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RESUMO
Este trabalho foi realizado na praia de Ajuruteua, localizada a 36km da cidade de Bragança, e teve como objetivo
caracterizar a influência dos processos costeiros de origem natural e antrópica, sobre as variações morfológicas nesta
praia. Desta forma, dois perfis de praia foram monitorados e um levantamento completo sobre as formas de ocupação
territorial foi realizado. A praia de Ajuruteua está dividida em dois setores, o setor SE (acrescivo) e o setor NW (erosivo).
A ocupação territorial ocorre sobre dunas e de forma desordenada, principalmente no setor NW, fato que vem acelerando
os processos erosivos próximos à linha de preamar máxima e, como consequência, novas ocupações estão sendo realizadas
em áreas de manguezal e marisma. A falta de planejamento na ocupação territorial, de associações comunitárias e de
políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social e para o turismo na região vêm gerando sérios problemas
ambientais e sociais que repercutem na qualidade de vida da população usuária e na degradação do meio ambiente. A
elaboração de planos/programas costeiros são necessários para racionalizar a ocupação territorial e impedir/minimizar
os processos erosivos em Ajuruteua.
Palavras-Chave: dinâmica praial, ocupação territorial e praia Amazônica brasileira.
1 Universidade Federal do Pará, Faculdade de Biologia, Instituto de Estudos Costeiros e Estuarino, Campus Universitário de Bragança, 68600-000,
Aldeia, Bragança, Pará, Brasil. e-mails: marcela_cm@hotmail.com (corresponding author); cajueiro@ufpa.br; danielly.guimaraes@hotmail.com;
raucosta@ufpa.br.
2 Universidade Federal do Pará, Faculdade de Biologia, Instituto de Estudos Costeiros, Laboratório de Plâncton e Cultivo de Microalgas, Campus
Universitário de Bragança, 68600-000, Aldeia, Bragança, Pará, Brasil.
* Submissão – 25 Fevereiro 2008; Avaliação – 11 setembro 2008; Recepção da versão revista – 30 Outubro 2008; Disponibilização on-line - 9 Julho 2009.
Marcela Monteiro, Luci Pereira, Danielly Guimarães, Rauquírio Costa / Revista de Gestão Costeira Integrada 9(2):91-99 (2009)
ABSTRACT
This study was carried out at Ajuruteua Beach, located at 36km from Bragança (Pará State, northern Brazil) and was developed to
characterize the influence of natural and anthropogenic coastal processes on its morphological changes. Two beach profiles were monitored and
a complete survey on the use of natural resources and the forms of territorial occupation were processed. Ajuruteua beach could be divided in
two sectors: a southeast (depositional) sector and a northwest (erosive) sector. Occupation of this beach occurred on dune zones and in a
disordered way, mainly in the northwest sector which contributed to the development of erosion areas and occupation of alternative mangrove
and wetland areas by the local population. The absence of territorial occupation planning, communitarian associations and public policies for
social development and touristic activities in the region has caused substantial environmental problems that result in the life quality reduction of
the local population. It needs the elaboration of coastal management planning, which can contribute to a rational territory occupation and
mitigate the erosive processes observed in Ajuruteua Beach.
Keyswords: beach dynamic, territorial occupation and Brazilian Amazon littoral.
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foram de suma importância para conhecer a influência pescadores, etc.) e a falta de incentivo dos órgãos
das formas de ocupação territorial sobre a variação gestores para melhorar o turismo na região são fatores
morfológica da praia estudada. que contribuem para a baixa renda dos moradores
locais.
3.2 Ocupação territorial O perfil socioeconômico descrito para a população
A forma de ocupação territorial foi levantada entre residente de Ajuruteua é típico para a maioria das
julho de 2003 e julho de 2004, a partir de observação comunidades costeiras amazônicas e resultados
direta e com o auxílio de GPS e máquina fotográfica. similares foram encontrados por Pereira et al. (2006),
Silva et al. (2006) e Pereira et al. (2007), em outras
3.3 Morfologia praial localidades costeiras da Amazônia.
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permanentes e turistas (Pereira et al. 2006). do que a extensão média do perfil P2 (240m e 260m,
Além dos quase 400 moradores de Ajuruteua, a respectivamente).
praia recebe ao longo de todo mês de julho (Figura O perfil P1 apresentou na região de estirâncio, duas
2f), cerca de, 90.000 visitantes, entretanto não existe barras arenosas e uma calha. A presença de barras e
na região nenhum tipo de plano ou projeto de gestão calhas na praia em estudo corrobora com os modelos
costeira. E a falta de um planejamento urbano e estabelecidos por Short (1991), em praias de
turístico vem causando sérios problemas ambientais macromarés. Resultados similares são relatados por
e sociais na localidade, como: destruição dos Alves (2001) e Souza-Filho et al., (2003) em outras
ecossistemas costeiros (dunas, manguezal e marisma); épocas do ano, em Ajuruteua; assim como por Bastos
ocorrência de doenças (hepatite, dengue, micoses, etc.), & Silva (2003), Bentes & Muehe (2003), Bessa-Junior
por falta de saneamento básico e abastecimento de & Angulo (2003) e Short (2003), em praias de meso e
água potável; aumento da criminalidade em julho macromarés do Brasil e da Austrália.
(época de veraneio), agravada pela falta de Por outro lado, no perfil P2 não foram observadas
policiamento e iluminação pública; ocorrência de a presença de calhas e barras. A ausência destas feições
atropelamentos de pessoas na praia, pois faltam morfológicas é conseqüência da alta energia que
estacionamentos e há permissão para o tráfego de predomina neste setor. Resultados similares foram
carros na zona de estirâncio; falta de treinamento dos encontrados por Alves & El-Robrini (2006) tanto no
comerciantes para atender melhor os turistas; entre período seco quanto no período chuvoso.
outros (Pereira et al., 2006; Pereira et al., 2007). O balanço sedimentar mostrou ciclos de erosão e
acresção ao longo do período monitorado. No mês
4.3 Morfologia praial de março, com predominância de ventos NE
As diferentes respostas morfodinâmicas (Monteiro et al., 2009), o perfil P1 apresentou ganho
observadas na praia de Ajuruteua estão relacionadas, de sedimentos (0,11m³/m), enquanto no perfil P2
provavelmente, aos diferentes ambientes de energia, houve perda (-3,09m³/m) (Tabela 1). No mês de
ao qual esta praia encontra-se submetida e ao tipo de outubro, com predominância de ventos E e SE,
ocupação territorial. A forma de arco alongado na (Monteiro, 2009) ocorreu erosão nos dois perfis e o
direção NW-SE, a predominância de frentes de ondas balanço sedimentar foi negativo (P1=- 0,38m³/m e
vindas de NE e a assimetria da maré são os principais P2= -0,56m³/m) (Tabela 2). Resultados encontrados
responsáveis que contribuem para que o setor NW por Souza Filho et al. (2003) confirmam taxas erosivas
de Ajuruteua seja considerado de alta energia, quando maiores para o setor NW, mostrando que anualmente
comparado com o setor SE (Pereira et al., 2008). a linha de praia recua, aproximadamente, 2,21m/mês
A predominância de correntes de maré (valores neste setor, enquanto que, no setor SE a praia cresce
máximos superiores a 1m/s) com direção NW-SE, 1,46m/mês. Por conseqüência, vários
durante as marés enchentes e SE-NW durante as estabelecimentos foram destruídos parcialmente ou
marés vazantes associadas a períodos de vazante totalmente. Pereira et al. (2006) comentam que o
(aproximadamente, 7,5h) superiores aos períodos de número de edificações diminuiu a beira-mar e
enchentes (aproximadamente, 4,5h) favorecem a que aumentou nas localidades mais protegidas situadas em
as correntes de enchente atinjam maiores intensidades áreas de dunas, manguezais e marisma.
e, consequentemente, transportem uma maior taxa Além dos processos ambientais, causas antrópicas
de sedimentos do setor NW (erosivo) para o setor (como ocupação irregular em áreas de dunas) vêm
SE (acrescivo) (Pereira et al., 2008). contribuindo para a intensificação dos processos
Os dois perfis monitorados estão localizados em erosivos no setor NW (área mais ocupada), uma vez
diferentes setores da praia, sendo o perfil P1 situado que as mesmas impedem o transporte de sedimento
no setor SE, com características acrescivas e o perfil entre este ambiente e a zona de praia.
P2 situado no setor NW, com características erosivas.
A extensão média do perfil P1 nos meses de março e
outubro (312m e 297m, respectivamente) foi maior
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