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CASO PRÁTICO 5

Em virtude de, súbita e inesperadamente, ter surgido uma avaria mecânica no seu automóvel, A atropela B,
causando-lhe ferimentos. Por tal facto, A é condenado a pagar à vítima a quantia de € 5.000,00. Quid iuris?
Neste caso, é necessário averiguar se é aplicado o princípio casum sentit dominus, ou seja, quem sofre o dano deve arcar
com ele, ou se é possível aplicar o instituto da responsabilidade civil, isto é, quando é possível transportar o dano do lesado
para o lesante. Mais concretamente, transferir o dano de B para A.
Para se puder deslocar a responsabilidade do lesado (B) para o lesante (A) é necessário verificar se são cumpridos
cumulativamente os 5 pressupostos, sendo que a responsabilidade extracontratual se encontra prevista nos artigos 483 e
seguintes. Esta responsabilidade consiste na violação de direitos absolutos ou de interesses legalmente protegidos. Divide-se
em responsabilidade extracontratual por factos ilícitos, pelo risco ou lícitos. Neste caso, aplica-se a responsabilidade pelo risco
(artigos 483 nº 2 e 503).
A responsabilidade civil extracontratual pelo risco existe para proteger que pratique atividades consideradas socialmente
úteis, mas que acarretam riscos que dever ser acautelados, regendo-se pelo princípio ubi commoda ibi incommoda, ou seja, que
retira as vantagens arca com as desvantagens. Esta modalidade da responsabilidade contratual não implica a existência de
culpa e, por isso, aplica-se o artigo 483 nº 2, passando a não ser um dos pressupostos exigidos para indemnizar.
Começando pelo primeiro pressuposto, o facto voluntário, é um comportamento controlável pela vontade humana. Os
factos podem ser por ação (viola um dever de abstenção) ou por omissão (quando existe um dever jurídico de praticar o ato
omitido) presente no artigo 486. Este pressuposto inclui os factos pretendidos e os não pretendidos, mas exclui os factos
involuntários/naturais. No caso concreto, o facto voluntário é o A atropelar B, ainda que essa conduta não tenha sido
pretendida.
O segundo pressuposto é ilicitude. Este elemento é um juízo de censura, de um ponto de vista objetivo, sobre o próprio
facto voluntário, uma vez que este facto consiste na violação de direitos absolutos com eficácia erga omnes (artigo 483 nº 1, 1ª
parte). No caso concreto, este pressuposto está dispensado devido à atividade praticada se inserir nas categorias de risco
enunciadas pelo legislador (artigo 483 nº 2).
O terceiro critério, a culpa, é um juízo de censura do ponto de vista subjetivo sobre o próprio sujeito, uma vez que podia
ou devia ter agido de uma outra maneira. Para aferir a imputabilidade, o lesante tem de se enquadrar nos critérios estabelecidos
pelo artigo 488. Posteriormente, é necessário averiguar se o facto foi praticado com dolo ou mera negligência. Os
comportamentos de um sujeito são analisados perante o critério do bom pai de família, ou seja, consiste em perceber se
colocando qualquer outra pessoa na posição do lesante, se essa pessoa teria a mesma atitude e se não foi praticada por descuido
(artigo 487 nº 2). O ónus de prova cabe ao lesado introduzir segundo artigo 487 nº 1. No caso concreto, dispensa-se o
preenchimento deste pressuposto pelo artigo 503 nº 1, por força do artigo 487 nº 2.
Em penúltimo temos o dano. O dano consiste nos prejuízos sofridos pelo lesado em face da conduta adotada ou omitida
pelo lesante, sendo que podem ser não patrimoniais, não sendo suscetíveis de avaliação pecuniária (artigo 496 nº 1) ou
patrimoniais, que são suscetíveis dessa mesma avaliação (artigo 564). Estes últimos subdividem-se em emergentes (prejuízos
sofridos diretamente pelo lesado) e lucros cessantes (direito e bens que o lesado deixa de obter em virtude do dano sofrido, isto
é, deixam de entrar na sua esfera jurídica determinados benefícios que teriam entrado se o dano não fosse sofrido). Neste caso
em específico, B pedira ter sofrido danos patrimoniais, nomeadamente dano estético, trauma e dor, danos patrimoniais
emergentes, sendo eles, a conta do hospital, táxi, medicação e lucros cessantes, na medida em que a baixa não comparticipa
totalmente o ordenado e as quantias a título laboral que não adquiriu (artigo 564).
Por fim, temos o nexo de causalidade. Este pressuposto encontra-se expresso no artigo 563. Para sabermos se existe
relação entre o facto e o dano tem de se verificar a teoria da causalidade, ou seja, há a necessidade de a conduta se mostrar, à
face da experiência comum, de acordo com as circunstâncias normais/decurso normal das coisas, como idónea à produção do
dano. Para além disto, o facto tem de ser causa adequada do dano e tem de o ter causado, não só em concreto, como também
em abstrato. Em relação à situação, verifica-se porque houve avaria mecânica, deixando de ter controlo no do carro e atropelou
uma pessoa em consequência.
Com os pressupostos preenchidos é possível deslocar a responsabilidade do lesado para o lesante, uma vez que as avarias
mecânicas são riscos próprios da atividade de condição e, uma vez que A tira as vantagens inerentes ao uso do veículo, também
deve arcar com as desvantagens associadas ao seu uso, de acordo com o princípio ubi commoda ibi incommoda. Caberá a A
indemnizar B pelos danos que ele sofreu. Assim sendo, estamos perante uma exceção ao princípio casum sentit dominus.
Visto que os pressupostos necessários para a responsabilidade civil pelo risco se encontram todos preenchidos, existe
indemnização.
A indemnização (artigo 562), sempre que possível, deve ser por reconstituição natural, isto é, repor a situação que existiria
se não se tivesse verificado o facto, as consequências e o dano (artigo 566) e, só se isto não for possível, recorrer a uma
indemnização por pagamento (artigo 564 e 566 nº 1). No caso concreto, a reconstituição natural não seria possível se ele fosse
recente, realizando-se então por equivalente pecuniário. É ainda necessário realçar que, pelo artigo 498 nº 1, há a possibilidade
de prescrição da indemnização e que, pelo artigo 498 nº 3, há a possibilidade de alargamento do prazo devido a
responsabilidade criminal. No caso concreto, não se aplica porque exclui-se a culpa.
Concluindo, A vai poder ser responsabilizado e, por esta via vai suportar os danos que causou a B e assim inverter-se a
regra do casum sentit dominus, segundo a qual o lesado deve arcar com os danos que sofreu por causa do risco geral da vida.
Está assim constatada a responsabilidade extracontratual na situação de A e de B, podendo ser aplicado o artigo 483 e, em
consequência, aplicar a responsabilidade, deslocando o dano da esfera do lesado para a esfera do lesante.

C embate intencionalmente contra o automóvel de D. Por tal facto, é condenado em Tribunal a uma pena suspensa
de prisão de três meses e a pagar a D o montante de €2.500,00 pelos prejuízos que este sofreu. Quid iuris?
Em geral, aplica-se sempre o casum sentit dominus, ou seja, o lesado arca com as consequências do dano que sofrer,
exceto se for possível aplicar o instituto da responsabilidade civil se for possível transportar o dano do lesado para o lesante.
Mais concretamente, o D sofre o dano (lesado), porque o c embate intencionalmente contra o seu automóvel (lesante).
Para se puder deslocar a responsabilidade do lesado (D) para o lesante (C) é necessário verificar se são cumpridos
cumulativamente os 5 pressupostos, sendo que a responsabilidade extracontratual se encontra prevista nos artigos 483 e
seguintes. Esta responsabilidade consiste na violação de direitos absolutos ou de interesses legalmente protegidos, com eficácia
erga omnes, mais especificamente o direito de propriedade previsto entre os artigos 1302 e 1305 do Código Civil (CC).
Divide-se em responsabilidade extracontratual por factos ilícitos, pelo risco ou lícitos. Neste caso, aplica-se o facto ilícito
(artigos 483 a 498) e poderá ainda ser aplicada responsabilidade penal, uma vez que foi intencional.
Começando pelo primeiro pressuposto, o facto voluntário, é um comportamento controlável pela vontade humana. Os
factos podem ser por ação (viola um dever de abstenção) ou por omissão (quando existe um dever jurídico de praticar o ato
omitido) presente no artigo 486. Este pressuposto inclui os factos pretendidos e os não pretendidos, mas exclui os factos
involuntários/naturais. No caso concreto, o facto voluntário é o C embater intencionalmente contra o automóvel de D, sendo
um ato perfeitamente controlável por C.
O segundo pressuposto é ilicitude. Este elemento é um juízo de censura, de um ponto de vista objetivo, sobre o próprio
facto voluntário, uma vez que este facto consiste na violação de direitos absolutos com eficácia erga omnes (artigo 483 nº 1, 1ª
parte). No caso concreto, consiste na violação do direito absoluto de D, o direito à propriedade presente nos artigos 1302 a
1305 do CC.
O terceiro critério, a culpa, é um juízo de censura do ponto de vista subjetivo sobre o próprio sujeito, uma vez que podia
ou devia ter agido de uma outra maneira. Para aferir a imputabilidade, o lesante tem de se enquadrar nos critérios estabelecidos
pelo artigo 488. Posteriormente, é necessário averiguar se o facto foi praticado com dolo ou mera negligência. Os
comportamentos de um sujeito são analisados perante o critério do bom pai de família, ou seja, consiste em perceber se
colocando qualquer outra pessoa na posição do lesante, se essa pessoa teria a mesma atitude e se não foi praticada por descuido
(artigo 487 nº 2). O ónus de prova cabe ao lesado introduzir segundo artigo 487 nº 1. No caso concreto, C agiu com dolo
porque embateu intencionalmente contra o veículo de D, a imputabilidade presume-se, pois não é dito nada em contrário no
enunciado.
Em penúltimo temos o dano. O dano consiste nos prejuízos sofridos pelo lesado em face da conduta adotada ou omitida
pelo lesante, sendo que podem ser não patrimoniais, não sendo suscetíveis de avaliação pecuniária (artigo 496 nº 1) ou
patrimoniais, que são suscetíveis dessa mesma avaliação (artigo 564). Estes últimos subdividem-se em emergentes (prejuízos
sofridos diretamente pelo lesado) e lucros cessantes (direito e bens que o lesado deixa de obter em virtude do dano sofrido, isto
é, deixam de entrar na sua esfera jurídica determinados benefícios que teriam entrado se o dano não fosse sofrido). Neste caso
em específico, existem danos patrimoniais emergentes, a reparação do automóvel e danos não patrimoniais, a ansiedade e o
choque (artigo 496).
Por fim, temos o nexo de causalidade. Este pressuposto encontra-se expresso no artigo 563. Para sabermos se existe
relação entre o facto e o dano tem de se verificar a teoria da causalidade, ou seja, há a necessidade de a conduta se mostrar, à
face da experiência comum, de acordo com as circunstâncias normais/decurso normal das coisas, como idónea à produção do
dano. Para além disto, o facto tem de ser causa adequada do dano e tem de o ter causado, não só em concreto, como também
em abstrato. Em relação à situação, verifica-se porque embater intencionalmente no veículo é uma violação do direito de
propriedade do lesado.
Com os pressupostos preenchidos é possível deslocar a responsabilidade do lesado para o lesante, uma vez que as avarias
mecânicas são riscos próprios da atividade de condição e, uma vez que A tira as vantagens inerentes ao uso do veículo, também
deve arcar com as desvantagens associadas ao seu uso, de acordo com o princípio ubi commoda ibi incommoda. Caberá a A
indemnizar B pelos danos que ele sofreu. Assim sendo, estamos perante uma exceção ao princípio casum sentit dominus.
A indemnização (artigo 562), sempre que possível, deve ser por reconstituição natural, isto é, repor a situação que existiria
se não se tivesse verificado o facto, as consequências e o dano (artigo 566) e, só se isto não for possível, recorrer a uma
indemnização por pagamento (artigo 564 e 566 nº 1). No caso concreto, a reconstituição natural não seria possível se ele fosse
recente, realizando-se então por equivalente pecuniário. É ainda necessário realçar que, pelo artigo 498 nº 1, há a possibilidade
de prescrição da indemnização e que, pelo artigo 498 nº 3, há a possibilidade de alargamento do prazo devido a
responsabilidade criminal. No caso concreto, aplica-se a reconstituição natural para a reparação do veículo e a indemnização
pelos danos não patrimoniais sofridos. Poderá ser amentando o prazo da prescrição se for utilizado o artigo 498 nº 3 no caso
em concreto, uma vez que foi praticado um ato intencional com dolo.
Por fim, existe ainda a possibilidade de ser responsabilizado pelo crime de dano previsto no artigo 212 com pena de prisão
por 3 anos ou pena de multa, com uma prescrição de 5 anos segundo o artigo 118.
Concluindo, C vai poder ser responsabilizado e, por esta via vai suportar os danos que causou a D e assim inverter-se a
regra do casum sentit dominus, segundo a qual o lesado deve arcar com os danos que sofreu por causa do risco geral da vida.
Está assim constatada a responsabilidade extracontratual na situação de C e de D, podendo ser aplicado o artigo 483 e, em
consequência, aplicar a responsabilidade, deslocando o dano da esfera do lesado para a esfera do lesante.

Vanessa comprou a Miguel 100 rosas para enfeitar a igreja do Bom Jesus no dia do seu casamento, tendo ficado
acordado que as flores seriam entregues algumas horas antes da cerimónia. Como Miguel não compareceu na hora
combinada, Vanessa telefonou-lhe, acabando aquele por lhe confessar que se tinha esquecido da sua encomenda.
Vanessa contactou a florista Bé que lhe vende e entrega as flores a tempo de enfeitar a igreja, cobrando-lhe, contudo, o
dobro do valor que Vanessa tinha combinado com Miguel, justificando o preço com a urgência do pedido. Vanessa quer
recuperar o prejuízo que sofreu em virtude do esquecimento de Miguel. Quid iuris?
Em geral, aplica-se sempre o casum sentit dominus, ou seja, o lesado arca com as consequências do dano que sofrer,
exceto se for possível aplicar o instituto da responsabilidade civil se for possível transportar o dano do lesado para o lesante.
Mais concretamente, a Vanessa sofre o dano (lesado), porque o Miguel não compareceu na hora combinada, acabando por não
entregar as flores (lesante).
Para se puder deslocar a responsabilidade do lesado (Vanessa) para o lesante (Miguel) é necessário verificar se são
cumpridos cumulativamente os 5 pressupostos, sendo que a responsabilidade contratual se encontra prevista nos artigos 798 e
seguintes. Esta responsabilidade baseia-se na autonomia privada e, por isso fundamenta-se na vontade das partes, ao contrário
da responsabilidade extracontratual cujo fundamento é a lei. Consiste na violação de direitos ou deveres contratuais relativos,
com eficácia inter partes, isto é, só vinculam as partes da relação contratual, uma vez que preveem uma relação jurídica prévia.
Esta responsabilidade assenta no princípio do pacto sunt servante (artigo 406 nº 1) e no princípio da boa-fé contratual (artigo
762 nº 2) porque as partes se vinculam por sua própria vontade a determinadas obrigações e por isso a lei exige que as partes
cumpram o contrato com boa-fé, presentes nos artigos 798 e seguintes do CC e ainda o artigo 397. Concretamente, as partes
celebraram um contrato de compra e venda (artigo 874 e seguintes), segundo o qual se transmite a propriedade de uma coisa
perante o pagamento de uma cosia. Os efeitos essenciais do contrato de compra e venda estão presentes no artigo 879.
Começando pelo primeiro pressuposto, o facto voluntário, é um comportamento controlável pela vontade humana. Os
factos podem ser por ação (viola um dever de abstenção) ou por omissão (quando existe um dever jurídico de praticar o ato
omitido) presente no artigo 798. Este pressuposto inclui os factos pretendidos e os não pretendidos, mas exclui os factos
involuntários/naturais. No caso concreto, o facto voluntário é o Miguel não entregar as flores que prometeu na data
estabelecida com a Vanessa. É uma omissão juridicamente relevante porque faltou culposamente ao cumprimento de uma
obrigação e, por isso, torna-se responsável pelo prejuízo que daí advém.
O segundo pressuposto é ilicitude. Este elemento é um juízo de censura, de um ponto de vista objetivo, sobre o próprio
facto voluntário, uma vez que este facto consiste na violação de direitos relativos com eficácia inter partes (artigo762), os
quais se devem processar de acordo com o princípio geral da boa-fé presente no artigo 762 nº 2. No caso concreto, consiste na
violação do direito relativo da Vanessa, ou seja, entregar as flores como tinha sido contratualizado. Este é um dever primário da
relação jurídica que decorre do tipo legal de contrato celebrado, correspondendo ao dever negocial que define o tipo contratual
(artigos 879 alínea b, 397 e 762 nº 2).
O terceiro critério, a culpa, é um juízo de censura do ponto de vista subjetivo sobre o próprio sujeito, uma vez que podia
ou devia ter agido de uma outra maneira. No que diz respeito à imputabilidade, presume-se que é imputável, uma vez que teve
personalidade jurídica para celebrar um contrato. Posteriormente, é necessário averiguar se o facto foi praticado com dolo ou
mera negligência. Os comportamentos de um sujeito são analisados perante o critério do bom pai de família, ou seja, consiste
em perceber se colocando qualquer outra pessoa na posição do lesante, se essa pessoa teria a mesma atitude e se não foi
praticada por descuido (artigo 487 nº 2 e 799 nº 2). O ónus de prova é invertido, incumbindo ao lesante provar a inocência
(artigo 350, 349 e 344 e 799 nº 1). No caso concreto, Miguel agiu com negligência porque ele se esqueceu de entregar as flores
como tinha prometido (violação do artigo 799 nº 1).
Em penúltimo temos o dano. O dano consiste nos prejuízos sofridos pelo lesado em face da conduta adotada ou omitida
pelo lesante, sendo que podem ser não patrimoniais, não sendo suscetíveis de avaliação pecuniária (artigo 496 nº 1) ou
patrimoniais, que são suscetíveis dessa mesma avaliação (artigo 564). Estes últimos subdividem-se em emergentes (prejuízos
sofridos diretamente pelo lesado) e lucros cessantes (direito e bens que o lesado deixa de obter em virtude do dano sofrido, isto
é, deixam de entrar na sua esfera jurídica determinados benefícios que teriam entrado se o dano não fosse sofrido). Neste caso
em específico, existem danos patrimoniais emergentes, eles decorrem da demora na entrega (artigo 800 nº 2 alínea a), pois
pagou o dobro do preço. Estão suscetíveis de avaliação e danos não patrimoniais, devido à emergência no caso do casamento
(artigo 496).
Por fim, temos o nexo de causalidade. Este pressuposto encontra-se expresso no artigo 563. Para sabermos se existe
relação entre o facto e o dano tem de se verificar a teoria da causalidade, ou seja, há a necessidade de a conduta se mostrar, à
face da experiência comum, de acordo com as circunstâncias normais/decurso normal das coisas, como idónea à produção do
dano. Para além disto, o facto tem de ser causa adequada do dano e tem de o ter causado, não só em concreto, como também
em abstrato. Em relação à situação, verifica-se porque o Miguel ter se esquecido levou a que a Vanessa tivesse de recorrer aos
serviços da Bé e atendendo ao curto prazo da prestação do serviço, ela tenha exigido um preço maior. O facto é causa adequada
para os danos que aqui estão em causa.
Com os pressupostos preenchidos é possível deslocar a responsabilidade do lesado para o lesante, uma vez que o
esquecimento provocou tudo o resto. Caberá a Miguel indemnizar a Vanessa pelos danos que ela sofreu. Assim sendo, estamos
perante uma exceção ao princípio casum sentit dominus.
A indemnização (artigo 562), sempre que possível, deve ser por reconstituição natural, isto é, repor a situação que existiria
se não se tivesse verificado o facto, as consequências e o dano (artigo 566) e, só se isto não for possível, recorrer a uma
indemnização por pagamento (artigo 564 e 566 nº 1). No caso concreto, a reconstituição natural não seria possível, então a
indemnização realizar-se-ia por equivalente pecuniário. É ainda necessário realçar que, pelo artigo 309, há a possibilidade de
prescrição da indemnização (20 anos) e que, no artigo 310, explicita os prazos específicos de obrigações, é de realçar também
os artigos 804 e 805 nº 2 alínea a.
Por fim, existe ainda a possibilidade de ser responsabilizado pelo crime de dano previsto no artigo 212 com pena de prisão
por 3 anos ou pena de multa, com uma prescrição de 5 anos segundo o artigo 118.
Concluindo, Miguel vai poder ser responsabilizado e, por esta via vai suportar os danos que causou a Vanessa e assim
inverter-se a regra do casum sentit dominus, segundo a qual o lesado deve arcar com os danos que sofreu por causa do risco
geral da vida. Está assim constatada a responsabilidade contratual na situação de Miguel e de Vanessa, podendo, em
consequência, aplicar a responsabilidade, deslocando o dano da esfera do lesado para a esfera do lesante.

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