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Educação Ambiental - Unidade 01

Educação Ambiental

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Educação Ambiental - Unidade 01

Educação Ambiental

Sumário
1. A educação e o contexto da crise ambiental 2. Evolução histórica e científica
das ideias ambientalistas 3. Cultura e manejo dos recursos naturais 4. Educação
Ambiental e promoção da sustentabilidade 5. Principais conceitos do ambientalismo
contemporâneo 6. Política nacional de educação ambiental

Unidade 01 - Sociedade, natureza e desenvolvimento

Olá! Seja bem-vindo à Nota de Aula da disciplina de Educa-


ção Ambiental. Este material é bastante prático e está dispo-
nível tanto para baixar em seu computador no formato pdf
quanto para impressão. Nele você encontra o texto produ-
zido pelo Professor Conteudista na íntegra, com sugestões
de outras fontes de pesquisa e uma editoração que facilitará
e enriquecerá seus estudos. Mas, lembre-se, para alcançar
uma melhor compreensão do assunto é importante que você
assista as web aulas, complementos diretos desse material.
Agora veja o que esta unidade propõe. Boa leitura!

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Educação Ambiental - Unidade 01

Objetivo

Estudar criticamente este conteúdo proporcionará a você


uma melhor compreensão sobre a complexidade das ques-
tões relacionadas à educação ambiental, seu contexto, con-
ceitos e promoção da sustentabilidade. O processo de aná-
lise proposto contribuirá para ampliar a percepção sobre o
objeto de estudo, bem como desenvolver a capacidade de
mobilização para a aplicação dos fundamentos e princípios
da Educação Ambiental na realidade.

1. A educação e o contexto da crise ambiental

Em uma perspectiva histórica, alguns processos significativos foram marcantes

para a tra jetória da cultura ocidental quando nos referimos à sua relação com o

meio ambiente, seja ele natural ou artificial. Podemos mencionar os três primeiros

momentos históricos que marcaram essa tra jetória, são eles:

Conceito global e que envolve relações de equilíbrio


entre diversos elementos. Desta forma, define-se meio
ambiente como tudo aquilo que nos cerca, englobando
os elementos da natureza, tais como a fauna, a flora, o
ar, a água e os seres humanos.

৵৵ Revolução Industrial: calcada na ideologia do progresso, como sendo,

simbolicamente, o domínio da natureza pelo ser humano;

৵৵ Fundação da Empresa Neocolonial: consolidou o projeto expansionista

das nações industriais e deixou como saldo duas grandes guerras

mundiais;

৵৵ Explosão Nuclear no Japão: ao fim da Segunda Guerra Mundial, mostrou

a extrema capacidade e competência da humanidade em agredir e

ameaçar o meio ambiente.

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Mas foi, sem sombra de dúvidas, a partir das décadas de 1960 e 1970 que

a crise socioambiental emergiu dotada de novas características, pois trata-

se de uma crise de repercussões globais, embora atinja de maneira desigual

todos os continentes, sociedades e ecossistemas planetários. A percepção

desses problemas, em âmbito mundial, levou os especialistas a distinguirem

a poluição da miséria de uma poluição da riqueza.

৵৵ Poluição da miséria diz respeito à ausência de água potável e esgotos,

à subnutrição, à falta de tratamento do lixo, de cuidados médicos e

consumo de álcool e drogas, entre outros.

৵৵ Poluição da riqueza refere-se à presença de chuva ácida, doenças

relacionadas ao excesso de alimentos, presença de usinas nucleares,

consumo excessivo e suntuoso, álcool, drogas e medicamentos.

Entretanto, nesta reflexão, não queremos gerar antagonismos entre ricos

e pobres, ou mesmo entre países do norte e do sul. Ressaltamos, sim, o caráter

global da poluição, que atinge de forma diferenciada a todos.

Sendo assim, para pensar na crise socioambiental precisamos assumir

uma reflexão sistêmica que envolve a compreensão sobre as características

distintivas desta crise contemporânea. Essa análise envolve a dificuldade, ou

impossibilidade em certos casos, de perceber, prever, calcular e compensar

novos riscos produzidos pela modernidade industrial e técnico-científica, bem

como atribuir-lhes responsabilidade (BECK, 1999).

Dica
Para pensar a respeito desse assunto, assista ao vídeo “A História das
Coisas”, disponivel em: https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw

Outra característica diz respeito aos riscos promovidos pela radiação nuclear,

mutação genética e contaminação química ou bacteriológica, que obrigam as pessoas

a recorrerem ao conhecimento, de instrumentos e interpretações técnico-científicos

para orientar seu comportamento e suas decisões, além de depender deles.

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Para Beck (1999) devem ser discutidos os aspectos éticos, ideológicos e


políticos dessa preocupante concentração de poder em torno da ciência
e da comunidade científica, fazendo com que o debate sobre a produção
dos riscos assuma uma tônica tecnocrática e naturalista, ou seja,
preocupando-se excessivamente com a descrição empírica dos problemas de
risco, deixando de lado a discussão política, social e cultural, dimensões
fundamentais para o entendimento da complexa situação ambiental.

Outro importante aspecto ressaltado por Beck (1999) diz respeito à

preocupação com o processo de modernização econômica e técnico-científica,

por produzirem irracionalidades e incertezas, deslocando o objeto central das

preocupações políticas e sociais da busca do desenvolvimento, da produção e

distribuição de riquezas para a administração econômica e política dos riscos

gerados pela própria modernização.

Importante

O que se tem visto ao longo das últimas duas décadas é


uma tentativa de repensar a relação sociedade-natureza
levando em consideração os aspectos supracitados e tendo
como pano de fundo as grandes mudanças de cunho político,
econômico e cultural que vêm acontecendo em escala
planetária. Sendo assim, pensar em crise ambiental leva-nos
a admitir que essa crise é resultante do modelo civilizatório
e cultural alavancado pelo projeto de modernidade. Essa
constatação singular de um projeto social que destrói e
ameaça suas próprias bases de sustentação e sobrevivência
revela-nos um processo que transcende os contornos de
mera crise ecológica e aponta para uma crise civilizatória
de amplas e profundas dimensões. É no contexto de uma
modernidade avançada, incerta e complexa, contraditória e
insustentável que se encontra o foco da questão ambiental e
a inserção da educação nesta questão.

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Sendo assim, em todo o histórico da crise ambiental, a educação tem sido

referenciada como um instrumento capaz de responder positivamente a essa

problemática ao lado de outros meios políticos, econômicos, legais, éticos, científicos

e técnicos. A partir de 1980, em âmbito internacional, e por volta dos anos de 1990 no

Brasil, tem-se início o processo de maioridade da educação ambiental, conquistando

o reconhecimento social e difundindo-se numa multiplicidade de reflexões e

ações promovidas por organismos internacionais, organizações governamentais,

comunidade científica, entidades empresariais e religiosas.

Antes de evoluir na discussão acerca do papel da educação, e em particular da

Educação Ambiental, cabe explicitar que a educação é um subsistema subordinado

e articulado ao macrossistema social. Portanto, como afirma Carvalho (1998), as

concepções e práticas educativas não possuem uma realidade autônoma, mas

se subordinam a um contexto histórico mais amplo que condiciona seu caráter e

sua direção pedagógica e política. Sendo assim, os debates internos ao campo da

educação acompanham os macrodebates sociais, nos lembrando que o processo

educativo não é neutro e objetivo, destituído de valores, interesses e ideologias. Ao

contrário, a educação é uma construção social repleta de subjetividade, de escolhas

valorativas e de vontades políticas, dotada de uma especial singularidade que

reside em sua capacidade reprodutiva dentro da sociedade.

Por conta dessa importância, a educação possui um significado


profundo na construção social estratégica, por estar diretamente
envolvida na socialização e formação dos indivíduos e de sua
identidade social e cultural.
(LOUREIRO; LAYARAGUES; CASTRO, 2011) .
A educação, nesse sentido, pode assumir tanto um papel de conservação

da ordem social, reproduzindo os valores, ideologias e interesses dominantes

socialmente, como papel emancipatório, comprometido com a renovação cultural,

política e ética da sociedade e com o pleno desenvolvimento das potencialidades

dos indivíduos que a compõem. O campo demarcado pela Educação Ambiental é

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plural e reflete as principais tendências políticas, éticas e culturais do atual debate

sobre a sustentabilidade.

Para efeito de análise, podemos relacionar a sustentabilidade e a educação

conservadora com as forças que representam o mercado, de perfil neoliberal e

tecnocrático marcado por baixa participação e representatividade social. Por sua

vez, a sustentabilidade e a educação emancipatórias relacionam-se aos movimentos

sociais e libertários da sociedade, bem como de defesa de um Estado democrático

com forte participação e controle por parte da sociedade civil. (LOUREIRO;

LAYARAGUES; CASTRO, 2011).

Veja o confronto entre as duas abordagens apresentadas no parágrafo acima

no quadro a seguir:

Abordagem conservadora Abordagem emancipatória


৵৵ Reducionista, fragmentada e ৵৵ Compreensão complexa e multidi-
unilateral acerca da questão mensional da questão ambiental;
ambiental;
৵৵ Defesa do amplo desenvolvimento
৵৵ Compreensão naturalista e das liberdades e possibilidades hu-
conservacionista da crise ambiental; manas;
৵৵ Tendência a sobrevalorizar as
৵৵ Atitude crítica diante dos desafios da
respostas tecnológicas diante dos
desafios ambientais; crise civilizatória;

৵৵ Leitura individualista e ৵৵ Politização e publicização da prob-


comportamentalista da educação e lemática socioambiental;
dos problemas ambientais;
৵৵ Associação dos argumentos técni-
৵৵ Abordagem despolitizada da co-científicos à orientação ética do
temática ambiental; conhecimento, de seus meios e fins, e
৵৵ Baixa incorporação de princípios e não sua negação;
práticas interdisciplinares; ৵৵ Entendimentos da democracia como
৵৵ Perspectiva crítica limitada ou pré-requisito fundamental para a
inexistente; construção de uma sustentabilidade
plural;
৵৵ Ênfase nos problemas relacionados
ao consumo em relação aos ligados ৵৵ O exercício da cidadania é prática in-
à produção; dispensável à democracia e à eman-
৵৵ Separação entre as dimensões cipação socioambiental;
sociais e naturais da problemática ৵৵ Cuidado em estimular o diálogo e a
ambiental;
complementariedade entre as ciên-
৵৵ Banalização das noções de cias e as múltiplas dimensões da real-
cidadania e participação. idade entre si.

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(LOUREIRO; LAYARAGUES; CASTRO, 2011).

A atual crise socioambiental é, na verdade, uma das expressões de uma crise

civilizatória pluridimensional que revela a todo instante, e de diversas maneiras,

o esgotamento do projeto cultural iluminista inspirado na ideia de progresso, na

razão instrumental e numa compreensão de mundo dualista. Vivemos um momento

sócio-histórico marcado por uma profunda multiplicação dos riscos naturais e

tecnológicos e pela permanente presença da incerteza, ambos característicos da

modernidade avançada. A crise ambiental que vivenciamos, mais que “ecológica”,

é produto das contradições e das crises da razão e do progresso.

2. Evolução histórica e científica das ideias ambientalistas

Anos 60
A Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética ameaça

deflagrar um conflito nuclear, tendo seu ápice na “Crise dos

Mísseis” e na consequente intensificação da corrida espacial.

Através do amadurecimento da primeira geração pós-guerra,

os chamados baby boomers, a promoção de causas raciais,


feminismo e contracultura põem em dúvida os parâmetros

da sociedade. Crescem os movimentos sociais, entre os quais

o ambientalismo. No final da década, com os americanos

alcançando a Lua, uma imagem inédita conquista o imaginário

popular: o planeta inteiro cabendo em uma única foto...

৵৵ 1969: promulgada a Política Ambiental Americana, uma

das primeiras leis oficiais de meio ambiente em todo o

mundo, que serviu de base e estímulo para vários países

formularem suas próprias políticas ambientais - como o

Brasil, em 1981.

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Anos 70
As “superpotências” se aproximam diplomaticamente,

e os embates militares na “Guerra Fria” entre

capitalistas e socialistas dá cada vez mais espaço

ao campo cultural, com romances e filmes de

luta, intriga política e espionagem. Ainda assim,

os embalos de sábado à noite não aplacam os

efeitos da crise mundial do petróleo - ou fim do

“milagre econômico” desenvolvimentista no Brasil.

As revoluções comportamentais e conquistas

identitárias dos anos anteriores insuflam a reflexão

sobre as relações entre indivíduo e coletividade;

humanidade e natureza.

৵৵ 1972: em Estocolmo, acontece a primeira

Conferência Mundial das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), com

bases no relatório do Clube de Roma.

৵৵ 1973: no Brasil, é inaugurada a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),

vinculada ao Ministério do Interior, com vistas à preservação do meio ambiente,

em especial dos recursos hídricos, assegurando o bem-estar das populações e

o seu desenvolvimento econômico e social.

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Anos 80
Após os projetos nacionais e transnacionais

de expansão industrial da década anterior,

se dá a expansão do consumo em novos e

variados mercados, com diversos produtos

industrializados chegando às casas de bilhões

de pessoas, em especial equipamentos

eletrônicos e eletrodomésticos. Têm fim vários

governos autoritários e até mesmo a União

Soviética se mostra enfraquecida com a Queda

do Muro de Berlim. No meio da década, duas

notícias marcaram drasticamente a tomada

de consciência ambiental: o acidente nuclear

da Usina de Chernobyl e a descoberta de um

“buraco” na camada de ozônio, o que nos

desprotegia das tão temidas ondas radioativas.

৵৵ Escalada do ativismo ambiental, com novas entidades como a Cultural

Survival (Sobrevivência Cultural) e o Greenpeace.

৵৵ 1981: a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) formula a Política


Nacional de Meio Ambiente (PNMA) - Lei Nº 6.938/81.
৵৵ 1982: lançado o Relatório Brundtland (ou “Nosso Futuro Comum”), que

sintetizava as diretrizes do “desenvolvimento sustentável” e propunha

a realização da segunda Conferências das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (UNCED).

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Anos 90
A “Globalização” sucede a desintegração da

União Soviética, com diversos pólos capitalistas

se desenvolvendo em paralelo ao poderio

econômico americano. O computador pessoal e as

comunicações por satélite se popularizam, mas com

a internet ainda estava insípida. Diversas epidemias

assolam grandes populações, como AIDS, Ebola e

o “Mal da Vaca Louca”. Por sua vez, a clonagem e

a produção transgênica fascinam a humanidade

por suas possibilidades e riscos. Processos de

reciclagem são aperfeiçoados e se tornam mais

comuns, enquanto o “El Niño” aparece com força

como primeiro fenômeno climático de escala global

a ser conhecido no mundo moderno, provocando

simultaneamente secas e inundações severas em

diversas regiões do globo.

৵৵ 1992: realização da Rio-92, a segunda

conferência das Nações Unidas, com discussões

acerca dos capítulos da “Agenda 21” e o

Fórum Global 92, buscando caminhos para o

Desenvolvimento Sustentável.

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Anos 2000
A virada do milênio começou quase imediatamente com o

choque do Atentado terrorista de 11 de setembro de 2001,

em Nova York. O poderio global americano passa a ter

concorrência progressiva com o Crescimento Econômico

Chinês. A internet comercial se estende a todo o mundo

e Novas Tecnologias são inventadas e aprimoradas:

acesso remoto, registros digitais e mídias sociais ganham

o espaço das comunicações interpessoais. Redes sociais

são inventadas e integradas a diversas plataformas, que

são acessadas por uma grande variedade de dispositivos

pessoais e coletivos. As Mudanças Climáticas ficam mais

severas e se tornam do conhecimento do grande público

mundial, integrando paulatinamente a pauta de discussões

políticas e sociais.

৵৵ 2002: ocorre em Johanesburgo, África do Sul, a

Rio+10, evento em que se evidenciou a distância


de todos os esforços socioambientais para as metas

traçadas nos encontros anteriores.

Em 2012, aconteceu a Rio+20, outra reunião da Cúpula Mundial


Sobre o Desenvolvimento Sustentável, novamente no Rio de
Janeiro, com a finalidade de renovar o comprometimento político
com o desenvolvimento sustentável, avaliar os progressos realizados
até o momento e as lacunas que ainda existem na implementação
dos resultados dos principais encontros sobre desenvolvimento
sustentável, além de dar foco aos novos desafios emergentes.

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3: Cultura e manejo dos recursos naturais


A percepção dos problemas socioambientais vem se tornando cada vez mais

evidente ao longo das últimas décadas. Em virtude deste contexto, a Educação

Ambiental deve ser considerada como importante instrumento de gestão ambiental

para a materialização da visão do desenvolvimento sustentável. Entretanto, sua

aplicabilidade, de maneira efetiva, está condicionada à implantação de políticas

públicas educacionais compatíveis que subsidiem uma mudança cultural de modo

a afetar holisticamente os hábitos e posturas de uma determinada sociedade. O

processo de degradação ambiental de uma região está sem dúvida condicionado

ao padrão de consumo da sociedade, o qual pode ser sustentável ou insustentável.

Assim, o processo de educação ambiental deve ser entendido como um

instrumento indispensável para influenciar a cultura e o manejo dos recursos

naturais e, assim, materializar a ideia de desenvolvimento sustentável.

A ação humana ou antrópica sobre o


Os ecossistemas antrópicos apresentam ambiente pode gerar ecossistemas
humanizados, ou seja, ambientes
como característica marcante um nível muito eminentemente naturais, modificados
com maior ou menor intensidade pelas
elevado de entropia, uma consequência sociedades humanas.
natural da baixa autonomia local ou insustentabilidade. Os impactos ambientais

decorrentes da entropia gerada por estes ecossistemas vêm evidenciando ao

longo das últimas décadas um potencial muito elevado de comprometimento da

qualidade de vida do homem, sua saúde e mesmo sua sobrevivência.

Ainda falando de entropia, você sabe o que é capacidade de carga do planeta?

Falamos em capacidade de carga ao pensarmos uma equação: Bens que consumimos

x Bens que o planeta pode nos fornecer. Conhecer exatamente o que o planeta

pode nos fornecer é extremamente difícil, mas já nos remete a um pensamento de

cuidado e de proatividade na preocupação com o meio ambiente.

É preciso criar as condições socioeconômicas, institucionais e culturais que

estimulem um progresso pautado nos cuidados com a questão ambiental, bem

como repensar o padrão de consumo atualmente adotado, sempre tomando em

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conta a limitação dos recursos naturais. É o que chamamos de tentar reduzir nossa

“pegada ecológica”.

Neste contexto, é necessário haver cidadãos alfabetizados no aspecto ambiental

para construir sociedades mais sustentáveis e justas.

Aprender a viver de maneira mais sustentável requer Educação Ambiental,

alfabetização ecológica para a realização de manejo sustentável dos recursos

naturais, tais como:

৵৵ desenvolver o respeito ou reverência a todas as formas de vida;

৵৵ entender o máximo possível sobre como a Terra funciona e se sustenta e

usar esse conhecimento em prol da vida, das comunidades, da sociedade

e do ambiente como um todo;

৵৵ buscar conexões dentro da biosfera e entre ela e nossas ações;

৵৵ usar as habilidades de raciocínio crítico para perseguir a sabedoria

ambiental em vez de sermos recipientes repletos de informações

ambientais.

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Importante

Segundo Miller Jr. (2011), uma pessoa alfabetizada em


meio ambiente deverá ter conhecimento de:

৵৵ Conceitos, como sustentabilidade ambiental, capital


natural, crescimento exponencial, capacidade de suporte
e riscos e análise de riscos;

৵৵ História ambiental;

৵৵ Leis da termodinâmica e lei da conservação de material;

৵৵ Princípios básicos de ecologia;

৵৵ Dinâmica da população humana;

৵৵ Cidades e projetos sustentáveis;

৵৵ Maneiras de sustentar a biodiversidade;

৵৵ Agricultura e exploração florestal sustentável;

৵৵ Conservação do solo;

৵৵ Uso sustentável da água;

৵৵ Recursos minerais não renováveis;

৵৵ Recursos energéticos renováveis e não renováveis;

৵৵ Mudança climática e redução da camada de ozônio;

৵৵ Prevenção da poluição e redução dos desperdícios;

৵৵ Visões de mundo e éticas ambientais.

O processo de educação ambiental é fundamental para o desenvolvimento

da cultura conservacionista e fortalecimento na tomada de decisão quanto à

implementação do manejo sustentável dos recursos naturais, possibilitando aos

grupos sociais o caminho para a tomada de decisão que direcionem para as

soluções de problemas ambientais prioritários, procurando verificar, discutir e

estimular as possibilidades de mudanças de hábitos, comportamentos, opiniões

e práticas cotidianas.

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4. Educação Ambiental e promoção da sustentabilidade


Como vimos, a humanidade é confrontada com múltiplos problemas que,

considerados de um ponto de vista global, anunciam um futuro pelo menos

problemático. Desta reflexão, deriva a Educação Ambiental como uma estratégia

global que compreende as seguintes dimensões: a descontextualização, a

contextualização, a invenção de uma nova cultura ecológica, a intervenção

ecossocial, o diálogo e a cooperação. Podemos considerar estas dimensões

como elementos-chave para a promoção da sustentabilidade.

Os agentes e atores da Educação Ambiental devem envolver-se numa ação

individual, coletiva e socialmente responsável, baseando-se em ideias sobre valores

democráticos, no respeito ao direito de todos os seres vivos, sobre o trabalho em

comum, sobre o respeito da diversidade de pontos de vista e das experiências vividas.

A Educação Ambiental conduz a ações sinérgicas, locais e, à maior parte das vezes,

cooperativas. Nesta perspectiva, a distância entre conhecimento e ambiente de vida

desaparecem numa visão interacional, assim a Educação Ambiental transforma-se

em uma ecofilosofia. Em síntese, a Educação Ambiental visa a aquisição e o ensino

de competências ecossociais e a interiorização da ecorresponsabilidade, permitindo

a promoção da sustentabilidade e assegurando a reconstrução planetária que se

impõe.

5. Principais conceitos do ambientalismo contemporâneo


As abordagens no campo da Educação Ambiental, apesar da preocupação

com o meio ambiente e do reconhecimento do papel central da educação para

a sua melhoria, adotam diferentes discursos, propondo diversas maneiras de

conceber e de práticas a ação educativa neste campo. É assim que identificaremos

e abordaremos diferentes conceitos em Educação Ambiental, que na realidade,

referem-se a formas de conceber e de praticá-la.

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Correntes conceituais tradicionais

৵৵ Naturalista; Correntes conceituais sistêmicas

৵৵ Conservacionista/recursista; ৵৵ Holística;

৵৵ Resolutiva; ৵৵ Biorregionalista;

৵৵ Sistêmica; ৵৵ Práxica;

৵৵ Científica; ৵৵ Crítica;

৵৵ Humanista; ৵৵ Feminista;

৵৵ Moral/ética. ৵৵ Etnográfica;

৵৵ Da ecoeducação;

৵৵ Da sustentabilidade.

Cada corrente se distingue por características particulares, mas podem

ser observadas zonas de convergência. Os conceitos referentes a estas

correntes são apresentados no quadro a seguir, conforme a concepção

dominante do meio ambiente, a intenção central da educação ambiental e

os enfoques privilegiados. Esta sistematização é vista como uma proposta

teórica, sendo vanta josa por constituir objeto de discussões e críticas.

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Correntes Descrição
Conceituais

Naturalista Centrada na relação com a natureza. O enfoque educativo pode


ser cognitivo (aprender com coisas sobre a natureza), experi-
mental (viver na natureza e aprender com ela), afetivo, espiri-
tual ou artístico (associando a criatividade humana à natureza).
Reconhece o valor intrínseco da natureza, acima e além dos re-
cursos que ela proporciona e do saber que dela é possível obter.

Conservacionista/ Agrupa proposições centradas na “conservação” dos recursos,


recursista tanto no que concerne à sua qualidade quanto à sua quanti-
dade: a água, o solo, a energia, as plantas e os animais, o pat-
rimônio genético, o patrimônio construído. Quando se fala de
“conservação da natureza”, como da biodiversidade, trata-se
sobretudo de uma natureza-recurso.

Resolutiva Surgiu em princípios da década de 1970, quando se revelaram a


amplitude, a gravidade e a aceleração crescente dos problemas
ambientais. Agrupa proposições em que o meio ambiente é
considerado principalmente como um conjunto de problemas.
Trata-se de informar ou de levar as pessoas a se informarem
sobre problemáticas ambientais, assim como a desenvolverem
habilidades voltadas para resolvê-las.

Sistêmica Permite conhecer e compreender adequadamente as reali-


dades e as problemáticas ambientais. Possibilita identificar os
principais componentes de um sistema ambiental e salientar
as relações entre os componentes, como as relações entre os
elementos biofísicos e os sociais de uma situação ambiental.
Autoriza a obtenção de uma visão de conjunto que corresponde
à síntese da realidade apreendida.

Científica Dá ênfase ao processo científico com o objetivo de abordar


com rigor as realidades e problemáticas ambientais e com-
preendê-las melhor, identificando mais especificamente as
relações de causa e efeito. O processo está centrado na indução
de hipóteses a partir de observações, e na verificação de hipóte-
ses por meio de novas observações ou por experimentação.

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Humanista Dá ênfase à dimensão humana do meio ambiente, construído no


cruzamento da natureza e da cultura. O ambiente não é somente
apreendido como um conjunto de elementos biofísicos, que
basta ser abordado com objetividade e rigor para ser mais bem
compreendido, para interagir melhor, mas corresponde a um
meio de vida, com suas dimensões históricas, culturais, políticas,
econômicas, estéticas etc.

Moral/ética O atuar baseia-se em um conjunto de valores mais ou menos


conscientes e coerentes entre eles. Diversas proposições de
Educação Ambiental enfatizam o desenvolvimento dos valores
ambientais.

Holística Refere-se à totalidade de cada ser, de cada realidade, e à rede de


relações que os une entre si em conjuntos onde adquirem senti-
do.

Biorregionalista Inspira-se na ética ecocêntrica e centra a Educação Ambiental no


desenvolvimento de uma relação preferencial com o meio local
e regional, no desenvolvimento de um sentimento de pertença e
no compromisso em favor da valorização deste meio.

Práxica Ênfase na aprendizagem na ação pela ação e para melhora des-


ta, pondo-se imediatamente em situação de ação e de aprender
pelo projeto, por e para este projeto. A aprendizagem convida a
uma reflexão na ação, no projeto em curso.

Crítica Consiste na análise das dinâmicas sociais que se encontram na


base das realidades e problemáticas ambientais: análise de in-
tenções, de posições, de argumentos, de valores explícitos e im-
plícitos, de decisões e de ações dos diferentes protagonistas de
uma situação.

Feminista Em matéria de meio ambiente, uma ligação estreita ficou esta-


belecida entre a dominação das mulheres e a da natureza.

Etnográfica Dá ênfase ao caráter cultural da relação com o meio ambiente. A


Educação Ambiental não deve impor um visão de mundo; é pre-
ciso levar em conta a cultura de referência das populações ou das
comunidades envolvidas.

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Educação Ambiental - Unidade 01

Da ecoeducação Não se trata de resolver problemas, mas de aproveitar a relação


com o meio ambiente para a promoção do desenvolvimento pes-
soal e para fundamento de um atuar significativo e responsável.
O meio ambiente é percebido aqui como uma esfera de inter-
ação essencial para a ecoformação ou para a eco-ontogênese.

Da sustentabilidade A Educação Ambiental está limitada a um enfoque naturalista e


não integraria as preocupações sociais, em particular as consid-
erações econômicas no tratamento de problemáticas ambien-
tais. A educação para o desenvolvimento sustentável permitiria
atenuar esta carência.

(SATO; CARVALHO, 2005).

6. Política nacional de Educação Ambiental


O Brasil é o único país da América Latina que tem uma política nacional

específica para a Educação Ambiental. A Política Nacional de Educação Ambiental

(Lei 9.795/1999) tem por finalidade articular ações educativas de proteção e

recuperação dos recursos naturais e de contribuir com o processo de conscientização

do cidadão no que diz respeito à melhor maneira de se relacionar com esses recursos.

Esta política é, portanto, um componente permanente da educação nacional e deve

estar presente de modo articulado, complementar e transversal em todos os níveis

e modalidades de ensino, buscando desenvolver:

processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores


sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (Lei 9.795/1999, artigo 1º).

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Dica

Na web aula você encontrá a Lei 9.795 da Política Nacional


de Educação Ambiental em pdf ou pode visualizar no site
oficial do Governo Federal: http://www.planalto.gov.br .

Finalizamos aqui a Unidade 1 do estudo da Educação Am-


biental. Lembre-se de acompanhar a web aula desta Uni-
dade e os textos complementares. Conte ainda com o apoio
do Ambiente Virtual de Aprendizagem para esclarecer suas
dúvidas.

Bons estudos!

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Educação Ambiental - Unidade 01

Referências

BECK, U. O que é globalização? Equívocos do globalismo: respostas à


globalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

BRASIL. Presidência da República. LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Disponível


em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm> Acesso em: 19 de
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CASTRO, R. S. de; LOUREIRO, F. B.; LAYARAGUES, P. P. Educação ambiental:


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Créditos
Núcleo de Educação a Distância
O assunto estudado por você nessa disciplina foi planejado pelo professor
conteudista, que é o responsável pela produção de conteúdo didático, e foi
desenvolvido e implementado por uma equipe composta por profissionais
de diversas áreas, com o objetivo de apoiar e facilitar o processo ensino-
aprendizagem.

Coordenação do Núcleo de Roteiro de Áudio e Vídeo


Educação a Distância José Glauber Peixoto
Andrea Chagas Alves de Almeida
Produção de Áudio e Vídeo
Supervisão Administrativa José Moreira Sousa
Denise de Castro Gomes
Identidade Visual / Arte
Produção de Conteúdo Didático Diego Silveira Maia C. da Silva
João Batista Vianey Francisco Cristiano L. de Sousa
Sérgio Oliveira Eugênio de
Design Instrucional
Souza
Andrea Chagas Alves de Almeida
Viviane Cláudia Paiva Ramos
Projeto Instrucional
Programação / Implementação
Bárbara Mota Barros
Antônia Suyanne Lopes Alves
Régis da Silva Pereira
Jairo Araújo dos Santos

Editoração
Camila Duarte do Nascimento
Moreira

Revisão Gramatical
Luís Carlos de Oliveira Sousa

O trabalho Educação Ambiental- Unidade 01 - Sociedade, natureza e desenvolvimento de João


Batista Vianey, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com uma Licença Creative
Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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