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P. 87: “ Mais ainda, os mecanismos de que lançava mao o Velho Continente para, uma
vez descoberto o Novo Mundo, minorar o onus representado pelos pobres
improdutivos e, simultaneamente, povoar as colonias que se iam formando.”
Sistema Colonial da Época Mercantilista
o Enraizamento da escravidão
o Agro-industria com objetivo de exportação de gêneros comerciáveis no
mercado externo (plantação de cana de açúcar)
o O objetivo da colonia na época mercantilista era dar a maior quantidade de
lucros à Metropole, assim como propulsionar a acumulação de capital através
do monopólio comercial e da utilização do trafico negreiro.
O trafico negreiro baseava seus lucros em dois conceitos. O primeiro
foi a superexploração da forma de trabalho compulsório-limite; o
segundo, pelas vantagens comerciais do trafico (abertura da colonia
para um novo setor de comercio externo de importação, sendo que o
lucro da escravizaçao de africanos fluía para a metrópole)
o Autonomia econômica metrópole sobre as colonias
o A exploração colonial se apoia sob a grande propriedade agrícola e sob o
escravismo.
P. 90: “ (...) nas suas linhas gerias, tratava-se de uma colonia de exploração destinada a
produzir gêneros tropicais cuja comercialização favorecesse ao máximo a acumulação
de capital nos centros hegemônicos europeus. Uma economia de bases tao frágeis, tao
precárias, centrada na grande propriedade agrícola e na exploração em larga escala,
estava fadada a arrastar consigo um grande numero de indivíduos, constantemente
afetados pelas flutuações e incertezas do mercado internacional. Ao mesmo tempo,
impedia que os desprovidos de cabedal tivessem acesso às fontes gerados de riqueza.
Por sua vez, o escravismo desempenhava neste processo um papel igualmente
importante, bloqueando na maior parte das vezes as possibilidades de utilização da
mao-de-obra livre, limitada assim aos interstícios que, por um motivo ou por outro,
não podiam ser ocupados pelo trabalho escravo. Mais ainda: esteio da economia e
principio articulador da sociedade, o escravismo gerava uma desqualificação do
trabalho aos olhos do homem livre ,e provocava, no escravo recém-egresso do
cativeiro, uma situação bastante peculiar e que não raro assumia as características de
um verdadeiro deslocamento. Mesmo assim, o numero dos homens livres e libertos
aumentou muito no decorrer do período colonial.”
P. 91: “ No decorrer do processo de colonização, os extremos da escala social
continuaram a ser claramente configurados, mas a estrutura da sociedade foi se
tornando mais complexa devido ao aumento da ‘camada intermedia’, cuja indefinição
inicial foi, aos poucos, assumindo o caráter de desclassificação. A camada dos
desclassificos ocupou todo o ‘vacuo imenso’ que se abriu entre os extremos da escala
social, categorias ‘nitidamente definidas e entrosadas na obra da colonizaçao’. Ao
contrario dos senhores e dos escravos, essa camada não possui estrutura social
configurada, caracterizando-se pela fluidez , pela instabilidade, pelo trabalho
esporádico, incerto e aleatório. Ocupou as funções que o escravo não podia
desempenhar, ou por ser antieconômico desviar mao-de-obra da produção, ou por
colocar em risco a condição servil: funções de supervisão (o feitor), de defesa e
policiamento (capitão-do-mato, milicias e ordenanças), e funções complementares à
produção (desmatamento ,preparo do solo para o plantio)”
P. 92: “ Mas há diferenças básica entre a concepção de desclassificado na Europa pré-
capitalista e no Brasil colonial: lá, a inadaptação a formas sistemáticas de exploração
do trabalho pode ser explicada pelo nascimento da sociedade capitalista que
desestruturou o trabalho de caráter coletivo dos servos feudais; aqui, são o escravismo
e a necessidade da superexploração os principais responsáveis pelo aviltamento do
trabalho (...) Nas metrópoles e nas colonias, é o momento de gestação do
capitalismo.”
P. 92: “ A noção de trabalho vigente na colonia é importante para a compreensão de
outra peculiaridade nossa: a extensão que entre nos assume a expressão vadiagem e a
categoria vadio. Mais do que na Europa pré-capitalista, o vadio é aqui o individuo que
não se insere nos padrões de trabalho ditados pela obtenção do lucro imediato, a
designação podendo abarcar uma enorme gama de indivíduos e atividades
esporádicas, o que dificulta enormemente uma definição objetiva desta categoria
social. (...) O vadio é aqui o individuo não inserido na estrutura de produção colonial, e
que pode, de um momento para o outro, ser aproveitado por ela.”
P. 93: “ E ainda em Antonil , a palvra adquire nova cor: ‘ Os vadios que vao às minas
para tirar ouro não dos ribeiros, mas dos canudos em que o ajuntaram e guardam os
que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis,
ficando estes crimes sem castigo’. Este vadio é, portanto, criminosa e ladrão.”
P. 93: “ Estes vadios são, portanto, indivíduos que, ao que parece, formulam com
clareza a sua resistência ante o Estado, insistindo na persistência do localismo.”
P. 95: “ Trabalhador esporádico, homem desprovido de dinheiro, criminoso, ladrão,
sublevado, revoltoso e ate mesmo dissidente, eis algumas das conotações assumidas
pela personagem do vadio colonial. Apesar de imprecisão, pode-se, na maior parte das
vezes, identificar vadio e homem pobre expropriado, mesmo que para isto seja
necessário uma leitura cuidadosa das fontes. O que torna flagrante a partir dessa
leitura é, entretanto, o destaque especial dado ao termo designativo da infração e da
desclassificação, o que já fora apontado acima quando se constatou o uso que dessa
palavra se faz nas leis portuguesas.”
Vadio = desclassificado social
P. 95: “ Elemento vomitado por um sistema que simultaneamente o criava e o deixava
sem razão de ser, vadio poderia se tornar o pequeno proprietário que não conseguia
se manter à sombra do senhor de engenho; o artesão que não encontrava meio
propicio para o exercício de sua profissão; o mulato que não desejava mourejar ao
lado do negro – pois não queria ser confudido com ele – e que não tinha condições de
ingressar no mundo dos brancos; vadio continuava muitas vezes a ser o que já viera de
além-mar com esta pecha; o criminoso, o ladrão, o degredado em geral. À sua volta
formava-se um ciruclo vicioso: a estrutura econômica engendrava o desocupado,
impedindo-o de ter atividades constantes; o desocupado, desprovido de trabalho
tornava-se oneroso ao sistema. Aparentando-se com os componentes do exercito
industrial de reserva, o desclassificado se engastava, entretanto, num contexto
proprio: o do escravismo.”
P. 96: “ Como já foi visto no capitulo anterior, a mineração se estabeleceu sob o signo
da pobreza e da conturbação social, marcando-a sobretudo o enorme afluxo de gente
que acudiu ao apelo do ouro e cuja composição social se apresentava bastante
heterógena. Mais do que em qualquer outro ponto da colonia, foi grande nas Minas a
instabilidade social, a itinerância, o imediatismo, o caráter provisório assumido pelos
empreendimentos.”
P. 96: “ De fato, a empresa mineira era transitória e itinerante, caracterizando-se pelo
baixo teor de capital fixo e pela capacidade de deslocamento em tempo relativamente
curto. A exploração aurífera obedecia, no seu desenvolvimento, ao lucro mais
imediato: voltava-se inicialmente para o ouro depositado no fundo dos rios (aluvião),
depois para o ouro depositado nas encontas (grupiaras) e, finalmente, para os veios
subterrâneos (galerias). Nesse contexto, era a fase incial a que maiores lucros
apresentava.”
P. 97: “ Os resultados imediatos desse procedimento eram, por um lado, o
desenraizamento constante da população e, por outro, a fome que, conforme se viu
no capitulo anterior, assombrava a empresa mineradora.”
P. 99: “ Na mineração, como de resto em qualquer atividade primordial da colonia, a
força de trabalho era basicamente escrava, havendo entretanto os interstícios
ocupados pelo trabalho livre ou semilivre. Dificilmente o homem livre destituído de
recursos vultosos poderia se manter como proprietário, sobretudo em Minas, região
que, apesar de tida tradicionalmente como rica e democrática, apresentava
possibilidade favoráveis apenas a um pequeno numero de pessoas.”
P. 101: “ A principal resposta do homem livre pobre ante a situação foi ,ao que tudo
indica, o garimpo e a faiscagem, que mal dava para subsistencia. Os ‘homens
faiscadores’ trabalhavam nos rios com uns poucos escravos, e muitos deixavam esse
tipo de atividade por não poderem se manter, nem a seus negros.”
P. 103: “ Não se minerava sem escravos, e estes eram custosos, além de morrerem em
grande numero no serviço insalubre das lavras. Carentes de mao-de-obra, os mineiros
com frequencia faziam os trabalhos de maneira inadequada, entulhando canais que
ainda poderiam ser uteis: ‘ Deste modo as terras de mineração em poucos anos se
tornam inúteis; e os mineiros sucumbem aos miseraveis efeitos da indigencia’”