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INTERDIÇÃO,
EMANCIPAÇÃO.
Direito Civil – Pessoas e Bens
Prof. Wanderley Sampaio
INTERDIÇÃO
Art. 1.177. A interdição pode ser promovida:
I - pelo pai, mãe ou tutor;
II - pelo cônjuge ou algum parente próximo;
III - pelo órgão do Ministério Público.
As pessoas legitimadas para isso são: o pai, a mãe, o tutor, sem ordem de preferência. Se o
legislador usa “ou” na redação da lei, então não tem ordem; ele deixa claro quando existe uma
ordem de preferência.
Depois, o cônjuge ou algum parente próximo. Quem chegar primeiro entra com um processo.
“Parente próximo” = é definido pela doutrina como “os parentes de até quarto grau”. Por
último, cita-se o Ministério Público como agente legitimado para entrar com um processo de
interdição.
GRAU DE PARENTESCO
Comecemos por um exemplo: você deseja saber qual é o seu grau de parentesco legal com seu
primo.
A regra é: fazer a árvore genealógica até chegar ao ascendente comum e depois descer.
Então, aquele “primo de primeiro grau” é, na verdade, “primo de quarto grau”.
Observe a seqüência: você -> sua mãe ou pai -> sua avó ou avô -> sua tia ou tio, mãe ou pai de
seu primo -> seu primo.
Note o número de setas até se chegar ao primo = 4. O primo será, portanto, o parente de maior
grau aceito para entrar com um processo de interdição.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
Existe uma particularidade: o MP não pode entrar com processo de interdição sempre que
achar por bem; só o fará de acordo com as seguintes regras:
Primeira regra: no caso de anomalia psíquica. Observe os incisos 1º e 2º: apenas tais pessoas estão
legitimadas para dar entrada com o processo em casos comuns (sem anomalia atestada), se houver
anomalia constada, então o MP não precisará aguardar a manifestação de ninguém.
Segunda regra: se não for caso de anomalia psíquica, o MP só promoverá o processo se as pessoas
acima não existirem.
Terceira regra: se existem e são menores ou incapazes: segue-se a árvore genealógica. Sempre
segundo um esquema de “se/se não”. O MP notificará essas pessoas. Se eles não se manifestarem,
então o MP Entrará com o processo por conta própria. Menor emancipado não conta porque não foi
especificado no artigo.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
A sentença de interdição está imersa numa discussão doutrinária, mas já pacificada. A corrente
majoritária entende que a natureza jurídica da sentença de interdição é declaratória. “Não é a
sentença que cria a loucura”. Entretanto, há uma corrente minoritária que diz que a sentença
tem natureza constitutiva.
O processo de interdição requer, obrigatoriamente, que o juiz fique frente a frente com o
futuro interditado. Ele não é obrigado a seguir o posicionamento da perícia. O juiz pode
entender que se trata de caso de interdição do art. 3º, ou então que nem deve ser caso de
interdição.
PROCESSO DE INTERDIÇÃO
Esse processo é tão sério que passará por três registros. Registra-se pela primeira vez, aguarda-
se 30 dias, registra-se pela segunda vez, aguarda mais 30 dias, e então se faz o terceiro
registro. A finalidade do registro é dar publicidade à sentença. Veja o art. 9º do Código Civil:
A emancipação anulável é aquela que foi concedida mediante coação moral. Um sinônimo de
coação moral é “ameaça”. Exemplo: os pais estão no cartório, estão em dúvida, então chega
alguém, não necessariamente o filho e diz: “assine, ou matarei a vovó”. A doutrina entende
que isso não passa de mera ameaça.
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
Nulo: os pais, coagidos fisicamente, assinaram a emancipação do f ilho em 04/07/2004. Em
seguida entraram com um processo para nulificar essa emancipação. A sentença sai em
03/02/2005. A sentença do ato nulo retroage até o dia em que foi efetivado, ou seja,
04/07/2004. Nada do que tiver acontecido nesses 215 dias terá efeito ou validade.
Anulável: os pais assinam a emancipação em 23/05/2005, ocasião na qual estavam coagidos
moralmente. Em seguida, entraram com um processo para anular a emancipação. A sentença é
concedida em 14/12/2005. A emancipação é revertida, mas todos os efeitos gerados nesses
206 dias entre 23 de maio e 14 de dezembro serão mantidos.
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
Nomes técnicos: quando falamos que a sentença age para trás, ela é chamada ex tunc. Quando
vale apenas para datas posteriores, então é uma sentença ex nunc.
Observação: é facultado ao jovem que praticara coação moral para se emancipar fazer
manobras jurídicas para retardar a sentença de anulação da emancipação visando prolongar
seus efeitos, já que, na pior das hipóteses para o jovem, o ato será anulável, mas não nulo
(nulidade absoluta).
SENTENÇA DO ATO NULO E
SENTENÇA DO ATO
ANULÁVEL
Registro da escritura pública: está no art. 9º do Código Civil:
Art. 9º. Serão registrados em registro público:
I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
Detalhe: art. 1520: casamentos antes dos 16 anos em casos de gravidez. Se o casamento for
antes dos 16, então é caráter de exceção, e, além da autorização dos pais, será necessária a
autorização do juiz.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
Na hora em que os pais autorizam o casamento e o filho vem a se casar, então automaticamente ele já
estará emancipado. Não é necessária escritura publica posterior.
Detalhes: se os pais autorizaram o casamento do filho aos seus 16 anos, mas houver separação
precoce, ele continuará emancipado.
Casamento putativo: puta = boa-fé. Casamento daquele que está de boa-fé. O casamento putativo gera
efeitos para o cônjuge que está de boa-fé.
Exemplo 1: pessoas casadas não podem se casar novamente. Elas necessitam do divórcio. Isso não é
difícil acontecer, há pessoas que são casadas lá no interior do país, depois se mudam, e tentam se casar
novamente. Se alguém aos 16 anos quiser casar com um sujeito desses, algum interessado pode pedir
anulação.
Exemplo 2: alguém se apresenta querendo se casar comigo, diz que não é casada, mas na verdade é, e
nós casamos. Então esse ato será absolutamente nulo. Se os pais autorizarem o casamento, se estou me
casando de boa-fé (sem conhecer o fator de invalidade não-revelado pela noiva), eu continuarei
emancipado.
ART. 5º, I, CC (SEGUNDA
PARTE) - EMANCIPAÇÃO
Outro exemplo: tenho 16 anos e quero me casar com uma mulher que foi interditada, com o propósito único de
me emancipar. Os deficientes mentais, sem discernimento nenhum, são absolutamente incapazes. Se por acaso o
cartório deixar passar esse casamento e eu tiver sucesso em casar com a alienada mental, depois da autorização
dos meus pais, minha emancipação se reverterá.
União estável: a doutrina entende que união estável não emancipa, enquanto o Código nada fala. O Código
Civil exige casamento mesmo.
Emprego público efetivo: está no inciso 3º: aprovação em concurso público antes dos 16 anos. Exemplo
clássico: escola preparatória. Na prática, os jovens que terminam a escola preparatória estão emancipados, e
esse tempo conta até para fins previdenciários. Alguns entendem que a escola preparatória é um estagio
probatório. Detalhe: o final do inciso diz “efetivo”, ou seja, precisa tomar posse. Não basta passar no concurso.
Colação de grau: o Código diz: em nível superior, como diz o inciso 4º. É uma situação altamente improvável,
mas ainda assim está na legislação. É que o legislador manteve o que havia sobre o código antigo. A doutrina
diz: nem nível técnico nem escolas normalistas entram no rol de instituições emancipadoras.
ART. 5º, V, CC – RELAÇÃO DE
EMPREGO
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.
Este inciso fala do estabelecimento e da relação de emprego. Ambos estão preocupados se o
menor, a partir dos 16, possui subsistência própria.
Detalhes da prática: aquele menor, a partir dos 16, poderá ter o estabelecimento civil ou
comercial. Se alguém pretende montar uma empresa aos 16, essa pessoa deve ir à junta
comercial para fazer o registro da sociedade. Na prática, a junta não permite que o sujeito
registre o negócio comercial com 16 anos; exigem que tenha havido emancipação voluntária
ou judicial. Lembre-se que pessoa jurídica só existe depois do registro, porque o registro da
pessoa jurídica tem natureza constitutiva.
ART. 5º, V, CC – RELAÇÃO DE
EMPREGO
Relação de emprego: sabemos que a partir dos 14 temos a figura do aprendiz no Direito
Trabalhista. O Direito Civil diz que basta a relação de emprego para emancipar. Silvio Venosa
diz que a emancipação só pode se dar mediante regulamentação e registro na CTPS (Carteira
de Trabalho e Previdência Social). Os outros autores são omissos com relação a essa
particularidade.
Detalhe: emancipação é um instituto do Direito Civil. Isso não influencia o Direito Penal nem
o Direito Administrativo. Aqui no Distrito federal há uma curiosidade: já ocorreu de jovens
menores de 18 anos emanciparem-se e tirarem a carteira de motorista. Para fazer isso, basta
provar que a família depende do menor para locomoção, bem como outras condições.