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Débora Sinclair
Tradução de Miriam Bonomi e
Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams
Sabemos que toda mulher é vulnerável a se tornar vítima da violência, mas não
há modo de prever quais mulheres o serão. Por que razão uma determinada mulher toma
uma ação protetora imediatamente após uma única agressão ao passo que outra sofre
agressões repetidas? Como terapeutas raramente atendemos mulheres que foram
agredidas apenas uma vez. Não temos estimativas no sentido de saber a quantas
mulheres isto acontece, pois é pouco provável que estas nos procurem para obter ajuda.
Atendemos, entretanto, a mulher que é agredida repetidamente. O que ocorre com tal
mulher antes do episódio de agressão que torna difícil a ela tomar iniciativas no sentido
de se proteger? O que acontece depois da agressão para mantê-la em uma posição de
vítima? Nossa experiência nos ensina que estas questões precisam ser respondidas antes
de se fornecer um atendimento eficaz.
1
Esse capítulo é parte do livro: Sinclair, D. (1985). Understanding Wife Assault. Toronto:
Publications Ontario. Reprodução parcial autorizada pelo autor. Capítulo traduzido
parcialmente.
2
Conroy, K. (1982). Long-term treatment issues with battered women. Em S. Flanza (Org.)
The Many Faces of Family Violence. (pp. 24-33). Springfield, Illinois: Charles C. Thomas.
A. B.
Crenças Sociais Recursos/Respostas
da Comunidade
C.
Experiência
Psicossocial da
Vítima
Todos nós crescemos com certos valores e crenças sobre o fato de sermos
homens ou mulheres: sobre casamento, divórcio, a privacidade do lar, a expressão de
afeto e de raiva. Alguns dos valores e crenças enraizadas em nossa sociedade são
elementos complicadores da vida da mulher agredida.
A privacidade do lar
Nossa sociedade ensina que a família é uma entidade sagrada e, portanto,
nenhum intruso tem o direito de nela intervir. Espera-se lealdade à família e acredita-se
que o que acontece atrás de portas fechadas é um assunto particular.
Pelo fato de o modelo familiar contendo um casal ser considerado ideal, muitas
pessoas acreditam que a família deva permanecer unida a qualquer custo. É atribuído
um valor mais alto à preservação da unidade familiar tradicional do que à segurança e
felicidade de seus membros individuais. Da mesma maneira, há uma crença de que a
criança precise da presença do pai dentro de casa, independente da qualidade do
relacionamento e dos riscos que ela encontre como resultado de sua presença no lar.
Culpar a vítima
1. para que você não caia na armadilha de culpá-la quando ela não conseguir fazer
mudanças tão rapidamente quanto você pensava que ela devesse fazer.
2. para que você saiba prepará-la para não culpar a si própria quando ela se confrontar
com obstáculos que retardem o seu progresso.
A maior parte dos funcionários que prestam serviço a mulheres agredidas tem
consciência da triste realidade econômica de seus clientes. Tal realidade inclui
condições tais como:
Moradia
9 Carência de Casa-Abrigo ou falta de um local que possa abrigá-las em uma
situação de emergência.
Emprego
decentes.
trabalho.
Creches
Serviços de Apoio
Polícia3
3
Desde 1983 a polícia da Província de Ontário foi instruída a tratar a agressão conjugal como
um crime e iniciar abertura de processo do mesmo modo que lidaria com uma agressão
provocada por um estranho.
Uma mulher chama a polícia para pedir ajuda em decorrência de seu marido
agressivo.
Resposta prejudicial: Não é dada prioridade a sua chamada. Muito mais tarde, quando
chegam os policiais, fica patente que eles não levam a situação a
sério. Um policial diz para o agressor, em frente da vítima:
“Calma, calma. Você sabe como são as mulheres... Mas o que foi
mesmo que ela fez?”
Médico
Uma mulher conta para seu médico que está com os nervos em frangalhos.
Resposta prejudicial: O médico está ocupado e sem vontade de sondar o que há por trás
da queixa do cliente. Ele prescreve uma receita de Valium e a
mulher recebe um tapinha condescendente nas costas. “Tudo vai se
ajeitar dentro de alguns dias, filha. Você só precisa tomar este
remédio e descansar mais”.
Uma mulher finalmente cria a coragem para contar para sua assistente social
sobre o abuso.
Resposta prejudicial: A assistente social ouve atentamente, mas sabe que há sempre
dois lados em uma história. Treinada para ser imparcial, a
assistente social procura pela resposta correta. “Você acha que fez
ou disse alguma coisa que possa ter contribuído para o ataque de
seu marido?”
Advogado
Uma mulher telefona a seu advogado dizendo que quer se divorciar de seu marido.
Resposta adequada: Após ouvir sua história, o advogado lhe faz uma explanação
sobre seus direitos legais, esclarecendo quaisquer informações
errôneas que a cliente possa ter recebido e a encoraja a
pensar com calma sobre suas opções legais. O advogado respeita
o tempo da mulher, deixando a porta entreaberta para futuros
questionamentos e solicitações que a cliente possa ter quando
estiver preparada.