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MINISTÉRIO DA ECONOMIA

ACÓRDÃO Nº 22476296/2022
Processo nº 10128.100290/2022-21
Recorrente/Interessado: CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - CRPS

Nº de Protocolo do Recurso: 44232.695762/2016-06

Documento/Benefício: 173.928.941-0

Unidade de origem: Agência da Previdência Social CEAB Reconhecimento de Direito da


SRII

Tipo do Processo: Pedido de Uniformização de Jurisprudência

Recorrente: Leonardo Geordano de Souza

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Benefício: Aposentadoria Especial

Relator: Alexandra Álvares de Alcântara

EMENTA

EMENTA: APOSENTADORIA ESPECIAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM


PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA, EM CASO
CONCRETO. CONFIGURADA OMISSÃO NA RESOLUÇÃO Nº 03/2019 DO
CONSELHO PLENO. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DO PEDIDO
ATENDIDOS NOS TERMOS DO ARTIGO 63 DA PORTARIA MINISTERIAL
MDSA Nº 116/2017. TEMPO ESPECIAL. CATEGORIA PROFISSIONAL DE
TORNEIRO-MECÂNICO. CRITÉRIO QUALITATIVO PARA ANÁLISE DO
AGENTE QUÍMICO ÓLEOS MINERAIS APÓS 05.03.1997. DIVERGÊNCIA
DEMONSTRADA EM RELAÇÃO AO AGENTE QUÍMICO.

1 – Embargos Declaratórios opostos pelo segurado contra a Resolução nº


03/2019 do Conselho Pleno. Constatada a omissão em relação à tese jurídica
suscitada para o agente químico.

2 – Ausência de previsão legal nos quadros anexos dos Decretos nº 53.831/64 e


83.080/79 para o enquadramento, por categoria profissional, do torneiro-
mecânico. A possibilidade de enquadramento indicado na CANSB se relaciona
à comprovação da exposição ao agente físico ruído. Não constatada divergência
de interpretação em matéria de direito no teor das Resoluções nº(s) 08/2014 e
05/2016.

3 – A análise do agente químico óleos minerais se dá pelo critério qualitativo,


sendo suficiente a sua efetiva presença no ambiente de trabalho.

4 – A exposição a óleos minerais enseja o reconhecimento de tempo especial.

5 – Embargos Declaratórios admitidos e anulada a Resolução nº 03/2019 do


Conselho Pleno.

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 1


6 - Pedido de Uniformização do segurado conhecido e provido em parte.

ACÓRDÃO

(Processo Eletrônico)

Relatório

Embargos Declaratórios opostos por LEONARDO GEORDANO DE SOUZA, em face da


Resolução nº 03/2019, do Conselho Pleno em sede de Pedido de Uniformização de
Jurisprudência.

Foi requerida a concessão de Aposentadoria Especial com DER (Data de Entrada do


Requerimento) em 13.01.2016. Para esta finalidade, constam nos autos:

Laudo Técnico Pericial da AÇO MINAS GERAIS S/A – AÇOMINAS


pertencente ao segurado Gilmar Ferreira de Souza – COMTEL – período
de 28.08.1984 a 14.02.1990 – fl. 07;
Formulário SB-40 para o intervalo de 21.06.1991 a 11.09.1995 (motorista /
operador máquinas) na TETRAMIR TRANSP. REFLORESTAMENTO
LTDA, exposto a ruído de 91,0dBA, acompanhado de procuração – fls.
08/09;
Formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) para os intervalos
de 01.05.2012 a 04.04.2014 (mecânico especializado), de 05.04.2014 a
10.05.2015 (mecânico especializado) e de 11.05.2015 a (mecânico
especializado) na VALE S/A, exposto a poeira respirável contendo sílica,
ruído de 85,90dBA (NHO-01 da FUNDACENTRO) e óleo mineral – fls.
10/12;
CTPS – Carteiras de Trabalho e da Previdência Social – fls. 87/108;
Formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) para o intervalo de
09.07.1984 a 05.09.1986 (servente) na CONVAP ENGENHARIA E
CONSTRUÇÕES S/A, sem indicação de fatores de riscos, além de ficha
de registro de empregado – fls. 109/112;
Formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) para os intervalos
de 10.09.1986 a 30.09.1986 (ajudante mecânico) e de 01.10.1986 a
14.01.1991 (operador f) na ELBA EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS S/A,
exposto a ruídos respectivamente de 86,7dBA e de 92,0dBA – fls. 113/115;
Formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) para o intervalo de
14.09.1995 a 27.11.1996 (mecânico) na VOTORANTIM METAIS ZINCO
S/A, exposto a ruído de 92,0dBA, chumbo, cádmio, manganês, zinco, óleo
e graxa mineral – fls. 116/119;
Formulário PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário) para o intervalo de
21.10.1997 a 31.03.2013 (operador guindaste / mecânico / mecânico
especializado) na VALE S/A, exposto a contato com graxa e óleo mineral e
ruído acima de 85,0dBA (NR-15/Anexo 1) – fls. 120/123;
CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais – fls. 124 e 126.

Em vista dos formulários apresentado, a Perícia Médica considerou:

(a) Comprovado tempo especial para os intervalos de 10.09.1986 a


14.01.1991, de 14.09.1995 a 27.11.1996, de 31.01.1997 a 07.07.1997 e
de 19.11.2003 a 31.03.2013, por exposição a ruído (fl. 129);
(b) Não comprovado tempo especial para os intervalos de 09.07.1984 a
05.09.1986 (inexistência de agentes nocivos) e de 21.10.1997 a
18.11.2003 (ruído dentro do limite tolerado e não especificado o agente

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hidrocarboneto) (fls. 127/130);
( c) Comprovado tempo especial para os intervalos de 21.06.1991 a
11.09.1995 e de 01.05.2012 a 30.09.2014, por exposição ao agente nos
códigos 1.1.6 e 2.0.1 (fls. 150/155).

Foi apurado o total de 21 anos 11 meses e 29 dias de tempo especial, o que motivou o
indeferimento do pedido.

A 09ª Junta de Recursos, por meio do acórdão nº 6.379/2016 (fls. 159/162), negou
provimento ao recurso ordinário, sob o fundamento da não comprovação de tempo especial para
os intervalos de 09.07.1984 a 05.09.1986, de 21.10.1997 a 18.11.2003 e de 01.04.2013 a
13.01.2016.

No Recurso Especial, o Interessado sustenta ter laborado entre 09.07.1984 a 05.09.1986


na empresa CONVAP ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES S/A, com anotação em CTPS da
prestação de serviços na GERDAU AÇOMINAS S/A, alterada a função em 01.11.1985 para
ajudante torneiro e em 21.04.1986 para ½ oficial de torneiro montador. Foi apresentado o laudo
técnico da tomadora dos serviços, tendo a Junta de Recursos apontado divergências entre os
dados contidos no Laudo Técnico e o formulário apresentado e, nesse sentido, caberia ao INSS
solicitar a correção do formulário, em razão do poder de polícia. Que a atividade é passível de
enquadramento por categoria profissional. Alega ter laborado em condições especiais entre
21.10.1997 a 18.11.2003 embasado no agente químico graxa e óleo mineral, por se tratar de
composto por hidrocarbonetos aromáticos ou alifáticos. Afirma que a decisão da Junta de
Recursos foi “extra petita”, pois descaracterizou o tempo especial entre 01.04.2013 a 13.01.2016,
quando o próprio INSS reconheceu tempo especial entre 01.05.2012 a 30.09.2014, pela
exposição ao ruído acima do limite tolerado. Por fim, afirma ter laborado em condições especiais
entre 01.10.2014 a 18.05.2016, exposto a ruído, óleos e graxas minerais e a poeira contendo
sílica livre cristalizada, sendo certo que a Sílica está elencada na LINACH, cuja avaliação se dá
pelo critério qualitativo (fls. 167/177).

Com o recurso especial foi anexado Laudo Técnico da empresa GERDAU AÇOMINAS (fl.
178).

Nas contrarrazões, o INSS requer a manutenção do indeferimento (fls. 183/185).

A 1ª Composição Adjunta da 1ª Câmara de Julgamento, por meio do acórdão nº


1.449/2017 (fls. 185/188), deu parcial provimento ao recurso especial do Interessado, tendo
considerado:

I – Impossibilidade em ser enquadrado o intervalo de 01.11.1985 a


05.09.1986, pela Categoria Profissional (ajudante e torneiro-mecânico),
conforme Resolução nº 08/2014 do Conselho Pleno;

II – Não enquadramento do intervalo de 09.07.1984 a 31.10.1985, por falta


de previsão legal na função de servente. Também, não passível de
enquadramento por agente nocivo, “por não ter sido mencionado a que
agente o segurado ficava exposto quando da realização de suas atividades
laborativas”;

III – Não comprovado tempo especial em relação ao intervalo de


21.10.1997 a 18.11.2003, considerada a exposição ao ruído abaixo do
limite tolerado e por não constar os níveis de concentração em relação ao
hidrocarboneto e por não comprovar que a substância estava sendo
absorvida através da pele e mucosa, limitado o enquadramento até a
edição do Decreto nº 2.172, de 05.03.1997;

IV – Reconheceu tempo especial por exposição à sílica livre entre

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01.10.2014 a 31.01.2016 e de 01.02.2016 a 18.05.2016, considerado o
Memorando Circular /DIRSAT/INSS nº 08 de 08/07/2014;

V – Não implementados os requisitos necessários para a Aposentadoria


Especial.

Em Incidente Processual (Embargos de Declaração com sugestão de revisão de ofício), o


Interessado alegou cerceamento de defesa ao deixar de considerar as suas razões recursais em
sede de recurso especial; restrição ao alcance do Regulamento da Previdência Social por deixar
de enquadrar atividade especial como torneiro mecânico ou operário de máquinas diversas por
categoria profissional constante na CANSB. Validação ou não de Laudo Técnico da empresa
tomadora de serviços. Violação ao PARECER CONJUR MPS nº 616/2010 ao condicionar o
reconhecimento de atividade especial por manipulação de hidrocarbonetos aromáticos à efetiva
comprovação, pelo segurado, de que tais substâncias estariam efetivamente lhe causando dano à
saúde; violação ao Regulamento da Previdência Social e a NR 15 do MTE ao condicionar o
reconhecimento de atividade especial por manipulação de hidrocarbonetos aromáticos à
indicação de intensidade/concentração de tais substâncias e de que estas substâncias estariam
efetivamente sendo absorvidas pela pele e mucosas, ainda que a empresa tenha declarado
expressamente o “contato” (fls. 193/197).

Foi anexado Laudo Pericial Judicial realizado no âmbito da Justiça do Trabalho, por
terceiros contra a empresa VALE S/A (fls. 198/205).

A 1ª Câmara de Julgamento, por meio do DESPACHO de fls. 209/213, não admitiu os


Incidentes Processuais (Revisão de Acórdão / Embargos Declaratórios), não reconhecido tempo
especial para 09.07.1984 a 05.09.1986, 21.10.1997 a 18.11.2003 e 01.10.2014 a 18.05.2016.

No Pedido de Uniformização de Jurisprudência, o Interessado sustenta que cabe o


reconhecimento de tempo especial no intervalo de 09.07.1984 a 05.09.1986 aduzindo que
qualquer função exercida em obras da construção civil pesada permite o enquadramento por
atividade profissional; comprovada a função mediante anotação em CTPS ou outro meio o
enquadramento por categoria profissional independe de apresentação formulário; é ônus do INSS
garantir a entrega ao segurado do PPP corretamente emitido; laudo técnico emitido pela
GERDAU AÇOMINAS S/A para o período e local da obra é documento hábil à análise do período,
ainda que em nome de outros segurados; o fato de os levantamentos ambientais da empresa se
encontrarem arquivados no INSS deve ser considerado na análise do período. Para o intervalo
menciona como paradigma as decisões: acórdão nº 1062/2014 (1ª Composição Adjunta da 2ª
Câmara de Julgamento); acórdão nº 1311/2014 (1ª Composição Adjunta da 1ª Câmara de
Julgamento); Resolução nº 05/2016; decisão nº 116/2014 (1ª Composição Adjunta da 3ª Câmara
de Julgamento) e acórdão nº 8369/2015 (3ª Câmara de Julgamento). Também, sustenta ter
laborado em condições especiais entre 21.10.1997 a 18.11.2013, por exposição a
hidrocarbonetos aromáticos contidos nos óleos minerais e graxas utilizadas informando como
paradigma: decisão nº 570/2016 (1ª Composição Adjunta da 2ª Câmara de Julgamento); decisão
nº 1116/2014 (1ª Composição Adjunta da 3ª Câmara de Julgamento); acórdão nº 4470/2014 (1ª
Composição Adjunta da 3ª Câmara de Julgamento); Resolução nº 21/2014 do Conselho Pleno;
acórdão nº 2205/2014 (2ª Composição Adjunta da 2ª Câmara de Julgamento). Requer a aplicação
do Enunciado nº 05 do CRPS contando com tempo suficiente à aposentadoria por tempo de
contribuição e/ou aposentadoria especial mediante a Reafirmação da DER (fls. 218/232).

Foi anexado Declaração referente ao segurado CANDIDO SILVIO BRAGA, emitido pela
empresa VALE S/A no qual indica que os óleos e graxas de origem mineral tem em sua
composição hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (fl. 233).

O INSS apresentou manifestação tendo aduzido que não está demonstrada divergência na
interpretação em matéria de direito entre acórdãos da Câmara de Julgamento em sede de
Recurso Especial, ou entre estes e resoluções do Conselho Pleno (fl. 235).

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Em sede de cognição sumária, o Presidente da 1ª Câmara de Julgamento entendeu que há
divergência no tocante ao entendimento para enquadramento por atividade profissional de
períodos anteriores a 28/04/1995 e da comprovação dos níveis de intensidade de exposição ao
agente qualitativo hidrocarboneto, dessa forma estão preenchidos os pressupostos para o Pedido
de Uniformização de Jurisprudência (fls. 240/244), ratificado pela Divisão de Assuntos Jurídicos
(fls. 245/246).

O Conselho Pleno, por meio da RESOLUÇÃO nº 03/2019, por unanimidade, Conheceu do


Pedido de Uniformização de Jurisprudência e, no mérito, Negou Provimento (fls. 248/252), tendo
confirmado o entendimento da impossibilidade em ser acolhido tempo especial entre 09.07.1984
a 05.09.1986 por categoria profissional e por exposição a agente nocivo, constando a seguinte
ementa:

“EMENTA: APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. PEDIDO


DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. POSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DE LAUDO DE EMPRESA TOMADORA DE SERVIÇO PARA
ELABORAÇÃO DE FORMULÁRIO PPP. INDEFERIMENTO DE
ENQUADRAMENTO DEVIDO NÃO COMPROVAÇÃO DE EXPOSIÇÃO A
AGENTE NOCIVO. DECRETO 3.048/99”.

Ciência da decisão anterior em 24.07.2019 (fl. 269) e apresentado Incidente em 01.07.2019


(fl. 256).

Nos Embargos Declaratórios opostos contra os termos da Resolução nº 03/2019 da C.


Plenária, o requerente afirma que deve ser aclarada na referida decisão, a tese quanto ao
enquadramento da função de torneiro-mecânico considerada a divergência na interpretação em
matéria de direito entre a Resolução nº 08/2014 (defende não ser possível o enquadramento por
categoria profissional) e a Resolução nº 05/2016 (defende ser possível o enquadramento por
categoria profissional daquelas funções listadas na CANSB independentemente da apresentação
de formulário), sendo possível o enquadramento pela atividade de torneiro-mecânico, ora previsto
no Parecer da SSMT no processo INPS nº 5.080.253/83 (código 1.1.5). Também, há omissão na
Resolução Plenária quanto à necessidade de ser indicada a concentração do agente nocivo
hidrocarboneto aromático após 05.03.1997 (limitada até esta data a análise do agente nocivo
com base no critério qualitativo), além da exigência de se comprovar dano à saúde do segurado a
partir de então. Contrapondo à decisão da Câmara invoca o acórdão nº 4470/2014 e a Resolução
nº 21/2014 (fls. 259/266).

Em contrarrazões, o INSS alega, preliminarmente, que os Embargos Declaratórios são


intempestivos, pois o acórdão combatido foi exarado em 16.03.2017. No mais, não demonstra a
existência dos pressupostos para admissibilidade, com a clara intenção de rediscutir a matéria (fl.
267).

Processo distribuído a essa Conselheira em razão do desligamento da Relatora da decisão


embargada do Conselho Pleno.

É o relatório.

VOTO

Trata-se de Embargos Declaratórios opostos pelo requerente em face da Resolução nº


03/2019, proferido pelo Conselho Pleno do CRPS, em sede de Pedido de Uniformização de
Jurisprudência.

De pronto, fica afastada a preliminar de intempestividade suscitada pelo INSS, pois os


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Embargos Declaratórios opostos pelo interessado se deu em razão da Resolução nº 03/2019 do
Conselho Pleno, com Aviso de Recebimento em 24.07.2019 (fl. 269) e, apresentado Incidente em
data anterior a essa ciência, ou seja, em 01.07.2019 (fl. 256).

Conforme dispõe o artigo 58 da Portaria Ministerial MDSA nº 116/2017, é admitida a


interposição de embargos declaratórios quando houver na decisão prolatada, obscuridade,
ambiguidade ou contradição, ou quando for omitido ponto sobre o qual deveriam pronunciar-se o
Tribunal Administrativo.

Os embargos de declaração têm por escopo a correção ou complementação da prestação


jurisdicional e, de forma excepcional, podem ter caráter modificativo, quando a decisão
embargada possui vício a ser corrigido, que imponha necessariamente a alteração do seu
dispositivo.

Nos Embargos Declaratórios foram suscitados os seguintes questionamentos:

- quanto ao reconhecimento de tempo especial pela Categoria Profissional de


Torneiro-Mecânico, não foi esclarecida a divergência na interpretação em
matéria de direito entre a Resolução nº 08/2014 (defende não ser possível o
enquadramento por categoria profissional) e a Resolução nº 05/2016 (defende
ser possível o enquadramento por categoria profissional daquelas funções
listadas na CANSB independentemente da apresentação de formulário), sendo
possível o enquadramento pela atividade de torneiro-mecânico, ora previsto no
Parecer da SSMT no processo INPS nº 5.080.253/83 (código 1.1.5);

- omissão quanto a necessidade de ser indicada a concentração do agente


nocivo hidrocarboneto aromático, com a análise qualitativa limitada a data de
05.03.1997 e a exigência da comprovação do dano à saúde após 05.03.1997.

Pede-se licença para transcrever os fundamentos trazidos na Resolução nº 03/2019 do


Conselho Pleno:

“No caso concreto, o interessado requer enquadramento em atividade especial


do período de 09/07/1984 a 05/09/1986, laborado na empresa CONVAP
Engenharia e Construções S/A, em que exerceu a função de torneiro
mecânico.

Para comprovar a alegada atividade em condições insalubres, apresentou


cópia da carteira de trabalho, fichas de registro de empregados e laudo técnico
individual de outro segurado, emitido pela tomadora dos serviços Gerdau
Açominas S/A.

Quanto ao enquadramento em atividade especial, deve-se considerar que até


o advento da Lei 9032, de 28/04/1995, para se realizar a conversão de tempo
especial para comum, bastava o enquadramento da atividade ou do agente
nocivo nas relações dos Anexos dos Decretos 53.831, de 25/03/1964 e Decreto
83.080, de 24/01/1979, para que houvesse o reconhecimento da atividade
como especial, desde que comprovada efetiva atividade, sendo indispensável
laudo técnico no que se refere ao agente nocivo ruído.

Dessa forma, ratifico o entendimento proferido pela 03a Junta de Recursos


quando afirma que: "... não pode ser reconhecido como sendo de atividade
especial, por categoria profissional, o período de 09/07/1984 a 31/10/1985 em
que exerceu a função de "servente", pelo fato da atividade não ser
contemplada pelos Decretos n° 53.831/64 e n° 83.080/79, e nem ter sido
comprovada exposição a agente nocivo, por não ter sido mencionado a que
agente o segurado ficava exposto quando da realização de suas atividades

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laborativas".

Assim, no presente caso, conheço do pedido de Uniformização de


Jurisprudência, no entanto. nego provimento ao interessado.

CONCLUSÃO: Pelo exposto, VOTO no sentido de preliminarmente


CONHECER DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA,
PARA NO MÉRITO NEGA -LHE PROVIMENTO”.

Da leitura acima, a Composição Plenária entendeu não ser possível o enquadramento, por
Categoria Profissional de torneiro-mecânico por falta de previsão legal nos Regulamentos da
Previdência Social – Decretos nº(s) 53.831/64 e 83.080/79.

Sobre esse tema, o requerente afirma que há divergência na interpretação em matéria de


direito entre a Resolução nº 08/2014 e a Resolução nº 05/2016, pois a função de torneiro-
mecânico está elencado na CANSB.

De acordo com a Resolução nº 08/2014:

“Quanto ao enquadramento em atividade especial, deve-se considerar que até


o advento da Lei 9032, de 28/04/1995, para se realizar a conversão de tempo
especial para comum, bastava o enquadramento da atividade ou do agente
nocivo nas relações dos Anexos dos Decretos 53.831, de 25/03/1964 e Decreto
83.080, de 24/01/1979, para que houvesse o reconhecimento da atividade
como especial, desde que comprovada efetiva atividade, sendo indispensável
laudo técnico no que se refere ao agente nocivo ruído.

Não é passível de enquadramento por categoria profissional a atividade de


torneiro mecânico, uma vez que, de fato não consta previsão para tal atividade
na legislação em vigor”.

Resolução possui a seguinte ementa:

“EMENTA: APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. PEDIDO


DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. ATIVIDADE INSALUBRE.
TORNEIRO MECÂNICO. NÃO RECONHECIMENTO DE ATIVIDADE
ESPECIAL POR CATEGORIA PROFISSIONAL. INDISPENSÁVEL
COMPROVAÇÃO DE EXPOSIÇÃO AO AGENTE NOCIVO POR MEIO DE
LAUDO TÉCNICO. DEVIDA UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
PEDIDO CONHECIDO E NÃO PROVIDO”.

Na Resolução nº 05/2016 foi firmado o entendimento de que “em se tratando de enquadramento


por categoria profissional, até 28/04/95, não deve haver exigência da apresentação de formulário
próprio, desde que o cargo esteja devidamente infirmado na CTPS ou documento equivalente e
não deixa dúvida do exercício da atividade, no caso concreto, tratorista”. A decisão está assim
ementada:

“EMENTA. PREVIDENCIÁRIO, APOSENTADORIA POR TEMPO DE


CONTRIBUIÇÃO. Pedido de Uniformização de Jurisprudência.
Enquadramento por categoria profissional. Dispensabilidade de formulário”.

Não há divergência na interpretação em matéria de direito entre os ditames das Resoluções nº


08/2014 (o qual fundamentou o entendimento do decisório questionado) e Resolução nº 05/2016.

Ao contrário, há convergência no entendimento de que é dispensável a apresentação de


formulário legal para o enquadramento por Categoria Profissional, desde que não haja dúvida do
exercício da atividade.

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 7


A atividade para ser considerada especial, em razão da Categoria Profissional, deve estar
prevista no rol dos Regulamentos da Previdência Social – Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79.

Há na CANSB (Consolidação dos Atos Normativos sobre Benefício) a possibilidade do


enquadramento do torneiro-mecânico, porém, embasado na comprovação da exposição ao
agente nocivo ruído, pois claramente relaciona o enquadramento ao Código 1.1.5, de acordo com
o Parecer da SSMT no processo INPS nº 5.080.253/83.

De fato, a atividade de torneiro-mecânico não está elencada nos quadros anexos dos Decretos
nº 53.831/64 e 83.080/79 como passível de enquadramento como especial com fulcro na
Categoria Profissional.

Sobre essa matéria, a Resolução nº 03/2019 apontou o fundamento pelo qual não é possível
proceder ao enquadramento por Categoria Profissional de torneiro-mecânico, não havendo reparo
a ser feito.

Do Critério Para Análise De Agente Químico (Hidrocarbonetos Aromáticos - Óleos Minerais)

Em Pedido de Uniformização de Jurisprudência, o requerente sustenta que há divergência em


matéria de direito quanto à necessidade de ser demonstrado níveis de concentração para óleos e
graxas minerais contendo hidrocarbonetos aromáticos, em particular, para o intervalo de
21.10.1997 a 18.11.2003, laborado na empresa VALE S/A.

Nos Embargos Declaratórios, o requerente afirma que a Resolução nº 03/2019 foi omissa
quanto a necessidade de ser indicada a concentração do agente nocivo hidrocarboneto
aromático, com a análise qualitativa limitada a data de 05.03.1997 e a exigência da comprovação
do dano à saúde após 05.03.1997.

Conforme se verifica, não foi analisada na Resolução nº 03/2019 a tese suscitada em relação ao
agente químico para o intervalo de 1997/2003, configurada a omissão.

Convém lembrar que, é requisito do Pedido de Uniformização de Jurisprudência a comprovação


da divergência jurisprudencial na interpretação em matéria de direito entre acórdãos de Câmaras
de Julgamento do CRPS, ou entre estes e resoluções do Conselho Pleno. O Incidente não se
presta a reapreciar matéria fática ou solucionar divergência em matéria de provas.

No presente, a 1ª Composição Adjunta da 1ª Câmara de Julgamento, por meio do acórdão nº


1.449/2017 não enquadrou o intervalo de 21.10.1997 a 18.11.2003, sob o fundamento de que:

“(...) de acordo com os PPP apresentados, nos períodos de 21/10/1997 a


18/11/2003, 01/10/2014 a 31/01/2016 e 01/02/2016 a 18/05/2016, o segurado
exerceu suas funções também exposto ao agente químico hidrocarbonetos
aromáticos como óleos minerais e graxas.

Os hidrocarbonetos são tóxicos orgânicos e podem tanto ser alifáticos


(hidrocarbonetos de cadeias abertas ou fechadas – cíclicas – não aromáticas)
como aromáticos (apresentam como cadeia principal anéis benzênicos). Os
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos são considerados potencialmente
carcinogênicos e por essa razão, estão relacionados no Anexo XIII da NR-15
do MTE para análise qualitativa.

Já nos hidrocarbonetos alifáticos tem-se o cloreto de metila, brometo de metila,


clorofórmio, tetracloreto de carbono, dicloretano, tetracloretano, tricloretileno e
bromofórmio, todos possuindo limites de tolerância, a não ser que estivessem
sendo absorvidos comprovadamente através da pele e mucosas, e não só pela
via respiratória.

Assim, por ter sido mencionado expressamente que a exposição ao agente


Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 8
nocivo químico tratava-se de hidrocarbonetos aromáticos através de
manipulação de “óleos minerais” e “graxas”, e assim podendo se tratar tanto de
avaliação qualitativa ou quantitativa, sendo que o PPP não quantifica os níveis,
e ainda por não se comprovar que a substância estava sendo absorvida
através da pele e mucosas, só caberia enquadramento até a promulgação do
Decreto nº 2.172 de 05/03/1997.

Portanto assiste razão ao INSS, já que os períodos pretendidos são posteriores


a 05/03/1997;”

No acórdão hostilizado foi firmado o entendimento de não ser possível o enquadramento por
exposição a agente nocivo químico, por não se comprovar após a 05.03.1997, os níveis de
concentração do hidrocarboneto aromático na manipulação de óleos minerais e, por não se
comprovar que a substância estava sendo absorvida através da pele e mucosa.

Foram invocados como paradigmas:

Resolução n° 21/2014 do Conselho Pleno do CRPS

“EMENTA: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.


APOSENTADORIA ESPECIAL. ATIVIDADE ESPECIAL. REQUISITOS. 1. O
RECONHECIMENTO DA NATUREZA ESPECIAL DAS ATIVIDADES
EXERCIDAS EXIGE DOIS REQUISITOS: NOCIVIDADE E PERMANÊNCIA. 2.
A PERMANÊNCIA CARACTERIZA-SE PELA INDISSOCIABILIDADE ENTRE
A EXPOSIÇÃO AO AGENTE NOCIVO E O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO
BEM OU DE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO, INDEPENDENTEMENTE DO
TEMPO DE EXPOSIÇÃO AO AGENTE NOCIVO. 3. O RECORRENTE, NOS
PERÍODOS CONTROVERSOS, FAZ JUS AO RECONHECIMENTO DA
ESPECIALIDADE DAS ATIVIDADES EXERCIDAS, IMPLEMENTANDO
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO SUFICIENTE PARA A APOSENTADORIA
ESPECIAL. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO”.

Na Resolução foi considerado:

“(...)

A respeito, é imperioso destacar que restou incontroversa, nos períodos em


debate, a exposição do segurado, entre outros agentes, a radiações ionizantes
e não ionizantes e a hidrocarbonetos. Em momento algum a exposição a tais
agentes foi questionada ou refutada nos autos. Destarte, tendo em vista que
esses agentes, à época de prestação dos serviços, constavam,
respectivamente, dos códigos 1.1.4 e 1.2.11 do Quadro Anexo ao Decreto nº
53.831, de 1964, todos de natureza qualitativa, caracterizada está a nocividade.

De outro lado, no caso concreto, nada está a indicar que o segurado não se
expusesse de forma obrigatória aos agentes nocivos indicados na execução de
suas atividades. Ao contrário, uma vez que se depreende ser inerente ao
exercício de seu labor tal exposição, sendo indissociável da prestação de
serviços, configurando-se a permanência. Não haveria como o segurado
efetuar a soldagem sem que se expusesse aos agentes nocivos decorrentes
de tal processo. Da mesma forma, ao manusear produtos contendo
hidrocarbonetos, não haveria como não se expor a tal agente. De se ver,
conforme antes assentado, que não se exige, para a caracterização do
requisito da permanência, a exposição durante toda a jornada e em todas as
tarefas, situações a afetar a intensidade ou concentração dos agentes
quantitativos. No entanto, na hipótese dos autos, trata-se de agentes
qualitativos, sendo irrelevante a correspondente intensidade ou concentração.”

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 9


A Resolução nº 21/2014 trata do conceito de permanência e, dentro da análise feita, aponta a
adoção do critério qualitativo na análise do agente químico hidrocarboneto.

Acórdão nº 4470/2014 da 1ª Composição Adjunta da 3ªCâmara de Julgamento – NB


42/165.540.167-7:

“EMENTA: APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. RECURSO


ESPECIAL DO INSS CONTRA DECISÃO PROFERIDA PELA JR/CRPS.
INCIDÊNCIA DE CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM
MEDIANTE APLICATIVO DE AGENTE NOCIVO RUÍDO. IIEGALIDADE DO ATO
RECORRIDO. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL: DECRETO Nº 3.048/99, ART.
56/70/64, ENUNCIADOS N.º 29 DA AGU. RECURSO CONHECIDO E NEGADO
AO INSS”.

No decisório, foi negado provimento ao recurso especial do INSS, mantido o enquadramento


dos períodos de 01.12.1995 a 31.12.1998, 19.11.2003 a 09.01.2007 e 10.01.2007 a 14.05.2013,
por exposição ao agente nocivo ruído superior ao limite de tolerância estabelecido pela legislação
e, de 01.01.1999 a 28.02.1999, 01.03.1999 a 30.09.1999, 01.10.1999 a 30.11.2000, por
exposição ao agente nocivo óleo mineral e graxa (hidrocarbonetos). Com relação ao agente
químico, teceu as seguintes considerações:

“(...).

Peço vênia para discordar da Junta de Recursos, tendo em vista que é possível
o enquadramento dos períodos com exposição ao óleo mineral, no item 1.2.11
do quadro anexo I Decreto nº 53.831/64, em face da exposição (qualitativa) ao
agente nocivo óleo mineral e graxa (hidrocarbonetos).

(...)

O assunto é tratado no tópico dedicado aos "hidrocarbonetos e outros


compostos de carbono", que consta do anexo 13 da Norma Regulamentadora-
15, veiculada na Portaria Nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho. A NR-15
classifica a manipulação de hidrocarbonetos (óleos minerais) como hipótese
de insalubridade em grau máximo”.

No acórdão paradigma, houve o reconhecimento de tempo especial para intervalo após


05.03.1997, em razão da exposição ao agente químico hidrocarboneto aromático (óleos
minerais), considerado para esta análise o critério qualitativo.

Comparada a tese acolhida nos autos com as indicadas na Resolução nº 21/2014 e no acórdão
paradigma, vislumbra-se a existência de decisões divergentes na interpretação em matéria de
direito quanto ao critério (qualitativo / quantitativo) a ser observado na análise do tempo especial
com vistas ao hidrocarboneto aromático, na manipulação de óleos minerais.

Óleos minerais são substâncias provenientes do petróleo. A partir da destilação do petróleo


bruto em pressão atmosférica, é obtida uma mistura complexa de hidrocarbonetos (parafinas,
naftalenos e diversas moléculas constituídas de carbonos e hidrogênios) e, desta mistura, é
possível extrair o óleo mineral.

Para a comprovação da atividade especial deve ser observado, entre outros, os seguintes
critérios:

a) qualitativa: quando a nocividade é presumida e independente de


mensuração, constatada pela presença do agente, mediante inspeção no
ambiente de trabalho. Não basta a presença do agente; há que se demonstrar
que ocorre exposição ao agente de forma habitual e permanente; e

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 10


b) quantitativa: quando são necessárias aferições das concentrações
ambientais dos agentes para que se verifique se estão acima dos limites de
tolerância fixados pela legislação. A avaliação quantitativa está relacionada à
probabilidade de que o dano à saúde ocorra. Os limites de exposição são
valores de referência. Quando a exposição ultrapassa esses limites, o dano é
provável. Quando é inferior é pouco provável ou mesmo improvável.

(Grifos Nossos).

Quanto ao critério adotado para a análise de agente químico após 05.03.1997, a Perícia
Médica admite a avaliação com base no critério qualitativo quando as substâncias estão
elencadas nos Anexos 13 e 13-A, da NR-15, conforme MANUAL DE PERÍCIA MÉDICA:

“As substâncias relacionadas nos Anexos 13 e 13-A da NR-15, que estiverem


previstas no Anexo IV destes Decretos e não se encontrarem também listadas
nos Anexos 11 ou 12 da NR-15 serão analisados de forma qualitativa”.

Sobre o critério qualitativo, dispõe o §2º, do artigo 68 do Decreto nº 3.048/99:

“Art. 68. A relação dos agentes químicos, físicos, biológicos, e da associação


desses agentes, considerados para fins de concessão de aposentadoria
especial, é aquela constante do Anexo IV. (Redação dada pelo Decreto nº
10.410, de 2020)

(...)

§ 2º A avaliação qualitativa de riscos e agentes prejudiciais à saúde será


comprovada pela descrição: (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020)

I - das circunstâncias de exposição ocupacional a dete

rminado agente ou associação de agentes prejudiciais à saúde presentes no


ambiente de trabalho durante toda a jornada de trabalho; (Redação dada pelo
Decreto nº 10.410, de 2020)

II - de todas as fontes e possibilidades de liberação dos agentes mencionados


no inciso I; e (Incluído pelo Decreto nº 8.123, de 2013)

III - dos meios de contato ou exposição dos trabalhadores, as vias de absorção,


a intensidade da exposição, a frequência e a duração do contato. (Incluído pelo
Decreto nº 8.123, de 2013)”

Os óleos minerais estão listados na NR-15 – Anexo 13, dentro do grupo dos hidrocarbonetos e
outros compostos de carbono, em insalubridade de grau máximo:

“HIDROCARBONETOS E OUTROS COMPOSTOS DE CARBONO

Insalubridade de grau máximo

Destilação do alcatrão da hulha. Destilação do petróleo. Manipulação de


alcatrão, breu, betume, antraceno, óleos minerais, óleo queimado, parafina ou
outras substâncias cancerígenas afins”. (Grifos Nossos).

Vale lembrar que, os óleos minerais são constituídos principalmente por hidrocarbonetos de
elevado peso molecular, podendo ser alifático (hidrocarbonetos de cadeias abertas ou fechadas –
cíclicas – não aromáticas) como aromáticos (apresentam como cadeia principal anéis
benzênicos).

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 11


Acerca dos hidrocarbonetos, o MANUAL DE PERÍCIA MÉDICA esclarece:

“São compostos orgânicos muito frequentes nos ambientes ocupacionais.

São originados do petróleo, xisto ou hulha, que fracionados ou por processos


industriais levam ao aparecimento de HC de cadeias pequenas ou grandes,
fechadas (cíclicos) ou abertas, com ou sem anéis aromáticos.

Os hidrocarbonetos aromáticos possuem cadeia carbônica fechada,


apresentando pelo menos um anel benzênico. Os alifáticos possuem cadeias
abertas ou fechadas, sem anel benzênico.

Os HC com cadeias menores como os gases, solventes ou combustíveis


formam vapores. Nos de cadeias maiores, que contenham mais de nove
carbonos, praticamente não são detectados vapores.

Existem HC aromáticos policíclicos (HAP ou PAH) cuja estrutura é formada


por mais de um anel benzênico (aromático) conjugado, como, por exemplo:
pireno, criseno, naftaleno, fluoreno. As exposições ocupacionais ocorrem por
via respiratória quando na forma de aerossóis (particulados) e mediante
absorção pela pele se presente em líquidos (óleos). São fontes
ocupacionais: fornos de coque, produção de eletrodos de grafite, de alumínio
(metal primário), pavimentação de rodovias com asfalto (piche),
impermeabilização de telhados, fabricação e manuseio de creosoto, tratamento
e manuseio de dormentes de ferrovias tratados com creosoto – usado para
preservar madeira, óleos industriais residuais que contenham Hidrocarbonetos
Aromáticos Polinucleados – HAP. Entre vários compostos presentes nos HAP
o benzoapireno é um marcador de sua presença e pode ser usado como
indicador do teor de HPA num produto.

A maioria dos HAP podem ser cancerígenos (pele, pulmão), podem causar
efeitos mutagênicos, efeitos adversos para reprodução humana ou dermatite
por sensibilização.

As frações mais pesadas do petróleo, xisto ou hulha, com mais de quinze


carbonos na cadeia, são ricas em HAP.

Os óleos não refinados (mais antigos) contêm HAP e podem levar ao câncer
de pele. Por isso, os óleos minerais precisam ser altamente purificados para
que contenham a mínima quantidade possível de HAP. O óleo diesel contém
HAP, enquanto que o Querosene não contém HAP. Em condições ambientais
o óleo diesel e o querosene não geram vapores, podendo gerar névoas.

Para classificação de óleos minerais como potencialmente carcinogênicos


existe um teste chamado DMSO (dimetilsulfóxido), Método IP 346, que
quantifica compostos poliaromáticos por extração com solvente DMSO. De
acordo com o Conservation of Clean Air and Water in Europe – CONCAWE
óleos com resultados da extração em DMSO com peso maior que 3% (três por
cento), devem ser comercializados com a advertência de que se trata de
produtos potencialmente carcinogênicos. Se o teor no óleo for menor que 3%
(três por cento) não é insalubre e não é cancerígeno. As graxas só terão HPA
se houver nelas óleo com IP acima de 3% (três por cento). Quando a NR-15 foi
editada em 1978, possivelmente todos os óleos minerais continham HPA e
eram cancerígenos.

Os HPA não constam no Anexo 11 da NR-15 e, portanto, a avaliação é


qualitativa nas atividades mencionadas no Anexo 13: manipulação de

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 12


alcatrão, betume, antraceno, óleos minerais (se cancerígenos) ou outras
substâncias cancerígenas afins; operações com benzoapireno (puro ou
contaminado com ele). Como exemplo de avaliação, observa-se que nos
Estados Unidos da América - EUA, conforme a ACGIH não há indicação de
limite de tolerância para os HPA, mas se recomenda que as exposições
sejam controladas a níveis o mais baixo possível”. (Grifos Nossos).

Da leitura acima, podemos concluir que na constituição dos óleos minerais há a presença do
HAP, sendo este componente encontrado até mesmo nos óleos altamente purificados, ainda que
em concentração mínima. Ou seja, há na sua estrutura o hidrocarboneto aromático, com os seus
anéis de benzeno.

Com a publicação da Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 09/2014, foi definida a Lista


Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos e, nessa toada, os óleos minerais estão
elencados no Grupo 1 (reconhecidamente carcinogênicos para humanos), mas, apenas os não
tratados ou pouco tratados.

Ainda que não conste a informação de que se trata de óleos minerais não tratados ou pouco
tratados, não há como afastar a condição de agente reconhecidamente cancerígeno em humanos,
por constar na sua composição o hidrocarboneto aromático, com os anéis de Benzeno.

Este é o entendimento encontrado na nossa Jurisprudência:

“EMENTA

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL. REQUISITOS.


ATIVIDADE ESPECIAL. HIDROCARBONETOS AROMÁTICOS. ÓLEOS
MINERAIS. AGENTES CANCERÍGENOS. UTILIZAÇÃO DE EPI. INEFICÁCIA
RECONHECIDA. HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA. ART. 57, § 8º, DA LEI
DE BENEFÍCIOS. CONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA. TEMA 709 DO
STF.

(...)

3. A exposição aos óleos minerais enseja o reconhecimento do tempo


como especial.

4. Os hidrocarbonetos aromáticos são compostos de anéis benzênicos, ou


seja, apresentam benzeno na sua composição, agente químico este que
integra o Grupo 1 (agentes confirmados como cancerígenos para
humanos) do Anexo da Portaria Interministerial MPS/MTE/MS nº 09-2014,
e que se encontra devidamente registrado no Chemical Abstracts Service
(CAS) sob o nº 000071-43-2.

5. Demonstrado, pois, que o benzeno, presente nos hidrocarbonetos


aromáticos, é agente nocivo cancerígeno para humanos, a simples
exposição ao agente (qualitativa) dá ensejo ao reconhecimento da
atividade especial, qualquer que seja o nível de concentração no ambiente
de trabalho do segurado.

6. Em se tratando de agente cancerígeno, a utilização de equipamentos de


proteção individual é irrelevante para o reconhecimento das condições
especiais da atividade.

7. Para a caracterização da especialidade, não se reclama exposição às


condições insalubres durante todos os momentos da prática laboral, sendo
suficiente que o trabalhador, em cada dia de labor, esteja exposto a agentes
nocivos em período razoável da jornada, salvo exceções (periculosidade, por
Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 13
exemplo).

8. A habitualidade e permanência hábeis aos fins visados pela norma - que é


protetiva - devem ser analisadas à luz do serviço cometido ao trabalhador, cujo
desempenho, não descontínuo ou eventual, exponha sua saúde à
prejudicialidade das condições físicas, químicas, biológicas ou associadas que
degradam o meio ambiente do trabalho.

9. De acordo com a tese fixada pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 709 da
Repercussão Geral), é constitucional a vedação de continuidade da percepção
de aposentadoria especial se o beneficiário permanece laborando em
atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que
ensejou a aposentação precoce ou não.

10. Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a


exercer o labor especial, a data de início do benefício será a data de entrada do
requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos financeiros.
Efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação
do benefício, uma vez verificado o retorno ao labor nocivo ou sua continuidade,
o benefício previdenciário em questão ficará suspenso” (TRF da 4ª Região –
APELAÇÃO CÍVEL n° 5002594-76.2017.4.04.7203/SC – Relator:
Desembargador Federal CELSO KIPPER – DE de 22.09.2020).

Grifos Nossos.

Uma vez que se trata de agente químico formado por um ou mais anéis benzênicos, a sua
exposição deve ser analisada com vista ao critério qualitativo, ou seja, basta a sua efetiva
presença no ambiente de trabalho, sem se exigir níveis de concentração para ser atestada a sua
nocividade.

Nesse sentido, a TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais) já
decidiu:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.


TEMPO DE ATIVIDADE ESPECIAL. AGENTES NOCIVOS. HIDROCARBONETOS
AROMÁTICOS. RECONHECIMENTO. ANÁLISE QUALITATIVA. INCIDENTE CONHECIDO E
IMPROVIDO.

- Trata-se de incidente de uniformização movido pelo INSS em face de


Acórdão da Turma Recursal do Rio Grande do Sul, que reformou a sentença
para reconhecer como especial o período de 28/07/2003 a 19/05/2011 em
razão da exposição habitual e permanente a hidrocarbonetos aromáticos
(cloreto metileno, dimetilformamida e polisocianatos), não se tendo exigido a
avaliação quantitativa, vez que a substância referida encontra-se relacionada
no anexo 13 da NR-15.

- Sustenta a parte recorrente que a Turma de origem contrariou o entendimento


firmado pela 5ª Turma Recursal de São Paulo (00107483220104036302), no
sentido de que após 05/03/1997 se exige medição e indicação da
concentração, em laudo técnico, para enquadramento da atividade como
especial, no ambiente de trabalho de agente nocivo listado no anexo IV, dos
decretos 2.172/97 e 3.048/99, em níveis superiores aos limites de tolerância.

- Os agentes químicos álcoois e hidrocarbonetos caracterizam a atividade


como especial para fins previdenciários, na forma dos quadros anexos aos
Decretos nº 53.831/64 (código 1.2.11), nº 83.080/79 (código 1.2.10 do anexo I),
nº 2.172/97 (código 1.0.19 do anexo IV) e nº 3.048/99 (código 1.0.1- A TRU-4ª

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 14


Região já entendeu não ser possível limitar a 05/03/1997 o reconhecimento
da insalubridade do ambiente de trabalho com base na análise qualitativa
do risco causado pela exposição a hidrocarbonetos aromáticos, em razão
de tais agentes, previstos no Anexo 13 da NR-15, submeterem-se à análise
qualitativa de risco, independentemente da época de prestação da
atividade. A análise quantitativa deve ser observada quanto aos agentes
referidos nos anexos 11 e 12 da referida norma regulamentadora. (PEDILEF nº
5011032-95.2011.404.7205, Turma Regional de Uniformização da 4ª Região,
Relator p/ Acórdão João Batista Lazzari, juntado aos autos em 27/10/2014).

- Com efeito, a NR-15 considera atividades ou operações insalubres as que se


desenvolvem acima dos limites de tolerância com relação aos agentes
descritos nos Anexos 1, 2, 3, 5, 11 e 12, entendendo-se por "Limite de
Tolerância", a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada
com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à
saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral.

(Processo 5004737-08.2012.4.04.7108, Juiz Federal Frederico Augusto


Leopoldino Koehler, DJe 27/09/2016) - Grifos Nossos.

No tocante aos meios de absorção do agente químico, é possível ocorrer através do contato
dérmico ou mesmo por névoa encontrada no ambiente de trabalho.

Desse modo, é cabível o reconhecimento de tempo especial, com o enquadramento do agente


químico óleos minerais nos códigos 1.0.3 e 1.0.7, dos Anexos IV dos Decretos nº(s) 2.172/97 e
3.048/99.

O não reconhecimento de tempo especial motivado por não comprovação de níveis de


concentração para o enquadramento do agente químico óleos minerais após 05.03.1997 deve ser
revisto pela Unidade Julgadora, pois a análise se dá com base no critério qualitativo e de caráter
cancerígeno.

Com as considerações apontadas no pedido incidental, cabe a reforma parcial do acórdão


prolatado pela 1ª Composição Adjunta da 1ª Câmara de Julgamento.

Sendo assim, determina-se a remessa dos autos a 1ª Câmara de Julgamento para que proceda
a novo julgamento da matéria, com a emissão de outro acórdão, observando os ditames do
presente voto.

CONCLUSÃO: Pelo exposto VOTO no sentido de, preliminarmente, CONHECER DOS


EMBARGOS DECLARATÓRIOS e ANULAR a RESOLUÇÃO nº 03/2019 do CONSELHO
PLENO para CONHECER do PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA
apresentado pelo SEGURADO e, no mérito, DAR PARCIAL PROVIMENTO.

Brasília-DF, 27 de janeiro de 2022.

ALEXANDRA ÁLVARES DE ALCÂNTARA

Relatora

Decreto nº 83.080/79 – Anexo I:

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 15


Código 1.1.5 – CAMPO DE APLICAÇÃO: RUÍDO

A Uniformização de Jurisprudência está prevista na Portaria Ministerial MDS nº 116/2017, confira-


se:

“Art. 3º Ao Conselho Pleno compete:

I - uniformizar, em tese, a jurisprudência administrativa previdenciária e assistencial, mediante


emissão de Enunciados;

II - uniformizar, no caso concreto, as divergências jurisprudenciais entre as Juntas de Recursos


nas matérias de sua alçada ou entre as Câmaras de julgamento em sede de Recurso Especial,
mediante a emissão de Resolução; e

III - decidir, no caso concreto, as Reclamações ao Conselho Pleno, mediante a emissão de


Resolução.

Art. 63. O Pedido de Uniformização de Jurisprudência poderá ser requerido em casos concretos,
pelas partes do processo, dirigido ao Presidente do respectivo órgão julgador, nas seguintes
hipóteses:

I - quando houver divergência na interpretação em matéria de direito entre acórdãos de


Câmaras de Julgamento do CRSS, em sede de Recurso Especial, ou entre estes e resoluções
do Conselho Pleno; ou

...

§ 1º A divergência deverá ser demonstrada mediante a indicação do acórdão divergente,


proferido nos últimos cinco anos, por outro órgão julgador, composição de julgamento, ou,
ainda, por resolução do Conselho Pleno.

§ 2º É de 30 (trinta) dias o prazo para o requerimento do Pedido de Uniformização de


Jurisprudência e para o oferecimento de contrarrazões, contados da data da ciência da decisão
e da data da intimação do pedido, respectivamente, hipótese em que suspende o prazo para o
seu cumprimento.”.

Manual de Aposentadoria Especial. Diretoria de Saúde do Trabalhador. Setembro/2018 – fls. 34,


41, 55/56.

Nº de Protocolo do Recurso: 44232.695762/2016-06

Documento/Benefício: 46/173.928.941-0

Unidade de origem: Agência da Previdência Social CEAB Reconhecimento de Direito da


SRII

Tipo do Processo: Pedido de Uniformização de Jurisprudência

Recorrente: Leonardo Geordano de Souza

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Benefício: Aposentadoria Especial


Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 16
Relator: Rodolfo Espinel Donadon

(Processo Eletrônico)

VOTO DIVERGENTE

EMENTA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RESOLUÇÃO GERADA EM PEDIDO DE
UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDENCIA. Acolhimento. Omissão.
Divergência jurisprudencial em matéria de direito entre Câmaras de Julgamento
não demonstrada. Pretensão fundamentada em reexame de matéria fático-
probatória. Ausência de pressupostos de admissibilidade contidos no inc. I do
art. 63 do Regimento Interno do CRPS. Embargos conhecidos e não providos.

Peço vênia e apresento meu voto divergente quanto ao entendimento da nobre Colega
Alexandra Álvares de Alcântara.

Antes de apresentar meu posicionamento, faço um breve resumo do entendimento da Colega


que concluiu pela avaliação apenas qualitativa dispensando qualquer outra informação a respeito
do agente nocivo “óleo mineral”. No voto da Relatora do processo, fez-se um histórico dos
compostos químicos dos hidrocarbonetos com referências ao indicando que os hidrocarbonetos
aromáticos possuem cadeia carbônica fechada, apresentando pelo menos um anel benzênico.
Faz referências ao Manual de Aposentadoria Especial; Anexo 13 da NR-15 e Portaria
Interministerial MTE/MS/MPS nº 09/2014, que definiu a Lista Nacional de Agentes Cancerígenos
para Humanos – LINACH. Faz menção a jurisprudência judicial e conclui:

“O não reconhecimento de tempo especial motivado por não comprovação de


níveis de concentração para o enquadramento do agente químico óleos minerais
após 05.03.1997 deve ser revisto pela Unidade Julgadora, pois a análise se dá
com base no critério qualitativo e de caráter cancerígeno.”

Feito esse breve resumo do entendimento da Colega, passo a avaliar o caso em debate.

Quanto aos embargos em si, acompanho o entendimento da Colega. Houve omissão quanto ao
agente químico óleo mineral que foi solicitado no Pedido de Uniformização e que gerou a
Resolução nº 03/2019. A referida Resolução apenas avaliou a possibilidade do enquadramento
por categoria profissional.

Admitido os embargos, a questão em análise envolve o estudo de particularidades de agente


nocivo químico, portanto, o próprio Manual da Aposentadoria Especial citado pela Colega traz
indicativos que gostaria de destacar conforme contido no documento referentes aos
Hidrocarbonetos:

Fontes ocupacionais: fornos de coque, produção de eletrodos de grafite, de


alumínio (metal primário), pavimentação de rodovias com asfalto (piche),
impermeabilização de telhados, fabricação e manuseio de creosoto, tratamento
e manuseio de dormentes de ferrovias tratados com creosoto – usado para
preservar madeira, óleos industriais residuais que contenham Hidrocarbonetos
Aromáticos Polinucleados – HAP. Entre vários compostos presentes nos HAP o
benzoapireno é um marcador de sua presença e pode ser usado como indicador
do teor de HPA num produto;

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 17


A maioria dos HAP podem ser cancerígenos (pele, pulmão), podem causar
efeitos mutagênicos, efeitos adversos para reprodução humana ou dermatite por
sensibilização. As frações mais pesadas do petróleo, xisto ou hulha, com mais
de quinze carbonos na cadeia, são ricas em HAP.

Os óleos não refinados (mais antigos) contêm HAP e podem levar ao câncer de
pele. Por isso, os óleos minerais precisam ser altamente purificados para que
contenham a mínima quantidade possível de HAP. O óleo diesel contém HAP,
enquanto que o Querosene não contém HAP. Em condições ambientais o óleo
diesel e o querosene não geram vapores, podendo gerar névoas.

Para classificação de óleos minerais como potencialmente carcinogênicos


existe um teste chamado DMSO (dimetilsulfóxido), Método IP 346, que quantifica
compostos poliaromáticos por extração com solvente DMSO. (...) Se o teor no
óleo for menor que 3% (três por cento) não é insalubre e não é cancerígeno. As
graxas só terão HPA se houver nelas óleo com IP acima de 3% (três por cento).
Quando a NR-15 foi editada em 1978, possivelmente todos os óleos minerais
continham HPA e eram cancerígenos.

Os HPA não constam no Anexo 11 da NR-15 e, portanto, a avaliação é


qualitativa nas atividades mencionadas no Anexo 13: manipulação de alcatrão,
betume, antraceno, óleos minerais (se cancerígenos) ou outras substâncias
cancerígenas afins; operações com benzoapireno (puro ou contaminado com
ele).

Outros produtos frequentes nos processos industriais são os fluidos de usinagem


que servem, principalmente, para lubrificar superfícies ou pontos de contato entre
a ferramenta de corte e a peça de matéria prima. Os nomes mais usados para
os diferentes fluidos são: óleos puros (antes continham HPA), emulsionados,
sintéticos e de usinagem (refrigerantes e para trabalho em metal). Nos anos 80
houve aumento da frequência de câncer de laringe, dermatoses ocupacionais e
distúrbios respiratórios relacionados ao uso desses fluidos. A partir de 1990,
houve aumento do uso de fluido à base de água e fluido químico e começaram a
surgir casos de pneumonite por hipersensibilidade.

O grau de carcinogenicidade vai depender do grau de refino (Teste IP 346 > 3%


de HAP no extrato em dimetil sulfóxido – DMSO = potencialmente
carcinogênico):

I - óleo pobre ou moderadamente refinado: carcinogênico humano suspeito; e

II - óleo altamente ou severamente refinado: não classificado como carcinogênico


humano.”.

Em resumo destes tópicos citados, entendo que não basta apenas a simples indicação no PPP
de exposição a um hidrocarboneto. Deve ser observada se:

1. A função está presente no rol das fontes ocupacionais;

2. O Manual faz referência a ‘maioria’ dos HAP podem ser cancerígenos, portanto, não é a
totalidade dos Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleados que estão nessa condição;

3. Vejamos que os óleos não refinados mais antigos contêm HAP e podem levar ao câncer de
pele e devem ser altamente purificados para que contenham a mínima quantidade possível de
HAP. O óleo diesel contém HAP, contudo, como dito, óleos minerais mais antigos;

4. Nesse ponto, seia necessário identificar o quanto refinado foi dentro da classificação de óleos

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 18


minerais como potencialmente carcinogênicos, conforme teste DMSO (dimetilsulfóxido), Método
IP 346. Somente é insalubre se o resultado do teor do teste for maior que 3% (três por cento);

5. O Manual faz referências que “quando a NR-15 foi editada em 1978, possivelmente todos os
óleos minerais continham HPA e eram cancerígenos”. Já se passaram mais de quarenta anos e a
própria evolução tecnológica permite presumir que atualmente não são todos os óleos minerais
que contém HPA em concentração carcinogênica;

6. A avaliação qualitativa dos HPA são aquelas contidas no Anexo 13 da NR-15: manipulação
de alcatrão, betume, antraceno, óleos minerais (se cancerígenos) ou outras substâncias
cancerígenas afins; operações com benzoapireno (puro ou contaminado com ele). Vejamos que
cita óleos minerais SE cancerígenos.

7. O produto “fluido de usinagem” que servem, principalmente, para lubrificar superfícies ou


pontos de contato entre a ferramenta de corte e a peça de matéria prima: Existe uma
especificação para esses produtos como óleos puros (antes continham HPA), emulsionados,
sintéticos e de usinagem (refrigerantes e para trabalho em metal).

8. Por fim, o grau de carcinogenicidade vai depender do grau de refino: óleo pobre ou
moderadamente refinado: carcinogênico humano suspeito; e óleo altamente ou severamente
refinado: não classificado como carcinogênico humano.”

Todo o levantamento acima permitiu aos experts que elaboraram o Manual a concluir que:

a) na avaliação desses agentes químicos é necessária inicialmente a


caracterização da composição do óleo ou graxa, pois a exposição a alguns
óleos pode constituir sério risco carcinogênico enquanto a outros, altamente
refinados, solúveis, com emulsificante, não haver riscos carcinogênicos;

b) no caso das graxas, o que pode conferir-lhes característica carcinogênica são


os ingredientes do óleo usados para preparar a graxa;

c) os óleos minerais são constituídos de mistura complexa de uma grande


variedade de substâncias, principalmente hidrocarbonetos de elevado peso
molecular, podendo tanto ser alifáticos (hidrocarbonetos de cadeias abertas ou
fechadas – cíclicas – não aromáticas) como aromáticos (apresentam como
cadeia principal anéis benzênicos);

d) somente serão considerados agentes caracterizadores de período especial,


aqueles que possuírem potencial carcinogênico (presença de compostos
aromáticos em sua estrutura molecular). Assim, sabe-se que os óleos altamente
purificados não têm potencial carcinogênico e podem ser usados inclusive em
medicamentos ou cosméticos;

e) óleos minerais contendo hidrocarbonetos policíclicos aromáticos são


considerados potencialmente carcinogênicos e, por essa razão, estão
relacionados no Anexo 13 da NR-15, aprovada pela Portaria nº 3.214, de 1978,
do MTE para análise qualitativa;

f) existem métodos para classificar os óleos minerais potencialmente


carcinogênicos e o não carcinogênicos. Porém, as fichas dos produtos podem
não conter tal informação e por isso há o entendimento frequente e equivocado
de que o contato direto da pele com quaisquer óleos minerais seja cancerígeno.
Para buscar tais informações pode-se recorrer à Ficha de Informações de
Segurança do Produto Químico – FISPQ e/ou bibliografia especializada; e

g) o manuseio ou manipulação de óleo mineral onde haja contato com a


pele está previsto no Anexo 13 da NR-15. Entretanto, até 5 de março de
Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 19
1997, não poderá haver reconhecimento do período como especial, vez
que não está previsto o enquadramento por contato com a pele no
Decreto nº 53.831, de 1964. Vale ressaltar que, atualmente, a grande
maioria dos óleos minerais são sintéticos, portanto, sem potencial de
nocividade. (grifo nosso)

Reforço o destaque acima da alínea ‘g’ da conclusão do tópico do Manual da Aposentadoria


Especial. O manuseio de óleo mineral com contato com a pele apenas não está previsto no Anexo
III do Decreto nº 53.831/64 e não pode ser avaliado até 05/03/97. Ainda, atualmente a maioria dos
óleos minerais são sintéticos sem potencial de nocividade.

O caráter danoso do óleo mineral, comprovadamente cancerígeno, depende das condições em


que é manipulado, já que, em condições normais, como visto, não gera vapor, podendo gerar
nuvens e “alguns agentes, de acordo com suas propriedades físico-químicas, podem ser
absorvidos também pela pele o que, sem a devida proteção, pode estender seus efeitos aos
tecidos mais profundos e promover efeitos sistêmicos. No entanto, é importante saber que quando
a exposição por meio da pele é relevante, certamente a exposição por inalação já terá
ultrapassado em muitas vezes o limite de exposição por via respiratória, se o trabalhador não usar
proteção adequada.”

Quanto ao tempo exposto a óleo e graxa, notem que o código 1.2.11 do anexo III do Decreto
53.831/64, trata de “Trabalhos permanentes expostos às poeiras: gases, vapores, neblinas e
fumos de derivados do carbono constantes da Relação Internacional das Substâncias Nocivas
publicada no Regulamento Tipo de Segurança da O.I.T.” A exposição depende da comprovação
da exposição aos agentes em seu estado gasoso. Ainda, informações genéricas de exposição a
“óleo e graxa”, não permite a análise pretendida.

Ressalto, ainda, que o código 1.0.3 do Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, que trata do benzeno,
traz em seu conteúdo como se opera a conversão, dependendo de comprovação de:

a) produção e processamento de benzeno;

b) utilização de benzeno como matéria-prima em sínteses orgânicas e na


produção de derivados;

c) utilização de benzeno como insumo na extração de óleos vegetais e álcoois;

d) utilização de produtos que contenham benzeno, como colas, tintas, vernizes,


produtos gráficos e solventes;

e) produção e utilização de clorobenzenos e derivados;

f) fabricação e vulcanização de artefatos de borracha;

g) fabricação e recauchutagem de pneumáticos.

Na condição de mecânico de manutenção veicular o segurado não exercia nenhuma atividade


compatível com o código acima.

Ainda, o código 10.7 do Anexo IV do Decreto nº 3.048/99 trata do carvão e seus derivados e
cita a extração, produção e utilização de óleos minerais e parafinas. Contudo, a PORTARIA
INTERMINISTERIAL Nº 9, DE 7 DE OUTUBRO DE 2014 que Publica a Lista Nacional de Agentes
Cancerígenos para Humanos (LINACH), indicou o “óleo mineral” no Grupo 1 – carcinogênicos para
humanos: - óleos minerais não tratados ou pouco tratados.

Vejamos que toda a análise contida do agente químico no Manual da Aposentadoria Especial
está de acordo com o descrito na LINACH. Não é qualquer óleo mineral que gera a conversão.
Deve ser comprovada a exposição ao óleo não tratado ou pouco tratado, fato que torna

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 20


necessária essa informação no PPP ou documento anexado como à Ficha de Informações de
Segurança do Produto Químico – FISPQ e/ou bibliografia especializada.

Igualmente a IARC (Agência Internacional de Pesquisas Sobre o Câncer) estabelece no grupo


1 – Cancinogênico para humanos – o óleo não tratado ou levemente tratado. Já no Grupo 3 – Não
classificado quanto à sua carcinogenicidade para seres humanos – o óleo mineral altamente
refinado. Destaca-se que, segundo a IARC, o fato do agente mineral do grupo 3 não ter sido
classificado como cancerígeno não indica uma prévia determinação de não carcinogenicidade ou
de segurança global deve ser inferida.

Importante destacar com esse voto que esse Conselheiro não questiona o potencial efeito
cancerígeno do óleo mineral, apenas que esse deve estar identificado no PPP. Como vimos
anteriormente, nem todo óleo mineral é carcinogênico. O que definirá o grau de carcinogenicidade
é a quantidade de teor do Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) e no processo atual
industrial se utilizam de óleos modernos refinados com proporções extremamente pequenas deste
HPA, incapazes de ocasionar ação cancerígena.

Ainda, “os novos processos de obtenção dos óleos básicos parafínicos, atualmente no
mercado (e que, no Brasil, representam quase 100% da disponibilidade), garantem que os
percentuais dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos se encontram em níveis seguramente
baixos.” Aos óleos lubrificantes com alto grau de refino não são agressivos à pele de maneira
instantânea devendo ser evitado o contato prolongado desnecessário com utilização de medidas
de controle como lavagem das mãos, troca de vestimentas e uso de EPI – Equipamento de
Proteção Individual como luvas e aventais impermeáveis.

Nesse ponto, se o óleo mineral não possuir o grau de carcinogenicidade medido pela
quantidade de teor do Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), não é cancerígeno
conforme definido pela LINACH. E não sendo cancerígeno, aplica-se o entendimento do
Enunciado 12 do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) quanto à necessidade de
se verificar se o uso de EPI eficaz neutraliza a nocividade deste agente ao ponto de se reconhecer
o ambiente salubre. O Enunciado é claro ao afastar a análise de uso de EPI apenas diante do
agente ruído e dos agentes reconhecidamente cancerígenos, a saber:

Enunciado nº 12.

O fornecimento de equipamento de proteção individual (EPI) não descaracteriza


a atividade exercida em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho.

I - Se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não há direito à


aposentadoria especial.

II - A utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva-EPC e/ou EPI não elide a


exposição aos agentes reconhecidamente cancerígenos, a ruído acima dos
limites de tolerância, ainda que considerados eficazes.

III - A eficácia do EPI não obsta o reconhecimento de atividade especial exercida


antes de 3/12/1998, data de início da vigência da MP 1.729/98, convertida na Lei
n. 9.732/98, para qualquer agente nocivo.

Podemos concluir nesse ponto. O agente óleo mineral/graxa/lubrificante, para ser reconhecido
como cancerígeno deve conter um teor considerável de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos
(HPA). Superado o percentual definido em metodologia DMSO (dimetilsulfóxido), Método IP 346,
com teor acima de 3% (três por cento) é cancerígeno e, portanto, tem avaliação qualitativa
conforme LINACH e mesmo o uso de EPI não ilide sua exposição. Por sua vez, em sentido
contrário, se o esse agente nocivo estiver com percentual abaixo do definido em metodologia,
presume-se o potencial não cancerígeno do óleo e, portanto, a própria nocividade da exposição

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 21


deve ser avaliada por meio de uso de EPI e se a atividade do segurado é compatível com os
Anexos dos Decretos que versam a respeito da atividade insalubre.

Retomando ao voto da Colega, outro argumento utilizado é o Princípio da Precaução. Entendo


que sempre deve ser aplicado ante a hipossuficiência do segurado perante seu empregador,
porém, quando há choque com o princípio da legalidade, em se tratando de esfera administrativa,
há se considerar o segundo.

Todo o embasamento científico acima implica na necessidade de se identificar o óleo mineral


que o segurado esteve exposto, conferindo a este um potencial cancerígeno se atestado como
não tratados ou pouco tratados, segundo o método internacional de apuração de grau de refino.
Se o óleo mineral não estiver na classificação acima, é necessário avaliar a eficácia do uso de
EPI. Essas informações devem ser prestadas pela empresa cujo documento deve ser fornecido
pelo segurado conforme art. 19-F do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo
Decreto nº 3.048/99, com redação do Decreto nº 10.410/2020, a saber:

Art. 19-F. A obrigação do INSS de promover a instrução de requerimentos e a


comprovação de requisitos legais para o reconhecimento de direitos não afasta
a obrigação de o interessado ou o seu representante juntar ao requerimento toda
a documentação útil à comprovação do direito, principalmente em relação aos
fatos que não constem da base de dados da previdência social. (Incluído pelo
Decreto nº 10.410, de 2020)

Quanto ao entendimento jurisprudencial acerca do tema, embora a corrente majoritária seja


favorável a simples citação do agente nocivo óleo mineral como suficiente para a caracterização
da atividade insalubre, ao Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) cabe aplicar o
exposto em lei, decreto e ato normativo ministerial nos termos do art. 69 do Regimento Interno
deste Conselho:

Art. 69. É vedado aos órgãos julgadores do CRSS afastar a aplicação, por
inconstitucionalidade ou ilegalidade, de tratado, acordo internacional, lei, decreto
ou ato normativo ministerial em vigor, ressalvados os casos em que:

I - já tenha sido declarada a inconstitucionalidade da norma pelo Supremo


Tribunal Federal, em ação direta, após a publicação da decisão, ou pela via
incidental, após a publicação da resolução do Senado Federal que suspender a
sua execução; e

II - haja decisão judicial, proferida em caso concreto, afastando a aplicação da


norma, por ilegalidade ou inconstitucionalidade, cuja extensão dos efeitos
jurídicos tenha sido autorizada pelo Presidente da República.

As decisões que embasavam o voto dos Colegas não se adequam ao acima exposto.

No caso concreto que originou o presente pedido de uniformização, conforme descrito no Perfil
Profissiográfico Previdenciário – PPP não há informação a respeito do óleo mineral que o
segurado fez uso e nem em que condições esse óleo era manipulado – contato com a pele, vapor,
gases. Não quer dizer que o óleo mineral informado não seja cancerígeno, mas não foi informado
corretamente.

Para uma melhor elucidação do caso, é possível fazer um comparativo com a exposição ao
agente ruído. Vejamos um exemplo de um Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP que informa
função de operador de equipamentos em indústria siderúrgica exposto a ruído de 98 dB(A) a partir
de 01/01/2004, mas não informa metodologia de avaliação. Segundo o inc. III do Enunciado nº 13
do CRPS, a partir dessa data o ruído deve estar por dosimetria. Considerando o ramo comercial
da empresa, é de se presumir que o ruído esteja acima do limite de tolerância, contudo, sem a
técnica correta, não se pode presumir que esse ruído foi obtido por dosimetria, podendo ser

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 22


resultado de uma avaliação pontual. Cabe à empresa confirmar a técnica de avaliação. Igualmente
ao caso em análise no presente Pedido de Uniformização. Caberia à empresa especificar o óleo
mineral utilizado.

Nesse sentido, a conclusão do voto envolve reanalise de matéria fática probatória para se
apurar qual o óleo mineral que o segurado fez uso. Porém, tal análise não é acolhida no Conselho
Pleno o que pode ser facilmente demonstrado pelas ementas abaixo transcritas:

- Resolução nº 54/2020 de 25/09/2020

EMENTA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. PEDIDO DE


UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDENCIA. Divergência jurisprudencial em
matéria de direito entre Câmaras de Julgamento não demonstrada. Pretensão
fundamentada em reexame de matéria fático-probatória. Ausência de
pressupostos de admissibilidade contidos no inc. I do art. 63 do Regimento
Interno do CRPS. Não conhecimento do pedido de Uniformização.- Resolução
nº 38/2018 de 29/05/2018:

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDENCIA. Não foi atendido o


inciso I do artigo 63 da Portaria MDAS 116/2017. Requisito de admissibilidade
não atendido. Acórdãos paradigmas não divergem em interpretação de matéria
de direito.

- Resolução nº 26/2017 de 21/11/2017:

EMENTA: APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. ATIVIDADE


ESPECIAL. REQUISITOS. AGENTE RUÍDO. AFERIÇÃO DE METODOLOGIA A
SER UTILIZADA PARA A ANÁLISE DO AGENTE. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL ENTRE CÂMARAS DE JULGAMENTO NÃO
DEMONSTRADA. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE
CONTIDOS NO § 1º DO ART. 63 DO REGIMENTO INTERNO DO CRSS. NÃO
CONHECIMENTO DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO.

- Resolução nº 06/2016 de 23/03/2016:

EMENTA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. PEDIDO DE


UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDENCIA. Divergência jurisprudencial entre
Câmaras de Julgamento não demonstrada. Pretensão fundamentada em
reexame de matéria fático-probatória. Ausência de pressupostos de
admissibilidade contidos no § 1º do art. 64 do Regimento Interno do CRPS. Não
conhecimento do pedido de Uniformização.

Com o mesmo entendimento, Resoluções nº 32/2018 de 29-05-2018; 04/2017 de 24/05/2017 e


23-2016 de 30/08/2016, entre outras.

Por essa razão, entendo que o pedido do segurado procede quanto ao conhecimento dos
embargos, contudo, negado provimento ao pedido.

Ante todo ao exposto, VOTO DIVERGENTE no sentido de, preliminarmente, CONHECER DO


PEDIDO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO e no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO.

Brasília - DF, 27 de janeiro de 2022.

RODOLFO ESPINEL DONADON

Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 23


Relator

Instituto Nacional do Seguro Social. Manual de Aposentadoria Especial/Instituto Nacional do


Seguro Social. – Brasília, 2017. Pag. 53

Idem, pág.55/56.

Idem, pág.55.

IARC – International Agency for Research on Cancer.

MASSERA, Silvia Regina Parapinski. Óleo Mineral Cancerígeno?!!!. Classificação segundo a


LINARCH e IARC. Disponível em: <https://artigosinsalubridade.wordpress.com/2015/09/02/oleo-
mineral-cancerigeno-classificacao-segundo-a-linach-e-iarc/> Consulta em dez.2021.

ROSSI, Luiz Della Rosa. Insalubridade decorrente da manipulação de óleos minerais. Perícias
Técnicas. Boletim Técnico – 115. Disponível em: <https://avatec.com.br/insalubridade-decorrente-
da-manipulacao-de-oleos-minerais/>. Consulta em dez.2021. Segundo o autor, “O refino através
de tratamento ácido foi amplamente substituído por métodos mais modernos de refinação,
incluindo o tratamento por solvente e a hidrogenação, que reduzem em ampla escala a proporção
presente de compostos aromáticos e, em consequência, os cancerígenos em potencial.”

Idem.

Anexo III do Decreto nº 53.831/64; Anexo II do Decreto nº 83.080/79; Anexos IV dos Decretos nº
2.172/97 e 3.048/99.

Enunciado nº 13 (...)

III - A partir de 1º de janeiro de 2004, para a aferição de ruído contínuo ou intermitente, é


obrigatória a utilização das metodologias contidas na Norma de Higiene Ocupacional 01 (NHO-
01) da FUNDACENTRO ou na NR-15, que reflitam a medição de exposição durante toda a
jornada de trabalho, vedada a medição pontual, devendo constar do PPP a técnica utilizada e a
respectiva norma.

Documento assinado eletronicamente por Alexandra Alvares de Alcantara,


Agente Administrativo, em 17/02/2022, às 19:04, conforme horário oficial
de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13
de novembro de 2020.
Documento assinado eletronicamente por Rodolfo Espinel Donadon, Agente
Administrativo, em 22/02/2022, às 14:27, conforme horário oficial de
Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.

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Acórdão SPREV-CRPS 22476296 SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 24


MINISTÉRIO DA ECONOMIA
Secretaria Especial de Previdência e Trabalho
Secretaria de Previdência
Presidência do Conselho de Recursos da Previdência Social

RESOLUÇÃO CRPS/ME Nº 20, DE 27 DE JANEIRO DE 2022

DECISÓRIO

Vistos e relatados os presentes autos, em sessão realizada hoje, ACORDAM os membros


do Conselho Pleno, por MAIORIA, no sentido de CONHECER DO PEDIDO DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO e no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, de acordo com o VOTO
DIVERGENTE do relator Rodolfo Espinel Donadon e sua fundamentação. Vencido o voto da
relatora Alexandra Álvares de Alcântara. Vencidos ainda os conselheiros Vânia Pontes Santos,
Márcia Aparecida, Moisés Oliveira Moreira, Maria José de Paula Moraes, Tarsila Otaviano da
Costa.

Participaram, ainda, do presente julgamento os (as) Conselheiros (as): Robson Ferreira


Maranhão, Gustavo Araujo Beirão, Paulo Sérgio de Carvalho Costa Ribeiro, Ana Cristina
Evangelista, Imara Sodré Sousa Neto, Guilherme Lustosa Pires, Valter Sérgio Pinheiro Coelho e
Adriene Cândida Borges.

RODOLFO ESPINEL DONADON MÁRCIA ELIZA DE SOUZA

Relator Presidente

Documento assinado eletronicamente por Márcia Eliza de Souza,


Presidente, em 17/02/2022, às 17:01, conforme horário oficial de Brasília,
com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro
de 2020.
Documento assinado eletronicamente por Rodolfo Espinel Donadon, Agente
Administrativo, em 22/02/2022, às 14:27, conforme horário oficial de
Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de
novembro de 2020.

Resolução 20 (22478490) SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 25


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Referência: Processo nº 10128.100290/2022-21. SEI nº 22478490

Resolução 20 (22478490) SEI 10128.100290/2022-21 / pg. 26

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