Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE POTIGUAR

CURSO DE PSICOLOGIA

Maria Luiza Grilo de Souza

RELATÓRIO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO EM INTERVENÇÕES


PSICOLÓGICAS II.

NATAL/RN
2023
MARIA LUIZA GRILO DE SOUZA

RELATÓRIO DE RELATÓRIO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO EM INTERVENÇÕES


PSICOLÓGICAS II.

Relatório de Estágio apresentado como


requisito avaliativo final da disciplina Estágio
Específico em Intervenções Psicológicas II e
do curso de Psicologia da Universidade
Potiguar.

SUPERVISORA ACADÊMICA:
Lisandra Chaves Morais – CRP: 17/3472

SUPERVISORA DE CAMPO:
Daniele Paulino – CRP: 17/3323

NATAL/RN
2023
Av. Sen. Salgado Filho, 1610 – Lagoa Nova +55 84 4020-7890
CEP 59056-000 – Natal/RN, Brasil
www.unp.br

CURSO DE PSICOLOGIA

O presente Relatório de Estágio, referente à disciplina de ESTÁGIO ESPECÍFICO


EM INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS II elaborado pela aluna Maria Luiza
Grilo De Souza, matrícula 1281918788, como requisito para obtenção do título de
psicóloga foi aprovado.

Natal, 16 de Junho de 2023.

Lisandra Chaves de Aquino Morais


CRP: 17/3472
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
3º Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Natal.
Fórum Desembargador Miguel Seabra Fagundes, Rua Doutor Lauro Pinto, 315, Lagoa Nova,
NATAL - RN – CEP: 59064250.

DECLARAÇÃO

Declaramos para fins de comprovação junto à Universidade Potiguar – UNP, que a aluna
Maria Luiza Grilo de Souza, matrícula 1281918788, realizou estágio profissionalizante,
referente à disciplina ESTÁGIO ESPECÍFICO EM INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS II,
de 99 horas no 3º Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher,
desenvolvendo atividades de Avaliação de Medidas Protetivas de Urgência, no Semestre
Letivo de 2023.1.

Natal, 16 de Junho de 2023.

Professor de Tempo Integral:


Maurício Cirilo da Costa Neto – CRP: 17/3735

Supervisora de Estágio:
Lisandra Chaves Morais – CRP: 17/3472

Supervisora de Campo:
Daniele Paulino – CRP:17/3323
SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO GERAL ………………………………………….. 6

2. ANÁLISE CRÍTICA TEÓRICO-PRÁTICA DO DESENVOLVIMENTO DO


ESTÁGIO …………………………………………………………….. 8

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………. 11

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………… 13


1. APRESENTAÇÃO GERAL

Este estágio fora orientado pela docente Lisandra Morais na disciplina de


Estágio Específico em Intervenções Psicológicas II cursada pelos discentes
residentes no 9º período do curso de Psicologia. Esta prática situa-se na ênfase
Jurídica, pois fora realizada no campo externo proposto pela universidade
juntamente a orientadora em questão.

O foco do trabalho desenvolvido durante a prática de estágio, foi na área de


violência doméstica. Os encontros no campo deram-se de forma híbrida, no qual
fora discorrido o plano de atividades a serem realizadas, informações gerais
sobre carga horária, disponibilidade para a nossa atuação, como também a
discussão de temas relevantes para o início da prática.

O local é amplo, abarcando cerca de 50 pessoas em seu andar, e possui


uma secretaria unificada na qual ocorre o primeiro contato da vítima e
interessados a processos referentes a vara, 3 salas de atendimento para acolher
a vítima e suas testemunhas se necessário, 3 salas de audiências, 3 gabinetes,
1 sala multidisciplinar que abarca psicólogos, assistentes sociais e estagiários
de pós-graduação em direito. Em relação aos profissionais que compõem as
atividades do juizado, 3 juízes, 6 assessores, 2 chefes de unidade, 3 chefes de
gabinete, 8 psicólogos, 3 assistentes sociais e 30 técnicos judiciários, ademais,
3 colaboradores terceirizados que auxiliam na segurança e limpeza no local.

O processo teve extensão de 10 encontros com duração de 6 horas cada,


sendo estes, realização de capacitações e atendimentos psicossociais,
realizados entre o mês de abril e meados de junho, toda sexta-feira das 08h às
14h na instituição concedente.

O campo escolhido para esta prática, traz muito de minhas idealizações e


expectativas durante o curso de psicologia, o fazer laboral em outros espaços
consigo várias vivências e desafios para o profissional da área da psicologia, que
por sua vez irá deparar-se sempre com o novo, novas possibilidades de sujeito,
de intervenção, conhecimento de si, de mundo. O contato com outras áreas do
conhecimento amplia nosso olhar, fazendo-nos enxergar outros conceitos que
por alguns momentos são de difícil acesso durante nossa construção teórica.
Como também, o campo auxilia na extensão e conhecimento de práticas que
são inerentes do psicólogo no âmbito jurídico, que por sua vez, não se restringe
somente as técnicas apreendidas durante as disciplinas, mas para além das
mesmas, através do acolhimento e escuta qualificada.
2. ANÁLISE CRÍTICA TEÓRICO-PRÁTICA DO DESENVOLVIMENTO DO
ESTÁGIO

Como supracitado, o estágio constituiu-se em psicologia jurídica e suas


práticas deram-se em um juizado de violência doméstica. A psicologia jurídica
constitui-se de um “campo especializado de investigação psicológica, que
estuda o comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito, da lei e da
justiça”. (Jesus, 2010 p.52).

Sendo assim, o Conselho Federal de Psicologia em contribuição ao


ministério do trabalho (1992, p.7):

‘‘o psicólogo em ambiente jurídico está relacionado a diversas


atribuições sendo estas, a participação nos programas de prevenção e
reabilitação de pessoas em sofrimento no sistema de justiça, elaboração
de laudos e pareceres psicológicos quando solicitados pelo juiz,
realização de perícias, orientação e prestação de assistência as vítimas
que chegam até o sistema’’.

Tendo em vista a instituição visada para a formação profissional, as


atividades visadas, tinham como demanda emergente a violência doméstica
contra a mulher. De acordo com o art. 5º da Lei nº 11.340/06 também conhecida
como Lei Maria da Penha, violência doméstica contra a mulher constitui-se como
“qualquer ação ou omissão baseada no gênero feminino que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

Ao longo do processo, fora possível o estabelecimento de contato com


algumas vítimas de violência que estavam com processo em andamento no
juizado em questão para fins de realização de avaliação da solicitação da medida
protetiva de urgência que fora estabelecida com a concretização da denúncia
das mesmas. As medidas protetivas de urgência foram estabelecidas no art. 22°
pela Lei nº 11.340/2006, chamada de Lei Maria da Penha, as medidas são
“mecanismos legais que visam proteger a integridade ou a vida de uma mulher
em situação de risco” sendo estes, proibição de estabelecimento de contato com
a requerente, afastamento do lar ou espaço de convivência que a mesma
frequenta, como também, limite de distância mínima que o agressor não poderá
ultrapassar.
Ademais, durante as construções interventivas, em conjunto a supervisora
de campo, houve o acolhimento de uma vítima de violência doméstica, chamada
Maria Joaquina de 30 anos. Através de nossa solicitação, a mesma apresentou-
se na instituição em questão para um atendimento psicossocial. Durante o
encontro relatou que havia sido casada com o requerido por 15 anos, e ao longo
do relacionamento os dois tiveram um filho, Luís Marcos de 8 anos. Discorreu
que os anos de convivência foram regados de discussões, violência psicológica
e física por parte de seu ex-companheiro, e o descreveu como agressivo,
impulsivo e confuso, tendo em vista que após as agressões ele a tratava muito
bem e agia como se nada houvesse acontecido. A situação passava cerca de 3
semanas dessa forma e logo em seguida, retornava o ciclo de violências
novamente. Leonor Walker (1979) retrata esse fato, como ciclo da violência,
este ciclo é composto de três fases sucessivas: a primeira seria a fase da tensão,
a segunda, da explosão, e a terceira e última, a fase da lua de mel. A primeira é
caracterizada pela presença de discussões que provoca um clima de tensão na
família, a segunda traz como principal característica a prática da violência e a
terceira é a fase de retratação, em que o homem tenta convencer esta mulher
de que mudou e passa a trata-la muito bem, o que contribui para que ela
permaneça durante muito tempo vivenciando uma relação violenta.

Após 15 anos de relacionamento, Maria Joaquina sentia-se esgotada com


essas condições que enfrentara por tanto tempo. Relatou que decidiu conversar
com o mesmo para colocar um ponto final na relação dos dois, porém ele não
aceitou o término, a agrediu fisicamente e a ameaçou de morte. Fragilizada, a
mesma procurou a ajuda de uma amiga que prontamente a levou a uma
delegacia da mulher para concretizar a denúncia. Após alguns dias seu ex-
companheiro a procurou em seu trabalho e a difamou na frente de todos os seus
colegas, envergonhada Maria Joaquina passou 1 semana ausente do trabalho.

Mencionou que sentiu-se muito triste após o término pois estava enlutada,
sentia-se incapaz, não se reconhecia mais ao olhar no espelho e mesmo
sentindo que tinha tomado a iniciativa correta, pensava constantemente em
retomar o relacionamento pelo bem de sua família.
Sobre isso, (CFP, 2012, pg.67):
‘‘É preciso considerar que muitas mulheres que decidem romper um
relacionamento violento também estão se desfazendo de sonhos e
expectativas em relação ao casamento e à família; recomeçar uma
nova vida, desatrelada de tudo isso, demanda uma nova maneira de
comportar-se no mundo, o que também é fonte de medo, ainda que
agora seja do novo, do desconhecido e dos desafios que virão”.

O processo de Maria Joaquina ocorreu em 2020. Nos dias atuais, ela


encontra-se em um novo relacionamento e o seu ex-cônjuge também. Trouxe
que ele não a importuna mais, porém, procura saber dela através do filho deles,
por isso, sente-se insegura com a ideia de retirar a medida protetiva, por medo
de que ao ser notificado, ele tentar prejudicá-la novamente. Ela teme por sua
vida. Os aspectos traumáticos da violência podem comprometer seriamente a
saúde mental da mulher, dado que interfere em sua autonomia gerando
sentimentos de longa permanência de incapacidade, de realizar atividades que
anteriormente demandavam pouca energia e valorização de si mesma.

As consequências psicoemocionais são fortemente observadas nos casos


de violência doméstica, as mesmas atingem diretamente a vida da vítima,
podendo essas serem estendidas durante um longo tempo . Em consonância a
esse fator, Day (2003, p.16), postula que:

“Esses danos psicológicos podem ser imediatos ou tardios, no


primeiro refere-se a pesadelos repetitivos, raiva, culpa, ansiedade,
medo do agressor e de pessoas do mesmo sexo, quadros fóbico-
ansiosos e depressivos agudos, queixas psicossomáticas, isolamento
social e estigmatização’’.

Tendo em vista os fatores apresentados por Maria Joaquina durante o


atendimento, retiramos as suas dúvidas em relação as medidas protetivas de
urgência e a orientamos a procurar um serviço de psicologia para auxiliar nessas
questões latentes que a mesma trouxe durante o nosso momento. Haja vista,
que de acordo com CFP (2012, p. 64): “O trabalho da (o) psicóloga (o) nesses
serviços também é oferecer informações sobre a rede de atendimento para
construir juntamente com a mulher um plano de enfrentamento à violência”.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As intervenções realizadas durante os encontros versaram em avaliação


e reavaliação de medidas protetivas de urgência antigas, elaboração de perícias
judiciais, acompanhamento de atendimentos psicológicos e psicossociais e
elaboração de certidões.

A partir disso, é possível inferir que é de suma importância compreender


o fenômeno da violência doméstica e suas reverberações na vida dessa mulher.
No juizado em questão, o trabalho da (o) psicóloga (o) se consistiu na maior
parte das vezes, em analisar a ampliação de novas estratégias de intervenção
juntamente a equipe multidisciplinar, que estivesse de acordo com as diretrizes
impostas pela justiça. Visto que, no caso da intervenção profissional em casos
de violência doméstica contra a mulher, o trabalho do psicólogo está vinculado
à intervenção da justiça e, portanto, não se limita ao consultório privado, sendo
feito em um ambiente diferenciado com intervenções individuais ou grupais de
caráter socioeducativos. Como o trabalho é feito em conjunto com a justiça, o
psicólogo atuante nessa área acaba realizando um trabalho multidisciplinar.
(COSTA & BRANDÃO, 2005).

O encaminhamento de Maria Joaquina, ocorreu de forma sugestiva e


norteadora, uma vez que a mesma foi solicitada para avaliar a sua medida
protetiva de urgência, entretanto como a vítima apresentou-se disponível a
compartilhar as questões que estavam perpetuando durante os anos.
Compreendemos que fora necessário a sugestão de entrada em um processo
terapêutico, bem como a importância do mesmo para o seu bem-estar psíquico.
Á vista que, o psicólogo deve sempre intervir no sentido de auxiliar a mulher a
desenvolver condições para evitar ou superar a situação de violência, a partir do
momento em que favorece o seu processo de tomada de consciência. Além de
potencializar a crítica social sobre o papel da mulher na sociedade e sobre as
formas que esta sociedade cria para enfrentar a violência. (CFP, 2012, pg.64).
Ao decorrer do estágio em intervenções psicológicas II, foi vislumbrar à
prática da psicologia jurídica em sua essência, o que agregou muito no currículo
acadêmico, pois auxiliou na construção do ser psicólogo diante o futuro exercício
profissional, trouxe um olhar mais amplo diante as demandas que nos aparecem
em outros espaços e que futuramente poderei vir a entrar em contato novamente.
Conjuntamente a esses fatos, percebo que ser psicóloga não está atrelado
particularmente a um estado de empatia, restrito a uma atitude, e sim a um
processo de constante de compreensão empática pelos indivíduos acolhidos e
por seus familiares, se necessário, o que nos exige um constante empenho na
aprendizagem regularizada do Conselho Federal de Psicologia, seus termos e
técnicas e materiais complementares, com o fito de proporcionar a melhor
experiência para a pessoa atendida e eficiência do processo de escuta
qualificada e acolhimento possível. Além disso, percebemos na prática que ser
psicólogo, durante o estágio cursado, está diretamente atrelado ao conceito de
Carl Jung (1902-1987) sobre o que é a prática do profissional de psicologia.
Segundo o autor, devemos conhecer todas as teorias, dominar todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana, devemos ser apenas outra alma humana.
4. REFERÊNCIAS TEÓRICAS

ARCHCAR, R. (1994). Psicólogo brasileiro: práticas emergentes e desafios


para a formação. São Paulo: Casa do Psicólogo.
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
Conselho Federal de Psicologia [CFP]. (2012b). Referências técnicas para
atuação de psicólogos em Programas de Atenção à Mulher em Situação de
Violência Brasília: CFP.
Conselho Federal de Psicologia. (1992). Atribuições profissionais do
psicólogo no Brasil. Brasília, DF.
COSTA L. F.; BRANDÃO, S. L. Abordagem clínica no contexto comunitário:
uma perspectiva integradora. Psicologia & Sociedade, 17, 33-41, 2005.
DAY, V. P.; TELLES, Elaine de Borba; et all. Violência doméstica e suas
diferentes manifestações: Revista de psiquiatria, RS. Abril de 2003.
JESUS, Fernando. Psicologia Aplicada a Justiça. Goiânia: AB, 2010.
WALKER, L. E. (1979), The Battered Woman. Nova York, Harper & Row.

Você também pode gostar