticas e incêndios têm sido uma grande ameaça no
processo de degradação das veredas (NUNES et al., 2022). De acordo com Dodla, Wang e
Cook (2012) o clima e meio ambiente, uso da terra e a composição da vegetação são
fatores importantes no controle da formação dos AH.
Técnicas químicas e espectroscópicas vêm sendo empregadas na caracterização e
identificação dos diferentes materiais húmicos, que auxiliam na avaliação das mudanças
estruturais e no grau de evolução química (ENEV et al., 2014; ZHANG et al., 2020;
ARAÚJO et al., 2022). Estas ferramentas são consideradas essenciais para avaliação da
qualidade e das transformações na composição química/estrutural das SH e das interações
desta com a matriz do solo (PEREIRA et al., 2021). Dentre os diferentes procedimentos
espectroscópicos destacam-se: a espectroscopia de fluorescência (465 nm) que está
diretamente relacionado com o grau de humificação das SH, avaliado pelo incremento de
estruturas conjugadas com ressonância de elétrons, tais como anéis aromáticos e radicais
livres do tipo semiquinonas (MILORI et al., 2002); a espectroscopia na região
ultravioleta-visível (UV-Vis) empregada pela avaliação da razão E4/E6, que está
relacionada à condensação estrutural e a aromaticidade dos AH, podendo ser indicativo do
grau de humificação (PEREIRA et al., 2021); a espectroscopia na região do
infravermelho (IV) utilizada para caracterizar e fornecendo informações estruturais e
funcionais das SH, especialmente de grupos oxigenados, proteínas, polissacarídeos e
proporção de grupos aromáticos/alifáticos e hidrofílicos/hidrofóbicos (DOBBSS et al.,
2009; DUARTE; FERNÁNDEZ-GETINO; DUARTE, 2013); e o procedimento de
espectroscopia de ressonância magnética nuclear do carbono-13 em estado sólido (13C
RMN) empregada na análise estrutural de materiais complexos, que envolvem a
42
2 MATERIAL E MÉTODOS
(2)
Onde: VB1 = volume usado para titulação do Branco; VB2 = volume usado para titulação da
amostra; CB = concentração da base (mol/L) (0,2) e mAH = massa de AH em mg (50).
A acidez fenólica (OH fenólica) foi obtida por diferença entre acidez total e a
acidez carboxílica.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
comparação aos solos de veredas antropizadas, o que sugere menor número de moles de H+
e maior evolução química para os AH-V1.
Tabela 2. Acidez total, carboxílica e fenólica, relação E4/E6 de ácidos húmicos isolados das
quatro veredas com diferentes estados de conservação.
Grupos funcionais ácidos Razão
AH Acidez total COOH OH fenólico E4/E6
cmolc kg-1
481,67±68,54 247,47±9,29 234,20±73,20 3,50±0,01
V1
C A C B
755,00±69,26 175,47±84,81 579,53±15,61 2,76±0,04
V2
B B B C
749,00±112,20 159,20±18,75 589,80±127,03 3,24±0,03
V3
B C B B
899,33±73,50 112,67±34,49 786,67±96,75 4,33±0,05
V4
A D A A
Os valores correspondem à média dos tratamentos mais ou menos os desvios padrão. Letras maiúsculas
diferentes entre colunas correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
Ainda na Tabela 2, observa-se que a razão E4/E6 variou de 2,67 a 4,33, sendo que
AH-V4 exibiu maior valor dessa relação e uma baixa relação foi observada em AH-V1,
AH-V2 e AH-V3, sendo menor em AH-V2. A baixa razão E4/E6 indica massa molecular
mais elevada e a maior presença de estruturas aromáticas em comparação com as alifáticas,
consequentemente, maior grau de humificação (ARAÚJO et al., 2021). De acordo com
Pereira et al. (2021) existe relação direta entre os valores da razão E4/E6 e os valores da
relação atômica H/C, uma vez que um grau elevado de alifaticidade conferem valores
maiores para H/C. Esta relação foi observada neste estudo, onde as razões E4/E6 e H/C
foram significativamente maiores para os AH-V4, indicando maior presença de estruturas
alifáticas em relação as aromáticas.
Os espectros obtidos com excitação a 465 nm mostraram variações quanto a IF e
apresentaram uma banda larga típica com picos de emissões posicionadas entre os
comprimentos de onda 520-548 nm (Figura 1). Os valores mais altos de IF ocorreram nos
AH-V1 com pico da intensidade máxima de 698,5 u.a, sendo 2,0 vezes maior que os AH-
V4 (331,9 u.a). Os AH isolados de V2 e V3 apresentaram IF intermediária, sendo maiores
para AH-V2. Milori et al. (2002) explicam que uma alta intensidade de fluorescência está
correlacionada com elevada humificação dos AH, já que a excitação região do azul (λexc=
465 nm) é altamente seletiva com estruturas aromáticas mais complexas.
48
ésteres e, por fim, a banda entre 800 e 900 cm−1 que pode ser atribuídas a deformações de
C−H em grupos aromáticos e de impurezas inorgânicas e organometálicas.
Dessa maneira, nota-se similaridade na funcionalidade dos espectros dos AH
independente da origem e indicam a presença de grupos funcionais essenciais em sua
estrutura química, residindo as principais diferenças apenas na maior intensidade da banda
associada à presença de cadeias aromáticas (1.650 cm-1) para AH-V1 e na região de
impressão digital (entre 1.300 e 900 cm-1) que mostra maior intensidade na banda 1.040
cm-1 relacionada ao C−O em polissacarídeos e álcoois alifáticos para os AH isolados de
V2, V3 e V4, indicando que há efeito do tipo de solo e/ou da vegetação na assinatura
química dos AH, mas não na sua reatividade geral. Segundo Brighenti, Reis e Reis (2010),
embora existam diferenças entre os espectros originados de diferentes ambientes, a feição
dos espectros de cada substância húmica é bastante similar, ocorrendo variações nas
proporções de intensidade e pequenos deslocamentos na frequência de absorção.
13
Nos espectros de C RMN (Figura 3) observam-se bandas características em
determinadas faixas de deslocamentos químicos (δC) para os AH de todas as veredas. Na
Tabela 3, encontram-se os resultados referentes a integração das principais regiões de
deslocamento químico dos respectivos espectros, com as intensidades relativas dos grupos:
C alquílicos (0-40 ppm); C−N, C metoxil e C−O de carboidratos (40-110 ppm); C
aromáticos (110-160 ppm) e; C carboxílicos (160-200 ppm) (STEVENSON, 1994).
Os espectros dos AH das diferentes áreas de veredas apresentaram fortes sinais
entre 10 e 40 ppm, atribuídos aos grupos CH2 e CH3 nas cadeias biopoliméricas de
estruturas de difícil decomposição (CANELLAS et al., 2008). Esses espectros mostram
sinal de maior intensidade em 32 e 35 ppm (atribuídos ao C metileno) para AH-V1, AH-
V2 e AH-V3, indicando estrutura mais recalcitrante e com maiores conteúdos de estruturas
associadas à lignina e C alquílicos de cadeia longa, provavelmente, provenientes de restos
vegetais, principalmente de estruturas rígidas e hidrofóbicas como suberinas, comuns em
palmáceas de ambientes úmidos (DODLA; WANG; COOK, 2012). Acredita-se que o C
metileno surjam da recalcitrância e acúmulo de ceras, lipídios, cutina e polímeros de
suberina das plantas, que tendem a acumular no solo com a humificação, devido à sua
hidrofobicidade e forte associação com a fração mineral do solo (DUARTE;
FERNÁNDEZ-GETINO; DUARTE, 2013).
51
Figura 3. Espectros de 13C RMN de ácidos húmicos (AH) isolados de solos de veredas sob
diferentes estados de conservação.
4 CONCLUSÕES
5 AGRADECIMENTOS
6 REFERÊNCIAS
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56
CONCLUSÃO GERAL
A proximidade das veredas com áreas que são utilizadas por atividades antrópicas
mostraram através da avaliação dos atributos morfológicos, físicos, químicos e biológicos
dos solos e da matéria orgânica, solos extremamente frágeis. Portanto, sensíveis às
mudanças no uso do solo originárias de ações antrópicas.