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Filosóficos da
Educação
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dação em relação às coisas inerentes à vida humana.
Todos nós, portanto, apresentamos con-
dições de adotar um comportamento de cunho
filosófico, com o sentido explícito de buscar com-
preender “as raízes” do problema, suas causas pri-
meiras, a sua processualidade.
Em se tratando de Educação, a indagação
deve ser a mais rigorosa possível, principalmente
para dar sequência à nossa linha de raciocínio, que
elege a perspectiva histórica como a mais adequa-
da para compreendermos a trajetória do ser huma-
no no processo de construção da civilização.
Neste preciso momento, cabe-nos iden-
tificar os ideais educativos que estiveram pre-
sentes ao longo da história da humanidade, de-
marcando seus momentos mais significativos, de
forma a subsidiar a nossa compreensão da or-
ganização da Educação Brasileira, tema que será
tratado na seção 3 dessa unidade.
A educação grega
O ideal educativo grego, na origem, estava
expresso no termo “Paideia” (Paidos – criança), que
significa etimologicamente: “criação de meninos.”
Baseava-se, essencialmente, na ginástica, na
música e na gramática e atravessou três períodos, his-
toricamente conhecidos por:
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a) Período místico;
b) Período cosmológico;
c) período antropológico (clássico) (FER-
RO, op. cit., pág. 99), sendo que, a cada período,
corresponde uma determinada concepção de Edu-
cação, ou seja, um ideal educativo que orientava a
formação do Homem grego.
Como não se trata, no presente trabalho,
de esgotar os níveis de detalhamento de cada perí-
odo, faremos uma breve síntese de cada um, para
efeito de “marcar” o período e evidenciar o subs-
trato do processo educacional da época e extrair,
dali, o ideal educativo que iluminava as ações edu-
cacionais dos gregos.
Para o Período Mítico, por exemplo, iden-
tificamos, como fundamento da Educação, o de-
senvolvimento das qualidades morais e espirituais
dos homens nobres. A Educação, nesse caso, tinha
a função de produzir a força, a destreza e a capa-
cidade no guerreiro, através, principalmente, dos
poemas de Homero (FERRO, op. cit.).
A decadência do Período Mítico e, natu-
ralmente, do seu ideal educativo, decorrente das
transformações pelas quais passava a sociedade
grega, dá lugar ao Período Cosmológico, cuja ca-
racterística essencial consiste em desenvolver um
pensamento filosófico-científico, de modo a pro-
mover uma explicação racional sobre a origem e a
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ordem do mundo. Também conhecido como perí-
odo pré-socrático ou pré-filosófico.
Por fim, temos o Período Antropológico,
também conhecido como o pensamento filosófico
clássico, no qual a Educação “tinha por finalidade
a formação do cidadão grego, na sua totalidade,
conforme os princípios do seu tempo histórico.”
(FERRO, op. cit., pág. 103)
Como podemos perceber, desde a Grécia
Antiga, a Educação assume a característica e finali-
dade da sua época, para atender às perspectivas da
totalidade social que a engendra.
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econômico, sustentado pelo clero e pela nobreza,
no qual não poderia e não era necessário o desen-
volvimento da cultura e da ciência.
Uma fase de reconhecido obscurantismo,
na qual predomina o misticismo, a religiosidade
exacerbada e a perseguição aos que professam
doutrinas contrárias. Como em qualquer época, é
possível, didaticamente, subdividi-la para apreen-
der melhor as transformações que se processam
no seu interior.
Por isso, encontramos na historiografia
uma divisão do período medieval da seguinte forma:
• Período Apostólico – corresponde à
atuação de Jesus de Nazaré e dos apóstolos, com a
missão de apregoar a “boa nova”.
• Período Patrístico – relacionado ao
trabalho dos primeiros padres da Igreja, no qual
procuram conciliar a cultura greco-romana com o
Cristianismo. (FERRO, op. cit., pág. 124)
• Período Monástico – relacionado aos
“monges”, ascetas que, refugiados na solidão, de-
dicavam-se a Deus, por intermédio de orações e
“exercícios piedosos” (idem).
• Período Escolástico – que representa
a última fase da Educação Cristã e caracteriza-
-se pelo desenvolvimento e transmissão do saber
oriundo das sete artes liberais: Trivium (Lógica,
Gramática e Retórica) e Quadrivium (Aritméti-
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ca, Música, Geometria e Astronomia). Tomás de
Aquino é o grande expoente deste período, que
merece maior aprofundamento, para melhor com-
preensão da época.
O modelo educacional correspondente,
portanto, só poderia ser doutrinário, no sentido de
formar o homem temente a Deus e, consequente-
mente, aos seus representantes na vida terrena.
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Quando se fala de uma escola em que
as crianças são respeitadas como seres humanos
dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e
limites, logo pensamos em concepções moder-
nas de ensino. Também acreditamos que o di-
reito de todas as pessoas – absolutamente todas
– à Educação é um princípio que só surgiu há
algumas dezenas de anos. De fato, essas ideias
consagraram-se apenas no século 20, e assim
mesmo não em todos os lugares do mundo.
Mas, já eram defendidas em pleno século 17 por
Comênio (1592-1670), o pensador tcheco que é
considerado o primeiro grande nome da moder-
na história da Educação.
A obra mais importante de Comênio,
“Didactica Magna”, marca o início da sistema-
tização da pedagogia e da didática no Ociden-
te. A obra, à qual o autor dedicou-se ao longo
de sua vida, tinha grande ambição. “Comênio
chama sua didática de “magna” porque ele não
queria uma obra restrita, localizada”, diz João
Luiz Gasparin, professor do Departamento de
Teoria e Prática da Educação da Universidade
Estadual de Maringá. “Ela tinha de ser grande,
como o mundo que estava sendo descoberto
naquele momento, com a expansão do comér-
cio e das navegações.”
No livro, o pensador realiza uma ra-
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cionalização de todas as ações educativas, indo
da teoria didática até as questões do cotidiano
da sala de aula. A prática escolar, para ele, de-
veria imitar os processos da natureza. Nas rela-
ções entre professor e aluno, seriam considera-
das as possibilidades e os interesses da criança.
O professor passaria a ser visto como um pro-
fissional, não um missionário, e seria bem re-
munerado por isso. E a organização do tempo
e do currículo levaria em conta os limites do
corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto
dos professores, de ter outras atividades.
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a ciência pautada na observação, na experiência
e na releitura dos clássicos antigos.”
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listas (Estados Unidos, por exemplo). A universa-
lização da escola pública.
• A eclosão de grandes Guerras Mundiais.
• A fragmentação e especialização do co-
nhecimento, com profunda repercussão no desen-
volvimento dos Currículos Escolares formais.
• O processo de globalização da econo-
mia e a consequente desnacionalização dos esta-
dos capitalistas.
• A consolidação da burguesia como clas-
se hegemônica (no mundo).
• O surgimento de organismos interna-
cionais no comando das economias globalizadas.
• A consolidação das doutrinas liberais
(Neoliberalismo e Estado mínimo).
• A vinculação da Educação à formação de
mão de obra qualificada, para o mercado de trabalho.
• A eclosão de movimentos sociais reivin-
dicatórios de melhor qualidade de vida da popula-
ção, principalmente a trabalhadora.
• Mais atual, a mobilização das popula-
ções dos países árabes, no sentido de derrubar as
ditaduras incrustadas no poder há décadas (com o
apoio dos países ricos ocidentais).
É nesse contexto, após essa breve retros-
pectiva, que se constrói um sistema educacional
“nacional”, cujas diretrizes políticas e sociais, evi-
dentemente, não poderiam deixar de seguir os di-
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tames das políticas internacionais, sob os auspícios
da globalização da economia colonialista.
Por isso, passaremos a verificar como se
dá a construção de um “Projeto Pedagógico” para
um país que se caracterizou, historicamente, pela
inserção subordinada às regras da economia (Ca-
pitalismo) internacional. Vejamos, pois, a seguir:
3 - Construção
Histórica da
Educação Brasileira
“Não basta saber ler que Eva viu a uva. É
preciso compreender qual a posição que Eva
ocupa no seu contexto social, quem trabalha
para produzir a uva e quem lucra com esse
trabalho.” (Paulo Freire)
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porém, que tais indicações temporais não po-
dem ser entendidas de maneira compartimen-
talizada, como se fossem fases que existiram
isoladamente.
Ao contrário, é preciso entender que as
transformações no processo educacional brasi-
leiro dão-se no contexto dos embates políticos
e econômicos travados entre a Colônia e a Me-
trópole e fazem parte das contradições internas
da organização social do país. Logo, as refor-
mas educacionais que se sucederam historica-
mente, refletiram esses embates e aconteceram
de forma processual, coexistindo, a nova pro-
posta, com o tradicionalismo e reacionarismo
da anterior. Aliás, esse fenômeno está sempre
presente nos momentos de transformação so-
cial: o novo, que está para nascer, coexistindo
com o velho, que insiste em se perpetuar.
Passaremos, agora, a identificar esses
momentos (essas fases) peculiares da História
da Educação Brasileira. A historiografia registra
os seguintes períodos:
• Período Colonial.
• Período Imperial.
• Primeira República.
• Segunda República.
• Ditadura Militar de 1964.
• Educação Contemporânea.
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Veremos, a seguir, as características bá-
sicas de cada período. (Recomendamos o apro-
fundamento dos estudos sobre esse tema, na
produção historiográfica nacional).
Período Colonial
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minação portuguesa.
• Os jesuítas foram expulsos do Brasil em
1759, pelo Marquês de Pombal, primeiro-ministro
de Portugal, posto que, a sua atuação não estava
condizente com o novo Homem pensado pelos
ideais iluministas, que deveria ser um homem de
negócios e, consequentemente, subordinado aos
interesses da burguesia, de quem o primeiro-mi-
nistro era ardoroso defensor. É assim, que passa-
mos ao próximo período denominado:
Período Imperial
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• Segundo FERRO (op. cit., pág. 40):
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Primeira República (1889-1930)
• Período que se caracteriza pela complexi-
ficação da sociedade brasileira, em função do desen-
volvimento da economia nacional e, principalmente,
pela formação de novas camadas sociais fundamen-
tais: a burguesia industrial e o proletariado.
• O cenário internacional é de extrema
competição, conjugada com crises cíclicas do
modo capitalista de produção, o que agrava a bus-
ca por mercado, pelos países produtores, e exa-
cerba-se, no plano interno, um forte sentimento
de nacionalismo, inclusive nos meios intelectuais
ligados à Educação.
• Movimentos de educadores, identifica-
dos como “otimismo pedagógico” e “entusiasmo
pela Educação”, acreditavam que, por intermédio
da escola, era possível reformar a sociedade. Veja-
mos como essa ideia foi recebida na:
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os princípios liberais da Educação, propondo uma
escola pública, universal, laica, obrigatória e gratui-
ta, superadora do dualismo educacional (uma es-
cola para ricos e uma escola para pobres) e adepta
da coeducação (para ambos os sexos).
• Para os integrantes do movimento da
Escola Nova, o Estado deveria se responsabilizar
pela Educação. Esta, por sua vez, não poderia se-
guir os moldes da Educação “tradicional”, livresca,
autoritária e baseada na memorização e na centra-
lização da figura do professor.
• Essa discussão é significativamente im-
portante para a Educação contemporânea, pois, em
que pese o grande desenvolvimento vivenciado pelo
Brasil, a partir do século XX, as questões educacio-
nais ainda caminham no sentido do embate mani-
queísta entre a “escola tradicional” e a “escola pro-
gressista”, para o qual ainda não se apresentou uma
solução verdadeiramente eficaz. Vejamos os ideais
educacionais do período ditatorial militar brasileiro.
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tar apresentou uma proposta de Educação baseada
no que ficou conhecido como “tecnicismo educa-
cional”, uma vez que buscava a excelência em efici-
ência e produtividade, no plano do Ensino Médio, o
que ficou explícito com a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – LDB 5692/71.
• É neste período, também, que se verifi-
ca a interferência dos Estados Unidos na política
educacional, por intermédio dos acordos de coo-
peração entre o MEC e a Agency for Internatio-
nal Development (AID), nos anos 60 do século
XX. Vejamos, a seguir, o que podemos extrair de
características essenciais da Educação, que cha-
mamos de “contemporânea”.
Educação Contemporânea
Esse termo foi designado, neste trabalho,
para representar o tipo, ou os tipos, de Educação
desenvolvido(s) no Brasil, a partir do processo de
redemocratização da sociedade, que acontece a
partir dos anos 80, com lutas intensas da popula-
ção para que se procedesse à escolha democrática
do Presidente da República e demais representan-
tes do Legislativo brasileiro.
Corresponde, também, ao período atual
que estamos vivenciando, e no qual percebemos
que os grandes embates históricos continuam,
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com as suas contradições e as suas demandas, e,
por incrível que pareça, ainda não encontram res-
postas definitivas para o processo educacional que
a sociedade (ou uma parcela dela) exige.
A verdade é que, no modo de produção
capitalista contemporâneo, os sistemas educacio-
nais (público e privado) continuam existindo sob
uma forma dual, reproduzindo o modelo social
excludente existente e incapazes de superar a má
qualidade de ensino oferecida aos alunos, usuários
dos serviços do Estado.
Mesmo assim, a discussão continua. A
busca por uma escola de qualidade, pública ou pri-
vada, suscita grandes debates nacionais e interna-
cionais, e a produção teórica na área da Educação
permanece intensa e incansável.
É o que veremos na unidade 4, com o
estudo dos fundamentos da Psicomotricidade e a
sua importância para a prática pedagógica.
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