Você está na página 1de 5

MINISTÉRIO DA ECONOMIA - MECON

CONSELHO DE RECURSOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - CRPS

2ª Câmara de Julgamento
Data/Hora: 20/01/2021 08:52:17

Número do Processo: 44233.834391/2018-38


Tipo do Processo: Recurso Especial
APS Responsável: AGÊNCIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL DIVINÓPOLIS
Objeto do Processo: Espécie/NB: 42/184.890.042-0
Espécie: Aposentadoria por tempo de contribuição
Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
Recorrido: FRANCISCO ROSA DA PAZ
ANA CLAUDIA BARROS LAGUARDIA
Assunto: INDEFERIMENTO
Relator: ALEXANDRA ALVARES DE ALCANTARA

Inclusão em Pauta
Incluído em pauta em 09/01/2021 16:34:40 para sessão 0016/2021.

Relatório
Trata-se de Aposentadoria por Tempo de Contribuição requerido em 14.07.2017, por FRANCISCO ROSA
DA PAZ, nascido em 03.02.1969.
 
Foram colacionados aos autos, entre outros:
 

• Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho da COMPANHIA TÊXTIL OLIVEIRA INDUSTRIAL –
fls. 12/14;
• Formulário PPP para o intervalo de 01.10.2001 a 13.05.2012 (lavador) na PETROLIVA LTDA, exposto
a produtos químicos em geral – hidrocarbonetos aromáticos, vapores de combustíveis, querosene e
removedores e umidade – fls. 15/16, 54/55;
• Formulário PPP para o intervalo de 01.12.2012 a 15.01.2018 (vigia) na PETROLIVA LTDA, sem
indicação de fatores de riscos – fls. 17/18, 56/57;
• Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho da empresa PETROLIVA LTDA – fls. 19/25;
• Carteiras do Trabalho e da Previdência Social – fls. 30/53;
• Formulário PPP para os intervalos de 05.12.1987 a 01.09.1987 (porteiro) e de 01.09.1987 a
09.05.1991 (contra mestre preparação) na COMPANHIA TÊXTIL OLIVEIRA INDUSTRIAL, sem fator de riscos
entre 05.12.1986 a 01.09.1987 e exposto a ruído de 92,0dBA de 01.09.1987 a 09.05.1991 – fls. 58/59;
• Formulário PPP para o intervalo de 01.12.1994 a 18.02.1995 (contra mestre preparação) na
COMPANHIA TÊXTIL OLIVEIRA INDUSTRIAL, exposto a ruído de 92,0dBA, além de LTCAT – fls. 60/64;
• CNIS – Cadastro Nacional de Informações Sociais – fl. 71.
 
 

Assinatura do documento: C5396D7DE645FABA593A3D8A13B32010EB724AA9BD05057493A25D5618334EF3


Assinatura digital do presidente: C90CCF032709D0362EFDF5D73575A453107EDFC7998B8E2842035D87B6335ECA
Assinatura digital do(a) relator(a): 5862BEF0EE31289765E6B5D63F528A11A3AAB97A8C056295C4CF9A149CFA4ED1
Página: 1
A Perícia Médica emitiu parecer contrário aos intervalos laborados nas empresas PETROLIVA LTDA e na
CIA TÊXTIL OLIVEIRA INDUST – fls. 72/78.
 
Contagem de tempo no total de 30 anos 02 meses e 23 dias de contribuição até 19.06.2018, restando
cumprir mais 04 anos 09 meses e 07 dias – fls. 83/86.
 
O pedido foi indeferido por falta de tempo de contribuição.
 
Em recurso ordinário, o interessado pleiteia o reconhecimento de tempo especial para os intervalos de
05.12.1986 a 09.05.1991, de 01.12.1994 a 18.02.1995, de 01.10.2001 a 13.05.2012 e de 01.12.2012 a
15.01.2018 – fls. 02/10.
 
 
A egrégia 17ª Junta de Recursos, por meio do ACÓRDÃO nº 4.233/2019 (fls. 92/95), deu parcial
provimento ao apelo do interessado, tendo considerado:
 
I – não reconhecido tempo especial entre 05.12.1986 a 09.05.1991 e de 01.12.1994 a 18.02.1995 e de
01.12.2012 a 15.01.2018;
II – acolhido tempo especial de 01.10.2001 a 13.05.2012;
VI – não implementados os requisitos necessários ao benefício até a DER e autorizada a reafirmação da
DER.
 
 
Ciência da decisão anterior em 04.06.2019 e interposto recurso especial em 02.07.2019.
 
Em recurso especial, o INSS afirma que não é possível manter o tempo especial para o intervalo de
01.10.2001 a 13.05.2012, considerado o parecer contrário da Perícia Médica – fls. 98/100.
 
Sem contrarrazões pelo Interessado.
 
 
É o relatório.
 

Voto
EMENTA:

APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. INDEFERIMENTO. COMPROVAÇÃO


PARCIAL DE TEMPO ESPECIAL. ATENDIDOS OS REQUISITOS PARA O BENEFÍCIO.
RECURSO ESPECIAL DO INSS CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
1 - A aposentadoria por Tempo de Contribuição é garantida ao segurado que comprova
possuir 35 (trinta e cinco) anos de contribuição, se homem, ou 30 (trinta) anos, se
mulher.
2 – Comprovado parcialmente de tempo especial por exposição a ruído acima do limite
tolerado e por hidrocarboneto aromático, afastado, entretanto, o período de gozo de
auxílio-doença previdenciário, por força do parágrafo único do artigo 65 do Decreto nº
3.048/99.
3 – Comprovado tempo de contribuição suficiente para a concessão do Benefício, nos
termos do artigo 188-A, inciso II, B, 1, do Decreto nº 3.048/99.
4 – Recurso especial do INSS conhecido e provido em parte.

Recurso especial interposto dentro do prazo legal e atendido os demais critérios de admissibilidade.
 
Passamos ao mérito.
 
A aposentadoria por Tempo de Contribuição é garantida ao segurado que comprova possuir 35 (trinta e
cinco) anos de contribuição, se homem, ou 30 (trinta) anos, se mulher. Tal regra está expressa na norma
abaixo:
 
Decreto nº 3.048/99
 

Assinatura do documento: C5396D7DE645FABA593A3D8A13B32010EB724AA9BD05057493A25D5618334EF3


Assinatura digital do presidente: C90CCF032709D0362EFDF5D73575A453107EDFC7998B8E2842035D87B6335ECA
Assinatura digital do(a) relator(a): 5862BEF0EE31289765E6B5D63F528A11A3AAB97A8C056295C4CF9A149CFA4ED1
Protocolo: 44233.834391/2018-38 Página: 2
“Art.188-A. Será assegurada a concessão de aposentadoria, a qualquer tempo, ao segurado do RGPS,
inclusive o oriundo de regime próprio de previdência social, que, até 13 de novembro de 2019, uma vez
cumprido o período de carência exigido, tenha cumprido os seguintes requisitos:(Redação dada pelo
Decreto nº 10.410/2020)
...
II – no caso de aposentadoria por tempo de contribuição:
...
b) para os demais segurados:
1. trinta e cinco anos de contribuição, se homem; e
2. trinta anos de contribuição, se mulher”.
 
Até a DER o recorrido possui 48 (quarenta e oito) anos de idade.
 
O dissenso paira quanto à (im)possibilidade em ser reconhecido tempo especial para o intervalo de
01.10.2001 a 13.05.2012.
 
Importa salientar que, a legislação aplicável para a caracterização do tempo especial é aquela vigente no
período da prestação de serviço, considerado o princípio tempus regit actum.
 
Sobre a vinculação da manifestação da Perícia Médica às decisões do CRPS, chama atenção que os
julgadores têm o livre convencimento das provas e o reconhecimento de tempo especial não constitui
matéria eminentemente médica, por haver aspectos jurídicos a serem considerados, cabendo observar o
disposto no artigo 3º da Instrução Normativa CRPS nº 1/11:
 
“Os Órgãos Julgadores não estão adstritos ao pronunciamento técnico da assessoria médica ou jurídica,
podendo formar a sua convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos, desde que
fundamentada a decisão, sob pena de nulidade”.
 
Do caso concreto
 
Foi apresentado perfil profissiográfico previdenciário para o intervalo de 01.10.2001 a 13.05.2012, na
ocupação de lavador no setor posto, na PETROLIVA LTDA, exposto a produtos químicos em geral –
hidrocarbonetos aromáticos, vapores de combustíveis, querosene e removedores e umidade.
 
Na descrição das atividades aponta que o recorrido prestava atendimento aos clientes dos postos de
combustíveis realizando lavagem nas latarias, vidros e outras partes do veículo; utilizando mangueira
e/ou bombas de água, querosene, removedores e estopas e materiais similares para a lavagem, tendo
exercida a função de lavador de modo habitual e permanente, não ocasional e nem intermitente.
 
Também, há laudo técnico no qual aponta que a atividade prestada em Posto de Gasolina.
 
Não há como dissociar o meio ambiente onde a atividade foi prestada da exposição ao BENZENO (POSTO
DE GASOLINA) e outros hidrocarbonetos.
 
O Ministério da Saúde, através do INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva)[1]
relaciona as atividades ocupacionais onde há exposição ao Benzeno:
“As categorias profissionais nas quais pode ocorrer exposição ao benzeno são: frentista e demais
trabalhadores de postos de combustíveis (inclusive funcionários das lojas de conveniência), trabalhadores
dos setores de siderúrgica, petroquímica, produção e utilização de tintas, indústria da borracha (pneus e
outros), oficinas mecânicas, fabricação de plásticos, produtos de couro, entre outros”.
 
 
Ainda sobre os efeitos da exposição do trabalhador (de forma crônica) ao Benzeno, o INCA pontua o
seguinte:
 
“INTOXICAÇÃO CRÔNICA
 
Os efeitos da exposição crônica (prolongada) podem ser observados algum tempo (dias, meses ou anos)
após exposição contínua, mesmo em baixas concentrações do combustível. O indivíduo exposto
cronicamente (continuamente) a esse agente pode apresentar anemia, sangramento excessivo (no nariz,
por exemplo) e queda do sistema imunológico, aumentando as chances de ter vários tipos de doenças
infecciosas e de desenvolver câncer (leucemia e outros)”.

Assinatura do documento: C5396D7DE645FABA593A3D8A13B32010EB724AA9BD05057493A25D5618334EF3


Assinatura digital do presidente: C90CCF032709D0362EFDF5D73575A453107EDFC7998B8E2842035D87B6335ECA
Assinatura digital do(a) relator(a): 5862BEF0EE31289765E6B5D63F528A11A3AAB97A8C056295C4CF9A149CFA4ED1
Protocolo: 44233.834391/2018-38 Página: 3
 
 
É lícito salientar que, a substância derivada do petróleo é tóxica, altamente cancerígena, sendo certo que
o BENZENO foi listado na Portaria Interministerial MTE/MS/MPS nº 09, de 07.10.2014, como agente nocivo
reconhecidamente cancerígeno em humanos. Não se exige para este agente níveis de
intensidade/concentração, pois a sua análise se dá pelo critério qualitativo.
 
Considerada a informação prestada pelo médico do trabalho, é imperioso ratificar o tempo especial para
o intervalo de 01.10.2001 a 13.05.2012 no código 1.0.3, do Anexo IV, do Decreto nº 3.048/99, excetuado
o período de 02.06.2011 a 05.07.2011, pois o segurado esteve em gozo de auxílio-doença, por força do
parágrafo único do artigo 65, do Decreto nº 3.048/99.
 
Sobre os demais formulários apresentados pelo recorrido visando o reconhecimento de tempo especial,
destaca-se:
 
1 – Período de 01.12.2012 a 15.01.2018 deve ser mantido como de natureza comum, pois não há
exposição a fatores de riscos e não é possível o enquadramento pela CATEGORIA PROFISSIONAL de vigia,
pois o labor foi prestado após a edição da Lei nº 9.032/95.
 
2 – Período de 05.12.1987 a 01.09.1987 não é passível de ser enquadrado como especial face a ausência
de fatores de riscos em PPP e no Laudo Ténico Pericial. E  a atividade de porteiro não está prevista como
especial, pela Categoria Profissional nos quadros anexos dos Regulamentos da Previdência Social de
1964 e de 1979.
 
3 – Períodos de 01.09.1987 a 09.05.1991 e de 01.12.1994 a 18.02.1995, laborado no cargo de contra
mestre preparação, no setor de preparação na empresa COMPANHIA TÊXTIL OLIVEIRA INDUSTRIAL,
exposto a ruído de 92,0dBA (técnica dosimetria).
 
Os intervalos de 1987/1991 e de 1994/1995 não foram acolhidos como especiais em razão da
extemporaneidade do laudo técnico.
 
Porém, foram anexados os Laudos Periciais realizado por engenheiro civil e de segurança do trabalho,
com avaliação feito em 2008, no qual constatou a exposição ao agente ruído acima do limite tolerado, de
modo habitual e permanente, tendo registrado o seguinte:
 
“As condições apresentadas no levantamento ambiental refletem as mesmas condições nas quais o
empregado esteve trabalhando no local especificado”.
 
 
É possível a utilização de laudo técnico mesmo extemporâneo à atividade, desde que inexista motivo
para duvidar da sua credibilidade. Com o passar do tempo, pressupõe-se a utilização de máquinas menos
ruidosas, dado o avanço tecnológico, e a natural e lógica utilização de equipamentos menos insalubres;
logo, constatado no laudo pericial posterior a presença do agente nocivo, presume-se que, antes dele, as
condições de trabalho eram, inclusive, piores.
 
Ademais, a própria indicação da empresa de que o segurado ficou exposto a agente nocivo acima do
limite permitido, de modo habitual e permanente, não ocasional e nem intermitente, ainda que
embasado em dados posteriores, é equivalente a confissão de como era, de fato, as condições de
trabalho do segurado à época em que laborou. Além do que, ao emitir o PPP retratando a existência do
agente nocivo, o empregador se responsabiliza por essa informação prestada.
 
Atualmente, temos a orientação contida no Enunciado nº 11/2019, do CRPS:
 
“ENUNCIADO 11
O Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) é documento hábil à comprovação da efetiva exposição do
segurado a todos os agentes nocivos, sendo dispensável o Laudo Técnico de Condições Ambientais de
Trabalho (LTCAT) para requerimentos feitos a partir de 1º/1/2004, inclusive abrangendo períodos
anteriores a esta data.
I - Poderá ser solicitado o LTCAT em caso de dúvidas ou divergências em relação às informações contidas
no PPP ou no processo administrativo.
II - O LTCAT ou as demonstrações ambientais substitutas extemporâneos que informem quaisquer
alterações no meio ambiente do trabalho ao longo do tempo são aptos a comprovar o exercício de

Assinatura do documento: C5396D7DE645FABA593A3D8A13B32010EB724AA9BD05057493A25D5618334EF3


Assinatura digital do presidente: C90CCF032709D0362EFDF5D73575A453107EDFC7998B8E2842035D87B6335ECA
Assinatura digital do(a) relator(a): 5862BEF0EE31289765E6B5D63F528A11A3AAB97A8C056295C4CF9A149CFA4ED1
Protocolo: 44233.834391/2018-38 Página: 4
atividade especial, desde que a empresa informe expressamente que, ainda assim, havia efetiva
exposição ao agente nocivo.
III - Não se exigirá o LTCAT para períodos de atividades anteriores 14/10/96, data da publicação da
Medida Provisória n.º 1.523/96, facultando-se ao segurado a comprovação da efetiva exposição a agentes
nocivos por qualquer meio de prova em direito admitido, exceto em relação a ruído”
 
 
Sendo assim, o recorrido trabalhou em condições especiais, de modo que cabe o enquadramento dos
períodos de 01.09.1987 a 09.05.1991 e de 01.12.1994 a 18.02.1995, no código 1.1.6, do quadro anexo
do Decreto nº 53.831/64.
 
 
Com as considerações acima, o recorrido perfaz mais de 35 anos de tempo de contribuição.
 
Portanto, assiste parcialmente razão ao INSS.
 
 
Conclusão: Pelo exposto VOTO no sentido de, preliminarmente, CONHECER DO RECURSO ESPECIAL DO
INSS e, no mérito, DAR PARCIAL PROVIMENTO.
 
[1] Cartilha “VOCÊ SABE O QUE TEM NO COMBUSTÍVEL?”. Ministério da Saúde – INCA – Rio de Janeiro –
2017 – pág. 13
ALEXANDRA ALVARES DE ALCANTARA
Relator(a)

Declaração de Voto

Conselheiro(a) concorda com o voto do(a) Relator(a).

GABRIEL RUBINGER BETTI


Conselheiro(a) Titular Representante dos Trabalhadores

Declaração de Voto

Presidente concorda com o voto do(a) Relator(a).


MARIEDNA MOURA DE ARRUDA
Conselheiro(a) Suplente Representante do Governo

Decisório
Nº Acordão: 2ª CAJ/0124/2021

Vistos e relatados os presentes autos, em sessão realizada em 20/01/2021, ACORDAM os membros


da 2ª Câmara de Julgamento, em CONHECER DO RECURSO E DAR PROVIMENTO PARCIAL AO INSS, POR
UNANIMIDADE, de acordo com o voto do(a) Relator(a) e sua fundamentação.

Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros GABRIEL RUBINGER BETTI.

ALEXANDRA ALVARES DE ALCANTARA MARIEDNA MOURA DE ARRUDA


Relator(a) Conselheiro(a) Suplente Representante do Governo
(Presidente designado)

Assinatura do documento: C5396D7DE645FABA593A3D8A13B32010EB724AA9BD05057493A25D5618334EF3


Assinatura digital do presidente: C90CCF032709D0362EFDF5D73575A453107EDFC7998B8E2842035D87B6335ECA
Assinatura digital do(a) relator(a): 5862BEF0EE31289765E6B5D63F528A11A3AAB97A8C056295C4CF9A149CFA4ED1
Protocolo: 44233.834391/2018-38 Página: 5

Você também pode gostar