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AULA 04 –

INTERDIÇÃO,
EMANCIPAÇÃO.
Direito Civil – Pessoas e Bens
Prof. Wanderley Sampaio
INTERDIÇÃO
 Art. 1.177. A interdição pode ser promovida:
 I - pelo pai, mãe ou tutor;
 II - pelo cônjuge ou algum parente próximo;
 III - pelo órgão do Ministério Público.

 As pessoas legitimadas para isso são: o pai, a mãe, o tutor, sem ordem de preferência. Se o
legislador usa “ou” na redação da lei, então não tem ordem; ele deixa claro quando existe uma
ordem de preferência.
 Depois, o cônjuge ou algum parente próximo. Quem chegar primeiro entra com um processo.
“Parente próximo” = é definido pela doutrina como “os parentes de até quarto grau”. Por
último, cita-se o Ministério Público como agente legitimado para entrar com um processo de
interdição.
GRAU DE PARENTESCO
 Comecemos por um exemplo: você deseja saber qual é o seu grau de parentesco legal com seu
primo.
 A regra é: fazer a árvore genealógica até chegar ao ascendente comum e depois descer.
 Então, aquele “primo de primeiro grau” é, na verdade, “primo de quarto grau”.
 Observe a seqüência: você -> sua mãe ou pai -> sua avó ou avô -> sua tia ou tio, mãe ou pai de
seu primo -> seu primo.
 Note o número de setas até se chegar ao primo = 4. O primo será, portanto, o parente de maior
grau aceito para entrar com um processo de interdição.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
 Existe uma particularidade: o MP não pode entrar com processo de interdição sempre que
achar por bem; só o fará de acordo com as seguintes regras:

 Primeira regra: no caso de anomalia psíquica. Observe os incisos 1º e 2º: apenas tais pessoas estão
legitimadas para dar entrada com o processo em casos comuns (sem anomalia atestada), se houver
anomalia constada, então o MP não precisará aguardar a manifestação de ninguém.

 Segunda regra: se não for caso de anomalia psíquica, o MP só promoverá o processo se as pessoas
acima não existirem.

 Terceira regra: se existem e são menores ou incapazes: segue-se a árvore genealógica. Sempre
segundo um esquema de “se/se não”. O MP notificará essas pessoas. Se eles não se manifestarem,
então o MP Entrará com o processo por conta própria. Menor emancipado não conta porque não foi
especificado no artigo.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
 A sentença de interdição está imersa numa discussão doutrinária, mas já pacificada. A corrente
majoritária entende que a natureza jurídica da sentença de interdição é declaratória. “Não é a
sentença que cria a loucura”. Entretanto, há uma corrente minoritária que diz que a sentença
tem natureza constitutiva.

 O processo de interdição requer, obrigatoriamente, que o juiz fique frente a frente com o
futuro interditado. Ele não é obrigado a seguir o posicionamento da perícia. O juiz pode
entender que se trata de caso de interdição do art. 3º, ou então que nem deve ser caso de
interdição.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
 Esse processo é tão sério que passará por três registros. Registra-se pela primeira vez, aguarda-
se 30 dias, registra-se pela segunda vez, aguarda mais 30 dias, e então se faz o terceiro
registro. A finalidade do registro é dar publicidade à sentença. Veja o art. 9º do Código Civil:

 Art. 9º. Serão registrados em registro público:


 I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
 II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
 III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
 IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
ÍNDIOS
 O art. 4º que vimos ontem tem um parágrafo único, que cita os índios. A capacidade deles será
regulada por legislação especial.
 Cuidado com os livros: os autores, quando mencionam o parágrafo único do art. 4º, dizem
que, como os índios não são amparados pelo Código Civil, então eles não são relativamente
incapazes. Não é isso. As questões indígenas são reguladas pelo Estatuto do Índio de 1973.

 Os índios são classificados em três tipos:


 1 – Isolado: aquele que não tem contato algum com a civilização.
 2 – Em vias de integração: aquele que tem contato esporádico com a civilização.
 3 – Integrado: tem contato constante com a civilização.
ÍNDIOS
 Fala-se que a FUNAI será a tutela do índio. Não tem nada sobre representação nem assistência
no estatuto, mas “tutela”. Esta palavra não está bem colocada, já que tutelado, pelo Código
Civil, é aquele que perdeu os pais. Caso o índio faça uma negociação e a FUNAI não esteja
presente, o negocio é absolutamente nulo. Se o índio estivesse previsto no art. 4º a palavra
seria “assistência”, e também seria ato anulável e não nulo. Essa regra vale para os índios
isolados e os em vias de integração. A própria FUNAI classifica o índio.
 O integrado tem contato constante, e será necessária uma sentença judicial determinando seu
estado de integração. Não é a FUNAI que determinará a integração completa do índio. A
instituição competente é a Justiça Federal.
ÍNDIOS
 Haverá requisitos: o índio tem que ter pelo menos 21 anos, ao contrario da regra geral adotada
pelo Código Civil, que se preocupa com quem tem 18; precisa ter noções de português, saber
se comunicar, não necessariamente escrever; deve conhecer os costumes da localidade: onde
ele vive e aonde ele vai. Tem que demonstrar que terá uma atividade útil: não necessariamente
econômica, mas deve ter sua própria subsistência.
 Ao sair a sentença determinando a integração do índio, então ele deixará de ser coberto pelo
Estatuto do Índio e passará a se subordinar ao Código Civil.
EMANCIPAÇÃO
 Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil.
 Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente
de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
 II - pelo casamento;
 III - pelo exercício de emprego público efetivo;
 IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
 V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
EMANCIPAÇÃO
 Emancipação voluntária: se os pais derem o consentimento para a emancipação do filho com
16 anos, então eles não poderão voltar atrás.
 Isso é irrevogável. Mas há uma situação diferente: apesar de a emancipação ser irrevogável,
pode ser que ela seja invalidada. Então vamos lembrar de um detalhe, sobre o plano da
invalidade.
 Se falamos que o ato é inválido, então ele poderá ser nulo ou anulável. Invalidade é o gênero,
e ela pode ter o pior e o menos pior grau de intensidade.
EMANCIPAÇÃO
 Olhem a situação: os pais estavam com duvida em relação a emancipar ou não o filho. Então
surge o filho no cartório, drogado, portando uma arma e coagindo os pais a assinarem a
emancipação. Sendo o uso de arma uma coação física, de violência, da mesma forma quando o
filho força a mão dos pais para assinar o documento emancipatório, em suma, qualquer ação
que impeça que o sujeito tenha um grau de escolha. Nesse caso, haverá nulidade absoluta, ou
seja, não gerará efeitos.

 A emancipação anulável é aquela que foi concedida mediante coação moral. Um sinônimo de
coação moral é “ameaça”. Exemplo: os pais estão no cartório, estão em dúvida, então chega
alguém, não necessariamente o filho e diz: “assine, ou matarei a vovó”. A doutrina entende
que isso não passa de mera ameaça.
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
 Nulo: os pais, coagidos fisicamente, assinaram a emancipação do f ilho em 04/07/2004. Em
seguida entraram com um processo para nulificar essa emancipação. A sentença sai em
03/02/2005. A sentença do ato nulo retroage até o dia em que foi efetivado, ou seja,
04/07/2004. Nada do que tiver acontecido nesses 215 dias terá efeito ou validade.
 Anulável: os pais assinam a emancipação em 23/05/2005, ocasião na qual estavam coagidos
moralmente. Em seguida, entraram com um processo para anular a emancipação. A sentença é
concedida em 14/12/2005. A emancipação é revertida, mas todos os efeitos gerados nesses
206 dias entre 23 de maio e 14 de dezembro serão mantidos.
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
 Nomes técnicos: quando falamos que a sentença age para trás, ela é chamada ex tunc. Quando
vale apenas para datas posteriores, então é uma sentença ex nunc.

 Observação: é facultado ao jovem que praticara coação moral para se emancipar fazer
manobras jurídicas para retardar a sentença de anulação da emancipação visando prolongar
seus efeitos, já que, na pior das hipóteses para o jovem, o ato será anulável, mas não nulo
(nulidade absoluta).
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
 Registro da escritura pública: está no art. 9º do Código Civil:
 Art. 9º. Serão registrados em registro público:
 I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
 II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
 III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
 IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.

 É necessário que se dê publicidade àquela emancipação. Isso só será conseguido através do


registro. Caso alguém negocie comigo, poderei puxar as certidões solicitando ao cartório, para
verificar se aquela pessoa é mesmo capaz de atos jurídicos.
 A emancipação voluntária não é um direito do menor, ela é uma prerrogativa dos pais.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o
menor tiver dezesseis anos completos;
 Esse trecho dispõe sobre a emancipação judicial (não-voluntária).
 Também só pode ocorrer aos 16 anos, inclusive em caso de tutela, como dito no inciso. A
intervenção do juiz é necessária caso os pais não estejam mais vivos e o menor esteja tutelado.
 Como ele não tem mais os pais, o legislador entende que sua situação é mais frágil, por isso o
Código exige que haja um processo.
 Desta forma, o juiz pesquisará os motivos que levaram o tutor a pedir a emancipação. Só
poderá ser concedida a emancipação se for trazer benefícios, nunca para piorar a situação do
menor.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
 Se o juiz notar que o tutor pretende emancipar o jovem justamente com fins de acabar com a
relação de tutela e conseguir adquirir os bens do tutelado de maneira mais simples e barata,
então o juiz indeferirá o processo.
 E se for provada a má-fé depois de dada a sentença? O menor, que deverá ser o maior
interessado, deverá entrar com ação rescisória.
 Basta a ele provar a má-fé do tutor. Será como o ato não tivesse existido.
 Rescisão, para o Direito, é como jogar no poço do esquecimento absoluto.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
 Emancipação legal: o mesmo que emancipação tácita.
 Elas estão a partir do inciso 2º: através do casamento, emancipa-se. A idade núbil é a partir dos
16, como diz o art. 1517 do Código Civil. Basta ter autorização de ambos os pais para casar.
 E o casamento precisa se efetivar? O Código Civil não puxa esse detalhe. Às vezes os pais
autorizaram, mas a pessoa não veio a se casar, então o jovem não foi emancipado. Então sim,
o casamento precisa se efetivar.

 Detalhe: art. 1520: casamentos antes dos 16 anos em casos de gravidez. Se o casamento for
antes dos 16, então é caráter de exceção, e, além da autorização dos pais, será necessária a
autorização do juiz.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
 Na hora em que os pais autorizam o casamento e o filho vem a se casar, então automaticamente ele já
estará emancipado. Não é necessária escritura publica posterior.
 Detalhes: se os pais autorizaram o casamento do filho aos seus 16 anos, mas houver separação
precoce, ele continuará emancipado.
 Casamento putativo: puta = boa-fé. Casamento daquele que está de boa-fé. O casamento putativo gera
efeitos para o cônjuge que está de boa-fé.
 Exemplo 1: pessoas casadas não podem se casar novamente. Elas necessitam do divórcio. Isso não é
difícil acontecer, há pessoas que são casadas lá no interior do país, depois se mudam, e tentam se casar
novamente. Se alguém aos 16 anos quiser casar com um sujeito desses, algum interessado pode pedir
anulação.
 Exemplo 2: alguém se apresenta querendo se casar comigo, diz que não é casada, mas na verdade é, e
nós casamos. Então esse ato será absolutamente nulo. Se os pais autorizarem o casamento, se estou me
casando de boa-fé (sem conhecer o fator de invalidade não-revelado pela noiva), eu continuarei
emancipado.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
 Outro exemplo: tenho 16 anos e quero me casar com uma mulher que foi interditada, com o propósito único de
me emancipar. Os deficientes mentais, sem discernimento nenhum, são absolutamente incapazes. Se por acaso o
cartório deixar passar esse casamento e eu tiver sucesso em casar com a alienada mental, depois da autorização
dos meus pais, minha emancipação se reverterá.

 União estável: a doutrina entende que união estável não emancipa, enquanto o Código nada fala. O Código
Civil exige casamento mesmo.

 Emprego público efetivo: está no inciso 3º: aprovação em concurso público antes dos 16 anos. Exemplo
clássico: escola preparatória. Na prática, os jovens que terminam a escola preparatória estão emancipados, e
esse tempo conta até para fins previdenciários. Alguns entendem que a escola preparatória é um estagio
probatório. Detalhe: o final do inciso diz “efetivo”, ou seja, precisa tomar posse. Não basta passar no concurso.
Colação de grau: o Código diz: em nível superior, como diz o inciso 4º. É uma situação altamente improvável,
mas ainda assim está na legislação. É que o legislador manteve o que havia sobre o código antigo. A doutrina
diz: nem nível técnico nem escolas normalistas entram no rol de instituições emancipadoras.
ART. 5º, V, CC – RELAÇÃO DE
EMPREGO
 V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.
 Este inciso fala do estabelecimento e da relação de emprego. Ambos estão preocupados se o
menor, a partir dos 16, possui subsistência própria.
 Detalhes da prática: aquele menor, a partir dos 16, poderá ter o estabelecimento civil ou
comercial. Se alguém pretende montar uma empresa aos 16, essa pessoa deve ir à junta
comercial para fazer o registro da sociedade. Na prática, a junta não permite que o sujeito
registre o negócio comercial com 16 anos; exigem que tenha havido emancipação voluntária
ou judicial. Lembre-se que pessoa jurídica só existe depois do registro, porque o registro da
pessoa jurídica tem natureza constitutiva.
ART. 5º, V, CC – RELAÇÃO DE
EMPREGO
 Relação de emprego: sabemos que a partir dos 14 temos a figura do aprendiz no Direito
Trabalhista. O Direito Civil diz que basta a relação de emprego para emancipar. Silvio Venosa
diz que a emancipação só pode se dar mediante regulamentação e registro na CTPS (Carteira
de Trabalho e Previdência Social). Os outros autores são omissos com relação a essa
particularidade.
 Detalhe: emancipação é um instituto do Direito Civil. Isso não influencia o Direito Penal nem
o Direito Administrativo. Aqui no Distrito federal há uma curiosidade: já ocorreu de jovens
menores de 18 anos emanciparem-se e tirarem a carteira de motorista. Para fazer isso, basta
provar que a família depende do menor para locomoção, bem como outras condições.

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