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Entretanto, tal controle não se limitou aos assuntos e às práticas fiscalistas e chegou ao
nível de temor à consciência do que seria “viver em uma colônia”. Durante todo decorrer do
século XVIII, a Coroa portuguesa não se desviou dos pensamentos de que, a qualquer
momento, poderia EXPLODIR uma sublevação na colônia, visto o potencial dos habitantes.
Não à toa, o índio da imagem criada sobre a cerimônia religiosa citada trazia consigo uma
serpente, pois, mesmo que se submetesse, poderia atacar as normas do Poder Central.
Diversas são as razões dos contestamentos, mas uma destaca-se: a distância. 3 PARA ISSO,
vale lembrar o que disse Antonio Vieira no final do século XIX:
Com esse pensamento do jesuíta, é notório que, por vezes, o Estado fazia-se presente
e, por vezes, ausente. Isso mostra que o Estado não conseguia abranger os indivíduos em suas
totalidades. Sendo assim, embora o imaginário político da época entendesse que o “Inimigo
com I maiúsculo se tornara, cada vez mais, o gentio bravo, comedor de gente nas florestas que
margeavam o rio Doce; o quilombola fugido [...]; o vadio itinerante e biscateiro” 5, outros
1
“Cerimônias religiosas em regozijo de se ter descoberto a conjuração”. In: Autos de Devassa da Inconfidência
Mineira, v.VI. p.407-408.
2
Segundo palavras de Simão Ferreira Machado, autor do Triunfo Eucarístico, publicado em 1734.
3
Citado por SOUZA, Laura de Mello e. Norma e conflito: aspectos da História de Minas no Século XVIII. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
4
Citado por SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro. 2.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p.91.
5
SOUZA, Laura de Mello e. Norma e conflito: aspectos da História de Minas no Século XVIII. Belo Horizonte:
Ed. UFMG, 1999. p.90.
rebeldes iam construindo seus planos sediciosos e a ideia de inconfidência como
insubordinação, a fim de tornar independente a região das Minas. Esse movimento de homens
ficou conhecido como Conjuração Mineira ou Inconfidência Mineira e é interessante pontuar,
a priori, que, nos final do século XVIII, inconfidentes “passou a significar “o infiel ao
príncipe”, não sendo necessário mais utilizar o artifício da violência para incorrer no crime”6.
6
STARLING, H. M; FURTADO, J. F. República e sedição na Inconfidência Mineira: leituras do recueil por
uma sociedade de pensamento. In: MAXWLL, Kenneth (coord.). O livro de Tiradentes: transmissão atlântica
de ideias políticas no século XVIII. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2013. p.108.
7
Termo utilizado pelas historiadoras Heloísa Starling e Júnia Furtado.
8
Alguns partidários residiam no Rio de Janeiro, tendo em vista que havia um interesse pela expansão para o
litoral, pois, sendo Minas uma região continental, era estratégico ter acesso a um porto marítimo.
9
ALMEIDA, Roberto Wagner de. Entre a cruz e a espada: a saga do valente e devasso padre Rolim. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2002.
10
FRIEIRO, Eduardo. O diabo na livraria do Conêgo. São Paulo: Edusp, 1981.
ideia de que o projeto político, social e econômico dos sediciosos foi construído com base nas
referências de suas bibliotecas.
“Foi preso Luís Vieira, cônego da Cidade Mariana. Dizem que a sua culpa se
limita a terem-lhe achado um livrinho francês, relativo ao levante desta terra,
no qual se diz que podiam os habitantes viver sobre si, sem dependência do
comércio para o nosso reino à imitação do que fizeram os Americanos aos
Ingleses.” 11
Com esse pequeno trecho, é notório que a simples posse era concebida como ato
criminoso. Além disso, outros materiais como inventários e documentos inquisitoriais
demonstram a quantidade e variedade de obras localizadas em bibliotecas particulares da
época, no Brasil.
11
A. de E. Taunay. Boatos sobre os inconfidentes mineiros (1789). Em: Jornal do Comercio, Rio, janeiro de
1943. Citado em: FRIEIRO, Eduardo. O diabo na livraria do Cônego: como era Gonzaga? E outros temas
mineiros. Belo Horizonte: Editora Itatiaia LTDA, 1957. p.22.
12
VILLALTA, Luiz Carlos. O diabo na livraria dos inconfidentes. In: NOVAES, Adauto. Tempo e História.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 370.