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Manual de Combate

À VIOLÊNCIA CONTRA
A MULHER
Realização
O presente Manual resulta do trabalho dos estudantes do curso de Direito do Centro de
Estudos Superiores de Lábrea (Cesla/UEA), em colaboração com a Câmara Municipal
de Lábrea. Seu propósito é orientar e disseminar informações sobre a violência contra
a mulher, abordando as formas de identificação, seus tipos e a rede de apoio
disponível em Lábrea. Adicionalmente, serão apresentadas as ações empreendidas
pelo poder Legislativo Municipal para contribuir no combate a essas práticas.

Dessa maneira, almeja-se divulgar informações que possam auxiliar na defesa dos
direitos das mulheres, promovendo sua dignidade e respeito, assim como as formas de
assegurar tais prerrogativas.

Organizadores
Discentes: Franciclene César Da Silva, Glória Maria Souza Alencar, Luiz Ricardo
Norberto De Freitas, Marcelo Damasceno Rodrigues, Manoel De Jesus De Araujo
Bezerra e Dêmica Ferreira Da Costa Apurinã.

Docente: Thandra Pessoa de Sena

Colaboradores (Universidade do Estado do Amazonas)


Alison Monteiro Alves, Ana Luiza Amorim de Freitas, Anderson Alves Queiroz, Antônia
Paula Vasconcelos Leite, Breno Burili, Bruno Bento Da Silva, Cristiano Carlos Da Silva,
Daniel Da Silva Rodrigues, Denile Nascimento Ribeiro, Eduardo Clemente De Lima,
Elisson Da Silva Felix, Elizangela Braga Dos Santos, Erica Silva de Oliveira, Fabiane
Miranda De Oliveira, Geovani Marinho, Janete Castro Da Silva, Jessica Souza Da Silva,
Jheyk Jhonathan De Lima Freitas, Jose Lucas Marinho Da Silva, Katiane Da Costa Silva,
Kevin Braga Neves Massulo, Luan Almeida Dos Santos, Luidy Nascimento Do Vale,
Magale Cardoso Da Silva, Maria Eduarda Moreira Araujo, Maria Evely Orlanda Pereira,
Nazareno Crispim De Souza, Raimundo Nonato Lamego Da Costa, Salyni Cosmo De
Sales, Samara Said Da Silva e Vittor Falcão Camurça.

Lábrea, 2024
A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES:
Perspectiva atual
Na sociedade atual é crucial destacar que a violência contra a
mulher, em suas diversas formas, é um fenômeno abrangente e
complexo, transcendendo fronteiras geográficas e econômicas.

Mulheres de todas as idades, etnias e origens continuam a


experimentar situações de violência.

No contexto amazônico, essa realidade não é diferente, onde a


taxa de mortes violentas de mulheres na Amazônia Legal
ultrapassou em 34% a média nacional.¹

Destaca-se que essa problemática está disseminada por todo o


país, estendendo-se aos municípios brasileiros, como é o caso de
Lábrea.

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A violência contra a mulher pode ser entendida como:
“qualquer ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar
em danos ou sofrimentos físicos, sexuais ou mentais para as
mulheres, inclusive ameaças de tais atos, coação ou privação
arbitrária de liberdade, seja em vida pública ou privada”
Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher,
adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1993.

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Segundo o Instituto Maria da Penha (IMP, 2023), a
violência contra a mulher é composta por três fases que
se interligam, sendo elas: A primeira fase é chamada de
fase de tensão, seguida da fase de atos de violência
propriamente ditos e uma fase de arrependimento e
carinho posterior (terceira fase), conhecida também
como fase da “lua de mel”²
Fase 1 - Aumento da Tensão
Nesse primeiro momento, o agressor
mostra-se tenso e irritado por coisas Fase 2 - Ato de Violência
insignificantes, chegando a ter acessos
Esta fase corresponde à explosão do
de raiva. Ele também humilha a vítima,
agressor, ou seja, a falta de controle
faz ameaças e destrói objetos. Em geral,
chega ao limite e leva ao ato violento.
a vítima tende a negar que isso está
Aqui, toda a tensão acumulada na Fase
acontecendo com ela, esconde os fatos
1 se materializa em violência. Aqui, ela
das demais pessoas e, muitas vezes,
sofre de uma tensão psicológica severa
acha que fez algo de errado para
( i n s ô n i a , p e rd a d e p e s o, fa d i g a
justificar o comportamento violento do
constante, ansiedade) e sente medo,
agressor.
ódio, solidão, pena de si mesma,
#@%$ vergonha, confusão e dor. Geralmente,
há um distanciamento do agressor.

CICLO DA
VIOLÊNCIA

Fase 3 - Arrependimento e Comportamento Carinhoso


Também conhecida como “lua de mel”, esta fase se caracteriza
pelo arrependimento do agressor, que se torna amável para
conseguir a reconciliação. A mulher se sente confusa e
pressionada a manter o seu relacionamento diante da
sociedade, sobretudo quando o casal tem filhos. Período
relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por
constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando
também os momentos bons que tiveram juntos. Um misto de
medo, confusão, culpa e ilusão fazem parte dos sentimentos da
mulher. Por fim, a tensão volta e, com ela, as agressões da Fase 1.

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DIFICULDADES PARA QUEBRAR
O CICLO DA VIOLÊNCIA
Muita gente se pergunta por que é tão difícil para as
vítimas de violência saírem desse ciclo. Um dos
grandes motivos é a dependência emocional e
financeira do agressor.

Vamos falar mais sobre isso:


Dependência Financeira: Às vezes, as mulheres dependem totalmente do
dinheiro do agressor, o que complica muito sair dessa situação. A falta de
dinheiro pode limitar onde elas podem morar e como podem se sustentar,
deixando-as com medo de perder o jeito de vida que têm se denunciarem o
agressor.

Dependência Emocional: Outra coisa é a manipulação emocional, que é bem


comum em relacionamentos abusivos. Os agressores controlam as emoções
das vítimas, diminuindo a autoestima e confiança delas. Isso cria uma
dependência emocional, fazendo as vítimas acharem que não conseguem
tomar decisões sozinhas ou sair do relacionamento. A pessoa acaba com
medo de ser abandonada e tenta salvar o relacionamento a qualquer custo,
acreditando que o parceiro vai mudar e as coisas vão se resolver por conta
própria, o que quase nunca acontece.

Por isso, não basta só falar para as mulheres denunciarem. É importante oferecer apoio
para que elas consigam sair desse ciclo de violência com segurança.

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TIPOS DE VIOLÊNCIA
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) lista cinco tipos de violência contra mulheres³:

Violência Física: Isso inclui qualquer comportamento que prejudique a


integridade ou saúde corporal da mulher, como espancamento, atirar
objetos, sacudir, apertar os braços até estrangulamento, sufocamento,
lesões com objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos por
queimaduras ou armas de fogo e tortura.

Violência Psicológica: Refere-se a qualquer comportamento que cause


danos emocionais, diminuição da autoestima, prejudique o
desenvolvimento pleno da mulher ou busque degradar ou controlar suas
ações. Isso inclui ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento constante, perseguição contumaz, insultos, chantagem, e
tirar a liberdade de crença.

Violência Sexual: Engloba qualquer conduta que participe de relações


sexuais não desejadas mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força. Isso envolve estupro, impedir o uso de métodos contraceptivos,
forçar a mulher a abortar, forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por
meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação, além de limitar ou
anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

Violência Patrimonial: Envolvendo a retenção, subtração, destruição


parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos. Isso abrange o
controle do dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia, praticar furto,
extorsão ou dano, estelionato, privar de bens, valores ou recursos
econômicos e causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais
ela goste.

Violência Moral: Envolvendo qualquer conduta que inclua calúnia,


difamação ou injúria, inclusive acusar a mulher de traição, emitir juízos
morais sobre a conduta, fazer críticas mentirosas, expor a vida íntima,
rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua
índole e desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.

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FORMAS DE DENÚNCIA
Fazer uma denúncia em casos de violência é importante para proteger
as vítimas e buscar justiça. Existem formas bem acessíveis para ajudar
as mulheres em situação difícil. Olha só algumas maneiras de
denunciar:
Ligue para o 180: Central de Atendimento à Mulher: É um
número gratuito e anônimo, disponível 24 horas por dia.
Profissionais especializados estão lá para dar apoio,
orientação e encaminhar a denúncia para quem pode
ajudar.

Disk Denúncia 181: Esse é idealizado pelo governo estadual


e é um canal de denúncia disponível 24 horas. É mais uma
opção para conseguir ajuda.

Ligue para o 190: Em casos de emergência, a vítima pode


chamar a Polícia Militar no número 190 para ter ajuda
imediata.

Rede de Apoio Local: Vale a pena procurar organizações


locais que ajudam mulheres. Elas podem oferecer suporte
e orientação para fazer a denúncia.

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REDE DE APOIO LOCAL AS MULHERES EM LÁBREA
O município de Lábrea apresenta uma estrutura que fornece uma rede de apoio as
mulheres vítimas de violência, dentre essa estrutura, destaca-se:

CRAS: O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), localizado na


Av. Getúlio Vargas, Centro, nº 120, ao lado da Escola Presidente Vargas,
desempenha um importante papel no enfrentamento à violência contra a
mulher ao oferecer atendimento especializado e acolhimento,
acompanhando famílias em vulnerabilidade em toda cidade, atuando no
âmbito da prevenção. Desse modo, realiza ações de conscientização e
palestras, visando a prevenção de atos que violem os direitos previstos na
Lei “Maria da Penha”. Além disso, durante a realização dos atendimentos
realizados, caso seja verificado alguma situação que ultrapasse as
demandas da prevenção, os casos são encaminhados aos órgãos
competentes, cita-se: CREAS, Delegacia, MP, Defensoria Pública.

CREAS: O Centro de Referência Especializado de Assistência Social


(CREAS) realiza uma atividade essencial no enfrentamento à violência
contra a mulher ao oferecer o acompanhamento as vítimas de violência
doméstica, atendendo as solicitações judiciais oriundas dos fóruns. Dessa
forma, realizam visitam psicossociais e produzem relatório da condição
CREAS psicológica e social na qual a vítima está inserida. Dessa forma, a
instituição atual após a consumação do ato de violência, em um
momento posterior. Em Lábrea a instituição está situada na Rua Dr. João
Fábio, Centro, ao lado da promotoria de Justiça.

6ª Delegacia De Polícia Civil De Lábrea: Na delegacia de polícia em Lábrea


pode ser realizada o atendimento e registro de ocorrências, onde irão
receber as denúncias de violência contra a mulher, registrar as
ocorrências e iniciar o processo de investigação. Além do atendimento
presencia, realizado na Rua 24 de agosto, s/n Bairro de Fátima pode ser
realizado o atendimento virtual por meio do número (97) 98450-4812
(WhatsApp).

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AÇÕES DO PODER LEGISLATIVO
MUNICIPAL EM LÁBREA
O poder Legislativo em Lábrea vem atuando para garantir a viabilidade de normas e
ações que objetivam a efetivação da proteção as mulheres em Lábrea, dentre as
ações destacam-se:

A Criação da “Procuradoria Especial da Mulher” na Câmara Municipal, que foi


instituída pela resolução legislativa N. 003/2019-GPCML, da Câmara Municipal de
Lábrea, com o propósito de proteger os direitos das mulheres, especialmente contra
violência e discriminação. A Procuradoria é composta por uma procuradora e duas
procuradoras adjuntas, designadas pelo presidente da Câmara para mandato de dois
anos. Suas atribuições incluem receber denúncias de violência, fiscalizar programas
governamentais para promoção da igualdade de gênero, cooperar com organismos
nacionais e internacionais, além de promover pesquisas sobre violência e
discriminação contra a mulher.

A "Rede de Proteção a Mulher" foi instalada, por meio do projeto de Lei Nº 001/2023 da
Bancada Feminina da Câmara. O programa visa prevenir e combater várias formas de
violência contra mulheres, oferecendo monitoramento, acolhimento humanizado,
orientação e integração de serviços. O Município será responsável pela identificação
de casos, visitas domiciliares, verificação do cumprimento de medidas protetivas e
encaminhamento para serviços especializados, com gestão pelos órgãos municipais,
regulamentada pelo Prefeito. O Poder Executivo poderá firmar convênios para
fortalecer a política de segurança pública, sendo as despesas custeadas por dotações
orçamentárias próprias, e a lei sujeita à regulamentação pelo Poder Executivo.

A Bancada Feminina apresentou o Projeto de Lei nº 02/2023 em 30 de março de 2023,


visando estabelecer critérios de moralidade na Administração Pública Municipal de
Lábrea. O projeto proíbe a admissão, posse e exercício em cargos públicos para
indivíduos condenados por crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher,
com base em legislação federal como a Lei Maria da Penha e o Estatuto da Criança e
do Adolescente. Abrangendo cargos efetivos e comissionados nos poderes Executivo e
Legislativo municipais, o projeto inclui medidas para aplicação dessas restrições em
concursos públicos e processos seletivos, além de abordar procedimentos para
exonerar agentes públicos acusados de assédio sexual, visando promover um
ambiente de trabalho seguro e respeitoso.

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REFERÊNCIAS
¹LACERDA, Lucas. Assassinatos e estupros de mulheres na Amazônia Legal superam
média nacional e desafiam combate. Folha de São Paulo, 2023. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/11/assassinatos-e-estupros-de-
mulheres-na-amazonia-legal-superam-media-nacional-e-desafiam-
combate.shtml>. Acesso em: 20, fev de 2024.

²CICLO da violência. Instituto Maria da Penha, 2023. Disponível em: <


https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-
violencia.html>. Acesso em: 20, fev de 2024.

³BRASIL. Lei Maria da Penha, de 2006, lei n° 11.340/2006. Diário Oficial da República
Fe d e r a t i v a d o B r a s i l . B r a s í l i a 07 d e a g o s t o d e 2 0 0 6 . D i s p o n í v e l e m
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>Acesso em
20 de fev de 2024.

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AGRADECIMENTOS
Os criadores desse manual reconhecem a importância de divulgar informações
visando tentar fazer uma sociedade mais justa e igualitária, especialmente olhando
para questões de gênero.

Queremos deixar claro que esse guia não são somente informações, mas também um
convite para agir. Cada pessoa que lê isso tem um papel importante nessa mudança.
Ao compartilhar, conversar e tomar medidas, todos nós ajudamos a construir um
futuro melhor para as mulheres.

Esperamos que esse guia seja o começo de uma jornada contínua para o incentivo ao
fim da violência de gênero. Juntos, podemos criar um mundo onde o respeito, a
igualdade e a dignidade sejam prioridades.

Lábrea, 2024

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