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Curso de Interpretação de Texto, Língua Portuguesa, Literatura e Redação

Profª. Me. Rosana Gondim Rezende (rosa.gondim@gmail.com / (34)99977-3684)


QUESTÕES SOBRE “O CORTIÇO” Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma
possível leitura do fragmento citado:
1. (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço. a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo.
I. Constantemente, as personagens sofrem Todo o cortiço é apresentado como um
zoomorfização, isto é, a animalização do personagem que, aos poucos, acorda como uma
comportamento humano, respeitando os colmeia humana.
preceitos da literatura naturalista. b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao
II. A visão patológica do comportamento sexual enfatizar os elementos visuais, olfativos e 1
é trabalhada por meio do rebaixamento das auditivos.
relações, do adultério, do lesbianismo, da c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza
prostituição etc. nos personagens de O Cortiço o aspecto
III. O meio adquire enorme importância no animalesco, rasteiro” do ser humano, mas
enredo, uma vez que determina o também a sua vitalidade e energia naturais,
comportamento de todas as personagens, oriundas do prazer de existir.
anulando o livre-arbítrio. d) Através da descrição do despertar do cortiço, o
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O narrador apresenta os elementos introspectivos
Cortiço, confirma o que se percebe também dos personagens, procurando criar
no conjunto de sua obra: o talento para correspondências entre o mundo físico e o
retratar agrupamentos humanos. metafísico.
e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela
Está(ão) correta(s) constante utilização de metáforas e sinestesias,
a) todas. uma preocupação em apresentar elementos
b) apenas I. descritivos que comprovem a sua tese
c) apenas I e II. determinista.
d) apenas I, II e III.
e) apenas III e IV. 3. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte
fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio
2. (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de O Azevedo (1857-1913):
Cortiço, e faça o que se pede: Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas Homens e mulheres corriam de cá para lá com os
e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio
quem dormiu de uma assentada, sete horas de e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões
chumbo. espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de
[…] gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa
os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os
dispersas, mas um só ruído compacto que enchia guinchos de Zulmira que se espolinhava com um
todo o cortiço. Começavam a fazer compras na ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe?
venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes
ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da
gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, vizinhança começaram a badalar. E tudo era um
naquela gula viçosa de plantas rasteiras que clamor.
mergulham os pés vigorosos na lama preta e A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de
nutriente da vida, o prazer animal de existir, a uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão
triunfante satisfação de respirar sobre a terra. bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha,
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 15. ed. São Paulo: Ática, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta,
1984. p. 28-29. desgrenhada, escorrida e abundante como as das
éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de
fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação,
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sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no c) Preferência pelos temas do passado, propiciando
meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores
vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de burgueses e predileção pelos mais pobres.
maluca. d) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o criador, e se confunde com a idéia de Deus;
madeiramento da casa incendiada, que abateu utilização de preciosismos vocabulares, para
rapidamente, sepultando a louca num montão de enfatizar o distanciamento entre a enunciação e
brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço) os fatos enunciados. 2
e) Exploração de um tema em que o ser humano é
Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com aviltado pelo mais forte; predominância de
que o narrador se posicione em terceira pessoa, elementos anticientíficos, para ajustar a narração
onisciente e ao ambiente degradante dos personagens.
onipresente, preocupado em oferecer uma visão
crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o 5. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se também no
narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos fragmento já transcrito do romance O cortiço (1890),
acontecimentos narrados aparece de modo mais de Aluísio Azevedo (1857-1913):
direto e explícito em: Releia o fragmento, com especial atenção aos dois
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos trechos a seguir:
defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem
fogo. nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e arrancadas pela dor e pelo desespero.
baldes que se despejavam sobre as chamas. (...)
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos... E começou a aparecer água. Quem a trouxe?
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes
de uma fornalha acesa. que se despejavam sobre as chamas.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções
o madeiramento da casa incendiada... literárias que configuram imagens plásticas no
espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta
4. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no mesmo características psicológicas de comportamento
fragmento da questão anterior, do romance O cortiço comunitário.
(1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):
O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo Aponte a alternativa que explicita o que os dois
oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso trechos têm em comum:
país, no final do século XIX. Põe em evidência a a) Preocupação de um em relação à tragédia do
competição dos mais fortes, entre si, e estes, outro, no primeiro trecho, e preocupação de
esmagando as camadas de baixo, compostas de poucos em relação à tragédia comum, no
brancos pobres, mestiços e escravos africanos. No segundo trecho.
ambiente de degradação de um cortiço, o autor b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro
expõe um quadro tenso de misérias materiais e trecho, e desprezo de todos por si próprios, no
humanas. segundo trecho.
c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no
No fragmento, há várias outras características do primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o
Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas outro, por quem se é ajudado, no segundo
características apresentadas são corretas: trecho.
a) Exploração do comportamento anormal e dos d) Desespero que se expressa por murmúrios, no
instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos primeiro trecho, e desespero que se expressa por
sociais contemporâneos ao escritor. apatia, no segundo trecho.
b) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem
tensão conflitiva entre o ser humano e o meio puder”, no primeiro trecho, e anonimato da
ambiente.
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cooperação e do “todos por todos”, no segundo esse espaço coletivo adquire vida orgânica,
trecho. revelando-se um “ser” cuja força de crescimento
assemelha-se ao poderio de raízes em
6. (ESPM) Dos segmentos abaixo, extraídos de O desenvolvimento constante que ameaçam tudo
Cortiço, de Aluísio Azevedo, marque o que não abalar.
traduza exemplo de zoomorfismo: II. A inquietação de Miranda quanto ao crescimento
a) Zulmira tinha então doze para treze anos e era o do cortiço deve-se ao fato de que sua casa, o
tipo acabado de fluminense; pálida, magrinha, sobrado, ainda que fosse uma construção 3
com pequeninas manchas roxas nas mucosas do imponente, não possuía uma estrutura capaz de
nariz, das pálpebras e dos lábios, faces levemente suportar o crescimento desenfreado do vizinho,
pintalgadas de sardas. que ameaçava derrubar sua habitação.
b) Leandra...a Machona, portuguesa feroz, III. Não obstante a oposição entre o sobrado e o
berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de cortiço em termos de aparência física dos
animal do campo. ambientes, os moradores de um e outro espaço
c) Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum não se distinguem totalmente, haja vista que seus
crescente; uma aglomeração tumultuosa de comportamentos se assemelham em vários
machos e fêmeas. aspectos, como, por exemplo, os de João Romão e
d) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela Miranda.
umidade quente e lodosa começou a minhocar,... IV. Os dois ambientes descritos marcam uma
e multiplicar-se como larvas no esterco. oposição entre o coletivo (o cortiço) e o individual
e) Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um (o sobrado) e, por extensão, remetem também à
mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um estratificação presente no contexto do Rio de
cabrito... Janeiro do final do século XIX.

7. (UEL) A questão refere-se aos trechos a seguir. Estão corretas apenas as afirmativas:
“Justamente por essa ocasião vendeu-se também um a) I e II.
sobrado que ficava à direita da venda, separado desta b) I e III.
apenas por aquelas vinte braças; e de sorte que todo c) II e IV.
o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e d) I, III e IV.
tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro e) II, III e IV.
as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal
Miranda, negociante português, estabelecido na rua 8. (UFLA) Relacione os trechos da obra O Cortiço, de
do Hospício com uma loja de fazendas por atacado.” Aluísio de Azevedo, às características
“E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para realistas/naturalistas seguintes que predominam
dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado nesses trechos e, a seguir, marque a alternativa
o Miranda assustava-se, inquieto com aquela CORRETA:
exuberância brutal de vida, aterrado diante daquela 1. Detalhismo.
floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por 2. Crítica ao capitalismo selvagem.
debaixo das janelas, e cujas raízes piores e mais 3. Força do sexo.
grossas do que serpentes miravam por toda parte, ( ) “(...) possuindo-se de tal delírio de
ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando enriquecer, que afrontava resignado as mais duras
o solo e abalando privações. Dormia sobre o balcão da própria venda,
tudo.” (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um
Paulo: Martins, 1974. p. 23; 33.) saco de estepe cheio de palha.”
( ) “(...) era a luz ardente do meio-dia; ela era o
Com base nos fragmentos citados e nos calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma
conhecimentos sobre o romance O Cortiço, de Aluísio quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara
Azevedo, considere as afirmações a seguir: nas matas brasileiras.”
I. A descrição do cortiço, feita através de uma ( ) “E seu tipo baixote, socado, de cabelos à
linguagem metafórica, indica que, no romance, escovinha, a barba sempre por fazer (...) Era um pobre
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diabo caminhando para os setenta anos, antipático, simultaneamente. (FERREIRA, Luiz Antônio. Roteiro
muito macilento.” de leitura: O cortiço de Aluísio Azevedo. São Paulo:
Ática, 1997. p. 42.)
a) 2, 1, 3
b) 1, 3, 2 Sobre os textos, assinale a alternativa correta.
c) 3, 2, 1 a) No Texto 1, por ser ele uma construção literária
d) 2, 3, 1 realista, há o predomínio da linguagem
e) 1, 2, 3 referencial, direta e objetiva; no Texto 2, por ser 4
ele um estudo analítico do romance, há o
9. (UNIFESP / SP) Em O cortiço, o caráter naturalista predomínio da linguagem estética, permeada de
da obra faz com que o narrador se posicione em subentendidos.
terceira pessoa, onisciente e onipresente, b) A afirmação contida no Texto 2 explicita o modo
preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica coletivo de agir do cortiço, algo que também se
dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha observa no Texto 1, o que justifica o
pessoal e muito próxima dos acontecimentos prevalecimento de um termo coletivo como título
narrados aparece de modo mais direto e explícito em: do romance.
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos c) Tanto no Texto 1 quanto no Texto 2 há uma visão
defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo exacerbada e idealizada do cortiço, sendo este
fogo. considerado um lugar de harmonia e justiça.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes que se d) No Texto 1 prevalece a desagregação e corrosão
despejavam sobre as chamas. da grande coletividade a que se refere o Texto 2.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos... e) O que se afirma no Texto 2 vai contra a ideia
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca contida no Texto 1, visto que no cortiço jamais
de uma fornalha acesa. existe união entre os seus moradores.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar
o madeiramento da casa incendiada...
11. Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora,
10. (UEL) Leia atentamente os textos abaixo. todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à
Texto 1 moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra
De cada casulo espipavam homens armados de pau, cortar a friagem”.
achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo Uma transformação, lenta e profunda, operava-se
os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo
como se ficassem desonrados para sempre se a e alando-lhe os sentidos, num 6trabalho misterioso e
polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se surdo de crisálida. A sua energia afrouxava
tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A
direito! ‘Jogassem lá as cristas, que o mais homem vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-
ficaria com a mulher!’ mas agora tratava-se de lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o
defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de
a zelar por alguém ou alguma coisa querida. ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e
(AZEVEDO, Aluísio, O cortiço. 26. ed. São Paulo: violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco,
Martins, 1974. p. 139.) mais amigo de gastar que de guardar; adquiria
desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se
Texto 2 preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do
O cortiço é um romance de muitas personagens. A sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito
intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas eternamente revoltado do último tamoio
particularidades, fazem parte de uma grande entrincheirou a pátria contra os conquistadores
coletividade, de um grande corpo social que se corrói aventureiros.
e se constrói E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos
os seus hábitos singelos de aldeão português: e
Jerônimo abrasileirou-se. (...)
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E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe
e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor
apuravam, posto que em detrimento das suas forças setentrional, uma nota daquela música feita de
físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
música, compreendia até as intenções ,poéticas dos cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e
sertanejos, quando cantam à viola os seus amores espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a afrodisíaca.
esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de Aluísio Azevedo, O cortiço. 5
um marujo, que se habituaram aos largos horizontes
de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta Para entender as impressões de Jerônimo diante da
luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se natureza brasileira, é preciso ter como pressuposto
amplamente defronte dos maravilhosos que há:
despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, a) um contraste entre a experiência prévia da
donde, de espaço a espaço, surge um monarca personagem e sua vivência da diversidade
gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias biológica do país em que agora se encontra.
refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de b) uma continuidade na experiência de vida da
cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes personagem, posto que a diversidade biológica
voluptuosos. aqui e em seu local de origem são muito
Aluísio Azevedo, O cortiço. semelhantes.
c) uma ampliação no universo de conhecimento da
Os costumes a que adere Jerônimo em sua personagem, que já tinha vivência de diversidade
transformação, relatada no excerto, têm como biológica semelhante, mas a expande aqui.
referência, na época em que se passa a história, o d) um equívoco na forma como a personagem
modo de vida: percebe e vivencia a diversidade biológica local,
a) dos degredados portugueses enviados ao Brasil que não comporta os organismos que ele julga
sem a companhia da família. ver.
b) dos escravos domésticos, na região urbana da e) um estreitamento na experiência de vida do
Corte, durante o Segundo Reinado. personagem, que vem de um local com maior
c) das elites produtoras de café, nas fazendas diversidade de ambientes e de organismos.
opulentas do Vale do Paraíba fluminense.
d) dos homens livres pobres, particularmente em 13. No romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, tem-se
região urbana. a representação da prestação de serviços domésticos
e) dos negros quilombolas, homiziados em refúgios na sociedade carioca do século XIX. Nesse sentido, a
isolados e anárquicos. relação entre o enredo e o espaço do trabalho
doméstico de tal período se expressa pelo fato de
12. E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda que:
a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata a) Piedade se torna lavadeira no Brasil,
estava o grande mistério, a síntese das impressões demonstrando que os serviços domésticos eram
que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente realizados por pessoas de diversas classes sociais.
do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da b) Bertoleza serve João Romão como criada e
fazenda; era o aroma quente dos trevos e das amante, o que expressa a presença da cultura
baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era escravista em ambiente urbano.
a palmeira virginal e esquiva que se não torce a c) Pombinha se muda para a casa de Léonie,
nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar comprovando a possibilidade de ascensão social
gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a por meio da prostituição.
castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite d) Rita Baiana se destaca como exímia dançarina, o
de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta que reafirma o exercício das atividades artísticas
viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito como uma especialidade feminina.
tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os
desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
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e) Nenen se especializa como engomadeira, o que d) convida o leitor para um passeio panorâmico a
mostra a incorporação do modelo fordista de uma sociedade envolta em sons bucólicos, de
produção ao ambiente familiar. referência árcade, que dão um tom singelo ao
ambiente.
14. […] No confuso rumor que se formava, e) revela traços fundamentais na caracterização de
destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, uma comunidade centrada em uma atmosfera
sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de que inspira suspense e fantasia.
galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam 6
mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a 15. Sobre o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo,
gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes
donos, cumprimentavam-se ruidosamente, afirmações.
espanejando-se à luz nova do dia. ( ) No início do romance, está o vendeiro
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum português João Romão que, com força de trabalho e
crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos boa dose de oportunismo, constrói o cortiço, seu
e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, primeiro caminho para a ascensão social.
incomodamente, debaixo do fio de água que escorria ( ) No romance, a ex-escrava Bertoleza é a
da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As companheira de João Romão, por ele tratada com
mulheres precisavam já prender as saias entre as respeito, o que dá mostras do tom conciliatório do
coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez livro, que trata a escravidão como problema
dos braços e do pescoço, que elas despiam, resolvido.
suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os ( ) No sobrado contíguo ao cortiço de João
homens, esses não se preocupavam em não molhar o Romão, vivem Miranda, Dona Estela e a filha
pelo, ao contrário, metiam a cabeça bem debaixo da Zulmirinha, família financeiramente confortável, que
água e esfregavam com força as ventas e as barbas, cria sinceros vínculos de amizade com João Romão e
fossando e fungando contra as palmas da mão. As Bertoleza.
portas das latrinas não descansavam, eram um abrir ( ) No romance, Dona Estela, sempre descrita
e fechar de cada instante, um entrar e sair sem pelo narrador como uma dama séria e decorosa, sofre
tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda com as constantes traições de seu marido Miranda.
amarrando as calças ou as saias; as crianças não se
davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali A sequência correta de preenchimento dos
mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da parênteses, de cima para baixo, é:
estalagem ou no recanto das hortas. a) V – F – V – F.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço.Rio de Janeiro: Otto b) F – V – F – V.
Pierre, 1979. p. 44-45. c) V – F – F – F.
d) F – F – V – V.
Considerados os papéis sociais das personagens do e) V – V – F – V.
romance, a frase “era um zunzum crescente” resume
um aspecto contextual relevante para a configuração
da cena retratada, pois
a) demonstra a plasticidade sonora de um ambiente
em que vozes dispersas, sem ressonância, deixam
de ser distintas e são condensadas em rumor.
b) descreve uma cena típica de um grupo social que
reconhece seu discurso como arma de resistência
contra a elite dominante da época.
c) envolve o leitor em uma atmosfera conflituosa,
em que homens e mulheres representam
opiniões divergentes diante da realidade
imposta.

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