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ISBN: 978-65-994135-6-8

INVESTIGAÇÃO DOS PRINCIPAIS PARÂMETROS INTERVENIENTES À EFICÁCIA DA


RETENÇÃO E DEGRADAÇÃO DE AGROTÓXICOS NA ÁREA RIPÁRIA

Tássio Gabriel Ribeiro Lopes 1; Luiz Roberto Santos Moraes 1


1Membro Grupo de Pesquisa GESAM-UFBA. R. Prof. Aristídes Novis, 2 - Federação, Salvador - BA, 40210-
630. Universidade Federal da Bahia

RESUMO
Investigações científicas têm demonstrado a importância das zonas ripárias para promoção da
qualidade do solo e da água e principalmente a respeito da retenção e degradação dos agrotóxicos.
No entanto, pesquisas a respeito do tema ainda são insuficientes no Brasil e não apresentam
concordância pela maior parte da comunidade científica. O presente artigo possui o objetivo de
revisar trabalhos acadêmicos que realizaram experimentações de campo com abordagem da
dinâmica dos agroquímicos na natureza. Dessa maneira, investigar quais principais parâmetros que
influenciam na eficácia da ação da vegetação ripária, na retenção e degradação dos agrotóxicos e
também analisar ações de promoção dos parâmetros encontrados. Assim, a revisão bibliográfica
apontou os processos fisico-químicos da matéria orgânica no solo e o comprimento da área de
contaminação, o trajeto percorrido pelo poluente, como os elementos mais relevante para a
interação na faixa-tampão, principalmente para os pesticidas hidrofóbicos. E como principal manejo
ecológico de regeneração ecológica na zona ripária foram indicados os Sistemas Agroflorestais,
enquanto proposta de manejo agroecológico que garante o seu continuo aporte desse componente,
considerando a sua rápida degradação nos solos tropicais.

PALAVRAS-CHAVE: Agrotóxicos, Área Ripária, Parâmetros intervenientes

INTRODUÇÃO
O uso de agrotóxicos impacta todo sistema ecológico de um território. A contaminação das águas
superficiais e subterrâneas, em função do uso de venenos pela agricultura industrial, representa um
grande impacto negativo. Entre 1971 e 1991, dos 68.800 poços avaliados nos Estados Unidos, cerca
de 10.000 continham resíduos que excediam as normas de potabilidade estabelecido pela Agência de
Proteção Ambiental (EPA) (ALTIERI, 2012). "Dentre os resíduos encontrados destaca-se: DDT,
Clordano, dieldrin, PCBs - todos pesticidas orgânicos persistentes (POPs)" (ALTIERI, 2012, p. 34).
Os impactos à saúde coletiva, gerados pelo uso de agrotóxicos, não são restritos ao ecossistema
imediatamente próximo as áreas produtivas ou apenas aos trabalhadores rurais que tem o contato
direto com tais substâncias.

Indica-se que cerca de 0,1% das aplicações de agrotóxicos alcança a cultura produzida, o restante,
99,9% é transportado, causando graves impactos ao ambiente e à saúde das populações (CARBO,
2009). Estudos apontam a importância das zonas ripárias enquanto zona de amortecimento e proteção
corpos d'água de contaminação (LUDOVICE; ROSTON; FILHO, 2003).

Além da necessidade de promover práticas de produção de alimentos sem uso do pacote químico é
necessário desenvolver manejos de conservação e recuperação das áreas degradas. Dentre essas
práticas, investigações científicas têm demonstrado a importância das zonas ripárias para promoção
da qualidade do solo e da água e principalmente a respeito da retenção e degradação dos agrotóxicos.
No entanto, pesquisas a respeito do tema ainda são insuficientes no Brasil e não apresentam
concordância pela maior parte da comunidade científica.

OBJETIVOS
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Por esse ângulo, o presente trabalho tem como objetivos: I - investigar, com base em estudos de
campo já desenvolvidos, quais principais parâmetros que influenciam na eficácia da ação da
vegetação ripária, na retenção e degradação dos agrotóxicos; II - analisar ações de promoção dos
parâmetros encontrados.

MATERIAL E MÉTODOS
Seguindo essa lógica, a metodologia adotada foi revisão bibliográfica. A pesquisa foi realizada no
banco de dados do Google Scholar, Scielo, Periodicos Capes e ReserchGate. As palavras-chave
utilizadas foram: Atrazine, Buffer zone, Faixa-filtro, Fitorremediação Ripária, Riparian, Ripária
herbicida, Riparian herbicide. A partir da leitura do título foi selecionado 133 trabalhos científicos, o
primeiro filtro ocorreu lendo os resumos/abstract seguindo os critérios citados abaixo, o segundo filtro
focou no material e método, o último filtro abordou discussão e conclusão. A revisão da literatura
seguiu os seguintes critérios: pesquisas desenvolvidas no Brasil ou em condições correlatas; estudo
de campo que abordassem a complexidade da dinâmica ecológica e dos agrotóxicos; investigações
com rigorosidade e consistência metodológica. Assim, foi adotado para a revisão seis teses de
doutorado e um artigo científico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As zonas ripárias, enquanto interface entre o sistema aquático e terrestre, expressam uma grande
diversidade de espécies e dinâmicas ecológicas complexas que estão associadas as características
locais, perpassando pelas relações econômicas, culturais, sociais, bem como os específicos ciclos
biogeoquímicos, clima, o peculiar comportamento área de inundação, geomorfologia de suas áreas
ribeirinhas, propriedades pedológicas, capacidade de adaptação das espécies etc., representando ainda
um importante papel na qualidade da água superficial, subterrânea e influenciando as condições da
bacia hidrográfica

A vegetação ripária possui papel importante nas práticas conservacionistas pois, apesar de existirem
poucos estudos a respeito, apresenta por alguns autores a função de faixa filtro, ou seja, retenção do
escoamento superficial de contaminantes, sobretudos agrotóxicos, impedindo (totalmente ou
parcialmente) a contaminação dos corpos d'água (LUDOVICE; ROSTON; TEIXEIRA, 2003).

Dentre as pesquisas abordadas, Carbo (2009) desenvolveu pesquisa a respeito da ação mitigadora de
uma faixa de retenção com 10m com capim Brachiaria decumbes, com uso dos agrotóxicos metomil,
carbofurano, diurom, malationa, metolacloro e endosulfam total, usados na produção agroquímica do
algodão durante o período 2005/2006 e 2006/2007, em estudo com chuvas naturais, a fim de analisar
a contaminação de corpos d'água. De maneira geral a investigação apresentou que a faixa de
vegetação possibilita reduzir a velocidade do escoamento superficial, aumentando a retenção,
possibilitando a deposição das partículas em suspensão - estas que apresentaram maior concentração
de pesticidas nos sedimentos das parcelas sem vegetação - elevando o índice de matéria orgânica e
promovendo atividade microbiana.

Ludovice (2003), desenvolveu experimento em solo Argissolo eutrófico, de textura arenosa/média,


de alta capacidade de infiltração, com cultivo de braquiária (Brachiaria decumbens) a fim de analisar
a dinâmica de retenção do herbicida atrazina aplicado nas faixas-filtro com comprimentos de 0m, 5m
e 10m com ação de um simulador de chuva. Análise dos resultados de coleta de água apontam que as
concentrações do poluente não reduziram nas faixas-filtro, o que ocorreu foi sua diluição pelo

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escoamento superficial, destacando a sua eficiência na retenção da substância fundamentalmente pelo


processo de infiltração e não necessariamente por um processo mecânico de sorção, no primeiro
evento de simulação foi verificado na faixa filtro de 5m a redução de 85% do poluente atrazina e na
parcela de 10m, de 93%, tornando sem efeito a partir do terceiro evento, evidenciando que a dinâmica
de retenção não segue um modelo linear.

Bicalho (2007) em estudo de campo durante o ano de 2003 e 2004, sobre a dinâmica de distribuição
de pesticidas - tebuthiuron e diuron + hexazinone - em um transecto contido cana-de-açucar anterior
as matas ciliares, localizado em Orlândia, São Paulo, encontrou resultados contraditórios a respeito
da função ecológica de barreira superficial para retenção de agrotóxicos, apontando em sua pesquisa
que não houve grande relevância de contaminação por escoamento superficial, por outro lado houve
maior influência da lixiviação provocada pela grande taxa de infiltração, com possibilidade de
movimentação lateral para áreas vizinhas, comportamento característico do Latossolo Vermelho
Amarelo Distrófico. Dessa forma, os contaminantes lixiviados encontraram barreiras verticais
relativas a adsorção das partículas do solo e forte adsorção na matéria orgânica, com seus resíduos
localizados em maior concentração nas raízes do que no solo ou nas folhas das espécies Cecropia
hololeuca - conhecida popularmente como embaúba, com potencial fitorremediadora ao tolerar altas
doses dos pesticidas - e da Trema micrantha - vulgarmente conhecida como pau-pólvora, com
potencial bioindicadora de contaminação de solo e água subterrânea. Como a mata ciliar antiga
apresentou concentrações cerca de três vezes maiores que a da mata ciliar jovem, que está adjacente
a área de aplicação, o escoamento superficial não pode ser a principal causa do processo de
contaminação para tebuthiuron, pois há uma barreira física que impede este movimento de dispersão
de resíduos.

Em investigação científica, Pinho (2003) avaliou o comportamento de adsorção dos herbicidas


atrazina e picloram em mistura com partículas coloidais de caulinita em área de silvicultura
transportado pelo escoamento superficial em zona ripária com vegetação suprimida anteriormente.
Os resultados demonstraram redução da caulinita e dos herbicidas, ao longo da zona ripária
delimitada, sem grande influência da declividade (além do tempo de retenção), porém foi notado forte
interferência da matéria orgânica, chegando a sua ausência acarretar no aumento de aproximadamente
5 vezes a velocidade do escoamento e reduzir a capacidade de retenção dos poluentes. De modo geral
a remoção parcial dos herbicidas seguiu um modelo exponencial com relação ao seu percurso. Com
base nos estudos foi possível concluir que o comprimento e a cobertura vegetal são elementos
significativos para dinâmica desses herbicidas

Aguiar Junior (2015), desenvolveu pesquisa a respeito dom comportamento das zonas tampão e seu
potencial de remoção de cinco agrotóxicos (atrazina, fluazifop-p-butil, lactofen, Lambdacialotrina e
clorpirifós) em 27 áreas de zona ripária da bacia do rio Cará-Cará, Paraná.Todas áreas de estudo
possuem o latossolo como classificação de solo porém diferentes estruturas vegetais (lenhosa,
arbustiva e gramíneas), com comprimentos de 12, 36 e 60m e declividade entre 8 e 9%. As áreas de
vegetação composta de gramas e arbustiva obtiveram nas faixas de 60m da zona tampão, no máximo,
60% da remoção enquanto a faixa de vegetação lenhosa (árvores de 15-20m) alcançou a remoção de
todos poluentes na distância de 60m. O autor trata que melhor resultado de remoção possui relação
com a alta taxa de carbono orgânico na faixa lenhosa (215g.kg-1), se comparada com as gramíneas
(50g.kg-1) e arbustivas (150g.kg-1), e também com a característica do solo vivo - população bacteriana
desenvolvida, porosidade do solo, sistema radicular alcançando as zonas saturadas - capazes de
adsorver os poluente - e grande deposição de matéria orgânica nos horizontes A e B do solo,
parâmetros que interferem na dinâmica do agrotóxico no ambiente.

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Albuquerque et al. (2000) promoveram pesquisa a respeito da mineralização e sorção da atrazina em


amostras de Latossolo roxo coletadas no estado de São Paulo, em duas áreas de produção, uma de
plantio direto e outra de cultivo convencional. No experimento foi identificado que a mineralização
possui forte relação com o teor de matéria orgânica no solo, teor de nitrogênio e frações de ácido
húmico, fúlvico e humina. Dessa forma as principais diferenças da dinâmica do pesticida nos solos,
em profundidade e tipos de manejo, se deram em função da matéria orgânica no solo. Nessa
continuidade, a curva de mineralização da atrazina apresentou o mesmo comportamento da curva de
crescimento populacional dos micro-organismos. Assim o solo proveniente do plantio direto
expressou maior atividade microbiana e, consequentemente, maior mineralização da atrazina, na zona
superficial bem como na parcela subsuperficial. Nesse contexto ficou evidente que a matéria orgânica
fundamental para adsorção da atrazina, por outro lado os óxidos de ferro e minerais de argila do tipo
1:1 não contribuíram para a adsorção. Assim os solos que apresentam baixa presença de matéria
orgânica, não adsorvem atrazina em quantidades suficientes para evitar a contaminação nas parcelas
abaixo da superfície, faixa na qual não há mineralização da molécula, possibilitando contaminação
das águas subterrâneas.

De maneira geral, os processos fisico-químicos da matéria orgânica do solo e o comprimento da área


de contaminação pelos agrotóxicos até os corpos d'água, o trajeto percorrido pelo poluente,
representam os elementos mais relevante para a interação na faixa-tampão, principalmente para os
pesticidas hidrofóbicos.

Carbo (2009) em sua pesquisa expressa que o capim braquiária utilizado enquanto espécie para faixa
de retenção, mesmo não apresentando grande biomassa, indica diferenças dos resultados entre as
safras anuais, referente ao aumento da perda de massa dos agrotóxicos pelo escoamento superficial,
de 0,0006 a 0,84% na primeira safra e 0,0071 a 1,25%. Possivelmente o resultado possui relação com
o desenvolvimento das raízes, da população bacteriológica e fúngica, além da parcela da matéria
orgânica que foi aportada durante esse espaço de tempo. Por outro lado, a pesquisa desenvolvida por
Ludovice (2003), também com braquiárias, trouxe um contraponto a Carbo (2009), expondo que nas
faixas de 5 e 10m a infiltração foi o principal processo de redução dos agrotóxicos. Certamente essa
conclusão se relaciona a ausência do horizonte O e baixo teor de matéria orgânica disponível no solo
da área estudada, uma vez que no trabalho acadêmico de Bicalho (2007) tratou que a infiltração
também se apresentou como predominante em seu experimento, porém durante o deslocamento
vertical a forte adsorção da matéria orgânica foi predominante na retenção dos agrotóxicos, que se
concentraram nas áreas radiculares das plantas.

A pesquisa desenvolvida por Ludovice (2003), também com braquiárias, trouxe um contraponto a
Carbo (2009), expondo que nas faixas de 5 e 10m a infiltração foi o principal processo de redução
dos agrotóxicos. Certamente essa conclusão se relaciona a ausência do horizonte O e baixo teor de
matéria orgânica disponível no solo da área estudada, uma vez que no trabalho acadêmico de Bicalho
(2007) tratou que a infiltração também se apresentou como predominante em seu experimento, porém
durante o deslocamento vertical a forte adsorção da matéria orgânica foi predominante na retenção
dos agrotóxicos, que se concentraram nas áreas radiculares das plantas.

Pinho (2003), nesse mesmo sentido, apresenta que a ausência ou presença da matéria orgânica possuiu
grande relevância na dinâmica dos pesticidas, se mostrando mais influente que a declividade do
terreno, chegando a afetar a velocidade de escoamento e capacidade de retenção dos poluentes.
Aquino (2008) e Albuquerque et al. (2000) reforçaram a relevância da matéria orgânica para a sorção
do solo. Aguiar Júnior (2015) apresentou com mais elementos metodológicos a função ecológica da
matéria orgânica (e micro-organismos) ao comparar ambientes com diferentes características
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(gramíneas, arbustivas e florestais) em zona tampão, investigando em condições equivalentes às mata


ciliares ao tratar de áreas com alta produção de matéria orgânica e consequentemente horizonte O
desenvolvido, além de micro-organismos e raízes profundas.

Aquino (2008) e Aguiar Junior (2015) destacam a importância do comprimento das faixas, superando
os limites de até 10m dos demais experimentos e adotando as medidas de 20m, 36m e 60m,
possibilitando analisar com mais elementos a influência da área de contato e tempo de interação dos
agrotóxicos com os componentes do solo.

Outros estudos abordam que a matéria orgânica, devido a sua natureza coloidal, elevada capacidade
de troca catiônica, grande superfície específica, se caracteriza enquanto o componente do solo com
grande influência sobre outras partículas e substâncias. Agindo a partir das pontes de hidrogênio,
transferência de carga, forças de van der Waals e partição hidrofóbica. Este elemento possui elevado
potencial de sorção, persistência ou também de degradação, uma vez que sua presença está
diretamente ligada ao metabolismo e crescimento da população da macro e microbiologia do solo,
assim agindo fortemente sobre a atrazina e outros agrotóxicos (Albuquerque et al., 2001; Gomes et
al., 2002; Lopes et al., 2002; Prata, 2002; Lavorenti et al., 2003).

Ao tratar do outro componente relevante para dinâmica do ambiente com agrotóxicos, evidenciado
pelos estudos revisados, a largura da zona ripária é determinada pela Lei Federal n. 12.651/2012 em
seu artigo 4°, o qual trata que as larguras mínimas nas faixas marginais de qualquer curso d'água
natural, a depender da largura dos corpos d'água. De maneira que os rios de pequeno porte, menores
que 10 metros, ou ainda os rios no intervalo de 10m a 50m, devem apresentar, respectivamente 30m
ou 50m de vegetação nativa conservada ou em caso de degradação precisa ser recuperada, sendo
tratada enquanto Área de Preservação Permanente. Não alcançando a faixa ótima de 60m encontrada
em estudo porém segue a recomendação mínima de 30m apresentada por Aguiar Júnior (2015).
Segundo a Lei do Código Florestal, a faixa mínima a ser recomposta pode variar a depender da área
do imóvel rural, porém, de forma geral, o agronegócio, os maiores possuidores de terra e maiores
responsáveis pela degradação ambiental, teoricamente, necessitam recompor no mínimo 30m,
permitindo ainda uma relativa proteção aos corpos d'água.

CONCLUSÃO
As soluções de manejo apropriado devem estar em torno de como promover a maior comprimento da
zona ripária e como garantir nessa área presença de matéria orgânica suficiente para interagir com os
componentes dos agrotóxicos.

Visto que a dinâmica de recuperação natural de áreas agrícolas abandonada e/ou degradadas variam
de acordo com ecossistema e as especificidades de cada processo, Vieira et al. (2009) desenvolveram
estudos a respeito da restauração agro-sucessional adotando técnicas e manejo agroflorestais,
enquanto fase transicional na restauração florestal, encontrando diversos exemplos na literatura que
demostra a viabilidade desta proposta e como principais resultados se destacaram, a segurança
alimentar, a redução o investimento inicial, continuidade da gestão da área e aproximação dos
agricultores das práticas de restauração. Os sistemas agroflorestais são baseados no princípio do
equilíbrio entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais (LAUDARES et al., 2017). Em seu
aspecto econômico, a diversidade produtiva possibilita uma maior autonomia frente a sazonalidade
dos preços de mercado. No campo social, viabiliza empregabilidade da mão de obra local durante
maior parte do ano, proporcionando condições materiais para permanência na terra. Na dimensão

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ambiental, propicia o desenvolvimento da diversidade biológica e o manejo de conservação do solo


e da água resultando em um maior equilíbrio das dinâmicas ecológicas (LAUDARES et al., 2017).

Ao adotar um processo sucessivo de regeneração, é possível o aporte contínuo da matéria orgânica


ao solo, em um manejo evolutivo planejado e apropriado a cada bioma e condição socioecológica.
De maneira geral, estudos apontam que as práticas agroflorestais promovem a recuperação de
agrossistemas de modo mais efetivo que a produção em monocultivo, gerando um aumento da
diversidade de espécies de plantas com diferentes portes, possibilitando na mesma área vegetais
lenhosos, arbustivos e gramíneas, desenvolvimento de raízes profundas, variedades de fungos,
bactérias e outros macro e microrganismos do solo, colaborando para elevação do potencial de sorção
e degradação de compostos orgânicos (DUBOIS et al., 1996; MACEDO, 2000; LAUDARES et al.,
2017).

O aporte constante de matéria orgânica é necessário para a qualidade do solo e fundamental para
garantir a ação de sorção e promoção da degradação dos agrotóxicos na zona ripária, esse fato é
justificado por Primavesi (1990) ao tratar das características do solo tropical, de maneira que a
temperatura suficientemente quente do clima tropical e subtropical ocasiona a alta atividade
metabólica das bactérias aeróbias o que provoca o consumo completo da matéria orgânica
decomponível, restando apenas a matéria orgânica humificada, ou seja, a matéria orgânica de difícil
degradação, logo de acumulação no solo. De forma que o aporte frequente de biomassa ao sistema se
torna necessário para garantir a presença da matéria orgânica no solo em quantidade suficiente, visto
seu rápido consumo. Assim, o manejo agroflorestal, ao utilizar o plantio direto, podas e contribuição
de matéria orgânica frequente, sem lavrar a terra - prática que acelera a degradação da matéria
orgânica - agrega práticas adequadas ao processo de regeneração sucessional e proteção da zona
tampão.

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