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ILUSTRÍSSIMO (A) SENHOR (A) GERENTE EXECUTIVO(A) DA AGÊNCIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

DE

NB nº ${informacao_generica}

${cliente_nomecompleto}, ${cliente_qualificacao}, residente e


domiciliada em , vem, por meio de seu procurador, apresentar

DEFESA ADMINISTRATIVA

pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

A Requerente teve concedido administrativamente o benefício de prestação continuada


ao deficiente NB ${informacao_generica}.

Sucede que a Autarquia Previdenciária identificou suposta irregularidade no que tange à


renda auferida pelo grupo familiar, alegando ser valor superior ao requisito estabelecido na
legislação, fato este que não procede, pelo que passa a expor.

1. DO REQUISITO SOCIOECONÔMICO
Inicialmente, cumpre referir que o sistema de proteção aos benefícios assistenciais é
bem mais sensível do que os de benefício previdenciário, pois visa justamente dar o amparo
fundamental, para que uma pessoa possa existir naquele corpo social, buscar sua
autorrealização e, se não for possível deixar, pelo menos ter diminuída sua situação de total
marginalização social.[1]

A Constituição Federal de 1988 é clara ao garantir prestações assistenciais, protegendo,


principalmente, à família, à infância, à adolescência e à velhice. Além disso, a Carta Política
contempla situações inesperadas, como o desemprego e a invalidez.

Nesse contexto, foi editada a Lei nº 8.742/93 a qual versa sobre a organização da
Assistência Social e, em seu art. 2º, inciso I, alínea ‘e’, garante o benefício mensal de 1 (um)
salário-mínimo à pessoa com deficiência que comprove não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família.
Para fins regulamentares, é verificada, como renda, a renda mensal, a soma dos
rendimentos brutos auferidos mensalmente pelos membros da família composta por salários,
proventos, pensões, pensões alimentícias, benefícios da previdência pública ou privada, seguro-
desemprego, comissões, pró-labore, outros rendimentos do trabalho não assalariado,
rendimentos do mercado informal ou autônomo, rendimento auferidos do patrimônio, Renda
Mensal Vitalícia e Benefício de Prestação Continuada, ressalvados os casos de benefício
assistencial ou previdenciário com o valor de um salário mínimo.[2]

Com efeito, sustenta a Autarquia Previdenciária eventual irregularidade no requisito


socioeconômico, uma vez que a renda familiar deveria ser inferior a ¼ do salário mínimo.

O grupo familiar é composto por ${informacao_generica} integrantes, $


{informacao_generica}. Conforme notificação enviada pelo INSS, questiona-se o montante
auferido atualmente pela genitora, Sra. ${informacao_generica}.

Conforme o CNIS, a Sra. ${informacao_generica} é beneficiária do benefício de


aposentadoria por invalidez NB ${informacao_generica}, no valor de R$ $
{informacao_generica}. Nesse sentido, verifica-se que constou no Cadastro Único da Autora que
a renda per capita da família seria de R$${informacao_generica}, montante este calculado de
maneira equivocada sobre a soma do valor do benefício assistencial auferido pela Demandante,
de um salário mínimo, junto à renda de sua genitora.

A esse respeito, destaca-se que o Tribunal Regional Federal desta 4ª Região possui
firme entendimento no sentido de que deve ser EXCLUÍDO do cálculo da renda familiar per
capta o valor auferido por idoso com 65 anos ou mais a título de benefício previdenciário de
renda mínima ou de benefício previdenciário de valor superior ao mínimo, até o limite de um
salário mínimo:

PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. MEIOS DE COMPROVAÇÃO DO ESTADO


DE MISERABILIDADE PARA FINS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL ao
idoso. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. EXCLUSÃO DA RENDA DO IDOSO.
SEGURANÇA CONCEDIDA EM PARTE, PARA DETERMINAR AO INSS A REANÁLISE DO
PEDIDO, SEGUNDO OS PARÂMETROS TRAÇADOS PELO STF. [...] 3. No cálculo da renda
familiar per capita, deve ser excluído o valor auferido por idoso com 65 anos ou mais a
título de benefício assistencial ou benefício previdenciário de renda mínima ou de
benefício previdenciário de valor superior ao mínimo, até o limite de um salário
mínimo, bem como o valor auferido a título de benefício previdenciário por
incapacidade ou assistencial em razão de deficiência, independentemente de idade.
Precedentes da Corte[...] 5. Segurança concedida em parte, para determinar ao INSS
que reanalise o pedido de benefício assistencial ao idoso formulado pela impetrante,
excluindo, no cálculo da renda familiar per capita, o valor auferido por idoso com 65
anos ou mais a título de benefício previdenciário de renda mínima ou de benefício
previdenciário de valor superior ao mínimo, até o limite de um salário mínimo. (TRF4,
AC 5001037-57.2017.4.04.7202, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Relator
PAULO AFONSO BRUM VAZ, juntado aos autos em 14/11/2017, com grifos acrescidos)

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. REEXAME DE


RECURSO. ART. 543-B, § 3º, DO CPC. MEIOS DE COMPROVAÇÃO DO ESTADO DE
MISERABILIDADE PARA FINS DE CONCESSÃO DE BENEFÍCIO
ASSISTENCIAL. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA
QUANTO AO PEDIDO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. EXCLUSÃO DA RENDA DO IDOSO.
SEGURANÇA CONCEDIDA EM PARTE, PARA DETERMINAR AO INSS A REANÁLISE DO
PEDIDO, SEGUNDO OS PARÂMETROS TRAÇADOS PELO STF. [...] 6. De acordo, pois, com
os parâmetros fixados pelo Supremo Tribunal Federal e levando em conta a
jurisprudência pacífica deste TRF, no cálculo da renda familiar per capita, deve ser
excluído o valor auferido por idoso com 65 anos ou mais a título de benefício
assistencial ou benefício previdenciário de renda mínima ou de benefício
previdenciário de valor superior ao mínimo, até o limite de um salário mínimo. 7. Apelo
parcialmente provido, para conceder em parte a segurança e determinar ao INSS que
reanalise o pedido de benefício assistencial ao idoso formulado pela impetrante em
18-03-2009 (NB 147.753.906-6), excluindo, no cálculo da renda familiar per capita, o
valor auferido por idoso com 65 anos ou mais a título de benefício assistencial ou
benefício previdenciário de renda mínima ou de benefício previdenciário de valor
superior ao mínimo, até o limite de um salário mínimo. (TRF4, AC 0001813-
26.2009.4.04.7202, SEXTA TURMA, Relator CELSO KIPPER, D.E. 28/05/2014)

No caso dos autos, além de ser necessário desconsiderar o valor do benefício


assistencial auferido pela Requerente, é preciso também retirar parcialmente o montante
percebido por sua genitora do cálculo da renda per capita. Com efeito, uma vez que a Sra. $
{informacao_generica} aufere aposentadoria no valor de R$ ${informacao_generica}, deveria o
INSS, então, ter procedido à exclusão do valor de um salário mínimo (R$ 954,00 em 2018),
computando-se no cálculo apenas a verba remanescente (R$ ${informacao_generica}).

Em sendo excluído o valor de R$ 954,00 (e também excluindo a Sra. $


{informacao_generica} da composição do grupo familiar), a renda auferida pela Impetrante a
ser considerada consistiria em R$ ${informacao_generica}, valor este muito inferior ao critério
de ¼ do salário mínimo.

Portanto, o INSS equivocou-se ao não excluir do cálculo da renda familiar o valor


recebido pela Sra. ${informacao_generica}, até o limite de um salário mínimo, e, por corolário,
equivocou-se ao questionar a renda percebida pela genitora.

Ademais, destaca-se que deve ser aplicado também o entendimento do Supremo


Tribunal Federal, que decidiu pela inconstitucionalidade do patamar entabulado no artigo 20,
§3º da Lei 8.742/93, de modo que a análise da vulnerabilidade social experimentada pela
Requerente deve ser observada individualmente. Veja-se:
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA – RENDA FAMILIAR PER CAPITA
– CRITÉRIO DE AFERIÇÃO DE MISERABILIDADE – CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO
– AFASTAMENTO – DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 20, § 3º,
DA LEI Nº 8.742/93 SEM PRONÚNCIA DE NULIDADE – AGRAVO DESPROVIDO. 1. O
Colegiado de origem assentou a comprovação dos pressupostos necessários à
concessão do benefício assistencial de prestação continuada – LOAS. O recorrente
insiste no processamento no extraordinário, afirmando violados os artigos 203, inciso
V, e 229, cabeça, da Constituição Federal, apontando não preenchido o requisito da
miserabilidade. 2. O Tribunal, no Recurso Extraordinário nº 567.985/MT, de minha
relatoria, tendo sido designado para redigir o acórdão o ministro Gilmar Mendes,
declarou incidentalmente a inconstitucionalidade, por omissão parcial, do artigo 20,
§ 3º, da Lei nº 8.742/93, sem pronúncia de nulidade, asseverando o critério de renda
familiar por cabeça nele previsto como parâmetro ordinário de aferição da
miserabilidade do indivíduo para fins de deferimento do benefício de prestação
continuada. Permitiu, contudo, ao Juiz, no caso concreto, afastá-lo, para assentar a
referida vulnerabilidade com base em outros elementos. 3. Em face do precedente,
ressalvando a óptica pessoal, desprovejo este agravo. 4. Publiquem. Brasília, 30 de
março de 2016. Ministro MARCO AURÉLIO Relator (STF - ARE: 937070 PE -
PERNAMBUCO, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 30/03/2016, Data
de Publicação: DJe-063 07/04/2016) (grifo nosso)

Assim, não é crível considerar que a renda auferida seja suficiente para garantir a
subsistência do grupo familiar.

Ademais, caso assim não entenda a Autarquia, cabe ressaltar que o fato de a renda
familiar ser pouco superior a ¼ (um quarto) do salário mínimo encontra-se abarcado pela
proteção da coisa julgada. Com efeito, o benefício em comento foi concedido através de
decisão judicial oriunda do processo nº ${informacao_generica}, proferida pelo juízo da Vara
Federal de ${informacao_generica}.

Na ocasião, a renda familiar da Demandante advinha de eventuais proventos obtidos


pela sua genitora, como diarista, e pelo seu genitor, como camelô. Em sentença,
brilhantemente afirmou o N. Julgador que, mesmo “que a renda per capita tenha ultrapassado
um pouco o limite legal de ¼ do salário mínimo, do contexto probatório entendo que restou
comprovada a situação de miserabilidade”.

Por fim, registre-se, ainda, que os pais da Autora se separaram recentemente, razão
pela qual a Sra. ${cliente_nome} já não conta mais com os proventos advindos do trabalho de
seu genitor. Portanto, diante de todo o exposto, resta evidenciado que a Requerente
permanece em situação de grande precariedade e exclusão social.

Logo, sendo claro que suas condições socioeconômicas não lhe ofertam meios para que
proveja suas necessidades básicas, tampouco para se submeta ao tratamento médico
adequado, e considerando, ainda, a existência de coisa julgada, imperioso que seja mantido o
benefício.

2. DA DEFICIÊNCIA

A deficiência de longo prazo da Autora é incontroversa, sobretudo porque reconhecida


ainda na esfera administrativa. Ademais, nos termos da notificação enviada para a Requerente
pelo INSS, a suposta irregularidade fora costatada apenas no que consiste a renda superior
aos critérios, de forma que o requisito deficiência se torna incontroverso.

E no que consta à Lei 8.742/93 (grifei):

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo


mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais
que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la
provida por sua família. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

(...) § 2o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com


deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011)

Logo, tem-se comprovado o preenchimento de todos os requisitos atinentes ao


benefício postulado, eis que, não somente o Autor apresenta deficiência (nos termos da
legislação inerente à matéria), também vive em estado de risco e vulnerabilidade social,
tornando imperativa a concessão do benefício em apreço.

Logo, tem-se comprovado o preenchimento de todos os requisitos atinentes ao


benefício postulado, eis que, não somente a Autora apresenta deficiência (nos termos da
legislação inerente à matéria), também vive em estado de risco e vulnerabilidade social,
tornando imperativa a concessão do benefício em apreço.

3. DOS PEDIDOS

Em face do exposto, REQUER:

 O recebimento do presente recurso;

 A reabertura do processo administrativo n° ${informacao_generica};


 Seja reconhecido o preenchimento dos requisitos insculpidos em lei, em especial o requisito
socioeconômico conforme fundamentação retro e, assim, declarada a regularidade do
recebimento da benesse em apreço.

Nesses termos;

Pede Deferimento.

, 26 de abril de 2021.
LARISSA DAUDT COSTA
RS067400

[1] BITTENCOURT, A. L. M. B. Manual dos Benefícios por Incapacidade Laboral e


Deficiência. Curitiba: Alteridade, 2016. p. 22.

[2] Ibid. p. 283.

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