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MANUEL PINTO e MANUEL JACINTO SARMENTO
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AS CRIAN.ÇAS
CONTEXTOS E IDENTIDADES

Os textos recolhidos neste volume foram produzidos por investigadores


ligados ao Projecto de Investigação sobre a Infância em Portugal
(PIIP)

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UNIVERSIDADE DO MINHO
Centro de Estudos da Criança
1997
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As crianças e a intâr a:
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A VISIBILIDADE SOCIAL DA INFÂNCIA E DAS CRIANÇA~
. --61
As crianças e as problemáticas associadas àiif~-
estão na ordem do dia das agendas política, mediá~,-
Investigação..Ainda que a actual visibilidade do fenómen~
social da Infância tenha uma dimensão internacional~e o
lmedlatamentepercepcionável no impacto público ~. ac
ções dramáticas envolvendo crianças, como a da ,esco .•
berta da rede pedóflla da Bélgica, a situação de morte pela
fome de milhões de crianças vítimas de conflitos a~ma _ ,
perseguições étnicas ou catástrofes naturais - em . ai
há Indicadores especrficos que assinalam aentrac:m-~s.~
,<:oodlçãe.Sc:sociais.de·vida'da~.-'crian-ças
c no, lmivefs4F·<:t4s•
.referências quotidianas. Assim, a tftulo de exlemplo, P\Jõem· -
considerar-se sintomáticos da crescenteemergênda da~
infância na cena social, entre outros, tenómenoae situa-
ções como a proclamada intenção governamental cria- di
ção do lugar de Provedor(a) da Criança, a inusitada im~
tância rnedíátlca atribufda às crianças, com sucessiv~ro~
gramas de televisão dedicados às problemáticas da ~ânc.iA.
(na Primavera de 1997, os princiP~is canais de televisã~

1 Professores Auxiliares do Instituto de Estudos àfl Criança, da Universi-


dade do Minho.
Ir'
/ Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

disputaram as audiências dos programas informativos com A decidida entrada das crianças e da infância na
, programas sobre crianças vítimas de maus-tratos, em situa- agenda da opinião pública e dos sistemas periciais produ-
ção de risco de exclusão social ou em situação de pré- tores de conhecimento sobre a sociedade não pode deixar
-delinquência ...), o debate judicial em desenvolvimento de ser senão a expressão da relevância social da infância
sobre a responsabilidade criminal de crianças e adolescen- neste final do século.
tes e as reformas judiciais em curso nessa área, as suces- Com efeito, crianças existiram sempre, desde o pri-
sivas denúncias de situações da abandono e maus-tratos meiro ser humano, ea Infância como construção social
# infantis, de que são paradigmáticos os casos das crianças - a propósito da qual se construiu um conjunto de repre-
cigan~s de Oleiros-Briteiros e dos meninos de rua das gran- sentações sociais e de crenças e para a qual se estrutura-
des cidades, etc. ram dispositivos de socialização e controlo que a instituiram
Também no campo investigativo, o estudo das crian- como categoria social própria - existe desde os sécu-
" ,ças, a partir da década de 90, ultrapassou os tradicionais los XVII e XVIII (a propósito disto, conferir o capítulo 1).
limites da investigação confinada aos campos médico, da Nada poderia, por consequência, explicar esta atenção
psicblogia do desenvolvimento ou da pedagogia, para con- recente em todo o mundo (Cf. Qvortrup, 1995) não fora o
.sfderar o tenórneno social da infância, concebida como facto dos tempos actuais introduzirem novas circunstâncias
uma categoria social autónoma, analisável nas suas rela- e condições à vida das crianças e à Inserção social da
• =ções com a acção e a estrutura social. Deste modo, a infância.
partir do infcio da década assiste-se, em Portugal, ao
surgimento dos primeiros relatórios que consideram PARADOXOS DA INFÂNCIA
~ aspectos específicos da situação social da infância no
nosso país, nomeadamente sobre a pobreza infantil As circunstâncias e condições de vida das crianças são,
(Silva, 1990), o trabalho infantil (Instituto de Apoio à contemporaneamente,enquadráveis naquilo que tem sido uma
CriançalCNASTI, 1996), as crianças vítimas de maus- das mais constantes facetas da infância: o carácter parado-
-tratos (Almeida, 1997), os direitos da criança (Comité dos xal como elas são consideradas pela sociedade "dos adul-
Direitos da Criança, 1996), ou, no âmbito da sociologia tos". As crianças são tanto mais consideradas, quanto mais
da famflia, sobre a condição da Infância (Wall, 1996). Ao diminui o seu peso no conjunto da população. Este Indicador
mesmo tempo, a investigação académica é responsável demográfico, particularmente presente nos pafses ocidentais,
'. pela produção de teses de doutoramento e de mestrado por efeito coordenado do aumento da esperança de vida e
que são, de algum modo, inaugurais, pelas articulações da regressão da taxa de fecundidade, constitui, na verdade,
que fazem da infância com áreas diversas da acção o principal e decisivo facto r da importância crescente da
social, tais como os media ou os padrões de socíaüzação infância na sociedade contemporânea. Dlr-se-la que o mundo
.familiar, etc. (e.g., Pinto, 1995; Almeida; 1994; Castro, acordou para a existência das crianças no momento em que
1995; Sebastião, 1995). Além disso,· é notório que as elas existem em menor número relativo.
• publicações sociológicas dedicam actualmente uma muito Outros factores, porém, se associam a este indicador
maior atenção às problemáticas da infância, testemunhada principal, também eles paradoxais .. Desde 1989 que, com a
pela publicação cada vez mais frequente de artigos do aprovação pelas Nações Unidas da Convenção dos Direitos
.âmbito da sociologia da infância, o" quê Constitui uma da Criança, as crianças viram consagrada de forma sufi-
"importante mudança perante um passado próximo onde cientemente clara e extensa um conjunto de direitos funda-
tal publicação era inexistente. mentais, próprios e inalienáveis; no entanto, essa proclama-
Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

ção, a que se vieram a associar praticamente todos os larem que deve ser dada a prioridade às crianças, mas
países do mundo, não apenas não foi suficiente para garan- cada vez mais as decisões paifticas e económicas com
tir uma melhoria substancial das condições de vida das efeito na vida das crianças serem tomadas sem as ter
crianças, como, pelo contrário, não cessam de se intensifi- em conta; no facto de haver uma maioria de adultos que
car factores que fazem das crianças o grupo etário onde há defende que o melhor para as crianças é que os -seus
mais marcados indicadores de pobreza, como se têm agra- pais assumam a maior quota-parte de responsabilidade
vado alguns sinais das crianças como o grupo etário mais por elas, ao mesmo tempo que as condições estruturais
sujeito a situações específicas de opressão e afectação das para o fazer são reduzidas; no facto de os adultos con-
'.
~:
condições. de vida (as crianças são as principais vrtimas cordarem que deve ser dada às crianças a melhor inicia-
dos conflitos contemporâneos, da "guerra das cidades" da ção à vida, ao mesmo tempo que as crianças permane-
Bosnia-Herzgovina, às guerras civis ou regionais da África; - cem longamente afastadas da vida social; no facto de os
há um crescimento significativo de crianças vftimas da SIDA; adultos concordarem em geral que as crianças devem ser
, intensifica-se em certas regiões do globo a prostituição educadas para a liberdade e a democracia, ao mesmo
i J infantil associada ao "turismo sexual"; não apenas não foi tempo que a organização social dos serviços para a
1· Jxtinto como se intensifica em alguns países o trabalho infância assenta geralmente no controlo e na disciplina;
f !
, I;i infantil; há um significativo recrudescimento em alguns no facto de, sendo as escolas consideradas pelos adultos
países muçulmanos da excisão praticada em crianças; os como Importantes para a sociedade, não ser reconhecido
ii "meninos de rua" em algumas cidades não apenas aumen- como válido o contributo das crianças para a produção
tam como são vrtimas de perseguição e assassinato; recru- do conhecimento; no facto de, em termos materiais, a
III,
11
desce a miséria e a fome nas zonas degradadas dos subúr- infância ser importante para a sociedade, mais do que
II bios ou nas inner cities das grandes cidades, etc.). para os próprios pais, ao mesmo tempo que a sociedade
11 As inconsistências da agenda polftica da Infância deixa a maior parte das despesas ao cuidado dos pais e
n"i (Sgritta, 1997) são a expressão desse paradoxo maior de das crianças (Ovortrup, 1995:9).
:! às crianças ser atribuído o futuro do mundo num presente Do mesmo modo, relativamente à instituição escolar,
!~
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-;
de opressão. Esta condição é constitutiva da infância como os comportamentos infantis são -geralmente..compatíveis com
'i categoria social e exprime-se quer no respectivo estatuto a consideração paradoxal da infância, o que sé exprime em
::
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r: social, quer ainda no valor que lhe é atribuída pela tnstltul- situações como as que Calvert identifica:
-li .I!
ção criada por excelência para a infância: a escola.
-li _âuanto ao estatuto social, a condição paradoxal ex- "As crianças são importantes e sem importância;
!i
;: prime-se, como sumaria Jens Ovortup, no facto de os espera-se delas que se comportem como crianças mas
iII adultos desejarem e gostarem das crianças, apesar de são criticadas nas suas infantilidades; é suposto que
"
i) "produzlrem" cada vez menos crianças e cada vez dispo- brinquem absorvidamente quando se Ihes diz para brin-
: ii rem de menos tempo e espaço para elas; no facto de os car, mas não se compreende porque não pensam em

:
li
li
adultos acredítarern que é bom para as crianças e os
pais estarem juntos, mas cada vez mais viverem o seu
parar de brincar quando se Ihes diz para parar; espera-
-se que sejam dependentes quando os adultos prete-s
II quotidiano separados uns dos outros; no facto de os
adultos valorizarem a espontaneidade das crianças, mas
rem a dependência, mas deseja-se que tenham um
comportamento autónomo; deseja-se qUE;! pensem por
i
. as vidas das crianças serem cada vez mais submetidas si próprias, mas são criticadas pelas suas 'soluções'
1 às regras das instituições; no facto de os adultos postu- originais para os problemas" (clt. in Pollard, 1985: 39).

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Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

Podemos, agora, considerar que a visibilidade contem- AS "IDADES" DA INFÂNCIA


porânea da infância é, ela próp-ria, paradoxal: ao falar-se
(e ao estudar-se) as crianças, produzem-se, na ordem do Em que limites etários se define o ser criança?
discurso e na ordem das políticas sociais, efeitos contradi- . Se re:lativamente ao início etárlo do ser que se integra
tórios, que resultam da extrema complexidade social da na Infância poderá haver poucas dúvidas - ser criança
infância e da heterogeneidade das condições de vida. Por começa quando se nasce - nem aqui o consenso é total.
exemplo, a denúncia do trabalho infantil, constituindo em si Com efeito, a investigação sobre a formação pré-natal e a
mesma uma _meritória iniciativa social, pode desencadear vida no útero materno tem cada vez mais intensamente
processos sociais de repressão das famflias e das crianças evidenciado a existência de reacções do nascituro aos
(e não apenas, como é justo, dos empregadores de mão- estr~ulos externos (e, particularmente, à voz materna) que
-de-obra infantil), que, sem uma alteração substancial das conflgu~am uma situação de existência humana, que, -ape-
condições sociais, económicas e culturais, onde se funda ~
..
sar de Incompletamente formada, não deixa de colocar a
a exploração do trabalho das crianças, pode resultar em questão dos direitos que lhe são inerentes.
sítuações de vida mais difíceis ainda ou na promoção de Mas o problema dos limites etários da infância adensa-
formas de trabalho (como, por exemplo, o trabalho domici- -se q~andO se procura estabelecer a idade a partir da qual
!iário) eventualmente mais opressivas e perante as quais se deixa de ser criança. Relativamente a este problema, a
há menos disponibilidade de resposta social. Por exemplo, tradição jurídica inaugurada pela Convenção dos Direitos da
ainda, a polémica em curso sobre os eventuais efeitos ne- Criança considera como criança todo o ser humano até aos
fastos da programação televisiva não apenas tem normal- 18 anos, salvo se, nos termos da lei, atingir a maioridade
mente ignorado o conhecimento produzido sobre os modos mais cedo (Artigo 1.2 da Convenção). Estabelece-se, deste
de apreensão e reinterpretação das imagens da televisão modo, uma equivalência entre ser criança e atingir a pleni-
pelas crianças, como a focalização dominante se orienta tude dos direitos cívicos (por exemplo, poder votar).
pela perspectiva de temáticas como o serviço público de - .Outras tradições, e outros contextos sociais também
televisão, os valores sociais ou as expectativas das famí- estabelecem, porém, outros limites. '
lias, mas não pela qualidade das crianças como espectado- A entrada na puberdade é, em algumas comunidades
res, isto é, como actores de pleno direito. etnias e culturas, considerada como o fim da infância e o
Aliás, no discurso público, seja ele o da linguagem início da adultez, com li consequente entrada num universo
corrente, ou o dos sistemas periciais, a natureza paradoxal novo .de.direito.s e deveres, como, por exemplo, o de poder
da infância reflecte-se também na controvérsia e no debate constituir famflla ou o de participar na constituição da eco-
.. ~ nomia familiar.
sobre diferentes perspectivas, imagens e concepções de
infância. Esta controvérsia, no domínio da investigação, . A tradição dos estudos psicológicos tende, depois de
não está apenas associada à "normal" disputa entre para- Plaqet, ~ estabelec?r a diferença entre os períodos pré-
digmas, entre disciplinas ou entre correntes teóricas e -operatórlo, operatóno concreto e das operações formais o
rnetodológicas. Ela é inerente à própria construção do que, para alem de fazer coincidir os limites da infância e da
objecto, isto é, ao que se entende por infância. Confronta- adoles~~cia, em.média, na entrada na puberdade (tal como
remos diferentes perspectivas por relação com os limites na tradição anterior), permite fazer centrar esses limites nos
etários da irlfância, a definição dos direitos das crianças, a indlvíduosreer ou não criança é diferenciadamente vivido
questão das "culturas da infância" e os Iactores de homo- po.r cad~ um de modo distinto (para além de que, como a
geneidade social e de heterogeneidade entre as crianças. pslcanálise sublinhou, a criança permanece como "o pai do

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Máfluel Jacinto Sarrnento e Manuel Pinto As ctisnçes e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

homem", manifestando-se continuamente na idade adulta desses limites não é uma questão de mera contabilidade
de cada ser humano). jurídica, nem é socialmente indiferente. Pelo contrário, é uma
Em contrapartida, a idade legal de entrada no mer- questão de disputa polftica e social, não sendo indiferente ao
cado de trabalho constitui a fronteira a partir da qual, na contexto em que se coloca, nem ao espaço ou ao tempo da
economia e na legislação de trabalho, se deixa de referir sua colocação. Assim "ser criança" varia entre sociedades,
a condição infantil. Sendo esta actualmente em Portugal culturas e comunidades, pode variar no interior da fratria de
(à semelhança dos países da Organização Internacional do uma mesma famflia e varia de acordo com a estratificação
Trabalho) os 16 anos (tendo passado, nos últimos anos dos social. Do mesmo modo, varia com a duração histórica e
}
14 -para os 15 e dos 1S. para a idade actual), é aqui que com a definição instituciona!da infância dominante em cada
se estabelece tal fronteira. Do mesmo modo, é aos 16 anos épOca. .
que i.a tradição jurídica estabelece a imputabilidade de Tal como afirma Bob Franklin:
menores, ainda que faça a destrinça entre os comportamen-
tos delinquentes até e depois dos 12 anos. "A infância não é uma experiência universal de
• Instituição essencial na determinação da infância e dos qualquer duração fixa, mas é diferentemente cons-
respectivos limites etários é a escola. Ainda que a infância truída, exprimindo as diferenças individuais relativas à
seja referida apenas para as crianças até aos 6 anos inserção de género, classe, etnia e história. Distintas
(a expressão aparece em sintagmas como Jardim de Infân- culturas, bem como as histórias individuais, constroem
cia ou Educadora de Infância), a distinção de níveis ou diferentes mundos da infância." (1995:7)
ciclos de escolaridade constitui um indicador mais abran-
gente. Assim, a escola primária corresponde a uma das Sendo, porém, o estabelecimento dos limites da infância
fronteiras possíveis: a escola primária como escola das uma questão que se prende com a restrição e (ou) o esta-
crianças, a escola básica pós-primária como escola dos belecimento de direitos, este é um terreno em que a contro-
adolescentes e a .escota secundária como escola dos vérsia jurídica, científica ou social não é de modo nenhum
jovens. Outra forma de situar a fronteira é a que estabelece indiferente. Pelo contrário, a luta pelo estabelecimento dos
o fim da infância no término da escolaridade compulsiva limites da infância é, em si mesma, uma das componentes
(Cf. Qvortrup, 1995:15), o que arrasta a curiosidade de do processo de construção social da infância, tome-se esse
considerar esses limites, quanto ao espaço, diferenciada- processo numa perspectiva sincr6nica ou diacr6nica. Em
mente em Portugal e na Espanha ou na maior parte dos consequência disto, parece relevante considerar-se, mais do
outros pafses da União Europeia, e, quanto ao tempo, -taz que qualquer limite .arbitrário,a .controvérsla dos limites como
com que um rapaz ou uma rapariga que tenha entrado na '.::., constitutiva da infância, enquanto categoria social. Do mesmo
escola em 1986 tenha sido criança até aos doze anos, e modo, numa perspectiva· de alargamento e extensão dos
um oU uma outra que tenha entrado em 1987 ainda possa direitos, o artigo 1.9. da Convenção dos Direitos das Crianças
ter sido criança até mais tarde, ao perfazer 15 anos, tudo parece poder ser consensualmente aceite como referencial.
isto por efeito da Lei de Bases do Sistema Educativo.
O exemplo anterior é elucidativo da arbitrariedade da ;1 A QUESTÃO DOS DIREITOS
!
definição dos limites etários impostos à infância. No entanto, !
~.
considerando que esta categoria social se estabelece por Apesar da aprovação da Convenção dos Direitos das
efeito exclusivo da idade (e não da posição social, da cultura
1
1. Crianças ter constituldo um generoso esforço colectivo no
ou do género), podemos considerar que o estabelecimento sentido de esclarecer e estabelecer esses direitos e de, na
Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

sua génese, haver uma preocupação da comunidade inter- Outra questão é a da substância dos direitos da criança.
nacional sobre a situação de opressão das crianças, a A tradicional distinção entre direitos de ~rõtec;. (do nome,
verdade é que, como afirma Giovanni Sgritta: da identidade, da pertença a uma nacionalidade, contra a
discriminação, os maus-tratos e a violência dos adultos, etc.) ,
" ...asdesigualdades e a discriminação contra as dero-vis-o (de alimento, de habitação, de condições de
crianças não apenas não acabaram nestes anos em saúde e assistência, de educação, etc.) e de pa~iCipaçãEf
que a Convenção foi aclamada por muitos países como (na decisão relativa à sua própria vida e à direcção das
um novo signo de civilização e de progresso, como instituições em que actua), constitui uma estimulante opera-
estão actualmente em crescírnento." (Sgritta, 1997:6). ção analítica. Ela permite, quando aplicada à investigação do
estado de realização dos direitos, comprovar, por exemplo,
ESta si uaçãoevE:!-se,--el'l'l' que entre os três p, aquele sobre o qual menos progressos
realidade soeial "ao e rans-erma o ef.eJt se verificaram na construção das políticas e na organização
p-tJbli çao normas ]oríâica -, s -esig Idades e...adís- e gestão das instituições para a infância (e, em particular,
cnmloaçãG Ganira (e en re)-as crlal'lc:as:as-:SBlllam estru- nas escolas - cf. Jeffs, 1995) é o da participação.
tura social, pelo que a proclamação dos direitos, pese Não obstante, a distinção analfticanão apenas pode
embora o seu interesse e alcance, constitui, no quadro da - gerar uma hierarquia de direitos onde é fácil passar a ~stra-
manutenção dos factores sociais de desigualdade e díscrl- tificação social (Sgritta, 1997:4), como favorece uma per-
minação, uma operação com acentuada carga retórica, de cepção errónea da própria natureza desses direitos. Com
efeitos em grande medida ilusórios. Acresce a isso que a efeito, a interdependência dos diferentes direitos é a condi-
própria Convenção contém no seu articulado ambiguidades ção da sua própria realização. Não se vê, por exemplo, como
que têm conduzido a algumas inconsequências na realiza- garantir a participação das crianças nas polfticas de escola e
ção das medidas políticas e económicas necessárias à con- na definição das respectivas lógicas de acção, se se não
eretização desses direitos. garante a provisão educacional aferida por critérios de qua-
Em última análise, a inobservância dos aspectos funda- lidade, em que o principal é, precisamente, a garantia do
mentais dos direitos das crianças repousa no cruzamento de direito de participação em condições reais de igualdade e
variáveis económicas, sociais e culturais. O nível de desen- não discriminação.
volvimento económico de um pafs, está, em geral, positiva- A questão densíflca-se se considerarmos que .0 con-
mente correlacionado com a satisfação dos direitos básicos. junto de direitos associados à participação. é objecto de
No entanto, não existe aqui uma determinação directa: é em alguma controvérsia social. Segundo uma linha de pensa~-
alguns dos países com maiores índices de desenvolvimento mento paternalista, as crianças nccessltarn de protecção,
económico que se encontram maiores discriminações e desi- exactamente porque são incapazes de agir com maturidade
gualdades (e isto não é só válido para-os "tigres astátlcos", (ou mesmo, numa versão mais radical do paternalismo, com
mas também, por exemplo, para um país como OS Estados capacidade racional) por si próprias, num mundo semeado
Unidos da América). O sistema político (e, em particular, a de perigos e obstáculos. Deste modo, a participação - e
prevalênciadas concepções políticas liberais vis-e-vis as pers- autonomia que lhe é correlativa - é contraditória com a
pectivas da solidariedade social) e o modo como as crianças protecção necessária ao desenvolvimento da criança (sobre
são culturalmente percepcionadas afectam de modo igual- esta controvérsia, cf., e.g., Franklin, 1995: 10 e s.). Esta
mente positivo a realização dos respectivos direitos (sobre perspectiva, na qual não é possível deixar de ver a velha
isto,. cf. Sgritta, 1997: 7 e s. e ainda Franklin, Ed.,1995). teoria da criança como "homúnculo" - ser humano rninia-
I

Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

agir em sociedade e de atribuir sentido às suas acções, A


produção de sentido, ou, por outras palavras, a monitoriza-
ção reflexiva da acção, constitui um dos mais fecundos e
prolixos campos de produção cientffica em Ciências Sociais.
Isto não obsta, porém, a que os estudos da infância, mes-
mo quando se reconhece às crianças o estatuto de actores
sociais, tenham, geralmente, negligenciado a auscultação
da voz das crianças e subestimado a capacidade de atribui-
ção de sentido às suas acçõese aos seus contextos.
No entanto, o estudo das culturas da infância - com
extensão aos mundos de vida dos "adolescentes e jovens"
- não apenas não é uma extracção recente, como algu-
mas obras seminais - em particular no campo da Sociolo-
gia da Educação, da Antropologia Cultural e da História -
pagam o devido tributo ao estudo dos sistemas simbólicos
estruturados das crianças (Cf., e.g., Jackson, 1968; Willis,
1977/91).
Mais recentemente, a investigação antropológica tem
vindo entre nós a produzir um conjunto relevante de inves-
tigação em torno das culturas da infância na demanda do
que chama a "epistemologia da infância" (Iturra, 1997).
Coloca-se aqui a interessante questão de saber se as cul-
turas da infância radicam, como a expressão parece querer
significar, num sistema de construção de conhecimento e
de apreensão do mundo específico das crianças e alterna-
tivo (ou, pelo menos, diferente) do dos adultos. A questão
radica, por outras palavras, em saber se a produção das
culturas pela infância tem uma natureza estritamente social,
isto é, ocorre nas condições espectücas da acção social
AS CULTURAS DA INFÂNCIA das crianças no quadro das estruturas sociais em que se
Integram, ou se, mais latamente, essa produção cultural se
sustenta numa episteme, mesmo se esta é radicada na
.soctedade e na história. -
Esta é uma questão por explorar, e, como tal, perma-
nece em aberto..No entanto, posto que as culturas infantis
assentam nos mundos de vida das crianças e estes se
caracterizam pela heterogeneidade, a formulação da hipó-
tese da existência -de uma eplstémoloçla infantil não pode
pôr de lado, no mínimo, as diferentes realizações do pro-
Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo

domésticas, quanto às aspirações e~àsestratégias 1amilia-


res de mobilidade social, quanto à detenção de poder no
interior da fratria ou do contexto familiar, etc. Do mesmo
modo, não é indiferente, relativamente a todos asses .
aspectos, a pertença de uma criança à classe trabalhadora .
ou à classe média.
O estudo das crianças fora dos respectivos contextos
sociais de pertença poderia iludir numa categoria comum a
existência de diferenças essenciais à compreensão dos seus
modos diversos de agir socialmente. Parece por isso indis-
pensáveí considerar na investigação da infância como catego-
ria social a multivariabilidade sincrónica dos níveis e factores
que colocam cada criança numa posição específica na estru-
tura social. Em simultâneo, é necessário considerar os facto-
res dinâmicos que possibilitam que cada criança na interac-
ção com os outros produza e reproduza continuamente essa
estrutura. Preconiza-se, deste modo, uma perspectiva para a
inteligibilidade dos mundos de vida das crianças que não
ilude a natureza individual de cada ser humano, mas que a
considera no quadro relacional múltiplo e dinâmico que cons-
titui o plano da estrutura e da acção social.
A atenção indispensável aos tactores de heterogenei-
dade não pode, porém,· ocultar aquilo que, para além das
diferenças, contribui para considerar a infância como uma
categoria social. Conforme afirmamos anteriormente, a
infância, sendo uma categoria que se define pela idade, é,
FACTORES DE HOMOGENEIDADE no entanto, muito mais do que um simples conceito criado
E DE HETEROGENEIDADE para dar conta da totalidade das pessoas que ainda não
perfizeram a idade convencional de 18 anos. Há factores
A variação das condições sociais em que vivem às sociais especfficos, isto é, transversais à posição de classe,
crianças são o principal factor de heterogeneidade. Para ao género, à etnia ou à cultura, que permitem pensar a
além das diferenças individuais, as crianças distribuem-se infância como uma construção social, que se distingue dos
na estrutura social segundo a classe social, a etnia a: que outros grupos e categorias sociais, e que a caracterizam
pertencem, o género e a cultura. Todos.estes aspectos são como um "grupo minorltário", isto é com um status social
importantes na caracterização da posição social que cada inferior por relação com os grupos dominantes. e, portanto,
criança ocupa. Com efeito, não é indiferente ser-se rapaz com uma situação de exclusão da participação plena na
ou rapariga numa sociedade patriarcal, coni tudo o que isso vida social (cf. Qvortrup,1991 :15-6).
mobiliza quanto aos processos e modos de socialização, A distinção conceptual e terminológica entre infância,
quanto aos valores, quanto ao desempenho de actividades como categoria social que assinala os elementos de horno-
As crianças e a infância: definindo conceitos. delimitando o campo
Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto

geneidade deste grupo minoritário, e as crianças, como abordagens, que deixam na penumbra as crianças como
referentes empíricos cujo conhecimento exige a atenção aos seres plenos e na escuridão a infância como categoria social.
factores de diferenciação e de heterogeneidade, afigura-se Ao preconizar-se o estudo das crianças a partir de si
não como uma redundância ou uma subtileza analítica, mas próprias não se sustenta a abordagem solipsista das activi-
como uma necessidade incontornável na definição de um dades infantis nem se reclama o isolamento do objecto de
campo de estudos e de investigação. estudo. Pelo contrário, sustenta-se a indispensabilidade da
mobilização interdisciplinar capaz de compreender e inter-
AS CRIANÇAS A PARTIR DE SI PRÓPRIAS pretar a multivariabilidade dos factores que constroem a
infância. o que, outrossim, se defende é uma "autonomia
O que, porém, especifica esse campo de estudos emer- conceptual" (Qvortrup, 1991:17), que permita "examinar as
gente sobre as crianças é a focalização que se adopta, e. actividades da infância em si próprias e o tempo próprio
por consequência, o conjunto de orientações metodoló- das crianças como fenómenos de pleno direito." Questão de
gicas congruentes. Essa focalização reside, exactamente em focalização esta que exige uma construção conceptual
partir das crianças para o estudo das realidades de autónoma e que supõe a crítica dos conceitos tradicionais
Infância. Isto significa, no essencial, duas coisas: primeira, de abordagem da infância. Por exemplo, o conceito de "so-
que o estudo da infância constitui esta categoria social como cialização", que supõe a exteriorldade das crianças relativa-
o 'próprio objecto da pesquisa. a partir do qual se estabe- mente à sociedade onde os adultos as querem Integrar,
lecem as conexões com os seus diferentes contextos e cede o seu lugar a conceitos como os de controlo social
campos de acção; em segundo lugar, que as metodologlas dos adultos sobre as crianças e das crianças como actores
utilizadas devem ter por principal escopo a recolha da voz e na produção e reprodução cultural (cf. Zinnecker, 1997).
das crianças, isto é, a expressão da sua acção e da res- Além disso, o estudo das crianças a partir de si mes-
pectiva monitorização reflexiva. mas permite descortinar uma outra realidade social, que é
Relativamente ao primeiro dos aspectos considerados, aquela que emerge das interpretações infantis dos respec-
.importa referir que as crianças, desde a emergência e tivos mundos de vida. O olhar das crianças permite revelar
desenvolvimento das ciências sociais," não deixaram nunca fenómenos sociais que o olhar dos adultos deixa na penum-
de ser um referente e um objecto de estudo. Isto é válido, bra ou obscurece totalmente. Assim. interpretar as repre-
entre nós, sobretudo nos domfnios da psicologia do desen- sentações sociais das crianças pode ser não apenas um
volvimento, das ciências médicas (e da pediatria) e da meio de acesso à infância como categoria social. mas às
pedagogia (mesmo antes da emergência das ciências da próprias estruturas e dinâmicas sociais que são desoculta-
educação como ramo das ciências sociais). No entanto, a das no discurso das crianças. .
focalização adoptada centrava-se menos nas crianças como Relativamente às metodologias selecclonadas para
objecto do que nas crianças como pretexto, referente ou colher e interpretar a voz das crianças. os estudos etnográ-
1 ficos, a observação participante, o levantamento dos arte-
destinatário de processos que, esses sim, constitufam o I
factos e produções culturais da infância, as análises· de
verdadeiro objecto de estudo, fossem esses processos o da
estimulação do desenvolvimento individual,· o da prática
j conteúdo dos textos reais, as histórias de vida e as entre-
j vistas biográficas, as genealogias, bem como a adaptação
médica ou o da prática educativa. Os estados de desenvol-
vimento psicológico das crianças, a sua constituição corpo- dos instrumentos tradicionais de recolha de dados, como,
..ral e saúde, a escola e, sobretudo, a actividade de ensino- por exemplo. os questionários, às linguagens e iconografia
-aprendizagem constituem os pontos de focalização dessas das crianças, Integram-se entre os métodos e técnicas de
Manuel Jacinto Sannento e Manuel Pinto As crianças e a Infância: definindo conceitos, delimitando o campo

mais frutuosa produtividade investigativa. Porém, para além No ensaio sobre a infância como construção social,
da técnica, o sentido geral da reflexividade investigativa Manuel Pinto revê a literatura histórica e sociológica,
constitui um princípio metodológico central para que visi-tando os lugares onde ela se demorou para enunciar
o investigador adulto não projecte o seu olhar sobre as as linhas fundamentais que trazem até nós e aos nossos
crianças, colhendo junto delas apenas aquilo que é o dias as duas imagens da infância assinaladas por Aries
reflexo conjunto dos seus próprios preconceitos e represen- (1973), que, sendo continuamente reelaboradas e recons-
tações. Não há olhares inocentes, nem ciência construída a trufdas, permanecem desde a Idade Clássica como a fonte
partir da ausência de concepções pré-estruturadas, valores imaginária e simbólica da representação dessa realidade
e ideologias, O que se encontra aqui em causa é, por isso, social.
uma atitude investigativa, que, sendo comum às ciências No capftulo 2, Natália Fernandes Soares acompanha
sociais, é aprofundadamente teorízada no campo da Antro- desde a sua génese o movimento social que origino.u a
pologia Cultural (e.g., Geertz, 1973/1989 e 1995), de cons- formulação dos direitos da criança até à proclamação da
tante confronto do investigador consigo próprio e com a Convenção de 1989, debruça-se sobre o seu conteúdo e
radical alteridade do outro, que constitui o objecto de inves- sobre o estado de aplicação, para o que se socorre dos
tigação. A "autonomia conceptual" supõe o descentramento relatórios nacional e internacional e detém-se especialmente
do olhar do adulto como condição de percepção das crian- na controvérsia dos direitos, assinalando as respectivas
ças e de ínteligíbi-lidade da infância. posições e Ideologias, concluindo pela necessidade de uma
abordagem holfstica dos direitos.
Justino de Magalhães realiza, no capítulo 3, uma abor-
*
dagem histórica onde sinaliza as primeiras iniciativas de
* *
realização da educação de infância em Portugal, desta-
cando o modo como a escola e, em especial, o jardim de
Os textos que se apresentam nesta colectânea provêm infância, contribuiu para a institucionalização da infância como
de diferentes abordagens disciplinares e assentam em dis- realidade social.
tintas opções teóricas e metodolóqlcas. O que têm de A segunda parte apresenta alguns estudos empfricos
comum é o facto de se focalizarem nas crianças e na que utilizam metodologias que procuram captar os modos
Infância, procurando contribuir para a análise dos seus con- de representação da realidade pelas crianças.
textos de vida e para a sinalização das suas identidades. O capítulo 4 corresponde a uma investigação psicoló-
Mais do que um objecto constituída, correspondente às gica dos modos de tomada de consciência pela criança.
preocupações teóricas assinaladas atrás, apresenta-se aqui Numa perspectiva construtivista e ecológica, Pauta Cristina
uma problemática. No entanto, os estudos coligidos corres- Martins assinala os contextos e os processos e modelos de
pondem a contributos originais para a redefinição do campo realização do processo cognitivo e ge apreensão do mundo,
dos estudos da infância em Portugal, pela revisão a que utilizando como metodologia a observação de episódios de
procedem dos estudos precedentes ou pela reconstrução interacção entre crianças, e entre crianças e educadoras no
que fazem das respectivas áreas e contextos de acção das jardim de Infância.
crianças. No capítulo 5, Beatriz Oliveira Pereira e Carlos Neto
A primeira parte corresponde a estudos que realizam a investigam os tempos livres das crianças e, a partir de um
síntese teórica de questões centrais na construção da infân- inquérito por questionário, identificam os principais aspectos
cia como categoria social. inerentes aos modos contemporâneos de institucionalização
As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo
Manuel Jacinto Sarmento e Manuel Pinto

de um tempo que cada vez mais deixa de ser livre para se


tornar num tempo estruturado, condicionado e controlado BIBLIOGRAFIA
pelos adultos. ,
'.
No capftulo 6, uma equipa de investigadores a~resenta 1 ARIES,Philip (1973). L'Enfant et Ia Vie Famíliale sous I'Ancien Régime.
um estudo sobre a educação e o trabalho de. cnanças e
jovens do Vale do Ave inseridos num proçrama de e~uca- i Paris. Seuil.
ALMEIDA,
Ana Nunes de et aI. (1997). Os Maus Tratos às Crianças em
ção de 2.11 oportunidade. A análise das entrevistas biográ-
ficas realizadas permite sublinhar os modos como a esco!a
e o trabalho se cruzam no mesmo contexto de exclusao
l
~
Portugal. Relatório. Usboa. Instituto de Ciências Sociais/Centro
Estudos Judiciários.
ALMEIDA,Teresa Seabra de (1994). Estratégias de Socialização das
de

social e de supressão dos direitos das crianças, gerando


situações como o abandono escolar e o trabalho infan~1.
Os autores assinalam alguns sentidos para uma renovaçao
1
1
j
i
Famflias: dessee sociais e grupos étnicos. (Dissertação de Mestra-
do). Usboa. ISCTE (pollc.).
CASTRO,
José Luis (1995). Entre a Tutela e a Sobrevivência: Contextos
I
de práticas institucionais e de polfticas públicas necessárias 1 de Socialização e Traject6rias dos Meninos de Rua. (Dissertação

l
de Mestrado). Usboa ISCTE. (poüc.),
à construção plena dos direitos das crianças.
Comité dos Direitos da Criança (1996). Observações Rnais do Comité
• No seu conjunto, estes estudos assinalam um campo, l
dos Direitos da Criança sobre o Relatório relativo à aplicação, em
um pouco como as balizas que pontuam as fronteiras de Portugal, da Convenção. Revista Infância e Juventude, n.g 2: 9-14.
um território ou como as bóias que sinalizam um espaço
delimitado no meio do mar. Que este campo tem uma visi-
1 FRANKUN,Bob (1995). The case for children's rights: a progress reporto
In Bob Franklin (Ed.), The Handbook of Children's Rights. Compa-
bilidade crescente, assinalamo-Ia no infcio. Que o seu p~r-
curso (ou navegação, como se preferir) constitui hoje, nao 1 retive Policy and Practice. (3-22) London. Routledge.
FRANKUN,Bob (Ed.) (1995). The Handbook of Children's Rights. Compa-
apenas uma necessidade de investigação mas também um rative Policy and Practice. London. Routledge.
imperativo social, é eloquentemente sublinhado pelos estu- :\,
GEERlZ, Clifford (1973/1989). A Interpretação das Culturas. Rio de
dos coligidos. ! Janeiro. Guanabara. (Trad. port.),
j GEERTZ,Clifford (1995). After lhe Fact. Two Countries, Four Decades,
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