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e não mais comparece á presença do juiz. O laudo será apreciado sucessivamente pelo
autor e pelo réu, em seus arrazoados, e, finalmente, muito tempo depois, servirá de
elemento. de convicção para a sentença, a ser proferida possivelmente por outro juiz.
Em tais condições - como poderá atuar com eficác.ia o princíp'o da imediação?
b) - "O princípio da identidade da pes!>Ôa física do juiz de!::de o início
da causa até o julgamento tambêm já existe pressuposto, dada a inamovi
bilidade, .e as causas de quebra d;) tal princípio, como férias, licenças, trans
ferências, promoções, disponibili dade, molé!::t:a ou morte, ocorrências ex
traordinárias que afastam o juiz, o processo oral não as remove".
Ainda aqui não me parece que assista razão á crítica. A inamovibilidade - que
representa uma. garantia para o ju:z, e, "por isso mesmo, uma condição da sua. inde
pendência, - nada tem a ver com o princípio da identidade da pessôa física do jul-
·g.:idor em uma determinada demanda.
Além disso se a causa, no processo oral, é instruída, discutida e julgada em uma
,cu em poucas audiências próxirnas - é eviaente que será mais fácil conseguir a dese-
jélda identidade da pessôa do juiz. Cumpr e, aliás, não esquecer que essa permanên-
(2) CHIOVENDA - "L'Oralità e la prova" in "Riv. Dir. Proc. Civ.", 1924, 1, pág. 3. , , 1.
eia do ju'z no correr de toda a demanda nfr apresenta utilidade senão corrb'nada com
a imediatação e a conce11tr,i1ção, - ou me'.hor, é um pressuposto da imediação e uma
consequência da concsntração. O process:i escrito muito lo�icamente r.ão a ex'ge 1
porque todo o material é recolhido por es:rito aos autos exatamente para que qual
quer juiz possa proferir o julgamento.
c) - Há ainda um argumento, invoc3do no relatório, que merece mzis cu:dado
so exame: - é o que consta do seguinte trecho:
"Acresce que a suposta vant.1gem dêste princípio (da imediação) desa�
parece na segunda instancia, onde o:, Juizes ju'.gam sem ihes ter sido possí
vel tal aproximação".
Já aqui, o culto relator não afirma qu 3 o princípio da imediação seja compatível
com o processo escrito: -- vai além, e nega qualqugr vantagem a êsse princípio, por
que em segunda instância não pode êle ter plena aplicação.
Ora, a adotarmos êste argumento, chegaremos á conclusão de que é absurdo o
princípio do duplo gráu de jurisdicão. Com efeito, se tanto o juiz de primeira instan
cia como o tribunal superior dispõem do; mesmos elementos para proferir a senten
ça (no processo e�crito), e se é certo que o. tribunal de segunda instânc'a, compo:to
de juizes mais prát'cos, oferece maiore::; p robabilidades de um bom julgamento, -
por que não fazê-lo julgar desde logo a de manda? Para que perder tempo com dois
julgamentos sucessivos sôbre o mesmo ma�-orial armazenado nos autos?
A experiência, porêm, tem demonstra ::lo que a vantagem do dup�o gráu reside no
fato de poder contar o tr;bunal sup�rior com ma:s um elemento, um quid, de que não
dispunha o juiz apelado - elemento êste que consiste exatament:i no primeiro exa
me, nó julgamento feito pelo juiz de prim 1ira instância, que já terá suprido a inicia
tiva porventura deficiente das partes, orde nando as necessárias diligências. Há como
m
que uma decantação, uma filtrag 0 do mater:al armazenado, tanto de fato como de
d;reito, de forma a serem aproveitados ape.1él3 os elementos úteis ao conhecimento da
causa.
·
Ora, si assim é, essa primeira aprec·ação da causa; quando feita pelo juiz que a
dirigiu e observou pessoalmente, constituirá um subsídio muito ma's útil ao julgamen
to de segunda instância do que o pronun:'amento do juiz no proc:eséo escrito.
Em resumo: - a é>xperiência nos demonstra que a imediação do juiz de primei�
ra instância é elemento utilíssimo ao julgamento de segunda instância.
d) - Quanto ao princípio essencial da concentração do processo, parece-me evi
dente que dificilmente se acomodará ao processo escrito.
Cumpre, aliá3, ãdvertir q1.,1e êste princípio não tende apenas "a reduzir prazos E;l
tramites" , como se afirma no re!atório.
Si reduzirmos da metade os diversos prazos da nossa atual ação ordinária, não te
remos com isso obtido a concentração do processo. E:::ta só se conseguirá median
te o desenvolvimento ca instrução e da di .:;cussão em uma mesma audiência, ou em
mais aud:ências próximas.
e) - "O princípio. da ingerência e atuação do Jui!!: na lide, de mod,J
que seja êle quem a impulsione, e não as part2s, - lê-se no relatório - evi
dentemente não é incompatível com o proce:,so escrito, estando todo o pro
blema na justa med:da de tal in :;erência".
Estou de acôrdo com o eminente Sr. Relator, quando ob:,erva, com a sua argúcia
habitual, que o problema consiste na jusf3 medida, na dosagem sábia e adequada dos
chamados princípios di.�positivo e inquisil'ório: -, o primeiro, que reconhece a ne
cessária injciat:va das partes, e o segundo, que atribue ao juiz poderes para dirigir
essa iniciativa e rnprir as suas possíveis deficiências. Nem se conhece nenhuma le
gislação em que o princípio inquisitório exciua absolutamente o princípio dispositivo,
ou vice-verEa,
Por isso mesmo que a questão é d e med'da, de dosagem - nenrum oralista
afirma que um incr�mento considerável dos poderes do juiz na direção c!a causa se-
j"a uma condição necessana do processo or3l. Bastaria recordar o procesrn a'�mão an
teri'or a 1924, que representava um tipo oposto ao processo austríaco, exatamente em
virtude da pequena ingerência que naque!e t'.nha.o Juiz para a propulsão da causa.
O que se afirma é que êsse aument) dos poderes do juiz não pode ser úti_l no
i::;rocesso e:;;_crito, porque exige a imediação e a concentração para produzir os seus es-
perados resultados.
Vem a-pêlo recordar aqui um P.xemolo significativo. Quando foi promulgada
a reforma do processo alemão em 1924, c·1jo intuito foi reforçar o princípio da con
centração e incrementar os poderes do jui :!: na propulsão e direção da causa, si bem
que com sér:as restrições ao princípio d 3 oralidade pura (3), os juristas austríacos
teceram irrestritos aplausos á inovação, qu 1 consideraram como um passo decisivo do
processo germânico para o processo oral austríaco e o reconhecimento das vantagens
dêste . A razão dêstes aplausos, observa argutamente CALAMANDREI, é a seguinte:
- segundo a experiênc:a dos juristas austríacos, as disposições mais características
e mais louváveis do processo oral criado por KLEIN são as que tendem a concentrar o
procedimento e a conceder ao juiz os necessários poderes para impedir as manobras
di :atórias das partes e de seus advogados. Entre as várias faces que apresenta êsse
r:·o!iédrico sistema proçessual que só por brevidade de expressão se costuma denomi
na.r ora'.idade, dão os austríacos importância capital ao lado da concentração. (4)
Problema diferente, porém, é o da livre ap1•eciação .da prova por parte· do juiz,
em oposição ao sistema de prova legal.
A imediação, isto é, a observação dire �a por parte do juiz, o seu contacto com as
pessôas e as coisas que lhe irão fornecer os elementos para a sua convicção, é elemen
to absolutamente indispensável ao sist_ema chamado da livre apreciação da prova -
o que não quer dizer livre convicção do juiz por ciência própria.
f) -- Quanto ao princípio da irrecorr:bilidade das decisões interlocutórias, afir- ·
ma o relatório não ser êle também incom "J2tível com o processo escrito.
Ora, mais uma vez. a questão não é d e! incompatib:lidade. Cada um dêsses ex
pedientes técnicos, usados pelo legisladqr, tem uma finalidade, um escôpc a atingir.
O escôpo dêste princípio é tornar po,síve I a concentração, como o e,scôpo da concen
tração não é apenas abreviar o curso da de nanda. mas poss:bilitar a imediação, de for
ma a se conseguir a instrução e o debate d J cauõa em audiência, sob as vistas e a
orientação de um juiz investido dos neces ·,firios poderes: - em poucas palavras, jus�
tiça mais ráp'da e principalmente niais segL!ra.
Si não se tem em mira conseguir a cc,ncentração, melhor será permitir o recur
so suspensivo das dec'sões interlocutórias, pois que a proibição dêsse recurso não é em
si mesma uma vantagem,' mas apenas um meio, um expediente necessário ao pro
cesso oral. ( 5) .
(3) V. o nosso ensáio "O Processo Oral e o prccesso Escrito", in "REVISTA FORENSE", vol. LXXIV,
página 161.
(4) CALAMANDREI - "L'Opera di FRANCESCO KLEIN e il Processo Civil Austríaco" -
ih "Riv. di Dir. Proc. Civ.", 1925, 1, pág. 81.
(5) CHIOVENDA - "L'Oralità e la Prova" - "Riv. cit., pág. 9.
(6) EMILIO BETTI - "Dir. Proc. Civ. ltaJ. ·' , -- li ed. pág. 240.
Para terminar esta já longa e fastidio:a palestra, seja-me lícito narrar ao Insti
tuto uma insôssa historieta, inspirada na conhecida imagem de CARNELUTT.1, que, a
uma carruagem e a um automóvel, compara respectivamente o processo escrito e o
processo oral.
Imaginemos um diálogo entre dois condutores dêsses simbólicos veículos: o co
cheiro e o "chauffeur". O primeiro, conservador, cioso da tradição oue o seu velho
côche representa e temendo os perigos das rápidas viagens, nega todas as vantagens
do automóvel, ou afirma que r.enhuma dess2s vantagens é incompéitível com a car
ruagem.
Ante a observação feita pelo "chauffeur", de que o automóvel desliza ·sôbre ma
cios pneus, possue amortecedores a óleo, f r&ios h:dráulicos, buzina elétrica, etc., re
truca placidamente o cocheiro que todos ês::;e,s melhoramentos podem perfeitamente
ser adaptados á sua carruagem.
O "chauffeur", já impaciente, objeta que o aut.omóvel é movimentado por um
possante e veloz motor á gasolina, e não puxado por cavalos. Mas o teimoso cochei
ro não se dá por vencido. e insiste:
- E' exatamente nêste ponto que res:dc a vantagem da carru2gem, pois que o
motor não só pode engu'çar, como tambem ncarreta grandes despesas de gasolina - e
a!êm disso - conclue êle - nada impede m.:e eu adapte o motor .'i gasolina á minha
curuagem... não vejo nisso nenhuma in compat:bi:idade!. ..
Eu sinceramente não sei si êsses argu;:1entos do velho cocheiro serão defensáveis
perante a bôa lógica. O que, porêm, com s o"gurança afirmo é que, depois de tudo isso,
si continuarmo:; a viajar de carruagem, a :i em vez de andarmos de automóvel, es
taremos positivamente errados!