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All content following this page was uploaded by Karine G Fernandes on 18 January 2023.
Química Ambiental
CDU 54
1ª edição
APRESENTAÇÃO
Dividida em quatro módulos - Química das Águas, Química Atmosférica, Química dos
Solos e Sedimentos e Química Ambiental e Educação - constitui um material didático apropriado
tanto para turmas de bacharelado quanto de licenciatura. Aqui, questões históricas e
geopolíticas também foram consideradas, podendo ser aprofundadas, oportunamente, a partir
de reflexões e referências sugeridas.
Os autores.
SUMÁRIO
PARTE 1
para estudo do clima, que pesquisa e divulga regularmente a situação do clima mundial, fazendo
alertas e sugerindo metas, como limitar o aumento da temperatura média em, no máximo 2oC,
nos próximos anos. Obviamente, isto não é fácil, mas considera-se que, se diminuírem os níveis
de emissão de CO2 (proveniente dos transportes e indústrias, por exemplo), isso pode acontecer.
Atualidades
Mais recentemente, vale destacar o Acordo de Paris, que foi firmado em 2015 durante
a 21ª Conferência das Partes (COP21). Tal evento foi promovido por um órgão internacional
criado na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
informalmente conhecida como Cúpula da Terra ou Eco-92 – e realizada no Rio de Janeiro em
1992. Seu objetivo, então, foi a estabilização da emissão de gases do efeito estufa.
Voltando à COP21, foi adotado um novo acordo com o objetivo central de fortalecer a
resposta global às mudanças climáticas, reforçando os papéis de cada país ao lidar com os
impactos decorrentes dessas transformações. O Acordo de Paris, então, foi aprovado pelos 195
países parte da Convenção-Quadro para reduzir as emissões de gases no contexto do
desenvolvimento sustentável, procurando manter o aquecimento global abaixo de 2 oC.
Com a saída de Trump da Casa Branca, um dos primeiros feitos do novo presidente, Joe
Biden, foi aderir novamente ao Acordo, seguindo os compromissos firmados durante a corrida
presidencial em relação ao meio ambiente. A participação dos EUA, segundo maior emissor de
gases do efeito estufa, atrás apenas da China, é entendida como fundamental para se combater
o aquecimento global.
1Tradução nossa: Hoje nós começamos o processo formal de retirada do Acordo de Paris. Os EUA têm
orgulho do histórico como o líder mundial na redução de emissões, promovendo resiliência, crescendo
nossa economia e garantindo energia para nossos cidadãos. Nosso modelo é realístico e pragmático.
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Considerando tudo isso, fica claro que estudar e remediar a poluição ambiental é uma
tarefa complexa e, por isso, é necessário conhecer mais sobre os poluentes (natureza e efeitos),
pois os efeitos nocivos da poluição podem ser tanto diretos – por exemplo, quando a água ou
o ar estão poluídos e as pessoas se intoxicam ao serem expostas – como indiretos – quando
animais consomem alimentos ou água contaminados, atingindo o ser humano por meio da
cadeia trófica – ocorrendo de curto a longo prazo, dependendo da situação.
Então, como são milhares as substâncias químicas consideradas poluentes, elas podem
ser separadas em classes e pelas suas semelhanças, de forma que alguns exemplos importantes
de cada uma podem ser ressaltados:
1 Compostos orgânicos voláteis – VOC (do Inglês “Volatile Organic Compounds”),
hidrocarbonetos e derivados de fácil volatilização. Exemplos: benzeno, tolueno, etil-
benzenos e xilenos;
2 Compostos halogenados, compostos orgânicos que contêm pelo menos um átomo
halogênio. Exemplos: dioxinas policloradas, bifenilas policloradas, trialometanos (que
podem ser encontrados na água de abastecimento) e alguns pesticidas (embora essas
substâncias sejam estudadas em uma classe em separado);
3 Pesticidas: substâncias capazes de matar organismos (insetos, plantas e fungos) ou que
interferem no seu processo reprodutivo. Podem ser de tipos diferentes, dentre os quais
destacam-se:
a. Organoclorados (exemplos: toxafeno, proibido em muitos países);
b. Organofosforados (exemplos: paration e malation);
c. Carbamatos (exemplos: carbofurano);
d. Inorgânicos (exemplos: formulações que contenham os elementos arsênio,
bário, cádmio, cobre, ferro, mercúrio, selênio, tálio e zinco);
4 Elementos tóxicos como os chamados “metais pesados” (exemplos: cádmio, mercúrio
e chumbo) e arsênio;
5 Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos – PAH (do Inglês “polyciclic aromatic
hidrocarbons”), que são hidrocarbonetos que contêm dois ou mais anéis aromáticos
conectados por um par de átomos de carbono. Exemplo: naftaleno;
6 Espécies inorgânicas, que são íons naturalmente presentes no ambiente, mas que em
certas concentrações (geralmente aumentadas pela poluição) causam inconvenientes
para a biota e população. Exemplos: CN-, Cl-, Ca2+, Mg2+, PO43-, NO3-, H+ e S2-.
Aprofundando-nos um pouco na classe dos elementos tóxicos, por definição, metais
pesados são aqueles elementos que apresentam alta massa atômica e densidade. As principais
fontes de contaminação de águas e rios por essas substâncias são indústrias metalúrgicas,
mineradoras, de tintas, cloro e plásticos. De forma recorrente, embora irregular, subprodutos
dessas empresas são descartados em cursos d’água. Outra situação preocupante é o garimpo
ilegal que, na mineração de ouro, utiliza-se do mercúrio, descartando-o também em sua forma
gasosa, altamente tóxica.2
Uma vez no organismo dos animais, o excesso dos metais dessa classe altera células,
processos bioquímicos e afeta o funcionamento de órgãos, podendo provocar incontáveis
malefícios. A principal fonte de exposição do ser humano a metais pesados é de forma indireta,
através da alimentação. Ao longo da vida, seres aquáticos que habitam nesses ambientes
contaminados são expostos aos elementos tóxicos, absorvendo-os pouco a pouco. Nossa
2O mercúrio reage com o ouro, formando uma amálgama. Esse processo, facilitador da mineração, pode
ser melhor visualizado através do link: https://www.youtube.com/watch?v=yScMO7unOFs. Acesso em 15
de setembro de 2021.
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O que acha de fazer uma breve pesquisa sobre o Desastre de Minamata, tragédia ligada ao
envenenamento por mercúrio em uma pequena cidade do Japão?
Dentre todas as classes citadas, não existe a mais importante, mas atualmente a dos
“pesticidas” tem chamado mais a atenção dos químicos analíticos e da imprensa. O trecho a
seguir pode justificar isso: “Desde a sua introdução, os pesticidas sintéticos constituem um
problema, devido ao seu impacto potencial sobre a saúde humana em virtude da ingestão de
alimentos contaminados com esses produtos [...]” (BAIRD, 2002,
grifo nosso).
No caso dos agrotóxicos de forma geral, também podemos
nos voltar brevemente à classe dos herbicidas, cuja contaminação
em águas superficiais vem causando preocupação, como pode ser
visto pelo vídeo acessível pelo código ao lado. Nos capítulos
seguintes, alguns aspectos da química desses poluentes serão
abordados e aprofundados, dependendo do contexto das
discussões.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Acordo de Paris. Brasília. Disponível em:
<https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html>.
Acesso em: 13 maio 2022.
G1. EUA notificam a ONU e confirmam saída do Acordo de Paris. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/11/04/eua-notificam-a-onu-e-confirmam-saida-
do-acordo-de-paris.ghtml>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola, [S.l.], Ed. Especial,
maio 2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso
em: 13 maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
ROCHA, A. F. da. Cádmio, Chumbo, Mercúrio: a problemática destes metais pesados na saúde
pública? 2009. 60 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências da Nutrição, Faculdade de Ciências da
Nutrição e Alimentação, Universidade do Porto, Porto, 2009. Disponível em:
<https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/54676/4/127311_0925TCD25.pdf>. Acesso
em: 13 maio 2022.
THORPE, T. E. Air and Rain. Nature, v. 6, n. 147, p. 325-326, ago. 1872. Springer Science and
Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/006325a0.
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PARTE 2
Por outro lado, as águas dos oceanos já são muito importantes, pois mantêm “vivas”
as fontes de água doce nos continentes. Isso ocorre porque a atmosfera funciona como um
9
"condensador" da água que evapora nos oceanos e que precipita, muitas vezes, nos continentes.
Esse processo natural faz parte do chamado Ciclo da Água ou Ciclo Hidrológico, em que a água
evaporada (dos mares, lagos, rios, pântanos, vegetais e animais), alcança regiões mais frias,
condensa-se, forma as nuvens e, dependendo das condições climáticas, cai na forma de chuvas,
neve ou granizo (precipitação).
Figura 2. Esquema representativo do Ciclo da Água.
1 AS FONTES PONTUAIS são aquelas que geram poluição de forma sistemática e em locais
específicos, tais como: descarga de efluentes a partir de indústrias e estações de
tratamento de esgoto, derramamentos acidentais e atividades de mineração. Nesses
casos, ao se identificar essas fontes, as agências de controle devem realizar testes de
monitoramento ambiental (análises físico-químicas e microbiológicas) para verificar se
estão ocorrendo impactos ambientais e conferir responsabilidade ao agente poluidor,
quando for o caso;
2 Já as FONTES DIFUSAS são aquelas cujas características as tornam de difícil identificação,
pois são temporárias ou intermitentes: escoamento superficial urbano, escoamento
superficial das áreas agrícolas e trabalhos de construção civil.
Entretanto, independente do aporte, existem estratégias viáveis para o controle e
remediação da poluição, que são:
1 Redução na fonte;
2 Tratamento dos resíduos de forma a remover os contaminantes ou, ainda, convertê-los
a uma forma menos nociva. Um exemplo deste caso são os tratamentos de água e de
esgoto (que serão estudados nos capítulos seguintes).
Em relação aos poluentes mais comuns, pode-se afirmar que são muito numerosos e de
tipos diferentes. Para fins didáticos, eles podem ser divididos em classes conforme é
apresentado nos próximos tópicos.
Alguns exemplos são cloreto de polivinila (PVC), tensoativos, DDT, tetracloreto de carbono e
bifenilas policloradas. Em outras palavras, tratam-se de compostos de grande utilização e, por
isso, podem ser encontrados na água de abastecimento, o que justifica o motivo pelo qual
existem limites máximos permitidos para algumas dessas substâncias na Resolução 357 do
CONAMA.
Nas regiões onde ocorre mineração, o contato da água das chuvas com os minérios pode
levar a solubilização de metais presentes nos minérios. Essas reações são chamadas de
"drenagem ácida de minas" e um exemplo é mostrado na reação a seguir:
Essa reação ilustra a dissolução da pirita (FeS 2), liberando o ferro na forma iônica e
gerando um resíduo ácido. Numa outra situação, o pH ácido da água das chuvas (quando
significativamente ácido) pode favorecer a dissolução dos minérios com os quais a água entra
em contato. Sendo assim, a drenagem ácida de minas pode, independente do processo, carrear
metais para fora da mina, os quais atingem rios e/ou solos, podendo até mesmo ocasionar
contaminação de lençóis freáticos.
Além disso, destacam-se ainda reações envolvendo compostos nitrogenados, as quais
podem levar à formação de nitrito, representada abaixo, ou n-nitrosaminas.
Os íons nitrato, em água, podem ser convertidos em nitrito (dependo das condições) e
isso pode ser prejudicial para as pessoas que possuem metemoglobinemia, também chamada
de "doença do bebê azul". Nessas pessoas, a hemoglobina é facilmente oxidada pelos nitritos e,
por isso, a água potável não deve ter níveis significativos de nitrato e nem de nitrito.
Além disso, o nitrato também pode reagir com algumas aminas e originar as n-
nitrosaminas, como é o caso da n-nitrosodimetilamina. Esse tipo de composto favorece a
ocorrência de câncer de estômago. Consequentemente, o nível de nitrato e nitrito também deve
ser controlado nos alimentos e demais bebidas.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Brasil Escola. Ciclo da água. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-
agua.html>. Acesso em: 13 maio 2022.
BRINI, E. et al. How Water’s Properties Are Encoded in Its Molecular Structure and Energies.
Chemical Reviews, v. 117, p. 12385-12414, 2017.
GILL, S. J.; WADSO, I. Flow-microcalorimetric techniques for solution of slightly soluble gases:
Enthalpy of solution of oxygen in water at 298.15 K. The Journal of Chemical
Thermodynamics, v. 14, p. 905-919, 1982.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
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PARTE 3
Além disso, a diversidade das indústrias existentes aumenta, ainda mais, a variabilidade
dos contaminantes aportados nos corpos de água. Logo, torna-se praticamente impossível a
determinação sistemática, em tempo relativamente curto, de todos os poluentes que possam
estar presentes nas águas. Por outro lado, existem parâmetros de qualidade da água que levam
em conta os poluentes mais representativos e que podem ser monitorados mais facilmente para
uma avaliação regular e adequada, principalmente aquelas destinadas ao abastecimento
público.
1 Parâmetros físicos
Dentre os parâmetros físicos, a temperatura, a condutividade elétrica, o teor de
sólidos, cor e turbidez são os geralmente monitorados e avaliados nas amostras de água. A
seguir é apresentada uma breve descrição de cada um desses parâmetros, acrescida de algumas
informações experimentais relacionadas aos procedimentos de análise.
1.4 Cor
Assim como a condutividade elétrica, essa propriedade se deve às substâncias
dissolvidas na água que geram a sua cor e que variam de lugar para lugar (características da
fonte). Então, conforme as ações antropogênicas aumentam, aumenta também a quantidade
de substâncias na água. Consequentemente, ocorre a alteração na cor natural.
A medida da cor emprega métodos espectroscópicos e existem equipamentos
configurados especificamente para isso, como é o caso do Fotocolorímetro da marca ALFAKIT.
1.5 Turbidez
É um parâmetro que representa o quanto uma amostra de água interfere na luz que
passa por ela. Está correlacionada com os parâmetros anteriores (teor de sólidos e cor), sendo
importante porque as águas turvas desfavorecem a fotossíntese de vegetações submersas.
Logo, seja para o consumo, seja para a preservação da biota aquática, as águas devem ter baixa
turbidez (na verdade, espera-se que a turbidez seja não significativa ou baixa).
Para essa medida existem equipamentos portáteis, como é o caso de sensores
multiparâmetros que possibilitam realizar diferentes determinações simultaneamente
(temperatura, condutividade, turbidez e pH). Ainda assim, o equipamento destinado
especificamente a esta finalidade é o turbidímetro, sendo a unidade de medida a unidade
nefelométrica de turbidez (NTU).
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2 Parâmetros químicos
Diversos parâmetros químicos são monitorados a fim de se atestar a segurança da água
de abastecimento e também identificar contaminações nas águas naturais. Esses parâmetros
são: alcalinidade, dureza, pH, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, demanda
química de oxigênio, série de nitrogênio, fósforo total, surfactantes, óleos e graxas, cianetos,
fenóis e demais contaminantes orgânicos, ânions, íons metálicos, arsênio e boro. A justificativa
para a monitoração de tais parâmetros é o foco deste texto e, a seguir, são apresentadas
algumas das suas informações mais relevantes.
alcalinas, devido a pouca quantidade de íons H+, o pH é mais alto e a dureza é, geralmente,
“moderada” a “muito dura”. Por outro lado, “alcalinidade” não é sinônimo de pH, a qual
representa a capacidade de neutralizar ácidos. Isso porque esta capacidade envolve não apenas
os íons H+ (mensurados nas medidas de pH), mas também os íons CO32- e HCO3-.
Com relação à dureza, pode-se dizer que esta se refere ao teor de cátions cálcio e/ou
magnésio, podendo ser dureza de cálcio, dureza de magnésio e dureza total (somatório das
concentrações de íons Ca 2+ e íons Mg 2+).
Além disso, observe que determinados parâmetros não são do interesse apenas dos
químicos e profissionais da área. Uma forma de fazer isso é observar as informações presentes
nas embalagens de águas minerais, que trazem características físico-químicas discutidas nesta
aula como o pH, a temperatura da água na fonte, a condutividade elétrica, bem como alguns de
seus componentes químicos.
Figura 4. Exemplo de rótulo de água mineral comercial e as informações disponibilizadas.
2 Tubulações de água (domésticas ou industriais) podem ser entupidas (no caso de águas
duras) ou ter elementos metálicos lixiviados se forem de metal (no caso de águas mais
ácidas);
3 Níveis fora dos padrões deixam a água com sabor desagradável e podem ter efeitos
laxativos.
2.5 Ânions
Ânions como os cloretos (Cl-) e os sulfetos (S2-) constituem sais presentes na água, mas
cujas concentrações podem ser aumentadas com a poluição. No caso da poluição doméstica,
ocorre um aumento principalmente nos teores de Cl-, enquanto nas industriais podem ocorrer
aporte de Cl- e de S2-. Por isso, os teores desses ânions também são parâmetros importantes para
se verificar a qualidade da água.
2.7 Surfactantes
Os surfactantes estão presentes nos produtos conhecidos como detergentes, podendo
ser aniônicos (possuem grupamentos funcionais que, em solução aquosa, libera ânions - como
o dodecanoato de sódio), catiônicos (possuem grupamentos funcionais que, em solução aquosa,
libera cátions - como é o caso dos sais de amônio quaternário), não iônicos (possuem grupos
sem carga, como os álcoois de cadeia longa) e anfóteros (quando, em solução aquosa, exibem
características aniônicas ou catiônicas a depender do pH da solução).
Embora exista a tendência de se usar principalmente surfactantes biodegradáveis, essas
substâncias diminuem a tensão superficial da água e, por isso, geram espuma quando presentes.
Isso pode causar inconvenientes para a biota, atrapalhando o seu ciclo de vida natural.
Para a quantificação de surfactantes, geralmente, são empregados métodos
espectrofotométricos de análise.
Você saberia citar o exemplo de algum fenol que pode estar presente na água de
abastecimento?
3 Parâmetros biológicos
A presença de microrganismos patogênicos na água indica não apenas sua
contaminação como a inadequação da mesma para o consumo. Por isso, as legislações
estabelecem o controle de COLIFORMES (fecais e totais) e ESTREPTOCOCOS totais. Os coliformes
são bactérias encontradas principalmente nos intestinos de animais de “sangue quente” e, por
isso, não representam perigo à saúde, necessariamente. Acontece que nesta classe encontra-se
a cepa da Escherichia coli, causadora da cólera (doença gastrointestinal). Da mesma forma, os
estreptococos totais correspondem tanto a bactérias patogênicas como não patogênicas.
Dentre essas últimas, elas podem ser separadas em subgrupos, visto que podem causar
sintomas diferentes.
Que tal pesquisar também sobre a determinação analítica de coliformes? Como esse tipo
de análise não contempla o cenário usual dos laboratórios químicos, tente buscar um
vídeo que exemplifique ou complemente a sua pesquisa teórica!
4 Parâmetros ecotoxicológicos
São ensaios bioquímicos realizados com certos microrganismos e que permitem
determinar o efeito deletério de agentes físicos ou químicos, quando presentes na água,
extrapolando-se os resultados para os diversos organismos presentes no meio aquático.
Esse ensaio pode ser feito com o microcrustáceo Ceriodaphnia dubia, por exemplo,
que é colocado em contato com a água em avaliação. Os efeitos observados definem o grau da
toxicidade, sendo AGUDA ou CRÔNICA. A toxicidade é considerada aguda quando a observação
principal é a morte dos organismos em até 96 horas, enquanto a crônica tem como resposta
mudanças comportamentais, alterações fisiológicas e reprodutivas. Essas alterações podem
ocorrer num período equivalente a 1/10 do ciclo vital até a totalidade da vida do organismo.
Logo, a água usada para consumo não pode apresentar toxicidade alguma quando da realização
deste tipo de teste.
Complementamos que, ainda que os testes com crustáceos sejam mais difundidos e
utilizados há mais tempo que os demais, ensaios que utilizam bactérias fotoluminescentes Vibrio
fischeri estão sendo continuamente aperfeiçoados. Embora ainda não haja unanimidade no
campo, tem sido possível observar que tais organismos-teste vêm apresentando maior precisão
de resposta em virtude do avanço da microbiologia e da engenharia genética.
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Você sabia?
Segundo a ONU, já em 2006, a pecuária foi considerada o setor que mais polui
mananciais e corpos d’água. Apenas ela é responsável por consumir, em relação ao gasto global
de água, mais de 90% do montante. Além da água, terra e alimentos necessários para manter
os animais terrestres para abate, são produzidas quantidades expressivas de dejetos, bem como
são emitidos poluentes que se dispersam pelo ar, água e solo, direta ou indiretamente, como
veremos a seguir.
Em geral, as duas formas de poluição das águas por esse meio são pelo volume de
dejetos e refugo produzidos e pelo escoamento de fertilizantes, pesticidas e demais aditivos
utilizados nos cultivos para a ração dos animais. Em termos numéricos, ao relacionarmos a
produção de dejetos, uma granja pode se igualar ao produzido por uma cidade pequena. Por
exemplo, apenas no estado de Santa Catarina, os dejetos e efluentes não tratados da criação de
suínos chegam a 75 milhões de litros por dia.
Um grande problema envolve seu descarte no ambiente sem tratamento. Quando
despejados em água, dejetos, sangue, gordura, vísceras e restos de carcaças carregam consigo
níveis elevados de nitrogênio, fósforo, antibióticos e demais agentes utilizados na criação e
abate dos animais, contaminando águas superficiais, subterrâneas e, inclusive, encanadas. Além
da problemática da eutrofização, o descarte também está envolvido com cepas de bactérias
resistentes a antibióticos, criação de zonas oceânicas mortas, degradação de recifes de coral e
problemas de saúde pública.
Do ponto de vista da sustentabilidade, a prática pecuária atual precisa ser modificada e
melhorada. Independentemente de hábitos e culturas, vale a pena avaliar as fontes de alimentos
que temos escolhido, seja pensando em aspectos de saúde pública, éticos ou mesmo
ambientais.
Bibliografia Consultada
PARTE 4
Devido à poluição crescente das águas naturais, principalmente nas fontes próximas aos
grandes centros, existe a necessidade de submeter a água a etapas de purificação (ou
tratamento) antes de ser usada no abastecimento público. Nesta aula serão abordadas as
principais etapas do tratamento realizado no Brasil, além de serem apresentadas algumas
questões socioambientais.
Fonte: Cesama.
Na hidrólise do Al2(SO4)3, cuja reação pode ser vista acima, forma-se o hidróxido de
alumínio, que é um sólido de caráter gelatinoso e que promove a agregação das partículas de
sujeira.
4.3 Floculação
Essa etapa ocorre em tanques menores, onde válvulas provocam uma suave turbulência
na água. As partículas de sujeira desestabilizadas pela coagulação colidem umas com as outras
e vão se unindo, formando agregados maiores (flocos), mais pesados e que, com o tempo,
decantam e podem ser removidos na decantação.
4.4 Decantação
É um processo de separação física das partículas em suspensão, clarificando a água e
reduzindo em grande porcentagem as impurezas presentes originalmente. O material
sedimentado é chamado de LODO e constitui um resíduo gerado no tratamento da água, que é
composto por matéria orgânica, hidróxido de alumínio e demais impurezas, que precisam ser
retirados e levados para tratamento antes de descartá-los. O tratamento é feito em uma "linha
à parte", chamada de ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE SÓLIDOS, que será comentada
posteriormente.
4.5 Filtração
Ainda que visualmente límpida, a água geralmente apresenta poluentes após a etapa
de clarificação. Esses poluentes são partículas muito pequenas, substâncias dissolvidas e
microrganismos. Por isso, ainda existe uma etapa de filtração, realizada em um filtro com
27
diferentes camadas filtrantes onde devem ficar retidos todos os contaminantes que ainda
estiverem presentes.
4.6 Desinfecção
Como a filtração pode não remover todos os microrganismos, na etapa de desinfecção
é feita uma remoção efetiva desses contaminantes. Para tanto, existem diversos processos que
podem ser utilizados: cloração, adição de cloraminas, ozonização e irradiação ultravioleta. No
Brasil, a cloração é o processo mais comum, podendo ser adicionado gás cloro (Cl2 (g)) ou sais de
hipoclorito à água.
Quando se adiciona gás cloro à água, forma-se o ácido hipocloroso (HClO) que, ao sofrer
hidrólise, origina um sal de hipoclorito, conforme as reações abaixo.
Vale ressaltar que tanto as espécies HClO como ClO- são bactericidas e, portanto,
qualquer um dos processos acima são eficientes. Assim, os métodos de cloração são confiáveis,
seguros (principalmente quando se utiliza a adição de hipoclorito), simples e de baixo custo.
Além disso, a cloração pode ser feita de modo que fique uma quantidade residual de cloro (nas
formas de ácido hipocloroso ou hipoclorito) na água de abastecimento. Isso aumenta a
segurança microbiológica da água devido ao fato de que podem ocorrer pontos de
contaminação da água nos sistemas de transporte, distribuição e armazenamento.
Por outro lado, os processos de cloração podem levar à formação de outras espécies
químicas (além de HClO e ClO-) indesejáveis, que são os TRIALOMETANOS (THM), compostos
com a fórmula geral CHX3, em que X pode ser cloro, bromo ou iodo. Dentre eles, a preocupação
principal na desinfecção da água é a formação do clorofórmio (CHCl 3), suspeito de ser
cancerígeno para o fígado, podendo também causar efeitos nocivos na reprodução e no
desenvolvimento do ser humano.
Reflexão
É provável que você tenha uma boa ideia sobre as problemáticas da escassez hídrica e,
por conta disso, procura diminuir o uso direto e desnecessário ao fechar a torneira para escovar
os dentes ou reduzir o tempo do banho. O que muitas pessoas não pensam, porém, é na
29
A partir dessa breve provocação, que tal fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre as
questões econômicas, geopolíticas e ambientais em torno do tema da escassez hídrica?
Compartilhe com seus colegas de turma, também, a pegada hídrica de outros alimentos e
objetos utilizados no cotidiano, refletindo sobre ações que podem ser tomadas visando o tema.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Cesama. Missão, Visão, Valores, Atribuições E Números. Disponível em:
<http://www.cesama.com.br/a-cesama/atribuicoes-e-numeros-2>. Acesso em: 13 maio 2022.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
30
Instituto do Meio Ambiente. Resíduo Gerado por Estação de Tratamento de Água vira Tijolos
Cerâmicos. Disponível em: <http://www.ima.al.gov.br/residuo-gerado-por-estacao-de-
tratamento-de-agua-vira-tijolos-ceramicos/>. Acesso em: 13 maio 2022.
Guia do estudante. Hidrosfera: Escassez hídrica no mundo. Disponível em:
<https://guiadoestudante.abril.com.br/curso-enem-play/escassez-hidrica-no-mundo-onde-a-
falta-de-agua-ja-provoca-crise/>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
Prefeitura Municipal de Pomerode. Tratamento de Água. Disponível em:
<http://www.samaepomerode.com.br/index.php?pg=1052>. Acesso em: 13 maio 2022.
ROCHA, J. C; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
31
PARTE 5
O esgoto doméstico pode ser considerado o principal efluente gerado pelas atividades
humanas e, por isso, é necessário que seja tratado antes do seu lançamento nos corpos de água.
Conforme abordado na parte 2, o excesso de matéria orgânica na água promove efeitos
indesejáveis para a biota e preservação ambiental. Sendo o esgoto doméstico um efluente rico
em matéria orgânica, pode-se dizer que esse material, sem tratamento, provoca como efeitos
negativos na água em que é lançado: a) diminuição do O2 dissolvido e b) aumento na emissão
de gases tóxicos.
Felizmente já existem tecnologias disponíveis para realizar o tratamento do esgoto, seja
em pequena escala (para empresas, por exemplo), seja em grande escala (cidades). Entretanto,
independentemente da tecnologia (ou método), todas elas têm como etapa fundamental a
decomposição da matéria orgânica, existindo três possibilidades básicas: tratamentos aeróbios,
anaeróbios e “mistos” (processo aeróbio combinado a um anaeróbio). Nesta aula, serão
considerados aspectos gerais sobre a química dos esgotos e serão apresentados os princípios
das principais tecnologias.
50 46
45
40
35
30
25
20 18
15
15 13
10 8
5
0
Entretanto, em relação ao tratamento, apenas sete municípios tratam 100% dos seus
esgotos, sendo 55,6% a média de tratamento para o conjunto amostrado. Logo, mesmo sem
considerar que existam dois municípios que não tratam nenhuma porcentagem de seus esgotos,
há muito que melhorar nesse quesito.
Juiz de Fora é um exemplo de município que, segundo dados de 2020, tratava apenas
10% do seu esgoto. Grande parte dos resíduos são lançados diretamente nas águas do Rio
Paraibuna e demais córregos que perpassam a cidade. Porém, de acordo com a companhia de
saneamento da cidade, obras vêm sendo feitas desde 2013 visando a despoluição dos corpos
d’água e a construção de novas ETEs, além de ser realizado um trabalho de conscientização junto
à população. Ainda segundo as informações encontradas na página da companhia, tal
investimento pode ser associado à manutenção e melhora da saúde pública, uma vez que a cada
R$1,00 destinado ao saneamento, o país economiza cerca de R$4,00 em saúde.
Figura 9. Rio Paraibuna.
Fonte: Cesama.
33
dispositivo (aerador) que tem a função de aumentar a oxigenação da água, sendo o objetivo
catalisar o processo. Enquanto a lagoa facultativa é mais simples e adequada para pequenas
comunidades, a lagoa aerada faz uso de recursos adicionais, que aumentam os custos, mas que
permitem tratar em menos tempo uma quantidade maior de esgoto.
Com relação aos sistemas de lodo ativado, a ETE é composta basicamente por um
REATOR, um DECANTADOR e um SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DE LODO, conforme ilustrado
abaixo.
Figura 14. Esquema ilustrativo de uma ETE baseada no uso de lodo ativado.
Por fim, não existe ainda um sistema ideal que consiga conciliar todos os aspectos
técnicos, estruturais e de custo para uma ETE. O mais importante, assim, é que algum
tratamento seja empregado a fim de se preservar as características naturais dos corpos de água
onde os esgotos são lançados. Vale enfatizar que, muitas vezes, são nesses mesmos corpos onde
se coleta a água para o abastecimento. Além disso, o lodo gerado nos diferentes processos,
assim como o lodo de uma ETA, precisa ser estabilizado antes de uma destinação final, como
descarte ambientalmente adequado ou matéria-prima na agricultura (adubo).
Você sabia?
Segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, o país conta com 310 curtumes,
sendo que a cada mês são exportados milhões de metros quadrados de couro. 3 Seu processo de
beneficiamento envolve etapas com alto potencial poluidor através da geração de resíduos
sólidos, atmosféricos e hídricos. Estima-se que, para cada tonelada de pele utilizada, são
produzidos 200 kg de couro e 600 kg de resíduo como pelos, colágeno, graxas naturais, tecido
muscular, aparas, raspas e lodos ativados. Já em relação aos resíduos atmosféricos, estes são
gerados pela decomposição da matéria orgânica de carcaças, gorduras e aparas de pele não
curtida, o que produz gases como o ácido sulfídrico e amônia, além de compostos voláteis de
solventes orgânicos e partículas de água em suspensão (aerossóis). Essas emissões podem afetar
a qualidade de vida dos trabalhadores, da população em torno do curtume e, também, o meio
ambiente.
Figura 15. fluxograma do processo de produção do couro denominado wet blue.
Fonte: FARIA.
A respeito dos resíduos hídricos, dentre as razões para o potencial poluidor da indústria
curtidora vir crescendo nas últimas décadas, está a grande quantidade de água utilizada,
estimada em 17.800 L por tonelada de couro, e pelo uso de metais pesados no processo
produtivo, o que pode acarretar a grave contaminação de águas superficiais, subterrânea e do
solo. Tais efluentes possuem quantidades significativas de compostos de fósforo, nitrogênio
amoniacal, orgânicos (clorofórmio, diclorobenzeno, diclorometano, éter, etilbenzeno, fenol,
naftaleno, pentaclorofenol, tolueno e triclorofenol), sais (cianeto e sulfatos) e metais (alumínio,
chumbo, cobre, cromo trivalente, manganês, níquel, titânio, zinco e zircônio), sendo esses os
principais exemplos. Sendo assim, devem ser destinados a aterros especializados, uma vez que,
com exceção dos metais, levam de 300 a 500 anos para serem degradados.
Estima-se que um curtume que beneficie 3.000 peles por dia produza efluentes
equivalentes a uma cidade de 85 mil habitantes. Dentre os impactos bióticos estão o potencial
envenenamento dos peixes e comprometimento da biodiversidade local com risco de extinção
da fauna e da flora. Devido a tudo isso, o setor coureiro pode ser considerado um dos segmentos
mais poluidores.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Cesama. Despoluição do Rio Paraibuna. Disponível em: <http://www.cesama.com.br/a-
cesama/despoluicao-do-rio-paraibuna>. Acesso em: 13 maio 2022.
FARIA, W. D. B. de. Curtume: uma análise de impactos físicos, bióticos e socioeconômicos.
2016. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Licenciatura em Química, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Apucarana, 2016.
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001.
Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio
2022.
GUIMARÃES, J. R.; NOUR, E. A. A. Tratando Nossos Esgotos: processos que imitam a natureza.
Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio 2001. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
JARDIM, W. F. Introdução à Química Ambiental. Química Nova na Escola. Ed. Especial, maio
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/introd.pdf>. Acesso em: 13
maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
OLIVEIRA, G. et al. Ranking do Saneamento: Instituto Trata Brasil. São Paulo, 2019. Disponível
em: <http://tratabrasil.com.br/images/estudos/itb/ranking-2019/Relat%C3%B3rio_-
_Ranking_Trata_Brasil_2019_v11_NOVO_1.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
PITA, F. A. G. Armazenamento e Tratamento de Resíduos: tratamento de águas residuais
domésticas. 2. vol., Universidade de Coimbra, 2002.
38
PARTE 6
Você já ouviu falar sobre a Amazônia ser o pulmão do mundo? O que acha de fazer uma
breve pesquisa para saber se essa informação está correta?
4 Importância da atmosfera
Com base nas informações anteriores, fica implícita a enorme importância que a
atmosfera terrestre tem para o equilíbrio ambiental. Ainda, pode-se listar alguns aspectos
específicos que caracterizam as chamadas "funções protetoras" da atmosfera:
1 Evita os impactos de corpos celestes (meteoros);
2 Mantêm parte do calor solar, impedindo sua imediata irradiação para o espaço (efeito
estufa benéfico);
42
5 Troposfera
Sendo a camada mais importante para a sobrevivência dos seres aeróbios, esta aula irá
enfatizar e detalhar mais as questões relacionadas à troposfera. Nesse contexto, vale ressaltar
que a sua composição química conta não apenas com gases, mas também com líquidos e sólidos
em suspensão. Estes últimos tem origem natural (vulcões, queimadas) e, também,
antropogênica. Além disso, existem milhares de constituintes-traço que participam de
incontáveis interações químicas. Logo, a troposfera também pode ser entendida como um
"reator químico". Essas características serão descritas nos itens seguintes.
https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2016/03/ciclo-do-nitrogenio.jpg.
45
Fonte: Wikipédia.
6 Considerações finais
Na atmosfera terrestre existem diversos gases que se distribuem em camadas,
protegendo a vida do planeta de formas diferentes e complementares. Dentre esses gases,
encontram-se também diversos contaminantes, sejam gases ou partículas que causam desde
desequilíbrios no clima a problemas de saúde.
As substâncias que contaminam a atmosfera são, em sua maioria, provenientes da
poluição e, por isso, existe uma demanda global por POLÍTICAS e TECNOLOGIAS de controle e
minimização da poluição atmosférica. Enquanto as principais legislações brasileiras serão
mencionadas na parte 7, as tecnologias (técnicas analíticas) não serão o foco das discussões
desta disciplina.
Entretanto, considerando que a Organização Mundial da Saúde estima que mais de 1,1
bilhão de pessoas vive em áreas urbanas onde o ar exterior não é saudável, vale destacar quais
seriam alguns dos meios de minimização da poluição, aos quais o profissional da química deve
dar apoio e incentivo:
1 Sistemas de Créditos de Poluição;
2 Lâmpadas de iluminação mais eficientes;
3 Uso mais frequente de gás natural;
4 Uso de energia renovável.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Liz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
BARRY, R. G.; CHORLEY, R. J. Atmosfera, Tempo e Clima. Tradução de Ronaldo Cataldo Costa.
9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
46
MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 11. ed, São Paulo: Thomson Learning, 2007.
MOZETO, A. Química Atmosférica: a química sobre nossas cabeças. Química Nova na Escola.
Ed. Especial, maio 2001.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
ROCHA, J. C; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
Wikipédia. Ciclo do Enxofre. Disponível em:
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e1/Ciclo_do_Enxofre_(Sulfur_Cycle).pn
g>. Acesso em: 13 maio 2022.
47
PARTE 7
Ao interagir com o meio ambiente, cada vez mais o ser humano tem produzido resíduos
capazes de poluir o ar. Dentre os efeitos da poluição está o aumento de doenças respiratórias,
a devastação de áreas florestadas, a deterioração de patrimônio histórico e cultural e a mudança
climática. Nessa aula veremos com mais detalhes os principais problemas relacionados à
atmosfera, como a chuva ácida, o efeito estufa e a depleção da camada de ozônio. Além disso,
vamos trabalhar uma das interpretações por trás das recentes queimadas na Floresta Amazônica
e bioma Pantanal.
1 Chuva ácida
É possível que você já tenha ouvido falar do município de Congonhas, localizado no
interior de Minas Gerais e famoso pela expressiva arte barroca encontrada na cidade. Dentre
tantas obras criadas por Francisco Antônio Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, é lá que se
encontrava o conjunto de esculturas dos doze profetas, posicionado desde o início do século XIX
no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.
Figura 17. Disposição dos doze profetas no adro da Igreja.
natureza. Acontece que, diferentemente do CO2, óxidos de enxofre (SO2 e SO3) e de nitrogênio
(N2O, NO e NO2) resultantes de ações antropogênicas produzem ácidos fortes, fazendo o valor
do pH cair até 2,2, o que torna a ação da chuva altamente nociva.
Reações dos compostos com água:
2 Química do Ozônio
A atmosfera é lugar propício para a ocorrência de reações fotoquímicas, que acontecem
quando uma molécula absorve um fóton de luz. Para que haja essa absorção, o fóton deve
possuir comprimento de onda (λ) específico de acordo com a molécula. Por exemplo, moléculas
de O2 e N2 filtram a radiação solar cujo λ é menor que 220nm. Já radiações com valores de λ
entre 220 nm e 320 nm são filtradas principalmente pela molécula de ozônio (O3).
Além disso, quando a energia dos fótons é da mesma ordem de grandeza das entalpias
de reações gasosas, os fótons da luz visível ou UV são capazes de viabilizar a dissociação de
moléculas na atmosfera. Essas reações são chamadas de fotólise, fotodissociação ou
decomposição fotoquímica. Por outro lado, quando a energia dos fótons não é suficiente, as
moléculas com as quais interagem absorvem o excesso de energia, reemitindo-a posteriormente
como luz ou calor.
Nesse contexto, vale ressaltar que moléculas de O3 são formadas e destruídas em
reações na estratosfera. Sua importância, assim, envolve a proteção exercida por essas
moléculas ao absorverem parte da radiação UV.
Embora sejam naturais e espontâneos, esses processos podem ser catalisados,
favorecendo as reações de dissociação. Essas espécies, também denominadas catalisadoras da
depleção da camada de ozônio, são altamente reativas devido a um elétron desemparelhado,
49
como por exemplo OH•, CH3•, CF2Cl•, ClO• e NO•. A partir de modificações humanas, o que
envolve indústrias, manejo da agricultura e pecuária, alguns dos poluentes atmosféricos
(simplificados aqui por "X") catalisam essas reações, degradando a camada de ozônio.
Por outro lado, o ozônio presente na troposfera, camada abaixo da estratosfera onde a
camada de ozônio se encontra, age de forma diferente. Óxidos de nitrogênio, cujas grandes
quantidades também estão relacionadas à ação humana, têm papel fundamental na formação
do ozônio. Como é possível notar a partir das reações abaixo, quando as taxas de formação e
destruição de NO2 forem iguais, os níveis de O3 tendem a permanecer em níveis normais, já que
serão consumidos na mesma velocidade daquela em que são gerados.
6Esse tipo de problema já ocorreu na Europa e nas Américas diversas vezes, sendo que um dos episódios
mais relevantes foi retratado em um dos episódios da série The Crown, na 1ª temporada.
50
3 Efeito estufa
O efeito estufa é um fenômeno natural que se baseia no fato de que o planeta Terra
está em balanço térmico em relação à sua vizinhança, ou seja, ele irradia energia para o espaço
da mesma forma que absorve energia do Sol. A radiação emitida como luz visível, ao atingir a
troposfera, entra em contato com gases atmosféricos como o CO 2, vapor de água e o metano
(CH4). Essas moléculas, que vibram em frequências correspondentes à radiação infravermelha,
possuem a capacidade de captar e refletir parte da radiação em forma de calor, como é
representado na Figura 19.
Cerca de 70% da energia solar é capaz de atravessar a atmosfera, enquanto 30% será
refletida de volta ao espaço. A parte absorvida auxilia na manutenção e equilíbrio da
temperatura da superfície terrestre, o que inclui o solo, oceanos e a própria atmosfera. É dessa
forma que, em condições normais, o efeito estufa é benéfico, pois sem ele a temperatura
ambiente seria baixa e inviável para nossa vida na Terra.
Da mesma maneira que ocorre com os demais fenômenos apresentados nesta aula, a
modificação da composição e concentração de gases na atmosfera devido à ação antropogênica
acarreta diversos desequilíbrios ambientais. Por exemplo, o nível de CO2 atmosférico, um dos
gases do efeito estufa, tende ao crescimento desde o final do século XVIII, coincidente ao
progressivo uso de combustíveis fósseis. Estima-se que os níveis atuais de CO2 dobrem entre
2050 e 2100, aumento que resultará na elevação média da temperatura global de 1 para 3 OC.
Alguns dos efeitos preocupantes esperados a partir do aumento da temperatura média
global são o alagamento de regiões costeiras devido ao derretimento do gelo das calotas
polares; a depender da região, longos períodos de secas ou devastações por enchentes;
repercussões negativas na produção de alimentos; extinção de espécies animais e vegetais;
ocorrência de epidemias por doenças transmissíveis por insetos, dentre outros.
51
Fonte: FIESP.
Além do dióxido de carbono, alguns gases relacionados ao efeito estufa são o CH4,
ozônio (O3), óxido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonetos (HFCs) e
perfluorcarbonetos (PFCs). É importante compreender que cada um deles é capaz de reter uma
certa quantidade de radiação, podendo uma molécula chegar a reter até 22.000 vezes mais
radiação que a de CO2. A importância em se observar a emissão de CO2, então, ocorre por este
ser o gás de maior concentração na atmosfera, causando grande impacto.
O metano, por exemplo, é um gás cuja emissão por meios antrópicos corresponde a 70%
do total de emissões, sendo seu potencial de aquecimento 20 vezes maior que o do CO 2 e seu
tempo médio de permanência na atmosfera de, pelo menos, 8 anos. Grande parte de sua
produção ocorre em pastos de criação de ruminantes, uma vez que o processo de digestão
fisiológica do capim resulta nessa emissão. Cada boi libera uma média de 58 quilos de metano
por ano. Multiplicando esse valor por cerca de 170 milhões de cabeças de gado, apenas no Brasil
a emissão anual é de aproximadamente 10 milhões de toneladas.
Já o óxido nitroso é comumente produzido a partir de águas poluídas e da
decomposição natural de fertilizantes nitrogenados. Seu potencial na retenção de calor é cerca
de 270 vezes maior que do CO2 e seu tempo de permanência na atmosfera situa-se entre 120 e
175 anos. Hoje, o N2O alcançou concentração próxima a 312 ppb (partes de bilhão) na
composição da atmosfera, o que representa taxa anual de crescimento de 0,25%.
brasileira quanto mundial. Em 2018, a taxa média de desmatamento da região amazônica nos 3
anos anteriores foi 65,8% maior que a registrada em 2012, sendo que cerca de 20% da cobertura
florestal já foi perdida.
Gráfico 2. Desmatamento na Amazônia e tendência dos últimos anos.
Fonte: INPE.
proteína também é manifestada no uso das terras, sua acidificação, no uso de água e na
eutrofização de recursos hídricos.
Gráfico 3. Série histórica dos focos detectados pelo satélite, em km², no bioma Pantanal.
Fonte: INPE.7
4 Legislação
A crescente ação humana sobre o meio ambiente nos últimos anos acabou por resultar
em um quadro de insustentabilidade, ilustrado pelos problemas ambientais trazidos aqui.
Apenas a partir da década de 1960, em âmbito mundial, começaram a surgir normas a fim de
tornar a ação humana compatível com a proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, a Lei nº
7 Aproveite para checar demais dados fornecidos pelo Instituto através do link
http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal-static/estatisticas_estados/.
8 Essas informações foram retiradas de relatórios fornecidos pelo IBGE. Caso tenha interesse em saber
mais, a plataforma disponibiliza dados sobre o abate de animais no Brasil desde 1997 através do site
https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/abate/tabelas.
54
6.938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, foi a
primeira votada e aprovada no Brasil.
Hoje, a legislação ambiental brasileira é considerada ampla e avançada, embora não
raramente seja descumprida por diversas razões, como falhas na fiscalização. Abaixo estão
brevemente descritas algumas dessas normas:
Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981): tem por objetivo a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e
à proteção da dignidade da vida humana.
Recursos Hídricos (Resolução CONAMA nº 357 de 17 de março de 2005): dispõe sobre a
classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, além de outras providências.
Solos (Resolução CONAMA nº 420 de 28 de dezembro de 2009): dispõe sobre critérios e valores
orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece
diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em
decorrência de atividades antrópicas.
Poluição atmosférica (Resolução CONAMA nº 5, de 15 de junho de 1989): dispõe sobre o
Programa Nacional de Controle da Poluição do Ar (PRONAR), sendo sua primeira consideração
o acelerado crescimento urbano e industrial brasileiro e da frota de veículos automotores.
Poluição atmosférica (Resolução CONAMA nº 3, de 28 de junho de 1990): complementa a
resolução acima e dispõe sobre padrões de qualidade do ar e métodos de amostragem e análise
para partículas em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, SO2, CO, O3 e NO2.
Educação Ambiental (Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012): estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (DCNEA), cujo objetivo envolve orientar o
planejamento referente à Educação Ambiental (EA) nos sistemas de ensino de forma
transversal. Integra o marco legal para a EA no Brasil, atuando como documento de referência
para os sistemas de ensino e suas instituições de Educação Básica e Educação Superior,
orientando a implementação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) determinada
pela Lei nº 9.795, de 1999, que já dispunha sobre a EA.
Bibliografia Consultada
IVONI FREITAS-REIS
57
PARTE 8
Ainda que estejamos trabalhando a química das águas, do ar e dos solos em blocos
separados, todos esses ambientes fazem parte de um grande sistema. Vislumbrar que todas
essas vertentes compõem, juntas, o planeta Terra, é o primeiro passo para compreender sua
interdependência, equilíbrio e dinamicidade.
Nessa aula começaremos nossos estudos sobre a litosfera, abordando algumas
definições, composições e propriedades químicas do solo, bem como seu uso como indicador
de poluição e fertilidade. Ao mesmo tempo, buscamos valorizar as relações existentes entre
esses conteúdos e discussões de aulas passadas.
1 A litosfera e o solo
Como a hidrosfera e a atmosfera já foram abordadas nas aulas anteriores, estudaremos
a LITOSFERA, que corresponde à porção sólida do planeta (também chamada de crosta
terrestre). Dentre seus constituintes, o primeiro e cujos aspectos são o objetivo principal desta
aula, está o solo, que pode ser definido como o material resultante das interações entre as três
esferas mencionadas. Vale ressaltar que sua origem data de milhares de anos, sendo
consequência do intemperismo causado pelas chuvas ácidas e variações de temperatura sobre
as rochas superficiais, as quais foram sendo formadas por meio das erupções vulcânicas seguidas
da solidificação do magma.
Juntamente ao solo, as rochas constituem este terceiro ecossistema, podendo ser
divididas nos seguintes tipos: ígneas ou magmáticas (formadas pelo esfriamento e solidificação
de magma pastoso, como o granito), sedimentares (cuja formação é dada pelo acúmulo de
resíduos de outras rochas, como é o caso da argila) e metamórficas (tem sua origem na
transformação de outras rochas, em que um exemplo é o mármore formado a partir do calcário).
É interessante mencionar que, enquanto alguns tipos de rocha têm usos gerais (como
matéria-prima para a construção civil), o xisto betuminoso é um exemplo que pode ser usado
para produzir energia. O xisto é uma rocha metamórfica, sendo que o tipo betuminoso é aquele
que apresenta um óleo em sua composição, este que pode ser extraído, purificado e refinado
de maneira similar ao petróleo bruto.
importante de nutrientes minerais para as plantas, além de ser responsável por originar
microporos na estrutura do solo, que são essenciais na retenção de água.
Juntamente com a argila, outros minerais encontrados também são importantes, como
o SILTE e a AREIA. Primeiramente, o silte é composto basicamente por quartzo e se apresenta
na forma de partículas com diâmetro médio entre 0,002 e 0,05 mm. Os fragmentos originam
poucos poros, retém pouca água, mas ajudam no adensamento do solo.
Já a areia, embora também seja constituída por quartzo, possui partículas maiores que
as do silte, tendo diâmetros entre 0,05 e 2 mm. Consequentemente, origina os macroporos,
facilitando a aeração do solo (o que é importante para o desenvolvimento radicular), embora
também retenha pouca água. Assim, uma combinação entre esses diferentes minerais contribui
para a formação de um solo com características adequadas para o plantio.
Por fim, também temos a porção orgânica e o húmus, o que nos leva a compreensão de
que compostos orgânicos também estão presentes no solo, em maior ou menor proporção do
que os minerais, a depender da região. Dentre os mais comuns encontra-se o HÚMUS, que é, na
verdade, um conjunto de substâncias que dá ao solo sua cor escura (“castanho-amarronzada”)
e que contribui para sua fertilidade. Quimicamente, o húmus é constituído por vegetais e
animais parcialmente decompostos. Uma imagem característica de uma porção de húmus pode
ser verificada abaixo.
Figura 20. Húmus.
Componentes (%)
O2 CO2 N2
Ar
21 0,03 72
atmosférico
Ar no solo 19 0,9 79
Assim como no ar, o gás nitrogênio é o principal constituinte da fase gasosa do solo, mas
não pode ser aproveitado pelos vegetais nessa forma molecular, sendo necessário que seja
transformado em íons como amônio (NH4+), nitrato (NO3-) e até mesmo em ureia, que são
formas acessíveis de nitrogênio. A transformação de formas não acessíveis de nitrogênio é um
fenômeno essencial para que o solo se mantenha fértil, processo natural chamado de “Fixação
de nitrogênio”. Devido ao envolvimento da ação de bactérias específicas em uma das etapas,
alguns cultivares favorecem o desenvolvimento desses organismos e, por isso, práticas agrícolas
que priorizam a monocultura podem levar a um empobrecimento do solo. Algumas reações
químicas relacionadas à fixação de nitrogênio são representadas a seguir.
60
Por outro lado, conforme estudado anteriormente, o ciclo do nitrogênio envolve tanto
a fixação de nitrogênio como a sua liberação do solo para a atmosfera. Isso também ocorre
naturalmente dependendo das condições do solo, sendo a reação química que representa este
processo a mostrada a seguir.
necessários para o desenvolvimento das plantas e, por isso, é tão importante manter sua
umidade. Nesse sentido, vale lembrar que solos argilosos concentram mais água que os
arenosos.
Dentre os principais eletrólitos encontrados, tem-se o íon H+, proveniente da ionização
de ácidos fracos e de reações de troca iônica na superfície dos minerais. Este define, então, o
pH do solo e, como a composição dos solos não é sempre a mesma (pode variar), a quantidade
de íons H+ também varia de solo para solo. Por isso, este parâmetro físico-químico é um dos
que os agrônomos avaliam quando da preparação do substrato para plantio. Sendo necessário,
pode ser realizada uma correção do pH por meio de adição de sais alcalinos como o carbonato
de cálcio (calcário).
3 Fertilidade e utilização
Um solo fértil é aquele que apresenta NUTRIENTES em quantidades suficientes para o
plantio e cultivo de vegetais. Entretanto, nos solos cultivados para fins comerciais, os ciclos
biogeoquímicos “não conseguem” mantê-lo sempre fértil, pois os elementos essenciais aos
vegetais não são inesgotáveis.
Então, também para o aspecto nutricional, quando há deficiências, é possível realizar
intervenções para garantir a produtividade. Isso é realizado por meio de diferentes tipos de
ADUBAÇÃO, que é a adição de substâncias, as quais variam com o contexto: adubação de
correção (antes do plantio), de crescimento (no início do desenvolvimento) e de manutenção
(durante a produção do cultivo). Como exemplo, os adubos podem ser compostos
principalmente por fontes de fósforo, potássio, cálcio, magnésio, boro e nitrogênio, sendo o
fertilizante do tipo NPK uma formulação que é fonte de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).
O biofertilizante produzido na compostagem doméstica através da decomposição da
matéria orgânica é um outro exemplo de adubo rico em nutrientes e minerais. Ele se diferencia
do material gerado em aterros e lixões, de caráter tóxico e altamente poluidor, uma vez que,
junto à matéria orgânica, também há demais resíduos como fraldas descartáveis, absorventes,
preservativos, papel higiênico, cigarros, animais em decomposição e lixo eletrônico.
4 Considerações finais
Assim como as águas naturais e a atmosfera, os solos também têm uma química
complexa e cujo entendimento pode ajudar na sua preservação e usos. No ambiente, o solo
possui diversas “funções”, enquanto nós dependemos totalmente da sua fertilidade para
obtermos alimentos.
Os teores dos componentes químicos dos solos não são constantes nem para os de um
mesmo tipo. Por isso, sua composição é sempre estudada e monitorada pelos agrônomos por
meio de diversas análises químicas. O objetivo é avaliar qual tipo de cultura é mais adequada
para um dado local ou que tipo de tratamento/intervenção um solo precisa receber para que
uma dada cultura possa ser cultivada nele. Como ele (e também os sedimentos) são impactados
pelas atividades humanas, há muito o que estudar e todos devem buscar, de alguma forma,
cuidar adequadamente de nossa litosfera.
62
Um pouco de história
Justus von Liebig (1803-1873) nasceu na cidade de Darmstadt, na Alemanha, e é
considerado como um dos três maiores químicos do século XIX ao lado de Friedrich Wöhler
(1800-1882) e Robert W. Bunsen (1811-1899). Tal fato se deve principalmente a dois aspectos
principais: o número de colaborações visando o desenvolvimento da química – sobretudo da
química orgânica e da agroquímica – e o advento de métodos quantitativos capazes de
determinar a formação de compostos orgânicos.
A impressionante “Escola de Químicos” formados por Justus von Liebig responde por
cientistas de renome como August Kekulé (1829-1896) e Hermann Emil Fischer (1852-1919),
sendo muitos detentores do Prêmio Nobel. Tamanha magnitude de seguidores não acontece
por acaso: Liebig possuía uma concepção de ensino de química diferenciada da maioria dos
professores da época. Para ele, pesquisa e ensino
eram indissociáveis.
Dentre seus estudos, Liebig se debruçou na
composição dos solos e sua relação com a saúde das
plantas, o que teve forte influência nas indústrias em
relação à produção de fertilizantes inorgânicos. Tais
conhecimentos envolvendo a agricultura e economia
agrícola foram de grande importância dentre os
desenvolvidos na época em virtude do rápido
crescimento populacional do período. Além disso,
leis de sua autoria continuam sendo bases para a
agricultura moderna.
Nesse contexto, vale a pena citar a Lei do
Mínimo, que leva em consideração os nutrientes
essenciais ao desenvolvimento das plantas. Segundo
seu princípio, ainda que as concentrações da maior
parte dos elementos sejam adequadas, a
produtividade da colheita será limitada enquanto ao
menos um deles possuir concentração inferior a determinado valor mínimo. Assim, nos
condicionamos ao que estiver abaixo da demanda, não adiantando aumentar a quantidade dos
demais.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Luiz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Brasil Escola. Húmus. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/humus.htm>.
Acesso em: 13 maio 2022.
DEROSSI, I. N. A “Escola de Formação de Químicos” de Justus von Liebig: a consolidação de
uma metodologia de ensino. 2018. Tese (Doutorado) – Curso de Química, Departamento de
Química, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018.
MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 11. ed., São Paulo: Thomson Learning, 2007.
63
PARTE 9
Dentre as SUBSTÂNCIAS QUE PODEM CONTAMINAR os solos, algumas fazem parte dos
chamados “resíduos perigosos”. Para situar este assunto, vale lembrar que os contaminantes
são as substâncias que geralmente não fazem parte do solo ou que não ocorrem em teores
elevados. Tais substâncias são consequência da POLUIÇÃO AMBIENTAL, sendo o lixo urbano um
exemplo importante de resíduo contaminante e, dependendo do caso, perigoso.
1 Resíduos perigosos
São substâncias tóxicas que, ao entrarem em contato com seus organismos, podem
causar prejuízos à saúde das pessoas e dos demais seres vivos. Os metais “pesados” (Ag, Cd, Cr,
Hg e Pb, a título de exemplo), os organoclorados (já abordados em partes anteriores), os
compostos inflamáveis, corrosivos, reativos e os elementos radioativos são exemplos
importantes, porque quando descartados de maneira inadequada constituem RESÍDUOS
PERIGOSOS. Também relembramos que, em capítulos anteriores, apresentamos como os
resíduos advindos das indústrias de curtumes e da criação de animais, através de seus dejetos e
subprodutos da produção de carnes, afetam os solos e as águas.
Um dos problemas inerentes a essas substâncias é a toxicidade que apresentam para os
seres vivos e, neste contexto, podem ser caracterizadas em relação ao parâmetro biológico Dose
Letal 50 (DL50), que é a dose da substância que causa a morte de 50% de uma população de
organismos expostos em condições experimentais definidas. Para essa avaliação toxicológica,
geralmente são usados ratos, camundongos, porquinhos-da-índia, cabras, macacos, gatos,
cachorros e coelhos, que são expostos às substâncias oralmente, por meio de contato cutâneo,
intravenoso, intraperitoneal, misturadas à comida, via retal ou vaginal e, também, por inalação.
Para cada meio de exposição, existe uma DL 50 calculada em mg da substância teste por kg de
peso corpóreo.
Para uma reflexão sobre essa prática, informamos que a ingestão dessas substâncias
muitas vezes é feita através de sonda gástrica, logo é comum a morte dos animais por
perfuração, dentre outros efeitos causados como convulsões, diarreia, úlceras, hemorragias,
lesões pulmonares, renais e hepáticas, além da morte, propriamente. Como a indústria química
é uma das principais promotoras dos testes em animais, vale salientar que os mesmos devem
ser realizados após aprovação de Comitês de Ética e seguindo todas os protocolos já
estabelecidos. Além disso, em alguns casos, já há alternativas confiáveis como provas de
toxicidade para células humanas.
Por outro lado, os efeitos tóxicos de uma substância podem ser variados, ou seja, não
se restringem à morte dos indivíduos, podendo gerar um EFEITO AGUDO ou um EFEITO
CRÔNICO (também chamado de CUMULATIVO):
1 Primeiramente, o EFEITO AGUDO é aquele causado pela absorção rápida de uma
substância devido a uma “dose” única ou exposição em um período curto, menor que
24h, por exemplo. O monóxido de carbono e ácido cianídrico são gases que causam
toxicidade aguda;
2 Quanto ao EFEITO CRÔNICO, trata-se daquele que é causado por uma exposição
prolongada ou repetida (duração de dias, meses ou anos), de forma que os sintomas
podem não aparecer imediatamente. Os envenenamentos por metais “pesados” e
pesticidas são exemplos de toxicidade crônica e de difícil tratamento.
65
Que tal pesquisar sobre o acidente radiológico de Goiânia, que ocorreu em 1987?
Nesse contexto, deve ser destacado que remediar ambientes contaminados é possível,
mas não é uma tarefa fácil. Por isso, é imprescindível que se previna a poluição e que se use
responsavelmente as substâncias químicas, o que envolve uma questão que abrange toda a
sociedade, que é a gestão do LIXO urbano.
3 O lixo urbano
No Brasil e em outros países em desenvolvimento, o “lixo urbano”, tecnicamente
chamado de resíduo sólido urbano, ainda é descartado a céu aberto (lixões). Além de ilegal,
essa prática polui o ambiente e ainda pode trazer uma série de inconvenientes para as pessoas
que residem ou trabalham em locais próximos. As substâncias perigosas contidas nesses
resíduos podem atingir os lençóis freáticos, contaminando a água e, também, poluem o ar por
meio da eliminação de gases.
No nível do solo, onde os resíduos são amontoados, ocorre a concentração de animais
diversos, que ao se alimentarem do lixo, adoecerem e interagirem com as pessoas, atuam como
vetores de doenças. No caso de aves (urubus, principalmente) a grande concentração dificulta
o tráfego aéreo, o que chega a resultar em acidentes. Dessa forma, a disposição do lixo em lixões
só traz consequências negativas tanto para a sociedade quanto para os demais animais.
Outro exemplo importante de resíduos perigosos são aqueles provenientes de hospitais
e clínicas médicas, pois apresentam risco biológico ou radioativo. Esses tipos de resíduo
(rejeitos, na verdade) não devem ser descartados em lixões e sim incinerados (aqueles com risco
biológico) ou dispostos em aterros para produtos perigosos (aqueles com risco radioativo).
pode ser usado como adubo. Desta forma, apenas os rejeitos são levados para os aterros, onde
a sua destinação e/ou decomposição não devem afetar o ambiente.
Por outro lado, considerando-se que todos os materiais podem sofrer decomposição
natural, você sabe dizer qual é o problema real do lixo? Além dos inconvenientes já
mencionados, o tempo que muitos materiais levam para se degradar naturalmente é
muito longo, potencializando os efeitos indesejados elencados. Em outras palavras, a
quantidade de lixo produzida diariamente é maior que a capacidade de degradação
dos microrganismos decompositores. Por isso é tão importante que o lixo urbano seja
gerenciado adequadamente. E para isso é mais do que necessário que cada município
tenha um aterro sanitário ou que tenha acesso a um, conforme preconiza a lei.
4 Considerações finais
O lixo urbano é um problema ambiental grave, visto que o volume de resíduos sólidos é
muito elevado e, aos poucos, vai inutilizando as regiões onde é depositado, além de toda a
contaminação ambiental que pode causar. Substâncias químicas perigosas podem contaminar
o solo, a água e até o ar e, por isso, uma gestão eficiente dos resíduos sólidos urbanos deve ser
sempre priorizada.
Reflexão
Agora que você já tem uma boa noção sobre a química das águas, do ar e do solo, o que
envolve diversas problemáticas relacionadas ao nosso dia a dia, a
próxima atividade será descobrir qual é a sua pegada ecológica. Em
resumo, a pegada é uma proposta de cálculo cujas variáveis estão
relacionadas aos recursos naturais utilizados e impactos causados
durante atividades cotidianas. Por exemplo, é levado em conta se o
indivíduo fuma, com quantas pessoas vive, se possui carro e,
inclusive, qual é o tipo de alimentação, trazendo à tona atividades
muitas vezes invisíveis e consideradas inofensivas. A partir das
respostas, o resultado representa o número de planetas necessários,
71
de acordo com a capacidade ecológica da Terra, caso toda a população nutrisse os mesmos
hábitos que você.
Após descobrir qual é a sua pegada, reflita sobre as informações e sugestões dadas pelo
próprio questionário sobre como é possível ajustar sua forma de consumo em prol da saúde do
nosso planeta como um todo. Você tinha conhecimento da magnitude do impacto que as nossas
atividades provocam no meio ambiente? A partir das perguntas, foi possível identificar de quais
formas tais ações podem ser prejudiciais? Ao final, compartilhe e discuta com seus colegas de
turma sobre esses pontos.
Bibliografia Consultada
BAIRD, C. Química Ambiental. Tradução Maria Angeles Lobo Recio e Luiz Carlos M. Carrera. 2.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
Fiocruz. Símbolos. Disponível em:
<http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/imagem/simbolos.htm>. Acesso em: 13 maio 2022.
GREIF, S.; TRÉZ, T. A verdadeira face da experimentação animal: sua saúde em perigo. [S.l.]:
Sociedade Educacional Fala Bicho, 2000. Disponível em:
<http://www.falabicho.org.br/PDF/LivroFalaBicho.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
NASCENTES, C. C.; COSTA, L. M. Química Ambiental. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
72
PARTE 10
Como visto no capítulo da química das águas, a questão ambiental é um tema que está
em debate no mundo inteiro. Diferentes órgãos administrativos públicos e setores da sociedade
buscam soluções para o atual cenário, que é marcado pela crescente degradação do meio
ambiente. Essa degradação advém da exploração excessiva dos recursos naturais, que se dá a
uma velocidade muito superior à capacidade de recuperação da natureza (HABIB, 2010).
Outro fator que contribui para a degradação do meio ambiente é a industrialização, que
se não for bem planejada, também causa problemas sociais (fome, desemprego, falta de
saneamento básico, entre outros), especialmente às comunidades que vivem no entorno.
Esses e outros fatores têm levado a humanidade a repensar suas ações e seu modo de
vida, calcados em uma relação com a natureza que não seja depredatória e insustentável
(BONOTTO, 2008). Para que essas ações fossem tomadas como atos de responsabilidade de
diversos países, foram realizadas conferências, das quais destacamos três delas:
1 Estocolmo (1972): na qual se colocou em xeque o uso desordenado dos recursos
naturais pelo ser humano e estabeleceu metas de controle, destacando a
importância da Educação como um meio para entender a relação ser humano-
natureza;
2 Tbilisi (1977): na qual estabeleceram os princípios orientadores da Educação
Ambiental, ressaltando o seu caráter interdisciplinar, critico, ético e transformador;
3 Rio de Janeiro (1992): na qual os países participantes firmaram o compromisso de
promover Educação Ambiental, tendo em vista o desenvolvimento de sociedades
sustentáveis. Além disso, apontaram as necessidades de formação de educadores
ambientais.
Em todas essas Conferências foram discutidos e elaborados documentos de caráter
internacional que versavam sobre a preservação do planeta, na perspectiva da implementação
da Educação Ambiental (EA).
Alguns anos após a Conferência realizada no Rio de Janeiro, foi instituída a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) (BRASIL, 1996), a qual passou a considerar a
compreensão do ambiente natural como fundamental na Educação Básica. A partir dela, uma
outra lei, a Lei 9.795/99 (BRASIL, 1999), estabeleceu que a EA deve estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, valorizando a abordagem
das questões ambientais nos âmbitos locais, regionais e nacionais, e incentivando a busca de
alternativas curriculares e metodológicas na capacitação para a área ambiental e de iniciativas
e experiências coletivas, o que inclui a produção de material educativo.
Ainda visando uma relação mais estreita entre a Educação Ambiental e a Educação, são
promulgadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental (DCNEA) (BRASIL,
2012), para a qual a “EA é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social,
que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a
natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a
finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental” (p. 2). Elas ressaltam, ainda,
que a EA deve promover a construção do conhecimento através de uma responsabilidade
cidadã, evitando conceitos despolitizados, pois a prática educacional deve direcionar-se à EA-
74
2 Pensando nas competências e habilidades citadas na BNCC e voltadas ao que se espera que
os estudantes da Educação Básica desenvolvam, propomos a atividade 2:
Impacto ambiental
A poluição por gases não afeta apenas a qualidade do ar, mas também indiretamente a
qualidade das águas (inclusive as subterrâneas), da terra, da vegetação, da floresta e do clima.
Os poluentes do ar contaminam as nuvens e depois retornam à terra na forma de
precipitação. Essas precipitações transportam poluentes do ar de volta para a terra, podendo
contaminar o solo, rios e vegetação – a chuva ácida é um exemplo da consequência da
poluição. Poluentes do ar, como SO2 e NOx causam danos diretos às plantas e árvores quando
entram nos estômatos das folhas. A exposição contínua dos vegetais a poluentes do ar pode
desfazer o revestimento ceroso, que previne a perda excessiva de água e danos causados por
doenças, pragas, secas e geadas. No centro-oeste dos Estados Unidos, por exemplo, as perdas
de trigo, milho, soja, arroz e amendoim, devido aos danos causados pela deposição de ozônio
e precipitações ácidas, chegam a cerca de US$ 5 bilhões por ano.
75
Fonte: TAN, Z. Air Pollution and Greenhouse Gases: From Basic Concepts to Engineering Applications
for Air Emission Control. Green Energy e Techonology. Nova Iorque: Springer, 2014.
Bibliografia consultada
PARTE 11
A água é considerada um elemento essencial para a vida dos seres vivos, já que compõe
grande parte de seus organismos. A tabela 3 apresenta o percentual de água em órgãos do corpo
humano:
Tabela 3. Percentual de água em órgãos do corpo humano.
Órgãos Percentual
Fígado 86%
Cérebro 75%
Coração 75%
Músculos 75%
tanto, há sempre uma situação local que pode desencadear propostas para preservação da
água.
Proposta de abordagem
Pensando em uma discussão mais reflexiva, mostraremos uma possibilidade de como abordar
a temática água, a partir da Educação Ambiental, por meio de um texto informativo:
Os compostos químicos orgânicos utilizados na fabricação de produtos de uso diário
podem ser conhecidos como poluentes emergentes. Os materiais de higiene pessoal, pesticidas,
medicamentos, dentre outros, descartados no esgoto doméstico, atribuem riscos ao meio
ambiente e à saúde das pessoas. O destino desses materiais (e de seus metabólitos) deve ser
mais bem compreendido.
A imagem abaixo mostra o processo e destino dos poluentes no curso de um rio:
Figura 27. Destino dos poluentes no meio aquático.
PLANO DE AULA
Data: (dia)/(mês)/(ano)
Tema da aula: Soluções
Tempo previsto: 2h/aulas (100 minutos)
Turma: 2° ano do Ensino Médio – (nome da Escola)
Objetivos:
Relacionar a solubilidade do gás oxigênio na água com questões ambientais; compreender a
relação de quantidade de matéria dos poluentes com os parâmetros de qualidade da água
estabelecidos pela legislação; e despertar nos alunos o pensamento crítico para as questões
socioambientais acerca do tema água.
Conteúdo:
Estudo da solubilidade dos materiais; concentração das soluções (g/L, mg/L, μg/L, mol/L, m/m
e m/v); educação ambiental e soluções aquosas.
Referencial teórico:
80
BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama das Águas no Brasil. Brasília: ANA, 2020.
Disponível em: <https://www.ana.gov.br/aguas-no-brasil/panorama-das-aguas/quantidade-
da-agua/>. Acesso em: 13 maio 2022.
Assinatura do Professor:
Bibliografia Consultada
BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama das Águas no Brasil. Brasília: ANA, 2020.
Disponível em: <https://www.ana.gov.br/aguas-no-brasil/panorama-das-aguas/quantidade-
da-agua/>. Acesso em: 13 maio 2022.
MIRANDA, E. E. A água na natureza e na vida dos homens. 1. ed. São Paulo – SP: Ideias e
Letras, 2004.
TONSON, S. Diálogo e Educação Ambiental no campo das águas. In: JÚNIOR, F. P; MODAELLI, S.
(orgs.). Política das águas e educação ambiental: processos dialógicos e formativos em
planejamento e gestão de recursos hídricos. Brasília, 2011, p. 29-34.
U.S. Geological Survey. Transport and fate. Disponível em:
<http://toxics.usgs.gov/regional/emc/transport_fate.html>. Acesso em: 13 maio 2022.
81
PARTE 12
Proposta de abordagem
Pensando na formação cidadã de forma ampla e reflexiva acerca dos parâmetros de qualidade
da água e as questões socioambientais, realize as propostas abaixo:
1 Assista ao vídeo da reportagem jornalística de um programa
de televisão sobre o uso de mercúrio em garimpos na
Amazônia e, acerca das informações e das reflexões
inferidas, APONTE quais conteúdos químicos e relações
socioambientais poderão ser trabalhados em uma sala de
aula do Ensino Médio, listando-os. Certifique-se de que seus
apontamentos estão alinhados às competências presentes
na BNCC.
2 Dentre os conteúdos listados no item anterior, escolha um
e confeccione um plano de aula (vide anexo 1 da parte 11). Na proposta, você deve
relacioná-lo às questões socioambientais. Também é preciso que seja descrita uma
atividade de sua livre escolha (experimento, jogos, sequência didática, roteiro para
filmes/vídeos, dentre outros).
Como questões socioambientais, você pode destacar ou fazer algumas indagações sobre
o uso de mercúrio e suas consequências; possibilidades para substituição do mercúrio nos
garimpos; a contaminação das águas e o consumo pelos indígenas; o manuseio do mercúrio sem
equipamentos de proteção e suas consequências; os problemas causados pela contaminação à
saúde das pessoas e ao meio ambiente; a ação da biota aquática na produção de compostos
tóxicos; o ceticismo em relação aos problemas ambientais por parte das autoridades locais e da
população; a legislação em relação aos garimpos, à proteção dos recursos hídricos e ao acesso
à água potável; e o papel da educação ambiental e da ciência para propor soluções aos
problemas apresentados.
3 Monte um experimento simples no qual possa ser verificada a qualidade da água de um
rio/lago/córrego/nascente que passe próximo à escola, às residências dos alunos ou
mesmo da torneira de sua residência. Procure utilizar materiais de baixo custo e de fácil
acesso. Deve haver instruções metodológicas e de segurança bem detalhadas. Dentre
as análises, proponha determinação de: pH, turbidez e temperatura – como visto na
parte 3 dessa apostila. A partir dos resultados, proponha discussões sobre os
parâmetros de qualidade da água, quais as implicações socioambientais pelo
consumo/acesso desse recurso em condições não ideais e pense em ações que visem
amenizar os problemas em questão.
83
Para a realização das propostas acima, utilize como apoio os artigos e os documentos
listados no quadro 1. Busque relacionar nas atividades os aspectos químicos, políticos e sociais,
intrínsecos à Educação Ambiental. Além disso, é importante refletir sobre as contribuições e o
papel do professor na formação de cidadãos críticos e ativos na sociedade.
Quadro 1. Documentos oficiais e artigos selecionados para subsidiar na confecção das propostas.
Documentos/artigos
Base Nacional para Formação Inicial de Professores para a Educação Básica – 2019
GRASSI, M. T. As Águas do Planeta. Química Nova na Escola. Ed. Especial, mai.
2001. Disponível em: <http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/01/aguas.pdf>.
Acesso em: 13 maio 2022.
QUADROS, A. L. de. Água como Tema Gerador do Conhecimento Químico. Química
Nova na Escola, v. 20, p. 26-31, nov. 2004. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc20/v20a05.pdf>. Acesso em: 13 maio 2022.
Bibliografia Consultada
PARTE 13
Todos os seres vivos dependem do ar, assim como da água, para sobreviver. Por isso, é
fundamental promover discussões e ações socioambientais voltadas também à preservação
atmosférica, visto que a manutenção da vida no planeta depende do ar sem poluição. O ser
humano, por exemplo, consegue ficar dois dias sem beber água, mas poucos resistem a dois
minutos sem ar (TAN, 2014).
O ar é composto por diferentes gases. A tabela 4 mostra sua composição na atmosfera
terrestre.
Tabela 4. Composição do ar puro.
Nitrogênio N2 78,084
Oxigênio O2 20,9476
Argônio Ar 0,934
Neônio Ne 0,001818
Hélio He 0,000524
Criptônio Kr 0,000114
Hidrogênio H2 0,00005
Xenônio Xe 0,0000087
saúde, inconveniente para o bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora ou
prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade ou às atividades normais da
comunidade;
2 Padrão de qualidade: um dos instrumentos de gestão da qualidade do ar, determinado
como valor de concentração de um poluente específico na atmosfera, associado a um
intervalo de tempo de exposição, para que o meio ambiente e a saúde da população
sejam preservados em relação aos riscos de danos causados pela poluição atmosférica
(CONAMA, 2018, p. 1).
Os principais poluentes são emitidos por veículos automotores, atividades industriais,
queimadas, desmatamentos e na produção de energia, sendo eles o monóxido de carbono, o
dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio, compostos contendo chumbo e diversos tipos de
materiais particulados. Sua presença em uma amostra traz indicativos da baixa qualidade do ar
(CONAMA, 2018), que se baseia na análise de sua concentração, quantidade de referência e
níveis de alerta para a poluição, presentes na Resolução nº 491 do CONAMA.
Visto que o ar puro é essencial para os seres vivos, monitorar a quantidade dos
poluentes que são lançados na atmosfera é fundamental, uma vez que eles podem causar
problemas irreparáveis à saúde humana e ao meio ambiente. Por exemplo, episódios com
poluição aguda podem resultar em doenças respiratórias como a pneumonia, bronquite,
problemas dermatológicos, cardíacos e, às vezes, levar à morte. Além disso, causam impactos
na fauna e na flora por meio da formação das chuvas ácidas, de reações fotoquímicas catalisadas
pela luz solar, do aquecimento global, dentre outros fatores (vide parte 7 desta apostila) que se
convertem em problemas sociais e ambientais.
No sentido de mudar esse cenário, a Educação Ambiental no âmbito escolar é vista como
uma possibilidade de promover reflexões acerca da qualidade do ar de forma menos pontual,
ou seja, assume uma perspectiva mais crítica, abrangendo os aspectos locais, regionais e
mundiais, sociais e políticos, científicos e econômicos, psicológicos e culturais (BRASIL, 1999,
2012, 2018).
Nesse ensejo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) na área de Ciências da Natureza
e suas Tecnologias para o Ensino Médio (BRASIL, 2018) propõe que os estudantes aprofundem
e ampliem suas reflexões a respeito do meio ambiente e suas relações sociais sob uma
perspectiva de aplicação de conhecimentos e análise de seus efeitos sobre a saúde e a qualidade
de vida das pessoas. Como competência específica, o documento direciona para a mobilização
de estudos referentes a: “[...] poluição, ciclos biogeoquímicos, desmatamento, camada de
ozônio, chuva ácida e efeito estufa; entre outros” (BRASIL, 2018, p. 540).
Entretanto, vale ressaltar que o conhecimento pedagógico deve ser relacionado aos
conteúdos químicos de forma a contemplar o entendimento dos fenômenos ocorridos no meio
ambiente e, dessa forma, propiciar aos educandos a possibilidade de desenvolver habilidades
que são recomendadas pela BNCC como, por exemplo, a de
Analisar a ciclagem de elementos químicos no solo, na água, na atmosfera e
nos seres vivos e interpretar os efeitos de fenômenos naturais e da
interferência humana sobre esses ciclos, para promover ações individuais
e/ou coletivas que minimizem consequências nocivas à vida. (BRASIL, 2018,
p. 541)
Tais habilidades vão ao encontro de uma das competências gerais para docentes
atribuídas pela Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica
(BNC-Formação) (BRASIL, 2019, p. 13):
86
Proposta de abordagem
Considerando os direcionamentos da BNCC (BRASIL, 2018), o ensino de Química e a
Educação Ambiental devem estar articulados com as competências gerais da Educação Básica e
com as da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, visando garantir aos estudantes o
desenvolvimento de competência, sendo um exemplo
Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas relações
entre matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que
aperfeiçoem processos produtivos, minimizem impactos socioambientais e
melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e/ou global.
(BRASIL, 2018, p. 539)
Para cada competência, são indicadas habilidades a serem alcançadas. Com isso, analise
as proposições abaixo, INDICANDO a habilidade correspondente a cada uma delas, o conteúdo
e a série (ou as séries) escolar do Ensino Médio, dentre outros questionamentos. Também pode
ser feita uma abordagem crítica da Educação Ambiental, ou seja, aquela que propõe uma
discussão acerca dos problemas sociais e ambientais, em uma perspectiva histórica, econômica,
política e social.
Proposição 1: Queima da cana-de-açúcar (produção sucroalcooleira)
Figura 29. Reportagem sobre a queima da palha da cana
Habilidade da BNCC
Conteúdos químicos
Problemas sociais
Habilidade da BNCC
Conteúdos químicos
Ano escolar
Problemas ambientais
Problemas sociais
O que causa a chuva ácida?
Explique utilizando seus
conhecimentos químicos.
88
Bibliografia Consultada
PARTE 14
Com isso, devemos buscar meios para desenvolver ações mais sustentáveis, analisando
e avaliando a relação ser humano-natureza no que tange o uso e apropriação do solo. Uma das
formas mais direcionadas para promover essas ações pode estar nas discussões que buscam
relacionar a ciência, os aspectos ambientais e a sociedade numa perspectiva menos pontual, ou
seja, destacando os problemas sociais e ambientais de forma crítica em espaços formais ou não,
sobretudo na sala de aula.
90
Pensando em propostas que possam ser aplicadas nas aulas de Química do Ensino
Médio, elaboramos a atividade abaixo, buscando nortear outras ações que possam ser
desenvolvidas junto aos estudantes.
Proposta de abordagem
Considerando a perspectiva crítica da Educação Ambiental, as orientações do ProNEA e os
currículos vigentes da Educação Básica (Ciências da Natureza e suas Tecnologias), analise as
proposições abaixo e responda o que se pede:
Hortas escolares e Compostagem
Hortas escolares e compostagem são propostas econômicas e ecologicamente sustentáveis.
A compostagem utiliza os resíduos orgânicos domésticos que seriam enviados para os aterros
sanitários ou descartados de forma inadequada, gerando adubo. O adubo produzido substitui
o uso de agroquímicos, o que promove benefícios para saúde humana (alimentos saudáveis)
e diminui a contaminação do solo.
Geralmente, nas escolas, essa proposta é feita de forma pontual, ou seja, a abordagem é
direcionada apenas para as questões de reciclagem e de alimentação saudável – não que
sejam menos importantes – sem a devida promoção da criticidade, logo sem que se discuta
os problemas ambientais e sociais firmados aos princípios da justiça social e econômica.
1 Supondo que você seja professor em uma escola e tenha que propor uma atividade com
hortas e compostagem:
a) O que você faria para transformar a prática menos pontual em uma ação mais crítica?
b) Destaque os conteúdos químicos que podem ser abordados na proposta e os anos do Ensino
Médio que poderão ser atendidos.
4 Mineração:
Vivenciamos dois acidentes envolvendo a mineração no estado de Minas Gerais, repercutidos
mundialmente. Além dos danos causados ao ambiente natural, vidas humanas, não-humanas e
patrimônio material e imaterial dessas localidades foram devastados.
Promova uma discussão em duplas, com base nas propostas a seguir:
1 Recuperação do solo atingido pelos resíduos da mineração (com acidentes ou não);
2 A relação das questões minerais, tecnologia, desenvolvimento, sociedade e meio
ambiente;
3 A relação histórica da mineração, política, economia e sociedade;
4 O papel da Educação, sobretudo o ensino de Química, para essas questões.
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Bibliografia Consultada
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