Você está na página 1de 2

Disciplina: Literatura Portuguesa – Renascimento

Aluno: Guilherme C. da Fonseca


Turma: 01
Data: 23/08/2021

ESTUDO 1

Questão 1 -

Deriva-se do amplo uso das línguas vulgares a consciência nacional. É um tanto forçoso
assinalar as dimensões geográficas que cingem as nações europeias e cotejá-las com a extensão
territorial brasileira; poder-se-ia notar que o espaço abrangido por cada estado do Brasil
corresponde aproximadamente com o das nações europeias. Ao deparar-nos com essa
semelhança e com o senso de pertencimento regional tão presente nos brasileiros, aventurar-me-
ia em questionar se existe um limite para tal senso. Honestamente, é admirável quando aqui
esbarramo-nos com um gaúcho ou um nordestino e vemos o carinho carregado em seus corações
por sua terra, e há de se notar um ponto interessante: o dialeto dessas regiões que as diferem algo
das demais. Falamos a mesma língua, portanto, entendemo-nos uns aos outros. Contudo, em
escala mundial, isto não é mais possível, naturalmente. Há um diálogo entre um russo e uma
italiana em um filme chamado Nostalghia, de Andrei Tarkovsky, o qual é introduzido pela
afirmação de que é impossível a tradução de poemas; ele defende que italianos não entendem
nada da Rússia e vice-versa, apesar de seus grandes autores nacionais terem seus livros
publicados mundialmente. Por fim, o sujeito sugere que para conseguirmos nos entender uns aos
outros seria necessário acabar com fronteiras. Tal pensamento nos apresenta a indagação de que
se a fala é proveniente da natureza intelecto-social do homem, a diversidade de línguas (ou de
nações) ao menos atrapalharia sua necessidade de intercomunicação, uma vez que há uma
dificuldade decorrente da ausência de compreensibilidade mútua que impede a operação devida e
imediata de um colóquio entre pessoas de nações distintas. Quanto aos afetos, estes talvez seriam
flexibilizados se existissem níveis de intensidade quanto ao sentimento de pertencimento
conformes ao grau de parentesco das línguas, visto que, de certo modo, compartilha-se certa
ancestralidade comum – o que levaria a acreditar que, por degraus, existiria uma espécie de
introspecção coletiva entre as nações e por dentro destas. Esta reflexão muito provavelmente já
foi pensada e melhor elaborada, contudo, é de questionar se seria mais deleitável à consciência
humana o sentimento de pertencimento a um grupo delimitado pela língua ou uma certa unidade
global dos homens.
Questão 2 -

A demarcação absoluta da passagem de um período histórico para outro mediante um evento


único deve-se antes à convenção do discurso do que à sucessão de fatos ocorridos. O evento
fundacional português, nestas condições, coincidir-se-ia com uma rebeldia empreendida por um
filho contra a mãe: Afonso Henriques inaugura os traços que delinearão a consciência nacional
portuguesa. Há de se considerar se o que vem em seguida se categorizaria como epifenômeno do
evento fundacional e este abarcaria a essência da alma nacional portuguesa. Portugal construiu
grande Império que tombou, por causa ou apesar do espírito megalomaníaco impregnado no
português nascido nos tempos da tal glória, como critica Camões mesmo. Concomitantemente à
queda, sucede um acontecimento importante: D. Sebastião desaparece na Batalha de Alcácer
Quibir. Deste modo, Portugal vê-se em um estado de constante aguardo motivado pela ausência
de alguém para reerguer o país, como um infante à espera da mãe. Houve uma
instrumentalização do meio literário como mediador da transposição e tradução de elementos
psíquicos presentes na consciência da nação. Talvez surja de tal processo um esboço que será
traçado e posteriormente posto na alma nacional em condição latente, e Portugal pode ser uma
amostra. Segundo o Texto 2, o sonho simboliza os anseios do português e, diferentemente de
Camões, Pessoa considera um passado glorioso e questiona o futuro; sob determinado ponto de
vista, podemos dizer que a literatura expressa anseios comuns à nação e sugestiona ou revela
seus empreendimentos futuros, uma vez que seria razoável estabelecer uma relação entre o sonho
português e a Revolução dos Cravos como a corporificação de um ideal coletivo, construindo
assim mais um evento histórico que proporciona ao português identidade nacional.

Você também pode gostar