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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal

Katharine Vinholte de Araújo

ESTADOS DE CONSERVAÇÃO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL


MODIFICAM A QUALIDADE DE SEUS SOLOS

Diamantina
2023
Katharine Vinholte de Araújo

ESTADOS DE CONSERVAÇÃO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL


MODIFICAM A QUALIDADE DE SEUS SOLOS

Tese apresentada à Universidade Federal dos Vales


do Jequitinhonha e Mucuri como parte das
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Produção Vegetal para obtenção do título de
Doutora.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Barros Dobbss


Coorientadora: Prof. Dra. Ingrid Horák-Terra

Diamantina
2023
Catalogação na fonte - Sisbi/UFVJM

D278e Araújo, Katharine Vinholte de


2023 ESTADOS DE CONSERVAÇÃO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL
MODIFICAM A QUALIDADE DE SEUS SOLOS [manuscrito] / Katharine
Vinholte de Araújo. -- Diamantina, 2023.
88 p.

Orientador: Prof. Leonardo Barros Dobbss.


Coorientador: Prof. Ingrid Horák-Terra.

Tese (Doutorado em Produção Vegetal) -- Universidade


Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Programa de Pós-
Graduação em Produção Vegetal, Diamantina, 2023.

1. Ecossistema de Veredas. 2. Organossolos de zonas úmidas


tropicas. 3. Matéria orgânica do solo. 4. Atividade
microbiológica do solo. 5. Ácidos húmicos. I. Dobbss,
Leonardo Barros. II. Horák-Terra, Ingrid. III. Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. IV. Título.

Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da UFVJM com os


dados fornecidos pelo(a) autor(a).
Este produto é resultado do trabalho conjunto entre o bibliotecário Rodrigo Martins Cruz/CRB6-
2886
e a equipe do setor Portal/Diretoria de Comunicação Social da UFVJM
KATHARINE VINHOLTE DE ARAÚJO

ESTADOS DE CONSERVAÇÃO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL


MODIFICAM A QUALIDADE DE SEUS SOLOS

Tese apresentada ao DOUTORADO


EM PRODUÇÃO VEGETAL, nível de
D O UT O R AD O como part e dos
requisitos para obtenção do título de
DOUTORA EM P R O D U Ç Ã O
VEGETAL

Orientador (a): Prof. Dr. Leonardo


Barros Dobbss

Data da aprovação: 28/04/2023

Prof. Dr. LEONARDO BARROS DOBBSS - UFVJM

Prof. Dr. FABRÍCIO DA SILVA TERRA - UFVJM

Prof. Dr. ANDRÉS CALDERÍN GARCÍA - UFRRJ

Prof. Dr.ª ALESSANDRA MONTEIRO DE PAULA - UNB

DIAMANTINA
OFEREÇO

O Deus pai, inteligência suprema


e causa primeira de todas as
coisas. Ao governador e mestre
Jesus. Aos meus alicerces Pai e
Mãe. E aos familiares e amigos
de jornada.

“A vida é sempre o resultado de nossa


própria escolha.”
Chico Xavier
AGRADECIMENTOS

Deus eterno, pela benção da vida.


Mãe e Pai amados, Guiomar e Erinaldo, alicerces de jornada.
Aos irmãos Ana Paula, Roggêr, Sabrine e sobrinho Johan pelo apoio e amizade.
Ao companheiro de vida Diego pelo apoio e dedicação diária.
Ao orientador querido Leonardo Barros Dobbss pela oportunidade, orientação e confiança.
A coorientadora Ingrid Horák-Terra pelo grande enriquecimento e apoio neste trabalho.
A todos familiares e amigos de Santarém, Unaí e Diamantina pelas vibrações de amizade.
A Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) campus Diamantina
e Unaí e ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal.
Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Parque Nacional de
Brasília (PNB), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Vila Velha (UVV) pelas
contribuições para o desenvolvimento neste trabalho.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 e o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq - 305255/2020-7).
Agradeço a CAPES e ao CNPq pelo apoio financeiro essencial para a realização da pesquisa.
i

RESUMO

KATHARINE VINHOLTE DE ARAÚJO. ESTADOS DE CONSERVAÇÃO DE


VEREDAS DO BRASIL CENTRAL MODIFICAM A QUALIDADE DE SEUS SOLOS.
2023. 88p. (Tese – Doutorado em Produção Vegetal) – Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2023.

As veredas são zonas úmidas tropicais que desempenham serviços ecossistêmicos essenciais
para a manutenção hídrica, estocagem de carbono orgânico no solo e para diversidade
biológica no bioma Cerrado. No entanto, a antropização, aliada ao conhecimento limitado
sobre aspectos importantes desse ecossistema tem levado ao aumento das perdas, má
preservação e a redução de seus serviços ecossistêmicos. Neste sentido, visando a ampliação
de pesquisas sobre a qualidade e conservação do solo do ecossistema de veredas os objetivos
desse estudo foram: i) compreender como possíveis alterações nos atributos morfológicos,
físicos, químicos e biológicos de solos de veredas com diferentes estados de conservação
(conservado e antropizado) poderão ser utilizados como indicadores de suas qualidades; ii)
avaliar atributos microbiológicos do solo, como a biomassa microbiana, a respiração basal e a
atividade enzimática, bem como os índices obtidos a partir destas variáveis, como indicadores
de qualidade, para compreensão das correlações, ou ausência delas, entre as suas funções no
solo e as características do ecossistema de veredas; iii) avaliar as frações da matéria orgânica
do solo por meio de seu fracionamento químico; iv) extrair, purificar e caracterizar química e
espectroscopicamente os ácidos húmicos isolados dos solos de veredas em diferentes estados
de conservação; e v) estabelecer uma possível interpretação da relação entre os atributos
avaliados e a qualidade dos solos e da matéria orgânica por intermédio da utilização de análise
multivariada. Para isto, foram estudadas quatro veredas com diferentes estados de
conservação: conservada (V1 – vereda em unidade de conservação); e antropizadas (V2 –
vereda com uso agrícola no entorno; V3 – vereda cortada por estrada; V4 – vereda em área
urbana). Foi realizada a descrição morfológica e avaliados atributos físicos (umidade,
densidade, porosidade e composição orgânica e mineral) e químicos (acidez, disponibilidade
de nutrientes e fertilidade) do solo em perfis de um metro de profundidade nas diferentes
veredas. Também foram avaliados nas camadas superficiais (0-20 cm) os atributos químicos
relacionados a matéria orgânica (C no solo e frações da matéria orgânica) e microbiológicos
do solo (atividade enzimática, biomassa e respiração microbiana), ainda, caracterizados os
ácidos húmicos por meio da análise elementar, acidez total, de dados espectroscópicos (IF,
13
UV-Vis, FTIR e C RMN). Os atributos avaliados e suas relações nos distintos estudos
mostraram-se eficientes na avaliação da qualidade ambiental das veredas, de maneira geral,
ii

atestaram que a proximidade das veredas com áreas que são utilizadas por atividades
antrópicas alteram a qualidade do solo e da matéria orgânica, em destaque, reduzindo
expressivamente o teor de carbono orgânico no solo e nas frações húmicas da matéria
orgânica, a capacidade de retenção de água, a biomassa e respiração microbiana, a atividade
enzimática, bem como, refletindo em ácidos húmicos com menor evolução química (grau de
humificação). Isso sustenta que as veredas são ecossistemas complexos e sensíveis às
mudanças no uso do solo originárias de ações antrópicas e sugere-se sua proteção integral
para manter suas funções ecossistêmicas.

Palavras-chave: Ácidos húmicos. Atividade enzimática. Biomassa microbiana. Matéria


orgânica. Mudança de uso do solo. Zonas úmidas tropicais.
iii

ABSTRACT

KATHARINE VINHOLTE DE ARAÚJO. CONSERVATION STATUS OF SAVANNA


PALM SWAMPS (VEREDAS) FROM CENTRAL BRAZIL CHANGES THEIR SOIL
QUALITY. 2023. 88p. (Thesis – Doctorate in Vegetable Production) – Federal University of
the Jequitinhonha and Mucuri Valley, Diamantina, 2023.

Veredas are tropical wetlands that provide essential ecosystem services for water
maintenance, soil organic carbon storage, and biological diversity in the Cerrado biome.
However, the anthropization combined with the limited knowledge about important aspects of
this ecosystem has led to increased losses, poor preservation and the reduction of its
ecosystem services. In this sense, aiming at the expansion of studies on soil quality and
conservation of the veredas ecosystem the objectives of this study were: i) to understand how
possible changes in morphological, physical, chemical and biological attributes of soils of
veredas with different states of conservation (conserved and anthropized) can be used as
indicators of their qualities; ii) evaluate soil microbiological attributes, such as microbial
biomass, basal respiration and enzyme activity, as well as the indices obtained from these
variables as quality indicators for understanding the correlations or lack thereof between their
functions in the soil and characteristics of the veredas ecosystem; iii) avaliar as frações da
matéria orgânica do solo através de fracionamento químico; iv) extrair, purificar e caracterizar
química e espectroscopicamente os ácidos húmicos isolados de solos de veredas em diferentes
estados de conservação; and v) establish a possible interpretation of the relationship between
the evaluated attributes and the quality of soils and organic matter through the use of
multivariate analysis. For this, four veredas with different conservation status were studied:
conserved (V1 - vereda in conservation unit); and anthropized (V2 - vereda with surrounding
agricultural activity; V3 - vereda cut by road; V4 - vereda in urban area). A morphological
description was made and physical (moisture, density, porosity, and organic and mineral
composition) and chemical (acidity, nutrient availability, and fertility) attributes of the soil
were evaluated in one-meter deep profiles in different veredas. Chemical attributes related
with organic matter (soil C and organic matter fractions) and soil microbiology (enzyme
activity, microbial biomass and respiration) were also evaluated in the superficial layers (0-20
cm), and humic acids were characterized through elemental analysis, total acidity,
13
spectroscopic data (FI, UV-Vis, FTIR and C NMR). The attributes evaluated and their
relationships in the different studies were shown efficient in the evaluation of the
environmental quality of veredas, generally attesting that the proximity of the veredas with
areas that are used by anthropic activities changes the quality of the soil and organic matter, in
iv

highlight, expressively reducing the organic carbon content in soil and humic fractions of
organic matter, water retention capacity, microbial biomass and respiration, enzymatic
activity, as well as reflecting in humic acids with lower chemical evolution (degree of
humification). This supports that veredas are complex ecosystems and sensitive to changes in
land use originating from anthropic actions, and their integral protection is suggested in order
to maintain their ecosystem functions.

Keywords: Humic acids. Enzymatic activity. Microbial biomass. Organic matter. Land use
change. Tropical wetlands.
v

LISTA DE FIGURAS

ARTIGO CIENTÍFICO I: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM OS


ATRIBUTOS DO SOLO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL
Figura 1. (a) Mapa de localização e (b) imagens de satélite (GOOGLE EARTH, 2023) de
V1 – vereda em uma unidade de conservação; (c) V2 – vereda com uso agrícola no
entorno; (d) V3 – vereda cortada por estrada; (e) V4 – vereda em área urbana. ................. 10
Figura 2. Correlação entre os atributos determinados em amostras de solo de veredas sob
diferentes estados de conservação. ........................................................................................ 6
Figura 3. Fracionamento das comunalidades das variáveis utilizadas na PCA. A
comunalidade de cada variável corresponde ao comprimento total da barra; as seções das
barras representam a proporção sua variância em cada componente principal. As variáveis
são ordenadas pelo componente com a maior parcela de variância. Preto: CP1. Cinza
escura: CP2. ........................................................................................................................... 7
Figura 4. Perfil das pontuações da PCA dos dois componentes principais (a) componentes
principais 1 (CP1) e (b) componentes principais 2 (CP2) utilizando atributos morfológicos,
físicos e químicos de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. .................... 8
Figura 5. Biplot das componentes principais 1 e 2 representando distribuições amostrais e
autovetores das propriedades avaliadas de solos de vereda sob diferentes estados de
conservação (V1 – vereda em unidade de conservação; V2 – vereda com uso agrícola no
entorno; V3 – vereda cortada por estrada; e V4 – vereda em área urbana). ........................ 12
ARTIGO CIENTÍFICO II: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM A
QUALIDADE BIOLÓGICA E AS CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA
ORGÂNICA EM SOLOS DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL
Figura 1. A) Carbono da biomassa do solo (C-BMS), (B) Respiração Basal do Solo (RBS),
(C) Quociente metabólico (qCO2), e (D) Quociente microbiano (qMic) da camada
superficial de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. Letras minúsculas
diferentes correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05. ......... 28
Figura 2. Biplot da análise de componentes principais (PCA) dos atributos químicos e
microbiológicos da camada superficial dos solos de veredas sob diferentes estados de
conservação (a). Proporção da contribuição dos atributos avaliados com as variâncias do
primeiro componente – CP1 (b) e segundo componente – CP2 da PCA (c). V1: vereda em
unidade de conservação; V2: vereda com uso agrícola no entorno; V3: vereda cortada por
estrada; e V4: vereda em área urbana. ................................................................................. 32
ARTIGO CIENTÍFICO III: CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E
ESPECTROSCÓPICA DE ÁCIDOS HÚMICOS ISOLADOS DE SOLOS DE
VEREDAS SOB DIFERENTES ESTADOS DE CONSERVAÇÃO
Figura 1. Espectro de emissão de fluorescência por excitação a 465 nm de ácidos húmicos
(AH) isolados de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. ........................ 48
Figura 2. Espectros na região de infravermelho obtidos com transformada de Fourier
(FTIR) de ácidos húmicos (AH) isolados de solos de veredas sob diferentes estados de
conservação. ........................................................................................................................ 49
Figura 3. Espectros de 13C RMN de ácidos húmicos (AH) isolados de solos de veredas sob
diferentes estados de conservação. ...................................................................................... 51
vi

LISTA DE TABELAS

ARTIGO CIENTÍFICO I: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM OS


ATRIBUTOS DO SOLO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL
Tabela 1. Atributos morfológicos de solos de veredas sob diferentes estados de
conservação. ........................................................................................................................ 13
Tabela 2. Atributos físicos e composição orgânica de solos de veredas sob diferentes
estados de conservação. ....................................................................................................... 16
Tabela 3. Atributos químicos de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. .. 4
ARTIGO CIENTÍFICO II: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM A
QUALIDADE BIOLÓGICA E AS CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA
ORGÂNICA EM SOLOS DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL
Tabela 1. Teores de carbono orgânico no solo e nas frações húmicas (g kg-1); grau de
condensação da matéria orgânica (g kg-1); estabilidade estrutural da matéria orgânica e
grau de humificação da matéria orgânica (%) da camada superficial de solos de veredas
sob diferentes estados de conservação................................................................................. 25
Tabela 2. Atividade enzimática da camada superficial de solos de veredas sob diferentes
estados de conservação. ....................................................................................................... 29
ARTIGO CIENTÍFICO III: CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E
ESPECTROSCÓPICA DE ÁCIDOS HÚMICOS ISOLADOS DE SOLOS DE
VEREDAS SOB DIFERENTES ESTADOS DE CONSERVAÇÃO
Tabela 1. Composição elementar (livres de cinzas e de água) e relações atômicas de ácidos
húmicos isolados das quatro veredas sob diferentes estados de conservação. .................... 45
Tabela 2. Acidez total, carboxílica e fenólica, relação E4/E6 de ácidos húmicos isolados das
quatro veredas com diferentes estados de conservação. ...................................................... 47
Tabela 3. Distribuição de carbono (%) nas regiões destinadas a diferentes deslocamentos
químicos dos espectros de 13C RMN dos AH isolados de solos de veredas sob diferentes
estados de conservação. ....................................................................................................... 52
SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................... i
ABSTRACT ........................................................................................................................ iii
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... v
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ vi
INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................................... 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 3
ARTIGO CIENTÍFICO I: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM OS
ATRIBUTOS DO SOLO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL .............................. 5
RESUMO.............................................................................................................................. 5
ABSTRACT ......................................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 9
2.1 Localização, descrição e amostragem .......................................................................... 9
2.2 Determinações analíticas ............................................................................................. 11
2.2.1 Atributos morfológicos e classificação do solo ...................................................... 11
2.2.2 Atributos físicos e matéria orgânica ...................................................................... 11
2.2.3 Atributos químicos .................................................................................................. 12
2.3 Análises estatísticas ..................................................................................................... 12
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 13
3.1 Atributos morfológicos e classificação do solo .......................................................... 13
3.2 Atributos físicos e composição orgânica .................................................................... 15
3.3 Atributos químicos ........................................................................................................ 3
3.4 Análise multivariada ..................................................................................................... 5
3.4.1 Entrada de materiais orgânicos e inorgânicos ........................................................ 7
3.4.2 Fertilidade natural ................................................................................................. 10
3.4.3 Efeitos da antropização .......................................................................................... 11
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 13
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 14
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 14
ARTIGO CIENTÍFICO II: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM A
QUALIDADE BIOLÓGICA E AS CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA
ORGÂNICA EM SOLOS DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL ........................... 18
RESUMO............................................................................................................................ 18
ABSTRACT ....................................................................................................................... 19
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 20
2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 21
2.1 Localização e amostragem do solo ............................................................................. 21
2.2 Fracionamento químico e índices de qualidade da matéria orgânica .................... 22
2.3 Biomassa microbiana .................................................................................................. 22
2.4 Respiração basal do solo ............................................................................................. 23
2.5 Atividade enzimática do solo ...................................................................................... 23
2.6 Análises estatísticas ..................................................................................................... 24
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 24
3.1 Carbono orgânico total e frações húmicas da matéria orgânica do solo ................ 24
3.2 Biomassa e respiração microbiana do solo ................................................................ 27
3.3 Atividade enzimática do solo ...................................................................................... 29
3.4 Análise multivariada ................................................................................................... 31
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 33
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 34
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 34
ARTIGO CIENTÍFICO III: CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E
ESPECTROSCÓPICA DE ÁCIDOS HÚMICOS ISOLADOS DE SOLOS DE
VEREDAS SOB DIFERENTES ESTADOS DE CONSERVAÇÃO ............................ 38
RESUMO............................................................................................................................ 38
ABSTRACT ....................................................................................................................... 39
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 40
2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 42
2.1 Localização e amostragem do solo ............................................................................. 42
2.2 Extração e purificação dos ácidos húmicos ............................................................... 42
2.3 Caracterização dos ácidos húmicos............................................................................ 43
2.3.1 Composição elementar, acidez total, grupamentos COOH e OH fenólicos .......... 43
2.3.2 Espectroscopia de fluorescência e coeficiente E4/E6 ............................................. 44
2.3.3 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier ........................... 44
2.3.4 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear de 13C .................................. 44
2.4 Análises dos dados ....................................................................................................... 44
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 45
4 CONCLUSÕES............................................................................................................... 53
5 AGRADECIMENTOS ................................................................................................... 53
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 53
CONCLUSÃO GERAL .................................................................................................... 57
1

INTRODUÇÃO GERAL

O bioma Cerrado ocupa aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados


do território brasileiro, e está localizado essencialmente no Planalto Central do Brasil e
abriga várias fitofisionomias (vegetações com características comuns que se encontram
dentro de uma determinada região) incluindo florestas, campos, formações savânicas como
cerrado típico e vereda (RIBEIRO; WALTER, 1998). Compondo uma rica diversidade
biológica e fundamental para a manutenção do clima e dos recursos naturais (LAHSEN;
BUSTAMANTE; DALLA-NORA, 2016).
As veredas são ecossistemas tropicais úmidos, associadas a solos hidromórficos e
ao afloramento do lençol freático, usualmente em sua paisagem exibem a predominância
da palmeira arbórea Mauritia flexuosa L. f. (buriti) emergente em meio a agrupamentos de
espécies arbustivo-herbáceas (RIBEIRO; WALTER, 1998). Possuem grande importância
ambiental, pois desempenham serviços ecossistêmicos extremamente essenciais, tais como:
nascentes de água; recarga de aquíferos; contribuem significativamente para a
biodiversidade, com fauna e flora endêmicas; exibem "efeito esponja" amortecendo as
alterações de eventos locais de precipitação; armazenam carbono no solo; filtram resíduos
químicos utilizados na agricultura (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014; RIBEIRO et
al., 2019; HORÁK-TERRA et al., 2022a). Muitos afluentes do Rio São Francisco, que é
um dos rios mais importantes do Brasil e da América do Sul, localizados no noroeste de
Minas Gerais (região do presente estudo), têm veredas como cabeceiras (HORÁK-TERRA
et al., 2022b)
No entanto, com o processo de ocupação do solo pela expansão agrícola na região
central do Brasil promoveu mudanças no uso do solo e, consequentemente, atingindo o
ecossistema de veredas com impactos ambientais diretos e nas áreas adjacentes que são
utilizadas principalmente para agricultura e pecuária (SALES et al., 2020), além de outros
tipos de exploração antrópica com diferentes fins, desrespeitando a legislação brasileira
vigente (Código Florestal Brasileiro - Lei 12.727/12 e Lei Estadual 9.682/8 de Minas
Gerais), que estabelece uma faixa marginal, em proteção horizontal, com largura mínima
de 50 metros a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado para a proteção dos
corpos d'água e do solo (SOUSA et al., 2011; SOUSA et al., 2015). Além dessa
problemática, o fogo empregado no manejo de suas áreas marginais e as queimadas que
ocorrem periodicamente durante o período de estiagem, origina o rompimento do
2

equilíbrio natural do carbono do solo nesses locais (DUARTE; FERNÁNDEZ-GETINO;


DUARTE, 2013). As veredas são ambientes sensíveis a alterações e possuem pouca
capacidade regenerativa quando perturbadas (RAMOS et al., 2006). Além disso, as
mudanças climáticas (anos mais secos com pouca precipitação e períodos mais quentes) e
o desmatamento têm sido uma grande ameaça no processo de degradação das veredas
(HOFMANN et al., 2021; NUNES et al., 2022). Neste sentido, seus solos que representam
um importante componente no ciclo biogeoquímico do carbono estão susceptíveis a
grandes perdas de reservatórios de carbono por volatilização, que podem contribuir como
fonte de gases de efeito estufa (CHEN et al., 2018).
Nesse cenário, os solos das veredas sofrem os efeitos da ocupação com impactos
pouco conhecidos. Atualmente, existem poucos estudos sobre o ecossistema de veredas,
especialmente pesquisas para investigar e caracterizar os efeitos das influências antrópicas
sobre os atributos do solo e da matéria orgânica. Dentre os estudos sobre solos de veredas
na região central do Brasil, destacam-se os desenvolvidas por Sousa et al. (2011); Rosolen
et al. (2015); Sousa et al. (2015); Ribeiro et al. (2019); Sales et al. (2020); Moreira et al.
(2021); de Horák-Terra et al. (2022a, 2022b); e Santos et al. (2023) que concentram-se
principalmente na avaliação da influência da agricultura e agropecuária no estoque de
carbono e na contaminação por metais pesados em seus solos e no cerrado do entorno.
Portanto, investigações mais detalhadas de solos vereda devem ser realizadas de forma a
contribuir para o conhecimento sobre esses ambientes, principalmente para auxiliar em
projetos de políticas públicas para o fortalecimento da proteção legal e recuperação
ambiental desta fitofisionomia, assim como, para os objetivos de desenvolvimento
sustentável e a mitigação e redução de impactos nas mudanças climáticas propostas na
agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU).
Neste sentido, visando a ampliação de pesquisas sobre a qualidade e conservação
do solo do ecossistema de veredas. Este estudo partiu-se da hipótese geral de que
interferências antrópicas nos ambientes de vereda levam a modificações da qualidade de
seus solos. Para testar essa hipótese foram estabelecidos os seguintes objetivos: i)
compreender como possíveis alterações nos atributos morfológicos, físicos, químicos e
biológicos de solos de veredas com diferentes estados de conservação (conservado e
antropizado) poderão ser utilizados como indicadores de suas qualidades; ii) avaliar
atributos microbiológicos do solo, como a biomassa microbiana, a respiração basal e a
atividade enzimática, bem como os índices obtidos a partir destas variáveis, como
3

indicadores de qualidade, para compreensão das correlações, ou ausência delas, entre as


suas funções no solo e as características do ecossistema de veredas; iii) avaliar as frações
da matéria orgânica do solo por meio de seu fracionamento químico; iv) extrair, purificar e
caracterizar química e espectroscopicamente os ácidos húmicos isolados dos solos de
veredas em diferentes estados de conservação; e v) estabelecer uma possível interpretação
da relação entre os atributos avaliados e a qualidade dos solos e da matéria orgânica por
intermédio da utilização de análise multivariada.
Diante do exposto, o presente estudo foi elaborado em três capítulos estruturados
como artigos científicos. O primeiro artigo, intitulado “Intervenções antrópicas alteram os
atributos do solo de veredas do Brasil central” teve como objetivo determinar e avaliar
atributos morfológicos, físicos e químicos em perfis de solo (até um metro) de quatro
veredas da região central do Brasil, sob diferentes estados de conservação. O segundo
artigo, intitulado “Intervenções antrópicas alteram a qualidade biológica e as características
da matéria orgânica em solos de veredas do Brasil central” objetivou avaliar as mesmas
áreas de veredas, porém, a partir da quantificação de atributos químicos e microbiológicos
das camadas superficiais de solos, como potenciais indicadores de qualidade do solo. Já o
terceiro artigo, intitulado “Caracterização química e espectroscópica de ácidos húmicos
isolados de solos de veredas sob diferentes estados de conservação” teve como objetivo
caracterizar, por meio de métodos químicos e espectroscópicos, os ácidos húmicos
oriundos também da camada superficial dos solos das diferentes veredas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUARTE, R. M. B. O.; FERNÁNDEZ-GETINO, A. P.; DUARTE, A. C. Humic acids as


proxies for assessing different Mediterranean forest soils signatures using solid-state
CPMAS 13C NMR spectroscopy. Chemosphere, v. 91, v. 11, p. 1556-1565, 2013.
HORÁK-TERRA, I. et al. Impacts of anthropization on soil processes and attributes of a
savana palm swamp (vereda) in an agricultural area of Central Brazil. Rev Bras Cienc
Solo, v. 46, p. 1–28, 2022a.
HORÁK-TERRA, I. et al. Soil processes and properties related to the genesis and
evolution of a Pleistocene savanna palm swamp (vereda) in central Brazil. Geoderma, v.
410, 115671, 2022b.
LAHSEN, M.; BUSTAMANTE, M. M.; DALLA-NORA, E. L. M. Undervaluing and
overexploiting the Brazilian Cerrado at our peril. Environ. Sci. Policy Sustain. Dev., v. 58,
p. 4–15, 2016.
MOREIRA, C. P. et al. Biochemical activity and microbial biomass in wetlands (vereda)
and well-drained soils under native vegetation types in Brazilian Cerrado. Applied Soil
Ecology, v. 160, 103840, 2021.
4

RAMOS, M. V. V. et al. Veredas do Triângulo Mineiro: Solos, água e uso. Cienc


Agrotec., v. 30, p. 283–293, 2006.
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5

ARTIGO CIENTÍFICO I: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM OS


ATRIBUTOS DO SOLO DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL

RESUMO

As veredas desempenham um papel fundamental na manutenção do equilíbrio dos


processos biogeoquímicos que regulam a disponibilidade e a qualidade dos recursos
hídricos no bioma Cerrado brasileiro. Com a degradação desse ecossistema, observam-se
indícios de um ambiente extremamente frágil e muito suscetível à intervenção humana.
Neste estudo, foram selecionados quatro perfis de solo (até um metro de profundidade) de
veredas da região central do Brasil, localizadas em área conservada (V1 – vereda em
unidade de conservação); e antropizadas (V2 – vereda com uso agrícola no entorno; V3 –
vereda cortada por estrada; V4 – vereda em área urbana). Foram analisados atributos
morfológicos, físicos e químicos e uma análise multivariada (PCA) para identificar os
processos que podem estar provocando alterações nos solos das veredas. As veredas
situadas em ambientes antropizados apresentaram alterações nos atributos morfológicos,
físicos e químicos do solo avaliados, sendo que área urbana no entorno da vereda V4 foi a
que teve reduzido expressivamente o teor de carbono (até ~94%), o que refletiu na
capacidade de retenção de água. As mudanças nos atributos desses perfis de solo foram
relacionadas à entrada de materiais orgânicos e inorgânicos e à sua fertilidade natural.
Essas descobertas sustentam que as veredas são ecossistemas complexos muito sensíveis às
intervenções humanas e sugerem que elas precisam ser protegidas para manter suas
funções ecossistêmicas.

Palavras-chave: Bioma Cerrado. Serviços ecossistêmicos. Organossolos. Mudança de uso


do solo. Zonas húmidas tropicais.
6

ABSTRACT

Veredas play a key role in maintaining the balance of biogeochemical processes regulating
the availability and quality of water resources in the Brazilian Cerrado (savanna) Biome.
With the degradation of these ecosystems, evidence of an extremely fragile environment
and very susceptible to human intervention have been observed. In this study, four soil
profiles (up to one meter deep) were selected from veredas in the central region of Brazil,
located in conserved (V1 – vereda in a conservation unit); and anthropized (V2 – vereda
surrounded by agricultural activities; V3 – vereda cut by a road; V4 – vereda in urban area)
conditions. Morphological, physical, and chemical attributes were analyzed, and
multivariate analysis (PCA) was performed to identify the processes that may be driving
changes in the soils of these veredas. The veredas in the anthropized environments
presented changes in morphological, physical, and chemical soil attributes, where the
urban area around the V4 had excessively reduced the organic carbon content (up to ~94%)
and water retention capacity. The changes in the evaluated attributes of these soil profiles
were related to the input of organic and inorganic materials, and their natural fertility.
These findings support that veredas are complex ecosystems very sensitive to human
interventions and suggests that they need to be protected to maintain their ecosystem
functions.
Keywords: Cerrado biome. Ecosystem services. Organosols. Land use change. Tropical
wetlands.
7

1 INTRODUÇÃO

As zonas úmidas tropicais são sistemas únicos que contribuem para uma
multiplicidade de serviços ecossistêmicos e desempenham um papel importante no ciclo
global de carbono (SJÖGERSTEN et al., 2021). Embora ocupem apenas 4-6% da
superfície terrestre, uma quantidade substancial de carbono orgânico do solo é armazenada
nessas áreas, correspondendo a 20-25% do armazenamento de carbono orgânico global
(Chen et al., 2018).
No Brasil, as veredas são zonas úmidas tropicais amplamente encontradas no bioma
Cerrado e têm como característica dominante a formação de solos hidromórficos
associados a um nível de variação hídrica relativamente estável (HORÁK-TERRA et al.,
2022a). Esses ambientes são facilmente reconhecidos na paisagem pela presença da
palmeira Mauritia flexuosa L. f. (buriti), que emerge em meio a agrupamentos de espécies
arbustivo-herbáceas (RIBEIRO; WALTER, 1998). Como a vegetação da vereda é
dominada pela palmeira buriti, seus restos (folhas, frutos, caules e raízes) são importantes
fontes de matéria orgânica para a formação de horizontes hísticos (HORÁK-TERRA et al.,
2022b). Este tipo de horizonte, de acordo com sua posição no perfil do solo pode definir
classes de Organossolos (SANTOS et al., 2018), classe de grande ocorrência neste
ecossistema (HORÁK-TERRA et al., 2022a).
As veredas desempenham papel fundamental no balanço hídrico dos córregos no
ambiente do Cerrado (RAMOS et al., 2006), funcionando como cabeceiras (nascentes) de
muitos afluentes no norte e noroeste do estado de Minas Gerais (região deste estudo), que
deságuam no Rio São Francisco, um dos rios mais importantes do Brasil e da América do
Sul. Por causa de seus solos orgânicos se comportarem como “esponjas”, amortecem as
mudanças nos eventos de precipitação locais, armazenando a água da chuva e
disponibilizando-a aos córregos por meio de vazão lenta, mesmo nos períodos mais secos
do ano (ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). Dessa maneira, as veredas são
essenciais na manutenção do equilíbrio dos processos biogeoquímicos que regulam a
disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos (SOUSA et al., 2015).
Além do importante papel das veredas na recarga dos aquíferos, esse ecossistema
também contribui significativamente para a biodiversidade, com fauna e flora endêmicas
(ROSOLEN; OLIVEIRA; BUENO, 2014). Armazenam carbono em seus solos, impedindo
sua liberação como gases de efeito estufa, e são importantes arquivos de mudanças
8

paleoambientais e paleoclimáticas (SOUSA et al., 2015; ROSOLEN; OLIVEIRA;


BUENO, 2014; HORÁK-TERRA et al., 2022a, 2022b). As veredas no Brasil central vêm
se formando desde o Pleistoceno tardio, por volta de 34.000 anos AP, como visto na vereda
de Pau Grande (Parque Nacional Grande Sertão Veredas, norte de Minas Gerais)
(HORÁK-TERRA et al., 2022a) e na região do Parque Nacional de Brasília (estado do
Distrito Federal), formado antes de 35.000 anos AP (VIANA, 2022). A legislação vigente
assegura a preservação dessas áreas úmidas, tanto em nível federal (Código Florestal
Brasileiro, desde 1934, e sua versão mais atualizada Lei 12.727/12) quanto em nível
estadual (Lei Estadual 9.682/8 de Minas Gerais) ao considerar as veredas como áreas de
preservação permanente (APP). No entanto, têm sido observadas extensas áreas de
recargas das veredas convertidas em pastagens, cultivos agrícolas e usadas para
carvoamento (SOUSA et al., 2015).
Com a degradação das veredas, evidências de um ambiente extremamente frágil e
muito susceptível a intervenção humana têm sido verificadas. Um estudo realizado na
vereda Primavera (Bonfinópolis de Minas, noroeste do estado de Minas Gerais, Brasil)
mostrou que vários processos do solo, como subsidência, redução da capacidade de
armazenamento de água, redução de carbono orgânico (~22%) e declínio do estoque de
carbono (~ 14 kg m-2) foram desencadeadas pela remoção da cobertura vegetal e
construção de um canal de drenagem há aproximadamente 20 anos (HORÁK-TERRA et
al., 2022a). Normalmente quando os solos orgânicos são drenados, seus poros são
reduzidos e seus materiais sólidos tornam-se endurecidos a ponto de se assemelharem a
rochas (GRZYWNA, 2017; HORÁK-TERRA et al. 2022b) adquirindo um comportamento
hidrofóbico e se tornando muito mais suscetíveis a incêndios, uma vez que a matéria
orgânica seca torna um potente combustível (HORÁK-TERRA et al., 2022b). Além disso,
outras práticas como mineração de argila e turfa, avanço da urbanização e construção de
estradas, também vêm tornando esses ambientes mais vulneráveis e suscetíveis à
degradação (ARAÚJO et al., 2002).
A antropização combinada com o conhecimento limitado sobre aspectos importantes
desse ecossistema leva ao aumento das perdas, má preservação e redução dos serviços
ecossistêmicos (HORÁK-TERRA et al., 2022a). Nesse cenário, solos de veredas vêm
sofrendo os efeitos da ocupação com impactos pouco conhecidos, necessitando de
investigações detalhadas como forma de entendê-los.
9

Deste modo, a hipótese desse estudo é que as diferentes interferências antrópicas nos
ambientes de vereda alteram significativamente os atributos de seus solos, tendo como
referência os atributos da vereda situada no ambiente conservado. Para testar essa hipótese
foi proposto o objetivo de determinar e avaliar atributos morfológicos, físicos e químicos
em perfis de solo (até um metro de profundidade) de quatro veredas da região central do
Brasil, localizadas em ambiente conservado e antropizados, e identificar os processos que
podem estar controlando a natureza e as mudanças nos solos das veredas.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Localização, descrição e amostragem

As veredas do presente estudo situam-se no Distrito Federal (V1) e na região


noroeste do estado de Minas Gerais (V2, V3 e V4) inseridas no bioma Cerrado, Brasil
(Figura 1), mas sob diferentes estados de conservação: conservada (V1 - vereda em
unidade de conservação) e antropizadas (V2 - vereda com uso agrícola no entorno; V3 -
vereda cortado por estrada; V4 - vereda em área urbana).
A vereda V1 está localizada em uma unidade de conservação, no Parque Nacional
de Brasília, em Brasília-DF (15°69’00’’S e 48°02’42’’W; 1.075m de altitude). A região é
caracterizada pelo clima Aw, ou seja, savana tropical com características de inverno seco,
de acordo com o sistema de classificação de Köppen (ALVARES et al., 2013), com
temperatura média anual de 21°C e precipitação média anual na ordem de 1600 mm
(INMET, 2022). A área da vereda apresenta vegetação natural circundante constituída por
Cerrado sensu stricto e mata de galeria inundável (curso d’água) e está situada na sub-
bacia do ribeirão do Torto. A vereda também possui afloramento hídrico e abastece a
maior massa d´água da unidade de conservação, o lago Santa Maria (Figura 1b).
As veredas V2, V3 e V4 estão localizadas na sub-bacia do rio Urucuia, mesorregião
noroeste de Minas Gerais, cujo clima é classificado Aw de Köppen (ALVARES et al.,
2013). A vereda V2 localiza-se na área do Assentamento São Miguel, zona rural no
município de Unaí (15°98’09’’S e 46°56’85’’W; 895 m de altitude), com temperatura e
precipitação pluviométrica anual média de 24°C e 1200 mm, respectivamente (INMET,
2022). É determinada como área de preservação permanente, e está circundada por áreas
de uso agrícola com cultivo de culturas anuais (milho, soja, feijão e mandioca) e por áreas
de vegetação natural (Cerrado sensu stricto) remanescente (Figura 1c).
10

As veredas V3 (15°83’59’’S e 46°01’74’’W; 527m de altitude) e V4 (15°92’14’’S


e 46°10’56’’W; 503m de altitude) estão localizadas no município de Arinos, estado de
Minas Gerais. A região do município de Arinos apresenta temperatura média anual de
23,6°C e a precipitação média anual é de 1180 mm (INMET, 2022).

Figura 1. (a) Mapa de localização e (b) imagens de satélite (GOOGLE EARTH, 2023) de
V1 – vereda em uma unidade de conservação; (c) V2 – vereda com uso agrícola no
entorno; (d) V3 – vereda cortada por estrada; (e) V4 – vereda em área urbana.
11

A vereda V3 é atravessada pela rodovia MG 479 construída na década de 1980


(Figura 1d), que provocou o represamento do curso d´água natural. Enquanto um lado tem-
se uma zona encharcada (local de amostragem), o outro lado encontrava-se seco com
resquícios de passagem de fogo na vegetação. Na zona do represamento, também se
observou o acúmulo de sedimentos minerais oriundos de solo (bordas da estrada) para as
partes mais baixas da vereda. Já a vereda V4 está localizada no perímetro urbano de Arinos
(Figura 1e), e é uma área de preservação permanente, embora seu entorno esteja
urbanizado desde o início do século XX. Relatos indicam que as primeiras construções
foram erguidas em seu entorno devido à proximidade do rio Urucuia.
Os perfis de solo foram amostrados nas seguintes profundidades: 0-20, 20-40, 40-
60, 60-80 e 80-100 cm (três perfis para cada vereda) usando um trado holandês em torno
de um ponto central dentro do limite das veredas, definidos pela vegetação distinta e
próximos as áreas de recarga hídrica (fundo plano). As amostras de solo foram
acondicionadas em sacos plásticos pré-identificados e transportadas ao laboratório para
caracterização analítica.

2.2 Determinações analíticas

2.2.1 Atributos morfológicos e classificação do solo


Descrições morfológicas como textura e consistência foram determinadas seguindo
a metodologia descrita no Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo (SANTOS et
al., 2015). A classificação do material orgânico foi realizada em função do grau de
decomposição com emprego da escala de decomposição de von Post (VP) (STANEK;
SILC, 1977). A cor do solo em pirofosfato de sódio e os teores de fibras não esfregadas
(FNE) e esfregadas (FE) seguiram os testes para caracterização de Organossolos, conforme
a metodologia proposta por Lynn, Mckinzie e Grossman (1974), descrito no Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos - SiBCS (SANTOS et al., 2018). O SiBCS (SANTOS
et al., 2018) foi utilizado para a classificação dos solos.

2.2.2 Atributos físicos e matéria orgânica

Densidade aparente do solo (Ds) e da matéria orgânica (Dmo), resíduo mínimo


(RM), material mineral (MM) e umidade gravimétrica (Ug) foram determinados de acordo
com os Testes para Caracterização de Organossolos (LYNN; MCKINZIE; GROSSMAN,
1974). Umidade volumétrica (Uv), densidade de partículas (Dp) e o volume total de poros
12

(VTP) foram obtidos através dos métodos descritos no Manual de Métodos de Análise de
Solo (TEIXEIRA et al., 2017).
O teor de matéria orgânica foi quantificado pelo método de perda de massa por
incineração a 600 °C/6h em mufla (MO_MF) (LYNN; MCKINZIE; GROSSMAN, 1974;
SANTOS et al., 2018) e através do método Walkley-Black (MO_WB) pela oxidação da
matéria orgânica do solo por solução de dicromato de potássio em presença de ácido
sulfúrico e titulação do excesso de dicromato com solução de sulfato ferroso amoniacal
(WALKLEY; BLACK, 1934; TEIXEIRA et al., 2017). O conteúdo de carbono orgânico
por mufla (C_MF) e Walkley-Black (C_WB) foram calculados dividindo os respectivos
valores de matéria orgânica pelo fator “van Bemmelen” (1,724).

2.2.3 Atributos químicos


As análises químicas foram realizadas de acordo com as metodologias propostas
por Teixeira et al. (2017): pH (em água e em solução CaCl2 mol L-1) medindo-se o
potencial de hidrogênio com um eletrodo combinado imerso em solução solo/líquido em
suspensão na proporção 1:2,5; Al3+, Ca2+ e Mg2+ extraídos com KCl 1 mol L-1, titulando-
se, numa fração do extrato, o Al3+ com NaOH 0,025 mol L-1, na presença de azul-de-
bromotimol como indicador e Ca2+ e Mg2+ quantificados por espectrofotometria de
absorção atômica; Na+, K+ e P em solução extratora Mehlich-1 e quantificados,
respectivamente, por espectrofotometria de absorção atômica e espectrocolímetro; e a
extração da acidez potencial (H+Al) em acetato de cálcio 0,5 mol L-1 a pH 7,0 e
quantificada por titulometria com NaOH 0,025 mol L-1. A partir desses resultados, foi
calculada a soma das bases [ ], capacidade de troca catiônica (pH
7,0) [ ], saturação por bases [ ], saturação de
alumínio [ ] e saturação de sódio [ ].

2.3 Análises estatísticas

Usando o software R (versão 3.6.2) (R CORE TEAM, 2020) os dados quantitativos


foram testados quanto às hipóteses de normalidade e homogeneidade das variâncias por
meio dos testes Shapiro-Wilk e Bartlet (p > 0,05). Com os pressupostos atendidos, os
dados foram submetidos à análise de variância e teste de médias entre profundidades no
próprio perfil e entre os perfis nas mesmas profundidades pelo teste de Tukey ao nível de
significância de 5% (p < 0,05). As relações entre os atributos do solo foram investigadas
por meio da construção de matrizes de correlação usando o pacote corrplot R (WEI;
13

SIMKO, 2021). Uma análise multivariada “Principal component analysis” (PCA) também
foi realizada na mesma matriz dos atributos do solo, usando os pacotes FactoMineR (LE;
JOSSE; HUSSON, 2008) e factoextra (KASSAMBARA; MUNDT, 2020).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Atributos morfológicos e classificação do solo

De maneira geral, a cor variou de bruno muito escuro (10YR 2/2) a bruno muito
claro-acinzentado (10YR 8/2) nos solos das veredas (Tabela 1). V1 variou de bruno-escuro
(10YR 3/3) a bruno (10YR 4/3); V2 de bruno muito escuro (10YR 2/2) a bruno-escuro
(10YR 3/3); V3 de bruno (10YR 5/3) a cinzento-claro (10YR 7/2); e V4 de bruno a bruno
muito claro-acinzentado (10YR 8/2).
Tabela 1. Atributos morfológicos de solos de veredas sob diferentes estados de
conservação.
Hor. Prof. Cor Consistência Textura
von Post FNE FE
cm Grau Classe %
V1 – VEREDA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Hd1 0-20 10YR 4/3 lpl, lpg nat org 8 Sáprico 68 a A 56 a A
Hd2 20-40 10YR 3/4 lpl, lpg nat org 8 Sáprico 68 a A 56 a A
Hd3 40-60 10YR 3/4 npl, lpg nat org 8 Sáprico 75 a A 56 a A
Hd4 60-80 10YR 3/3 npl, lpg nat org 8 Sáprico 61 a A 51 a A
Hd5 80-100 10YR 3/3 npl, lpg nat org 8 Sáprico 67 a A 53 a A
V2 - VEREDA COM USO AGRÍCOLA NO ENTORNO
Hd1 0-20 10YR 3/3 pl, lpg nat org 7 Sáprico 33 a B 23 a B
Hd2 20-40 10YR 3/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 45 a B 23 a B
Hd3 40-60 10YR 3/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 45 a A 20 a B
Hd4 60-80 10YR 2/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 31 a B 16 a B
Hd5 80-100 10YR 2/2 pl, lpg nat org 8 Sáprico 28 a B 13 a B
V3 – VEREDA CORTADA POR ESTRADA
Hd1 0-20 10YR 5/3 mpl, mpg nat org 7 Sáprico 71 a A 52 a A
Hd2 20-40 10YR 5/3 pl, lpg nat org 8 Sáprico 60 a AB 28 a B
47 a
Hdo 40-60 10YR 5/3 pl, lpg nat org 5 Hêmico 64 a A
AB
Ho1 60-80 10YR 6/2 lpl, lpg nat org 4 Fíbrico 72 a A 51 a A
Ho2 80-100 10YR 7/2 npl, npg nat org 4 Fíbrico 63 a B 51 a B
V4 – VEREDA EM ÁREA URBANA
A 0-20 10YR 7/3 pl, pg arg ‒ ‒ ‒ ‒
C1 20-40 10YR 8/2 npl, lpg ar fran ‒ ‒ ‒ ‒
C2 40-60 10YR 8/1 pl, lpg arg sil ‒ ‒ ‒ ‒
C3 60-80 10YR 5/3 npl, npg ar fran ‒ ‒ ‒ ‒
C4 80-100 10YR 5/3 mpl, mpg arg sil ‒ ‒ ‒ ‒
Hor: Horizonte; Prof.: profundidade; FNE: fibras não esfregadas; FE: fibras esfregadas; pl: plástica; lpl:
ligeiramente plástica; npl: não-plástica; mpl: muito plástica; lpg: ligeiramente pegajosa; npg: não-pegajosa; mpg:
muito pegajosa; nat org: natureza orgânica; arg: argila; arg sil: argilo siltosa; ar fran: areia franca; “‒” dados
numéricos não aplicáveis. Letras minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre médias das
diferentes profundidades para a mesma vereda e diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas
entre médias para as mesmas profundidades entre diferentes veredas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
14

Nos perfis V1 e V2 apresentaram valores e cromas mais baixos, que diminuem com
o aumento da profundidade (60-100 cm) exibindo pigmentos mais escuros, que podem ser
associados ao avançado estádio de decomposição de matéria orgânica (sáprico) nesses
ambientes (CIPRIANO-SILVA et al., 2014). No entanto, é importante ressaltar que o
predomínio de uma matéria orgânica muito decomposta pode também estar associada à
idade do material depositado (SILVA et al., 2013), haja vista que este componente está a
mais tempo sob a atuação dos processos pedogenéticos. Por exemplo, V1 localiza-se no
Parque Nacional de Brasília, onde uma vereda tem idade de até 35.000 anos (Pleistoceno
Tardio) (VIANA, 2022).
Em V3 e V4 os valores e cromas foram altos, apresentando cores mais claras. Nos
horizontes hísticos superficiais de V3 predominam resíduos vegetais em estágio de
decomposição mais avançados (sáprico), e as subsuperficiais caráter fíbrico (fracamente
decompostos), possivelmente reflexo da redução do processo de decomposição, devido à
estagnação da água no ambiente. Em V4, as cores mais claras foram devidas à alta
contribuição de materiais minerais, de acordo com as texturas verificadas nas amostras de
solo (Tabela 1).
As texturas em V1, V2 e V3 foram classificadas como de natureza orgânica, assim
como foram classificados em Organossolos de ambientes úmidos por Horák-Terra et al.
(2022) e Soares et al. (2016). De acordo com Santos et al. (2015), quando há muitas fibras
mal decompostas de restos e fragmentos vegetais, impossibilita a identificação das classes
de textura. Em V4, devido seu caráter mineral a textura na camada superficial (horizonte
A) foi classificada como argilosa, enquanto as camadas subjacentes (horizontes C)
alternaram-se entre textura franco-arenosa e argilosa siltosa. Quanto à consistência, V1
apresentou consistência não plástica e ligeiramente pegajosa. Em V2, a consistência de
todas as camadas foi plástica. Em V3 e V4, houve maior predominância de consistência
plástica a muito plástica e ligeiramente pegajosa em suas camadas. Solos com material
orgânico mais decomposto (sáprico) costumam apresentar maior plasticidade, porém, a
distribuição granulométrica da fração mineral também pode influenciar nesse atributo,
onde grandes quantidades de argila tendem a tornar o solo mais plástico e pegajoso
(VALLADARES et al., 2008).
Altos teores de fibras foram observados nos perfis V1 e V3 com média de 68% e
64% para FNE e 54% e 45% para FE, respectivamente (Tabela 1). Semelhante aos
encontrados por Könönen et al. (2015) (Indonésia central), Soares et al. (2016) (sudeste do
15

Brasil), Valladares et al. (2016) (sudeste do Brasil), Wang et al. (2017) (nordeste da China)
e Horák-Terra et al. (2022a) (Brasil central) em solos orgânicos de zonas úmidas de
diferentes regiões tropicais do mundo. Ao comparar as profundidades entre esses perfis,
em 80-100 cm, o teor de fibras foi maior em V1 do que em V3. O perfil V1 apresentou teor
de fibras homogêneo e em estágio de decomposição mais avançado (sáprico) em
profundidade. V3 também não apresentou diferenças em profundidade, no entanto,
conferiu matéria vegetal pouco decomposta, o que pode ter contribuído para um maior
volume de fibras retidas na peneira (método de Lynn, Mckinzie e Grossman, 1974). V2 se
diferenciou das demais, com menores teores de FNE e FE, e apresentou distribuição
homogênea em seu perfil. Para V4, o teor de fibra não foi avaliado devido ao alto teor de
materiais minerais, o que superestimaria os resultados, conforme descrito por Santos et al.
(2018). Segundo Ebeling et al. (2013), o teor de fibra tem sido associado ao grau de
decomposição da matéria orgânica, refletindo vegetação composta por maior quantidade de
fibras (galhos, raízes, troncos) e/ou pela influência do ambiente que proporcione a
decomposição do material orgânico de forma mais lenta.
Os perfis apresentaram diferenças morfológicas no grau de transformação da
matéria orgânica. Os perfis de solo amostrados de V1 e V2 foram classificados como
Organossolo Háplico Sáprico típico, relacionados à presença de grandes quantidades de
fibras e maior grau transformação da matéria orgânica. V3 foi classificado como
Organossolo Háplico Fíbrico típico, devido à saturação/hidromorfismo no ambiente, a
presença de grandes quantidades de fibras e menor grau de transformação da matéria
orgânica. Já para o perfil V4 encontraram-se relevantes transformações (mineralização da
matéria orgânica), sendo classificado como Neossolo Flúvico Tb Distrófico típico
(SANTOS et al., 2018).

3.2 Atributos físicos e composição orgânica

Os atributos físicos Ug, Uv, Ds, Dmo, RM, MM e VTP utilizados na caracterização
e classificação dos Organossolos (SANTOS et al., 2018) estão relacionadas ao teor de
carbono orgânico, geralmente, de forma diretamente proporcional (SOARES et al., 2016).
Na Tabela 2 observa-se que os valores de Ug, Uv e VTP dentro do perfil de cada vereda
foram semelhantes, exceto em V2, que apresentou uma leve redução da Ug e VTP em 40-
60 cm.
16

Tabela 2. Atributos físicos e composição orgânica de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.
Hor. Prof. Ug Uv Ds Dmo Dp VTP MM RM C_WB C_MF MO_WB MO_MF
cm g g-1 cm3 cm-3 Mg m-3 g cm-3 % m m-1 g kg-1
V1 – VEREDA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Hd1 0-20 5,01 a A 0,82 a A 0,17 a C 0,12 a A 1,23 a C 86 a A 30 a C 0,04 a C 347,7 c A 404,1 a A 599,4 c A 696,6 a A
Hd2 20-40 7,13 a A 0,84 a A 0,13 a C 0,11 a A 1,24 a C 89 a A 21 a B 0,02 a C 349,7 b A 457,9 a A 602,9 b A 789,4 a A
Hd3 40-60 6,32 a A 0,87 a A 0,14 a C 0,11 a AB 1,16 a C 88 a A 24 a C 0,02 a B 337,2 e A 439,3 a A 581,3 e A 757,4 a A
Hd4 60-80 6,84 a A 0,79 a A 0,12 a B 0,08 a AB 1,37 a C 91 a A 30 a B 0,02 a B 337,8 d A 403,3 a A 582,4 d A 695,2 a A
Hd5 80-100 6,30 a A 0,79 a A 0,13 a B 0,09 a AB 1,39 a B 91 a A 30 a B 0,03 a B 366,8 a A 405,7 a A 632,4 a A 699,5 a A
V2 - VEREDA COM USO AGRÍCOLA NO ENTORNO
Hd1 0-20 2,47 a B 0,84 a A 0,34 b BC 0,11 a A 1,89 b B 82 a B 68 a B 0,16 a BC 126,8 c B 187,9 a B 218,6 c B 324,0 a B
Hd2 20-40 1,68 ab B 0,79 a A 0,48 ab B 0,13 a A 2,08 a B 77 ab B 73 a A 0,23 a B 112,0 e B 157,6 a B 193,1 e B 271,7 a B
Hd3 40-60 0,85 c B 0,55 a AB 0,77 a AB 0,37 a A 2,11 a B 64 b BC 55 a B 0,27 a B 122,4 d B 258,7 a B 211,0 d B 446,0 a B
Hd4 60-80 1,55 ab B 0,74 a A 0,48 ab B 0,15 a A 2,12 a AB 77 ab AB 69 a A 0,22 a B 138,5 b B 178,1 a B 238,8 b B 307,1 a B
Hd5 80-100 1,67 ab B 0,73 a AB 0,47 ab B 0,14 a A 2,19 a A 79 ab A 69 a A 0,22 a B 146,9 a B 179,0 a B 253,3 a B 308,6 a B
V3 – VEREDA CORTADA POR ESTRADA
Hd1 0-20 1,48 a B 0,73 a A 0,51 a B 0,13 a A 2,05 a B 75 a BC 75 a B 0,26 a B 91,6 a C 142,7 a B 157,9 a C 246,1 a B
Hd2 20-40 1,79 a B 0,77 a A 0,45 a B 0,10 ab A 2,13 a B 79 a B 75 a A 0,23 a B 91,2 b C 139,6 a B 157,2 b C 240,6 a B
Hdo 40-60 1,72 a B 0,74 a AB 0,47 a BC 0,12 ab AB 2,20 a AB 79 a AB 76 a AB 0,23 a B 78,5 c C 148,3 a BC 135,3 c C 255,7 a BC
Ho1 60-80 2,00 a B 0,45 a A 0,27 a B 0,06 ab B 1,85 a AB 86 a A 66 a A 0,14 a B 73,0 d C 194,5 a B 125,9 d C 335,3 a B
Ho2 80-100 4,09 a AB 0,75 a AB 0,25 a B 0,06 b B 2,05 a AB 88 a A 71 a A 0,13 a B 63,3 e C 167,1 a B 109,1 e C 288,0 a B
V4 – VEREDA EM ÁREA URBANA
A 0-20 0,60 a B 0,54 a B 0,95 a A 0,10 a A 2,55 a A 63 a C 89 a A 0,56 a A 29,6 a D 62,2 a C 51,0 a D 107,2 a C
C1 20-40 0,49 a B 0,53 a B 1,09 a A 0,08 a A 2,50 a A 56 a C 92 a A 0,67 a A 17,6 d D 44,0 a B 30,3 d D 75,9 a B
C2 40-60 0,39 a B 0,46 a B 1,24 a A 0,06 a B 2,48 a A 50 a C 94 a A 0,79 a A 17,6 d D 32,5 a C 30,3 d D 56,1 a C
C3 60-80 0,52 a B 0,48 a A 1,06 a A 0,07 a AB 2,53 a A 59 a C 92 a A 0,66 a A 18,5 c D 47,4 a B 31,9 c D 81,7 a B
C4 80-100 0,35 a B 0,38 a B 1,15 a A 0,09 a AB 2,37 a A 51 a B 92 a A 0,71 a A 20,0 b D 44,6 a B 34,5 b D 76,8 a B
Hor: Horizonte; Prof.: profundidade; Ug: Umidade gravimétrica; Uv: Umidade volumétrica; Ds: Densidade aparente do solo; Dmo: Densidade da matéria orgânica; Dp:
Densidade de partículas; VTP: Volume total de poros; MM: Material mineral; RM: Resíduo mínimo; C_WB: Carbono orgânico por Walkley-Black; C_MF: Carbono
orgânico mufla 600°C; MO_WB: Matéria orgânica por Walkley-Black; MO_MF: Matéria orgânica mufla 600°C. Letras minúsculas diferentes indicam diferenças
significativas entre médias das diferentes profundidades para a mesma vereda e diferentes letras maiúsculas indicam diferenças significativas entre médias para as mesmas
profundidades entre diferentes veredas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
1

Ao comparar diferentes profundidades entre as veredas, destaca-se que V1


apresentou as maiores médias, sendo até dez vezes maiores que os valores de Ug no perfil
de V4, o que indica para V1, maior capacidade de retenção de água em seus horizontes.
Resultados semelhantes foram encontrados por Cipriano-Silva et al. (2014) em
horizontes de Organossolos de ambientes de várzea da região nordeste do Brasil, com
valores de Ug de até 930%, constituindo um importante reservatório de água. Segundo
Bispo et al. (2015), os principais componentes que controlam a hidrologia em solos
orgânicos são o alto teor de matéria orgânica e o teor de fibras. Esta afirmação é
consistente com o alto teor de fibra e maior teor de matéria orgânica observado em V1. A
Ug está diretamente relacionada com os valores de matéria orgânica do solo, o que é
esperado, visto que possui grande higroscopicidade (capacidade de captar e armazenar
água da atmosfera) (SOARES et al. 2016).
Em V4, nota-se a redução gradual da umidade e da porosidade do solo em
profundidade (Tabela 2), que se deve provavelmente à mudança de uso do solo para
edificações urbanas e pastagem para grandes animais (cavalo e gado) sob e no entorno da
vereda ao longo dos anos. Estas perturbações provocam a expulsão de água e a redução dos
espaços porosos, que desencadeiam o processo de subsidência (redução de volume e
massa) no solo (RODRIGUEZ et al., 2021). De acordo com Cipriano-Silva et al. (2014),
as interferências antrópicas como drenagem, desmatamento, cultivo e revolvimento dos
solos orgânicos nesses ecossistemas úmidos, causam principalmente alterações no regime
hidrológico, assoreamento pela deposição de sedimentos minerais, mineralização e redução
dos teores de matéria orgânica e a subsidência.
Nos diferentes perfis os valores de Ds e Dp foram homogêneos nas diferentes
profundidades e inversamente proporcionais ao teor de matéria orgânica. Maiores valores
de Ds e Dp em diferentes profundidades foram observadas no perfil de V4 (1,01±0,11 e
2,49±0,07 Mg m-3, respectivamente), que é fortemente influenciado pela fração mineral.
Isto ocorre devido à maior densidade do material mineral em relação ao material orgânico
(SOUSA et al., 2020). Nota-se que no perfil da vereda conservada (V1) os valores de Ds
foram < 0,17 Mg m-3 e observados nas camadas com até 30% de matéria mineral, e nas
veredas com intervenções antrópicas (V2, V3 e V3) os valores de Ds > 0,50 Mg m -3
ocorreram nas camadas com mais de 75% de matéria mineral. Ebeling et al. (2011)
mostraram que com a diminuição do volume do solo, há um aumento gradual nos valores
de densidade do solo e de partículas, alterando assim as características originais dos
2

Organossolos em ambientes perturbados. Da mesma forma que em veredas, a degradação


de ambientes úmidos de turfeiras normalmente aumenta a densidade aparente do solo, o
que pode reduzir a condutividade hidráulica da turfa (KÖNÖNEN et al., 2015; SINCLAIR
et al., 2020).
Os valores de Dmo, em geral, foram semelhantes entre as veredas. Apesar de
semelhantes, houve um padrão decrescente em profundidade e seus valores foram
semelhantes aos encontrados por Horák-Terra et al. (2022a) em solos de vereda, que
variaram de 0,09 a 0,20 Mg m-3.
Assim como para a Ds e Dp, os valores de MM foram significativamente maiores
em V4, sendo similares com V2 e V3 nas profundidades de 0-20, 60-80 e 80-100 cm, com
teores entre 66 a 92%. Os valores mais elevados de MM em V4 devem-se principalmente
a supressão da vegetação natural, além de sua posição em fundo plano que podem receber
fluxos de água e sedimentos do Rio Urucuia e de solos minerais urbanos em posições mais
altas. Logo, o RM estimativa da proporção original de MM, que pode ser usada como
índice de mineralização potencial (SILVA et al., 2014), mostrou uma clara distinção dos
efeitos da degradação nestes perfis. Maiores valores de RM foram encontrados em V4
(0,56 a 0,79 m m-1), sendo superiores aos encontrados em solos orgânicos de zonas úmidas
com algum grau de degradação por Horák-Terra et al. (2022a) (0,53±0,21 m m-1), Soares
et al., (2021) (0,13 a 0,73 m m-1) e, Könönen et al. (2015) (0,12 a 0, 22 m m-1). Os perfis
V2 e V3 apresentaram valores semelhantes (0,16 a 0,27 m m-1), enquanto foram
significativamente menores (0,02 a 0,04 m m-1) em V1, devido a sua vegetação conservada
e abundante, que funciona como um filtro na retenção de entrada de sedimentos (HORÁK-
TERRA et al., 2022a).
Os teores de carbono orgânico e matéria orgânica foram significativamente
diferentes entre os perfis e seguiram padrões semelhantes entre os métodos de análise
(Tabela 2). Os valores de C_WB e C_MF apresentaram valores elevados na vereda com
vegetação conservada (V1) e com maiores teores na base (80-100 cm). Em contraste, baixo
teor de carbono orgânico foi identificado em V4, que foram maiores na superfície (0-20
cm). Wang et al. (2017) mostraram tendência semelhante, aumentando teores de carbono
em profundidade em perfis de solos turfosos com diferentes usos da terra no nordeste da
China, mas mostraram tendência oposta em perfis de solo mineral. Esses resultados
sugerem uma redução média de carbono orgânico de ~89% (Walkley-Black) e ~94%
(mufla) quando comparados V1 e V4. V2 e V3 apresentaram teores de carbono
3

intermediários, sendo maiores em V2. Em concordância com este estudo, Horák-Terra et


al. (2022a) mostraram que o efeito da antropização favoreceu uma redução significativa no
teor de carbono e na capacidade de retenção de água em solos de veredas do Brasil central.

3.3 Atributos químicos

Na Tabela 3, observa-se que os valores de pH em água foram maiores em


comparação aos valores de pH em CaCl2. O pH em CaCl2 não variou em profundidade nos
perfis, já o medidos em água, obteve-se valores mais baixos em superfície para V1, V2 e
V4, não variando em V3. De acordo com Santos et al. (2018), os valores médios para pH
em CaCl2 indicam solos extremamente ácidos (pH < 4,3) em V2, V3 e V4, e fortemente
ácidos (4,3 < pH < 5,3) em V1.
Para o pH em água, os valores médios para os diferentes perfis são classificados
como solos fortemente ácidos. Elevada acidez em Organossolos de veredas tem sido
observada em diferentes estudos, como em Rosolen et al. (2015), Sousa et al. (2015),
Ribeiro et al. (2019), Horák-Terra et al. (2022a) e Viana (2022), e variando entre 3,30 a
5,16 para pH em água, conforme relatado por Könönen et al. (2015), Könönen et al. (2018)
e Arabia et al. (2020) em turfeiras tropicais da Indonésia.
Organossolos de zonas húmidas tropicais, em geral, apresentam características de
elevada acidez e teores de Al3+ trocável (VALLADARES et al., 2016; EBELING et al.,
2011). Analisando os teores de Al3+ e m, os perfis V2 e V3 apresentaram valores
significativamente maiores e ambos exibiram tendência crescente em profundidade. Solos
com alto teor de matéria orgânica e valores de pH inferiores a 4,7 comumente apresentam a
predominância de Al3+ trocável no complexo de troca (HORÁK-TERRA et al., 2022a,
2022b; EBELING et al. al., 2013). No entanto, nos estudos de Pereira et al. (2020),
Campos et al. (2014) e Silva et al. (2008) com Organossolos e solos com horizontes
superficiais com elevados teores de matéria orgânica, atribuem grande parte da acidez, à
dissociação do H+ proveniente dos radicais carboxílicos e fenólicos da matéria orgânica. Já
que, pelo método utilizado para quantificar Al³+ em solos com alto teor de matéria
orgânica, o H+ pode ser quantificado e superestimar o teor de Al3+ (CAMPOS et al., 2014).
Nota-se que a acidez potencial (H+Al) quantificada foi maior nas veredas com
teores mais elevados de matéria orgânica (V1, V2 e V3), estando mais relacionada aos
teores de ácidos orgânicos do que ao conteúdo de Al3+ trocável.
4

Tabela 3. Atributos químicos de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.


Hor. Prof. pH CaCl2 pH H2O P Ca2+ Mg2+ K+ Na+ Al3+ H+Al SB CTC V m ISNa
cm mg dm³ cmolc dm³ %
V1 – VEREDA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
Hd1 0-20 4,7 a A 5,1 c A 4,1 a B 17,9 c A 2,0 a A 0,37 a A 0,3 a C 0,2 a D 7,8 d C 20,5 c A 28,3 c A 72 a A 1,0 a D 0,9 a D
Hd2 20-40 4,7 a A 5,2 b A 3,6 b B 15,1 e A 1,4 b A 0,37 a A 0,2 b B 0,1 b D 9,0 c C 17,1 e A 26,1 e A 66 d A 0,6 b D 0,9 a D
Hd3 40-60 4,7 a A 5,4 a A 1,5 c C 21,2 b A 1,1 c A 0,11 b B 0,1 c D 0,1 b D 9,7 b B 22,5 b A 32,2 b A 70 b A 0,4 c D 0,4 c D
Hd4 60-80 4,8 a A 5,4 a A 1,2 d C 16,3 d A 0,9 d B 0,10 c B 0,1 c B 0,1 b D 10,5 a A 17,4 d A 27,9 d A 62 e A 0,6 b D 0,5 b D
Hd5 80-100 4,8 a A 5,4 a A 1,1 e C 22,0 a A 1,1 c B 0,08 d B 0,1 c B 0,1 b D 10,5 a B 23,3 a A 33,8 a A 69 c A 0,4 c D 0,4 c D
V2 - VEREDA COM USO AGRÍCOLA NO ENTORNO
Hd1 0-20 3,7 b B 4,7 b B 1,4 a D 0,6 a D 0,2 a D 0,11 a D 0,4 a B 3,1 e A 14,1 a A 1,3 a D 15,4 a B 8 a D 71 e A 2,3 a B
Hd2 20-40 3,8 a B 4,8 a C 1,0 b D 0,6 a D 0,1 b D 0,04 b D 0,2 b C 3,2 d A 11,3 b B 0,9 b D 12,2 b C 7 b D 78 d A 1,4 c B
Hd3 40-60 3,7 ab B 4,7 b C 1,0 b D 0,4 b D 0,1 b D 0,04 b C 0,2 c B 3,6 c A 9,0 d C 0,7 c D 9,7 e C 7 b D 84 c A 1,6 b B
Hd4 60-80 3,7 ab C 4,7 b C 0,8 c D 0,6 a C 0,1 b D 0,04 b D 0,1 d C 4,9 b A 9,7 c B 0,9 b D 10,6 d B 8 a D 85 b A 1,1 d C
Hd5 80-100 3,7 ab B 4,6 c C 0,8 c D 0,4 b D 0,1 b D 0,04 b C 0,1 e C 5,1 a A 11,3 b A 0,6 d D 11,9 c B 5 c D 89 a A 0,8 e C
V3 – VEREDA CORTADA POR ESTRADA
Hd1 0-20 3,9 a B 4,6 a C 2,8 b C 0,8 a C 0,4 a C 0,24 a B 0,2 a D 2,6 b B 11,3 b B 1,7 a C 13,0 b C 13 a C 61 e B 1,7 a C
Hd2 20-40 3,8 a B 4,6 a D 3,0 a C 0,7 b C 0,3 b C 0,18 b B 0,2 b C 2,4 d B 12,1 a A 1,4 b C 13,5 a B 10 c C 64 d B 1,3 b C
Hdo 40-60 3,8 a B 4,6 a D 2,4 c B 0,5 c C 0,3 b C 0,11 c B 0,1 c C 3,3 a B 11,3 b A 1,1 c C 12,4 c B 9 d C 76 a B 1,1 c C
Ho1 60-80 3,8 a BC 4,6 a D 2,2 d B 0,4 d D 0,2 c C 0,07 d C 0,1 d C 1,6 e B 8,4 c C 0,8 e C 9,2 d C 9 d C 67 c B 1,3 b B
Ho2 80-100 3,8 a B 4,6 a C 1,9 e B 0,6 e C 0,2 c C 0,04 e C 0,1 e C 2,5 c B 7,8 d C 0,9 d C 8,7 e D 11 b C 73 b B 1,1 c B
V4 – VEREDA EM ÁREA URBANA
A 0-20 4,1 a B 4,7 d B 13,5 a A 2,3 c B 1,0 c B 0,21 a C 0,6 b A 0,9 c C 6,2 a D 4,1 c B 10,3 b D 40 d B 18 b C 5,9 b A
C1 20-40 4,1 a B 4,9 c B 8,9 b A 1,9 d B 0,8 d B 0,15 d C 0,5 d A 0,6 d C 5,8 b D 3,3 d B 9,1 d D 36 e B 15 d C 5,1 e A
C2 40-60 4,2 a B 5,0 b B 5,6 c A 1,9 d B 0,8 d B 0,16 c A 0,4 e A 0,6 d C 4,6 c D 3,3 d B 7,9 e D 42 c B 15 d C 5,6 d A
C3 60-80 4,3 a B 5,3 a B 4,3 e A 2,8 b B 1,2 b A 0,19 b A 0,6 c A 1,0 b C 5,8 b D 4,8 b B 10,6 a B 45 b B 17 c C 5,7 c A
C4 80-100 4,0 a B 5,3 a B 4,7 d A 3,2 a B 1,7 a A 0,21 a A 0,6 a A 1,4 a C 4,3 d D 5,7 a B 10,0 c C 57 a B 20 a C 6,3 a A
Hor.: Horizonte; Prof.: profundidade; H+Al: acidez potencial; SB: soma de bases; CTC: capacidade de troca catiônica; V: saturação de bases; m: saturação por alumínio;
ISNa: saturação com sódio. Letras minúsculas diferentes indicam diferenças significativas entre médias das diferentes profundidades para a mesma vereda e diferentes
letras maiúsculas indicam diferenças significativas entre médias para as mesmas profundidades entre diferentes veredas pelo teste de Tukey a p < 0,05.
5

Os teores de Ca2+, Mg2+, K+, e P em geral foram baixos nos perfis, exceto para V1
onde os teores de Ca2+ e Mg2+ foram altos em seus horizontes, devido à contribuição do
material calcifilítico do Grupo Paranoá (CAMPOS et al., 2013). Soares et al. (2016) e
Cipriano-Silva et al. (2014) e Soares et al. (2016) encontraram comportamento semelhante
atribuído à contribuição de material geológico de rochas (calcário e nefelina-sienito,
respectivamente), que elevaram os valores de Ca2+ e Mg2+em Organossolos. Em V4, nota-
se que os valores de Mg2+ foram semelhantes aos de V1, e que P foi significativamente
maior em seu perfil, com maiores teores nas camadas superficiais, provavelmente,
associados à adição de materiais provenientes da atividade antrópica.
Com resultado da baixa disponibilidade de nutrientes, baixa SB foram exibidas em
V2, V3 e V4 que variaram de 0,6 a 5,7 cmolc dm³. Em contrapartida, foi significativamente
maior em V1 em todas as profundidades, devido aos altos teores de Ca2+ e Mg2+. Maiores
valores de SB e H+Al contribuíram para uma alta CTC em V1, principalmente na base
quando comparada a superfície. Os valores da CTC nos perfis de V2 e V3 foram similares,
devido à contribuição de Al3+ e H+Al com maiores valores nas camadas superficiais.
O valor de V em V1 foi diferente dos demais, com ocorrência de médias superiores
a 50% em todas as camadas, o que mostra sua característica eutrófica, ou seja, alta
fertilidade (SOBRAL et al., 2015). Os perfis V2, V3 e V4 apresentaram médias inferiores
a 50%, expressando a predominância de H+ no complexo de sorção e, consequentemente, a
característica distrófica nestes solos (VALLADARES et al., 2016). Nos Organossolos de
V2 e V3 por apresentarem baixo Ca2+, Mg2+ e K+ e teor de Al3+ muito elevado, chegando a
apresentar m superior a 60%, também podem ser classificados como solos álicos (muito
pobres) (RONQUIM, 2010).
Maiores teores de Na+ e percentual de ISNa foram encontrados em V4 (ambiente
urbano), com maiores valores em ambos atributos na base (80-100cm), enquanto, valores
semelhantes foram presentes em V2 e V3 e menores em V1, que apresentaram maiores
concentrações nas camadas superficiais, o que mostra baixa proporção de sódio solúvel em
relação à CTC no solo nesses ambientes. De acordo com Cipriano-Silva et al. (2014),
apesar da alta CTC nos Organossolos, a retenção de cátions monovalentes é menor do que
os demais cátions, justificando os teores reduzidos de K+ e Na+.

3.4 Análise multivariada


6

Dois componentes principais foram obtidos do PCA, que correspondem a ~85% da


variância total do conjunto de dados. O componente principal 1 (CP1) explicou 54% da
variância dos dados, com cargas positivas altas (0,77 a 0,95) para MO_MF, Ug, CTC,
MO_WB, C_WB, C_MF, VTP, FE, FNE e Uv e cargas negativas altas (-0,72 a -0,97) para
Ds, MM, RM, Dp e ISNa. Esses resultados indicam oposição entre o acúmulo de matéria
orgânica e o teor de material mineral. Esse comportamento é corroborado pelos
coeficientes de correlação (Figura 2) entre as variáveis, onde os valores de matéria
orgânica obtidos por diferentes métodos se correlacionam positivamente entre si (MO_WB
e MO_MF, r = 0,97) e apresentaram forte correlação negativa com MM (r = -0,97; -0,99),
respectivamente.
O componente principal 2 (CP2) explicou 31% da variância dos dados, com cargas
positivas altas (0,92 a 0,70) para Mg2+, V, SB, P, pH_H2O, Ca2+, Na+, K+ e pH_CaCl2 e
cargas negativas altas (-0,81 a -0,74) para m, Al3+ e H+Al indicando a fertilidade natural
do solo. O pH medido em CaCl2 e água apresentaram coeficiente de correlação positiva
entre si (r= 0,86), indicando que ambos os métodos são eficazes na determinação do pH em
solos com altos teores de matéria orgânica, e apresentaram forte correlação negativa,
respectivamente, com m (r = -0,97, -0,90) e Al3+ (r = -0,94; -0,82) (Figura 2).

Figura 2. Correlação entre os atributos determinados em amostras de solo de veredas sob


diferentes estados de conservação.
7

Na Figura 3 é possível observar o fracionamento das comunalidades de cada


variável, ou seja, a proporção de sua variância explicada por cada componente. No CP1,
destaca-se que estão altamente associados, com proporção da variância entre 52 a 91%
(comprimento da barra). E o CP2, os atributos também se encontram altamente associados
com 55 a 85%. Exceto Dmo (abaixo de 30%), que pode estar associados a mais de um
componente principal e, assim, participar de processos adjacentes. Deste modo, estes
atributos representam bons condutores para identificar os processos que podem estar
controlando as alterações nos solos das veredas avaliadas.

Figura 3. Fracionamento das comunalidades das variáveis utilizadas na PCA. A


comunalidade de cada variável corresponde ao comprimento total da barra; as seções das
barras representam a proporção sua variância em cada componente principal. As variáveis
são ordenadas pelo componente com a maior parcela de variância. Preto: CP1. Cinza
escura: CP2.
3.4.1 Entrada de materiais orgânicos e inorgânicos
A maioria dos atributos com cargas positivas do CP1 foram relacionadas ao teor de
matéria orgânica, enquanto as cargas negativas foram relacionadas à matéria inorgânica.
Portanto, as cargas opostas indicam que, à medida que o teor de material mineral das
veredas aumenta, seu teor de matéria orgânica diminui (ou seja, um efeito de diluição).
8

Essa relação também foi verificada por Horák-Terra et al. (2014) e Horák-Terra et al.
(2022b) em seus estudos de solos orgânicos em ambientes de veredas e turfeiras,
respectivamente.
Na Figura 4a, as mudanças nas pontuações do CP1 em profundidade podem ser
vistas em diferentes perfis. Em geral, as pontuações positivas no CP1 foram associadas a
uma maior predominância de material orgânico (V1), enquanto as pontuações negativas
foram associadas a uma entrada de material mineral (V2, V3 e V4).

Figura 4. Perfil das pontuações da PCA dos dois componentes principais (a) componentes
principais 1 (CP1) e (b) componentes principais 2 (CP2) utilizando atributos morfológicos,
físicos e químicos de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.
Em V1 houve predominância de pontuações positivas em profundidade, pouco
variaram, com apenas um leve aumento em ~40 cm. Por estar localizado em um ambiente
mais conservado, naturalmente permitiu um maior acúmulo de matéria orgânica e sua
contínua manutenção no ambiente. O maior aporte de material vegetal em Organossolos
em áreas úmidas auxilia no armazenamento de carbono, proporciona maior porosidade e
consequentemente aumenta o teor de umidade (SILVA et al., 2009; CIPRIANO-SILVA et
al., 2014). Segundo Horák-Terra et al. (2022a), o alto teor de água nas veredas
possivelmente está associado à maior porosidade devido à matéria orgânica mais
preservada e com muitas fibras. Isso está de acordo com a abundância de restos vegetais
medidos por FNE e FE (Tabela 1) que também apresentaram correlação positiva (r = 0,70
entre Ug e FNE; e r = 0,80 entre Ug e FE) (Figura 2).
Nas áreas de turfeiras tropicais da Indonésia, Könönen et al. (2018) demonstraram
que a manutenção do solo orgânico com diferentes intensidades de manejo (floresta
9

natural, reflorestadas, degradadas e agrícolas) tem sido sustentada pela alta e contínua
deposição e decomposição de material orgânico, mesmo onde a decomposição aeróbica é
sazonalmente reduzida pelo aumento do lençol freático, apresentando melhores estados o
ambiente de floresta natural.
Nas veredas antropizadas V2, V3 e V4 houve predominância de pontuações
negativas em profundidade, com pontuações maiores em V4. Em V2 observa-se a
predominância de pontuações negativas, com ligeiro pico em ~60 cm. Essa alteração pode
estar associada à redução da umidade e da porosidade total, que consequentemente
aumentou os valores de densidade do solo (0,77 Mg m-3), bem como o RM (0,27 m m-1)
(associada as pontuações negativas), quando comparado com as outras profundidades. O
solo da vereda adjacente à área agrícola é protegido por lei, porém, durante a visita de
campo, foi observado escoamento de água para uso doméstico e consumo animal, o que
pode ter contribuído para esse comportamento. Em V3, o comportamento das pontuações
negativas não variou muito em profundidade, exceto abaixo de 80 cm com um pico de
redução, o que provavelmente está associado ao maior teor de fibras (FNE e FE) e,
principalmente, à alta umidade (Ug e Uv) observada nesta profundidade (Tabela 2), que
foram associados ao incremento de material orgânico. No entanto, isso pode ser resultado
da estagnação da água, que dificulta a decomposição da matéria orgânica (material mais
fibroso) e influencia no volume de água retido no local (CIPRIANO-SILVA et al., 2014).
Em V4 as pontuações diminuem até ~60 cm, até atingir os maiores valores
negativos, o que indica maior perda de matéria orgânica (mineralização). Isso está de
acordo com o aumento simultâneo e a correlação positiva de Ds com RM (r = 0,96) e MM
(r = 0,81), uma vez que a matéria inorgânica tem densidade maior que a matéria orgânica
(HORÁK-TERRA et al., 2014). Em ~80 cm, apresentou um leve aumento, porém, ainda
com pontuações negativas associadas à maior contribuição do material mineral. Essa
redução de carbono orgânico no solo pode estar associada a diferentes fatores de
degradação causados pela atividade humana ao longo do tempo, e ainda pode estar
relacionada à influência de sedimentos depositados pelas cheias do rio Urucuia
(aproximadamente 600 m de distância da vereda). Essa situação pode ocorrer em alguns
anos durante a estação chuvosa (pico em janeiro e fevereiro), quando o rio transborda,
alagando o perímetro urbano de Arinos.
No ambiente antropizado de V4, o teor de material mineral mostrou uma redução
significativa da matéria orgânica. Além disso, acompanhou a redução da umidade e
10

processos eficazes na ciclagem de nutrientes. Moura, Lacerda e Ramos (2013) observaram


comportamento semelhante em Organossolos de áreas protegidas com diferentes usos na
região central do Brasil (Brasília, Distrito Federal), exibindo perda de qualidade do solo
aqueles situados em áreas antropizadas. Assim como, o estudo de Wang et al. (2017) que
mostraram que camadas de solo orgânico de zonas úmidas (turfas) são continuamente
afetadas por mudanças no uso da terra, reduzindo o teor de carbono orgânico até mesmo
das camadas mais profundas.

3.4.2 Fertilidade natural


O CP2 foi relacionado aos atributos de fertilidade natural (V, SB e bases trocáveis)
e as variações de pH nos solos (Figura 4b). As cargas opostas representam o aumento das
pontuações negativas (Al3+, m, H+Al) quando os solos tendem a ser mais ácidos, ou seja,
com valores de pH mais baixos.
As pontuações positivas do CP2 refletiram o aumento dos valores de pH
relacionados à maior entrada de elementos minerais (Ca2+ e Mg2+), com pontuações mais
altas em V1 do que em V4 (Figura 4b). Esses elementos, especialmente o Ca2+, também
controlam o aumento dos atributos V e SB, que apresentaram correlação positiva (r = 0,86
entre Ca2+ e V; r = 0,99 entre Ca2+ e SB) e podem vir de diferentes fontes e contribuir para
uma maior fertilidade natural nestes ambientes (SOBRAL et al. 2015).
Em V1, a predominância de altos teores de Ca2+ e Mg2+ se deve à influência do
material geológico pertencente à formação do Grupo Paranoá composta por calcifilitos,
que são ricos em carbonatos (dolomita e calcita) (CAMPOS et al., 2013). Igualmente
confirmado pelo estudo de Viana (2022) na mesma área de estudo localizada no Parque
Nacional de Brasília (Distrito Federal, Brasil). Em geral, esse comportamento não é
comum aos Organossolos. Entretanto, efeito semelhante foi observado por Cipriano-Silva
et al. (2014) em dois perfis de Organossolos na região nordeste do Brasil, onde os altos
teores de Ca2+ e Mg2+ foram atribuídos à influência do material geológico (calcário) da
região. Nota-se aumento das pontuações positivas em ~40 cm de profundidade, onde os
valores desses elementos também foram maiores (Tabela 3).
Em V4, a associação com as pontuações positivas provavelmente é resultado da
influência dos efeitos da antropização nesta área, uma vez que, a vereda está inserida na
área da Formação Urucuia, que é composta basicamente por arenitos (KIANG; SILVA,
2015), excluindo assim a influência do material geológico local. A vereda V4 tem sido
utilizada para contenção de animais e depósito de materiais de diversas naturezas, como
11

entulhos de construção e lixo doméstico. De acordo com Teixeira e Lima (2016), resíduos
como urina e fezes de animais, resíduos vegetais e principalmente ossos e espinhas de
peixes, que são compostos basicamente por apatita biogênica (fosfatos de cálcio) podem
contribuir para o aumento dos teores de Ca2+, P, e Mg2+ em horizontes antrópicos. Da
mesma forma, teores mais elevados de P são comumente encontrados em solos que
apresentam o horizonte A antrópico (SOUSA et al., 2020), como encontrados no horizonte
superficial do perfil de V4.
Conforme mostrado na Figura 4b, as mudanças nas pontuações de CP2
apresentaram tendências crescentes da superfície para a base em V4, devido provavelmente
à influência dos teores de Ca2+ e Mg2+, que também mostraram tendência semelhante ao
longo do perfil (Tabela 3). Avaliando atributos químicos em solos antropizados na
Amazônia brasileira [Terras pretas amazônicas] Sousa et al. (2020), Macedo et al. (2019),
Teixeira e Lima (2016), e Silva et al. (2011) encontraram altos teores de Ca2+, P, Mg2+, SB
e porcentagem de V e atribuíram esses resultados a entrada de materiais advindos da
atividade humana ao longo de anos. Portanto, a fertilidade natural em V4 é provavelmente
atribuída às atividades antrópicas nas proximidades e sob esse ambiente.
As pontuações negativas foram predominantes em V2 e V3, onde os teores de Al3+,
H+Al e porcentagem de m foram mais elevados (Tabela 3). V2 apresentou maiores
pontuações negativa com aumento em profundidade devido aos maiores teores de Al3+ e m
encontradas nessas profundidades. O que também foi observado para V3 principalmente
entre as profundidades de 40 e 60 cm. Uma vez que, devido a elevada acidez e a presença
de ácidos orgânicos em seus solos, exibem muitos íons e poucos íons Ca2+, Mg2+ e K+
adsorvidos em seu complexo coloidal de troca (RONQUIM, 2010). Assim, a quantidade de
cargas negativas disponíveis para adsorver as bases Ca2+, Mg2+ e K+ diminuem, e
consequentemente reduz a V e SB e indicam baixa fertilidade natural.
O comportamento exposto nos perfis de V2 e V3 encontra-se de acordo com os
estudos de Ramos, Haridasan e Araújo (2014), Ribeiro et al. (2019) e Horák-Terra et al.
(2022a) em Organossolos de veredas de diferentes regiões do Brasil, que usualmente são
solos fortemente ácidos, apresentando alta CTC, dominado por H+Al, baixo V e alto teor
de Al3+.

3.4.3 Efeitos da antropização


Para entender o comportamento dos perfis de solo avaliados, foi utilizado o gráfico
bidimensional, que mostra a sequência temporal das projeções das pontuações do PCA,
12

com as respectivas contribuições dos atributos avaliados (Figura 5). A projeção de CP1 vs.
CP2 representou a combinação de matéria orgânica vs. fertilidade natural dos solos de
veredas. A dispersão das pontuações mostrou os diferentes estados de conservação em que
estas veredas se encontram, onde o principal fator está relacionado à redução de matéria
orgânica.

Figura 5. Biplot das componentes principais 1 e 2 representando distribuições amostrais e


autovetores das propriedades avaliadas de solos de vereda sob diferentes estados de
conservação (V1 – vereda em unidade de conservação; V2 – vereda com uso agrícola no
entorno; V3 – vereda cortada por estrada; e V4 – vereda em área urbana).
Localizada em uma unidade de conservação, V1 apresentou efeito de ambiente com
matéria orgânica mais conservada e maior fertilidade natural. Embora seja influenciada
pelo aporte de material geológico, a cobertura vegetal natural conservada reflete no maior
acúmulo de material vegetal fibroso, armazenamento de carbono orgânico e na capacidade
de armazenamento de água. Nunes et al. (2022) mostraram que a estrutura da vegetação
(composição, diversidade e riqueza de espécies) e os fatores edáficos refletem diferentes
estados de conservação de veredas.
V2 e V3, localizadas em área circundada por atividades agrícolas e atravessada por
uma estrada, respectivamente, apresentaram comportamentos semelhantes. Embora essas
áreas estejam associadas aos atributos químicos (alta acidez), a projeção no biplot revelou
13

uma diminuição significativa no teor de matéria orgânica quando comparadas ao ambiente


conservado de V1. Em V2, foi possível observar os efeitos do processo de mineralização
da matéria orgânica do solo, pela dispersão das pontuações associadas à diminuição da
matéria orgânica, provavelmente, devido à redução da vegetação nativa em seu entorno e a
drenagem superficial do fluxo de água observado no local. Em V3, a saturação de água
(condicionada pela interrupção do fluxo de água pela estrada) desencadeou redução nas
taxas de decomposição da matéria orgânica e uma série de compostos intermediários são
formados, alterando a dinâmica da matéria orgânica do solo (NASCIMENTO et al.,
2010).
Os efeitos da intervenção antrópica foram claramente manifestados no
comportamento de V4, com pontuações agrupadas de forma oposta as estados do ambiente
natural conservado, consequência da significativa redução da matéria orgânica em
decorrência das interferências antrópicas ao longo do tempo. As mudanças no uso e
cobertura do solo, principalmente o desflorestamento, proporcionam um forte impacto nas
entradas de material orgânico e limitam a capacidade dessas zonas úmidas em acumular
carbono orgânico (SINCLAIR et al., 2020). Além disso, segundo esses autores, a
drenagem altera drasticamente os processos biogeoquímicos no solo e resulta em perda
rápida e irreversível de carbono armazenado ao longo de milênios.
O processo de degradação está ativo, mostrando nítida transformação nos atributos
morfológicos, químicos e físicos do solo. A antropização dessas áreas causa efeitos
negativos no ecossistema, produzindo perda da qualidade do solo e a descaracterização das
funções ambientais das veredas no bioma Cerrado. Conforme Santos et al. (2020) e Horák-
Terra et al. (2022a), mudanças no uso do solo em zonas úmidas interferem nos processos
pedogenéticos, em geral, com diminuição do estoque de carbono, alteração na dinâmica
hídrica, bem como desencadeamento de fenômenos de subsidência no solo.

4 CONCLUSÕES

As veredas em ambientes antropizados (V2, V3 e V4) apresentaram alterações nos


atributos morfológicos, químicos e físicos do solo. De maneira geral, as alterações
causadas pelo uso do solo para ocupação urbana no entorno da vereda V4 reduziram
expressivamente o teor de carbono orgânico e a capacidade de retenção de água.

As mudanças nos atributos avaliados do solo das veredas estão relacionadas a dois
principais processos: a) entrada de materiais orgânicos e inorgânicos, e b) fertilidade
14

natural. Isso sustenta que as veredas são ecossistemas complexos e sensíveis às


intervenções humanas e sugere-se que precisam ser protegidas para manter suas funções
ecossistêmicas.

5 AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade -


ICMBio e ao Parque Nacional de Brasília (PNB) por nos permitirem utilizar a área de
estudo e ao Laboratório Multidisciplinar de Pesquisas em Sistemas Agropecuários -
AGROPECLAB da UFVJM campus Unaí, para execução de análises.

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ARTIGO CIENTÍFICO II: INTERVENÇÕES ANTRÓPICAS ALTERAM A


QUALIDADE BIOLÓGICA E AS CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA
ORGÂNICA EM SOLOS DE VEREDAS DO BRASIL CENTRAL

RESUMO

As veredas são zonas úmidas tropicais importantes para o armazenamento e abastecimento


de redes hídricas locais e regionais, assim como para a estocagem de carbono orgânico. No
entanto, com expansão urbana e intensificação das atividades agrícolas, extensas áreas de
vegetação nativa foram suprimidas e substituídas aos arredores das veredas,
comprometendo seus importantes serviços ecossistêmicos. Este estudo teve como objetivo
avaliar veredas do Brasil central sob diferentes estados de conservação: conservada (V1 -
vereda em unidade de conservação) e antropizadas (V2 - vereda com uso agrícola no
entorno; V3 - vereda cortado por estrada; V4 - vereda em área urbana), levando-se em
consideração atributos químicos (C no solo e frações da matéria orgânica) e
microbiológicos (atividade enzimática, biomassa e respiração microbiana) nas camadas
superficiais de solos. Os solos das veredas antropizadas apresentaram alterações nos
atributos microbiológicos e nas características da matéria orgânica em relação à vereda
conservada. Reduções na ordem de 95% do carbono orgânico, 231% da biomassa
microbiana e 74% nas atividades das enzimas desidrogenase, β-glicosidase e fosfatase
ácida foram observadas na vereda situada em área urbana (V4) em comparação com vereda
em ambiente conservado. Além disso, houve aumento de quociente metabólico nessa área,
o que pode estar associado com a influência do adensamento urbano sob a qualidade do
solo. As alterações de uso do solo em áreas de veredas, por ação de atividades agrícolas ou
urbanas, indicam redução da qualidade do solo desse importante ecossistema do Brasil
central. Os atributos avaliados mostraram-se eficientes em atestar as modificações nas
características da matéria orgânica e na qualidade biológica nos solos das veredas, em
destaque, a avaliação da atividade enzimática do solo.

Palavras-chave: Atividade enzimática. Carbono da biomassa microbiana. Matéria


orgânica. Mudança de uso do solo; Serviços ecossistêmicos. Zonas húmidas tropicais.
19

ABSTRACT

Veredas are important tropical wetlands for storing and supplying local and regional water
networks, as well as for storing organic carbon. However, with urban expansion and
intensification of agricultural activities, extensive areas of native vegetation were
suppressed and replaced in the surroundings of the veredas, compromising their important
ecosystem services. This study aimed to evaluate veredas from central Brazil under
different conservation conditions: conserved (V1– vereda in a conservation unit); and
anthropized (V2 – vereda surrounded by agricultural activities; V3 – vereda cut by a road;
V4 – vereda in urban area), considering chemical (soil C and fractions of organic matter)
and microbiological (enzymatic activity, biomass and microbial respiration) attributes in
superficial soil layers. The soils of the anthropized vereda presented alterations in
microbiological attributes and in the characteristics of the organic matter in relation to the
conserved vereda. Reductions in order of 95% of organic carbon, 231% of microbial
biomass and 74% in the activities of dehydrogenase, β-glicosidase and acid phosphatase
enzymes were observed in the vereda located in urban area (V4) compared to vereda in
conserved environment. In addition, there was an increase in microbial metabolic quotient
in this area, which may be associated with the influence of urban concentration on soil
quality. Changes in land use in areas with veredas, due to agricultural or urban activities,
indicate reduction in quality of the soil in this important ecosystem in central Brazil. The
attributes evaluated showed to be efficient in attesting the changes in characteristics of
organic matter and biological quality in the soils of veredas, especially the evaluation of
the soil enzymatic activity.

Keywords: Enzymatic activity. Microbial biomass carbon. Organic matter. Land use
change. Ecosystem services. Tropical wetlands.
20

1 INTRODUÇÃO

As veredas são áreas úmidas tropicais do bioma Cerrado, onde predomina o estrato
arbóreo-arbustivo que é representado, principalmente, pela palmeira Mauritia flexuosa L. f.
(buriti) que ocorre em alinhamentos ou formações mais densas entre ecossistemas
adjacentes (RIBEIRO; WALTER, 1998; HORÁK-TERRA et al., 2022a). Constituem-se
num importante sistema represador da água armazenada nos planaltos planos, conhecidos
como chapadas e chapadões, ocorrentes no Planalto Central Brasileiro e que alimentam os
cursos d’água que formam a rede hídrica local e regional (RAMOS et al., 2006; SOUSA
et al., 2015).
Os solos das veredas têm origem pedogenética relacionada a processos de
hidromorfismo, o que resulta em ambiente de baixa oxidação e acúmulo de matéria
orgânica (RAMOS et al., 2006; MOREIRA et al., 2021). O Organossolo é a principal
classe de solo ocorrente nesse ecossistema (WANTZEN et al., 2012; HORÁK-TERRA et
al., 2022b), mostrando sua importância para estocagem de carbono orgânico (WANTZEN
et al., 2012; SOUSA et al., 2015). O estoque de carbono orgânico nas veredas do noroeste
de Minas Gerais e no Distrito Federal tem sido formado desde o Pleistoceno Tardio, por
volta de 35 mil anos AP (HORÁK-TERRA et al., 2022a; VIANA, 2022). No entanto, com
a expansão urbana e a intensificação das atividades agrícolas nessas regiões, extensas áreas
de vegetação nativa foram suprimidas e deram origem a campos cultivados ao arredor das
veredas (ROSOLEN et al., 2015; RIBEIRO et al., 2019). Desta forma, mudanças no solo,
causados não só por sua utilização direta, mas, também pelo uso das terras adjacentes
podem promover alterações nos teores e qualidade da matéria orgânica, com consequentes
perdas de carbono orgânico, colaborando para o aumento das emissões de CO2 e
comprometendo seus importantes serviços ecossistêmicos (CHEN et al., 2018; HORÁK-
TERRA et al., 2022a).
A matéria orgânica e suas frações são atributos chaves para a avaliação da
qualidade do solo, uma vez que estão diretamente relacionados à estruturação, fertilidade,
infiltração e retenção de água e atividade microbiana (ARAÚJO et al., 2019; PEREIRA et
al., 2021). A distribuição relativa das frações da matéria orgânica (ácidos húmicos, ácidos
fúlvicos e huminas), bem como proporção de carbono armazenado nessas frações, permite
uma avaliação sistêmica da qualidade da matéria orgânica do solo (SOUSA et al., 2015;
PEREIRA et al., 2021). Do mesmo modo, a fração viva da matéria orgânica do solo,
constituída por microrganismos, é considerada um indicador sensível por exercer funções
21

em vários processos ecológicos que podem impactar nos serviços ecossistêmicos e na


qualidade ambiental dos ecossistemas (GONÇALVES et al., 2019; MOREIRA et al.,
2021).
Muitos processos bioquímicos que ocorrem nas veredas são regulados por
microrganismos aeróbicos e anaeróbicos que atuam na decomposição da matéria orgânica,
na ciclagem de nutrientes e na degradação de substâncias tóxicas (BLOŃSKA et al., 2021;
MOREIRA et al., 2021). Dentre os atributos microbiológicos, a respiração basal, o
carbono da biomassa microbiana e a atividade enzimática são empregados como
indicadores biológicos em distintos estudos em áreas de diferentes fitofisionomias do
bioma Cerrado no Planalto Central Brasileiro (MENDES et al., 2012; SOUSA et al., 2015;
CARVALHO et al., 2018; MOREIRA et al., 2021; RIBEIRO et al., 2019, HORÁK-
TERRA et al., 2022a, 2022b). A atividade biológica se concentra nas camadas superficiais
do solo, e os microrganismos exibem respostas rápidas frente às mudanças no manejo do
solo, refletindo em um bom indicador na melhoria ou na degradação do solo (SILVA et al.,
2020; SILVA et al., 2021). Além disso, a avaliação de atributos biológicos em solos de
veredas não perturbadas pode se constituir em uma referência para avaliar o nível de
conservação do solo para áreas de veredas antropizadas (SOUSA et al., 2015).
Deste modo, torna-se importante a realização de estudos em veredas que
possibilitem a compreensão e o dimensionamento de intervenções relacionadas às
alterações das características do solo, bem como, a detecção e avaliação das alterações
ambientais. Sendo assim, a hipótese desse estudo é de que as diferentes interferências
antrópicas realizadas nos ambientes de veredas alteram significativamente os atributos
investigados, afetando negativamente a qualidade de seus solos. Para testar esta hipótese
foi proposto o objetivo de avaliar veredas do Brasil central, situadas em estados de
ambientes conservados e antropizados, a partir da quantificação de atributos químicos e
microbiológicos nas camadas superficiais de solos, como potenciais indicadores de
qualidade do solo.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Localização e amostragem do solo
As informações detalhadas sobre a localização e as características ambientais das
áreas (veredas) avaliadas referentes a este trabalho são apresentadas no item 2.1, Artigo
científico I, deste documento.
22

Foram coletadas amostras simples na profundidade correspondente à camada


superficial (0-20 cm) de três pontos em cada vereda previamente descrita (V1, V2, V3 e
V4), situadas em ambientes com diferentes estados de conservação, utilizando um trado
holandês no entorno de um ponto central dentro do limite das veredas, definidos pela
vegetação distinta e próximos as áreas de recarga hídrica (fundo plano). As amostras de
solo foram acondicionadas em sacos plásticos pré-identificados e transportadas ao
laboratório, armazenando-se parte em geladeira a 4 °C para futuras avaliações da atividade
microbiana. Outra parte das amostras foi seca ao ar, removendo-se as frações mais
grosseiras (folhas e raízes).

2.2 Fracionamento químico e índices de qualidade da matéria orgânica

O fracionamento químico da matéria orgânica foi realizado conforme descrito pela


Sociedade Internacional de Substâncias Húmicas – IHSS (SWIFT, 1996) com
modificações. Para isto, 4,0 g de solo (em quadruplicata) secos e peneirados (abertura 2,0
mm) foram acondicionados em tubos Falcon (50 ml), adicionando-se solução de NaOH 0,1
mol L-1, na razão 1:10 (v:v). Os tubos foram agitados por 15 min e então centrifugados (20
min, 2000 rpm), recolhendo-se a suspensão sobrenadante (ácidos húmicos + ácidos
fúlvicos), reservada separadamente. Esse procedimento foi repetido até obtenção de extrato
com absorbância em 250 e 465 m igual a zero. O resíduo remanescente, a humina (HU),
foi lavado três vezes com água destilada e centrifugado (15 min, 2000 rpm) e seco em
estufa de circulação forçada de ar a 60 °C, por 48h. O pH do extrato alcalino reservado foi
ajustado para pH 1,5 utilizando-se solução de HCl 6,0 mol L-1. Após, o extrato reajustado
foi centrifugado em tubos de centrifugas (20 min, 2000 rpm), recolhendo-se a suspensão
sobrenadante, correspondente aos ácidos fúlvicos (AF). O material precipitado após
acidificação e centrifugação correspondente à fração ácido húmico (AH).
A determinação do carbono orgânico total do solo (COT) e o carbono nos extratos
das frações AF, AH e HU foi realizada utilizando-se dicromato de potássio como oxidante,
seguida de titulação com sulfato ferroso amoniacal (YEOMANS; BREMNER, 1988). A
partir desses dados, índices de qualidade foram calculados de acordo com a proposição de
Labrador Moreno (1996).

2.3 Biomassa microbiana

O carbono da biomassa microbiana (C-BMS) foi determinado pelo método de


respiração induzida pelo substrato (RIS) proposto por Anderson e Domsch (1978), em
23

triplicata. Para isto, amostras de 20 g de solo seco receberam 60 mg de glicose em pó,


sendo em seguida incubadas à temperatura de 22 ºC, na presença de NaOH 0,1 mol L-1, por
24 h, no escuro. Posteriormente, adicionou-se 0,5 mL de BaCl2 (50 %) e duas gotas de
fenolftaleína 0,1%, procedendo-se, ao final, a titulação com HCl 0,025 mol L-1.
O cálculo da biomassa microbiana foi realizado empregando-se a Equação (1):
(1)
Onde: C-BMS = carbono da biomassa microbiana (μg C g-1 solo seco); 30 = constante (mg Cmic h
mL CO2-1); b = média do volume de HCl gasto para titular as provas em branco; a = volume de HCl
gastos para titular as amostras; K = concentração da solução de HCl; 22 = fator de conversão (1,0
mL HCl 1,0 mol L-1 corresponde a 22,0 mg de CO2); 1000 = fator de conversão de kg de solo para g
de solo; 1,8295 = densidade do CO2 a 22 °C; PA = massa de solo seco; 24 = fator de conversão para
transformação de 24 para 1 h.

2.4 Respiração basal do solo

Para a determinação da respiração basal do solo (RBS), utilizou-se a metodologia


apresentada por Alef e Nannipieri (1995). Amostras de 100 g de solo seco em triplicada
foram incubadas em estufa a 25 ºC por 168 h na presença de NaOH (0,5 mol L-1)
padronizado para captura de CO2 produzido. Após o período de incubação foi retirado o
recipiente contendo NaOH 0,5 mol L-1 e adicionado 1,0 mL de BaCl2 (50 %), para
completa precipitação de CO2, e duas gotas de fenolftaleína 0,1% como indicador e
posteriormente titulado com HCl 0,5 mol L-1.
A quantidade de C-CO2 liberado pelas amostras foi calculada de acordo com
fórmula Equação (2), proposta por Stotzky (1965):
[ ] ] (2)
Onde: RBS = respiração basal do solo (µg de C-CO2 g-1 solo dia-1); b = Volume de HCl gasto na
prova em branco; a = Volume de HCl gasto na amostra; N = Normalidade do HCl; E = Equivalente
do carbono; g = massa de solo seco; T = Tempo de incubação da amostra.
Ainda, foram avaliados os seguintes índices ecológicos: quociente metabólico
(qCO2) obtido pela relação entre a quantidade de carbono liberada na respiração basal e a
quantidade de carbono quantificada na biomassa microbiana [ ], e o
quociente microbiano (qMic) pela equação [ ] (ANDERSON;
DOMSCH, 1990).

2.5 Atividade enzimática do solo

Foram determinadas as atividades das enzimas fosfatase ácida, arilsulfatase e β-


glicosidase, de acordo com a metodologia descrita por Tabatabai (1994). As medidas
foram obtidas por meio da determinação colorimétrica (410 m) do p-nitrofenol liberado
24

por essas enzimas, após as amostras de solos serem incubadas com solução tamponada de
substratos específicos. Para a avaliação da atividade da urease, utilizou-se o método
baseado na determinação da amônia liberado após a incubação do solo com ureia
(TABATABAI; BREMMER, 1972).
A atividade da enzima desidrogenase foi obtida conforme a metodologia de
Thalmann (1968), que consiste em incubar a amostra de solo com TTC (cloridrato de 2,3,5
trifeniltetrazólio) e determinação do teor de trifenilformazan (TFF) após o período de
incubação. Já a atividade de hidrólise de diacetato de fluoresceína (FDA) foi determinada
pelo método de Alef (1995), que se baseia na formação de fluoresceína sódica depois da
incubação de amostras de solo com solução de diacetato de fluoresceína por 3 h a 24 °C.
Todas as medidas foram realizadas em quadruplicata.

2.6 Análises estatísticas

Com auxílio do software R (versão 3.6.2) (R CORE TEAM, 2020) os dados


quantitativos foram testados quanto às hipóteses de normalidade e homogeneidade das
variâncias por meio dos testes Shapiro-Wilk e Bartlet (p > 0,05). Com os pressupostos
atendidos, os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo
teste de Tukey ao nível de significância de 5% (p < 0,05) e uma análise multivariada
“Principal component analysis” (PCA), usando os pacotes FactoMineR (LE; JOSSE;
HUSSON, 2008) e factoextra (KASSAMBARA; MUNDT, 2020) foi empregada para
determinar a relação entre os atributos e os diferentes estados de conservação das áreas de
veredas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Carbono orgânico total e frações húmicas da matéria orgânica do solo

Houve diferença no COT das amostras dos solos das diferentes veredas (Tabela 1),
que apresentaram a seguinte ordem de ambientes: V1 > V2 > V3 > V4. Essa variação pode
estar relacionada aos estados ambientais das áreas de estudo, já que o conteúdo de COT é
significativamente reduzido nas veredas com alterações antrópicas, resultado observado
principalmente em V4 situada na área urbana no município de Arinos-MG, que apresentou
redução de ~95% em relação à vereda em área conservada (363,78±3,23 e 20,97±0,19 g
kg-1, respectivamente). Valores de COT menores de 80 g kg-1 indicam solos constituídos
essencialmente por compostos inorgânicos (SANTOS et al., 2018), que apresentam intenso
processo de degradação da matéria orgânica (MOREIRA et al., 2021). Diferentes estudos
25

verificaram que mudanças resultantes de atividades antrópicas na área de recarga hídrica


ou aos arredores das veredas influenciam na redução dos teores de carbono orgânico no
solo (SOUSA et al., 2011; WANTZEN et al., 2012; SOUSA et al., 2015; ROSOLEN et
al., 2015; PASSOS et al., 2015).
Horák-Terra et al. (2022a) observaram que a retirada da cobertura vegetal e a
abertura de canal de drenagem em vereda localizada no noroeste de Minas Gerais, há cerca
de 20 anos, reduziu em 22% os teores de COT, resultando no declínio do estoque de
carbono em torno de 14 kg m-2. De outra forma, as veredas conservadas acumulam
resíduos vegetais, elevando os teores de COT a valores superiores a 80 g kg-1 devido à
elevada produção de biomassa vegetal e por permanecerem longos períodos de
encharcamento (PEREIRA; FIGUEIREDO, 2018).
Tabela 1. Teores de carbono orgânico no solo e nas frações húmicas (g kg-1); grau de
condensação da matéria orgânica (g kg-1); estabilidade estrutural da matéria orgânica e
grau de humificação da matéria orgânica (%) da camada superficial de solos de veredas
sob diferentes estados de conservação.
Variáveis V1 V2 V3 V4
363,78±3,23 135,13±1,41 82,75±0,87 20,97±0,19
COT
A B C D
51,97±0,71 21,63±1,28 11,17±0,40 3,46±0,14
CAF
A B C D
113,39±1,06 43,80±1,34 17,98±0,60 5,40±0,37
CAH
A B C D
164,12±0,8 55,23±0,65 47,50±1,10 10,72±0,49
CHUM
A B C D
2,18±0,03 2,03±0,10 1,61±0,09 0,64±0,04
CAH/CAF(¹)
A B C D
0,99±0,01 0,84±0,03 1,63±0,07 1,21±0,11
CHUM/(CAH+CAF)(²)
C D A B
[(CAH+CAF+CHUM) 90,58±1,37 89,29±1,38 92,63±0,38 93,38±0,44
/CTOTAL]*100(³) BC C AB A
COT: carbono total; CAF: C na fração ácidos fúlvicos; CAH: C na fração ácidos húmicos; CH: C na fração
huminas; (1)CAH/CAF: razão entre o conteúdo de C na fração ácidos húmicos pela fração ácidos fúlvicos
(indicativo do grau de condensação da matéria orgânica); (2)CHUM/(CAH+CAF): estabilidade estrutural da
matéria orgânica; (3) [(CAH+CAF+CHUM/COT]*100: proporção de matéria orgânica humificada no solo
(indicativo do grau de humificação). Os valores correspondem a média dos tratamentos mais ou menos os
desvios padrão. Letras maiúsculas diferentes na mesma linha correspondem a diferenças significativas pelo
teste de Tukey a p < 0,05.
Os teores carbono nos AH (CAH), AF (CAF) e huminas (CHUM) apresentaram as
mesmas ordens decrescentes que aquela observada para COT (V1 > V2 > V3 > V4). A
maior parte do carbono presente nas frações húmicas foi observada em CHUM,
independente dos estados de conservação das distintas áreas de veredas. Esse resultado
encontra respaldo na literatura (FONTANA et al., 2010; EBELING et al., 2011; 2013) e
26

pode ser atribuído ao processo de humificação direta dos tecidos lignificados modificados
por demetilação, já que os mecanismos de insolubilização e neossíntese microbiana são
reduzidos em ambientes hidromórficos. Em V4, as alterações provocadas pela urbanização
(redução da cobertura vegetal nativa e impermeabilização do solo) provavelmente
estimularam a mineralização até mesmo das frações humificadas mais estáveis como C AH e
CHUM. De fato, observam-se entre V1 e V4 reduções de 93,5% para CHUM, 95,2% para CAH,
enquanto para CAF, essa diferença foi de 93,3%, apontando menor capacidade desse
ambiente em armazenar, de forma estável, carbono nas frações humificadas da matéria
orgânica.
De acordo com a interpretação de Labrador Moreno (1996), a relação CAH/CAF
expressa o grau condensação da matéria orgânica e valores superiores à unidade (1,0)
indicam uma boa evolução da matéria orgânica. Nas áreas V1, V2 e V3, os valores dessa
relação foram de maiores que 1,0, com maior valor presente em V1 (2,18±0,03 g kg-1). De
acordo com Santos et al. (2018) e Silva, Valladares e Ferreira (2020) em horizontes
hísticos, elevados valores desta relação indicam a influência das condições anaeróbias
sobre o processo de humificação (polimerização e condensação). Valores elevados dessa
relação foram também observados por Ebeling et al. (2013), Silva, Valladares e Ferreira
(2020) e Horák-Terra et al. (2022a) no estudo de Organossolos de diferentes regiões do
Brasil. Para V4, a relação CAH/CAF foi menor que 1,0 (0,64±0,04 g kg-1), valor 67,0%
menor que a média das três outras áreas (1,94 g kg-1), que usualmente são encontrados em
solos tropicais com menor intensidade do processo de humificação (condensação e
síntese), que são atribuídas à intensa mineralização dos resíduos e ao baixo conteúdo de
bases trocáveis (CANELLAS; FAÇANHA, 2004).
A variação na participação das frações humificadas em função dos ambientes
resultou também em diferenças nos valores da relação CHUM/(CAH+CAF). Essa relação pode
ser empregada como indicativo da estabilidade estrutural da matéria orgânica, sendo que
maiores valores significam maior estabilidade (LABRADOR MORENO, 1996) e, no
presente trabalho, verificaram-se maiores valores em V3 e menores em V2. Contudo, é
preciso avaliar mais a evolução desta relação do que os valores absolutos propriamente
ditos. Assim, ao avaliar o grau de humificação da matéria orgânica pelo índice
([(CAH+CAF+CHUM)/COT]*100), observou-se que V3 (92,6%) e V4 (93,4%) estão acima
dos valores considerados padrão descritos por Labrador Moreno (1996), que indicam solos
27

empobrecidos sem aporte de matéria orgânica ou uma evolução limitada da matéria


orgânica devido a fatores edáficos ou de manejo.
Em V4, o valor obtido pode estar relacionado à reduzida cobertura vegetal nativa e
a matéria orgânica de origem antrópica, em V3, pode ter sido influenciada pela
decomposição mais lenta do material vegetal devido estagnação de água no ambiente. Já
em V1 e V2, por apresentarem vegetação natural mais conservada, os índices
apresentaram-se dentro dos valores padrões observados por Labrador Moreno (1996), ou
seja, o processo de humificação realizou-se inteiramente, corroborando com a maior
proporção de frações mais estáveis nesses ambientes.

3.2 Biomassa e respiração microbiana do solo

O maior valor de C-BMS foi observado em V1 (312,5 μg C g-1 solo seco), seguido
de V2 (251,4 μg C g-1 solo seco), V3 (143,8 μg C g-1 solo seco) e V4 (94,3 μg C g-1 solo
seco) (Figura 1A). O valor de C-BMS em V1 foi aproximadamente 231% maior ao
observado para V4. Silva et al. (2016) verificaram que mesmo com dificuldade de
degradação da serapilheira pelos microrganismos, em função do excesso de água em
ambientes como de veredas, a maior produção de biomassa vegetal em ambiente de mata
preservada auxilia no estoque do carbono e na biodiversidade de compostos orgânicos.

Horák-Terra et al. (2022a) trabalhando em ambiente conservado e antropizado de


uma vereda do noroeste de Minas Gerais, reportaram que a área conservada apresentou
valores de C-BMS 90% maiores nas camadas superficiais, sendo isto atribuído à elevada
proporção de matéria orgânica pouca humificada e ao excesso de água no ambiente.
O comportamento da RBS foi similar ao verificado na avaliação da biomassa
microbiana, com maior da atividade respiratória dos microrganismos em V1 em
comparação às áreas com intervenção antrópica, sendo menores em V4 (Figura 1B). Como
a microbiota respira a elevadas taxas para se manter nesses pedoambientes
predominantemente saturados com água, as elevadas taxas de respiração fornecem a
energia para a manutenção do metabolismo da atividade biológica (SILVA et al., 2009).
Dessa forma, em conjunto com maiores valores de COT, C-BMS e baixo qCO2 em V1,
indicam atividade biológica intensa neste ambiente.
Os valores baixos de qCO2 estão relacionados a áreas mais estáveis e com baixo
grau de perturbação, indicando menor perda de C na forma de CO2 através da respiração
por unidade de biomassa (SILVA et al., 2016; MARINHO JUNIOR et al., 2021), o que
28

está de acordo com os resultados encontrados nas áreas de veredas com nenhum ou menor
grau de perturbação (V1 e V2). Altos índices de qCO2 usualmente são observados em áreas
sob algum tipo de evento ou manejo resultante em estados ambientais estressantes para a
comunidade microbiana, que pode ser notado a partir do maior gasto energético
(PRIMIERI; MUNIZ; LISBOA, 2017; BRITO et al., 2019). O que foi observado para V3,
ambiente com excesso de água retido no ambiente e com vegetação reduzida, condições
que podem ter contribuído para a menor eficiência metabólica.

Figura 1. A) Carbono da biomassa do solo (C-BMS), (B) Respiração Basal do Solo (RBS),
(C) Quociente metabólico (qCO2), e (D) Quociente microbiano (qMic) da camada
superficial de solos de veredas sob diferentes estados de conservação. Letras minúsculas
diferentes correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05.

Os solos das diferentes áreas de veredas apresentaram valores de qMic abaixo de


1%, e segundo Araújo et al. (2019) e Marinho Junior et al. (2021) valores de qMic
inferiores a 1% sugerem existência de fator limitante à atividade microbiológica no solo e
processo mais lento da mineralização da matéria orgânica. Nos Organossolos presentes em
veredas, a ação dos microrganismos é dificultada por sua condição hidromórfica,
resultando em decomposição mais lenta devido ao baixo potencial de oxirredução
(MOREIRA et al., 2021; HORÁK-TERRA et al., 2022a). Nesse sentido, em geral, qCO2 e
qMic de solos orgânicos são mais baixos comparados aos solos minerais (SILVA et al.,
29

2009; CAMPOS et al., 2010; SILVA et al., 2013). Os menores qMic observados em V1
(0,09%), V3 (0,17%) e V2 (0,19%) representam menor ciclagem de nutrientes e,
consequentemente, maior acúmulo de carbono. Já em V4, o maior valor de qMic (0,45%)
sugere condição de estresse para a população microbiana em decorrência da redução da
cobertura vegetal nativa, resultante das ações antrópicas, refletindo diretamente na reserva
de substrato orgânico e sugerem proporções mais baixas matéria orgânica do solo estável
(SOUSA et al. 2015; NUNES et al., 2022).

3.3 Atividade enzimática do solo

De modo geral, os maiores níveis de atividade para todas as enzimas avaliadas


foram presentes em V1 (Tabela 3). As atividades da β-glicosidase, desidrogenase,
fosfatase ácida, urease e arilsulfatase, enzimas catalisadoras envolvidas nas transformações
biogeoquímicas de C, P, N e S (ARAÚJO et al., 2019), apresentaram tendência de
diminuição na seguinte ordem: V1 > V2 > V3 > V4. O mesmo comportamento foi
observado para FDA, medida específica da atividade hidrolítica (lípases, proteases e
esterases) e indicador da atividade enzimática total do solo (ELBL et al., 2019).

Tabela 2. Atividade enzimática da camada superficial de solos de veredas sob diferentes


estados de conservação.
Variáveis V1 V2 V3 V4
69,28 ± 2,35 52,08 ± 3,97 51,79 ± 3,01 27,05 ± 1,49
FDA(¹)
A B B C
270,73 ± 6,38 170,25 ± 5,46 170,54 ± 2,63 70,02 ± 2,29
Desidrogenase(²)
A B B C
606,88 ± 3,91 493,43 ± 5,82 429,67 ± 7,62 164,44 ± 5,34
β-glicosidase(³)
A B C D
775,16 ± 19,39 440,13 ± 12,19 326,39 ± 5,96 210,56 ± 9,70
Fosfatase ácida(³)
A B C D
65,74 ± 1,19 52,08 ± 6,66 47,07 ± 5,53 35,35 ± 3,22
Urease(4)
A B B C
51,27 ± 1,45 37,70 ± 2,15 28,90 ± 0,70 16,48 ± 0,96
Arilsulfatase(3)
A B C D
FDA: hidrólise do diacetato de fluoresceína. (1)μg de fluoresceína g-1 h-1; (2)µg TFFg -1 h-1; (3)μg p-nitrofenol g-
1
h-1; (4)μg de N-NH4 g-1 h-1. Letras maiúsculas diferentes na mesma linha correspondem a diferenças
significativas teste de Tukey a p < 0,05.

Na atividade da desidrogenase, os maiores valores encontrados foram de 270,73 ±


6,38 µg TFFg-1 h-1 em V1. Para V4 os valores obtidos foram quase quatro vezes menores
(70,02 ± 2,29 µg TFFg-1 h-1), representando uma redução de ~74%, bem como, reduções
de ~73% para β-glicosidase e fosfatase ácida quando comparados V1 e V4. Esse cenário
confirma a redução da atividade microbiana e potencial processo de mineralização do solo
30

(ELBL et al., 2019), além da possível condição de estresse microbiano a partir da


avaliação dos dados de qCO2 no ambiente V4, que indicam a influência negativa da
concentração urbana sob a qualidade do solo. No ecossistema de veredas, a estabilidade do
estoque de carbono no solo é severamente afetada pela drenagem e consequente exposição
do solo a elevados potenciais de oxirredução, que podem potencializar a emissão de gases
do efeito estufa (MOREIRA et al., 2021).
As veredas V2 e V3 apresentaram valores similares para a atividade de FDA (~52
μg de fluoresceína g-1 h-1), desidrogenase (~170 µg TFFg -1
h-1) e urease (52,08±6,66 e
47,07±5,53 μg de N-NH4 g-1 h-1, respectivamente) e com diferenças significativas na
atividade da β-glicosidase, fosfatase ácida e arilsulfatase, com menores níveis de atividade
em V3. Em V2, a atividade dessas enzimas foi limitada possivelmente em função da
reduzida incorporação de matéria orgânica no solo que, por consequência, afetou a
comunidade microbiana. O uso e ocupação do solo para agricultura e o desmatamento são
os principais fatores responsáveis pela exploração das comunidades de plantas nesse
ecossistema, que alteram e levam ao desaparecimento das formações vegetais nativas
(NUNEs et al., 2022). Em V3, a retirada da vegetação e o aterramento para construção da
rodovia que atravessa a vereda funcionaram como impedimento ao regime de vazão da
nascente e/ou curso de água, permitindo a saturação do solo por água por maior tempo, o
que pode ter favorecido à formação de compostos intermediários que tornaram esse
ambiente desfavorável à atividade microbiana (HORÁK-TERRA et al., 2022a).
Por estar em um ambiente com vegetação nativa e sem intervenção antrópica, a
vereda V1 provavelmente é um ambiente que apresenta maior acúmulo e diversidade de
resíduos vegetais, os quais são incorporados nas camadas superficiais do solo, contribuindo
para maior disponibilidade de substratos para biomassa microbiana (NUNES et al., 2022).
Isso corrobora com os resultados de maior C nas frações e qualidade da matéria orgânica,
assim como, maior qualidade da biomassa e respiração microbiana.
Moreira et al. (2021) observaram que de diferentes fitofisionomias existentes no
bioma Cerrado (vereda, cerrado sensu stricto e mata seca semidecídua), a vereda
apresentou os maiores valores para respiração microbiana, atividade enzimática (β-
glicosidase, fosfatase ácida, urease e FDA) e biomassa microbiana, os quais foram
influenciados pelo maior teor de matéria orgânica e potencial equilibrado de oxirredução
naquele ambiente. A atividade da enzima β-glicosidase, por exemplo, está relacionada ao
ciclo do carbono e está diretamente relacionada à quantidade e qualidade da matéria
31

orgânica do solo (ALMEIDA; NAVES; MOTA, 2015). Portanto, em solos preservados e


com alta quantidade dos resíduos orgânicos, maior quantidade de açúcares simples é
incorporada e disponibilizada para a população microbiana (MOREIRA et al., 2021).

3.4 Análise multivariada

Dois componentes principais foram obtidos da PCA, que correspondem a 94,6% da


variância total do conjunto de dados, que expressam a relação entre os atributos avaliados e
as estados de conservação das veredas. O primeiro componente (CP1) explicou 82,3% da
variância dos dados, a partir da contribuição da maioria dos atributos químicos e
microbiológicos, com contribuição negativa de qMic e índice de grau de humificação
(GRAU_HUM) (Figura 2b). Por outro lado, o segundo componente (CP2) explicou 12,3%
da variância pela alta contribuição especialmente dos atributos qCO2, a relação
CHUM/(CAH+CAF) indicativo de estabilidade estrutural (EE) e o GRAU_HUM (Figura 2c).
Na Figura 2a observa-se que V1 foi o ambiente que mais se relacionou com os
atributos do CP1, ou seja, com a maior atividade microbiológica (respiração e atividade
enzimática) e aos teores de C no solo e nas frações da matéria orgânica. Isso é um
indicativo de que áreas de veredas com vegetação conservada, de fato, contribuem para
maior entrada do material orgânico e para a atividade da população microbiana. A partir da
relação das enzimas FDA e desidrogenase com RBS no CP1, pode-se considerar que são
bioindicadores adequados a avaliação da atividade microbiana total em relação ao estado
do ambiente em solos hidromórficos, igualmente consideradas por Komilis; Evangelou e
Voudrias (2011), Sousa et al. (2015) e Elbl et al. (2019). Bem como, a relação positiva da
atividade das enzimas arilsulfatase e β-glicosidase com a concentração de COT no solo
(ROCHA et al., 2022).
Destaca-se ainda, que a alta proporção de contribuição de todas as enzimas
avaliadas (arilsulfatase, urease, fosfatase ácida, desidrogenase, β-glicosidase e FDA) no
comportamento do CP1 (Figura 2b), é um forte indício da relação direta com o
comportamento das frações húmicas da matéria orgânica, do conteúdo de carbono orgânico
solo e a eficiência dos microrganismos na utilização dos compostos orgânicos mensurados
pelo qMic, indicando um alto potencial de uso na avaliação da qualidade do solo devido
sua eficiência e a alta resposta as mudanças que ocorrem no uso do solo das veredas.
O posicionamento de V2 também está associado ao CP1, mas em menor proporção.
Exibiu maior relação com C-BMS, que pode estar associado à proteção do solo pela
32

vegetação natural na área da amostragem (área de recarga hídrica), assim como, as áreas
próximas serem cobertas na maioria do ano por cultivos agrícolas, que podem ter
contribuído para a manutenção da biomassa microbiana (SOUSA et al., 2015).

Figura 2. Biplot da análise de componentes principais (PCA) dos atributos químicos e


microbiológicos da camada superficial dos solos de veredas sob diferentes estados de
conservação (a). Proporção da contribuição dos atributos avaliados com as variâncias do
primeiro componente – CP1 (b) e segundo componente – CP2 da PCA (c). V1: vereda em
unidade de conservação; V2: vereda com uso agrícola no entorno; V3: vereda cortada por
estrada; e V4: vereda em área urbana.

V4 foi fortemente relacionado com qMic e projetou-se negativamente no CP1. Essa


relação mostrou o qMic tende a aumentar com a diminuição das frações de carbono do solo
e da matéria orgânica (COT, CAF, CAH, CHUM), bem como as atividades enzimáticas,
33

possibilitando inferir que, ao considerar a média das áreas de vereda avaliadas, o aumento
do qMic está associado com redução nas frações de carbono no solo. Em consequência, a
menor disponibilidade de carbono em relação a biomassa microbiana, afeta negativamente
a atividade enzimática no solo. Könönen et al. (2018) descrevem que as interferências
antrópicas no manejo do solo em zonas úmidas modicam as condições bióticas e abióticas
para processo de decomposição, resultado de alterações na entrada de material orgânico e
nível do lençol freático, e consequentemente, a qualidade do substrato para atividade
microbiana.
V3 foi relacionada positivamente com os atributos contribuintes do CP2, que
evidenciou que a condição de estresse microbiano (elevado qCO2) e sua relação com a
estabilidade estrutural e o grau de humificação é resultado do baixo aporte e evolução da
matéria orgânica, o que sugere intensa competição dos microrganismos pelo carbono
orgânico e, consequentemente, maior estresse, provocado pela condição de estagnação de
água, que eleva o consumo de energia e a produção de CO2 pelos microrganismos. De
acordo com Horák-Terra et al. (2022a) interferências antrópicas nos ecossistemas de
veredas refletem diretamente no conteúdo de matéria orgânica e nas perdas de carbono do
solo, e consequentemente, na eficiência metabólica dos microrganismos, corroborando
com resultados encontrados neste estudo.

4 CONCLUSÕES

As características da matéria orgânica e as atividades mediadas por microrganismos


foram afetadas pelas mudanças no uso do solo por atividades agrícolas ou urbanas no
entorno das veredas.
Dentre as diferentes intervenções antrópicas, o uso do solo para edificações urbanas
entorno da vereda, foi o que reduziu expressivamente o teor de carbono orgânico, a
biomassa microbiana e a atividade das enzimas desidrogenase, β-glicosidase e fosfatase
ácida.
Em geral, os atributos avaliados mostraram-se eficientes em atestar as modificações
nas características da matéria orgânica e na qualidade biológica nos solos das veredas. Em
destaque, a avaliação da atividade das enzimas do solo (arilsulfatase, urease, fosfatase
ácida, desidrogenase, β-glicosidase e FDA) foi o indicador eficiente e de alta resposta as
mudanças no uso do solo das veredas.
34

5 AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade


(ICMBio) e ao Parque Nacional de Brasília (PNB) por nos permitirem utilizar a área de
estudo e a Universidade Vila Velha (UVV) pelo auxílio no uso de seus laboratórios para
realização de análises.

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38

ARTIGO CIENTÍFICO III: CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E


ESPECTROSCÓPICA DE ÁCIDOS HÚMICOS ISOLADOS DE SOLOS DE
VEREDAS SOB DIFERENTES ESTADOS DE CONSERVAÇÃO

RESUMO

A avaliação da qualidade e das mudanças na composição química/estrutural dos ácidos


húmicos (AH) reflete estados de gênese e manejo do solo. Por meio da análise elementar,
13
acidez total, de dados espectroscópicos (IF, UV-Vis, FTIR e C RMN) foram
caracterizados os AH da camada superficial de quatro perfis de solos pertencentes a
veredas do Brasil central, situadas em área conservada (V1 – vereda em unidade de
conservação) e antropizadas (V2 – vereda com uso agrícola no entorno; V3 – vereda
cortada por estrada; V4 – vereda em área urbana). A análise das características estruturais
revelou diferenças entre os AH avaliados. Os AH-V1 apresentaram maiores teores de C e
razão C/N, indicando maior estabilidade biológica. A razão H/C mostrou para os AHs dos
Organossolos de V1, V2 e V3 maior proporção C em grupos aromáticos, e para o Neossolo
de V4, maior presença de C em grupos alifáticos. Dentre os grupamentos funcionais ácidos
os diferentes AH apresentaram maior quantidade de grupamentos fenólicos em relação a
grupamentos carboxílicos. Foram observados valores elevados da relação E4/E6 para AH-
V4, compatível com sua menor complexidade química revelada pelos espectros de IF e
FTIR. A ressonância magnética nuclear (13C RMN) mostrou para os AH isolados de V1,
V2 e V3 estruturas mais recalcitrante e contribuição geral do carbono hidrofóbico,
enquanto AH-V4 maior labilidade e maior contribuição de carbono hidrofílico. Os AH
oriundos do solo da vereda pertencente ao ambiente conservado (V1) apresentaram maior
evolução química do que aqueles de ambientes antropizados (V2, V3 e V4). Dentre as
diferentes intervenções antrópicas no entorno das veredas, o uso do solo para edificações
urbanas (V4) foi que exibiu AH menos evoluídos.

Palavras-chave: Espectroscopia. Substâncias húmicas. Mudança de uso do solo. Zonas


húmidas tropicais.
39

ABSTRACT

The evaluation of the quality and changes in chemical/structural composition of humic


acids (HA) reflects genesis conditions and soil management. Through elemental analysis,
13
total acidity and spectroscopic data (IF, UV-Vis, FTIR and C NMR) the HA of surface
layer of four soil profiles belonging to veredas from central Brazil were characterized,
located in conserved (V1 – vereda in a conservation unit); and anthropized (V2 – vereda
surrounded by agricultural activities; V3 – vereda cut by a road; V4 – vereda in urban area)
conditions. The analysis of structural traits revealed some differences between the AH
evaluated. The HA-V1 showed higher C contents and C/N ratio, indicating greater
biological stability. The H/C ratio showed a higher proportion of C in aromatic groups for
HAs from Organosols of V1, V2 and V3, and for Neosol from V4, a greater presence of C
in aliphatic groups. Among the acidic functional groups, the different HAs showed a
higher amount of phenolic groups in relation to carboxylic groups. High values of E4/E6
ratio were observed for AH-V4, compatible with its lower chemical complexity revealed
by the IF and FTIR spectra. Nuclear magnetic resonance (13C NMR) showed for AH
isolated from V1, V2 and V3 structures more recalcitrant and general contribution of
hydrophobic carbon, while AH-V4 greater lability and greater contribution of hydrophilic
carbon. HA from the soil of the vereda belonging to the conserved environment (V1)
showed greater chemical evolution than those from anthropized environments (V2, V3 and
V4). Among the different anthropic interventions around the veredas, land use for urban
constructions (V4) was the one that exhibited less evolved HA.

Keywords: Spectroscopy. Humic substances. Land use change. Tropical wetlands.


40

1 INTRODUÇÃO

As veredas são ecossistemas tropicais úmidos associados a solos hidromórficos


influenciados pela flutuação sazonal do lençol freático, constituindo-se em ambientes de
oxirredução e de grande aporte de matéria orgânica (ROSOLEN et al., 2015). Reservas
significativas de carbono orgânico são armazenados em solos de zonas úmidas, onde 60-
85% da matéria orgânica consistem em substâncias húmicas (SIRE; KLAVINS, 2010). As
substâncias húmicas (SH) formam a maior parte do componente orgânico do solo, turfa e
águas naturais e originam-se de plantas e tecidos animais através da transformação
química, bem como, da degradação biológica por microrganismos, resultando em
estruturas químicas complexas que são mais estáveis do que o material original
(CANELLAS et al., 2002).
A matéria orgânica humificada do solo é composta por diferentes frações e de
acordo com sua solubilidade são classificadas como: ácidos húmicos (AH) solúvel em
meio básico e insolúvel em meio fortemente ácido; ácidos fúlvicos (AF) solúvel em meio
ácido ou básico; e as huminas (HU) fração residual insolúvel em qualquer valor de pH
(STEVENSON, 1994). Estas substâncias fazem parte de um sistema supramolecular
extremamente heterogêneo, sendo diferenciadas de acordo com as variações na sua
composição química, acidez, grau de hidrofobicidade, e associações de moléculas (ROSA
et al., 2017). Entre as frações humificadas (AF e AH), os AH apresentam maior
estabilidade da matéria orgânica e são responsáveis pela fixação de carbono orgânico no
solo (CANELLAS et al., 2002). Os AH possuem compostos por associações,
predominando compostos hidrofóbicos (cadeias polimetilenicas, ácidos graxos, esteroides)
estabilizados em pH neutro por forças hidrofóbicas dispersivas (DOBBSS et al., 2009). A
composição química, tamanho molecular, estrutura e grupos funcionais dos AH são
diferentes dependendo da origem e de seu modo de gênese (ENEV et al., 2014).
Estudos capazes de avaliar as características estruturais da matéria orgânica
humificada, como AH, são fundamentais para entender a sustentação dos diferentes
ecossistemas, e sua participação na ciclagem do solo, disponibilidade de nutrientes e
sequestro de carbono (NOBILI; BRAVO; CHEN, 2020; NOVOTNY et al., 2020; TADINI
et al., 2021). Os AH são compostos estáveis, ou seja, de difícil degradação e exercem
influência sobre os atributos químicos, físicos e biológicos do solo (BALDOTTO;
BALDOTTO, 2014). Constituindo, portanto, um indicador natural do processo de
41

humificação e que reflete tanto a condição de gênese como a de manejo do solo (SOUZA
et al., 2020).
No processo de humificação ocorre a estabilização do carbono no solo, e isso incide
da adição de compostos mais estáveis com alta energia de fluorescência, por exemplo,
cadeias aromáticas (como grupos quinona), ou pela preservação de compostos mais
resistentes à degradação química, gerando grupos quimicamente estáveis (SENESI et al.,
2016). Devido intervenções humanas nas áreas de veredas, como o aumento de áreas
agrícolas, retirada de água, construção de canais e barragens, supressão da vegetação, e
aumento de infraestruturas como a expansão da urbanização, têm contribuído para
descaracterização e perdas desse ecossistema (ROSOLEN et al., 2015; BRASIL et al.,
2021). Além disso, as mudanças climáticas e incêndios têm sido uma grande ameaça no
processo de degradação das veredas (NUNES et al., 2022). De acordo com Dodla, Wang e
Cook (2012) o clima e meio ambiente, uso da terra e a composição da vegetação são
fatores importantes no controle da formação dos AH.
Técnicas químicas e espectroscópicas vêm sendo empregadas na caracterização e
identificação dos diferentes materiais húmicos, que auxiliam na avaliação das mudanças
estruturais e no grau de evolução química (ENEV et al., 2014; ZHANG et al., 2020;
ARAÚJO et al., 2022). Estas ferramentas são consideradas essenciais para avaliação da
qualidade e das transformações na composição química/estrutural das SH e das interações
desta com a matriz do solo (PEREIRA et al., 2021). Dentre os diferentes procedimentos
espectroscópicos destacam-se: a espectroscopia de fluorescência (465 nm) que está
diretamente relacionado com o grau de humificação das SH, avaliado pelo incremento de
estruturas conjugadas com ressonância de elétrons, tais como anéis aromáticos e radicais
livres do tipo semiquinonas (MILORI et al., 2002); a espectroscopia na região
ultravioleta-visível (UV-Vis) empregada pela avaliação da razão E4/E6, que está
relacionada à condensação estrutural e a aromaticidade dos AH, podendo ser indicativo do
grau de humificação (PEREIRA et al., 2021); a espectroscopia na região do
infravermelho (IV) utilizada para caracterizar e fornecendo informações estruturais e
funcionais das SH, especialmente de grupos oxigenados, proteínas, polissacarídeos e
proporção de grupos aromáticos/alifáticos e hidrofílicos/hidrofóbicos (DOBBSS et al.,
2009; DUARTE; FERNÁNDEZ-GETINO; DUARTE, 2013); e o procedimento de
espectroscopia de ressonância magnética nuclear do carbono-13 em estado sólido (13C
RMN) empregada na análise estrutural de materiais complexos, que envolvem a
42

identificação e quantificação dos diferentes grupos funcionais, tipos de carbono e avaliação


da aromaticidade dos AH (ZHANG et al., 2020).
O emprego dessas técnicas permite correlacionar à qualidade e o processo de
evolução dos materiais húmicos com as características do ambiente que são formados
(ENEV et al., 2014). As mudanças no ecossistema de veredas devido as interferências
antrópicas tornam estes ambientes mais suscetível aos processos de degradação da matéria
orgânica, devido à oxidação e que podem levar a mudanças nas características dos AH
(ARAÚJO et al., 2021; HORÁK-TERRA et al., 2022). Deste modo, a hipótese desse
estudo é de que diferentes intervenções antrópicas ao ecossistema vereda alteram as
características estruturais dos ácidos húmicos de seus solos. Para testar essa hipótese foi
proposto o objetivo de caracterizar, por meio de métodos químicos e espectroscópicos, os
ácidos húmicos dos horizontes superficiais de quatro perfis de solos pertencentes a veredas
do Brasil central, situadas em estados de ambientes conservados e antropizados.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Localização e amostragem do solo

As informações detalhadas sobre a localização e as características ambientais das


áreas (veredas) avaliadas referentes a este trabalho são apresentadas no item 2.1, Artigo
científico I, deste documento.
Foram coletadas amostras da camada superficial (0-20 cm) de três perfis de solos
de veredas sob diferentes estados de conservação: conservada (V1 – vereda em unidade de
conservação); e antropizadas (V2 – vereda com uso agrícola no entorno; V3 – vereda
cortada por estrada; e V4 – vereda em área urbana), com auxílio de um trado holandês no
entorno de um ponto central dentro do limite das veredas, definidos pela vegetação distinta
e próximos as áreas de recarga hídrica.

2.2 Extração e purificação dos ácidos húmicos

Amostras de solo (em triplicata) foram secas ao ar e peneiradas (peneira de malha


de 2 mm), em seguida, 200 g de solo foram colocados em uma solução de NaOH 0,1 mol
L–1 com relação solo:solvente de 1:10 (m:v). Após 30 minutos de agitação, a suspensão
descansou por 24 h para permitir a separação da humina (fração insolúvel da matéria
orgânica) das substâncias húmicas (SH) por sedimentação. Posteriormente, os AH e AF
foram separados com o abaixamento do pH das SH para 1,5 com solução de HCl 6,0 mol
L–1, sendo AH o precipitado. A redissolução e a precipitação foram repetidas três vezes.
43

Então, seguindo o protocolo da Sociedade Internacional de Substâncias Húmicas (IHSS)


(SWIFT, 1996) para purificação, os AH foram lavados com água destilada (20 minutos de
centrifugação a 2000 rpm) até teste negativo com AgNO3. Em seguida, o pH dos AH foi
ajustado para 7,0 com 0,1 mol L–1 NaOH e imediatamente transferido para a diálise
SpectraPor™ tubulação MWCO 15 e dialisados com água destilada (H2O mili-Q) em
frascos de 5 L. A água foi substituída duas vezes ao dia até que a condutividade elétrica
fosse igual a 0 µs cm–1. Em seguida, o material dialisado foi seco por liofilização
(Liofilizador L101) e armazenado a 4°C.

2.3 Caracterização dos ácidos húmicos

2.3.1 Composição elementar, acidez total, grupamentos COOH e OH fenólicos


A determinação da composição elementar (C, H, N e O) foi realizada com
analisador elementar automático Perkin Elmer 2400 em amostras de 1,0 mg de AH em
triplicata. O teor de O foi determinado por diferença, descontado o teor de cinzas.
A acidez total foi determinada conforme Schnitzer e Gupta (1965), em triplicata,
onde 50 mg de ácido húmico juntamente com 20 mL de solução de hidróxido de bário [(Ba
(OH)2)] 0,125 mol L-1 foram submetidos à agitação por 24 horas, isolada do ar. Em
seguida, a suspensão foi filtrada em papel de filtro, o resíduo lavado com água desionizada
e a mistura (filtrado+lavado) foi titulada com uma solução padronizada de HCl 0,05 mol L-
1
. A titulação foi acompanhada com auxílio de um pHmetro até pH 8,4. Foi realizado o
preparo do branco, composto somente por 20 mL de solução de Ba(OH)2 0,125 mol L-1.
A acidez total foi calculada empregando-se a Equação (1):
(1)
Onde: VA1 = volume usado para titulação do Branco; VA2 = volume usado para titulação da
amostra; CB = concentração da base (mol/L) (0,05) e mAH = massa de AH em mg (50).

A acidez carboxílica (COOH) foi determinada conforme Schnitzer e Gupta (1965),


em triplicata, onde 50 mg de ácido húmico juntamente com 50 mL de solução de 0,2 mol
L-1 de acetato de cálcio [Ca(CH3COO)2] foram submetidos à agitação por 24 horas. Após
esse período, suspensão foi filtrada em papel de filtro e o resíduo lavado com água
desionizada, em seguida, a mistura (filtrado + água de lavagem) foi titulada com solução
de NaOH 0,100 mol L-1 e variação do pH foi acompanhada com auxílio de um pHmetro,
até pH = 9,8. Da mesma maneira, foi realizado o preparo do branco, constituído apenas por
50 mL de solução de Ca(CH3COO)2 0,2 mol L-1.
A acidez carboxílica foi calculada empregando-se a Equação (2):
44

(2)
Onde: VB1 = volume usado para titulação do Branco; VB2 = volume usado para titulação da
amostra; CB = concentração da base (mol/L) (0,2) e mAH = massa de AH em mg (50).

A acidez fenólica (OH fenólica) foi obtida por diferença entre acidez total e a
acidez carboxílica.

2.3.2 Espectroscopia de fluorescência e coeficiente E4/E6


Utilizou-se tanto para obtenção dos espectros de intensidade emissão de
fluorescência (IF) quanto para o coeficiente E4/E6, o preparo das amostras conforme Chen,
Senesi e Schnitzer (1977), por meio da solubilização de 2,0 mg de AH em 10,0 mL de
solução 0,05 mol L-1 de NaHCO3 com pH= 8 e 24h de refrigeração. A IF foi obtida em um
espectrômetro de fluorescência Lumina, Thermo Scientific® com excitação no
comprimento de onda 465 nm (na região do azul), com faixa de varredura de 485 a 800
nm, sendo essas condições experimentais para excitação da fluorescência as mesmas
indicadas por Milori et al. (2002), com algumas modificações. Para determinar os
coeficientes E4/E6 dividiu-se a densidade ótica em 465 nm pela em 665 nm obtidas em
espectrofotômetro Cary 5000, UV-vis-NIR, Varian®.

2.3.3 Espectroscopia de infravermelho por transformada de Fourier


Para a obtenção dos espectros de infravermelho (FTIR) utilizou-se pastilhas, em
triplicata, com 1,0 mg de AH homogeneizados em 100 mg de brometo de potássio (KBr) e
realizada a leitura na faixa de varredura entre 400 cm-1 a 4000 cm-1, em um espectrômetro
modelo 640-IR, Varian® operando com software Varian Resolution.

2.3.4 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear de 13C


Os principais grupos de carbono dos ácidos húmicos foram avaliados por
ressonância magnética nuclear (13C RMN) obtidos em espectrômetro Magneto Ascend
600, Console Avance III HD, Bruker® operando a 150,9 MHz, rotação de 10 ± 1 KHz,
polarização cruzada com rotação no ângulo mágico, tempo de aquisição de 22,5 ms,
decaimento de 1,0 s e tempo de contato de 2,0 ms.

2.4 Análises dos dados

Todos os dados quantitativos (análises químicas) foram verificados quanto à


distribuição normal (Gaussiana) pelos testes de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov Para
avaliar as diferenças entre as médias de cada tratamento, das análises químicas foi
realizado o teste de médias de Tukey a p < 0,05, no programa estatístico SISVAR (versão
45

5.0) da Universidade Federal de Lavras (FERREIRA, 2011). Os dados qualitativos


(análises espectroscópicas), os espectros foram comparados com relação a literatura
pertinente. As áreas correspondentes a C alquílicos (13Cδ 0-40) e aromáticos (13Cδ 110-
13
160) dos espectros de C RMN foram somadas para quantificar o conteúdo de C
hidrofóbico. Da mesma forma as áreas nos intervalos entre 160-200, 90-110, 60-90 e 40-60
Cδ, foram usadas para estimar a quantidade de C hidrofílico.
13

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da análise de composição elementar dos AH e as razões atômicas


(C/N, H/C e O/C) encontram-se na Tabela 1. A análise elementar mostrou AH-V1 com
maiores teores de C e menores teores de O e N, enquanto, AH-V2 exibiu os maiores teores
de O e N, e menores de C e H. Já AH-V4 se diferiu dos demais pelos maiores teores de H,
assim como, pelos teores de N similares aos encontrados para AH-V2.
De maneira geral, os teores de C, H, N e O foram próximos aos valores para AH
para solo turfoso fornecidos pela IHSS (2023). Silva et al. (2009) (Brasil), Ebeling (2010)
(Brasil), Yustiawati et al. (2015) (Indonésia), Bispo et al. (2015) (Brasil), Soares et al.
(2016) (Brasil), Chukhareva, Sartakov e Korotchenko (2016) (Rússia), Silva Neto et al.
(2019) (Brasil), e Soares et al. (2021) (Brasil) estudando Organossolos, encontraram nas
camadas superficiais teores médios de C de 28,9 a 66,4%, H de 2,7 a 6,3%, O de 15,1 a
40,7%. Entretanto, os teores de N encontrados nos diferentes AH foram mais elevados do
que observados nos estudos citados anteriormente (0,7 a 3,7%) o que conferiu uma baixa
razão C/N para os AH independentemente da condição de conservação do ambiente.
Tabela 1. Composição elementar (livres de cinzas e de água) e relações atômicas de ácidos
húmicos isolados das quatro veredas sob diferentes estados de conservação.
C H N O C/N H/C O/C
AH
% Razão atômica
61,23±1,07 2,31±0,08 6,25±0,26 30,22±0,89 11,45±0,66 0,45±0,01 0,37±0,02
V1
A B C D A B D
42,00±0,45 1,35±0,26 8,59±0,16 48,05±0,53 5,71±0,17 0,38±0,07 0,86±0,02
V2
D D A A C B A
46,63±0,60 1,82±0,16 7,64±0,17 43,91±0,27 7,13±0,25 0,47±0,05 0,71±0,01
V3
C C B B B B B
49,74±0,43 2,92±0,08 8,33±0,11 39,01±0,46 6,97±0,12 0,71±0,02 0,59±0,01
V4
B A A C B A C
Valores representam as médias mais os menos os desvios padrão. Letras maiúsculas diferentes entre colunas
correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05 .
46

A razão C/N indica o grau de incorporação de nitrogênio na estrutura húmica e


também pode informar sobre o grau de humificação, onde menores relações C/N indicam
maior grau de humificação (CUNHA; MADARI; BENITES, 2007). A razão C/N nos AH-
V1 encontra-se dentro da faixa que indica estabilidade biológica (10 – 12), que sugere
baixa mineralização secundária da matéria orgânica (nitrogênio presente nas cadeias
alifáticas de moléculas orgânicas utilizado no metabolismo dos microrganismos)
(STEVENSON, 1994). Entretanto, os AH oriundos de veredas antropizadas (V2, V3 e V4)
encontram-se abaixo da faixa sugerida, indicando que o processo de mineralização
secundária é maior, sugerindo baixa resistência destes AH a este processo.
A razão atômica H/C é considerada um parâmetro de aromaticidade dos AH,
quanto menor a razão (< 1,0) indica alta aromaticidade e/ou condensação dos anéis
aromáticos (PEREIRA et al., 2021). No presente estudo esta razão variou de 0,38 a 0,71,
indicando maior proporção C em grupos aromáticos, especialmente, nos AH isolados dos
Organossolos de V1 e V2. De acordo com Silva et al. (2009) em razão da menor taxa de
decomposição da matéria orgânica proporcionada pelas condições de anaerobiose nos
Organossolos, podem favorecer maiores quantidades de estruturas aromáticas. Nas
características estruturais dos AH-V4 isolados de Neossolo Flúvico, obtiveram valores
mais elevados na relação H/C, indicando para este, maior presença de C em grupos
alifáticos.
Com relação à razão atômica O/C, esta reflete o conteúdo relativo de grupos
contendo oxigênio nos AH e valores superiores a 0,5 indicam maior quantidade de grupos
funcionais oxigenados, como COOH e carboidratos (ZHANG et al., 2020). O conteúdo de
grupos contendo O foi maior em AH-V2, seguido de AH-V3 e AH-V4. Para AH-V1,
diante do menor conteúdo de O e menor valor de O/C (0,37), sugere-se a menor quantidade
de grupos funcionais oxigenados.
Na Tabela 2 observa-se que dentre os grupamentos funcionais ácidos há uma maior
quantidade de grupamentos fenólicos em relação a grupamentos carboxílicos nos AH das
diferentes veredas. Para AH-V4 nota-se elevada acidez total, sendo representada por
aproximadamente 87% de agrupamentos fenólicos. Cunha, Madari e Benites (2007)
encontram acidez total de 712 cmolc kg-1 em solos antropogênicos sob cultivo agrícola,
sugerindo baixo grau de evolução de AH em solos perturbados. Logo, o conteúdo de
grupos carboxílicos foram maiores para os AH-V1, exibindo menor acidez total em
47

comparação aos solos de veredas antropizadas, o que sugere menor número de moles de H+
e maior evolução química para os AH-V1.
Tabela 2. Acidez total, carboxílica e fenólica, relação E4/E6 de ácidos húmicos isolados das
quatro veredas com diferentes estados de conservação.
Grupos funcionais ácidos Razão
AH Acidez total COOH OH fenólico E4/E6
cmolc kg-1
481,67±68,54 247,47±9,29 234,20±73,20 3,50±0,01
V1
C A C B
755,00±69,26 175,47±84,81 579,53±15,61 2,76±0,04
V2
B B B C
749,00±112,20 159,20±18,75 589,80±127,03 3,24±0,03
V3
B C B B
899,33±73,50 112,67±34,49 786,67±96,75 4,33±0,05
V4
A D A A
Os valores correspondem à média dos tratamentos mais ou menos os desvios padrão. Letras maiúsculas
diferentes entre colunas correspondem a diferenças significativas pelo teste de Tukey a p < 0,05.

Ainda na Tabela 2, observa-se que a razão E4/E6 variou de 2,67 a 4,33, sendo que
AH-V4 exibiu maior valor dessa relação e uma baixa relação foi observada em AH-V1,
AH-V2 e AH-V3, sendo menor em AH-V2. A baixa razão E4/E6 indica massa molecular
mais elevada e a maior presença de estruturas aromáticas em comparação com as alifáticas,
consequentemente, maior grau de humificação (ARAÚJO et al., 2021). De acordo com
Pereira et al. (2021) existe relação direta entre os valores da razão E4/E6 e os valores da
relação atômica H/C, uma vez que um grau elevado de alifaticidade conferem valores
maiores para H/C. Esta relação foi observada neste estudo, onde as razões E4/E6 e H/C
foram significativamente maiores para os AH-V4, indicando maior presença de estruturas
alifáticas em relação as aromáticas.
Os espectros obtidos com excitação a 465 nm mostraram variações quanto a IF e
apresentaram uma banda larga típica com picos de emissões posicionadas entre os
comprimentos de onda 520-548 nm (Figura 1). Os valores mais altos de IF ocorreram nos
AH-V1 com pico da intensidade máxima de 698,5 u.a, sendo 2,0 vezes maior que os AH-
V4 (331,9 u.a). Os AH isolados de V2 e V3 apresentaram IF intermediária, sendo maiores
para AH-V2. Milori et al. (2002) explicam que uma alta intensidade de fluorescência está
correlacionada com elevada humificação dos AH, já que a excitação região do azul (λexc=
465 nm) é altamente seletiva com estruturas aromáticas mais complexas.
48

Figura 1. Espectro de emissão de fluorescência por excitação a 465 nm de ácidos húmicos


(AH) isolados de solos de veredas sob diferentes estados de conservação.

Picos de fluorescência em longos comprimentos de onda como observados em AH-


V1 e AH-V2, indicam a presença de anéis aromáticos condensados e outros sistemas de
ligações insaturados, com alto grau de conjugação com grupos substituintes doadores de
elétrons, como grupos carboxílicos e carbonílicos (CUNHA; MADARI; BENITES, 2007;
ENEV et al., 2014). Picos de fluorescência em curtos comprimentos de ondas, como
verificados nos AH-V4, sugerem estrutura orgânica menos complexa (menor quantidade
de anéis aromáticos condensados na sua composição), compatível com os resultados
observados nas relações E4/E6 e H/C. Deste modo, avaliando os índices de humificação em
conjunto, aponta-se previamente que AH-V1 é o que apresenta o maior grau de
humificação, e AH-V4 sendo o menos humificado. A sequência mais provável de
humificação seria então: AH-V1 > AH-V2 > AH-V3 > AH-V4, ou seja, o solo de vereda
com vegetação nativa conservada tem AH mais humificados do que os solos de veredas
com interferências antrópicas em seus arredores. Da mesma maneira, Araújo et al. (2021)
verificaram no estudo em Latossolos no bioma Cerrado, maior grau de humificação para
AH isolados da camada superficial de solos em área com vegetação conservada do que
para aqueles de um ambiente perturbado.
Os espectros do FTIR dos AH, em geral, apresentaram assinaturas espectrais
semelhantes e picos característicos em determinadas regiões (Figura 2). As identificações
de bandas de absorção foram realizadas com base nos estudos de Niemeyer, Chen e Bollag
(1992), Stevenson (1994) e Barancikova, Senesi e Brunetti (1997).
49

Figura 2. Espectros na região de infravermelho obtidos com transformada de Fourier


(FTIR) de ácidos húmicos (AH) isolados de solos de veredas sob diferentes estados de
conservação.

Os espectros de FTIR assemelharam-se aos obtidos de AH originados de


Organossolos por Mafra et al. (2007), Ebeling (2010), Klavins e Purmalis (2013), Souza et
al. (2020), e Landim (2022). Nos AH das diferentes áreas de veredas foram verificadas
oito bandas bem definidas e comuns a todos: uma intensa e larga banda de absorção
centrada em 3.440 (variando de 3.480 a 3.440 cm-¹), atribuída ao estiramento de O–H de
grupos fenóis, álcool e/ou ácido carboxílico, secundariamente, ao estiramento de N–H de
amidas e aminas; uma banda de absorção menos visível centrada em 2.920 e 2840 cm-1
devido ao estiramento simétrico de ligações C–H (−CH2 e −CH3 alifáticos); uma banda de
absorção intensa e larga com centro em 1.650 cm-1 (variando entre 1.660 cm-1 e 1.640 cm-
1
), associadas ao estiramento de C=C de anéis aromáticos, banda de Amida II e quinonas;
uma banda intensa em torno de 1.440–1.400 cm−1 atribuída à deformação O−H e C−H
(−CH2; −CH3 alifático); uma banda de absorção centrada em 1.120 cm-1 correspondente ao
estiramento de C−O de álcoois secundários e/ou éteres; uma banda aguda com centro em
1.040 cm-1 devida a estiramentos C−O em polissacarídeos, álcoois alifáticos, e C–O–C de
50

ésteres e, por fim, a banda entre 800 e 900 cm−1 que pode ser atribuídas a deformações de
C−H em grupos aromáticos e de impurezas inorgânicas e organometálicas.
Dessa maneira, nota-se similaridade na funcionalidade dos espectros dos AH
independente da origem e indicam a presença de grupos funcionais essenciais em sua
estrutura química, residindo as principais diferenças apenas na maior intensidade da banda
associada à presença de cadeias aromáticas (1.650 cm-1) para AH-V1 e na região de
impressão digital (entre 1.300 e 900 cm-1) que mostra maior intensidade na banda 1.040
cm-1 relacionada ao C−O em polissacarídeos e álcoois alifáticos para os AH isolados de
V2, V3 e V4, indicando que há efeito do tipo de solo e/ou da vegetação na assinatura
química dos AH, mas não na sua reatividade geral. Segundo Brighenti, Reis e Reis (2010),
embora existam diferenças entre os espectros originados de diferentes ambientes, a feição
dos espectros de cada substância húmica é bastante similar, ocorrendo variações nas
proporções de intensidade e pequenos deslocamentos na frequência de absorção.
13
Nos espectros de C RMN (Figura 3) observam-se bandas características em
determinadas faixas de deslocamentos químicos (δC) para os AH de todas as veredas. Na
Tabela 3, encontram-se os resultados referentes a integração das principais regiões de
deslocamento químico dos respectivos espectros, com as intensidades relativas dos grupos:
C alquílicos (0-40 ppm); C−N, C metoxil e C−O de carboidratos (40-110 ppm); C
aromáticos (110-160 ppm) e; C carboxílicos (160-200 ppm) (STEVENSON, 1994).
Os espectros dos AH das diferentes áreas de veredas apresentaram fortes sinais
entre 10 e 40 ppm, atribuídos aos grupos CH2 e CH3 nas cadeias biopoliméricas de
estruturas de difícil decomposição (CANELLAS et al., 2008). Esses espectros mostram
sinal de maior intensidade em 32 e 35 ppm (atribuídos ao C metileno) para AH-V1, AH-
V2 e AH-V3, indicando estrutura mais recalcitrante e com maiores conteúdos de estruturas
associadas à lignina e C alquílicos de cadeia longa, provavelmente, provenientes de restos
vegetais, principalmente de estruturas rígidas e hidrofóbicas como suberinas, comuns em
palmáceas de ambientes úmidos (DODLA; WANG; COOK, 2012). Acredita-se que o C
metileno surjam da recalcitrância e acúmulo de ceras, lipídios, cutina e polímeros de
suberina das plantas, que tendem a acumular no solo com a humificação, devido à sua
hidrofobicidade e forte associação com a fração mineral do solo (DUARTE;
FERNÁNDEZ-GETINO; DUARTE, 2013).
51

Figura 3. Espectros de 13C RMN de ácidos húmicos (AH) isolados de solos de veredas sob
diferentes estados de conservação.

Na região de 40-110 ppm são detectados os C alifáticos oxigenados, que pertencem


aos fragmentos de celulose e hemicelulose (carbono lábil) (SOUZA et al., 2020). Esses
espectros foram significativamente mais expressivos em AH-V4, com sinais intensos em
aproximadamente 60 ppm (atribuídos a agrupamentos de O−CH3, metoxila e/ou C
protéico) e outro em 73 ppm (atribuídos a polissacarídeos, O−alquila e di−O−alquila da
celulose). Essa observação está de acordo com os resultados observados nas relação E4/E6
e H/C e nos espectros de FTIR, que sugerem maior presença de estruturas alifáticas em
seus AH. V4 por ser uma área que está sob alta influência antrópica e exibir solo formado
predominantemente por compostos inorgânicos (solo mineral), apresentou alto potencial de
perdas por oxidação (mineralização) do material orgânico, o que de fato, pode ser
associada a maior proporção de estruturas lábeis (NOVOTNY et al., 2009).
Já na área correspondente à absorção de C aromáticos (entre 110 e 160 ppm),
notou-se maior diversidade de sinais, ou seja, maior quantidade de sistemas aromáticos nos
AH-V1 e AH-V2, que foram atenuados em AH-V3 e AH-V4. As amostras de AH-V1 de
AH-V2 apresentaram um sinal característico proeminente em 132 ppm (atribuídos a C
aromático e C substituído), que conjuntamente com os sinais pronunciados visto em 33 e
52

35 ppm, estão associados à degradação dos anéis aromáticos da lignina (KLAVINS;


PURMALIS, 2013). Dessa maneira, observa-se um acúmulo relativo de estruturas mais
recalcitrante com grupos aromáticos e alquilas hidrofóbicas, porém com alto grau de
aromaticidade. Souza et al. (2020) obtiveram resultados similares para solo orgânico, com
predomínio das estruturas predominantemente apolares de característica hidrofóbica (C
alquílicos e C aromáticos).
A área dos espectros correspondentes a C carboxílico (160-200 ppm) é dominada
por um pico em aproximadamente 173 ppm em AH-V4 e AH-V2, com sinal mais intenso
para AH-V4, que sugere-se alto teor de grupos carboxila, ésteres, amidas e polipeptídeos
(DUARTE; FERNÁNDEZ-GETINO; DUARTE, 2013). Deste modo, os AH-V4 aprentam
características alifáticas e oxigenadas, com predomínio de estruturas de C alifáticos e
carboxilícos, sugerindo propriedades de caráter hidrofílico, conforme observado na Tabela
3. Em AH-V2 apesar de apresentar predomínio de estruturas hidrofóbicas, contém
participação de C carboxílicos em sua estrutura, atribuindo-lhe a capacidade de interagir
com cátions (SOUZA et al., 2020).
Tabela 3. Distribuição de carbono (%) nas regiões destinadas a diferentes deslocamentos
químicos dos espectros de 13C RMN dos AH isolados de solos de veredas sob diferentes
estados de conservação.
Origem Deslocamentos químicos (ppm) GA(¹) HB(²) HI(³) HB/HI
dos AH 160-200 110-160 40-110 0-40
V1 10 19 34 37 21 56 44 1,27
V2 17 23 31 29 28 52 48 1,08
V3 8 10 37 45 11 55 45 1,22
V4 16 18 40 26 21 44 56 0,79
( )
¹ GA (grau de aromaticidade) = [(110-160) / (0-160) * 100]; (²)HB (C hidrofóbico) = [(110-160) + (0-40)];
( )
³ HI (C hidrofílico) = [(160-200) + (40-110)].

De maneira geral, os AH isolados de V1, V2 e V3 (Organossolos) apresentaram


estruturas mais recalcitrante e devido alta abundância de C alquílico e C aromático que
indicam uma contribuição geral do carbono hidrofóbico (HB) em suas composições,
enquanto AH-V4 oriundo de solo mineral (Neossolo), com maior labilidade e menor
quantidade de C alquílico e um dos menores conteúdos de C aromáticos indicam maior
contribuição de carbono hidrofilico (HI) (Tabela 3). O que conferiu grau de aromaticidade
(GA) na ordem: AH-V2 > AH-V1 > AH-V4 > AH-V3.
Essas mudanças ocorridas nas composições dos AH também refletiram no índice de
hidrofobicidade (HB/HI), que foi menor para nos AH oriundos de veredas com
intervenções antrópicas, sendo significativamente reduzido em AH-V4. A hidrofobicidade
53

do AH-V1 mostrou-se compatível com as estados de ambiente equilibrado, sugerindo que


o conteúdo de C aromático contribui para a associação hidrofóbica de suas moléculas
húmicas em solução.

4 CONCLUSÕES

As análises químicas e espectroscópicas realizadas em amostras de AH isolados


de solos coletados superficialmente em áreas de veredas sob diferentes estados de
conservação permitiram aceitar a hipótese previamente delimitada, ou seja, diferentes
intervenções antrópicas alteraram as características estruturais dos AH. A partir dos
resultados as principais conclusões que puderam ser obtidas foram:

i) AH oriundos do solo da vereda pertencente ao ambiente conservado (não alterado)


- V1, apresentaram maior evolução química (grau de humificação) do que aqueles
de ambientes antropizados (V2, V3 e V4).
ii) Dentre as diferentes intervenções antrópicas no entorno das veredas, o uso do solo
para edificações urbanas (V4) foi que exibiu AH com características mais alifáticas,
o que demonstra a presença de compostos menos evoluídos em relação aos
diferentes usos do solo no entorno ou sob as veredas.

5 AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade


(ICMBio) e ao Parque Nacional de Brasília (PNB) por nos permitirem utilizar a área de
estudo e a Universidade de Brasília (UnB) pelo auxílio no uso de seus laboratórios para
realização das análises.

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CONCLUSÃO GERAL

A proximidade das veredas com áreas que são utilizadas por atividades antrópicas
mostraram através da avaliação dos atributos morfológicos, físicos, químicos e biológicos
dos solos e da matéria orgânica, solos extremamente frágeis. Portanto, sensíveis às
mudanças no uso do solo originárias de ações antrópicas.

As veredas são um importante reservatório de biodiversidade e de serviços


ecossistêmicos, dado o valor, sua proteção integral mostra-se necessária. Esperamos que o
presente estudo forneça subsídios para estudos complementares mais detalhados e em
escala mais ampla, em seus diferentes aspectos (lençol freático, estrutura da vegetação,
fauna, etc.) sob os efeitos das intervenções antrópicas neste importante ecossistema para o
bioma Cerrado.
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