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Tribunal de Justiça do Estado do Pará

PJe - Processo Judicial Eletrônico

18/08/2023

Número: 0012870-76.2020.8.14.0401
Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
Órgão julgador: 13ª Vara Criminal de Belém
Última distribuição : 15/05/2023
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Crimes da Lei de licitações
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DO PARÁ (AUTOR)
SERGIO DE AMORIM FIGUEIREDO (REU) ANDRE LUIZ TRINDADE NUNES (ADVOGADO)
FRANCISCO BRASIL MONTEIRO FILHO (ADVOGADO)
SABATO GIOVANI MEGALE ROSSETTI (ADVOGADO)
CECILIA BRASIL NASSAR BLAGITZ (ADVOGADO)
MAURICIO BLANCO DE ALMEIDA (ADVOGADO)
SAVIO LEONARDO DE MELO RODRIGUES (ADVOGADO)
GENNY MISSORA YAMADA (REU) FILIPE COUTINHO DA SILVEIRA (ADVOGADO)
RAIMUNDO TEIXEIRA DE MACEDO (REU) RAFAEL OLIVEIRA ARAUJO (ADVOGADO)
ANETE DENISE PEREIRA MARTINS (ADVOGADO)
ROBERTO LAURIA (ADVOGADO)
ANA BEATRIZ LACORTE ARAUJO DA MOTA (ADVOGADO)
EM APURACAO (REU)
OPERACAO QUIMERA (REU)
O ESTADO (VÍTIMA)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
98972160 18/08/2023 Petição Petição
13:46
PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CRIMES
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

Ex.mo Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara de Crimes contra o


Consumidor e a Ordem Tributária de Belém

Autos do Processo n.º 0012870-76.2020.8.14.0401.

Réus: SERGIO DE AMORIM FIGUEIREDO;


GENNY MISSORA YAMADA;
RAIMUNDO TEIXEIRA DE MACEDO.

O MPE, por seu 1.º PJCCOT sotopostamente chancelado, requesta,


a V. Ex.ª, o que segue ao meridião:

I. DOS FATOS COM COMENTÁRIOS A LATERE:

Os Autos do Processo susoepigrafados vieram redistribuídos a este


1.º PJCCOT com Denúncia e as respostas escritas dos corréus em razão
de um dos crimes imputados na prodrômica increpatória ministerial ser da
competência ratione materiae dessa douta Vara de Crimes contra o
Consumidor e a Ordem Tributária de Belém, especialidade injuntiva de
sua competência atrativa para os demais crimes indigitados na ação penal,
ditos conexos.

A ação penal encontrou peanha em um Inquérito Policial de 10


volumes mais apensos com cautelares criminais diversas (quebra de sigilo
telefônico e busca e apreensão). Os Autos todos, até o momento, contam
com quase 5 mil laudas.
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Promotoria de Justiça de crimes contra a Ordem
Autos do Processo n.º 0012870-
Tributária Manifestação
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Assinado eletronicamente por: FRANCISCO DE ASSIS SANTOS LAUZID - 18/08/2023 13:44:46 Num. 98972160 - Pág. 1
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Eis o que consta da Denúncia ministerial ofertada perante Juízo da


1.ª Vcrim de Belém absolutamente incompetente em razão da matéria:

1.º) A vestibular acusatória imputa 6 (seis) crimes ao todo, os quais serão


analisados, no tópico seguinte (“DO DIREITO”). O enfoque, mas
esquadrinhado, todavia, será dado ao crime contra a ordem tributária por
ser da competência material exclusiva dessa douta Vara especializada
da Capital, cuja jurisdição para crimes contra a ordem tributária estadual
se estende a todo o território paraense, isso, há cerca de 3 décadas.

2.º) Eis o rol sextúplice dos delitos indigitados na exordial


acusatória:

A) Art. 89 da Lei 8.666/1993 (atual art. 337-E do CP);

B) Art. 90 da Lei 8.666/1993 (atual art. 337-F do CP);

C) Art. 359-D do CP;

D) Art. 313-B do CP.

E) Art. 288 do CP.

F) Art. 1.º, inciso V, da Lei 8.137/1990.

3.º) QUE, em pesquisa realizada pela PC, no dia 14/6/2020, foram


encontradas 3 Notas de Empenho no Portal de Transparência do
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Município de Belém conforme a tabela ínfera coletado na prefacial


acusatória (ID 64180335, p. 4):

4.º) QUE, após o alardeamento social de possível superfaturamento, o


respectivo Portal saiu do ar, retornando 6 dias depois, em 20/6/2020,
RETIFICADO confome o seguinte quadro também garimpado da Denúncia
(ID 64180335, p. 4), retificação essa, que recebeu o epíteto, na vestibular,
de “grotesca”, devido ao acréscimo de 10 equipamentos e o valor unitário
dos ventiladores pulmonares bastante reduzido:

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5.º) Ao serem cotejados os dois quadros (original e retificado), observa-se


que a retificação, interpretada como alteração de dados no sistema,
manteve o valor total original do contrato, qual seja, o de R$740.624,00,
mas ao acrescentar 7 ventiladores pulmonares (total de 10) e 3
monitores multiparâmetros à lista de mercadorias/objetos das notas de
empenho originais (5.754, 5.755, 5.756/2020), a correção, retificação ou
“alteração” de dados no Portal de Transparência comunal foi favônia à
Administração Pública de Belém, e não contra.

● Quadra gizar aqui, considerando os depoimentos tomados, que essa


retificação das notas de empenho e da publicação no Portal de
Transparência decorreram de ato conjunto da Sesma com a Segep sem a
participação da Sefin.

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6.º) Ao que parece essa “alteração” dos dados no sistema encontra alaque
no Poder de que dispõe a Administração Pública de rever e corrigir seus
atos.

7.º) Na Denúncia, não está claro se a 1.ª publicação das notas de


empenho no Portal foi por erronia de digitação ou se fora por expressa
determinação de alguém, mas os depoimentos tomados no IP indigitam
que teria havido erro de um servidor, pois a quantidade especificada dos
aparelhos e os preços unitários estavam nas notas fiscais emitidas pela
GM, dados que deveriam ter sido reproduzidos fielmente nas notas de
empenho, conquanto estas devessem ser produzidas antes das notas
fiscais. Aliás, essa inversão de atos é somente um de muitos registros das
inúmeras irregularidades dessa compra.

● Também não está claro, na peça acusatória, quem teria procedido ao


registro da 1.ª publicação contendo somente 3 ventiladores pulmonares ao
preço total de R$740.624,00, conquanto a retificação da tabela quantitativa
dos aparelhos comprados (subiu de 3 ventiladores para 10, além de 3
monitores multiparâmetros), no Portal da Transparência, com redução dos
preços unitários dos ventiladores (de R$260.000,00 para R$65.000,00) e a
quantidade de aparelhos adquiridos tenha sido determinada pelo ex-
Secretário Municipal de Saúde, ora réu, Sérgio Amorim.

● A priori, se realmente houve erronia de um servidor ao confeccionar as


notas de empenho e publicá-las no Portal de Transparência, a

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determinação do réu Sérgio Amorim para que essas notas de empenho


como a sua publicidade fossem retificadas, não se subsume a nenhum tipo
penal.

8.º) Enfim, se houve retificação tempestiva (1.ª publicação errônea em


14/6/2020 [ID 64180335, p. 4]; 2.ª publicação retificada em 20/6/2020 [ID
64180335, p. 4]), com interregno curto de 6 dias entre as duas
publicações, mormente por ter sido anterior ao pagamento total das Notas
de Empenho, correção essa quanto à quantidade (de 1 ventilar pulmonar
para 10) e aos preços unitários (reduzidos de R$260.000,00 para
R$65.000,00), não se pode conceber ter havido alteração criminosa de
dados no Portal de Transparência.

9.º) A ação penal aduz que, além das tabelas, as Notas de Empenho
originais (5.754, 5.755, 5.756/2020), correspondentes às Notas Fiscais de
n.os 185, 186 e 187 emitidas pela GM, também, foram “alteradas”.

10.º) A prefacial acusatória registra que, para cumprimento de medidas


cautelares, foi deflagrada a “Operação Quimera”, que resultou na
apreensão de vários documentos concernentes a essas compras,
documentos esses encontrados nas residências dos réus SERGIO DE
AMORIM FIGUEIREDO e GENNY MISSORA YAMADA, assim como na
Sesma e na “empresa” GM Comércio e Representação Eireli da ré Genny.

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● A princípio, documentos atinentes a essa compra e venda de aparelhos


tinham de estar na Sesma, como nos demais órgãos e departamentos
pelos quais o processo de aquisição até o pagamento total tramitam.

● Contudo, deuteroses integrais ou parciais deles encontradas nas


residências como nas “empresas” dos acusados GENNY MISSORA
YAMADA e RAIMUNDO MACEDO, como na residência de Sérgio
Amorim, pois não é incomum se levar serviço para casa, assim como
vários Promotores e Juízes o faziam com cópias parciais ou totais dos
Autos quando estes ainda eram físicos, e ainda o fazem no caso de
Tribunal do Júri.

● Grave mesmo seria se fossem encontrados documentos falsos,


comprovação de pagamento de propinas, etc. Aliás, o superfaturamento de
compras pelo gestor público é, amiúde, vinculado a crimes de corrupção
ativa e passiva, que nem sequer foram lobrigados, nem mesmo an
passant, na Denúncia.

11.º) A inicial increpatória registra que se firmou o entendimento,


decorrente dos materiais apreendidos, de que a partir de dezembro de
2019, o ex-Secretário Municipal de Saúde se aliou aos outros corréus para
autorizar a aquisição de ventiladores pulmonares sem processo licitatório.

● Trata-se de um interregno prologal à declaração oficial pela OMS de


Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) – o

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mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no


Regulamento Sanitário Internacional, decorrente da Covid 19.

● Essa declaração oficial ocorreu em 30 de janeiro de 2020,1 mas, em 31


de dezembro de 2019, a OMS foi alertada sobre o surto do Corona Vírus
que gerou vários casos de “pneumonia na cidade de Wuhan, província de
Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo)
de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos”.

● Dessarte, já havia publicidade internacional desse surto, que, gerou


estado de EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA INTERNACIONAL,
exatamente, um mês depois (30/1/2020) do alerta dado à OMS quanto
ao respectivo surto em 31/12/2019, o que, no entender deste 1.º
PJCCOT, passou a determinar a DISPENSA de licitação em 31/1/2020,
conquanto a pandemia da Covid-19 só tenha sido oficialmente declarada
pela OMS em 11 de março de 2020.2

● Neste ponto, resta reconhecer a necessidade real de DISPENSA DE


LICITAÇÃO, pelo prisma deste 1.º PJCCOT, ao menos, a partir de 30 de
janeiro de 2020 (com a declaração oficial da OMS de estado de

1 Pesquisado em 15/8/2023. https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-


covid-19.
2 O Surto do novo Corona vírus foi declarado pela OMS como de Emergência de

Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) – o mais alto nível de alerta da


Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa
decisão buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a solidariedade global para
interromper a propagação do vírus. Essa decisão aprimora a coordenação, a
cooperação e a solidariedade global para interromper a propagação do vírus.
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EMERGÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA INTERNACIONAL), ainda que se


possa questionar se esse marco não poderia ser considerado a partir de:

A) 31 de dezembro de 2019, quando a OMS foi alertada sobre o surto do


Corona Vírus que gerou vários casos de “pneumonia na cidade de Wuhan,
província de Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma
nova cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em
seres humanos”,

ou, ainda,

B) A partir de 11 de março de 2020, quando a pandemia foi, oficialmente,


declarada pela OMS.

● Conquanto haja divergências quanto às datas em que todos esses


aparelhos foram vendidos e, efetivamente, entregues à Sesma (dias 9, 10,
11, 20 de janeiro e até 31 de março ou 1.º de abril), em tese, alguns dos
aparelhos foram entregues antes da declaração da OMS de Estado de
Saúde Pública Emergencial em ambitude nacional, em que pese a OMS
ter alertado sobre a Covid-19 no fim de dezembro de 2019, bem como a
possibilidade de que este se espalhasse para o mundo todo desde Huwan,
ou seja, essa situação permeia uma zona limítrofe, talvez cinzenta, entre a
completa inexistência do risco de pandemia (até meados de dezembro de
2019) e a deflagração de estado emergencial internacional pela OMS
decorrente da Covid-19 em 30/1/2020.

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● Há, todavia, algo importante a consignar: não se encontrou nos Autos


nenhum fundamento prévio para a dispensa da licitação, quanto a essa
contratação, por força do advento da Covid-19, nem mesmo nos
interrogatórios dos ora réus Sérgio Amorim e Raimundo Macedo (Genny
prevaleceu-se de seu direito ao silêncio);

● As justificativas para a dispensa da licitação foram outras, como a de


que os processos licitatórios para a aquisição desses aparelhos foram
insuficientes (apenas 5 aparelhos, em que pese a Autoridade Policial ter
declarado que foi licitada, em 2019, a compra de 16 ventiladores
pulmonares, quantidade maior do que a vendida pela GM), e que o licitante
vencedor não os entregou tempestivamente para que fossem instalados
na inauguração da UPA da Marambaia como no Hospital Maradei, fechado
desde março de 2019 para reforma, o que teria servido de fundamento
para a aquisição mediante URGÊNCIA.

● De outra parte, há um TERMO DE ENTREGA das mercadorias que foi


datado pela servidora Cláudia Matos, como se a Sesma as houvesse
recebido em 1.º de abril de 2020, cujas Notas Fiscais de venda foram,
todavia, emitidas DOIS dias antes, em 30 de março de 2020, e que essa
distorção de datas (“ID 64180390 - Pág. 2) seria algo “totalmente
divergente”, indiciário de fraude licitatória e do conluio de agentes para que
a 2.ª ré Genny recebesse pelas mercadorias vendidas, o valor
empenhado.

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● Em 30 de março ou 1.º de abril de 2020, a pandemia já havia virado


um pandemônio com morticínio nacional e internacional, sendo o caso de
dispensa de licitação. Já havia estado de saúde pública emergencial
internacional declarado pela OMS (em 30/1/2020) como a pandemia da
Covid-19 já havia sido oficialmente declarada pela OMS em 11 de março
de 2020.3

12.º) A vestibular increpatória enfatiza ter havido diversas divergências


como documentos alterados quanto a datas e quantidades de mercadorias
adquiridas pela Sesma. Ao fim, reconhece que foram vendidos 10
ventiladores pulmonares e 10 monitores multiparâmetros, mas que embora
haja notas fiscais dos 10 ventiladores, faltaram notas fiscais para cobrir a
venda de 7 monitores multiparâmetros, além de as notas fiscais terem sido
emitidas 3 meses depois da venda. Foi muita irregularidade, decerto.

● Realmente, há inúmeras inconsistências entre datas de venda e entrega,


quantidades e documentos, mas o que importa, ao fim, para a
configuração dos crimes quanto ao processo licitatório, é saber:

A) Se havia necessidade de dispensar a licitação (já se admitiu acima


que sim, ao menos a partir de 30 de janeiro de 2020, devido à declaração

3 O Surto do novo Corona vírus foi declarado pela OMS como de Emergência de
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Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa
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oficial da OMS de estado de saúde pública emergencial na ambitude


internacional), contudo, a venda com a entrega das mercadorias parece ter
ocorrido antes dessa data (dias 9, 10, 11 ou talvez 20 de janeiro);

B) Se as mercadorias empenhadas foram, de fato, RECEBIDAS;

● Sim, elas foram recebidas, tanto a Denúncia faz menção do recebimento


quanto o IP (ID 64179171 - Pág. 1, vol. 10 do IP, p. 2.109) conforme o print
ínfero:

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● Observa-se que o Secretário Municipal de Saúde que sucedeu o réu


Sérgio Amorim, confirmou que os DEZ VENTILADORES PULMONARES
(4 deles na Unidade de Pronto Atendimento da Marambaia e 6 no
Maradei), além de 8 monitores multiparâmetros (prints ao setentrião e
ao meridião) foram recebidos e se encontravam alocados na rede pública
municipal de saúde:

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CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

● A Autoridade Policial revelou que dos 10 monitores multiparâmetros,


foram encontradas 8 unidades deles (ID 64179171, p. 2), pois as 2
outras unidades não estavam mais no local indicado pelo Ofício
1388/2020 da Sesma, conquanto devessem estar na UPA da
MARAMBAIA e no Hospital Maradei.

● A Delegada Priscila N. S. Costa concluiu que dos 10 monitores


multiparâmetros adquiridos pela Sesma, 8 foram encontrados, 2 não
foram encontrados, conquanto tivessem registro oficial de série e
destinação (há divergências documentais desses dados), e que só foram
emitidas pela GM notas fiscais de venda para 3 desses 10 monitores,
tendo havido sonegação fiscal em relação a 7 deles (ID 64179171 - Pág.
3).

● O fato de 2 dos 10 monitores não terem sido encontrados não comprova


que eles não foram entregues, até porque se havia nota de empenho para
somente 3 deles, como encontraram 8 unidades? Realmente há inúmeras
inconsistências, irregularidades e documentos cujos dados são
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contraditórios quanto à quantidade (termo de entrega com o registro


digitado de 2 aparelhos, mas anotado à mão que foram 4; números de
séries que não batem, conquanto todos sejam da marca MINDRAY, cuja
venda se fazia com exclusividade pela “empresa” MACEDO HOSPITALAR
COMÉRCIO REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE
EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA do réu Raimundo Macedo, o
qual vendeu essas mercadorias para a ré GENNY YAMADA poder
revendê-las à Sesma).

C) Não se identificou nos Autos do IP se as mercadorias foram


integralmente pagas pela Sesma (ao que tudo indica [ver resposta
escrita de GENNY MISSORA YAMADA], o pagamento efetuado foi de
cerca de somente 2/3 [dois terços] do valor total contratado). O valor total
da compra e venda foi de R$740.624,00 (montante total que consta das
tabelas reproduzidas na Denúncia, cujos dados foram extraídos do Portal
de Transparência do Município de Belém). Esse montante foi empenhado,
mas não se sabe se integralmente pago.

● A partir do ID 64177486, constam duas TEDs, pela CEF, do Município de


Belém para a GM, nos valores de R$260.000,00, em 6/5/2020, referente à
NFe 186/2020 e outra de 220 mil reais, em 14/5/2020 (data da 1.ª
publicação no Portal das notas de empenho), referindo-se à NFe
187/2020.

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● Não se localizou, todavia, o 3.º pagamento de R$260.000,00,


concernente a 4 ventiladores pulmonares espelhados na NFe 185/2020.

● Na resposta escrita de GENNY MISSORA YAMADA, essa ré se ressente


de ter sofrido até prejuízo com essas vendas, uma vez deixou de receber,
ao tempo de sobredita peça defensiva, a quantia de R$241.664,00 (ID
64180401, p.1), cerca de 1/3 do objeto contratado como empenhado
(R$740.624,00).

● Observa-se, ainda, que não constava a quantidade de 10 (dez)


monitores multiparâmetros nas NOTAS DE EMPENHO publicadas no
Portal de Transparência do Município de Belém, e sim apenas de 3 (três),
conforme as notas fiscais emitidas pela GM Comércio e Representação
Eireli, gerida pela ré GENNY MISSORA YAMADA.

● Há uma divergência de 7 unidades desses monitores


multiparâmetros, conforme os documentos que constam dos dados
registrados nas notas de empenho da Sesma, que também foram
retificados no Portal de Transparência (2.ª publicação em retificação),
como nas notas fiscais emitidas pela GM, cuja quantidade consta como
somente 3 (três) monitores, e não 10.

● Então, indaga-se se esses outros 7 monitores foram comprados e


recebidos pela Sesma sem nota de empenho para os quais a Denúncia
reporta não terem sido emitidas as respectivas notas fiscais? E mais, sem
nota de empenho, a Sesma recebeu mesmo esses 7 monitores a mais? O
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Secretário Municipal de Saúde, sucessor de Sérgio Amorim, revelou a


existência de 8 deles em funcionamento. Não se sabe ao certo diante de
tantas divergências e irregularidades.

● Há uma certeza apenas quanto a esse excedente de compra e venda de


7 outros monitores multiparâmetros: a Sesma não pagou por eles, até
porque nem a compra toda constante da tabela retificada publicada no
Portal de Transparência parece ter sido paga. Ao menos, este 1.º PJCCOT
não identificou documento que comprove o pagamento integral nos Autos.

● Seria a inexistência de notas fiscais quanto à venda de mais 7 monitores


multiparâmetros que serviu de soclo à imputação do crime contra a ordem
tributária, tipificado no inc. V do art. 1.º da Lei 8.137/1990; ou seria o fato
de as notas fiscais terem sido emitidas depois de as mercadorias terem
sido vendidas (entregues); ou seria o fato de o 3.º réu, RAIMUNDO
TEIXEIRA DE MACEDO, ter vendido as mercadorias à GM sem nota
fiscal; ou, ainda, seria um somatório de todos esses fatos? Isso não está
bem delineado na prefacial acusatória.

13.º) A Denúncia relata que o TERMO DE ENTREGA das mercadorias foi


datado pela servidora Cláudia Matos, como se a Sesma as houvesse
recebido em 1.º de abril de 2020, mas que as Notas Fiscais de venda
foram emitidas DOIS dias antes, em 30 de março de 2020, e que essa
distorção de datas (“ID 64180390 - Pág. 2) seria algo “totalmente
divergente”, indiciário de fraude licitatória e do conluio de agentes para que

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a 2.ª ré Genny recebesse pelas mercadorias vendidas, o valor


empenhado.

● Em que pese, mais uma vez, haver divergência entre datas e


documentos, a questão primordial é saber se as mercadorias empenhadas
(notas de empenho 5.754, 5.755, 5.756/2020, no total de R$740.624,00
(10 ventiladores pulmonares e 3 monitores multiparâmetros), foram, de
fato, entregues pela GM à Sesma, ainda que as datas de entrega sejam
também importantes para se determinar se havia justificativa para a
contratação direta com dispensa de licitação com fundamento na
pandemia (fato, todavia, não invocado como justificativa por nenhum dos
corréus).

● Pois bem, tirante os 7 outros monitores multiparâmetros não constantes


dessas notas de empenho nem dos dados da tabela desenhada na
Denúncia, a peça acusatória parece não divergir que, de fato, a GM
ENTREGOU, à Sesma, 10 ventiladores pulmonares e, ao menos, 3
monitores multiparâmetros) no valor empenhado de R$740.624,00. A
divergência está nas datas de entrega como na quantidade superior de
monitores efetivamente entregues.

● Assim, todas as irregularidades e divergências de datas e até de


quantidades nos vários documentos cotejados na incoativa increpatória,
em que pese a estranheza ministerial (com a qual este 1.º PJCCOT
converge) se confundem entre “incompetência” ou, ainda, “negligência” de

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servidores e da própria Administração Pública comunal com os ditos


“fortes indícios” de crimes contra o processo licitatório, os quais, todavia,
não podem ser descartados por completo.

● É verdade que, no estádio processual da acusação até o encerramento


da instrução criminal, vigora o princípio in dubio pro societate (ao revés
do princípio in dubio pro reo, reinante somente na fase do
sentenciamento final), mas isso se houver elementos mínimos de
tipicidade penal formal e material como de ilicitude, além da prova da
materialidade nos crimes não transeuntes (que deixam vestígios) como se
dá no caso de todos os delitos contra a ordem tributária (quer sejam, na
taxonomia doutrinária, formais; quer sejam materiais quanto ao resultado).

● Afinal, se havia “estado de necessidade” (ou, ao menos, fundamento)


de DISPENSA do processo licitatório, a partir de 30 de janeiro de 2020,4
decorrente da declaração de Emergência de Saúde Pública de
Importância Internacional (ESPII), em razão do alastramento mundial da
Covid 19, então, não se pode lobrigar que referida dispensa tenha sido
parte da defraudação licitatória, o que esvazia, ao ver deste 1.º
PJCCOT, os tipos penais capitulados nos artigos 89 e 90 da Lei
8.999/1993 para as compras ocorridas a partir dessa data.

● Os crimes tipificados nos artigos 89 e 90 da Lei 8.999/1993 foram


REPRODUZIDOS, mutatis mutandis quanto à tipicidade formal, portanto,

4Pesquisado em 15/8/2023. https://www.paho.org/pt/covid19/historico-da-pandemia-


covid-19.
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sem ter havido abolitio criminis, por novatio legis in pejus de conteúdo
mais amplo e cominação sancionatória bem mais gravosa, nos artigos
337 “E” e “F” com redação dada pela Lei 14.133, de 1.º de abril de 2021
(cuja vigência ocorreu após os delitos imputados na Denúncia (em
novembro de 2021), os quais teriam sido perpetrados sob o completo
império da Lei revogada e mais benigna, a qual goza de extra-atividade
por ultra-atividade), daí porque a Denúncia enquadrou os réus nos
dispositivos da Lei revogada.

● Ademais, quadra gizar que até mesmo a “DISPENSA” do processo


licitatório não ocorreu tal qual sua terminologia sugere, pois, conforme a
própria Denúncia assere, teria havido, sim, prévio processo licitatório em
2019, executado sob a modalidade de “PREGÃO”, cujo resultado fora
considerado “DESERTO”, pois o licitante vencedor não teria entregado as
mercadorias como nem sequer informado a data de entrega das
mercadorias para a adjudicação do objeto do contrato de compra e venda
dos 10 ventiladores pulmonares e 3 monitores multiparâmetros.

● Consta do IP, que após o processo licitatório na modalidade “pregão”


(fonte TCM, ID 64172181 - Pág. 1), fora vencedora a licitante LESTUNG
EQUIPAMANTO LTDA, cujo objeto era a compra de 5 ventiladores
pulmonares ao preço total de R$294.131,85 (preço unitário =
R$58.826,37), quantidade insuficiente para atender, segundo o réu Sérgio
Amorim, a necessidade das unidades que seriam inauguradas (UPA
Marambaia, Terra Firme e Hospital Maradei).
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● Observa-se que, além do estado de saúde pública de emergência


internacional deflagrado pela OMS em 30 de janeiro de 2020, a OMS, em
11 de março de 2020,5 declarou, oficialmente, a existência da pandemia
pela Covid 19, enquanto as notas fiscais dos ventiladores e monitores
emitidas pela GM são de 30 de março de 2020, em que pese o registro de
entrega ter sido de 1.º de abril de 2020, ou, ainda, nos dias 9 e 10 de
janeiro de 2020 (antes da emissão das notas fiscais), como declarado
pelas testemunhas Ubiratan Figueiredo da Silva e Luiz Fernando Martinez
Alves (servidores da Sesma) e, ainda, Luiz do socorro de Moraes
Sarmento (Hospital Maradei).6

● Sobreditas divergências poderiam gerar a inferência de crime contra a


ordem tributária (saída de mercadorias por meio de VENDA sem a
cobertura de nota fiscal), mas não de fraude licitatória por suposta
dispensa infundada, ao menos, depois da declaração do estado de saúde
pública emergencial internacional pela OMS em 30 de janeiro de 2020.

● Ao que tudo indica, devido ao afogadilho decorrente do pavor da Covid


19, que concrescia mundialmente, mormente depois do carnaval geral
permitido no Brasil (fevereiro de 2020), a Sesma cometeu várias

5 O Surto do novo Corona vírus foi declarado pela OMS como de Emergência de
Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) – o mais alto nível de alerta da
Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa
decisão buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a solidariedade global para
interromper a propagação do vírus. Essa decisão aprimora a coordenação, a
cooperação e a solidariedade global para interromper a propagação do vírus.
6 ID 64180390, p. 1 (dados extraídos da Denúncia).
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irregularidades, pecando até por excessiva informalidade de atos


administrativos vinculados à contratação, para haver, antes de todas as
formalidades legais, os ventiladores e monitores empenhados (e até antes
de os empenhar), como se estivesse agindo em um verdadeiro estado de
necessidade.

● Neste ponto, insta observar que a Sesma não somente deveria


dispensar o processo licitatório (somente a partir de 30 de janeiro de 2020)
como poderia até mesmo DESAPROPRIAR as mercadorias objeto do
contrato de compra e venda, devido ao estado de saúde emergencial
seguido da pandemia declarados pela OMS como sofridos pelo Brasil
inteiro. Aliás, o meio de expropriação desses aparelhos foi utilizado pelo
Ministério da Saúde em várias fábricas desses aparelhos no Brasil a partir
de março de 2020.7

14.º) A Denúncia também enfatiza que o réu Sérgio Amorim, no afã de


cometer os ilícitos, “agiu de tal monta, que sequer vinculou a despesa a
uma rubrica orçamentária, de modo que na data de 1.º/4/2020, não havia
reserva orçamentária através de empenho nem formalização e processo
de pagamento para disponibilização de recursos públicos para que fosse
realizado o desembolso referente ao pagamento solicitado pela Empresa
GM Serviços, Comércio e Representação Eireli”.

7 https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/ampliacao-de-ventiladores-e-
prioridade-e-gera-confisco.shtml
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● Pois bem, cometer ilícitos é distinto de cometer crimes licitatórios. Há


necessidade de tipicidade formal. Isso sem desconsiderar que o estado
de necessidade é causa excludente da ilicitude até mesmo no âmbito
civil, a fortiori, na seara penal, consoante modilhão nos artigos 23, I,
comb. c/o art. 24 do Códex Penal. Essa linha de raciocínio atina somente
às compras efetivadas a partir de 30 de janeiro de 2020 (estado
emergencial deflagrado pela OMS).

● No desespero pandêmico, a norma penal era permissiva quanto a


condutas, abstrata e genericamente, consideradas típicas antes de 30 de
janeiro de 2020.

● Em plena pandemia (a data indigitada na Denúncia fora a de 1.º/4/2020),


a Sesma poderia fazer uso de força policial até mesmo para desapropriar
de forma incontinenti e, inicialmente, sem processo expropriatório, as
mercadorias objeto do contrato de compra e venda em testilha, como
poderia adquiri-las atropelando o processo regular de emissão de notas de
empenho como de existência prévia de rubrica orçamentária para uma
despesa emergencial e presente.

● Faz-se necessário que visualize o quadro extraordinariamente não


somente pandêmico como pandemônico e desesperador, à época, da
efetiva compra desses ventiladores e monitores (após 30 de janeiro de
2020, mormente em março de 2020), feita sem prévio pagamento (que
nem fora integral), ainda que supostamente sem rubrica orçamentária,

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nem prévio empenho, colocando-se no lugar de um Secretário Municipal


de Saúde sendo cobrado por todos os servidores públicos municipais,
mormente de sua messe, que também estavam perecendo a rodo (a partir
de março de 2020), assim como por todos os munícipes que faleciam
dentro e às portas das unidades de saúde sob sua gestão, fora os
hospitalizados em estado exicial por carecerem desses equipamentos
(ventiladores pulmonares e monitores) como de medicamentos
adequados.

● Anota-se que a doutrina penal, nos crimes culposos como também para
aferir a razoabilidade e a proporcionalidade no exercício das
excludentes de ilicitude (estado de necessidade), faz uso do que seria
o homem de prudência mediana colocado, no caso concreto, em
substituição ao agente do fato dado como típico de crime.

● Diante da pandemia, à porta dela em janeiro de 2020, dentro dela a


partir de fevereiro e no calor dela, a partir de março de 2020, um homem
de prudência mediana, no cargo de Secretário Municipal de Saúde, teria
dispensado o processo licitatório para a aquisição direta de ventiladores
pulmonares e de monitores multiparâmetros? A resposta parece ser
afirmativa!

● Ademais, o fato de haver processos licitatórios para a aquisição de


ventiladores pulmonares desde 2019 demonstra que já havia carência
precedente desses equipamentos antes da pandemia e da Covid-19

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ter gerado o estado emergencial internacional declarado pela OMS no fim


de janeiro de 2020, demanda essa que aumentou sobremaneira após
janeiro de 2020, a ponto de nenhuma unidade de saúde municipal ter, por
certo interstício (auge da pandemia), quantidade suficiente desses
aparelhos para atender a todos os enfermos infectados.

● Decerto, crimes que envolvem pagamentos e fraudes licitatórias são


delitos questuários, que têm por motivação o recebimento de propinas, a
corrupção ativa e passiva.

● Todavia, essa motivação nem, an passant, foi reportada na Denúncia,


que se esmerou em demonstrar as inúmeras (e foram várias)
irregularidades formais de uma contratação, real e totalmente,
atabalhoada, sem indigitar a motivação, o prejuízo efetivo ao erário, até
porque a Sesma recebeu os equipamentos antes do pagamento, como
nem sequer pagou por todas as mercadorias fornecidas pela GM.

15.º) A Denúncia reporta que a data de 1.º de abril de 2020 “se torna
emblemática, pois coincide exatamente com a subida dos preços dos
ventiladores pulmonares em decorrência da 1.ª onda da pandemia da
Covid-19 em Belém, na qual os denunciados ‘surfaram’ para aproveitar da
onda e dilapidar o patrimônio público, sobre a sombra dessa doença que
eclodiu no planeta” (ID 64180390, p. 4).

● Pois bem, é verdade que os preços dos ventiladores subiram mais do


que 4 vezes a partir dessa data. Contudo, no caso concreto, os aparelhos
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foram vendidos um pouco acima da média do valor praticado no mercado


entre R$55.000,00 e R$70.000,00 (R$65.000,00), foi, aliás, o que constou
das notas de empenho e das notas fiscais, como do Portal de
Transparência (depois de este ter sido retificado por determinação do réu
Sérgio Amorim).

● Ora, se a Denúncia reconhece que o Município adquiriu (recebeu


efetivamente) 10 ventiladores e 3 (talvez até 10) monitores pelo preço até
então praticado no mercado, então, como sustentar a acusação de
dilapidação do patrimônio público ainda mais se o recebimento das
mercadorias ocorreu bem antes do pagamento (datas que variam entre
9 de janeiro até 1.º de abril de 2020 [ver depoimentos e termos de
entrega]) e, ao que parece, o montante da contratação nem sequer foi
integralmente quitado pela Administração Pública municipal?!

● A Denúncia revela (ID 64180390 - Pág. 5) que, ao menos, até 5/5/2020,


conquanto a Sesma já houvesse recebido integralmente o objeto do
contrato, as partes contratantes teriam chegado a um consenso
quanto ao valor das mercadorias supostamente superfaturado, mas o
valor, bem antes de maio de 2020, já constava das notas fiscais.185, 186 e
187 emitidas pela GM em 31/3/2020, cujos empenhos foram publicados
em junho com retificação no Portal da Transparência.

● Então, pode-se concluir que até maio de 2020, a GM ainda não havia
sequer recebido nenhum pagamento, e que o tal consenso talvez tenha

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sido somente para que o valor antes contratado como também empenhado
fosse, efetivamente, pago pela Sesma, ainda assim em parcelas, segundo
a resposta escrita da ré Genny M Yamada, que se ressentiu de ter
recebido somente 2/3 do valor total da contratação, o que a fez obsecrar
pela devolução parcial dos aparelhos (documentos anexados com sua
peça defensiva), que também não ocorreu.

16.º) No item 6.3 da Denúncia (ID 64180391 - Pág.), há imputação do


crime descrito no art. 313-B do Códice Repressivo (ALTERAÇÃO
INDEVIDA DO SISTEMA QUE GERA NOTAS DE EMPENHO APÓS
LIQUIDAÇÃO DO PAGAMENTO).

● A imputação esclarece que o crime decorreu do fato de terem sido


publicadas, no dia 14/6/2020, as notas de empenho no Portal da
Transparência do Município, mas depois os valores unitários e as
quantidades de aparelhos terem sido alterados de 1 ventilador pulmonar
no valor de R$260.000,00 para 10 ventiladores pulmonares idênticos no
valor unitário de R$65.000,00, isso na retificação dos dados do Portal
como das 3 notas de empenho em 20/6/2020 (seis dias depois da 1.ª
publicação).

● Conforme já referido ao setentrião, a 1.ª publicação das notas de


empenho, segundo a própria exordial increpatória asseriu, ocorreu, no dia
14/6/2020, quando foram encontradas 3 Notas de Empenho no Portal de
Transparência do Município de Belém, 2 dessas notas de empenho com o

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valor unitário do ventilador pulmonar de R$260.000,00 e uma 3.ª nota de


empenho com o valor unitário de R$220.624,00 (o mesmo aparelho com
valor diferente). Ver ID 64180335, p. 4.

● As mesmas imputações recaíram sobre as “alterações” de duas notas


de empenho (5.754 e 5.756), cujas retificações foram para acrescentar
quantidades de aparelhos a maior com valores unitários a menor
(R$65.000,00), mantendo-se o valor original das compras (R$740.624,00)
publicado pela 1.ª vez no Portal, “alterações” essas feitas – afirma a
Denúncia – sem suporte legal, por falta de ingerência da Sefin e da Segep
nesses atos (ID 64180391, pág. 2), conquanto o valor total da compra não
tenha sido alterado (R$740.624,00) no somatório das 3 notas de
empenho e a retificação tenha sido favônia ao Município, que
“alterou” a compra total de somente 3 ventiladores pulmonares por
R$740.624,00 para 10 ventiladores, além de 3 monitores, pelo mesmo
valor total (R$740.624,00).

● A 2.ª publicação no Portal de Transparência, havida por criminosa, ao


que tudo indica, retificou (= corrigiu) os valores unitários dos ventiladores
pulmonares de R$260.000,00 e de R$220.624,00 para somente
R$65.000,00 cada um, como a “alteração” (correção) da quantidade deles
de 3 para 10, incluindo na 3.ª nota de empenho, mais 3 monitores
multiparâmetros, pouco importando que parte do pagamento houvesse
sido realizada pela Sesma, uma vez que, na verdade, a Administração
Pública municipal, de fato, recebeu 10 ventiladores e 3 monitores (a
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Denúncia até registra que nem foram 3 monitores, e sim 10, sendo 7,
todavia, vendidos pela GM como recebidos pela Sesma sem nota fiscal).

● Enfim, a alteração havida por indevida e até criminosa do Portal de


Transparência do Município de Belém, segundo a leitura dos fatos por este
1.º PJCCOT, coletando dados da própria Denúncia, foi somente para
retificar o que estava publicado erroneamente nesse Portal, o que não
apenas competia, como devia ser feito pela Sesma, no uso regular como
legal de seu poder revisor concernente aos próprios atos, em observância
à transparência destes e em atenção ao escopo do próprio Portal.

● Itera-se que se a própria ação penal reconheceu que foram adquiridos


10 ventiladores e 3 (ou até 10) monitores, e se a alteração da publicação
do Portal, seis dias após a 1.ª publicação, foi para somente corrigir essa
quantidade de aparelhos para mais, como o valor unitário deles,
mantendo o valor total da compra tal qual a 1.ª publicação
(R$740.624,00), então, não houve alteração fraudulenta nem falsidade
nessa “alteração” de dados publicados, e sim RETIFICAÇÃO do ato
administrativo no Portal da Transparência para reportar a realidade, que,
aliás, foi em proveito da própria Administração Pública, a qual, em vez de
comprar 3 ventiladores pulmonares, por R$740.624,00, adquiriu como
recebeu, antes da 1.ª publicação das notas de empenho no Portal, na
verdade, 10 (dez) desses ventiladores, além de 3 monitores (até 10 deles
segundo a Denúncia), que nem constavam da 1.ª publicação, todos os

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13 (treze) aparelhos (10 ventiladores + 3 monitores) por esse mesmo


valor total (R$740.624,00).

● Segundo a Denúncia, o que mais importou para a configuração do crime


em lume foi o fato de a “alteração” do Portal de Transparência ter
ocorrido após a LIQUIDAÇÃO DO PAGAMENTO sem a intervenção da
Sefin nem da SEGEP.

● Contudo, além de não ter havido integralidade nessa liquidação, o que


realmente importa para valorar o fato como penalmente atípico vem a ser
a quantidade de aparelhos EFETIVAMENTE RECEBIDA pela
Administração Municipal, não de somente de 3 ventiladores pulmonares
por R$740.624,00, como consta ERRONEAMENTE da 1.ª publicação no
Portal, e sim de 10 desses ventiladores, além de 3 monitores
multiparâmetros vendidos e entregues pela GM à Sesma pelo mesmo
valor total de R$740.624,00 constante da 1.ª publicação no Portal da
Transparência.

● Ademais, conquanto não tenha havido intervenção da Sefin (fato


inconteste nos autos) para a retificação das notas de empenho e da
publicação delas no Portal, segundo os depoimentos colhidos pela PC,
houve, sim, atuação conjunta da Sesma com a SEGEP para esse fim
(mediante pedido ou ordem do réu Sérgio Amorim), sendo de se indagar
se haveria necessidade de intervenção da Sefin se a retificação foi em

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favor do Município e com manutenção do mesmo valor total da compra


(R$740.624,00)?

● O recebimento das 13 (treze) mercadorias pela Sesma (incluindo o


Hospital Maradei) ocorreu antes mesmo das notas de empenho serem
publicadas e de qualquer pagamento ter sido efetuado pelo
Município. Esse fato consta da Denúncia, que chegou a registrar que
parte dos aparelhos fora entregue pela GM ainda em janeiro de 2020,
destoando da documentação de entrega somente em 1.º de abril de
2020, ainda assim, antes dos pagamentos terem sido realizados, até
porque as notas de empenho só foram emitidas e publicadas em
14/6/2020 com retificação em 20/6/2020, até então, sem que nenhum
pagamento houvesse sido feito.

17.º) A Denúncia também registra que Sergio Amorim teria agido em


conluio de agentes com vários servidores que também seriam
denunciados. Contudo, o único servidor acusado fora Sergio Amorim, os
demais constam no rol de testigos arrolados pelo Ministério Público, salvo
se outra ação penal fora manejada para os demais, a qual é desconhecida
por este 1.º PJCCOT.

18.º) Quanto ao réu RAIMUNDO TEIXEIRA DE MACEDO, consta a


imputação de que ele, mancomunado com os demais réus, agiu para
defraudar o processo licitatório, como teria vendido as mercadorias que
foram objeto do contrato de compra e venda em testilha, sem nota fiscal,

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para a GM, pelo que lhe foram imputados os crimes tipificados no art. 90
da Lei 8.999/1993, no art. 1.º, V, da Lei 8.137/1990, além de emplacar o
trio no crime de associação criminosa com peanha no art. 288 do CP.

No tangente à fase inquisitorial, importa


consignar o seguinte:

1.º) Consta dos Autos do IP que a GM possuía 3 endereços distintos em


seus cadastros perante órgãos oficiais, fato referenciado em uma decisão
cautelar da 1.ª Vara de Inquéritos e Cautelares de Belém (ID 64179186 -
Pág. 2, et sequens). O que permitiu a conclusão tanto policial quanto
ministerial e judicial de que o endereço era de fachada (“fantasmagórico”),
e que a GM não possuía capacidade técnica para contratação com a
Sesma. Há de se concordar com essa conclusão!

● A GM adotou como 1.º nome fantasia “QUALITY COMÉRCIO E


SERVIÇOS”, mas depois o substituiu para “MY02 SOLUÇÕES EM
SAÚDE”.

● Em um desses endereços, havia uma gráfica que nada tem que ver com
a GM, em outro ela não foi encontrada, mas no endereço constante do
cadastro da GM na Receita Federal (Rod. Mário Covas, 119, Coqueiro,
Ananindeua) consta um imóvel, encontrado em reforma, com o letreiro
contendo o nome fantasia da GM, qual seja “MY02 SOLUÇÕES EM
SAÚDE”, o que, a princípio, esclarece a questão, uma vez que seu

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domicílio fiscal é FEDERAL, visto que a GM encontra-se no regime de


tributação do Simples Nacional de competência da RF, a qual se incumbe
de arrecadar os impostos federais, estaduais (ICMS) e municipais.

Eis o print da foto do imóvel evidenciada na Decisão cautelar


susocitada:

● Então, ainda que a PC, os Membros do MP signatários da Denúncia e o


Juíza da 1.ª Vara de IP e Cautelares tenham concluído pela inexistência
de endereço e até de capacidade técnica da GM, a diligência policial
FOTOGRAFADA, assomada ao cadastro da GM no banco de dados
nacional, é prova cabal de que ela possuía, sim, DOMICÍLIO FISCAL
atualizado no banco de dados nacional do Fisco Federal.

● Contudo, capacidade técnica é algo que vai além desse quesito. Isso a
GM, de fato, não detinha!
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2.º) Nessa mesma peça, o Juízo da 1.ª Vara de IP e Cautelares destaca


que a PC concluiu que o objeto social da GM açambarcava cerca de 35
mercadorias e/ou atividades diversas como objeto social/empresarial, sem
entretecimento quase nenhum entre todas elas, o que demonstrava que
sua atuação colimava o efeito de antonomásia “guarda-chuvas”, uma
espécie de “rede pesqueira com malha fina” que apanha o que estiver a
seu alcance.

● Todavia, trata-se de conjectura policial valorada como verdadeira pelo


Juízo. Pode ser que a GM, realmente, utilizasse como modus operandi o
tal efeito “guarda-chuva” dado o leque colossal e distinto de seu objeto
social/empresarial, no qual estava contida a venda de aparelhos
destinados à saúde.

● Outrossim, por inferência, pode-se concluir que a GM foi, ao longo do


tempo, especializando-se no ramo de comércio dos últimos objetos sociais
cadastrados na Jucepa, entre os quais, os aparelhos de saúde por ela
comercializados com a Sesma, sem, todavia, ter retirado de seu objeto
social a mercantilização e as atividades anteriores, gerando um resultado
cumulativo, como, aliás, não é incomum constatar em outros
estabelecimentos.

● Em verdade, por meio de conjecturas, tudo seria possível, tanto a favor


quanto ao revés da GM, mas por ilação ninguém pode ser penalmente
condenado.

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● Decerto, o que importa aqui é visualizar o quadro pandêmico desde seu


prólogo (estado emergencial declarado internacionalmente pela OMS no
fim de janeiro de 2020), como pandemônico, à época da contratação em
afogadilho (a partir da 2.ª quinzena de março de 2020), completamente
atípico, diverso de tudo o que já se experimentou nas últimas décadas,
para o qual nenhum SECRETÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA, municipal, nem
estadual, bem como MINISTRO DE SAÚDE, isso na esfera federal,
estavam preparados. Despreparo, aliás, público e notório com a queda de
vários Ministros da Saúde ao longo da pandemia.

● O que importava, em caso de vida ou morte, não de uma pessoa


somente, mas de miríades, era o resultado (a aquisição dos aparelhos
que salvavam vidas, que se encontravam em estado exicial em
abundância).

● Os fins, sem um viés maquiavélico, mas realista como humanitário,


neste caso especificamente distinto de tudo que já se experimentou, como
insólito e atípico, sim, justificavam os meios por estado de necessidade
mundial, nacional e municipal, bem como o atropelamento de quase
todas as formalidades procedimentais para a compra e venda desses
aparelhos, como a entrega e o recebimento antes mesmo da emissão das
notas fiscais e das notas de empenho, até porque não houve nenhum
pagamento antes disso.

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● Indaga-se: seria prudente, acertado, legítimo, humano, eficiente e até


legal, em um quadro pandêmico (mesmo em seu prólogo) que estava
levando miríades à morte, deixar de comprar os 10 ventiladores
pulmonares e os 3 (ou 10) monitores por provável falta de capacidade
técnica da GM, de emissão e nota de empenho pela Sesma e de notas
fiscais pela GM (as quais foram emitidas ulteriormente) se a GM os
possuía para pronta entrega (ou teria como os conseguir de terceiro, o réu
RAIMUNDO TEIXEIRA DE MACEDO, que detinha a representação e
exclusividade da venda da marca Mindray dessas mercadorias no
Norte do Brasil)?!

● Ora, de fato, o que, aliás, é incontroverso no IP, nos Autos e na


Denúncia: a GM realmente ENTREGOU esses aparelhos à Sesma (10
ventiladores e de 8 a 10 monitores) tanto que todos eles se encontravam
identificados e alocados na UPA da Marambaia e no Hospital Maradei,
possivelmente, à exceção de 2 monitores (de 10 monitores) para os quais
a Sesma não emitiu nota de empenho, como também não desembolsou
nenhum dinheiro para pagamento, como a GM não emitiu notas fiscais de
7 monitores pelos quais também não recebeu, embora, ao menos, 8 deles
tenham sido, de fato, entregues à Sesma, senão, 10, tendo havido
possível extravio de 2 monitores (ou não foram mesmo entregues), dado o
Ofício 1388/2020 da Sesma (ID 64179171, p. 2), que reconheceu não
apenas o recebimento como a alocação dos 2 monitores no Hospital
Maradei e na UPA da MARAMBAIA.

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● Tanto a PC quanto a Denúncia ministerial concluíram que a GM não


entregou 2 dos 10 monitores multiparâmetros vendidos à Sesma,
conquanto tenha entregado 8 deles, bem como que teria havido
sonegação fiscal na venda de 7 desses monitores pela GM para os quais
não foram emitidas notas fiscais de venda/saída, como também é verdade
que só havia nota de empenho e notas fiscais para 3 desses monitores.

● A leitura que este 1.º PJCCOT faz desses fatos, por conjectura
razoável, é a seguinte:

A) Ninguém confiava em ninguém, então, o ex-Secretário Municipal, no


desespero de haver os aparelhos e em estado de necessidade de todos
os munícipes (ou ao menos no prólogo da pandemia = fim de janeiro de
2020 quando foi declarado estado emergencial internacional), atropelou o
demorado e burocrático procedimento legal para a contratação da GM
sem que esta detivesse capacidade técnica para referida contratação, mas
sim, por ela dispor dos aparelhos de ventilação pulmonar que foram
licitados em 2019 (ainda assim somente em n.º de 5 unidades), mas não
foram entregues tempestivamente pelo licitante vendedor;

B) Assim, a Sesma se antecipou ao recebimento “informal” dos aparelhos


e, somente, depois, procedeu à formalização das notas de empenho,
emitidas e publicadas por Portal de Transparência, todavia, erroneamente
em 14/6/2022 (quantidade de mercadorias a menor e preço unitário a
maior), para que depois fossem corrigidas, em 20/6/2020, por meio de
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nova publicação retificada (com a quantidade de mercadorias aumentada


de 3 ventiladores pulmonares para 10, somando-se a essa compra mais 3
monitores multiparâmetros, que depois se estenderam a 10, dos quais só
foram detectados 8 instalados e em funcionamento);

C) O pagamento, ao menos, até 5/5/2020, ou mesmo até 14/6/2020 (1.ª


publicação), de nenhum dos aparelhos foi feito pela Sesma. Na resposta
escrita da ré Genny Yamada, consta que até o momento dessa peça, ela
não havia recebido mais de R$241.000,00 do total contratado de
R$740.624,00, ou seja, recebeu cerca de R$500.000,00 (= 2/3).

D) Como se asseriu ao setentrião, “ninguém confiava em ninguém”, por


isso as mercadorias eram previamente entregues para somente depois as
notas de empenho e as notas fiscais terem sido emitidas.

F) Como 7 dos 10 monitores foram entregues à Sesma sem nota fiscal


(ou seriam 5 de 8, dado que 2 deles são controversos), acredita-se ser
correto que a Sesma não efetue o respectivo pagamento antes da
emissão das respectivas notas fiscais.

G) Assim, se forem considerados 7 monitores (entre 10) sem nota fiscal,


ao preço unitário de R$30.208,00, esse total é de R$211.456,00 (mais ou
menos o que falta ser recebido pela GM, segundo a resposta escrita da ré
Genny Yamada [cerca de R$241.000,00 em valor corrigido]), mas se o
total for de somente 8 (dado que 2 são controversos), então, apenas 5

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monitores não possuem nota fiscal (3 deles possuem nota fiscal), o que
gera o total de R$151.040,00 sem nota fiscal.

H) Ao que tudo indica, a Sesma, conquanto tenha recebido 10 ventiladores


pulmonares e de 8 a 10 monitores, não pagou pelos 5 a 7 monitores
desprovidos de nota fiscal, uma vez que a GM só emitiu nota fiscal para
3 deles, assim como as notas de empenho correlatas (depois da
retificação e republicação no Portal em 20/6/2020) são de 3 monitores,
e não de 10 nem de 8.

I) Não se pode deixar de reconhecer, ainda que por mera ilação,


que diante de tantas irregularidades, de endereços inexistentes,
de notas de empenho e dados digitais alterados/retificados,
possa ter havido, realmente, uma “tentativa” de fraude (ou
desistência voluntária), de venda de somente 3 aparelhos
ventiladores pelo valor total de R$740.624,00 (o que seria o
caso de superfaturamento), em vez de 10 deles mais 8 a 10
monitores pelo mesmo valor total de R$740.624,00. Contudo,
não foi o que, de fato, ocorreu! Por inferência pura e simples,
não se pode condenar ninguém na esfera penal sob pena de
responsabilidade penal objetiva.

L) Ademais, não parece haver justa causa para a ação penal,


ainda que nesta fase vigore o princípio in dubio pro societate,
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pois há algo que pesa positivamente em relação aos réus que,


realmente, estiola a ilação nupercitada: os aparelhos começaram
a ser entregues a partir de janeiro de 2020, outra parte em 30 de
março de 2020, quiçá em 1.º de abril de 2020, antes, portanto, da
emissão das notas de empenho e das notas fiscais (em 30 de
março de 2020), em quantidade superior às publicadas pela 1.ª
vez no Portal de Transparência comunal de Belém (14/6/2020), o
que avigora a ilação ao norte deste 1.º PJCCOT, conquanto haja
coerência e razoabilidade para a linha increpatória adotada na
exordial, estribada na conclusão das investigações policiais como
nas Decisões judiciais cautelares.

3.º) No ID 64177133 - Pág. 2, consta Ofício 301/2020 da Sefa, com


informação de que a GM é cadastrada no regime de tributação do Simples
Nacional, e que as notas fiscais por ela emitidas teriam recolhimento de
ICMS, pela RF, nos meses de julho a setembro de 2020.

● Anexa à resposta escrita da ré Genny M. Yamada, há uma certidão


negativa de débito fiscal emitida pela Receita Federal (ID ..........). Como a
GM é do regime do Simples Nacional, significa que ela não deve nada
quanto ao que declarou em seu PGDAS-D, o que não significa que ela não
deva pagar ICMS pelo que omitiu nesse documento de lançamento federal
por declaração do ICMS.

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● Esse fato é, sim, crime contra a ordem tributária. Indaga-se: onde estão
as notas fiscais dos demais monitores multiparâmetros se, além dos 3 que
possuem nota fiscal, foram entregues de 8 a 10 unidades à Sesma?

● A PC civil concluiu que 7 deles foram adquiridos pela Sesma, e vendidos


pela GM sem a emissão de nota fiscal por esta. Esse fato é, sim, crime
contra a ordem tributária! O problema é que não consta do IP Ainf
comprovando a respectiva materialidade, o que crime um estorvo
inarredável, até a sua confecção, para a propositura, mormente o
recebimento da ação penal.

● Adianta-se que, sem autuação fazendária (Ainf) não há prova da


materialidade de nenhum crime contra a ordem tributária, como sem
supressão nem redução de imposto e acessórios também não há
tipicidade formal por falta de subsunção do fato ao texto abstrato do
art. 1.º, inciso V, entretecido de forma coalescente e indissociável às
elementares normativas como objetivas e subjetiva (dolo genérico por
imperativo jurisprudencial superior e local) de seu caput.

Eis o print desse Ofício da Sefa (ID 64177133 - Pág. 2) com menção
das notas fiscais concernentes a este caso penal (185, 186 e 187/2020),
emitidas em 31/3/2020, nas quais constam, respectivamente, 4
ventiladores pulmonares marca Mindray por R$260.000,00; 4
ventiladores pulmonares marca Mindray por R$260.000,00; 2
ventiladores pulmonares por R$130.000,00, além de 3 monitores

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multiparâmetros por R$90.624,00, todos da marca Mindray; tudo, no


total de R$740.624,00, exatamente, o que deveria constar nas 3 notas de
empenho confeccionadas e publicadas pela 1.ª no Portal de Transparência
em 14/6/2020, depois corrigidas, por ordem do réu Sérgio Amorim, com
intervenção de servidores da Sesma e da SEGEP, tais quais os dados,
quantitativos e os valores unitários como o valor total de sobreditas NFs,
republicadas no Portal 6 dias após a 1.ª publicação (errônea), em
20/6/2020:

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● A partir do ID 64177133, pág. 3, constam cópias dos Danfes (espelhos


das notas fiscais emitidas pela GM tendo a Sesma como destinatária das
mercadorias) referidos no Ofício da Sefa constante do print súpero.

● Observa-se que, nessas notas fiscais espelhadas nos Danfes, emitidas


em plena pandemia, dezenas de outras mercadorias também foram
vendidas pela GM à Sesma (lençóis, aparelhos ultrassom, máscaras
hospitalares, etc.), sem, todavia, que a Denúncia tenha indigitado essas
vendas como defraudações licitatórias, isso porque a ação penal valorou
sobremaneira o fato de as 3 notas de emprenho terem sido publicadas
com somente 3 ventiladores ao preço total de R$740.624,00, mesmo
tendo sido essa publicação retificada, no Portal de Transparência, poucos
dias após, para 10 ventiladores e 3 monitores com idêntico preço total.
Essa ilação increpatória, ainda que possível como hipótese, todavia,
também não tem força de robustecer a tese acusatória ainda que com
força indiciária suficiente.

● Na verdade, as inúmeras vendas ulteriores aos 10 ventiladores e 8 a 10


monitores feitas pela GM à Sesma, desconsideradas como tranquibérnias
licitatórias na Denúncia, são fatores de tibieza para a justa causa da ação
penal. Afinal, a GM não detinha capacidade técnica, nem endereço certo
para contratar com a Sesma na versão da própria Denúncia.

● A falta de notas fiscais de entrada das mercadorias constantes dos


Danfes (NFes), assim delatado, no Ofício 301/2020 da Sefa, constitui, em

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tese, crime contra a ordem tributária tanto por parte dos gestores da GM
quanto do respectivo fornecedor dessas mercadorias à GM (MACEDO
HOSPITALAR COMÉRCIO REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E
EXPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA do réu
Raimundo Macedo, o qual vendeu essas mercadorias para a ré GENNY
YAMADA poder revendê-las à Sesma), mas esses Danfes se referem a
mercadorias distintas das que foram objeto da acusação sub examine
(máscaras, aparelho de ultrassom, etc.), como também, para quais, não
foram encontrados Ainfs que materializassem esse delito nos autos. Esse
fato demanda apuração ulterior tanto pela DFI quanto pela PC.

4.º) Inquirida, a testemunha DÉBORA PAULA LUCAS MEDEIROS LIMA,


Diretora Financeira da Sesma, declarou que fora o então Secretário de
Saúde Sérgio Amorim, ora réu, que, ao tomar conhecimento, por meio de
“blogs” e da imprensa, de que as notas de empenho foram publicadas
erroneamente em 14/6/2020, determinou que fossem retificadas, o que
ocorreu em 20/6/2020.

● Eis a perícope de seu depoimento que tange ao caso:

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● Essa determinação do réu Sérgio Amorim, ao ver deste 1.º PJCCOT,


encontra sapata legal e legítima no poder revisor dos atos administrativos
pela própria Administração Pública. Contudo, em seu revés, serviu de
fundamento para tonificar a tese acusatória, ainda que a retificação tenha
sido providenciada com estribo na verdade e realidade quanto à
quantidade de aparelhos (já entregues pela GM e recebidos pela Sesma) e
preço unitário corrigidos, mantendo o mesmo valor total originalmente
constante da 1.ª publicação quanto às compras, mas com retificação de 3
para 10 ventiladores e 3 monitores (republicação das notas de
empenho corrigidas em 20/6/2020), em vez de somente 3 ventiladores
como erraticamente fora publicado no Portal de Transparência em
14/6/2020.

● Os 7 outros monitores entregues pela GM (ou 5, considerando que 2


deles não forma encontrados na gestão subsequente) não foram
empenhados nem pagos pela Sesma, bem como não possuem nota fiscal.

● Crê-se que o “acordo” de afogadilho, tanto à porta (janeiro de 2020)


como em plena pandemia (30 de março a 1.º de abril), era o seguinte:
como um não confiava no outro, o então Secretário Sérgio Amorim exigiu
que, por primeiro, a GM entregasse as mercadorias, para depois emitir
nota de empenho e pagar; a GM concordou, mas desde que entregasse
nem nota fiscal, a qual só seria emitida mediante a emissão de nota de
empenho com pagamento na sequência.

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● Observa-se, aqui, que, por cogência legal, a mercadoria tem de se fazer


acompanhar de sua nota fiscal no momento da saída do domicílio fiscal do
contribuinte vendedor (GM) até a entrada no endereço do comprador
(Sesma). Adotar medida diversa, ainda que fosse para se “defender” de
uma possível inadimplência (“canelada”) municipal configura (o que, aliás,
sói acontecer), em tese, crime contra a ordem tributária (inc. V do art.
1.º), para o qual, todavia, é imprescindível a autuação fazendária (lavratura
de Ainf) pelo Fisco.

● Essa mesma testemunha (Débora) aduziu que o pagamento só poderia


ser feito mediante nota de empenho para a compra e notas fiscais de
venda das mercadorias, daí porque não houve o pagamento dos 7 (ou 5)
outros monitores. Nem deve haver sem a emissão de nota fiscal!

● A testemunha Débora esclareceu algo importante para o deslinde da


questão: normalmente, a nota de empenho (para a compra) é emitida pela
Sesma antes da nota fiscal de venda, mas, no caso das 3 notas de
empenho que geraram a necessidade de retificação, houve o inverso, as
notas fiscais 185, 186 e 187/2020 foram emitidas corretamente com todos
os aparelhos (10 ventiladores e 3 monitores [ver ID 64177135 - Pág. 3, pp. 3/5
com os Danfes dessas NFs enviados pela Sefa) e seus respectivos valores
unitários antes das notas de empenho, mas quando as notas de
empenho foram preenchidas por servidor da Sesma, elas foram
erroneamente confeccionadas e publicadas no Portal de Transparência do
Município como sendo apenas de 3 ventiladores adquiridos pelo total de
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R$740.624,00, o que gerou a necessidade de retificação das 3 notas de


empenho como da publicação no Portal em 20/6/2020.

Eis o print de parte do depoimento da testemunha Débora perante a


Autoridade Policial:

5.º) No ID 64177252 - Pág. 4, consta depoimento da testemunha


ALESSANDRA DA CUNHA SILVA.

● ALESSANDRA DA CUNHA SILVA, Diretora Geral da Sesma e


servidora concursada do TJPA por este cedida ao Município, esclareceu
que o fundamento para o TERMO DE RECONHECIMENTO DE DÍVIDA
007/2020, firmado pela Sesma em favor da GM, deveu-se à inexistência
de “processo regular de compra”.

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● Memora-se que esse Termo de Reconhecimento de Dívida com


dispensa de licitação e até mesmo de processo regular prévio ocorreu
durante a pandemia, em que pese parte dos aparelhos ter sido
entregue em janeiro de 2020.

● O mais importante é que as 3 notas de empenho devidamente


retificadas, comprovaram que a Sesma comprou 10 ventiladores
pulmonares e, ao menos, 3 monitores, como também há prova de que a
GM, além da entrega desses aparelhos entregou, à Sesma, de 5 a 7
monitores sem nota fiscal nem nota de empenho, os quais não foram
pagos. A própria Denúncia cita esse fato, que dos 10 monitores
comprados, não havia nota fiscal de 7 deles.

6.º) No ID 64177253 - Pág. 6, consta depoimento da testemunha


CYDIA EMY PEREIRA RIBEIRO:

● CYDIA EMY, Diretora do Núcleo de Assuntos Jurídicos da Sesma,


declarou que a Sesma não possui departamento de licitações, quem
procede ao levantamento de preços e ao processo licitatório é a SEGEP.

● CYDIA EMY esclareceu que devido à inexistência de contrato prévio


com GM, a compra se deu pelo Termo de Reconhecimento de Dívida
007/2020 com o qual se formalizou um processo até o pagamento, tendo a
Sesma RECEBIDO os equipamentos e, assim, reconhecido a dívida.

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● CYDIA EMY esclareceu que foram abertos dois processos para apurar a
falta de processo regular de compra, à luz do art. 59 da Lei 8.666/1993;
outro para apurar a conduta do servidor que confeccionou as 3 notas de
empenho em 14/6/2020;

● CYDIA EMY esclareceu que, em 2019, manifestou-se contrariamente à


dispensa de licitação para essas compras. Seu Parecer foi, nos mesmos
termos, homologado pelo então Secretário de Saúde Sérgio Amorim no fim
de 2019.

7.º) No ID 64177255 - Pág. 3, a testemunha LEIDIANE FIGUEIREDO


MARTINS, empregada do contribuinte GM, declarou que foi contratada em
1.º de abril de 2020; que a GM possui 16 empregados, além de um
engenheiro químico terceirizado e de um técnico para a retífica e
manutenção dos aparelhos; que a “empresa” realiza confecção e rouparia
hospitalar, mas que não mantém estoque de aparelhos hospitalares,
somente de roupas; que apenas compra esses equipamentos depois
de ganhar a licitação (referiu-se às demais vendas que não forma objeto
de denúncia ministerial); que o técnico como o engenheiro prestam
assistência técnica nos equipamentos hospitalares nas próprias unidades
de saúde; que a ré Genny é quem administra e faz compras pela GM,
tendo como um de seus fornecedores, a MACEDO HOSPITALAR; que
quando a GM vende equipamentos, estes não são entregues em seu
endereço, e sim, diretamente, ao Órgão da Administração Pública que
contratou a GM; que a GM também vende mercadorias para hospitais
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PRIVADOS, e não somente para órgãos públicos; que, em março de 2020,


trabalhou SEM carteira assinada, ainda na fase de experiência, na Pass.
Anabiju, 20-A, Castanheira; que só foi para o endereço da Mário Covas em
abril de 2020.

7.º) No ID 64177256 - Pág. 4, a testemunha OZIEL CHAGAS DOS


SANTOS declarou que é proprietário da Gráfica Profírio Eireli, depois
denominada MATEUS EIRELI; que não conhece Genny Yamada nem
soube informar se antes de 2018 a GM teria funcionado no mesmo imóvel.
Comprovou-se, depois, que lá a GM ficou instalada até 2017.

8.º) No ID 64177260, pág. 4, consta o depoimento da testemunha


ANTONIETA DE FÁTIMA OLIVEIRA POMPEU, assessora do fundo
Municipal de Saúde, lotada na Sesma:

● Antonieta esclareceu que as compras devem ter disponibilidade


orçamentária para o mesmo ano em que forem efetuadas, mas que se não
houver dotação orçamentária, o valor delas deve ser disponibilizado para
pagamento no ano seguinte como RESTOS A PAGAR; que o Termo de
Reconhecimento de Dívida não é comum.

● A pandemia, antes desse Termo ser firmado, ainda foi mais incomum do
que ele, pois referido Termo, embora incomum, não foi o 1.º, mas a
pandemia, tal qual ocorreu, foi a 1.ª sofrida pelos munícipes e por todo o
mundo ao menos nos últimos 100 anos, uma vez que a gripe suína H1N1

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de 2016 fulminou com 16 mil pessoas, montante irrisório se cotejado com


milhões de pessoas mortas pela Covid-19.

9.º) No ID 64177262 - Pág. 1, a testemunha UBIRATAN FIGUEIREDO


DA SILVA, Assistente Administrativo da Sesma, declarou que todo
material permanente, entre os quais ventiladores e monitores, deve ser
entregue na DRM da Sesma, perante ele ou outro servidor (Luiz Alves),
para somente depois desse recebimento e controle ser distribuído para as
várias unidades de saúde; que antes de ser distribuído, o material recebe
n.º de tombamento com o registro da NF, do nome da fornecedora e da
unidade de destino; que geralmente não é registrado o n.º de série do
material nem outro n.º de identificação individual dos equipamentos; que
consegue identificar no tombamento equipamentos SEM NOTA FISCAL,
pois as respectivas placas já existem para neles serem afixadas e
catalogadas; que um ventilador pulmonar custa, em média, R$60.000,00;
que a praxe é só receber equipamentos acompanhados de nota fiscal e
nota de empenho, mas, no caso de “extrema urgência”, podem recebê-
los sem esses documentos, mas que, ainda assim, um servidor do
departamento financeiro deveria autorizar o recebimento dos
equipamentos com esse fundamento; que, no caso, esse servidor seria a
Sr.ª Elza, mas também já recebera ligações da servidora Sr.ª Gabriele,
além de outros; que não recebem com frequência materiais da GM na
DRM; que afirma que esses equipamentos foram recebidos pela DRM, em
sua ausência, de 05/1/2020 a 10/1/2020, sendo 10 ventiladores

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pulmonares, acreditando, sem ter certeza, que também foram 10


monitores multiparâmetros: que acredita que foi o servidor Luiz Alves
quem os recebeu; que, pela sua experiência, notou que a aquisição
desses aparelhos era “algo fora do comum”, devido “à urgência dos
aparelhos” e pela “ausência de nota de empenho”, “apesar de também
já ter anteriormente recebido autorização para o recebimento de materiais
antes do encaminhamento da nota de empenho para a DRM”; que o
Gabinete do Secretário solicitou que fossem FOTOGRAFADOS
todos os equipamentos depois de entregues e distribuídos
para a UPA da Marambaia e para o Hospital Maradei.

● A testemunha Ubiratan revelou a possibilidade de receber na DRM da


Sesma aparelhos sem nota fiscal e nota de empenho, ainda que esse
procedimento não fosse comum, e que antes do recebimento dos
ventiladores e monitores concernentes a este caso penal, outros
equipamentos foram recebidos da mesma forma com autorização, por
telefone, da servidora Elza, como de outros servidores.

10.º) No ID 64177263 - Pág. 5 , a testemunha ANDREA OLIVEIRA DA


SILVA, Assessora da Dead, Núcleo de Contratos, declarou o seguinte: que
o processo de compra e venda com a GM chegou em seu departamento
somente em julho de 2020; que houve dispensa de licitação para cadastro
no Portal do TCM; que o processo continha notas de empenho e termo de
reconhecimento de dívida; que nem todas as dispensas são cadastradas

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no Portal do TCM, mas essa sim; que essa aquisição dos equipamentos
da GM não seguiu o processo usual de dispensa de licitação, pois foi sem
formalização nos outros setores, como sem formalização de contrato
prévio; que somente foi para o departamento da testemunha para o
processo de pagamento e cadastro no portal do TCM; que esse foi o único
caso passado por ela sem prévio contrato e formalização.

11.º) A testemunha EDER DE JESUS FERREIRA CARDOSO (ID


64177266 - Pág. 1), Coordenador do Núcleo de Controle Interno da
Sesma, relatou que deu parecer favorável à assinatura do termo de
reconhecimento dívida com a GM, pois havia notas fiscais e
comprovação da entrega dos aparelhos, bem como pelo princípio do
não enriquecimento ilícito pela Administração Pública, como também
houve URGÊNCIA na aquisição desses aparelhos, em 2020, devido à
inauguração das unidades de saúde da Marambaia, da Terra Firme e do
Pronto Socorro da 14 de Março (que estava sendo reformado).

12.º) NO ID 64177269 - Pág. 1, consta o depoimento de CLAUDIA


REGINA VIEIRA MATOS, Chefe de Divisão do Departamento de
Regulação da Sesma, a qual esclareceu que, em 2019, houve processo
licitatório para compra de equipamentos destinados à reinauguração do
Hospital Maradei, mas sabe quem nem todos os objetos licitados foram
entregues a tempo; que a maioria dos itens foi entregue posteriormente à
sua reinauguração; que o Hospital Maradei até março de 2020 não havia
recebido nenhum ventilador pulmonar nem monitor, o que só ocorreu em
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setembro de 2020; que foi por esse motivo a necessidade de dispensa de


licitação; que houve solicitação por parte da DEUE para a aquisição
desses equipamentos em dezembro de 2019; que foram solicitados
somente para o Maradei 10 unidades de ventiladores e 10 de monitores,
mas que, atualmente, o Maradei só tem 8 de cada; que não houve
solicitação da DEUE para a aquisição desses equipamentos, em dezembro
de 2019, com destinação à UPA da Marambaia; que ela pediu, à frente da
DEUE, ao então Secretário Sérgio Amorim, que 4 unidades de ventiladores
e 4 de monitores fossem destinadas à UPA de Marambaia; que esses
equipamentos foram entregues um dia antes da inauguração da UPA da
Marambaia; que o pedido de compra direta desses aparelhos com
dispensa de licitação deveu-se ao fato de que a reinauguração do
Hospital Maradei estava agendada para 12 de janeiro de 2020, e que
nem todos os itens foram entregues a tempo pelos licitantes dos
processos precedentes.

13.º) No ID 64177272 - Pág. 3, consta o interrogatório de SÉRGIO


AMORIM: o atual réu respondeu que os licitantes vencedores dos
processos licitatórios iniciados em 2018 e 2019 para aparelhar a UPA DA
MARAMBAIA e o HOSPITAL MARADEI do Guamá não entregaram os
equipamentos tempestivamente, o que obrigou a dispensa de
licitação para a aquisição direta dos ventiladores e monitores da GM;
que a aquisição não foi feita diretamente por ele, que ele solicitou ao
DEUE (Departamento de Urgência e Emergência) que fizesse o

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levantamento de quais empresas possuíam os aparelhos para que a


compra fosse feita diretamente em tempo hábil à inauguração; que o
processo licitatório para equipar o Hospital Maradei começou em 2018, o
hospital foi fechado para reforma em março de 2019, mas até dezembro
de 2019, os aparelhos não foram entregues pelo licitante vencedor;
que os parelhos foram entregues pela GM à Sesma em janeiro de 2020
e distribuídos para a UPA da Marambaia e para o H. Maradei; que a GM
foi escolhida para compra direta com dispensa de licitação porque ela
tinha o equipamento disponível e seus preços estavam dentro do
valor de mercado praticado à época; que foram entregues 10
ventiladores e, acredita terem sido, somente 3 monitores.

14.º) No ID 64177275 - Pág. 2, consta depoimento da testemunha LUIZ


FERNANDO MARTINEZ ALVES, assistente administrativo do DRM da
Sesma: que ele recebe mercadorias e anexa placas de tombamento, além
de outras atividades; que o servidor Ubiratan é quem determina a
destinação das mercadorias por ele (depoente) recebidas e
tombadas; que somente Ubiratan assina os TERMOS DE ENTREGA; que
as informações mínimas das quais ele precisa para entrega dos
equipamentos ao transporte e destinação são o n.º de série e do
tombamento; que, em janeiro de 2020, separou 6 respiradores com
destinação ao Hospital Maradei e 4 à UPA da Marambaia; que esses
equipamentos foram entregues no dia seguinte ao do recebimento, pois
estavam destinados à inauguração dessas duas unidades; que

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Ubiratan teria vinculado o n.º do tombamento a esses equipamentos que


foram enviados; que ele próprio recebeu esses equipamentos de empresa
da qual não recorda sem nota fiscal nem nota de empenho; que também
recebeu preenchido por Ubiratan o termo de entrega de 10 monitores, que
conferiu e recebeu, e que nunca preencheu termo de entrega, cuja
responsabilidade é somente de Ubiratan; que não é comum receberem os
equipamentos e, no dia seguinte, eles já serem entregues ao destino,
ainda mais sem nota fiscal nem nota de empenho, mas acredita que isso
ocorreu porque as 2 unidades estavam com data de inauguração próxima;
que recebeu os equipamentos sem nota fiscal nem de empenho por
determinação da servidora Elza, pois se tratava de “material que era
urgente”; que conferiu apenas a quantidade dos equipamentos sem
se recordar da marca deles.

15.º) No ID 64177276 - Pág. 6, consta depoimento da testemunha EDSON


LUIS BATISTA FROTA DE ALMEIDA, locador do prédio da gráfica Porfírio,
que declarou o seguinte: que seu imóvel fora locado pela GM,
representada pela ré Genny até abril de 2017, que lá eram fabricadas
roupas.

16.º) No ID 64177284 - Pág. 2, consta o depoimento da testemunha ELZA


MARIA RAMOS TAVARES, assistente administrativa da Sesma, que
declarou o seguinte: que em razão de e-mail enviado pela DEUE,
embora não fosse atribuição da depoente, ela fez cotação de preços dos

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ventiladores pulmonares e os repassou à DEUE; que o e-mail da DEUE foi


em dezembro de 2019.

17.º) Interrogado pela PC (ID 64177285 - Pág. 2), o ora réu RAIMUNDO
TEIXEIRA MACEDO relatou que é proprietário da MACEDO
HOSPITALAR COMÉRCIO REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E
EXPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA.; que é
representante estadual da marca Mindray com exclusividade no Pará e
Amapá; que somente ele pode importa os produtos dessa marca e vendê-
los no Pará; que possui estoque razoável desses equipamentos e que há 4
anos mantém negócios com a GM; que esse réu comprava os
equipamentos e pagava uma comissão de 2% a 5% à GM pela captação
de clientes; que as negociações eram feitas pela pessoa física de Genny,
sem o uso do CNPJ da GM, e que as vendas eram realizadas diretamente
pelo declarante ao cliente por ela cooptado, por isso ele emitia a nota fiscal
diretamente para o cliente comprado cooptado pela Genny, e não para a
GM; que só emitiu a nota fiscal 2901 de 10 ventiladores Mindray à GM em
julho de 2020, mas que a venda teria sido feita entre janeiro e fevereiro de
2020 para a pessoa física de Genny, sem nota fiscal, porque ela, à época,
não possuía dinheiro para pagá-los; que não negociava com o Município
de Belém porque teria sofrido um “calote” de R$180.000,00 por 6 anos;
que a nota fiscal 2901 traz em seu rodapé o n.º de série dos
equipamentos; que quando vendeu os 10 ventiladores para Genny sem
nota fiscal em janeiro ou fevereiro de 2020, não vendeu nenhum monitor

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para a GM; que só vendeu ventiladores; que os ventiladores saíram da


empresa da empresa desse réu para a GM; que os monitores, o acusado
só os vendeu à GM em julho de 2020, que o respectivo pagamento foi feito
por TED da GM para a Macedo.

● Trata-se de alegações contraditórias, pois o réu Raimundo Macedo


afirmou que vendia para a pessoa física de Genny, ora para a GM por ela
administrada; a alegada comissão supostamente paga à Genny (2% a 5%)
não paga nem o ICMS dos aparelhos para os quais a GM, da qual Genny
era a única titular, emitiu 3 notas fiscais, tendo de recolher ICMS para o
Simples Nacional além de retirar seu lucro dessa venda.

● Trata-se de um estratagema criminoso para burlar o Fisco estadual.


Contudo, não foi encontrada a prova da materialidade de nenhum
crime contra a ordem tributária, correspondente a algum Ainf lavrado
pelo Fisco, o que vem a ser, desditosamente, um estorvo intransponível
para a persecutio criminis in juditio.

18.º) Dez dias depois, em 19/11/2020, o ora réu RAIMUNDO TEIXEIRA


MACEDO foi reinterrogado pela PC (ID 64177438 - Pág. 3) quando
aduziu o seguinte: que vendeu 3 unidades de monitores multiparâmetros
juntamente com 10 ventiladores, mas só emitiu a NF 2906 em julho de
2020 para a GM; que, em seu 1.º interrogatório, negou essa venda por não
ter recordado.

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● Na verdade, a “empresa” desse réu só emitiu notas fiscais para a GM


para cobrir as entradas das mercadorias no estoque da GM, que emitiu 3
notas fiscais de saída concernentes aos 10 ventiladores e 3 monitores
meses antes.

19.º) No ID 64177447 - Pág. 1, consta o depoimento da testemunha


UBIRATAN FIGUEREDO DA SILVA. Essa testemunha confirmou o
depoimento de Luiz Fernando Alves com algumas divergências de datas e
assinaturas de termos de entrega, o que não altera o quadro,
considerando inexistir divergência quanto à efetiva entrega de 10
ventiladores pulmonares e, ao menos, 8 monitores, podendo ter sido até
10, para os quais não houve emissão de notas fiscais (somente para 3
deles) nem pagamento pela Sesma.

20.º) No depoimento de Luiz do Socorro de Moraes Sarmento (ID


64177447 - Pág. 4), administrador do Hospital Maradei, foi informado que
referido Hospital foi reinaugurado entre 25 e 28 de janeiro, quando ele
retornou do Hospital Dom Zico; que os ventiladores e monitores Mindray
chegaram antes de 25 de janeiro de 2020, mas ainda estavam
encaixotados, que só depois dessa data começaram ser retirados das
caixas e instalados; que recebeu 4 ventiladores pulmonares e 10
monitores multiparâmetros, que assinou os respectivos termos de entrega,
mas não os datou, que a data de 9 de janeiro de 2020 não foi aposta por
ele, embota ele houvesse assinado esses termos, deixando a data em
banco por “lapso”; que até prestar referido depoimento, havia, no Hospital
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Maradei 10 monitores multiparâmetros entregues pela GM; que até


seu depoimento havia de 20 a 30 ventiladores pulmonares no
Maradei, entre os quais estão os 4 entregues pela GM em
funcionamento.

II. DO DIREITO:

II.1. QUANTO À DENÚNCIA E AOS ATOS


JUDICIAIS SUBSEQUENTES:

Observa-se que a prodrômica increpatória, em que pese os


princípios da unidade e indivisibilidade do Parquet, foi ofertada por duas
Promotores de Justiça sem atribuições para a persecução de crimes
contra a ordem tributária, conquanto ambas as detivessem para os
demais delitos, havidos como conexos, que passaram a ser da
competência dessa douta Vara de Crimes contra o Consumidor e a Ordem
Tributária por atratividade em razão de sua especialização quanto à
matéria.

A Vara de Crimes contra o Consumidor e a Ordem Tributária possui


sua especialização há cerca de 3 décadas, tendo competência material
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para sobreditos delitos em toda a circunscrição do Estado do Pará, ou


seja, no pertinente aos crimes de sonegação fiscal e apropriação indébita
tributária de ICMS nem os Promotores de Justiça das comarcas
interioranas possuem atribuição para a persecução criminal nem mesmo
extrajudicial ou pré-processual, assim como os respectivos Juízos não
possuem competência material para conhecer, processar e julgar referidos
delitos.

A 1.ª Vara Penal da Capital, absolutamente incompetente, ratione


materiae, ainda assim recebeu a Vestibular acusatória como também
determinou a prossecução deste feito criminal até ser provocada pela
Defesa de um dos réus quanto à sua mais ABSOLUTA incompetência.

Em que pese o aguerrido esmero de uma das Promotoras de Justiça


de tentar salvaguardar os atos processuais já realizados, não se afigura
possível dada a incompetência absoluta ratione materiae do Juízo que
recebeu a Denúncia, o que torna írrita não apenas a prefacial acusatória,
proposta por Membros do MPE sem atribuição material para o caso, como
seu recebimento judicial subsequente, contaminando de igual revés
todos os atos judiciais ulteriores como “frutos da árvore envenenada”.

Ademais, os fatos revelados nos Autos denotam a ocorrência de


crimes contra a ordem tributária, entrementes, sem a necessária prova das
respectivas materialidades (Ainfs), que deveriam ter sido lavrados tanto
contra a GM Comércio e Representação Eireli, da qual a ré Genny M.
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Yamada é a única titular e gestora, quanto contra a MACEDO


HOSPITALAR COMÉRCIO REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E
EXPORTAÇÃO DE EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA.

A falta de prova da materialidade dos delitos fiscais, conquanto eles


tenham sido praticados, já era óbice suficiente para o recebimento da
Denúncia até mesmo por esse douto Juízo Especializado em Crimes
contra a Ordem Tributária, a fortiori para o Juízo absolutamente
incompetente que a recebeu.

A Sefa tomou conhecimento da existência deste caso penal por meio


de diligência policial, tanto que remeteu, à PC, cópia dos Danfes com
informações acerca do regime de tributação da GM Comércio e
Representação Eireli, tendo, por meio de Ofício (ID 64177133 - Pág. 2,
consta Ofício 301/2020 da Sefa), no qual o Fisco informou até que não
havia notas fiscais de entrada das mercadorias revendidas por este
contribuinte (GM) à Sesma. Por que, então, a Sefa não autuou os dois
contribuintes infratores em lume?

Esse vem a ser “outro” ato falho gravíssimo identificado neste


caso penal, o que denota, de outra ponta, que não apenas a Sesma
cometeu inúmeras irregularidades na aquisição “informal” e “atabalhoada”
dos aparelhos em testilha, em um interstício pandêmico desde seu
prólogo, como por necessidade URGENTE de inaugurar duas unidades de
saúde municipais (UPA da Marambaia e Hospital Maradei) ou 3 (UPA da

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Terra Firme). Isso porque esses dislates são mais comuns do que insólitos
em todas as searas do serviço público, incluindo a prestada pelo
Judiciário.

Trata-se de defraudação fiscal criminosa para que a 1.ª vendedora


não pagasse ICMS: MACEDO HOSPITALAR COMÉRCIO
REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE
EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA, a par de a GM também não
ter emitido notas fiscais para a venda de 7 monitores
multiparâmetros.

Então, a lógica seria determinar a respectiva autuação mediante a


deflagração de OS para auditorias fazendárias nas “empresas” que deram
saídas a essas mercadorias por fornecimento (1.ª venda) como por
revenda, tratando-se, respectivamente, da Macedo Hospitalar e da GM.

A falta de prova da materialidade delitiva (Ainfs) assomada à


absoluta incompetência do Juízo da 1.ª Vcrim são fatores impedientes
da prossecução do feito com aproveitamento dos atos já realizados, como
determinantes do retorno do IP à PC para a realização de mais diligências,
colimando a produção dessas provas, ainda que tenha de acionar a Sefa
para esse anelo, prescindindo-se de lançamento definitivo em razão de o
crime em testilha ser formal (art. 1.º, inc. V, da Lei 8.137/1990), o que
afasta a incidência da Súmula Vinculante 24.

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II.2. QUANTO AO CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


TIPIFICADO NO ART. 1.º, INCISO V, DA LEI 8.137/1990:

A Delegada Priscila N. S. Costa concluiu que dos 10 monitores


multiparâmetros adquiridos pela Sesma, 8 foram encontrados, 2 não
foram encontrados, conquanto tivessem registro oficial de série e
destinação (há divergências documentais desses dados), e que só foram
emitidas pela GM notas fiscais de venda para 3 desses 10 monitores (NFe
187/2020), tendo havido sonegação fiscal em relação a 7 deles (ID
64179171 - Pág. 3).

Tanto a PC quanto a Denúncia ministerial concluíram que a GM não


entregou 2 dos 10 monitores multiparâmetros vendidos à Sesma,
conquanto tenha entregado 8 deles, bem como que teria havido
sonegação fiscal na venda de 7 desses monitores pela GM para os quais
não foram emitidas notas fiscais de venda/saída, como também é verdade
que só havia nota de empenho e notas fiscais para 3 desses monitores.

O Ofício da Sefa 301/2020 também delata que todos os aparelhos


vendidos pela GM à Sesma não possuíam notas fiscais de entrada, então,
que os forneceu (réu Raimundo Macedo, representante e administrador da
Macedo Hospitalar) à GM (da qual a ré Genny Yamada era a única gestora
e titular), assim como a própria administradora da GM, praticou crime de
sonegação fiscal em concurso de agentes.

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Entrementes, não se encontrou no IP nenhum Ainf materializando


esses crimes.

Por ora, quadra consignar que todos os crimes contra a ordem


tributária, até os meramente FORMAIS (de consumação antecipada com a
conduta) exigem, inexoravelmente, prova MATERIAL, tal como qualquer
outro crime que deixa vestígio, daí serem denominados pela doutrina
penal: crimes “não transeuntes” ou de “resultado permanente”).

A prova da materialidade do delito (até mesmo do crime formal, que


deixa vestígio = não transeunte/de resultado permanente) é diversa da
taxonomia dos delitos quanto ao RESULTADO, estratificada, pela
doutrina penal, em crimes materiais, formais e de mera conduta.

A título de ilustração plástica ao caso vertente, pode-se citar o crime


de ameaça, que é, por excelência, formal (de consumação antecipada
com a conduta), conforme sua taxonomia doutrinária quanto ao
“resultado naturalístico” (previsto no art. 147 do CP, cuja ocorrência,
todavia, não é exigida), mas que se for executado por meio de qualquer
mensagem ESCRITA, produzirá vestígio, o que torna injuntiva a produção
da correspondente prova MATERIAL, que, no caso dos crimes fiscais,
vem a ser o Ainf, quer para os crimes contra a ordem tributária formais
(v.g., inc. V e parágrafo único do art. 1.º; assim como o art. 2.º, inc. I), quer
para os crimes materiais tipificados no artigo 1.º da Lei 8.137/1990
(incisos I usque IV).

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CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

Memorando que a estes últimos (crimes formais) não se aplica a


Súmula Vinculante 24, desmerecendo, dessarte, análise ministerial neste
caso penal.

Ademais, insta gizar que a falta de prova da materialidade dos


crimes que deixam vestígios (até mesmo os delitos formais) torna írrito o
recebimento da Denúncia consoante modilhão no art. 564, inc. III,
alínea “b”, do CPP, assim vazado:

“Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

b) o exame do corpo de delito (= Ainf) nos crimes que deixam


vestígios (= crimes não transeuntes/de resultado permanente),
ressalvado o disposto no art. 167.”

O art. 167 do CPP (suprimento da carência da prova da


materialidade por prova testemunhal) não se aplica ao caso penal vertente.
Seria até um disparate lobrigar tal possibilidade, como despiciendo se
torna até mesmo fundamentar o porquê!

II.3. QUANTO AO CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (art.


288 do CP):

Não se identifica crime de associação criminosa no caso penal


vertente. Trata-se de fato formalmente atípico.

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Observa-se que a própria Denúncia reconheceu que os crimes


licitatórios (artigos 89 e 90 da Lei 8.666/1990) eram de múltipla ação
(conteúdo variegado), portanto, espécies de tipo penal misto alternativo,
e que, na verdade, tratava-se de uma só conduta criminosa, ou seja,
um só crime, perpetrado em todo o procedimento irregular de compra dos
aparelhos, dividida em vários atos executórios, então, faltou o requisito ou
elementar subjetiva específica da reunião dos corréus “para a prática de
crimes”, cujo animus de reunião cobra sua estabilidade como condição
desse fim específico (dolo específico cobrado pelo STJ).

Ademais, em um caso emblemático processado por este 1.º


PJCCOT (Caso Cerpa-S/A), depois de mover nada menos do que 18
ações penais por crimes contra a ordem tributária, perpetrados 50
vezes por 4 réus que coadministravam e/ou eram responsáveis pela
contabilidade desse contribuinte, fundamentou a existência dessas ações,
nas quais houve a imputação de 50 delitos fiscais, praticados, à proporção
de 1 por mês, portanto, por 4 anos e 2 meses para ADITAR, em uma
delas, a imputação do crime de associação criminosa (art. 288 do CP),
antes crime de quadrilha, mas o STJ, após Parecer favônio do MPF,
trancou a respectiva ação penal (por crime de quadrilha, hoje associação
criminosa), conquanto tenha mantido as ações penais por 50 crimes fiscais
sob o fundamento de que o concurso de agentes, no Caso Penal Cerpa-
S/A, era meramente EVENTUAL, e não necessário para a configuração
da tipicidade formal do delito de associação criminosa.

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Eis uma perícope da Decisão do STJ:


PROCESSO
HC 374430
RELATOR(A)
Ministro RIBEIRO DANTAS
DATA DA PUBLICAÇÃO
04/12/2019
DECISÃO
HABEAS CORPUS Nº 374.430 - PA (2016/0267399-6)
DECISÃO
Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado em favor de HELGA IRMENGARD
JUTTA SEIBEL, JOSE IBRAHIM SASSIM DAHAS, PAULO CESAR NOVELINE e JOCINEIDE
SANTA BRIGIDA BARROS, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará
no recurso em sentido estrito n.º 0010926-49.2014.8.14.0401.
Consta nos autos que os pacientes foram denunciados como incursos nas sanções do art. 1º,
incisos I e II c/c arts. 11, caput, e 12, inciso I, todos da Lei n.º 8.137/1990; bem como nos arts. 71
e 91, inciso I, ambos do Código Penal, incidindo, ainda, em relação à denunciada Helga Irmengard
Jutta Seibel, a agravante genérica do art. 62, inciso I, do Código Penal.
Após o recebimento da inicial acusatória e o oferecimento da resposta à acusação, o Ministério
Público ofereceu aditamento à denúncia para inclusão do tipo penal capitulado no art. 288 (antiga
redação) c/c art. 69, caput, ambos do Código Penal.
O Juiz de Direito da 13.ª Vara Criminal de Belém/PA rejeitou o aditamento à denúncia, com
fundamento nos arts. 395, incisos II e III, do Código de Processo Penal (e-STJ, fls. 248-254).
Contra essa decisão, o Ministério Público interpôs recurso em sentido estrito, que foi provido pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Pará para receber o aditamento à denúncia, em acórdão assim
ementado:
"EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA -
ADITAMENTO À DENÚNCIA - INCLUSÃO DO CRIME DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA NA
REDAÇÃO ANTERIOR À LEI Nº 12.850/2013, POR SER MENOS GRAVOSO AOS
RECORRIDOS - DEMONSTRADOS INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE -
POSSIBILIDADE - À época, para a caracterização do crime de formação de quadrilha, previsto no
art. 288 do Código Penal, bastava uma associação rudimentar, capaz de levar a cabo o fim visado,
não se exigindo nítida divisão de funções, estatutos, hierarquia, ou mesmo contato pessoal dos
agentes (RT 747/652).
Precedente jurisprudencial da época. Sabe-se que quando são realizadas condutas autônomas,
em tese, mediante formação de quadrilha, para o fim único de suprimir ou reduzir o recolhimento
dos tributos, incumbe ao Juízo Criminal, na instrução processual contraditória, investigar a
existência do suposto ilícito penal. A ação penal em curso não busca elucidar apenas crimes
contra a ordem tributária, mas, também, o crime de formação de quadrilha.
Precedente dos Tribunais Superiores. Se a denúncia descreve o fato criminoso, em todos os seus
elementos, de tal maneira que autorize um juízo de suspeita de crime (e não de certeza) merece
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ela havida como eficaz ou apta, e não inepta, donde há configuração de justa causa para a
acusação. H.C.
Denegado. Precedente do STF - RHC: 48988/MG - RTJ Vol-59200-). Dessa forma, tendo em
conta a evidente independência entre os delitos, descabe falar em rejeição do aditamento à
denúncia quanto ao crime autônomo (de formação de quadrilha). RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO - UNÂNIME." (e-STJ, fl. 340).
No presente habeas corpus, alega o impetrante que interpôs recurso especial contra referido
acórdão, contudo, considerando a demora em sua tramitação e o andamento da ação penal,
aponta a necessidade desta impetração.
Sustenta a atipicidade da conduta imposta aos denunciados no aditamento à denúncia, por
ausência de estabilidade e permanência na associação imputada e ausência de finalidade ilícita.
Aduz inépcia do aditamento ministerial.
Requer, in limine, o sobrestamento das ações penais em curso contra os pacientes.
No mérito, pugna pela anulação da decisão de recebimento do aditamento à denúncia, a fim de
excluir o crime de formação de quadrilha da acusação.
O pedido liminar foi indeferido (e-STJ, fl. 356).
Prestadas as informações (e-STJ, fls. 366-390), o Ministério Público opinou pela concessão da
ordem (e-STJ, fls. 400-406).
Peticionando aos autos, a defesa requer a prioridade no julgamento (e-STJ, fls. 411-413).
É o relatório.
Decido.
Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não
conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato
judicial impugnado.
Nesse contexto, passo ao exame das alegações trazidas pela defesa a fim de verificar eventual
constrangimento ilegal que autorize a concessão da ordem, de ofício.
Consoante relatado, os pacientes foram inicialmente denunciados como incursos nos arts. 1º,
incisos I e II, c/c 11, caput, e 12, inciso I, da Lei n.º 8.137/1990, na forma dos arts. 71, caput, e 91,
inciso I, ambos do Código Penal, porque, na qualidade de Diretora Superintendente, Diretor
Gerente e Contadores, respectivamente, da CERPA CERVEJARIA PARAENSE S/A, teriam
fraudado a fiscalização tributária, reduzindo o valor do ICMS devido.
Posteriormente, o Ministério Público apresentou aditamento à denúncia, imputando aos acusados,
também, a prática do crime de associação criminosa. Eis o teor da exordial, na parte que
interessa:
"No caso em lume, torna-se imperioso este aditamento, para somar-se à imputação o crime de
associação criminosa, mas com a antiga redação do art. 288 do Código Penal, por ser mais
benéfica aos acusados, uma vez que os quatro reuniram-se e articularam o modus operandi
criminoso para a prática do crime continuado contra a ordem tributária, em concurso material com
o delito ora aditado, utilizando crédito presumido revogado, realizando a manobra fraudulenta por
18 vezes (há dezoito ações penais em trâmite nessa Vara especializada), em períodos distintos, o
que demonstra a associação do quarteto de modo permanente para a prática de crimes em
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número indeterminado.
[...] Observa-se que os quatro réus, Helga Seibel, José Ibrahim, Paulo Noveline e Jocineide
Barros, agiram, em conjunto e harmonicamente, cada um em sua condição e atividade específica,
respectivamente, de presidente proprietária, procurador da presidência, contador geral e
contadora responsável pela elaboração das Diefs, com o anelo precípuo de ludibriar a fiscalização
tributária, utilizando manobra fraudulenta por meio de falsidade ideológica na apuração, na
declaração e no lançamento do ICMS devido pelo contribuinte infrator." (e-STJ, fls. 165-168) O
Magistrado singular rejeitou o aditamento à denúncia, sob a seguinte fundamentação:
"[...] No presente caso, verifico que a narrativa da denúncia, no que toca ao crime de quadrilha, a
despeito de longa e bem articulada, todavia, não chega a descrever, concretamente, os elementos
do tipo penal do art. 288.
[...] De efeito, sobressai que não há na peça acusatória menção à forma, lugar, e circunstâncias de
como o grupo se reunia para a realização e efetivação dos crimes. O que se verifica na descrição
das condutas, são apenas inferências extraídas dos cargos e funções que os acusados ocupam
ou ocupavam na organização da empresa.
Dessa forma, sem adentrar nos detalhes meritórios do caso, primo ictu oculi, constato que a
denúncia não demonstra que os acusados teriam se associado estavelmente com o fim de praticar
crimes, conforme o posicionamento que o STF consolidou em relação a este delito, no sentido de
que para ocorrer o crime de quadrilha, é necessário um plus: uma especificidade da conduta, que
é a associação específica com a intenção de cometer crimes, conforme elucidou a ministra Rosa
Weber em seu voto na AP 470:
O ponto central da minha divergência é conceitual. Não basta que mais de três pessoas pratiquem
delitos. É necessário mais. É necessária que se faça para a específica prática de crimes. A lei
exige que a fé societatis seja afetada pela intenção específica de cometer crimes.
No presente caso todos os acusados exerciam cargos e profissões na empresa CERPA S/A, que
é uma empresa tradicional e conhecida há muito no Estado do Pará, constituída aparentemente de
forma lícita, e que desenvolve atividades igualmente consideradas legais.
Assim sendo, segundo a posição do Excelso Pretório, para que se caracterize o crime de
quadrilha, é necessário que haja a reunião dos elementos do tipo, ou seja, associar-se para a
prática de crimes, e isso - com toda a vênia que reputo ao nobre Promotor com assento nesta
jurisdição - o Parquet não logrou trazer aos autos.
[...] Quadra dizer, nessa direção, reiterando o já acima dito, que não vislumbro somente nos
dizeres ministeriais, sem que se apresente outros elementos mais concretos, que se serviram os
agentes de uma empresa como a CERPA S/A para o escopo indicado no tipo de formação de
quadrilha, promovendo o plus de que falou alhures a Min. Rosa Weber.
Ainda no citado articulado, e em direção ao crime sob comento, gizo a posição também coerente
do Promotor André Estefam, que atua na assessoria jurídica da Procuradoria-Geral de Justiça do
Ministério Público paulista, que considera "natural e cautelosa" a decisão do ministro Celso de
Mello. Como o HC não permite uma análise profunda da prova colhida, vale o entendimento de
que a quadrilha é um crime autônomo, afirma ele. Sem conhecer o caso concreto, Estefam avalia
que, se deixa de existir o crime contra a ordem tributária, é difícil sustentar a manutenção do crime
de quadrilha se um grupo existia apenas para a prática de sonegação fiscal. O promotor diz que
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também merece ser levada em conta a mudança na redação do Código Penal, em 2013, que
substituiu a formação de quadrilha por associação criminosa. Na nova definição legal, os agentes
só são enquadrados caso tenham se associado com o fim específico de cometer crimes.
Não é o que efetivamente vislumbro, a priori.
Por tais razões, se o aditamento à denúncia não traz na narrativa dos fatos concretos os
elementos integrantes do delito, não há porque dar início à instrução processual em relação a ele,
pois além de ser desarrazoada essa solução, ela também não se coaduna com os princípios da
economia e celeridade processuais.
Assim, POR TODO O EXPOSTO e com fundamento no art. 395, II e III do CPP, REJEITO O
ADITAMENTO À DENÚNCIA contra os acusados HELGA IRMENGARD JUTTA SEIBEL, JOSÉ
IBRAHIM SASSIM DAHAS, JOCINEIDE SANTA BRÍGIDA BARROS e PAULO CÉSAR
NOVELINE." (e-STJ, fls. 251-254; grifos não constantes no original.)
No julgamento do recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público, contudo, o Tribunal
a quo considerou suficiente a descrição apresentada na inicial:
"O cerne da questão é só o aditamento à denúncia para incluir o crime de formação de quadrilha
ou bando que, na fase prematura da ação penal, entendo não haver razões concretas para rejeitá-
lo sumariamente como foi feito nos autos, senão vejamos:
Em princípio, torna-se imperioso esclarecer que os fatos em debate ocorreram antes da edição da
Lei nº 12.850/2013, que alterou a redação do artigo 288 do CP, motivo porque o aditamento à
denúncia foi na redação anterior do crime de formação de quadrilha, menos gravoso aos
denunciados.
À época, o contorno do tipo penal do delito de formação de quadrilha ou bando, embora
semelhante com o conceito dos dias atuais, não continha excesso de rigor para a caracterização
da eventual associação como estabelece a nova lei para o crime de organização criminosa.
[...] Neste entendimento, a denúncia funda-se em um juízo de suspeita, especialmente quando a
própria norma tributária prevê a possibilidade do crime ter sido perpetrado em formação de
quadrilha ou bando, senão vejamos:
[...] Com isso, não vejo onde se sustente a decisão recorrida quando supõe ausente a estabilidade
e permanência da associação, mesmo porque os denunciados, por suas funções,
provavelmente manuseavam os mesmos documentos ou opinavam acerca do
negócio relativo à ordem tributária, de especial importância para a viabilidade
financeira da empresa e mesmo havendo 18 ações penais em
desfavor dos recorridos, que representam nada menos do
que cinquenta delitos (50) perpetrados mês a mês em quatro
anos, cabe levar para a instrução criminal a discussão
acerca da imputação, inviável neste momento, concessa
venia.
Por oportuno, destaco que, ainda que haja parcelamento do débito na via
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administrativa possibilitando a suspensão e/ou extinção da punibilidade dos delitos


tributários; o crime de formação de quadrilha, por ser autônomo, independe da
punibilidade ulterior dos delitos visados.
[...] A denúncia foi recebida sem restrição (fls. 131/v), inclusive quando descreve que
a sócia-proprietária incorreu, em tese, na agravante do art. 62, I do CP, que diz
respeito à eventual responsabilidade pela promoção e associação para êxito do
crime fiscal.
Não se despreza que de todas as 18 ações a que respondem os
recorridos, conforme se extrai das fls. 120-127/v - Vol. I, em nenhuma
foram denunciados por crime de formação de quadrilha, não havendo bis in idem
considerá-lo, eventualmente, na denúncia em debate.
De igual modo, não cabe dizer que não houve informação quanto à forma, lugar e
circunstância se ao longo da narrativa dos fatos na denúncia foi mencionado
que os quatro réus pertenciam à mesma empresa e lá desenvolviam
suas funções, os dois primeiros HELGA e IBRAHIM na
administração e os outros dois, PAULO e JOCINEIDE, no setor de
contabilidade da CERPASA, intimamente conexos.
Não podemos olvidar, em relação aos indícios de autoria dos delitos, que a denúncia, conforme se
tem afirmado no ordenamento, inclusive com amparo em precedentes dos Tribunais Superiores, é
"mero juízo de suspeita". Eventuais dúvidas devem ser dirimidas durante a instrução criminal. Os
"indícios de autoria não têm o sentido de prova indiciária"; mas sim, de elementos bastantes a
fundar suspeita contra os denunciados.
[...] Não serve para a ocasião a hipótese de dilação de provas; porque a tese de insuficiência
probatória, frente à existência da eventual corrente alternativa de possível verdade dos fatos,
entendo que, neste momento, não tem passagem.
Entendo também que, estando em fase prematura, no início da ação penal, não se deve descartar
uma possível ocorrência de crime, especialmente quando há indícios e o erário público está em
questão.
Não se está condenando ninguém mas, pelo princípio da busca da verdade real, é razoável a
admissibilidade da acusação e o desate da controvérsia na instrução criminal.
Pelo exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para o recebimento do aditamento à
denúncia e prosseguimento da ação, nos termos enunciados." (e-STJ, fls. 342-345) Esta Corte
Superior pacificou o entendimento segundo o qual, em razão da excepcionalidade do trancamento
da ação penal, tal medida somente se verifica possível quando ficarem demonstrados - de plano e
sem necessidade de dilação probatória - a total ausência de indícios de autoria e prova da
materialidade delitiva, a atipicidade da conduta ou a existência de alguma causa de extinção da
punibilidade. É certa, ainda, a possibilidade de trancamento da persecução penal nos casos em
que a denúncia for inepta, não atendendo o que dispõe o art. 41 do Código de Processo Penal, o
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que não impede a propositura de nova ação desde que suprida a irregularidade.
Nesse sentido:
"PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE EXCEPCIONALIDADE. 2. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA
CONDENATÓRIA. APTIDÃO DA INICIAL E JUSTA CAUSA CONFIRMADAS.
3. CRIME TRIBUTÁRIO. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL. ART. 6º DA LC 105/2001. INAPLICABILIDADE NA SEARA PENAL. RESERVA DE
JURISDIÇÃO. 4. HIPÓTESE DISTINTA DOS AUTOS.
EXTRATOS FORNECIDOS PELA PRÓPRIA RECORRENTE. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. 5.
RECURSO EM HABEAS CORPUS IMPROVIDO.
1. O trancamento da ação penal na via estreita do habeas corpus somente é possível, em caráter
excepcional, quando se comprovar, de plano, a inépcia da denúncia, a atipicidade da conduta, a
incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria ou prova da
materialidade do delito.
2. A superveniência de sentença denota a aptidão da inicial acusatória para inaugurar a ação
penal, implementando-se a ampla defesa e o contraditório durante a instrução processual, que
culmina na condenação lastreada no arcabouço probatório dos autos.
Portanto, não se pode falar em ausência de aptidão da denúncia nos casos em que os elementos
carreados aos autos autorizam a prolação de sentença.
3. No julgamento do Recurso Extraordinário n. 601.314/SP, cuja repercussão geral foi
reconhecida, consignou-se que o 'art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao
sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da
capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo
da esfera bancária para a fiscal'. Contudo, para fins penais, não se admite que os dados sigilosos
obtidos diretamente pela Secretaria da Receita Federal do Brasil sejam por ela repassados ao
Ministério Público ou à autoridade policial, para uso em ação penal, pois não precedida de
autorização judicial a sua obtenção, o que viola a reserva de jurisdição penal.
4. Embora a tese defendida pela recorrente encontre abrigo na jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, observo que o Tribunal de origem, ao confirmar sua condenação, registrou que 'a
Receita Federal somente procedeu à quebra do sigilo bancário da acusada em relação ao ano
calendário de 2005, o que ensejou a instauração de um novo Procedimento Administrativo, de n.
15983.000513/2009-18, não abrangido pela denúncia. Nos respeitante aos anos calendários de
2006 e 2007, objetos da imputação formulada nestes autos, os extratos bancários foram
fornecidos pela própria ré'. Dessa forma, não há se falar em ilegalidade.
5. Recurso em habeas corpus improvido" (RHC 65.436/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES
DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 8/8/2017, DJe 23/8/2017).
"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO.
OCULTAÇÃO DE CADÁVER. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. COMANDO VERMELHO.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JUSTA CAUSA. PRISÃO PREVENTIVA.
IMPROCEDÊNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. O trancamento prematuro da persecução penal é medida excepcional, admissível somente
quando emergem dos autos, de plano e sem necessidade de apreciação probatória, a falta de
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justa causa, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a inépcia formal da denúncia.


2. Na hipótese, a denúncia apresentou uma narrativa congruente dos fatos, de forma suficiente a
garantir o exercício do contraditório e da ampla defesa, e as instâncias de origem consignaram
concretamente haver prova da materialidade do crime e indícios razoáveis da autoria delitiva.
3. O pleito do recorrente, com fundamento na inexistência de justa causa, demandaria o exame
dos elementos informativos colhidos durante a realização do inquérito policial, o que é inviável na
via estreita da ação constitucional, dada a necessidade de dilação probatória.
4. A jurisprudência desta Corte Superior é firme em assinalar que a determinação de segregar o
réu deve efetivar-se apenas se indicada, em dados concretos dos autos, a materialidade do crime
e indícios de autoria (fumus comissi delicti) e a necessidade da cautela (periculum libertatis), à luz
do disposto no art. 312 do CPP.
5. O Juízo singular, ao decretar a custódia preventiva, indicou elementos que apontam para a
materialidade do crime e para os indícios de autoria, assim como demonstrou ser necessária a
prisão cautelar, com base na gravidade concreta de delito e na periculosidade do recorrente e dos
corréus, ambas extraídas do modus operandi empregado por todos os autores, intelectuais e
diretos - a vítima foi executada e teve seu corpo esquartejado - e do fato de todos os denunciados
possuírem fortíssimas ligações com o tráfico de drogas e com a facção criminosa denominada
'Comando Vermelho', havendo, portanto, elementos hábeis a justificar a segregação cautelar.
6. Recurso ordinário não provido" (RHC 53.272/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 18/10/2016, DJe 7/11/2016, grifou-se).
A propósito, o Supremo Tribunal Federal também já registrou esse mesmo entendimento:
"HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, FALSIDADE IDEOLÓGICA,
LAVAGEM DE DINHEIRO, CRIME CONTRA A ECONOMIA POPULAR, CARTEL E
EXPLORAÇÃO DO JOGO DO BICHO (ARTS. 288, PARÁGRAFO ÚNICO, E 299, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL; ART. 1º DA LEI N. 9.613/1998; ART. 2º, IX, DA LEI N. 1.521/1951; ART. 4º DA
LEI N. 8.137/1990 E ART. 58 DO DECRETO LEI N. 6.259/1944). TRANCAMENTO. DENÚNCIA.
INÉPCIA. NÃO OCORRÊNCIA. DESCRIÇÃO MÍNIMA DOS FATOS E DE SUAS
CIRCUNSTÂNCIAS.
INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE FLAGRANTE. ORDEM DENEGADA.
1. O trancamento da ação penal em habeas corpus é medida excepcional, a ser aplicada somente
quando constatada, de plano e manifestamente: i) a inépcia da denúncia; ii) a atipicidade da
conduta; iii) a ausência de indícios mínimos de autoria e materialidade delitivas; ou iv) a presença
de alguma causa extintiva da punibilidade.
2. Na espécie, a denúncia não se mostra inequivocamente inepta, uma vez que, embora não
tenha primado pela melhor técnica, descreveu minimamente os fatos imputados aos pacientes e
suas circunstâncias (art. 41, CPP), de modo a possibilitar a compreensão da acusação e,
consequentemente, o exercício da ampla defesa.
3. No tocante à correta tipificação das condutas imputadas aos pacientes, 'caberá ao juiz da causa
proceder ao exame dos elementos probatórios dos autos e, observado o princípio do contraditório,
conferir a definição jurídica adequada para os fatos narrados na denúncia. Antecipar-se ao
pronunciamento das instâncias ordinárias acerca da adequação legal do narrado na inicial
implicaria evidente distorção do modelo constitucional de competências' (HC n. 127.774/MS,
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Segunda Turma, Relator o Ministro Teori Zavascki, DJe de 1º/2/2016).


4. Ordem denegada" (HC 129.225/PA, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
30/8/2016, Dje 28/9/2016, grifou-se).
Quanto à alegada inépcia da denúncia, cumpre ressaltar que, para o seu oferecimento, exige-se
apenas a descrição da conduta delitiva e a existência de elementos probatórios mínimos que
corroborem a acusação. Provas conclusivas acerca da materialidade e da autoria do crime são
necessárias apenas para a formação de um eventual juízo condenatório. Embora não se admita a
instauração de processos temerários e levianos ou despidos de qualquer sustentáculo probatório,
nessa fase processual, deve ser privilegiado o princípio do in dubio pro societate. De igual modo,
não se pode admitir que o Julgador, em juízo de admissibilidade da acusação, termine por cercear
o jus accusationis do Estado, salvo se manifestamente demonstrada a carência de justa causa
para o exercício da ação penal.
Ainda, a alegação de inépcia da denúncia deve ser analisada de acordo com os requisitos
exigidos pelos arts. 41 do CPP e 5º, LV, da CF/1988. Portanto, a peça acusatória deve conter a
exposição do fato delituoso em toda a sua essência e com todas as suas circunstâncias, de
maneira a individualizar o quanto possível a conduta imputada, bem como sua tipificação, com
vistas a viabilizar a persecução penal e o exercício da ampla defesa e do contraditório pelo réu
(Nesse sentido: RHC 56.111/PA, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe
1º/10/2015; RHC 58.872/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, DJe 1º/10/2015;
RHC 28.236/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 1º/10/2015).
No caso em exame, deve ser reconhecida a inépcia no tocante ao delito previsto no art. 288,
parágrafo único, do Código Penal.
Isso porque, para caracterização do crime de associação criminosa, exige-se a demonstração do
elemento subjetivo específico do tipo, do intuito de "cometer crimes". Ademais, faz-se necessário
comprovar o caráter de durabilidade e estabilidade da associação, o que a distingue do concurso
de pessoas.
Nessa linha de pensamento, os seguintes precedentes:
"PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE ASSOCIAÇÃO
CRIMINOSA ARMADA. PRISÃO PREVENTIVA. RECURSO PREJUDICADO.
PACIENTE SOLTO PELO JUÍZO. NULIDADE DAS INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS.
INOCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA VERIFICADA.
ELEMENTOS OBJETIVO E SUBJETIVO ESPECIAL DO TIPO NÃO DELINEADOS NA PEÇA
ACUSATÓRIA. RECURSO EM HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA
EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO PARA TRANCAR A AÇÃO PENAL PELO CRIME DE
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA RELATIVAMENTE AO RECORRENTE.
1. Tendo sido revogada a prisão preventiva do recorrente e expedido o competente alvará de
soltura, encontra-se prejudicado o pedido de liberdade provisória feito no bojo do presente recurso
ordinário.
2. Não há falar em aplicação da teoria dos frutos da árvore envenenada (fruits of the poisonous
tree), se a interceptação telefônica do aparelho do corréu foi feita na mais estrita legalidade e, a
partir dela, foi possível colher indícios da participação de outras pessoas no ilícitos investigados e
determinada, também por meio de decisão judicial autorizada e por tempo suficiente para as
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investigações, a quebra do sigilo telefônico do recorrente. 3. Para caracterização do delito de


associação criminosa, indispensável a demonstração de estabilidade e permanência do grupo
formado por três ou mais pessoas, além do elemento subjetivo especial consistente no ajuste
prévio entre os membros com a finalidade específica de cometer crimes indeterminados. Ausentes
tais requisitos, restará configurado apenas o concurso eventual de agentes, e não o crime
autônomo do art. 288 do Código Penal.
4. O Ministério Público, ao descrever a conduta de associação criminosa armada imputada ao
recorrente, não se desincumbiu de demonstrar a vinculação sólida e durável do recorrente com
pelo menos outras 2 (duas) pessoas, com a finalidade de cometer crimes, limitando-se a citar duas
conversas telefônicas com um único corréu.
5. Dessa forma, revela-se deficiente a narrativa descrita na denúncia, inviabilizando o exercício da
ampla defesa.
6. Recurso em habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, parcialmente provido,
para reconhecer a inépcia da denúncia com relação ao recorrente, apenas no que concerne ao
crime de associação criminosa, sem prejuízo de oferecimento de nova inicial acusatória, desde
que observados os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal" (RHC 76.678/SP, Rel.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 16/5/2017, DJe
24/5/2017, grifou-se).
"PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA.
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA. ELEMENTOS OBJETIVO E SUBJETIVO
ESPECIAL DO TIPO. DESCRIÇÃO INSUFICIENTE. FALTA DE JUSTA CAUSA.
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS MÍNIMOS A REVELAR AUTORIA E MATERIALIDADE.
DEMONSTRAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA.
1. O trancamento da ação penal em sede de habeas corpus é medida excepcional, somente se
justificando se demonstrada, inequivocamente, a ausência de autoria ou materialidade, a
atipicidade da conduta, a absoluta falta de provas, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade
ou a violação dos requisitos legais exigidos para a exordial acusatória.
2. Para caracterização do delito de associação criminosa, indispensável a demonstração de
estabilidade e permanência do grupo formado por três ou mais pessoas, além do elemento
subjetivo especial consiste no ajuste prévio entre os membros com a finalidade específica de
cometer crimes indeterminados. Ausentes tais requisitos, restará configurado apenas o concurso
eventual de agentes, e não o crime autônomo do art. 288 do Código Penal.
3. Na hipótese vertente, o Ministério Público não logrou êxito em descrever suficientemente os
elementos objetivo e subjetivo do tipo penal, prejudicando o exercício da ampla defesa e do
contraditório.
Partindo da análise de um delito de roubo isoladamente considerado, concluiu, genericamente,
pela existência de associação criminosa, sem a devida elucidação de que o paciente integrasse
grupo criminoso estável e permanente, tampouco que estivesse imbuído do ânimo de se associar
com vistas à pratica conjunta de crimes indeterminados, tornando inepta a inicial.
4. Além disso, dos elementos de informação expressamente referenciados pela peça vestibular
(prova pré-constituída), não ressuma a existência de indícios mínimos de autoria e materialidade
aptos à deflagração da ação penal, pelo que deve ser reconhecida a ausência de justa causa.
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5. Ordem concedida para trancar a ação penal em relação ao paciente" (HC 374.515/MS, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 7/3/2017, DJe
14/3/2017, grifou-se).
No caso aqui analisado, a peça acusatória não descreve vínculo durável
entre os pacientes, ora denunciados, para o cometimento de
"crimes". Pelo contrário, a acusação, ao descrever a suposta prática do crime de
quadrilha, afirmou que "os quatro réus, Helga Seibel, José Ibrahim, Paulo Noveline e
Jocineide Barros, agiram, em conjunto e harmonicamente, cada um em sua
condição e atividade específica, respectivamente, de presidente proprietária,
procurador da presidência, contador geral e contadora responsável pela elaboração
das Diefs, com o anelo precípuo de ludibriar a fiscalização tributária, utilizando
manobra fraudulenta por meio de falsidade ideológica na apuração, na declaração e
no lançamento do ICMS devido pelo contribuinte infrator" (e-STJ, fl. 168).
Assim, conquanto tenha a denúncia narrado que "os quatro reuniram-se e
articularam o modus operandi criminoso para a prática do crime continuado contra a
ordem tributária [...]" (e-STJ, fls. 165), o Parquet olvidou-se de descrever o
vínculo estável e permanente entre os acusados para a prática de
crimes, fazendo "apenas inferências extraídas dos cargos e funções
que os acusados ocupam ou ocupavam na organização da
empresa", conforme consignado pelo magistrado singular em sua decisão de
rejeição da peça adicional, (e-STJ, fl. 251).
Sobre o tema, trago à colação os seguintes julgados desta Corte:
"HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO.
CRIME CONTRA A PAZ PÚBLICA. QUADRILHA ARMADA. ALEGAÇÃO DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PLEITO PELA REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA.
MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DA AUTORIA DELITIVA. INÉPCIA DA DENÚNCIA.
PEÇA GENÉRICA QUE NÃO NARRA SATISFATORIAMENTE A CONDUTA IMPUTADA AO
PACIENTE. INADMISSIBILIDADE. NECESSIDADE DE DESCRIÇÃO MÍNIMA DA RELAÇÃO DO
PACIENTE COM OS SUPOSTOS FATOS DELITUOSOS.
OFENSA AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. ORDEM NÃO CONHECIDA.
HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO.
1. A denúncia que descreve de forma genérica e que não narra satisfatoriamente quais seriam os
atos praticados pelo paciente nos preparativos para as ações delitivas implica a inobservância ao
art. 41, do Código de Processo Penal, pois impossibilita o exercício da ampla defesa e do
contraditório, impondo o trancamento do processo por inépcia da inicial.
2. Ordem concedida de ofício para pronunciar a deficiência formal da denúncia e determinar o
trancamento da Ação Penal n.º 2013.01.1.080169-4, em trâmite na 4ª Vara Criminal de Brasília,
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relativamente a Mario Lúcio Rodrigues Moreira, ressalvado, porém, o oferecimento de outra


denúncia.
3. Expeça-se alvará de soltura ao clausurado." (HC 278.101/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO,
QUINTA TURMA, DJe 12/2/2014).
"HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA.
WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. CONHECIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. VERIFICAÇÃO DE EVENTUAL COAÇÃO ILEGAL À LIBERDADE DE
LOCOMOÇÃO. VIABILIDADE. EXCESSO DE PRAZO PARA A FORMAÇÃO DA CULPA,
ATIPICIDADE DA CONDUTA, NULIDADE DA PROVA OBTIDA POR MEIO DE
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA, NULIDADE DE AUDIÊNCIAS DE OITIVA DAS
TESTEMUNHAS E PREJUDICIALIDADE DA AÇÃO PENAL. DEBATE DOS TEMAS PELO
TRIBUNAL LOCAL. AUSÊNCIA. EXAME POR ESTE SUPERIOR TRIBUNAL.
IMPOSSIBILIDADE. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INICIAL QUE DESCREVE SATISFATORIAMENTE A
CONDUTA DE CADA ACUSADO NA EMPREITADA CRIMINOSA RELATIVA AO CRIME DE
HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. POSSIBILIDADE DO DEVIDO EXERCÍCIO DO
CONTRADITÓRIO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
INEXISTÊNCIA. INÉPCIA VERIFICADA EM RELAÇÃO AO CRIME DE FORMAÇÃO DE
QUADRILHA. AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DO VÍNCULO ESTÁVEL E PERMANENTE.
COAÇÃO ILEGAL EVIDENCIADA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVA DA AUTORIA DO
CRIME. DENÚNCIA E PRISÃO CAUTELAR BASEADAS APENAS EM DEPOIMENTOS
EXTRAJUDICIAIS. PROVIDÊNCIAS QUE DEMANDAM A EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE
AUTORIA, OS QUAIS NÃO SÃO SUBMETIDOS AO CONTRADITÓRIO PRÉVIO.
PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO. MENÇÃO AO MODUS OPERANDI DA
ASSOCIAÇÃO. FRIEZA E PREMEDITAÇÃO. ELEMENTO CONCRETO E IDÔNEO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AUSÊNCIA.
[...] 6. Em relação ao crime de formação de quadrilha, vislumbra-se a inépcia da
inicial acusatória, uma vez que o membro do Parquet se limitou a imputar aos
acusados o crime previsto no art. 288 do Código Penal, sem descrever o
vínculo estável e permanente dos agentes para a prática de crimes.
[...] 10. Writ não conhecido. Ordem de habeas corpus concedida de ofício, apenas para trancar a
ação penal em relação ao crime de formação de quadrilha, sem prejuízo do devido aditamento,
sanando-se o vício apontado." (HC 260.608/PB, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, DJe 3/2/2014).
Registro, a propósito, o seguinte trecho do parecer ministerial:
"Não restou demonstrou, o Parquet, o caráter de estabilidade
e nem o sentido de continuidade capaz de diferenciar essa
atuação do 'mero concurso de agentes'.
Não há, na denúncia, a descrição de elementos fáticos
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indicativos de que essas pessoas tenham se reunido de


forma organizada com o fim específico de praticar crimes, o
que, diga-se, não pode ser presumido em razão, unicamente,
da 'condição e atividade específica' que cada um
ocupava/realizava na empresa.
Destarte, como entendeu o Juiz singular, não há elementos para o recebimento da
denúncia quanto ao delito em espécie." (e-STJ, fl. 406) Ante o exposto, não conheço
do habeas corpus. Não obstante, concedo a ordem, de ofício, para determinar o
trancamento parcial da Ação Penal n.º 0010926-49.2014.8.14.0401, apenas no
tocante ao crime de quadrilha, sem prejuízo de eventual oferecimento de nova inicial acusatória
em razão desse mesmo delito, desde que observados os requisitos do art. 41 do Código de
Processo Penal.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 02 de dezembro de 2019.MINISTRO RIBEIRO DANTAS Relator.”

Essa decisão, desditosamente, impediu que este 1.º PJCCOT


denunciasse qualquer outro réu por crime de associação criminosa
envolvendo a prática reiterada ou continuada de vários crimes fiscais, não
sendo raros os casos de ações penais em que o increpado pratica 12, 24,
36 ou mais delitos desse jaez, à proporção de um por mês.

Este Promotor de Justiça não concorda nem com o Parecer do MPF,


nem com a Decisão do STJ nupercitada, mas o que fazer diante da
COGÊNCIA dos precedentes e da jurisprudência superior imanentes ao
princípio da uniformização jurisprudencial elevado à regra jurídica ínsita no
art. 315, § 2.º, inc. VI, do CPP?!
Ora, se o STJ, seguindo Parecer do MPF, não identificou animus de
permanência nem de estabilidade na reunião de 4 réus para a prática de
50 crimes contra a ordem tributária, à proporção de 1 por mês, como seria
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possível identificar referido crime no caso concreto se a própria Denúncia


asseriu que se tratava de conduta criminosa única, dividida em vários atos
executórios dado os crimes licitatórios imputados serem entretecidos em
face de uma única compra com dispensa de licitação envolvendo 13
equipamentos (ou 20)?!
Ademais, importa, ainda, consignar que conquanto a Denúncia tenha
feito referência a várias outras vendas realizadas pela GM à Sesma (ver
notas fiscais enviadas pela Sefa anexadas ao Ofício 301/2020), esses
outros FATOS não foram imputados como criminosos na exordial,
portanto, foram excluídos do panorama fático reportado como delituoso.

II.4. QUANTO AOS DEMAIS CRIMES IMPUTADOS NA


DENÚNCIA:

A manifestação constante do tópico “I. DOS FATOS”, no momento, é


suficiente quanto aos delitos descritos nos artigos 89 e 90 da Lei
8.666/1993.

Aduz-se apenas que em relação ao crime de alteração de sistema ou


programa da Administração Pública que o fato tal qual imputado não se
subsume ao tipo do art. 313-B do CP, porque:

1.º) A alteração das 3 notas de empenho e do Portal de Transparência


feitas em 20/6/2020, por determinação do então Secretário de Saúde,
Sérgio Amorim, condiziam com a necessária retificação da realidade e

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veracidade dos preços unitários (R$65.000,00) e das quantidades de


equipamentos constantes das NFe 185, 186 e 187/2020, emitidas pela
GM, cujos DADOS deveriam ter constado, de forma idêntica, nas notas de
empenho erroneamente confeccionas e publicadas, seis dias antes, em
14/6/2020, nesse Portal, como se a compra houvesse sido de somente 3
ventiladores pulmonares, sem monitores multiparâmetros, pelo valor total
de R$740.624,00 (dados inverídicos inseridos por servidor sem essa
ordem), conquanto, na realidade constantes das NFs, esse valor total de
R$740.624,00 tangia à venda dos 13 equipamentos recebidos,
efetivamente, pela Sesma e, assim, descritos nessas NFs, concernindo a
10 ventiladores pulmonares e 3 monitores multiparâmetros;

2.º) Como os dados da “alteração” (leia-se retificação) imputada na


Denúncia não eram FALSOS, e sim verdadeiros, tendo a Sesma até
recebido os equipamentos da GM referidos nas NFes por esta emitidas,
não foi possível a imputação do crime descrito no art. 313-A (inserção
de dados falsos);

3.º) Ora, se os dados fossem falsos, as notas de empenho, depois de


retificadas em 20/6/2020, também, teriam sido fato típico de crime de
falsidade ideológica de documento público, o qual não fora imputado na
Denúncia em coerência com a imputação do art. 313-B, isso porque não
era possível enquadrar o fato no art. 313-A, uma vez que se tratava de
dado verdadeiro, e não FALSO;

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4.º) Todavia, o fato imputado sequer se subsume no tipo penal


descrito no art. 313-B, pois este se refere à conduta de modificar ou
alterar sistema de informações ou programas de informática. Ora, a
alteração, in casu, fora de “dados” inseridos no sistema do Portal de
Transparência com o anelo de corrigi-los de acordo com a verdade e a
realidade dos fatos (aparelhos como objetos da compra e venda) e
das NFs emitidas pela GM, alteração de “dados” nada tem que ver com a
alteração de “sistemas”.

5.º) Itera-se que alterar ou modificar dados não equivale à alterar um


sistema ou programa de informática. “Sistema” e “programa de
informática” são elementares normativas distintas entre si como bastante
diversas do que vêm a ser “dados”.

6.º) Um sistema pode conter vários dados, ele é alimentado por dados,
como no caso do sistema do Portal de Transparência, mas se o dado por
emendado, aditado, retificado, apenas ele mudará, sem que o sistema
tenha sido alterado.

7.º) A alteração de “dado” do sistema só configura crime se o dado


alterado ou modificado for FALSO, tanto que a tipicidade dessa alteração é
descrita no tipo penal do art. 313-A, distinta da conduta do art. 313-B, no
qual o réu Sérgio Amorim fora, data maxima venia, equivocadamente,
enquadrado.

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8.º) A alteração desses dados, além de não ser falsa, foi favônia à
Administração Pública, pois ao manter o mesmo valor total de compra
(R$740.624,00), acrescentando 10 equipamentos à publicação original de
somente 3 ventiladores, reduziu o preço unitário destes de R$260.000,00
para R$65.000,00.

9.º) Importa, ainda, registrar que os 13 equipamentos já haviam sido, de


fato, recebidos e até instalados pela Sesma antes mesmo das notas de
empenho terem sido confeccionadas erroneamente e, assim, publicadas
em 14/6/2020, então, além de a retificação ter sido com base na verdade
das 3 NFes emitidas pela GM, foram com alaque nas notas de entrega dos
aparelhos, efetivamente, recebidos pela Sesma, tanto que a própria
Denúncia enfatiza que o n.º de equipamentos fora até maior do que o
constante nessas NFes, pois para 7 outros monitores multiparâmetros não
teria havido sequer emissão e nota fiscal. Tratando-se, todavia, de outra
venda não imputada na Exordial como crime de alteração de sistema (art.
313-B do CP), e sim como crime fiscal.

10.º) Enfim, não houve alteração do sistema do Portal de Transparência, e


sim de um dado cadastrado, erroneamente, nesse sistema, mas para
retificá-lo conforme a realidade e a verdade documental (NFes e notas de
entrega) e fática, tratando-se de condutas e fatos completamente diversos.
Aliás, a retificação em testilha é amparada pelo poder de que dispõe a
Administração Pública de rever e corrigir seus próprios atos administrativos
em observância, justamente, aos princípios da publicidade e da
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transparência que regem as publicações das notas de empenho no Portal


em lume.

III. DO PLEITO MINISTERIAL:

Poto isso, o 1.º PJCCOT sotopostamente chancelado, requesta, a


V.Ex.ª, que:

1.º) Declare nulo de pleno tanto o despacho de recebimento da Denúncia


quanto todos os atos processuais subsequentes;

2.º) Devolva o Inquérito Policial à Autoridade Policial para que


diligencie:

2.1) No sentido de comprovar a materialidade dos delitos fiscais (venda


de 7 monitores multiparâmetros da marca Mindray da GM para a Sesma,
como a falta de notas fiscais de entrada de todos os equipamentos na GM
para as quais sua titular Genny Yamada emitiu notas fiscais de saída com
destino à Sesma (ver Ofício 301/2020 da Sefa [ID 64177133 - Pág. 2];
assim como a venda de equipamentos pela MACEDO HOSPITALAR para
a GM sem a emissão de notas fiscais em 2019 e 2020);

2.2) Mediante provocação da DFI/Sefa para que proceda a auditorias


fazendárias nos dois contribuintes susocitados (GM Comércio e
Representação Eireli e MACEDO HOSPITALAR COMÉRCIO
REPRESENTAÇÃO IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO DE
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EQUIPAMENTOS HOSPITALARES LTDA), mormente quanto aos


exercícios de 2019 e 2020, e, em sendo algum deles autuado, que junte
o(s) respectivo(s) Ainfs ainda que não haja lançamento definitivo pelo
fato de a SV 24 ser inaplicável aos crimes formais contra a ordem
tributária (art. 1.º, inc. V, da Lei 8.137/1990);

2.3) Para a juntada das fotografias dos aparelhos mencionadas no


depoimento de (ID 64177262 - Pág. 1) da testemunha UBIRATAN
FIGUEIREDO DA SILVA, Assistente Administrativo da Sesma,
concernindo aos aparelhos da marca Mindray destinados à UPA da
Marambaia e ao Hospital Maradei;

2.4) Para FOTOGRAFAR, in loco, todos os VENTILADORES


PULMONARES E MONITORES MULTIPARÂMETROS da marca
MINDRAY, vendidos pela GM à Sesma, em 2019 e 2020, comprovando a
EXISTÊNCIA DELES, bem como n.os de série, notas fiscais, notas de
empenho, n.os das placas de tombamento, local e estado atual em que
se encontram, bem como o que mais houver tangente a esses mesmos
aparelhos, considerando a suposta duplicidade de termos de entrega, a
divergência de datas desses documentos e dos n.os de séries neles
constantes, especialmente, dos 10 ventiladores pulmonares e dos 3
monitores multiparâmetros (podendo ser até 10 deles) comprados pela
Sesma em 2020 da GM, todos da marca MINDRAY, informados nas
NFes 185, 186 e 187/2020.

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2.5) Para juntar prova de que o valor integral da compra de R$740.624,00


fora pago (ou não) pela Sesma, uma vez que, a partir do ID 64177486,
constam somente duas TEDs, pela CEF, efetuadas pelo Município de
Belém em favor da GM, nos valores de R$260.000,00, em 6/5/2020,
referente à NFe 186/2020 e outra de 220 mil reais, em 14/5/2020 (data
da 1.ª publicação no Portal das notas de empenho), referindo-se à NFe
187/2020, ou seja, não se localizou, todavia, o 3.º pagamento de
R$260.000,00, concernente a 4 ventiladores pulmonares espelhados na
NFe 185/2020.

3.º) Remeta deuterose dos Autos do IP, incluindo uma cópia do inteiro teor
desta requesta ministerial, com a ressalva de obrigatoriedade de se manter
o sigilo dos dados quebrados por ordem judicial, à DFI da Sefa para
conhecimento e ulteriores de direito.
Aguarda receber mercê.
Belém, 15 de agosto de 2023.

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