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CONCORRÊNCIA SUCESSÓRIA DO

CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO
(APÓS AGOSTO 2016)

Giselda Maria Fernandes Novaes


Hironaka
Professora Titular da Faculdade de Direito da USP
Diretora Nacional da Região Sudeste do IBDFAM
Sucessão legítima e ordem da
vocação hereditária
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem
seguinte:
I - aos descendentes,
descendentes em concorrência com o cônjuge
(ou companheiro) sobrevivente,
sobrevivente salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.641); ou se, no regime da comunhão parcial,
o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes,
ascendentes em concorrência com o cônjuge
(ou companheiro);
companheiro)
III - ao cônjuge (ou companheiro) sobrevivente;
sobrevivente
IV - aos colaterais.
colaterais
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O instituto da concorrência
 Concorrência é instituto novo no direito
sucessório brasileiro. Não esteve presente no
anterior Código Civil.
 Herdeiro concorrente,
concorrente entre nós, agora, é o
cônjuge ou o companheiro sobreviventes,
sobreviventes
respeitados certos pressupostos legais.

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Como era antes do reconhecimento
da inconstitucionalidade do
art. 1.790 CC

Antes do reconhecimento da inconstitucionalidade


do art. 1.790 CC (julgamento do Rec. Extraordinário
878.694-Minas Gerais), na chamada hereditária dos
descendentes e dos ascendentes eram chamados
para herdar concorrentemente o cônjuge ou o
companheiro, em regências legais distintas (arts.
1829 + 1832CC e art.1790 CC).

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Por 13 anos de vigência do Código, a
distinção foi debatida e a constitucionalidade
do art. 1.790 foi posta à prova.

“..., o art. 1.790 CC, ao revogar as Leis 8.971/94


e 9.278/96 e discriminar a companheira (ou
companheiro), dando-lhe direitos sucessórios
bem inferiores aos conferidos à esposa (ou
marido) entra em contraste com os princípios da
igualdade, da dignidade humana, da
proporcionalidade como vedação à proteção
deficiente e da vedação do retrocesso.” (parte da
ementa do julgado-relatoria do Min. Roberto
Barroso).

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A DECISÃO, NO VOTO.
“Ante o exposto, dou provimento ao recurso
para reconhecer de forma incidental a
inconstitucionalidade do art. 1.790 CC, por
violar a igualdade entre as famílias,
consagrado no art. 226 CF/88, bem como os
princípios da dignidade da pessoa humana,
da vedação ao retrocesso e da proteção
deficiente.”
(cont.)

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A DECISÃO, NO VOTO.
“Assento, para fins de repercussão geral,
a seguinte tese: “É inconstitucional a
distinção de regimes sucessório entre
cônjuges e companheiros prevista no art.
1.790 CC, devendo ser aplicado, tanto
nas hipóteses de casamento quanto nas
de união estável, o regime do art. 1.829
CC”.

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Concorrência do Cônjuge e
do Companheiro

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Concorrência do Cônjuge e
do Companheiro
 Pressupostos
 Regime de bens compatível com a
concorrência (art. 1.829, I).
I
 Cônjuge não separado judicialmente,
nem de fato (art. 1.830).
1.830
 Companheiros ainda viviam em união
estável ao tempo da morte de um deles.

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Concorrência do Cônjuge e
do Companheiro
 Disposição legal específica:
 Art.1832:
Art.1832 Em concorrência com os
descendentes (art.1829, inciso I)
caberá ao cônjuge ou companheiro,
quinhão igual ao dos que sucederem
por cabeça,
cabeça não podendo a sua quota
ser inferior à quarta parte da herança,
se for ascendente dos herdeiros com
que concorrer (em).
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Aplicabilidade

 Quando o cônjuge ou companheiro


sobrevivos concorrem com um, dois ou
três descendentes do falecido, sejam eles
descendentes ou não do cônjuge ou
companheiro sobreviventes.

 Assim:

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Cônjuge ou companheiro
concorrendo com 1 descendente
(comum ou
exclusivo)

1/2 1/2

Cônjuge Descendente

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Cônjuge ou companheiro
concorrendo com 2
descendentes (ambos comuns
ou ambos exclusivos)

1/3 1/3

1/3

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2

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Cônjuge ou companheiro
concorrendo com 3
descendentes (todos comuns
ou todos exclusivos)

1/4 1/4

1/4 1/4

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2 Descendente 3

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Exceção: cônjuge ou
companheiro concorrendo com 4
descendentes ou mais

 A partir desta hipótese, na qual o cônjuge


ou companheiro concorrem com 4
descendentes ou mais, garantem-se-lhes
a reserva legal da quarta parte,
parte sempre
que ela se der com herdeiros do falecido,
que sejam também seus descendentes.
 Assim:

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Cônjuge ou companheiro
concorrendo com 4
descendentes (todos comuns)

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E assim sucessivamente:

 Mantém-se fixa a quota-parte


(25%) do cônjuge ou
companheiro sobreviventes e
diminui-se, proporcionalmente, a
quota-parte de cada um dos
descendentes comuns.
comuns

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Porém, já não será assim:

 Se o cônjuge ou companheiro
concorrerem com mais de três herdeiros
exclusivos do falecido, situação em que
não haverá a reserva da quarta parte.
parte

 Assim:

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Cônjuge ou companheiro
concorrendo com 4
descendentes
(todos exclusivos)

1/5 1/5

1/5 1/5

1/5

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2


Descendente 3 Descendente 4

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O problema?
 O legislador não previu a comum
hipótese de o de cujus ter deixado
descendentes comuns
e
descendentes exclusivos,
com os quais concorram o cônjuge
ou o companheiro sobrevivos.
sobrevivos
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Haverá solução?
Deve, ou não, ser resguardada a
quarta parte a favor do cônjuge ou
companheiro concorrentes?

 Os possíveis caminhos
hermenêuticos, à busca de
solução:

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1ª hipótese
 Considerar todos os descendentes como
comuns: resguarda-se a quarta parte.
 Problema prático e real:
real os herdeiros
exclusivos do autor da herança sentir-
se-ão lesados na medida em que sua
quota será menor do que aquela que
receberiam, se não fossem equiparados
aos herdeiros comuns.
comuns

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5 descendentes comuns, 4 descendentes
exclusivos, supondo o monte partível igual
a 900

1/12
1/12 1/4
1/12
1° Trim.
1/12 1/12
2° Trim.
1/12 1/12 3° Trim.
1/12 1/12
4° Trim.

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2


Descendente 3 Descendente 4 Descendente 5
Descendente 6 Descendente 7 Descendente 8
Descendente 9

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2ª hipótese

 Considerar todos os descendentes como


exclusivos não se resguarda a quarta parte.
exclusivos:
 Problema prático e real:
real o cônjuge ou o
companheiro sobrevivos sentir-se-ão lesados
na medida em que sua quota será menor do
que a que receberia, se os herdeiros fossem
todos considerados descendentes comuns.

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5 descendentes comuns, 4 descendentes
exclusivos, supondo o monte partível igual
a 900

1/10 1/10
1/10 1/10

1/10 1/10

1/10 1/10
1/10 1/10

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2


Descendente 3 Descendente 4 Descendente 5
Descendente 6 Descendente 7 Descendente 8
Descendente 9

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3ª hipótese

 Divisão do monte partível,


proporcionalmente,
proporcionalmente segundo o nº
de herdeiros comuns e segundo o
nº de herdeiros exclusivos.
exclusivos
 Assim:

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5 descendentes comuns, 4 descendentes
exclusivos, supondo o monte partível igual
a 900.

Comuns Exclusivos

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Partilha do sub-monte comum
(5/9 do monte total = 500)
com reserva da quarta parte

75
125

75 1° Trim.
2° Trim.
3° Trim.
75
4° Trim.
75
75

Cônjuge Descendente 1 Descendente 2


Descendente 3 Descendente 4 Descendente 5

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Partilha do sub-monte exclusivo
(4/9 do monte total = 400)
sem reserva da quarta parte

80 80

80 80

80

Cônjuge Descendente 6 Descendente 7


Descendente 8 Descendente 9

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Consolidando as quotas havidas
em cada um dos sub-montes

 Cônjuge ou companheiro:
companheiro 125 + 80
= 205

 Descendentes comuns: 75

 Descendentes exclusivos: 80

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Quais as imperfeições
desta 3ª solução?

 O cônjuge ou companheiro
sobreviventes receberam 41/180
avos, o que equivale a 22,77777%...
 Os filhos recebem quotas desiguais,
desiguais o
que desatende ao art. 1.834 e aos
ditames constitucionais.

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FÓRMULA ALGÉBRICA DE
PONDERAÇÃO

X= 2(F + S) .H
2(F + S)2 + 2F + S
 
C = 2F + S . X
2(F+S)

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