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Educação na

Antiguidade
Clássica
Prof. Antônio Sérgio de Giácomo Macedo

Descrição

A Antiguidade Clássica, considerando os mundos grego e romano, como


base para a compreensão da educação ocidental e relacionada à
educação atual.

Propósito

Compreender a importância de olhar para o passado, especificamente


para a Antiguidade Clássica, esse período fundamental da história que
vai do século VIII a.C. ao século VI d.C., para entender como a educação
foi concebida pelas sociedades do período clássico e analisar suas
heranças e fundamentos como influência na educação contemporânea.

Objetivos

Módulo 1

Educação na Grécia Clássica


Definir as características da educação na Grécia Clássica.

Módulo 2

Educação na Roma Clássica

Descrever os elementos que marcaram a educação na Roma


Clássica.

Módulo 3

Educação na Antiguidade Clássica e


educação contemporânea

Identificar traços da educação na Antiguidade Clássica refletidos na


educação contemporânea.

Introdução
A Antiguidade Clássica é um longo período da história. Algumas
periodizações consideram que seu alcance vai do século VIII a.C.
ao século VI d.C. Como você verá neste material, esse período
influenciou aspectos que são fundamentas à compreensão da
educação ocidental. E você perceberá que os fundamentos da
educação grega e romana, entre outros, estão amplamente
relacionados à educação atual.
1 - Educação na Grécia Clássica
Ao final deste módulo, você será capaz de definir as características da educação na Grécia
Clássica.

Contexto
Antes de tratarmos especificamente sobre a educação na Grécia
Clássica, você precisa conhecer as características e fatos que levaram à
formação do que chamamos de mundo grego.

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A formação do mundo grego
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha fala sobre como surgiu o
sentimento de identidade entre os gregos.

Agora, destacaremos brevemente os ideais de três dos maiores


pensadores da filosofia clássica:
Sócrates
Sócrates (469 a.C.–399 a.C.) entendia a filosofia como a procura da
verdade, trilhando o caminho da sabedoria.

Sócrates.

Com a famosa frase “Conhece a ti mesmo”, o filósofo ateniense


impulsionou a busca das verdades universais: o caminho para a prática
do bem e da virtude. Em resumo, ele almejava que as pessoas se
livrassem das falsas certezas para alcançar a verdade própria do ser
humano.

Assim, no século IV a.C., Sócrates criou a maiêutica,


método de ensino investigativo que se baseava nas
interrogações para dar à luz o conhecimento.

Maiêutica é um método que tinha duas etapas que destruíam as falsas


verdades para criar a universal. São elas:

1ª etapa
De início, implantava-se a dúvida, de modo que o saber adquirido fosse
interrogado para revelar as fraquezas e as contradições na forma de
pensar.

2ª etapa
Depois, estimulava-se a busca de novos conceitos, de novas opiniões, o
pensamento por si mesmo, a fim de desvelar a verdade, livrando-se do
falso conhecimento.

Vejamos a perspectiva de mais um filósofo clássico.

Platão
A teoria do conhecimento desenvolvida por Platão (429 a.C.–348/347
a.C.) tem como base a convicção de que o mundo sensível em que
vivemos é apenas um mundo aparente, incapaz de nos oferecer
conhecimento verdadeiro.

Para chegarmos a esse tipo de conhecimento, necessitamos buscar o


mundo inteligível, onde está a verdadeira essência das coisas. Assim, o
conhecimento se dá a partir da ideia até a realidade.
Platão.

Para ratificar suas concepções intelectuais, Platão criou o mito da


caverna.

Você sabe qual é a história do mito da caverna?

Resposta
Prisioneiros acorrentados em frente a uma parede podiam ver apenas
sombras. Quando um deles, enfim, se liberta, encontra uma realidade
diferente. Impressionado, o preso volta para contar aos demais sobre o
mundo que existia fora da caverna. A intenção dele era livrá-los da
escuridão. Mas os outros prisioneiros não só se recusaram a acreditar
no homem, como o mataram.

Finalmente, vamos conhecer o último filósofo clássico a ser


mencionado neste conteúdo!

Aristóteles
Para Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.), somente na pólis o homem se
realizava plenamente em busca do bem supremo. No entanto, essa
realização não era definitivamente alcançada, pois não estava presa a
um tempo específico, mas se refazia — inclusive como sensação —, à
medida que o homem decidia por novas determinações em seu ato
constitutivo e reconstitutivo.

Aristóteles.

Aristóteles propõe uma teoria do conhecimento praticamente inversa à


teoria de Platão — que foi seu mestre — ao defender que a relação de
nossos sentidos com o mundo visível nos possibilita a chegada ao
conhecimento. As etapas desse processo de chegada ao conhecimento
seriam as seguintes:

Aestésis

Sensação

Mnéme

Memória
Empeiría

Experiência

Techné

Arte/ofício

Epistéme

Conhecimento/ciência

Para o pensamento aristotélico, o aprendizado era visto como uma


prática política. Somente pelo entendimento do conceito de pólis seria
possível compreender seu projeto de educação como canal capaz de
desenvolver as condições necessárias para a segurança do regime e
para a saúde do Estado. A educação, para Aristóteles, deveria ocupar
toda a vida do cidadão desde sua concepção.

Vejamos adiante as responsabilidades que cabiam ao Estado.

Guiar os cidadãos à prática das virtudes.

Ocupar-se da educação dos jovens.

Estabelecer leis que promovessem a educação conforme a moral,


voltada à vida política, o que estabelecia seu equilíbrio.

Tornar a educação um assunto público.


Atenção!

Não estamos resumindo o pensamento desses filósofos. Além da


impossibilidade de fazer isso em poucas linhas, nosso objetivo aqui não
é esse, mas despertar para a influência desses autores na educação
grega.

Educação grega
O modelo de escola como conhecemos não existia na Grécia Clássica.
O jovem cidadão estava constantemente aprendendo. Conforme a
tradição religiosa, a própria família tinha essa responsabilidade de
ensinar, e muitas atividades reuniam os gregos em comemoração:
esses eram os momentos que faziam a educação acontecer
naturalmente.

A Escola de Atenas, Raffaello Sanzio, 1509–1511. Pintada em um conjunto de cômodos


pintados pelo artista (Os Quartos de Rafael), essa obra sintetiza os maiores pensadores
gregos. Os cômodos, atualmente, fazem parte do museu do Vaticano.

O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se


difundir, pois, na formação escolar, a preocupação recaía,
prioritariamente, sobre a prática esportiva.

Os gregos tratavam a educação como um processo de


preparação para a vida social. O homem era visto não
só como um ser racional, mas como o centro do
universo.

A busca pelo conhecimento e o estudo da natureza, do ser humano e


das artes, da observação e da investigação do mundo levaram ao
desenvolvimento da filosofia, entendida como a formação do homem,
de seu espírito e de sua alma. Assim como o aspecto intelectual, a
educação pelas artes era fundamental para gerar esse homem.

Esse processo era resumido pela palavra paideia, que não é possível
traduzir em virtude de seus inúmeros significados. Uma boa tentativa,
entretanto, é apresentada por Werner Jaeger:

Werner Jaeger
Jaeger (1888-1961) foi um escritor e entusiasta dos estudos clássicos
nascido na Prússia, atual território alemão. Possui cerca de 16 publicações,
dentre elas, a Paideia: livro de extrema importância na fundamentação da
Didática, que foca na estrutura grega clássica de construção do processo
da Educação.

[...] a essência de toda a verdadeira


educação, [o] que dá ao homem o
desejo e a ânsia de se tornar um
cidadão perfeito, [o que] o ensina a
mandar e a obedecer, tendo a justiça
como fundamento.

(JAEGER, 1995, p. 147)

Não entendeu ainda o significado de paideia? Então, veja o vídeo a


seguir.

video_library
A paideia
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha fala mais um pouco sobre a
importância do conceito de paideia.

A educação de cada pólis refletia a forma de organização e os ideais de


cada sociedade. Especificaremos, a seguir, os pormenores da educação
ateniense e da espartana.

Educação ateniense
O principal objetivo da educação em Atenas era preparar integralmente
o cidadão. Vejamos alguns aspectos dessa educação:

Aspectos gerais expand_more

Na pólis ateniense, a Ágora era o principal lugar de manifestação


da opinião pública, adequado à cidadania cotidiana, onde o povo
se reunia em assembleia para debater e deliberar sobre as
questões de interesse da comunidade.

A educação de Atenas tinha como finalidade preparar os futuros


cidadãos para a política, ou seja, para a retórica (a arte da
eloquência, a arte de bem argumentar; arte da palavra, de acorco
com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa), de
modo que fossem capazes de se expressar oralmente, prontos
para o diálogo e o convencimento.

Educação elementar expand_more

Até os 7 anos de idade, a educação era responsabilidade das


famílias e ocorria no espaço doméstico. As crianças atenienses
eram preparadas para o debate e a deliberação. Tinham um dia
de estudos e de instrução para a cidadania.

Elas iam à palestra — local onde estudavam — duas vezes ao dia:


de manhã, quando aprendiam música e ginástica, e à tarde, após
o almoço em casa, para o ensino da leitura e da escrita, que era
acompanhado por um escravo, chamado de pedagogo.

O termo “pedagogo” surgiu na Grécia Clássica, advindo da


palavra παιδαγωγός, cujo significado etimológico é “preceptor,
mestre, guia, aquele que conduz”. O paidagogo (paidagōgós) era
o condutor que guiava a criança e o jovem até o local de ensino,
ou seja, em direção ao saber.

Educação por gênero expand_more

As meninas continuavam a ser educadas no ambiente familiar,


especificamente no gineceu (local da casa reservado aos
afazeres domésticos). Já a educação masculina se organizava
em três níveis:

elementar (até os 13 anos);


secundário; e
superior.

A partir da educação elementar, as crianças eram encaminhadas


para aprender algum ofício ou continuavam estudando e
frequentando os ginásios. Inicialmente, esses lugares eram
destinados apenas aos exercícios físicos, mas, com o tempo e
as exigências da pólis, incluíram as práticas musicais e literárias.

Ensino superior expand_more


A partir dos 16 ou 18 anos, o jovem se dedicava ao ensino
superior. Esse foi o momento em que Sócrates, Platão e
Aristóteles desenvolveram suas reflexões e teorias.

O ensino profissional desenvolvia-se no cotidiano, durante a


própria execução do trabalho.

Assim, a educação ateniense propiciou o surgimento e o


desenvolvimento da filosofia, que pode ser dividida em três fases:

Período pré-socrático
Buscava-se explicar as questões da natureza e a origem do mundo.

Período socrático
A reflexão residia sobre o homem. Foi o momento em os filósofos
clássicos estudados se destacaram.

Período helenístico
Marcado pela confluência de tradições filosóficas do mediterrâneo
oriental, desde hebreus, persas, egípcios, mas ainda tendo forte
influência das tradições atenienses.

Entendida a educação ateniense, veremos então a educação espartana.

Educação espartana
A educação em Esparta era mais voltada para a formação de soldados
para as guerras. Alguns aspectos dessa educação estão elencados a
seguir:

Aspectos gerais expand_more

A estrutura da educação espartana — chamada de agogê — foi


organizada por Licurgo (800 a.C.–730 a.C.), legislador que
também organizou o Estado espartano, fundamentado no
militarismo. O ensino era obrigatório e estava voltado à
formação militar.
O poder político-militar norteou a educação de Esparta, que,
patrocinada pelo Estado, tinha como principal objetivo preparar
os futuros soldados. A prática educacional consistia em
desenvolver as habilidades físicas para a formação do guerreiro,
tais como força, bravura e obediência — virtudes necessárias à
guerra.

Educação elementar expand_more

Semelhante ao que ocorria em Atenas, até os 7 anos, os meninos


permaneciam em casa sob os cuidados das mães, que os
treinavam de forma rigorosa.

Após esse período, o Estado assumia a educação: os jovens


eram afastados da família e encaminhados para as casernas
públicas, onde recebiam ensinamentos militares e treinavam:
ginástica, saltos, natação, corrida, lançamentos de dardo e de
disco.

Eles também aprendiam a suportar a fome, o frio, a dormir com


desconforto e a vestir-se de forma despojada. Além disso,
estudavam as armas e manobras militares, com o propósito de
se tornar hábeis, perspicazes e com autodomínio.

Educação por gênero expand_more

As mulheres também se preparavam fisicamente e eram criadas


para viver de maneira saudável, a fim de conceber filhos sadios.
A educação sexual fazia parte da instrução feminina a partir da
puberdade e era de responsabilidade da mãe.

Em torno dos 20 anos, a moça recebia autorização do governo


para casar e procriar e era estimulada a engravidar, pois, quanto
mais filhos nasciam, mais soldados havia na cidade.

Maria Lucia de Arruda Aranha destaca os valores essenciais da


educação espartana:
A disciplina era um valor, e o
respeito dos guerreiros a seus
superiores era primordial. Assim, a
educação moral espartana
valorizava a obediência, a aceitação
dos castigos e o respeito aos mais
velhos, bem como privilegiava a vida
comunitária.

(ARANHA, 2000, p. 51)

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O método investigativo criado por Sócrates, que se baseava nas


interrogações para dar à luz o conhecimento e que destruía as
falsas verdades para gerar uma universal, era conhecido como

A arché.

B dialética.

C maiêutica.

D pedagogia.

E paideia.

Parabéns! A alternativa C está correta.


Maiêutica é o nome dado ao método socrático, que consistia em
levar o indivíduo a desenvolver um determinado conceito ou
conhecimento a partir de um processo em duas etapas: negação
(ou dúvida) do conhecimento já estabelecido; aquisição (ou
lembrança) do verdadeiro conhecimento, que estaria oculto pelo
anterior.

Questão 2

Uma das características da educação grega, especificamente em


Atenas, era a valorização da retórica nesse processo. Levando em
conta que esse ponto é um dos mais contrastantes com a
educação espartana, assinale a alternativa que explicita esse
contraste:

Em Atenas, a preocupação era formar um cidadão


A capaz de defender suas ideias na Ágora. Em
Esparta, o objetivo era formar o guerreiro.

Em ambas as cidades-Estados, a preocupação era a


B formação do cidadão. No entanto, a retórica era
uma característica exclusiva de Atenas.

A importância da retórica era impedir que o filósofo


C pudesse chegar ao poder administrativo da cidade-
Estado, tão comum em Esparta.

Em Atenas, a retórica desenvolve a arte da


D argumentação. Em Esparta é o agogê que assume o
mesmo papel, destacando a música e a poesia.

A retórica ateniense se contrasta com a retórica


espartana porque enquanto esta estava baseada em
E
princípios morais, aquela estava baseada em
princípios bélicos.

Parabéns! A alternativa A está correta.


Como vimos, a educação de Atenas visava à formação do cidadão,
que necessitaria saber argumentar na Ágora. A retórica era apenas
um dos instrumentos nessa formação. Em Esparta, a meta
educativa se baseava no rígido código do agogê. Portanto, um
filósofo jamais chegaria ao poder administrativo daquela cidade-
Estado militar e bélica.

2 - Educação na Roma Clássica


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever os elementos que marcaram a educação
na Roma Clássica.

Contexto
Antes de tratar especificamente sobre a educação na Roma Clássica,
você precisa conhecer o contexto histórico em que se estabeleceu o
Império Romano.

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Helenismo
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha aborda os aspectos e
fundamentos do helenismo.
Para compreender a educação no Império Romano, necessitamos
buscar alguns elementos entre aqueles conhecidos como seus grandes
pensadores: poetas, filósofos e historiadores. Destacaremos três
desses ilustres personagens.

Horácio
Além de sua importância como poeta, pois trouxe muito da filosofia
grega para Roma por meio de sua poesia, Horácio (8 a.C.–27 a.C.)
presenciou o nascimento do Império Romano, sendo contemporâneo de
Julio Cesar, Marco Antonio, Cleópatra e Otaviano Augustus.

Horácio.

De sua vasta obra, que influenciou o pensamento romano, podemos


destacar uma frase que será reconhecida como a marca do filósofo:

Sapere aude! Ouse saber!

Séculos mais tarde, Immanuel Kant, um dos fundadores do pensamento


contemporâneo, traduziu a frase como: “Tenha coragem de pensar por
si mesmo”.

Sêneca
Sêneca (4 a.C–65 d.C.) vivenciou eventos fundamentais na sociedade
romana, foi preceptor de Nero na sua infância e seu conselheiro até se
tornar imperador. Como filósofo, advogado, dramaturgo e homem
público, é considerado um dos mais importantes autores do império.

Sêneca.

Além de vasta obra, deixou como herança sua preocupação ética:


coerência entre aquilo que pensava e escrevia com aquilo que vivia.
Também defendia o conceito de igualdade natural entre os homens —
vivia em constante combate à escravidão, tão comum em seu tempo.

Flávio Josefo
Josefo (37d.C.–100 d.C.) foi um historiador judeu tornado cidadão
romano. Ele testemunhou eventos fundamentais de seu tempo, todos
registrados em suas obras: a expansão definitiva do Império Romano
sobre a Palestina, a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.) e o
nascimento do cristianismo.

Flávio Josefo.

Vivendo permanentemente dividido, não só como historiador, mas como


homem público, deixou relatos fundamentais daquele período, que ainda
hoje são fontes preciosas.

Cientes desse contexto, podemos falar em educação romana.

Educação romana
Como podemos perceber, apesar da influência helenística sobre a
cultura de Roma, essa sociedade também possuía grandes pensadores
que marcaram aquele período e que resistiam à tal influência, na busca
de manutenção de suas tradições. Mesmo assim, não identificaremos
elementos opostos ao ideal grego de educação.

Em Roma, era esperado que se proporcionasse à


criança o saber necessário para o exercício de sua
profissão de soldado ou de proprietário rural.

Segundo Mario Alighiero Manacorda:

Mario Alighiero Manacorda


Manacorda (Roma, 1914–2013) foi professor, pedagogo e tradutor de
italiano. Na segunda metade do século XX, ocupou posições de prestígio no
mundo acadêmico italiano e exerceu uma intensa atividade política.
No século II a.C., o pater familias concedeu à mãe os direitos sobre a
educação de seus filhos durante a primeira infância, incluindo as
meninas, que também aprendiam os elementos iniciais do alfabeto. A
criança crescia em casa, com os colegas, entre os brinquedos e as
aprendizagens básicas.

A mulher adquiriu uma autoridade desconhecida na Antiguidade grega.


Essa tradição permaneceu por muito tempo, inclusive no século I d.C.,
conforme destaca Manacorda:

Quintiliano também atribui à mãe a


tarefa de ensinar aos filhos os
primeiros elementos do falar e do
escrever.

(MANACORDA, 2006, p. 75)

Quintiliano
Marco Fabio Quintiliano (35 – 95), advogado, orador e professor em Roma,
é um importante personagem para a Educação Romana também por sua
extensa obra Retórica e Oratória.

Então, vamos entender como se dava a formação da criança na Roma


Antiga:

child_care Por volta dos 7 anos de idade, o pai deveria


proporcionar ao filho a educação moral e cívica,
baseada na tradição, bem como na aprendizagem
de noções jurídicas e de conceitos estabelecidos na
Lei das XII Tábuas (Antiga legislação, origem do
Direito romano, que formava a essência da
tit i ã d R úbli d R b d
constituição da República de Roma, bem como do
mos maiorum, que são antigas leis não escritas e
regras de conduta). O objetivo dessa aprendizagem
era desenvolver sua consciência histórica e o
patriotismo. Para isso, a educação romana
compreendia, também, os exercícios físicos e
militares.

face Em torno de 16 anos, finalmente livre da infância, o


jovem dava início à aprendizagem da vida pública,
militar ou política, acompanhado do pai ou, se
necessário, de um parente e, até mesmo, de um
escravo instruído, com o objetivo de se inserir na
sociedade. Durante cerca de um ano, antes de
cumprir o serviço militar, adquiria conhecimentos
de direito, de prática pública e da eloquência, que
seria, na concepção romana, a arte do dizer
(baseada diretamente nos estudos gregos em
retórica).

Influência grega na educação romana


No início da República, o crescimento do comércio e a expansão de
Roma propiciaram transformações na organização da sociedade.
Inclusive, aos poucos se consolidou outro modelo de educação mais
coerente com o novo momento vivido pelos romanos.

auto_stories
Escravo pedagogo

auto_stories
Escravo mestre

auto_stories
Escravo libertus
Segundo Manacorda (2006, p. 78.):
Provavelmente, a evolução histórica
foi do escravo pedagogo e mestre
da própria família ao escravo mestre
das crianças de várias famílias e,
enfim, ao escravo libertus, que
ensina na sua própria escola.

(Manacorda, 2006, p. 78.)

E quem eram esses escravos? A maioria deles veio da Grécia


conquistada pelos romanos.

Em Roma, tais escravos gregos ensinaram a própria língua e


transmitiram sua cultura aos romanos. Além disso, os etruscos (povo da
Etrúria, uma terra antiga da Península Itálica) também foram
influenciados pelos gregos, com quem aprenderam o alfabeto.

Professor punido.

De modo gradual, a educação tornou-se um ofício praticado,


inicialmente, por escravos no interior da família e, em seguida, por
libertos na escola.

Nesse período, os mestres eram mais desprezados do que estimados e,


muitas vezes, lembrados pelos castigos corporais e pela pobreza.
Apesar de sua severidade, é comum encontrarmos relatos de revoltas
por parte dos alunos, que até os agrediam fisicamente.

Em seguida, foram criadas as cátedras de retórica nas grandes cidades.


Além disso, houve favorecimento e promoção da instituição de escolas
municipais de gramática e de retórica nas províncias.

Então, pela primeira vez, os romanos desenvolveram um sistema de


ensino: um organismo centralizado que coordenava inúmeras
instituições escolares espalhadas por todas as províncias do império,
constituídas em caráter oficial pela intervenção do Estado.

Atenção!
Observamos a influência grega e etrusca sobre a origem de uma forma
de educação não familiar, mas institucionalizada na escola. Logo, a
cultura grega converteu-se em patrimônio comum dos povos do Império
Romano e, depois, foi repassada durante muito tempo à Europa
medieval e moderna, chegando, assim, à nossa época.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Dentre tantos autores, filósofos, poetas, juristas e dramaturgos que


marcaram a Roma Clássica, destacamos a importância de Sêneca
naquele contexto, mesmo quando suas ideias contrastavam com a
própria estrutura do Império Romano.

Assinale a única alternativa que identifica um desses contrastes em


relação à educação romana:

O ensino visava oferecer à criança o aprendizado


A
suficiente para sua atuação social.

Grande parte do processo educativo era realizada


B
por escravos.

A responsabilidade da família era destacada na


C
educação romana.

A educação romana também compreendia


D
exercícios físicos e militares.

O pater familias era uma figura importante no


E contexto da educação romana, inclusive por sua
plena autoridade sobre os escravos.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Todas as alternativas indicam características da educação romana,


mas a preocupação de Sêneca, especificamente, e de outros
pensadores do Império contrastava com o modelo escravocrata
vigente. Vale lembrar que, naquele momento, os escravos eram
prisioneiros de guerra e, geralmente, eram os mais qualificados para
o trabalho que exerciam.

Questão 2

Apesar da tentativa de um modelo de educação próprio, Roma não


teve como impedir a influência grega, não somente pela utilização
dos escravos, prisioneiros de guerra, mas por uma série de fatores
ligados ao processo educacional do cidadão.

Assinale a única alternativa que apresenta uma analogia à


educação grega, especialmente ao ensino da retórica:

Exercícios físicos e militares como parte do


A
processo pedagógico.

O ensino das primeiras letras (alfabetização) no


B
âmbito familiar.

O ensino da eloquência, última fase de aprendizado


C
antes do serviço militar.

O desprezo pelo mestre por parte dos alunos, pela


D condição de escravos que se encontravam a
maioria.

A educação moral e cívica era oferecida às crianças,


E a partir dos 7 anos de idade, no seio da própria
família.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Embora todas as alternativas apresentem características da


educação romana, o ensino da eloquência está diretamente ligado
ao ensino de retórica na Grécia. Ou seja, ao preocupar-se com a
formação do cidadão, o processo educacional visava oferecer um
conteúdo referente à apresentação clara das próprias ideias e,
especialmente, a argumentação, capacidade de sustentar tais
ideias com argumentos.

3 - Educação na Antiguidade Clássica e educação


contemporânea
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar traços da educação na Antiguidade
Clássica refletidos na educação contemporânea.

A herança da Antiguidade Clássica


Para iniciarmos este módulo, precisamos falar da importância do mito
da caverna na educação.

video_library
O mito da caverna e a educação
atemporal
Neste vídeo, o professor Rodrigo Rainha fala sobre o mito da caverna e
como ele se relaciona ao conceito de educação sob um viés atemporal.
É provável que você já tenha identificado os elementos que marcam a
influência da educação clássica sobre nós. No entanto, gostaríamos de
destacar alguns pontos sobre isso, pois é importante que você possa
posicionar-se diante deles e, assim, repensar a prática educativa que
conhece e aquela que assumirá como sua.

Mundo inteligível (Platão) expand_more

É preciso conhecer as formas, a verdade e a razão de tudo o que


existe no mundo sensível. Tudo o que nasce e desaparece não
pode ser considerado o ser de maneira plena. Neste mundo, tudo
é instável, pois se transforma com o tempo. A verdade é o lugar
para onde devemos retornar, pois viemos dela, das formas
inteligíveis e das essências.

Educação: missão expand_more

A instrução deve culminar na formação do cidadão e da cidade


dos justos. Por isso, é necessário haver equilíbrio entre as três
almas presentes no homem: animal, passional e intelectual. O
intelecto (razão) tem de dominar as paixões e os instintos.

Prática dialética expand_more

Embora nossa legislação educacional, nos últimos anos, tenha


passado por muitas alterações, é fácil perceber que alguns dos
pontos definidos como essenciais por Platão estão presentes
ainda nos dias de hoje. Sim, a dialética ainda permanece nos
discursos, mas é fundamental para que haja verdadeiramente
educação.

Esse termo “dialética”, que deriva de diálogo, não foi empregado,


na história da filosofia, com significado unívoco. Para Platão, a
dialética é a técnica da investigação conjunta, feita mediante a
colaboração de duas ou mais pessoas, segundo procedimento
socrático de perguntas e respostas, conforme afirma o
Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano.

O mito da caverna expand_more

Provavelmente você já percebeu, mas é importante destacar que


não há nada mais emancipador para o ser humano que a
educação. Ela que permite ao homem “ter coragem de pensar
por si mesmo” (uma conclusão também romana).

Moral da história: a educação liberta, ilumina os que estão no


mundo das sombras e leva à verdade.

Formação cidadã expand_more

Outro ponto em que essa influência é perceptível corresponde à


preocupação da formação do cidadão. Ou melhor: a educação é
uma prática social, no seio da pólis. Portanto, representa uma
prática política.

A educação era, portanto, uma condição da pólis e não podia ser


negligenciada. Para Aristóteles, a política era a ciência mais
importante e, apenas por meio da educação, o homem
desenvolvia a prática do bem-estar comum. Mas, para que a
educação alcançasse seus objetivos, era necessário um
conjunto de atividades pedagógicas e coordenadas, que
visassem a uma cidade perfeita e a um cidadão feliz.

O filósofo grego também deixou de herança o método


peripatético. Esse termo deriva do grego perípatos (= passeio
aberto) e identifica o lugar onde foi instalado o Liceu (Escola
Filosófica fundada por Aristóteles). Esse método discutia as
questões filosóficas mais profundas, relacionadas à metafísica,
à física e à lógica. Pela proposta de conhecimento amplo e ao
mesmo tempo aprofundado que Aristóteles propunha a seus
seguidores, tal método indica, atualmente, a busca por um
conhecimento mais abrangente e menos especializado, sem
perder-se na superficialidade.

Educação romana expand_more


A crítica a esse modelo de educação se fez presente e partiu de
dentro da própria sociedade, que, por meio de seus importantes
pensadores ou filósofos, não só condenou como também
externou proposições a respeito da escola. Veremos uma dessas
colocações a seguir.

A memorização e a repetição marcaram fortemente essa escola


inicial. Certamente, o tédio de tal didática, o medo das varas e
dos chicotes, e os conteúdos muito distantes da vida diária e dos
interesses reais dos jovens e da sociedade não encorajaram a
frequência aos estudos.

Segundo Manacorda (2006, p. 93-94): “[...] em Roma,


encontramo-nos, pela primeira vez, perante uma crítica
fundamental da escola pelo que ela é, e não pelos acidentes de
sua vida diária – assistimos, enfim, ao nascimento de uma
consciência crítica sobre a escola e a educação”.

Desafios gerais para atual modelo de


ensino
Infelizmente, sabemos que não foi apenas as qualidades da educação
clássica e a valorização do saber como constituinte do cidadão que
herdamos de nossa história. Ainda trazemos muito embates, conflitos e
até mesmo a realidade de violência, persistente na sociedade em geral,
para dentro da escola.

Mas, com honestidade, identificando nossos erros e acertos nos


modelos educacionais adotados até aqui, necessitamos dar passos!

Dentre os inúmeros passos que podemos dar, além de oferecer


formação acadêmica de qualidade, é preciso investir esforços para
termos um relacionamento sadio e respeitoso entre escola e sociedade
e entre professores e alunos.

Importante!

Para que tomemos consciência de como essa tarefa é urgente, observe


a tabela abaixo:

Brasil e Controle de e
Unidades
da
Bom Regular
Federação

Ns. Ns.
% %
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Tabela: Percepção dos diretores sobre a ocorrência de situações de violência na escola em que
trabalham no último ano (Brasil e Unidade da Federação - 2007).
FBSP, 2019, p. 182

Perceba que quase metade dos entrevistados já presenciaram algum


tipo de violência de alunos a professores ou funcionários da escola; e
quase dois terços presenciaram a violência entre os alunos. Sabemos
que a realidade em muitas localidades pode ser ainda mais grave.

Como profissionais da educação — atuais ou futuros — devemos estar


atentos às lições da história e da história da educação. Assim, podemos
superar essa realidade de violência e fazer da escola um verdadeiro
ambiente de segurança, convivência e, claro, educação.

Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

O pensamento platônico, a relação entre o mundo inteligível e a


educação, e as propostas que ele apresenta como disciplina
escolar podem nos trazer importantes reflexões sobre uma
estratégia fundamental para que a educação não seja apenas
imposição de conhecimentos alheios.

Assinale a única alternativa que identifica essa estratégia:

A recriação do Gineceu nas escolas para a


A
existência de um ensino mais prático e objetivo.

A criação de uma escola peripatética, em que os


B
conhecimentos serão mais aprofundados.
A valorização da reminiscência, levando os alunos a
C
buscarem conhecimentos esquecidos.

O resgate do ensino da dialética, a fim de


D
possibilitar uma educação dialógica.

O mito da caverna se apresenta como uma


excelente analogia com a condição humana de
E
sermos mais abertos ao que é mítico do que àquilo
que é racional.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A dialética tornou-se fundamental no contexto da educação


clássica por valorizar exatamente a condição necessária para a
autonomia do cidadão, a fim de assumir seu papel na sociedade por
meio do diálogo. Espera-se que a formação do educando passe
pelo mesmo caminho, para que também seja responsável por seu
aprendizado.

Questão 2

Aristóteles deixou muitas heranças para a educação grega e


romana. Uma delas foi um método de ensino que discutia as
questões filosóficas mais profundas, relacionadas à metafísica, à
física e à lógica, conhecido como

A phisis.

B peripatético.

C dialética.

D maiêutica.
E paideia.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A origem do nome deste método vem do hábito de Aristóteles de


ensinar ao ar livre, caminhando, enquanto lia e dava preleções sob
os portais cobertos do Liceu (perípatos) ou sob as árvores que o
cercavam. Sempre pelas manhãs, mestre e discípulos debatiam
sobre os temas mencionados.

Considerações finais
Se quisermos resumir a importância da educação clássica para o
desenvolvimento das práticas educacionais atuais, seja em seu período
específico ou por meio da herança deixada a nós, devemos nos
concentrar na valorização e no respeito ao conhecimento, ou seja, há
algo a ser aprendido. Daí o grande papel da filosofia naquele contexto.

Assim, formar o cidadão, nos tempos clássicos da Grécia e de Roma ou


atualmente, é permitir a ele o acesso ao conhecimento e às condições
para posicionar-se perante esse mesmo conhecimento e,
consequentemente, perante a sociedade em que vive.

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Rodrigo Rainha sobre a educação na Antiguidade e as influências em
nosso tempo.
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Para perceber como Sócrates acreditava que a maiêutica era a


melhor forma de instruir o aprendiz, vale conferir o filme Sócrates,
de Roberto Rossellini, de 1971.

Se quiser conhecer um pouco mais sobre Sócrates, leia o livro


Apologia de Sócrates, escrito por Platão, que foi seu discípulo.

Recomendamos o filme 300, baseado em HQ homônimo de Frank


Miller.

O artigo Paradigmas de educação na Antiguidade Greco-Romana,


de Manuel Alexandre Junior, na Universidade de Lisboa, traz
importante reflexão sobre o assunto.

Referências
ARANHA, M. L. de A. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna,
2000.

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. FBSP. Anuário brasileiro


de segurança púbica 2019. São Paulo: OSF, 2019.

JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MANACORDA, M. A. História da educação: da Antiguidade aos nossos


dias. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

SOUZA, N. M. M. (org.). História da educação: Antiguidade, Idade Média,


Idade Moderna, Idade Contemporânea. São Paulo: Avercamp, 2006.
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