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ACÓRDÃO Nº 22476296/2022
Processo nº 10128.100290/2022-21
Recorrente/Interessado: CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - CRPS
Documento/Benefício: 173.928.941-0
EMENTA
ACÓRDÃO
(Processo Eletrônico)
Relatório
Foi apurado o total de 21 anos 11 meses e 29 dias de tempo especial, o que motivou o
indeferimento do pedido.
A 09ª Junta de Recursos, por meio do acórdão nº 6.379/2016 (fls. 159/162), negou
provimento ao recurso ordinário, sob o fundamento da não comprovação de tempo especial para
os intervalos de 09.07.1984 a 05.09.1986, de 21.10.1997 a 18.11.2003 e de 01.04.2013 a
13.01.2016.
Com o recurso especial foi anexado Laudo Técnico da empresa GERDAU AÇOMINAS (fl.
178).
Foi anexado Laudo Pericial Judicial realizado no âmbito da Justiça do Trabalho, por
terceiros contra a empresa VALE S/A (fls. 198/205).
Foi anexado Declaração referente ao segurado CANDIDO SILVIO BRAGA, emitido pela
empresa VALE S/A no qual indica que os óleos e graxas de origem mineral tem em sua
composição hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (fl. 233).
O INSS apresentou manifestação tendo aduzido que não está demonstrada divergência na
interpretação em matéria de direito entre acórdãos da Câmara de Julgamento em sede de
Recurso Especial, ou entre estes e resoluções do Conselho Pleno (fl. 235).
É o relatório.
VOTO
Da leitura acima, a Composição Plenária entendeu não ser possível o enquadramento, por
Categoria Profissional de torneiro-mecânico por falta de previsão legal nos Regulamentos da
Previdência Social – Decretos nº(s) 53.831/64 e 83.080/79.
De fato, a atividade de torneiro-mecânico não está elencada nos quadros anexos dos Decretos
nº 53.831/64 e 83.080/79 como passível de enquadramento como especial com fulcro na
Categoria Profissional.
Sobre essa matéria, a Resolução nº 03/2019 apontou o fundamento pelo qual não é possível
proceder ao enquadramento por Categoria Profissional de torneiro-mecânico, não havendo reparo
a ser feito.
Nos Embargos Declaratórios, o requerente afirma que a Resolução nº 03/2019 foi omissa
quanto a necessidade de ser indicada a concentração do agente nocivo hidrocarboneto
aromático, com a análise qualitativa limitada a data de 05.03.1997 e a exigência da comprovação
do dano à saúde após 05.03.1997.
Conforme se verifica, não foi analisada na Resolução nº 03/2019 a tese suscitada em relação ao
agente químico para o intervalo de 1997/2003, configurada a omissão.
No acórdão hostilizado foi firmado o entendimento de não ser possível o enquadramento por
exposição a agente nocivo químico, por não se comprovar após a 05.03.1997, os níveis de
concentração do hidrocarboneto aromático na manipulação de óleos minerais e, por não se
comprovar que a substância estava sendo absorvida através da pele e mucosa.
“(...)
De outro lado, no caso concreto, nada está a indicar que o segurado não se
expusesse de forma obrigatória aos agentes nocivos indicados na execução de
suas atividades. Ao contrário, uma vez que se depreende ser inerente ao
exercício de seu labor tal exposição, sendo indissociável da prestação de
serviços, configurando-se a permanência. Não haveria como o segurado
efetuar a soldagem sem que se expusesse aos agentes nocivos decorrentes
de tal processo. Da mesma forma, ao manusear produtos contendo
hidrocarbonetos, não haveria como não se expor a tal agente. De se ver,
conforme antes assentado, que não se exige, para a caracterização do
requisito da permanência, a exposição durante toda a jornada e em todas as
tarefas, situações a afetar a intensidade ou concentração dos agentes
quantitativos. No entanto, na hipótese dos autos, trata-se de agentes
qualitativos, sendo irrelevante a correspondente intensidade ou concentração.”
“(...).
Peço vênia para discordar da Junta de Recursos, tendo em vista que é possível
o enquadramento dos períodos com exposição ao óleo mineral, no item 1.2.11
do quadro anexo I Decreto nº 53.831/64, em face da exposição (qualitativa) ao
agente nocivo óleo mineral e graxa (hidrocarbonetos).
(...)
Comparada a tese acolhida nos autos com as indicadas na Resolução nº 21/2014 e no acórdão
paradigma, vislumbra-se a existência de decisões divergentes na interpretação em matéria de
direito quanto ao critério (qualitativo / quantitativo) a ser observado na análise do tempo especial
com vistas ao hidrocarboneto aromático, na manipulação de óleos minerais.
Para a comprovação da atividade especial deve ser observado, entre outros, os seguintes
critérios:
(Grifos Nossos).
Quanto ao critério adotado para a análise de agente químico após 05.03.1997, a Perícia
Médica admite a avaliação com base no critério qualitativo quando as substâncias estão
elencadas nos Anexos 13 e 13-A, da NR-15, conforme MANUAL DE PERÍCIA MÉDICA:
(...)
Os óleos minerais estão listados na NR-15 – Anexo 13, dentro do grupo dos hidrocarbonetos e
outros compostos de carbono, em insalubridade de grau máximo:
Vale lembrar que, os óleos minerais são constituídos principalmente por hidrocarbonetos de
elevado peso molecular, podendo ser alifático (hidrocarbonetos de cadeias abertas ou fechadas –
cíclicas – não aromáticas) como aromáticos (apresentam como cadeia principal anéis
benzênicos).
A maioria dos HAP podem ser cancerígenos (pele, pulmão), podem causar
efeitos mutagênicos, efeitos adversos para reprodução humana ou dermatite
por sensibilização.
Os óleos não refinados (mais antigos) contêm HAP e podem levar ao câncer
de pele. Por isso, os óleos minerais precisam ser altamente purificados para
que contenham a mínima quantidade possível de HAP. O óleo diesel contém
HAP, enquanto que o Querosene não contém HAP. Em condições ambientais
o óleo diesel e o querosene não geram vapores, podendo gerar névoas.
Da leitura acima, podemos concluir que na constituição dos óleos minerais há a presença do
HAP, sendo este componente encontrado até mesmo nos óleos altamente purificados, ainda que
em concentração mínima. Ou seja, há na sua estrutura o hidrocarboneto aromático, com os seus
anéis de benzeno.
Ainda que não conste a informação de que se trata de óleos minerais não tratados ou pouco
tratados, não há como afastar a condição de agente reconhecidamente cancerígeno em humanos,
por constar na sua composição o hidrocarboneto aromático, com os anéis de Benzeno.
“EMENTA
(...)
9. De acordo com a tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 709 da
Repercussão Geral), é constitucional a vedação de continuidade da percepção
de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em
atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que
ensejou a aposentação precoce ou não.
Grifos Nossos.
Uma vez que se trata de agente químico formado por um ou mais anéis benzênicos, a sua
exposição deve ser analisada com vista ao critério qualitativo, ou seja, basta a sua efetiva
presença no ambiente de trabalho, sem se exigir níveis de concentração para ser atestada a sua
nocividade.
Nesse sentido, a TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais) já
decidiu:
No tocante aos meios de absorção do agente químico, é possível ocorrer através do contato
dérmico ou mesmo por névoa encontrada no ambiente de trabalho.
Sendo assim, determina-se a remessa dos autos a 1ª Câmara de Julgamento para que proceda
a novo julgamento da matéria, com a emissão de outro acórdão, observando os ditames do
presente voto.
Relatora
Art. 63. O Pedido de Uniformização de Jurisprudência poderá ser requerido em casos concretos,
pelas partes do processo, dirigido ao Presidente do respectivo órgão julgador, nas seguintes
hipóteses:
...
Documento/Benefício: 46/173.928.941-0
(Processo Eletrônico)
VOTO DIVERGENTE
Peço vênia e apresento meu voto divergente quanto ao entendimento da nobre Colega
Alexandra Álvares de Alcântara.
Feito esse breve resumo do entendimento da Colega, passo a avaliar o caso em debate.
Quanto aos embargos em si, acompanho o entendimento da Colega. Houve omissão quanto ao
agente químico óleo mineral que foi solicitado no Pedido de Uniformização e que gerou a
Resolução nº 03/2019. A referida Resolução apenas avaliou a possibilidade do enquadramento
por categoria profissional.
Os óleos não refinados (mais antigos) contêm HAP e podem levar ao câncer de
pele. Por isso, os óleos minerais precisam ser altamente purificados para que
contenham a mínima quantidade possível de HAP. O óleo diesel contém HAP,
enquanto que o Querosene não contém HAP. Em condições ambientais o óleo
diesel e o querosene não geram vapores, podendo gerar névoas.
Em resumo destes tópicos citados, entendo que não basta apenas a simples indicação no PPP
de exposição a um hidrocarboneto. Deve ser observada se:
2. O Manual faz referência a ‘maioria’ dos HAP podem ser cancerígenos, portanto, não é a
totalidade dos Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleados que estão nessa condição;
3. Vejamos que os óleos não refinados mais antigos contêm HAP e podem levar ao câncer de
pele e devem ser altamente purificados para que contenham a mínima quantidade possível de
HAP. O óleo diesel contém HAP, contudo, como dito, óleos minerais mais antigos;
4. Nesse ponto, seia necessário identificar o quanto refinado foi dentro da classificação de óleos
5. O Manual faz referências que “quando a NR-15 foi editada em 1978, possivelmente todos os
óleos minerais continham HPA e eram cancerígenos”. Já se passaram mais de quarenta anos e a
própria evolução tecnológica permite presumir que atualmente não são todos os óleos minerais
que contém HPA em concentração carcinogênica;
6. A avaliação qualitativa dos HPA são aquelas contidas no Anexo 13 da NR-15: manipulação
de alcatrão, betume, antraceno, óleos minerais (se cancerígenos) ou outras substâncias
cancerígenas afins; operações com benzoapireno (puro ou contaminado com ele). Vejamos que
cita óleos minerais SE cancerígenos.
8. Por fim, o grau de carcinogenicidade vai depender do grau de refino: óleo pobre ou
moderadamente refinado: carcinogênico humano suspeito; e óleo altamente ou severamente
refinado: não classificado como carcinogênico humano.”
Todo o levantamento acima permitiu aos experts que elaboraram o Manual a concluir que:
Quanto ao tempo exposto a óleo e graxa, notem que o código 1.2.11 do anexo III do Decreto
53.831/64, trata de “Trabalhos permanentes expostos às poeiras: gases, vapores, neblinas e
fumos de derivados do carbono constantes da Relação Internacional das Substâncias Nocivas
publicada no Regulamento Tipo de Segurança da O.I.T.” A exposição depende da comprovação
da exposição aos agentes em seu estado gasoso. Ainda, informações genéricas de exposição a
“óleo e graxa”, não permite a análise pretendida.
Ressalto, ainda, que o código 1.0.3 do Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, que trata do benzeno,
traz em seu conteúdo como se opera a conversão, dependendo de comprovação de:
Ainda, o código 10.7 do Anexo IV do Decreto nº 3.048/99 trata do carvão e seus derivados e
cita a extração, produção e utilização de óleos minerais e parafinas. Contudo, a PORTARIA
INTERMINISTERIAL Nº 9, DE 7 DE OUTUBRO DE 2014 que Publica a Lista Nacional de Agentes
Cancerígenos para Humanos (LINACH), indicou o “óleo mineral” no Grupo 1 – carcinogênicos para
humanos: - óleos minerais não tratados ou pouco tratados.
Vejamos que toda a análise contida do agente químico no Manual da Aposentadoria Especial
está de acordo com o descrito na LINACH. Não é qualquer óleo mineral que gera a conversão.
Deve ser comprovada a exposição ao óleo não tratado ou pouco tratado, fato que torna
Importante destacar com esse voto que esse Conselheiro não questiona o potencial efeito
cancerígeno do óleo mineral, apenas que esse deve estar identificado no PPP. Como vimos
anteriormente, nem todo óleo mineral é carcinogênico. O que definirá o grau de carcinogenicidade
é a quantidade de teor do Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e no processo atual
industrial se utilizam de óleos modernos refinados com proporções extremamente pequenas deste
HPA, incapazes de ocasionar ação cancerígena.
Ainda, “os novos processos de obtenção dos óleos básicos parafínicos, atualmente no
mercado (e que, no Brasil, representam quase 100% da disponibilidade), garantem que os
percentuais dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos se encontram em níveis seguramente
baixos.” Aos óleos lubrificantes com alto grau de refino não são agressivos à pele de maneira
instantânea devendo ser evitado o contato prolongado desnecessário com utilização de medidas
de controle como lavagem das mãos, troca de vestimentas e uso de EPI – Equipamento de
Proteção Individual como luvas e aventais impermeáveis.
Nesse ponto, se o óleo mineral não possuir o grau de carcinogenicidade medido pela
quantidade de teor do Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), não é cancerígeno
conforme definido pela LINACH. E não sendo cancerígeno, aplica-se o entendimento do
Enunciado 12 do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) quanto à necessidade de
se verificar se o uso de EPI eficaz neutraliza a nocividade deste agente ao ponto de se reconhecer
o ambiente salubre. O Enunciado é claro ao afastar a análise de uso de EPI apenas diante do
agente ruído e dos agentes reconhecidamente cancerígenos, a saber:
Enunciado nº 12.
Podemos concluir nesse ponto. O agente óleo mineral/graxa/lubrificante, para ser reconhecido
como cancerígeno deve conter um teor considerável de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
(HPA). Superado o percentual definido em metodologia DMSO (dimetilsulfóxido), Método IP 346,
com teor acima de 3% (três por cento) é cancerígeno e, portanto, tem avaliação qualitativa
conforme LINACH e mesmo o uso de EPI não ilide sua exposição. Por sua vez, em sentido
contrário, se o esse agente nocivo estiver com percentual abaixo do definido em metodologia,
presume-se o potencial não cancerígeno do óleo e, portanto, a própria nocividade da exposição
Art. 69. É vedado aos órgãos julgadores do CRSS afastar a aplicação, por
inconstitucionalidade ou ilegalidade, de tratado, acordo internacional, lei, decreto
ou ato normativo ministerial em vigor, ressalvados os casos em que:
As decisões que embasavam o voto dos Colegas não se adequam ao acima exposto.
No caso concreto que originou o presente pedido de uniformização, conforme descrito no Perfil
Profissiográfico Previdenciário – PPP não há informação a respeito do óleo mineral que o
segurado fez uso e nem em que condições esse óleo era manipulado – contato com a pele, vapor,
gases. Não quer dizer que o óleo mineral informado não seja cancerígeno, mas não foi informado
corretamente.
Para uma melhor elucidação do caso, é possível fazer um comparativo com a exposição ao
agente ruído. Vejamos um exemplo de um Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP que informa
função de operador de equipamentos em indústria siderúrgica exposto a ruído de 98 dB(A) a partir
de 01/01/2004, mas não informa metodologia de avaliação. Segundo o inc. III do Enunciado nº 13
do CRPS, a partir dessa data o ruído deve estar por dosimetria. Considerando o ramo comercial
da empresa, é de se presumir que o ruído esteja acima do limite de tolerância, contudo, sem a
técnica correta, não se pode presumir que esse ruído foi obtido por dosimetria, podendo ser
Nesse sentido, a conclusão do voto envolve reanalise de matéria fática probatória para se
apurar qual o óleo mineral que o segurado fez uso. Porém, tal análise não é acolhida no Conselho
Pleno o que pode ser facilmente demonstrado pelas ementas abaixo transcritas:
Por essa razão, entendo que o pedido do segurado procede quanto ao conhecimento dos
embargos, contudo, negado provimento ao pedido.
Idem, pág.55/56.
Idem, pág.55.
ROSSI, Luiz Della Rosa. Insalubridade decorrente da manipulação de óleos minerais. Perícias
Técnicas. Boletim Técnico – 115. Disponível em: <https://avatec.com.br/insalubridade-decorrente-
da-manipulacao-de-oleos-minerais/>. Consulta em dez.2021. Segundo o autor, “O refino através
de tratamento ácido foi amplamente substituído por métodos mais modernos de refinação,
incluindo o tratamento por solvente e a hidrogenação, que reduzem em ampla escala a proporção
presente de compostos aromáticos e, em consequência, os cancerígenos em potencial.”
Idem.
Anexo III do Decreto nº 53.831/64; Anexo II do Decreto nº 83.080/79; Anexos IV dos Decretos nº
2.172/97 e 3.048/99.
Enunciado nº 13 (...)
DECISÓRIO
Relator Presidente