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DIREITO PENAL

CONCURSO DE PESSOAS
O concurso de pessoas pode ser conceituado como a colaboração de dois ou mais agentes para a prática de um
delito ou contravenção penal.

O concurso de pessoas é regulado pelos arts. 29 a 31 do CP:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena
será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do
crime.

Casos de impunibilidade

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Mas como compreender a natureza jurídico-penal de uma conduta criminosa praticada por diversas pessoas? Três
teorias surgiram:

• Pluralista (ou pluralística) - Para esta teoria cada pessoa responderia por um crime próprio, existindo tantos
crimes quantos forem os participantes da conduta delituosa, já que a cada um corresponde uma conduta própria,
um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular.

• Dualista (ou dualística) – Segundo esta teoria, há um crime para os autores, que realizam a conduta típica
emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que desenvolvem uma atividade
secundária.

• Monista (ou monística ou unitária) – A codelinquência (concurso de agentes) deve ser entendida, para esta teoria,
como CRIME ÚNICO, devendo todos responderem pelo mesmo crime. É a adotada pelo CP. Isso não significa que
todos que respondem pelo delito terão a mesma pena. A pena de cada um irá corresponder à valoração de cada
uma das condutas (cada um responde “na medida de sua culpabilidade). Em razão desta diferenciação na pena de
cada um dos infratores, diz-se que o CP adotou uma espécie de teoria monista temperada (ou mitigada).

O concurso de pessoas pode ser, basicamente, de duas espécies:

• EVENTUAL – Neste caso, o tipo penal não exige que o fato seja praticado por mais de uma pessoa. Isso não
impede, contudo, que eventual ele venha a ser praticado por mais de uma pessoa (Ex.: Furto, roubo, homicídio).
• NECESSÁRIO – Nesta hipótese o tipo penal exige que a conduta seja praticada por mais de uma pessoa. Divide-se
em: a) condutas paralelas (crimes de conduta unilateral): Aqui os agentes praticam condutas dirigidas à obtenção
da mesma finalidade criminosa (associação criminosa, art. 288 do CPP); b) condutas convergentes (crimes de
conduta bilateral ou de encontro): Nesta modalidade os agentes praticam condutas que se encontram e produzem,
juntas, o resultado pretendido (ex. Bigamia); c) condutas contrapostas: Neste caso os agentes praticam condutas
uns contra os outros (ex. Crime de rixa).

Mas quais são os requisitos para que se possa falar em concurso de pessoas? Cinco são os requisitos para que seja
caracterizado o concurso de pessoas. Vejamos:

Pluralidade de agentes

Para que possamos falar em concurso de pessoas, é necessário que tenhamos mais de uma pessoa a colaborar para
o ato criminoso. É necessário que sejam agentes culpáveis? A doutrina se divide, mas prevalece o entendimento
de que todos os comparsas devem ter discernimento, de maneira que a ausência de culpabilidade por doença
mental, por exemplo, afastaria o concurso de agentes, devendo ser reconhecida a autoria mediata.

Assim, se uma pessoa, perfeitamente mental e maior de 18 anos (penalmente imputável) determina a um doente
mental (sem qualquer discernimento) que realize um homicídio, não há concurso de pessoas, mas autoria mediata,
pois o autor do crime foi o mandante, que se valeu de uma pessoa sem vontade como mero instrumento para
praticar o crime. Não há concurso, pois um dos agentes não era culpável.

Todavia, é bom ressaltar que, nos crimes plurissubjetivos, se um dos colaboradores não é culpável por qualquer
razão, mesmo assim permanece o crime. Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (crime de furto, por exemplo,
que eventualmente pode ser um crime qualificado pelo concurso de pessoas, embora seja, em regra, unissubjetivo)
também não é necessário que todos os agentes sejam culpáveis, bastando que apenas um o seja para que reste
configurado o delito em sua forma qualificada.

EXEMPLO: José, maior e capaz, perfeitamente imputável, combina de realizar um roubo juntamente com Paulo,
adolescente de 17 anos de idade e, portanto, inimputável. O roubo se realiza. Neste caso, não podemos falar em
autoria mediata entre José e Paulo, eis que Paulo não foi mero instrumento nas mãos de José. Paulo quis participar
da empreitada criminosa, e responderá por isso, de acordo com as regras próprias do ECA. Neste caso, como não
houve autoria mediata, José deverá responder pelo crime roubo com a majorante de ter sido o crime praticado em
concurso de pessoas, ainda que Paulo responda de acordo com o ECA, e não de acordo com a Lei Penal.
Nessas duas últimas hipóteses, no entanto, não há propriamente concurso de pessoas, mas o que a Doutrina chama
de concurso impróprio, ou concurso aparente de pessoas. Contudo, essa ressalva só se aplica ao caso de concurso
entre culpável e “não culpável que possui discernimento”. Assim, se o agente culpável se vale de alguém sem
culpabilidade como mero instrumento, sem que ele possua qualquer discernimento, teremos sempre autoria
mediata.

Autoria mediata

A autoria mediata ocorre quando o agente (autor mediato) se vale de uma pessoa como instrumento (autor
imediato) para a prática do delito.
EXEMPLO: José, maior e capaz, entrega uma arma de fogo a uma criança de 05 anos, dizendo que ela deve colocar
a arma na cabeça de Maria e fazer uma brincadeira, pois ao apertar o gatilho, sairá água da arma. A criança aperta
o gatilho e Maria morre. Neste caso, temos autoria mediata, pois José (autor mediato) se valeu da criança
(executor) como mero instrumento para a prática do delito.

Todavia, não basta que o executor seja um inimputável, ele deve ser um verdadeiro INSTRUMENTO do mandante,
ou seja, ele não deve ter qualquer discernimento no caso concreto.

Ex.: José e Pedro (este menor de idade, com 17 anos) combinam de matar Maria. José arma o plano e entrega a
arma a Pedro, que a executa. Neste caso, Pedro é inimputável por ser menor de 18 anos, mas possui discernimento,
não se pode dizer que foi um mero “instrumento” de José. Assim, aqui não teremos autoria mediata, mas concurso
aparente de pessoas.

Ex.2: José, maior e capaz, entrega a Mauro (um doente mental sem nenhum discernimento) uma arma e diz para
ele atirar em Maria, que vem a óbito. Neste caso há autoria mediata, pois Mauro (o inimputável) foi mero
instrumento nas mãos de José.

É cabível autoria mediata nos crimes próprios e de mão própria? Em relação aos crimes próprios se admite a autoria
mediata, desde que o autor MEDIATO reúna as condições especiais exigidas pelo tipo penal.

EXEMPLO: Paulo, servidor público, coage moralmente Maria (coação irresistível), obrigando-a a subtrair 10
notebooks da repartição em que ele, Paulo, exerce suas funções. Paulo, para a execução do delito, se valeu de sua
função para facilitar a subtração. Neste caso, Paulo poderá responder por peculato-furto na qualidade de autor
mediato.

Mas, e se Maria é quem fosse a servidora e Paulo fosse um particular? Poderia haver autoria mediata? Não, neste
caso não poderíamos falar em autoria mediata.

Contudo, se não há autoria mediata e não há concurso de pessoas (pois não há concurso de pessoas entre coator
e coagido), Paulo ficará impune? Não, a Doutrina desenvolveu, para tais casos, a figura da AUTORIA POR
DETERMINAÇÃO. Consiste, basicamente, em punir aquele que, embora não sendo autor nem partícipe, exerce
sobre a conduta domínio EQUIPARADO à figura da autoria.

Não se pode considerar o agente como autor por não reunir os elementos necessários para tanto. Também não se
pode considerá-lo como partícipe, eis que a participação pressupõe o crime praticado por outro autor (e não há).
Ele será punido, portanto, por ser o autor da determinação para a conduta (ter sido o responsável por sua
ocorrência).

Em relação aos crimes de mão própria, contudo, não se admite a figura da autoria mediata, eis que o crime não
pode ser realizado por interposta pessoa (Ex.: A testemunha, no crime de falso testemunho, não pode coagir
alguém a depor em seu lugar, prestando testemunho falso).

Neste caso, porém, exemplificativamente, se a testemunha for coagida por terceira pessoa, esta terceira pessoa
poderá ser considerada AUTOR por determinação, conforme explicado anteriormente.
Relevância causal da colaboração

A participação do agente deve ser relevante para a produção do resultado, de forma que a colaboração que em
nada contribui para o resultado é um indiferente penal.

Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à execução, ou seja, anterior à consumação do delito.
Se a colaboração for posterior à consumação do delito, como o fato já ocorreu, não há concurso de pessoas,
podendo haver, no entanto, outro crime (favorecimento real, receptação, etc.).

Porém, se a colaboração for posterior à consumação, mas combinada previamente, há concurso de pessoas. Ex:
Imagine que Poliana decide matar seus pais, e combina com seu namorado para que ele esteja às 20h em ponto na
porta de sua casa para lhe ajudar na fuga.

Assim, a conduta do namorado (auxiliar na fuga) é posterior à consumação, mas fora combinada anteriormente,
havendo, portanto, concurso de pessoas. Diversa seria a hipótese, no entanto, se o namorado tivesse ido à casa da
namorada sem saber que deveria lhe ajudar na fuga. Lá chegando, a namorada conta o ocorrido e ele, a partir daí,
concorda em auxiliá-la na fuga. Nessa hipótese, o namorado comete o crime de favorecimento pessoal (nos termos
do art. 348 do CP).

Vínculo subjetivo (ou liame subjetivo)

Também é conhecido como concurso de vontades. Assim, para que haja concurso de pessoas, é necessário que a
colaboração dos agentes tenha sido ajustada entre eles, ou pelo menos tenha havido adesão de um à conduta do
outro.

Deste modo, a colaboração meramente causal, sem que tenha havido combinação entre os agentes, não
caracteriza o concurso de pessoas. Trata-se do princípio da convergência. Caso haja colaboração dos agentes para
a conduta criminosa, mas sem vínculo subjetivo entre eles, estaremos diante da autoria colateral, e não da
coautoria.

Identidade de infração penal

Também conhecido como unidade de infração penal para todos os agentes, está fundamentado no art. 29 do CP:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.

Daí podemos perceber que, se 20 pessoas colaboram para a prática de um delito (homicídio, por exemplo), todas
elas respondem pelo homicídio, independentemente da conduta que tenham praticado (um apenas conseguiu a
arma, o outro dirigiu o veículo da fuga, outro atraiu a vítima, etc.). As condutas dos agentes, portanto, devem
constituir algo juridicamente unitário.

Existência de fato punível

Trata-se do princípio da exterioridade. Assim, é necessário que o fato praticado pelos agentes seja punível, o que
de um modo geral exige pelo menos que este fato represente uma tentativa de crime, ou crime tentado.
Para a caracterização do crime tentado, é necessário que seja dado início à execução do crime. Se o fato ficar
meramente no plano abstrato, no plano da cogitação, não há fato punível, nos termos do art. 14, II do CP.

O art. 31 do CP determina, ainda, de modo específico para a hipótese de concurso de pessoas, que a colaboração
só é punível se o crime for, ao menos, tentado:

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Importante ressaltar que, em alguns casos, os atos preparatórios já configuram fato punível, seja porque a lei assim
expressamente determina, seja porque eles constituem tipo penal autônomo.

Modalidades

Coautoria

Para entendermos o fenômeno da coautoria, devemos, primeiramente, estudar o que seria a autoria do delito.

Autor e partícipe não se confundem. Autor será aquele que praticar a conduta descrita no núcleo do tipo penal
(subtrair, matar, roubar, etc.). Todos os demais, que de alguma forma prestarem colaboração (material ou moral),
serão considerados partícipes.

Agora que já sabemos que o CP diferencia autor e partícipe, precisamos saber qual é o critério para se diferenciar
um do outro.

A teoria adotada pelo CP é a teoria objetivo-formal, considerando autor aquele que realiza a conduta descrita no
núcleo do tipo, já que denota sua “vontade de autor” (animus auctoris), em contraposição à “vontade de
colaboração” do partícipe (animus socii). Entretanto, considera-se adotada a teoria do domínio do fato para os
crimes em que há autoria mediata, autoria intelectual, etc., de forma a complementar a teoria adotada.

Esta é, portanto, a posição doutrinária a respeito da posição do CP sobre a diferença entre autor e partícipe.

Desta maneira, após entendermos quem seria considerado autor do delito para o CP, podemos definir a coautoria
como a espécie de concurso de pessoas na qual duas ou mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do
tipo penal. Assim, no crime de roubo, se duas ou mais pessoas entram num banco, portando armas, e anunciam
um assalto, todas elas praticaram a conduta descrita no núcleo do tipo do art. 157, § 2°, I e II do CP (subtrair para
si ou para outrem, mediante violência ou grave ameaça...). Logo, todas são coautoras do delito. No mesmo
exemplo, porém, o dono do carro, que emprestou o veículo para a fuga, é mero partícipe.

Obs.: Não confundam coautoria com autoria colateral. Na coautoria, deve haver vínculo subjetivo ligando as
condutas de ambos os autores. Na autoria colateral, ambos praticam o núcleo do tipo, mas um não age em acordo
de vontades com o outro. Imaginem que A e B, desafetos de C, sem que um saiba da existência do outro, escondem-
se atrás de árvores esperando a passagem de C, a fim de matá-lo. Quando C passa, ambos atiram, e C vem a óbito.
Nesse caso, não houve coautoria, mas autoria colateral. Entretanto, aí vai mais uma informação: Imaginem que o
laudo identifique que apenas uma bala atingiu C, direto na cabeça, levando-o a óbito. Nesse caso, o laudo não
conseguiu apontar de qual arma saiu a bala que matou C. Nesse caso, como não se pode definir quem efetuou o
disparo fatal, ambos respondem pelo crime de homicídio TENTADO, pois não se pode atribuir a nenhum deles o
homicídio consumado, já que o laudo é inconclusivo quanto a isto. Este é o fenômeno da autoria incerta. No
entanto, se ambos estivessem agindo em conluio, com vínculo subjetivo, ou seja, se houvesse concurso de pessoas,
ambos responderiam por crime de homicídio CONSUMADO, pois nesse caso seria irrelevante saber de qual arma
partiu a bala que levou C a óbito.

A coautoria pode ser funcional (ou parcial), que é aquela na qual a conduta dos agentes são diversas e se somam,
de forma a produzir o resultado. Assim, se Ricardo segura a vítima para que Poliana a espanque, ambos são
coautores do crime de lesão corporal, mediante coautoria funcional.

Porém, a coautoria pode ser, ainda, material (direta), que é a hipótese em que ambos os coautores realizam a
mesma conduta. Assim, no exemplo acima, se Ricardo e Poliana espancassem a vítima, ambos seriam coautores
mediante coautoria material.

Participação

Conforme estudamos, no Brasil adotou-se o conceito restritivo de autor, distinguindo-se autor e partícipe. Adotou-
se, ainda, a teoria objetivo-formal, de forma que podemos definir a participação como a modalidade de concurso
de pessoas na qual o agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a conduta descrita no núcleo do
tipo penal.

A participação pode ser:

⇒ Moral – É aquela na qual o agente não ajuda materialmente na prática do crime, mas instiga ou induz alguém a
praticar o crime. A instigação ocorre quando o partícipe age no psicológico do autor do crime, reforçando a ideia
criminosa, que já existe na mente deste. O induzimento, por sua vez, ocorre quando o partícipe faz surgir a vontade
criminosa na mente do autor, que não tinha pensado no delito;

⇒ Material – A participação material é aquela na qual o partícipe presta auxílio ao autor, seja fornecendo objeto
para a prática do crime, seja fornecendo auxílio para a fuga, etc. É também chamada de cumplicidade. Este auxílio
não pode ser prestado após a consumação, salvo se o auxílio foi previamente ajustado.

⇒ Já que o partícipe não pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal, como puni-lo?

A punibilidade do partícipe não pode ser realizada diretamente pela descrição do fato típico. De fato, aquele que
empresta uma arma para que alguém mate outra pessoa, não poderia responder por homicídio, pois o art. 121 do
CP diz: “matar alguém”. Aquele que empresta a arma não está “matando”, por isso se diz que não há, aqui,
adequação típica imediata.

Contudo, a punibilidade do partícipe é possível porque há normas de extensão da adequação típica (no caso, o art.
29 do CP), que permitem a extensão do raio de aplicação do tipo penal para aqueles que, de alguma forma, tenham
contribuído para o delito. Trata-se da chamada adequação típica mediata.

Comunicabilidade das circunstâncias

O art. 30 do CP estabelece que:


Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do
crime.

Antes de estudarmos a comunicabilidade ou não das circunstâncias, devemos diferenciar a mera circunstância da
circunstância elementar do crime.

A circunstância elementar é aquela que se refere a algo indispensável para a caracterização do crime. Assim, a
circunstância “alguém” no crime de homicídio, é uma elementar, pois se o fato for praticado contra um animal, por
exemplo, não haverá homicídio.

Por sua vez, a mera circunstância não é indispensável à caracterização do crime, pois apenas agregam um fato que,
se presente, aumenta ou diminui a pena. Assim, o “motivo torpe” é uma circunstância não-elementar, ou mera
circunstância, pois caso o fato seja praticado sem essa circunstância, continua a existir homicídio, no entanto, sem
a qualificadora.

Espécies de elementares e de circunstâncias

Podem ser subjetivas (de caráter pessoal), quando relativas à pessoa do agente. É o caso da condição de funcionário
público, que é pessoal, pois se refere ao agente.

Podem ser, ainda, objetivas (ou de caráter real), quando se referem ao fato criminoso em si, seu modus operandi,
etc. Assim, o emprego de violência, no crime de roubo (art. 157 do CP) é uma elementar objetiva.

As condições pessoais não se confundem com as circunstâncias ou elementares de caráter pessoal. As primeiras
são fatores pessoais do agente, que independem da prática da infração penal. Assim, o fato de o agente ser menor
de 21 anos é uma condição pessoal, e não uma circunstância de caráter pessoal, tampouco uma elementar.

Com base nesses 3 institutos (elementares, circunstâncias e condições pessoais), podemos extrair 3 regras do CP:

✓ As circunstâncias e condições de caráter pessoal não se comunicam – Se A contrata B, para que este
mate C, em razão deste último ter estuprado sua filha, A comete o crime de homicídio privilegiado, em razão
do relevante valor moral (art. 121, § 1° do CP). Entretanto, B não comete o crime de homicídio privilegiado,
pois a circunstância “relevante valor moral” é pessoal, não se estendendo ao coautor;
✓ As circunstâncias de caráter real, ou objetivas, se comunicam – Porém, é necessário que a
circunstância tenha entrado na esfera de conhecimento dos demais agentes. Imagine que A contrata B para
matar C. B informa a A que usará de emboscada (portanto, homicídio qualificado, nos termos do art. 121, §
2° do CP), e A concorda com isto. Nesse caso, a circunstância objetiva “emboscada” (relativa ao meio
utilizado), se comunica, pois embora A não tenha usado de emboscada, concordou com esta prática por B.
Diversamente, se B praticasse o crime mediante emboscada sem nada comunicar ao mandante, A, esta
circunstância não se comunicaria, por não ter entrado na esfera de conhecimento de A;
✓ As elementares sempre se comunicam, sejam objetivas ou subjetivas – No entanto, mais uma vez se
exige que estas elementares tenham entrado no âmbito de conhecimento dos demais agentes. Imaginem
que Júlio, servidor público, convida Marcelo a entrar na repartição onde trabalham, valendo-se da condição
de Júlio, para subtrair alguns computadores. Caso Marcelo conheça a condição de funcionário público de
Júlio, ambos respondem pelo crime de peculato-furto (art. 312, § 1° do CP). Caso Marcelo desconheça essa
circunstância elementar, responde ele apenas pelo crime de furto, pois a ausência dessa circunstância faz
desaparecer o crime de peculato-furto, mas a conduta ainda é punível como furto comum.

Cooperação dolosamente distinta

A cooperação dolosamente distinta, também chamada de “participação em crime menos grave” ou “desvio
subjetivo de conduta”, ocorre quando ambos os agentes decidem praticar determinado crime, mas durante a
execução, um deles decide praticar outro crime, mais grave. Nesse caso, aplica-se o art. 29, § 2° do CP:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade.

(...) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa
pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.

EXEMPLO: Imaginem que Camila e Herval combinam de realizar um furto a uma casa que imaginam estar vazia.
Camila espera no carro enquanto Herval adentra à residência. Entretanto, ao chegar à residência, Herval se depara
com dois seguranças, e troca tiros com ambos, levando-os a óbito (sinistro esse cara). Após, entra na casa e subtrai
diversos bens. Volta ao carro e ambos fogem.

Camila não quis participar de um latrocínio (que foi o que efetivamente ocorreu), mas apenas de um furto. Assim,
segundo a primeira parte do § 2° do art. 29 do CP, responderá somente pelo furto.

Entretanto, se ficar comprovado que Camila podia prever que o latrocínio era provável (se soubesse, por exemplo,
que Herval estava armado e que havia a possibilidade de ter seguranças na casa), a pena do crime de furto (não a
do latrocínio!!) será aumentada até a metade.

A lei diz “até a metade”, logo, o aumento pode não chegar a esse patamar. O aumento de pena irá variar conforme
o grau de previsibilidade do crime mais grave para o qual Camila não se predispôs, mas era previsível.

PARTICIPAÇÃO EM CRIME CULPOSO – Depende. Podemos estar falando de participação DOLOSA ou participação
CULPOSA.

DOLOSA – Não cabe participação dolosa em crime culposo, pois a Doutrina entende que não há “unidade de
vontades” entre os agentes (um quer o resultado a título de dolo, e o outro, executor, é apenas um descuidado).
Assim, não há “vínculo subjetivo” entre eles no que tange ao resultado. Logo, cada um responde por sua conduta.

CULPOSA – É possível, pois é possível que alguém, por culpa, induza, instigue ou preste auxílio ao executor de uma
conduta também culposa, e haveria “unidade de vontades”.

CUIDADO: O STJ entende que NÃO cabe nenhum tipo de participação em crime culposo. Parte da Doutrina também
segue este entendimento.

Multidão delinquente

Também chamada de “multidão criminosa”, são considerados pela doutrina como aqueles atos em que inúmeras
(incontáveis, uma multidão) pessoas praticam o mesmo delito, agindo em concurso de pessoas, muitas vezes sem
um acordo prévio, mas cada uma aderindo tacitamente à conduta da outra. Ex.: Linchamentos, brigas de torcidas
organizadas, saques a lojas ou a carretas tombadas, etc.

A Doutrina sustenta que, mesmo nestes casos, têm-se CONCURSO DE PESSOAS, pois há vínculo subjetivo entre
estas pessoas, ainda que tácito (não explícito). O agente que praticar o delito nestas condições, porém, deverá ter
sua pena atenuada, nos termos do art. 65, e do CP, já que se trata de situação em que há maior vulnerabilidade
psicológica para que uma pessoa venha a aderir a uma conduta criminosa. Por outro lado, os que promoverem,
organizarem ou liderarem a conduta criminosa terão suas penas agravadas (art. 62, I do CP).

CONCURSO DE CRIMES

Assim como é plenamente possível que duas ou mais pessoas se unam para praticar determinado delito, é
plenamente possível que de uma mesma conduta (ou de uma série de condutas interligadas) surjam vários crimes.

O concurso de crimes pode ser de três espécies: concurso formal, concurso material e crime continuado. A exata
caracterização de cada um dos institutos é bastante importante, pois isso influenciará na adoção do sistema de
aplicação da pena.

Três também são os sistemas de aplicação da pena:

• Sistema do cúmulo material – Aqui, ao agente é aplicada a pena correspondente ao somatório das penas relativas
a cada um dos crimes cometidos isoladamente. Foi adotado no que tange ao concurso material (art. 69 do CP), no
concurso formal impróprio ou imperfeito (art. 70, caput, 2° parte) e no concurso de penas de multa (art. 72 do CP);

• Sistema da exasperação – Aplica-se ao agente somente a pena da infração penal mais grave, acrescida de
determinado percentual. Foi acolhido no que se refere ao concurso formal próprio ou perfeito (art. 70, caput,
primeira parte, do CP) e ao crime continuado (art. 71 do CP);

• Sistema da absorção – Aplica-se somente a pena da infração penal mais grave, dentre todas as praticadas, sem
que haja qualquer aumento. Foi adotado (jurisprudencialmente) em relação aos crimes falimentares.

Concurso material (ou real) de crimes

Está regulado pelo art. 69 do CP:

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não,
aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa,
por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem
compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

Nesse fenômeno, o agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais resultados. Pode ser homogêneo,
quando todos os crimes praticados são idênticos, ou heterogêneo, quando os crimes são diferentes.
Concurso formal de crimes

No concurso formal, ou ideal, o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não. Nos termos do art. 70 do CP:

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-
se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de
um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.

Primeiramente, deve ser esclarecido a vocês que deve haver unidade de conduta e pluralidade de resultados. No
entanto, a unidade de conduta não significa unidade de atos, pois existem condutas que podem ser fracionadas
em diversos atos, como no caso de alguém que mata outra pessoa com diversas pauladas na cabeça. Embora neste
caso haja diversos atos, há unidade de conduta.

O concurso formal será homogêneo se todos os crimes cometidos mediante a conduta única forem idênticos, e
será heterogêneo se os crimes praticados forem diversos.

Crime continuado

Também conhecido como continuidade delitiva, é a espécie de concurso de crimes na qual o agente pratica diversas
condutas, praticando dois ou mais crimes, que por determinadas condições são considerados pela Lei (por uma
ficção jurídica) como crime único. Nos termos do art. 71 do CP:

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser
havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único wasdo art. 70 e do art. 75 deste Código.

Duas teorias buscam explicar este instituto:

⇒ Teoria da ficção jurídica – Para esta teoria, a continuidade delitiva é uma ficção, pois, na verdade, existem
diversos crimes, tendo a Lei considerado os diversos atos como apenas um crime, para fins de aplicação da pena.

⇒ Teoria da realidade, ou da unidade real – Para esta teoria, o crime continuado é, por sua própria natureza, um
único delito, não havendo que se falar em ficção jurídica.

O nosso CP adotou a teoria da ficção jurídica, pois a consideração dos diversos delitos como um único crime se dá
apenas para fins de aplicação da pena, tanto que, no que tange à prescrição, eles são considerados crimes
autônomos, nos termos do art. 119 do CP:
Art. 119 - No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um,
isoladamente.

A Doutrina entende serem três os requisitos do crime continuado: a) pluralidade de condutas; b) pluralidade de
crimes da mesma espécie; e c) condições semelhantes de tempo, lugar, modo de execução e outras semelhanças.

Obs.: A pluralidade de crimes causa polêmica. O que seriam crimes da mesma espécie? A Doutrina e a
Jurisprudência não são pacíficas. Parte minoritária entende que crimes da mesma espécie são aqueles que tutelam
o mesmo bem jurídico. Assim, para essa corrente, furto, estelionato, apropriação indébita, etc., seriam todos
crimes da mesma espécie, pois seriam todos “crimes contra o patrimônio”.

No entanto, a corrente que prevalece, inclusive no STJ, é a de que crimes da mesma espécie são aqueles tipificados
pelo mesmo dispositivo legal, na forma simples, privilegiada ou qualificada, consumados ou tentados. Assim,
seriam crimes da mesma espécie roubo e roubo qualificado.

Vejamos: (...) Não há continuidade delitiva porque os crimes de falsificação de documento público e falsidade
ideológica não são da mesma espécie.

Entretanto, essa corrente entende que, além de serem tratados no mesmo dispositivo legal, devem tutelar o
mesmo bem jurídico. Assim, roubo simples (art. 157) e latrocínio (art. 157, § 3° do CP) não seriam crimes da mesma
espécie, pois o latrocínio tutela, ainda, o direito à vida, e não somente o patrimônio.

Por fim, a semelhança entre os delitos deve obedecer à conexão de quatro gêneros: temporal, espacial, modal e
ocasional.

A conexão temporal exige que os crimes tenham sido cometidos na mesma época. Mesma época não implica
mesmo momento. A jurisprudência tem entendido que os crimes não podem ter sido cometidos em um lapso
temporal superior a 30 dias. No entanto, no que se refere aos crimes contra a ordem tributária, o STF já entendeu
que pode haver continuidade delitiva desde que os delitos tenham sido cometidos em lapso temporal não superior
a 03 anos.

A conexão espacial indica que, para que seja considerada continuidade delitiva, os crimes devem ser cometidos no
mesmo local. A Jurisprudência entende que a conexão espacial só estará presente se os crimes forem cometidos
na mesma cidade, ou, no máximo, na mesma região metropolitana.

A conexão modal se verifica quando o agente pratica o crime sempre da mesma maneira, seja pelo modo de
execução, pela utilização de comparsas, etc.

A conexão ocasional não possui previsão expressa na Lei, mas parte da Doutrina a entende como a necessidade de
que os primeiros crimes tenham proporcionado uma ocasião que gerou a prática dos crimes subsequentes.

Existem três espécies de crime continuado: simples, qualificado e específico. Entretanto, em todos os casos se
aplica o sistema da exasperação.
No crime continuado simples, as penas dos delitos parcelares são as mesmas. Exemplo: 10 furtos simples praticados
em continuidade delitiva. Nesse caso, aplica-se a pena de apenas um deles, acrescida de 1/6 a 2/3 (varia conforme
a quantidade de delitos).

No crime continuado qualificado, as penas dos delitos praticados são diferentes, de modo que se aplica a pena do
mais grave deles, aumentada de 1/6 a 2/3.

Por fim, o crime continuado específico está previsto no § único do art. 71 do CP:

Art. 71 (...) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais
grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

Assim, nos crimes dolosos cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo as vítimas diferentes, poderá
o Juiz aplicar a pena de um deles (ou a mais grave, se diversas), aumentada até o triplo. Vejam que se adotou o
mesmo sistema da exasperação, entretanto, o § único previu um quantum maior a ser acrescido à pena-base. A lei
não estabelece a quantidade mínima nesse caso, mas a Jurisprudência, inclusive o STF, entende que o mínimo aqui
também é de 1/6.

Aqui também se aplica a regra do “concurso material benéfico”, ou seja, se o sistema da exasperação se mostrar
mais gravoso, deverá ser aplicado o sistema do cúmulo material.

Crime continuado e conflito de leis penais no tempo

Se durante a execução do crime continuado sobrevir lei nova, mais gravosa ao réu, esta última é aplicada, pois se
considera que o crime continuado está sendo praticado enquanto não cessa a continuidade delitiva. Assim, sendo
o tempo do crime o momento em que cessa a continuidade, a lei nova chegou a vigorar antes de sua consumação,
aplicando-se a este, por ser a lei vigente ao tempo do crime.

Este entendimento está, inclusive, sumulado pelo STF Nº 711: A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME
CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU
DA PERMANÊNCIA.
DAS PENAS

Se a conduta incriminada pelo tipo penal incriminador é um preceito primário, a pena (sanção penal) a ele
cominada (prevista) é o que se pode chamar de preceito secundário. A pena criminal é, acima de tudo, um castigo.
Trata-se de um mal que se aflige a alguém em razão da prática de um delito. O conceito não se confunde, porém,
com os fins (ou finalidades) da pena.

A pena possui como pressuposto de sua aplicação a culpabilidade do agente. Já as medidas de segurança não
possuem a culpabilidade como pressuposto de sua aplicação (até porque o agente não é plenamente imputável,
não possuindo, portanto, culpabilidade), mas sim a periculosidade. Isto é importante!

A pena pode ser conceituada como a resposta que a sociedade dá ao indivíduo que transgride a ordem jurídico-
penal estabelecida, e consiste na privação ou restrição de um bem jurídico do condenado (liberdade, patrimônio,
etc.), de forma a castigá-lo e reeducá-lo.

Alguns princípios norteiam a Teoria Geral da Pena:

a) Reserva legal ou legalidade estrita – Somente a Lei (em sentido estrito) pode cominar penas: “Nulla poena sine
lege”. Está previsto no art. 5°, XXXIX da Constituição e art. 1° do CP;

b) Anterioridade – A Lei que prevê a pena para a conduta deve ser anterior à prática do crime: “Nulla poena sine
praevia lege”. Também está previsto no art. 5°, XXXIX da Constituição e art. 1° do CP, sendo, juntamente com o
princípio da reserva legal, subprincípios do princípio da LEGALIDADE;

c) Intranscendência da pena – A pena deve ser cumprida somente pelo condenado, não podendo, em caso de morte
deste, ser transferida aos seus familiares, salvo a obrigação de reparar o dano e o perdimento de bens, que podem
ser cobrados dos sucessores até o limite do patrimônio transferido pelo condenado falecido. CUIDADO: A pena de
multa, embora patrimonial, não pode ser cobrada dos sucessores!

d) Inevitabilidade ou inderrogabilidade da pena – Presentes os requisitos para a condenação, a pena não pode
deixar de ser imposta e cumprida. É mitigado, atualmente, por institutos como o sursis, o livramento condicional,
etc.;

e) Princípio da humanidade ou humanização das penas – A pena não pode desrespeitar os direitos fundamentais
do indivíduo, violando sua integridade física ou moral, e também não pode ser de índole cruel, desumano ou
degradante (art. 5°, XLIX e XLVII da Constituição);

f) Princípio da proporcionalidade – A sanção aplicada pelo Estado deve ser proporcional à gravidade da infração
cometida e também deve ser suficiente para promover a punição ao infrator e sua reeducação social;

g) Princípio da individualização da pena – A pena deve ser aplicada de maneira individualizada para cada infrator
em cada caso específico. Essa individualização se dá em três fases distintas: a) cominação: O legislador deve prever
um raio de atuação para o Juiz aplicar a pena no caso concreto, estabelecendo penas mínimas e máximas, de forma
que o Juiz possa aplicar a quantidade de pena que achar conveniente no caso concreto; b) aplicação: Saindo da
esfera legislativa, passamos à esfera judicial, segunda etapa, que consiste na efetiva aplicação individualizada da
pena, que será imposta conforme as circunstâncias do crime e os antecedentes do réu, de acordo com a margem
estabelecida pelo legislador; c) Na terceira e última fase temos a aplicação deste princípio na execução da pena
(esfera administrativa), de forma que o cumprimento da pena, progressão de regime, concessão de benefícios
devem ser analisados no caso concreto, e não abstratamente, pois entende-se que “cada caso é um caso”, e não
cabe ao legislador retirar do Juiz a possibilidade de analisá-lo e proceder da forma que melhor atenda aos anseios
da sociedade. Está previsto no art. 5°, XLVI da Constituição da República.

Obs.: Quanto à finalidade da pena, entende-se que a pena deve servir como castigo (punição) ao infrator, mas
também como medida de prevenção, tanto em relação à sociedade quanto ao próprio infrator (prevenção geral e
especial). Além de consagrada na maioria dos países ocidentais.

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Espécies

Quanto às espécies, as penas podem ser:

a) Privativas de liberdade – Retiram do condenado o direito à liberdade de locomoção, por determinado período
(é vedada pena de caráter perpétuo, art. 5°, XLVII, b da Constituição). Máximo de 40 anos7 para crimes (art. 75 do
CP8) e de 05 anos para contravenções penais (art. 10 da Lei de Contravenções Penais);

b) Restritivas de direitos – Em substituição à pena privativa de liberdade, limitam (restringem) o exercício de algum
direito do condenado. Estão previstas no art. 43 do CP e em alguns dispositivos da Legislação Especial;

c) Pena de multa – Recai sobre o patrimônio financeiro do condenado;

d) Restritiva de liberdade – Restringem, mas não retiram o direito de locomoção do condenado. Na verdade, trata-
se de uma espécie de pena restritiva de direitos. Exemplo: Proibir o marido de se aproximar da casa da ex-esposa
no caso de violência doméstica;

e) Penas corporais – Trata-se de castigos aplicados ao corpo do indivíduo. É espécie de pena vedada pela
Constituição Federal (art. 5°, XLVII, e).

Estas penas podem ser cominadas:


⇒ Isoladamente – A Lei prevê a aplicabilidade de apenas uma espécie de pena. Exemplo: art. 121 do CP – Pena de
reclusão;

⇒ Cumulativamente – A Lei prevê a aplicabilidade conjunta de duas espécies de penas. Exemplo: art. 155 do CP –
Pena de reclusão e multa;

⇒ Alternativamente – A Lei comina, alternativamente, duas espécies de pena. Exemplo: art. 331 do CP: Detenção
ou multa.

Todavia, é bom ressaltar que as penas restritivas de direitos, como regra, apenas substituem as penas privativas de
liberdade, não sendo cominadas de forma isolada.

Penas em espécie

Privativa de liberdade

Como já vimos, o Direito Penal pátrio admite três modalidades de penas privativas de liberdade: reclusão, detenção
e prisão simples (somente para as contravenções penais).

O regime de cumprimento de cumprimento da pena está previsto no art. 33, § 1° do CP, e pode ser fechado,
semiaberto ou aberto.

O regime inicial de cumprimento da pena (fechado, semiaberto ou aberto) tem como regra o seguinte: pena de
reclusão – Qualquer regime inicial; pena de detenção – Regime inicial somente semiaberto ou aberto.

A fixação, em concreto, do regime inicial de cumprimento da pena irá variar conforme três fatores: reincidência,
quantidade da pena e circunstâncias judiciais. Além disso, a própria Lei estabelece que a pena seja executada de
forma progressiva (de um regime mais gravoso para outro, menos gravoso), ressalvada a hipótese de regressão
(passagem de um regime menos gravoso para outro, mais gravoso), em qualquer caso, atendendo-se ao mérito do
condenado, nos termos do art. 33, §§ 2°, 3° e 4° do CP.10

CUIDADO! O STJ possui entendimento no sentido de que é possível a fixação do regime semiaberto aos condenados
que sejam reincidentes, desde que as circunstâncias judiciais sejam favoráveis. Vejamos:

Súmula 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual
ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

Além disso, na fixação do regime inicial de cumprimento da pena, não pode o Juiz fixar regime mais gravoso do que
aquele abstratamente previsto tendo em conta a pena aplicada, tendo como base unicamente a gravidade abstrata
do delito.

Regras do regime fechado

As regras do regime fechado são, basicamente, três:

⇒ Submissão a exame criminológico inicial (O STJ passou a entender que ele agora é facultativo);

⇒ Submissão a trabalho durante o dia e descanso isolado durante a noite;


⇒ Trabalho em comum (junto com outros presos) dentro do estabelecimento, SENDO ADMISSÍVEL O TRABALHO
EXTERNO em obras públicas (Necessário cumprimento de ao menos 1/6 da pena).

O trabalho durante o regime de cumprimento da pena é obrigatório, e a recusa caracteriza falta grave, acarretando
impossibilidade de obtenção da progressão de regime e livramento condicional. Em resumo: O preso pode se negar
a trabalhar (até porque, não há como obrigá-lo fisicamente a isso), mas a recusa injustificada (se tiver problemas
de saúde, por exemplo, é uma recusa justificada) gera consequências gravíssimas para ele.

O trabalho do preso é remunerado e ele tem direito, ainda, aos benefícios da previdência social. Isso é bastante
importante, pois o preso foi condenado a uma pena “privativa de liberdade”, ou seja, o único direito do qual ele
está privado é a liberdade. Assim, o preso não se tornou um escravo do Estado, devendo receber pelo seu trabalho,
como qualquer pessoa.

Regras do Regime semiaberto

O regime semiaberto é bem menos gravoso que o regime fechado, e possui como regras:

⇒ Exame criminológico inicial (O STJ passou a entender que ele agora é facultativo – SÚMULA 439 DO STJ);

⇒ Trabalho diurno em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar, com descanso isolado à noite;

⇒ Admissão do trabalho externo, BEM COMO FREQUÊNCIA A CURSOS SUPLETIVOS PROFISSIONALIZANTES, DE


INSTRUÇÃO DE SEGUNDO GRAU OU SUPERIOR.

Vejam que as regras, embora parecidas, não são idênticas. Nesse regime o condenado pode trabalhar fora do
estabelecimento de cumprimento da pena (em qualquer trabalho, e não apenas em obras públicas), bem como
estudar.

Além disso, o preso deve ficar recolhido em estabelecimento próprio (colônia agrícola, industrial ou similar), e não
em presídio comum, onde se encontram os presos em regime fechado.

Mas e se não houver vagas nos estabelecimentos especiais (colônias), o que fazer? O STF entende que se não
houver vagas no regime semiaberto, o preso não pode arcar com essa deficiência do Estado, pois é um direito seu.
Desta forma, não pode o preso continuar no regime fechado. Por consequência, a lógica determina sua
transferência diretamente para o regime aberto ou prisão domiciliar.

O regime aberto é o mais brando dos três regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade, e baseia-se no
senso de responsabilidade e autodisciplina do preso. Regras básicas:

⇒ Trabalho diurno fora do estabelecimento e sem vigilância, frequência à curso ou outra atividade autorizada, bem
como recolhimento noturno e nos dias de folga;

⇒ Transferência para regime mais gravoso no caso de prática de crime doloso, frustração dos fins da execução
(basicamente, a fuga), ou ausência do pagamento da pena de multa.

Onde se dá o recolhimento do preso, e o que ocorre se não houver vagas no regime aberto? O recolhimento
noturno do preso no regime aberto se dá em casa de albergado, que é um prédio urbano, separado dos demais
estabelecimentos prisionais e que não deva possuir características de prisão, principalmente no que se refere à
existência de obstáculos físicos para a fuga. Caso não haja vagas no regime semiaberto (são raríssimas as casas de
albergado), o STF e o STJ firmaram entendimento no sentido de que deve o preso ficar recolhido à prisão domiciliar.

Obs.: O Código Penal estabelece, ainda, o fenômeno da Detração, que é o abatimento do tempo de cumprimento
da pena imposta, em razão do tempo que o condenado permaneceu preso provisoriamente, administrativamente
ou internado nos estabelecimentos psiquiátricos previstos no art. 41. Vejamos:

Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no
Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos
no artigo anterior.

Por fim, há ainda a previsão de regime de cumprimento de pena especial às presidiárias mulheres, que devem ser
recolhidas a estabelecimento próprio.

Trata-se de regra que materializa o direito previsto no art. 5°, XLVIII da constituição, que trata do cumprimento da
pena em estabelecimentos prisionais adequados.

Na Lei de Execuções Penais, inclusive, há regramento específico para o tratamento das presidiárias gestantes e que
estejam em fase de amamentação, bem como dispõe sobre a existência de creches para que as mães presidiárias
não sejam privadas da companhia de seus filhos, e vice-versa.

Penas restritivas de direitos

As penas restritivas de direitos são também chamadas de “penas alternativas”, pois se apresentam como uma
alternativa à aplicação da pena privativa de liberdade, muitas vezes desnecessária no caso concreto.

São divididas em cinco espécies, conforme já adiantado, nos termos do art. 43 do CP.

Duas são as características elementares das penas restritivas de direitos: autonomia e substitutividade.

Por autonomia entende-se a impossibilidade de serem aplicadas cumulativamente com a pena privativa de
liberdade.

Por substitutividade entende-se o caráter substitutivo das penas restritivas de direito, ou seja, elas não são
previstas como pena originária para nenhum crime no Código Penal, sendo aplicadas de maneira a substituir uma
pena privativa de liberdade originariamente imposta, quando presentes os requisitos legais.

Entretanto, as penas restritivas de direitos devem ser aplicadas somente se presentes alguns requisitos, que a
doutrina divide em objetivos e subjetivos. Os primeiros referem-se ao crime em si, e à penalidade imposta. Os
últimos estão ligados à pessoa do criminoso. Estão previstos nos incisos do art. 44 do CP.
Regras da substituição

Nos termos do art. 44, § 2° do CP, a substituição se fará da seguinte forma:

Art. 44 (...) § 2º Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena
restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena
restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

Assim:

⇒ Pena igual ou inferior a um ano = Substituição por multa ou uma pena restritiva de direitos.

⇒ Pena superior a um ano = Substituição por pena de multa e uma pena restritiva de direitos, ou por duas restritivas
de direitos. No caso de serem aplicadas duas restritivas de direitos, o condenado poderá cumpri-las
simultaneamente, se forem compatíveis, ou sucessivamente, se incompatíveis (art. 69, § 2° do CP).

Pode ocorrer, durante o cumprimento da pena restritiva, que o condenado descumpra a obrigação imposta pelo
Juiz. Nesse caso, ocorrerá o que se chama de RECONVERSÃO OBRIGATÓRIA. Embora a lei diga “conversão”, a
conversão ocorreu da primeira vez, quando se converteu a pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. O
que acontece, agora, é uma reconversão à pena original. Nos termos do art. 44, § 4° do CP:

§ 4º A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento


injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

Penas restritivas de direitos em espécie

Prestação pecuniária

Consiste no pagamento em dinheiro à vítima da infração penal, a seus dependentes, ou ainda, a entidade pública
ou privada com finalidade social, em montante fixado pelo Juiz entre 01 (um) e 360 (trezentos e sessenta) salários
mínimos. Este valor pago será deduzido de eventual valor a ser pago em razão de condenação na esfera cível, SE
OS BENEFICIÁRIOS FOREM OS MESMOS.
No entanto, pode acontecer de, por acordo entre o infrator e o beneficiário da prestação, esta ser de outra natureza
que não seja patrimonial.

MUITO CUIDADO! A prestação pode ser destinada a qualquer entidade pública.

No entanto, se se tratar de entidade privada, deverá possuir finalidade social. Além disso, a pena de prestação
pecuniária NÃO É PENA DE MULTA. Trata-se de uma modalidade de pena restritiva de direitos, e difere da multa
em diversos aspectos.

Perda de bens e valores

A perda de bens e valores, tal qual a pena de prestação pecuniária, é uma modalidade de pena restritiva de direitos
que atinge o patrimônio financeiro do condenado.

Poderá ter, como teto, dois parâmetros:

• Montante do prejuízo causado

• Montante do proveito obtido pelo agente ou por terceiro com a prática do delito

Perceba, caro aluno, que esta pena só poderá ser aplicada nas hipóteses de crimes que gerem algum prejuízo ao
sujeito passivo ou tragam algum benefício ao sujeito ativo ou a terceira pessoa.

Prestação de serviços à comunidade

A pena de prestação de serviços à comunidade consiste, nos termos do art. 46, §§ 1° e 2° do CP:

Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis
meses de privação da liberdade.

§ 1º A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao


condenado.

§ 2º A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros
estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.

§ 3º As tarefas a que se refere o § 1º serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas
à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de
trabalho.

§ 4º Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor
tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
De plano, vocês podem perceber que se trata de pena restritiva de direitos somente cabível nas condenações a
pena privativa de liberdade superior a 06 meses.

Embora o CP se refira a “entidades públicas”, a Doutrina entende que, à semelhança do que ocorre com a pena de
prestação pecuniária, esta pode ter como destinatária entidade privada, desde que possua destinação social.

A Doutrina entende, ainda, que a pena não pode ser prestada em Igrejas, por não se tratar de serviço à comunidade,
e pelo fato de que seria uma ofensa ao princípio do Estado laico (art. 19, I da Constituição).

Interdição temporária de direitos

A pena de interdição temporária de direitos está prevista no art. 47 do CP, e pode consistir em:

Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:

I - Proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;

II - Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do poder público;

III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.

IV - Proibição de frequentar determinados lugares.

V - Proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

As duas primeiras hipóteses são modalidades de penas restritivas de direitos específicas, pois só podem ser
aplicadas quando o crime for cometido no exercício do cargo ou função pública, ou, na segunda hipótese, no
exercício de atividade que dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público.

EXEMPLO: Se um funcionário público comete um crime de lesão corporal, sem qualquer relação com o exercício
das funções, não pode lhe ser imposta a pena suspensão de exercício de cargo ou função pública. Da mesma forma,
se um médico é condenado pelo crime de furto, não poderá ser privado do exercício de sua atividade, pois o crime
praticado não guarda qualquer relação com o exercício da atividade.

Limitação de fim de semana

Está regulamentada pelo art. 48 do CP:

Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco)
horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.

Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas
atividades educativas.

Trata-se de uma pena raramente aplicada, em razão da praticamente inexistência, no Brasil, de casas de albergado
e congêneres. O STJ entende que se essa pena for aplicada, não havendo casa de albergado em que possa ser
cumprida, não pode o condenado ser submetido a estabelecimento prisional, por ser medida mais gravosa que a
pena imposta.
Pena de multa

A pena de multa pode ser conceituada como a penalidade (sanção penal) consistente no pagamento de
determinada quantia em dinheiro e destinada ao Fundo Penitenciário Nacional.

Nos termos do art. 49, e seus §§, do CP:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada
em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo
mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária.

O critério utilizado para a fixação da pena de multa é o do dia-multa. O valor do “dia-multa” será arbitrado pelo
Juiz, em montante que varie entre 1/30 (um trigésimo) e 5 vezes o valor do maior salário mínimo vigente À ÉPOCA
DO FATO!

Perceba, caro aluno, que a aplicação da pena de multa obedece a um sistema BIFÁSICO, no qual o Juiz:

⇒ Primeiro fixa a quantidade de dias-multa.

⇒ Depois, fixa o valor de cada dia multa.

O produto da multiplicação do número de dias multa pelo valor de cada dia multa será o montante total da
condenação.
APLICAÇÃO DAS PENAS

A aplicação da pena é o ato mediante o qual o Juiz, após o processo criminal, proferindo sentença penal
condenatória, efetivamente aplica a sanção penal ao infrator.

A doutrina o classifica como um ato discricionário do juridicamente vinculado, ou seja, o Juiz possui certo grau de
discricionariedade na fixação da pena, mas deve respeitar os limites estabelecidos pela Lei.

O sistema de aplicação da pena estabelecido pelo CP é o trifásico, no que tange à pena privativa de liberdade, pois
ela é fixada após a superação de três etapas:

Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas
as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.

SISTEMA TRIFÁSICO DE APLICAÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

⇒ Fixação da pena-base

⇒ Aplicação de agravantes e atenuantes

⇒ Aplicação de causas de aumento e diminuição da pena

Fixação da pena-base

Assim dispõe o art. 59 do CP:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Essas circunstâncias mencionadas no art. 59 são chamadas de circunstâncias judiciais, e são levadas em
consideração pelo Juiz para a fixação da pena-base. Quando favoráveis ao agente, trazem a pena-base para próximo
do mínimo previsto. Quanto mais desfavoráveis, elevam a pena base para mais próximo do máximo previsto.

CUIDADO! Nesta etapa, ainda que as circunstâncias judiciais sejam extremamente favoráveis ao condenado, não
pode o Juiz fixar a pena-base abaixo do mínimo legal.

Além disso, as circunstâncias judiciais possuem um caráter subsidiário, ou seja, só podem ser levadas em
consideração se não tiverem sido consideradas na previsão do tipo penal e não constituam circunstâncias legais
(agravantes ou atenuantes) ou causas de aumento e diminuição da pena.

EXEMPLO: Imagine que José é condenado por agredir um senhor de 85 anos. O Juiz não pode agravar a pena-base
em razão das circunstâncias do crime (superioridade de forças em relação à vítima, que é pessoa vulnerável), pois
essa circunstância é prevista no art. 61, II, h do CP como uma circunstância legal (agravante).

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:

I - A reincidência;

II - Ter o agente cometido o crime:


h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

Assim, se o Juiz aumentasse a pena-base por aquele motivo, e depois aplicasse a circunstância legal agravante,
haveria o que se chama de Bis in idem, que é a consideração de uma mesma circunstância duas vezes em prejuízo
do réu, o que não é permitido (Ou dupla punição pelo mesmo fato).

E se o crime for qualificado, e o agente tiver praticado o crime mediante a prática de diversas qualificadoras? Nesse
caso, o entendimento majoritário é o de que o Juiz deve levar apenas uma qualificadora em consideração para
qualificar o crime, utilizando as demais como circunstâncias agravantes (se previstas) ou circunstâncias judiciais
(que agravam a pena-base).

Portanto, a utilização de algum fato como circunstância judicial se dá de maneira subsidiária, ou seja, somente se
este fato ainda não tenha sido levado em conta na própria definição do crime ou não se trate de circunstância
agravante ou causa de aumento de pena. Na fixação da pena-base, o Juiz deve partir do mínimo legal, e só poderá
sair desse patamar se estiverem presentes circunstâncias desfavoráveis, devendo fundamentar a sua decisão.

Algumas questões costumam ser bem polêmicas. Vamos a elas:

⇒ Maus antecedentes – O STJ e o STF entendem que a mera existência de Inquéritos Policiais e ações penais em
curso, sem trânsito em julgado, não podem ser considerados como maus antecedentes para aumento da pena
base, pois isso seria violação ao princípio da presunção de inocência (súmula 444 do STJ)

⇒ Condenação definitiva anterior – Não pode ser considerada como mau antecedente, se já é considerada como
reincidência (agravante). Só pode ser considerada como mau antecedente a condenação anterior que não serve

como reincidência (ex.: condenação definitiva que ocorreu após a prática do crime atual).

⇒ Consequências do crime - Para que possam caracterizar circunstância judicial apta a aumentar pena base, devem
ser consequências que não sejam as consequências naturais do delito – EXEMPLO: O Juiz não pode aumentar a
pena base de um homicídio consumado ao argumento de que a consequência do crime foi grave, já que a vítima
morreu. Ora, em todo homicídio consumado é LÓGICO que a vítima morreu!

⇒ Gravidade abstrata do delito e aumento da pena base ou fixação de regime de cumprimento de pena mais
gravoso – Não pode o julgador aumentar a pena base apenas por entender que o delito é, abstratamente, grave
(pois isso já foi levado em conta pelo legislador ao fixar os patamares mínimo e máximo). Além disso, tal
circunstância também não pode ser utilizada para a fixação de regime prisional mais gravoso que o naturalmente
previsto para aquela quantidade de pena aplicada. Súmula 718 do STF.

São circunstâncias legais, que agravam ou atenuam a pena fixada inicialmente (pena-base). São consideradas
“genéricas” por estarem previstas na parte geral do CP. Existem, entretanto, atenuantes específicas, previstas para
determinados tipos penais, como, por exemplo, a prevista no art. 398 do CTB – Código de Trânsito Brasileiro.

As agravantes genéricas estão previstas nos arts. 61 a 62 do CP, e SÃO UM ROL TAXATIVO (somente aquelas).

Nos termos do CP, as agravantes genéricas são:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - A reincidência;

II - Ter o agente cometido o crime:

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a
defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar
perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade,


ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do


ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.

Agravantes no caso de concurso de pessoas

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:

I - Promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;

II - Coage ou induz outrem à execução material do crime;

III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de
condição ou qualidade pessoal;

IV - Executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.

Já as atenuantes genéricas (favoráveis ao réu) estão previstas no art. 65 do CP, e são um ROL MERAMENTE
EXEMPLIFICATIVO (conforme preconiza o art. 66 do CP), ou seja, podem ser utilizadas outras circunstâncias não
previstas naquela lista.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - Ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;

II - O desconhecimento da lei;

III - ter o agente:


a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as
consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob
a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime,
embora não prevista expressamente em lei.

A Doutrina entende, ainda, que as agravantes só se aplicam aos crimes dolosos (majoritária), exceto a agravante
da reincidência.

As circunstâncias legais (agravantes e atenuantes genéricas) são de aplicação obrigatória pelo Juiz. Em qualquer
caso, a aplicação de uma agravante nunca pode levar a pena a ficar acima do máximo previsto para o crime. Assim,
se o Juiz, ao fixar a pena base, a fixa no máximo legal, de nada servirá a agravante genérica. Da mesma forma,
sendo fixada a pena-base no mínimo legal, a aplicação da atenuante não terá qualquer utilidade, pois a pena já
estará no mínimo legal.

A Lei Penal, entretanto, não estabelece uma quantidade de diminuição ou aumento que deva ser aplicada. Esse
critério é do Juiz.

Reincidência

A reincidência é a prática de um crime após ter o agente sido condenado por sentença irrecorrível em outro crime,
no Brasil ou no exterior (art. 63 do CP). No entanto, é possível a reincidência no caso de prática de contravenção
após ter sido o agente condenado por sentença irrecorrível pela prática de crime ou contravenção. No entanto, a
prática de crime após a condenação criminal irrecorrível por contravenção NÃO GERA REINCIDÊNCIA. Assim:

Resumindo, a prática de contravenção penal após a condenação irrecorrível por qualquer infração penal
(contravenção ou crime), gera reincidência. Já a prática de crime só gera a condição de reincidente se a
condenação anterior se deu por outro crime, não gerando este efeito no caso de condenação anterior por
contravenção.

Assim, temos a absurda hipótese de alguém praticar duas contravenções e ser reincidente. Já no caso de prática
de um crime posteriormente a uma condenação por contravenção, SERÁ PRIMÁRIO! Trata-se de brecha
legislativa!
Disposições gerais acerca da segunda fase de aplicação da pena

Havendo coexistência entre uma agravante e uma atenuante, não há, a princípio, compensação de uma por outra,
devendo prevalecer aquela que for considerada preponderante. Mas qual será a preponderante? Será
preponderante:

• Menoridade do agente (ser menor de 21 anos à época do fato) e senilidade (maior de 70 anos na data da
sentença) - Há entendimento no sentido de que deve ser compensada com eventual agravante de reincidência, e
outras decisões no sentido de que prepondera sobre toda e qualquer agravante, inclusive reincidência (prevalece
este entendimento, mas está controvertido).

• Aquelas relativas aos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

• Outras circunstâncias

Mas e se a atenuante e a agravante se referirem a fatores que se encontram no mesmo patamar? Nesse caso, aí
sim haverá a compensação de uma pela outra, não se aplicando nenhuma delas (equivalência das circunstâncias).

Terceira fase: aplicação das causas de aumento e diminuição da pena

Nessa fase, após ultrapassadas as duas primeiras, o Juiz verifica se há alguma causa de aumento ou diminuição da
pena prevista para o caso. As causas de aumento e diminuição são obrigatórias ou facultativas (dependendo do
caso), podendo estar previstas na parte geral ou na parte especial (genéricas ou específicas), podendo, ainda, ser
fixas ou variáveis. Assim, elas podem ser:

⇒ Obrigatórias ou facultativas – a depender da obrigatoriedade ou não de sua aplicação;

⇒ Genéricas ou específicas – Se previstas na parte geral do CP ou na sua parte especial (ou na legislação especial);

⇒ Fixas ou variáveis – Quando a quantidade de aumento e diminuição é fixa ou pode variar de acordo com o
entendimento do Juiz.

Ao contrário do que ocorre na segunda fase (circunstâncias agravantes e atenuantes), aqui a pena pode ficar abaixo
do mínimo ou acima do máximo legal previsto no tipo penal. As causas de aumento e diminuição, como vimos,
podem estar previstas na parte geral ou na parte especial. Diferentemente das circunstâncias atenuantes e
agravantes, a quantidade de aumento ou diminuição é estabelecida pela Lei.

Mas e se houver coexistência de causas de aumento e causas de diminuição? Se forem diversas, não há
dificuldades, aplicando-se ambas (aplicam-se primeiro as causas de aumento, e depois, as causas de diminuição).

O problema reside na coexistência


de duas ou mais causas de aumento
ou coexistência de duas ou mais
causas de diminuição. Para
simplificar as hipóteses e suas
consequências, acompanhem o
quadro abaixo:
Disposições finais

O CP estabelece um limite máximo de cumprimento de pena, que, HOJE, é de 40 anos. Isso não impede, entretanto,
que a pessoa seja condenada a período superior a este. O que não poderá haver é o cumprimento por mais de 40
anos.

Mas qual a lógica dessa diferença? A diferença é que, sendo o condenado a pena superior a 40 anos, ainda que não
possa cumprir mais que este período, o montante da pena aplicada influenciará, dentre outras coisas, no cálculo
do percentual de pena cumprida para fins de concessão de benefícios, como livramento condicional, progressão
de regime, etc.

Se o agente for condenado a diversas penas, que juntas ultrapassem o limite de 40 anos, deverão ser unificadas as
penas (ex.: 22 + 25 anos = 47), de forma que o agente só cumpra os 40 anos previstos.

⇒ E se durante o cumprimento da pena o agente é condenado por nova infração, sendo-lhe aplicada nova pena
privativa de liberdade? Nesse caso, aplica-se uma nova unificação das penas, de forma a começar, do zero, um
novo prazo de 40 anos.

EXEMPLO: Ricardo está cumprindo pena de 47 anos de reclusão (advinda da soma de duas penas). Já cumpriu 18
anos de pena quando sobrevém nova condenação. Como já havia cumprido 18 anos, faltam ainda 22 anos de
cumprimento (pois só pode cumprir 40!). Nesse caso, somam-se os 22 anos restantes à nova pena, de forma a se
iniciar um novo período de 40 anos de cumprimento máximo.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

O sursis, ou suspensão condicional da pena, é o benefício concedido ao condenado em determinadas


circunstâncias, de forma que ele não cumpre a pena, mas se submete a um período de fiscalização, no qual deve
“andar na linha”. Está previsto no art. 77 do CP:

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, desde que:

I - O condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as


circunstâncias autorizem a concessão do benefício;

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.

§ 2º A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis
anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

Portanto, a concessão da suspensão condicional da pena deve ocorrer após o preenchimento de alguns requisitos,
que podem ser objetivos e subjetivos.

Requisitos objetivos

Podem ser:

(i) Relativos à natureza da pena aplicada – A pena aplicada deve ser privativa de liberdade, não se admitindo
no caso de aplicação de pena de multa ou restritiva de direitos;
(ii) Quantidade da pena aplicada – A pena aplicada não pode ser superior a dois anos (art. 77 do CP). Se o
condenado, porém, for maior de 70 anos (sursis etários) ou enfermo (sursis humanitários), admite-se a
suspensão condicional da pena que não ultrapasse 04 anos (art. 77, § 2° do CP). Nos crimes ambientais, o
sursis pode ser aplicado aos condenados à pena não superior a três anos.
(iii) A pena privativa de liberdade não deve ter sido substituída por restritiva de direitos – A suspensão
condicional da pena só é cabível quando não for possível a substituição por penas restritivas de direitos,
nos termos do art.77, III do CP.

Requisitos subjetivos

(i) Não reincidência em crime doloso – A reincidência em crime culposo, portanto, não impede a suspensão
condicional da pena. Entretanto, se na condenação anterior, mesmo se dando em relação a crime doloso, a pena
aplicada tiver sido a de multa, poderá haver a suspensão condicional da pena (art. 77, § 1° do CP);

(ii) As circunstâncias pessoais do agente (culpabilidade, antecedentes, conduta social, etc.) sejam favoráveis,
autorizando a concessão do benefício – Nesse caso, o Juiz deve analisar se, no caso concreto, a suspensão
condicional da pena pode ser suficiente para que seja cumprida a finalidade da pena.
LIVRAMENTO CONDICIONAL

O livramento condicional é um benefício concedido aos condenados a penas privativas de liberdade superiores a
dois anos, que permite a antecipação de sua liberdade.

Trata-se de liberdade antecipada, condicional e precária.

⇒ Antecipada porque o agente deveria ficar mais tempo cumprindo pena.

⇒ Condicional porque durante o prazo restante da pena, embora esteja em liberdade, o condenado também deve
“andar na linha”, submetendo-se a algumas regras.

⇒ Precária porque pode ser revogada sua liberdade a qualquer tempo, caso ocorra o descumprimento das
obrigações do livramento condicional.

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
superior a 2 (dois) anos, desde que:

I - Cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons
antecedentes;

II - Cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;

III – comprovado

a) bom comportamento durante a execução da pena;

b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;

c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e

d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;

IV - Tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;

V - Cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico
em crimes dessa natureza.

Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a
concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que
o liberado não voltará a delinqüir.
MEDIDAS DE SEGURANÇA

As medidas de segurança não são penas. Essa é a primeira coisa que vocês devem saber.

Possuem um caráter terapêutico, pois visam tratar a saúde dos inimputáveis e semi-imputáveis dotados de
periculosidade social (não possuem caráter punitivo).

A maioria da Doutrina entende, porém, que embora não sejam modalidades de pena, são espécies de sanção penal.

As medidas de segurança são aplicáveis àqueles que, embora tendo cometido fato típico e ilícito, são inimputáveis
ou semi-imputáveis em razão de problemas mentais. Assim, é possível a aplicação de medida de segurança a
agentes culpáveis (semi-imputáveis).

As medidas de segurança são de duas espécies, previstas no art. 96 do CP:

Art. 96. As medidas de segurança são:

I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado;

II - Sujeição a tratamento ambulatorial.

Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta.

A opção por uma ou por outra irá variar de acordo com a espécie de pena privativa de liberdade prevista (reclusão
ou detenção). Sendo pena de reclusão, o Juiz deve determinar a internação do indivíduo. Em se tratando de pena
de detenção, o Juiz pode escolher entre a internação e o tratamento ambulatorial. Nos termos do art. 97 do CP:

Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como
crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

O STJ, no entanto, possui algumas decisões no sentido de que a modalidade de medida de segurança deve ser
aplicada de acordo com as necessidades médicas do agente, e não com base no tipo de pena prevista.

Depois de fixada a medida de segurança, a sentença deve fixar um prazo mínimo, findo o qual deverá haver um
exame para saber se cessou a periculosidade do agente.

Assim, a medida de segurança durará por tempo indeterminado, mas ao final do período mínimo fixado deverá
haver o exame para análise da necessidade ou não de manutenção da medida. Após esse período, o exame será
repetido anualmente, ou no prazo fixado pelo Juiz.

Embora o CP não estabeleça um prazo máximo para as medidas de segurança, o STF e o STJ não aceitam isso. O
STF entende que a medida de segurança não pode ultrapassar 40 anos, que é o prazo máximo de uma pena privativa
de liberdade, enquanto o STJ entende que o prazo máximo da medida de segurança é o prazo máximo de pena
estabelecido (em abstrato) para o crime cometido.

Obs.: Nada impede que, fixada uma modalidade de medida de segurança, ocorrendo fatos justificáveis, seja
alterada para a outra modalidade.
EFEITOS DA CONDENAÇÃO

Natureza e espécies

A sentença penal condenatória possui efeitos penais e extrapenais.

Os efeitos penais são aqueles que produzem efeitos na esfera penal. Os efeitos penais podem ser primários ou
secundários. O efeito penal primário é a PENA, ou seja, a imposição de pena criminal, eis que este é o objetivo
básico e principal da condenação.

Os efeitos penais podem ser, ainda, secundários. São efeitos penais secundários aqueles que, embora produzam
efeitos na esfera jurídico-PENAL do indivíduo condenado, esses efeitos refletem em OUTRA RELAÇÃO JURÍDICO-
PENAL.

Outro efeito penal secundário é a inscrição do nome do réu no rol dos culpados (após o trânsito em julgado,
sempre).

Os efeitos extrapenais, por sua vez, são assim chamados por afetarem diversas outras áreas do Direito (civil,
administrativo, etc.). Por sua vez, dividem-se em genéricos e específicos.

Os efeitos genéricos são aqueles que incidem sobre toda e qualquer condenação, estando previstos no art. 91 do
CP, sendo apenas dois: Obrigação de reparar o dano e confisco.

Obs.: Os efeitos genéricos são automáticos, ou seja, independem de ser expressamente declarados pelo Juiz na
sentença.

EXEMPLO: Se o Juiz condena alguém por roubo, o dever de reparar o dano causado ocorrerá independentemente
de constar na sentença esse efeito, pois é decorrência natural e automática da sentença.

Já os efeitos específicos são aqueles que recaem apenas sobre condenações relativas a determinados crimes, e não
a todos os crimes em geral. Estão previstos no art. 92 do CP, sendo:

Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com
abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

II – A incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena
de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha ou outro
descendente ou contra tutelado ou curatelado;

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.

Obs.: Tais efeitos, por sua vez, NÃO SÃO AUTOMÁTICOS, devendo constar na sentença condenatória, sob pena de
não ocorrerem.
PUNIBILIDADE E SUA EXTINÇÃO

Quando alguém comete um fato definido como crime, surge para o Estado o poder-dever de punir. Esse direito de
punir chama-se ius puniendi.

Em regra, todo fato típico, ilícito e praticado por agente culpável, é punível. No entanto, o exercício do ius puniendi
encontra limitações de diversas ordens, sendo a principal delas a limitação temporal (prescrição).

Desta forma, o Estado deve exercer o ius puniendi da maneira prevista na lei (através do manejo da Ação Penal no
processo penal), bem como deve fazê-lo no prazo legal.

Para o nosso estudo interessam mais as hipóteses de extinção da punibilidade. Vamos analisá-las então!

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - Pela morte do agente;

II - Pela anistia, graça ou indulto;

III - Pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

IV - Pela prescrição, decadência ou perempção;

V - Pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

VI - Pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

IX - Pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

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