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Rafael do Amaral Prudencio

Formas Literárias e Processo Histórico – Prosa

Resumo Capítulo 7 “República Bahinense” (Ser republicano no Brasil colônia. A


história de uma tradição esquecida – Heloísa Starling)

No capítulo 7 do livro Ser republicano no Brasil colônia. A história de uma


tradição esquecida, Heloísa Starling dedica-se boa parte à conjuração baiana. A autora
refaz o caminho desse episódio da história brasileira. Tudo começa quando, em uma
manhã, a forca próxima ao pelourinho amanhece queimada. Alguns meses depois, em
Salvador, são encontrados inúmeros panfletos manuscritos que pegam tanto a população
quanto as autoridades de surpresa. O governador da Bahia, que tinha fama de frouxo,
age imediatamente: manda que seus funcionários compararem a caligrafia dos panfletos
com a dos documentos da população. Apesar de algumas prisões, não se sabe quem são
de fato os autores. Ao que tudo indica, há mais de um autor. Entre eles homens pobres,
mulatos ou pardos.
Como aponta Starling, esses panfletos eram encharcados de francesias. O
governador, na tentativa de impedir a circulação das ideias vindas da França, reprime o
comércio clandestino de livros e revistas, confisca os que estavam em circulação,
ordena os navios que carregam a bandeira da França e tenta impedir o contato físico
com os franceses. Mas isso não adianta. Além de subversivos, esses panfletos ameaçam
deflagrar a conjuração em marcha. Segundo STARLING (2018) “É claro que não
funcionou – as medidas provocaram exatamente o que ele pretendia evitar.” Havia
participação de membros da elite local, dentre eles Cipriano Barata e Padre Agostinho
Gomes. O primeiro, com participação ativa na Conjuração Baiana, acabou se tornado
uma das principais lideranças no período pós-independência. O segundo também com
uma participação intelectual traduzindo diversos textos proibidos que inspiraram a
conjuração.
Além de mera inspiração francesa, houve uma interlocução direta entre os
conjurados e um francês, o capitão Antoine Lacher que, além de trazer a constituição de
1795, fez um projeto de intervenção francesa que acabou não vingando. Como os
homens poderiam nascer livres em um lugar e em outro não?, era a pergunta que vinha
da França e ecoava nas ruas de Salvador. O medo aumentou ainda mais quando um
aviso de Paris prometia assistência “a todos aqueles que desejavam recuperar sua
liberdade”.
A França estava também no vestuário dos conjurados. João de Deus Nascimento,
um dos personagens da conjuração, um mulato, cabo do corpo de milícias e que
trabalhava como alfaiate para completar a renda, investia no traje francês. Ao investir
no traje francês, definia publicamente quem ele era publicamente. Os trajes
expressavam quem ele era e o que pensava, mas também eram um convite para outros
aderirem aos trajes. Ser livre na república era ser livre em público, lembrando das
palavras que apareciam na bandeira da conjuração “Apareça, não se esconda”.
Logo construiu-se, na Bahia, um circuito de difusão de informação em diferentes
estratos da sociedade. Assim como havia acontecido no Rio de Janeiro, um grupo de
letrados realizou a mediação tradutora e interpretativa dos textos em língua estrangeira.
Uma ferramenta poderosa para essa difusão de informações nas ruas de Salvador foi os
livros manuscritos. Produzidos em locais clandestinos, distribuídos às pessoas na rua,
eles continham traduções e adequações à língua oral. Uma das obras que inspirava os
conjuradas era Júlia ou Nova Heloísa, de Rousseau, em que o filósofo francês desenha
seu modelo de comunidade ideal trazendo as ideias de liberdade e igualdade. Lucas
Dantas, um dos líderes da conjuração, foi um dos entusiastas das ideias de Rousseau.
Além dos livros manuscritos, os panfletos também foram uma importante
ferramenta na Conjuração Baiana. Além de serem uma manifestação intelectual de
debate, os panfletos também funcionavam como um meio de divulgação de notícias e
propaganda republicana radical. Eram o gênero ideal para protestar contra a monarquia,
a tirania, os poderosos. E não é a toa que foram utilizados como ferramentas pelos
Ingleses, Franceses e Americanos. Isso por que os panfletos, em Salvador, inspirados
pelos jacobinos franceses, traziam, de maneira sintética, direta e radical, um discurso
coerente ao mesmo tempo do descontentamento popular e de uma proposta de ruptura:
que fosse instalada uma República Bahinense. Eram assinados pelo povo e destinados
para o povo. E se antes o termo “povo” era utilizado para designar os vassalos e súditos
da coroa, agora o termo designava a população pobre, mestiça, a plebe urbana, o
cidadão da república.
Boa parte dos panfletos sobreviventes foram redigidos no formato de “avisos”,
tipo de escrito político em que os conjurados detalhavam a linha de seu programa
revolucionário por meio do gênero declarativo, em tom esbaforidos. Já um conjunto
menor de panfletos foram intitulados “prelos” e tinham um tom mais ameaçador e
visavam a ação. Os prelos traziam seus alvos bem explícitos, dentre eles padres,
atravessadores de mercadorias, varejistas. Starling menciona que os conjurados agiam
como se a Coroa já na não existisse. Uma estratégia utilizada nos prelos era tentar a
mobilização da forma militar com anúncio de aumento de soldo para a tropa que, na
época, era baixíssimo.
E como era de se esperar, esse desejo de igualdade, liberdade e inclusão era
perigoso. E o perigo precisava ser combatido. Manuel Faustino, João de Deus, Luís
Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, os quatro Tiradentes da Bahia, de acordo com
Mário Lago, foram enforcados e tiveram seus corpos expostos em praça pública.
Cipriano Barata e Padre Agostinho Gomes foram presos. Mas os seus sonhos, de
construir uma sociedade autogovernada por homens livres e iguais, continuaram vivos.

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