Você está na página 1de 48

Inês Tavares Lima

DPCD - Direito Processual Civil Declarativo


        
Enquadramento 

Relativamente temática das fases pelas quais se desenrola o processo comum de declaração.
Abordagem panorâmica relativamente a este processo comum de declaração, desde o
momento que é apresentada a petição inicial até ao último momento, ou seja, até à prolação da
sentença

1º aspeto - Pese embora não esteja relacionado com a questão das fases. Normalmente o que
se pretende, no âmbito do processo, é que haja uma coincidência entre a chamada verdade
formal ou processual e a verdade material. 

Num processo judicial o que pretendemos é que o processo faça a justiça ao caso concreto, é
obvio que aquilo que as partes que recorrem a juiz pretendem é que haja uma correspondência
entre o que vai ser decidido no processo e aquilo que de facto aconteceu na situação da vida
real.

Há uma máxima ao nível do processo, que diz que “o que não está no processo não está no
mundo”. 

Isto é a explicação para o facto de, em determinados processos, as partes estão à espera de
uma determinada decisão que depois acaba por não ser proferida por parte do tribunal.
Porquê ?Porque o tribunal tem que, exclusivamente, decidir com base no que está no
processo.Pode não haver uma correspondência entre a vontade material e a vontade formal ou
processual.

Cada vez mais se pretende que haja essa correspondência entre ambas, por vezes ou por uma
questão de descuido ou de negligência das partes ou por uma questão do tribunal não
conseguir ter no processo aquilo que necessitava de ter para poder então proferir uma decisão
que vá ao encontro dessa decisão material, por vezes o que é decidido não corresponde à dita
verdade material.

Muitas vezes ficamos com a ideia que a decisão que vai ser tomada por parte do tribunal é uma
determinada decisão e depois parece que sai tudo ao contrário. Porquê ? Porque o juiz só pode
lançar mão dos elementos constantes no processo, e portanto não é possível proferir decisão
diversa.

Existem várias classificações ao nível das fases, desde logo, a mais simples é a do Dr.Paulo
Pimenta que divide o processo comum de declaração apenas em 3 fases: a fase inicial,
intermédia e a fase final. 

O professor Lebre de Freitas e o professor Teixeira de Sousa dividem as fases em 4: professor


Lebre - fase dos articulados, condensação, instrução e a fase da discussão e julgamento/
professor Teixeira - fase dos articulados, da gestão processual, da audiência final e da
sentença.

Optamos pela divisão em 5 fases (Escola de Coimbra e segundo o professor Antunes Varela),
da visão que perpassa pelo código do processo civil, também deve ser essa a explicação que o
professor Teixeira de Sousa opta por 4 fases, excluindo da mesma, a fase da instrução.

Faseamento (fases pelas quais se desenrolam um processo de declaração)

- Fase dos articulados (552º e ss)


- Fase da gestão inicial do processo e audiência prévia (590º e ss)
- Fase da instrução (410º a 526º)
- Fase da audiência final (599º e ss)
- Fase da sentença (607º e ss)

1
Inês Tavares Lima

Utilizamos esta designação, uma vez que, o próprio CPC utiliza esta terminologia, por uma
questão de simplificação adotamos esta terminologia. 
NOTA - Até determinada altura tivemos a fase do saneamento da condensação do processo (o
professor Lebre de Freitas continua a utilizar essa terminologia). O ideal é utilizar a terminologia
que perpassa o CPC.

O processo comum de declaração tem estas 5 fases, mas será sempre assim? Todos os
processos comuns de declaração têm que percorrer estas 5 fases ? Não, um processo ideal,
ou seja, um processo normal percorre estas 5 fases, mas há muitos processos que percorrem
apenas uma ou duas destas fases. Portanto temos que concluir que nem todos os processos
comuns de declaração findam na fase da sentença, podem findar antes, designadamente na
fase da gestão inicial e na audiência prévia. 

Por exemplo, o despacho saneador e o despacho saneador sentença. Estes despachos podem
de facto, marcar o final do processo comum de declaração, se isso acontecer já não vai haver
necessidade de levar a cabo as outras fases. O processo pode, inclusive, findar apenas com a
fase dos articulados, se tivermos uma confissão, uma desistência do pedido e da instância uma
transação, o processo pode terminar antes mesmo de se passar para a segunda fase da
gestão inicial do processo. Nem todos os processos vão percorrer todas estas fases, não
temos em todos os processos os atos processuais que compõem cada uma destas fases.

Costuma-se dizer que estas fases não são compartimentos estanques, significa que há atos
processuais que, aparentemente, deveriam estar inseridos na fase à qual eles dizem respeito,
mas que não estão, estão inseridos numa das outras fases. Temos dois exemplos.

1º Exemplo: Questão da prova, ou seja, a questão da instrução (produção de meios de prova),


a esmagadora maioria da prova documental, da prova que é formada pelos documentos, é
apresentada na fase dos articulados.

Se na minha petição inicial vou alegar determinados factos e tenho documentos que
comprovam a verificação desses factos, eu não tenho outro momento para apresentar os
documentos que não seja em conjunto com a alegação desses factos e por isso é que a
petição inicial, na parte final, tem sempre algo que diz o seguinte: “Junta: 5, 10, 15, 200
documentos”. 
Podíamos ser levados a pensar que no processo, depois da fase dos articulados e depois da
fase da gestão inicial, iria existir uma fase própria para as partes trazerem as suas provas,
porém não é assim.

Todavia existem exceções, se eu preciso de provar um facto superveniente (um facto que
ocorreu posteriormente ao encerramento da fase dos articulados), e se eu tenho um
documento que prova exatamente a existência desse facto superveniente é óbvio que essa
prova documental vai ser apresentada à posteriori, fora desta fase dos articulados. 

2º Exemplo: Fase da decisão do processo, a sentença. Pode ou não existir a decisão do


processo fora desta fase? Pode, podemos ter a decisão final na fase de gestão inicial e
audiência prévia.

NOTA - Uma coisa é eu arrolar testemunhas, outra coisa é haver a produção da prova
testemunhal, em ambas as situações estamos perante provas testemunhal, não há dúvidas,
mas uma coisa é eu na petição inicial e na contestação, por imposição legal, indicar quais são
as testemunhas que eu tenho para provar todos os factos que estão a ser alegados nesses
articulado, sob pena de (princípio da preclusão a funcionar) não apresentando testemunhas no
momento e no local respetivo não mais poder apresentar testemunhas.

Uma petição inicial que não tenha um rol de testemunhas faz com que o autor não mais possa
arrolar testemunhas. Uma coisa é “arrolar” outra coisa é saber quando se vai produzir esta
prova testemunhal, ou seja, as testemunhas que foram indicadas ou arroladas, quando é que
vai prestar o seu depoimento. Se a fase da instrução diz respeito à prova, então
aparentemente, será na fase da instrução. Não.

2
Inês Tavares Lima

As testemunhas, partindo do princípio que não têm que ser inquiridas antecipadamente por
questões de saúde (por exemplo) são ouvidas, normalmente, na fase da audiência final (cá
está outro exemplo em que as fases não são compartimentos estanque). Vou arrolar
testemunhas, vou apresentar prova testemunhal nos articulados, por imposição legal, e elas
vão ser ouvidas na audiência final.

A possibilidade que as partes têm de vir aditar ou alterar o rol de testemunhas, e isso podem
fazer até ao vigésimo dia anterior à data em que se vai levar a cabo a audiência final.
Aditar ou alterar não é a mesma coisa que arrolar ou apresentar. Só posso aditar ou alterar um
rol de testemunhas que já exista. Se não tenho um rol de testemunhas na petição inicial e na
contestação, as partes não vai poder fazer uso da tal faculdade de aditar e de alterar o rol, não
se adita nem se altera um rol inexistente.

Pode acontecer que (princípio do inquisitório - a possibilidade que o tribunal tem de,
oficiosamente, ordenar a produção de prova testemunhal que não foi apresentada pelas partes
- 526º), o juiz pode considerar que para aquele processo em concreto vai ser muito importante
uma testemunha que não foi arrolada pelas partes e por exemplo o autor que se esqueceu de
apresentar um rol de testemunhas pode beneficiar desta indicação de prova testemunhal por
parte do próprio tribunal, a ação pode não estar condenada à partida ao insucesso.
A prova testemunhal é fundamental a nível do processo, mas há processos que, por exemplo,
só com a prova documental, através da prova de confissão ou de depoimento de parte é
condenada ao sucesso.

NOTA - Por vezes, as partes decidem invocar este artigo (526º) para, na prática, pedir ajuda ao
magistrado judicial.
O tal autor que por negligência não apresentou o rol de testemunhas, quando se apercebe que
está sem prova pensa “o que é que que vou fazer?” e vai chegar à conclusão que não há
grande possibilidade que lhe seja concedida por parte do código que não seja fazer-se valer da
produção de prova testemunhal que foi requerida pela parte contrária.

As testemunhas apesar de serem arroladas pelo autor ou pelo réu, só têm um desidrato, que é
contribuir para a descoberta da verdade material. Portanto, não posso afirmar que é
testemunha do autor ou testemunha do réu, é testemunha do processo. Eu posso tentar fazer
prova da minha factualidade com base em testemunhas que pertencem à parte contrária, o
autor negligente podia tentar fazer prova dos factos que lhe interessam com base nas
testemunhas da parte contrária. Mas muitas vezes não há essa possibilidade, porque as
testemunhas da parte contrária ou já estão tão bem ensaiadas ou então não têm
conhecimentos que de facto interessam ao autor e por isso o autor não vai conseguir fazer a
prova com base nessas testemunhas. 

Então faz o quê ? Tenta lançar mão deste artigo 526º, para ver se o juiz concorda com ele no
sentido de, há uma testemunha que não foi arrolada por ninguém e é importantíssima para a
causa, e então o juiz ao abrigo do princípio do inquisitório pode determinar o comparecimento
da testemunha.
O objetivo da norma não é claramente esse, o objetivo da norma é que seja o juiz de moto
proprio a apresentar essa testemunha e não instigado pela parte negligente.

Fase dos articulados (552º e ss)

É a primeira fase do processo comum de declaração. É a fase introdutória do processo, é a


fase onde as partes têm que expôr as razões de facto em que assentam as suas pretensões.

1º aspeto - Quando se fala em razões de facto, falamos na causa de pedir (não é causa de
pedido, isso não existe). Nos elementos essenciais da petição inicial e da contestação que
consta a causa de pedir e os factos no qual assenta o direito ao contraditório e isso têm que ser
as partes a fazê-lo com base no princípio do dispositivo e com base naquela vertente da
delimitação dos contornos fácticos do litígio (5º/1).

As partes têm que trazer os factos para o processo, onde ? Obviamente nos articulados.

3
Inês Tavares Lima

Quais são os articulados? 

Há 2 articulados “normais”. Normais porquê ? Porque ocorrem em todos e quaisquer


processos.
Há exceções, a petição inicial tem sempre que existir num processo, mas a contestação pode
não existir, só que o réu vai sofrer as consequências jurídico-processuais de não apresentar a
contestação. Existem se o réu decidir fazer uso do direito que tem de apresentar a contestação,
e ele pode não o fazer.
 
Articulados excecionais: Réplica e os articulados supervenientes.

Contrariamente aos articulados normais, nem sempre ocorrem no âmbito do processo, 


portanto eles só ocorrem se existir uma razão que possibilita a sua apresentação. 

Antigamente a réplica era um articulado normal, podia ser apresentada sempre, atualmente,
tirando as ações de simples apreciação negativa, só poderemos apresentar a réplica quando
existir uma reconvenção, se houver impugnação ou se houver defesa por exceção não poderá
haver réplica. 

Os articulados supervenientes, só o posso ter se existir o preenchimento deste conceito de


superveniência (ocorre posteriormente a algo), na prática, destinam-se a trazer para o processo
factos que ocorreram depois do encerramento dos articulados.

Porque é que esses factos têm que ser carreados para o processo ? 

Porque são factos importantes para a boa decisão da causa.

Os factos podem ocorrer posteriormente ou ainda pode acontecer outra coisa, que está
relacionada com a cognoscibilidade, ou seja, o facto já pode ter ocorrido antes, mas a parte
que o devia alegar não tinha conhecimento desse facto. A partir do momento que tem
conhecimento desse facto vai apresentá-lo no processo.

Fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia (590º e ss)

Antes designava-se por fase do saneamento e da condensação do processo. A expressão


“saneamento” era muito interessante, porque quando falamos em saneamento pensamos em
expurgar, em retirar as coisas que são inúteis ou supérfluas de algo (pensemos no serviço
municipalizados de saneamento que lidam com o “lixo”). O processo também tem muito “lixo”,
muitas vezes os mandatários não se apercebem mas alegam factos que não interessam
minimamente para a decisão. O juiz tem que utilizar essa factualidade no elemento que vai
produzir da fixação do objeto do litígio e da negociação do sistema da prova ? É obvio que não,
ele vai retirar esses factos do processo. É importante, desde logo, nesta fase, identificar esse
fim, sanear o processo daquilo que é inútil, daquilo que é supérfluo.

Também posso utilizar esta fase para suprir eventuais irregularidades que ainda subsistem no
processo ou para convidar as partes a aperfeiçoar os articulados ou a juntar algum documento
que não foi junto pelas partes. Está dentro da gestão inicial do processo.

A audiência prévia é um 1º momento em que se vai dar consagração ao princípio da imediação


e da oralidade, é o primeiro momento em que as partes, cara-a-cara, vão ser confrontadas com
o magistrado judicial para uma série de fins (591º), entre os quais, está por exemplo, “caso o
processo já contenha elementos que permitam decidir o mérito da causa, decidir, exatamente,
através do despacho saneador sentença.

Fase da instrução (410º - 526º)

O legislador apercebeu-se que a “prova” não é apanágio do processo comum de declaração


(Incidentes de intervenção de terceiros, Procedimentos cautelares). 

4
Inês Tavares Lima

Sempre que era preciso decidir essas figuras jurídico-processuais, era preciso produzir prova,
no âmbito do processo executivo também vai ser preciso a produção de prova. 

O legislador confrontado com esta circunstância considera que é melhor destacar a fase da
instrução do processo comum de declaração e e colocá-la nas disposições de caráter geral,
porque assim as partes sabem que as disposições são aplicáveis não só ao processo comum
de declaração como a todas as outras formas processuais. É por esse motivo que o CPC de
2013 retirou a fase da instrução do local que ela sempre esteve e a colocou nos artigos 410º-
526º.

Meios de prova 

Falamos da prova documental, da prova testemunhal, depoimento de parte, mas existem


muitos mais meios de prova, como por exemplo a prova perecial, as verificações não judiciais
qualificadas, a prova por inspeção judicial. Na prática, vamos tentar aqui analisar todos esses
meios de prova, sobretudo, numa vertente adjetiva.
A prova está prevista, sobretudo, no que diz respeito à admissibilidade da mesma, no código
civil e não no CPC.

Fase da audiência final (599º e ss)

Anteriormente designada por fase de audiência, discussão e julgamento, aliás, o professor


Lebre de Freitas ainda a designa dessa forma.

A produção da prova que ainda não for produzia, com especial enfoque na prova ??, no
depoimento de parte (que por via de regra é levada a cabo aqui), a produção de prova
testemunhal.

E depois ainda vão acontecer as chamadas “alegações” que estão designadas na nossa lei
como “debates” entre os advogados. Qual é o papel do advogado na audiência final ? Depois
de ser produzida toda a prova, fazer uma sumula de toda a prova, e tentar de modo oral,
convencer o tribunal que o seu cliente tem razão não só a nível fáctico como também a nível de
direito, na prática, tentar induzir o juiz em dar razão às pretensões do seu cliente. Ocorre na
audiência final.
Até ao CPC de 2013, as alegações de direito eram feitas sobretudo no processo ordinário, de
modo escrito (encerrava-se a audiência final e depois a secretaria remetia o processo para o
escritório do mandatário do autor que alegava de direito por escrito, depois o advogado do réu,
tinha exatamente o mesmo prazo para também alegar, e o processo era devolvido a tribunal
para   haver a prolação da sentença - isso acabou). Quando se fala nas alegações ou nos
debates eles são quer de facto quer de direito, o processo agora já não é atribuir aos
mandatários judiciais para haver essa alegação de direito por escrito, essa alegação de direito
é feita na própria audiência final. E depois o juiz individual, singular vai recolher ao recato do
seu gabinete para proferir a sentença.

Fase da sentença (607º e ss)

A sentença é a aplicação do direito aos factos dados como provados. É a decisão no final do
processo.
A decisão quanto à matéria de facto era tomada antes da sentença, atualmente, a sentença
contém em si quer a decisão da matéria de facto quer a decisão da matéria de direito.

 Articulados 

Existe uma explicação para o facto de se designar assim, essa explicação encontra-se no
artigo 147º/1 CPC. 
As peças a que se refere o art.147º/1 são as peças processuais. 
Estas peças processuais contêm essas exposição das razões e das pretensões das partes de
uma forma suis generis, ou seja, as peças processuais estão organizadas por artigos sendo
que preferencialmente, cada uma das alegações, cada uma das exposições das razões de

5
Inês Tavares Lima

facto, deve estar sob a forma de proposições gramaticais, devidamente enumeradas e


devidamente interligadas entre si.

Qual é a vantagem de ter uma peça processual (centrar sobretudo na petição inicial) narrada
sob a forma de artigos? (2 razões)

1º - Vai permitir que o réu exerça de uma forma mais eficaz a sua defesa, pois imaginemos que
queríamos a peça processual dividida em parágrafos. Teríamos que fazer uma contagem a
nível de parágrafos, ou seja, quando o réu quisesse tomar uma posição quanto a um
determinada alegação de facto ia ser obviamente uma confusão.

Estando essa peça processual organizada por artigos, é muito mais fácil que o réu diga que “o
que está previsto no artigo 1º, 5º, 7º etc… corresponde à verdade, e o que está no artigo 20º,
23º, etc… é falso, razão pela qual se impugna, e o que está nos artigos 24º, 25, desconhece-
se. 

2º  – Facilita o próprio magistrado judicial, e porquê? 

Facilita pois, antes do CPC de 2013, tínhamos uma peça processual de extrema importância
que se designava por “especificação e questionário”, de uma forma simplificada podemos dizer
que a especificação continha a matéria que já se encontrava provada e o questionário continha
a matéria que importava provar, e portanto levar à audiência antes de um julgamento. 

Como é óbvio o magistrado processual quando fazia esta peça ia também estar a usar a
numeração que era utilizada por parte do autor e consequentemente por parte do réu, e por
isso muitas vezes colocava na especificação “artigo” em vez de reproduzir textualmente o
artigo 1º, o artigo 7º, estando as peças organizadas por artigo também facilitava a tarefa ao
juiz, por outro lado também facilita a tarefa dos próprios mandatários quando estes estão na
audiência final e partindo do pressuposto que esta peça, esta especificação e questionário, não
existia.

Na prática, são estas essencialmente as razões pelas quais temos a utilização dos artigos, e
esses artigos a darem então o nome de articulados às peças que as partes apresentam no
âmbito do processo.

3º - Quando é que eu devo utilizar esta forma?

O nº 2 do artigo 147º estabelece 3 situações em que é obrigatória narração por intermédio de


artigos, designadamente no âmbito:

 Das ações;
 Dos incidentes;
 Dos procedimentos cautelares;
O legislador logo depois de identificar estas 3 situações, refere “havendo mandatário
constituído”, ou seja, apenas existindo advogado é que é obrigatória no âmbito destas formas
processuais, a narração por intermédio de artigos, o que exclui aquelas situações em que a
parte está a defender-se a si mesma. 

Quando falamos do patrocínio judiciário, dissemos que é obrigatório a constituição de


advogado nas causas em que era admissível recurso ordinário, dito de outra forma, se a causa
tiver um valor mínimo de 5M€ e 1 cêntimo é obrigatória a constituição de advogado, logo as
causas com valor até 5M€, não havendo necessidade de constituição de advogado e as partes
estando a representar-se a si mesmas, nesses casos já não há obrigatoriedade de mandação
por intermédio de artigos, porquê? Pois as partes, partindo do pressuposto que não têm
conhecimentos técnico jurídicos, não sabem que têm de utilizar esta forma, e portanto, o
tribunal aí permite que elas apresentem as peças processuais sem ser sob esta forma de
artigo.

6
Inês Tavares Lima

Abaixo desses 5M€, pode ainda assim haver constituição obrigatória de advogado (art.
629º/2/3 CPC) e em determinadas circunstâncias independentemente do valor da causa e da
sucumbência, obriga à constituição de advogado.

Que articulados são esses?

São no máximo 4 articulados, no máximo quanto à espécie de articulado, porque nada impede
que os articulados supervenientes sejam utilizado por ambas as partes, onde poderíamos ter 5
articulados. 

Temos de ter a:
Petição inicial 
É o ato fundador do processo (259º/1). É o ato fundador do processo porque  a instância inicia-
se pela proposição da ação e esta considera-se proposta, intentada ou pendente logo que a
respetiva petição se considere apresentada nos termos dos nº 1 e 6 do artigo 144.º. Logo a
partir do momento que a petição dá entrada em juízo, temos consequentemente o início da
instância. Partindo do pressuposto que a nossa petição inicial não vai ser recusada pela
secretaria, ou então, não vai ser indeferida liminarmente, vamos ter a seguir a contestação.
Contestação
Existem espécies ou tipos de contestação mas interessa aqui apenas a contestação
reconvenção, pois só partindo do pressuposto que a contestação é uma contestação
reconvenção, é que eu poderei ter o terceiro articulado, ou seja, a réplica.
Réplica
Neste caso dependendo da espécie da ação, poderei ter uma réplica, ainda que não tenha
essa contestação de reconvenção, (nas ações de simples apreciação negativa). Estas vão
facilitar o surgimento da replica, para o autor ter possibilidade impugnar na replica os factos
constitutivos que estão a ser invocados pelo réu, no âmbito da contestação.
Articulados supervenientes 
Só surgem depois de esgotados os prazos de utilização destes três articulados (petição inicial,
contestação e réplica) e partindo do pressuposto que não é possível lançar mão destes
articulados (os dois primeiros são articulados normais e o terceiro é um articulado excecional),
é que nos poderemos utilizar é que nos poderemos utilizar a figura dos articulados
supervenientes, partindo do pressuposto na lei que estamos numa situação também de
superveniência. 
Há aspetos comuns relativamente aos articulados? Sim!
1º - O facto de estes articulados (todos eles) tal como os requerimentos, ou qualquer outra
peça que seja apresentada no âmbito do processo, têm que ser redigidos em língua
portuguesa (art.133º/1). 
Artigo 133.º - Língua a empregar nos atos
1 - Nos atos judiciais usa-se a língua portuguesa. 
2 - Quando hajam de ser ouvidos, os estrangeiros podem, no entanto, exprimir-se em língua
diferente, se não conhecerem a portuguesa, devendo nomear-se um intérprete, quando seja
necessário, para, sob juramento de fidelidade, estabelecer a comunicação. 3 - A intervenção do
intérprete prevista no número anterior é limitada ao que for estritamente indispensável.

Relativamente á língua portuguesa, isso quase que inviabiliza, um cidadão que reside em
Portugal (que não saber falar português) possa recorrer á justiça portuguesa, nestes casos
pode ser nomeado um interprete (art.133º/2), partindo do pressuposto que estas pessoas têm
de ser ouvidas no âmbito do processo, mas podem ser ouvidas por vários motivos, ou porque
são partes e porque se requereu um requerimento de parte, ou ele próprio requereu a
declaração de parte, ou então por e simplesmente é uma pessoa que foi indicada testemunha
no âmbito do processo.
Outro aspeto, tenho de proceder á junção de um documento ao processo, mas esse
documento está em língua estrangeira. logo terei em princípio que juntar uma tradução desse

7
Inês Tavares Lima

documento, e quando estamos a falar das línguas ditas mais comuns (francês, inglês,
espanhol), é fácil arranjarmos tradução, mas por exemplo se tivermos uma língua em que isso
não seja tão fácil, é aconselhável ver os postos das embaixadas ou os consulados, pois
normalmente estes têm serviços que tratam dessas traduções.
Quem paga, é a parte que tem interesse na apresentação desse documento. Partindo do
pressuposto que essa parte vai obter mérito da causa, podemos imputar o custo relativo a
essas traduções nas despesas do próprio terceiro (art.558º/1/h).
Artigo 558.º - Recusa da petição pela secretaria
1 - São fundamentos de rejeição da petição inicial os seguintes factos: 
h) Não esteja redigida em língua portuguesa;

2º - eles devem ser assinados pela parte ou pelo mandatário judicial, partindo do pressuposto
que a parte está devidamente representada pelo mandatário, que o ato de se ter conferido uma
procuração forense a essa mandatário faz com que a parte não tenha de assinar a peça
processual, no entanto nada impede que a parte o queira fazer.
Artigo 558.º - Recusa da petição pela secretaria
1 - São fundamentos de rejeição da petição inicial os seguintes factos: 
g) Não esteja assinada;

Atualmente as peças processuais dos articulados dão entrada pelo SITUS, como é que vamos
assinar? Pode se assinar em papel, digitalizar e dar entrada, outra alternativa é criar um
carimbo ou uma foto da assinatura e colocar na peça processual.
Mas existe uma assinatura digital qualificada ou constante do cartão de cidadão, isto dá a
possibilidade de assinar os documentos em pdf, que tem a mesma validade que os
documentos em suporte de papel.

3º - Os articulados devem ser apresentados em duplicado (art.148º/1)


Em que circunstancias é que temos a verificação das alíneas a) e b) do nº 7 do artigo 144º?  
Na circunstância exclusiva de a parte não estar devidamente representada por um advogado. E
então nessas circunstâncias a parte pode dar entrada da peça processual  por intermedio de
correio registado (alínea b) ou por entrega na secretaria judicial da própria peça, e então é
nestas circunstâncias que temos de apresentar o documento em duplicado. Sob pena de no
termos do nº 3 a parte ser notificada oficiosamente para apresentar os ditos duplicados no
prazo de 2  dias, pagando a título de multa a quantia fixada na alínea a) do nº5 do artigo 139º,
não pagando a quantia será extraída a certidão dos elementos em falta, pagando a parte além
do respetivo custo a multa mais elevada prevista no artigo 139º/5.
Este artigo 139º/5 é conhecido por ser o artigo que contem os prazos de complacência, o que
por vezes cria alguma duvida porque os prazos sendo perentórios, o seu decurso extingue o
direto de praticar o ato, só que há sempre uma salvação nos termos das alíneas a), b) e c) do
nº5 do artigo 139º que possibilita que no 1º, 2º e 3 dia útil ao encerramento do prazo ainda se
possa praticar o ato desde que se pague uma multa, que vai subindo consoante estamos no 1º
(10% da taxa de justiça), 2º (25%) ou 3º dia (40%). 

Fase da Petição Inicial 


Esta fase é na prática, a tradução do princípio do dispositivo e do princípio da necessidade do
pedido, e é também o ato fundador do processo pois marca o início da instância. Ela é
apanágio das ações declarativas em princípio, pois se estivermos nas ações executivas não
temos petições iniciais temos sim, requerimentos executivos.
A petição inicial obedece a um serie de requisitos, estando estes expressamente previstos no
CPC, mais precisamente no artigo 552º - requisitos da petição inicial, ou PI.
Quais são os requisitos que a petição inicial deve observar?
Artigo 552.º - Requisitos da petição inicial
1 - Na petição, com que propõe a ação, deve o autor:

8
Inês Tavares Lima

a) Designar o tribunal e respetivo juízo em que a ação é proposta e identificar as partes,


indicando os seus nomes, domicílios ou sedes e, obrigatoriamente, no que respeita ao autor, e
sempre que possível, relativamente às demais partes, números de identificação civil e de
identificação fiscal, profissões e locais de trabalho; (cabeçalho)

Muitas vezes não se cumpre com esta minucia, é raro vermos a identificação do autor e das
restantes partes com a indicação do seu local de trabalho, porque muitas vezes não se sabe,
mas quando se sabe, partindo do pressuposto que não vai haver qualquer problema a nível da
citação, não faz sentido estar a fazer a citação do local de trabalho. Por outro lado, muitas
vezes não temos o nº de identificação civil, normalmente desde que existam nos restantes
elementos não haverá grande problema quanto a isso.
Porque é que o legislado tem esta preocupação com os números de identificação civil e de
identificação fiscal?
 
Por exemplo quando estamos perante um senhor que apenas se chama António Oliveira, ao
pesquisar na base de dados vamos constatar que existem pelo menos 150 pessoas com o
mesmo nome. E nesta circunstância é preciso saber quem é que é de facto a parte, que deve
de estar no processo, por uma questão de legitimidade. Muitas vezes não se coloca esta
informação na peça processual, mas sim no formulário que serve de suporte do SITUS. É
também importante, sempre que possível indicar o IVA.

b) Indicar o domicílio profissional do mandatário judicial; (cabeçalho)


c) Indicar a forma do processo; (cabeçalho)
d) Expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir e as razões de direito que
servem de fundamento à ação; (narração)
e) Formular o pedido; (conclusão)
f) Declarar o valor da causa; (elementos complementares)
g) Designar o agente de execução incumbido de efetuar a citação ou o mandatário judicial
responsável pela sua promoção. (elementos complementares)
6 - No final da petição, o autor deve apresentar o rol de testemunhas e requerer outros meios
de prova; caso o réu conteste, o autor é admitido a alterar o requerimento probatório
inicialmente apresentado, podendo fazê-lo na réplica, caso haja lugar a esta, ou no prazo de 10
dias a contar da notificação da contestação. (elementos complementares)
7 - O autor deve, com a apresentação da petição inicial, comprovar o prévio pagamento da taxa
de justiça devida ou a concessão do benefício de apoio judiciário, na modalidade de dispensa
do mesmo, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do artigo 132.º (elementos
complementares)

8 - Quando, ao abrigo do disposto no n.º 7 do artigo 144.º, a petição inicial seja apresentada
por mandatário judiciário por uma das formas previstas nas alíneas a) a c) do n.º 7 do mesmo
artigo, o autor deve juntar à petição inicial o documento comprovativo do prévio pagamento da
taxa de justiça devida ou da concessão do benefício de apoio judiciário, na modalidade de
dispensa do mesmo.
9 - Sendo requerida a citação nos termos do artigo 561.º, e faltando, à data da apresentação da
petição em juízo, menos de cinco dias para o termo do prazo de caducidade ou ocorrendo
outra razão de urgência, deve o autor comprovar que requereu o pedido de apoio judiciário mas
este ainda não foi concedido, nos termos definidos na portaria prevista no n.º 2 do artigo 132.º
ou, sendo a petição inicial apresentada por uma das formas previstas nas alíneas a) a c) do n.º
7 do artigo 144.º, através da junção do respetivo documento comprovativo.
10 - No caso previsto no número anterior, o autor deve efetuar o pagamento da taxa de justiça
no prazo de 10 dias a contar da data da notificação da decisão definitiva que indefira o pedido
de apoio judiciário, sob pena de desentranhamento da petição inicial apresentada, salvo se o
indeferimento do pedido de apoio judiciário só for notificado depois de efetuada a citação do
réu.

9
Inês Tavares Lima

11 - Para o efeito da alínea g) do n.º 1, o autor designa agente de execução inscrito ou


registado na comarca ou em comarca limítrofe ou, na sua falta, em outra comarca pertencente
à mesma área de competência do respetivo tribunal da Relação, sem prejuízo do disposto no
n.º 9 do artigo 231.º.
12 - A designação do agente de execução fica sem efeito se ele declarar que não a aceita, nos
termos a definir por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.
13 - O disposto nos n.os 2 a 5 é aplicável, com as necessárias adaptações, quando haja que
proceder à identificação de qualquer outra parte processual que seja pessoa coletiva em
qualquer peça a apresentar por mandatário judicial por via eletrónica.
14 - A alteração do domicílio profissional do mandatário judicial pode ser comunicada ao
processo, automaticamente, pelas bases de dados das respetivas associações públicas
profissionais.
Requisitos da petição inicial

É a peça que verdadeiramente marca o início da instância. 

Relativamente ao introito, preâmbulo e cabeçalho, a primeira referência que convém fazer diz
respeito ao endereço – é obvio que com o email, o envio de cartas caiu em desuso, mas
sempre que se enviava uma carta ou elemento essencial para colocar no subscrito ou no
Envelope era o endereço. 

Acontece o mesmo com a petição inicial, é preciso endereçar a petição inicial, mas a quem? Ao
tribunal competente, ao fazer uso do pressuposto processual designadamente o pressuposto
da competência, havíamos chegado à conclusão qual era o tribunal onde se deveria instaurar
aquela ação quer a nível da hierarquia, quer a nível da matéria, quer a nível do valor, quer a
nível do território. 

Importa depois de fazer este exercício endereçar a petição inicial exatamente a esse tribunal. A
prática e a tradição judiciária ou forense vão no sentido de ao invés de se dirigir a petição inicial
ao próprio tribunal, é dirigida ao juiz. Se estivermos perante outras peças processuais
designadamente a nível de recurso, ao invés de falarmos de excelentíssimo e em meritíssimo
vamos falar em venerandos ou em colendos, quanto maior é o grau que o juiz em causa tem
vamos evoluindo nesta praxe. 

NOTA – Quem começa a exercer fica muito incomodado com o modo como nos tratam. Os
mandatários e o tribunal tratam-se sempre de uma forma muito formal. A justiça normalmente é
um ato solene e não é por acaso que os operadores judiciários andam vestidos de negro –
numa audiência final o juiz está vestido com uma beca, os mandatários estão vestidos com
uma torga e senhor funcionário judicial está vestido com uma capa, todos eles de preto. No
caso do tribunal há de facto uma formalidade, um respeito à instituição, respeito esse que
passa um pouco pelas partes e pelos mandatários se tratarem bem e com respeito. 

Preâmbulo – Identificação das partes – Relativamente às partes, já sabemos que nos termos
da alínea a) que se deve identificar as mesmas por intermédio dos nomes, domicílio, sede e no
que diz respeito ao autor e sempre que possível às demais partes o número de identificação
civil e o número de identificação fiscal. 

Uma das razões para fazermos isto prende-se com a identificação daquela parte em concreto
no caso em que exista nome o nome similar o nome pode ser o mesmo mas relativamente ao
NIF ou ao CC esse é único, temos que ter essa individualização das partes. Relativamente às
pessoas coletivas temos o número de identificação da pessoa coletiva, a sede dessa pessoa
coletiva. Esta alusão às partes ou aos chamados sujeitos, é um dos elementos essenciais que
compõe a ação ou o próprio objeto. 

Exceções da litispendência do caso julgado – quando há a repetição de uma causa estando a


anterior em decurso, estando dependente a uma situação de litispendência. Quando a anterior
já tiver tido o seu desfecho estamos perante o caso julgado. 

Um dos elementos que se deve tomar em consideração para sabermos se há ou não repetição
da causa é no que diz respeito aos sujeitos (art. 581o/1 CPC). 

10
Inês Tavares Lima

Alínea c) – É preciso indicar a forma de processo, por vezes vê-se uma preocupação das
partes por a par da forma de processo fazer alusão à espécie da ação, pesa embora o que
esteja nos requisitos da petição inicial seja a forma de processo e não a espécie de ação. 

Quanto ao processo comum basta fazer essa alusão, mas quanto aos processos especiais é
preciso identificar qual é a forma do processo especial? – Em princípio não, basta dizer que se
instaura a ação sob a forma de processo especial. Porque ao nível da distribuição (excetuando
uma outra situação), quanto à espécie na distribuição temos as ações de processo especial art.

212o/3 CPC.

Alguma ou outra exceção porque há certas formas de processo especial que constituem
espécies diversas designadamente logo na quarta espécie, divórcio e separação sem
consentimento do outro cônjuge. Apesar de ser um processo especial entra na quarta espécie
e não na terceira. 

Quando se dava entrada das petições iniciais em suporte papel junto da secretaria geral do
tribunal, entregava-se a petição inicial e o funcionário que ia atender a primeira coisa que fazia
era pegar naqueles lápis que têm de um lado azul e do outro lado vermelho e começava a
riscar alguns elementos designadamente as partes e a forma de processo, para facilitar a
identificação no que diz respeito à distribuição. 

Identificação do domicílio profissional do mandatário judicial – art. 552o al. b) atualmente como
se dá cumprimento a esta identificação do domicílio profissional do mandatário judicial? Ou
pela forma mais natural, por utilização de papel timbrado (no cabeçalho tem o nome do
mandatário e no rodapé tem o seu domicílio profissional), ou então através da aposição de um
carimbo na última folha que também tem o domicílio do mandatário judicial. O domicílio
profissional aparece, normalmente, automaticamente preenchido a não ser que o mandatário
judicial tenha mais que um endereço profissional, aqui tem que ter o cuidado de escolher um
deles senão pode acontecer de a secretaria enviar para um endereço qualquer. Isto pode
acontecer quando o mandatário judicial tem uma avença com uma determinada instituição para
não estar a receber peças processuais ou as ações ou eventuais notificações pelo correio no
seu escritório prefere receber nas instalações dessa instituição. 

Narração – alínea d) do n1 do artigo 552o CPC – Diferença importante entre a matéria de facto
e matéria de direito. 

No que diz respeito à exposição da matéria de facto, a mesma deve recair sobre as partes (art.
5o/1), relativamente às razões de direito, pesa embora as mesmas possam ser expostas e são
pelas partes ou pelos seus mandatários, o juiz não está adstrito às mesmas (art. 5o/3). 

Posso ter uma petição inicial sem razoes de direito, porque o tribunal tem sempre a obrigação
de indagar quais são as normas jurídicas aplicáveis àquela situação em concreto o que eu não
posso ter é uma petição inicial sem as razões de facto porque essas são um ónus ou um
monopólio das partes. Se tivermos que estabelecer uma prevalência da matéria de facto
relativamente à matéria de direito, no que diz respeito à alegação pelas partes sobreleva a
alegação da matéria de facto relativamente à matéria de direito, é mais importante a exposição
da matéria de facto do que a matéria de direito. 

Matéria de facto – a matéria de facto diz respeito a factos. 

É um acontecimento, é uma ocorrência da vida normal. Que pode ter a sua origem no mundo
interno ou no mundo externo, é relevante porque para que eu consiga lograr ganho de causa,
ou seja, para que a minha pretensão seja julgada favoravelmente por parte do tribunal eu tenho
que fazer chegar esse facto ao processo 

Como é que isso é possível? 

É impossível trazer factos ao processo; 

Ex.: Se estou perante uma ação responsabilidade civil extracontratual emergente de um


acidente de viação o facto vai ser o acidente de viação, será a colisão entre os veículos. 

11
Inês Tavares Lima

O que eu deveria ter no processo não eram factos, são as alegacões dos factos que realmente
ocorreram (os factos não são carreáveis). A exposição das razões de facto, das razões que
deram origem aos factos. Os factos são verdadeiramente a causa de pedir. A narração, na
prática, traduz-se na causa de pedir, eu tenho que expor na petição inicial todos os factos nos
quais estou a estruturar a minha pretensão. 

Normalmente também trago as razões de direito, eu posso dizer que o veículo A não respeitou
quatro ou cinco regras ao nível do código da estrada, posso dizer que nos termos do código
civil eu tenho direito a uma indemnização, posso mas não quer dizer que tenha que o fazer. 

Não ocorre no que diz respeito a certos factos – 5o – diferenciação entre o número 1 e o
número 2 – porque nos termos do número 1 vamos ver quais são os factos que
obrigatoriamente têm que ser alegados pelas partes (factos essenciais, são o núcleo a nível da
matéria de facto, isto tem que ser obrigatoriamente alegado pelas partes, se não for pode
consubstanciar uma falta de causa de pedir, e essa falta tem uma consequência que é gerar a
ineptidão da petição inicial art. 186o n2 al. a) 

O que são os demais factos? – factos instrumentais – são os factos que vão ajudar à prova do
facto essencial e que normalmente também são alegados pelas partes mas não o sendo o
tribunal pode obter esse facto instrumental através da instrução na causa, através da prova que
se vai fazer na causa. 

Enquanto a falta do facto essencial pode gerar a falta de causa de pedir e a ineptidão da
petição inicial (na prática a nossa ação vai fracassar), a falta de alegacão de um facto quer
instrumental quer concretizador não vai gerar essa ineptidão da petição inicial porque o tribunal
vai poder obter esses factos por outra via – alienas a)ed)non2doartigo5oCPC. 

A narração corresponde à causa de pedir, então a conclusão corresponde ao pedido. 

A nossa petição inicial tem sempre que concluir com um pedido. No âmbito da petição inicial e
da ação é obrigatório formular um pedido ao tribunal, é preciso que o tribunal saiba o que eu
quero, mas o que eu quero como assim? 

Quero a entrega de uma coisa, essa coisa é móvel ou imóvel? Eu quero o pagamento de uma
obrigação pecuniária? Eu quero uma indemnização, indemnização que resulta da lei ou que
resulta do dano? O dano é patrimonial ou não patrimonial? 

Eu tenho que dizer expressamente ao tribunal o que quero no âmbito daquele processo em
concreto, ao fazer isso eu estou a dirigir o pedido. O pedido é fácil de identificar no âmbito de
uma petição inicial porque aparece sempre normalmente ou na penúltima ou na última página
destacado e a negrito. Nos termos do número 2 do artigo 186o se o pedido não foi indicado eu
também tenho como consequência a ineptidão da petição inicial. 

O pedido tem uma série de características: 

1. Existência – deve ser expressamente referido, deve existir;

2. Inteligibilidade;

3. Determinação;

4. Compatibilidade;

5. Licitude;

6. Viabilidade;

7. Juridicidade;

O nosso pedido deve de observar todas estas características. 

12
Inês Tavares Lima

O pedido também pode assumir vários tipos: (art. 553o a 557o) 

O que é um pedido alternativo? 

Art. 553o – é aquele pedido que se deve dirigir no caso de estamos perante determinados tipos
de obrigações – obrigações as alternativas – onde o devedor vai ter a prerrogativa de escolher
uma dessas obrigações. 

Se estivermos perante essa escolha, posso formular um pedido alternativo. 

Se estivermos perante um pedido alternativo a ação terá o valor correspondente ao pedido que
terá o maior valor. 

Pedido subsidiário – tenho um pedido subsidiário quando formulo um segundo pedido apenas
na mera pressuposição do primeiro pedido não ser atendido. 

Ex.: Se dirijo um pedido contra uma companhia seguradora e dirijo à posteriori um pedido
contro o fundo de garantia automóvel, estou, na prática a dirigir o segundo pedido apenas na
mera pressuposição de não haver o seguro válido e eficaz e de o primeiro pedido naufragar. Só
vou conhecer do segundo pedido se o primeiro não for julgado procedente. 

Pedidos de prestações vincendas – art. 557o – quando temos prestações periódicas, nestas
circunstâncias podemos pedir as prestações que já se encontram vencidas e só essas é que
irão ser contabilizadas para efeitos de apuramento do valor da ação e posso depois pedir as
prestações que, entretanto, se vierem a vencer no decurso da ação, ex. juros. 

Artigo 552o al. g) – existem várias petições iniciais que não têm esta indicação ad início.
Normalmente a parte aposta tudo no facto da citação ser efetuada por via postal, assim não
vamos ter necessidade de recorrer ou ao agente de execução ou ao funcionário judicial para
levar a cabo a citação, no entanto se nós tivermos declarado expressamente na petição que
preferimos que a citação seja levada a cabo por intermédio de agente de execução ou
funcionário judicial, então obrigatoriamente tem que ser indicado ad início a identificação do
agente de execução ou do funcionário judicial. 

Esta alínea g) deve ser complementada com o número 11 do artigo 552o segundo o qual o
autor deve designar a gente de execução inscrito ou registado na comarca ou na sua falta em
outra comarca pertencente à mesma área competência do respetivo tribunal da relação sem
prejuízo do disposto no número 9 do artigo 231o, a par do número 9 será relevante o número
8. 

Segundo o número 9, temos a possibilidade de pedir que a citação seja levada a cabo por
funcionário judicial normalmente a opção por um ou por outro está apenas dependente do
custo benefício, normalmente a citação que é levada a cabo por funcionário judicial tem um
valor pré-determinado no âmbito do regulamento das custas processuais e que normalmente é
um valor que fica mais em conta. 

Relativamente ao número 8 – qual é a razão para indicar logo na petição inicial que pretendo
que a citação seja feita por funcionário por agente de execução ao invés de ser por via postal? 

Partindo do pressuposto que o citando, o potencial reu não assina os avisos de receção
tendentes à citação, vou ter obrigatoriamente de o citar, vou recorrer ao agente de execução ou
funcionário de justiça que ao invés de irem a casa dele vão ao seu local de trabalho (por
exemplo). 

Outros elementos: 

Art. 552o n6 – no final da petição inicial e nos termos do art. 572o al. d) no final da contestação
deve respetivamente o autor e o réu fazer a apresentação do requerimento probatório,
requerimento esse que não se vai esgotar no rol de testemunhas. Devemos indicar qualquer
meio de prova no âmbito do processo na petição inicial. 

O requerimento probatório não se esgota com a prova documental. 

13
Inês Tavares Lima

Artigo 552o n7 – para dar entrada de uma ação tenho obrigatoriamente que pagar o montante
devido pela taxa de justiça, vou recorrer a um site, vou imitir o documento único de cobrança
onde terei que introduzir a espécie de ação e o valor da ação e automaticamente o duc
(documento único de cobrança) será imitido. 

A partir do momento que introduzo a referência para pagamento no formulário do situs e coloco
em gravar o sistema vai ver se a taxa de justiça está paga ou se já foi utilizada no âmbito de
outro processo (não será validada). 

Assim, temos que ou pagar a taxa de justiça ou se não tivermos condições para tal temos que
recorrer previamente ao regime de acesso ao direito e aos tribunais e recorrer ao apoio
judiciário onde existe dispensa total ou parcial do pagamento da taxa de justiça. Neste caso,
normalmente, é preciso comprovar nos autos que o apoio foi deferido por parte da segurança
social. 

A segurança social vai fazer uma análise à situação económica do requente e vai ter que
comprovar que o requerente se encontra na situação de insuficiência económica. 

Se for atribuído o apoio judiciário, a segurança social vai emitir um documento que tem que ser
junto com a petição inicial. 

Há ainda uma outra situação a equacionar, por vezes, o estado é tudo menos um cumpridor da
celeridade, normalmente a segurança social demora muito tempo a conceder um deferido
apoio beneficiário, e muitas vezes não há condições para eu estar à espera durante aqueles
meses, assim, em certas situações é possível que o juiz junto apenas o documento
comprovativo de ter requerido junto da segurança social o apoio judiciário, esse documento
devidamente carimbado pela segurança social é por si só bastante para eu poder dar entrada
da minha ação. 

Se tivermos nos termos do artigo 561o numa situação de citação urgente, por outro lado outra
circunstância que pode motivar à apresentação do documento de concessão de apoio
judiciário, se faltarem menos de 5 dias para o termo do prazo de caducidade (331o/1 CC), por
outro lado também nos processos de natureza urgente (procedimentos cautelares), são
algumas das situações que possibilitem que eu junte apenas o requerimento e não a
concessão de apoio judiciário. 

Pode acontecer que, requeri a concessão de apoio judiciário, estou convencido que preencho
os requisitos para a concessão do apoio judiciário mas a segurança social tem entendimento
contrário e vai-me indeferir o pedido – número 10 – o autor deve efetuar o pagamento da taxa
de justiça no prazo de 10 dias a contar da data da notificação da decisão definitiva que indefira
o pedido de apoio judiciário sob pena de desentranhamento da petição inicial apresentada. 

Quando é que isso não ocorre? – quando o indeferimento do pedido de apoio judiciário só for
notificado depois de efetuada a citação do réu, há aqui uma manifestação do princípio do
contraditório, a partir do momento em que o réu é citado, o processo também é algo que lhe diz
respeito, o réu terá a possibilidade de se defender. 

Cumpridos os requisitos previsto no artigo 552o CPC vamos passar para um outro aspeto que
é o modo de apresentação a juízo da nossa petição inicial – art. 144o n1 

Portaria 280/2013 de 26 de agosto 

O modo de apresentação da petição inicial é obrigatoriamente pelo situs, partindo do


pressuposto que eu tenho uma ação com o valor de pelo menos 5M€ e 1 cêntimo, pois as
ações até 5M€ em princípio não constituem a obrigação de advogado, as partes podem pleitear
a si só. 

Quando a ação não importa constituição do mandatário e de facto quando não há mandatário
constituído, nessas circunstâncias podemos utilizar diversos mecanismos alternativos ao situs,
esses mecanismos são os previstos nas alíneas a) a d) do número 7 do artigo 144o CPC. 

14
Inês Tavares Lima

Há que destacar as situações das alíneas a), b) e c): 

Alínea a) – entrega em suporte papel, na própria secretaria do tribunal. A parte vai entregar a
sua petição inicial em original suporte papel em tribunal, e o tribunal vai por um carimbo nessa
petição inicial e ao fazê-lo vai estar a dizer que a instância se iniciou naquela data. 

Não havendo a possibilidade ainda de as partes que não estão representadas por mandatário
poderem dar entrada da petição inicial por exemplo por intermédio de email, se as partes para
dar entrada da petição inicial têm que recorrer ao mecanismo que esta previsto na portaria, as
partes teriam de estar registadas no situs o que não acontece, quem está registado no situs
são os advogados e profissionais forenses. 

Alínea b) – remessa pelo correio sob registo


NOTA: quando dou entrada de uma petição inicial por intermédio de correio e sendo correio
registado vou ter 

O talão de registo que é fornecido pelos CTT. 

Se for a uma parte do site que diz respeito à pesquisa de objetos postais e se colocar este
registo vai me dizer qual foi a data em que a carta foi expedida. Naturalmente que a carta só é
rececionada no tribunal no dia seguinte ou passado alguns dias dependendo do sítio do país.
Quando envio a petição inicial pelo correio peço para me ser devolvido um duplicado da
mesma devidamente carimbado, vai acontecer que a secretaria vai colocar o carimbo nesse
duplicado, não com a data do dia em que foi registado o correio, mas com na data do dia em
efetivamente recebeu o correio. 

Havendo uma divergência de datas, a que prevalece nos termos da alínea b) é a data do
respetivo registo postal. 

Alínea c) – envio através de telecópia (fax) – já não se usa 

Todos estes mecanismos alternativos constantes do artigo 144o n7 eram utilizados quando na
tínhamos mandatário judicial constituído, só que ainda há possibilidade de eu utilizar estes
mecanismos das alíneas a) a d) tendo mandatário judicial constituído, única e exclusivamente
na situação de justo impedimento. O mandatário que não teve possibilidade de praticar o ato
em determinado dia ocorrendo uma situação de justo impedimento, pode utilizar em alternativa
ao situs os mecanismos do art. 144o n7 (remissão para artigo 140o). 

Recusa da petição pela secretaria 

Quando é que a petição inicial deve ser recusada? 

Artigo 558o CPC – n1 enunciação taxativa, apenas nas situações previstas nestas alíneas é
que a petição inicial poderá ser recusada. 

Decreto lei 135/99 de 22 de abril – refere que se deve utilizar folhas de papel normal 

Quem é que vai fazer esta inspeção formal relativamente aos requisitos da petição inicial que
estão inobservados e consequentemente determinarão a recusa de recebimento da petição
inicial? – nos termos do número 2 a verificação destes fundamentos de rejeição vai ser
efetuada pelo sistema de suporte de atividade dos tribunais ou então se tal não for possível
pela própria secretaria. 

Se tivermos perante a apresentação da petição inicial por alguma das formas constantes das
alíneas a) a c) do número 7 do art. 144o quem vai fazer essa inspeção formal vai ser a própria
secretaria no ato de recebimento da petição inicial. 

Se a secretaria recusa o recebimento da petição inicial mas verdadeiramente não a deveria


recusar, quais são os meios que tenho ao meu alcance para impugnar esta decisão por parte
secretaria? 

1. Reclamação para o juiz nos termos do n1 do art. 559º;

15
Inês Tavares Lima

2. Alteração introduzida por intermédio do decreto-lei 97/2019 de 26 de julho – havia


sempre a possibilidade de o autor vir apresentar a petição devidamente corrigida, sem
o elemento que a afetava, beneficiando desta forma do prazo de propositura da
primeira ação. Atualmente nos termos do art. 560º o autor só pode apresentar essa
petição ou juntar o documento a que se refere a primeira parte do disposto no art. 558º
al. f) se estivermos perante causas que não importe a constituição de mandatário e a
parte não esteja patrocinada. Se houver constituição de advogado, de mandatário
judicial, não pode a parte fazer valer o artigo 560º.

Houve uma restrição a nível das situações que possibilitam a apresentação de nova petição em
juízo. 

Segundo o artigo 259º n1 – a instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se
proposta, intentada ou dependente logo que a respetiva petição se considere apresentada nos
termos dos números 1 e 6 do art. 144º - existe aqui uma imprecisão, não é nos termos dos
números 1 e 6 mas sim dos números 1 e 7. 

No entanto, é importante saber quais os efeitos que derivam desta data de apresentação da
petição inicial, os efeitos são sobretudo quatro: 

1. Quanto à forma de processo aplicável – art. 136o n2 – estabelece que a forma de


processo aplicável se determina pela lei vigente à data em que a ação é proposta.
Qualquer alteração ao nível da legislação processual e no que diz respeito à forma de
processo não vai ter qualquer relevância porque a data que verdadeiramente conta foi
a data em que a petição inicial foi apresentada em juízo. A lei vigente nessa altura é a
lei que vai prevalecer;

2. Quanto à competência – art. 38º n1 LOSJ – a competência vai-se fixar no momento em


que a ação se propõe;

3. Art. 44o n3 LOSJ – admissibilidade de recurso – se era admissível recurso naquela


ação em concreto no momento em que a ação foi proposta, mesmo que se retire essa
possibilidade, não vai afetar aquela ação. Prevalece a lei que estava vigente à data;

4. Art. 331º n1 CC – a apresentação da petição inicial em juízo é causa impeditiva da


caducidade do exercício do direito que o autor faz valer na ação. 

Distribuição – art. 203º

A distribuição tem um fim, fim esse que é repartir o trabalho que o tribunal vai ter e fazê-lo de
forma quer igualitária quer com uma componente de aleatoriedade (imprescindível no âmbito
dos processos judiciais). 

Igualdade porquê? 

Se partirmos do princípio de que um tribunal só tem um juiz, não há necessidade de fazer


distribuição, portanto, nós só temos obrigatoriamente de fazer distribuição quando no tribunal
existe mais do que um juiz. 

NOTA: não falamos em juízos – podemos ter apenas um juízo no tribunal, e ainda assim ter
vários juízos e, nesse caso, é obrigatória a distribuição. 

Sempre que temos mais do que um juiz a servir num tribunal vamos ter de lhes atribuir os
processos da forma a permitir a divisão do trabalho com igualdade entre eles. 

Ex.: temos dois juízes a servir no tribunal e deram entrada 10 processos. Através da
distribuição, consegue-se que o juiz número um fique 5 processos e o juiz número dois fique
com 5 processos. 

O que se quer com a distribuição é, em primeiro lugar que ela seja repartida de forma
igual. 

16
Inês Tavares Lima

Se tivéssemos outros critérios violadores do princípio do juiz natural, podíamos correr o risco
de ter 8 processos entregues ao juiz 1, e apenas 2 ao juiz 2. Com isto, estaríamos a violar a
finalidade igualitária da distribuição. 

Nota relativamente à instância: esta norma tinha por base a lei da organização do sistema
judiciário

A distribuição tem de ser feita de forma aleatória há, inclusive um método eletrónico (é o que
nos CPC + portaria 280/2013 que regula a tramitação eletrónica dos processos judiciais).

NOTA: o CPC dizia, anteriormente, que a distribuição teria de ser feita de forma automática.
Hoje em dia, diz que esta tem de ser feita de forma eletrónica. 

Até há muito pouco tempo atrás, a distribuição era feita de forma manual. 

Lei 55/2021 – vem introduzir determinadas alterações ao nível da distribuição, para que
aquelas situações de possibilidade de atribuir diretamente um processo a um juiz fossem
eliminadas. 

Muitas vezes tem-se a ideia de que um processo era atribuído a um magistrado por mero
interesse, mas há́ situações em que não podíamos ultrapassar a distribuição, desde logo as
reclamações que tinham obrigatoriamente que ir diretamente para o STJ. Há́ situações em que,
por mais que se tenha estabelecido a regra da aleatoriedade e da distribuição eletrónica, o
processo tem necessariamente que cair nas mãos do Sr. Presidente do STJ. 

Tínhamos a distribuição a ser feita diariamente, 2 vezes: 1a vez às 9h e 2a vez às 16h –


atualmente art. 208º CPC

Espécies da Distribuição – 212º CPC

Nota: apesar de estarem previstas no 212º CPC – é necessário complementar o 212º com os
artigos 214º e 215º, no que diz respeito às espécies junto (???) 

Portanto, o nosso processo, petição inicial deu entrada, foi apresentado em juízo, foi aceite por
parte do tribunal e não houve qualquer motivo para recusa por parte da secretaria. 

E depois? O que vai acontecer? 

Vai acontecer uma de 2 coisas: 

1.     Ou vai haver a possibilidade de o juiz tomar contacto com o processo pela 1ª vez,
através da intervenção liminar; 
2.     Ou, partindo do pressuposto que não há́ qualquer motivo para esta intervenção
liminar, vamos passar para a citação.

Intervenção Liminar

Atualmente a intervenção liminar é uma regra ou uma exceção? 

É uma exceção – no processo civil (porque há́ outros ramos do direito adjetivo que
obrigatoriamente comportam o despacho liminar) só há despacho liminar em determinadas
circunstâncias: 

Art.226º/4 e 590º/1 CPC

Porquê que o legislador decidiu referir que, apenas nestas circunstâncias é que há
intervenção liminar? 

Antigamente após a distribuição era obrigatório que o processo fosse parar às mãos do juiz –
no entanto, a maioria dos processos não são afetados por vícios de tal forma graves que
impeçam a citação do réu; 

17
Inês Tavares Lima

Ou seja, a PI pode ser afetada por determinados vícios – sendo que alguns geram a ineptidão
e outros podem gerar a recusa por parte da secretaria; 

Acontece que, a regra geral é de que a PI obedece aos requisitos que se encontram previstos
no 552º. 

O juiz vai já ter conhecimento do processo nesta 1a fase do processo (provavelmente violando
o princípio da igualdade entre as partes) para muitas vezes, fazer apenas 1 coisa: ordenar a
citação do réu; 

Não se sentia necessidade de ter o despacho liminar como regra.

Circunstâncias em que existe despacho liminar – art. 226º n4 (remissão para o art. 560º CPC)

Fora das circunstâncias previstas no 226º n4 não há intervenção liminar. Proferido o despacho
liminar e, em caso de indeferimento liminar, coloca-se 1 questão: 

O que pode o autor fazer?

1.     O legislador manda aplicar o disposto no 560º CPC (ex vi art.o 590º in fine) – beneficio
concedido ao autor: Quando se trate de causa que não importe constituição de
mandatário. 
2.     Há ainda, a possibilidade de o autor impugnar este despacho de indeferimento liminar –
em toda e qualquer circunstância: art. 629º n3 al. c) – as ações contra despacho de
indeferimento liminar admitem sempre recurso independentemente do valor da causa. 

Caso não haja indeferimento liminar: 

O processo vai seguir os seus termos. O que vai acontecer? Vai dar-se início à citação (219º e
ss CPC); 

Citação – é um ato processual que integra a família das notificações. A citação só́ ocorre 1 vez
no processo e serve para chamar a juízo o réu pela 1a vez 

A citação distingue-se da notificação – a citação é feita 1 única vez, para chamar o réu ao
processo. A partir do momento em que o réu já foi citado, não mais vai ser citado. 

Exemplo: os procedimentos cautelares podiam ser requeridos preliminarmente ou


incidentalmente. 

Normalmente quando são pedidos preliminarmente (antes da instauração da causa) o


requerido vai ser citado, vai ser chamado aos autos pela primeira vez). 

Mas se tivermos um procedimento cautelar requerido incidentalmente, já́ não vai haver a
citação – que já́ houve no âmbito da causa principal. 

Funções da Citação:

1.     Transmissão de conhecimento – está-se a transmitir ao réu de que contra ele foi
intentada uma ação;
2.     Vai-se convidar o réu para que ele exerça o seu direito ao contraditório; 
3.     Vai-se informar o réu do prazo que este vai dispor para exercer o seu direito à defesa,
através da contestação. 
 

Quem tem a incumbência de realizar a citação? 

Art. 226º CPC – a citação é levada a cabo por parte da secretaria (princípio da oficiosidade das
diligencias destinadas à citação, a cargo da secretaria); 

Questão relativa à intervenção liminar: 

18
Inês Tavares Lima

o Se é a secretaria que leva a cabo os atos tendentes à citação, não faz sentido que o
processo vá́ para as mãos do juiz para que ele simplesmente ordene à secretaria a realização
da citação (salvo as exceções do 226o/4); 

A par do princípio da oficiosidade, há́ um outro princípio muito importante relativo à citação: 

Princípio da Celeridade – 226º n2 e n3 

Temos de realizar a citação o mais rápido possível – sendo a citação um ato fundamental no
processo, se esta não estiver feita, não vamos poder praticar qualquer outro ato processual – a
citação é obrigatória 

Nota: há́ situações em que a citação se torna muito complicada e, no limite, podemos levar a
cabo a citação edital (através da publicação de um anúncio).

Modalidades de citação – art. 225º CPC 

Citação pessoal

Possibilidade de a levar a cabo por intermédio de via postal ou por intermédio de contacto
pessoal do agente de execução ou do funcionário judicial; 

É obrigatório designar quem é o agente de execução que vai levar a cabo a citação – se, não
for possível levar a cabo a citação por via postal, temos indicação que será́ o agente a fazê-lo
por intermedio de contacto pessoal. 

Nota: o n2 alínea a) fala da citação por via eletrónica – para haver uma citação por via
eletrónica era preciso que todos os cidadãos tivessem um endereço de email fidedigno e
reconhecido por todas as autoridades, designadamente as autoridades judiciarias. 

O Tribunal Constitucional veio a declarar inconstitucionalidade da citação por via postal


simples: 

Não era possível provar que de facto o réu tinha tido conhecimento de que contra ele havia
sido instaurada uma ação; 

No caso do email, a situação é a mesma – não há́ como provar em concreto. 

Contrariamente ao que se passa noutros ordenamentos jurídicos como por exemplo o


ordenamento francês, belga, italiano e espanhol) onde a citação é feita por intermedio de
contacto pessoal, o nosso ordenamento desde o decreto-lei 242/85 no que diz respeito às
pessoas coletivas introduziu a possibilidade de a citação pessoal ser feita por intermedio da via
postal. 

Na reforma que se seguiu de 95/96, mais precisamente através dos decretos-lei 329/95 e
180/96 também no âmbito da citação de pessoa singular se veio estabelecer como regra a
citação pessoal por via postal. O nosso legislador mune-se de especiais cautelas relativamente
a esta citação por via postal porque exige, em princípio, e partindo do pressuposto que não
estamos numa situação de domicílio convencional, onde as regras não são essas, mas,
quando é por via portal terá que ser por carta registada com aviso de receção. Contudo, o ideal
seria que a citação fosse feita por contacto pessoal e que imediatamente o citando assinasse a
nota de citação perante o agente de execução ou perante o funcionário judicial. No entanto,
não é isso que ocorre, primeiro começamos pela citação por via postal e só na hipótese se o
autor assim tiver declarado na petição inicial é que temos antes da citação por via postal a
citação por intermedio de contacto pessoal ou do agente de execução ou do funcionário
judicial. 

1.     Regra – citação por via postal – artº 228º n1 constata-se que esta citação pessoal por
via postal, e partindo do pressuposto que estamos perante uma pessoa singular,
(pessoas coletivas art. 246º) é feita por carta registada com aviso de receção de modelo
oficialmente aprovado e que é dirigida ao citando ou para a sua residência ou para o seu
local de trabalho. Normalmente a morada indicada é a morada que corresponde à

19
Inês Tavares Lima

residência, mas se se indica a residência e não se logra efetuar a citação, vai haver a
certidão negativa e em princípio a secretaria vai junto do autor colher elementos à cerca
de outro local onde poderá o citando vir a ser citado e em princípio aí, aparecerá a
questão do local de trabalho. 

Partindo do pressuposto que o citando se encontra nessa morada quer pessoal quer
profissional, a citação considera-se efetuada precisamente na data em que se mostra assinado
o aviso de receção. 

Por vezes, o citando não se encontra no local (residência ou trabalho);

Não se encontrando o citando é possível, ou não, levar a cabo a citação no intermedio de outra
pessoa, designadamente na pessoa de um terceiro. Nós podemos efetuar a citação em
qualquer pessoa que se encontre na residência do citando, quer seja familiar ou amigo ou até
vizinho, mas nessa circunstância o distribuidor de serviço postal vai imediatamente alertar esse
terceiro do dever de comunicar a citação o mais depressa possível ao citado. Existe
obrigatoriedade de entregar a citação e os elementos que a acompanham o mais rápido
possível. 

O legislador ainda se vai munir de uma outra cautela, que é enviar uma carta registada pra o
citado para lhe dar conta que a citação foi efetuada em determinado dia e na pessoa X – art.
228º n3 e n4 e art. 230º (data de citação a data que se fizer constar no aviso de receção
independentemente de a citação ser assinada pelo próprio ou por um terceiro), art. 233º
(estabelece no caso de a citação ser efetuada em pessoa diferente do citando a
obrigatoriedade de se enviar no prazo de 2 dias uteis uma carta registada ou citando
comunicando a data e modo que o ato se considera realizado, o prazo para oferecimento da
defesa, o destino dado ao duplicado e a identidade da pessoa em quem a citação foi realizada)
art. 227º (elementos que devem acompanhar a citação – copia da petição inicial e copia de
todos os documentos que acompanhem essa petição inicial);

Existem determinados elementos quer devem ser indicados ao citando designadamente o


prazo de que ele vai dispor para exercer o seu direito ao contraditório, as consequências que
derivam da falta de apresentação da contestação e se há ou não necessidade de constituir
advogado. 

Não estando ninguém na morada, se não existir possibilidade de levar a cabo a citação por
uma terceira pessoa, nos termos do n5 vai ser deixado um aviso ao destinatário (citando)
comunicando-lhe que a carta vai ficar à sua disposição durante 8 dia no estabelecimento postal
devidamente identificado (estação dos ctt) para que ele levante a carta e se efetue a citação. 

Se nem sequer houver possibilidade de deixar esse aviso, por inexistência de caixa postal,
porque as caixas postais estão no interior do prédio e o distribuidor não tem acesso, porque a
caixa estão dento de um portão e o distribuidor apercebe-se da presença de um cão agressivo
e não vai entrar para deixar o aviso, nestes casos nos termos do n7 o distribuidor do serviço
postal vai lavrar nota da ocorrência e vai devolver o expediente ao tribunal. 

Citação de pessoas coletivas:

Art. 246º e 223º 

A citação não tem obrigatoriamente que ser levada a cabo na pessoa dos (13:16)
representantes, preferencialmente deve sê-lo mas há possibilidade de se levar a cabo a citação
no trabalhador que se encontre na sede ou local onde funciona normalmente a administração –
art. 223º n3

Citação pessoal por via postal

Art 229º: situações de domicílio convencionado – decreto-lei 269/98 – ações para


cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos, no âmbito dessas ações,
desde que os contratos sejam reduzidos a escrito e desde que o valor não ultrapasse o valor
da alçada da relação, ou seja, até 30M euros (se o exceder ainda existe outra exceção, desde
que respeite a um fornecimento continuado de bens ou serviços) a citação efetuação no

20
Inês Tavares Lima

domicilio que foi convencionado pelas partes no âmbito desse contrato. Existe uma clausula no
contrato que tem por epigrafe “foro” que diz o tribunal competente e a morada que as partes
elegem para eventuais notificações ou citações, para onde vai ser expedida a carta.

Nos termos no n3 no mesmo artigo, se o citando recusar a assinatura do aviso de receção ou


recebimento da carta a essa mesma citação o distribuidor postal vai lavrar nota do incidente
antes de a devolver e a citação considera-se efetuada face à certificação da ocorrência. 

à O simples facto de ocorrer a recusa do recebimento da citação não invalida que


consideremos a citação como efetuada. 

Se não se conseguir efetuar essa citação por via postal vamos tentar fazer a citação por
intermedio de contacto pessoal, que vai ser feita por intermedio de agente de execução
– art. 231º n1

O agente de execução vai se deslocar à residência ou ao local de trabalhado do citando e vai


lhe entregar uma nota de citação que vai ser assinada pelo citando, na data que se fizer
constar nessa nota de citação considera-se efetuada a citação pessoal. 

Art. 231 n6 – Existe a possibilidade de o agente de execução mandatar outra pessoa, um


colaborador para efetuar a citação. 

Quando a citação é levada a cabo pelo agente de execução, partindo do pressuposto que o
citando se recusa a assinar a nota de citação, vai se lavrar nota dessa ocorrência mas a
citação vai se considerar realizada, no caso de a citação ser pelo colaborador a citação só se
considera efetuada se houver assinatura por parte do citando. Se a citação for levada a cabo
pelo agente de execução, se houver uma recusa por parte do citando a citação considera-se
efetuada.

Por vezes ocorre que não se encontra o citando no local que é indicado, ou seja, existe a
necessidade de haver recurso à chamada citação por contacto pessoal com data e hora certa.
Sabemos que o citando reside naquele local, trabalha naquele local mas no momento em que o
agente se deslocou ao local ele não estava, neste caso deixa-se uma nota tendente a avisar o
citando que em determinado dia e em determinada hora de novo o agente de execução se vai
deslocar ao local para efetuar a citação. Nesta data podemos ter recurso à pessoa de terceiros,
o terceiro que esteja no local pode receber a citação com a incumbência de ter de prontamente
transmitir ao citado que a citação foi em si efetuada ou então se não houver essa possibilidade
vai se perante duas testemunhas afixar na porta do local que se levou a cabo a citação por esta
via.

Citação edital

Uma palavra que caracteriza a citação edital é incerteza. No que diz respeito à incerteza vamos
ter uma de duas situações:

1.     Quando são incertas as pessoas a citar;


2.     Quando há a verificação do conceito de ausência em parte incerta;

Isto exclui as situações que por vezes se julgam passiveis de efetivação da citação pessoal de
ausência em parte certa. Por vezes deslocamo-nos aos vários locais, residência, local de
trabalho, havendo dificuldade na realização da citação, tenta-se passar para a citação edital. 

Se temos uma ausência do citando, mas essa ausência é em parte certa não podemos recorrer
à citação edital – art. 235º e 236º - para se considerar o citando como ausente em parte incerta
tenho que esgotar todas as bases de dados dos serviços do art. 236º n1, só à posteriori é que
o juiz vai ordenar a citação edital, este é um dos casos em que se exceciona o princípio da
oficiosidade das diligencias destinadas à citação. 

Como é que a citação edital é feita? 

É feita por intermedio de um edital e por intermedio de um anúncio – art. 241º n1 e 2

21
Inês Tavares Lima

O anúncio tinha que ser publicado num dos jornais mais lidos da localidade. Atualmente a
publicação do anúncio é feita numa página prevista no art. 240º n1 e na portaria 280/2013 art.
24º

Momento em que a citação edital se considera efetuada – a regra é do art. 242º n1 segundo a
qual a citação se considera feita no dia da publicação do anúncio. 

Citação promovida por mandatário judicial – art. 237º segue o regime do art. 231º com as
necessárias adaptações. Nos termos do n2 e 3 podemos ter o recurso a colaboradores do
mandatário judicial na efetivação desta citação. Nos termos do art. 238º n3 quem vai ser
responsabilizado por eventuais ações ou omissões culposamente praticadas pela pessoa
encarregue de proceder à mesma será o mandatário judicial. 

Prazos

Consoante a citação seja feita ou na própria pessoa ou em pessoa diversa, seja feita na área
da comarca onde pende a ação ou fora dessa área da comarca, seja feita no território de
Portugal insolar quando a ação corre em Portugal continental ou quando a citação é feita no
estrangeiro vai haver o acréscimo de um prazo que é o prazo dilatório – art. 245º 

Temos três dilações:

·       5 dias;
·       15 dias;
·       30 dias;

Nos casos de citação em pessoa diversa e nos caos de citação em comarca diversa temos ao
prazo perentório, prazo de 30 dias art. 569º n1 temos o acréscimo de 5 dias aos 30 dias. 

Quando temos uma ação que está instaurada num tribunal do continente e o réu reside nos
açores ou na madeira temos uma dilação de 15 dias.

Quando temos uma citação levada a cabo no estrangeiro ou então quando temos uma citação
edital temos uma dilação de 30 dias – art. 245º 

Estas dilações podem ser cumuláveis, se tivermos uma citação efetuada nos açores e a ação
tiver pendente no continente e que seja feita em pessoa diversa aos 15 dias resultantes do art.
245º n3 devemos adicionar os 15 dias resultantes da al. a) do n1 do art. 245. 

1º aspeto a realçar relativamente aos efeitos da citação – a partir do momento que se dá a


citação do réu temos a passagem de uma relação jurídico processual bilateral para uma relação
triangular, ou seja, o início da instância a partir do art. 259º nº1 dá-se apenas com o autor. O
autor vai estabelecer a sua relação jurídica com o tribunal e só a partir do momento em que
temos a citação, na prática temos a constituição do réu como parte, só aí é que vamos passar a
ter a relação jurídico processual triangular:

1. Relação do autor com o tribunal;

2. Relação do réu com o tribunal;

3. Relação entre as partes;

2º aspeto – os efeitos da citação poderão ser efeitos processuais ou efeitos materiais:

• Efeitos processuais:

- Início do prazo de contestação: decorre do n1 do art. 569o – a partir do momento que a


citação se considera efetuada, no que diz respeito à citação pessoal a partir do momento em que
o réu ou um terceiro assina o aviso de receção ou então a citação edital a partir do momento em

22
Inês Tavares Lima

que o anuncio foi publicado temos a contagem de um prazo de 30 dias que pode ser percebido
consoante a modalidade de citação por uma dilação de 5, 15 ou 30 dias ou então por uma
cumulação de dilações.

- Com a citação dá-se a chamada estabilização dos elementos essenciais da causa:


decorre do art. 260º – a partir do momento em que se dá a citação os sujeitos e o objeto,
designadamente a causa de pedir e o pedido, vão ter que se manter estáveis desse momento em
diante. Enquanto não se dá citação nada impede que o autor venha alterar o seu pedido, alterar a
causa de pedir, mas a partir do momento em que se dá a citação, observando-se o princípio do
contraditório, tem que haver estabilização dos elementos essenciais da causa e para haver
qualquer tipo de alteração o réu vai ter que ser implicado no âmbito da instância.

Na prática, a regra é a estabilização embora em determinadas circunstâncias possamos ter


modificações de índole objetiva e modificações de índole subjetiva:

4. Modificações objetivas: temos que estabelecer a destrinça consonante haja acordo das partes
ou não.

Art. 264º – estabelece que o pedido e a causa de pedir poderão ser alterados ou ampliados em
qualquer altura, em primeira ou segunda instância salvo se a alteração ou ampliação perturbar
inconvenientemente a instrução, discussão e julgamento. Desde que haja acordo entre o autor e
o réu nada impede que exista esta alteração objetiva, quer ela se dê em primeira instância quer
em fase de recurso, nada impede que o autor venha reduzir o pedido numa fase mais adiantada
designadamente depois de haver decisão do tribunal de primeira instância.

Se não houver acordo temos que atender ao art. 265º nº1 – a causa de pedir só pode ser alterada
ou ampliada em consequência de confissão feita pelo réu e desde que a mesma seja aceite pelo
autor, havendo nesse caso um prazo de 10 dias a contar da aceitação e relativamente ao pedido
nos termos no nº2 o autor pode em qualquer altura reduzir o pedido e ampliá-lo até ao
encerramento da discussão em primeira instância se a ampliação for o desenvolvimento do
pedido primitivo.

Uma das funções que a réplica desempenhava antes do CPC de 2013 era servir como
instrumento jurídico processual para estas alterações objetivas. Atualmente, se verificarmos o
preceito legal referente à réplica, art. 584º – do objeto da réplica não consta esta possibilidade
de alteração do pedido ou da causa de pedir.

2. Modificação subjetiva: relativamente à alteração dos sujeitos. Em que medida é que elas
poderão ocorrer no âmbito do processo? – arts. 261º e 262º – quanto à intervenção de novas
partes, até ao transito em julgado da decisão julgar ilegítima alguma das partes por não estar em
juízo determinada pessoa, pode o autor ou o reconvinte chamar essa pessoa a intervir nos termos
dos arts. 316º ss. ou seja, através do incidente de intervenção principal.

– Quando analisamos o pressuposto processual da legitimidade – uma das formas de se


ultrapassar a ilegitimidade era chamar a juízo a parte legitima.

Podemos ter através do chamamento da parte legitima uma modificação subjetiva da instância
porque a parte da parte primitiva podemos ter o advento de um novo sujeito jurídico processual.

Por outro lado, também podemos ter modificações subjetivas quando temos uma sucessão a
nível dos sujeitos quer essa sucessão seja entre vivos quer essa sucessão seja mortis causa – se
um dos intervenientes originários do processo falecer na pendência do processo vai haver recuso

23
Inês Tavares Lima

através do incidente da habilitação a um chamamento dos sucessores do falecido, podemos


nessa circunstância falar de uma notificação subjetiva da instância.

Princípio da estabilidade da instância – art. 260º tem as exceções e art. 564º al. d)

Inibição de propositura de uma nova ação: art. 564º al. c) – podemos ter as posições contrárias,
ou seja, tenho uma ação declarativa de condenação instaurada contra o réu e isso inibe o réu de
vir instaurar uma ação de simples apreciação negativa ou então posso ter uma situação onde se
pretende obter exatamente o mesmo efeito jurídico nas duas ações. Quer num caso quer noutro
temos a chamada situação de litispendência, ou seja, não é possível eu ter pendentes duas causas
para a mesma apreciação jurídica. A segunda ação vai ser a ação sacrificada, a segunda ação é
naquela onde vai ocorrer a citação posteriormente. Não é a data da petição inicial que vale mas
sim da citação em primeiro lugar.

• Efeitos materiais:

• –  Art. 564º al. a): a partir do momento em que o réu que possuía algo de boa-fé é citado
para uma ação de reivindicação de propriedade para uma ação possessória, a partir desse
momento passa a considerar-se que ele possui a coisa de má-fé;

• –  Interrupção dos prazos de prescrição: art. 323º nº1 CC a prescrição interrompe-se


pela citação ou notificação judicial de qualquer ato que exprima direta ou indiretamente a
intenção de exercer o direito seja qual for o processo a que o ato pertence e ainda que o
tribunal seja incompetente. A partir do momento em que se dá a citação um eventual
prazo prescricional que esteja em curso vai-se interromper. A interrupção não é sinónimo
de suspensão, é preciso saber quando vou reiniciar a contagem desse prazo prescricional,
isso vai ocorrer a partir do momento em que há transito em julgado no âmbito desse
processo, aí reinicia-se a contagem do eventual prazo prescricional que foi interrompido.

Quando se faz apelo à notificação judicial podemos ter a chamada notificação judicial avulsa
única e exclusivamente para a interrupção do prazo prescricional;

Ex.: prazo prescricional de 3 anos, tinha decorrido um período de 2 anos, a partir do momento
em que se dá o transito em julgado do processo instaurado, se o prazo voltar a correr ele vai
reiniciar, não se suspende.

Art. 323º nº2 – o legislador tentou acautelar a seguinte circunstância, vamos partir do
pressuposto que esse prazo prescricional está prestes a completar-se, na prática tem que haver
lugar à citação, só que por um facto que não é imputável ao requerente da citação (autor), a
citação não é efetuada ainda que dentro do prazo prescricional. Como essa situação não é
controlável o legislador refere que desde que haja o requerimento da citação 5 dias antes da
verificação da prescrição, temos na mesma que considerar o prazo como interrompido ainda que
a citação não seja levada a cabo.

Um efeito natural da instauração da ação, da apresentação da petição inicial é que o momento


subsequente será o momento da citação, a secretaria já saberá que terá de promover a citação,
partindo do pressuposto que não foi requerida a citação por contacto pessoal normalmente por
via postal, pode não se concretizar dentro dos cinco dias, não se concretizando dentro dos cinco
dias desde que haja a instauração, a apresentação da petição inicial antes desses cinco dias a
parte está acautelada porque não lhe vai poder ser imputada a não realização da citação.

Partindo do pressuposto que amorada apresentada pelo réu será a morada correta, se me engano
na apresentação da morada em sede de petição inicial, já estamos perante um facto imputável ao
requerente autor, não se aplica o art. 323º nº2.

24
Inês Tavares Lima

• –  Interrupção dos prazos de usucapião: art. 1292º CC são aplicáveis à usucapião com
as necessárias adaptações as disposições relativas à suspensão e interrupção da
prescrição;

• –  Constituição do devedor em mora: a partir de que momento é que se contam os juros


moratórios? Se temos uma obrigação sem prazo certo e se eu não tenho uma notificação
extrajudicial para cumprimento vou ter que saber quando se começa a contar os juros
moratórios – a partir do momento em que se dá a citação. O momento que marca o termo
inicial é a citação, a partir daí temos que considerar que o devedor/réu está constituído
em mora art. 805º n1 CC;

Nulidades da citação

Art. 188º (inexistência) e 191º (nulidade) CPC.

Falta de citação – alíneas a) a e) n1 art. 188º – nos casos de falta de citação o regime aplicável é
o do art. 187º al. a).

Art. 196º nestes casos o tribunal pode conhecer oficiosamente desta falta de citação algo que
não ocorre nos caos de nulidade secundário porque aí em princípio ela deve ser arguida ou
invocada pelo interessado.

Nulidade secundária – art. 190º quando temos a inobservância das formalidades prescritas na
lei. Ex. art. 227º que obriga a remeter ao citando o duplicado da petição inicial e todos os
documentos que acompanham a mesma. Vamos partir do pressuposto que esses documentos não
são entregues ao citando, nesse caso existe inobservância de uma formalidade legal que é
cominada com a nulidade prevista no nº1 do art. 191º. Art. 196º esta nulidade terá de ser
conhecida por reclamação dos interessados.

Prazos processuais
O que é isso?

O prazo é um período de tempo, dentro do qual se deve levar a cabo um determinado


ato processual ou exercer um determinado direito.

Classificação dos prazos processuais

Quanto à sua natureza:

Prazos substantivos - Fundamentação legal - 279º CC

Pese embora diga respeito aos prazos substantivos tem uma alínea que vai ser crucial
no que diz respeito à contagem dos prazo adjetivos ou processuais (alínea b)

Prazo adjetivos ou processuais - Fundamentação legal - 138º CPC

Quanto à fonte:

Prazos legais - encontram-se marcados por lei.

25
Inês Tavares Lima

Prazos jurisdicionais - normalmente são marcados por despacho do juiz.

Quanto aos efeitos (139º CPC)

Prazos dilatórios - O artigo 245º contém prazos dilatórios, à defesa do citado acrescia
sempre um prazo de 5 ou de 30 dias, sem prejuízo da cumulação de dilações se
tivéssemos perante uma citação com determinadas características (se fosse uma
citação em pessoa diversa, em comarca diversa, uma ação pendente nas regiões
autónomas, citação edital levada a cabo no estrangeiro). Isso são prazos dilatórios, o
que significa? Significa que dilatam ou protelam no tempo o inicio de contagem de um
outro prazo, na prática, o prazo dilatório, vai fazer com que o prazo que se subsegue
(que é o prazo perentório) só tem inicio depois de concluído o prazo dilatório 139º/2.

ERRO COMUM - Há pessoas que contam o prazo dilatório no final do prazo perentório
Ex: Temos um prazo perentório de 30 dias, no fim acrescem 5 dias porque, por
exemplo a citação foi levada a cabo em pessoa diversa. É um erro porque se
analisarmos o próprio conceito prático “dilatório” verificamos que é considerado dessa
forma porque vai proferir/protelar para outro momento o inicio de contagem de um
outro prazo. Estaríamos também a violar uma regra que está prevista no CPC - o
artigo 142º.

Sempre que temos um prazo dilatório e perentório o


primeiro que irá ser contado é o prazo dilatório.

Se ainda assim pensássemos contar o prazo dilatório apenas no final, tínhamos um


problema relativamente ao prazo de complacência. Na prática, teríamos duas espécies
de prazos de complacência - o 139º/5 e o prazo dilatório.

Prazos perentórios - É aquele cujo o seu decurso extingue o direito de praticar o ato,
isso significa que a grande maioria dos prazos que encontram no CPC são prazos
perentórios 139º/3 CPC.

Prazo judicial ou processual

Quais são as características do prazo judicial?

A 1ª característica decorre do artigo 138º/1, o prazo judicial é contínuo, ou seja, a


característica da continuidade, o que é que isto significa?

Começa a correr independentemente de assinação (o ato de assinar), em princípio, há


alguns que só começarão a correr com esse ato de assinatura, se estivermos a contar
com um prazo perentório de contestação e se pensarmos na citação pessoal por via
postal registada, acabamos por ver que há esse ato de assinatura por parte do citando
ou por parte de terceiro (a regra é que correr independentemente de assinação).

26
Inês Tavares Lima

Depois, por outro lado também corre seguido, pese embora haja relativamente a esta
contagem seguida…

O que significa a contagem seguida?

Contrariamente a outros prazos, no domínio da organização administrativa, onde


tomamos apenas em consideração para efeitos de contagem de prazo os dias úteis,
nos prazos processuais isso não interessa.

Isso inclui quer os dias úteis ou não úteis, os dias úteis e não úteis vão ter outras
implicações designadamente na chamada presunção de elaboração ou de seguimento
de registo ou então relativamente ao prazo de complacência do 139º/5 onde esse
apenas toma em consideração os dias úteis (são apenas duas exceções à regra
geral).

O legislador estabelece logo de seguida, que o prazo, em determinadas


circunstâncias, suspende-se.

Que circunstâncias são essas?

As chamadas férias judiciais, uma das consequências das férias judiciais é, sem
dúvida, a suspensão da contagem dos prazos que se encontram em curso de acordo
com o artigo 28º LOSJ.

As férias judiciais decorrem em 22 de dezembro a 03 de janeiro,


de Domingo de ramos a Segunda-feira de Páscoa, e de dia 16 de
julho a 31 de agosto.

NOTA - As férias da páscoa, este ano, vão correr entre o dia 10 de abril ao dia 18 de
abril (inclusive).

Suspendem-se os prazos durante as férias judiciais, salvo se, - 138º/1 - se tivermos


perante prazos que a duração é igual ou superior a 6 meses, que prazos podem ter
esta duração?

Por exemplo, se tivermos perante situações em deserção da instância ou a deserção


de recursos, os prazos são sempre superiores a 6 meses e podem entrar nesta
contabilidade - 281º CPC.

Ainda se estabelece no artigo 138º (parte final) - processos de natureza urgente -


Também esses, o prazo conta-se ainda que em férias judiciais Ex: Procedimentos
cautelares.

138º/4 - Os prazos de caducidade para propositura de ações que se encontrem


previstos no CPC seguem que acabamos de ver.

Em que circunstâncias é que temos a previsão destes prazos de caducidade para


propositura de ações?

27
Inês Tavares Lima

- Desde logo, o prazo do artigo 371º/1, relacionado com a instauração de ação de


impugnação por parte do requerido quando tiver havido a inversão do contencioso.

- O prazo do artigo 395º, quanto à caducidade do procedimento cautelar especificado


de arresto.

- O prazo do artigo 373º/1/a) quanto à caducidade da providência cautelar, no caso


de não haver a propositura da ação da qual a providência cautelar dependia, dentro
do prazo de 30 dias contados da data da notificação do trânsito em julgado da
decisão.

- A nível dos recursos temos o artigo 697º que também estabelece um prazo de
caducidade relativamente à instauração de ações.

2ª característica - Prorrogabilidade.

O prazo judicial é prorrogável de acordo com o artigo 141º que nos seus números 1 e
2 estabelece duas possibilidades relativamente à prorrogabilidade, no número 1 a
prorrogabilidade resultante da lei.

Prorrogabilidade via lei - prorrogação do prazo para contestar 4 e 5 do artigo 569º


CPC bem como, quanto à réplica (prazo para replicar) 585º.

Prorrogabilidade por acordo das partes - 141º/2.

Alínea b) do artigo 279º estabelece que na contagem de qualquer prazo nunca se


conta a data em que ocorre o evento. Ex: Se eu tiver uma situação de citação pessoal
por via postal, o evento é, neste caso em concreto a aposição da assinatura por parte
do citando ou por parte do terceiro. O próprio dia em que é aposta essa assinatura não
entra para efeitos de contagem de prazo, o prazo conta-se sempre a partir do dia
seguinte.

Existe ainda outro aspecto que importa referir que decorre do artigo 138º/2, em que
quando o último dia do prazo para a prática de um determinado ato, coincidir com o
dia em que os tribunais estão encerrados passa para o dia imediatamente
subsequente, ou seja, nos dias não úteis os tribunais encontram-se encerrados onde o
dia irá passar para o dia útil seguinte, sendo certo que, a este propósito, e de acordo
com o número 3 também se consideram encerrados os tribunais quando for concedida
tolerância de ponto.

Normalmente os prazos, são marcados ou por lei ou por intermédio de despacho do


juiz, mas por vezes isso não sucede Ex: O juiz notifica as partes para a prática de um
determinado ato processual, mas nada diz relativamente a um prazo, nessas
circunstâncias, qual é o prazo que a parte dispõe para a prática desse determinado
ato?

28
Inês Tavares Lima

É o prazo supletivo geral que decorre do artigo 149º e é um prazo de 10 dias, isto
quanto às partes. O prazo para a prática de atos por parte dos magistrados judiciais
também é de 10 dias (156º/1), exceto o que diz respeito ao despacho de mero
expediente (153º/3) que são 2 dias. Relativamente à prática dos atos por dos
magistrados do Ministério Público, o prazo para eles procederem à sua produção é
de 10 dias (156º/2), exceto em promoções de mero expediente (153º/3) cujo o
prazo também é de 2 dias. Relativamente à secretaria, o prazo supletivo geral é de 5
dias (162º/1).

Quanto à citação a única coisa que nos deve preocupar, tirando a questão da dilação
ou da potencial dilação via artigo 245º, é saber em que dia é que a citação se
considera efetuada, porque a partir do momento em que sei o dia em que a citação se
considera efectuada apenas tenho que fazer uso do artigo 279º/b) do CC e começar a
contar o prazo a partir do dia seguinte. Só que, a citação é apenas uma espécie das
notificações e portanto podemos ter ao longo do processo uma série de notificações
que têm uma regra diversa relativamente à citação.

Presunção de elaboração, ou de recebimento ou de registo (248º/1) - Implica que as


partes tenham uma mandatário judicial constituído, nessa circunstância, quando é que
consideramos que esse mandatário judicial se encontra notificado para a prática de
determinado ato judicial?

Nos termos da lei, temos que ter, através da portaria que regula o Sitius, uma data de
elaboração da notificação. Sempre que a secretaria notifica o mandatário, é expedido
um ficheiro pdf que no canto superior direito diz a data da elaboração, vamos partir do
pressuposto que a data de elaboração é o dia 23 de março de 2022 (quarta-feira).
Quando é que eu considero o mandatário judicial notificado desta notificação que foi
elaborada por parte da secretaria no dia 23?

Eu considero-o notificado no 3º dia posterior ao da elaboração, exceto quando esse 3º


dia não seja um dia útil, nesse caso eu considero-o notificado no 1º dia útil após o dia
3º.

Ex: Tenho uma notificação que é elaborada hoje (quarta-feira, dia 23), o primeiro dia
da presunção é amanha dia 24 (quinta-feira), o segundo dia da presunção é dia 25
sexta-feira e o terceiro dia seria no sábado, ora o sábado não é um dia útil, ou seja, eu
tenho que considerar o mandatário notificado apenas no dia 28 (segunda-feira). Para
começar a contar o prazo, em concreto, só o vou começar a contar no dia 29 (terça-
feira).

Por vezes as notificações são feitas às próprias partes, porque elas não têm
mandatário judicial constituído, nesse caso, como é que a notificação é feita?

É feita por carta registada, o tribunal vai registar aquela carta tendente à notificação da
própria parte em determinado dia, mas a parte não se considera notificada nesse dia,
só se vai considerar notificada no 3º dia posterior ao do registo ou no 1º dia útil
subsequente quando o 3º não seja.

29
Inês Tavares Lima

Isto só é aplicável nos casos das notificações, não podemos utilizar este raciocínio num
caso de citação.

Prazo de complacência - 139º/5/a/b/c CPC - O último dia do prazo perentório pode não
ser de facto o último dia, porque o legislador concede à parte, a possibilidade de ela
praticar o ato depois do prazo perentório, desde que ela pague uma multa,
dependendo do dia em que vai praticar esse ato, pode praticá-lo num dos 3 primeiros
dias úteis subsequentes ao termo do prazo perentório, o valor da multa vai
aumentando consoante a prática do ato se vê no 1º (10% da taxa de justiça) , 2º
(25%) ou 3º dia útil (40%). Por vezes, esta multa pode ser dispensada por parte do juiz
de acordo com o artigo 139º/8, é muito mais fácil conceder essa dispensa quando é a
própria parte que não tem mandatário constituído a requerê-lo, do que, obviamente,
quando tem mandatário judicial.

Justo impedimento - 140º CPC - O justo impedimento funciona quase como um


enriquecimento sem causa, subsidiariamente, quando já não há nada a fazer lança-se
mão desta figura.

Após o 3º dia útil disponibilizado pelo artigo 139º/5 (prazo de complacência) eu ainda
não ter conseguido praticar o ato, posso utilizar o justo impedimento. Este, pode ser
utilizado no âmbito do próprio prazo perentório, não tenho que ser sacrificado pelo
pagamento da multa derivado do artigo 139º/5/a/b/c) e posso vir invocar o justo
impedimento ainda no decurso do prazo perentório.

Posso vir a invocar um justo impedimento no âmbito do decurso de um prazo de


complacência?

Posso, pode surgir para além do 3º dia útil, ou seja, ainda terei uma possibilidade
extraordinária de praticar o ato ao abrigo deste mecanismo previsto no artigo 140º/1.

O que é isto do justo impedimento?

É o evento não imputável à parte, nem aos seus representantes ou mandatários, que
obste à prática atempada do ato, a parte não pode ter contribuído com o seu
comportamento para a impossibilidade da prática do ato, se tiver contribuído não é
justo impedimento Ex: O mandatário tinha que dar entrada de uma peça processual,
mas ficou sem computador, vem invocar um justo impedimento, há jurisprudência no
sentido em dizer que não o pode fazer, um vez que se o mandatário fosse cauteloso
faria cópias de segurança (cloud ou nuvem).

Nos termos do número 2 há determinados requisitos que devem ser observados para
se fazer uso deste justo impedimento, desde logo o facto de ter que haver
requerimento por parte da parte, deve haver o oferecimento da prova e por outro lado
é preciso que o requerente demonstre ao juiz que veio alegar o justo impedimento logo
imediatamente ao conhecimento ou à cognoscibilidade do facto que evitou a prática
atempada do ato.

30
Inês Tavares Lima

Que circunstâncias podem ser equacionadas em termos de justo impedimento?

- Uma doença súbita e grave por parte do mandatário judicial.

- O mandatário que no último dia do prazo tem o falecimento de um familiar (cônjuge,


ascendente, descendente)

- Um dos casos era a incompatibilidade com uns determinados browsers com os


plugins que decorriam da plataforma Sitius (Google Chrome, FirefoxWall).

- Catástrofe natural.

- Greve de funcionários judiciais sem prestação de serviços mínimos.

Contestação
É um articulado dito normal

Na prática traduz-se no exercício do principio contraditório no âmbito do processo comum de


declaração, não só mas também.

O princípio do contraditório encontra-se disseminado em várias normas do código civil. No


entanto, a contestação, na prática, é o exercício do princípio do contraditório.

O que é contestar?

31
Inês Tavares Lima

Significa negar, contraditar, desdizer, impugnar.

Na prática, isso é importante para entender para que serve a contestação.

Servirá para que o réu possa tomar uma posição jurídica quanto à peça processual do autor (ao
articulado inicial - A PI), e, obviamente, em princÍpio, será uma posição de negação em relação
aos factos que servem de causa de pedir no âmbito da PI.

Requisitos e Formalidades
Tal como na PI existe um série de requisitos e formalidade presentes no 552º.

Ora, no que diz respeito à contestação também iremos ter, para o efeitos o artigo 572º do CPC
onde pudemos detetar a existência dos requisitos e das formalidades inerentes à contestação.

Podemos referir que a nossa contestação tem de ter um endereço, embora não refira
expressamente, é obvio que o réu a partir do momento em que é citado, já sabe qual é o tribunal,
o juízo, e o juiz onde pende a ação onde ele vai contestar – tem de dirigir a sua contestação a
esse tribunal, a esse juiz.

Vai conseguir individualizar a ação, coisa que o autor não conseguiu fazer, porque quando o
autor deu entrada da PI, ainda não tínhamos o ato formal da distribuição, só quando a ação é
distribuída é que temos o número do processo, e esse número do processo terá de constar a
contestação. Quando o legislador fala em individualizar a ação, na prática, é fazer a ligação
entre a contestação e o processo em concreto – alínea a) 572º do CPC.

Por outro lado, também iremos ter outra preocupação - O autor, na PI, tem de alegar os factos
essenciais no quais estruturava as suas pretensões, com o réu acontece exatamente a mesma
coisa, ele também tem de alegar o factos essenciais – mas aqui serão os factos essenciais que
assentam na sua defesa, em principio por exceção – são os factos que podem impedir, modificar
ou extinguir o efeito jurídico pretendido por o autor.

Ou seja, também que terá de existir a preocupação por parte do réu em de carrear para a sua
contestação factos (alínea c - 572º). Se não o fizer, veremos que, iremos ter a possibilidade da
admissão dos factos por acordo se eles não forem impugnados – alínea c) 572º que deve ser lida
em conformidade com o artigo 574º do CPC.

Requerimento probatório

A contestação também se deve fazer acompanhar de um requerimento probatório, a PI


também tinha de ter a proposição dos meios de prova (tinha que ter um requerimento
probatório), ora não faria sentido que tivéssemos aqui a desequilibrar o principio da igualdade.
E portanto, se o autor tem desde logo que dizer quais são os meios de prova onde assenta toda a
sua fundamentação e também o réu o deve fazer (alínea d) do artigo 572º CPC)

Entre os requisitos e formalidades tal igual como aconteceu em relação ao autor – o réu também
de pagar a taxa de juros de igual forma, bem como apoio judiciário – 570º do CPC

32
Inês Tavares Lima

Prazos
Quanto ao prazo são 30 dias de contestação – artigo 569º nº1 do CPC sem prejuízo de puder
haver uma dilação resultante do 245º do CPC.

Aqui interessa a possibilidade que existe ou não de se pedir uma prorrogação do prazo para
contestar. Ou seja, partimos do pressuposto que a PI é de tal forma extensa que ocupa 200 ou
300 páginas, para além desta extensa PI, o autor ainda junta bastantes documentos.

O réu, mais propriamente o mandatário, quando começa a elaborar a contestação irá entender
que não tem tempo para elaborar a mesma, pode pedir a prorrogação?

Se tiver fundamentos para tal, se fizer um requerimento ao juiz, pode gozar da prorrogação do
prazo para contestar.

Essa prorrogação terá como prazo máximo, o prazo que está previsto para a contestação – ou
seja, só posso pedir uma prorrogação pelo máximo de mais 30 dias. Não quer dizer que o
tribunal a conceda, posso fazer um requerimento de prorrogação a pedir mais 30 dias e o juiz
considerar, atendendo à justificação que foi aduzida, que apenas pode beneficiar de 10\15 dias - 
O limite máximo é de 30 dias - artigo 569º nº5 do CPC.

E a nível de aspeto procedimental - 569º nº6, este número é bastante relevante, porque vem
dizer que apresentação do requerimento da prorrogação não suspende o prazo que está em
curso. Muitas vezes ao pedir-se a prorrogação do prazo para contestar, julga-se que com isso
que, enquanto não há um despacho do juiz, o prazo suspende-se - não há qualquer tipo de
suspensão. Ex: Se estou a fazer um requerimento de prorrogação do prazo no 30º dia e se o juiz,
cumprindo com a determinação legal, se vai decidir em 24 horas, o que faz com que a decisão
seja apenas feita no 31º dia, se o juiz indeferir o requerimento de prorrogação - o prazo
perentório já passou. NOTA - Ainda pode também pode beneficiar dos 3 dias úteis mediante o
pagamento de multa, mas o prazo não se suspende.

O ideal é fazer o requerimento de prorrogação ao mais depressa possível.


 

Conteúdo da contestação

33
Inês Tavares Lima

Para isso temos de estabelecer uma diferenciação quanto às modalidades de contestação que
existem - artigo  571º, 576º e 583º do CPC

• Quando é uma contestação de defesa

Quando o réu tem uma preocupação que é dar resposta à pretensão, ou às pretensões que foram
aduzidas pelo autor no âmbito da sua petição inicial. Na prática, o réu vai se colocar no mesmo
carril que está a ser utilizado pelo autor. É muito mais comum, sobreleva a contestação
reconvenção.

• Quanto à contestação reconvenção

Vai implicar que o réu decida contra atacar, não está apenas interessado em defender, vai
contra atacar. De que forma? Através de uma outra ação dentro da mesmo ação – na prática, a
partir do momento que temos um pedido reconvencional passamos a ter duas ações, dentro
daquele processo. Nem em todas as situações podemos ter um pedido reconvencional,

Podemos ter a cumulação de tudo o que está no esquema. A mesma peça processual pode ser
uma contestação defesa e reconvenção, pode ter defesa por exceção dilatória, defesa por
exceção perentória ou até mesmo defesa por impugnação - pode tudo coabitar no âmbito da
mesma contestação. Isto é, caso estejamos perante uma contestação defesa por exceção dilatória
não faz sentido estar aduzir a exceção perentória, nem tão pouco a impugnação, se a exceção
dilatória for julgada improcedente vai ter como consequência a absolvição do réu da instância e
portanto, o juiz já nem se vai pronunciar quanto às outras facetas da contestação.

Como vimos a propósito da PI e dos pedidos – a questão dos pedidos serem subsidiários, aqui
funciona da mesma forma – o réu vai utilizando camadas a nível da sua contestação e só para a
mera eventualidade dessas camadas não irem surtindo efeito é que se passa para a camada
seguinte. 

Por exemplo: se estou perante uma exceção dilatória de ilegitimidade, em que o réu é parte
ilegítima, não faz sentido de analisar qualquer outro tipo de aspeto a nível de contestação – mas
nós fazêmo-lo. Porque há outro principio a nível da contestação, que é essencial, que é o
princípio da concentração da defesa na contestação. E isto implica que o réu não possa
guardar qualquer trunfo para depois, tudo aquilo que possa resultar a seu favor em sede de
defesa terá de ser apresentado na contestação.

34
Inês Tavares Lima

1. Contestação defesa por impugnação

Estabelece no nº2 do 571º, que o réu se defende por impugnação quando contradiz os factos
articulados na petição ou quando afirma que esses factos não podem produzir o efeito jurídico
pretendido pelo autor;

Fazemos a seguinte divisão:

• Negação direta – Quando digo que os factos que estão a ser articulados pelo autor são
falsos, ou dito de outra forma não são verdadeiros, são inverídicos.  

• Negação indireta – Aqui iremos dizer que o efeito jurídico que é pretendido pelo autor
não pode ser obtido, podemos acrescentar outra coisa que é:

- Oposição de facto - Quando dizemos que os factos articulados pelo autor são
falsos, não são verdadeiros.

- Oposição de direito - Quando dizemos que a norma utilizada pelo autor para
estruturar o seu pedido não é aplicável àquele caso concreto.

O que é essencial é o facto e não o direito – há sempre a tentação


também em sede de contestação, de virmos invocar direito que também
sustenta a nossa posição e que tente inverter o que está a ser pedido pelo
autor no âmbito da PI - Não temos de ter obrigatoriamente só uma oposição de facto.

Podemos ter uma oposição de facto e uma oposição de direito, posso só ter uma delas e posso
ainda ter outra coisa: desconhecimento de facto, que irá ter 1 de 2 consequências – decorrem
expressamente do nº3 do artigo 574º do CPC. Esta declaração vai equivaler a confissão quando
estejamos perante um facto pessoal ou de que o réu deva ter conhecimento e vai equivaler a
impugnação no caso em contrato. 

• O esquema abaixo descrito é a concretização do principio da boa fé processual - Se


invocamos matéria de exceção convém alertar a parte contrária (juiz) que há matéria de exceção
e se venho deduzir uma reconvenção também devo alertar a parte contraria de que o estou a
fazer – para permitir à parte contrária os exercícios inerentes à sua própria defesa (a parte aqui é
o autor).

Atualmente a réplica apenas serve para dar resposta à reconvenção, pode acontecer de moto
próprio que o autor faça um requerimento aos autos no sentido de pedir ao juiz que antes mesmo
da segunda fase (audiência prévia) lhe seja dada a possibilidade de pronunciar quando a está
matéria da exceção e por outro lado por ser o próprio juiz (como se vê muitas vezes a suceder) a
dar oportunidade da parte contrária através de um requerimento vir pronunciar-se quanto a esta
defesa por exceção - relacionado com outro principio que é

35
Inês Tavares Lima

• Principio da economia processual Quando chegarmos à audiência prévia convém não


estar uma tarde a discutir relativamente às exceções dilatórias que já podiam ter sido discutidas
no âmbito dos articulados.

Na impugnação deve -se fazer 1 de 3 coisas – acima descritas.

Na defesa por impugnação devemos passar os factos da PI uma a um, e identificar todos os
factos e dizer se eles são verdadeiros ou falsos. A consequência de não tomarmos uma posição
em concreto quanto a um facto é estar a admiti-lo, é não o impugnar. Um dos aspetos essenciais
no âmbito da defesa por impugnação é identificar todos os factos e dizer se são verdadeiros ou
falsos.

Bom seria se a PI tivesse apenas um facto por cada um dos artigos, ou que tivesse apenas factos
- Só que a PI vai ter factos misturados com direito, vai ter matéria conclusiva e essa não é
necessário impugnar, etc.

2. Contestação defesa por exceção

As exceções podem ser perentórias ou dilatórias - 576º/1 do CPC

- Exceções dilatórias

As exceções dilatórias são aquelas que obstam à apreciação do mérito da ação, a simples
verificação dos autos  de uma exceção dilatória pode provocar a absolvição do réu da instância.

Artigo 577º  - nas suas várias alíneas tem uma série de circunstâncias que nada mais são do que
a falta de pressupostos processuais. Grande parte delas estão aqui previstas mas nem todas
estão previstas - o legislador refere “entre outras”, esta enumeração não é taxativa mas
exemplificativa comporta outras circunstâncias.

36
Inês Tavares Lima

Exemplo: A falta do interesse em agir; Dedução de uma reconvenção quando não seja
admissível estas circunstâncias podem gerar também exceções dilatórias.

- Exceções perentórias

Ao invés de estar no terreno da forma e do processo – passamos para um terreno da alegação de


facto. Só que os factos que estão a ser invocados por parte do réu são factos que vão impedir,
modificar ou extinguir o efeito jurídico pretendido pelo autor. O autor na sua PI vem invocar os
factos constitutivos, o réu vem invocar isso os factos impeditivos, modificativos ou extintivos.

As exceções dilatórias vão conduzir à absolvição do réu ou, num caso concreto à remessa dos
autor para o tribunal competente. Enquanto as exceções perentórias vão conduzir à absolvição
total ou parcial do pedido.

As exceções perentórias podem ser:

Fazemos apelo a um critério temporal para apurar de qual se trata

• Impeditivas - Ocorrem antes ou ao mesmo tempo relativamente à apresentação da


pretensão em sede da PI – um dos exemplos de exceção perentória impeditiva é o da causa de
nulidade ou anulabilidade dos negóios jurídicos.
• Modificativas - Não surgem antes mas sim depois. Exemplo: Caso da moratória.
• Extintivas - Surgem depois da instauração da própria ação. Exemplo: Pagamento,
perdão, caducidade e prescrição.

O problema é que ao invés de estarem descritas no CPC constam no CC e não estão


perspetivadas como exceções perentórias. O que temos de ver é se o facto que está ser invocado
pelo réu vai ter como condão impedir, modificar ou extinguir o efeito jurídico pretendido pelo
autor – se isso suceder estamos perante uma exceção perentória.

Artigos 578º e 579º – conhecimento das exceções dilatórias e perentórias.

As dilatórias são conhecidas oficiosamente pelo tribunal, as perentórias, pese embora, se diga
que o tribunal conhece oficiosamente das mesmas, só o faz cuja invocação a lei não torne
dependente a vontade do interessado – tem de ser invocada pelo interessado (leia-se pelo réu).

Princípios que norteiam a contestação por defesa

·       Principio Concentração da defesa na contestação

 “Não guardar trunfos na manga” para um momento posterior, isto está previsto no artigo  573º
nº1 – embora podemos ter aqui alguns casos em que se podem aduzir determinados argumentos
de defesa fora da contestação, desde logo, situações inerentes à defesa superveniente -
articulados supervenientes (artigo 588º e 589º ; 2º situação de arguição da defesa fora da
contestação – incompetência absoluta artigo 98º do CPC - poderá ser conhecida a qualquer
momento.

37
Inês Tavares Lima

·       Principio ou ónus da impugnação.

Tenho de tomar uma posição quanto à factualidade que é apresentada pelo autor sob pena de
estar a admitir essa factualidade.

A ao ano 1927 tínhamos a possibilidade de fazer a impugnação genérica a partir dessa altura
passou a ser obrigatório fazer-se a impugnação especificada (tinha que impugnar facto a
facto). Atualmente temos algo mitigado ou seja, tenho o ónus de impugnação que não é
sinónimo de impugnação especificada, o que significa que posso ao invés de dizer:

“Não correspondem à verdade os factos 1,2,3,4,5” atualmente podemos dizer que “não
correspondem à verdade os factos de 1 a 5” – não preciso de tomar uma posição concreta e
definida relativamente a cada um desses factos, algo que ao nível da impugnação especificada
era imperioso suceder.

Contestação Reconvenção

Na prática, quando o réu deduz uma convenção ele está a formular um pedido contra o autor.
Daí podemos dizer que dentro do mesmo processo há uma espécie de 2 ações:

· A ação que foi instaurada pelo autor contra o réu.


· A ação que é instaurada pelo réu contra o autor (subsidiariamente).

Modo de apresentação e a sua autonomia

Mas esta ação que é instaurada pelo réu contra o autor não é instaurada pelo modo habitual que
temos vindo a falar, não há uma PI - há um aproveitamento de um articulado que já vai ser
apresentado, que é o articulado normal da contestação, para se apresentar o pedido
reconvencional. Isto marca uma diferença relativamente ao modo originário do surgimento da
reconvenção, no âmbito do nosso ordenamento jurídico processual civil. A reconvenção
quando começou a ser utilizada era, na prática, um incidente. A partir de determinada altura
a reconvenção passou a ser obrigatoriamente deduzida no âmbito da contestação.

No entanto, apesar de haver uma relação umbilical entre a contestação e reconvenção – é


preciso tomar em consideração que estamos perante um pedido completamente autónomo
relativamente ao pedido que é formulado pelo autor contra o réu.

Essa autonomia é notória no simples facto do autor desistir do seu pedido e o processo
prosseguir os seus termos para a apreciação do pedido reconvencional – não há melhor prova
dessa autonomia.

O processo vai prosseguir para se analisar o pedido reconvencional, a não ser que a desistência
do pedido do autor contra o réu corresponda também a uma desistência do pedido
reconvencional formulado pelo réu contra o autor – nesta circunstância  o processo finda nesse
mesmo momento.

38
Inês Tavares Lima

Partindo do principio que isto não sucede, o processo irá prosseguir para a apresentação do
pedido reconvencional.

Valor

Um dos requisitos da PI é a formulação do pedido e a apresentação do valor no que diz respeito


à reconvenção o valor também tem obrigatoriamente de estar previsto.

Na contestação iremos ter apresentação de dois valores:

1. Valor que corresponde à dita ação que foi instaurada pelo autor contra o réu - partindo do
principio que não há impugnação quanto ao mesmo, vai ser o valor que foi atribuído pelo autor
no âmbito da PI. Normalmente na contestação vemos o mesmo valor.

2. Valor da reconvenção - é mais uma nota de autonomia do pedido reconvencional


relativamente ao pedido que foi reformulado pelo autor

Quando temos dois valores na contestação podemos equacionar se há ou não a soma entre esses
2 valores, para sabermos isso temos de lançar mão de alguns artigos:

Artigo 583º nº2 - É o preceito legal que estabelece a necessidade de declaração de valor ao n

Artigo 299º nº1 e


que ação é proposta, no entanto, há uma exceção, exceto quando haja
reconvenção - havendo esse pedido reconvencional, nos termos do nº2, vai ser
somado ao valor do pedido formulado pelo autor apenas quando os pedidos sejam destintos,
então há uma dupla remissão para o 530º nº3.

Isto também é relevante para outro efeito, para o efeito de auto liquidação da taxa de justiça,
ou seja, ao deduzir um pedido reconvencional e obrigatoriamente tenho de indicar um valor,
mas não tenho de auto liquidar logo imediatamente uma taxa de justiça devida por esse pedido
reconvencional - só o teremos de fazer se tivermos perante um pedido distinto, relativamente
àquele que é formulado pelo autor, porque nessa circunstância teremos de ter uma soma entre os
dois valores e teremos de pagar a taxa de justiça devida pelo pedido reconvencional.

Isto pode ter implicações ao nível da competência, porque havendo a soma entre os valores, se
fruto dessa soma, houver a competência de outro tribunal, o juiz tem de remeter os autos para
esse tribunal que passa a ser competente:

Exemplo: Na confrontação entre um juízo local cível e um juízo central cível; 1 processo
comum até 50 mil euros, e que haja à posteriori um pedido reconvencional, podemos ter um
processo a passar do juízo local para o juízo central, pelo simples facto de haver a dedução de
um pedido reconvencional - número 2 do artigo 93º do CPC.

A taxa de justiça tem de ser pago por ambos. – por oposição à reconvenção

Requisitos de admissibilidade da reconvenção

39
Inês Tavares Lima

Desde logo, dizer que o CPC de 2013 representou uma espécie de corte relativamente a um
requisito que se prendia com o valor, porque até ao CPC de 2013 apenas podíamos ter a
dedução de pedidos reconvencionais se estivéssemos perante ações com a alçada superior ao
valor da alçada da primeira instancia - este requisito já não existe, ou seja, podemos ter uma a
dedução de um pedido reconvencional em ações que tenham um valor até 5 000€.

Requisitos de admissibilidade

· Requisitos processuais ou adjetivos requisitos

Requisitos processuais ou adjetivos não consta a questão do valor, temos de ter logo a
competência absoluta do tribunal, por via de uma imposição legal resultante do 93º nº1 do CPC.
– nos requisitos processuais conta-se a competência absoluta (1º requisito).

2º requisito resultante do artigo 266º\3 CPC - Na prática, uma vez que não temos a diferença
entre o processo comum de declaração entre as diferentes formas ordinárias (sumária e
sumaríssima)  - só poderemos ter uma diversidade de formas processuais de duas formas: ou
duas formas de processo especial distintas ou uma forma de processo comum vs uma forma de
processo especial – quando isso acontecer, salvo se no caso especifico, o juiz autorizar, não há
admissibilidade de reconvenção.

3º requisito - Identidade subjetiva das partes em posiçõ es inversas - Na prática, aquela relação
jurídico- processual que inicialmente que era bilateral e passou a ser triangular (envolve o autor,
o réu e o tribunal) - tem de se verificar ao nível do pedido reconvencional, só que em posições
inversas, ou seja, o autor que é parte ativa da relação jurídico processual, no âmbito da
reconvenção vai ser a parte passiva, o réu que é a parte passiva ao nível da relação jurídica
processual, ao nível da reconvenção vai passar a ser parte ativa -  nº1 e nº4 (pode envolver
partes que não sejam as primitivas) do artigo 266º do CPC.

· Requisitos materiais ou substantivos

Estão integrados no artigo 266º nº2, mais precisamente nas suas 4 alíneas a) a d),

Desde logo, importa referir que basta verificar-se um destes requisitos substantivos, mas que
obrigatoriamente se têm que verificar todos os requisitos adjetivos, essa cumulação, se existir,
existe entre os requisitos adjetivos e um requisito substantivo. Estas hipóteses não são
cumulativss – basta acontecer uma delas para que haja admissibilidade do pedido
reconvencional.

Alínea A) - Conceito essencial da causa de pedir – Se temos a mesma causa de pedir quer no
que tange à pretensão formulado pelo autor contra o réu quer, relativamente á pretensão
formulada pelo reconvinte contra o reconvindo, então pode utilizar-se a reconvenção – estamos
perante um principio da economia processual.

Alínea B) - Ações que incidem sobre bens imóveis, ações de despejo, ações de reivindicação -
que implicam a entrega do imóvel mas o réu não abdica do facto de ter realizado determinadas
obras no imóvel e de querer ser ressarcido das mesmas.

40
Inês Tavares Lima

Qual é a necessidade que o réu terá de instaurar outra ação quando está pendente contra ele uma
ação proposta pelo reconvindo?– Utilizamos a modalidade da contestação, para possibilitar ao
réu a reclamação dessas ditas benfeitorias ou despejas relativas à coisa cuja a entrega lhe está a
ser pedida.

Alínea C) - Há aqui várias questões que se podem levantar.

A compensação de créditos dá origem à extinção de obrigações, que tem relevância processual,


em que medida?

Sempre que tínhamos uma compensação – implica que as partes são mutuamente credoras e
devedoras da outra. E portanto, que necessidade haverá de instaurar uma ação se podemos
aproveitar o processo instaurado para fazer essa reclamaçã o?

Mas este raciocínio era só partilhado por alguma parte da doutrina, a outra parte defendia que
sempre tínhamos uma compensação de crédito deveríamos aduzi-la por via da contestação de
defesa, mais precisamente por via das exceções perentórias.

Aliás, a doutrina e a jurisprudência até iam mais longe quanto a este aspeto: Quando o contra
crédito do réu fosse superior ao crédito do autor, a doutrina considera que a vir se arguir essa
compensação de crédito, deveria ser por via da reconvenção.

O problema estava quando o contra crédito do réu era igual ou inferior ao que estava a ser
reclamado pelo autor - Aqui é que havia uma divergência.

O professor Anselmo de Castro e o professor Vaz Serra considerava que se deveria invocar
esta compensação por via da defesa por exceção perentória.

Ao passo que os professores Antunes Varela e Manuel Nunes de Andrade consideravam que
neste caso se deveria  vir arguir a compensação por via da reconvenção.

Ora, para colocar termo à querela, o legislador em 2013 decide referir que sempre que
queremos obter uma compensação deve ser por via da reconvenção. Quer seja o contra crédito
do réu seja superior, inferior ou igual ao crédito que está a ser alegado pelo autor, devemos
sempre vir por via da reconvenção.
 
A querela não está completamente encerrada - o professor Teixeira de Sousa descobre uma
hipótese que não estaria pré-figurada por esta alínea, porque o que temos nesta alínea c) do 266º
o que temos é a chamada compensação de créditos judiciária, ou seja, aquela que é operada
única e exclusivamente depois da ação ter sido proposta.
 
Se formos ao código civil – 848º\1 – a compensação pode operar por mera declaração e quando
esta tiver sido feita antes da ação judicial ter sido proposta, se houver necessidade de invocar a
compensação não será por via convenção mas por via exceção perentória, na prática ,será um
facto extintivo alegado pelo autor.

Alínea (D) - Ações de divórcio sem consentimento do outro cônjuge - ambos pretendem o
divórcio, mas os fundamentos aduzidos são distintos.

Falta de contestação

41
Inês Tavares Lima

Artigos 566º a 568º do CPC.

A falta de contestação é designada por revelia, quando ouvimos que o réu é revel, é revel porque
não apresentou a contestação.

O convite que é formulado no âmbito da citação para, querendo no prazo de 30 dias apresentar a
contestação, não foi correspondido por parte do réu\citado. O processo civil estabelece
consequências pela falta de correspondência a determinados convites, aqui será por não ter
contestado.

A consequências é a da revelia.

Ao nível da revelia podemos falar de 2 tipos: absoluta ou relativa.

Revelia Absoluta

O réu não dá qualquer sinal de si nos autos, não faz absolutamente nada, fica inerte. E desde
logo, deve haver uma preocupação essencial por parte do tribunal que é ver se, de facto, a
citação foi ou não efetuada. Pode surgir a dúvida da citação não ter sido efetuada, a partir do
momento que se comprove que a citação foi efetuada – o réu está na situação de revelia absoluta
- 566º do CPC.

Revelia Relativa

Utilizamos o mesmo preceito, se dissemos que a revelia absoluta implicava que o réu não desse
qualquer sinal de si nos autos. Aqui, o réu dá sinal de si nos autos - Podemos falar desde logo na
constituição de mandatário, ou seja, não vai apresentar contestação mas junta uma procuração
forense ou então apresenta um qualquer documento nos autos.

Quais os efeitos da revelia?

• Efeito imediato - decorre do nº1 do 567º - se o réu não contestar, tendo sido ou devendo
considerar-se citado regularmente na sua própria pessoa ou tendo juntado procuração a
mandatário consideram-se confessados os factos articulados pelo autor, ou seja, o efeito
imediato da revelia é considerarem-se como confessados os factos articulados pelo autor , na
prática, temos uma confissão tácita, por oposição ao que acontece no âmbito do depoimento
de parte onde a confissão é expressa.

Quando se consideram confessados os factos articulados pelo autor chegamos à conclusão que a
revelia operou o seu efeito típico, diz-se que nestes casos a revelia é operante - considera-se
como confessados os factos pelo autor.

Para termos a revelia operante temos de ter como primeiro requisito a citação pessoal; - se for
uma citação edital não estamos perante uma revelia operante mas sim inoperante b) 568º.  Para
a revelia ser operante não pode corresponder a nenhuma das exceções que se encontram
contidas no artigo 568º CPC.

42
Inês Tavares Lima

• Efeito mediato - Patente no nº2 do 567º - podemos concluir que o efeito mediato da
revelia traduz-se num encurtamento da tramitação pessoal, em que o processo passa
imediatamente da fase dos articulados (só é composto pela PI) e vai imediatamente para a
discussão da matéria de direito - sendo seguida, após o exercício no caso em que os
mandatários o façam desta prerrogativa, pela prolação da sentença.

Porém falta:

Os casos em que a revelia não é operante porque não pode operar o efeito típico da mesma,
nestes casos falamos numa revelia inoperante.

Alínea a) 568º - Se tivermos vários réus (pluralidade de réus - figura do co-réus) basta que um
deles conteste para que os outros beneficiem da impugnação que é feita pelo réu contestante.
Não posso extrair o efeito se considerar como confessados os factos articulados pelo autor. a
defesa que é apresentada pelo réu contestante vai aproveitar aos outros réus não contestantes -
não se produz efeito imediato.

Alínea b)

Alínea c) 568º - No caso desta alínea, a situação dos direitos disponíveis ou indisponíveis
(direitos indisponíveis - direitos que não se encontram na livre disponibilidade das partes,
normalmente as ações sobre o estado das pessoas versam direitos indisponíveis – não posso ter
confissão). Se tiver perante esses direitos indisponíveis não tenho a verificação do efeito
imediato da revelia e por isso estamos perante um caso de revelia inoperante.

Alínea d) 568º - Se tiver uma ação que obrigatoriamente, para a prova de um determinado facto,
carece de um documento escrito (ex: uma escritura) - não posso provar a celebração dessa
escritura por qualquer outra via logo também não posso considerar esse facto admitido pela
parte.
 
Efeitos da revelia inoperante (568º) - Destrinça entre a alínea a) e as alíneas b) a d):

• Alínea a) - Não vamos ter qualquer alteração a nível do faseamento ou tramitação


processual; esta alínea implica que um réu tinha apresentado a sua contestação e portanto a
impugnação dos factos aproveitava aos demais - não faz sentido que haja qualquer alteração a
nível da tramitação (temos uma PI, uma contestação, teremos a 2ª fase da gestão inicial do
processo e da audiência prévia, teremos a produção de prova, teremos a audiência final e iremos
ter a prolação da sentença).
 
• Alíneas de b) a d) - Vai haver um encurtamento da tramitação processual desde logo,
porque não se vai realizar audiência prévia  - artigo 592º\1 alínea a) - não possa ou e deva
ocorrer a prática de um determinado ato ou despacho por parte do magistrado judicial - vai
haver na mesma um despacho saneador e um despacho de enunciação do sistemas da prova - já
faz parte da segunda fase.

Fases do processo comum de declaração:


→ Fase dos articulados

• Petição inicial;

43
Inês Tavares Lima

• Contestação;
• Replica;
• Articulados supervenientes;

A separação que pode existir é entre a petição inicial e a contestação por um lado e entre a
replica e os articulados supervenientes por outro lado.

Porquê esta separação? – Porque em todo e qualquer processo existe a pi e a contestação e por
esse motivo designamos estes articulados como normais e não é em todo processo que existe a
replica e os articulados supervenientes porque estão dependentes da verificação de requisitos de
admissibilidade que não existindo implicam que os articulados não sejam admissíveis.

O facto de os articulados não serem admissíveis não é relação causa efeito para a não existência
dos mesmos nos autos, ou seja, é obvio que muitas vezes o autor tem a plena consciência que
não pode replicar, mas vai fazê-lo, na prática, acontece algo contrário à situação da revelia.

Na revelia temos a disponibilização ao réu do exercício do contraditório e o réu não


correspondendo a esse convite não apresenta esse articulado normal, aqui temos a situação
inversa temos a parte que apresenta um articulado quando supostamente o articulado nã o é
admissível. Enquanto nuns casos temos como consequência a revelia no outro temos como
consequência a nulidade do articulado, total ou parcial, depende se a inadmissibilidade é parcial
ou total.

Em que medida podemos ter a réplica?

584º – estabelece que a replica só é admissível para o autor deduzir toda a defesa quanto à
matéria da reconvenção não podendo a esta opor nova reconvenção.

O nº1 diz que a réplica atualmente tem como função primordial dar resposta à contestação
reconvenção que foi apresentada pelo réu reconvinte. Aqui esta uma alteração relativamente ao
que se passava pré CPC de 2013, pré CPC, isto é, no interino compreendido entre o decreto-lei
242/85 e o CPC 2013, onde a réplica desempenhava como função principal dar resposta às
exceções perentórias e dilatórias que fossem apresentadas pelo réu no âmbito da sua contestação
defesa. Atualmente isso desapareceu do código, essa função principal passa a ser assumida no
que diz respeito à dedução de defesa quanto à reconvenção.

A réplica antes do CPC de 2013 ainda tinha uma outra função bastante importante que era a
possibilidade de permitir a alteração do pedido ou da causa de pedir, atualmente a replica
também não serve este propósito.

A réplica está circunscrita nas ações de simples apreciação positiva, nas ações declarativas de
condenação e nas ações declarativas constitutivas está adstrita à apresentação da defesa quanto à
reconvenção

44
Inês Tavares Lima

Nas ações de simples apreciação negativa (nº2) a replica servirá para o autor impugnar os factos
constitutivos que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito
invocado pelo autor.

Prazo para replicar

É um prazo de 30 dias de acordo com o artigo 585º a contar a partir do momento em que se
considerar notificada a apresentação da contestação. Normalmente quem faz esta notificação da
contestação será a secretaria, a partir da contestação todas as notificações funcionam entre os
mandatários, a partir do momento em que se dá entrada da peça pelo SITUS e se ativa o campo
da notificação eletrónica ao colega dá-se entrada da peça e automaticamente está a notificação
eletrónica da notificação da peça.

No caso da contestação ainda não há essa notificação, na prática, será a secretaria que vai
notificar o autor do oferecimento da contestação e a partir dessa notificação vai começar a
contar o prazo perentório de 30 dias para se poder apresentar a réplica.

Mas porque é que agora temos um prazo de 30 dias? – Se formos ao pré CPC de 2013 a função
primordial da replica tinha um prazo de 15 dias, parece que agora existe uma prorrogação para o
dobro, o que não é verdade, no âmbito do CPC pré 2013 tínhamos um prazo de 15 e de 30 e
quanto estávamos perante a vertente da resposta à reconvenção o prazo já era de 30 dias.

Se pensarmos no princípio da igualdade entre as partes se o réu tem 30 dias para contestar e se
na prática a replica funciona como uma defesa quanto à matéria da reconvenção estranho seria
que o prazo fosse mais curto.
 
O que é que muitas vezes se deteta?
Que o autor se aproveita da replica para complementar, esclarecer, aditar ou corrigir factos que
foram por si alegados no âmbito da PI ou deveriam ter sido – Se atualmente eu só posso replicar
para exerce o contraditório quanto à contestação reconvenção, tudo aquilo que extravase essa
matéria de defesa quanto à reconvenção não é admissível, é preciso ver se da replica consta
apenas a defesa tanto à reconvenção, se não constar o articulado padece de uma nulidade mas é
uma nulidade parcial, só diz respeito à matéria que extravasa a meteria da resposta à
reconvenção, quanto à outra ela é admissível.
Se tivermos a inadmissibilidade completa da replica teremos a nulidade total – a nulidade total
vai ter um ato material a secundá-la, ato de desentranhamento dos autos.

Desentranhar – retirar do processo, por vezes o que é que se vê? Vê-se um pedido de
desentranhamento quando parte da peça é admissível, é obvio que o tribunal não vai deferir esse
pedido de desentranhamento - há uma nulidade parcial da réplica, motivo pelo qual se deve
considerar como não escrita toda a mateira que extravasa a defesa quanto à reconvenção.

A parte pode ser condenada nas custas pelo incidente – os acidentes são tipificados ou
nominados ou atípicos e nominados este é um dos casos de um incidente atípico, se apresento

45
Inês Tavares Lima

uma peça processual que não tinha possibilidade de apresentar e se ela é desentranhada dos
autos eu vou ser condenado nas custas pela verificação desses incidentes, a tal ocorrência
anormal ou extraordinária no processo.

Ainda existe aqui um outro aspeto a referir quanto à replica:

→ Situações em que a parte deve replicar mas não o faz.

A parte devia replicar (porque há uma reconvenção) e não o fez - 587º/1 – a falta de
apresentação da replica ou a falta de impugnação dos novos factos alegados pelo réu têm o
efeito previsto no artigo 574º, ou seja, princípio ou ónus da impugnação que refere que,
consideram-se admitidos por acordo os factos que não forem impugnados, a consequência de
não oferecimento da replica será considerar-se como admitidos os factos que são invocados pelo
réu/reconvinte no âmbito da sua reconvenção.

Pode acontecer uma outra coisa – o autor ao replicar, e ao replicar está a responder à
reconvenção, vir deduzir uma exceção.

Terá o réu a possibilidade de responder a essa exceção aduzida pelo autor no âmbito da sua
replica? – Terá mas o não poderá fazer em qualquer articulado subsequente, já não existe
treplica e nem era para isso que ela estava pensada. O que se vai fazer é, devemos de ir ao artigo
3º n4 CPC segundo o qual às exceções deduzidas no último articulado admissível pode a parte
contraria responder na audiência previa ou não havendo lugar a ela no início da audiência.
Existe a possibilidade de prorrogação do prazo para replicar - 569º
Articulados supervenientes

Se a réplica é um articulado excecional então os articulados supervenientes serão mais


excecionais ou eventuais, porque normalmente todos os factos que importam ao autor ou ao réu,
já foram respetivamente alegados ou no âmbito da PI ou no âmbito da contestação, no âmbito da
contestação há um princípio que é o princípio da concentração da defesa na contestação e
portanto, obrigatoriamente os factos tem que ser aduzidos na contestação.

Por vezes há determinados factos que não haviam ainda ocorrido aquando da apresentação dos
articulados ditos normais, ocorrem posteriormente a esses articulados – integram o chamado
conceito de superveniência – mas também integram o conceito de superveniência outros factos
que já haviam ocorrido antes da apresentação dos articulados, mas de que a parte não tinha
tomado conhecimento aquando desses articulados 588º/2.
A pergunta que se coloca é – Esses factos por terem ocorrido posteriormente ou por a parte ter
tomado conhecimento dos mesmos posteriormente devem ou não ser trazidos aos autos – o juiz
é obrigado a tomar em consideração todos os factos pertinentes para a boa decisão da causa,
quer os factos sejam constitutivos, alegação pelo autor, quer os factos sejam impeditivos,
modificativos ou extintivos, alegação por parte do réu. Provavelmente se os factos tiverem
relevância têm que ser trazidos aos autos, havia que encontrar um instrumento jurídico para
trazer esses factos.

46
Inês Tavares Lima

O instrumento jurídico são estes articulados supervenientes – normalmente integramos estes


articulados dentro da fase dos articulados, mas curiosamente o legislador equaciona a
apresentação deste articulado depois do encerramento da fase dos articulados, temos um
articulado que vai ser apresentado ou na audiência prévia ou depois da audiência previa
inclusive na audiência final ou não havendo audiência previa depois da notificação da data para
a realização da audiência final.

Existe ainda outra hipótese – o facto superveniente surge depois da apresentação pelo autor da
PI, o autor tem possibilidade de replicar porque houver reconvenção e toma conhecimento nesse
ato no facto superveniente. Nessa circunstância, ele poderá apresentar esse facto onde? na
réplica – a réplica pode servir como alegação do facto superveniente – 588º/1.

Momento da apresentação dos articulados supervenientes

Artigo 588º/3/a/b/c

O senhor juiz vai ter que proferir um despacho liminar de admissão ou de rejeição do articulado
superveniente porque pese embora a parte considere que está verificada a superveniência é
preciso que o juiz comprove que de facto essa superveniência existe, não estamos sobre tudo a a
pensar nos factos que ocorreram posteriormente, esses facilmente se comprova que são
supervenientes, estamos sobre tudo a pensar nos factos que ocorreram antes mas que a parte
alega que não teve dos mesmos conhecimento - a parte tem que alegar e provar o porquê de não
ter tomado conhecimento do facto no momento em que o facto ocorreu.

A parte tem que fazer prova da superveniência, só fazendo prova dessa superveniência que é o
senhor juiz vai admitir o articulado superveniente. A parte contra o qual tiver sido oferecido o
articulado superveniente vai ter que ter a possibilidade de se pronunciar quanto ao teor desse
articulado superveniente.

Quando o articulado superveniente é apresentado na replica ou na audiência previa não há


grande problema a nível processual e a nível da economia processual e da celeridade processual
de exercer este contraditório – o problema está quando o articulado superveniente tem que ser
apresentado de modo ora na própria aldeia final.

A pergunta que se coloca é – isto tem ou não influencia na evolução da audiência final?

O CPC atual tentou minimizar ao máximo as circunstancias que podem determinar o adiamento
ou interrupção da audiência final, consequentemente se eu tenho a apresentação de um
articulado superveniente no âmbito da audiência final, a regra é que isso não vai ter implicação
no desenvolvimento da audiência, significa que a parte contraria vai ter que responder
oralmente na audiência final e vai ter que produzir as provas oralmente na audiência final, o que
não será um grande problema caso as provas sejam aquelas que estão nos próprios autos será
um problema se as testemunhas por exemplo nas estiverem arroladas, ai a parte vai ter que as

47
Inês Tavares Lima

apresentar na audiência final para elas serem ouvidas, só há um caso em que a audiência é
interrompida que é a parte não prescindir do prazo de 10 dias para exercer o contraditório e
nesse caso a audiência será interrompida ou pode suceder outra coisa, ter a audiência
calendarizada em 4 ou 5 sessões, ai não existe nenhuma interrupção o que existe é o
aproveitamento de uma das sessões para se dar resposta ao articulado superveniente e para se
produzir essa prova.

48

Você também pode gostar