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A MULHER FARROUPILHA

KAREN CRISTINS HARTMANN RICOLDI


Prof. Orientador Gilmar Moraes
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Licenciatura em História (HID0377) – Projeto de Ensino
27/11/2017

RESUMO

O presente trabalho tem com foco de estudo a presença da mulher Revolução Farroupilha. Nessa
direção, tem como objetivo geral analisar o papel da mulher e sua importância nesse contexto e na
sociedade dos dias atuais. Para tanto, utilizou-se de uma metodologia de pesquisa bibliográfica,
como, artigos, teses e dissertações. Como resultado a pesquisa chegou a seguintes considerações: a
presença da mulher gaúcha foi e ainda é um forte elemento cultural de um povo, em que tal fato
histórico deixou um legado, de maneira irrefutável para o povo gaúcho. Em uma época onde as
mulheres ficavam em segundo plano, sendo consideradas como patrimônio dos maridos, elas
formaram a base da sociedade gaúcha.

Palavras-chave: Mulher. revolução farroupilha. administração.

1. INTRODUÇÃO

O objeto de reflexão dessa pesquisa são as mulheres gaúchas, que durante a guerra
farroupilha, apoiaram esta causa. Este apoio que se deu de forma singular para a época, onde a
mulher exercia um papel submisso, meramente figurativo e domestica.

Entretanto, todas estas mulheres, que se mostraram fortes e pioneiras criaram pilares
fortes para uma sociedade futura educada, politizada e rica, tiveram muito a aprender com as
mulheres nativas (índias), as negras (escravas) e sua linhagem forte européia.

Este trabalho relata o contexto da revolução, o que foi de forma sucinta, a participação
dos escravos, das vivendeiras na fronte da guerra e das esposas, mães e filhas, que mantiveram a
província ativa econômica e socialmente produtiva.
Também demonstra exemplos de sua força, educação e sabedoria para manter a
província de forma relativamente produtiva perante as adversidades do momento de guerra, além do
legado feminino seguido por suas descendentes.
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Este trabalho esta dividido em tópicos, onde descrevem: o contexto em que se da a


revolução e o que foi esta revolução, expões dos participantes negros (Os Lanceiros Negros), as
mulheres que estavam no fronte de guerra, aquelas que assumiram as funções de seus homens e por
fim alguns exemplos de mulheres gaúchas que atualmente exercem funções de prestigio na
sociedade.

2 ENTENDENDO O CONTEXTO DA REVOLUÇÃO FARROUPILHA

Segundo Sousa (2017) passa a ser história no século XIX, a Revolução Farroupilha é
uma das revoltas por liberdade no Brasil da época do Império. Muitos dos livros tradicionais dizem
que o acontecimento começou em protesto aos altos impostos que eram cobrados no charque, sal e
outros produtos da região Sul. Também era um objetivo ter a independência do governo central.

Revolução que foi considerada como uma guerra civil, que dividiu os gaúchos. Uma
guerra iniciada pelos grandes donos de áreas rurais, conhecidos como estancieiros. O império, já
cobravam impostos das zonas urbanas, quis cobrar também das propriedades da zona rural.
A capital, Porto Alegre, fazia parte do grupo que apoiava a taxação dos ruralistas, já que eles
eram taxados. Sousa (2017)

2.1 O QUE FOI A REVOLUÇÃO FARROUPILHA?

Segundo Sousa, (2017), os farroupilhas, liderados por Bento Gonçalves, expulsam de


Porto Alegre o presidente da província e empossando o vice. E começa nessa época um período
novo nas revoltas brasileiras, já que primeiramente os “rebeldes” conseguiram implantar uma
República. O governo apoiado pelo Bento teve seis ministérios, serviço de correio, tratados com
outros países (inclusive o Uruguai foi um deles) e uma polícia própria. Não existiu aplicação de
ideias liberais, ou tentativa de qualquer mudança social. Esse sistema se caracterizou como uma
ditadura, reprimindo duramente qualquer opinião contrária.

Para Souza (2017) outra divergente é achar que os negros lutaram pelos farroupilhas em
favor da conquista de sua liberdade. Pois não houve negros do lado dos estancieiros, porque eles
não colocaram seus escravos para batalhar, sempre os mantiveram em trabalho nas fazendas. Os
negros que participaram estavam do lado do Império e eram da chamada Infantaria Negra. Mesmo
com o nome “farroupilha”, não seria derivado de “farrapos”, referente ao estado desgastado dos
revolucionários e sim o nome do partido dos liberais exaltados, fundado em 1832.
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A revolução terminou em 1845 por um tratado de paz estabelecido entre os


revolucionários e Duque de Caxias. Parte do “fracasso” da república farroupilha se deu à sua falta
de aceitação por parte da população do Rio Grande do Sul. Porto Alegre já era uma capital
comercial e ninguém apoiava uma guerra, pois sempre havia pilhagens e muito prejuízo para todos,
relata Souza (2017).

Souza (2017) defende que a visão Enobrecida da história dos farrapos foi estabelecida
em 1947, com a criação dos Centros de Tradição Gaúcha (CTG), após a Segunda Guerra Mundial,
onde se iniciou no Rio Grande do Sul um movimento de valorização da terra e origens que
culminou com a abertura desses locais.

2.2 LANCEIROS NEGROS

Ao falarmos desta guerra sangrenta, não podemos deixar de lembrar-se dos escravos,
visto que, quando um homem livre era chamado a servir tanto nas forças rebeldes quanto nas
imperiais, podia enviar em seu lugar (ou no lugar de um filho seu) um de seus trabalhadores
escravizados. Raul Carrion, (2005) relata com base no contexto de Mário MAESTRI, (1993) Em
sua publicação "O negro escravizado e a Revolução Farroupilha, que em alguns casos, alforriavam
e alistavam o negro. Também foi prática comum buscar atrair ou tomar cativos das tropas inimigas,
trazendo-os para seu lado. O primeiro exército a utilizar negros escravizados como soldados foram
os imperiais. Precisando também formar uma infantaria e, sobretudo preferindo enviá-los como
bucha-de-canhão, morrendo na frente em seu lugar, farrapos também os alistaram: eram os famosos
Lanceiros Negros. Ambos, farrapos ou imperiais, prometiam também liberdade aqueles que
desertassem das tropas rivais, mudando de lado.

Na grande maioria, para Carrion, (2005) os cativos combatentes nesta guerra foram
obrigados a fazê-lo diante das condições impostas. Entretanto, mesmo sendo a guerra violenta e
horrível, ainda seria preferível a vida militar, com seus esporádicos combates, do que as agruras
diárias da escravidão. A promessa de liberdade após o fim da luta certamente pode ter influenciado
em muito o recrutamento daqueles homens. Uma promessa, que como veremos, jamais foi
cumprido.

Enfatiza Carrion, (2005) que não havia igualdade nas tropas farroupilhas, muito menos
democracia racial. Negros e brancos marchavam, comiam, dormiam, lutavam e morriam
separadamente. Os oficiais dos combatentes negros eram brancos, e jamais um negro chegou a um
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posto significante, mesmo que intermediário, de comando. Aos Lanceiros Negros era vedado o uso
de espadas e armas de fogo de grande porte. Não lutavam a cavalo, como costumam mostrar nos
filmes e mini-séries de TV, mas sim a pé, pois havia o risco de se rebelar ou fugir. Sua arma
principal era a grande lança de madeira que lhes deu nome e fama, algumas facas, facões, pequenas
garruchas, os pés descalços, a bravura e o anseio pela liberdade prometida.

Carrion, (2005) lamenta que ao fim da guerra e já quase totalmente derrotada, os


farrapos incluíram entre suas exigências para o Império o cumprimento da promessa de liberdade
que haviam feitos aos Lanceiros (principalmente porque temiam que eles formassem uma guerrilha
negra na província já que a quebra da promessa os faria se rebelar ou fugir para o Uruguai, destino
comum de diversos cativos fugitivos na época). Queriam entregar-se ao Império, acabar a guerra,
voltar à normalidade, mas tinham os Lanceiros e a promessa que lhes haviam feito, e o Império,
escravista até a medula, não queria cumprir essa parte do acordo.

Carrion, (2005), O que fazer então? A questão foi resolvida na madrugada de 14 de


novembro de 1844, quando o general farrapo David Canabarro entregou seus Lanceiros desarmados
ao inimigo, tudo previamente combinado com Caxias. E no serro de Porongos, hoje região de
Pinheiro Machado (interior do Rio Grande do Sul), foi dizimada quase toda a infantaria negra,
enterrando de vez a preocupação dos farrapos e acelerando assim a paz com o Império. A instrução
de Caxias a um de seus comandados foi clara e objetiva: a batalha teria que ser conduzida de forma
tal que poupar apenas e dentro do possível o sangue de brasileiros (e o negro era então tratado como
africano, mesmo que já nascido no Brasil)

Conforme Carrion, (2005) alguns historiadores apologistas ou folcloristas de CTGs


consideraram aquela traição como Surpresa, já que pela primeira vez que o então vigilante Davi
Canabarro teria sido surpreendido pelo inimigo. Conversa fiada! Enquanto dispôs suas tropas
negras de tal maneira que ficassem desarmadas e descobertas, algo que até então nunca havia feito,
Canabarro se encontrava bem longe e seguro do local, nos braços de Papagaia, alcunha de uma
amante sua.

Após combate, um relato oficial avisou a Caxias que pelo menos 80% dos corpos caídos
no campo de Porongos eram de homens negros. Calcula-se que, nos últimos anos daquele conflito,
os farrapos ao todo somavam uns cinco mil homens, sendo que algo em torno de mil eram
Lanceiros Negros. Após o Massacre de Porongos, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos,
alguns mutilados, e que foram primeiramente enviados para uma prisão no centro do país e depois
dispersada para outras províncias, ainda mantida como cativos. Carrion, (2005)
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Feito isso, deu-se a chamada rendição e paz do Poncho Verde, onde senhores
escravistas dos dois lados trocaram abraços e promessas de lealdade e, logo depois, marcharam
juntos e sob a mesma bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai. Carrion, (2005)

2.3 E AS MULHERES?

A “guerra dos Farrapos” modificou para sempre a imagem do Rio Grande do Sul. De
povo guerreiro, que não foge a luta, honra sua tradição, cria suas ideologias de acordo com nossa
identidade, fato que modificou para sempre a visão do Rio Grande do Sul, na ótica, nacional e
internacional.

Segundo a historiadora Hilda Flores (2014) certamente a força da mulher gaúcha, que
por sua fibra, perseverança, e amor a terra em que vive, mostrou o verdadeiro espírito gaúcho e
guerreiro. Figura impar que manteve a economia do Estado ativa. Assumiu o papel do homem, tanto
campeiro quanto o urbano, e sua habilidade no administrar as estâncias, que equilibravam a
economia gaúcha que não sucumbiram, graças, a determinação da mulher gaúcha, palavras que
marcaram que criaram a tendência, tempos depois, na Europa quando das guerras mundiais.

Famílias sem o chefe mantenedor colocaram a mulher face a uma nova realidade,
induzindo-a a agilizar o que Michele Perrot chama de “poder possível” na busca do
caminho para enfrentar imprevistos e provocativos desafios. Audaciosa e inovadora, a
mulher projetou-se à frente de seu tempo, à semelhança da mulher européia que décadas
mais tarde enfrentaria incríveis desafios de duas grandes guerras mundiais, concretizando o
feminismo esboçado pela mulher farroupilha. (FLORES, p.211)

Hilda Flores (1993) refere que este tempo, tanto no campo econômico, como no militar,
as mulheres tomaram uma posição. Lutando lado a lado com os homens, quanto, lhes amparando,
levando conforto para homens desesperançados, pela longa guerra sem sentido.

A reflexão destes fatos, conforme Hilda Flores (1993), e a proposta, levando em conta
da omissão da maioria dos autores em pesquisar o papel da mulher, que fora inédito, nos
movimentos sociais que marcaram o Brasil Império.

2.4 A MULHER DA GUERRA

Além das estancieiras também existiam as vivandeiras, mulheres sem famílias, sem
estudo que passam a viver para acompanharem seus soldados.

Em todas as partes do Brasil que tenho percorrido até aqui, não há escolas nem pensionatos
para as moças criadas no meio dos escravos; desde a mais tenra idade, têm elas diante de si
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o exemplo de todos os vícios, adquirindo, via de regra, o hábito do orgulho e da baixeza.


Uma infinidade delas não sabe ler nem escrever: aprendem algumas costuras a recitar
orações que elas próprias não entendem, é tudo... (SAINT-HILAIRE, 1987, p.95)

Pernidji (2003) realizou uma pesquisa sobre a atuação dessas mulheres na Guerra do
Paraguai nos possibilita uma melhor compreensão sobre o termo vivandeira. Esse termo era
designado para definir como estas mulheres eram conhecidas quando estavam em bandos, ou seja,
quando se deslocavam acompanhadas umas das outras. Elas acompanhavam os soldados, a pé ou
em carroções atrás das colunas, nas marchas para os combates ou nas retiradas, pra tratá-los, fazer-
lhes comida e dormir com eles nos acampamentos.

Conhecidas pelos soldados de chinas, chinocas ou mesmo prendas, pois a maioria delas
era solteira e sem família, apresentando-se como mulheres que, sem família, acabavam por adotar
umas as outras para continuar a viver. Mulheres fortes que para sobreviverem juntavam os
pertences dos soldados mortos para vender para outros por comida ou dinheiro. Estas vivandeiras
também serviam aos soldados, não somente na revolução farroupilha, mas também em outras
revoltas brasileiras, eram tidas como prostitutas. Yvone Capuano (2007)

Para se ter idéia da tragédia que representa uma guerra, dizem que o Duque de Caxias,
quando chegou ao Rio Grande, reunião um exército de 5.000 homens. Imaginemos tudo
isso em confronto com os farrapos, não só pela matança de homens no campo de batalhas,
mas de destruição, saques, estupros e outras barbaridades praticadas nesses conflitos.
chaleirapreta.wordpress.com/2013/09/24/a-revolucao-farroupilha-e-as-mulheres

No relato de Délcio Barros da Silva (2013), em seu blog, as mulheres foram as que mais
sofreram com a Revolução. Perderam seus maridos, seus filhos, foram estupradas, tiveram suas
casas saqueadas e muitas levadas para os campos de batalha para cuidar dos feridos. Geralmente,
tinham de optar pela posição política do marido, com raras exceções. E ainda assim, com todos os
horrores e em meio ao caus criado, estavam elas, firmes e fortes para reerguer o que sobrou.

Na visão de Yvone Capuano (2007) as mulheres tiveram grande influência na batalha,


mesmo com pouca visibilidade, mulheres como Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus) que
esqueceram suas fragilidades e foram à luta, ajudar seus homens nos conflitos. Mulheres essas que
conseguiram demonstrar que além de sua feminilidade, eram guerreiras fortes, ativas, com
pensamentos extremamente rápidos e que defendiam aquilo que acreditavam e seus homens.

Além de Anita Garibaldi que foi um ícone desta revolução, é importante lembrar a
atuação de várias outras “guerreiras”, mulheres fortes que auxiliaram na farroupilha, tanto a frete
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nas batalhas como na retaguarda, ajudando a promover reuniões políticas em suas próprias casas,
dando apoio a Bento Gonçalves e aos farrapos. Essas mulheres, uma delas a Dona Maria Josefa
Palmiro, que segundo Capuano, defendia com veemência a libertação dos escravos e tantas outras
questões importantes. Yvone Capuano (2007)

Outros sujeitos que podem ser citados pelo diferencial de seus pensamentos e atitudes é
Dona Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da
Porciúncula. Com seus maridos à frente da batalha elas assumiram a casa e o controle dos negócios,
oferecendo seu extremo apoio à revolução e aos respectivos maridos. Essas mulheres nunca se
incomodaram de estar atrás de seus maridos, pois acreditavam em suas ideologias e não tinham
medo de lutar por eles. Yvone Capuano (2007)

Procurando apontar algumas mulheres que, de alguma forma, participaram da revolta,


não empunhando armas, mas como cabeça do lar e mentoras dos negócios. Este é o lado da revolta
que não tem holofotes, mas que sem o auxílio dessas mulheres à seus maridos, provavelmente, a
revolta dos farrapos não teria alcançado tanto destaque. Mesmo que a presença do homem se mostre
como fundamental nos conflitos, o apoio das mulheres se revela como um papel importante no
desenrolar dos mesmos, sobretudo, no reforço dos laços de solidariedade e no apoio prestado entre
os que estão envolvidos diretamente na guerra. Yvone Capuano (2007)

Isso acumulado, com a falta de prestígio político, perante o governo central, aliada, a
um total desamparo do governo, ocasionou um levante armado, que tinha como principal meta, uma
série de reivindicações. Yvone Capuano (2007)

Com o abandono das estâncias pelos homens, ficou a cargo das mulheres a função de
manter em funcionamento o sistema econômico vigente da época. Que era fabricação de charque.
Yvone Capuano (2007)

Ficou a cargo das mulheres, literalmente a função de tocar os negócios, enquanto seus
maridos estavam em guerra. Elas foram conhecidas como mulheres estancieiras, pois, além de tocar
os negócios dos maridos, administravam as casas, criavam os filhos e conservavam a guarnição de
seus lares. Yvone Capuano (2007)
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Se formos nos aprofundar um pouco mais, vamos encontrar algumas mulheres que
seguiam o exército farroupilha, eram as chamadas “chinócas”, eram mulheres que acompanhavam
os soldados revolucionários, tanto nas vitórias, quanto nas derrotas.

Essas mulheres levavam alívio aos combatentes, já que muitos deles ficam longe das
famílias por longos períodos de tempo, também, eram denominadas de “prostitutas de soldados”,
visto que geralmente não possuíam famílias, eram sozinhas, e não tinham outra maneira de manter-
se, senão seguir os combatentes. Fagundes (2008)

Elas auxiliavam cuidando dos doentes e moribundos, cabendo a elas muitas vezes o
papel de enfermeiras. Também faziam comidas para os soldados, e dormiam com eles nos
acampamentos. Fagundes (2008)

Não sei por que nenhum historiador destaca a atuação das vivandeiras. Era uma mulher que
tinha, quase sempre, ligação com um soldado: ou era mãe ou esposa ou filha. Ela lavava
para ele, cozinhava e em caso de ferimento ou doença cuidava dele. Se ele morria, ela não
raramente se ligava a outro soldado, razão pela qual muitas vezes a vivandeira era tida
como prostituta. Mas não era, não. Eventualmente era papel das vivandeiras recorrer o
campo de batalha depois dos combates para socorrer feridos, enterrar mortos e carchear. O
carcheio era a revista dos mortos, do qual se retiravam valores, botas e armas, o que gerava
não raro um pequeno comércio que fornecia recursos pessoais para as vivandeiras.
(FAGUNDES, 2008, s/p).

Mulheres que nem sempre eram ditas como prostitutas, algumas eram parentes dos
combatentes, e por isso os seguiam a pé ou em carroças. Algumas até tornaram-se guerreiras. Dizer
que as mulheres que seguiam os soldados eram ditas somente como prostitutas, seria uma injustiça,
algumas eram chamadas de “vivandeiras”. Maya (2002)

O estudo da mulher açorita se impõe, ao lado do estudo dessa mulher que veio para o Rio
Grande, porque foram com as índias – mulheres de falar pouco, de aparecer pouco
socialmente, mas mulheres de braço e personalidade fortes – que pariram, amamentaram e
criaram seus filhos e que os esperavam quando estes partiam para a guerra e ...(SANTANA,
Elma, 1984, p.21)

Segundo Maya (2002), esses sujeitos acostumados com esta vida pensavam que, com o
raiar do dia, suas sinas sempre seriam a de viver dessa maneira, isto é, entre a morte e o “carcheio”.
A sina das chinocas era esperar os homens e ensinar novas chinocas que entravam nesta vida com
grandes fantasias de aventuras e uma vida nova sem regras, uma situação nem sempre encontrada.
Essas mulheres viviam na esperança da vitória da revolução, a mercê dos amantes, esses que lhes
prometiam vantagens materiais, dinheiro, presentes e folganças. Potthast (2001)
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Para se proteger de quem as maltratava ou ofendia estas mulheres planejavam


vinganças, pois se mostravam rancorosas e guardavam antigas afrontas, gravando na memória perfis
e lugares. Potthast (2001)

Galvão (2003), mesmo sem citar as vivandeiras as compara com guerreiras, pois,
segundo ela, elas se mostravam como mulheres fortes e de difícil trato, já que só pertenciam aos
homens que queriam. Elas tinham conhecimento de todos os arreios, sofriam tanto quanto os
soldados nas intempéries. Muito comum eram elas se embriagarem, onde as confusões eram
comuns, com brigas entre elas, até mesmo indo para outros batalhões sem se justificarem, e sendo,
por vezes, raptadas pelos inimigos.

A semelhança destas figuras femininas guerreiras, no entanto, não terminam por abarcar a
riqueza e complexidade das nossas vivandeiras, já que um dos atributos básicos da donzela-
guerreira e que faz parte do significado do arquétipo é a virgindade e o destino fatal de
oferecer sua vida em sacrifico no campo de batalha. (GALVÃO, 2003, p.143).

Segundo Potthast (2001) as vivandeiras pertenciam, em sua maioria, às classes


populares, pois tinham etiquetas de uma feminilidade que as mantinham cativas, de certa forma elas
eram masculinizadas. Mulheres que tinham habilidade de lutar para se manter viva, em um
ambiente onde matar ou morrer era uma questão de sobrevivência.

Segundo Hilda Flores (2013), de forma generalizada, podemos perceber, que desde o
surgimento da humanidade, a mulher teve sempre um papel principal na história. E no caso da
Revolução Farroupilha, não poderia deixar de ser diferente. Muito pelo contrário. Pois, graça a sua
determinação a economia agropecuária não faliu, contribui ativamente pela causa revolucionária,
tanto em questões de luta, quanto na de envio de mantimentos. Sem falar nas mulheres que levaram
um sonho de esperança a homens, que não tinham mais alegrias, pois essas mulheres no seu
contexto formam os pilares da força da mulher gaúcha.

Segundo Hilda Flores, no seu livre, Mulheres na Guerra dos Farrapos, transcreve que de
suas fontes, os documentos dos arquivos gaúcho, notícias da imprensa nascitura, depoimentos do
Processo dos Farrapos e dos viajantes europeus que aqui estiveram no período farroupilha, revelam
que, a mulher, acuada, exerceu potencialidades que até então não se havia aflorado, com o empenho
de salvaguardar os filhos e a propriedade. De habilidades várias, cada qual respondeu ao desafio a
sua maneira, dentro de seus talentos. Juntas elaboraram o que hoje se reconhece como pré-
feminismo, não formando escola porque a mulher, minoritária e de pouca cultura, devolveu
administração ao filho crescido e auxiliou na reconstrução da pátria arrasada. Hilda (2013)
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nominou de forma simples e prática de se entender os diversos grupos encontrados nas fontes e
fatos, grupos este que formaram as características fortes das mulheres gaúchas e suas atividades e
funções durante a revolta: Flores, (2013, p211)
* As escravas, era responsável por toda a sorte de tarefas, urbanas ou rurais,
constituíram força na construção e ordenação de recursos alimentícios ou bélicos, chegando a pegar
em armas. Na documentação descreve tanto sobre o valor monetário de escravos/escravas como
sobre suas diferentes atribuições ocupacionais; Flores, (2013)
* As guerreiras: aquelas que acompanhavam seu homem para a guerra, como as índias
guaranis, que levavam os filhos. O soldado amasiado, ao final da guerra ou levava a índia para casa,
ou abandonava a amásia que a família rejeitara, ou deixava-se ficar com ela e as crias, concorrendo
para a miscigenação, entre as guerreiras temos também as chamadas de vivendeiras, mulheres que
viviam para serviam aos soldados; Flores, (2013, p211)
* Costureiras do exército: com uma economia falida devido a guerra, mulheres, tanto
jovens e amadoras quantos as profissionais, legalistas ou farroupilhas, usam sua educação em
prendas domésticas para a confecção dos uniformes dos soldados. Na época toda as roupas eram
costuradas á mão, o que necessitava de muitas costureiras para manter o estoque de fardas. Flores,
(2013, p.212)
* As estancieiras, eram poucas em número, mas importantes por administrarem, no
decorrer da guerra, em substituição aos maridos, na grande maioria viúvas. As fazendas de criação
forneciam gado e cavalos para deslocamento e alimentação da tropa, e para pagamento de armas e
munições vindas de Montevidéu. Espoliadas umas, outras defenderam seus direitos. Olinda de
Freitas, viúva de José Antonio de Freitas, só liberava animais mediante recibo assinado. Com
firmeza, sustentou querelas com os estancieiros Meireles, primos de Bento Gonçalves, tendo sido a
mulher indenizada com maior valor no pós-guerra, semelhante ao valor pago a Bento Gonçalves.
Bernardina Barcelos de Almeida, esposa do ministro Domingos J. de Almeida, administrou a
fazenda, a charqueada e a casa de exportação em Pelotas, onde em plena guerra abriu escola para os
filhos e crianças vizinhas. Flores, (2013, p.212)
* As imigrantes alemãs: constituem um grupo diferenciado. Fugidas das guerras
napoleônicas, imigraram entre 1824-30, e no minifúndio agrário da Colônia de S. Leopoldo,
integraram o trabalho familiar, que nele não via tabu. Educava os filhos (sete trazidos da Alemanha
e outros tantos nascidos durante a guerra), cuidava da casa, da horta e jardim; ordenhava a
vaquinha, costurava, executava o artesanato trazido da Europa. O comércio cresceu. Em rústicas
lanchas, mais de uma centena de barqueiros abasteciam o mercado consumidor de Porto Alegre. O
Arquivo Histórico RS guarda cinco nomes de mulheres que trabalharam nessa ousada profissão.
Flores, (2013, p.212)
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* Mulheres ligadas à Casa da Roda, Sem alternativa, a mulher vivia na casa paterna
ou na do marido. Trabalho remunerado não havia. Convocando os homens às armas, a guerra dos
Farrapos piorou a situação econômica das famílias. Sem recursos, recém-nascidos eram confiadas à
Roda dos Expostos que desde 1834 funcionou com uma roda inserida na parede fronteira da Santa
Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Colocada na Roda, esta girava, conduzindo a criança para o
interior. A porteira, idosa e de sono leve, recolhia a criança e na manhã seguinte a passava à
Regente da Casa, que anotava enxoval, bilhetes e sinais característicos passíveis de identificar a
criança, se procurada. São dois cargos da equipe de profissionais que cuidavam dos enjeitados.
Padrinhos acorriam para, no batismo, salvar a alma do menor e por vezes o criavam. Criadores ou
criadeiras ficavam com a criança, na cidade ou na zona rural, mais saudável. Devolviam meninos
aos sete anos e a Santa Casa os encaminhava para aprendizado de uma profissão. Meninas
devolvidas aos oito anos, eram alfabetizadas e aprendiam “prendas domésticas”; com enxoval,
casavam adolescentes. Flores, (2013, p.213)
* Professoras pioneiras, após séculos de analfabetismo no Brasil Colônia, D. João e
sua corte alargaram horizontes culturais. D. Pedro I em 1824 criou o Ensino Elementar, visando
formar funcionários burocráticos para a corte. O ministro Domingos José de Almeida em 1838
decretou o ensino elementar obrigatório em toda a República Rio-Grandense, intento impedido pela
penúria financeira trazida pela guerra. Não havia educandários; cada professora mantinha a “aula”
em sua residência; raramente ensinava mais de duas ou três matérias. Cada professora informava
pela imprensa o que se propunha a ensinar, alfabetização individual, pois o método Lancaster, de
aprendizado em grupo, é da década de 1870, ensinava-se com um quadro pedagógico simplificado
com as primeiras letras, gramática latina ou nacional, contar, aritmética; ler e escrever; português,
latim, alemão, letras, religião e filosofia. Desdobrando as “prendas domésticas”, oferecia-se para
meninas aulas de: coser, bordar em várias especialidades, como marcar, civilidade e dançar; música
instrumental, tocar piano, cantar. Flores, (2013, p.213)
* Intelectuais pioneiras: As intelectuais do período farroupilha, são pioneiras no
Brasil. Diferentes respostas aos desafios e agressões enfrentadas no decorrer do decênio de guerra
civil que envolveu a mulher em desafios sem precedentes, algumas das quais nomeados Flores,
(2013, p.214):
Delfina Benigna da Cunha, natural de S. José do Norte, RS, perdeu a visão aos 20
meses, tragédia que lamenta e que aguçou seu estro poético, escrevendo desde os 12 anos, auxiliada
por uma irmã; recitava em festas familiares, aniversários e eventos sociais. Em relação aos rebeldes,
reprova-os e acompanha a onda migratória de quem pôde refugiar-se no Rio de Janeiro. Aí,
pensionada pelo Imperador desde 1826 – pensão que D. Pedro II manteve – exalta a família real em
seus versos. Nas duas reedições de 1838, insere glosa em que fustiga o chefe farroupilha: Maldições
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te sejam dadas / Bento infeliz desvairado. No Brasil e em toda a parte / Seja teu nome odiado.
Flores, (2013, p.214)
Maria Josefa Barreto Pereira Pinto. O jornalismo nasceu no Rio Grande do Sul com
o Diário de Porto Alegre, em 1827, e rapidamente somou 40 periódicos, por instigação da guerra
civil. Maria Josefa foi a primeira jornalista mulher. Colaborou na Idade de Ouro, “jornal político,
agrícola e miscelânico”, do combativo Manoel dos Passos Figueiroa. Alinhada com a política
legalista, Maria Josefa abriu seu próprio jornal, Belona irada contra os sectários de Momo, no qual
ridicularizou os “pretensiosos políticos daquele tempo” com “sátiras incisavas, cheias de erudição e
poesia”, no dizer de Múcio Teixeira. Professora, transmitiu seus ideais a alunos como Pereira
Coruja, mas infelizmente os canhões farroupilhas consumiram com seu Belona, sem deixar
exemplar. Flores, (2013, p.214)
Nísia Floresta Brasileira. Mais jovens que Delfina e Maria Josefa, houve Nísia e Ana
de Barandas, com biografias que precisam ser conhecidas pelo que lutaram por mais cultura para a
mulher e denunciaram o lado tenebroso da Revolução Farroupilha, de destruição e sacrifício de
vidas humanas. Nísia nasceu em Papari, hoje município Nísia Floresta, RN; separada do marido de
escolha paterna, refez a vida com o advogado Augusto Faria Rocha, com quem veio para Porto
Alegre em 1833. Aqui nasceu o segundo filho, editou Direitos da mulher e injustiças dos homens,
ousada tradução da feminista inglesa Wollstonecraft, adaptada para a realidade brasileira no que
reporta a potencialidades femininas. Viúva, sustentou filhos abrindo escola para meninas, o ensino
humanístico se sobrepondo à domesticidade. Condena a escravidão porque estimula ócio nas
pupilas que lhe confiaram. Em 1837 os farroupilhas sitiaram Porto Alegre e saquearam as chácaras
circundantes impondo fome, Nísia buscou o Rio de Janeiro, onde abriu o Colégio Augusto,
feminino. Editou 15 livros, vários didáticos e gestados em Porto Alegre e um eles traduzido para o
italiano e adotado em sala de aula; residiu na França um terço de sua produtiva vida; discípula de A.
Comte, frequentou-lhe a casa para ouvir sua doutrina. Vários de seus livros têm como pano de
fundo a riqueza das chácaras e o furor destrutivo dos rebeldes, pelo que a obra de Nísia se torna
leitura obrigatória para estudar nossa guerra civil. Flores, (2013, p.215)
Ana de Barandas, porto-alegrense de 1810, foi casada com advogado, levando padrão
de vida diferenciado na Porto Alegre de dois mil habitantes. Caçula e a mais culta de sua
irmandade, é autora de um único livro, com título de romance e conteúdo de denúncia: O ramalhete
ou flores escolhidas no jardim da imaginação. Escrito na juventude e maturado durante a guerra
civil, editou-o em 1845, já divorciada por contrato civil redigido pelo marido litigante e registrado
em cartório como se “reconhecido pela Igreja”, a autoridade constituída para regular a vida dos
casais. Com esse divórcio oficioso, extremamente raro, Ana passou a responsável pela criação das
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filhas e pela administração de escravas e dos cinco contos herdados do pai, inventário no qual atuou
como “cabeça do casal” Flores, (2013, p.215)

Quanto da importância das mulheres farrapas, que no momento em que os homens


guerreavam, elas tornavam-se pais, administradoras e negociantes. Cuidavam da lavoura, do gado,
da casa e dos negócios em geral. A pesquisadora Maria Dutra da Silveira, (2011) salienta:
“Heroínas são as esposas, filhas e escravas das estâncias que entretinham os serões familiares
desfazendo delas para os curativos ou gastando os dedos para tramar os ponchos que agasalhariam
os farroupilhas”. Elas impediram que a pobreza tomasse conta da então província de São Pedro, e
não se deixaram intimidar pela grande responsabilidade.

Os produtos da pecuária: gado em pé, charque, couro e sebo eram à base da economia
da época. Sendo assim, as estâncias ou fazendas tinham que continuar funcionando, para sustentar
as famílias e a própria guerra. Tanto nos campos como nos vales, nada deixou de ser produzido
durante a revolução, graças à garra e ao trabalho das mulheres. Silveira, (2011)
Se a história das mulheres durante a revolução farroupilha raramente é contada em
livros de história, nos romances ganharam destaque e chegaram à TV e ao cinema. A luta de
Caetana Joana Fracisca y Gonzales, esposa do general Bento Gonçalves, foi retratado nos romances
Os varões assinalados, de Tabajara Ruas, e A Casa das Sete Mulheres, de Letícia Wierchowzki,
transformada em minissérie pela TV Globo. O filme Anahy de Las Missiones, de Sérgio Silva,
também conta a luta de uma mulher para sobreviver à guerra. Arrastando um velho carroção sem
bois, com a ajuda dos filhos, enfrenta a luta, a morte e o medo. Bibiana, a personagem de O Tempo
e o Vento de Érico Veríssimo bem representou a mulher que sofreu, trabalhou e esperou. Enterrou o
marido e continuou lutando pelos filhos. Seus netos e bisnetos ainda lutariam nas revoluções de
1893 e 1923. O romance também foi contado numa minissérie de TV, na década de 80, e no filme
”Um Certo Capitão Rodrigo” de Anselmo Duarte. Silveira, (2011)
(...) mantiveram a economia do estado, em ocasiões como a Revolução Farroupilha. Alias,
ao estudarmos a economia da província durante este período, observa-se que realmente
pouco se abalou naquela sucessão de combates. (SANTANA, 1984, p.21)

O ambiente no qual a luta diária das mulheres se desenvolvia dependia da camada


social. As casas dos donos das estâncias eram de alvenaria, com paredes reforçadas para proteger de
ataques. Tinham diversos quartos, cozinha e sala ampla, onde a família se reunia. As famílias mais
ricas tinham móveis vindos da Europa, assim como louças e assessórios. Já o rancho era feito de
pau-a-pique (madeira e barro) e coberto de capim santa-fé. Geralmente tinha duas peças. No quarto
dormiam em camas feitas de pelegos ou em catres (cama de couro com base em madeira). Na
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cozinha, poucos e simples móveis, quase sempre feitos pelos próprios donos. Os assessórios eram
de couro, barro e porongo. Silveira, (2011)

Na classe média-alta da época, as mulheres eram cultas, geralmente se dedicavam ao


piano e a poesia. Usavam vestidos feitos com tecidos nobres como o veludo, muitas vezes vindos da
Europa, e usavam assessórios como luvas e leques. O grupo com menos recursos era formada na
maior parte pelas mulheres dos peões, descendentes de uma cruza de lusos, espanhóis e índios. Elas
auxiliavam no trabalho da estância ou prestavam serviços em casas dos povoados. Também havia as
parteiras, responsáveis pelos nascimentos, e as jujeiras, que se dedicavam a cura pelas plantas. As
vivandeiras ou chinas acompanhavam os homens nos campos de batalha, cuidando de sua roupa e
comida. “Andavam à cauda das colunas militares, a cavalo ou em carretas, incitando os soldados às
lutas, curando suas feridas ou aquecendo-lhes o corpo e a alma”. Silveira, (2011)

Muitas mulheres participaram da revolução tendo como armas as letras. A abolicionista


Nísia Floresta Augusta nem era gaúcha, mas defendia os farroupilhas. Nasceu no Rio Grande do
Norte e aos 23 anos veio morar na província de São Pedro, onde lançou a segunda tradução do livro
Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, de Mistress Godwin, e assim se tornou precursora do
feminismo no Brasil. Escreveu Fanny – ou o modelo das donzelas, onde narra as dificuldades das
mulheres na revolução. Silveira, (2011)

Em Porto Alegre, que se mantinha fiel ao Império, as mulheres que simpatizavam com a
causa farroupilha criaram um grupo unido, batizado ironicamente pelos imperialistas de Farrapas.
Estas faziam o papel de espiãs, colhiam as informações dentro da cidade e fazendo com que as
informações chegassem aos farroupilhas, nos campos de batalhas. O jornal O Artilheiro chegou a
publicar “O termômetro farrapo”: “Quando as mulheres farrapas têm as janelas fechadas e só
aparecem com lenço amarrado na cabeça, as notícias são boas para a legalidade, e é porque
aconteceu algum infortúnio aos machos”. Quando as farrapas mandavam comprar velas era preciso
cuidado por parte dos imperiais, pois elas esperavam alguma movimentação farroupilha e a vela era
para os santos fazerem milagres. Silveira, (2011).

2.5 O LEGADO DAS GAÚCHAS

Em 13 de novembro de 2013, Hilda flores em entrevista à Zero Hora - Cultura e Lazer,


fala sobre o cotidiano feminino durante o conflito, que ao seu termino as mulheres se inseriram por
inteiro na árdua tarefa de reerguer a economia, reorganizar a sociedade e seu lar desmoronado. O
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cotidiano preservou valores já existentes. Só com a República se pleiteou direito ao voto feminino e ao
divórcio.
Em outros momentos, Flores (2013) se refere aquelas mulheres do conflito como
avançadas, que plantaram a semente para uma visão da mulher com mais valorização.
Algumas mulheres que quebraram paradigmas. E que hoje são lembradas por estarem
em função onde outrora somente homens assumiam.
Lya Luft, nascida em 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do
Sul. Por ser de uma cidade de colonização alemã, as crianças, em quase sua totalidade, falavam
alemão, e os livros utilizados nas escolas vinham da Alemanha. Com onze anos, Lya decorava
poemas de Goethe e Schiller. Posteriormente, estudou em Porto Alegre (RS), onde se formou em
pedagogia e letras anglo-germânicas. Iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de
literaturas em alemão e inglês. Lya Luft já traduziu para o português mais de cem livros. Conheceu
Celso Pedro Luft, seu primeiro marido,  quando tinha 21 anos. Ele tinha quarenta. Era irmão
marista. Foi numa prova de vestibular. Achou-se ridícula quando pensou: esse é o homem da minha
vida! O irmão marista tirou a batina para casar com ela em 1963. (Wikipédia)

Rosa Maria Webe, nascida em 02 de outubro de 1948, em Porto Alegre, graduou-se


em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1971, tendo
sido aprovada em primeiro lugar no vestibular para o referido curso em 1967. Na mesma
universidade, realizou curso de extensão universitária de Processo do Trabalho em 1974. Foi
professora na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul entre
1989 e 1990. Ingressou na magistratura em 1976, por concurso, como juíza do trabalho substituta.
Em 1991, foi promovida para o segundo grau de jurisdição, tornando-se juíza do Tribunal Regional
do Trabalho da 4ª região. Ocupou diversos cargos administrativos até alcançar a presidência desse
tribunal, exercida entre 2001 e 2003. Em 2005 foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para ocupar vaga de ministra do Tribunal Superior do Trabalho, em mensagem ao Senado
Federal feita pela Casa Civil, na época ocupada pela ministra-chefe Dilma Rousseff. Após sabatina,
seu nome foi aprovado no plenário do Senado por 44 votos a favor contra 7.Foi empossada no TST
em 21 de fevereiro de 2006. Em 8 de novembro de 2011 foi indicada formalmente pela então
presidente Dilma Rousseff para a vaga deixada pela aposentadoria da ministra Ellen Gracie
Northfleet no Supremo Tribunal Federal (STF). Empossada na manhã de 19 de dezembro de 2011,
é a terceira mulher a integrar a Suprema Corte, tendo sido as primeiras Ellen Gracie, a quem Rosa
Maria substituiu, e Cármen Lúcia, que ainda exerce mandato.
É atual ministra do Tribunal Superior Eleitoral, em vaga destinada a membro do STF.
(Wikipédia, 2017)
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Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de1945 - São Paulo, 19 de
janeiro de 1982) foi uma cantora brasileira. Conhecida por sua competência vocal, musicalidade e
presença de palco, é considerada por muitos críticos a melhor cantora popular do Brasil a partir dos
anos 1960 ao início dos anos 1980; para muitos, a melhor cantora brasileira de todos os tempos, Elis
Regina inovou os espetáculos musicais no país. Foi casada com Ronaldo Bôscoli, em 1973, casou-
se com o pianista César Camargo. Aclamada no Brasil e no exterior, Elis Regina faleceu no auge de
sua carreira, aos 36 anos de idade, de uma overdose de cocaína. Elis foi a primeira grande artista a
surgir dos festivais de música na década de 1960 e descolava-se da estética da Bossa Nova pelo uso
de sua extensão vocal e de sua dramaticidade. Inicialmente, seu estilo era influenciado pelos
cantores do rádio. (Wikipédia)

Esther Pillar Grossi, nasceu em Santa Maria, no dia 24 de abril de 1936, é uma
educadora brasileira. Em 1955, foi para Porto Alegre, onde estudou Matemática, campo em que
mais tarde fez mestrado e doutorado na Sorbonne, em Paris. Foi casada com o pediatra Sérgio Pilla
Grossi, que foi professor da Faculdade de Medicina da atual Universidade Federal de Ciências da
Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). É conhecida por pintar seus cabelos de várias cores, afirmando
que é mais fácil ter coragem de mudar a cor dos cabelos, do que mudar educação e política. Esther
Grossi ministra módulo sobre Ensino de Matemática para professores do GEEMPA. Em 1970, com
mais 49 professores de Porto Alegre, fundou o GEEMPA (Grupo de Estudos Sobre Educação,
Metodologia de Pesquisa e Ação), tornando-se uma liderança na busca de soluções aos grandes
problemas da escola pública brasileira. Como responsável pela área de pesquisa do GEEMPA,
coordenou a realização de inúmeras pesquisas sobre questões do Ensino e da Aprendizagem,
incluindo especialmente a construção de atividades didáticas que produzissem efeitos reais de
rendimento escolar em alunos provenientes de famílias de classes populares. Foi professora
alfabetizadora na vila Santo Operário, na periferia de Porto Alegre, em sua primeira experiência de
aplicação da proposta baseada em novíssimas idéias sobre o aprender. Em abril de 1997, Esther
coordenou, em Porto Alegre, o projeto "O prazer de ler e escrever de verdade", realizado pelas
ONGs GEEMPA e THEMIS, com recursos do Ministério da Educação, e que objetiva a
alfabetização de mil mulheres em três meses. Por sua proposta inovadora, a realização do projeto
foi especialmente acompanhada pela UNESCO e pelo UNICEF. (Wikipédia)

Maira Caleffi, nascida em porto Alegre, graduou-se em Medicina em 1981, após ter
concluído o curso de Farmácia e fez Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital
de Clinicas de Porto Alegre. Posteriormente, especializou-se em Mastologia em Londres onde fez
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seu Doutorado pela Universidade de Londres. Em 1991 assumiu o cargo de Professora Visitante na
Universidade de Vanderbilt nos Estados Unidos. É Coordenadora do Núcleo Mama Hospital
Moinhos de Vento, Presidente Voluntária do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul desde sua
fundação (1993) e, atualmente, preside também a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas
de Apoio à Saúde da Mama - FEMAMA. Exerce atividades de Docência e Pesquisa Clínica. (Site
IMAMA)

3. MATERIAL E MÉTODO

Esta pesquisa foi utilizada e desenvolvida a partir de materiais publicada em livros,


artigos, dissertações e teses. Além do uso de pesquisas pela internet, como páginas de educação e
blog de pesquisadores.

A metodologia empregada foi de cunho qualitativo e, teve como principal preocupação,


evidenciar o empenho da mulher durante o conflito, como também, a forma da sua atuação na
Revolução Farroupilha. Para tanto, teve com preocupação, mostrar de forma imparcial a face de
acontecimentos da época. Dentro das especificações de métodos científicos.
Dessa forma, as fontes foram analisadas através de criação de categorias, como, novos
afazeres no comércio e participação no combate. Logo, foram transcrita para o texto final do
referido estudo.

4. RESOLTADOS E DISCUÇÕES

Os autores citados neste trabalho comungam do pensamento que a mulher gaúcha é de


grande força, tanto braçal quanto de personalidade, que eram belas, de pouca fala, mas com muitas
ações, e historicamente forem pouco valorizadas no contexto histórico, onde fora valiosa as ações
destas valentes.

Contudo, as pesquisas sobre estas mulheres, com o foco social e econômico realmente
são poucas, entretanto duas pesquisadoras foram mais profundamente eficientes nas suas buscas,
com o foco na mulher gaúcha que realmente manteve a sociedade em equilíbrio, mesmo com o
pouco conhecimento.

Hilda Flores, que, enxerga a força da mulher gaúcha, por sua fibra, perseverança, e
amor a terra em que vive, que mostraram o verdadeiro espírito gaúcho e guerreiro.
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Elma Santana, que, enaltece a miscigenação das raças (indígenas, européia e açoriana) a
alma da mulher forte e de personalidade, que com sua beleza e doçura obteve êxito nesta fase de
privações.

Maria Silveira também compartilha da idéia de força e perseverança da gaúcha durante


o período do combate, onde recebeu atribuições antes masculinas, contudo se mostraram
competentes e eficientes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse emaranhado de memórias podemos reconhecer saberes através das informações


analisadas nos depoimentos que nos auxiliam na busca da construção histórica da vida dessas
mulheres, Isso nos possibilita ir além da vida individual delas, já que no cerne das narrativas
estavam contidos outros sujeitos históricos, formas culturais compartilhadas pelas pessoas no
período, dificuldades que não só elas como muitas mulheres passaram.

Vimos que a mulher gaúcha tomou as rédeas do seu destino, criou laços com a
liderança, mostrou aos que as dominavam do que eram capazes, e a partir daquele momento, não
mais pertenciam a alguém e sim se tornavam companheiras, dignas de respeito e compartilhamento.

Com o passar dos anos a sociedade gaúcha, que educadas por mulheres fortes e focadas,
multiplicaram as chances dessas grandiosas gaúchas estarem à frente do seu tempo.

Sua luta não foi no campo de batalha, mas sua guerra foi ganha com louvor e esplendor,
manteve a província com sua administração, mesmo na época não tendo a noção que estava
fazendo; conduziu a produção nas estâncias como se o campo já lhe fosse tarefa; educou as crianças
com a força e a sabedoria nata das mulheres, alimentou, medicou e tratou seus guerreiros, e por fim,
enterrou seus entes queridos.

Nos dias atuais é comum a mulher estar em posição antes digna somente aos homens.
Sua liderança nata, seu desempenho e sua capacidade são fortes. A mulher não se deslumbrou com
o poder, a cativa e a mantém com responsabilidade, afinal ela ainda é a responsável pela criação do
futuro da humanidade.
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REFERÊNCIAS

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Cia. União de Seguros Gerais, 1982. (original de 1882).         

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DOCCA, Emílio Fernandes de Souza. O sentido brasileiro da Revolução Farroupilha. Porto


Alegre, Globo, 1935.        

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http://prod.midiaindependente.org/en/blue/2009/08/451359.shtml

GUAZZELLI, Cesar Augusto Barcellos. O horizonte da província: a República Rio-Grandense


e os caudilhos do Rio da Prata (1835-1845). Tese de doutorado. Rio de Janeiro, UFRJ, 1997.
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