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Química Ambiental/Environmental Chemistry

Research · January 2023


DOI: 10.13140/RG.2.2.12425.52320

CITATIONS READS

0 768

6 authors, including:

Rafael Arromba de Sousa Karine G Fernandes


Federal University of Juiz de Fora Simon Fraser University
57 PUBLICATIONS 624 CITATIONS 21 PUBLICATIONS 5 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Jorge Luiz Sônego Milani Ivoni Freitas-Reis


Federal University of Juiz de Fora Federal University of Juiz de Fora
20 PUBLICATIONS 227 CITATIONS 74 PUBLICATIONS 110 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

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Universidade Federal de Juiz de Fora
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Química

Química Ambiental

Rafael Arromba de Sousa


Karine G. Fernandes (orgs.)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFJF.

Química Ambiental / Rafael Arromba de Sousa, Karine G. Fernandes


(organizadores) -- Juiz de Fora: Edição do autor 2023.
92 p. : il.

1. Química ambiental. 2. Educação ambiental. 3. Química das


águas. 4. Química atmosférica. 5. Química dos solos e sedimentos. I.
Sousa, Rafael Arromba de. II. Fernandes, Karine G. III. Título.

CDU 54

1ª edição
APRESENTAÇÃO

Estudantes e colegas professores,

A presente apostila didática foi elaborada visando abordar os principais conteúdos de


Química Ambiental de forma contextualizada e interdisciplinarmente às diferentes áreas do
saber. Em sua concepção, priorizamos um formato que fosse mais adequado às disciplinas
ministradas remotamente ou à distância, embora acreditemos também ser compatível com o
ensino presencial em seus vários níveis.

Dividida em quatro módulos - Química das Águas, Química Atmosférica, Química dos
Solos e Sedimentos e Química Ambiental e Educação - constitui um material didático apropriado
tanto para turmas de bacharelado quanto de licenciatura. Aqui, questões históricas e
geopolíticas também foram consideradas, podendo ser aprofundadas, oportunamente, a partir
de reflexões e referências sugeridas.

Considerando não ser trivial uma abordagem contextualizada da Química Ambiental, a


redação do material se fez a várias mãos, envolvendo dois doutorandos da área de ensino de
química e professores com diferentes expertises.

Pretendeu-se, assim, mostrar que os cuidados do profissional da química vão muito


além de respeitar as legislações e/ou considerar as competências e habilidades previstas na Base
Nacional Comum Curricular. Os bacharéis em química e os professores de química precisam
incorporar valores de responsabilidade social e de sustentabilidade em todas as suas ações,
sempre que possível.

Não procuramos esgotar todos os assuntos do tema e seus desdobramentos, mas


propor uma visão abrangente e que respalde a ideia de que somos todos responsáveis pelo
ambiente, independentemente da profissão e da área de atuação.

Os autores.
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: QUÍMICA DAS ÁGUAS 3

INTRODUÇÃO À QUÍMICA AMBIENTAL 4


IMPORTÂNCIA E POLUIÇÃO DA ÁGUA, LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS E PROCESSOS QUÍMICOS
NATURAIS 8
PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS: DEFINIÇÕES, IMPORTÂNCIA E MÉTODOS
ANALÍTICOS 16
PURIFICAÇÃO DE ÁGUAS: TRATAMENTO DE ÁGUA PARA ABASTECIMENTO 24
PURIFICAÇÃO DE ÁGUAS: TRATAMENTO DE ESGOTO 31

CAPÍTULO 2: QUÍMICA ATMOSFÉRICA 38

COMPOSIÇÃO E POLUIÇÃO DA ATMOSFERA, REGIÕES E TRANSPORTE DE SUBSTÂNCIAS 39


PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS E AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS 47

CAPÍTULO 3: QUÍMICA DOS SOLOS E SEDIMENTOS 56

DEFINIÇÕES, COMPOSIÇÃO, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES 57


RESÍDUOS PERIGOSOS E RESÍDUO SÓLIDO URBANO 64

CAPÍTULO 4: QUÍMICA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO 72

QUÍMICA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO: CONTEXTUALIZAÇÃO PARA O ENSINO 73


ÁGUA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: POSSIBILIDADES PARA A ABORDAGEM NO ENSINO DE
QUÍMICA 76
A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO AR ATMOSFÉRICO 84
O CUIDADO COM O SOLO PARA A MANUTENÇÃO DA VIDA 89
CAPÍTULO 1: QUÍMICA DAS ÁGUAS

RAFAEL ARROMBA DE SOUSA

KARINE GABRIELLE FERNANDES

JORGE LUIZ SÔNEGO MILANI


4

PARTE 1

INTRODUÇÃO À QUÍMICA AMBIENTAL

A Química Ambiental é a área da Química que estuda os processos químicos que


ocorrem no ambiente e que podem ser naturais ou antropológicos. Logo, tais processos
envolvem aspectos biológicos, geológicos, ecológicos e de engenharia (principalmente a
Sanitária). Este ramo da Química busca entender como esses processos influenciam a qualidade
de vida das pessoas e, por isso, tem se tornado um assunto de interesse social e que permeia
não apenas discussões científicas, mas também econômicas, sociais e políticas.
No dia a dia, a Química Ambiental se tornou uma ciência multidisciplinar e, como tal,
propõe ações como as chamadas “práticas sustentáveis”, que são estratégias que visam
diminuir a poluição ambiental e os impactos negativos que as atividades humanas podem gerar.
Nesse sentido, encontram-se contribuições importantes das áreas de Engenharia
(Química e Sanitária, por exemplo), das “ciências de materiais” e da Química Analítica. Esta
última oferece ferramentas que permitem analisar amostras de água, solo e ar, permitindo
monitorar a presença de substâncias químicas no ambiente e avaliar se há poluição, em que
nível e, inclusive, se as ações de mitigação estão sendo eficientes.
Infelizmente, a maior parte dos problemas ambientais estão relacionados com a
poluição e isso gerou uma imagem negativa da Química. Mas a questão é “como estamos
utilizando a Química?” e, nesse contexto, vale refletir sobre como surgiu a poluição. Em linhas
gerais, pode-se afirmar que a poluição (seja ela hídrica, sonora, térmica, atmosférica, visual,
luminosa, dos solos e radioativa) provém, fundamentalmente, das atividades industriais, as
quais surgiram (e existem) para tentar melhorar a qualidade de vida das pessoas. Logo, o
profissional da Química e de áreas afins tem a responsabilidade de buscar um equilíbrio entre
a preservação ambiental e a manutenção das atividades industriais. Isso é um desafio, mas
pode ser considerado um cenário de oportunidades para tais profissionais.
Ao considerar as atividades industriais, os balanços energéticos realizados pela CEMIG
nos últimos anos demonstram que a indústria fica como o 1º setor que mais consome energia.
Isto sugere que a poluição ambiental está diretamente relacionada com as fontes e usos de
energia que a sociedade vem fazendo. Logo, buscar formas de economizar energia
(independente do tipo), bem como desenvolver alternativas mais “limpas” de energia são
estratégias importantes para remediar e gerenciar os impactos ambientais. Nesse contexto, vale
ressaltar que quase 50% da energia consumida no Estado de Minas Gerais provém do petróleo
e do gás natural, que são fontes não renováveis e altamente poluidoras.
Historicamente, essa correlação entre energia e ambiente já é feita há muito tempo,
sendo um exemplo importante o artigo publicado na Nature (THORPE, 1872) em que os índices
de SO2 foram monitorados na atmosfera de Londres e Manchester, Reino Unido. O poluente
(SO2) monitorado se deveu ao fato de as indústrias da região se utilizarem da queima de carvão
e os resultados mostraram que os níveis de SO2 estavam realmente altos. Entretanto, as
discussões científicas somente ganharam mais espaço a partir da década de 60, quando o uso
indiscriminado de pesticidas, descarte inadequado do lixo urbano e a poluição do ar dos grandes
centros passaram a ser considerados problemas socioambientais.
Consequentemente, as Legislações Ambientais foram se tornando mais importantes
especificamente a partir da década de 80, quando as questões ambientais passam a ser
discutidas por toda a sociedade. Com isso, surgiram as reuniões globais como o Protocolo de
Kyoto (Japão, assinado em 1997). Além dela, há ainda uma comissão intergovernamental, IPCC,
5

para estudo do clima, que pesquisa e divulga regularmente a situação do clima mundial, fazendo
alertas e sugerindo metas, como limitar o aumento da temperatura média em, no máximo 2oC,
nos próximos anos. Obviamente, isto não é fácil, mas considera-se que, se diminuírem os níveis
de emissão de CO2 (proveniente dos transportes e indústrias, por exemplo), isso pode acontecer.

Atualidades
Mais recentemente, vale destacar o Acordo de Paris, que foi firmado em 2015 durante
a 21ª Conferência das Partes (COP21). Tal evento foi promovido por um órgão internacional
criado na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
informalmente conhecida como Cúpula da Terra ou Eco-92 – e realizada no Rio de Janeiro em
1992. Seu objetivo, então, foi a estabilização da emissão de gases do efeito estufa.

Voltando à COP21, foi adotado um novo acordo com o objetivo central de fortalecer a
resposta global às mudanças climáticas, reforçando os papéis de cada país ao lidar com os
impactos decorrentes dessas transformações. O Acordo de Paris, então, foi aprovado pelos 195
países parte da Convenção-Quadro para reduzir as emissões de gases no contexto do
desenvolvimento sustentável, procurando manter o aquecimento global abaixo de 2 oC.

Em 2017, por intermédio do governo de Donald Trump, os Estados Unidos anunciaram


a intenção de deixar o Acordo. Mais recentemente, em novembro de 2019 o país notificou a
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a confirmação de sua saída, cuja entrada foi
assinada em 2016 pelo então presidente Barack Obama, sob o pretexto de buscarem termos
“mais justos para os EUA”.
Figura 1. Anúncio público da retirada. 1

Fonte: Twitter do Secretário de Estado Mike Pompeo.

Com a saída de Trump da Casa Branca, um dos primeiros feitos do novo presidente, Joe
Biden, foi aderir novamente ao Acordo, seguindo os compromissos firmados durante a corrida
presidencial em relação ao meio ambiente. A participação dos EUA, segundo maior emissor de
gases do efeito estufa, atrás apenas da China, é entendida como fundamental para se combater
o aquecimento global.

1Tradução nossa: Hoje nós começamos o processo formal de retirada do Acordo de Paris. Os EUA têm
orgulho do histórico como o líder mundial na redução de emissões, promovendo resiliência, crescendo
nossa economia e garantindo energia para nossos cidadãos. Nosso modelo é realístico e pragmático.
6

Considerando tudo isso, fica claro que estudar e remediar a poluição ambiental é uma
tarefa complexa e, por isso, é necessário conhecer mais sobre os poluentes (natureza e efeitos),
pois os efeitos nocivos da poluição podem ser tanto diretos – por exemplo, quando a água ou
o ar estão poluídos e as pessoas se intoxicam ao serem expostas – como indiretos – quando
animais consomem alimentos ou água contaminados, atingindo o ser humano por meio da
cadeia trófica – ocorrendo de curto a longo prazo, dependendo da situação.
Então, como são milhares as substâncias químicas consideradas poluentes, elas podem
ser separadas em classes e pelas suas semelhanças, de forma que alguns exemplos importantes
de cada uma podem ser ressaltados:
1 Compostos orgânicos voláteis – VOC (do Inglês “Volatile Organic Compounds”),
hidrocarbonetos e derivados de fácil volatilização. Exemplos: benzeno, tolueno, etil-
benzenos e xilenos;
2 Compostos halogenados, compostos orgânicos que contêm pelo menos um átomo
halogênio. Exemplos: dioxinas policloradas, bifenilas policloradas, trialometanos (que
podem ser encontrados na água de abastecimento) e alguns pesticidas (embora essas
substâncias sejam estudadas em uma classe em separado);
3 Pesticidas: substâncias capazes de matar organismos (insetos, plantas e fungos) ou que
interferem no seu processo reprodutivo. Podem ser de tipos diferentes, dentre os quais
destacam-se:
a. Organoclorados (exemplos: toxafeno, proibido em muitos países);
b. Organofosforados (exemplos: paration e malation);
c. Carbamatos (exemplos: carbofurano);
d. Inorgânicos (exemplos: formulações que contenham os elementos arsênio,
bário, cádmio, cobre, ferro, mercúrio, selênio, tálio e zinco);
4 Elementos tóxicos como os chamados “metais pesados” (exemplos: cádmio, mercúrio
e chumbo) e arsênio;
5 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – PAH (do Inglês “polyciclic aromatic
hidrocarbons”), que são hidrocarbonetos que contêm dois ou mais anéis aromáticos
conectados por um par de átomos de carbono. Exemplo: naftaleno;
6 Espécies inorgânicas, que são íons naturalmente presentes no ambiente, mas que em
certas concentrações (geralmente aumentadas pela poluição) causam inconvenientes
para a biota e população. Exemplos: CN-, Cl-, Ca2+, Mg2+, PO43-, NO3-, H+ e S2-.
Aprofundando-nos um pouco na classe dos elementos tóxicos, por definição, metais
pesados são aqueles elementos que apresentam alta massa atômica e densidade. As principais
fontes de contaminação de águas e rios por essas substâncias são indústrias metalúrgicas,
mineradoras, de tintas, cloro e plásticos. De forma recorrente, embora irregular, subprodutos
dessas empresas são descartados em cursos d’água. Outra situação preocupante é o garimpo
ilegal que, na mineração de ouro, utiliza-se do mercúrio, descartando-o também em sua forma
gasosa, altamente tóxica.2
Uma vez no organismo dos animais, o excesso dos metais dessa classe altera células,
processos bioquímicos e afeta o funcionamento de órgãos, podendo provocar incontáveis
malefícios. A principal fonte de exposição do ser humano a metais pesados é de forma indireta,
através da alimentação. Ao longo da vida, seres aquáticos que habitam nesses ambientes
contaminados são expostos aos elementos tóxicos, absorvendo-os pouco a pouco. Nossa

2O mercúrio reage com o ouro, formando uma amálgama. Esse processo, facilitador da mineração, pode
ser melhor visualizado através do link: https://www.youtube.com/watch?v=yScMO7unOFs. Acesso em 15
de setembro de 2021.
7

ingestão, especialmente de peixes – visto que a probabilidade de terem acumulado produtos


nocivos é maior que a de plantas na mesma situação – significa risco acrescido de contaminação.

O que acha de fazer uma breve pesquisa sobre o Desastre de Minamata, tragédia ligada ao
envenenamento por mercúrio em uma pequena cidade do Japão?

Dentre todas as classes citadas, não existe a mais importante, mas atualmente a dos
“pesticidas” tem chamado mais a atenção dos químicos analíticos e da imprensa. O trecho a
seguir pode justificar isso: “Desde a sua introdução, os pesticidas sintéticos constituem um
problema, devido ao seu impacto potencial sobre a saúde humana em virtude da ingestão de
alimentos contaminados com esses produtos [...]” (BAIRD, 2002,
grifo nosso).
No caso dos agrotóxicos de forma geral, também podemos
nos voltar brevemente à classe dos herbicidas, cuja contaminação
em águas superficiais vem causando preocupação, como pode ser
visto pelo vídeo acessível pelo código ao lado. Nos capítulos
seguintes, alguns aspectos da química desses poluentes serão
abordados e aprofundados, dependendo do contexto das
discussões.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Acordo de Paris. Brasília. Disponível em:
<https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html>.
Acesso em: 13 maio 2022.
G1. EUA notificam a ONU e confirmam saída do Acordo de Paris. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/11/04/eua-notificam-a-onu-e-confirmam-saida-
do-acordo-de-paris.ghtml>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola, [S.l.], Ed. Especial,
maio 2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso
em: 13 maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
ROCHA, A. F. da. Cádmio, Chumbo, Mercúrio: a problemática destes metais pesados na saúde
pública? 2009. 60 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências da Nutrição, Faculdade de Ciências da
Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto, Porto, 2009. Disponível em:
<https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/54676/4/127311_0925TCD25.pdf>. Acesso
em: 13 maio 2022.
THORPE, T. E. Air and Rain. Nature, v. 6, n. 147, p. 325-326, ago. 1872. Springer Science and
Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/006325a0.
8

PARTE 2

IMPORTÂNCIA E POLUIÇÃO DA ÁGUA, LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS E


PROCESSOS QUÍMICOS NATURAIS

A água doce é um dos recursos naturais mais importantes para a humanidade e a


conscientização é de extrema importância para que se consiga preservar a água ainda
disponível, garantindo água de qualidade para o consumo atual e futuro. No Brasil, essa questão
fica muito clara quando consideramos a problemática da seca na Região Nordeste e a falta de
água potável em várias cidades da Região Sudeste, que também começou a sofrer com a falta
de chuvas regulares nos últimos anos.
Sua ocorrência pode estar relacionada ao aumento de represas, aquecimento global e
expansão populacional nas grandes metrópoles. Por outro lado, uma análise histórica já mostra
que a oferta de água tem sido fundamental para o desenvolvimento das cidades, ou seja, a
dependência da água faz parte de como as sociedades vêm se estruturando e se desenvolvendo.

1 Importância da água e origem da poluição


No antigo Egito, as cidades desenvolvidas eram aquelas localizadas próximas a rios (em
especial o Nilo), os quais podiam satisfazer as suas demandas de água para os usos doméstico e
agrícola. Num passado não tão distante, verifica-se também a importância da água para
movimentação de máquinas como fonte de energia (um exemplo disso é abordado em um filme
de época, brasileiro, chamado "O Quatrilho"). Atualmente sabemos que a água é usada não só
para fins domésticos e agrícolas, mas também como um "solvente” amplamente utilizado na
limpeza e transporte dos resíduos gerados pelas atividades humanas e nos processos industriais
em geral.
Nesse contexto, se a água sempre foi um bem importante para a humanidade, sua
poluição também já ocorre há muito tempo e essa é uma das razões pelas quais ainda hoje
existem pessoas e empresas que poluem a água como uma prática usual. É importante notar,
ainda, que não apenas as cidades e as indústrias têm sido as principais fontes do problema, mas
também muitas das atividades agrícolas e pecuárias, quando realizadas de forma não
sustentável. Esta situação deve ser combatida, e os profissionais da Química, sejam bacharéis
ou licenciados, têm um papel fundamental nesse caso.

2 Alguns aspectos físicos, físico-químicos, químicos e geológicos das águas naturais


A preocupação com a preservação dos recursos hídricos se dá pelo fato de que apenas
1% da água do planeta é doce e acessível! O restante é de água congelada (2%) e salgada (97%).
Embora existam processos físico-químicos que permitam dessalinizar águas salgadas e salobras,
este processo ainda é caro, sendo utilizado apenas nos casos em que não se tem outras fontes
de água. Essa tecnologia vem sendo utilizada principalmente em navios e por países árabes.

No Brasil, a dessalinização da água do mar é utilizada em Fernando de Noronha. Que tal


pesquisar como é o processo?

Por outro lado, as águas dos oceanos já são muito importantes, pois mantêm “vivas”
as fontes de água doce nos continentes. Isso ocorre porque a atmosfera funciona como um
9

"condensador" da água que evapora nos oceanos e que precipita, muitas vezes, nos continentes.
Esse processo natural faz parte do chamado Ciclo da Água ou Ciclo Hidrológico, em que a água
evaporada (dos mares, lagos, rios, pântanos, vegetais e animais), alcança regiões mais frias,
condensa-se, forma as nuvens e, dependendo das condições climáticas, cai na forma de chuvas,
neve ou granizo (precipitação).
Figura 2. Esquema representativo do Ciclo da Água.

Fonte: Brasil Escola.

Esse Ciclo já é conhecido/estudado desde a educação básica, mas no Curso Universitário


é necessário ressaltar que, além da água, ele permite transportar poluentes: os contaminantes
da atmosfera são arrastados para os solos e águas superficiais, enquanto os dos solos são
arrastados para camadas mais profundas, podendo atingir lençóis freáticos.
Em relação a aspectos físico-químicos, uma propriedade importante da água é a
diferença entre os seus pontos de fusão (0 oC) e de ebulição (100 oC). Essa diferença faz com
que a água esteja no seu estado líquido na maior parte do Globo terrestre. Essa é uma das
justificativas para a dependência que se criou desse recurso, de acesso ainda viável para a maior
parte das comunidades/populações. Além disso, a diferença entre a densidade da água líquida
e da água sólida contribui para a circulação dos nutrientes nos corpos de água.
Você já deve ter visto que, quando colocamos cubos de gelo em um copo com água, ele
não irá afundar. Acontece que as moléculas de H2O, quando no estado sólido a 0 oC, adquirem
uma conformação que as torna mais afastadas umas das outras, aumentando seu volume. De
acordo com a fórmula da densidade ρ = m/v, o aumento do volume irá gerar diminuição da sua
densidade, o que explica o fato de o gelo não afundar. Ainda assim, por suas densidades serem
muito próximas (água a 1,0 g/L e gelo a 0,9 g/L), parte dele ficará submersa.
Podemos constatar, então, que a mudança de temperatura irá causar alteração na
forma como as moléculas se arranjam, logo em sua estrutura cristalina, o que afetará sua
densidade. Nos corpos de água profundos, ocorre um gradiente de densidade da água que, ao
se alterar com as mudanças das estações, promove, naturalmente, uma movimentação da água
juntamente com os nutrientes associados a cada "camada"/gradiente. Isso é ilustrado na figura
3.
Do ponto de vista geológico, vale considerar que as águas naturais estão em contato
com a atmosfera e, também, com a litosfera. Logo, componentes destes outros ecossistemas
10

podem ser incorporados à água e, por


isso, sua composição química é
variada. Consequentemente, mesmo
uma água natural não poluída não pode
ser considerada pura, ou seja, ela não
contém apenas H2O, mas também sais
como os de cloro, sódio, sulfato e
magnésio, compostos orgânicos e gases
como O2, N2 e CO2 dissolvidos. Nesse
contexto, vale ressaltar que
aproximadamente 92,5% dos oceanos é
composto por H2O, sendo o restante de
outros materiais, inclusive os detritos e
poluentes que se acumulam e devastam
a vida marinha.
A partir disso, as águas podem
ser classificadas de acordo com o teor
de sais dissolvidos. A água dos oceanos,
por exemplo, tem salinidade média de
35 partes por mil (3,5 % m/m), ou seja,
possui 35 g de sal a cada 1000 g de água.
O que chamamos de água salobra teria
salinidade entre 0,5 e 3,0 %, enquanto a
água doce pode apresentar uma
quantidade entre 0 e 0,5 %. Para se ter
uma ideia de como esses valores podem
variar de local para local, enquanto a
salinidade do Oceano Atlântico é 3,5 %,
o Mar Morto consegue alcançar uma média de 27 % na superfície e 33 % a 50 metros de
profundidade. Logo, a composição das águas superficiais pode variar consideravelmente.
No Brasil, o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) tem uma classificação
geral para as águas naturais com base na sua salinidade e, também, uma classificação mais
específica com base em uma série de características físicas, químicas e microbiológicas. Essas
classificações são determinadas pela Resolução CONAMA número 357 de 2005.
Nessa Resolução, encontra-se essas três classes gerais (doce, salobra e salgada) e, para
cada uma delas, subclasses definidas com base em uma série de parâmetros físico-químicos,
microbiológicos e de ecotoxicidade. Essa Resolução é importante porque estabelece os usos
adequados para cada classe e subclasse, tanto do ponto de vista de compatibilidade e
segurança, como de preservação do recurso. Portanto, ao se utilizar uma água doce da subclasse
especial, por exemplo, não se pode, por meio de tal uso, alterar as suas características. Nesse
sentido, é oportuno conhecer e identificar a presença de poluentes nas águas, principalmente
aqueles que são tóxicos.

3 Substâncias tóxicas presentes na água


As atividades humanas geram poluentes que atingem as águas de formas diferentes e,
de acordo com a forma, caracterizam-se como fontes pontuais ou fontes difusas de poluição:
11

1 AS FONTES PONTUAIS são aquelas que geram poluição de forma sistemática e em locais
específicos, tais como: descarga de efluentes a partir de indústrias e estações de
tratamento de esgoto, derramamentos acidentais e atividades de mineração. Nesses
casos, ao se identificar essas fontes, as agências de controle devem realizar testes de
monitoramento ambiental (análises físico-químicas e microbiológicas) para verificar se
estão ocorrendo impactos ambientais e conferir responsabilidade ao agente poluidor,
quando for o caso;
2 Já as FONTES DIFUSAS são aquelas cujas características as tornam de difícil identificação,
pois são temporárias ou intermitentes: escoamento superficial urbano, escoamento
superficial das áreas agrícolas e trabalhos de construção civil.
Entretanto, independente do aporte, existem estratégias viáveis para o controle e
remediação da poluição, que são:
1 Redução na fonte;
2 Tratamento dos resíduos de forma a remover os contaminantes ou, ainda, convertê-los
a uma forma menos nociva. Um exemplo deste caso são os tratamentos de água e de
esgoto (que serão estudados nos capítulos seguintes).
Em relação aos poluentes mais comuns, pode-se afirmar que são muito numerosos e de
tipos diferentes. Para fins didáticos, eles podem ser divididos em classes conforme é
apresentado nos próximos tópicos.

3.1 Microrganismos patogênicos


São vírus, bactérias e parasitas que podem provocar doenças e até mesmo causar a
morte de pessoas e animais. Devido ao fato de microrganismos diferentes estarem presentes,
naturalmente, nos fluidos biológicos dos seres vivos, a água é considerada um veículo
importante desses poluentes. Um exemplo clássico dessa classe é a Vibrio cholerae, que é a
bactéria causadora da cólera. Por mais esse motivo, efluentes industriais, pecuários e
domésticos não devem ser descartados em corpos de água sem tratamento adequado.

3.2 Nutrientes minerais como fósforo e nitrogênio


Mesmo as substâncias que são nutrientes para a biota podem ter efeito negativo sobre
o equilíbrio de um ecossistema se estiverem em concentração elevada. Exemplos importantes
são íons que contém fósforo e nitrogênio, naturalmente presentes no esgoto não tratado, nos
resíduos agropecuários e de algumas indústrias. Essas espécies químicas favorecem o
crescimento desordenado de vegetais aquáticos, como as algas. Isso gera um processo chamado
EUTROFIZAÇÃO ARTIFICIAL, que leva à degradação completa do corpo de água. Na Região
Sudeste da cidade de São Paulo, o rio Tietê é um exemplo de corpo eutrofizado, cujo processo
será detalhado posteriormente.

3.3 Compostos orgânicos sintéticos


São compostos de tipos e utilidades diferentes (constituídos por plásticos, fibras
sintéticas, borrachas sintéticas, solventes, pesticidas e agentes preservantes de madeira), mas
que têm uma propriedade em comum: RESISTÊNCIA À BIODEGRADAÇÃO. Logo, representam
uma preocupação, porque constituem substâncias às quais a biota aquática não é naturalmente
exposta e cujos efeitos sobre os mais variados tipos de organismos ainda são pouco conhecidos.
12

Alguns exemplos são cloreto de polivinila (PVC), tensoativos, DDT, tetracloreto de carbono e
bifenilas policloradas. Em outras palavras, tratam-se de compostos de grande utilização e, por
isso, podem ser encontrados na água de abastecimento, o que justifica o motivo pelo qual
existem limites máximos permitidos para algumas dessas substâncias na Resolução 357 do
CONAMA.

Recomendamos fortemente a leitura do livro “Primavera Silenciosa”, da bióloga Rachel


Carson. Nele, a autora trata a problemática da utilização de agrotóxicos a partir de suas
histórias, aplicações e efeitos.

3.4 Metais pesados e arsênio


O termo "metais pesados" é geralmente usado como sinônimo para os elementos
químicos que são tóxicos, como o As (que é um ametal), Cd, Pb, Hg (metais tecnicamente
"pesados") e, além desses, os micronutrientes Cu, Cr, Ni e Zn (cuja toxicidade depende da
concentração no meio). Como esses elementos são utilizados em diferentes setores da indústria,
são encontrados em pesticidas, medicamentos, pigmentos (tintas, esmaltes para unha) e
dispositivos elétricos. Logo, também se encontram limites máximos permitidos para esses
elementos em águas e isto também está na Resolução 357 do CONAMA.

Em relação a essa classe de poluentes, muita confusão é feita por profissionais da


química, áreas afins e, principalmente, pela mídia. Por essa razão, é bom evitar o termo
"metal pesado", substituindo-o por “metais tóxicos” ou, simplesmente, por "elementos
tóxicos". A título de exemplo, faça o exercício de PROCURAR ALGUMA NOTÍCIA na
mídia sobre o alumínio (Al) e verifique que não é incomum que os jornalistas e outros
profissionais considerem esse metal como um metal pesado, o que está errado do ponto
de vista das recomendações da IUPAC e também não concorda com o contexto geral de
uso do termo.

A toxicidade depende dos elementos (que apresentam aspectos bioquímicos


diferentes), da forma química (Cr3+ e Cr6+, por exemplo) e, também, do "ambiente" ou meio
químico em que são encontrados. O Hg2+, por exemplo, é tóxico se for encontrado na água. Mas,
se nesta água houver íons S2-, pode ocorrer a precipitação do Hg2+ na forma de HgS(s), o que
torna o metal inerte e atóxico para a biota. Por outro lado, se este mercúrio for absorvido por
determinados microrganismos, ele pode se transformar em metilmercúrio (Me-Hg+) ou
dimetilmercúrio [(Me)2Hg], ambos com toxicidade muito maior que o Hg2+ (inorgânico) ou Hg0
(em torno de 100 vezes), pois são lipossolúveis e absorvidos pela pele. As formas orgânicas do
Hg, então, ficam armazenadas na carne dos animais.

4 Reações químicas na água


Com tudo o que já foi discutido acima, nota-se que as águas naturais "atuam" como um
reservatório para diversas substâncias químicas, sejam elas de ocorrência natural ou
antropológica. Diante disso, espera-se que essas substâncias participem de reações químicas,
dependendo das condições ambientais. Assim, quanto maior a variabilidade das substâncias,
diferentes reações podem ocorrer, alterando as características da água e, até mesmo,
originando compostos tóxicos, o que é indesejado.
Essa questão, naturalmente, é um assunto complexo e vasto. Desta forma, não será o
objetivo aprofundá-lo aqui, mas exemplificar algumas dessas reações, as quais podem ser
13

divididas/estudadas em termos de EQUILÍBRIOS ÁCIDO-BASE e REAÇÕES REDOX. Em linhas


gerais, as reações ácido-base são aquelas responsáveis pela manutenção das concentrações dos
íons inorgânicos dissolvidos na água, enquanto as reações redox controlam o teor de matéria
orgânica dissolvida, dependendo principalmente do nível de O2 dissolvido.
Exemplos de reações ácido-base:

As quatro reações acima podem ocorrer simultaneamente na água e formam um


conjunto de reações chamado "sistema CO2/CO32-". Esse sistema explica porque o pH da água
não é 7,0, ficando numa faixa entre 6,0 – 8,0 (reações). Nesse sistema, a dissolução do carbonato
de cálcio se dá nas águas que ficam em contato com rochas calcárias, sendo uma das causas da
"dureza da água".
A esse respeito, água dura é aquela caracterizada pela alta concentração de sais de
cálcio e magnésio, ou seja, bicarbonatos, carbonatos, sulfatos ou cloretos de cálcio e magnésio
dissolvidos. Esse tipo de água é comum nas residências mineiras, em especial na região
metropolitana de Belo Horizonte. Embora as portarias do Ministério da Saúde sobre
Potabilidade da Água admitam um valor altíssimo de dureza (até 300 mg/L de CaCO3), valores
acima de 50 mg/L já causam inconvenientes como incrustações e corrosão de canos, torneiras
e conexões hidráulicas.
Outros problemas são manchas em roupas e utensílios de cozinha, ressecamento da
pele e cabelos e, ainda, entupimento de chuveiros pela precipitação dos sais. Para contorná-los,
uma solução possível é a purificação das águas nos pontos de entrada dos abastecimentos
residenciais por meio da retirada dos íons de cálcio e magnésio, processo denominado
abrandamento.
Exemplos de reações redox:
Em todas "as águas" ocorrem reações envolvendo o oxigênio molecular, conforme
exemplificado abaixo. A segunda reação, inclusive, mostra uma das vias para a decomposição
natural de matéria orgânica, via esta que leva a uma diminuição na oxigenação da água
(prejudicial para os peixes, por exemplo):

Na última reação, o composto CH2O é uma representação para compostos orgânicos,


oriundos de material vegetal, como os carboidratos.
14

Nas regiões onde ocorre mineração, o contato da água das chuvas com os minérios pode
levar a solubilização de metais presentes nos minérios. Essas reações são chamadas de
"drenagem ácida de minas" e um exemplo é mostrado na reação a seguir:

Essa reação ilustra a dissolução da pirita (FeS 2), liberando o ferro na forma iônica e
gerando um resíduo ácido. Numa outra situação, o pH ácido da água das chuvas (quando
significativamente ácido) pode favorecer a dissolução dos minérios com os quais a água entra
em contato. Sendo assim, a drenagem ácida de minas pode, independente do processo, carrear
metais para fora da mina, os quais atingem rios e/ou solos, podendo até mesmo ocasionar
contaminação de lençóis freáticos.
Além disso, destacam-se ainda reações envolvendo compostos nitrogenados, as quais
podem levar à formação de nitrito, representada abaixo, ou n-nitrosaminas.

Os íons nitrato, em água, podem ser convertidos em nitrito (dependo das condições) e
isso pode ser prejudicial para as pessoas que possuem metemoglobinemia, também chamada
de "doença do bebê azul". Nessas pessoas, a hemoglobina é facilmente oxidada pelos nitritos e,
por isso, a água potável não deve ter níveis significativos de nitrato e nem de nitrito.
Além disso, o nitrato também pode reagir com algumas aminas e originar as n-
nitrosaminas, como é o caso da n-nitrosodimetilamina. Esse tipo de composto favorece a
ocorrência de câncer de estômago. Consequentemente, o nível de nitrato e nitrito também deve
ser controlado nos alimentos e demais bebidas.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Brasil Escola. Ciclo da água. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-
agua.html>. Acesso em: 13 maio 2022.
BRINI, E. et al. How Water’s Properties Are Encoded in Its Molecular Structure and Energies.
Chemical Reviews, v. 117, p. 12385-12414, 2017.
GILL, S. J.; WADSO, I. Flow-microcalorimetric techniques for solution of slightly soluble gases:
Enthalpy of solution of oxygen in water at 298.15 K. The Journal of Chemical
Thermodynamics, v. 14, p. 905-919, 1982.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
15

NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,


2011.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Salinidade do Ambiente Marinho. Instituto de
Matemática. 2008. Disponível em:
<http://mdmat.mat.ufrgs.br/acqua/Textos/concentracao.htm>. Acesso em: 13 maio 2022.
VILHENA, J. L. Dureza da água: o que é e como ela influencia na qualidade. Grupo Hídrica.
2017. Disponível em: <https://grupohidrica.com.br/dureza-da-
agua/?gclid=Cj0KCQiAkePyBRCEARIsAMy5ScsHOW4znIQpCQNrux3kvVPqIv8FhBGYQaY1ZIfYEcF
2dAGczX_wwxkaAqY_EALw_wcB>. Acesso em: 13 maio 2022.
16

PARTE 3

PARÂMETROS DE QUALIDADE DAS ÁGUAS: DEFINIÇÕES, IMPORTÂNCIA E


MÉTODOS ANALÍTICOS

O aporte de poluentes nos mananciais origina-se de várias fontes: efluentes


domésticos, industriais, escoamentos superficiais urbano e agropecuário. Cada uma dessas
fontes possui características próprias quanto aos poluentes que transportam, como
contaminantes orgânicos, nutrientes (que podem causar eutrofização – comentada na parte 2),
bactérias patogênicas, entre outros.

Além disso, a diversidade das indústrias existentes aumenta, ainda mais, a variabilidade
dos contaminantes aportados nos corpos de água. Logo, torna-se praticamente impossível a
determinação sistemática, em tempo relativamente curto, de todos os poluentes que possam
estar presentes nas águas. Por outro lado, existem parâmetros de qualidade da água que levam
em conta os poluentes mais representativos e que podem ser monitorados mais facilmente para
uma avaliação regular e adequada, principalmente aquelas destinadas ao abastecimento
público.

Esses parâmetros constituem características/propriedades físicas, físico-químicas e


microbiológicas que as águas apresentam e as legislações relacionadas (CONAMA 357 e Portaria
GM/MS nº 888 de 14 de maio de 2021) apresentam os valores considerados adequados (ou
seguros) para tais parâmetros. Sua monitoração é uma das tarefas mais realizadas por
profissionais da Química e de áreas afins, em diversos setores da sociedade e da indústria, pois
todos precisam de água de qualidade. Nesse contexto, os parâmetros de qualidade da água
podem ser classificados em FÍSICOS, QUÍMICOS, MICROBIOLÓGICOS e ECOTOXICOLÓGICOS, que
serão descritos a seguir.

1 Parâmetros físicos
Dentre os parâmetros físicos, a temperatura, a condutividade elétrica, o teor de
sólidos, cor e turbidez são os geralmente monitorados e avaliados nas amostras de água. A
seguir é apresentada uma breve descrição de cada um desses parâmetros, acrescida de algumas
informações experimentais relacionadas aos procedimentos de análise.

1.1 Temperatura (T)


Trata-se da aferição da temperatura (em oC) realizada na água diretamente na fonte, o
que é chamado de medida “em campo” ou “in situ”. O acompanhamento da T, em condições
definidas, é importante porque o aumento da mesma diminui a solubilidade de gases, como o
O2 (importante para os organismos aquáticos). Logo, fenômenos que levam a um aumento
gradual da T de um corpo de água favorecem a ocorrência de processos anaeróbicos. Embora
naturais, geram mau cheiro e levam à degradação da água.
17

1.2 Condutividade elétrica


É a capacidade que uma amostra de água tem de conduzir corrente elétrica. Esta
capacidade é gerada pelas substâncias dissolvidas na água e que se dissociam ou ionizam,
produzindo espécies químicas carregadas.
Como as águas naturais apresentam, geralmente, poucos íons (parte 2), pode-se esperar
que descargas industriais e lançamento de esgoto nos rios e lagos gerem aumento na
condutividade elétrica de um corpo de água. Logo, ainda que seja uma medida não específica,
o aumento da condutividade elétrica ou a obtenção de valores elevados indicam modificações
na composição natural da água, podendo ser causada por poluição proveniente de atividades
antropológicas.
A medida da condutividade elétrica é realizada por um equipamento chamado
condutivímetro, que pode ser portátil ou de bancada, e a unidade é o microSiemens por
centímetro (µS/cm).

1.3 Teor de sólidos


Este parâmetro é dado pela quantidade de impurezas sólidas presentes na água, que
correspondem a partículas, sedimentáveis ou não, e que podem ser separadas por filtração. A
medida do teor de sólidos é bastante simples, mas é realizada apenas no laboratório, onde a
amostra é filtrada e a massa dos sólidos filtráveis é medida (por uma balança analítica) de forma
a expressar o resultado em mg sólidos/L água.

1.4 Cor
Assim como a condutividade elétrica, essa propriedade se deve às substâncias
dissolvidas na água que geram a sua cor e que variam de lugar para lugar (características da
fonte). Então, conforme as ações antropogênicas aumentam, aumenta também a quantidade
de substâncias na água. Consequentemente, ocorre a alteração na cor natural.
A medida da cor emprega métodos espectroscópicos e existem equipamentos
configurados especificamente para isso, como é o caso do Fotocolorímetro da marca ALFAKIT.

1.5 Turbidez
É um parâmetro que representa o quanto uma amostra de água interfere na luz que
passa por ela. Está correlacionada com os parâmetros anteriores (teor de sólidos e cor), sendo
importante porque as águas turvas desfavorecem a fotossíntese de vegetações submersas.
Logo, seja para o consumo, seja para a preservação da biota aquática, as águas devem ter baixa
turbidez (na verdade, espera-se que a turbidez seja não significativa ou baixa).
Para essa medida existem equipamentos portáteis, como é o caso de sensores
multiparâmetros que possibilitam realizar diferentes determinações simultaneamente
(temperatura, condutividade, turbidez e pH). Ainda assim, o equipamento destinado
especificamente a esta finalidade é o turbidímetro, sendo a unidade de medida a unidade
nefelométrica de turbidez (NTU).
18

2 Parâmetros químicos
Diversos parâmetros químicos são monitorados a fim de se atestar a segurança da água
de abastecimento e também identificar contaminações nas águas naturais. Esses parâmetros
são: alcalinidade, dureza, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, demanda
química de oxigênio, série de nitrogênio, fósforo total, surfactantes, óleos e graxas, cianetos,
fenóis e demais contaminantes orgânicos, ânions, íons metálicos, arsênio e boro. A justificativa
para a monitoração de tais parâmetros é o foco deste texto e, a seguir, são apresentadas
algumas das suas informações mais relevantes.

2.1 Alcalinidade, pH e dureza


São parâmetros diferentes, mas que estão relacionados com as espécies CO2, CO32-, Ca2+,
Mg e H+, que são constituintes da água, mas em proporções variadas. No caso de águas
2+

alcalinas, devido a pouca quantidade de íons H+, o pH é mais alto e a dureza é, geralmente,
“moderada” a “muito dura”. Por outro lado, “alcalinidade” não é sinônimo de pH, a qual
representa a capacidade de neutralizar ácidos. Isso porque esta capacidade envolve não apenas
os íons H+ (mensurados nas medidas de pH), mas também os íons CO32- e HCO3-.
Com relação à dureza, pode-se dizer que esta se refere ao teor de cátions cálcio e/ou
magnésio, podendo ser dureza de cálcio, dureza de magnésio e dureza total (somatório das
concentrações de íons Ca 2+ e íons Mg 2+).
Além disso, observe que determinados parâmetros não são do interesse apenas dos
químicos e profissionais da área. Uma forma de fazer isso é observar as informações presentes
nas embalagens de águas minerais, que trazem características físico-químicas discutidas nesta
aula como o pH, a temperatura da água na fonte, a condutividade elétrica, bem como alguns de
seus componentes químicos.
Figura 4. Exemplo de rótulo de água mineral comercial e as informações disponibilizadas.

Fonte: Aquerts (adaptada).

Esses parâmetros estão entre os mais simples de serem determinados/monitorados e,


ao mesmo tempo, são bastante relevantes:
1 Seres vivos necessitam de água em pH próximo à neutralidade;
19

2 Tubulações de água (domésticas ou industriais) podem ser entupidas (no caso de águas
duras) ou ter elementos metálicos lixiviados se forem de metal (no caso de águas mais
ácidas);
3 Níveis fora dos padrões deixam a água com sabor desagradável e podem ter efeitos
laxativos.

2.2 Oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de


oxigênio (DQO)
Expressam o teor de oxigênio dissolvido na água e indicam, no caso da DBO e DQO, os
tipos de poluentes possivelmente presentes. Enquanto o teor de oxigênio dissolvido refere-se
simplesmente à quantidade de gás oxigênio (em mg) presente na água, os demais indicam o
quanto do oxigênio dissolvido (por isso o termo “demanda”) pode ser consumido nos processos
de degradação da matéria orgânica (MO), processos de reações redox vistas na parte 2. São eles:
1 Demanda bioquímica de oxigênio:
É a quantidade de oxigênio necessária para oxidar, naturalmente, a matéria orgânica
por meio de processos bioquímicos (que podem ser monitorados no laboratório).
2 Demanda química de oxigênio:
É a quantidade de oxigênio necessária para oxidar a matéria orgânica através de um
agente químico, como o dicromato de potássio. É um parâmetro útil para detectar substâncias
resistentes à degradação biológica. Enquanto compostos biodegradáveis podem ser oxidados
tanto por oxigênio (DBO) quanto por outros oxidantes químicos (DQO), as substâncias
resistentes à biodegradação reagem basicamente com os oxidantes químicos.

2.3 Série de nitrogênio


Amônia, nitrato, nitrito e compostos orgânicos nitrogenados são as substâncias que
compõem essa classe. A importância de se conhecer e controlar o teor de NO3-, NO2- e
compostos orgânicos, como as nitrosaminas, já foi discutida na parte 2.
Com relação à amônia (NH3), trata-se de uma substância encontrada, normalmente, em
baixas concentrações. Embora não cause danos aos seres humanos nessas concentrações, pode
ocasionar sufocamento de peixes. Por isso, uma vez na água, pode ser mais tóxica para os
peixes do que para o ser humano, condição que, ainda assim, deve ser evitada.
Para a monitoração dessas substâncias, diferentes técnicas analíticas podem ser
empregadas, mas principalmente aquelas baseadas nos fenômenos de separação, como a
Eletroforese Capilar e as Cromatografias (sejam as líquidas ou a gasosa).

2.4 Fósforo total


Este parâmetro se refere ao teor de fósforo, seja proveniente de fosfato inorgânico ou
outras espécies que contém esse elemento e, para isso, usam-se métodos espectroscópicos.
Teores relativamente altos de fósforo indicam que a poluição pode ser tanto por efluentes
industriais quanto por domésticos, sendo necessário realizar outras análises para poder
identificar a possível fonte poluidora.
20

2.5 Ânions
Ânions como os cloretos (Cl-) e os sulfetos (S2-) constituem sais presentes na água, mas
cujas concentrações podem ser aumentadas com a poluição. No caso da poluição doméstica,
ocorre um aumento principalmente nos teores de Cl-, enquanto nas industriais podem ocorrer
aporte de Cl- e de S2-. Por isso, os teores desses ânions também são parâmetros importantes para
se verificar a qualidade da água.

2.6 Íons metálicos


Diversos íons metálicos (derivados dos elementos Ag, Al, Ba, Be, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Hg,
Li, Mn, Ni, Pb, Sb, U, V e Zn), além de arsênio, selênio e boro, compõem a classe dos elementos
químicos que são determinados na água. No geral, a justificativa da monitoração desse
parâmetro é a toxidade associada a esses elementos, que depende da espécie e, também, da
forma química.
Embora teores elevados não sejam comuns em águas naturais, o despejo de efluentes
(principalmente de algumas indústrias) e a lixiviação de fertilizantes podem contaminar as
águas naturais e, portanto, a água de abastecimento. Para quantificar esses elementos, que se
encontram na forma de íons, as técnicas espectrométricas de análise são indicadas, sendo
baseadas nos fenômenos de absorção ou emissão de luz pela amostra em estudo.

2.7 Surfactantes
Os surfactantes estão presentes nos produtos conhecidos como detergentes, podendo
ser aniônicos (possuem grupamentos funcionais que, em solução aquosa, libera ânions - como
o dodecanoato de sódio), catiônicos (possuem grupamentos funcionais que, em solução aquosa,
libera cátions - como é o caso dos sais de amônio quaternário), não iônicos (possuem grupos
sem carga, como os álcoois de cadeia longa) e anfóteros (quando, em solução aquosa, exibem
características aniônicas ou catiônicas a depender do pH da solução).
Embora exista a tendência de se usar principalmente surfactantes biodegradáveis, essas
substâncias diminuem a tensão superficial da água e, por isso, geram espuma quando presentes.
Isso pode causar inconvenientes para a biota, atrapalhando o seu ciclo de vida natural.
Para a quantificação de surfactantes, geralmente, são empregados métodos
espectrofotométricos de análise.

2.8 Óleos e graxas


São substâncias orgânicas pouco encontradas em águas superficiais, mas por serem
pouco solúveis em água, dificultam tanto o tratamento de efluentes – que dependem de
processos biológicos (assunto da parte 5) – como o da água de abastecimento. Logo, é mais um
parâmetro monitorado e os níveis encontrados devem ser baixos.

Que tal pesquisar um pouco sobre a determinação analítica desse parâmetro?


21

2.9 Fenóis e demais contaminantes orgânicos


Constituem um grupo de várias substâncias orgânicas que ocorrem na água basicamente
como consequência de despejos industriais. Além de afetarem o sabor da carne dos peixes e
da água, substâncias dessa classe ainda podem causar lesões na pele, indisposições físicas e até
mesmo doenças. Esses poluentes apresentam um grau de toxicidade importante e, assim como
os metais, dependem da substância e da quantidade.
Devido à grande variabilidade de compostos nesta classe, diversas técnicas analíticas
podem ser usadas, dentre as quais se destacam as técnicas cromatográficas, principalmente
com detecção por espectrometria de massas.

Você saberia citar o exemplo de algum fenol que pode estar presente na água de
abastecimento?

3 Parâmetros biológicos
A presença de microrganismos patogênicos na água indica não apenas sua
contaminação como a inadequação da mesma para o consumo. Por isso, as legislações
estabelecem o controle de COLIFORMES (fecais e totais) e ESTREPTOCOCOS totais. Os coliformes
são bactérias encontradas principalmente nos intestinos de animais de “sangue quente” e, por
isso, não representam perigo à saúde, necessariamente. Acontece que nesta classe encontra-se
a cepa da Escherichia coli, causadora da cólera (doença gastrointestinal). Da mesma forma, os
estreptococos totais correspondem tanto a bactérias patogênicas como não patogênicas.
Dentre essas últimas, elas podem ser separadas em subgrupos, visto que podem causar
sintomas diferentes.

Que tal pesquisar também sobre a determinação analítica de coliformes? Como esse tipo
de análise não contempla o cenário usual dos laboratórios químicos, tente buscar um
vídeo que exemplifique ou complemente a sua pesquisa teórica!

4 Parâmetros ecotoxicológicos
São ensaios bioquímicos realizados com certos microrganismos e que permitem
determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos, quando presentes na água,
extrapolando-se os resultados para os diversos organismos presentes no meio aquático.
Esse ensaio pode ser feito com o microcrustáceo Ceriodaphnia dubia, por exemplo,
que é colocado em contato com a água em avaliação. Os efeitos observados definem o grau da
toxicidade, sendo AGUDA ou CRÔNICA. A toxicidade é considerada aguda quando a observação
principal é a morte dos organismos em até 96 horas, enquanto a crônica tem como resposta
mudanças comportamentais, alterações fisiológicas e reprodutivas. Essas alterações podem
ocorrer num período equivalente a 1/10 do ciclo vital até a totalidade da vida do organismo.
Logo, a água usada para consumo não pode apresentar toxicidade alguma quando da realização
deste tipo de teste.
Complementamos que, ainda que os testes com crustáceos sejam mais difundidos e
utilizados há mais tempo que os demais, ensaios que utilizam bactérias fotoluminescentes Vibrio
fischeri estão sendo continuamente aperfeiçoados. Embora ainda não haja unanimidade no
campo, tem sido possível observar que tais organismos-teste vêm apresentando maior precisão
de resposta em virtude do avanço da microbiologia e da engenharia genética.
22

Você sabia?
Segundo a ONU, já em 2006, a pecuária foi considerada o setor que mais polui
mananciais e corpos d’água. Apenas ela é responsável por consumir, em relação ao gasto global
de água, mais de 90% do montante. Além da água, terra e alimentos necessários para manter
os animais terrestres para abate, são produzidas quantidades expressivas de dejetos, bem como
são emitidos poluentes que se dispersam pelo ar, água e solo, direta ou indiretamente, como
veremos a seguir.
Em geral, as duas formas de poluição das águas por esse meio são pelo volume de
dejetos e refugo produzidos e pelo escoamento de fertilizantes, pesticidas e demais aditivos
utilizados nos cultivos para a ração dos animais. Em termos numéricos, ao relacionarmos a
produção de dejetos, uma granja pode se igualar ao produzido por uma cidade pequena. Por
exemplo, apenas no estado de Santa Catarina, os dejetos e efluentes não tratados da criação de
suínos chegam a 75 milhões de litros por dia.
Um grande problema envolve seu descarte no ambiente sem tratamento. Quando
despejados em água, dejetos, sangue, gordura, vísceras e restos de carcaças carregam consigo
níveis elevados de nitrogênio, fósforo, antibióticos e demais agentes utilizados na criação e
abate dos animais, contaminando águas superficiais, subterrâneas e, inclusive, encanadas. Além
da problemática da eutrofização, o descarte também está envolvido com cepas de bactérias
resistentes a antibióticos, criação de zonas oceânicas mortas, degradação de recifes de coral e
problemas de saúde pública.
Do ponto de vista da sustentabilidade, a prática pecuária atual precisa ser modificada e
melhorada. Independentemente de hábitos e culturas, vale a pena avaliar as fontes de alimentos
que temos escolhido, seja pensando em aspectos de saúde pública, éticos ou mesmo
ambientais.

Bibliografia Consultada

Aquerts. Disponível em: <http://www.aquerts.com.br>. Acesso em: 13 maio 2022.


BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
SCHUCK, C.; RIBEIRO, R. Comendo o Planeta: impactos ambientais da criação e consumo de
animais. 3. ed. São Paulo: Sociedade Vegetariana Brasileira, 2018.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
GARCEZ, L. N. Manual de Procedimentos e Técnicas Laboratoriais Voltado para Análises de
Águas e Esgotos Sanitário e Industrial. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, 2004.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
23

RUBINGER, C. F. Seleção de Métodos Biológicos para a Avaliação Toxicológica de Efluentes


Industriais. 2009. 90 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
STEINFELD, H. Livestock’s Long Shadow: environmental issues and options. Roma: Food and
Agriculture Organization of the United Nations, 2006. Disponível em:
<http://www.fao.org/3/a0701e/a0701e.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
24

PARTE 4

PURIFICAÇÃO DE ÁGUAS: TRATAMENTO DE ÁGUA PARA


ABASTECIMENTO

Devido à poluição crescente das águas naturais, principalmente nas fontes próximas aos
grandes centros, existe a necessidade de submeter a água a etapas de purificação (ou
tratamento) antes de ser usada no abastecimento público. Nesta aula serão abordadas as
principais etapas do tratamento realizado no Brasil, além de serem apresentadas algumas
questões socioambientais.

1 Tratamento de água e história


Historicamente, quando os grupos nômades estabeleceram morada fixa, deu-se início
ao que hoje chamamos de "crescimento populacional”, tendo o ambiente começado a ser
impactado pela urbanização. Posteriormente, veio a primeira Revolução Industrial e esse
evento, somado às características da urbanização, contribuiu significativamente para a poluição
das águas e do ar. Nesse contexto, foi constatada a necessidade de se retirar da água os
contaminantes antes do seu uso, surgindo a primeira Estação de Tratamento de Água (ETA),
criada em Londres no ano de 1829.

2 Mas toda água precisa ser tratada?


As fontes de água usadas para o abastecimento público são as subterrâneas e as
superficiais, dentre as quais esta última requer, geralmente, tratamentos mais completos por
estar mais exposta às contaminações ambientais. Isso indica, então, que é preciso conhecer as
características das águas das fontes disponíveis, independentemente do seu tipo, a fim de se
definir as necessidades de tratamento.
Nesse sentido, quando as fontes são potáveis, recomenda-se que sejam submetidas
pelo menos a um processo de desinfecção. Já para as águas oriundas de fontes não potáveis, é
necessário empregar uma purificação mais completa feita em uma ETA.
A respeito de Juiz de Fora, o município conta com quatro mananciais para atender a
população. No âmbito do controle de qualidade da água, são três Estações de Tratamento de
Água: ETA Marechal Castelo Branco, que atende as represas de Chapéu d’Uvas e Doutor João
Penido; ETA Walfrido Machado Mendonça, que atende as represas Ribeirão Espírito Santo e
Chapéu d'Uvas; e a ETA São Pedro, responsável pela represa São Pedro próxima à Universidade.

3 Objetivos de uma ETA e estrutura simplificada


Os objetivos de uma ETA são a remoção de material particulado, bactérias, algas, sais,
matéria orgânica dissolvida e remoção ou destruição de organismos patogênicos. Os processos
envolvidos podem sofrer variações dependendo das características da água a ser tratada e dos
padrões de qualidade a serem alcançados, ou seja, variam de município para município.
25

Figura 5. Visão aérea da barragem Chapéu D’uvas.

Fonte: Cesama.

4 Operações Unitárias em uma ETA


Conforme ilustrado na figura 6, o tratamento de água ocorre em etapas e na seguinte
sequência: CAPTAÇÃO (bombeamento), COAGULAÇÃO (alcalinização com cal e adição de sulfato
de alumínio), FLOCULAÇÃO, DECANTAÇÃO, FILTRAÇÃO e DESINFECÇÃO (adição de cloro), que
serão descritas com alguns detalhes.
Figura 6. Esquema simplificado de uma Estação de Tratamento de Água convencional.

Fonte: Prefeitura Municipal de Pomerode (adaptada).


26

4.1 Captação e Bombeamento


No ponto de captação, a água passa por um sistema de grades que impede a entrada
de elementos macroscópicos como folhas, galhos e outros detritos. Após, a água é bombeada
com vazões controladas até a estação de tratamento propriamente dita, que é composta por
uma sequência de tanques específicos, um para cada etapa do tratamento.

4.2 Pré-Alcalinização e coagulação


Nos tanques da pré-alcalinização e coagulação tem-se início ao tratamento com a
chamada "etapa de clarificação", que é responsável pela remoção da maior parte da "sujeira"
presente na água. Esse momento consiste na adição de cal (óxido de cálcio) ou soda cáustica
(solução de hidróxido de sódio) à água. O objetivo é ajustar o pH de modo a favorecer o processo
de coagulação que ocorre em meio alcalino.
Nesse processo, adicionam-se substâncias químicas com o objetivo de promover uma
coagulação das partículas de sujeira ora dispersas na água. Essas substâncias são chamadas de
agentes COAGULANTES e, após a sua adição, a água é submetida a uma agitação violenta para
agilizar a separação. As substâncias comumente utilizadas são o sulfato de alumínio (Al2(SO4)3),
sais de ferro (III) e polímeros orgânicos.

Na hidrólise do Al2(SO4)3, cuja reação pode ser vista acima, forma-se o hidróxido de
alumínio, que é um sólido de caráter gelatinoso e que promove a agregação das partículas de
sujeira.

4.3 Floculação
Essa etapa ocorre em tanques menores, onde válvulas provocam uma suave turbulência
na água. As partículas de sujeira desestabilizadas pela coagulação colidem umas com as outras
e vão se unindo, formando agregados maiores (flocos), mais pesados e que, com o tempo,
decantam e podem ser removidos na decantação.

4.4 Decantação
É um processo de separação física das partículas em suspensão, clarificando a água e
reduzindo em grande porcentagem as impurezas presentes originalmente. O material
sedimentado é chamado de LODO e constitui um resíduo gerado no tratamento da água, que é
composto por matéria orgânica, hidróxido de alumínio e demais impurezas, que precisam ser
retirados e levados para tratamento antes de descartá-los. O tratamento é feito em uma "linha
à parte", chamada de ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE SÓLIDOS, que será comentada
posteriormente.

4.5 Filtração
Ainda que visualmente límpida, a água geralmente apresenta poluentes após a etapa
de clarificação. Esses poluentes são partículas muito pequenas, substâncias dissolvidas e
microrganismos. Por isso, ainda existe uma etapa de filtração, realizada em um filtro com
27

diferentes camadas filtrantes onde devem ficar retidos todos os contaminantes que ainda
estiverem presentes.

4.6 Desinfecção
Como a filtração pode não remover todos os microrganismos, na etapa de desinfecção
é feita uma remoção efetiva desses contaminantes. Para tanto, existem diversos processos que
podem ser utilizados: cloração, adição de cloraminas, ozonização e irradiação ultravioleta. No
Brasil, a cloração é o processo mais comum, podendo ser adicionado gás cloro (Cl2 (g)) ou sais de
hipoclorito à água.
Quando se adiciona gás cloro à água, forma-se o ácido hipocloroso (HClO) que, ao sofrer
hidrólise, origina um sal de hipoclorito, conforme as reações abaixo.

Já em relação à adição de sais de hipoclorito de sódio (NaOCl) ou cálcio (Ca(OCl)2),


ocorrem as reações abaixo, que também levam à formação do ácido hipocloroso.

Vale ressaltar que tanto as espécies HClO como ClO- são bactericidas e, portanto,
qualquer um dos processos acima são eficientes. Assim, os métodos de cloração são confiáveis,
seguros (principalmente quando se utiliza a adição de hipoclorito), simples e de baixo custo.
Além disso, a cloração pode ser feita de modo que fique uma quantidade residual de cloro (nas
formas de ácido hipocloroso ou hipoclorito) na água de abastecimento. Isso aumenta a
segurança microbiológica da água devido ao fato de que podem ocorrer pontos de
contaminação da água nos sistemas de transporte, distribuição e armazenamento.
Por outro lado, os processos de cloração podem levar à formação de outras espécies
químicas (além de HClO e ClO-) indesejáveis, que são os TRIALOMETANOS (THM), compostos
com a fórmula geral CHX3, em que X pode ser cloro, bromo ou iodo. Dentre eles, a preocupação
principal na desinfecção da água é a formação do clorofórmio (CHCl 3), suspeito de ser
cancerígeno para o fígado, podendo também causar efeitos nocivos na reprodução e no
desenvolvimento do ser humano.

Após o processo de desinfecção, a FLUORETAÇÃO pode ser utilizada, tratando-se de uma


etapa adicional para a prevenção de cáries dentárias. Ela, porém, vem gerando
discussões polêmicas e não é mais utilizada em alguns países desenvolvidos da Europa.
Como fonte de flúor, as seguintes espécies podem ser adicionadas: fluoreto de cálcio,
fluoreto de sódio, ácido fluorsilícico e fluorsilicato de sódio. Que tal pesquisar um pouco
sobre essas polêmicas ligadas à fluoretação da água?
28

4.7 Estação de tratamento de sólidos


Conforme mencionado no item 4.4, o LODO formado na etapa de decantação precisa
ser removido e tratado antes da sua disposição ambientalmente adequada. Para isso, o mesmo
é encaminhado para um processo de desidratação para que ocorra sua estabilização química e
microbiológica.
A desidratação (ou secagem) do lodo pode ser realizada por evaporação em leitos ou
por meio de filtração (filtros prensa). Após a secagem, o material resultante pode ser utilizado
como matéria-prima na construção civil (fabricação de cimentos e tijolos) e como adubo. A título
de exemplo, a figura abaixo foi retirada de uma notícia em que o lodo gerado em uma cidade de
Alagoas, após ser considerado inerte, passou a ser destinado como matéria-prima para a
fabricação de tijolos cerâmicos, diminuindo os impactos ambientais gerados pelo descarte.
Figura 7. Resíduo gerado na Estação de Tratamento de Água.

Fonte: Instituto do Meio Ambiente.

5 Controle de qualidade da água e distribuição


Voltando à questão da água, ao final das etapas de tratamento, a água de
abastecimento precisa passar por uma série de ensaios físico-químicos e microbiológicos antes
de ser liberada na rede de distribuição pública, o que ocorre tanto na saída da ETA como em
pontos específicos ao longo dessa rede. As análises realizadas são aquelas mencionadas e
discutidas na parte 3 e tem o objetivo de atestar a QUALIDADE da água conforme as
recomendações do Ministério da Saúde.

Reflexão
É provável que você tenha uma boa ideia sobre as problemáticas da escassez hídrica e,
por conta disso, procura diminuir o uso direto e desnecessário ao fechar a torneira para escovar
os dentes ou reduzir o tempo do banho. O que muitas pessoas não pensam, porém, é na
29

chamada “água virtual”, a água gasta indiretamente na produção de roupas, alimentos,


eletrodomésticos, entre outros produtos.
A respeito da nossa alimentação, a título de exemplo, uma xícara de café possui, além
dos 125 mL de água que utilizamos no preparo, outros 140 litros envolvidos desde a irrigação
do cafezal até o processamento dos grãos. No caso dos derivados de animais, devemos
considerar também toda a água utilizada por eles durante sua vida, seja em forma de bebida ou
de alimento, o que adiciona etapas ao cálculo e valor total. No final das contas, enquanto um
banho de 15 minutos gasta cerca de 135 L de água, são utilizados 15.500 L para se produzir 1 kg
de carne bovina.
Figura 8. Pegada hídrica de alguns produtos.

Fonte: Guia do estudante.

A partir dessa breve provocação, que tal fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre as
questões econômicas, geopolíticas e ambientais em torno do tema da escassez hídrica?
Compartilhe com seus colegas de turma, também, a pegada hídrica de outros alimentos e
objetos utilizados no cotidiano, refletindo sobre ações que podem ser tomadas visando o tema.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Cesama. Missão, Visão, Valores, Atribuições E Números. Disponível em:
<http://www.cesama.com.br/a-cesama/atribuicoes-e-numeros-2>. Acesso em: 13 maio 2022.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
30

Instituto do Meio Ambiente. Resíduo Gerado por Estação de Tratamento de Água vira Tijolos
Cerâmicos. Disponível em: <http://www.ima.al.gov.br/residuo-gerado-por-estacao-de-
tratamento-de-agua-vira-tijolos-ceramicos/>. Acesso em: 13 maio 2022.
Guia do estudante. Hidrosfera: Escassez hídrica no mundo. Disponível em:
<https://guiadoestudante.abril.com.br/curso-enem-play/escassez-hidrica-no-mundo-onde-a-
falta-de-agua-ja-provoca-crise/>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
Prefeitura Municipal de Pomerode. Tratamento de Água. Disponível em:
<http://www.samaepomerode.com.br/index.php?pg=1052>. Acesso em: 13 maio 2022.
ROCHA, J. C; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
31

PARTE 5

PURIFICAÇÃO DE ÁGUAS: TRATAMENTO DE ESGOTO

O esgoto doméstico pode ser considerado o principal efluente gerado pelas atividades
humanas e, por isso, é necessário que seja tratado antes do seu lançamento nos corpos de água.
Conforme abordado na parte 2, o excesso de matéria orgânica na água promove efeitos
indesejáveis para a biota e preservação ambiental. Sendo o esgoto doméstico um efluente rico
em matéria orgânica, pode-se dizer que esse material, sem tratamento, provoca como efeitos
negativos na água em que é lançado: a) diminuição do O2 dissolvido e b) aumento na emissão
de gases tóxicos.
Felizmente já existem tecnologias disponíveis para realizar o tratamento do esgoto, seja
em pequena escala (para empresas, por exemplo), seja em grande escala (cidades). Entretanto,
independentemente da tecnologia (ou método), todas elas têm como etapa fundamental a
decomposição da matéria orgânica, existindo três possibilidades básicas: tratamentos aeróbios,
anaeróbios e “mistos” (processo aeróbio combinado a um anaeróbio). Nesta aula, serão
considerados aspectos gerais sobre a química dos esgotos e serão apresentados os princípios
das principais tecnologias.

1 Principais características do esgoto


Ao contrário do senso comum, o esgoto doméstico não tem apenas matéria orgânica.
Na verdade, ele contém bastante água (aproximadamente 99,9%) e uma pequena quantidade
de sólidos (aproximadamente 0,1%). Dentre eles, parte está em suspensão (material particulado
e visível) e parte está dissolvida na matriz aquosa (sólidos dissolvidos).
Independentemente do caráter desses sólidos, esses elementos são constituídos por
matéria orgânica (MO), nutrientes minerais como nitrogênio e fósforo e, também, por
organismos patogênicos como vírus, bactérias, protozoários e helmintos. Nesse contexto, o
tratamento do esgoto deve ser realizado em locais apropriados e preparados para isso, que
são as Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs).
Conforme mencionado anteriormente, as ETEs podem adotar diferentes tecnologias a
depender da demanda e de questões secundárias como custo e disponibilidade de local. Além
disso, quando operadas de forma adequada, espera-se que a água resultante do tratamento
esteja livre de contaminações e que tenha níveis toleráveis de MO. Desta forma, a água
originada do tratamento não prejudica o equilíbrio dos corpos de água onde é lançada e pode
até mesmo ser utilizada para fins menos "nobres". Esse produto é chamado ÁGUA DE REUSO,
sendo geralmente utilizado em alguns processos industriais, limpezas gerais e descargas de
banheiros.

2 A coleta e tratamento do esgoto no Brasil


Tanto a coleta como o tratamento do esgoto doméstico são realizados em muitas
cidades no Brasil. Entretanto, ainda não se tem todo o esgoto coletado e, menos ainda, tratado.
Segundo dados de 2017 referentes a uma pesquisa realizada pela organização Trata Brasil,
quase a metade dos municípios pesquisados (44) coleta de 80 a 100% do esgoto que produz
(Gráfico 1).
32

Gráfico 1. Histograma índice de atendimento total de esgoto.

50 46
45
40
35
30
25
20 18
15
15 13

10 8

5
0

≤ 20 20,1 a 39,9 40 a 59,9 60 a 79,9 ≥ 80

Fonte: OLIVEIRA et al.

Entretanto, em relação ao tratamento, apenas sete municípios tratam 100% dos seus
esgotos, sendo 55,6% a média de tratamento para o conjunto amostrado. Logo, mesmo sem
considerar que existam dois municípios que não tratam nenhuma porcentagem de seus esgotos,
há muito que melhorar nesse quesito.
Juiz de Fora é um exemplo de município que, segundo dados de 2020, tratava apenas
10% do seu esgoto. Grande parte dos resíduos são lançados diretamente nas águas do Rio
Paraibuna e demais córregos que perpassam a cidade. Porém, de acordo com a companhia de
saneamento da cidade, obras vêm sendo feitas desde 2013 visando a despoluição dos corpos
d’água e a construção de novas ETEs, além de ser realizado um trabalho de conscientização junto
à população. Ainda segundo as informações encontradas na página da companhia, tal
investimento pode ser associado à manutenção e melhora da saúde pública, uma vez que a cada
R$1,00 destinado ao saneamento, o país economiza cerca de R$4,00 em saúde.
Figura 9. Rio Paraibuna.

Fonte: Cesama.
33

3 O tratamento convencional do esgoto


O tratamento convencional envolve 3 etapas principais: TRATAMENTO PRELIMINAR,
TRATAMENTO PRIMÁRIO e o TRATAMENTO SECUNDÁRIO. A função básica de cada uma dessas
etapas é descrita a seguir:
1 O tratamento preliminar é responsável pela remoção de sólidos grosseiros e areia.
Constitui um processo físico, ocorre em um tanque chamado CAIXA DE SEDIMENTAÇÃO
(ou CAIXA DE AREIA) e emprega grades para conter os sólidos.
Figura 10. Esquema ilustrativo da "etapa preliminar" do tratamento de esgoto.

Fonte: NASCENTES; COSTA (adaptada).

2 O tratamento primário é a etapa que remove os sólidos sedimentáveis, materiais


flutuantes e parte da matéria orgânica em suspensão. Também constitui um processo
físico e ocorre em um tanque chamado de DECANTADOR. No fundo, os sólidos são
depositados, sendo chamados de LODO PRIMÁRIO BRUTO.
Figura 11. Esquema ilustrativo da etapa do "tratamento primário" do tratamento de esgoto.

Fonte: NASCENTES; COSTA (adaptada).

3 Na sequência ocorre o tratamento secundário, a parte mais importante do processo.


Nesse momento, são removidas a MATÉRIA ORGÂNICA dissolvida e aquela ainda em
suspensão. Essa etapa constitui um processo bioquímico e utiliza microrganismos. As
reações químicas que ocorrem são as mesmas apresentadas na parte 2, quando se
discute o que acontece com a MO no meio aquático. Simplificadamente, essa etapa se
resume como mostrado na figura abaixo.
Figura 12. Esquema ilustrativo da etapa do "tratamento secundário" do tratamento de esgoto.

Fonte: NASCENTES; COSTA (adaptada).


34

Por fim, a água originada do tratamento secundário tem um aspecto e características


totalmente diferentes do esgoto inicial, sendo considerada "limpa". Ainda assim, não pode ser
bebida e pode conter microrganismos patogênicos. Por isso, algumas estações de tratamento
realizam uma desinfecção dessa água antes do seu lançamento no corpo de água receptor,
podendo ser feita por meio de cloração.

4 Detalhamento e variações do processo

Em um vídeo público referente ao funcionamento de uma ETE


do Estado de São Paulo, pode-se observar, de maneira breve,
como é simples e eficiente o tratamento do esgoto desde que
seja bem dimensionado e monitorado. Nele também fica
evidente que a etapa do tratamento secundário é a mais
importante e, por isso, pode apresentar variações de estação
para estação, definindo a configuração e características da
mesma. O que acha de conferir?

Como o princípio dessa etapa é a decomposição microbiológica da MO, suas possíveis


variações ocorrem de acordo com o tipo de microrganismo usado, visto que existem aqueles
aeróbios (que necessitam de oxigênio dissolvido na água) e anaeróbicos (que não necessitam de
oxigênio e que se desenvolvem melhor na ausência desse gás). A seguir estão exemplificadas
algumas das variações existentes para a realização do tratamento convencional, estando
baseadas no uso de processos aeróbios, anaeróbios ou de sistemas mistos.

4.1 Sistemas aeróbios usados para o tratamento secundário


Como sistemas aeróbios para o tratamento secundário, existem sistemas chamados
"LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO" (espécie de tanque) e aqueles chamados de "LODO ATIVADO". O
uso de sistemas com lagoas é o mais comum e alguns exemplos são a “lagoa facultativa” e a
"lagoa aerada facultativa".
Figura 13. Esquema ilustrativo de uma ETE baseada no uso de uma lagoa aerada facultativa.

Fonte: NASCENTES; COSTA.

Nos sistemas de lagoas, a decomposição da MO ocorre naturalmente. No caso das


lagoas facultativas, a reação de decomposição ocorre com o auxílio de microrganismos aeróbios.
Assim, elas constituem tanques não profundos de forma a favorecer o contato com o ar e a
penetração da luminosidade do ambiente. A lagoa aerada representada na figura 13 contém um
35

dispositivo (aerador) que tem a função de aumentar a oxigenação da água, sendo o objetivo
catalisar o processo. Enquanto a lagoa facultativa é mais simples e adequada para pequenas
comunidades, a lagoa aerada faz uso de recursos adicionais, que aumentam os custos, mas que
permitem tratar em menos tempo uma quantidade maior de esgoto.
Com relação aos sistemas de lodo ativado, a ETE é composta basicamente por um
REATOR, um DECANTADOR e um SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DE LODO, conforme ilustrado
abaixo.
Figura 14. Esquema ilustrativo de uma ETE baseada no uso de lodo ativado.

Fonte: NASCENTES; COSTA (adaptada).

No sistema convencional de lodo ativado, o tratamento secundário emprega um reator


que funciona como um tanque de degradação aeróbio. Nesse tanque, a MO é decomposta, mas
o esgoto em tratamento não fica tempo suficiente para que os sólidos em suspensão decantem.
Por isso, existe um decantador secundário para facilitar a remoção dos sólidos residuais,
compostos principalmente por microrganismos (os mesmos que atuam na degradação). Logo,
parte desse lodo retorna para o reator por um sistema de recirculação (sistema de recirculação
de lodo), o que permite manter a quantidade de microrganismos em um nível adequado para a
eficiência do processo.
Assim como o sistema de lagoas possui variações, o sistema de lodo também. Um
exemplo é o SISTEMA DE LODO ATIVADO DE AERAÇÃO PROLONGADA. Esse sistema não possui
o decantador primário, mas leva mais tempo para degradar todo o material orgânico. Nesse
contexto, vale ressaltar que cada sistema tem suas características, vantagens e desvantagens,
que devem ser consideradas pelo químico e/ou engenheiro responsável. Para empresas, por
exemplo, os sistemas de lodo têm se mostrado bastante adequados, sendo uma das razões as
dimensões (mais compactas) da estação de tratamento correspondente.

4.2 Sistemas anaeróbios usados para o tratamento secundário


A principal característica desses sistemas é a de serem empregados tanques com pouca
ou nenhuma oxigenação. No caso de um sistema de lagoa anaeróbia, ao contrário da lagoa
facultativa, possui uma área superficial pequena e maior profundidade, o que favorece o
desenvolvimento dos microrganismos anaeróbios que são necessários nesta via de
decomposição. Já os sistemas de lodo são geralmente fechados e buscam compor uma estação
com dimensões relativamente pequenas. Comparativamente aos sistemas aeróbios, os
anaeróbios geram menos lodo, porém têm uma eficiência menor. Tais características podem ser
vantajosas (o que se deve a um crescimento menor dos microrganismos envolvidos no processo)
e desvantajosas, devendo ser devidamente consideradas quando da escolha e implantação da
estação.
36

Por fim, não existe ainda um sistema ideal que consiga conciliar todos os aspectos
técnicos, estruturais e de custo para uma ETE. O mais importante, assim, é que algum
tratamento seja empregado a fim de se preservar as características naturais dos corpos de água
onde os esgotos são lançados. Vale enfatizar que, muitas vezes, são nesses mesmos corpos onde
se coleta a água para o abastecimento. Além disso, o lodo gerado nos diferentes processos,
assim como o lodo de uma ETA, precisa ser estabilizado antes de uma destinação final, como
descarte ambientalmente adequado ou matéria-prima na agricultura (adubo).

Você sabia?
Segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, o país conta com 310 curtumes,
sendo que a cada mês são exportados milhões de metros quadrados de couro. 3 Seu processo de
beneficiamento envolve etapas com alto potencial poluidor através da geração de resíduos
sólidos, atmosféricos e hídricos. Estima-se que, para cada tonelada de pele utilizada, são
produzidos 200 kg de couro e 600 kg de resíduo como pelos, colágeno, graxas naturais, tecido
muscular, aparas, raspas e lodos ativados. Já em relação aos resíduos atmosféricos, estes são
gerados pela decomposição da matéria orgânica de carcaças, gorduras e aparas de pele não
curtida, o que produz gases como o ácido sulfídrico e amônia, além de compostos voláteis de
solventes orgânicos e partículas de água em suspensão (aerossóis). Essas emissões podem afetar
a qualidade de vida dos trabalhadores, da população em torno do curtume e, também, o meio
ambiente.
Figura 15. fluxograma do processo de produção do couro denominado wet blue.

Fonte: FARIA.

A respeito dos resíduos hídricos, dentre as razões para o potencial poluidor da indústria
curtidora vir crescendo nas últimas décadas, está a grande quantidade de água utilizada,

3 Disponível em: <https://cicb.org.br/cicb/todas-noticias>. Acesso em: 30 set. 2020.


37

estimada em 17.800 L por tonelada de couro, e pelo uso de metais pesados no processo
produtivo, o que pode acarretar a grave contaminação de águas superficiais, subterrânea e do
solo. Tais efluentes possuem quantidades significativas de compostos de fósforo, nitrogênio
amoniacal, orgânicos (clorofórmio, diclorobenzeno, diclorometano, éter, etilbenzeno, fenol,
naftaleno, pentaclorofenol, tolueno e triclorofenol), sais (cianeto e sulfatos) e metais (alumínio,
chumbo, cobre, cromo trivalente, manganês, níquel, titânio, zinco e zircônio), sendo esses os
principais exemplos. Sendo assim, devem ser destinados a aterros especializados, uma vez que,
com exceção dos metais, levam de 300 a 500 anos para serem degradados.
Estima-se que um curtume que beneficie 3.000 peles por dia produza efluentes
equivalentes a uma cidade de 85 mil habitantes. Dentre os impactos bióticos estão o potencial
envenenamento dos peixes e comprometimento da biodiversidade local com risco de extinção
da fauna e da flora. Devido a tudo isso, o setor coureiro pode ser considerado um dos segmentos
mais poluidores.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Cesama. Despoluição do Rio Paraibuna. Disponível em: <http://www.cesama.com.br/a-
cesama/despoluicao-do-rio-paraibuna>. Acesso em: 13 maio 2022.
FARIA, W. D. B. de. Curtume: uma análise de impactos físicos, bióticos e socioeconômicos.
2016. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Química, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Apucarana, 2016.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
GUIMARÃES, J. R.; NOUR, E. A. A. Tratando Nossos Esgotos: processos que imitam a natureza.
Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
OLIVEIRA, G. et al. Ranking do Saneamento: Instituto Trata Brasil. São Paulo, 2019. Disponível
em: <http://tratabrasil.com.br/images/estudos/itb/ranking-2019/Relat%C3%B3rio_-
_Ranking_Trata_Brasil_2019_v11_NOVO_1.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
PITA, F. A. G. Armazenamento e Tratamento de Resíduos: tratamento de águas residuais
domésticas. 2. vol., Universidade de Coimbra, 2002.
38

CAPÍTULO 2: QUÍMICA ATMOSFÉRICA

RAFAEL ARROMBA DE SOUSA


KARINE GABRIELLE FERNANDES
JORGE LUIZ SÔNEGO MILANI
39

PARTE 6

COMPOSIÇÃO E POLUIÇÃO DA ATMOSFERA, REGIÕES E TRANSPORTE DE


SUBSTÂNCIAS

Nessa aula serão discutidos aspectos físicos, químicos e a importância da atmosfera


terrestre. Ainda que pouco perceptível, a atmosfera tem uma composição variada e uma
química complexa. Além disso, interage com a hidrosfera e a litosfera por meio de processos
naturais chamados de ciclos biogeoquímicos, sendo tão importante para o ciclo vital de todos
os seres vivos.

1 Definição e histórico da atmosfera terrestre


A atmosfera terrestre é uma fina camada gasosa que envolve a Terra, sendo constituída
por diferentes gases que se distribuem em “camadas”. Sua formação data do início da formação
do planeta Terra, quando era composto por gases como metano, amônia, vapor de água e gás
carbônico resultantes das constantes erupções vulcânicas e de colisões de meteoros na sua
superfície. Entretanto, essa composição gasosa não se manteve constante, vindo a sofrer
alterações devido à influência de processos biológicos e, atualmente, das atividades humanas.
A principal modificação se deu com o surgimento dos primeiros organismos vivos que
realizaram fotossíntese, uma vez que absorviam o gás carbônico da atmosfera e o
transformavam em oxigênio. A reação da fotossíntese demonstra, claramente, essa mudança.

6CO2(g) + 6H2O(l) → C6H12O6(aq) + 3O2(g)


2 Composição química geral
A Terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos e, ao longo desse período, a
atmosfera sofreu modificações que permitiram o surgimento e manutenção da vida, como
apresentadas na tabela 1.
Tabela 1. Dados da provável composição (%) da atmosfera terrestre antes e após o aparecimento da
vida.

Gás Vênus Marte Terra Terra


antes depois

CO2 96,5 95 98 0,035

N2 3,5 2,7 1,9 79

O2 Traços 0,13 Traços 21

Argônio Traços 1,6 0,1 1,0

Fonte: Dos autores.


40

Observando a tabela, nota-se que as proporções dos gases carbônico e nitrogênio, na


atmosfera terrestre, são as principais mudanças ocorridas em sua composição, além da
quantidade significativa do gás oxigênio. Logo, pode-se concluir que uma característica da
atmosfera que favorece a vida é o seu caráter oxidante, diferentemente das características dos
planetas "próximos" onde não existe vida. Tal caráter se deve aos 21% de gás oxigênio, que
coexiste com formas reduzidas como o monóxido de carbono e o óxido nitroso que, por estarem
em quantidades muito pequenas, são chamadas de "traços".
Nesse contexto, a composição geral é resultado da “vida” que vem se desenvolvendo no
planeta, sendo o teor de oxigênio quase todo produto da fotossíntese de plantas terrestres e
algas, o que inclui os plânctons. As demais fontes contribuem com menos de um bilionésimo do
estoque de O2 que respiramos.

Você já ouviu falar sobre a Amazônia ser o pulmão do mundo? O que acha de fazer uma
breve pesquisa para saber se essa informação está correta?

3 Composição química e as camadas da atmosfera


Os principais gases que compõem a atmosfera terrestre não estão distribuídos
uniformemente, assim como as espécies que estão em concentrações menores também não
estão. Essa diferenciação origina o que se chama de "camadas da atmosfera". Conforme
ilustrado na figura 14, além da composição química, essas camadas se diferenciam também na
sua extensão.
A TROPOSFERA é a primeira camada, a mais "curta" e mais próxima à superfície do
planeta. Entretanto, contém 80% dos gases atmosféricos e, por isso, pode ser considerada a
mais importante. É nela onde ocorrem os fenômenos meteorológicos, sendo outra característica
a de a temperatura diminuir com a altitude, chegando em torno de -60 oC na sua parte mais alta.
A ESTRATOSFERA é a camada seguinte, mais extensa e composta principalmente por gás
ozônio (O3(g)), motivo pelo qual ela também é chamada de "camada de ozônio". Embora os seres
vivos não estejam em contato com ela, sua importância para a preservação dos mesmos é
grande, pois nela ocorre a absorção de parte da radiação ultravioleta, nociva para a pele dos
animais e superfície das vegetações. Com relação à temperatura, tem-se um perfil diferente
daquele da camada anterior: a temperatura aumenta com a altitude devido justamente à
interação do ozônio com a radiação solar, que é mais efetiva nas altitudes maiores. Assim, as
temperaturas variam de -60 até 0 oC.
A terceira camada é a MESOSFERA. Mais extensa que a estratosfera e com menos
moléculas gasosas (O2+ e NO+) que nas camadas anteriores, é também a camada mais fria, onde
as temperaturas diminuem com a altitude e chegam a -100 oC na sua parte mais alta.
A TERMOSFERA é a última camada, com dimensões não estabelecidas com exatidão e
com pouca quantidade de espécies gasosas. Entretanto, os gases presentes (O2+, O+, NO+, O e
O2) interagem fortemente com porções bastante energéticas da radiação ultravioleta, o que
contribui para um aumento de temperatura substancial em relação à da mesosfera, de forma
que chegue a 1200 oC. Em função também da extrema absorção da radiação ultravioleta, a
temperatura na camada aumenta com a altura, dado que, devido ao ar rarefeito, os satélites
artificiais não captam tais valores.
A IONOSFERA, por sua vez, faz parte da termosfera. Acima dos 100 km, a radiação
cósmica, raios-x solares e radiação ultravioleta são cada vez mais relevantes, o que causa a
ionização com a separação de elétrons dos átomos neutros de oxigênio e moléculas de
41

nitrogênio, formando cátions. Assim, a porção inferior da termosfera é composta


principalmente por oxigênio e nitrogênio, tanto nas formas moleculares (O2 e N2) quanto
atômicas (O e N), sendo o oxigênio atômico predominante acima de 200 km. As Auroras Boreal
e Austral, por exemplo, são normalmente produzidas a partir da penetração de partículas
ionizadas na atmosfera entre 300 e 80 km e em zonas entre 10 e 20º de latitude dos polos
magnéticos da Terra.
Figura 15. Ilustração das camadas gasosas que compõem a atmosfera terrestre.

Fonte: BARRY; CHORLEY.

4 Importância da atmosfera
Com base nas informações anteriores, fica implícita a enorme importância que a
atmosfera terrestre tem para o equilíbrio ambiental. Ainda, pode-se listar alguns aspectos
específicos que caracterizam as chamadas "funções protetoras" da atmosfera:
1 Evita os impactos de corpos celestes (meteoros);
2 Mantêm parte do calor solar, impedindo sua imediata irradiação para o espaço (efeito
estufa benéfico);
42

3 Impede variações bruscas de temperatura e radiações extremamente energéticas,


favorecendo a vida terrestre;
4 Atua como um condensador que transporta água dos oceanos aos continentes (ciclo
hidrológico).

5 Troposfera
Sendo a camada mais importante para a sobrevivência dos seres aeróbios, esta aula irá
enfatizar e detalhar mais as questões relacionadas à troposfera. Nesse contexto, vale ressaltar
que a sua composição química conta não apenas com gases, mas também com líquidos e sólidos
em suspensão. Estes últimos tem origem natural (vulcões, queimadas) e, também,
antropogênica. Além disso, existem milhares de constituintes-traço que participam de
incontáveis interações químicas. Logo, a troposfera também pode ser entendida como um
"reator químico". Essas características serão descritas nos itens seguintes.

5.1 Causas e efeitos da poluição


Uma das causas dos poluentes encontrados na atmosfera é a própria urbanização, mais
especificamente o crescimento populacional. Este fator causa, constantemente, alterações por
meio do lançamento de gases e partículas e, também, por modificar as trocas de água e energia,
alterando a química atmosférica.
Há, então, uma preocupação global com a emissão de poluentes, principalmente devido
aos malefícios que podem gerar para as pessoas. Por isso, existem legislações ambientais (e
cada país possui a sua) visando estabelecer limites máximos para os poluentes mais comuns a
fim de que a presença deles não coloquem em perigo a saúde dos organismos.
Dentre os poluentes, as partículas dispersas (ou em suspensão) também são
importantes, pois aquelas que são maiores (geralmente mais pesadas) concentram-se próximas
ao solo e diminuem a penetração da luz, afetando o clima por meio de efeitos físicos. Já os gases
poluentes, devido às reações químicas de que participam (e que serão abordadas na parte 7),
podem danificar tanto as construções (porque geram a chuva ácida) quanto o clima.
Em relação aos problemas de saúde causados pela poluição atmosférica, sabe-se que
estão relacionados ao tipo de partícula. PARTÍCULAS FINAS costumam gerar alergias
respiratórias, silicose e, dependendo da exposição, até mesmo câncer de pulmão. Os principais
sintomas são espirros, tosse, dor de garganta e bronquite. Já PARTÍCULAS ORGÂNICAS são
compostas por substâncias orgânicas parcialmente ou em sua totalidade e costumam ser as mais
importantes, porque estão associadas com o desenvolvimento de mutação genética,
malformação de fetos e, também, câncer.
Nesse cenário, vale destacar o ocorrido na cidade de Cubatão, no estado de São Paulo,
onde todos esses problemas afligiam a população há décadas. Felizmente, uma mudança
significativa nas práticas industriais levou a uma recuperação geral do local e da saúde das
pessoas.
Quanto às EMISSÕES GASOSAS EM GERAL, elas agravam as alergias respiratórias e
podem causar dor de cabeça, falta de ar, arritmia e irritação nos olhos.
43

5.2 Exemplos de poluentes e a dispersão atmosférica de contaminantes


Dentre os poluentes gasosos mais comuns, destacam-se o dióxido de enxofre, monóxido
de carbono, óxidos de nitrogênio – NOx (NO e NO2) - e ozônio. Por isso, nas legislações
ambientais do Brasil e de outros países, existem limites máximos estabelecidos para essas
espécies químicas. Assim, a sua simples presença no ar não indica poluição, sendo a
contaminação do ar dependente dos teores desses gases. Numa atmosfera não poluída, o teor
de NO pode variar de 0,01 a 0,05 ppb (partes por bilhão), enquanto que em condições de
poluição, os teores podem chegar até 750 ppb.
Tais poluentes são produzidos principalmente pela queima de combustíveis fósseis,
sendo os demais (particulados ou gasosos) emitidos pelas indústrias, podendo variar de
partículas metálicas até compostos orgânicos aromáticos. Por isso, as políticas (e tecnologias)
para controle e minimização da poluição atmosférica são de extrema importância.
Além dos problemas de saúde que essa poluição pode causar, vale ressaltar que a
“dispersão atmosférica de contaminantes” pode levá-los para outros locais. Logo, efeitos
negativos para o ambiente podem ocorrer em locais distantes das fontes. Com esse fato deve
ficar claro porque todos somos responsáveis pelo equilíbrio ambiental e, também, que todos
podem ser afetados pelo seu desequilíbrio.
Com relação à expressão DISPERSÃO ATMOSFÉRICA, esta é usada para referir-se ao
espalhamento de poluentes gasosos devido aos efeitos convectivos e turbulentos do
escoamento atmosférico. Em outras palavras, refere-se à dispersão dos contaminantes que
ocorre por meio de mecanismos de transporte rápidos e irregulares. Assim, os poluentes são
carreados pelos ventos e, naturalmente, se misturam na atmosfera turbulenta. Além disso,
durante a dispersão, os contaminantes podem sofrer reações químicas de forma que os
“contaminantes primários” transformam-se em “contaminantes secundários”. Por outro lado,
independente desse caráter, os poluentes podem se depositar no solo ou na água e, desta
forma, afetar ambientes diferentes da atmosfera.
Essa deposição dos contaminantes pode ocorrer por via úmida (carreamento pela água
das chuvas) ou via seca (carreamento por partículas que sorvem os contaminantes e “caem” por
efeito da gravidade). Esses processos, ainda que contaminem a superfície do planeta, promovem
uma limpeza da atmosfera e é assim que os poluentes podem ser “removidos”, naturalmente,
do ar.
Nesse contexto, diversas substâncias emitidas na atmosfera (sejam de origem natural
ou não) podem ficar “circulando” no ambiente e, até mesmo, participar de transformações
químicas. Esses processos são favorecidos pelos ciclos biogeoquímicos, que “interligam” os
diferentes ecossistemas (hidrosfera, litosfera e atmosfera) e podem sofrer desequilíbrios pela
presença dessas substâncias contaminantes.

5.3 Ciclos Biogeoquímicos


São os conjuntos de reações químicas e as mudanças de fase que fazem com que as
substâncias químicas permeiem os diferentes ecossistemas e tenham suas concentrações em
equilíbrio. Uma forma fácil de entender como esses ciclos funcionam é considerar a questão do
CO2 (estudado no ciclo do carbono).
O CO2 atmosférico é fixado pelas plantas (fotossíntese), mas reemitido por sua
respiração e, desta forma, espera-se que as concentrações deste gás sejam praticamente
“constantes” quando os ecossistemas estão em equilíbrio. Acontece que, no caso do CO2 e
outros gases, observam-se alterações significativas devido às atividades antropogênicas,
44

principalmente por causa da queima de combustíveis fósseis, sendo que as emissões


relacionadas a produção de alimentos também precisam ser consideradas (como será visto na
parte seguinte). Nesse sentido, um dado importante é que o teor do CO 2 atmosférico vem
aumentando cerca de 4,3% ao ano, o que demonstra existir um desequilíbrio neste ciclo.
Nesse contexto, no ciclo do carbono são estudados os compostos de carbono que
permeiam a hidrosfera, a litosfera e a atmosfera, sendo que o foco dos estudos tem sido os
aspectos relacionados ao CO2 atmosférico.4 Já no ciclo do nitrogênio são estudadas as
substâncias químicas que contêm nitrogênio como o N2 (espécie inerte), os NOx (óxidos
associados a problemas ambientais) e alguns íons encontrados na água e no solo.
Na atmosfera, mesmo o N2 sendo a espécie mais abundante, ele não é aproveitado pelos
seres vivos NESTA FORMA (exceção para algumas bactérias), enquanto os óxidos gasosos estão
associados à “chuva ácida” e à “depleção da camada de ozônio” (que serão abordadas na parte
7). Além disso, processos bioquímicos que ocorrem na água e no solo são capazes de
transformar o nitrogênio molecular em outros compostos como amônia (NH3), amônio (NH4+),
nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-), que além de participarem de reações químicas, servem de
nutriente para os vegetais, principalmente NH4+ e NO3-5. Tais processos são chamados de
“fixação de nitrogênio”.
Do ponto de vista ambiental, fatores que afetam significativamente esse ciclo são a
produção de amônia (para uso como matéria-prima na indústria de fertilizantes e como aditivo
em petroquímicas) e o uso demasiado de fertilizantes nitrogenados. Mais especificamente, o
metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) são dois dos principais gases emitidos pelo setor
agropecuário. Isso se deve principalmente à criação de animais, de cujos dejetos esses gases são
volatilizados.
O ciclo do enxofre é o último a ser abordado nesse capítulo. Dentre as diferentes
substâncias que contém o elemento enxofre, a primeira é o DIÓXIDO DE ENXOFRE (SO2), que
provém principalmente da queima de combustíveis fósseis e, consequentemente, a
concentração de SO2 no hemisfério Norte é maior do que no hemisfério Sul, já que os países
desenvolvidos realizam mais esse processo em comparação aos demais. Esse gás é um óxido de
caráter ácido e constitui umas das causas da chuva ácida.
Já o ÁCIDO SULFÍDRICO ou sulfeto de hidrogênio (H2S) e o DIMETILSULFETO ((CH3)2S)
originam-se de fontes naturais como águas profundas, regiões úmidas e na superfície dos
oceanos. Nessas primeiras ocorrem reações químicas anaeróbias, enquanto na segunda o
(CH3)2S é emitido por fitoplânctons.
Por fim, o SULFATO (SO42-) está dissolvido na água e disperso na atmosfera na forma de
sais originados do “spray oceânico” ou da poluição. Quando proveniente de poluição, pode
constituir partículas muito pequenas, com diâmetro menor que 10 µm. Este tipo de material
particulado (como já mencionado anteriormente) traz inconvenientes para a saúde e o clima.
No primeiro caso, podem penetrar nos pulmões e causar doenças respiratórias e, no segundo,
causam alterações de temperatura por meio de efeitos físicos ao interagirem com a luz solar.

4 Para entender melhor sobre esse ciclo, acesse o site


https://pt.khanacademy.org/science/biology/ecology/biogeochemical-cycles/a/the-carbon-cycle e avalie
o esquema ilustrativo. Nele, procure identificar como o carbono é fixado pelos vegetais e animais.
5 O ciclo pode ser compreendido com mais detalhes a partir da figura apresentada no site

https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2016/03/ciclo-do-nitrogenio.jpg.
45

Figura 16. Representação do Ciclo do Enxofre.

Fonte: Wikipédia.

6 Considerações finais
Na atmosfera terrestre existem diversos gases que se distribuem em camadas,
protegendo a vida do planeta de formas diferentes e complementares. Dentre esses gases,
encontram-se também diversos contaminantes, sejam gases ou partículas que causam desde
desequilíbrios no clima a problemas de saúde.
As substâncias que contaminam a atmosfera são, em sua maioria, provenientes da
poluição e, por isso, existe uma demanda global por POLÍTICAS e TECNOLOGIAS de controle e
minimização da poluição atmosférica. Enquanto as principais legislações brasileiras serão
mencionadas na parte 7, as tecnologias (técnicas analíticas) não serão o foco das discussões
desta disciplina.
Entretanto, considerando que a Organização Mundial da Saúde estima que mais de 1,1
bilhão de pessoas vive em áreas urbanas onde o ar exterior não é saudável, vale destacar quais
seriam alguns dos meios de minimização da poluição, aos quais o profissional da química deve
dar apoio e incentivo:
1 Sistemas de Créditos de Poluição;
2 Lâmpadas de iluminação mais eficientes;
3 Uso mais frequente de gás natural;
4 Uso de energia renovável.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
BARRY, R. G.; CHORLEY, R. J. Atmosfera, Tempo e Clima. Tradução de Ronaldo Cataldo Costa.
9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
46

MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 11. ed, São Paulo: Thomson Learning, 2007.
MOZETO, A. Química Atmosférica: a química sobre nossas cabeças. Química Nova na Escola.
Ed. Especial, maio 2001.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
ROCHA, J. C; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
Wikipédia. Ciclo do Enxofre. Disponível em:
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Ciclo_do_Enxofre_(Sulfur_Cycle).pn
g>. Acesso em: 13 maio 2022.
47

PARTE 7

PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS E AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS

Ao interagir com o meio ambiente, cada vez mais o ser humano tem produzido resíduos
capazes de poluir o ar. Dentre os efeitos da poluição está o aumento de doenças respiratórias,
a devastação de áreas florestadas, a deterioração de patrimônio histórico e cultural e a mudança
climática. Nessa aula veremos com mais detalhes os principais problemas relacionados à
atmosfera, como a chuva ácida, o efeito estufa e a depleção da camada de ozônio. Além disso,
vamos trabalhar uma das interpretações por trás das recentes queimadas na Floresta Amazônica
e bioma Pantanal.

1 Chuva ácida
É possível que você já tenha ouvido falar do município de Congonhas, localizado no
interior de Minas Gerais e famoso pela expressiva arte barroca encontrada na cidade. Dentre
tantas obras criadas por Francisco Antônio Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, é lá que se
encontrava o conjunto de esculturas dos doze profetas, posicionado desde o início do século XIX
no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.
Figura 17. Disposição dos doze profetas no adro da Igreja.

Fonte: Página olhares.

Dispostas ao ar livre, a integridade das doze esculturas em pedra-sabão (rocha


metamórfica denominada esteatito, composta majoritariamente por talco) se encontrava
vulnerável devido às características do material em que foram produzidas, atos de vandalismo,
exposição a excremento de aves e intempéries como a ação do vento e da chuva. A respeito
desse último exemplo, além do impacto gerado pelos pingos da chuva ao colidirem com as
obras, um fator de grande relevância e que pouco a pouco deteriorava os profetas é a acidez
acentuada dessa água. Por essas razões, as esculturas originais, recolhidas em local seguro,
foram substituídas por réplicas.
Naturalmente, a água das chuvas possui pH ácido. Esse fenômeno ocorre devido à
presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que, ao reagir com as moléculas de H2O,
produz ácido carbônico, ácido fraco responsável por um valor de pH de aproximadamente 5,5.
Esse nível de acidez, por si só, não é responsável por causar prejuízos ao ser humano ou à
48

natureza. Acontece que, diferentemente do CO2, óxidos de enxofre (SO2 e SO3) e de nitrogênio
(N2O, NO e NO2) resultantes de ações antropogênicas produzem ácidos fortes, fazendo o valor
do pH cair até 2,2, o que torna a ação da chuva altamente nociva.
Reações dos compostos com água:

A “chuva ácida”, termo relacionado à acidez acentuada devido à poluição atmosférica,


ainda pode ser transportada para localizações distantes onde não há poluentes relacionados à
acidificação da água das chuvas. É interessante analisar que a cidade de Congonhas, a título de
exemplo, se encontra em uma região com intensa ação mineradora, sendo esse tipo de indústria
um dos vários responsáveis pela produção e emissão desses gases na atmosfera.
Uma vez que seus danos atingem diferentes ambientes, a chuva ácida possui diferentes
formas de ação. Em áreas com vegetação, a água com acidez elevada pode enfraquecer as
plantas, “envenenar” o solo ou mesmo dissolver seus nutrientes, arrastando-os antes que
possam ser utilizados. Em ambientes aquáticos, o pH da água que naturalmente varia entre 6,0
e 8,0 pode atingir valores próximos a 5,0, causando a morte de organismos que lá habitam. Já
em ambientes construídos, a corrosão pode atingir pedras, metais e tintas, sendo praticamente
todos os materiais gradualmente degradados pela ação da chuva ácida.

2 Química do Ozônio
A atmosfera é lugar propício para a ocorrência de reações fotoquímicas, que acontecem
quando uma molécula absorve um fóton de luz. Para que haja essa absorção, o fóton deve
possuir comprimento de onda (λ) específico de acordo com a molécula. Por exemplo, moléculas
de O2 e N2 filtram a radiação solar cujo λ é menor que 220nm. Já radiações com valores de λ
entre 220 nm e 320 nm são filtradas principalmente pela molécula de ozônio (O3).
Além disso, quando a energia dos fótons é da mesma ordem de grandeza das entalpias
de reações gasosas, os fótons da luz visível ou UV são capazes de viabilizar a dissociação de
moléculas na atmosfera. Essas reações são chamadas de fotólise, fotodissociação ou
decomposição fotoquímica. Por outro lado, quando a energia dos fótons não é suficiente, as
moléculas com as quais interagem absorvem o excesso de energia, reemitindo-a posteriormente
como luz ou calor.
Nesse contexto, vale ressaltar que moléculas de O3 são formadas e destruídas em
reações na estratosfera. Sua importância, assim, envolve a proteção exercida por essas
moléculas ao absorverem parte da radiação UV.
Embora sejam naturais e espontâneos, esses processos podem ser catalisados,
favorecendo as reações de dissociação. Essas espécies, também denominadas catalisadoras da
depleção da camada de ozônio, são altamente reativas devido a um elétron desemparelhado,
49

como por exemplo OH•, CH3•, CF2Cl•, ClO• e NO•. A partir de modificações humanas, o que
envolve indústrias, manejo da agricultura e pecuária, alguns dos poluentes atmosféricos
(simplificados aqui por "X") catalisam essas reações, degradando a camada de ozônio.

Por outro lado, o ozônio presente na troposfera, camada abaixo da estratosfera onde a
camada de ozônio se encontra, age de forma diferente. Óxidos de nitrogênio, cujas grandes
quantidades também estão relacionadas à ação humana, têm papel fundamental na formação
do ozônio. Como é possível notar a partir das reações abaixo, quando as taxas de formação e
destruição de NO2 forem iguais, os níveis de O3 tendem a permanecer em níveis normais, já que
serão consumidos na mesma velocidade daquela em que são gerados.

Com a intensificação de práticas agrícolas, atividades industriais e emissão por motores


de combustão interna, gases nitrogenados são emitidos em maior volume, intensificando
também a formação de ozônio. A presença desses gases na troposfera, então, resulta em um
fenômeno físico-químico chamado smog fotoquímico, nome derivado da junção entre as
palavras smoke (fumaça) e fog (neblina) e caracteriza um desequilíbrio no Ciclo do nitrogênio.
Além disso, na troposfera também ocorre a formação de uma camada de ar quente
próxima à superfície terrestre, sendo as áreas superiores mais frias. Uma vez que a densidade
da região quente é menor, ela tende a subir e tomar o lugar da camada fria e,
consequentemente, os poluentes acabam sendo dissipados em áreas mais altas.
Entretanto, a ocorrência desse evento muda em dias frios, uma vez que a camada mais
baixa está fria, levando à ocorrência de uma inversão térmica. Como não haverá convecção, os
poluentes ficam retidos e, atingindo concentrações elevadas, formam o smog, altamente nocivo
à saúde.6

6Esse tipo de problema já ocorreu na Europa e nas Américas diversas vezes, sendo que um dos episódios
mais relevantes foi retratado em um dos episódios da série The Crown, na 1ª temporada.
50

Figura 18. Representação do smog fotoquímico.

Fonte: Página Stoodi.

3 Efeito estufa
O efeito estufa é um fenômeno natural que se baseia no fato de que o planeta Terra
está em balanço térmico em relação à sua vizinhança, ou seja, ele irradia energia para o espaço
da mesma forma que absorve energia do Sol. A radiação emitida como luz visível, ao atingir a
troposfera, entra em contato com gases atmosféricos como o CO 2, vapor de água e o metano
(CH4). Essas moléculas, que vibram em frequências correspondentes à radiação infravermelha,
possuem a capacidade de captar e refletir parte da radiação em forma de calor, como é
representado na Figura 19.
Cerca de 70% da energia solar é capaz de atravessar a atmosfera, enquanto 30% será
refletida de volta ao espaço. A parte absorvida auxilia na manutenção e equilíbrio da
temperatura da superfície terrestre, o que inclui o solo, oceanos e a própria atmosfera. É dessa
forma que, em condições normais, o efeito estufa é benéfico, pois sem ele a temperatura
ambiente seria baixa e inviável para nossa vida na Terra.
Da mesma maneira que ocorre com os demais fenômenos apresentados nesta aula, a
modificação da composição e concentração de gases na atmosfera devido à ação antropogênica
acarreta diversos desequilíbrios ambientais. Por exemplo, o nível de CO2 atmosférico, um dos
gases do efeito estufa, tende ao crescimento desde o final do século XVIII, coincidente ao
progressivo uso de combustíveis fósseis. Estima-se que os níveis atuais de CO2 dobrem entre
2050 e 2100, aumento que resultará na elevação média da temperatura global de 1 para 3 OC.
Alguns dos efeitos preocupantes esperados a partir do aumento da temperatura média
global são o alagamento de regiões costeiras devido ao derretimento do gelo das calotas
polares; a depender da região, longos períodos de secas ou devastações por enchentes;
repercussões negativas na produção de alimentos; extinção de espécies animais e vegetais;
ocorrência de epidemias por doenças transmissíveis por insetos, dentre outros.
51

Figura 19. Representação de como o efeito estufa atua em ambientes variados.

Fonte: FIESP.

Além do dióxido de carbono, alguns gases relacionados ao efeito estufa são o CH4,
ozônio (O3), óxido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonetos (HFCs) e
perfluorcarbonetos (PFCs). É importante compreender que cada um deles é capaz de reter uma
certa quantidade de radiação, podendo uma molécula chegar a reter até 22.000 vezes mais
radiação que a de CO2. A importância em se observar a emissão de CO2, então, ocorre por este
ser o gás de maior concentração na atmosfera, causando grande impacto.
O metano, por exemplo, é um gás cuja emissão por meios antrópicos corresponde a 70%
do total de emissões, sendo seu potencial de aquecimento 20 vezes maior que o do CO 2 e seu
tempo médio de permanência na atmosfera de, pelo menos, 8 anos. Grande parte de sua
produção ocorre em pastos de criação de ruminantes, uma vez que o processo de digestão
fisiológica do capim resulta nessa emissão. Cada boi libera uma média de 58 quilos de metano
por ano. Multiplicando esse valor por cerca de 170 milhões de cabeças de gado, apenas no Brasil
a emissão anual é de aproximadamente 10 milhões de toneladas.
Já o óxido nitroso é comumente produzido a partir de águas poluídas e da
decomposição natural de fertilizantes nitrogenados. Seu potencial na retenção de calor é cerca
de 270 vezes maior que do CO2 e seu tempo de permanência na atmosfera situa-se entre 120 e
175 anos. Hoje, o N2O alcançou concentração próxima a 312 ppb (partes de bilhão) na
composição da atmosfera, o que representa taxa anual de crescimento de 0,25%.

E o que isso tem a ver com as queimadas que vêm ocorrendo na


Amazônia e no Pantanal?
As recentes notícias sobre queimadas na Floresta Amazônica partem de uma estatística
que cresce ano após ano e tem se tornado alvo de atenção e preocupação tanto da população
52

brasileira quanto mundial. Em 2018, a taxa média de desmatamento da região amazônica nos 3
anos anteriores foi 65,8% maior que a registrada em 2012, sendo que cerca de 20% da cobertura
florestal já foi perdida.
Gráfico 2. Desmatamento na Amazônia e tendência dos últimos anos.

Fonte: INPE.

Dentre os fatores de maior impacto desses desmatamentos está a grilagem de terras


públicas com a justificativa de desenvolvimento econômico. Dois terços da área desmatada no
norte do país se converteu em pastagens, de forma que a produção de carne bovina se constitui
como uma das atividades de maior impacto em produção de gases estufa no país. Estima-se que
40% do rebanho nacional se encontre na Amazônia, sendo o número de bovinos três vezes maior
que o de pessoas nesse território. Também é interessante mencionar que grande parte da
produção de monoculturas como de soja e milho, também relacionadas à devastação dessas
áreas, é destinada à alimentação de animais de corte.
Já o Pantanal, em especial a região mato-grossense, também vem sentido os impactos
das queimadas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), os incêndios
registrados no bioma em 2020 são os maiores registrados desde que começaram a ser medidos
em 1998. Dentre a área perdida nos últimos anos à custa da vida dos animais silvestres, da flora
nativa e da qualidade das águas, a maior parte também foi convertida em pastagens.
Em todo o mundo, a cadeia de suprimentos alimentícios é responsável por 13,7 bilhões
de toneladas de CO2, equivalentes a 26% da emissão antropogênica de gases do efeito estufa.
Desse valor, os impactos gerados por produtos de origem animal podem exceder aqueles de
substitutos vegetais de forma que a carne, aquicultura, ovos e derivados do leite usam cerca de
83% da terra cultivável do mundo, contribuindo com 57% das diferentes emissões relacionadas
a alimentos, além de prover apenas 37% da proteína e 18% das calorias consumida por nós.
Considerando apenas as emissões por fermentação entérica (digestão pelos
ruminantes), estrume e lagos utilizados na aquicultura, 15 kg de CO2 são emitidos na produção
de 100 g de proteína vindas dessas fontes. Em relação à proteína bovina, cada 100g de carne é
responsável por 150 kg de CO2. Suas emissões são 3 vezes maiores que aquelas relacionadas à
produção, por exemplo, de ervilhas, sendo que essa grande variação entre produtos ricos em
53

proteína também é manifestada no uso das terras, sua acidificação, no uso de água e na
eutrofização de recursos hídricos.

Gráfico 3. Série histórica dos focos detectados pelo satélite, em km², no bioma Pantanal.

Fonte: INPE.7

O Brasil é detentor da maior floresta tropical do mundo. No caminho contrário, possui


o maior rebanho comercial, sendo o 2º maior produtor (atrás dos Estados Unidos) e maior
exportador de carne bovina. Apenas nos 6 primeiros meses de 2019, 15.960.368 bovinos foram
abatidos no país. Somando-se ao número de frangos e suínos, mais de 2 bilhões e 900 milhões
de animais, apenas no recorte de 6 meses e em apenas 1 país de 210 milhões de habitantes,
foram abatidos.8 Levando em conta os peixes, esse valor ainda pode duplicar.
Com o tipo de alimentação atual e suas práticas de produção, alimentar 7,6 bilhões de
pessoas conta com efeitos colaterais de degradação de ecossistemas terrestres e aquáticos,
poluição atmosférica, esgotamento de recursos e mudanças climáticas. Além de insustentável
hidricamente, em questão do uso da terra, lixo e de emissões de gases prejudiciais, o
desmatamento relacionado à pecuária não se converteu em benefícios à maior parte da
população, mas em prejuízos ambientais, econômicos e sociais.

4 Legislação
A crescente ação humana sobre o meio ambiente nos últimos anos acabou por resultar
em um quadro de insustentabilidade, ilustrado pelos problemas ambientais trazidos aqui.
Apenas a partir da década de 1960, em âmbito mundial, começaram a surgir normas a fim de
tornar a ação humana compatível com a proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, a Lei nº

7 Aproveite para checar demais dados fornecidos pelo Instituto através do link
http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal-static/estatisticas_estados/.
8 Essas informações foram retiradas de relatórios fornecidos pelo IBGE. Caso tenha interesse em saber

mais, a plataforma disponibiliza dados sobre o abate de animais no Brasil desde 1997 através do site
https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/abate/tabelas.
54

6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, foi a
primeira votada e aprovada no Brasil.
Hoje, a legislação ambiental brasileira é considerada ampla e avançada, embora não
raramente seja descumprida por diversas razões, como falhas na fiscalização. Abaixo estão
brevemente descritas algumas dessas normas:
Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981): tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e
à proteção da dignidade da vida humana.
Recursos Hídricos (Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005): dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, além de outras providências.
Solos (Resolução CONAMA nº 420 de 28 de dezembro de 2009): dispõe sobre critérios e valores
orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece
diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em
decorrência de atividades antrópicas.
Poluição atmosférica (Resolução CONAMA nº 5, de 15 de junho de 1989): dispõe sobre o
Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (PRONAR), sendo sua primeira consideração
o acelerado crescimento urbano e industrial brasileiro e da frota de veículos automotores.
Poluição atmosférica (Resolução CONAMA nº 3, de 28 de junho de 1990): complementa a
resolução acima e dispõe sobre padrões de qualidade do ar e métodos de amostragem e análise
para partículas em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, SO2, CO, O3 e NO2.
Educação Ambiental (Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012): estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA), cujo objetivo envolve orientar o
planejamento referente à Educação Ambiental (EA) nos sistemas de ensino de forma
transversal. Integra o marco legal para a EA no Brasil, atuando como documento de referência
para os sistemas de ensino e suas instituições de Educação Básica e Educação Superior,
orientando a implementação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) determinada
pela Lei nº 9.795, de 1999, que já dispunha sobre a EA.

Bibliografia Consultada

Águeda, M. N. L. B. Memórias e Identidades em Mudanças: a substituição dos profetas de


aleijadinho por réplicas em Congonhas. 2005. Dissertação (Memória Social e Documento) -
Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2009.
BROWN, T. L.; LeMAY, H. E.; BURSTEN, B. E.; BURDGE, J. R. Química: a ciência central. 9. ed.
São Paulo: Prentice Hall, 2005.
FIESP. Mudança do Clima. Disponível em: <https://www.fiesp.com.br/temas-ambientais/ver-
todos/mudanca-do-clima/>. Acesso em: 13 maio 2022.
NASCENTES, C. C; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
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NOGUEIRA, C. B. C.; OSOEGAWA, D. K.; ALMEIDA, R. L. P. Políticas Desenvolvimentistas na


Amazônia: análise do desmatamento nos últimos dez anos (2009-2018). Revista Culturas
Jurídicas, v. 6, n. 13, p. 145-169, jan./abr., 2019.
Página olhares. Os Doze Profetas. Disponível em: <https://olhares.sapo.pt/o-s-doze-profetas-
foto7980139.html>. Acesso em: 13 maio 2022.
Página Stoodi. Química Ambiental. Disponível em:
<https://www.stoodi.com.br/blog/2016/09/02/quimica-ambiental-5-problemas-classicos-que-
podem-cair-no-enem/>. Acesso em: 13 maio 2022.
POORE, J.; NEMECEK, T. Reducing Food’s Environmental Impacts Through Producers and
Consumers. Science, p. 987-992, jun. 2018. https://doi.org/10.1126/science.aaq0216
56

CAPÍTULO 3: QUÍMICA DOS SOLOS E SEDIMENTOS

RAFAEL ARROMBA DE SOUSA

KARINE GABRIELLE FERNANDES

JORGE LUIZ SÔNEGO MILANI

IVONI FREITAS-REIS
57

PARTE 8

DEFINIÇÕES, COMPOSIÇÃO, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES

Ainda que estejamos trabalhando a química das águas, do ar e dos solos em blocos
separados, todos esses ambientes fazem parte de um grande sistema. Vislumbrar que todas
essas vertentes compõem, juntas, o planeta Terra, é o primeiro passo para compreender sua
interdependência, equilíbrio e dinamicidade.
Nessa aula começaremos nossos estudos sobre a litosfera, abordando algumas
definições, composições e propriedades químicas do solo, bem como seu uso como indicador
de poluição e fertilidade. Ao mesmo tempo, buscamos valorizar as relações existentes entre
esses conteúdos e discussões de aulas passadas.

1 A litosfera e o solo
Como a hidrosfera e a atmosfera já foram abordadas nas aulas anteriores, estudaremos
a LITOSFERA, que corresponde à porção sólida do planeta (também chamada de crosta
terrestre). Dentre seus constituintes, o primeiro e cujos aspectos são o objetivo principal desta
aula, está o solo, que pode ser definido como o material resultante das interações entre as três
esferas mencionadas. Vale ressaltar que sua origem data de milhares de anos, sendo
consequência do intemperismo causado pelas chuvas ácidas e variações de temperatura sobre
as rochas superficiais, as quais foram sendo formadas por meio das erupções vulcânicas seguidas
da solidificação do magma.
Juntamente ao solo, as rochas constituem este terceiro ecossistema, podendo ser
divididas nos seguintes tipos: ígneas ou magmáticas (formadas pelo esfriamento e solidificação
de magma pastoso, como o granito), sedimentares (cuja formação é dada pelo acúmulo de
resíduos de outras rochas, como é o caso da argila) e metamórficas (tem sua origem na
transformação de outras rochas, em que um exemplo é o mármore formado a partir do calcário).
É interessante mencionar que, enquanto alguns tipos de rocha têm usos gerais (como
matéria-prima para a construção civil), o xisto betuminoso é um exemplo que pode ser usado
para produzir energia. O xisto é uma rocha metamórfica, sendo que o tipo betuminoso é aquele
que apresenta um óleo em sua composição, este que pode ser extraído, purificado e refinado
de maneira similar ao petróleo bruto.

2 Composição química do solo


Do ponto de vista MACROSCÓPICO, o solo é composto por três fases cujas proporções
podem variar entre sólida (minerais e matéria orgânica), líquida (água que constitui a chamada
“solução do solo”) e gasosa (gases como O2 e N2). Nesse contexto, o solo adequado para plantio
é aquele cuja composição é dada por 50% de fase sólida, 25% de fase líquida e 25% de gases.
A seguir, cada uma será detalhada.

2.1 Fase sólida


Dentro dessa classificação, primeiramente temos a porção mineral e a argila, sendo essa
última um aluminossilicato que se apresenta na forma de partículas muito pequenas, com
diâmetros médios menores que 0,002 mm. No solo, esse mineral constitui uma reserva
58

importante de nutrientes minerais para as plantas, além de ser responsável por originar
microporos na estrutura do solo, que são essenciais na retenção de água.
Juntamente com a argila, outros minerais encontrados também são importantes, como
o SILTE e a AREIA. Primeiramente, o silte é composto basicamente por quartzo e se apresenta
na forma de partículas com diâmetro médio entre 0,002 e 0,05 mm. Os fragmentos originam
poucos poros, retém pouca água, mas ajudam no adensamento do solo.
Já a areia, embora também seja constituída por quartzo, possui partículas maiores que
as do silte, tendo diâmetros entre 0,05 e 2 mm. Consequentemente, origina os macroporos,
facilitando a aeração do solo (o que é importante para o desenvolvimento radicular), embora
também retenha pouca água. Assim, uma combinação entre esses diferentes minerais contribui
para a formação de um solo com características adequadas para o plantio.
Por fim, também temos a porção orgânica e o húmus, o que nos leva a compreensão de
que compostos orgânicos também estão presentes no solo, em maior ou menor proporção do
que os minerais, a depender da região. Dentre os mais comuns encontra-se o HÚMUS, que é, na
verdade, um conjunto de substâncias que dá ao solo sua cor escura (“castanho-amarronzada”)
e que contribui para sua fertilidade. Quimicamente, o húmus é constituído por vegetais e
animais parcialmente decompostos. Uma imagem característica de uma porção de húmus pode
ser verificada abaixo.
Figura 20. Húmus.

Fonte: Brasil Escola.

No solo, a decomposição dos organismos causa, principalmente, desprendimento de


água e gás carbônico. Por consequência, o material resultante (o húmus) se torna enriquecido
com nitrogênio em relação ao material original. Como é um material parcialmente decomposto,
ele apresenta várias substâncias como proteínas, lignina e compostos ácidos. Estes últimos são
ácidos orgânicos, como é o caso dos ácidos húmico e fúlvico, que são importantes para
estabilizar as espécies metálicas que são solúveis em solo alcalino e que podem prejudicar os
vegetais.
Outra característica relevante é que o húmus se forma naturalmente no solo devido à
ação de bactérias e fungos específicos e que são chamados de “organismos decompositores”.
59

Esse processo é espontâneo e depende de fatores como umidade e temperatura, além da


presença desses microrganismos. Desta forma, a formação do húmus pode ser induzida e
utilizada como um recurso para tratar o lixo orgânico, processo conhecido como
COMPOSTAGEM.
A compostagem doméstica tem ficado cada vez mais popular, processo que pode ser
ecológico do início ao fim, uma vez que possibilita aproveitar materiais que seriam descartados
(como baldes alimentícios reutilizados, grama cortada e demais folhas secas) e utilizar o
biofertilizante gerado para cuidar das plantas. Fazer sua própria composteira doméstica é uma
tarefa simples e não necessariamente ligada à vermicompostagem, sendo a não utilização de
minhocas uma alternativa possível, mais acessível e que não agride tais animais, por exemplo,
ao retirá-los dos seus habitats e no manejo dos compostos onde estariam inseridas. Além do
benefício de diminuir o descarte de compostos orgânicos que teriam diversos destinos, o que
inclui lixões a céu aberto, reduzimos a emissão e poluentes, evitamos a contaminação do lençol
freático e promovemos a sustentabilidade.

2.2 Fase Gasosa


Por estar em contato com a atmosfera, essa fase apresenta os mesmos constituintes
do ar, mas com algumas diferenças nas suas proporções, conforme mostrado na tabela abaixo.
Tabela 2. Composição média dos principais componentes gasosos no ar atmosférico e no solo.

Componentes (%)

O2 CO2 N2

Ar
21 0,03 72
atmosférico

Ar no solo 19 0,9 79

Fonte: NASCENTES; COSTA.

Assim como no ar, o gás nitrogênio é o principal constituinte da fase gasosa do solo, mas
não pode ser aproveitado pelos vegetais nessa forma molecular, sendo necessário que seja
transformado em íons como amônio (NH4+), nitrato (NO3-) e até mesmo em ureia, que são
formas acessíveis de nitrogênio. A transformação de formas não acessíveis de nitrogênio é um
fenômeno essencial para que o solo se mantenha fértil, processo natural chamado de “Fixação
de nitrogênio”. Devido ao envolvimento da ação de bactérias específicas em uma das etapas,
alguns cultivares favorecem o desenvolvimento desses organismos e, por isso, práticas agrícolas
que priorizam a monocultura podem levar a um empobrecimento do solo. Algumas reações
químicas relacionadas à fixação de nitrogênio são representadas a seguir.
60

Por outro lado, conforme estudado anteriormente, o ciclo do nitrogênio envolve tanto
a fixação de nitrogênio como a sua liberação do solo para a atmosfera. Isso também ocorre
naturalmente dependendo das condições do solo, sendo a reação química que representa este
processo a mostrada a seguir.

Observando as fórmulas químicas, pode-se então concluir que a atmosfera recebe


continuamente gás nitrogênio, tanto da hidrosfera quanto da litosfera, ambos proveniente da
decomposição da matéria orgânica. Nesse contexto, vale destacar que o uso de fertilizantes na
agricultura aumenta o aporte de espécies nitrogenadas dos solos para a atmosfera e
hidrosfera, sendo que a espécie N2O (óxido nitroso) pode ser formada. Enquanto esse composto
afeta a camada de ozônio (parte 7), as espécies iônicas podem levar à eutrofização de águas.
Por isso, o manejo do solo também afeta o equilíbrio ambiental e deve ser avaliado e realizado
de maneira planejada e controlada.

2.3 Fixação de substâncias


Além de espécies nitrogenadas, outras substâncias podem ser fixadas no solo e em
sedimentos dependendo das suas características. Quanto aos SEDIMENTOS, estes são
agregados de partículas minerais e de partículas orgânicas que se encontram em contato com a
parte inferior de corpos de água.
Espécies metálicas como os “metais pesados” são um dos tipos de substâncias que se
fixam nessas porções da litosfera. Essa fixação leva a um acúmulo de tais compostos na camada
superficial do solo, acessível às raízes das plantas. Situação análoga ocorre para os sedimentos,
onde o acúmulo se dá nas frações com as quais as substâncias dissolvidas na água entram em
contato. Neste caso, as mesmas podem ser acessíveis (e prejudiciais) aos organismos aquáticos
que se alimentam dos agregados.
Do ponto de vista físico-químico, a fixação de íons metálicos e de outros elementos
(como o AsIII e AsV) acontece por meio de mecanismos de adsorção dos mesmos sobre partículas
minerais presentes no solo/sedimento. Também pode ocorrer formação de complexos com os
ácidos húmicos (no caso dos solos) e reações de precipitação formando sulfetos inorgânicos
(tanto nos solos como nos sedimentos). Entretanto, independente do processo, condições
ambientais como o pH do solo ou da água onde se encontra o sedimento influenciam esses
diferentes processos, favorecendo ou não a permanência das substâncias de modo a impedi-las
de serem “arrastadas”.
Em relação às substâncias orgânicas, destacam-se a fixação de hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos e de pesticidas, que são contaminantes ambientais já mencionados
anteriormente. Desta forma, quando encontrados em solos e sedimentos, indicam a ocorrência
de poluição ambiental ou impacto na região. Por isso, tanto solos como sedimentos são usados
como objetos de estudo em projetos/trabalhos de monitoração ambiental.

2.4 Fase Líquida


Voltando à composição do solo, falta descrever a sua fase líquida, que é uma solução
aquosa de eletrólitos e substâncias orgânicas solúveis que envolve a fase sólida do solo. Essa
solução é formada pela presença de água que, ao interagir com as substâncias constituintes do
solo, promove a solubilização de uma fração delas. Assim, a água do solo contém os nutrientes
61

necessários para o desenvolvimento das plantas e, por isso, é tão importante manter sua
umidade. Nesse sentido, vale lembrar que solos argilosos concentram mais água que os
arenosos.
Dentre os principais eletrólitos encontrados, tem-se o íon H+, proveniente da ionização
de ácidos fracos e de reações de troca iônica na superfície dos minerais. Este define, então, o
pH do solo e, como a composição dos solos não é sempre a mesma (pode variar), a quantidade
de íons H+ também varia de solo para solo. Por isso, este parâmetro físico-químico é um dos
que os agrônomos avaliam quando da preparação do substrato para plantio. Sendo necessário,
pode ser realizada uma correção do pH por meio de adição de sais alcalinos como o carbonato
de cálcio (calcário).

3 Fertilidade e utilização
Um solo fértil é aquele que apresenta NUTRIENTES em quantidades suficientes para o
plantio e cultivo de vegetais. Entretanto, nos solos cultivados para fins comerciais, os ciclos
biogeoquímicos “não conseguem” mantê-lo sempre fértil, pois os elementos essenciais aos
vegetais não são inesgotáveis.
Então, também para o aspecto nutricional, quando há deficiências, é possível realizar
intervenções para garantir a produtividade. Isso é realizado por meio de diferentes tipos de
ADUBAÇÃO, que é a adição de substâncias, as quais variam com o contexto: adubação de
correção (antes do plantio), de crescimento (no início do desenvolvimento) e de manutenção
(durante a produção do cultivo). Como exemplo, os adubos podem ser compostos
principalmente por fontes de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, boro e nitrogênio, sendo o
fertilizante do tipo NPK uma formulação que é fonte de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).
O biofertilizante produzido na compostagem doméstica através da decomposição da
matéria orgânica é um outro exemplo de adubo rico em nutrientes e minerais. Ele se diferencia
do material gerado em aterros e lixões, de caráter tóxico e altamente poluidor, uma vez que,
junto à matéria orgânica, também há demais resíduos como fraldas descartáveis, absorventes,
preservativos, papel higiênico, cigarros, animais em decomposição e lixo eletrônico.

4 Considerações finais
Assim como as águas naturais e a atmosfera, os solos também têm uma química
complexa e cujo entendimento pode ajudar na sua preservação e usos. No ambiente, o solo
possui diversas “funções”, enquanto nós dependemos totalmente da sua fertilidade para
obtermos alimentos.
Os teores dos componentes químicos dos solos não são constantes nem para os de um
mesmo tipo. Por isso, sua composição é sempre estudada e monitorada pelos agrônomos por
meio de diversas análises químicas. O objetivo é avaliar qual tipo de cultura é mais adequada
para um dado local ou que tipo de tratamento/intervenção um solo precisa receber para que
uma dada cultura possa ser cultivada nele. Como ele (e também os sedimentos) são impactados
pelas atividades humanas, há muito o que estudar e todos devem buscar, de alguma forma,
cuidar adequadamente de nossa litosfera.
62

Um pouco de história
Justus von Liebig (1803-1873) nasceu na cidade de Darmstadt, na Alemanha, e é
considerado como um dos três maiores químicos do século XIX ao lado de Friedrich Wöhler
(1800-1882) e Robert W. Bunsen (1811-1899). Tal fato se deve principalmente a dois aspectos
principais: o número de colaborações visando o desenvolvimento da química – sobretudo da
química orgânica e da agroquímica – e o advento de métodos quantitativos capazes de
determinar a formação de compostos orgânicos.
A impressionante “Escola de Químicos” formados por Justus von Liebig responde por
cientistas de renome como August Kekulé (1829-1896) e Hermann Emil Fischer (1852-1919),
sendo muitos detentores do Prêmio Nobel. Tamanha magnitude de seguidores não acontece
por acaso: Liebig possuía uma concepção de ensino de química diferenciada da maioria dos
professores da época. Para ele, pesquisa e ensino
eram indissociáveis.
Dentre seus estudos, Liebig se debruçou na
composição dos solos e sua relação com a saúde das
plantas, o que teve forte influência nas indústrias em
relação à produção de fertilizantes inorgânicos. Tais
conhecimentos envolvendo a agricultura e economia
agrícola foram de grande importância dentre os
desenvolvidos na época em virtude do rápido
crescimento populacional do período. Além disso,
leis de sua autoria continuam sendo bases para a
agricultura moderna.
Nesse contexto, vale a pena citar a Lei do
Mínimo, que leva em consideração os nutrientes
essenciais ao desenvolvimento das plantas. Segundo
seu princípio, ainda que as concentrações da maior
parte dos elementos sejam adequadas, a
produtividade da colheita será limitada enquanto ao
menos um deles possuir concentração inferior a determinado valor mínimo. Assim, nos
condicionamos ao que estiver abaixo da demanda, não adiantando aumentar a quantidade dos
demais.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Luiz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Brasil Escola. Húmus. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/humus.htm>.
Acesso em: 13 maio 2022.
DEROSSI, I. N. A “Escola de Formação de Químicos” de Justus von Liebig: a consolidação de
uma metodologia de ensino. 2018. Tese (Doutorado) – Curso de Química, Departamento de
Química, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018.
MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 11. ed., São Paulo: Thomson Learning, 2007.
63

NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,


2011.
Café point. A Importância da Reposição Anual de Magnésio ao Cafeeiro. Disponível em:
<https://www.cafepoint.com.br/empresas/novidades-dos-parceiros/a-importancia-da-
reposicao-anual-de-magnesio-ao-cafeeiro-208959/>. Acesso em: 13 maio 2022.
64

PARTE 9

RESÍDUOS PERIGOSOS E RESÍDUO SÓLIDO URBANO

Dentre as SUBSTÂNCIAS QUE PODEM CONTAMINAR os solos, algumas fazem parte dos
chamados “resíduos perigosos”. Para situar este assunto, vale lembrar que os contaminantes
são as substâncias que geralmente não fazem parte do solo ou que não ocorrem em teores
elevados. Tais substâncias são consequência da POLUIÇÃO AMBIENTAL, sendo o lixo urbano um
exemplo importante de resíduo contaminante e, dependendo do caso, perigoso.

1 Resíduos perigosos
São substâncias tóxicas que, ao entrarem em contato com seus organismos, podem
causar prejuízos à saúde das pessoas e dos demais seres vivos. Os metais “pesados” (Ag, Cd, Cr,
Hg e Pb, a título de exemplo), os organoclorados (já abordados em partes anteriores), os
compostos inflamáveis, corrosivos, reativos e os elementos radioativos são exemplos
importantes, porque quando descartados de maneira inadequada constituem RESÍDUOS
PERIGOSOS. Também relembramos que, em capítulos anteriores, apresentamos como os
resíduos advindos das indústrias de curtumes e da criação de animais, através de seus dejetos e
subprodutos da produção de carnes, afetam os solos e as águas.
Um dos problemas inerentes a essas substâncias é a toxicidade que apresentam para os
seres vivos e, neste contexto, podem ser caracterizadas em relação ao parâmetro biológico Dose
Letal 50 (DL50), que é a dose da substância que causa a morte de 50% de uma população de
organismos expostos em condições experimentais definidas. Para essa avaliação toxicológica,
geralmente são usados ratos, camundongos, porquinhos-da-índia, cabras, macacos, gatos,
cachorros e coelhos, que são expostos às substâncias oralmente, por meio de contato cutâneo,
intravenoso, intraperitoneal, misturadas à comida, via retal ou vaginal e, também, por inalação.
Para cada meio de exposição, existe uma DL 50 calculada em mg da substância teste por kg de
peso corpóreo.
Para uma reflexão sobre essa prática, informamos que a ingestão dessas substâncias
muitas vezes é feita através de sonda gástrica, logo é comum a morte dos animais por
perfuração, dentre outros efeitos causados como convulsões, diarreia, úlceras, hemorragias,
lesões pulmonares, renais e hepáticas, além da morte, propriamente. Como a indústria química
é uma das principais promotoras dos testes em animais, vale salientar que os mesmos devem
ser realizados após aprovação de Comitês de Ética e seguindo todas os protocolos já
estabelecidos. Além disso, em alguns casos, já há alternativas confiáveis como provas de
toxicidade para células humanas.
Por outro lado, os efeitos tóxicos de uma substância podem ser variados, ou seja, não
se restringem à morte dos indivíduos, podendo gerar um EFEITO AGUDO ou um EFEITO
CRÔNICO (também chamado de CUMULATIVO):
1 Primeiramente, o EFEITO AGUDO é aquele causado pela absorção rápida de uma
substância devido a uma “dose” única ou exposição em um período curto, menor que
24h, por exemplo. O monóxido de carbono e ácido cianídrico são gases que causam
toxicidade aguda;
2 Quanto ao EFEITO CRÔNICO, trata-se daquele que é causado por uma exposição
prolongada ou repetida (duração de dias, meses ou anos), de forma que os sintomas
podem não aparecer imediatamente. Os envenenamentos por metais “pesados” e
pesticidas são exemplos de toxicidade crônica e de difícil tratamento.
65

A seguir, as substâncias mais usuais que se enquadram neste contexto de


toxicidade/periculosidade são apresentadas em classes, com uma breve descrição.

1.1 Substâncias que queimam com facilidade


As substâncias inflamáveis são aquelas com ponto de ignição inferior a 60,5 oC, como é
o caso do butano (-60 oC), tolueno (4 oC) e metanol (12 oC), usados largamente em diversos
setores da sociedade. Outros compostos que também "pegam fogo" são aqueles chamados de
COMBUSTÍVEIS, cujos pontos de ignição variam de 60,5 - 93,3 oC. Entram nessa subclasse as
substâncias que atuam como agentes redutores de uma chama (gás acetileno, por exemplo),
gases de caráter oxidante (ozônio, óxido nitroso), gases halógenos (Cl2, Br2), sais como dicromato
de sódio e permanganato de potássio, substâncias que contêm cloratos como o perclorato de
amônio. Sobre essas últimas, vale destacar que reagem violentamente com madeira e papel.
Por isso, ao serem utilizadas, devem ser manipuladas a frio e/ou na forma de soluções diluídas.
Por fim, também devem ser consideradas as substâncias PIROFÓRICAS, que são aquelas
que se inflamam espontaneamente. Isso
ocorre com pós muito finos quando em
situação de atrito, sendo exemplos os
hidretos metálicos e pós metálicos como o
do 238U.
No contexto desta classe, existem
símbolos universais, chamados pictogramas
e que são destinados a cada uma dessas
subclasses. Ao lado é apresentado o
pictograma das substâncias inflamáveis.

1.2 Substâncias Reativas


No contexto da poluição ambiental,
são consideradas substâncias reativas
aquelas que participam de reações
violentas, as quais podem ocorrer entre suas
próprias moléculas (quando existe uma
extremidade oxidante e outra redutora). São
exemplos característicos dessa classe os
explosivos (como o TNT e a nitroglicerina),
metais alcalinos (ao reagirem com água), e
compostos que originam gases venenosos ao
interagirem com soluções ácidas ou básicas (cianetos e sulfetos).

1.3 Substâncias corrosivas


Tratam-se das substâncias que deterioram os materiais com os quais entram em contato
(inclusive os tecidos biológicos). Em sua maioria são ácidos e bases fortes: ácido sulfúrico
66

(H2SO4), cujo produto de reação (SO2)


também é tóxico, alguns ácidos inorgânicos
(como HCl, HF e HNO3) e os hidróxidos de
sódio e potássio.

1.4 Substâncias radioativas


São os núcleos que emitem partículas α, β ou radiação γ e que contaminam o ambiente
devido às atividades de extração mineral e uso nas indústrias nucleares (principalmente) e,
também, na medicina. Considerando-se que de 10 a 15% da demanda mundial de energia
elétrica seja proveniente de FONTES NUCLEARES, o impacto dessas substâncias é significativo
quando ocorrem acidentes ou disposição inadequada dos resíduos! No Brasil, no leste europeu
e no Japão tem-se alguns dos acidentes mais representativos (e impactantes) relacionados a
resíduo e acidentes nucleares.

Que tal pesquisar sobre o acidente radiológico de Goiânia, que ocorreu em 1987?

Os núcleos mais usuais no setor de


energia são: 235U, 142Ba e os isótopos
gerados na fissão nuclear do 235U (239U,
239Np e 239Pu). Devido à alta periculosidade

dessas substâncias, o pictograma ao lado já


é bem conhecido, embora usado até
mesmo erroneamente como tema de
camisetas.

2 Entendendo a contaminação ambiental pelos resíduos perigosos


Uma vez lançados, os resíduos perigosos podem contaminar não só o solo onde foram
dispostos (caso dos lixões, por exemplo), mas também os demais ambientes da biosfera e afetar
o equilíbrio de diferentes ecossistemas. Assim, buscar realizar um uso consciente e uma
disposição adequada das substâncias químicas é fundamental para a manutenção do equilíbrio
ambiental, sendo uma tarefa de todo profissional da química, saúde e áreas afins.
Nesse sentido, uma medida não efetiva é a volatilização ou diluição de contaminantes,
pois nesses casos o problema da contaminação ambiental não é eliminado, mas apenas
transferido para outro ambiente (atmosfera) e minimizado, respectivamente. Além disso, no
primeiro caso, os contaminantes podem, inclusive, retornar ao solo por meio de mecanismos
naturais (discutidos no capítulo de química atmosférica).
Outro aspecto a ser ressaltado é que o termo “resíduos perigosos” pode englobar muitas
outras substâncias e materiais, além daqueles que foram citados anteriormente. Na verdade, a
maior parte das substâncias orgânicas e inorgânicas podem ser danosas ao ambiente e ao ser
humano, dependendo da forma e quantidade/exposição. Um exemplo já mencionado é o caso
dos efluentes produzidos pelos curtumes, apresentado com alguns detalhes na parte 5.
67

Nesse contexto, deve ser destacado que remediar ambientes contaminados é possível,
mas não é uma tarefa fácil. Por isso, é imprescindível que se previna a poluição e que se use
responsavelmente as substâncias químicas, o que envolve uma questão que abrange toda a
sociedade, que é a gestão do LIXO urbano.

3 O lixo urbano
No Brasil e em outros países em desenvolvimento, o “lixo urbano”, tecnicamente
chamado de resíduo sólido urbano, ainda é descartado a céu aberto (lixões). Além de ilegal,
essa prática polui o ambiente e ainda pode trazer uma série de inconvenientes para as pessoas
que residem ou trabalham em locais próximos. As substâncias perigosas contidas nesses
resíduos podem atingir os lençóis freáticos, contaminando a água e, também, poluem o ar por
meio da eliminação de gases.
No nível do solo, onde os resíduos são amontoados, ocorre a concentração de animais
diversos, que ao se alimentarem do lixo, adoecerem e interagirem com as pessoas, atuam como
vetores de doenças. No caso de aves (urubus, principalmente) a grande concentração dificulta
o tráfego aéreo, o que chega a resultar em acidentes. Dessa forma, a disposição do lixo em lixões
só traz consequências negativas tanto para a sociedade quanto para os demais animais.
Outro exemplo importante de resíduos perigosos são aqueles provenientes de hospitais
e clínicas médicas, pois apresentam risco biológico ou radioativo. Esses tipos de resíduo
(rejeitos, na verdade) não devem ser descartados em lixões e sim incinerados (aqueles com risco
biológico) ou dispostos em aterros para produtos perigosos (aqueles com risco radioativo).

3.1 Definição e classificação de resíduos sólidos


Segundo a Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, resíduo não é sinônimo de rejeito,
pois os resíduos podem ser reaproveitados ou tratados, enquanto os rejeitos não: “Rejeitos são
resíduos sólidos que não apresentam outra possibilidade que não a disposição final
ambientalmente adequada”. Sob esse ponto de vista, o lixo urbano é um resíduo, pois a maior
parte da sua composição pode ser reaproveitada, de forma que apenas uma pequena fração é
que deveria ser descartada (em aterros).
Em relação aos resíduos sólidos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
propõe duas classificações. Uma delas é baseada na origem dos resíduos e a outra, de acordo
com a periculosidade.
A classificação dos resíduos de acordo com a origem permite separá-los como:
1 Resíduos domiciliares (provenientes das residências);
2 Resíduos de limpeza urbana (varrição e outros serviços de limpeza urbana);
3 Resíduos sólidos urbanos (“1” + “2”);
4 Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços;
5 Resíduos dos serviços de saneamento básico (não englobam “3”);
6 Resíduos industriais (provenientes dos processos produtivos e indústrias);
7 Resíduos dos serviços de saúde (gerados nos serviços de saúde);
8 Resíduos da construção civil (construções civis e nas etapas de preparação);
9 Resíduos agrossilvopastoris (gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais);
10 Resíduos de serviços de transporte (serviços de transporte e passagem em fronteira);
11 Resíduos de mineração (gerados nas atividades de pesquisa, extração e beneficiamento
de minérios).
68

Já de acordo com a periculosidade, os resíduos podem ser classificados como Resíduos


Classe I e Resíduos Classe II:
1 Os RESÍDUOS CLASSE I são aqueles efetivamente perigosos, pois apresentam risco à
saúde pública ou à qualidade ambiental, tendo uma ou mais das seguintes
características: inflamabilidade, corrosividade, alta reatividade, toxicidade
(carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade) ou patogenicidade;
2 Com relação aos RESÍDUOS CLASSE II, eles são divididos em Classe IIA e Classe IIB. Os da
Classe IIA são os materiais que não são perigosos, porém não são inertes. Esses resíduos
não se enquadram nas características da Classe I, mas podem ter propriedades como
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Por fim, os RESÍDUOS
CLASSE IIB são aqueles considerados inertes, apresentando como principal
característica não se solubilizarem o suficiente em água e não alterarem parâmetros de
potabilidade da água (aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor) quando sob as seguintes
condições: temperatura ambiente e em contato (dinâmico ou estático) com água (que
pode ser destilada ou deionizada).

3.1.1 Outros aspectos da Lei nº 12.305


Essa lei institui uma política oficial para a gestão dos resíduos sólidos, estabelecendo
responsabilidades sobre a geração e gerenciamento dos mesmos. Foi concebida levando-se em
consideração questões de saúde pública, de preservação do ambiente e de sustentabilidade.
Desta forma, determina que:
1 Ficam extintos os lixões;
2 A coleta seletiva se torna obrigatória;
3 Para os aterros devem ir apenas os rejeitos.
Nesse contexto, esta lei é conhecida como "Política Nacional de Resíduos Sólidos"
(PNRS), que traz BOAS PERSPECTIVAS como consequências de sua implementação:
1 Readequação das atividades industriais em relação ao destino dos resíduos sólidos;
2 Crescimento (e desenvolvimento) das atividades industriais de reciclagem (atividade
econômica);
3 Disponibilidade de tecnologias para reaproveitamento de resíduos;
4 Viabilização de mercados para itens reciclados;
5 Estímulo a organizações de catadores de resíduos, gerando inclusão socioeconômica.

3.2 Lixo urbano: contexto e destinação


O lixo urbano constitui o principal resíduo gerado pelas atividades antropológicas, sendo
um problema ambiental mesmo nos países desenvolvidos, pois quanto maior o consumo,
maior a quantidade de lixo. Apenas para ilustrar a dimensão desse problema, sabe-se que em
Belo Horizonte a produção diária de lixo é maior que 4,6 mil toneladas! Logo, fica fácil entender
que todo esse lixo não pode ser disposto em lixões, nem mesmo nos aterros.
A destinação adequada do lixo envolve uma etapa de seleção e separação, seguida de
diferentes encaminhamentos. Na etapa de seleção, os materiais reaproveitáveis devem ser
separados daqueles que não o são e da matéria orgânica (MO). Eles, assim, podem ser
encaminhados para processos de reciclagem, enquanto a matéria orgânica vai para a
compostagem, destacando que já existem indústrias para esse fim. Nelas, a MO é misturada
com solo e transformada em húmus, que, ao contrário do material original, não polui o solo e
69

pode ser usado como adubo. Desta forma, apenas os rejeitos são levados para os aterros, onde
a sua destinação e/ou decomposição não devem afetar o ambiente.

Por outro lado, considerando-se que todos os materiais podem sofrer decomposição
natural, você sabe dizer qual é o problema real do lixo? Além dos inconvenientes já
mencionados, o tempo que muitos materiais levam para se degradar naturalmente é
muito longo, potencializando os efeitos indesejados elencados. Em outras palavras, a
quantidade de lixo produzida diariamente é maior que a capacidade de degradação
dos microrganismos decompositores. Por isso é tão importante que o lixo urbano seja
gerenciado adequadamente. E para isso é mais do que necessário que cada município
tenha um aterro sanitário ou que tenha acesso a um, conforme preconiza a lei.

3.2.1 Características de um aterro sanitário


O aterro sanitário constitui uma instalação projetada para dispor os resíduos sólidos de
modo ambientalmente seguro. Para isso, essas instalações respeitam as seguintes
características:
1 Não ser construído em áreas sujeitas a inundações;
2 Ser localizado a pelo menos 200 m de qualquer curso d’água;
3 Entre a superfície inferior e o lençol freático mais próximo deve haver pelo menos 1,5
m de solo;
4 Ser impermeável e arborizado (na construção, o local tem seu solo impermeabilizado
usando lonas plásticas revestidas com argila);
5 Sua manutenção deve evitar erosões e minimizar a difusão de poeira e odores (o que é
auxiliado pela arborização);
6 O solo deve ser protegido da infiltração do chorume, canalizando e encaminhado os
líquidos gerados na decomposição para lagoas de tratamento;
7 As águas das chuvas devem ser canalizadas;
8 Controlar a quantidade de material que entra por meio de balança;
9 Os gases liberados durante a decomposição dos rejeitos devem ser queimados ou
captados, evitando a poluição do ar e servindo de matéria-prima para a produção de
energia, respectivamente;
10 Por fim, apresentar poços de monitoramento do lençol freático para atestar que não
está havendo contaminação do ambiente.
Todas essas características estão ilustradas na representação da figura a seguir, onde se
observa a estrutura de um aterro, que é um espaço dinâmico, ou seja, com partes em
preparação, partes em utilização e partes já utilizadas:
70

Figura 26. Esquema ilustrativo da estrutura e funcionamento de um aterro sanitário.

Fonte: NASCENTES; COSTA.

4 Considerações finais
O lixo urbano é um problema ambiental grave, visto que o volume de resíduos sólidos é
muito elevado e, aos poucos, vai inutilizando as regiões onde é depositado, além de toda a
contaminação ambiental que pode causar. Substâncias químicas perigosas podem contaminar
o solo, a água e até o ar e, por isso, uma gestão eficiente dos resíduos sólidos urbanos deve ser
sempre priorizada.

Reflexão
Agora que você já tem uma boa noção sobre a química das águas, do ar e do solo, o que
envolve diversas problemáticas relacionadas ao nosso dia a dia, a
próxima atividade será descobrir qual é a sua pegada ecológica. Em
resumo, a pegada é uma proposta de cálculo cujas variáveis estão
relacionadas aos recursos naturais utilizados e impactos causados
durante atividades cotidianas. Por exemplo, é levado em conta se o
indivíduo fuma, com quantas pessoas vive, se possui carro e,
inclusive, qual é o tipo de alimentação, trazendo à tona atividades
muitas vezes invisíveis e consideradas inofensivas. A partir das
respostas, o resultado representa o número de planetas necessários,
71

de acordo com a capacidade ecológica da Terra, caso toda a população nutrisse os mesmos
hábitos que você.
Após descobrir qual é a sua pegada, reflita sobre as informações e sugestões dadas pelo
próprio questionário sobre como é possível ajustar sua forma de consumo em prol da saúde do
nosso planeta como um todo. Você tinha conhecimento da magnitude do impacto que as nossas
atividades provocam no meio ambiente? A partir das perguntas, foi possível identificar de quais
formas tais ações podem ser prejudiciais? Ao final, compartilhe e discuta com seus colegas de
turma sobre esses pontos.

Bibliografia Consultada

BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Luiz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Fiocruz. Símbolos. Disponível em:
<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/imagem/simbolos.htm>. Acesso em: 13 maio 2022.
GREIF, S.; TRÉZ, T. A verdadeira face da experimentação animal: sua saúde em perigo. [S.l.]:
Sociedade Educacional Fala Bicho, 2000. Disponível em:
<http://www.falabicho.org.br/PDF/LivroFalaBicho.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
72

CAPÍTULO 4: QUÍMICA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO

WBIRATAN CÉSAR MACEDO DE OLIVEIRA

ANDRÉIA FRANCISCO AFONSO


73

PARTE 10

QUÍMICA AMBIENTAL E EDUCAÇÃO: CONTEXTUALIZAÇÃO PARA O


ENSINO

Como visto no capítulo da química das águas, a questão ambiental é um tema que está
em debate no mundo inteiro. Diferentes órgãos administrativos públicos e setores da sociedade
buscam soluções para o atual cenário, que é marcado pela crescente degradação do meio
ambiente. Essa degradação advém da exploração excessiva dos recursos naturais, que se dá a
uma velocidade muito superior à capacidade de recuperação da natureza (HABIB, 2010).
Outro fator que contribui para a degradação do meio ambiente é a industrialização, que
se não for bem planejada, também causa problemas sociais (fome, desemprego, falta de
saneamento básico, entre outros), especialmente às comunidades que vivem no entorno.
Esses e outros fatores têm levado a humanidade a repensar suas ações e seu modo de
vida, calcados em uma relação com a natureza que não seja depredatória e insustentável
(BONOTTO, 2008). Para que essas ações fossem tomadas como atos de responsabilidade de
diversos países, foram realizadas conferências, das quais destacamos três delas:
1 Estocolmo (1972): na qual se colocou em xeque o uso desordenado dos recursos
naturais pelo ser humano e estabeleceu metas de controle, destacando a
importância da Educação como um meio para entender a relação ser humano-
natureza;
2 Tbilisi (1977): na qual estabeleceram os princípios orientadores da Educação
Ambiental, ressaltando o seu caráter interdisciplinar, critico, ético e transformador;
3 Rio de Janeiro (1992): na qual os países participantes firmaram o compromisso de
promover Educação Ambiental, tendo em vista o desenvolvimento de sociedades
sustentáveis. Além disso, apontaram as necessidades de formação de educadores
ambientais.
Em todas essas Conferências foram discutidos e elaborados documentos de caráter
internacional que versavam sobre a preservação do planeta, na perspectiva da implementação
da Educação Ambiental (EA).
Alguns anos após a Conferência realizada no Rio de Janeiro, foi instituída a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) (BRASIL, 1996), a qual passou a considerar a
compreensão do ambiente natural como fundamental na Educação Básica. A partir dela, uma
outra lei, a Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999), estabeleceu que a EA deve estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, valorizando a abordagem
das questões ambientais nos âmbitos locais, regionais e nacionais, e incentivando a busca de
alternativas curriculares e metodológicas na capacitação para a área ambiental e de iniciativas
e experiências coletivas, o que inclui a produção de material educativo.
Ainda visando uma relação mais estreita entre a Educação Ambiental e a Educação, são
promulgadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental (DCNEA) (BRASIL,
2012), para a qual a “EA é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social,
que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a
natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a
finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental” (p. 2). Elas ressaltam, ainda,
que a EA deve promover a construção do conhecimento através de uma responsabilidade
cidadã, evitando conceitos despolitizados, pois a prática educacional deve direcionar-se à EA-
74

crítica: indispensável à participação da comunidade, à democracia e à emancipação


socioambiental.
A perspectiva da EA-crítica aponta que é necessário que as pessoas questionem mais,
por exemplo, porque se usa e a quem interessa o uso de pesticidas, ou entender a necessidade
de fato de promover a coleta seletiva efetiva, pois não adianta somente separar os materiais,
mas a quem isso pode prejudicar caso não seja feita. O lema “faça a sua parte, não polua,
recicle”, é bem institucionalizado, mas não atende as necessidades atuais.
Com isso, ao ensinar Química, é preciso unir o conhecimento pedagógico ao
conhecimento de conteúdo e relacioná-los ao cotidiano de forma mais crítica. Não basta apenas
saber, por exemplo, a quantidade de gás carbônico que é emitida na atmosfera, a diversidade
de defensivos agrícolas liberados nos últimos meses e suas consequências ou reafirmar que as
árvores são importantes e que não deve jogar lixo nos rios. Essas ideias são discutidas há muito
tempo. O conhecimento que falta é o porquê dos fatos e como a Química, enquanto ciência,
pode contribuir para melhorias nas questões ambientais.

Mas como abordar as questões socioambientais nas aulas de


Química?
1 Para iniciar a reflexão, propomos a atividade a seguir:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que
define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos
devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que
tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com
o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE). Dentre as competências gerais definidas
pelo documento, a BNCC defende a mobilização de conhecimentos e habilidades, atitudes e
valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e
do mundo do trabalho (BRASIL, 2018, p. 7).
Consulte o texto da BNCC e verifique se as questões ambientais estão entre as
competências e habilidades da área de Ciências da Natureza.

2 Pensando nas competências e habilidades citadas na BNCC e voltadas ao que se espera que
os estudantes da Educação Básica desenvolvam, propomos a atividade 2:
Impacto ambiental
A poluição por gases não afeta apenas a qualidade do ar, mas também indiretamente a
qualidade das águas (inclusive as subterrâneas), da terra, da vegetação, da floresta e do clima.
Os poluentes do ar contaminam as nuvens e depois retornam à terra na forma de
precipitação. Essas precipitações transportam poluentes do ar de volta para a terra, podendo
contaminar o solo, rios e vegetação – a chuva ácida é um exemplo da consequência da
poluição. Poluentes do ar, como SO2 e NOx causam danos diretos às plantas e árvores quando
entram nos estômatos das folhas. A exposição contínua dos vegetais a poluentes do ar pode
desfazer o revestimento ceroso, que previne a perda excessiva de água e danos causados por
doenças, pragas, secas e geadas. No centro-oeste dos Estados Unidos, por exemplo, as perdas
de trigo, milho, soja, arroz e amendoim, devido aos danos causados pela deposição de ozônio
e precipitações ácidas, chegam a cerca de US$ 5 bilhões por ano.
75

Fonte: TAN, Z. Air Pollution and Greenhouse Gases: From Basic Concepts to Engineering Applications
for Air Emission Control. Green Energy e Techonology. Nova Iorque: Springer, 2014.

Partindo do texto, descreva detalhadamente como você abordaria as questões


socioambientais em suas aulas de Química.

Bibliografia consultada

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394/96, de 20


de dezembro de 1996. Brasília, 1996.
BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei nº 9.795/99, de 27 de abril de 1999.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Ambiental: CNE/CP. Brasília, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília:
MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018.
BONOTTO, D. M. B. Educação ambiental e educação em valores em um programa de formação
docente. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v.7, n.2, p. 313-336, 2008.
HABIB, M. Ambiente e sociedade na agenda da educação. Ciências em Foco, Campinas, v.1,
n.3, p. 1-8, 2010.
76

PARTE 11

ÁGUA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: POSSIBILIDADES PARA A ABORDAGEM


NO ENSINO DE QUÍMICA

A água é considerada um elemento essencial para a vida dos seres vivos, já que compõe
grande parte de seus organismos. A tabela 3 apresenta o percentual de água em órgãos do corpo
humano:
Tabela 3. Percentual de água em órgãos do corpo humano.

Órgãos Percentual

Fígado 86%

Cérebro 75%

Coração 75%

Músculos 75%

Fonte: MIRANDA, 2004.

Os percentuais de água nos órgãos mostram o quanto o ser humano é dependente da


ingestão desse líquido na sua forma natural ou através dos alimentos para a sobrevivência.
Miranda (2004) aponta que, além da alimentação (39%), o organismo obtém água também
através da respiração celular (14%). Como forma natural, consideramos a água doce que chega
até nossas casas, advindas dos rios, sendo o Brasil um dos países com maior disponibilidade
desse tipo de água no mundo.
Porém, de acordo com os dados da Agência Nacional das Águas (ANA) (BRASIL, 2020),
nosso país apresenta uma distribuição desigual desse recurso para atender a população. A
região Norte, por exemplo, concentra aproximadamente 80% da quantidade de água disponível,
mas possui apenas 5% da população brasileira. Já as regiões próximas ao Oceano Atlântico
possuem mais de 45% da população, porém, menos de 3% dos recursos hídricos do país.
Assim, devemos entender a importância da preservação dos mananciais, em termos de
acesso e disponibilidade da água. Na parte 2 dessa apostila, vimos que as atividades humanas
geram poluentes por meio de fontes pontuais, que são aquelas que geram poluição de forma
sistemática e em locais específicos, tais como: descarga de efluentes a partir de indústrias e
estações de tratamento de esgoto, derramamentos acidentais e atividades de mineração; e por
fontes difusas, que são aquelas cujas características as tornam de difícil identificação, pois são
temporárias ou intermitentes (escoamento superficial urbano e de áreas agrícolas; e trabalhos
de construção civil).
Diante desses fatores – poluição e distribuição irregular -, Tonson (2011, p. 29) aponta
que “no campo das ‘águas’, existem três distintas, porém interligadas, questões que se
delineiam na perspectiva da Educação Ambiental (EA), que se afirma ser crítica, política,
transformadora e popular”:
1 Há a degradação da água com a qual estabelecemos uma relação de uso: poluição
(esgoto, metais tóxicos, entre outros), desperdício e concorrência com outras atividades
humanas, igualmente importantes; contaminação de lençóis freáticos; assoreamento
77

de leitos de cursos superficiais de água, destruição e descaracterização de suas margens,


dentre outros exemplos. Apesar de, em média, a qualidade das águas no Brasil ser
superior à da maioria dos países, na grande parte das comunidades, a degradação da
água já chegou a diferentes graus. Interessante seria perceber que o que se degradou
talvez não seja só o recurso água, mas, fundamentalmente, a própria relação que
diferentes grupos sociais estabeleceram com o elemento água, esta sim,
profundamente degradada;
2 Há uma relação extremamente destoante entre diferentes grupos sociais e a água. Além
de uma desigual disponibilidade hídrica natural, existem outras questões
(socioambientais) que se sobrepõem a esta. Seja entre países, grupos sociais ou
diferentes atividades humanas, a disponibilidade e a facilidade de acesso são tão
discrepantes que se pode falar em escassez em regiões com grandes ofertas de água,
pela desigualdade de acesso entre diferentes seres humanos. Estas diferenças são
definidas por escolhas políticas, por concepções de prioridades que relegam a segundo
plano, e atividades como acesso digno de água, diariamente, a todas as pessoas de uma
cidade, por exemplo;
3 Há uma diferença do valor que o elemento água assume em diferentes culturas e grupos
humanos. Nossa relação com a água é tão diferente que poderíamos dizer que ela tem
valores totalmente distintos para distintos seres humanos. Água como recurso, que é
pago, portanto usado como quiser; como elemento natural, desenvolvendo inúmeras
funções nos ecossistemas naturais e antropizados; como bem para fruição ligado ao
lazer; como recurso econômico que define e é definido pela sua apropriação e pelas
relações de poder econômico; e como elemento cultural, religioso e espiritual, ligado
aos valores e origens de diversos povos.
Firmados nessas questões, inserir o estudo da água nas aulas de Química nos leva a
refletir e buscar ações tecnológicas, sociais, culturais e políticas sobre seu uso, manejo e gestão,
especialmente diante de desastres ambientais tão graves, como foi a contaminação dos rios
causada pelo rompimento das barragens das mineradoras Samarco em 2015, em Mariana, e da
Vale em 2019, na cidade de Brumadinho (ambas em MG). Ações antrópicas como essas nos
levam a acreditar que é preciso promover discussões, em sala de aula, que mostrem a
importância da ciência na busca de melhorias e soluções para tais problemáticas e outras
relacionadas ao mau planejamento e gestão dos rios, além da urbanização excessiva ao redor
dos cursos d’água.
Aliados a Carvalho (2008), defendemos que a Educação Ambiental é essencial para que
alunos e professores adquiram uma “mentalidade ecológica”, ou seja, um olhar crítico para tais
questões. Não basta apenas saber que não devemos desperdiçar água, mas também
desenvolver ações individuais e coletivas que preservem os rios.
Nesse sentido, destacamos uma habilidade presente na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018), na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a ser
desenvolvida no Ensino Médio:
[...] avaliar potenciais prejuízos de diferentes materiais e produtos à saúde e
ao ambiente, considerando sua composição, toxicidade e reatividade, como
também o nível de exposição a eles, posicionando-se criticamente e
propondo soluções individuais e/ou coletivas para o uso adequado desses
materiais e produtos. (p. 541)

Ao propor atividades em sala, por meio do uso de práticas contextualizadas, o professor


deve promover situações reflexivas acerca dos problemas ambientais e sociais que envolvem a
água, uma vez que a preocupação com esse recurso está presente em qualquer instância. Para
78

tanto, há sempre uma situação local que pode desencadear propostas para preservação da
água.

Proposta de abordagem
Pensando em uma discussão mais reflexiva, mostraremos uma possibilidade de como abordar
a temática água, a partir da Educação Ambiental, por meio de um texto informativo:
Os compostos químicos orgânicos utilizados na fabricação de produtos de uso diário
podem ser conhecidos como poluentes emergentes. Os materiais de higiene pessoal, pesticidas,
medicamentos, dentre outros, descartados no esgoto doméstico, atribuem riscos ao meio
ambiente e à saúde das pessoas. O destino desses materiais (e de seus metabólitos) deve ser
mais bem compreendido.
A imagem abaixo mostra o processo e destino dos poluentes no curso de um rio:
Figura 27. Destino dos poluentes no meio aquático.

Fonte: U.S. Geological Survey.

A baixa volatilidade e reatividade de certos compostos/espécies químicas faz com que


sua distribuição ocorra por transporte no ambiente aquático e também por dispersão na cadeia
alimentar. Quando presentes nas estações de tratamento, pode ocorrer adsorção ou absorção
desses resíduos pelos sólidos suspensos e, em alguns casos, degradação biológica. Tais
fenômenos são dependentes da hidrofobicidade ou da hidrofilicidade das espécies e das
interações eletrostáticas dos poluentes com as partículas do meio e com os microrganismos.
79

De acordo com o texto, com a imagem e considerando os conteúdos programáticos para a


disciplina de Química, elabore uma proposta para cada um dos três anos do Ensino Médio,
partindo do tema “água”.
1 Você pode considerar como proposta: sequências didáticas, roteiros experimentais,
roteiros para trabalhar filmes, jogo lúdico, dentre outros. Lembrando que os fenômenos
químicos envolvidos na temática “água” devem estar relacionados aos aspectos
socioambientais;
2 Para cada atividade/aula elaborada, você deve fazer o plano de aula detalhado – modelo
anexo;
3 Se possível, direcione a atividade para situações/problemas observados para alguma
região específica da comunidade escolar.

ANEXO 1 – MODELO DE PLANO DE AULA

PLANO DE AULA
Data: (dia)/(mês)/(ano)
Tema da aula: Soluções
Tempo previsto: 2h/aulas (100 minutos)
Turma: 2° ano do Ensino Médio – (nome da Escola)

Objetivos:
Relacionar a solubilidade do gás oxigênio na água com questões ambientais; compreender a
relação de quantidade de matéria dos poluentes com os parâmetros de qualidade da água
estabelecidos pela legislação; e despertar nos alunos o pensamento crítico para as questões
socioambientais acerca do tema água.

Conteúdo:
Estudo da solubilidade dos materiais; concentração das soluções (g/L, mg/L, μg/L, mol/L, m/m
e m/v); educação ambiental e soluções aquosas.

Metodologia: (bem detalhada, citando os recursos didáticos que serão utilizados)


10 min – Levantamento das concepções prévias sobre o uso da água;
20 min – Leitura e discussão do texto sobre poluentes no meio aquático (texto sugerido);
20 min – Resolução das questões propostas em sala de aula (coloque quais questões você
considera abordar);
50 min – Discussão sobre as questões e correção.
Recursos didáticos:
Material impresso ou digitalizado, quadro e giz.
Avaliação:
Participação na discussão e resolução de exercícios.

Referencial teórico:
80

BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama das Águas no Brasil. Brasília: ANA, 2020.
Disponível em: <https://www.ana.gov.br/aguas-no-brasil/panorama-das-aguas/quantidade-
da-agua/>. Acesso em: 13 maio 2022.
Assinatura do Professor:

Bibliografia Consultada

BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama das Águas no Brasil. Brasília: ANA, 2020.
Disponível em: <https://www.ana.gov.br/aguas-no-brasil/panorama-das-aguas/quantidade-
da-agua/>. Acesso em: 13 maio 2022.
MIRANDA, E. E. A água na natureza e na vida dos homens. 1. ed. São Paulo – SP: Ideias e
Letras, 2004.
TONSON, S. Diálogo e Educação Ambiental no campo das águas. In: JÚNIOR, F. P; MODAELLI, S.
(orgs.). Política das águas e educação ambiental: processos dialógicos e formativos em
planejamento e gestão de recursos hídricos. Brasília, 2011, p. 29-34.
U.S. Geological Survey. Transport and fate. Disponível em:
<http://toxics.usgs.gov/regional/emc/transport_fate.html>. Acesso em: 13 maio 2022.
81

PARTE 12

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O DIREITO DE ACESSO À ÁGUA POTÁVEL

Como visto nas aulas anteriores, continuar promovendo discussões e ações


socioambientais voltadas à preservação dos recursos hídricos faz-se essencial para manutenção
da vida. Por ser tão importante à sobrevivência, as questões relacionadas à água foram pauta
da agenda internacional na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo, em 1972, e na Conferência de Mar del Plata, em 1977.
Nesta mesma década de 1970, os problemas relacionados ao seu uso e,
consequentemente, à crescente poluição, já causavam incertezas quanto ao futuro. Além disso,
o fornecimento de água potável e de saneamento básico foram considerados como essenciais,
aos quais todos os povos deveriam ter acesso, quaisquer que fossem suas condições sociais e
econômicas. É direito de todos o acesso à água, em quantidade e qualidade, à altura de suas
necessidades básicas (BRASIL, 1992).
Tal preocupação também foi assunto na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento – a Eco 92 -, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Lá, foi proposta
a “Carta a Terra”, documento ratificado em março de 2000. Nela, há apontamentos que
garantem às pessoas “o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não
contaminados, ao abrigo e saneamento básico seguro, distribuindo os recursos nacionais e
internacionais requeridos” (BRASIL, 2018, p. 98).
Dentre as propostas de ação para que o direito de todos seja garantido, as Conferências
reconheceram como essencial projetos de desenvolvimento para uso e preservação de recursos
hídricos, especialmente em relação aos fatores físicos, químicos, biológicos, sanitários e
socioeconômicos envolvidos na política das águas.
Dentre as ações políticas que foram propostas no Brasil, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), por meio da Resolução nº 357, de março de 2005, dispõe
[...] sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o
seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de
lançamento de efluentes, e dá outras providências” e, considera “que a
saúde, o bem-estar humano, bem como o equilíbrio ecológico aquático, não
devem ser afetados pela deterioração da qualidade das águas”; aponta
também, que “o controle da poluição está diretamente relacionado com a
proteção da saúde, garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado e
a melhoria da qualidade de vida, levando em conta os usos prioritários e
classes de qualidade ambiental exigidos para um determinado corpo de água.
(CONAMA, 2005, p. 1)

Além das disposições mencionadas acima, o CONAMA dispõe de orientações e


definições em relação aos recursos hídricos, quanto à classificação das águas, à toxicidade, ao
controle de qualidade, ao tratamento de efluentes e aos parâmetros físicos, químicos,
microbiológicos e ecotoxicológicos – como visto na parte 3 desta apostila.
Diante do que foi exposto, percebe-se que a Educação Ambiental pode facilitar de forma
crítica a disseminar o conhecimento sobre o meio ambiente a fim de ajudar a sua preservação e
promover justiça social. Ou seja, assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo
seu olhar apenas à proteção, mas ao uso sustentável de seus recursos naturais, incorporando
fortemente a proposta de construção de sociedades mais justas – ligados aos aspectos da
educação, da tecnologia e da Ciência.
82

Em relação aos aspectos da Ciência, ter noções básicas de Química instrumentaliza o


cidadão para que ele possa tomar uma ação individual ou coletiva. Dessa forma, o conhecimento
pode promover posicionamentos críticos (reivindicações, cobranças, fiscalização,
posicionamento político e social) em relação à poluição das águas, ao monitoramento de
qualidade, à distribuição justa dos recursos e à democracia.
Uma das formas de promover esse pensamento crítico se dá durante o processo de
escolarização, tendo, portanto, a instituição escolar um papel fundamental, uma vez que tem
como um de seus objetivos a preparação dos estudantes para a cidadania (BRASIL, 1996). Por
outro lado, essa instrumentalização depende de como os professores vão abordar essas
questões em sala de aula. Vemos aqui um desafio duplo: a formação docente na perspectiva
crítica ambiental e, posteriormente, a formação do estudante da Educação Básica.

Proposta de abordagem
Pensando na formação cidadã de forma ampla e reflexiva acerca dos parâmetros de qualidade
da água e as questões socioambientais, realize as propostas abaixo:
1 Assista ao vídeo da reportagem jornalística de um programa
de televisão sobre o uso de mercúrio em garimpos na
Amazônia e, acerca das informações e das reflexões
inferidas, APONTE quais conteúdos químicos e relações
socioambientais poderão ser trabalhados em uma sala de
aula do Ensino Médio, listando-os. Certifique-se de que seus
apontamentos estão alinhados às competências presentes
na BNCC.
2 Dentre os conteúdos listados no item anterior, escolha um
e confeccione um plano de aula (vide anexo 1 da parte 11). Na proposta, você deve
relacioná-lo às questões socioambientais. Também é preciso que seja descrita uma
atividade de sua livre escolha (experimento, jogos, sequência didática, roteiro para
filmes/vídeos, dentre outros).
Como questões socioambientais, você pode destacar ou fazer algumas indagações sobre
o uso de mercúrio e suas consequências; possibilidades para substituição do mercúrio nos
garimpos; a contaminação das águas e o consumo pelos indígenas; o manuseio do mercúrio sem
equipamentos de proteção e suas consequências; os problemas causados pela contaminação à
saúde das pessoas e ao meio ambiente; a ação da biota aquática na produção de compostos
tóxicos; o ceticismo em relação aos problemas ambientais por parte das autoridades locais e da
população; a legislação em relação aos garimpos, à proteção dos recursos hídricos e ao acesso
à água potável; e o papel da educação ambiental e da ciência para propor soluções aos
problemas apresentados.
3 Monte um experimento simples no qual possa ser verificada a qualidade da água de um
rio/lago/córrego/nascente que passe próximo à escola, às residências dos alunos ou
mesmo da torneira de sua residência. Procure utilizar materiais de baixo custo e de fácil
acesso. Deve haver instruções metodológicas e de segurança bem detalhadas. Dentre
as análises, proponha determinação de: pH, turbidez e temperatura – como visto na
parte 3 dessa apostila. A partir dos resultados, proponha discussões sobre os
parâmetros de qualidade da água, quais as implicações socioambientais pelo
consumo/acesso desse recurso em condições não ideais e pense em ações que visem
amenizar os problemas em questão.
83

Para a realização das propostas acima, utilize como apoio os artigos e os documentos
listados no quadro 1. Busque relacionar nas atividades os aspectos químicos, políticos e sociais,
intrínsecos à Educação Ambiental. Além disso, é importante refletir sobre as contribuições e o
papel do professor na formação de cidadãos críticos e ativos na sociedade.
Quadro 1. Documentos oficiais e artigos selecionados para subsidiar na confecção das propostas.

Documentos/artigos

Política Nacional de Educação Ambiental – Lei de n° 9.795, de 27 de abril de 1999


Resolução do CONAMA nº 357 de março de 2005

Base Nacional Comum Curricular – BNCC – 2018

Base Nacional para Formação Inicial de Professores para a Educação Básica – 2019
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, mai.
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>.
Acesso em: 13 maio 2022.
QUADROS, A. L. de. Água como Tema Gerador do Conhecimento Químico. Química
Nova na Escola, v. 20, p. 26-31, nov. 2004. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc20/v20a05.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.

Fonte: Dos autores.

Bibliografia Consultada

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei nº 9.394/96, de 20


de dezembro de 1996. Brasília, 1996.
BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA: documento básico. Ministério
do Meio Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação, Coordenação
Geral de Educação Ambiental. 5. ed. Brasília, 2018.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e
desenvolvimento, capítulo 18, 1992. Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos
hídricos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos
hídricos. Disponível em:
<https://www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/cap18.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
CONAMA. Resolução n° 357, de 17 de março de 2005. Classificação de águas, doces, salobras e
salinas do Território Nacional. Brasília, 2005.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente
Humano. In: Anais Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Estocolmo,
6 p., 1972.
84

PARTE 13

A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DO AR ATMOSFÉRICO

Todos os seres vivos dependem do ar, assim como da água, para sobreviver. Por isso, é
fundamental promover discussões e ações socioambientais voltadas também à preservação
atmosférica, visto que a manutenção da vida no planeta depende do ar sem poluição. O ser
humano, por exemplo, consegue ficar dois dias sem beber água, mas poucos resistem a dois
minutos sem ar (TAN, 2014).
O ar é composto por diferentes gases. A tabela 4 mostra sua composição na atmosfera
terrestre.
Tabela 4. Composição do ar puro.

Gás Fórmula/símbolo Percentual (%)

Nitrogênio N2 78,084

Oxigênio O2 20,9476

Argônio Ar 0,934

Dióxido de carbono CO2 0,0314

Neônio Ne 0,001818

Hélio He 0,000524

Metano CH4 0,0002

Criptônio Kr 0,000114

Hidrogênio H2 0,00005

Xenônio Xe 0,0000087

Fonte: TAN (2014, p. 2)

Analisando a tabela 4, percebemos que, embora o gás oxigênio esteja em menor


quantidade (em relação ao nitrogênio) ele é que garante o funcionamento de grande parte dos
seres vivos. Já o nitrogênio participa do ciclo biogeoquímico, como visto na parte 7 desta
apostila. Sendo assim, é importante que essa mistura gasosa esteja livre de poluentes,
garantindo a qualidade do ar.
No Brasil, os padrões de qualidade do ar são estabelecidos pela Resolução do Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), nº 491 de 2018 (versão atualizada), em seu Artigo 1º.
Já no Artigo 2º, encontramos a definição de padrão de qualidade e de poluente atmosférico,
que estão no excerto a seguir:
1 Poluente atmosférico: qualquer forma de matéria em quantidade, concentração, tempo
ou outras características, que tornem ou possam tornar o ar impróprio ou nocivo à
85

saúde, inconveniente para o bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora ou
prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade ou às atividades normais da
comunidade;
2 Padrão de qualidade: um dos instrumentos de gestão da qualidade do ar, determinado
como valor de concentração de um poluente específico na atmosfera, associado a um
intervalo de tempo de exposição, para que o meio ambiente e a saúde da população
sejam preservados em relação aos riscos de danos causados pela poluição atmosférica
(CONAMA, 2018, p. 1).
Os principais poluentes são emitidos por veículos automotores, atividades industriais,
queimadas, desmatamentos e na produção de energia, sendo eles o monóxido de carbono, o
dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio, compostos contendo chumbo e diversos tipos de
materiais particulados. Sua presença em uma amostra traz indicativos da baixa qualidade do ar
(CONAMA, 2018), que se baseia na análise de sua concentração, quantidade de referência e
níveis de alerta para a poluição, presentes na Resolução nº 491 do CONAMA.
Visto que o ar puro é essencial para os seres vivos, monitorar a quantidade dos
poluentes que são lançados na atmosfera é fundamental, uma vez que eles podem causar
problemas irreparáveis à saúde humana e ao meio ambiente. Por exemplo, episódios com
poluição aguda podem resultar em doenças respiratórias como a pneumonia, bronquite,
problemas dermatológicos, cardíacos e, às vezes, levar à morte. Além disso, causam impactos
na fauna e na flora por meio da formação das chuvas ácidas, de reações fotoquímicas catalisadas
pela luz solar, do aquecimento global, dentre outros fatores (vide parte 7 desta apostila) que se
convertem em problemas sociais e ambientais.
No sentido de mudar esse cenário, a Educação Ambiental no âmbito escolar é vista como
uma possibilidade de promover reflexões acerca da qualidade do ar de forma menos pontual,
ou seja, assume uma perspectiva mais crítica, abrangendo os aspectos locais, regionais e
mundiais, sociais e políticos, científicos e econômicos, psicológicos e culturais (BRASIL, 1999,
2012, 2018).
Nesse ensejo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na área de Ciências da Natureza
e suas Tecnologias para o Ensino Médio (BRASIL, 2018) propõe que os estudantes aprofundem
e ampliem suas reflexões a respeito do meio ambiente e suas relações sociais sob uma
perspectiva de aplicação de conhecimentos e análise de seus efeitos sobre a saúde e a qualidade
de vida das pessoas. Como competência específica, o documento direciona para a mobilização
de estudos referentes a: “[...] poluição, ciclos biogeoquímicos, desmatamento, camada de
ozônio, chuva ácida e efeito estufa; entre outros” (BRASIL, 2018, p. 540).
Entretanto, vale ressaltar que o conhecimento pedagógico deve ser relacionado aos
conteúdos químicos de forma a contemplar o entendimento dos fenômenos ocorridos no meio
ambiente e, dessa forma, propiciar aos educandos a possibilidade de desenvolver habilidades
que são recomendadas pela BNCC como, por exemplo, a de
Analisar a ciclagem de elementos químicos no solo, na água, na atmosfera e
nos seres vivos e interpretar os efeitos de fenômenos naturais e da
interferência humana sobre esses ciclos, para promover ações individuais
e/ou coletivas que minimizem consequências nocivas à vida. (BRASIL, 2018,
p. 541)

Tais habilidades vão ao encontro de uma das competências gerais para docentes
atribuídas pela Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica
(BNC-Formação) (BRASIL, 2019, p. 13):
86

Desenvolver argumentos com base em fatos, dados e informações científicas


para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns,
que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental, o consumo responsável em âmbito local, regional e global,
com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e
do planeta.

Proposta de abordagem
Considerando os direcionamentos da BNCC (BRASIL, 2018), o ensino de Química e a
Educação Ambiental devem estar articulados com as competências gerais da Educação Básica e
com as da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, visando garantir aos estudantes o
desenvolvimento de competência, sendo um exemplo
Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas relações
entre matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que
aperfeiçoem processos produtivos, minimizem impactos socioambientais e
melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e/ou global.
(BRASIL, 2018, p. 539)

Para cada competência, são indicadas habilidades a serem alcançadas. Com isso, analise
as proposições abaixo, INDICANDO a habilidade correspondente a cada uma delas, o conteúdo
e a série (ou as séries) escolar do Ensino Médio, dentre outros questionamentos. Também pode
ser feita uma abordagem crítica da Educação Ambiental, ou seja, aquela que propõe uma
discussão acerca dos problemas sociais e ambientais, em uma perspectiva histórica, econômica,
política e social.
Proposição 1: Queima da cana-de-açúcar (produção sucroalcooleira)
Figura 29. Reportagem sobre a queima da palha da cana

Fonte: Ministério Público Federal.


87

Habilidade da BNCC

Conteúdos químicos

Série do Ensino Médio


Problemas ambientais

Problemas sociais

Por que a queima da palha da


cana causa poluição no ar?
O que pode ser feito para
minimizar os impactos
causados?

Proposição 2: Poema – Chuva ácida


Poema Chuva Ácida
A chuva está destruindo, preciso de uma explicação,
Destruindo tudo que toca, será uma maldição?!

Esta chuva está fazendo mal a população,


Talvez a causa disso seja a composição.

Dióxido de enxofre, de nitrogênio, além da queima do carvão,


Que no mundo causam consequências de montão.

No solo causa erosão,


O que dificulta a plantação,

No ser humano, causa várias dores no pulmão,


Nos animais aquáticos, a extinção.

Essa chuva corrói até construção,


A humanidade é causa da sua própria destruição.
(Theus Gab)

Habilidade da BNCC

Conteúdos químicos
Ano escolar

Problemas ambientais

Problemas sociais
O que causa a chuva ácida?
Explique utilizando seus
conhecimentos químicos.
88

O que pode ser feito para


minimizar os impactos
causados?

Bibliografia Consultada

BRASIL. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei nº 9.795/99, de 27 de abril de 1999.


Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Ambiental: CNE/CP. Brasília, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília:
MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018.
BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA: documento básico. Ministério
do Meio Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação, Coordenação
Geral de Educação Ambiental. 5. ed. Brasília, 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum para Formação de Professores da
Educação Básica: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2019.
CONAMA. Resolução n° 491, de 19 de novembro de 2018. Dispõe sobre padrões de qualidade
do ar. Brasília, 2018. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51058895>. Acesso em: 13 maio 2022.
Ministério Público Federal. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-
imprensa/noticias-sp/a-pedido-do-mpf-justica-proibe-novas-autorizacoes-para-queima-da-
palha-da-cana-na-regiao-de-campinas-sp>. Acesso em: 13 maio 2022.
TAN, Z. Air Pollution and Greenhouse Gases: From Basic Concepts to Engineering Applications
for Air Emission Control. Green Energy e Techonology. Nova York: Springer, 2014.
89

PARTE 14

O CUIDADO COM O SOLO PARA A MANUTENÇÃO DA VIDA

“A fina camada de solo que forma uma cobertura


remendada por sobre os continentes controla nossa
existência e a de todos os outros animais terrestres.
Sem o solo, as plantas terrestres, como as
conhecemos, não cresceriam, e sem plantas,
nenhum animal conseguiria sobreviver.”
(Rachel Carson, 2010)

Nos capítulos anteriores, vimos a importância de estudar os conceitos químicos de


forma contextualizada e na perspectiva da Educação Ambiental. Esse estudo possibilita a
reflexão e a tomada de atitudes para a manutenção dos recursos hídricos e do ar com boa
qualidade. Nesse mesmo sentido, devemos promover também discussões sobre os cuidados
com o solo, pois ao compreendermos a sua função na natureza, poderemos contribuir para sua
proteção de forma mais sustentável.
Rosa e Rocha (2003, p. 8) apontam que
[...] os solos possuem três fases – sólida, líquida e gasosa – cujas proporções
relativas variam de solo para solo e, num mesmo solo, com as condições
climáticas, a presença de plantas e manejo. Sendo que, no geral, na
composição volumétrica porcentual de um solo, que apresenta condições
ótimas para o crescimento de plantas, verificam-se 50% de fase sólida (45%
de origem mineral e 5% orgânica), 25% de fase líquida e 25% de fase gasosa.

Em condições adequadas, o solo propicia ao meio ambiente e às pessoas condições


favoráveis à sobrevivência. Nele, as plantas crescem e disseminam suas sementes, purificam o
ar, ajudam na manutenção das nascentes de água, evitam erosão e são fontes de alimentos para
os animais e para os seres humanos, que usufruem do ar, da água e do solo para a agricultura,
mineração, produção de energia, dentre outras atividades.
Nesse sentido, o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) (BRASIL, 2018),
na atribuição dos Princípios Básicos para a Educação Ambiental, destaca a importância de
“garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não
contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e
internacionais requeridos” (p. 98).
Essa relação entre o solo, a água e o ar também aparece em uma das habilidades
propostas pela Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio – área de Ciências da Natureza
e suas Tecnologias, como aponta o trecho a seguir:
(EM13CNT105) Analisar a ciclagem de elementos químicos no solo, na água,
na atmosfera e nos seres vivos e interpretar os efeitos de fenômenos naturais
e da interferência humana sobre esses ciclos, para promover ações
individuais e/ou coletivas que minimizem consequências nocivas à vida.
(BRASIL, 2018, p. 541)

Com isso, devemos buscar meios para desenvolver ações mais sustentáveis, analisando
e avaliando a relação ser humano-natureza no que tange o uso e apropriação do solo. Uma das
formas mais direcionadas para promover essas ações pode estar nas discussões que buscam
relacionar a ciência, os aspectos ambientais e a sociedade numa perspectiva menos pontual, ou
seja, destacando os problemas sociais e ambientais de forma crítica em espaços formais ou não,
sobretudo na sala de aula.
90

Pensando em propostas que possam ser aplicadas nas aulas de Química do Ensino
Médio, elaboramos a atividade abaixo, buscando nortear outras ações que possam ser
desenvolvidas junto aos estudantes.

Proposta de abordagem
Considerando a perspectiva crítica da Educação Ambiental, as orientações do ProNEA e os
currículos vigentes da Educação Básica (Ciências da Natureza e suas Tecnologias), analise as
proposições abaixo e responda o que se pede:
Hortas escolares e Compostagem
Hortas escolares e compostagem são propostas econômicas e ecologicamente sustentáveis.
A compostagem utiliza os resíduos orgânicos domésticos que seriam enviados para os aterros
sanitários ou descartados de forma inadequada, gerando adubo. O adubo produzido substitui
o uso de agroquímicos, o que promove benefícios para saúde humana (alimentos saudáveis)
e diminui a contaminação do solo.
Geralmente, nas escolas, essa proposta é feita de forma pontual, ou seja, a abordagem é
direcionada apenas para as questões de reciclagem e de alimentação saudável – não que
sejam menos importantes – sem a devida promoção da criticidade, logo sem que se discuta
os problemas ambientais e sociais firmados aos princípios da justiça social e econômica.

1 Supondo que você seja professor em uma escola e tenha que propor uma atividade com
hortas e compostagem:
a) O que você faria para transformar a prática menos pontual em uma ação mais crítica?
b) Destaque os conteúdos químicos que podem ser abordados na proposta e os anos do Ensino
Médio que poderão ser atendidos.

2 Questão do ENEM 2019:


O processo de calagem consiste na diminuição da acidez do solo usando compostos
inorgânicos, sendo o mais usado o calcário dolomítico, que é constituído de carbonato de
cálcio (CaCO3) e carbonato de magnésio (MgCO3). Além de aumentarem o pH do solo, esses
compostos são fontes de cálcio e magnésio, nutrientes importantes para os vegetais. Os
compostos contidos no calcário dolomítico elevam o pH do solo, pois
a) São óxidos inorgânicos
b) São fontes de oxigênios
c) O ânion reage com a água
d) São substâncias anfóteras
e) Os cátions reagem com a água
Considerando que essa questão seja trabalhada por você em sala de aula, quais aspectos da
Educação Ambiental Crítica podem ser aplicados para contextualizar e promover a criticidade?
91

3 Destino dos resíduos sólidos:


Em algumas cidades Brasileiras, os resíduos sólidos são depositados a céu aberto (nos lixões)
sem nenhum controle sanitário ou ambiental, ocasionando problemas sociais e ambientais. Para
fomentar uma reflexão acerca dessa situação, considere o poema de Manuel Bandeira:
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos,

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Desse poema, podemos inferir que os problemas ambientais e sociais têm a mesma origem, ou
seja, em suas raízes percebe-se uma sociedade injusta e desigual (o que está por trás das
questões socioambientais?).
Pensando em futura atuação docente, descreva como você promoveria uma discussão em sala
de aula (aulas de Química) que abrangesse os aspectos da (in)justiça social e da desigualdade.
Considere os itens abaixo:
1 Os danos causados pelo destino inadequado dos resíduos sólidos;
2 As condições subumanas das pessoas que vivem da reciclagem e/ou reaproveitamento
de materiais;
3 A relação entre o espaço destinado às monoculturas no Brasil (produção de alimentos)
e as pessoas que passam fome;
4 Qual o papel da Ciência para promover melhorias nessas situações.

4 Mineração:
Vivenciamos dois acidentes envolvendo a mineração no estado de Minas Gerais, repercutidos
mundialmente. Além dos danos causados ao ambiente natural, vidas humanas, não-humanas e
patrimônio material e imaterial dessas localidades foram devastados.
Promova uma discussão em duplas, com base nas propostas a seguir:
1 Recuperação do solo atingido pelos resíduos da mineração (com acidentes ou não);
2 A relação das questões minerais, tecnologia, desenvolvimento, sociedade e meio
ambiente;
3 A relação histórica da mineração, política, economia e sociedade;
4 O papel da Educação, sobretudo o ensino de Química, para essas questões.
92

5 Monocultura e plantação de soja:


A soja é um grão que movimenta a economia do Brasil. Além do consumo interno, ela é
exportada para outros países. Entretanto, sabemos que a monocultura, ao longo do tempo,
causa o empobrecimento do solo.
Escreva uma reflexão sobre a permanência da monocultura da soja (ou de outros grãos), mesmo
causando o esgotamento do solo. Em seu texto, você pode discutir sobre questões
agroflorestais, da reforma agrária, da pecuária, dos ciclos biogeoquímicos, do uso de
agrotóxicos, da sociedade, dentre outros aspectos.

Bibliografia Consultada

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília:
MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018.
BRASIL. Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA: documento básico. Ministério
do Meio Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação, Coordenação
Geral de Educação Ambiental. 5. ed. Brasília, 2018.
CARSON, R. Os reinos do solo. In CARSON, R.: Primavera Silenciosa. Tradução Claudia
Sant’Anna Martins. 1. ed. São Paulo, 2010, p. 57-64.
INEP. Ministério da Educação. Exame Nacional do Ensino Médio. Disponível em:
<http://portal.inep.gov.br/provas-e-gabaritos>. Acesso em: 13 maio 2022.
ROSA, A. H.; ROCHA, J. C. Fluxo de matéria e energia no reservatório do solo: da origem à
importância para a vida. Química Nova na Escola, n. 5, p. 7-17, 2003.
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