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Sisto Magro – AP
Conflitos no Campo Brasil 2020 Maria Agostinha de Souza/Tiago Maiká Muller Schwade – AM
É uma responsabilidade do Centro de Documentação Dom Lorrany Lourenço Neves/Evandro Rodrigues dos Anjos/Antônia Laudeci Oliveira
Rua 19, no 35, 1° andar – Centro - 74030-090 Thiago Valentim Pinto Andrade – CE
Goiânia-GO Fone: (62) 4008-6466 Endereço eletrônico: Priscila Viana Alves/Viviane Ramiro – ES/RJ
Comissão Pastoral da Terra é um organismo ligado à Co- Elizabeth Fátima Flores/Welligton Douglas Rodrigues da Silva – MT
Assessoria
Geógrafo – UFF
Sociólogo – UFG
Assessoria Administrativa
Paulo César Moreira dos Santos, Ruben Alfredo de Siqueira Diagramação: Carmelo Fioraso
Márcio Antônio Cruzeiro, Mário Braz Manzi Muniz Arte da capa: Luiz Eduardo Araújo de Almeida
Apoio
Amanda de Oliveira Costa, Andressa Cruz Zumpano CCFD Comité Catholique contre la Faim et pour le Développement
Cristiane Passos Melo e Silva, Flávio Marcos Gonçalves de Araújo D&P Development and Peace
Múria Carrijo Viana, Stéfanny da Cruz Nóbrega, Tales dos Santos Pinto
In Memoriam
Partiu para o outro lado do caminho, um homem simples e amigo dos pobres, que escolheu
morar no Brasil.
Seu carinho, atenção e voz profética continuarão sinais vivos de sua presença no meio de
nós, um verdadeiro pastor que acampou no meio do seu povo.
A ti, dom André, dedicamos esta publicação. Obrigado e continue rezando por nós.
Pedro, depois de tanto viver, lutar se apaixonar, esperançar, você nos deixou... Quanta luz
em suas palavras e quantas batalhas travou... Você nos estimulou a derrubar cercas, a li-
bertar cativos, a não ter medo nas denúncias contra o mal, a combater a miséria imposta e
o latifúndio. Pedro, sua palavra forte, nesse corpo franzino, sempre foi abertura para ideais
nossos e outros mundos. Indígenas, posseiros, sem-terra, quilombolas e tantas comunida-
des dividiram o pão e a vida contigo, em comunhão.
A ti, pai da nossa CPT, dedicamos esta publicação, que traz nas memórias, identidades e
lutas, o teu sonho também, o sonho de Deus, sonho de terra e corpos livres.
Vítimas da Covid-19
Neste momento difícil e cruel de pandemia e caos político-social, dedicamos esta publica-
ção a todas as vítimas da Covid-19, que hoje são mais de 400 mil, mortes prematuras e
permitidas por omissão e negligência calculadas do governo federal. Tristeza e revolta nos
tomam ao constatar que a maioria dessas mortes poderia ter sido evitada e, por não sê-lo,
temos um genocídio.
A CPT se solidariza com todas as famílias das vítimas, impedidas de se despedir dos seus
entes queridos.
Dedicamos, também, esta publicação, aos/às agentes pastorais que foram contaminados
e nos deixaram. Somos eternamente grat@s pela vida doada, pela alegria partilhada, pela
coragem empenhada. Vida...vida...vida... E ressurreição.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
5
Sumário
Apresentação ..................................................................................................7
Metodologia ....................................................................................................11
Conflitos no Campo
“Fala Parente!” “Fala Comadre!” “Fala Vizinho!” “Fala Irmão!” – Resistência
Camponesa, Indígena e Quilombola em tempos de pandemia da COVID-19 ....24
Patrícia Rocha Chaves
Terra
Agravamento da violência no campo:Reflexões sobre a política de
regularização fundiária ...................................................................................112
Girolamo Domenico Treccani, José Heder Benatti, Aianny Naiara Gomes Monteiro
Água
A apropriação da água e a violência do setor mineral no contexto do
neoextrativismo brasileiro ...............................................................................158
Luiz Jardim Wanderley, Pedro Catanzaro da Rocha Leão, Tádzio Peters Coelho
Trabalho
Trabalho escravo pós-golpe: o declínio das políticas de enfrentamento ............172
Tiago Muniz Cavalcanti
A criminalização dos movimentos que lutam por terra, água e meio ambiente .195
Deborah Duprat
Manifestações
As LGBTI+ do campo e a luta contra a lgbtifobia .............................................222
Alessandro Santos Mariano, Katia Iris Marro
Notas Públicas
Notas ..............................................................................................................234
Mesmo diante de um quadro desolador, ma- uma inexorável esperança, mas também
tizado pelos tons sombrios do governo Bol- pela dor empática, diante da violência do
sonaro e da pandemia, é preciso avançar, capital e do Estado, que potencializaram o
ainda que alertados pela consciência, algo genocídio pandêmico. Tal esperança, contu-
clássica, de que “um passo atrás” ou um in- do, não pode ser passiva, acanhada, tribu-
terregno para reflexão e reorganização pode tária da letargia. Nem a dor o pode.
ser inegociável. É nesse sentido, qual seja,
de seguir em frente, mesmo em tempos de Nesse sentido, recomenda Flávio Lazzarin,
recolhimento, que a CPT introduz nesta edi- em seu artigo “Olhar Pastoral sobre os Con-
ção uma temática capital para o bem-estar e flitos”:
o bem “con-viver” das classes trabalhadoras
da cidade e do campo e para a potencializa- Para combater essa guerra contra essa re-
ção de suas lutas: a (re)xistência LGBTI+. ligião mortífera [o capitalismo], devemos
nos armar com a verdade e a justiça, em-
Tratam do tema Alessandro Santos Mariano punhar a espada do Espírito, que é a pa-
e Katia Iris Marro. Ele, membro do Coleti- lavra de Deus, e acolher a companhia de
vo LGBTI+ da Via Campesina Brasil, e ela, Jesus, com o cortejo dos Encantados e das
professora associada da Universidade Fede- Encantadas, dos Orixás, dos Santos, San-
ral Fluminense (UFF). Segundo os autores, tas, das forças espirituais, que derrotam
assim como no contexto urbano, o ambien- os espíritos do mal e acompanham a resis-
te do campo reproduz o preconceito atávico tência e a luta dos pobres, dos povos indí-
contra pessoas LGBTI+, de modo a torná-las genas, dos quilombolas, das comunidades
invisíveis, recolhidas em si mesmas, infeli- tradicionais, dos pequeninos, pequeninas,
zes, irrealizadas e vítimas de violências. Não irmãos e irmãs de Quem derrotou a morte
obstante, movimentos como MST, MAB, e restaurou a vida.
MPA e Indígenas têm organizado espaços
para inclusão, que resultaram na criação, Lazzarin conduz a palavra à qual nos refe-
em 2020, do Coletivo LGBTI+ da Via Cam- rimos anteriormente: Solidariedade. Essa é
pesina, cuja finalidade é assumir, nas pau- a profecia. Dos Orixás aos pequeninos; dos
tas de luta do campo, a diversidade sexual quilombolas aos moradores de rua rotos;
e a identidade de gênero, de maneira que as dos indígenas aos jovens negros das peri-
pessoas LGBTI+ tenham o direito de ser ple- ferias urbanas; das forças santificadas aos
namente integradas em suas comunidades. mais dessacralizados e mundanos pensa-
mentos e sentimentos.
Este ano, com atraso devido às circunstân-
cias, a CPT apresenta à sociedade um rela-
tório de conflitos forjado não somente por BOA LEITURA!
11
Metodologia
mentos anteriores ao banco de dados – pe- para que o trabalhador, conhecendo melhor
ríodo de 1960 a 1985 – foram digitalizados sua realidade, possa, com segurança, as-
e organizados por datas, sem registros de sumir sua própria caminhada, tornando-se
ocorrências quantitativas e qualitativas das sujeito e protagonista de sua história.
informações. Os documentos referentes aos
conflitos a partir de 2008 já foram adqui- Pedagógica – porque o conhecimento da
ridos em forma digital, bem como identifi- realidade ajuda a reforçar a resistência dos
cados, sistematizados e salvos no banco de trabalhadores e a forjar a transformação ne-
dados Datacpt. Com esse processo de digi- cessária da sociedade.
talização, a CPT disponibiliza o acervo pelo
site www.cptnacional.org.br, ou via Google Histórica – porque todo esforço e luta dos
Drive < goo.gl/TJ10G>. trabalhadores de hoje não podem cair no es-
quecimento e devem impulsionar e alimen-
Por que documentar? tar a luta das gerações futuras.
A CPT é uma ação pastoral da Igreja, tem Científica – porque o rigor, os procedimen-
sua raiz e fonte no Evangelho e, como des- tos metodológicos e o referencial teórico per-
tinatários de sua ação, os trabalhadores e mitem sistematizar os dados de forma coe-
trabalhadoras da terra e das águas. Por fi- rente e explícita. A preocupação de dar um
delidade “[...] ao Deus dos pobres, à terra caráter científico à publicação existe não em
de Deus e aos pobres da terra”, como está si mesma, mas para que o acesso a esses
explícito na definição de sua Missão, a CPT dados possa alimentar e reforçar a luta dos
assumiu a tarefa de registrar e denunciar os próprios trabalhadores, em seu enfrenta-
conflitos de terra, água e a violência contra mento com o latifúndio. Não se trata sim-
os trabalhadores e seus direitos, criando o plesmente de produzir meros dados estatís-
setor de documentação. Em 2013, foi reno- ticos, mas de registrar a história da luta de
meado “Centro de Documentação (Cedoc) uma classe que secularmente é explorada,
Dom Tomás Balduino”. excluída e violentada.
A tarefa de documentar tem uma dimensão O que a CPT documenta e conceitos que
teológica, porque, de acordo com a tradição fundamentam os registros
bíblica, Deus ouve o clamor do seu povo e
está presente na luta dos trabalhadores e A CPT registra conflitos, entendidos como
trabalhadoras (Ex 3, 7-10). Essa luta é em ações de resistência e enfrentamento que
si mesma um ritual celebrativo dessa pre- acontecem em diferentes contextos sociais
sença e da esperança que anima o povo. no âmbito rural, envolvendo a luta pela ter-
ra, água, direitos e pelos meios de trabalho
Além desse aspecto, a CPT fundamenta ou produção. Esses conflitos acontecem
seus registros em outras dimensões, que entre classes sociais, entre os trabalhado-
são: ética, política, pedagógica, histórica e res ou por causa da ausência ou má ges-
científica. tão de políticas públicas. Nesse sentido, os
registros são catalogados por situações de
Ética – porque a luta pela terra é uma ques- disputas em conflitos por terra, pela água,
tão de justiça e deve ser pensada no âmbito conflitos trabalhistas, em tempos de seca,
de uma ordem social justa. conflitos em áreas de garimpo e conflitos
sindicais. Até o ano de 1999, registrou-se
Política – porque o registro da luta é feito conflitos relacionados à política agrícola.
13
Nas duas últimas décadas, praticamente seus territórios. Em suas pesquisas, a CPT
não se tem registro de conflitos em tempos registra somente o ato de acampar. Não se
de seca, sindical e garimpo. faz o acompanhamento do número de famí-
lias acampadas no país.
Conflitos por terra são ações de resistência
e enfrentamento pela posse, uso e proprie- Conflitos trabalhistas compreendem os ca-
dade da terra e pelo acesso aos recursos na- sos em que a relação trabalho versus capi-
turais, tais como: seringais, babaçuais ou tal indica a existência de trabalho escravo
castanhais, dentre outros (que garantam o e superexploração. As greves também inte-
direito ao extrativismo), quando envolvem gram o conjunto dos conflitos trabalhistas
posseiros, assentados, quilombolas, gerai- (ver adiante).
zeiros, indígenas, pequenos arrendatários,
camponeses, sem-terra, seringueiros, cam- Na compreensão do que é Trabalho escra-
poneses de fundo e fecho de pasto, quebra- vo, a CPT segue o definido pelo artigo 149
deiras de coco babaçu, castanheiros, faxi- do Código Penal Brasileiro, atualizado pela
nalenses etc. Lei nº 10.803, de 11.12.2003, que o carac-
teriza por submeter alguém a trabalhos for-
As ocupações/retomadas e os acampamen- çados ou a jornada exaustiva, ou por sujei-
tos também são classificados no âmbito dos tá-lo a condições degradantes de trabalho,
conflitos por terra. ou quando se restringe, por qualquer meio,
sua locomoção em razão de dívida contraída
No ano de 2020, a COVID-19 trouxe altera- com o empregador ou preposto, ou quando
ções nos registros dos conflitos. Entre essas, se cerceia o uso de qualquer meio de trans-
o fenômeno das barreiras sanitárias2, as porte por parte do trabalhador, ou quando
quais, assim como as ocupações e os acam- se mantém vigilância ostensiva ou se apo-
pamentos, foram consideradas no conjunto dera de documentos ou objetos pessoais do
dos conflitos por terra. trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho.
Ocupações e ou retomadas são ações co-
letivas das famílias sem-terra, que por meio As situações de Superexploração aconte-
da entrada em imóveis rurais, reivindicam cem na esfera salarial e dizem respeito às
terras que não cumprem a função social, ou ocorrências em que as horas de trabalho
ações coletivas de indígenas e quilombolas não pagas excedem a taxa normal de explo-
que reconquistam seus territórios, diante ração do trabalho. Geralmente, esses casos
da demora do Estado no processo de de- estão ligados a precárias condições de tra-
marcação das áreas que lhe são assegura- balho e moradia.
das por direito.
Ações de resistência (Manifestações por
Acampamentos são espaços de luta e for- direitos trabalhistas): a partir de 2018,
mação, fruto de ações coletivas, localizados com o processo de reestruturação do banco
no campo ou na cidade, onde as famílias de dados, decidiu-se que as greves por me-
sem-terra organizadas, reivindicam assen- lhorias nas condições de trabalho, relacio-
tamentos. Além disso, os povos indígenas e nadas às questões de segurança, benefícios
comunidades tradicionais também formam trabalhistas ou salariais rurais, bem como
acampamentos na luta pela retomada de para impedir a desvalorização e desprote-
2
Diante da grave omissão do governo federal no combate à COVID-19, os povos, sobretudo indígenas e quilombolas, realizam
movimento autônomo de bloqueio aos acessos dos seus territórios, para evitar a entrada do vírus nas comunidades e impedir
atividades ilegais como caça, garimpo, extração ilegal de madeira, grilagem, turismo etc.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
ção do trabalho, ou a perda dos benefícios das águas, que protestam contra atos de
vigentes, seriam novamente integradas ao violência sofrida ou de restrição de direitos,
conjunto dos conflitos trabalhistas. reivindicando diferentes políticas públicas,
repudiam políticas governamentais ou exi-
Conflitos pela água são ações de resistên- gem o cumprimento de acordos e promes-
cia, em geral coletivas, que visam a garantir sas.
o uso e a preservação das águas. Expres-
sam a luta contra a apropriação privada dos As manifestações também sofreram mudan-
recursos hídricos, contra a cobrança do uso ças significativas no contexto da COVID-19,
da água no campo, contra a construção de pois no mês de março de 2020, a Organi-
barragens e açudes. Esse último envolve os zação Mundial da Saúde (OMS) estabele-
atingidos por barragem, que lutam pelo seu ceu o distanciamento social como uma das
território, do qual são expropriados. Envol- medidas mais importantes e eficazes para
ve ainda a luta dos povos e comunidades reduzir o avanço do SARS-CoV-2. Tal dis-
frente à mineração. tanciamento exigiu a redução de circulação
de pessoas em espaços coletivos públicos
Conflitos em tempos de seca são ações co- (ruas e praças) ou privados (centros de com-
letivas que acontecem em áreas de estiagem pra, shows etc.), ou seja, a não aglomera-
prolongada e reivindicam condições básicas ção. Com isso, os povos do campo e suas
de sobrevivência e ou políticas de convivên- organizações paralisaram as manifestações
cia com o semiárido. presenciais, porém adotaram manifestações
virtuais como instrumentos legítimos de de-
Conflitos em áreas de garimpo são ações núncia e luta contra as mais variadas for-
de enfrentamento entre garimpeiros, empre- mas de violências aos seus territórios. Ape-
sas e o Estado. sar de as manifestações virtuais romperem
com a dimensão de espaço e sujeitos sociais
Conflitos sindicais são ações de enfren- compreendidos historicamente pela CPT, as
tamento que buscam garantir o acompa- que apresentaram pautas reivindicatórias
nhamento e a solidariedade do sindicato concretas dos povos do campo e suas orga-
aos trabalhadores, contra as intervenções, nizações, com intencionalidade de denun-
as pressões de grupos externos, ameaças e ciar uma determinada violência contra uma
perseguições aos dirigentes e filiados. comunidade específica e de protestar contra
ações e políticas que violentam os modos de
Esses três últimos só são publicados quan- vida dos povos do campo, criminalizando as
do é expressiva sua ocorrência, ou quando o suas lutas, foram incorporadas aos regis-
contexto em que se desenrolaram indicar a tros.
pertinência de uma análise a respeito.
Outra mudança nas manifestações em con-
Além disso, são registradas as manifesta- texto de pandemia foi que a agenda de lutas
ções de luta e as diversas formas de violên- históricas, a título de exemplo, a Jornada
cia praticadas contra os povos camponeses: Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, foi
assassinatos, tentativas de assassinato, revertida para ações de solidariedade, entre
ameaças de morte, prisões, agressões e ou- essas, doação de alimentos, pautando a re-
tras. forma agrária, a agroecologia, a redução dos
efeitos da fome, entre outras dimensões;
As manifestações são ações coletivas dos plantio de árvores para denunciar a destrui-
trabalhadores e trabalhadoras da terra e ção ambiental por parte do agronegócio, da
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mineração etc. O conjunto de manifestações brevivência da maioria das espécies de vida
em 2020 também pautou o entendimento ali presente. A CPT também considera que
que reforma agrária é sinônimo de alimen- o conceito de natureza é socialmente cons-
tação saudável e de cuidado com os bens truído (MONTIBELLER Filho, 2004; POR-
comuns da natureza. TO-GONÇALVES, 2004; e, BELLEN, 2006) e
o conceito de ambiente também. Nesse sen-
Por violência, entende-se o constrangimen- tido, faz-se necessário perceber qualquer
to, danos materiais ou imateriais, destrui- ação que envolva humanos e natureza como
ção física ou moral exercida sobre os povos uma relação entre as espécies viventes nos
do campo e seus aliados. Essa violência está espaços (sejam eles físicos, culturais, eco-
relacionada aos diferentes tipos de conflitos nômicos, políticos e sociais). Assim, quan-
registrados e às manifestações dos movi- do identifica e apresenta a existência de um
mentos sociais do campo. conflito no espaço rural, especificamente
nesse espaço, entende que há, também, um
A partir do ano de 2020, com o novo banco conflito ambiental.
de dados (Gaia), começou-se a sistematizar
quantitativamente violências relacionadas 2. Direitos humanos. A CPT, sendo signa-
ao desmatamento ilegal, impedimento de tária do Comitê Plataforma de Direitos Hu-
acesso às áreas de uso coletivo e às viola- manos, Econômicos, Sociais, Culturais e
ções nas condições de existência. Outras Ambientais (Dhesca), assume compromisso
modalidades nesse quesito incorporadas ao com a lógica de que a conquista ou a agres-
banco de dados foram violências relaciona- são aos Direitos Humanos é situação in-
das a sexo, gênero e sexualidade3, bem como tegrante das várias condições de vida dos
à raça/cor/etnia e às criminalizações4. trabalhadores e trabalhadoras da terra e de
suas organizações nos espaços em que atu-
Em relação à grave situação que vivemos, de am. A plataforma Dhesca tem como objetivo
mortes e contaminações pela COVID-19 en- contribuir para que o Brasil adote um pa-
tre os povos do campo e suas organizações, drão de respeito aos direitos humanos, ten-
utilizamos um método próprio de inserção do por fundamento a Constituição Federal
no banco de dados, buscando corresponder do Brasil promulgada em 1988, o Programa
à complexidade que o momento nos traz. Nacional de Direitos Humanos, os tratados
e convenções internacionais de proteção
No que se refere às questões ambientais e aos direitos humanos ratificados pelo Bra-
direitos humanos, a CPT entende que po- sil e as recomendações dos/as relatores/as
dem estar presentes em todos os conflitos da ONU e do Comitê Plataforma de Direitos
cadastrados, sistematizados e analisados Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e
pelo Centro de Documentação. Ambientais (Dhesca).5
com a participação dos agentes de base da teriais que não receberam ainda um trata-
CPT e movimentos sociais que atuam no es- mento analítico, ou que ainda podem ser
paço rural. Alguns conceitos foram assumi- reelaborados de acordo com os objetivos da
dos pelo Cedoc a partir da existência deles pesquisa” [...] (GIL, 2007, p. 66). Existem
em leis, declarações, estudos, censos. documentos de primeira mão, que não re-
ceberam qualquer tratamento analítico, tais
Como a CPT documenta e objetivos da como: documentos oficiais, reportagens de
sistematização dos dados jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fo-
tografias e gravações.
Os registros são feitos por meio de pesqui-
sas primária e secundária. Ressalta-se que, Após a obtenção desses materiais, o ato de
para o centro de documentação da CPT, “documentar não é sinônimo de acumular
são três os objetivos ao se fazer a coleta de textos e recortes [...]. Não é o caso também
dados: 1) buscar as fontes primárias de in- de armazenar, sem critério [...]”. Documen-
formações para construir o banco de dados tar é organizar o material que tem impor-
(a partir de relatos e de informações obti- tância significativa para a pesquisa que se
das com os agentes de base da CPT. Além realiza. E essa importância está relaciona-
dos agentes da CPT, documentos oficiais, da ao objetivo primeiro de seu estudo (AL-
denúncias dos próprios camponeses e de MEIDA JÚNIOR, 2000, p. 111), que é fun-
movimentos sociais populares relatadas damentar denúncias das violências sofridas
em seus veículos de comunicação e nas re- pelos povos e comunidades do campo, bem
des sociais, declarações, cartas assinadas, como cuidar das memórias das resistências
boletins de ocorrência, relatos repassados e lutas das várias identidades camponesas,
pelos movimentos sociais, igrejas, sindica- para que as causas da vida não caiam no
tos e outras organizações e entidades dire- esquecimento.
tamente ligadas à luta dos trabalhadores e
trabalhadoras da terra); 2) buscar fontes se- Por fim, o objeto de pesquisa do centro de
cundárias, por meio da clipagem virtual6 em documentação são os documentos enume-
várias mídias de conteúdo público (jornais, rados anteriormente. Uma vez processados
revistas, sites de notícias, blogs, rádios, te- busca-se analisar os conflitos e as violên-
levisão, redes sociais, podcasts e platafor- cias sofridas em espaços rurais e urbanos
mas de streaming, como YouTube, boletins que envolvam ações dos povos e comunida-
e publicações de diversas instituições, parti- des da terra, das águas e suas organizações.
dos e órgãos governamentais, entre outros);
3) processar, sistematizar e analisar os da- Critérios de inclusão e exclusão
dos, transformando-os em registros de de-
núncias das violações de direitos cometidas Como primeiro critério de inclusão no ban-
contra os camponeses e suas organizações, co de dados, tem-se que as informações
bem como as resistências perpetradas pelos são obtidas por meio de pesquisas primá-
mesmos, na defesa dos seus modos de ser, e ria e secundária, conforme descrição feita
da produção e reprodução da vida. anteriormente. Uma vez identificando-se a
existência de conflito nesses documentos a
A pesquisa documental “[...] vale-se de ma- ocorrência é registrada.
6
O serviço de clipagem virtual no Centro de Documentação da CPT iniciou-se em abril de 2004. Antes, faziam-se recortes
de revistas e jornais impressos no próprio Centro de Documentação da entidade. Sendo que o mesmo trabalho era feito nas
Secretarias Regionais da CPT e as cópias dos documentos clipados eram remetidas para a Secretaria Nacional via agência
dos Correios. Além disso, a CPT tinha contrato com empresa de clipagem, a qual enviava mensalmente para a Secretaria
Nacional um pacote com documentos relacionados aos conflitos no campo e à questão agrária.
17
Quando se percebe que os números forneci- Não são registrados
dos pelas fontes secundárias não coincidem
com os apurados pelas Secretarias Regio- 1. Casos de violência, inclusive assassina-
nais da CPT, considera-se a fonte primária tos, que acontecem no âmbito rural e não
como dado de registro. Nos casos que um tenham relação com conflitos pela disputa,
mesmo conflito possui várias ocorrências de posse, uso ou ocupação da terra, ou pelo
resistências e violências no decorrer do ano, acesso ou uso da água, ou na defesa de di-
registra-se todos os acontecimentos. Porém, reitos por trabalhos realizados no campo;
na soma total dos conflitos, o número de fa-
mílias será considerado apenas uma vez – o 2. Casos de conflitos pela posse, uso ou
maior número do qual se teve informação. ocupação da terra em áreas urbanas. Exce-
O mesmo não ocorre para as violências sis- tuam-se os casos em que a disputa pela ter-
temáticas contra as famílias. Ou seja, se as ra se dá por povos indígenas e comunidades
famílias de uma mesma comunidade foram tradicionais (quilombolas, pescadores arte-
vítimas de destruição de casas, pistolagem, sanais etc.) que defendem um modo de vida
invasões etc., várias vezes durante o ano, na tradicional, mesmo que em área urbana;
soma total, considera-se todas as violências
sofridas. 3. Conflitos entre latifundiários ou grandes
empresários do agronegócio;
Para registro de datas, quando não há infor-
mação do dia do fato, registra-se no último 4. Casos de trabalho escravo em atividades
dia daquele mês e ano, caso não tenha in- urbanas (são apenas citados na publicação
formação do mês, registra-se no último dia como nota de rodapé).
daquele ano, ou na data do documento pes-
quisado. O banco de dados
Situações de violência e conflitos que en- As informações são organizadas por meio de
volvam povos indígenas e comunidades tra- formulários temáticos do Gaia – Banco de
dicionais, como quilombolas, pescadores, Dados dos Conflitos no Campo – Comis-
caiçaras, dentre outros, mesmo em espaços são Pastoral da Terra – e são sistematiza-
urbanos, mas que vivenciam modo de vida das em tabelas, gráficos e mapas dos confli-
tradicional, são registradas e contabiliza- tos. Para cada conflito, elaboram-se textos
dos. de históricos, os quais reúnem as informa-
ções que lhe são características, possibili-
No registro das manifestações que são pro- tando fundamentações de análises.
longadas (marchas, jornadas etc.), para a
contagem dos participantes, considera-se Importante destacar que o processo de in-
o maior número de pessoas informadas, na serção e revisão dos conflitos no campo é
última data, e registram-se os atos realiza- contínuo. Entre outras dimensões, isso quer
dos em cada lugar, durante o trajeto ou o dizer que, após cada publicação anual, é co-
período da manifestação. mum ocorrer registros de anos anteriores,
dos quais o Cedoc não teve conhecimento na
Registram-se os conflitos que ocorreram du- época do fato. A partir do Caderno de Confli-
rante o ano. Conflitos anteriores e não re- tos, ano 2020, tendo em vista instrumentos
solvidos só figuram no relatório se tiverem facilitadores do Gaia, a Tabela 1 (compara-
algum fato novo que indique a continuidade ção dos Conflitos no Campo Brasil) será pu-
dos mesmos. blicada a partir de registros atualizados no
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
de 11.12.2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei olhar sobre as relações amorosas contemporâ-
2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, neas. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2021.
para estabelecer penas ao crime nele tipificado e
indicar as hipóteses em que se configura condi- MONTIBELLER FILHO, G. O mito do desenvol-
ção análoga à de escravo. Disponível em http:// vimento sustentável. Meio ambiente e custos
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/ sociais no moderno sistema produtor de merca-
l10.803.htm dorias. Santa Catarina: Editora da UFSC, 2004.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pes- PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. O desafio
quisa social. 5ª ed. São Paulo: Editora Atlas, ambiental. Coleção Os porquês da desordem
2007. mundial. Organização, SADER, Emir. Rio de Ja-
neiro-São Paulo: Editora Record, 2004.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRÁFIA E ES-
TATÍSTICA (PNAD). Senso Demográfico de 2010. Organograma dos temas publicados
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/
estatistica/populacao/condicaodevida/indica- O organograma a seguir apresenta os temas do-
doresminimos/conceitos.shtm cumentados, os nomes dos formulários utiliza-
dos na sistematização e as respectivas tabelas
LINS, Regina Navarro. Amor na vitrine – um derivadas dos registros.
21
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
491.660 471.160 461.065 622.495 642.005 736.590 639.715 664.470 580.228 687.872
Pessoas Envolvidas
Hectares 14.410.626 13.181.570 6.228.667 8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494 53.313.244 77.442.957
Conflitos Trabalhistas
Trabalho Escravo 230 170 142 132 80 68 67 86 89 96
Assassinatos 1
3.929 3.002 1.730 2.494 1.760 751 532 1.465 880 1.104
Pessoas Envolvidas
Superexploração 30 14 13 10 6 1 5 1
Assassinatos 2 1 1 2 3
140.285 145.755 158.180 204.255 217.710 223.455 178.090 379.035 317.524 225.168
Pessoas Envolvidas
Outros (3)
Conflitos 36 12
Assassinatos
26.005 1.350
Pessoas Envolvidas
Total dos Conflitos no Campo Brasil
Conflitos 1.390 1.396 1.332 1.338 1.329 1.607 1.505 1.547 1.903 2.054
Assassinatos 30 36 35 37 50 64 71 30 32 18
636.340 619.990 621.117 829.538 861.600 960.798 818.337 1.044.984 898.635 914.144
Pessoas Envolvidas
Hectares 14.410.626 13.181.570 6.228.667 8.134.241 21.387.160 23.697.019 37.019.114 39.425.494 53.313.244 77.442.957
1
Os dados do nº de Ocorrências referem-se aos despejos e expulsões, ameaças de despejos e expulsões, destruição de casas,
roças e pertences; pistolagem, grilagem, invasões etc.
2
Em 2020, foram registrados 1.608 no total de ocorrências de conflitos por terra. Numa mesma área, um conflito pode ter
desdobramentos diversos. Cada um deles corresponde a uma ocorrência. Neste ano, as áreas ou localidades em conflito
somam 1.190. Para saber as Áreas em Conflito, ver no site www.cptnacional.org.br.
3
Outros: Conflitos em Tempos de Seca e Garimpo.
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Conflitos no
Campo
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
500 anos, chega! Queremos outros 500 anos diferentes, porque a história que antes nos
antecedeu não é bonita. É uma história ruim! A história boa da resistência, da luta do
povo, não está nos manuais. Ela foi escrita pela mão branca, não pela mão do negro, do
índio, do mulato. Não foi escrita pela mão da mulher. A história da resistência foi negada.
(Leonardo Boff, 2007)
1
Doutora em Geografia Humana – FFLCH – USP, Professora do Curso de Geografia da UNIFAP.
25
do preço dos óleos vegetais. O aumento da Pastoral da Terra (CPT) nos interessam.
exportação da carne bovina, suína e das Eles nos auxiliam no desmascaramento dos
aves foi de 38, 48 e 27%, respectivamente, altos índices econômicos que os governos
conforme a tabela da Fundação Instituto brasileiros trazem à tona, ano a ano, por
de Pesquisas Econômicas (Fipe). Carnes de meio das mídias oficializadas. Demonstram
menor qualidade, cujo consumo popular é também a catástrofe que os governos bra-
mais frequente, sofreram aumentos de ao sileiros têm imposto à população, sujeitan-
menos 45%. do-a às políticas neoliberais, assumindo o
projeto econômico da agricultura capitalista
Observou-se, portanto, que o minério de fer- para o desenvolvimento nacional.
ro, a soja e o petróleo lideraram as expor-
tações do país. A do petróleo atingiu 70,6 Assim, o campo brasileiro, enquanto lugar
milhões de toneladas, 18,5% a mais que no fundamental da negação das relações capi-
ano anterior. A soja, embora tenha apre- talistas, da manifestação incontestável e da
sentado índices inferiores ao ano de 2018, insatisfação com as desigualdades impos-
recuperou, na modalidade farelo, marcas tas, possui a capacidade de demonstrar os
historicamente superiores, somando 17,5 processos sociais que colocam o Brasil em
milhões de toneladas. O café também fe- marcha contra a miséria e as formas des-
chou o ano com marcas extraordinárias, fo- trutivas de apropriação da natureza e do
ram 2,37 milhões de toneladas e o açúcar e trabalho pelos agentes do capital. Colocam,
o algodão também não deixaram a desejar. dessa maneira, os territórios em disputa,
Esses produtos elevaram suas marcas de que passam a configurar verdadeiras regi-
exportação, destinada em especial à China, ões de conflitos.
que já se encontra em recuperação sanitá-
ria, econômica e social. Conforme aponta Oliveira (2007), o territó-
rio apresenta-se como “[..] a luta contínua
Ao que parece, o cenário econômico seria da sociedade pela socialização igualmente
perfeito, não fossem os efeitos contraditó- contínua da natureza”. O autor nos convi-
rios revertidos nos impactos sociais e eco- da a observar que a expansão do capital no
nômicos negativos sentidos pela população campo demarca dois tipos de processos, os
brasileira, em especial, pelas classes menos quais contribuem para a compreensão das
abastadas. A pandemia do novo coronavírus dinâmicas da luta camponesa contra as eli-
colocou em evidência, para o Brasil e para tes do campo: territorialização do monopólio
o mundo, a fragilidade e a miséria que as e monopolização do território. Tais dinâmi-
relações capitalistas impõem às massas que cas de realização das atividades econômicas
vivem em países cuja exploração da natu- no campo configuram as ações de resistên-
reza e do trabalho sobrepõe a produção e a cia dos sujeitos do capital e representam a
reprodução da vida social. construção/desconstrução/reconstrução
dos sujeitos da resistência que lutam con-
As demandas dessas frações sociais ignora- tra a exploração, expropriação, intrusão e
das pela mídia, sufocadas pelo reducionismo despossessamento capitalista.
econômico imposto pelo capital, suplanta-
das pelos governantes e, às vezes, desde- Esses processos denotam a relação entre
nhadas pelos intelectuais, historicamente os sujeitos das disputas manifestadas nos
têm marcado as lutas sociais no Brasil. É tipos de conflitos socioterritoriais e socio-
nesse contexto que os dados dos conflitos espaciais: terra, água, trabalho e suas for-
no campo sistematizados pela Comissão mas de manifestações. O conflito é, então,
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
essa forma desigual de divisão do poder e rências de conflitos por terra foi 2020, em
da riqueza, a manifestação política do de- seguida 2019, ou seja, os dois anos de go-
senvolvimento desigual e combinado, esta- verno de Jair Bolsonaro foram os de maior
belecendo-se continuamente nas relações registro de ocorrências de conflitos por terra
econômicas e sociais capitalistas. na série histórica. Em terceiro lugar, está o
ano de 2016, ano do golpe que retirou Dilma
Para Boff (2014), “o conflito começa com o Rousseff da presidência e instituiu Michel
desmascaramento ideológico, mantenedor Temer. É importante observar o que isso re-
do estado de subdesenvolvimento, com aná- presentou em termos regionais.
lise social que traz à luz os mecanismos de
dependência e de dominação”. É instituído Gráfico 1
pelo antagonismo que demarca as relações
materiais e, por conseguinte, simbólicas.
Oliveira (2008) adiantou que, nas relações
capitalistas entre as regiões, a questão eco-
nômica se desenvolve e a social jamais terá
possibilidades de avançar. É nesse sentido
que a expressão e a interpretação da mun-
dialização do capital da agricultura brasilei-
ra e suas dinâmicas de produção/circula-
ção/consumo, assim como a manutenção
e concentração da propriedade privada da
terra e das contradições da realização do Gráfico 2
capitalismo rentista brasileiro, contribuem
para a compreensão dos conflitos socioter-
ritoriais.
OS CONFLITOS SOCIOTERRITORIAIS NO
BRASIL
2
Optamos por manter 2016 como período Dilma.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
O governo de Dilma Rousseff foi marcado Sobre o governo de Jair Bolsonaro, podemos
pelo distanciamento das políticas de refor- dizer que o presidente não faz nenhum tipo
ma agrária. Dados do Instituto Nacional de de questão de esconder os traços violentos
Colonização e Reforma Agrária (Incra) de- de sua relação para com a maior parte da
monstram que no ano de 2015 não houve sociedade brasileira. Ele é declaradamen-
sequer um hectare de desapropriação. Se te motivador e promotor da hostilidade e
o governo Lula se consolidou por pactuar agressividade física e psicológica para com
muitos termos com a agricultura capitalis- as populações que vivem em situação de
ta, permitindo o avanço do agronegócio, sem vulnerabilidade.
abalar as bases que garantem a concentra-
ção fundiária no país, o de Dilma teve uma Verificamos que os governos anteriores,
postura negligente no trato das políticas de desde a redemocratização, não atentaram
reforma agrária. para a reforma agrária exceto o de José Sar-
ney e o de Lula, que criaram o primeiro e o
Avaliando a elevação dos conflitos a partir segundo Plano Nacional de Reforma Agrária
de 2016, podemos citar a excelente análise (PNRA). Bolsonaro, por sua vez, não somen-
de Mitidieiro Júnior et. al (2016) sobre as te faz vistas grossas para as ilegalidades e
ações do Legislativo a partir de 2015 rever- impunidades cometidas pelas classes ru-
tidas em ataques aos povos do campo. Se- ralista e burguesa do país, ele abertamente
gundo o autor: propõe leis ou cria decretos que estimulam
os massacres contra as populações, como é
Em 2016, ano do Golpe, além dos desar- o caso dos decretos 10.627/21, 10.628/21,
quivamentos, novas propostas pipocaram 10.629/21 e 10.630/21, que flexibilizam os
do Legislativo e Executivo. Foram 11 novos procedimentos para porte de armas; am-
projetos e propostas no âmbito das Leis e pliam a lista de profissões autorizadas ao
29 projetos de Decretos Legislativos para uso de armas; retiram o imposto de impor-
reversão de conquistas e retomadas de ter- tação de armas; e permitem a posse de arma
ra, totalizando 40 ações de ataque aos ho- para toda propriedade rural.
mens e mulheres do campo.
O presidente também apresentou o Projeto
Repito aqui que tais questões refletem a si- de Lei (PL) 191/2020, para regulamentar a
tuação das ocorrências de conflitos no ano exploração em terras indígenas, e apoiou o
29
PL 5.518/2020, apresentado pelo deputado no estado. Esse processo não pretende be-
Rodrigo Agostinho (PSB-SP), cujo objetivo neficiar os camponeses posseiros e quilom-
é de aprovar concessões de exploração das bolas que lutam para garantir suas terras
florestas à iniciativa privada. Nesse mesmo e territórios. Ao contrário, além dessas po-
sentido, foi aprovada a lei que suprimiu a MP pulações, esse tipo de regularização põe em
884/2019 e eliminou o prazo de adesão ao risco a situação dos assentamentos da re-
Cadastro Ambiental Rural (CAR), de modo forma agrária, que sofrem com a ausência
que os produtores rurais ficaram livres de de políticas públicas, com conflitos cons-
punições, como restrição ao crédito rural e tantes com a Amapá Florestal e Celulose
realização de inscrições e ações a qualquer S.A. (Amcel), e agora enfrentam a grilagem
momento, vinculadas ao mesmo imóvel. capitaneada pelos empresários da soja.
Também não poderíamos deixar de mencio- É nesse sentido que os conflitos por terra
nar a Lei 14.004/2020, para a “regulariza- têm impactado drasticamente as famílias
ção” de terras da União ocupadas por par- camponesas, quilombolas e indígenas. Não
ticulares nos estados de Amapá e Roraima. há recuo nessas estatísticas (Mapa 2 anexo
Segundo a Agência do Senado (2020), a me- 1).
dida altera a Lei 10.304/2001, que regula o
repasse de terras da União aos dois estados: Observa-se ainda a concentração de famílias
em conflitos por terra na Amazônia Legal,
Permite que os particulares mantenham a e também em estados da Região Nordeste,
propriedade das terras, mesmo que os tí- como Bahia, Pernambuco, Paraíba, Sergipe,
tulos tenham sido extintos por descumpri- margeando o litoral nordestino. Além disso,
mento de condições impostas pela União; norte do Rio Grande do Sul, sul de Santa
assegura o direito à terra mesmo aos be- Catarina e a extensão oeste do Paraná, que
neficiários de títulos que não tenham re- faz fronteira com os dois estados, apresen-
gistrado os documentos em cartório de tam alta conflitividade
imóveis; reduz as garantias ambientais
previstas na legislação anterior; as terras É nesse contexto que as áreas em conflitos
transferidas aos Estados de Amapá e Ro- estão cada vez mais volumosas (Gráfico 5).
raima devem ser utilizadas preferencial-
mente em atividades agropecuárias e de Gráfico 5
desenvolvimento sustentável ou em proje-
tos de colonização e regularização fundi-
ária.
2013. Todavia, a partir de 2015, há um novo retomadas (gráfico 6), percebemos uma que-
aumento, com 21.387.160 hectares, che- da sistemática das ocorrências. Entre 2011
gando a 53.313.244 em 2019, até estabe- e 2013, a Região Nordeste foi protagonista
lecer um recorde, em 2020, de 77.442.957. nessas ações, seguida pela Região Sudeste.
A Região Norte se destaca com 60.151.622 Em 2014, o Sudeste apresenta maior núme-
hectares de áreas em conflitos, seguida pelo ro, seguido pelo Nordeste. Em 2015, o Nor-
Centro-Oeste, com 15.271.178; Nordeste, deste volta a assumir a dianteira, sendo su-
1.605.338; Sudeste, com 303.528; e Sul, cedido pela Região Centro-Oeste. Em 2016,
com 111.291. Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste
sustentam desempenhos semelhantes. Em
Além do avanço de empresários, fazendei- 2017, desponta o Sudeste, em 2018, o Nor-
ros, grileiros, madeireiros e outros agentes deste e, a partir de 2019, há uma queda
de conflitos invadem as terras de campone- abrupta em todas as regiões brasileiras. Em
ses – posses, seringais, assentamentos etc. 2019, foram registradas 46 ocupações e em
– e territórios indígenas e quilombolas. Em 2020, apenas 29.
2020, para se defenderem da COVID-19, in-
dígenas e quilombolas instalaram barreiras Gráfico 6
sanitárias, que foram desrespeitadas pelos
invasores e também pelo próprio Estado,
que atua para estimular as invasões. Essas
potencializam o risco de contaminação pelo
coronavírus, especialmente entre indígenas
e quilombolas.
Gráfico 8
Gráfico 11
Gráfico 14
Mapa1 Mapa 3
Mapa 2 Mapa 4
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Mapa5 Mapa6
39
Tabela 2 - Conflitos no Campo (2020)
Acre
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Acrelândia Ramal Campo Novo 12/02/2020 45 Posseiro
Faz. da Rondobrás/BR-364/Km 105/
Acrelândia 08/05/2020 12 Posseiro
Gleba Porto Luiz
Acrelândia Fazenda Canaã 15/08/2020 72 Posseiro
Faz. do Senhor Viana/Ramal da 7/
Acrelândia 18/08/2020 60 Posseiro
Estrada AC-475/Gl. Porto Luiz
Acrelândia Seringal Fortaleza 18/08/2020 60 Posseiro
Acrelândia Faz. Sará/Gleba Porto Luiz 01/09/2020 30 Posseiro
Acrelândia Faz. Graúna/BR-364 12/09/2020 80 Posseiro
Acrelândia Seringal Triunfo/Ramal do Pelé 14/09/2020 129 Posseiro
Acrelândia Faz. Girassol/Ocup. do Brito 20/09/2020 14 Posseiro
Acrelândia Faz. do Zé Capim/BR-364/Km 105 10/10/2020 40 Posseiro
Acrelândia Fazenda Jéssica 13/10/2020 72 Posseiro
Acrelândia Seringal Porto Dias 18/10/2020 80 Extrativista
Acrelândia Ocupação do Baiano 18/10/2020 38 Posseiro
Acrelândia Fazenda do Dr. Roberto 20/10/2020 41 Posseiro
Acrelândia Fazenda Zé Juína 25/10/2020 50 Posseiro
Bujari Seringal Mercês 20/10/2020 300 Posseiro
Bujari Faz. Canary/Ramal do Cacau 20/10/2020 400 Posseiro
Capixaba Seringal Capatará /Faz. do Jorge Moura 07/01/2020 15 Posseiro
Senador Guiomard, Capixaba Seringal Capatará 04/09/2020 97 Posseiro
Cruzeiro do Sul Comunidade Socó 02/02/2020 14 Posseiro
Cruzeiro do Sul Seringal Russas 09/10/2020 14 Seringueiro
Cruzeiro do Sul Seringal Valparaíso 14/10/2020 130 Seringueiro
Feijó T.I Kulina do Rio Envira 31/08/2020 34 Indígenas
T. I. Katukina/Kaxinawa/Aldeias Paredão/
Feijó 31/08/2020 252 Indígenas
Paroá/Pupunha/Belo Monte
Mâncio Lima T.I Poyanawa/Barreira Sanitária 23/03/2020 130 Indígenas
Mâncio Lima, Rodrigues Alves Seringal Santa Cruz/Com. do Oco 18/09/2020 30 Posseiro
Mâncio Lima T.I Poyanawa/Barreira Sanitária 22/09/2020 130 Indígenas
Manoel Urbano, Santa Rosa do Parque Estadual do Chandiess/
30/06/2020 Indígenas
Purus, Sena Madureira Jaminawa, Madijá e Manchineri
Manoel Urbano Seringal Porto Central 10/11/2020 18 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Itatinga 10/11/2020 21 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Afluente 10/11/2020 20 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Areis 10/11/2020 101 Posseiro
Manoel Urbano Seringal Novo Destino 10/11/2020 70 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Barcelona 10/11/2020 30 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal São Salvador 10/11/2020 15 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Santa Cruz 10/11/2020 20 Seringueiro
Manoel Urbano Seringal Mercejana 10/11/2020 15 Seringueiro
T. I. Arara do Amônea/Apolima-Arara/P. A
Marechal Thaumaturgo 24/01/2020 82 Indígenas
do Rio Amônea
T. I. Arara do Amônea/Apolima-Arara/P. A
Marechal Thaumaturgo 31/08/2020 82 Indígenas
do Rio Amônea
Plácido de Castro Ocupação Faz. Jorge Moura 04/05/2020 6 Posseiro
Plácido de Castro Ocupação Faz. Jorge Moura II 01/07/2020 60 Posseiro
Plácido de Castro Faz. Luiz Gomes/Seringal Capatará 31/07/2020 80 Posseiro
Porto Walter Ramal do Besouro/Seringal Nazaré 10/09/2020 100 Posseiro
Rio Branco Seringal Belo Horizonte 10/02/2020 100 Seringueiro
Rio Branco Seringal Cachoeira 15/05/2020 48 Seringueiro
Rio Branco Seringal São Bernardo 01/06/2020 30 Seringueiro
Rio Branco Seringal São Francisco do Espalha 06/09/2020 350 Seringueiro
Rio Branco Seringal Macapá 17/09/2020 114 Seringueiro
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 59 4469
Alagoas
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Atalaia Acamp. Marielle Franco/Faz. Santa Tereza 26/05/2020 150 Sem Terra
Atalaia Acamp. Marielle Franco/Faz. Santa Tereza 27/05/2020 150 Sem Terra
Atalaia Faz. São Sebastião/Acamp. São José 23/07/2020 70 Sem Terra
Coruripe Área Próxima ao Povoado Poxim 26/09/2020 50 Sem Terra
Girau do Ponciano Acamp. Mandacaru/Faz. Salgadinho 10/02/2020 45 Sem Terra
Craíbas, Girau do Ponciano Faz. Urussu/Acamp. Rosa Luxembrugo 17/07/2020 56 Sem Terra
Girau do Ponciano P. A. Roseli Nunes/Faz. Tingui 14/10/2020 35 Assentado
Faz. Lageiro/Us. Utinga Leão/Área
Messias 03/09/2020 115 Sem Terra
Revolucionária Renato Nathan
Murici Faz. Bota Velha/Acamp. Bota Velha 02/01/2020 60 Sem Terra
Palmeira dos Índios T. I. Xucuru-Kariri/Barreira Sanitária 23/12/2020 329 Indígenas
Pão de Açúcar Faz. Pai Mateus/Acamp. Fidel Castro 22/01/2020 22 Sem Terra
Pão de Açúcar Faz. Pai Mateus/Acamp. Fidel Castro 02/05/2020 22 Sem Terra
Porto de Pedras Faz. São Domingos/Acamp. Domingas 11/09/2020 15 Sem Terra
São Brás, Porto Real do Colégio T. I. Kariri-Xocó/Barreira Sanitária 23/12/2020 575 Indígenas
São Sebastião Acamp. Marciana Sera m/Faz. Pedras 17/07/2020 52 Sem Terra
Teotônio Vilela Acamp. Luciano Alves/Faz. Imburi 17/07/2020 45 Sem Terra
Traipu Acamp. Mandacaru/Faz. Balança 13/02/2020 75 Sem Terra
Traipu Acamp. Mandacaru/Faz. Balança 05/10/2020 75 Sem Terra
Subtotal: 18 1694
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Coruripe Área Próxima ao Povoado Poxim 26/09/2020 50 Sem Terra
Subtotal: 1 50
Amapá
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Base Aérea/Localidade Próxima ao
Amapá 31/05/2020 40 Posseiro
Cruzeiro
Com. ao Longo do Rio Laranjeiras/Amapá
Amapá 30/06/2020 30 Posseiro
Grande/Piquiá
41
Amapá Fazenda Espírito Santo 30/10/2020 10 Posseiro
Amapá São Roque/Redondo 30/11/2020 30 Posseiro
Amapá Fazenda Itapoã 31/12/2020 15 Posseiro
Calçoene Assentamento Irineu Filipe 31/01/2020 50 Assentado
Calçoene Comunidade Sete Ilhas 28/02/2020 15 Posseiro
Calçoene Asa Aberta 10/08/2020 40 Posseiro
Calçoene Juncal 30/11/2020 30 Posseiro
Calçoene Ramal Ilha Grande 01/12/2020 15 Posseiro
Cutias Com. Alta Floresta 31/12/2020 45 Posseiro
Ferreira Gomes Fundos Livramento do Aporema 31/01/2020 20 Ribeirinho
Ferreira Gomes Terra Preta 31/03/2020 1 Posseiro
Ferreira Gomes Com. Quilombola Igarapé do Palha 30/06/2020 25 Quilombola
Itaubal Jupati 30/04/2020 15 Ribeirinho
Itaubal Comunidade de Curicaca 14/06/2020 Ribeirinho
Itaubal Com. Quil. São Miguel do Macacoari 30/06/2020 20 Quilombola
Laranjal do Jari Ramal do Retiro 31/01/2020 20 Extrativista
T. I. Waiãpi/Aldeia Mariry/Aldeia Missão
Pedra Branca do Amapari,
Tiriyó/Parque Indígena Tumucumaque/ 05/06/2020 300 Indígenas
Laranjal do Jari
Barreira Sanitária
Área às Margens da AP-70/Abacate da
Macapá 03/02/2020 12 Sem Terra
Pedreira/Faz. Santa Izabel
Faz. São Sebastião/Campina de São
Macapá 25/02/2020 Agente pastoral
Benedito/Pacuí
Com. Quilombola Lagoa dos Índios/
Macapá 22/04/2020 Quilombola
Goiabal
Macapá Santo Antônio da Pedreira 30/04/2020 30 Ribeirinho
Macapá Com. Quilombola Lago do Papagaio 02/05/2020 Quilombola
Macapá Quilombo do Ambé 04/05/2020 50 Quilombola
Macapá Com. Quilombola Ressaca da Pedreira 05/05/2020 56 Quilombola
Macapá Quilombo do Ambé 31/07/2020 50 Quilombola
Macapá Bailique-Foz 31/08/2020 15 Posseiro
Assent. Osmar Ribeiro/Ramal do
Macapá 31/10/2020 80 Assentado
Abacate/Km 34/BR-156
Macapá Com. Quilombola Curiaú 10/11/2020 108 Quilombola
Macapá Com. Quilombola Torrão do Macapi 18/11/2020 Quilombola
Macapá Quilombo Conceição do Macacoari 28/12/2020 20 Quilombola
Macapá Com. Quilombola do Rosa 28/12/2020 Quilombola
Mazagão Assentamento Pancada do Camaipi 31/08/2020 400 Assentado
Mazagão Assentamento Pancada/Rio Vilanova 31/12/2020 1 Posseiro
Oiapoque Vila Brasil/Ilha Bela 31/01/2020 200 Extrativista
T.I. Galibi de Oiapoque/Galibi Kalinã/
Oiapoque Aldeia São José do Galibi/Barreira 12/04/2020 22 Indígenas
Sanitária
Terra Indígena Uaçá I e II/T.I. Palikur/T.I.
Oiapoque 06/05/2020 1115 Indígenas
Galibi-Marworno/T.I.Karipuna do Amapá
Porto Grande Sítio São Francisco/Igarapé Gravata 28/02/2020 2 Posseiro
Ferreira Gomes, Porto Grande UHE Cachoeira Caldeirão 11/06/2020 20 Pescador
Porto Grande Área da Codepa/Km 92 31/07/2020 22 Posseiro
Porto Grande P. A. Nova Canaã 30/09/2020 1 Assentado
Santana P. A. Matão do Piaçacá 31/01/2020 3 Assentado
Santana Com. Quilombola Engenho do Matapi 06/05/2020 Quilombola
Santana Assentamento Anauerapucu 31/08/2020 1 Posseiro
Santana Fazenda Pau Furado 30/09/2020 15 Ribeirinho
Serra do Navio Assentamento Silvestre 31/07/2020 12 Assentado
Serra do Navio Ramal da Raquel 30/10/2020 2 Posseiro
Tartarugalzinho Quilombo São Tomé 10/02/2020 30 Quilombola
Tartarugalzinho Redenção do Araguari 28/02/2020 5 Posseiro
Ramal Nova Canaã/Colônia de Itaubal/Faz.
Tartarugalzinho 30/06/2020 27 Posseiro
Santa Isabel/Pedreiro/Boca do Braço
Tartarugalzinho Las Palmas 31/07/2020 5 Posseiro
Área na Margem Direita do Rio Itaubal/
Tartarugalzinho 31/08/2020 2 Posseiro
São Raimundo
Tartarugalzinho Comunidade ao Longo do Rio Aporema 31/08/2020 1 Posseiro
Áreas em Itaubal/Agronegócio Sinal
Macapá 31/01/2020 20 Posseiro
Verde/Boa Vista da Pedreira
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 55 2998
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Área às Margens da AP-70/Abacate da
Macapá 18/01/2020 12 Sem Terra
Pedreira/Faz. Santa Izabel
Subtotal: 1 12
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Impedimento de acesso
Cutias Com. Alta Floresta 31/12/2020 45
preservação à água
Barragens e Não cumprimento de
Ferreira Gomes UHE Ferreira Gomes 24/01/2020 500
Açudes procedimentos legais
Barragens e Não cumprimento de
Ferreira Gomes UHE Coaracy Nunes 17/04/2020
Açudes procedimentos legais
Santa Luzia/São Tomé/Rio Pacuí/10 Apropriação Impedimento de acesso
Macapá 30/09/2020 200
Comunidades Próximas ao Rio Pacuí Particular à água
Com. Quilombola Casa Grande/APA Uso e Impedimento de acesso
Macapá 09/11/2020 45
Curiaú preservação à água
Barragens e Não cumprimento de
Ferreira Gomes, Porto Grande UHE Cachoeira Caldeirão 17/04/2020 20
Açudes procedimentos legais
Subtotal: 6 810
Amazonas
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária 08/01/2020 1000 Indígenas
de Olivença, Benjamin Constant
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária 11/04/2020 1000 Indígenas
de Olivença, Benjamin Constant
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária 28/05/2020 1000 Indígenas
de Olivença, Benjamin Constant
Atalaia do Norte, Jutaí, São Paulo
T. I. Vale do Javari/Barreira Sanitária 28/10/2020 1000 Indígenas
de Olivença, Benjamin Constant
Autazes T. I. Trincheira 08/01/2020 62 Indígenas
Autazes Aldeia Taquara 08/01/2020 Indígenas
Autazes T. I. Patauá 08/01/2020 47 Indígenas
Autazes Aldeia São Félix 08/01/2020 120 Indígenas
Autazes Aldeia Padre 03/02/2020 30 Indígenas
Autazes T. I. Pantaleão 03/02/2020 Indígenas
Autazes T. I. Jauary 07/02/2020 315 Indígenas
Autazes T. I. Capivara/Barreira Sanitária 15/04/2020 61 Indígenas
Aldeia Murutinga/T. I. Murutinga/
Autazes 21/05/2020 600 Indígenas
Barreira Sanitária
Benjamin Constant Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna 21/09/2020 30 Indígenas
Benjamin Constant Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna 28/09/2020 30 Indígenas
Boca do Acre P. A. Monte 18/02/2020 300 Assentado
Boca do Acre Faz. União/Cruzeirinho 17/05/2020 314 Posseiro
Boca do Acre Resex Arapixi/PAE Antimary 21/05/2020 300 Extrativista
Boca do Acre Seringal Perseverança 10/06/2020 25 Extrativista
Boca do Acre Seringal Bom Lugar/Com. Nova Vida 12/06/2020 60 Ribeirinho
Ramal do 37/Seringal Entre Rios/
Boca do Acre 15/06/2020 31 Posseiro
Recreio do Sto. Antônio/Gl. Pauene
Gleba Novo Axioma Redenção/Km 90/
Boca do Acre 15/06/2020 28 Posseiro
Ramal Santa Helena
Boca do Acre Ramal do Garrafa 25/06/2020 60 Posseiro
Boca do Acre Seringal Pirapora 01/07/2020 350 Posseiro
43
Boca do Acre Seringal Bom Lugar/Ramal do Espigão 22/07/2020 300 Posseiro
Boca do Acre Seringal Macapá 08/08/2020 114 Posseiro
Boca do Acre Seringal Cametá 18/08/2020 36 Seringueiro
Boca do Acre Seringal Andaraí 20/08/2020 120 Posseiro
Ocup. do Vinha/Ramal São Francisco/
Boca do Acre 02/09/2020 25 Posseiro
Km 60
Boca do Acre Seringal Europa 15/09/2020 30 Extrativista
Boca do Acre Seringal Cajueiro 18/09/2020 25 Posseiro
Gl. Novo Axioma Redenção/Ramal do
Boca do Acre 19/09/2020 33 Posseiro
Km 104/Vila Velha
Boca do Acre Seringal Bananeira 25/09/2020 26 Extrativista
Boca do Acre Seringal Entre Rios/Ramal do 52 10/10/2020 39 Posseiro
Seringal Novo Axioma Redenção/
Boca do Acre 11/10/2020 48 Posseiro
Ocup. do Diva
Boca do Acre Seringal Igarapé Grande 14/10/2020 26 Posseiro
Boca do Acre Seringal Porto Central 15/10/2020 300 Posseiro
Boca do Acre Seringal Codó/PAE Antimary 17/10/2020 23 Seringueiro
Seringal Entre Rios/Ramal São
Boca do Acre 19/10/2020 28 Posseiro
Francisco/Faz. do Km 60/Faz. Savana
Boca do Acre Gleba Francisco Sevalha 20/10/2020 800 Extrativista
Seringal Entre Rios/Ramal do 64/Com.
Boca do Acre 29/10/2020 15 Posseiro
Lua Nova
Boca do Acre Seringal Igarapé Grande 20/11/2020 26 Posseiro
Careiro T. I. Lago do Piranha 03/02/2020 50 Indígenas
Careiro da Várzea T. I. Sissaíma 08/01/2020 74 Indígenas
Com. Vera Lúcia Castelo Branco/Km
Iranduba 25/08/2020 165 Posseiro
13/Barreira Sanitária
Com. Rondon I e II/N. Sra. Aparecida
Itacoatiara 21/05/2020 600 Ribeirinho
do Jamanã/Jesus é Meu Rei
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Lábrea 28/02/2020 125 Posseiro
Mariele Franco
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Lábrea 26/07/2020 125 Posseiro
Mariele Franco
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Lábrea 22/11/2020 125 Posseiro
Mariele Franco
Lábrea T. I. Hi-Merimã 27/11/2020 50 Indígenas
Lábrea Seringal São Domingos 01/12/2020 140 Posseiro
Manaus Prainha do Tarumã 30/08/2020 4 Indígenas
Manaus Prainha do Tarumã 05/09/2020 4 Indígenas
Manaus Prainha do Tarumã 09/09/2020 4 Indígenas
Manaus P. A. Água Branca 03/11/2020 1 Assentado
Manicoré T. I. Lago Capanã 05/04/2020 49 Indígenas
Próximo à Com. Santa Clara/Rio
Maués 07/06/2020 Ribeirinho
Urupadi/Polo 11/Sítio São Francisco
Parintins, Maués, Barreirinha T. I. Andirá-Marau/Barreira Sanitária 01/08/2020 3337 Indígenas
Parintins, Maués, Barreirinha T. I. Andirá-Marau/Barreira Sanitária 15/10/2020 3337 Indígenas
Presidente Figueiredo Com. Terra Santa/Km 152/BR-174 21/12/2020 25 Posseiro
Rio Preto da Eva Comunidade Bons Amigos 1, 2 e 3 19/05/2020 111 Posseiro
São Gabriel da Cachoeira T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária 17/04/2020 1100 Indígenas
São Gabriel da Cachoeira T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária 16/07/2020 1100 Indígenas
São Gabriel da Cachoeira T. I. Alto Rio Negro/Barreira Sanitária 07/12/2020 1100 Indígenas
Com. Kambeba/Castanhal do
São Paulo de Olivença 09/10/2020 700 Indígenas
Ajaratuba
Tonantins T. I. Jerusalém do Urutuba 06/03/2020 Indígenas
Subtotal: 66 12252
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Faz. Palotina/Seringal Novo Natal/Com.
Lábrea 22/11/2020 125 Posseiro
Mariele Franco
Subtotal: 1 125
TRABALHO
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Extração de madeira
Lábrea Área em Lábrea 20/07/2020 14 11
(desmatamento)
Subtotal: 1 14 11
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e
Autazes T. I. Pantaleão 03/02/2020 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Autazes T. I. Trincheira 08/01/2020 62 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Autazes Aldeia Padre 03/02/2020 30 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Autazes Aldeia Taquara 08/01/2020 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Autazes T. I. Patauá 08/01/2020 47 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Autazes Aldeia São Félix 08/01/2020 120 Destruição e ou poluição
preservação
Apropriação Impedimento de acesso
Benjamin Constant Perímetro do Bom Jardim I/Povo Tikuna 28/09/2020 30
Particular à água
Uso e
Careiro T. I. Lago do Piranha 03/02/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Careiro da Várzea T. I. Sissaíma 08/01/2020 74 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Itacoatiara Lago Canaçari 25/08/2020 Pesca predatória
preservação
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Uso e
Nova Olinda do Norte, Borba 07/08/2020 140 Pesca predatória
Outras preservação
PAE Abacaxis 1 e 2/Terra Preta e Uso e
Nova Olinda do Norte, Borba 09/08/2020 140 Pesca predatória
Outras preservação
Uso e
Parintins Comunidade Brasil Roça 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Comunidade Boa Esperança 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Com. Bom Socorro do Zé Açu 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Comunidade Nova Esperança 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Comunidade Paraíso 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Com. Nossa Senhora das Graças 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Comunidade Vista Alegra 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Parintins Comunidade Nazaré 27/07/2020 250 Destruição e ou poluição
preservação
Com. Kambeba/Castanhal do Apropriação
São Paulo de Olivença 15/09/2020 700 Destruição e ou poluição
Ajaratuba Particular
Subtotal: 21 3253
Bahia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Andorinha Com. Morro Branco 01/07/2020 Posseiro
Comunidade Quilombola Torrinha/
Barra 01/05/2020 100 Quilombola
Barreira Sanitária
Com. Quilombola Igarité/Barreira
Barra 12/05/2020 500 Quilombola
Sanitária
45
Comunidade Quilombola Torrinha/
Barra 17/05/2020 100 Quilombola
Barreira Sanitária
Barra Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira 04/09/2020 56 Camponês de fundo e fecho de pasto
Barra Com. Queimadas/Gavião/Cachoeira 11/09/2020 56 Camponês de fundo e fecho de pasto
Com. Quilombola Pedra Negra dos
Barra 31/12/2020 Quilombola
Extremos/Barreira Sanitária
Bom Jesus da Lapa Com. Quilombola Fortaleza 21/01/2020 160 Quilombola
Brotas de Macaúbas Comunidade Mangabeira 30/01/2020 50 Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas Comunidade Mangabeira 01/07/2020 50 Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas Comunidade Mangabeira 31/07/2020 50 Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas Com. Mata de Eufrásio 31/07/2020 15 Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas Comunidade de Malhada 31/07/2020 50 Camponês de fundo e fecho de pasto
Brotas de Macaúbas Comunidade Papagaio 31/07/2020 Camponês de fundo e fecho de pasto
Com. Amansador/Lago do Maciel/Pé do
Morro/Mata do Bom Jesus/Nova
Brotas de Macaúbas 30/09/2020 470 Posseiro
Santana/Nova Vista/Novo Horizonte/
Riachão/Três Reis
Caetité Com. Curral Velho 07/05/2020 80 Pequeno proprietário
Cairu Com. de Garapuá/Ilha de Tinharém 15/05/2020 80 Pescador
Camamu Com. Quilombola Barroso 02/03/2020 Quilombola
Camamu Com. Quilombola Barroso 08/05/2020 Quilombola
Campo Alegre de Lourdes 8 Comunidades de Angico dos Dias 24/03/2020 400 Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes Comunidades de Lagoa do Sal/Malhada 06/09/2020 44 Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes Comunidades de Lagoa do Sal/Malhada 14/09/2020 44 Camponês de fundo e fecho de pasto
Campo Alegre de Lourdes Comunidade de Pitombas 15/09/2020 27 Camponês de fundo e fecho de pasto
Canudos Com. de Raso/Barreira Sanitária 27/05/2020 Camponês de fundo e fecho de pasto
Canudos Com. Rio do Suturno/Barreira Sanitária 27/05/2020 Camponês de fundo e fecho de pasto
Comunidade de Melancia/Faz. Morro
Capim Grosso 31/12/2020 Posseiro
Branco
Capim Grosso Com. Alto Bonito/Faz. Morro Branco 31/12/2020 Posseiro
Capim Grosso Com. Morro Branco/Faz. Morro Branco 31/12/2020 Posseiro
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Serra do Ramalho, Carinhanha 20/05/2020 800 Quilombola
Fria
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Serra do Ramalho, Carinhanha 26/05/2020 800 Quilombola
Fria
PAE São Francisco/Quilombo de Água
Serra do Ramalho, Carinhanha 15/06/2020 800 Quilombola
Fria
Carinhanha Quilombo Barra do Parateca 16/06/2020 214 Quilombola
Casa Nova Comunidade Serra das Imagens 02/05/2020 Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova Comunidade Serra das Imagens 31/05/2020 Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova Comunidade Veredão dos Macenas 05/08/2020 27 Camponês de fundo e fecho de pasto
Casa Nova Comunidade de Pintado 05/08/2020 24 Camponês de fundo e fecho de pasto
Cordeiros Com. Palmeiras 04/06/2020 1 Camponês de fundo e fecho de pasto
Cordeiros Com. Pedra Branca 11/06/2020 50 Camponês de fundo e fecho de pasto
Fecho de Pasto de Porcos Guará e
Correntina Pombas/Com. Matão/Garrotes/Brejo dos 18/02/2020 43 Camponês de fundo e fecho de pasto
Aflitos/Cabeceira Grande
Fecho de Pasto da Vereda da
Correntina Felicidade/Com. Silvânia/São Francisco/ 18/02/2020 40 Camponês de fundo e fecho de pasto
Cobra Verde/Cerco/Faz. Sta. Tereza
Curaçá Com. Esfomeado e Vargem Comprida 04/09/2020 1 Camponês de fundo e fecho de pasto
Área Indígena Kaimbe/Massacará/
Euclides da Cunha 27/05/2020 338 Indígenas
Barreira Sanitária
Eunápolis Aldeia Taquari 22/07/2020 30 Indígenas
Gandu Acampamento 2 de abril 08/04/2020 15 Sem Terra
Gongogi Assent. Santa Irene/Barreira Sanitária 17/05/2020 100 Assentado
Com. Barreiro/Barreirinho/Santa Cruz/
Sumidouro/Boa Vista/Lagoa do Cipó/
Queimada do Ru no/Pé de Limão/Volta
Ibipeba, Barro Alto 31/03/2020 531 Camponês de fundo e fecho de pasto
Grande/Mandacaru/Morro do
Fernandes/Santana do Jacaré/Lagoa
Grande/Gergilim
Com. Barreiro/Barreirinho/Santa Cruz/
Sumidouro/Boa Vista/Lagoa do Cipó/
Queimada do Ru no/Pé de Limão/Volta
Ibipeba, Barro Alto 09/12/2020 531 Camponês de fundo e fecho de pasto
Grande/Mandacaru/Morro do
Fernandes/Santana do Jacaré/Lagoa
Grande/Gergilim
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Cafarnaum, Morro do Chapéu Faz. Queimadas/Acamp. Márcio Matos 27/02/2020 60 Sem Terra
Ponta Grande/Aldeia Nova Coroa/
Santa Cruz Cabrália, Porto Itapororoca/Sarã Mirawê/Mirapé/Txihi
31/07/2020 24 Indígenas
Seguro Kamayurá/Novos Guerreiros/T. I. Coroa
Vermelha
Subtotal: 2 84
TRABALHO
Trabalho Escravo
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Feira de Santana Obra em Feira de Santana 05/08/2020 1 1 Construção
Jacobina Fazenda Seriema 12/10/2020 31 14 Extração de sisal
Faz. São Jorge/Nossa Senhora
Mulungu do Morro 20/10/2020 4 1 Extração de sisal
Aparecida
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Sento Sé 03/12/2020 9 9 Garimpo (Ametista)
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Sento Sé 03/12/2020 8 8 Garimpo (Ametista)
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Sento Sé 03/12/2020 7 7 Garimpo (Ametista)
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Sento Sé 03/12/2020 4 4 Garimpo (Ametista)
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
Garimpo de Ametista/BA-210/Serra da
Sento Sé 03/12/2020 7 3 Garimpo (Ametista)
Quixabá/Parna do Boqueirão da Onça
Várzea Nova Fazenda Pau de Colher 20/10/2020 13 12 Extração de sisal
Várzea Nova Faz. Santo Antônio/Faz. Riacho 20/10/2020 10 10 Extração de sisal
Subtotal: 10 94 69
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Apropriação Desconstrução do
Cairu Com. de Garapuá/Ilha de Tinharém 16/07/2020 1
Particular histórico-cultural
Resex de Canavieiras/Com. de Uso e Não cumprimento de
Belmonte, Una, Canavieiras 30/08/2020 2300
Campinhos preservação procedimentos legais
Uso e
Cordeiros Com. Pedra Branca 11/06/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Com. de Canavieira/Itapicuru/ Barragens e Não cumprimento de
Jacobina 02/12/2020 86
Jabuticaba Açudes procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Maragogipe Com. Quilombola Guerém 11/11/2020 33
preservação procedimentos legais
Hidrelétrica Pedra do Cavalo/Resex Barragens e Não cumprimento de
Maragogipe, Cachoeira 20/08/2020 5000
Baía do Iguape/92 Comunidades Açudes procedimentos legais
Uso e
Piatã Com. Quilombola do Mocó e Bocaína 30/07/2020 150 Destruição e ou poluição
preservação
Barragens e Diminuição do acesso à
Ruy Barbosa Povoado de Caldeirão do Morro 07/04/2020
Açudes Água
Uso e
Salinas da Margarida Conceição de Salinas 22/12/2020 40 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e Não cumprimento de
Salvador Colônia de Pescadores Z-3 15/09/2020 1
preservação procedimentos legais
Salvador, Candeias, Madre de Território Quil. da Ilha de Maré/Porto de Uso e
09/09/2020 1500 Destruição e ou poluição
Deus Aratu preservação
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Comunidade Ribeirinha de Pascoal 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Comunidade Ribeirinha Aldeia 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Comunidade Ribeirinha Andorinhas 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Com. Ribeirinha Cajui 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Com. Ribeirinha Tamboar de Cima 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Com. Ribeirinha Ponta d'Água 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Retiro de Baixo 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Comunidade Ribeirinha Limoeiro 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Comunidade Ribeirinha de Itapera 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Com. Ribeirinha Retiro de Cima 20/06/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Sento Sé Com. Ribeirinha Volta da Serra 20/06/2020
preservação procedimentos legais
49
Barragens e Não cumprimento de
Simões Filho Com. Quilombola Rio dos Macacos 11/05/2020 43
Açudes procedimentos legais
Barragens e Impedimento de acesso
Simões Filho Com. Quilombola Rio dos Macacos 18/10/2020 43
Açudes à água
Uso e Contaminação por
Vitória da Conquista Quilombo da Fazenda Velame 24/09/2020 1
preservação agrotóxico
Projeto de Irrigação Baixio do Irecê/18 Apropriação Não cumprimento de
Itaguaçu da Bahia, Xique-Xique 09/12/2020 760
Comunidades Atingidas Particular procedimentos legais
Subtotal: 26 9965
Ceará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Com. Quilombola Córrego dos Iús/
Acaraú 24/05/2020 60 Quilombola
Barreira Sanitária
Aquiraz T. I. Lagoa da Encantada 16/01/2020 80 Indígenas
Aracati Com. do Cumbe/Emp. de Carcinicultura 19/08/2020 180 Pescador
Caucaia T. I. Tapeba/Barreira Sanitária 16/01/2020 1850 Indígenas
Caucaia T. I. Anacé/Barreira Sanitária 31/03/2020 459 Indígenas
São Gonçalo do Amarante, T. I. Anacé/Taba dos Anacés/Barreira
29/05/2020 385 Indígenas
Caucaia Sanitária
Caucaia T. I. Tapeba/Barreira Sanitária 29/05/2020 1850 Indígenas
Caucaia Aldeia Lagoa dos Bestas/T.I. Tapeba 15/06/2020 Indígenas
Caucaia Aldeia Vila dos Cacos/T.I. Tapeba 15/06/2020 Indígenas
São Gonçalo do Amarante, T. I. Anacé/Taba dos Anacés/Barreira
15/08/2020 385 Indígenas
Caucaia Sanitária
Caucaia T. I. Tapeba/Barreira Sanitária 31/12/2020 1850 Indígenas
Caucaia T. I. Anacé/Barreira Sanitária 31/12/2020 459 Indígenas
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Itarema, Itapipoca 16/01/2020 130 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Itarema, Itapipoca 01/05/2020 130 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Itarema, Itapipoca 17/05/2020 130 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Tremembé da Barra do Mundaú/
Itarema, Itapipoca 15/08/2020 130 Indígenas
Barreira Sanitária
Pacatuba, Maracanaú T. I. Pitaguary 16/01/2020 1150 Indígenas
Subtotal: 17 4294
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Marisqueiras de Pontal de Maceió e Uso e Não cumprimento de
Fortim, Aracati 30/08/2020 500
outras Com./Vazamento de Óleo preservação procedimentos legais
Subtotal: 1 500
Distrito Federal
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Faz. São Franscisco II/Gl. C e D/Acamp.
Brasília 24/03/2020 30 Sem Terra
Marielle Franco
Aldeia
Teko Haw/Com. Indígena do Bananal/St.
Brasília 25/08/2020 27 Indígenas
Noroeste/Brasal/Povo Guajajara/Santuário
dos Pajés
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 3 58
Espírito Santo
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Aldeia Tupinikim Pau-Brasil/Aracruz/Vila
São Mateus, Conceição da Barra,
do Riacho/Caieiras Velhas/Fibria/ 26/05/2020 1200 Indígenas
Aracruz
Votorantim/Tupiniquim/Barreira Sanitária
Aldeia Tupinikim Pau-Brasil/Aracruz/Vila
São Mateus, Conceição da Barra,
do Riacho/Caieiras Velhas/Fibria/ 19/08/2020 1200 Indígenas
Aracruz
Votorantim/Tupiniquim/Barreira Sanitária
Com. Quilombola S. Domingos/Sapê do
Conceição da Barra 02/04/2020 37 Quilombola
Norte/Aracruz
Conceição da Barra Com. Quilombola do Linharinho 03/06/2020 60 Quilombola
Conceição da Barra Com. Quilombola Córrego Alexandre 03/06/2020 Quilombola
Conceição da Barra Com. Quilombola São Domingos 03/06/2020 Quilombola
Com. Quilombola de Angelim I/Sapê do
Conceição da Barra 03/06/2020 70 Quilombola
Norte/Aracruz
Conceição da Barra Com. Quilombola do Linharinho 19/08/2020 60 Quilombola
Pinheiros, Conceição da Barra Faz. Itaúnas 04/12/2020 130 Sem Terra
Subtotal: 9 1497
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
São Mateus, Conceição da Barra Com. Quil. Angelim III/Sapê do Norte 11/12/2020 70 Quilombola
Subtotal: 1 70
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
T. I. Comboios/Mineradora Samarco-Vale- Barragens e Não cumprimento de
Aracruz 03/11/2020 29
BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Ilha das Orquídeas/Rio Doce/Mineradora Uso e Não cumprimento de
Baixo Guandu 26/10/2020
Samarco-Vale-BHP Billiton preservação procedimentos legais
Com. Ribeirinha Mascarenhas/Mineradora Barragens e Não cumprimento de
Baixo Guandu 26/10/2020 300
Samarco-Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Várias Com. Ribeirinhas do Rio Doce/ Uso e
Colatina 01/07/2020 116 Destruição e ou poluição
Mineradora Samarco-Vale-BHP Billiton preservação
Com. Quilombola de Angelim II/Sapê do Uso e Diminuição do acesso à
Conceição da Barra 21/12/2020 37
Norte/Aracruz preservação Água
Uso e Diminuição do acesso à
São Mateus, Conceição da Barra Com. Quil. Angelim III/Sapê do Norte 21/12/2020 100
preservação Água
Com. Quilombola de Angelim I/Sapê do Uso e Diminuição do acesso à
Conceição da Barra 21/12/2020 70
Norte/Aracruz preservação Água
Com. Nativo de Barra Nova/Mineradora Barragens e
São Mateus 15/03/2020 27 Destruição e ou poluição
Samarco-Vale-BHP Billiton Açudes
Uso e Impedimento de acesso
Vitória Colônia de Pescadores Z-5 10/11/2020
preservação à água
Subtotal: 9 679
Goiás
TERRA
Conflitos por Terra
51
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Acamp. Dom Tomás Balduino/Faz.
Formosa, Alexânia 04/03/2020 280 Sem Terra
Crixás/Cangalha/Maltizaria
Amorinópolis Assentamento Pe. Nilo 20/01/2020 40 Assentado
Anápolis Área em Vivian Parque 05/03/2020 50 Sem Terra
Cachoeira Alta Faz. às margens da BR-364 09/09/2020 75 Sem Terra
Caiapônia Acampamento Torres do Taquari 30/01/2020 30 Sem Terra
Caiapônia Assentamento Morrinhos 18/05/2020 3 Assentado
Catalão Comunidade Macaúba/Vale 17/02/2020 30 Sem Terra
Catalão Acamp. Oziel Alves/Faz. João da Cruz 21/10/2020 35 Sem Terra
Com. Quilombola São Domingos/Tatu/
Cavalcante 02/06/2020 70 Quilombola
São José
Cavalcante, Monte Alegre de
Com. Engenho II/Quilombo Kalunga 22/06/2020 125 Quilombola
Goiás
Cavalcante, Monte Alegre de
Com. Vão de Almas/Quilombo Kalunga 22/06/2020 215 Quilombola
Goiás
Cavalcante, Monte Alegre de
Com. Engenho II/Quilombo Kalunga 06/09/2020 125 Quilombola
Goiás
Cavalcante Povoado Rio Preto 30/09/2020 40 Quilombola
Cidade Ocidental Com. Quilombola de Mesquita 21/11/2020 750 Quilombola
Formosa Fazenda Cangalha 04/05/2020 1 Sem Terra
Com. Levantado/Salina/Belo/Córrego
Iaciara 20/01/2020 16 Sem Terra
Brejo do Fogo/Riacho do Fogo
Acamp. Leonir Orback/Faz. Ouro
Santa Helena de Goiás 08/06/2020 250 Sem Terra
Branco
Acamp. Leonir Orback/Faz. Ouro
Santa Helena de Goiás 10/11/2020 250 Sem Terra
Branco
Turvelândia Fazenda Monjolo 20/01/2020 140 Sem Terra
Subtotal: 19 2150
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Anápolis Área em Vivian Parque 05/03/2020 Sem Terra
Lagoa Santa Fazenda Santa Maria 27/06/2020 50 Sem Terra
Subtotal: 2 50
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Extração de madeira
Campo Limpo de Goiás Fazenda Conceição 02/10/2020 1 1
(Desmatamento)
Davinópolis Fazenda Boqueirão de Cima 21/09/2020 6 6 Carvoaria
Extração de basalto
Joviânia Fazenda Córrego Fundo 21/09/2020 3 3
(mineração)
Extração de basalto
Joviânia Fazenda Vertente do Meio 21/09/2020 4 3
(mineração)
Extração de basalto
Joviânia Fazenda Santa Bárbara 21/09/2020 1 1
(mineração)
Rio Verde Carvoaria do Carlinhos 21/09/2020 3 3 Carvoaria
Extração de basalto
Vicentinópolis Faz. Ouro Branco/Santa Maria 28/09/2020 20 20 2
(mineração)
Extração de basalto
Vicentinópolis Fazenda Santa Bárbara 28/09/2020 3 3
(Mineração)
Subtotal: 8 41 40 2
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Não cumprimento de
Baliza Assent. Oziel Alves Pereira 20/02/2020 540
preservação procedimentos legais
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 8 800
Maranhão
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Açailândia Com. Francisco Romão/Vale 10/02/2020 102 Assentado
Açailândia Assent. Novo Oriente/Vale 10/02/2020 40 Assentado
Açailândia Fazenda Novo Horizonte 10/02/2020 Sem Terra
Açailândia Comunidade Jardim Bela Vista 10/02/2020 Pequeno proprietário
Açailândia Comunidade Agroplanalto 10/02/2020 30 Assentado
Açailândia Assent. Planalto I/Vale 10/02/2020 39 Assentado
Assent. Califórnia/Suzano Papel e
Açailândia 10/02/2020 200 Assentado
Celulose
Assent. Califórnia/Suzano Papel e
Açailândia 24/09/2020 200 Assentado
Celulose
Com. Quil. Retiro/Centro de
Alcântara 27/02/2020 3 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Tacaua/Centro de
Alcântara 27/03/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Vista Alegre/Centro de
Alcântara 27/03/2020 32 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Águas Belas/Cema/Centro
Alcântara 27/03/2020 2 Quilombola
de Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Baracatatiua/Centro de
Alcântara 27/03/2020 11 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Bom Viver/Centro de
Alcântara 27/03/2020 8 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Pacuri/Centro de
Alcântara 27/03/2020 19 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Periaçu/Centro de
Alcântara 27/03/2020 26 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Itapera/Centro de
Alcântara 27/03/2020 18 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Folhal/Centro de
Alcântara 27/03/2020 30 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Canavieira/Centro de
Alcântara 27/03/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Brito/Centro de Lançamento
Alcântara 27/03/2020 45 Quilombola
de Alcântara
Com. Quil. Santa Maria/Centro de
Alcântara 27/03/2020 138 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Mocajubal/Centro de
Alcântara 27/03/2020 27 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Mamuna/Mamona/Centro de
Alcântara 27/03/2020 80 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Rio Verde/Centro de
Alcântara 27/03/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Porto do Aru/Centro de
Alcântara 27/03/2020 2 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. São João de Cortes/Centro
Alcântara 27/03/2020 151 Quilombola
de Lançamento de Alcântara
53
Com. Quil. Ponta d' Areia/Centro de
Alcântara 27/03/2020 80 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Araú Novo/Centro de
Alcântara 27/03/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Camarajó/Centro de
Alcântara 27/03/2020 2 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Galego/Centro de
Alcântara 27/03/2020 13 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Canelatiua/Centro de
Alcântara 27/03/2020 67 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Vila Valdeci/Centro de
Alcântara 27/03/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Mamuninha/Centro de
Alcântara 27/03/2020 4 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Mãe Eugênia/Centro de
Alcântara 27/03/2020 2 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Agrovila Ponta Seca/Centro de
Alcântara 30/06/2020 17 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Agrovila Peru/Centro de Lançamento
Alcântara 30/06/2020 123 Quilombola
de Alcântara
Agrovila Pepital/Centro de Lançamento
Alcântara 30/06/2020 Quilombola
de Alcântara
Com. Quil. Mamuna/Mamona/Centro de
Alcântara 30/06/2020 80 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Águas Belas/Cema/Centro
Alcântara 30/06/2020 2 Quilombola
de Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Baracatatiua/Centro de
Alcântara 30/06/2020 11 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Santa Maria/Centro de
Alcântara 30/06/2020 138 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Mato Grosso/Centro de
Alcântara 30/06/2020 7 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Vista Alegre/Centro de
Alcântara 30/06/2020 32 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Retiro/Centro de
Alcântara 30/06/2020 3 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Canavieira/Centro de
Alcântara 30/06/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Folhal/Centro de
Alcântara 30/06/2020 30 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Galego/Centro de
Alcântara 30/06/2020 13 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Agrovila Cajueiro/Centro de
Alcântara 30/06/2020 59 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Tacaua/Centro de
Alcântara 30/06/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Vila Valdeci/Centro de
Alcântara 30/06/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Barbosa/Centro de
Alcântara 30/06/2020 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Centro de Lançamento de Alcântara/
Alcântara 30/06/2020 Quilombola
Pov. Trajano
Com. Quil. São Francisco/Centro de
Alcântara 30/06/2020 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quilombola São Maurício/Centro
Alcântara 30/06/2020 Quilombola
de Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Araú Novo/Centro de
Alcântara 30/06/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Brito/Centro de Lançamento
Alcântara 30/06/2020 45 Quilombola
de Alcântara
Com. Quil. Bom Viver/Centro de
Alcântara 30/06/2020 8 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Camarajó/Centro de
Alcântara 30/06/2020 2 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Ponta d' Areia/Centro de
Alcântara 30/06/2020 80 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Porto do Aru/Centro de
Alcântara 30/06/2020 2 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Com. Quil. Rio Verde/Centro de
Alcântara 30/06/2020 5 Quilombola
Lançamento de Alcântara
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Caxias Fazenda Estrela 30/06/2020 5 5 Pecuária
Caxias Fazenda São Raimundo 12/03/2020 15 15 Soja
Caxias Faz. São Raimundo/Hidráulica 12/03/2020 2 2 Perfuração e construção
São Félix de Balsas Carvoaria do Zé Maria 25/11/2020 15 Carvoaria
Subtotal: 4 37 22
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Quilombola São Benedito dos Uso e
Codó 06/07/2020 73 Destruição e ou poluição
Colocados/Barreira Sanitária preservação
T. Quil. Sta. Rosa dos Pretos/Barreira
Uso e
Itapecuru Mirim Funda/Alto São João e Outros/ 11/11/2020 800 Destruição e ou poluição
preservação
Duplicação da BR-135
Apropriação Ameaça de
Nova Iorque Território Pesqueiro no Rio Parnaíba 17/01/2020
Particular expropriação
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 3 873
Mato Grosso
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Água Boa T.I. Areões/Xavante 24/06/2020 336 Indígenas
Água Boa T.I. Areões/Xavante 15/09/2020 336 Indígenas
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Alta Floresta 11/02/2020 Indígenas
Kayabi
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e
Alta Floresta 20/05/2020 Indígenas
Kayabi
Apiacás T.I. Apiaká do Pontal 19/05/2020 66 Indígenas
Jacareacanga, Apiacás T.I. Kayabi 30/06/2020 192 Indígenas
Jacareacanga, Apiacás T.I. Kayabi 15/09/2020 192 Indígenas
Barão de Melgaço T.I. Perigara 15/09/2020 35 Indígenas
Poconé, Barão de Melgaço T. I. Baía dos Guató/Guató 15/09/2020 80 Indígenas
Barão de Melgaço Comunidade Ribeirinha de Piúva 20/10/2020 Ribeirinho
Poconé, Barão de Melgaço T. I. Baía dos Guató/Guató 12/11/2020 80 Indígenas
Com. Tradicional Pantaneira
Barão de Melgaço 05/12/2020 52 Ribeirinho
Barranqueira
Barão de Melgaço Com. Tradicional Pantaneira Piraim 05/12/2020 52 Ribeirinho
Barra do Bugres, Porto Estrela Com. Quilombolas Vãozinho e Voltinha 20/07/2020 63 Quilombola
Barra do Bugres T.I. Umutina/Barreira Sanitária 21/08/2020 150 Indígenas
Barra do Garças T.I. São Marcos/Xavante 20/05/2020 712 Indígenas
Barra do Garças, General Carneiro T.I. Merure 17/07/2020 164 Indígenas
Barra do Garças T.I. São Marcos/Xavante 19/07/2020 712 Indígenas
Barra do Garças T.I. São Marcos/Xavante 11/08/2020 712 Indígenas
Barra do Garças T.I. São Marcos/Xavante 15/09/2020 712 Indígenas
Barra do Garças, General Carneiro T.I. Merure 15/09/2020 164 Indígenas
Brasnorte T. I. Menkü 08/05/2020 58 Indígenas
Brasnorte T. I. Menkü 19/05/2020 58 Indígenas
Brasnorte T.I. Manoki 19/05/2020 63 Indígenas
Brasnorte T.I. Irantxe/Manoki 09/07/2020 94 Indígenas
Brasnorte T.I. Irantxe/Manoki 05/08/2020 94 Indígenas
Brasnorte T.I. Irantxe/Manoki 15/09/2020 94 Indígenas
Brasnorte T.I. Manoki 15/09/2020 63 Indígenas
Brasnorte T. I. Menkü 15/09/2020 58 Indígenas
Cáceres Comunidade Pantaneira Porto Limão 15/06/2020 53 Ribeirinho
Cáceres P.A. Flexas 19/08/2020 13 Assentado
Cáceres Faz. Rancho Verde/Acamp. Renascer 27/09/2020 100 Sem Terra
Nova Xavantina, Campinápolis T. I. Parabubure/Xavante 24/06/2020 955 Indígenas
Nova Xavantina, Campinápolis T. I. Parabubure/Xavante 15/09/2020 955 Indígenas
Sapezal, Campo Novo do Parecis T. I. Utiariti 15/09/2020 102 Indígenas
Luciara, Canabrava do Norte T.I. Krenrehé 15/09/2020 Indígenas
Ribeirão Cascalheira, Canarana T. I. Pimentel Barbosa/Xavante 24/06/2020 440 Indígenas
Gaúcha do Norte, Canarana T. I. Pequizal do Naruvôtu 15/09/2020 17 Indígenas
Ribeirão Cascalheira, Canarana T. I. Pimentel Barbosa/Xavante 15/09/2020 440 Indígenas
Quilombo Barro Preto/Serra do
Chapada dos Guimarães 20/07/2020 Quilombola
Cambam Bi
Cocalinho T. I. Wedezé 19/05/2020 25 Indígenas
Rondolândia, Colniza T. I. Piripkura 19/05/2020 1 Indígenas
Faz. Bauru/Magali/Acamp. Gleba
Colniza 19/08/2020 350 Posseiro
União
Reserva Extrativista (Resex) Guariba-
Colniza, Aripuanã 15/09/2020 80 Extrativista
Roosevelt
Rondolândia, Colniza T. I. Piripkura 15/09/2020 1 Indígenas
Rondolândia, Colniza T. I. Piripkura 30/09/2020 1 Indígenas
Comodoro, Colniza T. I. Kawahiva do Rio Pardo 19/05/2020 17 Indígenas
Comodoro T.I. Pirineus de Souza 15/09/2020 70 Indígenas
59
Comodoro, Nova Lacerda T. I. Vale do Guaporé/Nambyqwara 15/09/2020 121 Indígenas
Comodoro T.I. Nambikwara 15/09/2020 119 Indígenas
Confresa Comunidade Porta da Amazônia 14/12/2020 60 Posseiro
Conquista D'Oeste T.I. Juininha 05/08/2020 18 Indígenas
Conquista D'Oeste T.I. Juininha 15/09/2020 18 Indígenas
Cotriguaçu T.I. Escondido 15/09/2020 11 Indígenas
Cuiabá Área Flor da Mata 28/01/2020 150 Sem Terra
Cuiabá Gleba Boa Sorte/Fazenda Santa Cruz 15/09/2020 200 Sem Terra
Cuiabá Gleba Boa Sorte/Fazenda Santa Cruz 16/09/2020 200 Sem Terra
Nova Marilândia, Nova Maringá, T.I. Estação Paresi/Ponte de Pedra/
19/05/2020 7 Indígenas
Diamantino Faz. São Jorge
Glória D'Oeste Fazenda Nossa Senhora Aparecida 28/12/2020 30 Sem Terra
Jaciara Fazenda Santa Fé 07/07/2020 Sem Terra
Gl. Mestre I/Usina Pantanal/Acamp.
Jaciara 14/08/2020 92 Sem Terra
Renascer
Nova Canaã do Norte, Tabaporã, T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald.
19/05/2020 38 Indígenas
Apiacás, Juara Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
Juara T.I. Apiaka/Kayabi 15/09/2020 221 Indígenas
Nova Canaã do Norte, Tabaporã, T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald.
15/09/2020 38 Indígenas
Apiacás, Juara Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro
Juína Faz. Tarciana/Assent. Vale do Juinão 03/03/2020 103 Assentado
Juína T. I. Enawenê-Nawê/Adowinã/Rio Preto 21/08/2020 184 Indígenas
Juína T.I. Serra Morena 15/09/2020 33 Indígenas
Juína T. I. Enawenê-Nawê/Adowinã/Rio Preto 15/09/2020 184 Indígenas
Juína, Aripuanã T. I. Aripuanã/Cinta Larga 15/09/2020 88 Indígenas
Vilhena, Juína T.I. Parque do Aripuanã 15/09/2020 99 Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara T.I. Cacique Fontoura 24/01/2020 122 Indígenas
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
Luciara 31/03/2020 100 Indígenas
do Araguaia
São Félix do Araguaia, Luciara T.I. São Domingos/Barreira Sanitária 14/04/2020 41 Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara T.I. Cacique Fontoura 19/05/2020 122 Indígenas
Santa Terezinha, Luciara T.I. Tapirapé/Karajá 09/07/2020 128 Indígenas
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
Luciara 31/07/2020 100 Indígenas
do Araguaia
São Félix do Araguaia, Luciara T.I. São Domingos/Barreira Sanitária 15/09/2020 41 Indígenas
São Félix do Araguaia, Luciara T.I. Cacique Fontoura 15/09/2020 122 Indígenas
Santa Terezinha, Luciara T.I. Tapirapé/Karajá 15/09/2020 128 Indígenas
T. I. Porto Velho/Aldeia Pukañu/Kanela
Luciara 10/11/2020 100 Indígenas
do Araguaia
Nobres T.I. Santana 15/09/2020 52 Indígenas
Com. Quilombola Jacaré de Cima/dos
Nossa Senhora do Livramento 19/02/2020 20 Quilombola
Pretos
Sesmaria Boa Vida/Quilombo Mata
Nossa Senhora do Livramento 20/10/2020 418 Quilombola
Cavalo/Mutuca
Sesmaria Boa Vida/Quilombo Mata
Nossa Senhora do Livramento 22/11/2020 418 Quilombola
Cavalo/Mutuca
Campos de Júlio, Nova Lacerda T.I. Uirapuru 19/05/2020 7 Indígenas
Vila Bela da Santíssima Trindade,
T.I. Sararé 28/05/2020 47 Indígenas
Nova Lacerda
Vila Bela da Santíssima Trindade,
T.I. Sararé 15/09/2020 47 Indígenas
Nova Lacerda
Campos de Júlio, Nova Lacerda T.I. Uirapuru 15/09/2020 7 Indígenas
Nova Maringá, Campo Novo do
T.I. Ponte de Pedra 07/07/2020 107 Indígenas
Parecis, Diamantino
Nova Maringá, Campo Novo do
T.I. Ponte de Pedra 15/09/2020 107 Indígenas
Parecis, Diamantino
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do Parque Indígena do Xingu/Barreira
14/04/2020 1875 Indígenas
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz Sanitária
Natal, Querência
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do Parque Indígena do Xingu/Barreira
19/06/2020 1875 Indígenas
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz Sanitária
Natal, Querência
Nova Ubiratã, Paranatinga,
Marcelândia, Canarana, Gaúcha do Parque Indígena do Xingu/Barreira
15/09/2020 1875 Indígenas
Norte, São Félix do Araguaia, Feliz Sanitária
Natal, Querência
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Glória D'Oeste Fazenda Nossa Senhora Aparecida 30/11/2020 30 Sem Terra
Jaciara Fazenda Santa Fé 22/06/2020 Sem Terra
Faz. Araúna/Pré-Assentamento Boa
Novo Mundo 27/03/2020 100 Sem Terra
Esperança/Gl. Nhandu
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 3 130
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Guarantã do Norte Fazenda Três Poderes 10/02/2020 1 1 Pecuária
Novo Mundo Garimpo da Fazenda Chumbo Grosso 10/02/2020 2 2 Garimpo
Subtotal: 2 3 3
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Barragens e Não cumprimento de
Água Boa T.I. Areões/Xavante 20/03/2020 336
Açudes procedimentos legais
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e Barragens e
Alta Floresta 02/12/2020 Destruição e ou poluição
Kayabi Açudes
Aldeia Teles Pires/Etnias Munduruku e Barragens e Desconstrução do
Alta Floresta 03/03/2020
Kayabi Açudes histórico-cultural
Barragens e
Jacareacanga, Apiacás T.I. Kayabi 02/12/2020 192 Destruição e ou poluição
Açudes
Barragens e Não cumprimento de
Barra do Garças, General Carneiro T.I. Merure 20/03/2020 164
Açudes procedimentos legais
Barragens e Não cumprimento de
Barra do Garças T.I. São Marcos/Xavante 20/03/2020 712
Açudes procedimentos legais
Barragens e
Brasnorte T.I. Irantxe/Manoki 09/07/2020 94 Destruição e ou poluição
Açudes
Barragens e Desconstrução do
Brasnorte T.I. Manoki 22/09/2020 63
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Brasnorte T.I. Irantxe/Manoki 22/09/2020 94
Açudes histórico-cultural
Barragens e
Cáceres Comunidade Pantaneira Porto Limão 15/06/2020 53 Destruição e ou poluição
Açudes
Barragens e Não cumprimento de
Ribeirão Cascalheira, Canarana T. I. Pimentel Barbosa/Xavante 20/03/2020 440
Açudes procedimentos legais
UHE Barragens e
Cláudia 31/08/2020 28 Destruição e ou poluição
de Sinop/Assent. 12 de Outubro/PAC Açudes
UHE Barragens e Não cumprimento de
Cláudia 22/10/2020 28
de Sinop/Assent. 12 de Outubro/PAC Açudes procedimentos legais
Barragens e
Cotriguaçu T.I. Escondido 02/12/2020 11 Destruição e ou poluição
Açudes
Barragens e
Juara T.I. Apiaka/Kayabi 02/12/2020 221 Destruição e ou poluição
Açudes
Nova Canaã do Norte, Tabaporã, T. I. Batelão/Apiacá- Kayabi/Ald. Barragens e
02/12/2020 38 Destruição e ou poluição
Apiacás, Juara Kururuzinho//Muruvi/Dinossauro Açudes
Nova Maringá, Campo Novo do Barragens e Não cumprimento de
T.I. Ponte de Pedra 08/10/2020 107
Parecis, Diamantino Açudes procedimentos legais
Poxoréo, Novo São Joaquim, T. I. Sangradouro/Volta Grande/ Barragens e Não cumprimento de
20/03/2020 221
General Carneiro Xavante Açudes procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Santo Antônio do Leverger T.I. Tereza Cristina 17/02/2020 127
preservação procedimentos legais
UHE Sinop/Colônia de Pescadores Barragens e
Sinop 31/08/2020 70 Destruição e ou poluição
Z-16/PAC Açudes
Gl. Mercedes V/P.A. Wesley Manoel Barragens e
Sinop, Tabaporã, Tapurah 31/08/2020 214 Destruição e ou poluição
Santos Açudes
Gl. Mercedes V/P.A. Wesley Manoel Barragens e Não cumprimento de
Sinop, Tabaporã, Tapurah 10/08/2020 214
Santos Açudes procedimentos legais
Subtotal: 22 3091
Subtotal: 96 16321
65
Total conflitos por terra - Mato Grosso do Sul: 96 16321
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Corumbá Fazenda na Região Paiaguás 15/12/2020 7 7 Pecuária
Itaquiraí Lavoura de Mandioca 30/06/2020 24 24 4 Mandioca
Nioaque Fazenda Salto 01/12/2020 15 15 8 Soja
Porto Murtinho Fazenda Marabá 15/12/2020 17 17 2 Pecuária
Subtotal: 4 63 63 14
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Não cumprimento de
Aquidauana Aldeia Bananal 24/04/2020 60
preservação procedimentos legais
Uso e
Corumbá Com. Barra de São Lourenço 04/12/2020 25 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e Não cumprimento de
Miranda T. I. Pilad Rebuá/Barreira Sanitária 24/04/2020 100
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Miranda Com. Ka’ikoe/T. I. Cachoeirinha 11/12/2020 100
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Porto Murtinho Aldeia São João/TI Kadiweu 24/04/2020
preservação procedimentos legais
Com. Indígena Pyelito Kue/Barreira Uso e Não cumprimento de
Iguatemi, Tacuru 08/07/2020 20
Sanitária preservação procedimentos legais
Subtotal: 6 305
Total dos Conflitos no Campo - Mato Grosso do Sul: 106 Pessoas: 66567
Minas Gerais
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Almenara Assentamento Esperança Santa Rosa 13/02/2020 16 Assentado
Faz. São Francisco/Acamp. Princesa
Almenara 10/03/2020 300 Sem Terra
do Vale
Mina do Brucutu/ Com. Laranjeiras /
Barão de Cocais Com. São José de Brumadinho/Vale do 18/11/2020 30 Pequeno proprietário
Rio Doce
Jenipapo de Minas, Chapada do
Várias Comunidades Quilombolas do
Norte, Minas Novas, Berilo, 02/11/2020 Quilombola
Jequitinhonha
Coronel Murta, Virgem da Lapa
Bocaiúva Com. Quilombola Sítio e Mocambo 30/07/2020 30 Quilombola
Com. Parque da Cachoeira/Romp. da
Brumadinho 30/07/2020 15 Pequeno proprietário
Barragem Mina do Feijão/Vale
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo do Meio 21/02/2020 450 Sem Terra
Campo Grande
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo do Meio 30/07/2020 450 Sem Terra
Campo Grande
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo do Meio 13/08/2020 450 Sem Terra
Campo Grande
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo do Meio 17/08/2020 450 Sem Terra
Campo Grande
Faz. Ariadnópolis/Assent. Quilombo
Campo do Meio 24/08/2020 450 Sem Terra
Campo Grande
Formoso Fazenda Piratinga/São Cristóvão 22/09/2020 46 Sem Terra
Faz. Rio Rancho/Buriti Pequeno/Com.
Grão Mogol 05/01/2020 230 Geraizeiro
Geraizeiros do Vale das Cancelas
Com. Geraizeiras Vale das Cancelas/
Grão Mogol Mineroduto Vale do Rio Pardo/ 28/05/2020 80 Geraizeiro
Mineradora SAM/Brook eds
Faz. Córrego da Jacuba/Acamp. Arco-
Gurinhatã 31/07/2020 60 Sem Terra
Íris
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 31 2586
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Andradas Fazenda São Pedro 01/10/2020 10 10 Café
Andradas Fazenda de Café 01/10/2020 10 10 Café
Fazendas Moriá e Laje Alvorada do
Araxá 20/08/2020 18 13 Café
Canto Galo
Araxá Fazenda Bom Sucesso 12/12/2020 27 27 Lavoura
Bambuí Fazenda Glória 04/08/2020 1 1 Pecuária
Caldas Fazenda Vargem Limpa 03/08/2020 9 9 Carvoaria
Campos Altos Fazenda Mesas 24/06/2020 34 34 1 Café
Carmo do Cajuru Fazenda Ermo 07/07/2020 3 3 Carvoaria
Carvalhópolis Sítio Estiva 23/07/2020 11 8 Café
Conceição da Aparecida Fazenda Cedro 16/07/2020 9 9 Café
Coração de Jesus Fazenda Lagoa Grande 29/09/2020 5 3 Carvoaria
Del nópolis Fazenda Bom Jardim 30/06/2020 39 39 3 Café
Formiga Fazenda Santa Edwiges 05/11/2020 7 7 Carvoaria
Grão Mogol Faz. São Francisco/Cerâmica União 27/02/2020 17 Carvoaria
Ibiá Fazenda Mata do Retiro 17/08/2020 3 2 Pecuária
Ibiaí Fazenda Bananal 04/03/2020 2 2 Carvoaria
Inimutaba Fazenda Santa Clara 10/03/2020 3 3 Carvoaria
Matias Cardoso Fazenda Terra Seca 25/08/2020 14 11 Cultivo de limão
Medeiros Faz. Boa Vista/Cervo 27/01/2020 12 9 Carvoaria
Medeiros Fazs. Ventania e Mantíbio 27/01/2020 6 6 Carvoaria
Medeiros Faz. Boa Vista/Cervo 27/01/2020 10 7 Carvoaria
Mirabela Fazenda Ouro Verde 24/08/2020 4 2 Carvoaria
Extração de argila
Montes Claros Extração de Argila 05/10/2020 2 2
(mineração)
Faz. Não Informada/Plantação de
Oliveira Fortes 15/11/2020 55 10 Plantação de mogno
Mogno
67
Fazs. Cachoeirinha/Bela Vista/Santa
Perdizes 19/06/2020 15 15 1 Carvoaria
Bárbara/Antinha/Boa Sorte
Piranguinho Fazenda Retiro 12/03/2020 2 2 Pecuária
Rio Pardo de Minas Fazenda Renascer 26/08/2020 9 5 Carvoaria
Rio Pardo de Minas Carvoaria em Rio Pardo de Minas 26/08/2020 12 10 Carvoaria
Sete Lagoas Fazenda Paiol Queimado 15/04/2020 14 13 Carvoaria
Tapira Fazenda Água Parada 15/04/2020 7 7 Carvoaria
Turvolândia Fazenda Bela Vista 15/04/2020 17 8 Café
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Goiabeira/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Acaiaca 01/07/2020 25
Barragem da Samarco/Vale/BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Sto. Antônio do Rio Doce e
Barragens e Não cumprimento de
Aimorés Outros/Rompimento da Barragem da 08/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Alpercata/
Barragens e Não cumprimento de
Alpercata Rompimento da Barragem da 08/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Conceição do Mato Dentro, Uso e Não cumprimento de
Mineroduto/Minas Rio/Anglo American 25/08/2020 250
Alvorada de Minas preservação procedimentos legais
Conceição do Mato Dentro, Com. Quil. Ferrugem/Serra do Sapo/ Uso e Não cumprimento de
25/08/2020 1
Alvorada de Minas Proj. Minas-Rio/Anglo American preservação procedimentos legais
Com. Socorro/Barragem Sul Superior/ Barragens e Não cumprimento de
Barão de Cocais, Santa Bárbara 13/11/2020 125
Mina Gongo Soco/Vale Açudes procedimentos legais
Com. Ocidente/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Apaga Fogo/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Corvinas/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Floresta/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. de Gesteira/Rompimento da Barragens e
Barra Longa 05/05/2020 20 Não reassentamento
Barragem da Samarco-Vale-BHP Billiton Açudes
Com. Ribeirinha de Barra Longa/
Uso e
Barra Longa Rompimento da Barragem da 05/05/2020 136 Não reassentamento
preservação
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. de Mandioca/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa 01/07/2020 20
Barragem da Samarco/Val/BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Tanque/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Jurumirim/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Onça/Rompimento da Barragem Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa 01/07/2020
Fundão/Samarco/Vale/BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Capela Velha/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Ribeirinha de Barra Longa/
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Rompimento da Barragem da 26/08/2020 136
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. São Gonçalo/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Vista Alegre/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. de Gesteira/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa 01/07/2020 20
Barragem da Samarco-Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Com. Barreto/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Barra Longa Barragem Fundão/Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Ribeirinha de Belo Oriente/
Barragens e Não cumprimento de
Belo Oriente Rompimento da Barragem da 01/07/2020 200
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Faz. Ponte Nova/Vinhático/Acamp. 2 de
Barragens e
Betim, Juatuba Julho/Romp. da Barragem Mina do 30/09/2020 50 Destruição e ou poluição
Açudes
Feijão/Vale
Com. de Bom Jesus do Galho/
Barragens e Não cumprimento de
Bom Jesus do Galho Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Rural Ponte das Almorreimas/ Apropriação Diminuição do acesso à
Brumadinho 30/07/2020 200
Romp. da Barragem Mina do Feijão Particular Água
Barragens e
Brumadinho Assentamento Pastorinhas 30/09/2020 200 Destruição e ou poluição
Açudes
Com. Ribeirinha de Bugre/Rompimento
Barragens e Não cumprimento de
Bugre da Barragem da Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Barragens e Impedimento de acesso
Capinópolis Usina Vale do Paranaíba 17/02/2020 12
Açudes à água
Com. de Caratinga/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Caratinga 01/07/2020 200
Barragem da Samarco/Vale/BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Jenipapo de Minas, Francisco Barragens e Reassentamento
Barragem de Setúbal/PAC 14/05/2020 50
Badaró, Chapada do Norte Açudes inadequado
Com. Faustinos/Proj. Minas-Rio/Anglo Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 25
American preservação procedimentos legais
Com. Sebastião do Bom Sucesso - Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 170
Sapo/Proj. Minas-Rio/Anglo American preservação procedimentos legais
Com. do Turco/Projeto Minas-Rio/Anglo Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 70
American preservação procedimentos legais
Com. Cabeceira do Turco/Projeto Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 2
Minas-Rio/Anglo American preservação procedimentos legais
Com. do Jassém/Proj. Minas-Rio/Anglo Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 90
American preservação procedimentos legais
Família Pimenta/Proj. Minas-Rio/Anglo Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 9
American preservação procedimentos legais
Com. Passa Sete/Proj. Minas-Rio/ Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro 25/08/2020 80
Mineradora Anglo American preservação procedimentos legais
Com. Quil. Água Santa/Mumbuca/Anglo
Uso e Não cumprimento de
Conceição do Mato Dentro Ferrous/Anglo American/MontCalm/ 25/08/2020 80
preservação procedimentos legais
MMX
Apropriação Diminuição do acesso à
Congonhas Comunidade do Barnabé 01/08/2020
Particular Água
Com. Ribeirinha de Conselheiro Pena/
Barragens e Não cumprimento de
Conselheiro Pena Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Coronel Fabriciano/
Barragens e Não cumprimento de
Coronel Fabriciano Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Córrego Novo/
Barragens e Não cumprimento de
Córrego Novo Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. de Cachoeira do Choro/Romp. da Barragens e
Curvelo 30/09/2020 700 Destruição e ou poluição
Barragem Mina do Feijão/Vale Açudes
Com. Baixa Verde e Outros/
Barragens e Não cumprimento de
Dionísio Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Fernandes
Barragens e Não cumprimento de
Fernandes Tourinho Tourinho/Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Galiléia/
Barragens e Não cumprimento de
Galiléia Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Governador
Barragens e Não cumprimento de
Governador Valadares Valadares/Rompimento da Barragem 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
da Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Governador
Barragens e
Governador Valadares Valadares/Rompimento da Barragem 20/01/2020 Destruição e ou poluição
Açudes
da Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Ribeirinha de Iapu/Rompimento
Barragens e Não cumprimento de
Iapu da Barragem da Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
69
Com. Ribeirinha de Ipatinga/
Barragens e Não cumprimento de
Ipatinga Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Uso e Contaminação por
Itamarandiba Comunidade Mandingueiro 31/12/2020
preservação agrotóxico
Com. Ribeirinha de Itueta/Rompimento
Barragens e Não cumprimento de
Itueta da Barragem da Samarco/Vale/BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Uso e Diminuição do acesso à
Josenópolis Comunidade Corralim 21/12/2020
preservação Água
Uso e
Josenópolis Comunidade Corralim 24/08/2020 Destruição e ou poluição
preservação
Com. Rural Bairro Satélite/Romp. da Barragens e
Juatuba 30/09/2020 Destruição e ou poluição
Barragem Mina do Feijão/Vale Açudes
Com. Rural de Francelinos/Romp. da Barragens e
Juatuba 30/09/2020 Destruição e ou poluição
Barragem Mina do Feijão/Vale Açudes
Com. de Pescadores de Juatuba/
Barragens e
Juatuba Romp. da Barragem Mina do Feijão/ 30/09/2020 Destruição e ou poluição
Açudes
Vale
Com. Ribeirinha de Águas Claras/
Barragens e Não cumprimento de
Mariana Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Com. Paracatu de Baixo/Rompimento Uso e
Mariana 05/05/2020 80 Não reassentamento
da Barragem/Samarco/Vale-BHP Billiton preservação
Com. Bento Rodrigues/Rompimento da Barragens e
Mariana 05/05/2020 225 Não reassentamento
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes
Com. Bento Rodrigues/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020 225
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Paracatu de Baixo/Rompimento Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020 80
da Barragem/Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Borba /Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Paracatu de Cima /Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. de Pedras/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020 75
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Ponte do Gama/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Mariana Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. Camargos/Rompimento da
Barragens e Não cumprimento de
Mariana Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. de Pedras/Rompimento da Barragens e
Mariana 05/05/2020 75 Não reassentamento
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes
Com. Campinas /Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Bicas /Rompimento da Barragem Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020
da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Ponte do Gama/Rompimento da
Uso e
Mariana Barragem Fundão/Samarco-Vale-BHP 05/05/2020 Não reassentamento
preservação
Billiton
Com. de Cachoeira/Rompimento da Barragens e Não cumprimento de
Mariana 01/07/2020
Barragem da Samarco/Vale-BHP Billiton Açudes procedimentos legais
Com. Cava Grande e Outras/
Barragens e Não cumprimento de
Marliéria Rompimento da Barragem da 01/07/2020
Açudes procedimentos legais
Samarco/Vale/BHP Billiton
Barragens e
Miradouro Moinho da Com. Santa Bárbara/CGH 30/11/2020 80 Destruição e ou poluição
Açudes
Com. Ribeirinha de Naque/Rompimento
Barragens e Não cumprimento de
Naque da Barragem da Samarco/Vale/BHP 01/07/2020 40
Açudes procedimentos legais
Billiton
Com. São Sebastião das Águas Barragens e Não cumprimento de
Nova Lima 17/07/2020 50
Claras/Vale Açudes procedimentos legais
Faz. Gravatá/Córrego Fundo/Acamp. Barragens e
Novo Cruzeiro 30/03/2020 45 Destruição e ou poluição
Nova Vida Açudes
Com. Córrego da Saudade/Vale do Barragens e
Novo Cruzeiro 30/03/2020 50 Destruição e ou poluição
Jequitinhonha Açudes
Com. Quilombola de Pontinha/Romp. Barragens e
Paraopeba 06/07/2020 300 Destruição e ou poluição
da Barragem Mina do Feijão/Vale Açudes
Barragens e
Perdizes Fazenda Água Santa 31/05/2020 Destruição e ou poluição
Açudes
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Pará
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Com. Quilombola Unidos do Rio
Abaetetuba 01/05/2020 113 Quilombola
Capim/Barreira Sanitária
Quilombo Zumbi dos Palmares do
Abaetetuba 01/05/2020 54 Quilombola
Igarapé Vilar/Barreira Sanitária
Com. Quilombolas das Ilhas de
Abaetetuba 01/05/2020 701 Quilombola
Abaetetuba/Barreira Sanitária
Comunidades do Curuperé-Grande/
Abaetetuba 01/05/2020 400 Quilombola
Barreira Sanitária
Com. Quilombolas das Ilhas de
Abaetetuba 11/05/2020 701 Quilombola
Abaetetuba/Barreira Sanitária
Tomé-Açu, Acará Com. Quil. Alto Acará 03/03/2020 650 Quilombola
Faz. Arapary/Açaí Amazonas Ind. e
Alenquer 21/01/2020 Sem Informação
Com. Ltda.
Alenquer PDS Paraíso 07/07/2020 572 Assentado
Altamira, Senador José Porfírio T.I. Koatinemo 27/01/2020 46 Indígenas
Altamira, Anapu, São Félix do E. Eco. Terra do Meio/Serra do Pardo/
12/03/2020 Extrativista
Xingu Barreira Sanitária
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
Altamira, Anapu, São Félix do
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/ 12/03/2020 187 Indígenas
Xingu, Senador José Porfírio
PAC
Área de Proteção Ambiental-APA
Altamira, São Félix do Xingu Triunfo do Xingu/Terra do Meio/Barreira 12/03/2020 2000 Extrativista
Sanitária
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
Altamira, Anapu, São Félix do
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/ 19/04/2020 187 Indígenas
Xingu, Senador José Porfírio
PAC
Altamira, Senador José Porfírio T.I. Araweté Igarapé Ipixuna 19/04/2020 117 Indígenas
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
T. I. Kaxuyana e Tunayana/Quil.
Oriximiná Cachoeira Porteira/Flota Trombetas e 26/08/2020 144 Indígenas
Faro/Barreira Sanitária
Território Quilombola Alto Trombetas/
Oriximiná 17/12/2020 330 Quilombola
Barreira Sanitária
PAE Sapucuá-Trombetas/Madeireiras
Oriximiná 17/12/2020 800 Assentado
Ebata e Golf
Com. Quilombola Boa Vista e Outras/
Oriximiná Empresa Mineração Rio do Norte/ 17/12/2020 500 Quilombola
Barreira Sanitária
P. A. Tucumã/Campos Altos/Proj. Onça
Ourilândia do Norte 29/01/2020 60 Assentado
Puma/Vale
Ourilândia do Norte Fazenda Mil e Duzentos 31/01/2020 150 Sem Terra
Ourilândia do Norte Fazenda Mil e Duzentos 22/02/2020 150 Sem Terra
Ourilândia do Norte P.A. Casulo II 28/05/2020 90 Sem Terra
Ourilândia do Norte Fazenda Mil e Duzentos 21/09/2020 150 Sem Terra
Nova Esperança do Piriá, Garrafão
do Norte, Paragominas, Santa T. I. Alto Rio Guamá/Tembé 09/09/2020 500 Indígenas
Luzia do Pará
Parauapebas, Água Azul do
T. I. Xikrin do Cateté 15/06/2020 375 Indígenas
Norte, Marabá
Faz. Lagoa Branca/Acamp. Lagoa
Parauapebas 21/06/2020 248 Sem Terra
Nova Carajás
Parauapebas, Água Azul do Com. de Coletores de Jaborandi da
08/10/2020 Extrativista
Norte, Marabá APA do rio Gelado
Parauapebas, Água Azul do
T. I. Xikrin do Cateté 08/10/2020 375 Indígenas
Norte, Marabá
Parauapebas, Água Azul do
T. I. Xikrin do Cateté 11/10/2020 375 Indígenas
Norte, Marabá
Faz. Santa Lúcia/Acamp. Nova Vida/
Pau D'Arco 16/01/2020 200 Sem Terra
Jane Júlia
Placas PDS Avelino Ribeiro 25/11/2020 210 Assentado
Porto de Moz Com. Quilombola Tauerá e outras 09/01/2020 90 Quilombola
Resex Renascer e Entorno/Com. Sta.
Prainha 25/11/2020 800 Extrativista
Maria do Uruará e Outras
Rondon do Pará T.I. Nova Jacundá 07/02/2020 28 Indígenas
Rondon do Pará T.I. Nova Jacundá 27/10/2020 28 Indígenas
Rurópolis Comunidade Ribeirinha Monte Cristo 08/01/2020 17 Ribeirinho
Rurópolis PAC Araipacupu 26/05/2020 361 Assentado
Quilombo Salvar Mangueiras/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Sanitária
Com. Quilombola Mangueiras/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Sanitária
Comunidade Quilombola Bairro Alto/
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Barreira Sanitária
Com. Quilombola Boa Vista/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 42 Quilombola
Sanitária
Com. Quilombola Providência/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Sanitária
Com. Quilombola Deus Ajude/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Sanitária
Com. Quilombola Siricari/Barreira
Salvaterra 01/05/2020 Quilombola
Sanitária
Salvaterra Comunidade Quilombola Rosário 11/06/2020 73 Quilombola
Santa Maria das Barreiras Fazenda Santa Cecília 04/04/2020 40 Sem Terra
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
Santa Maria das Barreiras 15/04/2020 27 Sem Terra
João
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
Santa Maria das Barreiras 20/05/2020 27 Sem Terra
João
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
Santa Maria das Barreiras 30/05/2020 27 Sem Terra
João
Acampamento Deus é Pai/Faz. São
Santa Maria das Barreiras 30/06/2020 27 Sem Terra
João
Santarém T.I. Cobra Grande 24/01/2020 146 Indígenas
Santarém T. I. Maró 24/01/2020 60 Indígenas
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 27/02/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 08/04/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
77
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 05/05/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 13/05/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
Santarém Quilombo Bom Jardim 15/05/2020 70 Quilombola
Santarém Com. Quilombola de Murumurutuba 15/05/2020 Quilombola
Santarém T. I. Maró 19/05/2020 60 Indígenas
Santarém T.I. Cobra Grande 19/05/2020 146 Indígenas
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 20/05/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
Santarém T.I. Cobra Grande 19/07/2020 146 Indígenas
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
Aveiro, Santarém 19/07/2020 4168 Indígenas
PAC
Santarém Índios Borari/Vila Alter do Chão 19/07/2020 180 Indígenas
Santarém T. I. Maró 19/07/2020 60 Indígenas
Santarém Comunidade Vila Brasil 24/07/2020 46 Extrativista
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 27/08/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
Aveiro, Santarém 05/10/2020 4168 Indígenas
PAC
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/
Santarém 28/10/2020 150 Indígenas
Barreira Sanitária
Resex Tapajós-Arapiuns/UHE Tapajós/
Aveiro, Santarém 18/11/2020 4168 Extrativista
PAC
Santarém P.A. Tapera Velha 25/11/2020 251 Assentado
Gl. Pacoval/Corta-Corda/Raisan/PDS
Prainha, Santarém 25/11/2020 170 Assentado
Sta. Clara/PAE Curuá II
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 30/01/2020 182 Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 12/03/2020 182 Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 07/04/2020 182 Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 04/06/2020 182 Indígenas
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 08/09/2020 182 Indígenas
Complexo Divino Pai Eterno/Acamp.
São Félix do Xingu 02/10/2020 150 Sem Terra
Novo Oeste
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 19/11/2020 182 Funcionário Público
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 01/12/2020 182 Indígenas
São Félix do Xingu Vila Novo Horizonte/Casa de Tábua 11/12/2020 40 Pequeno proprietário
Marabá, São Geraldo do
Araguaia, São Domingos do T.I. Sororó 07/02/2020 96 Indígenas
Araguaia
Bom Jesus do Tocantins, São João T. I. Mãe Maria/Índios Gaviões/Barreira
07/02/2020 190 Indígenas
do Araguaia Sanitária
Bom Jesus do Tocantins, São João T. I. Mãe Maria/Índios Gaviões/Barreira
01/06/2020 190 Indígenas
do Araguaia Sanitária
Altamira, Anapu, Senador José
T.I. Ituna/Itatá 24/01/2020 Indígenas
Porfírio
Altamira, Anapu, Senador José
T.I. Ituna/Itatá 19/04/2020 Indígenas
Porfírio
Altamira, Anapu, Senador José
T.I. Ituna/Itatá 19/05/2020 Indígenas
Porfírio
Senador José Porfírio T. I. Arara da Volta Grande do Xingu 08/09/2020 36 Indígenas
Altamira, Anapu, Senador José
T.I. Ituna/Itatá 09/09/2020 Indígenas
Porfírio
Senador José Porfírio P.A. Itatá 20/10/2020 423 Assentado
Tomé-Açu Comunidade Quilombola Nova Betel 11/12/2020 50 Quilombola
Trairão P. A. Ypiranga/Gleba H/Lotes 46 a 49 31/03/2020 6 Sem Terra
Trairão P. A. Areia II/Com. São Mateus 15/10/2020 300 Assentado
Tucuruí, Baião T.I. Trocará Assurini 15/06/2020 141 Indígenas
Vitória do Xingu T.I. Juruna do Km 17 08/09/2020 22 Indígenas
Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/
Anapu 27/10/2020 160 Assentado
Dorothy
Gl. Belo Monte/PDS Virola Jatobá/
Anapu 31/12/2020 160 Assentado
Dorothy
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 3 62
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Carvoaria do Ronildo/BR-222/Vicinal
Dom Eliseu 03/09/2020 10 10 Carvoaria
do Km 25
Carvoaria/Rod. BR-222/Vicinal do Km
Dom Eliseu 24/08/2020 1 1 Carvoaria
25
Jacareacanga Garimpo do Pau Rosa 26/10/2020 4 Garimpo (Ouro)
Jacareacanga Garimpo do Pau Rosa 26/10/2020 39 31 Garimpo (Ouro)
Jacareacanga Garimpo do Pau Rosa 26/10/2020 4 Garimpo (Ouro)
Portel Serraria do Neno 22/10/2020 5 5 Desmatamento
Rondon do Pará Faz. Moreira/Paraforest 08/12/2020 83 13 Eucalipto
Rondon do Pará Faz. Moreira/Construtora Concel 08/12/2020 8 8 Eucalipto
Garimpo no Distrito Casa de Tábua/
Santa Maria das Barreiras 20/11/2020 40 40 Garimpo (Ouro)
Operação Napuru
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Barragens e
Abaetetuba Com. do Acuí/Hydro Alunorte 17/02/2020 Destruição e ou poluição
Açudes
Com. Santo Antônio/Ilha do Capim/ Barragens e
Abaetetuba 17/02/2020 Destruição e ou poluição
Hydro Alunorte Açudes
Com. Ribeirinha do Igarapé Trindade/ Barragens e Diminuição do acesso à
Altamira 30/10/2020
UHE Belo Monte Açudes Água
T. I. Cachoeira Seca do Iriri/Índios
Altamira, Rurópolis, Uruará, Barragens e Desconstrução do
Arara/UHE Belo Monte/Belo Sun 13/11/2020 22
Medicilândia Açudes histórico-cultural
Mineradora/PAC
T. I. Trincheira-Bacajá/Índios Xikrin/
Altamira, Anapu, São Félix do Barragens e Desconstrução do
UHE Belo Monte/Mineradora Belo Sun/ 13/11/2020 187
Xingu, Senador José Porfírio Açudes histórico-cultural
PAC
Barragens e Desconstrução do
Altamira, Senador José Porfírio T.I. Koatinemo 13/11/2020 46
Açudes histórico-cultural
Colônia de Pescadores Z-57/UHE Belo Barragens e Diminuição do acesso à
Altamira 30/10/2020 3000
Monte/PAC Açudes Água
Barragens e Desconstrução do
Altamira, Senador José Porfírio T.I. Araweté Igarapé Ipixuna 13/11/2020 117
Açudes histórico-cultural
T. I. Xipáia Kuruáia/UHE Belo Monte/ Barragens e Diminuição do acesso à
Altamira 09/11/2020 41
PAC/Barreira Sanitária Açudes Água
Vitória do Xingu, Anapu, Senador T. I. Paquiçamba/Juruna/UHE Belo Barragens e Desconstrução do
13/11/2020 45
José Porfírio Monte/PAC/Barreira Sanitária Açudes histórico-cultural
Com. Vila do Conde/Furo do Arrozal/ Barragens e Não cumprimento de
Barcarena 04/02/2020 200
Multinacional Bunge/Hydro Alunorte Açudes procedimentos legais
Com. Burajuba/Codebar/Itupanema/ Barragens e Não cumprimento de
Barcarena 04/02/2020 350
Caripi/Hydro Alunorte Açudes procedimentos legais
Barragens e Não cumprimento de
Barcarena Com. do Murucupi/Hydro Alunorte 04/02/2020
Açudes procedimentos legais
Com. Vila Nova/Mineradora Hydro Barragens e Não cumprimento de
Barcarena 04/02/2020 25
Alunorte Açudes procedimentos legais
Com. Bom Futuro/Mineradora Hydro Barragens e Não cumprimento de
Barcarena 04/02/2020 25
Alunorte Açudes procedimentos legais
Uruará, Altamira, Brasil Novo, Barragens e Desconstrução do
T.I. Arara 13/11/2020 75
Medicilândia Açudes histórico-cultural
T. I. Sawré Muybu/Munduruku/PCHs Uso e
Trairão, Itaituba 30/04/2020 42 Destruição e ou poluição
Tapajós/Barreira Sanitária preservação
79
PCHs do Rio Tapajós/Com. Pimental/T. Uso e
Trairão, Itaituba 30/04/2020 800 Destruição e ou poluição
I. Munduruku/PAC preservação
Reserva Indígena Praia do Mangue/ Uso e
Itaituba 30/04/2020 42 Destruição e ou poluição
Barreira Sanitária preservação
Reserva Indígena Praia do Índio/ Uso e
Itaituba 30/04/2020 31 Destruição e ou poluição
Barreira Sanitária preservação
T. I. Munduruku/UHE Tapajós/PAC/ Uso e
Jacareacanga 30/04/2020 1630 Destruição e ou poluição
Barreira Sanitária preservação
Com. de pescadores do Lago Grande Uso e
Monte Alegre 20/02/2020 Pesca predatória
e rio Maicurú preservação
Uso e
Santarém Com. Quil. Pérola do Maicá 12/02/2020 15 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Santarém Com. Quilombola Maria Valentina 12/02/2020 104 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Santarém Quilombo Bom Jardim 12/02/2020 70 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Santarém Com. Quilombola de Murumurutuba 12/02/2020 Destruição e ou poluição
preservação
T. I. Munduruku/Planalto Santareno/ Uso e
Santarém 12/02/2020 150 Destruição e ou poluição
Barreira Sanitária preservação
Uso e
Santarém Com. Quilombola Saracura e Arapemã 12/02/2020 150 Destruição e ou poluição
preservação
Barragens e Desconstrução do
Altamira, São Félix do Xingu T. I. Apyterena/Apyterewa/Parakanã 13/11/2020 182
Açudes histórico-cultural
Barragem Tucuruí/Eletronorte/T. I. Barragens e
Tucuruí 14/01/2020 500 Não reassentamento
Parakanã Açudes
Barragens e Desconstrução do
Vitória do Xingu T.I. Juruna do Km 17 13/11/2020 22
Açudes histórico-cultural
Subtotal: 31 7871
Paraíba
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
T.I. Tabajara/Destilaria Tabu-Grupo João
Alhandra, Conde, Pitimbu 19/08/2020 250 Indígenas
Santos/Emp. Elizabethy/Barreira Sanitária
T.I. Tabajara/Destilaria Tabu-Grupo João
Alhandra, Conde, Pitimbu 07/09/2020 250 Indígenas
Santos/Emp. Elizabethy/Barreira Sanitária
Gurinhém, Riachão do
Com. Quilombola Pedra D'Água 01/04/2020 90 Quilombola
Bacamarte, Ingá
Com. Ribeirinha Porto do Capim/Vila
João Pessoa 27/02/2020 162 Ribeirinho
Nassau
Manaíra Comunidade Quilombola Fonseca 20/01/2020 42 Quilombola
Manaíra Comunidade Quilombola Fonseca 17/11/2020 42 Quilombola
Monteiro Assentamento Xique-Xique 21/10/2020 50 Sem Terra
Mamoaba Agro Pastoril S/A/Acamp.
Pedras de Fogo 30/01/2020 200 Sem Terra
Arcanjo Belarmino
T.I. Potiguara de Monte-Mor/Barreira
Marcação, Rio Tinto 08/05/2020 2286 Indígenas
Sanitária
T.I. Potiguara de Monte-Mor/Barreira
Marcação, Rio Tinto 13/07/2020 2286 Indígenas
Sanitária
T.I. Jacaré de São Domingos/Barreira
Marcação, Rio Tinto 13/07/2020 110 Indígenas
Sanitária
Baía da Traição, Marcação, Rio
T. I. Potiguara/Barreira Sanitária 19/08/2020 3708 Indígenas
Tinto
Baía da Traição, Marcação, Rio
T. I. Potiguara/Barreira Sanitária 04/09/2020 3708 Indígenas
Tinto
São José dos Ramos Faz. São José/Pau-a-Pique 22/01/2020 80 Posseiro
Subtotal: 14 6978
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Barragens e Desconstrução do
Itatuba Com. Melancia/Barragem de Acauã 19/08/2020 150
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Itatuba Com. do Costa/Barragem de Acauã 19/08/2020 120
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Itatuba, Aroeiras Com. Pedro Velho/Barragem de Acauã 19/08/2020 169
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Itatuba Com. Água Paba/Barragem do Acauã 19/08/2020 169
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Itatuba Com. Cajá/Barragem de Acauã 19/08/2020 122
Açudes histórico-cultural
Barragens e Desconstrução do
Itatuba Com. Riachão/Barragem do Acauã 19/08/2020 169
Açudes histórico-cultural
Subtotal: 6 899
Paraná
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Diamante D'Oeste T. I. Ava Guarani/Aldeia Tekoha Itamarã 08/03/2020 Indígenas
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Marangatu/
Guaíra 17/02/2020 61 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Tatury/
Guaíra 17/02/2020 8 Indígenas
Mineradora Andreis/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guaíra 17/02/2020 21 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/
Guaíra 17/02/2020 36 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Karumbe'y/
Guaíra 17/02/2020 21 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Guarani/
Guaíra 17/02/2020 15 Indígenas
Emp. Mate Laranjeira/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Mirim/Guasu
Guaíra 17/02/2020 10 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Jevy/Guasu
Guaíra 17/02/2020 69 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guaíra 28/05/2020 21 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guaíra 31/05/2020 21 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yhovy/Guasu
Guaíra 10/06/2020 21 Indígenas
Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/
Guaíra 06/10/2020 36 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Avá Guarani/Tekohá Yva Renda/
Itaipulândia 06/10/2020 15 Indígenas
Itaipu Binacional
Mangueirinha, Coronel Vivida,
T.I. Mangueirinha/Kaingang-Guarani 21/05/2020 614 Indígenas
Chopinzinho
Nova Laranjeiras, Espigão Alto do
T.I. Rio das Cobras/Kaingang-Guarani 16/11/2020 826 Indígenas
Iguaçu
Paranaguá Com. de Pescadores da Ilha do Mel 21/05/2020 35 Pescador
Paranaguá Com. de Pescadores da Ilha do Mel 22/05/2020 35 Pescador
Acamp. Valdair Roque/ Faz. Santa
Quinta do Sol 03/07/2020 50 Sem Terra
Catarina/ US. Sabarálcool
T. I. Yvyporã Laranjinha/ Guarani
Santa Amélia, Abatiá 16/06/2020 90 Indígenas
Nhandeva
Santa Helena T.I. Avá Guarani/Tekohá Vya Renda 01/10/2020 35 Indígenas
T. I. Avá Guarani/Tekoha Curva Guarani
Santa Helena 06/10/2020 14 Indígenas
/Itaipu Binacional
T. I. Ava Guarani/Tekoha Mokoi Joegua -
Santa Helena 06/10/2020 20 Indígenas
Dois Irmãos/Itaipu Binacional
T.I. Avá Guarani/Tekoha Pyahu/Itaipu
Santa Helena 06/10/2020 12 Indígenas
binacional
T.I. Avá Guarani Mbya Ocoy/Res. Sta.
São Miguel do Iguaçu Rosa do Ocuí/UHE Itaipu/Barreira 20/06/2020 210 Indígenas
Sanitária
81
T.I. Avá Guarani Mbya Ocoy/Res. Sta.
São Miguel do Iguaçu Rosa do Ocuí/UHE Itaipu/Barreira 24/06/2020 210 Indígenas
Sanitária
Área de Retomada Indígena Serrinha/
Tamarana 11/08/2020 40 Indígenas
Kaingang
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yvyraty
Terra Roxa 17/02/2020 36 Indígenas
Porã/Faz. São Paulo/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Araguaju/Pôr
Terra Roxa 17/02/2020 36 Indígenas
do Sol/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Tajy Poty/
Terra Roxa 17/02/2020 7 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Nhemboete/
Terra Roxa 17/02/2020 6 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Pohã Renda/
Terra Roxa 17/02/2020 20 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekoha Araguajy/
Terra Roxa 17/02/2020 100 Indígenas
Guasu Guavirá/Itaipu
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Yvyraty
Terra Roxa 26/08/2020 36 Indígenas
Porã/Faz. São Paulo/Itaipu
Tomazina T. I. Pinhalzinho/Povo Guarani 16/06/2020 90 Indígenas
Reserva do Iguaçu, Entre Rios do Faz. Fundão/Quil. Invernada Paiol de
17/07/2020 300 Quilombola
Oeste, Pinhão Telha/PCHs Rio Capão Grande
Subtotal: 36 2797
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Nova Santa Rosa Estabelecimento em Nova Santa Rosa 18/02/2020 5 5 1 Mandioca
Subtotal: 1 5 5 1
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
T. I. Guarani Mbya/Tekohá Ara Porã/ Uso e Diminuição do acesso à
Guaíra 01/10/2020 36
Guasu Guavirá/Itaipu preservação Água
T. I. Avá Guarani/Tekohá Yva Renda/ Uso e Diminuição do acesso à
Itaipulândia 01/10/2020 15
Itaipu Binacional preservação Água
T.I. Avá Guarani/Tekoha Pyahu/Itaipu Uso e Diminuição do acesso à
Santa Helena 01/10/2020 12
binacional preservação Água
Uso e Diminuição do acesso à
Santa Helena T.I. Avá Guarani/Tekohá Vya Renda 01/10/2020 35
preservação Água
T. I. Avá Guarani/Tekoha Curva Guarani Uso e Diminuição do acesso à
Santa Helena 01/10/2020 12
/Itaipu Binacional preservação Água
T. I. Ava Guarani/Tekoha Mokoi Joegua - Uso e Diminuição do acesso à
Santa Helena 01/10/2020 20
Dois Irmãos/Itaipu Binacional preservação Água
Subtotal: 6 130
Pernambuco
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Águas Belas T. I. Oya Twutia Fulni-ô 09/04/2020 1250 Indígenas
Eng. Ilha/Complexo Suape/Vazamento de
Cabo de Santo Agostinho 28/04/2020 250 Posseiro
Óleo
T. I. Truká/Transp. do Rio São Francisco/
Cabrobó 31/08/2020 500 Indígenas
PAC
Catende Us. Catende/Assent. Miguel Arraes 19/05/2020 67 Posseiro
Catende Engenho Pau D'Óleo 19/08/2020 70 Posseiro
Catende Engenho Pau D'Óleo 04/09/2020 70 Posseiro
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 74 3546
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Custódia Fazenda Poço Escuro 09/02/2020 20 Sem Terra
Subtotal: 1 20
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Pescadores de Cabo/Vazamento Uso e Não cumprimento de
Cabo de Santo Agostinho 23/11/2020 1500
de Óleo preservação procedimentos legais
Floresta Com. Pesqueira Barragem do Juá 24/04/2020 Sem Informação Sem Informação
Com. Ponta de Pedra/Colônia Z-3/ Uso e Não cumprimento de
Goiana 23/11/2020 118
Vazamento de Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Goiana Comunidade Baldo do Rio 06/06/2020
preservação procedimentos legais
Com. Quil. Ilha de Mercês/Complexo Uso e Impedimento de acesso à
Ipojuca 22/11/2020 268
Suape preservação água
Praia de Serrambi e Enseadinha/Colônia Uso e Não cumprimento de
Ipojuca 23/11/2020
Z-12/Vazamento de Óleo preservação procedimentos legais
Com. Quil. Ilha de Mercês/Complexo Uso e
Ipojuca 20/10/2020 268 Destruição e ou poluição
Suape preservação
Eng. Colônia I/Barro Branco/Us. Frei Uso e
Jaqueira 03/10/2020 77 Destruição e ou poluição
Caneca preservação
Uso e
Maraial Engenho Batateira 11/12/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Maraial Engenho Batateira 26/11/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Maraial Engenho Batateira 21/12/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e
Maraial Engenho Batateira 19/12/2020 50 Destruição e ou poluição
preservação
Uso e Não cumprimento de
Recife Com. Bode/Vazamento de Óleo 23/11/2020
preservação procedimentos legais
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 28 5718
Piauí
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Área Ordem Mercedário da Igreja
Bom Jesus 11/01/2020 2 Pequeno proprietário
Católica
Bom Jesus Comunidade Salto II 15/01/2020 16 Posseiro
Bom Jesus Comunidade Salto I 31/07/2020 10 Posseiro
Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/
Barra
Gilbués, Bom Jesus do Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo 07/05/2020 41 Posseiro
das Éguas/Serra Partida/Assent. Rio
Preto
Gilbués, Bom Jesus Povo Gamela Barra do Correntim 30/06/2020 14 Indígenas
Com. Melancias/Morro d' Água/Gata/
Barra
Gilbués, Bom Jesus do Correntina/Riacho dos Cavalos/Brejo 01/09/2020 41 Posseiro
das Éguas/Serra Partida/Assent. Rio
Preto
Gilbués Comunidade Brejo do Miguel 07/09/2020 12 Posseiro
Miguel Alves, União Comunidade Olho d' Água 15/01/2020 90 Posseiro
Parnaíba Assentamento Lagoa do Prado 18/09/2020 80 Assentado
Santa Filomena Com. Ribeirinha Chupé 28/02/2020 13 Posseiro
Santa Filomena Com. Ribeirinha Chupé 06/03/2020 13 Posseiro
Santa Filomena Barra da Lagoa 30/06/2020 11 Posseiro
União Comunidade Vereda 15/01/2020 Posseiro
União Comunidade Morada Nova 15/01/2020 Posseiro
União Comunidade Santa Isabel 15/01/2020 150 Posseiro
União Comunidade Mundo Novo 15/01/2020 Posseiro
União Comunidade Torrões 15/01/2020 Posseiro
União Comunidade Boa Vista 15/01/2020 Posseiro
Subtotal: 18 439
Subtotal: 3 43 43 1
Rio de Janeiro
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Angra dos Reis Com. Quilombola de Santa Rita do Bracuí 13/08/2020 200 Quilombola
Angra dos Reis T. I. Guarani do Bracuí/Aldeia Sapukaí 23/09/2020 95 Indígenas
Araruama Com. Quilombola Sobara 18/04/2020 Quilombola
Armação dos Búzios Com. Quilombola Baía Formosa 18/04/2020 100 Quilombola
Cabo Frio Com. Quilombola Botafogo 18/04/2020 150 Quilombola
Macaé PDS Osvaldo de Oliveira 06/04/2020 63 Assentado
Com. Quilombola Santa Justina/Santa
Mangaratiba 22/04/2020 57 Quilombola
Isabel
Nova Iguaçu Assentamento Marapicu 25/06/2020 90 Assentado
Paraty Aldeia Itatim 08/04/2020 Indígenas
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Paraty 12/08/2020 12 Indígenas
Mbya
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/
Paraty 15/08/2020 23 Caiçara
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de
Bocaina/Barreira Sanitária
APA de Cairuçu/Com. Caiçara Praia do
Paraty 17/08/2020 60 Caiçara
Sono/Barreira Sanitária
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Paraty 12/09/2020 12 Indígenas
Mbya
T. I. Tekoha Je'y/Povo Guarani Nhandeva e
Paraty 08/10/2020 12 Indígenas
Mbya
Resende Faz. da Ponte/Acamp. Terra Livre 07/04/2020 100 Sem Terra
Resende Faz. da Ponte/Acamp. Terra Livre 17/04/2020 100 Sem Terra
Rio das Ostras Faz. Andorinhas/Acamp. Andorinhas 16/10/2020 58 Sem Terra
São Pedro da Aldeia Acamp. Emiliano Zapata/Faz. Negreiros 06/07/2020 40 Sem Terra
São Pedro da Aldeia Com. Quilombola Caveira 06/07/2020 30 Quilombola
São Pedro da Aldeia Acamp. Emiliano Zapata/Faz. Negreiros 08/07/2020 40 Sem Terra
Subtotal: 20 1078
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Caiçara Ilha Grande/Barreira Uso e
Angra dos Reis 21/03/2020 Divergência
Sanitária preservação
Ilha dos Pescadores/Rio Paraíba do Sul/ Uso e Não cumprimento de
Campos dos Goytacazes 24/01/2020
Parque Prazeres preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Campos dos Goytacazes Praia do Farol de São Thomé 16/04/2020
preservação procedimentos legais
Mangaratiba, Rio de Janeiro, Uso e
Baía de Sepetiba 18/06/2020 8065 Pesca predatória
Itaguaí preservação
Faz. São Bento da Lagoa/Com. Pesqueira Apropriação
Maricá 11/02/2020 150 Ameaça de expropriação
de Zacarias Particular
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/ Uso e
Paraty 15/08/2020 23 Divergência
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de preservação
Bocaina/Barreira Sanitária
Com.
Tradicionais Caiçara/Baía de Paraty/ Uso e
Paraty 24/06/2020 23 Pesca predatória
Trindade/Cajaíba/Pq. Nac. da Serra de preservação
Bocaina/Barreira Sanitária
São Gonçalo, Niterói, Rio de Uso e
Comunidades da Baía de Guanabara 08/03/2020 Destruição e ou poluição
Janeiro, Magé preservação
Subtotal: 8 8238
Subtotal: 3 829
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Ceará-Mirim Acamp. Resistência Popular Pedrosina 05/12/2020 80 Sem Terra
Subtotal: 1 80
Subtotal: 30 3344
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
T. I. Kaingang/Floresta Nacional de
Canela 18/02/2020 33 Indígenas
Canela
São Francisco de Paula T. I. do Povo Xokleng 12/12/2020 12 Indígenas
Subtotal: 2 45
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
T. I. Kaingang/Floresta Nacional de
Canela 04/03/2020 33 Indígenas
Canela
Subtotal: 1 33
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Esmeralda Fazenda Agência 11/08/2020 1 1 Pecuária
Morro Reuter Fazenda em Morro Reuter 29/10/2020 3 3 Milho e Pecuária
Venâncio Aires Fazenda em Venâncio Aires 28/05/2020 1 1 Fumo
Subtotal: 3 5 5
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Não cumprimento de
Pelotas Colônia de Pescadores Z-3 31/07/2020 46
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Rio Grande Colônia de Pescadores Z-1 31/07/2020 200
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
São José do Norte Colônia de Pescadores Z-2 31/07/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
São Lourenço do Sul Colônia de Pescadores Z-8 31/07/2020 40
preservação procedimentos legais
Subtotal: 4 286
Rondônia
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Faz. Mequéns/T.I. Wajuru/Distrito de
Alta Floresta D'Oeste 10/03/2020 60 Indígenas, Quilombola
Porto Rolim de Moura do Guaporé
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
T. I. Karitiana/Aldeia Myniwin/Igarapé
Porto Velho 26/06/2020 70 Indígenas
Preto
Porto Velho T. I. Kaxarari 26/06/2020 70 Indígenas
Porto Velho Reserva Indígena Cassupá 26/06/2020 Indígenas
Porto Velho Área do Militão/Setor Chacareiro 03/07/2020 600 Posseiro
Porto Velho T. I. Kaxarari 08/07/2020 70 Indígenas
Porto Velho Área do Militão/Setor Chacareiro 21/07/2020 600 Posseiro
Acamp. Nova Conquista/Faz. Mutum/
Porto Velho 28/08/2020 75 Sem Terra
Faz. Bom Futuro
Porto Velho T. I. Kaxarari 30/08/2020 70 Indígenas
Porto Velho Área do Militão/Setor Chacareiro 03/09/2020 600 Posseiro
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 03/10/2020 600 Sem Terra
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 10/10/2020 600 Sem Terra
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 21/10/2020 600 Sem Terra
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 23/11/2020 300 Sem Terra
Índios
Seringueiras, São Francisco do
Miqueleno e Quil. Santo Antônio/Rebio 14/05/2020 160 Indígenas
Guaporé
Guaporé
Seringueiras Faz. Recanto/Linha 32 27/03/2020 Sem Terra
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 14/04/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 18/04/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 21/04/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
Seringueiras T.I. Puruborá/Barreira Sanitária 08/05/2020 75 Indígenas
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 22/05/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 26/06/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 07/07/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
São Miguel do Guaporé,
Seringueiras, Guajará-Mirim,
Governador Jorge Teixeira, Costa
Marques, Monte Negro, Jaru, Nova T. I. Uru-Eu-Wau-Wau/Barreira Sanitária 08/07/2020 115 Indígenas
Mamoré, Mirante da Serra,
Cacaulândia, Alvorada D'Oeste,
Campo Novo de Rondônia
Seringueiras T.I. Puruborá/Barreira Sanitária 22/07/2020 Indígenas
Seringueiras Comunidade Quilombola de Jesus 16/12/2020 14 Quilombola
Associação Santa Fé/Gl. Corumbiara/
Vilhena 31/01/2020 40 Posseiro
Lote 35/Setor 12
Associação Santa Fé/Gl. Corumbiara/
Vilhena 14/03/2020 40 Posseiro
Lote 35/Setor 12
91
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Vilhena 16/03/2020 70 Posseiro
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
Faz. Vilhena/Gleba Corumbiara/Linha
Vilhena 25/04/2020 Posseiro
85/ Setor 7/Lote 1
Faz. Vilhena/Gleba Corumbiara/Linha
Vilhena 27/04/2020 Posseiro
85/ Setor 7/Lote 1
Acamp. Flor da Serra/Gleba
Vilhena 08/05/2020 64 Posseiro
Corumbiara/Setor 12/Lote 84
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Vilhena 02/06/2020 70 Posseiro
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Vilhena 11/06/2020 70 Posseiro
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
Vilhena, Chupinguaia T. I. Tubarão Latundê 26/06/2020 180 Indígenas
Vilhena, Chupinguaia T. I. Tubarão Latundê 08/07/2020 180 Indígenas
Lotes 62, 63, 64/Sítio 90-A/Linha 85/
Vilhena 03/08/2020 70 Posseiro
Setor 08/Faz. Vilhena/Gl. Corumbiara
Vilhena Linha 135, Kapa 136 15/08/2020 1 Posseiro
Vilhena Lotes 75 e 85/Faz. Vilhena 28/08/2020 77 Posseiro
Vilhena Lotes 75 e 85/Faz. Vilhena 08/09/2020 77 Posseiro
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Ariquemes Fazenda na Rod. 257 28/08/2020 Sem Terra
Faz. Guerin/Acamp. Rio Pardo/Flona
Buritis, Porto Velho, Ariquemes 12/08/2020 Posseiro
Bom Futuro
Acamp. Manoel Ribeiro/Faz. Santa
Chupinguaia 16/08/2020 Sem Terra
Elina
Pimenta Bueno Fazenda Duas Meninas/Nova Pimenta 31/01/2020 Sem Terra
Pimenteiras do Oeste Fazenda Siriema 30/04/2020 Sem Terra
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 22/06/2020 600 Sem Terra
Porto Velho Acampamento Tiago Santos 26/10/2020 600 Sem Terra
Seringueiras Faz. Recanto/Linha 32 29/02/2020 Sem Terra
Subtotal: 8 600
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Estabelecimento em Alta Floresta
Alta Floresta D'Oeste 03/08/2020 3 2 Pecuária
d'Oeste
Nova Mamoré Linha 3/Km14/Distrito de Jacinópolis 10/06/2020 5 5 1 Maracujá
Extração de madeira
Santa Luzia D'Oeste Fazenda Canela 31/07/2020 1 1
(Desmatamento)
Subtotal: 3 9 8 1
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Rolim de Moura do Guaporé/T. I. Uso e
Alta Floresta D'Oeste 11/07/2020 60 Pesca predatória
Wuajuru/Barreira Sanitária preservação
São Francisco do Guaporé, Alta Uso e
T. I Rio Branco/Aldeia Anderé 10/05/2020 300 Pesca predatória
Floresta D'Oeste preservação
Com. Quilombola do Forte Príncipe da Uso e
Costa Marques 11/07/2020 60 Pesca predatória
Beira preservação
Unidade de Conservação Rio Madeira Uso e
Porto Velho 03/02/2020 Destruição e ou poluição
B preservação
UHE Jirau e Sto. Antônio/Rio Madeira/ Barragens e Não cumprimento de
Porto Velho 07/01/2020 5000
PAC Açudes procedimentos legais
Nova Mutum e Jaci Paraná/UHE Jirau e Barragens e Não cumprimento de
Porto Velho 07/01/2020 1564
Santo Antônio Açudes procedimentos legais
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 7 6985
Roraima
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Alto Alegre T.I. Barata Livramento/Barreira Sanitária 14/04/2020 178 Indígenas
Alto Alegre T.I. Boqueirão/Barreira Sanitária 20/06/2020 116 Indígenas
Alto Alegre T.I. Barata Livramento/Barreira Sanitária 03/07/2020 178 Indígenas
Boa Vista T.I. Serra da Moça/Barreira Sanitária 14/04/2020 174 Indígenas
Alto Alegre, Boa Vista T.I. Truaru 03/06/2020 137 Indígenas
T.I. Wapixana/ Reserva Moskow/Barreira
Bon m 26/03/2020 178 Indígenas
Sanitária
Cantá, Bon m T.I. Muriru/Barreira Sanitária 21/05/2020 46 Indígenas
Cantá T. I. Canauanim/Barreira Sanitária 18/05/2020 335 Indígenas
Cantá T. I. Canauanim/Barreira Sanitária 03/06/2020 335 Indígenas
Cantá T.I. Malacacheta/Barreira Sanitária 15/07/2020 350 Indígenas
Mucajaí Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre 04/01/2020 80 Sem Terra
Mucajaí Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre 06/01/2020 80 Sem Terra
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 08/01/2020 6695 Indígenas
Mucajaí Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre 09/01/2020 80 Sem Terra
Projeto Surubim/Vicinal Canta Galo/
Mucajaí 28/02/2020 90 Sem Terra
Tamandaré
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 28/04/2020 6695 Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 12/06/2020 6695 Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 17/06/2020 6695 Indígenas
Caracaraí, Alto Alegre, Mucajaí T. I. Yanomami/Apiauí/Papiu/Yawaripé 30/09/2020 6695 Indígenas
T.I. Manoá-Pium/Wapixana/Macuxi/Barreira
Pacaraima 26/03/2020 685 Indígenas
Sanitária
T. I. São Marcos/Macuxi/Wapixana/
Pacaraima 11/11/2020 1460 Indígenas
Taurepang
São João da Baliza, São Luiz T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária 28/02/2020 502 Indígenas
São João da Baliza, São Luiz T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária 14/04/2020 502 Indígenas
São João da Baliza, São Luiz T. I. Waimiri Atroari/Barreira Sanitária 10/11/2020 502 Indígenas
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Uiramutã, Pacaraima, Normandia 13/03/2020 5780 Indígenas
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Uiramutã, Pacaraima, Normandia 01/04/2020 5780 Indígenas
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Uiramutã, Pacaraima, Normandia 05/07/2020 5780 Indígenas
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
T. I. Raposa Serra do Sol/Jawari/Brilho do
Uiramutã, Pacaraima, Normandia 16/07/2020 5780 Indígenas
Sol/S. Miguel/Barreira Sanitária
Subtotal: 28 16806
Acampamentos
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Mucajaí Fazenda Tocantins/Acamp. Lula Livre 09/01/2020 80 Sem Terra
Subtotal: 1 80
Santa Catarina
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
T. I. Toldo Imbu/Kaingang/Barreira
Abelardo Luz 29/01/2020 61 Indígenas
Sanitária
93
T. I. Toldo Imbu/Kaingang/Barreira
Abelardo Luz 03/04/2020 61 Indígenas
Sanitária
Abelardo Luz T.I. Palmas/Kaingang/Barreira Sanitária 03/04/2020 Indígenas
T. I. Piraí/Aldeia Tiaraju/M'byá Guarani/
Araquari 03/04/2020 39 Indígenas
Barreira Sanitária
T.I. Tarumã/Guarani M'bya/Barreira
Balneário Barra do Sul, Araquari 03/04/2020 5 Indígenas
Sanitária
T. I. Toldo Pinhal/ Kaingang/Barreira
Paial, Arvoredo, Seara 03/04/2020 311 Indígenas
Sanitária
T. I. Guarani M'Biguaçu/Morro de Palha/
Biguaçu 03/04/2020 30 Indígenas
Itanhaen/Barreira Sanitária
T. I. Guarani M'Biguaçu/Morro de Palha/
Biguaçu 31/10/2020 30 Indígenas
Itanhaen/Barreira Sanitária
T. I. Toldo Chimbangue/Kaingang/Sede
Chapecó 03/04/2020 50 Indígenas
Trentim/Barreira Sanitária
T.I. Aldeia Kondá/Kaingang/Barreira
Chapecó 03/04/2020 94 Indígenas
Sanitária
T.I. Aldeia Kondá/Kaingang/Barreira
Chapecó 14/05/2020 94 Indígenas
Sanitária
Doutor Pedrinho, Itaiópolis, T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama, Vitor Meireles, José Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom 03/04/2020 514 Indígenas
Boiteux Sucesso/Barreira Sanitária
Doutor Pedrinho, Itaiópolis, T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama, Vitor Meireles, José Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom 13/08/2020 514 Indígenas
Boiteux Sucesso/Barreira Sanitária
Doutor Pedrinho, Itaiópolis, T. I. Xokleng Bugio/Duque de Caxias/
Ibirama, Vitor Meireles, José Ibirama-La Klaño/B. Norte/Bom 31/10/2020 514 Indígenas
Boiteux Sucesso/Barreira Sanitária
Florianópolis Com. Quilombola Vidal Martins 18/12/2020 28 Quilombola
Xanxerê, Ipuaçu, Abelardo Luz, T. I. Xapecó/Kaingang/Barreira
03/04/2020 1334 Indígenas
Entre Rios Sanitária
Xanxerê, Ipuaçu, Abelardo Luz, T. I. Xapecó/Kaingang/Barreira
16/07/2020 1334 Indígenas
Entre Rios Sanitária
T. I. Morro dos Cavalos/Itaty/Guarani
Palhoça M'Bya/Nhandéva/Baixada do 03/04/2020 75 Indígenas
Massiambu/Barreira Sanitária
T. I. Praia de Fora/Guarani/Baixada
Palhoça 03/04/2020 4 Indígenas
Massiambu/Barreira Sanitária
T.I. Cambirela/Guarani M'bya/Baixada
Palhoça 03/04/2020 Indígenas
do Massiambu/Barreira Sanitária
Paulo Lopes Com. Quilombola Toca de Santa Cruz 06/10/2020 38 Quilombola
Rio do Campo Área da Rohden S.A./Serra do Mirador 31/01/2020 12 Sem Terra
T. I. Morro Alto/Guarani/Barreira
São Francisco do Sul 03/04/2020 40 Indígenas
Sanitária
T. I. Guarani do Araçaí/Barreira
Cunha Porã, Saudades 03/04/2020 30 Indígenas
Sanitária
Subtotal: 24 2665
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Florianópolis Com. Quilombola Vidal Martins 15/02/2020 51 Quilombola
Subtotal: 1 51
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Alfredo Wagner Fazenda em Alfredo Wagner 17/11/2020 1 1 Pecuária
Ituporanga Fazenda Coqueiral 06/08/2020 9 9 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 20/11/2020 6 6 2 Cebola
Ituporanga Fazenda do Valmir 20/07/2020 17 9 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 01/09/2020 14 14 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 17/11/2020 13 13 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 17/11/2020 8 8 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 17/11/2020 6 6 2 Cebola
Ituporanga Fazenda em Ituporanga 21/08/2020 12 18 Cebola
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 10 103 84 4
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Com. Pesqueira de Balneário Rincão/ Uso e
Balneário Rincão 20/01/2020 Destruição e ou poluição
Rio Araranguá preservação
Subtotal: 1
São Paulo
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Arco-Íris Aldeia Vanuíre/Barreira Sanitária 31/12/2020 80 Indígenas
Colônia de Pescadores Z-8/Com.
Caraguatatuba Pesqueira do Litoral Norte/Barreira 24/03/2020 Pescador
Sanitária
Faz. Paraíso/Vitória/Santa Fé/Assent.
Gália 20/04/2020 77 Sem Terra
Luiz Beltrame
Ilhabela Baía dos Castelhanos/Barreira Sanitária 21/03/2020 Caiçara
Ilhabela Com. Bonete/Barreira Sanitária 21/03/2020 Caiçara
T.
São Paulo, São Vicente,
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/
Mongaguá, São Bernardo do 11/06/2020 250 Indígenas
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray
Campo
Rexakã/Barreira Sanitária
T.
São Paulo, São Vicente,
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/
Mongaguá, São Bernardo do 21/06/2020 250 Indígenas
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray
Campo
Rexakã/Barreira Sanitária
Peruíbe T. I. Piaçaguera 31/03/2020 85 Indígenas
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
São Paulo 05/02/2020 100 Indígenas
Mbya
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
São Paulo 10/03/2020 100 Indígenas
Mbya
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
São Paulo 26/03/2020 200 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
São Paulo 11/06/2020 200 Indígenas
Barreira Sanitária
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
São Paulo 21/06/2020 Indígenas
Barreira Sanitária
São Paulo Índios Pankararu/Real Parque 22/06/2020 170 Indígenas
Barra do Urca/Área Guarani/Barreira
São Sebastião 24/03/2020 Indígenas
Sanitária
T.I. Ribeirão Silveira/Alemoa S.A/
São Sebastião 24/03/2020 90 Indígenas
Barreira Sanitária
Colônia de Pescadores Z-14/Com.
São Sebastião Pesqueira do Litoral Norte/Barreira 24/03/2020 Pescador
Sanitária
T.I. Ribeirão Silveira/Alemoa S.A/
São Sebastião 13/07/2020 90 Indígenas
Barreira Sanitária
Com. Quilombola Cambury/Barreira
Ubatuba 12/02/2020 30 Quilombola
Sanitária
Ubatuba Quilombo Cazanga/Barreira Sanitária 24/03/2020 Quilombola
Colônia de Pescadores de Ubatuba/
Ubatuba Com. Pesqueiras do Litoral Norte/ 24/03/2020 Pescador
Barreira Sanitária
Quilombo da Fazenda Picinguaba/
Ubatuba 24/03/2020 77 Quilombola
Barreira Sanitária
Comunidade Quilombola Caçandoca/
Ubatuba 24/03/2020 Quilombola
Barreira Sanitária
Com. Caiçara da Almada/Barreira
Ubatuba 24/03/2020 50 Caiçara
Sanitária
95
Com. Quilombola Cambury/Barreira
Ubatuba 24/03/2020 50 Quilombola
Sanitária
Vila de Picinguaba/Com. Caiçara/
Ubatuba 24/03/2020 Caiçara
Barreira Sanitária
Aldeia Tupi-Guarani Renascer/Barreira
Ubatuba 24/03/2020 15 Indígenas
Sanitária
Com. Caiçara do Cedro/Barreira
Ubatuba 24/03/2020 Caiçara
Sanitária
Com. Caiçara de Ubatumirim/Barreira
Ubatuba 24/03/2020 Caiçara
Sanitária
T. I. Boa Vista do Sertão do Promirim/
Ubatuba 24/03/2020 175 Indígenas
Barreira Sanitária
Com. Caiçara da Almada/Barreira
Ubatuba 09/10/2020 50 Caiçara
Sanitária
Subtotal: 31 1419
Ocupações/Retomadas
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Jardinópolis Antiga Área da RFFSA 09/03/2020 100 Sem Terra
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/
São Paulo 30/01/2020 30 Indígenas
Barreira Sanitária
Ocupação Yary Ty/T.I. Jaraguá/Guarani
São Paulo 30/01/2020 7 Indígenas
Mbya
Subtotal: 3 137
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Bofete Lavoura de Laranja 03/09/2020 20 20 Laranja
Lucianópolis Fazenda São Bento 17/12/2020 18 18 Laranja
Jiló, berinjela e
Mogi Guaçu Fazenda em Mogi Guaçu 30/09/2020 10 10
abobrinha
São José dos Campos Fazenda do Juca Tatu 30/06/2020 1 1 Pecuária
Subtotal: 4 49 49
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Não cumprimento de
Ilhabela Com. Bonete/Barreira Sanitária 06/11/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Ilhabela Baía dos Castelhanos/Barreira Sanitária 06/11/2020
preservação procedimentos legais
T.
São Paulo, São Vicente,
I. Tenondé Porã/Kaliptory/Guyrapaju/ Uso e Diminuição do acesso à
Mongaguá, São Bernardo do 21/06/2020 250
Krukutu/Tape Miri/Grexakã/Kuaray preservação Água
Campo
Rexakã/Barreira Sanitária
T. I. Jaraguá/Tekoa Pyau/Ytu/Itakupe/ Uso e Diminuição do acesso à
São Paulo 21/06/2020
Barreira Sanitária preservação Água
Subtotal: 4 250
Sergipe
TERRA
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Aracaju Ocupação das Mangabeiras 20/07/2020 11 Extrativista
Japaratuba Com. Quilombola Patioba 20/04/2020 160 Quilombola
T.I. Xocó/Aldeias Ilha de São Pedro e
Porto da Folha 29/05/2020 100 Indígenas
Caiçara/Barreira Sanitária
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 4 271
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Ilha dos Namorados/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Comunidade Mosqueiro/Vazamento de Uso e Não cumprimento de
Aracaju 30/08/2020
Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Praia Viral/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Praia Coroa do Meio/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Praia de Aruanã/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Praia Boa Viagem/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Aracaju Praia dos Náufragos/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros Praia da Costa/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros Praia do Porto/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros Com. Atalaia Nova/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros Povoado Jatobá/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Com. de Barra dos Coqueiros/Vazamento Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros 30/08/2020
de Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Barra dos Coqueiros Com. Pontal/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Brejo Grande Ilha da Costinha/Vazamento de Óleo 16/01/2020 166
preservação procedimentos legais
Com. de Foz do Rio São Francisco/ Uso e Não cumprimento de
Brejo Grande 16/01/2020 241
Vazamento de Óleo preservação procedimentos legais
Com. Quilombola Carapitanga/ Uso e Não cumprimento de
Brejo Grande 16/01/2020 128
Vazamento de Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Brejo Grande Colônia Z-16/Vazamento de Óleo 16/01/2020 25
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Brejo Grande Praia do Cabeço/Vazamento de Óleo 16/01/2020 20
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Estância Com. Praia do Saco/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Estância Com. Praia do Abaís/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Com. Mangue de Indiaroba/Vazamento Uso e Não cumprimento de
Indiaroba 30/08/2020
de Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Itaporanga d'Ajuda Com. Mangue/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Itaporanga d'Ajuda Pov. Caueiras/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Uso e Diminuição do acesso à
Japaratuba Com. Quilombola Patioba 20/04/2020 160
preservação Água
Praia de Ponta dos Mangues/Vazamento Uso e Não cumprimento de
Pacatuba 30/08/2020
de Óleo preservação procedimentos legais
Uso e Não cumprimento de
Pirambu Praia do Pirambu/Vazamento de Óleo 30/08/2020
preservação procedimentos legais
Barragens e
Porto da Folha Quilombo de Mocambo 27/04/2020 Destruição e ou poluição
Açudes
Subtotal: 27 740
Tocantins
TERRA
97
Conflitos por Terra
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Categoria
Araguaína Acampamento Levinha 30/08/2020 110 Sem Terra
Comunidade Quilombola da Ilha de
Araguatins 25/05/2020 48 Quilombola
São Vicente
Arraias Com. Quilombola Lagoa da Pedra 07/07/2020 37 Quilombola
Paranã, Arraias Com. Quil. Kalunga do Mimoso 02/09/2020 250 Quilombola
Babaçulândia UHE Estreito/Acamp. Ilha Verde 26/05/2020 35 Atingido por barragem
Barra do Ouro Gleba Tauá 01/02/2020 20 Posseiro
Barra do Ouro Gleba Tauá 04/02/2020 20 Posseiro
UHE Estreito/Ocupação em Barra do
Barra do Ouro 26/05/2020 Atingido por barragem
Ouro
Barra do Ouro Gleba Tauá 14/07/2020 20 Posseiro
Barra do Ouro Gleba Tauá 10/09/2020 20 Posseiro
Carmolândia Fazenda Vera Cruz/Primavera 20/02/2020 20 Sem Terra
Conceição do Tocantins Comunidade Quilombola Matões 19/12/2020 38 Quilombola
Filadél a UHE Estreito/Acamp. Dom Bosco 26/05/2020 35 Atingido por barragem
T. I. Taego Ãwa/Avá-Canoeiros/Barreira
Formoso do Araguaia 14/04/2020 7 Indígenas
Sanitária
Itacajá, Goiatins T.I. Kraolândia/Barreira Sanitária 12/05/2020 748 Indígenas
Faz. Pântano do Papagaio/Acamp.
Ipueiras 28/08/2020 80 Sem Terra
Clodomir Santos de Morais
Lagoa da Confusão, Pium T. I. Iñawébohona/Barreira Sanitária 14/04/2020 57 Indígenas
T. I. Mata Alagada/Loroty/Faz. Planeta/
Cristalândia, Lagoa da Confusão 29/05/2020 31 Indígenas
Krahô Kanela/Barreira Sanitária
Mata Alagada/Retiro do Cocal/Lagoa
Lagoa da Confusão do Jacaré/Krahô Kanela/Barreira 29/05/2020 Indígenas
Sanitária
Lagoa da Confusão, Pium T. I. Iñawébohona/Barreira Sanitária 23/09/2020 57 Indígenas
Santa Tereza do Tocantins, Novo Comunidade Quilombola Barra do
11/06/2020 97 Quilombola
Acordo, Lagoa do Tocantins Aroeira
Mateiros Comunidade Quilombola Mumbuca 19/06/2020 80 Quilombola
Comunidade Quilombola Boa
Mateiros 14/07/2020 8 Quilombola
Esperança
Comunidade Quilombola Capão do
Mateiros 14/07/2020 8 Quilombola
Modesto
Mateiros Comunidade Quilombola Formiga 14/07/2020 20 Quilombola
Mateiros Comunidade Quilombola Rapadura 14/07/2020 8 Quilombola
Mateiros Comunidade Quilombola Mumbuquinha 14/07/2020 8 Quilombola
Mateiros Comunidade Quilombola Carrapato 14/07/2020 20 Quilombola
Mateiros Comunidade Quilombola Borá 14/07/2020 8 Quilombola
Mateiros Comunidade Quilombola Ambrósio 14/07/2020 20 Quilombola
Fazenda Normandia do Sul/Acamp.
Palmas 06/08/2020 40 Sem Terra
Sebastião Bezerra
Faz. Santo Reis/Brejão/São Bento/
Palmeirante 09/01/2020 16 Sem Terra
Acamp. Vitória/Gleba Anajá
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 15/01/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 23/03/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 24/03/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 02/04/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
Faz. Santo Reis/Brejão/São Bento/
Palmeirante 15/05/2020 16 Sem Terra
Acamp. Vitória/Gleba Anajá
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 07/06/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
Faz. Recreio/Freitas/Acamp. Bom
Palmeirante 11/06/2020 19 Sem Terra
Jesus/Gabriel Filho
T.I. Utaria Wyhyna/Irodu Irana/Karajá e
Pium 03/04/2020 29 Indígenas
Javaé/Barreira Sanitária
Formoso do Araguaia, Lagoa da Parque Indígena do Araguaia/Barreira
14/04/2020 876 Indígenas
Confusão, Pium Sanitária
Formoso do Araguaia, Lagoa da Parque Indígena do Araguaia/Barreira
24/06/2020 876 Indígenas
Confusão, Pium Sanitária
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Subtotal: 55 4202
TRABALHO
Trabalho Escravo
Trab. na
Município(s) Nome do Conflito Data Libertos Menores Tipo de Trabalho
denúncia
Arroz, soja, serviços
Lagoa da Confusão Fazenda Diamante 07/05/2020 40
gerais
Arroz, soja, serviços
Lagoa da Confusão Fazenda Eldorado 07/05/2020 20
gerais
Nova Olinda Fazenda Gratão 08/09/2020 5 5 1 Pecuária
Subtotal: 3 65 5 1
ÁGUA
Conflitos pela Água
Município(s) Nome do Conflito Data Famílias Tipo Conflito Situação
Barragens e Diminuição do acesso à
São Salvador do Tocantins Vila Retiro/UHE Peixe Angical 05/02/2020 97
Açudes Água
Subtotal: 1 97
1*Descrição de todos os eixos de conflitos no campo: Ocorrências de Violências Terra, Ocupações/Retomadas, Acampamen-
tos, Conflitos pela Água e Conflitos Trabalhistas. Embora represente o conjunto das ocorrências, o número de famílias nas
localidades em conflito é somado apenas uma vez. Os totais, portanto, eliminam a duplicidade e expressam rigorosamente
o quantitativo de famílias envolvidas.
*Os conflitos do município de Boca do Acre são acompanhados pela CPT Acre.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
19 anos; 14% entre 20 e 24 anos; e 11,7% cia Internacional (ESPII)10, o nível mais alto
entre 25 e 29 anos. Entretanto, ainda que de alerta em saúde, e, em 11 de março, Te-
as taxas entre a juventude feminina sejam dros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral
mais baixas, os homicídios ainda atingem do organismo internacional, anunciou que
mais mulheres nessa faixa etária do que em a situação da COVID-19 caracterizava uma
qualquer outra, o que as coloca na mesma pandemia11.
condição que os homens jovens. A morte
violenta espreita e encurrala a juventude A primeira pessoa a morrer em decorrên-
no Brasil, sobretudo a juventude negra, em cia da doença que temos notícia no Brasil
meio às promessas não cumpridas do Esta- foi Cleonice Gonçalves, uma mulher negra,
tuto da Criança e do Adolescente e do Esta- empregada doméstica, moradora do Rio de
tuto da Juventude. Janeiro12. Cleonice contraiu a doença em
seu ambiente de trabalho. Mesmo diante
O Atlas7 também apresentou as taxas de da recomendação de quarentena pelos or-
ocorrência de homicídios (por 100 mil ha- ganismos internacionais de saúde, a maio-
bitantes) entre as pessoas negras e não ne- ria dos(as) empregadores(as) domésticos(as)
gras (brancas, das etnias originárias e ama- continuou exigindo a prestação do trabalho,
relas) e indicou que para cada indivíduo não tornando as trabalhadoras domésticas um
negro assassinado havia 2,7 indivíduos ne- grupo bastante exposto à COVID-19. A mor-
gros, isto é, enquanto a taxa de homicídios te de Cleonice evidenciou sinais típicos das
para pessoas não negras foi de 13,9%, para relações de contiguidades sociais e simbó-
as pessoas negras foi de 37,8%. licas entre a escravização negra e o traba-
lho doméstico, descrita por Flavia Fernan-
No caso das mulheres, o Atlas8, da mesma des de Souza13, estudiosa das experiências
forma, comparou as taxas entre mulheres de mulheres negras no mundo do trabalho
negras e mulheres não negras, indicando doméstico oitocentista. Esses sinais seriam
que sofreram redução (-11,7%) em relação a a aversão ao trabalho manual do patronato
essas e aumentaram em relação às primei- branco e o rebaixamento dos salários, o que
ras (12,4%). “Em 2018, 68% das mulheres torna essa mão de obra acessível mesmo às
assassinadas no Brasil eram negras”9. residências não abastadas.
7
Ibid.
8
Ibid.
9
Ibid., p. 37.
10
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. “OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional
por surto de novo coronavírus”. Brasília, 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_conten-
t&view=article&id=6100:oms-declara-emergencia-de-saude-publica-de-importancia-internacional-em-relacao-a-novo-coro-
navirus&Itemid=812>. Acesso em: 11 abr. 2021.
11
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. “OMS afirma que COVID-19 é agora caracterizada como pandemia”. Brasí-
lia, 2020. Disponível em: < https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-
-que
12
SANTANA, Bianca. “COVID-19 e a população negra brasileira”. Ecoa: por um mundo melhor, fev. 2021. Disponível em: ht-
tps://www.uol.com.br/ecoa/colunas/bianca-santana/2021/02/02/covid-19-e-a-populacao-negra-brasileira.htm. Acesso
em: 14 abr. 2021.
13
SOUZA, Flavia Fernandes de. “Escravas do lar: as mulheres negras e o trabalho doméstico na corte imperial”. In: XAVIER,
Giovana; FARIAS, Juliana Barreto; GOMES, Flavio (orgs.). Mulheres negras no Brasil escravista e do pós-emancipação. São
Paulo: Selo Negro, 2012. p. 244-260.
103
hospitalizadas àquela altura, as que mais as condições de vida dos povos negros e ori-
morriam14. Em julho de 2020, essa tendên- ginários, notadamente para as mulheres, o
cia foi confirmada em um estudo produzido mesmo não pode ser dito em relação ao pa-
por pesquisadores(as) do Instituto Pólis que tronato empresarial branco.
indicou que homens e mulheres negros(as)
eram as principais vítimas fatais da CO- No setor mineral, por exemplo, o fatura-
VID-19 na cidade de São Paulo15. Outro es- mento está em franca ascensão. Segundo
tudo indicou acentuada associação entre os o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram),
óbitos por COVID-19 e a necessidade de sair no primeiro trimestre de 2021, as empresas
para trabalhar, mais comum entre traba- faturaram 70 bilhões de reais, o que repre-
lhadores(as) informais e com postos de tra- senta uma alta de 95% em relação ao mes-
balhos mais precarizados, que tiveram que, mo período do ano anterior17.
por consequência, realizar grandes desloca-
mentos em transporte público16. A primeira Um estudo realizado pelo Centro de Estudos
morte notificada, da senhora Cleonice, reve- do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas
lou, mais tarde, ser a regra. (FGV) sobre os efeitos do surto de coronaví-
rus na China sobre o agronegócio brasileiro,
Outro elemento igualmente preocupante uma vez que esse país é o principal destino
nesse quadro é que as desigualdades socio- da produção agropecuária brasileira, já su-
econômicas entre pessoas brancas e negras geria que a situação não gerou contração nas
foram aprofundadas durante a pandemia. exportações brasileiras para o seu principal
De acordo com o Boletim Especial do De- destino18. Naquele momento, a COVID-19
partamento Intersindical de Estatística e ainda não havia ganhado escala pandêmi-
Estudos Socioeconômicos (Dieese), que in- ca. Em março de 2021, conforme a Confede-
terpretou dados da Pesquisa Nacional por ração Nacional da Agricultura (CNA), houve
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Con- alta tanto no volume de exportações (21,8
tínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de milhões de toneladas), quanto nos valores
Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro alcançados (11,6 bilhões de dólares), em re-
semestre de 2020, 6,4 milhões de pessoas lação ao mesmo mês do ano anterior, corro-
negras perderam ou deixaram de procurar borando a tendência encontrada na análise
emprego, enquanto que para as pessoas da FGV. As principais commodities foram a
brancas, o número foi 2,4 milhões. soja em grãos e a carne bovina in natura. A
alta nos valores foi de 28,6%19.
Se por um lado a pandemia piorou muito
14
DIAS, Bruno. “Letalidade da Covid-19 na população negra pauta imprensa sobre raça e desigualdades”. Associação
Brasileira de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 11 abr. 2020. Disponível em: < https://www.abrasco.org.br/site/noticias/
saude-da-populacao/letalidade-da-covid-19-na-populacao-negra-pauta-debate-sobre-raca-e-desigualdade-social-na-im-
prensa/46775/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
15
NISIDA, Vitor Coelho; CAVALCANTE, Lara Aguiar. “Racismo e impactos da COVID-19 na população da cidade de São
Paulo”. Revista Brasileira de Direito Urbanístico, Belo Horizonte, n. 10, jan./jun. 2020, p. 151-172.
16
MARINO, Aluizio et al. “Circulação para trabalho explica concentração de casos de Covid-19”. LabCidade – Laboratório
Espaço Público e Direito à Cidade, São Paulo, 30 jun. 2020. Disponível em: <http://www.labcidade.fau.usp.br/circulacao-
-para-trabalho-inclusive-servicos-essenciais-explica-concentracao-de-casos-de-covid-19/>. Acesso em: 25 abr. 2021.
17
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO. Mineração em números. Instituto Brasileiro de Mineração, jan.mar. 2021. Dis-
ponível em: https://ibram.org.br/mineracao-em-numeros/. Acesso em: 25 abr. 2021.
18
CENTRO DE ESTUDOS DO AGRONEGÓCIO. Impactos do surto do coronavírus na china sobre o agronegócio (até feverei-
ro...). Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, fev. 2020. Disponível em: https://gvagro.fgv.br/sites/gvagro.fgv.br/files/u115/
Impactos%20do%20coronav%C3%ADrus%20sobre%20o%20agroneg%C3%B3cio%20-%20s%C3%ADntese.pdf. Acesso em:
25 abr. 2021.
19
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. Balança comercial do agronegócio brasileiro. Confederação Nacional da
Agricultura, Brasília, mar. 2021. Disponível em: < https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/boletins/Balanca-Comer-
cial_marco2021.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Com todo esse êxito, em meio a um qua- com 5 assassinatos cada e, no caso das ten-
dro generalizado de catástrofe e assombro, tativas, foram 26 no Nordeste e 6 no Centro-
o fato é que a pandemia não afetou signifi- -Oeste. No Sudeste/Sul, foram registrados,
cativamente os negócios do patronato bran- respectivamente, 2/1 assassinatos e 3/2
co, o que ampliou o fosso das desigualdades tentativas.
sociorraciais e agudizou as violências em
estado bruto contra os povos do campo, das Tais números apontam para uma concen-
águas e das florestas. tração regionalizada desse tipo de violência,
que podem levar analistas incautos a recair
Mulheres na linha de frente das múltiplas em determinismos fáceis, atribuindo a algu-
violências do patriarcado patronal branco mas regiões certas características intrínse-
cas que lhe confeririam uma atmosfera de
O que o desempenho ótimo dos setores mi- “terra sem lei”, por, supostamente, serem
neral e do agronegócio durante a pandemia atrasadas, vazios demográficos, remotas
não revela são os danos causados à vida e etc.
ao projeto de mundo das mulheres das et-
nias originárias, quilombolas, pescadoras Além dos assassinatos consumados e das
artesanais, assentadas e acampadas da tentativas, a CPT registrou também um con-
luta pela reforma agrária. junto bastante amplo de violências contra
as mulheres: agressões, ameaças de morte,
O primeiro relatório de Conflitos da década detenções, estupros, lesões corporais, hu-
transcorrida estampou a fotografia de uma milhações, intimidações e prisões.
mulher, Maria do Espírito Santo da Silva,
ao lado de seu companheiro, José Claudio Em dez anos, 446 mulheres foram ameaça-
Ribeiro da Silva, ambos assassinados. Eram das de morte, com posseiras (90), quilombo-
assentados em um Projeto Agroextrativista las (60) e trabalhadoras sem terra (49) reu-
chamado Praia Alta-Piranheira, no muni- nindo o maior contingente de ameaçadas.
cípio de Nova Ipixuna, no Estado do Pará,
e foram mortos a mando de madeireiros no Foram 37 estupros em uma década, sendo
dia 24 de maio de 2011. Maria do Espírito as principais vítimas mulheres quilombo-
Santo e José Cláudio foram mortos mesmo las e das etnias originárias. Trinta desses
após terem denunciado às autoridades pú- estupros foram cometidos contra crianças
blicas as ameaças que sofriam por sua luta e adolescentes da comunidade quilombola
em defesa da Floresta Amazônica e de seus Kalunga, no Estado de Goiás. Os envolvidos
povos. nesses estupros foram fazendeiros, garim-
peiros, membros do Poder Legislativo muni-
Nos últimos dez anos (2011-2020), a CPT cipal, empresários.
registrou 77 tentativas e 37 assassinatos de
mulheres em conflitos fundiários e socioam- Noventa e oito mulheres foram presas nos
bientais. Eram trabalhadoras rurais sem- últimos dez anos no contexto dos conflitos
-terra, quilombolas e das etnias originárias, no campo, nas águas e nas florestas. As pri-
em sua maioria. sões foram determinadas, sobretudo, para
as mulheres sem terra (66 do total), o que
Esses episódios estiveram concentrados, sugere a permanência das engrenagens pu-
sobretudo, na Região Norte do país, com 24 nitivistas no tratamento das lutas por refor-
assassinatos e 40 tentativas. Em seguida, ma agrária e direitos territoriais no Brasil.
estão as regiões Nordeste e Centro-Oeste,
105
Em março de 2018, de uma vez, 400 mu- perspectiva mundial.
lheres foram detidas e intimidadas pela Po-
lícia Militar no município de São Lourenço, A essência do neocolonialismo é de que
Minas Gerais, após ocupar uma fazenda do o Estado que a ele está sujeito é, teorica-
grupo empresarial Nestlé como meio de de- mente, independente e tem todos os ador-
nunciar a privatização das águas. nos exteriores da soberania internacional.
Na realidade, seu sistema econômico e,
Ao longo da última década, um total de portanto, seu sistema político é dirigido do
1.814 mulheres sofreram algum tipo de vio- exterior. Os métodos e as formas de dire-
lência interpessoal ou institucional em con- ção podem tomar vários aspectos [...]. Mais
textos diversos de lutas por direitos territo- comumente, [...] o controle neocolonialista
riais e socioambientais. é exercido através de meios econômicos ou
monetários. [...] É possível que o controle
Avenidas e esquinas analíticas neocolonial seja exercido por um consórcio
de interesses financeiros que não são es-
Como refletir sobre essas múltiplas violên- pecificamente identificáveis com qualquer
cias orquestradas pelo patriarcado patronal Estado particular.22
branco que atingem as mulheres no cená-
rio dos conflitos socioambientais e agrários, Eis a dimensão dos desafios colocados para
agravados pela pandemia de COVID-19? A o enfrentamento ao neocolonialismo no Bra-
quais aportes teóricos e políticos podemos sil, que estão postos desde a sua pseudo-
recorrer? descolonização no século XIX: um processo
de independência encenado por um membro
Ainda vivemos sob os escombros da “espo- da família real portuguesa, após sucessivos
ra da opressão”20 colonial, que articulou a sufocamentos de diversas outras tentativas
escravização de milhões de seres humanos autônomas, cujo exemplo mais notável é a
originários do continente africano e, até cer- Revolta dos Búzios, instaurou uma tirana
to momento, dos povos autóctones desse monarquia e manteve seu domínio sobre o
continente, com a devastação dos biomas Brasil até ser banida por golpe militar, que
nacionais, iniciada na Mata Atlântica, o que proclamou uma república sem povo e que
a tornou, hoje, quase inexistente. Desse promoveu, nos seus primeiros anos, o geno-
amálgama, patrimônios foram amealhados cídio em Canudos.
e concentrados aos auspícios de leis injus-
tas e de religiões lideradas por sátrapas. Apesar do Estado brasileiro ostentar, como
escreveu N’Krumah, “todos os adornos ex-
No entanto, além dos escombros, vivemos teriores da soberania internacional”, man-
também entre edifícios com fachadas novas. teve-se e mantém-se apenas nominalmente
O colonialismo abre lugar ao neocolonialis- independente.
mo, com reconfigurações, em certa medida,
mais sofisticadas. Em sua análise, Kwame Esse quadro foi reafirmado com decisões
N’Krumah21 enfatizou que o neocolonialis- macroeconômicas no campo das políticas
mo não é uma questão exclusivamente afri- estatais que consolidaram a posição do Bra-
cana e, por essa razão, o examinou em uma sil no mundo, desde 1532, como um “Estado
20
PAES, Fábio. Salve Canudos. Interprete: Jurema Paes. In: FÁBIO PAES. Canudos e Canto do Sertão. [S.I.]: Audio Factory,
p1995. 1 disco sonoro. Lado A, faixa 4.
21
N’KRUMAH, Kwame. Neocolonialismo: último estágio do imperialismo. Tradução Maurício C. Pedreira. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1967.
22
Ibid.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
23
Ibid., p. 100.
24
Ibid., p. 100.
25
GAMA, Luiz. “A emancipação ao pé da letra”. In: FERREIRA, Ligia Fonseca (org.). Lições de resistência: artigos de Luiz
Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2020, p. 268.
26
FANON, Frantz. Por uma revolução africana: textos políticos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar,
2021.
27
RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editorial Andes Limitada, 1957, p.
171.
28
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e Branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; ______. (orgs.). Psicologia
social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 25-57.
107
entre os brancos”29. Com isso, Abdias Nascimento refutou a ideia
de que as relações raciais no Brasil foram
O silêncio, a omissão, a distorção do lugar construídas em bases que não encontra-
do branco na situação das desigualdades riam paralelos possíveis com outros contex-
raciais no Brasil têm um forte componente tos, postos que baseadas em uma “saudável
narcísico, de autopreservação, porque vem interação sexual”32. Nesse sentido, as refle-
acompanhado de um pesado investimento xões de Patricia Hill Collins a respeito da ex-
na colocação desse grupo como grupo de periência de mulheres negras nos Estados
referência da condição humana30. Unidos também podem ser aproximadas da
experiência de mulheres negras na Diáspo-
Nas violências praticadas contra mulheres ra, bem como das mulheres das etnias ori-
em contextos de conflitos socioambientais e ginárias. Collins33 entende que o estupro é
fundiários, um fator que merece atenção é a parte da subordinação de mulheres negras
ocorrência de estupros. Violências sexuais nas opressões interseccionais, sendo a sua
contra mulheres constituem historicamente dimensão mais visível. Ele tende a ser per-
formas de controle patronal. Consideran- doado e legitimado, com base em um pro-
do que as vítimas na última década foram cesso de construção das violências a partir
mulheres das etnias originárias e crianças das relações raciais e de gênero, que cons-
e adolescentes quilombolas, a persistência truiu a imagem objetificada dessas mulhe-
do mito da democracia racial constitui um res como sexualmente disponíveis. No caso
elemento para a análise, na medida em que das meninas quilombolas estupradas, isso
tal mito contribuiu para a crença de que a é agravado pela sexualização precoce da in-
miscigenação resultou de contatos cordiais fância/adolescência, imbricada a um qua-
entre as três raças, ocultando que as mu- dro de pauperização.
lheres negras e das etnias originárias su-
portaram as consequências sexuais desse A autora bell hooks descreveu o poder pa-
processo em seus corpos e que não hou- triarcal como “o poder que os homens usam
ve possibilidades igualitárias de existência para dominar as mulheres”34, não apenas
para as três raças. Abdias Nascimento, crí- baseado na discriminação contra as mulhe-
tico dessa suposta democracia racial e dos res, mas como um “comprometimento po-
seus ideólogos, escreveu lítico sério para manter um regime político
[...] que seja dominado pelo homem”35. No
O Brasil herdou de Portugal a estrutura caso dos homens brancos, acrescentou a
patriarcal de família e o preço dessa he- autora, o sucesso desse poder patriarcal é
rança foi pago pela mulher negra, não só medido pelo uso sistemático da tecnologia
durante a escravidão. Ainda nos dias de para violentar os outros, bem como pela sua
hoje, a mulher negra [...] continua vítima ampla capacidade de explorar pessoas para
fácil, vulnerável a qualquer agressão sexu- fins capitalistas36.
al do branco.31
29
Ibid., p. 25.
30
Ibid., p. 30.
31
NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. 2. ed. São Paulo: Perspectiva,
2017, p. 73-74.
32
Ibidem, p. 76.
33
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução
Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.
34
hooks, bell. E eu não sou uma mulher? mulheres negras e feminismo. Tradução Bhuvi Libanio. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 2020, p. 145.
35
Ibid., p. 163.
36
bid.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Para tanto, propomos a noção de patriarca- COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista
do patronal branco para compreender uma negro: conhecimento, consciência e a política
racionalidade e como um “corpo elaborado do empoderamento. Tradução Jamille Pinheiro
de teorias e práticas”37 que operam sobre os Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.
corpos das mulheres, notadamente negras
e das etnias originárias, promovendo violên- CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTU-
cias físicas interpessoais, mas também ani- RA. Balança comercial do agronegócio brasilei-
quilando seus projetos de mundo e existên- ro. Confederação Nacional da Agricultura, Bra-
cia38, de modo a solapar outros caminhos sília, mar. 2021. Disponível em: < https://www.
possíveis, racionalidade essa que se articula cnabrasil.org.br/assets/arquivos/boletins/Ba-
com o devorar dos bens da natureza numa lanca-Comercial_marco2021.pdf>. Acesso em:
lógica de predação contínua e concentra- 25 abr. 2021.
ção veloz de riquezas, operando também na
produção e na aplicação de instrumentos DIAS, Bruno. “Letalidade da Covid-19 na popula-
estatais de controle e punição quando as ção negra pauta imprensa sobre raça e desigual-
mulheres desafiam tais engrenagens, como dades”. Associação Brasileira de Saúde Coletiva,
foram os casos de prisões e detenções regis- Rio de Janeiro, 11 abr. 2020. Disponível em: <
trados pela CPT ao longo de sua missão de https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sau-
documentar os conflitos agrários e socioam- de-da-populacao/letalidade-da-covid-19-na-po-
bientais. pulacao-negra-pauta-debate-sobre-raca-e-desi-
gualdade-social-na-imprensa/46775/>. Acesso
Referências bibliográficas em: 11 abr. 2021.
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamen- FANON, Frantz. Por uma revolução africana:
to e Branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray; textos políticos. Tradução Carlos Alberto Medei-
______. (orgs.). Psicologia social do racismo: es- ros. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.
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Brasil. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 25-57. GAMA, Luiz. “A emancipação ao pé da letra”. In:
FERREIRA, Ligia Fonseca (org.). Lições de re-
CASA FLUMINENSE. Mapa da desigualdade: sistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de
região metropolitana do Rio de Janeiro. Rio de São Paulo e do Rio de Janeiro. São Paulo: Edi-
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37
Ibid., p. 33.
38
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Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Foto: Mídia Ninja
Terra
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
2020: apesar da pandemia, agrava-se a tos por terra foi tão alto: 1.576, envolvendo
violência no campo 171.625 famílias. Os dados são ainda mais
assustadores quando analisados apenas
O ano de 2020 poderia ter passado para a os números referentes aos povos indígenas
história como o ano da união nacional con- no Brasil: 656 ocorrências (41,6% do total),
tra um inimigo externo tão minúsculo que com 96.931 famílias (56,5%).
só é visível com a ajuda de potentes micros-
cópios: a Covid-19, uma infecção respirató- Gráfico 1: Número de ocorrências em confli-
ria aguda causada pelo coronavírus SAR- tos por terra no Brasil (1985-2020)
S-CoV-2, que vitimou 194.949 pessoas no
Brasil, segundo dados oficiais publicados
pelo Ministério da Saúde4.
9
Os assentamentos ambientalmente diferenciados são os projetos de desenvolvimento sustentável, de assentamentos agro-
extrativistas e de assentamento florestal criados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
10
Podemos definir o ordenamento territorial como o processo de gestão territorial contínua, transparente e democrática. A
política de ordenamento territorial, que visa a promover o desenvolvimento sustentável, deve ser pactuada com os diferen-
tes atores: federal, estadual, municipal e sociedade civil. Entre seus instrumentos podemos citar o Zoneamento Ecológico
Econômico (ZEE), a unificação e divulgação dos diferentes cadastros (imóveis rurais, registro de imóveis, fiscal e ambiental
rural). Nesse contexto ganhavam destaque os debates relativos à “Governança Fundiária”. Por isso a transparência nas in-
formações e a efetiva participação popular, estão entre seus princípios básicos.
11
Na Exposição de nº 01 se afirmava: “Desde os anos oitenta as ações de destinação de terras pelo governo federal na
Amazônia Legal foram interrompidas intensificando um ambiente de instabilidade jurídica, propiciando a grilagem e terras,
o acirramento dos conflitos agrários e o avanço do desmatamento”. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2009/Exm/EMI-1-MDA-MP-MCidades-09-Mpv-458.htm. Acesso em: 13 abr. 2021
115
Lei nº 11.952, de 25 de junho de 2009, que tera o prazo, possibilitando a regularização
instituiu o Programa Terra Legal, visando de áreas ocupadas cada vez mais recentes,
a regularizar individualmente as terras da ainda dispensou a realização de licitações
União na Amazônia12, para conceder titu- para aquisição desses imóveis até 2.500 ha
lação definitiva aos pequenos posseiros em e autorizou que essas mesmas regras fos-
áreas de até 15 módulos fiscais e não su- sem expandidas a todas as terras públicas
periores a 1.500 ha. Essas normas criaram da União e em todo o território nacional.
mecanismos que priorizavam a regulação
fundiária de pequenos ocupantes que ocu- Em 2020, encabeçado pela bancada rura-
pavam terras desde dezembro de 200413. lista, o governo federal tentou aprovar a Me-
dida Provisória nº 910/2019, que introdu-
Em julho de 2017, por meio da Lei nº 13.465, ziu um novo marco temporal: 5 de maio de
esse limite foi aumentado, passando a per- 2014, prazo reduzido ainda mais para de-
mitir a concessão individual de terras pú- zembro de 2018 no artigo 38. O recado era:
blicas até o limite de 2.500 ha, no caso de Vocês desmatam queimam e eu regularizo.
ocupações mansas e pacíficas anteriores a Confirma-se o que foi escrito ano passado
22 de julho de 2008. Posteriormente, esse por Eliane Brum, em seu artigo para o Re-
limite foi alterado pela Medida Provisória nº latório da CPT (2020, p. 113): “A legalização
910/201914, que reduziu esse marco para da grilagem e a conversão dos grileiros em
05 de maio de 2010. (MONTEIRO, VAS- fazendeiros”.
CONCELOS, TRECCANI, 2019; MONTEI-
RO; TRECCANI, 2019; TRECCANI; MON- No entanto, essa pretensão foi frustrada
TEIRO; VASCONCELOS, 2020). Destaca-se pela oposição que defendeu que durante
que, mais uma vez, o governo afirmou que a pandemia do novo coronavírus matérias
se “busca legalizar a situação de milhares que fugissem dessa temática não deveriam
de núcleos familiares que exploram a ter- ser pautadas no Congresso. Tramitam hoje,
ra e dela retiram o seu sustento, conferindo na câmara dos deputados, o Projeto de Lei
segurança jurídica à sua situação dantes (PL) nº 2.633/202016 e, no Senado Federal,
precária”15. A Lei nº 13.465/2017, além de o PL nº 510/202117, que visam a alterar as
aumentar o limite para regularização indi- regras de regularização fundiária em áreas
vidual de ocupações em terras públicas, al- federais reintroduzindo nesse debate, com
12
Conforme o disposto no Art. 2º da Lei Complementar nº. 124, de 03 de janeiro de 2007 a Amazônia Legal: “abrange os
Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins, Pará e do Maranhão na sua porção a oeste
do Meridiano 44º”. Segundo o IBGE: “Possui uma superfície aproximada de 5.015.067,749 km², correspondente a cerca de
58,9% do território brasileiro” (https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/geologia/15819-amazonia-
-legal.html?=&t=o-que-e). Esta medida corresponde a 501.506.774,90 ha.
13
No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.269, ajuizada pela Dra. Deborah Macedo Duprat de Britto
Pereira, da Procuradoria Geral da República, o STF determinou que as terras ocupadas por comunidades quilombolas ou
tradicionais que façam uso coletivo da área deverão ser regularizadas de acordo com normas específicas.
14
Ver: Brito, B. & Barreto, P. (2020). Nota técnica sobre Medida Provisória nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em:
https://bit.ly/3vW0Q4W; Brito, B. 2020. Nota técnica sobre o relatório do Senador Irajá Abreu referente à Medida Provisória
(MP) nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em: https://bit.ly/2QCFkCj; Brito, B. 2020. Nota técnica sobre o segundo
relatório do Senador Irajá Abreu referente à Medida Provisória (MP) nº 910/2019. Belém: Imazon. Disponível em: https://
bit.ly/2PuBIlm.
15
Ver a EMI nº 00020/2016 MCidades MP CCPR de 21 de dezembro de 2016, disponível em https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/medpro/2016/medidaprovisoria-759-22-dezembro-2016-784124-exposicaodemotivos-151740-pe.html, acesso
em: 13 abr. 2021.
16
Ver: Brito, B. (2020). Nota técnica sobre Projeto de Lei n.º 2.633/2020. Belém: Imazon. Disponível em: https://imazon.
org.br/wp-content/uploads/2020/06/Imazon_Nota_Tecnica_PL2633_2020-1.pdf e PACKER Larissa e TRECCANI, Girolamo
Domenico. MP 910/19 transformada em PL nº 2633/2020: “Lobo em pele de cordeiro”. (2020) Disponível em http://www.
cartadebelem.org.br/wp-content/uploads/2014/11/Lobo-em-pele-de-cordeiro-final.pdf, acesso em: 13 abr. 2021.
17
Ver: Brito, B. (2021). Nota técnica sobre Projeto de Lei n.º 510/2021. Belém: Imazon. Disponível em: https://imazon.org.
br/wp-content/uploads/2021/04/Nota_Tecnica_PL510_Imazon.pdf, acesso em: 13 abr. 2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
poucas exceções, o que estava previsto na A grilagem das terras públicas como ins-
MP 910/2018. trumento para destruir a sociobiodiversi-
dade amazônica.
Em comum, essas propostas, incentivam a
continuidade de ocupação de terras públi- Nas últimas décadas, a grilagem de terras
cas e o desmatamento. O PL nº 510/2021 públicas tem sido utilizada para explicar
permite a regularização de terras de médio a violência no campo e o desmatamento.
e grande porte ocupadas após dezembro de Dependendo de sua definição a prática da
2014, com benefícios a seus ocupantes; au- apropriação ilegal do patrimônio público é
menta o risco de titular áreas em conflitos tão antiga que fica difícil precisar em que
ou com demandas prioritárias, pois desobri- momento se tornou um procedimento recor-
ga a realização de vistoria prévia e enfraque- rente, pois elementos do passado continu-
ce os casos excepcionais em que a vistoria é am sendo empregados no presente (BENAT-
obrigatória; flexibiliza regras para titulação TI et al, 2003).
de áreas desmatadas ilegalmente; permite a
reincidência de invasão de terra pública e O termo grilo ou grilagem tem sua origem
amplia a possibilidade de extinção de proje- na tentativa de transformar títulos falsifi-
tos de assentamento para aplicação das re- cados, dando lhes aparência de legais, com
gras de privatização de terras públicas, com o emprego do inseto ortóptero (o grilo). Se
risco de afetar assentamentos criados para no passado o instrumento que se utilizava
populações agroextrativistas (BRITO, 2021). para dar uma aparência de legalidade era
um documento falsificado, hoje o Cadastro
Em paralelo a essas iniciativas, os estados Ambiental Rural (CAR) é o mais utilizado.
vêm alinhando suas legislações fundiárias à Podemos afirmar que a definição do que seja
orientação da Lei nº 13.465/2017, adotan- grilagem vai depender do momento históri-
do cada vez mais um caráter privatista, sob co. O que foi praticado ilegalmente antes
o argumento da desburocratização dos pro- pode ser aperfeiçoado com a introdução de
cedimentos de regularização fundiária. As- novos elementos para assegurar o sucesso
sim, criam mecanismos que “ressuscitam” da ilegalidade.
títulos já definidos pelas legislações anterio-
res como ineficazes para o reconhecimento Se num passado, não tão remoto, a falsifica-
dos direitos de propriedade, autorizando o ção de documentos era utilizada para apro-
uso de documentos antigos por parte do In- priação de terra pública (devoluta ou não),
cra e dos órgãos fundiários estaduais. Des- hoje a definição de grilagem modificou. Es-
sa forma, aquecem um “mercado de títulos tudos indicam que o CAR está sendo empre-
podres” que poderá provocar conflitos com gado para legitimar a ocupação ilegal de ter-
pequenos posseiros e/ou comunidades tra- ras indígenas, na esperança de que o atual
dicionais. As políticas descritas acima ga- governo diminua essas áreas para reconhe-
nham uma dimensão especial quando se cer a ocupação irregular.18 Nesse sentido, o
analisam as novas formas de apropriação governo federal já tem dado sinais, seja pelo
indevida de terras públicas. não reconhecimento de terras indígenas (TI)
18
Seguhttps://deolhonosruralistas.com.br/2020/10/27/terras-em-297-areas-indigenas-estao-cadastradas-em-nome-de-
-milhares-de-fazendeiros/ndo o observatório “De olho nos ruralistas”, são 297 terras indígenas demarcadas que possuem
parte de seus territórios registrados no CAR em nome de pessoas físicas ou jurídicas (, acessado em 11/04/2021). O MPF
identificou quase 10 mil CAR em áreas destinadas a povos indígenas (www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-identifica-qua-
se-10-mil-propriedades-rurais-em-areas-destinadas-a-povos-indigenas, acesso em: 11 abr. 2021).Desse modo, atualmente
não são somente as glebas de terra públicas não destinadas que estão sendo apropriadas ilegalmente, também as já desti-
nadas como as terras indígenas. Tudo indica que se for realizado levantamento semelhante para os territórios quilombolas,
reservas extrativistas e projetos de assentamento agroextrativistas e desenvolvimento sustentável a prática pode estar sendo
repetida.
117
e quilombolas e a não criação de assenta- uso, em fase de identificação, demarcada,
mentos ambientalmente diferenciados das homologada e registrada no Cartório de Re-
populações tradicionais, reservas extrativis- gistro de Imóveis.19
tas (Resex) e reservas de desenvolvimento
sustentável (RDS). Outra tentativa de enfraquecer o reconhe-
cimento das terras indígenas e, conse-
Outro fato que comprova o avanço inconsti- quentemente, fragilizar as glebas de terras
tucional e ilegal da grilagem sobre os territó- reivindicadas pelos povos indígenas, foi a
rios tradicionais é a aprovação pela Funda- aprovação pela FUNAI da Resolução no 4,
ção Nacional do Índio (FUNAI) da Instrução de 22 de janeiro de 2021, que definiu “novos
Normativa (IN) no 9/2020, que altera o re- critérios específicos de heteroidentificação
gime administrativo da Declaração de Reco- que serão observados pela FUNAI, visando a
nhecimento de Limites (DRL) em relação a aprimorar a proteção dos povos e indivídu-
imóveis privados. O DRL tinha o objetivo de os indígenas, para execução de políticas pú-
certificar se o imóvel rural limítrofe a terra blicas” (art. 1º), que restringe, na prática, a
indígena respeitava a linha de divisa exis- autodeclaração indígena. De forma célere, o
tente, não importando se o território indí- Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu
gena estava com restrição de uso, em fase os efeitos da Resolução, por decisão caute-
de identificação, demarcada, homologada e lar do ministro Luís Roberto Barroso (ADPF
registrada no Cartório de Registro de Imó- 709 MC / DF), em 13/03/2021.
veis e na Secretaria do Patrimônio da União.
Todas essas medidas normativas e políticas
A nova IN limitou a declaração somente federais estão alcançando seus objetivos. A
para imóvel rural lindeiro à terra indígena Nota Técnica do Instituto de Pesquisa Am-
homologada. Nos 237 processos de demar- biental da Amazônia (Ipam), divulgada em
cação de terra indígena pendentes de homo- março deste ano, demonstra que, antes de
logação, o confinante não precisaria da de- 2018, as terras indígenas eram os espaços
claração visto que a divisa “não existe para protegidos com a menor taxa de desmata-
o mundo administrativo”. A situação ficava mento e fogo na Amazônia. Já em 2020 o
mais grave porque a mesma norma adminis- quadro mudou, “apenas 3% das TIs concen-
trativa previa a retirada do Sistema de Ges- tram 70% do desmatamento e 50% do fogo,
tão Fundiária (Sigef-GEO) de todas as terras com ligação a atividades ilegais de agentes
indígenas não homologadas e em estudos. externos” (FELLOWS, 2021). Isso significa
Felizmente o MPF tem conseguido suspen- que os grileiros têm plena confiança que
der os efeitos da IN Funai no 9/2020, obri- serão recompensados ao invadir as terras
gando o órgão indigenista a manter ou in- indígenas, mesmo que as mesmas estejam
cluir no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) demarcadas.20
e no Sistema de Cadastro Ambiental Rural
(Sicar) as terras indígenas com restrição de A grilagem dos territórios tradicionais21 não
19
Segundo o site do MPF, até 18 de março de 2021, foram ajuizadas “26 ações judiciais em 13 Estados brasileiros – Pará,
Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul – perante a Justiça Federal buscando o retorno dos registros das terras indígenas para os cadastros
fundiários públicos”. Disponível em: http://mpf.mp.br/ba/sala-de-imprensa/noticias-ba/a-pedido-do-mpf-justica-federal-
-suspende-efeitos-de-instrucao-normativa-09-da-funai-na-bahia), acesso em: 11 abr. 2021.
20
Outro trabalho que faz a relação direta entre grilagem como causa de desmatamento é a discussão realizada por Hugo
Loss, Analista Ambiental do IBAMA, disponível em amazonialatitude.com/2021/03/23/como-a-grilagem-causa-o-desmata-
mento-na-amazonia, acesso em: 11 abr. 2021.
21
Trabalharemos com a definição de território tradicional o existente no inciso I, art. 3o do Decreto Federal nº 6.040/2007,
que são os “Espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam
eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas,
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
se limita às terras indígenas, mas também larização fundiária num campo em con-
atinge os quilombos reconhecidos ou em flito?
fase de reconhecimento, as reservas extra-
tivistas e de desenvolvimento sustentável Os números apresentados pela CPT contra-
e os assentamentos ambientalmente dife- dizem o efetivo alcance da política da “paz
renciados criados ou em fase de criação. As no campo” anunciada pelo Governo Fede-
duas propostas de regularização fundiária ral quando editou a Medida Provisória nº
em discussão no Congresso Nacional pos- 458/2009. Observou-se acima que, entre
suem comandos normativos que facilitam a 1985 e 2020, foram documentadas 21.801
grilagem dos territórios tradicionais. ocorrências de conflitos por terra. O qua-
dro abaixo mostra que, entre 2009 e 2020,
Outra alteração realizada em 2017, na Lei aconteceram 11.282 ocorrências, isto é,
8629/1993, proíbe que os assentamentos nesses 11 anos, foram registrados 51,75%
ambientalmente diferenciados possam ser dos eventos, desses 58,16% nos estados
titulados coletivamente. O art. 18, § 14 da que integram a Amazônia Legal, enquanto
lei proíbe “(...) a titulação, provisória ou de- nos 25 anos anteriores 48,25%. O quadro
finitiva, a pessoa jurídica.” Em outras pa- abaixo mostra a distribuição espacial dos
lavras, os PAE e PDS não podem ser titula- conflitos e o número de famílias envolvidas
dos em nome da associação ou cooperativa, nas diferentes regiões brasileiras entre 2009
que é uma clara violação constitucional e da e 2020:
Convenção 169 da OIT. O objetivo em titu-
lar individualmente as famílias dos assen- Quadro 1: Ocorrências de conflitos pela ter-
tamentos coletivos é pressionar para que os ra de 2009 a 2020
lotes sejam vendidos e estejam disponíveis
no mercado de terra.
respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da CF e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regu-
lamentações.”
22
Informações disponíveis no site do Incra site: http://www.incra.gov.br/titulacao, acesso em: 20 jun. 2020.
23
Ver População na Amazônia Legal ultrapassa 29 milhões de pessoas, estima IBGE. Disponível em: https://revistacena-
rium.com.br/populacao-na-amazonia-legal-ultrapassa-29-milhoes-de-pessoas-estima-ibge/, acesso em 13 abr. 2021/
119
Brasil (211.755.69224), a população da re- O número de famílias envolvidas em 2019
gião representa só 13,89% da nacional. Es- (143.238) foi 28,09% superior ao de 2018
ses dados mostram a gravidade dos confli- (111.827). Em 2020, o número de famílias
tos na Amazônia. envolvidas em conflitos fundiários no Brasil
(171.625) foi 19,8% maior que o ano ante-
Gráfico 2: Violência por Terra - 2009-2020: rior. Nunca, antes, os números tinham sido
Áreas em conflito (ha) tão altos. Tudo isso num momento em que o
Brasil e o mundo vivem uma crise sanitária
aguda.
24
Ver: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/panorama acesso em: 13 abr. 2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Quando comparados os despejos judiciais, 17.561 são na Região Norte, 68,7% do total
as ameaças de expulsão e de despejo judi- nacional, com o Pará que detém 11.958 fa-
cial, verifica-se que, em muitos casos, os mílias, isto é, 46,8%, número maior que to-
três eventos acontecem nos mesmos confli- das as demais regiões brasileiras. A Amazô-
tos. Nessa série histórica, a Região Nordeste, nia Legal merece uma atenção especial, pois
seguida da Região Norte, apresenta o maior concentra 23.312 famílias, 90,9% do total
número de ocorrências nas ameaças de ex- a partir de 2019, quando a CPT passou a
pulsão, situação que se inverte nas ameaças registrar esse tipo de violência.
de despejo judicial em que figuram 32,3%
das famílias. Ao comparar as informações Gráfico 7: Violência por Terra – 2009-2020.
do Brasil com as relativas à Amazônia Le- Ocorrências/Famílias/Violências contra a
gal, essa região detém 46,1% das ameaças ocupação e posse (grilagem)
de despejo. Esse tipo de violência está entre
as poucas que apresentam uma diminuição
entre 2019 e 2020. Possivelmente, as de-
cisões do STF determinando a suspensão
das reintegrações de posse surtiram efeito.
A análise da atuação do Poder Judiciário
na defesa da “propriedade privada”, ainda
quando a mesma não cumpre sua função
social, iniciada em 2019, pelo Marés25, me-
rece um acompanhamento constante.
25
Marés no “Caderno” publicado em 2020 escrevia: “O Poder Judiciário é a permanente aposta do latifúndio proprietário
para manter a estrutura fundiária e ser cada vez mais a garantia da terra mercadoria”.
26
ASSOCIAÇÃO DE ADVOGADOS DE TRABALHADORES RURAIS NO ESTADO DA BAHIA (AATR). No Rastro da Grilagem.
Formas Jurídicas da Grilagem Contemporânea. Salvador: AATR. 2017. Disponível em https://e9461469-6107-4456-8943-
1a39e47f2832.filesusr.com/ugd/4cebf9_a5463053f66144cb8891e285e1fc384a.pdf acesso em: 13 abr. 2021.
121
mero de famílias. 861 (7,6%). Quando, porém, analisamos
os números dos últimos dois anos, pode-
Gráfico 8: Violência por Terra 2009-2020. mos verificar que as duas categorias com o
Impedimento de acesso a áreas de uso co- maior número de ocorrências são os indí-
letivo genas e os quilombolas, que aumentaram,
respectivamente, 2,67 vezes e 1,93 vezes. As
populações tradicionais locais merecem um
debate à parte. Os camponeses de fundo e
fecho de pasto, por exemplo, que represen-
tam 30% dos conflitos na Bahia, e os serin-
gueiros 45,5% do total do Acre. Finalmente,
quando considerados os diferentes segmen-
tos das populações tradicionais, somam-se
4.652 ocorrências, representando 41,23%.
Os fatos analisados ao longo deste artigo MALERBA, Julianna e TRECCANI, Girolamo Do-
nos fazem refletir: parece que os grilos estão menico. Mais proprietários e menos assentados.
se transformando numa “nuvem de gafa- Disponível em https://fase.org.br/wp-content/
nhotos” que destroem a sociobiodiversida- uploads/2019/12/terra_territorio_n1-3.pdf,
de, ou seja, a vida. acesso em: 03 fev. 2021.
* RS
1PR 36
33
2797
3344
12734
37615
35
33
172
85
42
7
50
20
323 845
*1O número de ocorrências e famílias envolvidas refere-se à soma de Ocupações/Retomadas, Acampamentos e Ocorrências
de Conflitos por Terra.
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
Diana Aguiar1
Ginno Pérez2
Valéria Pereira Santos3
Nos últimos dois anos, o elemento fogo emer- guardiões. O antiambientalismo reacionário
giu na cena pública como artifício central de do atual governo se explicita na fala do mi-
uma guerra contra os bens comuns e seus nistro do Meio Ambiente pró-agronegócio,
1
Pesquisadora de Pós-Doutorado em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ) e asses-
sora da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado.
2
Geógrafo cholo, pesquisador militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração - MAM e doutorando do Progra-
ma em Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF.
3
Mestre em Demandas Populares e Dinâmicas Regionais (PPGDIRE/UFT) e articuladora das CPT’s do Cerrado.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
4
Portal de Notícias G1, maio de 2020. “Ministro do Meio Ambiente defende passar ‘a boiada’ e ‘mudar’ regras enquanto aten-
ção da mídia está voltada para a COVID-19”.
5
Articulação Agro é Fogo, novembro de 2020. “Agro é fogo: queimadas são crimes do agronegócio”.
6
Portal de Notícias Valor, março de 2019. “Nós temos é que desconstruir muita coisa”, diz Bolsonaro durante jantar.
7
Folha de São Paulo, outubro de 2019. “Fazendeiros e empresários organizaram Dia do Fogo, apontam investigações”.
8
MPF Mato Grosso do Sul. Relatório aponta que quase 60% dos focos de incêndios no Pantanal em 2020 têm probabilidade
de ligação com atividades agropastoris. Repórter Brasil, setembro de 2020. “Fogo no Pantanal mato-grossense começou em
fazendas de pecuaristas que fornecem para gigantes do agronegócio”.
9
Diana Aguiar e Maurício Torres. “A boiada está passando: desmatar para grilar”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
10
Joice Bonfim e Larissa Packer. “Presidência e Parlamento a serviço dos grileiros: legislar para grilar”. Dossiê Agro é Fogo,
2021.
11
Angela May Steward, Antonio Veríssimo da Conceição et al. “Saberes que vêm de longe: usos tradicionais do fogo no Cer-
rado e Amazônia”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
12
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais – WRM, julho de 2018. “Desafiando o fogo capitalista”.
127
e pastorais sociais13 que atuam há décadas pois, a partir da própria expansão da fron-
na defesa da Amazônia, Cerrado e Pantanal teira agrícola do Cerrado rumo à maior área
e de seus povos. Mobilizadas pela necessi- continental alagada do planeta, o Pantanal,
dade de qualificar o debate público e trazer que tem a savana (cerrado) como formação
para o centro a realidade vivida no chão da ecossistêmica dominante16. Além disso, fare-
floresta e dos sertões, a Articulação lançou mos o percurso pelo chamado “Arco do Des-
em abril de 2021 o Dossiê “Agro é Fogo: Gri- matamento”, como se convencionou chamar
lagem, Desmatamento e Incêndios na Ama- a faixa da borda leste e sul da Amazônia, re-
zônia, Cerrado e Pantanal”14. A publicação gião na qual historicamente a devastação da
reúne análises e relatos de conflitos territo- floresta se concentrou e que é justamente a
riais no rastro do fogo. área de transição Cerrado-Amazônia, espa-
ço em que a fronteira agrícola se expande
da savana para a floresta17. Não por acaso,
Como parte desse esforço político-analítico, essa é também a região com o maior índice
nos debruçamos sobre a base de conflitos no de conflitos no campo brasileiro18. Por fim,
campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT) veremos como essa devastação avança cada
e encontramos evidências de que o uso do vez mais rumo às áreas nucleares da flores-
fogo como arma contra povos e comunida- ta por meio das rodovias construídas na Di-
des na Amazônia, Cerrado e Pantanal se tadura Militar.
acelerou nos últimos anos, em razão do am-
biente político-institucional em que o país Deixemos, então, que essa história e os re-
se encontra. Contaremos essa história a re- latos concretos do uso do fogo como arma
alizar um percurso que segue os caminhos contra povos e comunidades nos permi-
da expansão da fronteira agrícola a partir do tam perceber como o destino da defesa da
Cerrado, na qual a ocupação predatória pelo Amazônia, Cerrado e Pantanal e seus povos
agronegócio já devastou mais da metade da estão entrelaçados em uma teia sociome-
cobertura nativa. Do coração das fronteiras tabólica de vida, r-existência e oposição ao
mais antigas do Cerrado de Goiás, iremos desmatamento, grilagem e fogo capitalistas.
às fronteiras relativamente mais recentes
do chamado Matopiba, região formada pelo Cerrado ameaçado: uma devastação que
Cerrado dos estados de Maranhão, Tocan- acompanha a expansão da fronteira agrí-
tins, Piauí e Bahia, onde a savana foi mais cola
desmatada nos últimos 20 anos do que nos
cinco séculos anteriores15. Ainda, a partir O Cerrado vive um processo histórico de
das fronteiras mais antigas do Mato Gros- mais de quatro décadas de intenso desma-
so e Mato Grosso do Sul, percorreremos os tamento que já devastou mais da metade
caminhos de transbordamento da devasta- da savana brasileira e pode implicar em
ção rumo ao Pantanal, primeiro a partir das sua extinção no curso de poucos anos, caso
águas que inundam a planície – cada vez nada seja feito para conter essa situação,
mais baixas em razão do desmatamento nas que teve como marco fundamental a ex-
chapadas do Cerrado onde nascem – e de- pansão da Revolução Verde ou a chamada
13
“Quem somos”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
14
Acesse: agroefogo.org.br
15
“Carta Pública: Em defesa de direitos territoriais das comunidades do Cerrado, os povos do campo merecem ser escuta-
dos!”
16
Carlos Walter Porto-Gonçalves. “Dos Cerrados e de suas riquezas: de saberes vernaculares e de conhecimento científico”.
Rio de Janeiro e Goiânia: FASE e CPT, 2019, p. 29.
17
Aguiar e Torres, 2021.
18
Análise a partir dos dados de conflitos no campo documentados pela CPT. Ver: Porto-Gonçalves, 2019, p. 29.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
28
Repórter Brasil, novembro de 2020. “Abandonadas pela Funai, 60% das terras indígenas são devastadas por mais de 100
mil focos de incêndio”.
29
BBC News Brasil, novembro de 2020. “Incêndios no Pantanal: por que o fogo ainda ameaça o ecossistema mesmo após a
chegada das chuvas”.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
deia Córrego Grande, que foi a mais im- violências a partir da invasão bandeirante
pactada. [O fogo] Veio com tudo, cercou no século XVIII e com a entrada do gado no
até mesmo as residências. Apesar de não Pantanal nos séculos XIX e XX, chegando
ter pego fogo nas casas, nosso líder pre- a ser considerados extintos nos anos 1950.
cisou ir para Rondonópolis porque inalou A pajé Dona Sandra dos Santos (Guató) la-
muita fumaça. mentou a devastação em 2020: “As pessoas
bebem água do rio cheio de agrotóxico e fi-
Além do ancião, outras 100 pessoas tiveram cam com diarreia, vomitação, dor de barri-
que evacuar a aldeia General Carneiro, ten- ga. […] Espia como está a nossa natureza,
do em vista a qualidade irrespirável do ar a nossa saúde. As árvores não têm nem pra
por conta da fumaça.30 A TI Perigara, loca- onde correr!” E concluiu: “O fogo devastou
lizada no município de Barão do Melgaço, também dentro de mim!”31
é habitada por 35 famílias, possui 10.740
hectares e foi homologada em 1991. A TI Descendo rumo ao Pantanal do Mato Grosso
Tereza Cristina fica no município de Santo do Sul, chegamos à APA Baía Negra, locali-
Antônio do Leverger, com 34 mil hectares zada no município de Ladário. Em abril de
– declarada e em revisão desde 2005 –, e 2020, esta APA registrou um incêndio que
é ocupada por 127 famílias. Atualmente, a se espalhou por vários quilômetros de es-
população Bororo está estimada em 1.392 trada e chegou próximo à casa das famílias
pessoas distribuídas nas TIs Meruri, San- vizinhas à APA. Muita vegetação nativa e
gradouro, Bacia do Rio Araguaia, Jarudori, pequenas plantações foram destruídas pelo
Tadarimana, Tereza Cristina, Perigara e Ba- fogo, porém não se tem informação confir-
cia do Rio Lourenço. Dessas oito áreas, os mada da origem do incêndio.
Bororos detêm apenas seis terras demarca-
das no Mato Grosso, num território descon- Na vizinha Corumbá, três famílias ribeiri-
tínuo e descaracterizado, que corresponde a nhas das Comunidades Paraguai Mirim e
uma área 300 vezes menor do que o territó- Barra do São Lourenço tiveram que ser res-
rio tradicional. gatadas pelo Corpo de Bombeiros e cerca
de 25 famílias ficaram dias convivendo com
Ainda na região do Pantanal mato-grossen- as águas barrentas e cheias de cinzas, em
se, outro território indígena foi devastado decorrência da maior seca dos últimos 60
pelos incêndios em 2020. Dos 19 mil hecta- anos e das cinzas deslocadas por um fenô-
res da TI Baía dos Guató, 16.704 foram quei- meno climático que levou os resquícios das
mados ao longo do ano, praticamente 88%. queimadas do Pantanal diretamente para
Localizada nos municípios de Barão do Mel- as comunidades32. Os incêndios de setem-
gaço e Poconé, a TI foi homologada em abril bro de 2020 atingiram a região do Amolar,
de 2018, mas a homologação foi suspensa passando pelas margens do Rio Paraguai,
em dezembro do mesmo ano, atendendo a entre a serra e a comunidade da Barra do
uma ação movida por produtores da região, São Lourenço, chegando a atingir também
que alegam direito sobre as terras. Os Gua- o Parque Nacional do Pantanal e o corre-
tó são um dos povos mais antigos do Pan- dor que liga a Serra do Amolar ao Parque
tanal, tendo ocupado praticamente toda a Encontro das Águas, considerado o maior
região Sudoeste do Estado do Mato Grosso, refúgio de onças-pintadas do mundo. Dias
inclusive áreas hoje pertencentes ao Mato depois, a Polícia Federal concluiu inquérito
Grosso do Sul e à Bolívia. Sofreram diversas que indiciou pelo menos quatro fazendeiros
30
Portal de Notícias ElPais, setembro de 2020. “Incêndios já tomam quase metade das terras indígenas no Pantanal”.
31
Aloir Pacini. “Território Guató em chamas: ‘As árvores não têm pra onde correr!’” Dossiê Agro é Fogo, 2021.
32
Ecoa, outubro de 2020. “Água para a Comunidade da Barra do São Lourenço, Pantanal”.
133
pelo início das queimadas na região da Serra os invasores têm usado diversas táticas de
do Amolar, provocados a fim de criar novas ocupação, como, por exemplo, a expansão
áreas de pastagens33. As duas comunida- da pecuária com derrubada de mato e, so-
des estão localizadas na região de transição bretudo, as queimadas. Gilberto Kadiwéu
Cerrado-Pantanal sul-mato-grossense. Em relata que a comunidade está estarrecida
2012, receberam um Termo de Autorização com o quanto já queimou: “São extensões
de Uso Sustentável (Taus) – documento que de mato inteiras, plantas, raízes e árvores,
confere a permanência das comunidades nossa medicina, muita fonte de cultura de
tradicionais em áreas da União ocupadas nosso povo vai junto com esta natureza,
há centenas de anos. A comunidade Barra sem pensar nos bichos que acho que muitos
de São Lourenço tem área de 12.241 m², nem existem mais.”35
está à beira do rio Paraguai e foi declarada
de interesse público por parte da Secreta- Ainda mais ao sul, na transição Cerrado-
ria do Patrimônio da União (SPU) em 2016. -Mata Atlântica e próximo à divisa com o
Em 2018, a comunidade foi deslocada mais Paraná, encontramos a terra do povo Gua-
de uma vez e atualmente luta para que sua rani Kaiowá e Guarani Ñandeva, a TI Ja-
área seja demarcada como Reserva de De- guapiré, no município sul-mato-grossense
senvolvimento Sustentável (RDS). de Tacuru. No mês de março de 2020, a
casa de reza da Aldeia Jaguapiré e elemen-
Rumo a Porto Murtinho (MS), ainda na tran- tos centenários da cultura Guarani Kaiowá
sição entre Pantanal e Cerrado, chegamos foram destruídas por um incêndio36. De
à TI Kadiwéu. Em 2019, a TI já havia sido acordo, com relatos obtidos pelo Conselho
uma das mais afetadas do país e, em 2020, Indigenista Missionário (Cimi), seriam duas
viveu uma situação ainda mais crítica: fo- pessoas que estariam envolvidas na quei-
ram 5.311 focos de incêndio34 que queima- ma desta casa. Os indígenas denunciaram
ram mais de 211 mil hectares, o equivalente e solicitaram às autoridades que o caso seja
a 39,15% do território. Na TI, vivem dois mil investigado. Suspeita-se que o fogo esteja
indígenas Kadiwéu, mas também indígenas vinculado a fazendeiros produtores de soja
dos povos Kinikinau, Terena e Chamacoco. na região como estratégia de ameaça e ex-
O território de 539.000 hectares foi demar- pulsão do povo indígena de suas terras. De
cado em 1981, mas uma parte importante acordo com o portal que noticiou o inciden-
ficou de fora em razão dos intensos confli- te, essa casa de reza seria a segunda des-
tos, com a invasão de posseiros e grileiros, truída em 2020 no estado.
na casa dos milhares, desde os anos 1950,
aumentando nos anos 1980, inclusive com O fogo como arma no “Arco do Desma-
incentivo do próprio Serviço de Proteção tamento” da transição Cerrado-Amazônia
ao Índio (SPI). Em meados dos anos 2000,
mais de 100.000 mil hectares da TI estavam De Tacuru retornamos ao Mato Grosso pela
invadidos e, mesmo depois das retomadas e BR-163, um dos eixos centrais da devas-
das lutas de recuperação por parte dos indí- tação que sobe do Cerrado rumo à flores-
genas, pelo menos cerca de 80.000 hectares ta amazônica. O “Arco do Desmatamento”
permanecem nesta situação. Ou seja, a luta é como se convencionou chamar a região
contra madeireiros, arrendatários e fazen- composta por cerca de 250 municípios,
deiros segue viva e, segundo os Kadiwéu, onde historicamente se concentrou a devas-
33
Portal UOL, 29 de setembro de 2020. “PF já tem provas para indiciar fazendeiros do MS por queimadas no Pantanal”.
34
Repórter Brasil, novembro de 2020.
35
Matias Benno Rempel. “Território Kadiwéu e as queimadas”. Dossiê Agro é Fogo, 2021.
36
Portal Campo Grande News, março de 2020. “Indígenas denunciam segundo incêndio em casa de reza em 2020”.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
tação da floresta. O arco vai do oeste do Ma- combate a incêndios para enfrentar os ata-
ranhão e Tocantins, sul e sudoeste do Pará, ques do consórcio de madeireiros e carvoa-
passando pelo norte do Mato Grosso, norte rias e a pressão do monocultivo de eucalipto
de Rondônia e leste do Acre, uma faixa loca- que se aproxima do território.
lizada justamente ao longo da área de tran-
sição Cerrado-Amazônia, onde a fronteira Em direção à região do Bico do Papagaio no
agrícola pressiona por expansão a partir da Tocantins na tríplice divisa com Maranhão
savana brasileira. E como desmatamento e e Pará, encontramos o Acampamento Padre
grilagem caminham juntos, a transição Cer- Josimo. Nessa que é uma região histórica
rado-Amazônia é também a região de maior de conflitos e luta pela terra na transição
intensidade de conflitos no campo no país37. Cerrado-Amazônia, por dois anos seguidos,
no período de estiagem dos anos de 2016
Sigamos, então, essa faixa do Maranhão e 2017, 50 casas de 80 famílias sem terra
ao Acre para conhecer como o fogo é usa- acampadas foram incendiadas como for-
do como arma em conflitos por terra nes- ma de pressão para expulsá-las da área. A
sa que é a região de mais intenso desma- ocupação está localizada no Assentamento
tamento e conflito dos últimos 40 anos no Cupim, criado na década de 1990, no mu-
país. Dentro da região da Amazônia Legal nicípio de Carrasco Bonito (TO). A área ocu-
no Maranhão, encontramos a TI Governa- pada pelas famílias sem terra é objeto de
dor e a TI Araribóia, nas quais as principais disputa por fazendeiros e políticos da região
ameaças à vida do povo Gavião e Guajaja- que tentam se apropriar da terra e expul-
ra advêm de ataques e roubo de madeiras sar os camponeses. O incêndio criminoso
por parte de madeireiros e fazendeiros, que provocou graves prejuízos às famílias, como
usam estratégias de intimidação, incêndios a destruição de todos os utensílios domés-
criminosos e assassinatos para barrar o ticos, móveis, roupas e produção de arroz,
processo de demarcação das terras e expul- abóbora, farinha, feijão, fava etc.39
sá-los da região. Os territórios Gavião, com
41.912,64 hectares, e Guajajara, com 413 Mais a sudoeste do Tocantins, encontramos
mil hectares, localizadas no município de aquela que é a segunda maior planície alaga-
Amarante e região, área de transição Cer- da do planeta, o Araguaia, que, assim como
rado-Amazônia, tiveram suas áreas demar- o Pantanal, tem o cerrado (savana) como for-
cadas e homologadas nas décadas de 1980 mação ecossistêmica dominante40. No Ara-
e 1990. Juntos, os territórios abrigam mais guaia, está a maior ilha fluvial do mundo, a
de 6 mil pessoas. A série de conflitos, in- Ilha do Bananal, que abrange os municípios
tensificados a partir da década 1980, tem de Pium, Caseara, Formoso do Araguaia,
como pivô central a rica biodiversidade e a Lagoa da Confusão, Marianópolis e abriga
abertura do processo de revisão da demar- os territórios de diversas comunidades indí-
cação para ampliação do território Gavião. genas que têm sofrido com fortes incêndios
Entre 2019 e 2020, a área sofreu desmata- nos últimos dois anos, inclusive em áreas
mento de mais de 24.698 hectares e incên- onde vivem povos isolados. A TI Parque In-
dios recorrentes entre agosto e novembro38. dígena do Araguaia, homologada em 2001,
Para manter a resistência, os indígenas se tem 1.359.000 hectares, onde vivem 3.500
organizam em diversas associações, grupo indígenas Avá-Canoeiro, Iny Karajá, Javaé,
de Guardiões da Floresta e em brigadas de Tapirapé e isolados. Em 2019, sofreu graves
37
Porto-Gonçalves, 2019.
38
Instituto Socioambiental – ISA. Terra Indígena Araribóia.
39
Comissão Pastoral da Terra, agosto de 2017. “Incêndio criminoso em acampamento sem-terra no Tocantins”.
40
Porto-Gonçalves, 2019.
135
impactos das queimadas, ficando entre os e São Félix do Araguaia. Vivendo intensos
dez territórios indígenas mais afetados na conflitos desde a década de 1960, quan-
Amazônia Legal naquele ano41. Em 2020, a do processos de grilagem e desmatamento
TI teve 8.792 focos de incêndio. “Este ano avançaram sobre a TI com a conivência de
está sem controle. Está muito difícil respirar órgãos públicos como o SPI e a Superinten-
e não sabemos mais de onde vem o fogo e dência do Desenvolvimento da Amazônia
nem como surgiu”, afirmou Eliana Karajá, (Sudam), os Xavante têm sofrido uma série
coordenadora da Associação Indígena Vale de invasões por parte de posseiros e grilei-
do Araguaia. A intensidade das chamas e ros, fomentada diretamente por políticos e
sua proximidade das casas obrigaram al- fazendeiros da região. Entre os anos 2009
guns indígenas a abandonar as aldeias42. De e 2012, foram atacados com fogo sobre o
acordo com o Cimi, a origem do fogo pode ônibus de transportes das crianças para a
ser a limpeza de pasto em fazendas próxi- escola, assim como sobre suas terras, em
mas43. Na vizinha TI Iñawébohona, com 377 um intento de degradá-las e de criar medo.
mil hectares, homologada em 2006, um in- Os não indígenas foram retirados das terras
cêndio de grandes proporções, também em Xavante em 2012 e alguns deles são inves-
2020, na região da Mata do Mamão, onde tigados por suposta organização criminosa,
vivem indígenas isolados, causou forte pre- invasão e grilagem, e por gerar os focos de
ocupação, como relata Kamutaya Avá da incêndio. Mesmo com a contenção desses
Silva, em fevereiro de 2021: processos, em 2019, a TI Marãiwatsédé ocu-
pou o quinto lugar em número de queima-
Eu pertenço ao povo Avá-Canoeiro e ve- das e está na quarta posição entre as ter-
nho em nome do meu povo falar da nos- ras indígenas mais desmatadas, segundo o
sa preocupação [...] hoje nós não sabemos INPE.
como está a situação dos nossos parentes
da mata do mamão, porque eles estão em A devastação avança rumo ao coração da
situação de vulnerabilidade, situação de floresta a partir de suas bordas
refúgio e isolamento.
Após um esforço sustentado de contenção
Na ilha, encontra-se também a TI Utaria das taxas de desmatamento na Amazônia
Wyhyna/Irodu Irana, declarada em 2010, Legal que gerou quedas expressivas a partir
com 117 mil hectares e aguardando titu- de 2005, o quadro tem mudado nos últimos
lação, onde vivem 116 indígenas Karajá e anos, atingindo recordes em 2019 (10.129
Javaé. O povo Avá-Canoeiro luta ainda pela km2) e 2020 (11.088 km2) em relação a
demarcação do seu território tradicional toda década anterior.
Taego Ãwa, que está declarado desde maio
de 201644. O “Dia do Fogo” em 2019, no eixo da BR-
163 e Transamazônica, é a expressão mais
No curso do “Arco do Desmatamento”, che- dramática dos processos que fazem de Pará
gamos ao Araguaia mato-grossense, mais e Mato Grosso os estados campeões no
especificamente à TI Marãiwatsédé, dos in- desmatamento acumulado na região, com
dígenas Xavante, localizada nos municípios 34,46% e 32,34% respectivamente. O his-
de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia tórico “Arco do Desmatamento” na borda
41
Instituto Socioambiental, agosto de 2019. “ISA mostra Terras Indígenas mais afetadas por incêndios na Amazônia brasi-
leira”.
42
Repórter Brasil, novembro de 2020.
43
Documento do Conselho Indigenista Missionário, setembro de 2020.
44
Eliane Franco Martins. “Fogo ameaça povo indígena isolado na Ilha do Bananal”. Dossiê Agro é fogo, 2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
sul e leste da Amazônia, que acompanha a quais, por ordem do grileiro, queimaram as
expansão da fronteira agrícola45, tem entra- barracas e bens dos acampados. No ano de
do rumo ao coração da floresta no eixo das 2013, a área foi retomada pela segunda vez
estradas, por meio das ações de desmatado- por 80 famílias acompanhadas pela CPT. No
res e grileiros, que se aproveitam da impu- ano seguinte, em um intento de despejo, as
nidade. Outras atividades criminosas que casas dos acampados foram queimadas por
provocam a degradação da floresta, como o policiais militares que agiram sob as ordens
saqueio madeireiro – implementado, inclu- do grileiro. Em 2015, ocorreu outro despejo
sive, com trabalho escravo46 – e o garimpo, de 100 famílias através de liminar expedi-
sobretudo em terras indígenas e unidades da pela Justiça Estadual, em favor de Bas-
de conservação, também têm se expandido san47. Meses depois, as famílias retomaram
nesse contexto. a ocupação e em seguida foram obrigadas a
desocupar a área sob as ameaças de pisto-
Desmatamento anual na Amazônia Legal leiros, que na ocasião incendiaram 80 casas,
derrubaram cercas, destruíram plantações
e assassinaram animais de pequeno por-
te48. As famílias despejadas permaneceram
acampadas na beira da estrada, de 2016 a
2020, e continuaram sofrendo ameaças e
ataques dos pistoleiros49.
50
Repórter Brasil, novembro de 2020. “Abandonadas pela Funai, 60% das terras indígenas são devastadas por mais de 100
mil focos de incêndio”.
51
Repam, fevereiro de 2016. “Cimi denuncia invasão de terras indígenas em Nova Mamoré”.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
1*Os dados da primeira coluna, denominada conflitos por terra, referem-se à soma das ocorrências em que as famílias fo-
ram despejadas, expulsas, ameaçadas de despejo ou expulsão, tiveram seus bens destruídos ou foram vítimas de invasões,
ações de pistolagem etc.
139
Regularização fundiária e
ambiental de mercado para um
cerceamento financeiro das terras e bens
comuns no sul global
1. Desmatamento e grilagem como méto- res e a retirada da madeira mais valiosa por
do histórico para o roubo de terras públi- madeireiras e, no período da seca, se ateia
cas e dos bens comuns: os dados de 2020 fogo à cobertura vegetal excedente a fim de
ocultar o crime ambiental e “limpar a terra”,
Em 2020, foram registradas 25.559 famí- tanto de vegetação quanto de gente, utili-
lias que tiveram suas terras atingidas pelo zando-se não só das queimadas, mas tam-
desmatamento ilegal e 19.489 famílias víti- bém de forças de segurança privadas ou pú-
mas de grilagem de terras. A CPT considera blicas, como arma para expulsão dos povos
como grilagem qualquer ação que implique indígenas e comunidades locais, iniciando-
a tomada ou venda da posse de terras per- -se o ciclo da grilagem3. Com a chamada
tencentes ao poder público, a terceiros par- “terra limpa”, agrega-se valor de mercado à
ticulares ou de terras devolutas por meio da área, além de se comprovar os requisitos de
falsificação de documentos de propriedade, exploração direta e cultura efetiva para se
assim como por meio de ações diretas como requerer a regularização fundiária da terra
desmatamento e incêndios, invasão, pisto- pública como propriedade privada, confor-
lagem, ameaças e expulsões, trabalhos for- me os termos da nova Lei da Grilagem (Lei
çados e análogos ao de escravo, dentre ou- 13.465/17, antiga MP 759/16, editada por
tros. Também foi registrado como grilagem o Michel Temer meses após o golpe institu-
uso fraudulento do Cadastro Ambiental Ru- cional). Assim, desmatadores/grileiros ven-
ral (CAR) e de outros dispositivos revestidos dem, ilegal ou legalmente (se regularizadas),
com caráter de legalidade e que formalizam as terras públicas invadidas, em geral, para
a ilicitude, já que expedientes largamente fazendeiros e empresas ligadas à agropecu-
utilizados nos últimos anos no país2. ária, como também para fundos de pensão
e investimento e outros atores financeiros
O início do registro de ambos os dados é re- especializados em ocultar dinheiro advindo
levante como leitura de realidade tendo em de atividades ilegais, em um esquema de la-
vista a íntima conexão entre o desmatamen- vagem de dinheiro. Com a terra “limpa” – de
to, o uso do fogo e a grilagem de terras, o vegetação e de gente –, primeiro há a intro-
que chamamos de ciclo da grilagem para a dução do gado, para o chamado “amansa-
expansão da fronteira agrícola. Em regra, a mento da terra”, para, anos mais tarde, se
ocupação ilegal de terras e florestas públi- iniciar a instalação de extensos monoculti-
cas tem início com o corte raso das árvo- vos, principalmente de soja. Todo esse ciclo
1
É advogada popular socioambiental, mestre em Filosofia do Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), membro
da equipe da Grain.
2
A CPT entende a grilagem como um processo histórico, cujos meios e estratégias se renovam com o tempo.
3
Para mais detalhes sobre a íntima conexão do uso do fogo com o ciclo do desmatamento e grilagem de terras públicas, ver:
https://agroefogo.org.br/
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
de violência e ilegalidade pode ser apagado área de vegetação nativa suprimida (1.836
com processos renovados de regularização – km²), seguido por Tocantins (1.565 km²) e
ambiental e fundiária – e a produção advin- Bahia (919,1 km²)6.
da dessas áreas passa a compor, inclusive,
cadeias globais sustentáveis. Pará e Maranhão também foram os estados
com o maior número de famílias impacta-
O desmatamento em florestas públicas não das pela grilagem de terras, representando
destinadas da Amazônia cresceu 50% nos 26,8% e 23,3%, respectivamente, do total.
últimos dois anos em comparação aos cinco Mais da metade dos casos de grilagem do-
anos anteriores: de 112,8 mil hectares (ha) cumentados estão na Região Norte, com
desmatados, na média de 2014 a 2018, a 11.399 famílias, representando 58,5% dos
área derrubada cresceu para 215,6 mil ha, casos, seguida do Nordeste com quase 33%
em 2019, e 226,5 mil ha, em 2020. A maio- dos casos. As duas regiões detêm historica-
ria desse desmatamento, 60%, aconteceu mente as maiores porcentagens de violência
em áreas inscritas ilegalmente como pro- no campo, justamente nas mais recentes
priedade particular no Sistema Nacional de zonas de expansão e investimento do agro-
Cadastro Ambiental Rural (Sicar), aponta o negócio.
Ipam.4
Desmatamento e grilagem de terras como
Espelhando os dados oficiais sobre o des- método de captura de estoques de terras
matamento acumulado entre agosto de não são fenômenos novos, tampouco a lega-
2019 e julho de 2020 reunidos pelo Prodes/ lização destas práticas. De tempos em tem-
Inpe, que apontou o Pará como o estado pos, invade-se mais, desmata-se mais e al-
mais atingido, com 5.192 km² desmatados tera-se a lei para legalização dos crimes. Eis
(46% do total da Amazônia Legal5), os dados o ciclo econômico e legal da regularização
de 2020 da CPT também indicam que 46,8% do grande roubo de terras e recursos na-
do total das famílias impactadas por con- turais em todo o mundo. Da colônia até os
flitos envolvendo o desmatamento ilegal no dias de hoje, grileiros de plantão, indústria
país, ocorreram no Pará. A Região Norte, por madeireira, corporações do agronegócio e os
sua vez, concentrou 17.561 famílias vitima- donos do dinheiro7, vêm modificando a data
das, ou 68,7% do total. O Maranhão, zona limite e o tamanho das ocupações ilegais,
de transição entre Amazônia e Cerrado, foi para salvar seus títulos antigos podres e le-
o segundo estado com o maior número de galizar o roubo de terras públicas e o des-
ocorrências envolvendo o desmatamento matamento ilegal.
ilegal com 17,7% do total, e o Mato Grosso
o quarto, com 6,8% das famílias vitimadas, Mas esse é um ciclo de morte da humani-
atrás apenas do estado de Rondônia com dade e do planeta, e nos trouxe ao desastre
13,1%. Dados que também confirmam os de 2020. O modo de uso e ocupação do solo
registros do Prodes, de aumento em 13% do entre campo e cidade, a concentração de
desmatamento no bioma Cerrado, em rela- terra e recursos naturais com a destruição
ção a 2019, o que corresponde a quase cin- massiva de ecossistemas e a crescente ho-
co vezes a cidade de São Paulo com 7.340 mogeneização das paisagens têm sido apon-
km², sendo o Maranhão o estado com maior tadas como algumas das principais causas
4
https://ipam.org.br/desmatamento-em-areas-griladas-nas-florestas-publicas-da-amazonia-explode-em-dois-anos/
5
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates
6
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/cerrado/increments
7
Para ver alguns dos principais setores por detrás dos focos de incêndio e desmatamento na Amazônia, veja relatório de
Grain e Grupo Carta de Belém, Clima, terra e soberania: as narrativas climáticas sobre os territórios do sul global, 2019:
https://grain.org/e/6370
141
estruturais para a eclosão de epidemias e tina (Banco Mundial, 20108). A essa corri-
sua acelerada dispersão em pandemias. O da por apropriação internacional de terras
novo desenho da malha fundiária brasileira deu-se o nome de “landgrabbing”9. Relatório
permitida pela Lei 13.465/17 e demais al- da Organização das Nações Unidas para a
terações da legislação que aqui serão men- Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2012
cionadas, prometem uma concentração da estimou que até 2050 haverá um avanço de
terra rural sem precedentes, culminando cerca de 70 milhões de ha da fronteira agrí-
com mais “terra limpa” e uma crescente ex- cola no mundo, mas com uma redução de
pulsão de milhares de pequenos agriculto- 63 milhões de ha nos países desenvolvidos
res, povos e comunidades tradicionais para e, portanto, com um aumento da destinação
as periferias urbanas. Trata-se da produção de cerca de 132 milhões de h para os agro-
industrial do espaço rural e urbano que se negócios nos países em desenvolvimento do
coloca como um caldeirão para futuras pan- Sul global. Todas as terras consideradas
demias e crises sanitárias. como as “últimas terras agricultáveis” para
o avanço da fronteira agrícola no mundo es-
Ao tentar identificar as causas e os atores tão em países do Sul global, especialmente
por detrás da renovada pressão internacio- na África subsaariana e América Latina10.
nal de acumulação do capital em torno das
terras e recursos naturais do Sul global, Embora a taxa de negócios internacionais
assim como as alterações estruturais nos com terras tenha se estabilizado desde
marcos legais de tutela dos bens comuns 2012, houve tendência de crescimento, com
que tentam empreender uma transferência de cerca de 50 milhões de ha, em 2019, e
de bens essenciais à vida das presentes e de 66,5 milhões em março de 2021, segun-
futuras gerações para o regime da proprie- do dados públicos dos relatórios financeiros
dade privada, tentamos também apontar dos investidores (Land Matrix11). Há ao me-
lugares estratégicos e táticos para seu en- nos seis fatores relevantes que anunciam
frentamento. uma nova corrida por terras e recursos na-
turais a nível global neste pós 2020, o que
2. Uma nova captura da terra e recursos pode implicar um aumento das formas de
naturais no Sul global se anuncia grilagem de terras, dos índices de desma-
tamento e violência no campo, assim como
Sob a égide do boom das commodities agrí- comprometer a segurança alimentar dos po-
colas e minerais, principalmente pós 2008, vos no Brasil e na América Latina. São eles:
os negócios com terras no mundo saltaram
de cerca de 4 milhões para 45 milhões de I. Economia financeira, digital e investi-
ha/ano, de 2008 para 2009, sendo 3,6 mi- mentos sobre o não trabalho: a pandemia
lhões de ha dessas terras no Brasil e Argen- de COVID-19, eclodida em 2020, dificultou
8
Banco Mundial. Rising global interest in farmland: Can it yield sustainable and equitable benefits? Washington D.C., 07 de
setembro de 2010.
9
Landgrabbing é geralmente definido como um processo de apropriação de grandes parcelas de terra (acima de 500 ha) pelo
capital estrangeiro e envolvidas na produção e exportação de alimentos e óleos vegetais. Com o tempo esta definição básica
evoluiu, podendo cobrir atores governamentais e nacionais (usualmente utilizados pelo capital estrangeiro), como também a
aquisição de terras para outras cadeias de valor como a da madeira e de minerais (resources grab), ou tão somente como ati-
vo fundiário do capital fictício. Passa a considerar inclusive negócios de terras menores ou maiores, a depender dos impactos
sociais e ambientais. Além disso, vem sendo ampliado os tipos grab para água (water grab) e vegetação nativa (greengrab),
já que o acesso a água e biodiversidade vem direcionando os negócios com terras.
10
Segundo avaliação da FAO/2012, existem cerca de 1,4 bilhão de hectares de terras agricultáveis para expansão da
fronteira agrícola no mundo, sendo que 80% delas estariam na África Subsaariana e América Latina, em especial: Angola,
Moçambique, Tanzânia, Zâmbia, Congo, Sudão e Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia e Venezuela. http://www.fao.org/3/a-
-ap106e.pdf
11
Disponível em: https://landmatrix.org/observatory/global/
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
16
Para mais informações, “Acordo União Europeia-Mercosul intensificará a crise climática provocada pela agricultura”. Dis-
ponível em: https://grain.org/e/6358.
17
Em 1994, o valor médio da terra com lavoura no país era de cerca de R$ 1.188/ha. Em 2010, em pleno boom das commo-
dities, o valor médio saltou para R$ 7.490, aumento de 430%. SAUER e LEITE. Expansão agrícola, preços e apropriação de
terra por estrangeiros no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Julho/setembro. 2012. Disponível: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032012000300007
18
Para mais informações, acesse: “Cercas Digitais: cercamento financeiro das terras na América Latina”. Disponível em ht-
tps://grain.org/e/653. Ver também relatório da Fian sobre casos de cadastros digitais de terras como barreiras de acesso a
terra: https://www.fian.org/en/press-release/article/digital-technologies-cut-off-access-to-land-2699
Conflitos
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23
Projeto de Regularização Ambiental de Imóveis Rurais no Bioma Cerrado – CAR FIP, no âmbito do MMA, mas coordena-
do pelo Serviço Florestal Brasileiro. O doador é o Programa de Investimento Florestal (FIP), que apresenta valor total de €
32.480.000,00 para alcançar 47 municípios. O SFB tinha um acordo com o GT CAR para PCTs para realizar um termo de
referência que contemplasse os territórios coletivos no edital. Ver Ofício Grupo Carta de Belém participa de audiência sobre
o CAR coletivo na Câmara – Grupo Carta de Belém (cartadebelem.org.br)
24
Projeto Regularização Ambiental de Imóveis Rurais na Amazônia em áreas de transição para o Cerrado – KFW CAR, finan-
ciado pelo Ministério alemão do Meio Ambiente, Proteção da Natureza, Construção e Segurança Nuclear – BMUB por meio
da Iniciativa Internacional do Clima – IKI, com recursos no valor de € 33.000.000,00.
25
Citar Nature
26
Decreto 9640/18 regulamentou a CRA, cuja emissão está a cargo do Serviço Florestal Brasileiro, hoje alocado no Ministé-
rio da Agricultura. A CRA pode servir para compensação da área de Reserva Legal desmatada, como também ser negociada
como qualquer ativo financeiro. A inserção do meio ambiente na lógica da lei de oferta e procura é indutora de desmatamen-
to, já que os ativos ambientais se valorizam na medida da escassez da qualidade ambiental que representa. Quanto menor
a quantidade de vegetação nativa, maior o valor da CRA, portanto, quanto mais desmatamento e lucros para a chamada
“economia marrom”, maior o lucro da “economia verde” financeirizada. Para mais informações: PACKER, Larissa. Código
Florestal e Pagamento por Serviços Ambientais: regime proprietário sobre bens comuns. Juruá,Curitiba. 2015.
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33
Nota Técnica sobre os impactos das novas regras de regularização fundiária na Amazônia. Disponível em: https://imazon.
org.br/publicacoes/ nota-tecnica-sobre-o-impacto-das-novas-regras-de-regularizacao-fundiaria-na-amazonia/. Acesso em
23 out.2018
34
SAUER, Sergio e LEITE, Acácia Z. Medida Provisória 759: descaminhos da reforma agrária e legalização da grilagem de
terras no Brasil. Retratos de Assentamentos. V. 20n.1.2017.p. 25
Conflitos
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36
BONFIM, Joice e PACKER, Larissa. Presidência e Parlamento a serviço dos grileiros: legislar para grilar. Dossiê Agro
é Fogo. 2021. Disponível em: https://agroefogo.org.br/presidencia-e-parlamento-a-servico-dos-grileiros-legislar-para-gri-
lar/
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
O cenário atual dos povos indígenas no Bra- tenção da reprodução física e cultural das
sil está marcado pela submissão contínua comunidades indígenas.
ao processo de violação de seus direitos
fundamentais. Quando se trata de povos e Importa salientar que a Constituição Fede-
comunidades indígenas, tais direitos estão ral de 1988 outorgou uma proteção espe-
diretamente ligados à garantia de seus terri- cial às terras indígenas. O regime jurídico
tórios e sua devida proteção. São muitos os instituído reconheceu o direito originário
interesses políticos e econômicos que reca- às terras tradicionalmente ocupadas e de-
em sobre esses espaços vitais para a manu- terminou a proteção integral por parte do
1
Advogado e pesquisador indígena. Coordenador jurídico e integrante do departamento jurídico da APIB e COIAB.
Conflitos
no 2020
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poder executivo federal (afetação federal). genas é condição estruturante para a exis-
Ao mesmo tempo, garantiu o usufruto ex- tência indígena enquanto tal.
clusivo das riquezas do solo, dos rios e lagos
por parte dos povos indígenas sobre seus A Medida Provisória 870 determinou que
territórios tradicionais (art. 231, § 2º, CF). seria competência do Mapa tratar sobre “re-
Por meio dessa opção, entendeu o Estado forma agrária, regularização fundiária de
brasileiro a essencialidade do território, ele- áreas rurais, Amazônia Legal, terras indíge-
mento fundamental para a garantia da vida nas e quilombolas”. Na estrutura do Estado
dos povos indígenas. brasileiro, esse é o mesmo ministério que
tutela os interesses da indústria do agrone-
No ano de 2020, entre os 18 assassinatos gócio, os quais conflitam diretamente com
registrados pela Comissão Pastoral da Terra os direitos socioambientais e indígenas. À
(CPT), no contexto dos conflitos no campo, sua frente, Jair Bolsonaro nomeou Tereza
sete foram de indígenas, 39% das vítimas. Cristina Corrêa da Costa Dias, ex-chefe da
Entre as 35 pessoas que sofreram tentativas bancada ruralista do Congresso Nacional.
de assassinato, ou homicídio tentado, 12 fo- Na pasta específica responsável pela regu-
ram indígenas, 34% das vítimas. No que diz larização fundiária, foi nomeado Luiz An-
respeito às ameaças de morte, entre as 159 tônio Nabhan Garcia, o ex-presidente da
pessoas ameaçadas, 25 são indígenas, 16% União Democrática Ruralista (UDR), notório
das vítimas. Esses dados revelam que as li- combatente das políticas indigenistas, em
deranças indígenas estão à mercê de uma especial ligadas à demarcação dos territó-
violência engendrada a partir de uma pos- rios indígenas. O mesmo ato do presidente
tura governamental que incentiva as inva- transferiu a Funai para a tutela do Minis-
sões e a exploração dos territórios. tério da Mulher, Família e Direitos Huma-
nos (MMFDH), chefiado por Damares Alves,
Importa lembrar que estamos sob a gestão ministra com posição abertamente assimi-
do presidente Jair Bolsonaro, primeiro pre- lacionista3. Na estrutura legal brasileira, os
sidente eleito declaradamente contrário às ministros de Estado atuam por delegação
demarcações de terras indígenas. Desde o do presidente da República e sob sua estri-
primeiro dia de seu mandato, já no ato de ta autoridade4.
posse, apresentou ao Congresso Nacional a
Medida Provisória 8702, que retirava a atri- Jair Bolsonaro promove discriminação, in-
buição de demarcação de terras indígenas cita ódio e violência contra povos indígenas.
da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Chegou a afirmar abertamente que sua in-
transferia para o Ministério da Agricultura, tenção seria integrar os povos indígenas5.
Pecuária e Abastecimento (Mapa), além de Isso significa dizer: incorporá-los à socie-
retirar o órgão indigenista de Estado da tu- dade nacional, desfazendo-os de sua iden-
tela do Ministério da Justiça. Esse último tidade indígena. Uma prática abominada,
ato também foi viabilizado pelo Decreto n. responsável pelo desaparecimento de povos
9.673/19, assim como a transferência da indígenas, contrária às normas internacio-
atribuição de regularização fundiária das nais de proteção dos direitos humanos e
terras indígenas foi viabilizada pelo Decreto também da Constituição brasileira6.
n. 9.667/19. A demarcação de terras indí-
2
https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/57510830
3
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/31/politica/1548946667_235014.html.
4
Artigo 84 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
5
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/02/bolsonaro-diz-que-vai-integrar-indios-e-quilombolas.
ghtml.
6
Em Nota Pública, o Conselho Indigenista Missionário afirma que a MP 870 “Fere, de pronto, o Art. 6º da Convenção 169
153
Aliado a isso, a Funai, órgão indigenista ofi- de indígenas isolados.
cial do Estado brasileiro, criado para pro-
mover a defesa dos interesses indígenas e Há pelo menos 246 terras indígenas ainda
zelar pela implementação da política indige- pendentes de homologação. Os invasores de
nista, vem atuando na contramão da prote- TI poderão solicitar a DRL à Funai e, muni-
ção dos territórios indígenas, fragilizando e dos desse documento, requerer junto ao In-
expondo comunidades inteiras ao risco de cra, por meio de cadastro autodeclaratório,
extermínio. a legalização dessas áreas invadidas. Tais
normas potencializam o conflito, o desma-
No dia 22 de abril de 2020, foi publicada tamento e os incêndios em terras indíge-
a Instrução Normativa nº 09/2020, da Fu- nas. Em 2020, quase 800 km2 de floresta
nai7, que disciplina o requerimento, análise foram derrubados nos três primeiros meses,
e emissão da Declaração de Reconhecimen- um aumento de 51% em relação ao mesmo
to de limites em relação a imóveis privados. período em 2019. Um terço da devastação
Essa normativa revogou a Insrução Norma- ocorreu em terras públicas, alvo preferen-
tiva nº 03, datada de 20 de abril de 2012, cial dos grileiros.
promovendo significativa mudança admi-
nistrativa e atingindo os direitos e interesses É preciso destacar que, além dos problemas
dos povos indígenas do Brasil. O parágrafo estruturais causados pela não demarcação
primeiro do art. 1º, da Instrução Normati- de terras indígenas e pela ausência de pro-
va nº 09/2020, preceitua que a Declaração teção naquelas já demarcadas, os povos e
de Reconhecimento de Limites se destina a comunidades indígenas são assolados pelo
fornecer aos proprietários ou possuidores avanço da pandemia da COVID-19 em to-
privados a certificação de que os limites do das as regiões do país. A situação se agra-
seu imóvel respeitam os limites das terras va diante da total inoperância e omissão do
indígenas homologadas, reservas indígenas governo brasileiro em elaborar o “plano de
e terras dominiais indígenas plenamente re- enfrentamento da COVID-19”, determinado
gularizadas. pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em
julho de 2020, por ocasião do julgamento
Assim, na medida em que a Funai passa a da Arguição de Descumprimento de Preceito
considerar passível de emissão de Decla- Fundamental (ADPF) nº 709. Somente em
ração de Reconhecimento de Limites (do- março de 2021, portanto, oito meses de-
cumento que atesta que a propriedade não pois, foi que o STF homologou parcialmente
incide em terra indígena) toda posse (sem e com ressalvas a quarta versão do plano
escritura) ou propriedade que não incida apresentado pelo governo brasileiro. En-
apenas sobre terra indígena homologada, quanto isso, até o dia 15 de abril de 2021,
reserva indígena, terras indígenas domi- segundos dados levantados pela Articula-
niais, passa a liberar para a compra, venda ção dos Povos Indígenas do Brasil (APIB),
e ocupação todas as terras em estudo, as 52.406 indígenas foram infectados e 1.038
delimitadas pela Funai, as terras declaradas morreram. Sendo que o vírus já afetou 163
pelo Ministério da Justiça, além das áreas povos indígenas diferentes.
sob portarias de restrição de uso e aquelas
interditadas para estudo sobre a presença A política genocida adotada pelo presiden-
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – sobre povos indígenas e tribais, promulgada pelo Decreto n 5051, de 19
de abril de 2004, bem como afronta o Art. 1º do Decreto 1775/1996, Art. 19 da Lei 6001/1973 e os Arts. 1º e 4º do Decreto
nº 9010/2017. A medida fere ainda os direitos culturais dos Povos Indígenas com fundamento no Art. 129, inciso V, da
Constituição Federal”. Disponível em: https://cimi.org.br/2019/01/nota-do-cimi-medidas-inconstitucionais-do-governo-
-bolsonaro-afrontam-direitos-indigenas/.
7
https://www.in.gov.br/web/dou/-/instrucao-normativa-n-9-de-16-de-abril-de-2020-253343033
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
te Jair Bolsonaro coloca em risco a sobrevi- nencial crescimento. Em 2020, das 81.225
vência física e cultural dos povos indígenas, famílias vítimas de invasões, 58.327 são
especialmente aqueles que vivem de forma indígenas, 71,8%. Em 2019, essa porcenta-
isolada e os de recente contato. Em feverei- gem foi de 66,5% (26.621) e em 2018, 50,1%
ro, com a eleição dos novos presidentes da (14.757). Se considerado apenas o incre-
câmara dos deputados e do Senado Federal, mento das famílias indígenas impactadas,
o governo federal apresentou um pacote de entre 2018 e 2020, o percentual é de 295%.
pautas prioritárias8.
Com relação à grilagem, 2020 é igualmente
Dentre elas, inclui-se o Projeto de Lei n. superlativo, com 7.252 famílias indígenas
191/20, o qual “regulamenta o § 1º do art. entre um total de 19.489 (37,2%), em pro-
176 e o § 3º do art. 231 da Constituição fundo contraste com dois anos antes, quan-
para estabelecer as condições específicas do indígenas somaram 1.381 de 15.037 fa-
para a realização da pesquisa e da lavra de mílias, 9,2%.
recursos minerais e hidrocarbonetos e para
o aproveitamento de recursos hídricos para O Gráfico 1, abaixo, mostra a distribuição
geração de energia elétrica em terras indí- geográfica da violência “invasão” e revela a
genas e institui a indenização pela restrição predominância da Região Norte no avanço
do usufruto de terras indígenas”. Trata-se das ocupações ilícitas de territórios originá-
de abrir as terras indígenas para exploração rios, fato resultante da expansão acelera-
minerária. da [e muitas vezes ilegal] do agronegócio e
da mineração na Amazônia, avalizada pelo
Essa postura do governo federal encoraja discurso e pela prática institucional anti-in-
atentados como o sofrido pela Associação digenista do governo federal. Mesmo terras
de Mulheres Munduruku Wakoborun, no indígenas regularizadas, caso da T.I. Apyte-
município de Jacareacanga, no Pará9, no rewa, da etnia Parakanã, localizada no Su-
dia 25 de março de 2021. Tais proposições doeste do Pará, têm sido afetadas. Homolo-
também incentivam a invasão massiva de gada em 2012, a T.I. possui 773.000 ha, dos
garimpeiros ilegais na TI Yanomami, que al- quais, 80% estão sob a posse ilegal de inva-
cança cifra assustadora de mais de 20 mil sores. Em 2020, eram cerca de 1.500 deles,
garimpeiros, devastando uma área equiva- entre madeireiros, garimpeiros e grileiros,
lente ao tamanho de 500 campos de fute- estimulados pela promessa de regulariza-
bol10. Essas incursões criminosas resultam ção fundiária. Os Parakanã não são vítimas
em conflitos que levam, inclusive, à morte apenas de criminosos, enfrentam também
de lideranças indígenas. uma tentativa de redução da T.I. a partir
de uma ação interposta pelo município de
Os registros da CPT dimensionam a gravi- São Félix do Xingu, já analisada pelo STF,
dade do ataque contra os territórios originá- que instou a União a se manifestar sobre
rios, especialmente a partir de 2019. Nota- o litígio. A etnia se posicionou contrária à
-se que algumas modalidades de violência, proposta e promete lutar para garantir seus
como “invasão” e “grilagem”, sofreram expo- direitos constitucionais sobre a totalidade
8
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/02/prioridades-de-bolsonaro-para-o-congresso-incluem-
-reformas-economicas-e-privatizacao-da-eletrobras.shtml.
9
Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/documentos/2021/ataque-garimpeiro-sede-associacao-
-mulheres-munduruku-jacareacanga-pa-25-03-2021/> .
10
Relatório Cicatrizes na floresta: evolução do garimpo ilegal na TI Yanomami em 2020. Disponível em: https://acervo.so-
cioambiental.org/acervo/documentos/cicatrizes-na-floresta-evolucao-do-garimpo-ilegal-na-ti-yanomami-em-2020;https://
noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2021/03/25/garimpo-ilegal-aumenta-em-terras-indigenas-yanomami-no-brasil-
-diz-informe.htm.
155
do território. a suspender de ofício a Resolução nº 4/21
pelas razões expostas. A emissão da Reso-
Gráfico 1 lução se deu no contexto em que o Brasil
avança de forma tímida com sua campanha
de vacinação, que coloca os povos indígenas
como populações prioritárias, mas exclui
comunidades que vivem em áreas não re-
gularizadas ou em contextos urbanos. Um
ato que sinaliza o desprezo do atual governo
federal para com as vidas indígenas.
ginal foi produzido em julho de 2020 para Em 2020, a taxa oficial do Prodes registrou
notificar o STF da gravidade situacional à 1.108.800 hectares desmatados na Amazô-
qual esses territórios estão submetidos. A nia legal, a maior taxa desde 2008. A alta é
atualização demonstra que o desmatamen- de 9,5% em relação ao ano passado. Com
to e as invasões avançaram durante a pan- isso, os números representam um indicador
demia. É urgente a criação de um plano de do efeito das políticas ambientais do gover-
desintrusão/extrusão imediata de todos os no Bolsonaro. Segundo os dados do Prodes,
invasores. É uma questão sanitária, uma o desmatamento total nas TIs da Amazônia
vez que esses invasores são vetores da Co- legal já destruiu mais de 1,6 milhão de hec-
vid-19, além de ser medida necessária para tares. Entre os anos de 2019 e 2020, o des-
a proteção territorial. matamento nas TIs já acumulou 89.769,8
hectares. Essa perda significativa de vege-
Por fim, importante citar o relatório técnico tação no interior das TIs nos dois últimos
apresentando pela Apib, ao Supremo Tri- anos é um indicativo grave de invasão com
bunal Federal (STF), no âmbito da ADPF n. as finalidades de exploração ilegal dos re-
709, que trata dos dados de desmatamento cursos naturais e de apropriação fundiária,
e degradação florestal retirado dos sistemas processos estes que podem comprometer a
Prodes e Sistema de Detecção do Desmata- sobrevivência física e cultural de povos ori-
mento em Tempo Real (Deter), do Instituto ginários e, no limite, levá-los ao extermínio.
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). São aspectos da violência que retratam o ge-
nocídio atual.
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Água
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
4
Dados do MDIC retirados do site: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino. Nos conflitos pela água, os grupos mais afe-
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
tados foram pescadores e ribeirinhos, en- Ainda em 2020, o Estado brasileiro (gover-
volvidos em 26% das ocorrências cada um. nos municipais, estaduais e federal), os em-
Uma vez que os principais danos causados presários, as hidrelétricas e os fazendeiros
são a poluição e a destruição das águas, po- também foram protagonistas de conflitos
pulações ribeirinhas e de pescadores aca- pela água (Gráfico 4). A Região Sudeste con-
bam perdendo suas condições de reprodu- tabilizou 146 ocorrências de conflitos pela
ção da vida e de sustento econômico. Tais água, seguida pela região Nordeste (91),
grupos sociais apresentam relação simbió- Norte (66), Centro-Oeste (36) e Sul (11). Os
tica – materiais e simbólicas – com os rios, mesmos grupos sociais que figuravam entre
lagos e mares, sendo estes seus espaços de os mais violados na última década também
vida, de aquisição de alimento, de geração sofreram para acessar os bens hídricos em
de renda, de sociabilização e de modo de condições dignas no ano passado. Ribeiri-
vida, isto é, são territórios-água ou hidro- nhos estiveram presentes em 81 ocorrências
territórios (GONÇALVES TORRES; VIAN- (23%) e pescadores em 78 (22%), seguidos
NA, 2008). Em menor proporção, mas não por indígenas (16%), atingidos por barra-
menos importantes, pequenos proprietários gem (11%), pequenos proprietários (9%) e
rurais (10%), indígenas (8%), atingidos por quilombolas (8%).
barragem (7%), geraizeiros (6%) e assenta-
dos (5%) também aparecem entre os grupos Um ano de pandemia e a continuidade dos
que sofreram ações de violações no que con- efeitos socioambientais provocados pelos
cerne à água (Gráfico 3). grandes desastres de 2019 agravaram a si-
tuação de vida dos povos litorâneos durante
Gráfico 3: Ocorrências de Conflitos pela a crise sanitária do coronavírus. O “Manifes-
água por categoria social que sofreu ação no to Mar de Luta: Justiça Social para os Povos
Brasil (2011 – 2020) das Águas Atingidos pelo Petróleo”, de movi-
mentos sociais de pescadores e pescadoras
artesanais e organizações ligadas às temáti-
cas de direitos humanos e socioambientais,
denunciou a continuidade da tragédia em
nove Estados do Nordeste e dois do Sudeste,
cerca de mil localidades e 500 mil pescado-
res e pescadoras tradicionais. Os atingidos
pelo petróleo reafirmaram a perda da ren-
Fonte: CEDOC Dom Tomás Balduíno. da familiar, a insuficiência dos dois salários
mínimos de auxílio recebidos do governo
Em 2020, as mineradoras se mantiveram federal, a exclusão de muitos pescadores
como as principais causadoras de conflitos (principalmente mulheres) do acesso ao be-
pela água, com 40% das ocorrências. O pre- nefício, o prejuízo às condições de saúde e
domínio das mineradoras como as maiores ainda a presença do material contaminante
deflagradoras de conflitos pela água no país no fundo do mar e na forma de micropartí-
ocorreu a partir de 2014, quando o setor su- culas. Diante da inação dos órgãos públi-
plantou o setor hidrelétrico, que até então cos, o movimento cobrou
configurava como maior causador de danos.
A partir de 2015, com o desastre do rio Doce dos poderes públicos (federal, estaduais e
e do Paraopeba, as mineradoras assumiram municipais) respostas, por meio de ações
isoladamente o ranking de mais conflituo- capazes de reduzir e enfrentar os efeitos
sas. nefastos desse crime ambiental sobre o
163
ambiente e as comunidades pesqueiras ribeirinhos, pescadores, indígenas, quilom-
artesanais, que tiveram seus dramas so- bolas e outros grupos sociais. Somente em
cioeconômicos oriundos do petróleo agra- 2021, o governo estadual e as instituições
vados ainda mais pela pandemia do novo de justiça firmaram um acordo com a mi-
Coronavírus (Comitê da Campanha Mar de neradora para a reparação dos danos cole-
Luta, 2020). tivos, ainda assim sem a participação dos
atingidos e com diversos problemas relata-
E destacou o caráter violento e extralegal dos pelos movimentos sociais, que recor-
das ações e dos ideários antidemocráticos e reram, sem sucesso, ao Supremo Tribunal
ecoetnocidas do governo federal (WANDER- Federal (STF) (PASSOS, 2021).
LEY; MILANEZ: GONÇALVES, 2020), que
não realizou um planejamento para comba- Por fim, o conflito pela água, em 2020, re-
ter o vazamento e nem implementou o Plano sultou no massacre de quatro pessoas, um
Nacional de Contingência para Incidentes indígena e três ribeirinhos, no Rio Abacaxi,
com Óleo. municípios de Borba e Nova Olinda do Nor-
te, no Amazonas. Segundo informações da
Isso comprova que a política de Estado CPT, o crime foi em decorrência do conflito
do (des)governo Bolsonaro para o meio entre ribeirinhos e indígenas, de um lado,
ambiente é de destruição da natureza e policiais e pescadores esportivos ilegais, de
de toda a vida que a circunda e a com- outro, e um grupo de traficantes. O imbró-
põe, inclusive a humana, fato materializa- glio vem sendo denunciado por indígenas
do pela presença de um ministro do Meio desde 2007.
Ambiente, Ricardo Salles, que atua a todo
momento para flexibilizar a legislação am- Conflitos causados pela atividade mine-
biental, omitindo-se diante de inúmeros ral
crimes ambientais de toda ordem e, tam-
bém, contra aqueles que dão suas vidas A importância de uma análise direcionada
historicamente para a proteção de seus ao setor mineral está na estreita relação
territórios (Comitê da Campanha Mar de que a mineração possui com a água. Isso
Luta, 2020). se deve ao fato de a extração de água ser
considerada pela legislação brasileira uma
O movimento, desse modo, reivindicou a atividade de mineração, mas também pe-
aplicação do Plano Nacional, a realização de los efeitos diretos da extração mineral so-
pesquisas transparentes e autônomas so- bre rios, lagos, cursos d’água, nascentes e
bre a contaminação, a execução de inves- lençóis freáticos (MILANEZ, 2017). A água
tigações para apuração dos responsáveis possui diversas funções no processo de ex-
pelo crime, até hoje sem agente causador, tração mineral: na perfuração e escavação;
e a proibição de novos poços de petróleo no transporte de minérios em forma de pol-
em alto mar (Comitê da Campanha Mar de pa por meio de minerodutos; no beneficia-
Luta, 2020). mento e separação do minério; no controle
da emissão de poeira na área de mina, no
No caso do desastre da Vale S.A., no Rio Pa- embarque e desembarque do minério e nas
raopeba, persistiram os problemas no abas- estradas de acesso às minas. Além disso, o
tecimento, o fornecimento de água de má aprofundamento da cava pode ser acompa-
qualidade e de modo intermitente pela mi- nhado pelo rebaixamento do nível do lençol
neradora aos atingidos e a manutenção da freático, o que afeta de maneira decisiva a
contaminação do rio continuaram afetando dinâmica hídrica superficial e subterrânea
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
das regiões mineradas, muitas vezes redu- para o mercado externo, ou seguem as rotas
zindo a disponibilidade de água para o con- até as indústrias de transformação, quan-
sumo das populações locais, urbanas e ru- do atendem à demanda do mercado interno
rais, e prejudica suas atividades produtivas. (MILANEZ, 2017).
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WANDERLEY, L.; GONÇALVES, R. J. Mineração
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
No de
UF Famílias
Ocorrências
Centro-Oeste
DF
GO 8 800
MS 6 305
MT 22 3091
Subtotal 36 4196
Nordeste
AL
BA 26 9965
CE 1 500
MA 3 873
PB 6 899
PE 28 5718
PI
RN
SE 27 740
Subtotal 91 18695
Norte
AC
AM 21 3253
AP 6 810
PA 31 7871
RO 7 6985
RR
TO 1 97
Subtotal 66 19016
Sudeste
ES 9 679
MG 125 4802
RJ 8 8238
SP 4 250
Subtotal 146 13969
Sul
PR 6 130
RS 4 286
SC 1
Subtotal 11 416
Brasil 350 56292
Foto: Thomas Bauer - CPT/ H3000
Trabalho
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
O dia 13 de maio de 1888 não significou, Foram essas as sementes do que se chama
portanto, o triunfo da compaixão e da mi- escravidão contemporânea, uma escravi-
sericórdia. Representou, na verdade, uma dão que ocorre às sombras, mas que tem os
abolição que não se fez acompanhar pelas mesmos atributos da escravidão do passa-
reformas necessárias à completa redenção do. Os escravos “libertos” continuaram a ser
do sistema escravagista. A manutenção explorados da mesma forma que nos tem-
da estrutura econômica e social do perío- pos anteriores: a escravidão se perpetuou
do pré-abolicionista foi a mola propulsora no País.
para a existência da chamada escravidão
contemporânea em território nacional. Os O trabalho escravo contemporâneo é um
ex-escravos tornavam-se, então, escravos problema jurídico, social e econômico, e
contemporâneos, submetidos às mesmas merece enfrentamento sob tais enfoques:
condições ultrajantes que lhes eram impos- a erradicação exige a superação do padrão
tas enquanto propriedade formal do senhor. social violento e desigual. Não é por acaso,
portanto, que o enfrentamento deve ocorrer
Quatro fatores foram cruciais para que o não apenas por meio de medidas repressi-
Brasil continuasse a ser um país escravo- vas mas, sobretudo, preventivas.
crata: (1) a enorme desigualdade social e ra-
cial, vertida na condição de miserabilidade A fase preventiva do combate ao trabalho
1
Doutor em Direito do Trabalho pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com período de pesquisa no Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC/SP). Membro da Academia Pernambucana de Direito do Trabalho. Procurador do Trabalho, ex-coordena-
dor nacional de erradicação do trabalho escravo do Ministério Publico do Trabalho.
173
escravo pode ser visualizada sob duas ver- tou, os assentamentos diminuíram, o auto-
tentes, quais sejam, a prevenção primária ritarismo renasceu, a proteção sociolaboral
e a prevenção secundária. A primeira delas evaporou e as políticas de enfrentamento
exige a convergência de esforços no sentido têm sido paulatinamente corroídas.
de evitar a ocorrência do ilícito, abrangen-
do, portanto, todas as medidas necessárias 1. Definhamento das políticas preventi-
à reversão dos fatores que contribuem para vas
a vulnerabilidade das vítimas em potencial.
1.1. Mais desigualdade
A prevenção secundária repousa na atenção
à vítima, tendo por objetivo evitar sua rein- Após 15 anos de redução, o Brasil passou
serção na cadeia de exploração. Nesta fase, a viver seu ciclo mais longo de aumento da
o acolhimento da vítima e a plena satisfação desigualdade. A escalada da concentração
dos fatores de vulnerabilidade, como a des- de renda e riquezas tem fatores múltiplos,
qualificação profissional, são essenciais ao é bem verdade. E começou antes do golpe,
propósito. ainda no último ano do governo Dilma.
O prisma da repressão, por sua vez, abran- Mas é indene de dúvidas que a instabilidade
ge a persecução de natureza civil, adminis- política provocada pelo golpe, suas causas
trativa ou criminal. São as medidas repres- e consequências, além da adoção cada vez
sivas e punitivas em face dos beneficiários mais intensa de políticas que atrofiam o Es-
da conduta ilícita, desde a responsabiliza- tado e sacrificam os mais pobres, são agen-
ção penal, até aplicação de multas e conde- tes determinantes para o aprofundamento
nação em indenizações de natureza estrita- do fosso social.
mente civil ou trabalhista.
Todos os anos, desde 2015, cresce o nú-
É certo que, em um determinado momento mero de pobres; contraditoriamente, cai o
da nossa história, avançamos em medidas número de pessoas beneficiadas pelo pro-
preventivas e repressivas: distribuiu-se ren- grama Bolsa Família. Ano após ano, os ri-
da por meio de políticas assistencialistas; fa- cos veem seus rendimentos crescerem; en-
mílias foram assentadas em unidades agrí- quanto isso, os mais pobres ganham cada
colas improdutivas; instituiu-se um regime vez menos.
democrático após longo período de autorita-
rismo, estabelecendo-se como fundamentos Hoje, quase 30% (trinta por cento) da renda
a cidadania, a dignidade da pessoa humana do Brasil está nas mãos de apenas 1% (um
e os valores sociais do trabalho; direitos tra- por cento) dos habitantes do País, a maior
balhistas foram garantidos, direitos sociais concentração no mundo.2 E esse abismo so-
foram assegurados; políticas públicas espe- cial se traduz em miséria, favelização, inse-
cíficas de enfrentamento à escravidão foram gurança alimentar, fome e outras mazelas
implementadas. sociais que empurram o trabalhador para a
escravidão.
A partir de 2016, no entanto, tudo piorou. O
golpe parlamentar é um marco muito nítido, Quanto mais a pobreza cresce, quanto mais
um verdadeiro divisor de águas no enfrenta- a miséria aumenta, mais o País tem adotado
mento ao trabalho escravo contemporâneo: políticas que tendem a agravar a situação,
a partir de então, a desigualdade aumen- como, por exemplo, a progressiva queda de
2
World Inequality Database. Disponível em: http://wid.world/world. Acesso em 21.04.2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
ganho real no salário mínimo, o fomento à A verdade é que a política de reforma agrá-
informalidade e à (pseudo) autonomia, além, ria, já bastante deficitária antes do golpe,
é claro, da limitação de gastos e investimen- simplesmente passou a não existir. Pior: a
tos públicos por vinte anos, imposta pela despeito da gigantesca desproporção na dis-
Emenda Constitucional nº 95, uma medida tribuição de terras – menos de 1% (um por
de arrocho fiscal que causa estagnação eco- cento) dos estabelecimentos rurais concen-
nômica e acomete direitos sociais. tra quase metade da área do território na-
cional – o que passou a suceder após 2016
1.2. Menos assentamentos foi uma política de contrarreforma agrária
e reconcentração fundiária estimulada pelo
Para além do aumento das desigualdades, aumento da emissão de títulos de posse
os assentamentos de camponeses e traba- para assentados.
lhadores rurais diminuíram drasticamente.
Se o governo Dilma, em termos de reforma Já no primeiro ano do governo Temer, in-
agrária, foi fraco em relação aos governos tensificou-se a titulação individualizada
FHC e Lula, os quais realizaram centenas de lotes e a transferência, em definitivo,
de assentamentos anuais, os números pós- do imóvel rural ao beneficiário da reforma
-golpe são desprezíveis. Para se ter uma no- agrária. Se, antes, a emissão de títulos de-
ção da disparidade, o que Temer e Bolsona- pendia da comprovação de autossuficiência
ro fizeram, juntos, em pouco mais de três dos assentamentos, com o governo Temer
anos equivale ao que FHC e Lula realizavam tudo ficou mais fácil: somente em 2017, fo-
em apenas 80 dias de governo. ram emitidos mais de 123 mil títulos, sendo
26.523 de domínio e 97.030 de concessão
No ano de 2019, a reforma agrária sofreu a de uso, o que supera a soma dos dez anos
maior retração da história: nenhum assen- anteriores, cuja média girava em torno de
tamento foi criado e nenhuma propriedade 20 mil títulos ao ano.
foi desapropriada para fins de reforma. O
governo Bolsonaro reconheceu apenas dois Essa política, aparentemente generosa às
territórios quilombolas que já tinham suas famílias beneficiárias, objetiva, na verdade,
áreas delimitadas em anos anteriores, sen- fomentar o mercado de terras. O resultado,
do um deles após determinação judicial. como não poderia ser diferente, é a recon-
Em outras palavras, os dois únicos assen- centração fundiária: famílias fragilizadas
tamentos de 2019 não foram resultado da vendem seus lotes ao agronegócio e os as-
política do governo Bolsonaro.3 sentamentos do passado retornam ao patri-
mônio dos latifundiários. É a reforma agrá-
Analisando-se o número de famílias bene- ria às avessas, em prejuízo da população
ficiadas pelos assentamentos, a despropor- vulnerável e despossuída.
ção também é gigantesca. Se os governos
FHC, Lula e Dilma assentaram, em média, O governo Bolsonaro piorou o que já era
61.356 famílias por ano, os números pós- ruim. Subordinou a agenda fundiária e am-
-golpe foram reduzidos a pouco mais de mil biental à pasta do agronegócio e, já no pri-
famílias. E, obviamente, junto com a sensí- meiro dia de governo, editou a Medida Pro-
vel diminuição do número de assentamen- visória nº 870, de 01/01/2019, por meio
tos, as políticas destinadas ao financiamen- da qual exterminou a Secretaria Especial
to e crédito da agricultura familiar também de Agricultura Familiar, que concentrava
foram afetadas. o restante das competências do extinto Mi-
3
DATALUTA. Boletim Dataluta, janeiro de 2020. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/nera/boletimdataluta/boletim_
dataluta_1_2020.pdf. Acesso em 21.04.2021.
175
nistério do Desenvolvimento Agrário. Pouco mo adormecido.
depois, editou as Medidas Provisórias nºs
901 e 910 com o objetivo de destinar ter- Esse renascer da tirania e da autocracia fica
ras públicas ao agronegócio. A primeira ce- muito evidente no perfil do atual chefe do
dia terras da União aos governos estaduais Executivo: um capitão reformado do exér-
de Amapá e Roraima, e a segunda ampliava cito, que defende a política armamentista,
as possibilidades de regularização de terras enaltece a ditadura militar e exalta o tortu-
públicas ocupadas irregularmente em todo rador e assassino Carlos Alberto Brilhante
país, uma premiação ao desmatamento e à Ustra. O apreço pela democracia se esvane-
grilagem de terras.4 ceu e isso teve reflexos em vários setores da
sociedade, inclusive nas relações de traba-
Além de reduzir a reforma agrária a prati- lho.
camente zero, o governo passou a promo-
ver a violência e a criminalização dos mo- Atualmente, esse autoritarismo se expres-
vimentos sociais, defender o uso de armas sa sob variadas formas, desde o descumpri-
contra o campesinato que luta pela terra e, mento sistemático e socialmente aceito da
ademais, liberar amplamente o registro e a legislação trabalhista, até o exercício abusi-
comercialização de agrotóxicos, prejudican- vo do poder empregatício, como ocorre, por
do sobremaneira a saúde dos trabalhadores exemplo, na coação dos trabalhadores para
do campo. votarem em determinados candidatos e par-
tidos políticos: uma forma metamorfoseada
A verdade é que, após o golpe, surgiu um do “voto de cabresto”. Nas eleições de 2018,
governo anticamponês, antitrabalhador e o Ministério Público do Trabalho (MPT) re-
anti-indígena que fomenta desmatamento, cebeu mais de uma centena de denúncias
grilagem, especulação e estrangeirização de dando conta de que empregados vinham
terras. Tudo isso é capaz de aumentar os sendo pressionados por seus empregadores,
conflitos no campo, as invasões de terras, sob a pena de sanções diretas ou indiretas,
a violência contra sindicalistas, indígenas, decorrentes de sua escolha.
povos e comunidades tradicionais, além,
obviamente, de intensificar a vulnerabilida- Não custa lembrar que as relações de traba-
de de populações oprimidas, expulsando-as lho em âmbito rural estão mais sujeitas ao
de suas terras e abrindo caminho para o coronelismo e a todo tipo de exercício abu-
trabalho escravo contemporâneo. sivo do poder patronal, sobretudo porque,
além de fugir aos olhos dos órgãos públicos
1.3. Mais autoritarismo fiscalizadores, é inegável o nível elevado da
distorção socio-econômica entre as partes
Além do aumento da desigualdade e da re- contratantes, resultado – inclusive, não ape-
concentração fundiária, também as relações nas – da desqualificação da mão de obra, da
autoritárias de poder se agravaram recen- despovoação do ambiente, da fragilidade da
temente e passaram a pautar os discursos atuação sindical e da dificuldade de acesso
e os debates nos mais variados setores da ao aparato jurídico estatal.
sociedade. Se os valores democráticos pare-
ciam ser a realidade do País, a destituição 1.4. Menos proteção trabalhista e social
abrupta e inadequadamente fundamentada
de uma presidente democraticamente eleita O país caminha novamente para o vazio
foi capaz de fazer ressurgir um autoritaris- protecionista. Por meio de reformas tra-
4 DATALUTA. Boletim Dataluta, janeiro de 2020. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/nera/boletimdataluta/bole-
tim_dataluta_1_2020.pdf. Acesso 21.04.2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
balhistas que reduzem a um nível bastan- sificar, ainda mais, esse feitio flexibilizante
te rasteiro o padrão de proteção da classe subjacente ao aparato normativo trabalhis-
trabalhadora, os governos pós-golpe pro- ta. A nova legislação desprotege, precariza e
movem um verdadeiro colapso na proteção transfere os riscos da atividade econômica
social cujos efeitos são devastadores na sal- para o trabalhador, contrariando a própria
vaguarda em face do trabalho escravo. lógica protetiva do direito do trabalho.
Já no apagar das luzes de 2016, um ano A verdade é que a grande reforma do gover-
de instabilidade política marcado pelo golpe no Temer – genuíno golpe na classe traba-
parlamentar, o governo Temer apresentou à lhadora, resultado da ruptura democrática
Câmara dos Deputados um projeto de re- – promoveu uma metamorfose na CLT: da
forma trabalhista anunciado como um “be- Consolidação das Leis do Trabalho à Conso-
líssimo presente de Natal”. Fundada numa lidação do Livre-comércio do Trabalho.
suposta obsolescência da legislação traba-
lhista, a reforma almejaria “aprimorá-la” As alterações trabalhistas promovidas pelo
e “modernizá-la”, proporcionando, assim, governo Temer não pararam na grande re-
condições vantajosas para a geração de em- forma. A Lei nº 13.429, de 31 de março de
pregos. Tratava-se, na verdade, da primeira 2017, autorizou amplamente o instituto da
providência política destinada à devastação terceirização, aprovando a prestação de ser-
do aparato jurídico-normativo trabalhista e viços por intermédio de terceiros em qual-
de tudo o que o circunda e resguarda. Era o quer atividade empresarial, inclusive na
início de uma nova época: a do desmantela- principal. Essa permissão, aparentemente
mento da proteção estatal. ingênua, talvez seja, de todas, a medida que
causa maior debilidade à condição social do
A reforma, em seu conteúdo, contemplou trabalhador. Afinal, terceirização e precari-
um pacote de maldades que viola os direi- zação são sinônimos exatos: não à toa, em
tos humanos e vai de encontro à concepção cada dez resgatados da condição análoga à
de trabalho decente da Organização Inter- de escravo, aproximadamente nove são tra-
nacional do Trabalho (OIT), a qual se refe- balhadores terceirizados.5
re ao trabalho juridicamente protegido que
contribui para a inclusão social da pessoa A sucessão de governos, longe de represen-
trabalhadora, pressupondo, com efeito, o tar alguma mudança no programa de des-
respeito à dignidade humana por meio da regulamentação e precarização da prote-
efetivação e da proteção dos direitos que lhe ção trabalhista, significou verdadeiramente
são mais caros. sua continuidade. O continuísmo ganhou
contornos particularmente autoritários, na
Muito embora as relações individuais de medida em que passou-se a utilizar medi-
trabalho no Brasil tenham sempre gozado das provisórias como técnica de governo de
de uma plasticidade característica de paí- modo a atender aos interesses escusos do
ses periféricos (p. ex. redutibilidade salarial mercado.
por negociação coletiva, compensação da
jornada de trabalho, possibilidade de encer- Já nas primeiras horas de seu governo, no
ramento unilateral do contrato de trabalho primeiro dia de 2019, o presidente recém-
etc), é inegável que a reforma veio para inten- -empossado Jair Bolsonaro anunciava o fim
5
Conforme dados obtidos junto ao Departamento de Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do extinto Ministério do
Trabalho e Emprego, dos dez maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de escravos no País entre os anos
de 2010 e 2013, em 90% os trabalhadores vitimados eram terceirizados. Vide: https://reporterbrasil.org.br/2014/06/ter-
ceirizacao-e-trabalho-analogo-ao-escravo-coincidencia/.
177
do Ministério do Trabalho. O fim da pasta sua aprovação. Na verdade, as alterações
era emblemático: simbolizava a perpetua- legislativas impactaram negativamente nas
ção da política neoliberal que o precedeu e ocupações, atuais e novas, mormente quan-
a intensificação do aniquilamento de todos to às modalidades de contratação, remune-
os potenciais entraves à flexibilização traba- ração e tempo de trabalho.
lhista.
Ademais, os estudos comprovam que a re-
A extinção já sinalizava o retorno à pré-his- forma restringiu sensivelmente o acesso à
tória jurídica mediante a desregulamenta- Justiça pelos trabalhadores e, com isso,
ção nas mais distintas esferas do mundo do reduziu a efetividade dos direitos remanes-
trabalho. Indicava a corrosão dos direitos centes. Além disso, ao invés de estimular a
sociais, a fragilização dos direitos econômi- negociação coletiva, conforme prometido,
cos, a precarização das condições de traba- os sindicatos foram atacados, sobretudo no
lho. E todo esse desmonte foi materializa- financiamento, e saíram fragilizados. Em
do em inúmeras medidas provisórias que uma única palavra: precarização.
desoneraram os encargos incidentes sobre
a folha de pagamento e impuseram novas 2. Enfraquecimento das políticas repres-
reformas trabalhistas sem prévia discussão sivas
social.
2.1. Ataque à lista suja
Mas as reformas promovidas no Brasil pós-
-golpe não foram capazes de reduzir o de- Há mais de uma década, o Estado brasilei-
semprego e aumentar a formalização, con- ro instituiu um mecanismo de combate à
forme prometiam. Muito pelo contrário, escravidão contemporânea consistente na
dados científicos e analíticos apontam exa- ampla divulgação de uma lista onde cons-
tamente o oposto: precarização e informali- tam os nomes dos empregadores que sub-
dade. metem trabalhadores a condições análogas
à de escravo. Tal instrumento integra o ca-
De acordo com o Instituto Brasileiro de tálogo de políticas adotadas pelo Brasil no
Geografia e Estatística (IBGE), quatro em enfrentamento à escravidão, após a assun-
cada dez profissionais trabalham por conta ção de compromissos nesse sentido perante
própria ou sem carteira assinada no país, a comunidade internacional.
a maior proporção desde 2016, quando o
IBGE passou a investigar o índice. Não há dúvida de que a efetivação deste
mecanismo de combate à escravidão não se
Na mesma linha, a Rede de Estudos e Mo- revela política de governo passível de am-
nitoramento Interdisciplinar da Reforma pla discricionariedade do administrador, de
Trabalhista (Remir), constituída por profes- acordo com eventual conveniência e oportu-
sores e pesquisadores de instituições bra- nidade, mas de uma política de Estado com
sileiras que se debruçam sobre a temática, natureza perene. Trata-se de um compro-
demonstra que a reforma não cumpriu as misso assumido pelo País que independe de
promessas que embasaram sua implemen- qualquer conotação partidária ou ideológica
tação. No livro Reforma trabalhista no Bra- e não pode ser interrompido. O governo Te-
sil: promessas e realidade, os pesquisado- mer, no entanto, tentou alterar esse modelo
res asseveram que, se a reforma incitou a ao esconder os nomes dos empregadores,
redução da formalização, a economia não deixando de divulgar o cadastro.
apresentou sinais de melhora, anos após
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
À época do golpe, a lista suja era regula- A despeito da decisão definitiva que impôs à
mentada pela Portaria nº 4, de 13 de maio União a publicação e atualização da lista, de
de 2016, publicada conjuntamente pelo Mi- lá para cá, não foram poucas as tentativas
nistério do Trabalho e Previdência Social de se esquivar de tal incumbência. Ainda
(MTPS) e pelo Ministério das Mulheres, da em 2017, o governo Temer editou a Porta-
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos ria nº 1.129 que condicionava a eficácia da
(MMIRHD). A despeito da previsão normati- decisão administrativa sobre o auto de in-
va, o governo Temer mantinha-se inerte no fração e, com efeito, a inclusão do nome do
seu dever de cumprir os atos previstos no empregador na lista suja do trabalho escra-
referido instrumento normativo: publicação vo à determinação do Ministro do Trabalho.
e atualização da lista de empregadores que Ou seja, na prática, a lista suja ganhava um
se utilizam do trabalho escravo contempo- viés político e passava a depender da vonta-
râneo. de individual do Ministro.
A omissão deliberada, para além do des- Muito embora referido ato normativo tenha
respeito aos compromissos assumidos pelo tido seus efeitos suspensos pelo Supremo
País perante a comunidade internacional, Tribunal Federal (STF) e tenha sido pos-
inviabilizava a plena materialização de dois teriormente revogado pelo próprio gover-
relevantes fundamentos do Estado Demo- no, não cessaram as tentativas de acabar
crático de Direito: o direito à informação e à com a lista suja. Até hoje, há vozes dentro
transparência administrativa. da estrutura governamental que objetivam
estabelecer uma nova regulamentação que
Considerando a insistente negligência go- esvazie o conteúdo da lista e acoberte os
vernamental, o MPT, por meio da sua Coor- responsáveis pela submissão de trabalha-
denadoria Nacional de Erradicação do Tra- dores à escravidão contemporânea.
balho Escravo (Conaete), ajuizou uma Ação
Civil Pública em desfavor da União e do Mi- 2.2. Ataque ao conceito legal
nistro do Trabalho com a finalidade de lhes
impor, judicialmente, a divulgação nominal O conceito legal de trabalho escravo encon-
dos empregadores que submetem trabalha- tra-se estabelecido no art. 149 do Código
dores a condições análogas à de escravo. A Penal. Diz o texto:
ação foi o último recurso encontrado pelo
MPT para enfrentar a postura omissiva e o Reduzir alguém a condição análoga à de
notório desinteresse do governo na publica- escravo, quer submetendo-o a trabalhos
ção da lista. forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de
Em decisão fundamentada em fontes do di- trabalho, quer restringindo, por qualquer
reito interno e internacional, além da obser- meio, sua locomoção em razão de dívida
vância de princípios constitucionais, o juízo contraída com o empregador ou preposto.
da 11ª Vara do Trabalho de Brasília deferiu
a liminar postulada na ação, para o fim de Referida definição normativa, formulada no
obrigar o Ministério do Trabalho a publicar ano de 2003, introduz os principais fatores
a lista prevista na Portaria Interministerial capazes de tolher a autodeterminação da ví-
nº 4, de 2016. A decisão foi combatida por tima: trabalho forçado, jornada exaustiva,
meio de sucessivos recursos, não tendo o condições degradantes e restrição de loco-
governo logrado êxito. moção em razão de dívidas. Ao fazê-lo, o le-
gislador esclareceu didaticamente o que é o
179
trabalho escravo e, seguindo o entendimen- sa aparência de normatizar a expropriação
to da literatura jurídica e da jurisprudência de terras, o projeto de lei nº 432/2013, de
dos nossos Tribunais, facilitou a tipificação autoria do senador Romero Jucá, líder do
do delito. governo no Senado Federal e fiel aliado da
bancada ruralista do Congresso Nacional,
Apesar dos elogios dos organismos interna- objetivava alterar o conceito legal de traba-
cionais, que passaram a celebrar o mode- lho escravo e condicionar sua ocorrência à
lo brasileiro de enfrentamento à escravidão restrição da liberdade de ir e vir, ou seja, ao
contemporânea, a verdade é que o conceito cárcere privado. Foi necessário que Kailash
legal de trabalho escravo sempre foi bas- Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz, fizesse um
tante criticado pela grande maioria dos apelo direto ao então Presidente do Senado
empregadores e por sua representação no Federal para que o projeto tivesse sua tra-
Congresso Nacional. Sob o fundamento de mitação momentaneamente suspensa.
um suposto “subjetivismo” ou mesmo uma
alegada “imprecisão”, não foram poucas as Se o caminho no parlamento era de alguma
tentativas de alterar a definição legal na forma tortuoso, a solução era promover a al-
casa legislativa central. teração por vias menos oblíquas. Na segun-
da metade de 2017, o governo Temer editou
Antes do golpe, no entanto, qualquer in- uma portaria que alterava o conceito de tra-
vestida no sentido de esvaziar o conceito balho escravo e dificultava a fiscalização e o
legal era mais custosa. Não apenas porque enfrentamento.
os governos anteriores eram mais sensíveis
às causas trabalhadoras e comprometidos A Portaria nº 1.129/2017 representava uma
com as políticas de enfrentamento à escra- grave iniciativa para enfraquecer o combate
vidão contemporânea, mas, sobretudo, por- ao trabalho escravo no Brasil. No seu pri-
que Lula e Dilma haviam assinado, à época meiro artigo, a Portaria violava o Código Pe-
das eleições presidenciais de 2006, 2010 e nal e as Convenções 29 e 105 da Organi-
2014, uma carta-compromisso contra o tra- zação Internacional do Trabalho, ratificadas
balho escravo. O documento, apresentado pelo País, modificando o conceito de traba-
perante a Comissão Nacional para a Erradi- lho escravo e condicionando sua ocorrência
cação do Trabalho Escravo (Conatrae), pre- à restrição da liberdade física de ir e vir, re-
via o compromisso de defender a definição quisito inexistente na definição prevista em
de trabalho escravo presente no artigo 149 nossa legislação.
do Código Penal, de modo a evitar mudan-
ças que prejudicassem o combate ao crime. O escravo, como se sabe, não é apenas o tra-
balhador acorrentado e enclausurado, mas
Após o golpe, as coisas mudaram. Tudo fi- também aquele que dorme com animais e
cou mais fácil para a representação patro- com eles compartilha sua comida e bebida,
nal no parlamento, sobretudo para a ban- tendo violada sua dignidade. Nesse sentido,
cada ruralista, que ganhou espaço e poder a Corte Interamericana de Direitos Huma-
no governo Temer. As investidas ficaram, nos (CIDH), ao condenar o Estado brasileiro
então, mais intensas. (caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Ver-
de), deixou claro que a ocorrência da escra-
Primeiro, tentou-se “regulamentar” a Emen- vidão nos dias atuais prescinde da limitação
da Constitucional nº 81 com a proposta de da liberdade de locomoção. A Corte afirmou
aprovação de um texto que reduzia as hipó- que o trabalho escravo contemporâneo ocor-
teses legais de trabalho escravo. Sob a fal- re quando um homem exerce sobre o seu
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
6
http://www.ipeadata.gov.br/. Acesso em 21.04.2021
7
https://oglobo.globo.com/economia/mpt-entra-com-acao-para-obrigar-governo-manter-fiscalizacao-contra-trabalho-es-
cravo-21742676. Acesso em 21.04.2021
8
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/09/verba-para-fiscalizacoes-trabalhistas-cai-pela-metade-no-governo-
-bolsonaro.shtml. Acesso em 21.04.2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
partir de 2019, a quantia foi reduzida abrup- oca do Paraná, na cebola de Santa Catari-
tamente para R$ 29,3 milhões, em média, na; está na laranja de São Paulo, no milho
o menor valor de toda a série histórica do do Rio Grande do Sul, no sisal da Bahia. O
Sistema de Planejamento e Orçamento do trabalho escravo está onipresente e precisa
Ministério da Economia, iniciada em 2013. ser enfrentado.
9
https://sit.trabalho.gov.br/radar/. Acesso em 21/04/2021.
183
Tabela 6 - Conflitos Trabalhistas (2020)
Trabalho Escravo Superexploração Total UF
13
1 Trab. na Trab. na Trab. na
UF Ocorrências Libertos Menores Ocorrências Resgatado Menores Ocorrências
Denúncia Denúncia Denúncia
Centro-Oeste
DF
GO 8 41 40 2 8 41
MS 4 63 63 14 4 63
MT 2 3 3 2 3
Subtotal 14 107 106 16 14 107
Nordeste
AL
BA 10 94 69 10 94
CE
MA 4 37 22 4 37
PB
PE
PI 3 43 43 1 3 43
RN
SE
Subtotal 17 174 134 1 17 174
Norte
AC
AM 1 14 11 1 14
AP
PA 9 186 116 9 186
RO 3 9 8 1 3 9
RR
TO 3 65 5 1 3 65
Subtotal 16 274 140 2 16 274
Sudeste
ES
MG 31 387 287 5 31 387
RJ
SP 4 49 49 4 49
Subtotal 35 436 336 5 35 436
Sul
PR 1 5 5 1 1 5
RS 3 5 5 3 5
SC 10 103 84 4 10 103
Subtotal 14 113 94 5 14 113
Brasil 96 1104 810 29 96 1104
*Além destes dados de trabalho escravo rural, houve 16 denúncias de trabalho escravo na área urbana, envolvendo 294
trabalhadores, dos quais 230 foram resgatados.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Trabalho escravo e
superexploração do trabalho no Brasil em
tempos de pandemia
Cesar Sanson1
a pecuária (437 casos), carvoaria (161 ca- Gráfico 5: Trabalho escravo na pecuária
sos), café (69 casos). O gráfico 4, por sua (2011 – 2020)
vez, registra as ocorrências por tipos de
trabalho escravo até 50 casos. Sobressaem
aqui atividades como desmatamento (49
casos), extrativismo (43 casos), soja (31 ca-
sos), outras lavouras (27 casos), eucalipto
(25 casos), garimpo de ouro e cobre (23 ca-
sos), olaria (21 casos), agrotóxicos, algodão
(18 casos), serviços gerais (17 casos) e erva-
-mate (15 casos).
Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT – Fonte: Cedoc Dom Tomás Balduino – CPT –
25/03/2021. 25/03/2021.
189
Outra tipologia de trabalho escravo que cha- uma linha tênue entre superexploração do
ma a atenção pelo alto número de incidência trabalho e trabalho escravo.
e reincidência regular ao logo da década é o
trabalho escravo em carvoarias (161 casos), Novamente, faz-se necessário destacar aqui
quase sempre clandestinas. Destaca-se que os registros de superexploração no tra-
aqui que o número maior de registros ocorre balho são subnotificados, ou seja, a quanti-
no Sudeste (63 casos), com maior incidên- dade de casos é infinitamente maior, ainda
cia em Minas Gerais (59 casos), em função mais numa conjuntura de altíssimo desem-
de que, efetivamente, se trata da região de prego e informalidade e de incentivo à burla
maior mercado consumidor dessa commo- de direitos, preconizada pelo próprio gover-
dity. O trabalho escravo em carvoarias se no. As ocorrências registradas pelo relatório
constitui em uma das situações que impõe são suficientes, entretanto, para dar uma
grande sofrimento aos trabalhadores por se amostra do tamanho do problema.
exporem ao calor, à fumaça, à fuligem, ao
pó, ao carregamento excessivo de peso etc. Gráfico 7: Conflitos trabalhistas por ramo
de atividade (2011-2020)
Superexploração no trabalho
tado, assistiu-se à fragilização de todos os e na cidade. De uma hora para outra, mi-
instrumentos de fiscalização e coibição aos lhares de trabalhadores se viram expostos
desmandos praticados no campo brasileiro, a um vírus letal; muitos foram obrigados a
relacionados aos abusos cometidos contra continuar trabalhando mesmo contra a sua
trabalhadores rurais, povos indígenas, qui- vontade, outros tantos perderam o seu tra-
lombolas e toda população de comunidades balho e milhares ficaram sem renda.
tradicionais. A aparente redução de casos
de trabalho escravo da metade do último de- Referências
cênio para cá pode estar subnotificada para
além da amostragem histórica, consideran- FERNANDES, F. A revolução burguesa no Bra-
do-se os fatos anteriormente expostos, ou sil. São Paulo: Globo, 2006.
seja, a ausência da fiscalização. Os efeitos
deletérios que vemos nesses últimos cinco PRADO Jr., C. Formação do Brasil contemporâ-
anos somente não têm sido maiores em fun- neo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Publifo-
ção da ação dos próprios movimentos so- lha, 2000.
ciais e do Ministério Público.
http://www.mpf.mp.br/
Acrescente-se a tudo isso a chegada da
pandemia do coronavírus que tornou ain- https://www.ibge.gov.br/
da mais difícil a vida dos trabalhadores no
campo
Foto: Rafael Vilela - Mídia Ninja
Violência
contra a
pessoa
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
a37UF Conflitos*
Pessoas
envolvidas
Assassinatos
Tentativas de
Assassinatos
Mortos em
conseqüência
Ameaçados
de Morte
Torturados Presos Agredidos
Centro-Oeste
DF 3 232
GO 37 12041 1
MS 106 66567 2 9
MT 193 64483 3 2 1
Subtotal 339 143323 3 2 3 10
Nordeste
AL 19 6776
BA 165 78294 1 1 15 4
CE 18 19176
MA 210 86985 5 3 22
PB 20 31508 1
PE 103 37136 10 36 3 3
PI 21 1799 1
RN 4 3636
SE 31 4044
Subtotal 591 269354 6 13 1 75 3 7
Norte
AC 59 17876 1 5 7
AM 89 62034 5 3 6 10 1 1 6
AP 62 15232 1 1 2
PA 288 146102 1 1 1 42 10 27
RO 143 55333 1 1 18 5 38 1
RR 29 67224 2 2
TO 59 17261 1
Subtotal 729 381062 10 10 8 78 6 50 38
Sudeste
ES 19 8984
MG 187 29939 6 2
RJ 28 37264 1 1 2 1
SP 42 7125
Subtotal 276 83312 1 1 8 3
Sul
PR 43 11713 1 9 1
RS 40 14525 3
SC 36 10855 3
Subtotal 119 37093 1 9 3 1 3
Brasil 2054 914144 18 35 9 159 9 69 54
37
*Número de conflitos e de pessoas envolvidas refere-se à soma das ocorrências de conflitos por terra, água e trabalho.
195
A criminalização dos movimentos que
lutam por terra, água e meio ambiente
Deborah Duprat1
Toda a história do Brasil poderia ser escri- quer outras formas de discriminação”. O
ta a partir de distintas formas de violência princípio da solidariedade ali inscrito não se
que assolam o país desde a sua origem: o traduz em consensos permanentes e neu-
episódio da conquista e seus efeitos devas- tralidade dos conflitos. Muito ao contrário,
tadores sobre as populações indígenas; a uma sociedade plural é uma sociedade atra-
escravidão; a violência da exploração extra- vessada por visões de mundo contrapostas,
tivista sem limites; a violência epistemológi- mas a solidariedade convoca a que as diver-
ca da alfabetização, que impõe a língua dos gências se resolvam num plano em que não
dominantes e seus valores como universais; se faça uso da violência.
a violência da formação do Estado nacional,
em que a homogeneidade por ele pressu- Por isso, o reforço das liberdades expressi-
posta vai ser expressão do poder colonial. A vas no seu texto. Sabe-se que a Constituição
essas formas de violência histórica e funda- de 1988 é um momento inaugural de direi-
cional, agregam-se aquelas que derivam da tos, cuja concretização seguirá sendo objeto
violência de classe, de gênero, de orientação de disputa e de luta contra a persistência de
sexual e de tantas outras, de tal forma que é uma ordem social ainda bastante desigual.
possível dizer que a violência sistêmica está
na base da organização da sociedade brasi- O Representante Especial do Secretário
leira. Geral das Nações Unidas para os Defenso-
res de Direitos Humanos, em seu Informe
A Constituição de 1988 busca superar esse A/62/2252, de agosto de 2007, ressaltou,
passado, com muita ênfase na luta por entre outros pontos, que:
igualdade, contra a marginalidade das cul-
turas não dominantes e contra a destruição Ao longo da história, os protestos e mani-
da natureza. O artigo 3º da Constituição festações foram agentes de mudança e fa-
da República é uma espécie de convocação tores importantes que contribuíram para a
de uma coletividade que, pela primeira vez, promoção dos direitos humanos. Em todas
presta contas de um passado colonial e es- as regiões do mundo e em todas as épocas
cravocrata. De fato, nesse artigo, há uma da história, defensores anônimos e ativis-
ideia genuinamente utópica de uma socie- tas reconhecidos lideraram e inspiraram
dade “livre, justa e solidária”, que se propõe movimentos de protesto que prepararam o
a “erradicar a pobreza e a marginalização”, terreno para as conquistas alcançadas na
bem como a reduzir todas as desigualdades. esfera dos direitos humanos.
É uma sociedade voltada, no seu conjunto,
a “promover o bem de todos, sem preconcei- Em países como o Brasil, de um longo pas-
tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quais- sado de privilégios e de desigualdades abis-
1
Advogada e Subprocuradora-Geral da República aposentada.
2
Disponível em https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N07/457/26/PDF/N0745726.pdf?OpenElement
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
sais, as garantias de reunião, associação, (inciso XLI), racismo (XLII), tortura, tráfico
manifestação e protesto são absolutamen- ilícito de entorpecentes e terrorismo (XLIII)
te fundamentais para assegurar que movi- e a ação de grupos armados contra a or-
mentos sociais levem adiante a implemen- dem constitucional e o Estado democrático
tação do projeto constitucional. (XLIV).
Como se trata de um processo agônico, de O direito penal, portanto, passa a ter como
disputa, ele, via de regra, se desenvolve de finalidade e limite os próprios direitos fun-
modo a desestabilizar certezas, sempre pro- damentais: presta-se à defesa desses e não
vocando incômodos. E tem também formas pode ser usado de modo a diminuir ou neu-
performáticas, alegóricas, de se represen- tralizar esses mesmos direitos. Ou seja, o
tar. Lutas feministas costumam apresentar direito penal não pode ser usado para inibir
seus corpos nus como denúncia do patriar- lutas legítimas por direitos. A Corte Inte-
cado. Gays, lésbicas, travestis e transexu- ramericana tem também importantes pre-
ais tornaram famosas as “paradas gays”, cedentes sobre o tema. Um deles é o “Caso
protesto contra a condenação de seus dese- Escher e outros vs Brasil3”, que trata da in-
jos à invisibilidade dos “armários”. Negros terceptação de linhas telefônicas das orga-
e negras ostentaram toda a beleza da sua nizações sociais Adecon e Coana, ligadas ao
negritude e recusaram os padrões estéticos MST na luta pela reforma agrária no País,
dominantes. Povos indígenas e quilombolas e sua posterior divulgação na imprensa. A
voltaram a ocupar seus territórios ances- Corte endossou a conclusão da Comissão
trais. Trabalhadores, no campo e na cida- Interamericana de Direitos Humanos, de
de, ocupam imóveis ociosos, denunciando ofensa ao direito de reunião ou associação,
o descumprimento da função social da pro- com previsão no artigo 16.1 da Convenção
priedade e a não implementação do direito à Americana de Direitos Humanos (“Pacto de
reforma agrária e à moradia. San José da Costa Rica”):
Por isso, foi preciso redirecionar o direito 165. A Comissão destacou “a obrigação do
penal, historicamente voltado a crimina- Estado de não interferir no exercício do di-
lizar segmentos sociais subalternizados. A reito de reunião ou associação, [e] a obri-
Constituição de 1988 tratou de forma muito gação de adotar, em certas circunstâncias,
econômica o direito penal. Toda a sua dis- medidas positivas para assegurar [seu]
ciplina está contida no artigo 5º, o mesmo exercício efetivo”. Alegou que as restrições
que trata dos principais direitos e garantias à liberdade de associação constituem “gra-
fundamentais. Significa dizer que houve ves obstáculos à possibilidade de as pes-
uma opção por um direito penal de cará- soas reivindicarem seus direitos, darem a
ter residual, que teria por objeto condutas conhecer suas solicitações e promoverem
que comprometessem seriamente o arranjo a busca de mudanças ou soluções aos
constitucional, assentado, em especial, nos problemas que as afetam”. Ainda, “a in-
princípios da dignidade da pessoa humana, tervenção arbitrária das comunicações de
do pluralismo social e da solidariedade, to- pessoas [pertencentes a uma associação]
dos eles conformando a democracia nacio- restringe não somente a liberdade de as-
nal. É por tal razão que o artigo 5º contém sociação de um indivíduo, mas também o
ordens de criminalização ao legislador ordi- direito e a liberdade de determinado gru-
nário em relação à “discriminação atentató- po de associar-se livremente, sem medo
ria dos direitos e liberdades fundamentais” ou temor”. A liberdade para associar-se e
3
Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_200_por.pdf. Acesso em janeiro de 2019.
197
buscar certos fins coletivos é indivisível, de na Constituição de 1988 tem ainda um ou-
modo que uma restrição à possibilidade de tro sentido: o direito penal não é ferramen-
associar-se representa diretamente um li- ta de segurança pública, que tem capítulo
mite ao direito da coletividade de alcançar próprio. Convém lembrar a literalidade do
os fins aos quais se propõe. As forças de caput do artigo 144: “[a] segurança pública,
segurança do Estado podem ver-se em ne- dever do Estado, direito e responsabilidade
cessidade de realizar operações de inteli- de todos, é exercida para a preservação da
gência, de acordo com a lei, para combater ordem pública e da incolumidade das pes-
o crime e proteger a ordem constitucional. soas e do patrimônio, através dos seguintes
Contudo, tais ações são legítimas quando órgãos […]” (destaque acrescido).
constituem uma medida estritamente ne-
cessária para salvaguardar as instituições A “responsabilidade de todos” é uma expres-
democráticas e quando existem garantias são exatamente do princípio da solidarie-
adequadas contra os abusos. No presente dade inscrito no artigo 3º da Constituição.
caso, “a interceptação, o monitoramento e Todos se reconhecem entre si como sujeitos
a gravação das comunicações telefônicas de igual direito e consideração, afastando o
das vítimas foram realizados com o objeti- recurso à violência como possibilidade rela-
vo de exercer o controle de suas atividades cional. Daí por que a política de segurança
associativas, [e] a publicação dessas co- pública, no sentido da “preservação da or-
municações, resguardadas por segredo de dem pública e da incolumidade das pessoas
justiça, foi efetuad[a] expressamente para e do patrimônio”, só possa ser exercida por
deslegitimar o trabalho das associações de meio dos órgãos ali enumerados.
que faziam parte [as vítimas]”. Em virtude
“da natureza de sua atividade, e da exis- Houve um investimento constitucional na
tência de uma tendência de perseguição capacitação das polícias para assegurar o
contra os defensores e representantes dos compromisso da convivência pacífica: or-
trabalhadores sem terra, […] a Comissão ganização em carreira e remuneração me-
consider[ou] que as intervenções, o moni- diante subsídios (art. 144, § 9º), tal como os
toramento e a publicação d[as] informa- membros de Poder, os detentores de man-
ções em questão configuraram um modo dato eletivo, os Ministros de Estado e os Se-
de restrição velada à liberdade de associa- cretários Estaduais e Municipais. Essa polí-
ção [das vítimas]”. Com base no exposto, cia deve ser treinada para, em sua atuação,
solicitou à Corte que declare a violação ao causar o menor dano possível.
artigo 16 da Convenção Americana.
O relatório de conflitos da CPT de 2020 re-
Ainda, a Corte Interamericana de Direitos vela que o Brasil atual está mais próximo
Humanos, em sentença de 29 de maio de de 1500 do que de 1988. Em diversas regi-
2014, caso Norin Catrimán e outros vs Chi- ões do país, indígenas, trabalhadores rurais
le4, julgou contrária à Convenção America- sem terra, quilombolas, ribeirinhos, gerai-
na a lei chilena que possibilitou a condena- zeiros, pescadores artesanais, vazanteiros,
ção de membros do povo indígena Mapuche camponeses de fundo e fecho de pasto são
que protestavam pela recuperação de suas vítimas de processos de criminalização por
terras ancestrais e pelo uso e gozo dos re- conta de lutas, principalmente por terra e
cursos naturais ali existentes. água. Os documentos juntados nessa publi-
cação também permitem concluir por uma
Essa colocação topográfica do direito penal espécie de associação, ainda que tácita, en-
4
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/09/142788b09442cde14d1b005c1920ccc0.pdf
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
tre sistema de Justiça, forças policiais e po- que pode estar relacionado não apenas com
der econômico. a histórica e grave conflitividade fundiária
no espaço amazônico, mas também com a
Gráfico 1 política do atual governo federal, que cola-
bora para promover a perseguição a comu-
nidades campesinas e tradicionais. Nesse
sentido, e não por acaso, entre os grupos vi-
timados, “sem terra” e “posseiros”, concen-
traram 76,2% dos casos, um indício de que
a luta pelo direito à terra como bem coletivo
e indispensável para promoção da justiça
social, é tratada pelo poder público como
ação delinquencial.
1
Coordenadores acadêmicos do projeto de pesquisa “Massacres no campo na Nova República: crime e impu-
nidade – 1985-2019”.
2
Coordenadores executivos do projeto de pesquisa “Massacres no campo na Nova República: crime e impunidade – 1985-
2019”.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Uma parceria promissora no marco dos zados pela CPT como situações de conflitos
35 anos dos relatórios da Comissão Pas- agrários que resultaram em homicídios de
toral da Terra (CPT) três ou mais pessoas em uma mesma oca-
sião.
O relatório de conflitos no campo da Comis-
são Pastoral da Terra (CPT) chega neste ano Para cumprir com esse objetivo, foi cons-
à sua 35ª edição. Lançada em 1985, a ini- tituída uma equipe de 49 pesquisadores e
ciativa se tornou a principal fonte de dados e pesquisadoras de todas as regiões do país,
informações sobre conflitos agrários no Bra- de diferentes níveis de formação (da gradua-
sil e é fruto de uma atuação que combina ção ao pós-doutorado), de diversas áreas do
o rigoroso trabalho de pesquisa, apuração, conhecimento (Direito, História, Geografia,
catalogação e interpretação de informações, Psicologia, Ciências Sociais etc) e ligados a
realizado pelo Centro de Documentação 12 instituições federais de ensino superior.
Dom Tomás Balduino (Cedoc), com a par- Devido às restrições impostas pela pande-
ticipação direta dos agentes pastorais que mia da COVID-19, os trabalhos de campo
integram o conjunto da CPT, ramificada por são substituídos por uma aproximação ao
todo o país. objeto de pesquisa por meio de outros do-
cumentos relevantes para a compreensão
A leitura sistemática dessas 35 edições e um da violência perpetrada contra trabalhado-
contato mais próximo com as companheiras ras e trabalhadores rurais no Brasil, tais
e companheiros da CPT – especialmente do como os relatórios de conflitos publicados
Cedoc – permitem uma compreensão mais anualmente pela CPT. Por conseguinte, en-
profunda dos modos de fazer que culminam tre maio e outubro de 2020, a equipe reali-
em cada edição anual. Poucos pesquisado- za leitura sistemática e discute as trinta e
res e pesquisadoras sobre a questão agrária cinco edições, além de participar de oficinas
no Brasil contemporâneo têm essa dimen- e atividades de formação capazes de ense-
são, à qual tivemos acesso a partir do início jar interpretação mais acurada dos confli-
do projeto de pesquisa “Massacres no cam- tos agrários no Brasil contemporâneo, bem
po na Nova República: crime e impunidade como dos massacres no campo, que são
– 1985-2019”. uma vertente das ações empenhadas para
controle e concentração da terra.
Fruto de uma parceria da CPT com o Ins-
tituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos A esse estudo sistemático dos relatórios da
Sociais (IPDMS), o projeto de pesquisa tem CPT e às atividades formativas com pesqui-
o objetivo de aprofundar as informações dis- sadores e pesquisadoras de conflitos agrá-
poníveis sobre os 51 massacres no campo rios no Brasil, somam-se os diálogos com
contabilizados pela CPT (251 vítimas), des- advogados e advogadas populares e o con-
de o ano em que os relatórios de conflitos no tato com agentes pastorais integrantes do
campo passaram a ser divulgados. A partir Cedoc, com a coordenação nacional da CPT.
da etnografia documental constituída como Essas atividades permitem igualmente com-
teoria fundamentada em dados, o objetivo preender o trabalho de pesquisa e organiza-
da pesquisa é interpretar a atuação do sis- ção de dados condensados em cada edição
tema de justiça criminal manifestada, so- dos relatórios, ou seja, a produção de cada
bretudo, em documentos de investigação e documento, as compreensões de partida, os
processamento para entender os fatores que objetivos empregados em sua elaboração, de
ensejam impunidade de mandantes e exe- modo que seja possível depreender o alcan-
cutores de massacres no campo, caracteri- ce e a densidade dos relatórios como fonte
203
da investigação que se realiza. a partir dos de baixo. Portanto, estudá-los
de forma sistemática é também um exer-
O presente texto tem o objetivo de compar- cício de reflexão sobre a História do Brasil
tilhar o aprendizado produzido coletiva e contemporâneo. De par com os aconteci-
preliminarmente durante a primeira parte mentos sociais, políticos, jurídicos, seus
exploratória da pesquisa, isto é, de aproxi- conteúdos podem ser distribuídos, em sín-
mação ao seu objeto. Em primeiro lugar, fa- tese, da seguinte forma: os legados autori-
z-se um balanço dos conflitos no campo bra- tários e os impactos sociais deixados por 21
sileiro que o estudo sistemático das edições anos de ditadura empresarial-militar são o
dos relatórios da CPT possibilita; no segun- pano de fundo dos relatórios dos anos 1980,
do momento, trata-se dos modos de fazer que marcam também as lutas dos povos do
de cada edição dos relatórios, destacando a campo por direitos no processo constituin-
importância dessa ferramenta no marco dos te; o choque neoliberal e a “modernização
seus 35 anos; por fim, apontam-se alguns agrícola” são interpretados nos relatórios
dos principais desafios que se apresentam dos anos 1990 para entender a concentra-
na tarefa de interpretar os fenômenos so- ção fundiária e o agravamento dos conflitos
ciais da violência no campo em sentido mais agrários no Brasil; as ações dos governos
amplo e dos massacres no campo, de modo neodesenvolvimentistas e suas políticas so-
mais específico, e quais as possibilidades e ciais para o campo brasileiro, contraditoria-
os limites de uma investigação sobre a im- mente voltadas para o incentivo aos peque-
punidade nesse tipo de conduta. no e médio produtores rurais, mas também
para fortalecer o agronegócio, a partir do
Os conflitos agrários no Brasil da “Nova desenvolvimento das cadeias produtivas e
República” lidos a partir dos relatórios da reafirmação do país como produtor de maté-
CPT ria-prima para o mercado mundial, são a tô-
nica dos relatórios dos anos 2000. Por fim,
O termo “Nova República” foi utilizado por a formação de um novo bloco histórico dá
muito tempo para caracterizar um período coesão às forças políticas do capital finan-
mais restrito da História brasileira, referen- ceiro, do latifúndio e das empresas transna-
te ao período de transição da ditadura para cionais, bem assim o impulso à fragilização
a redemocratização, iniciada com a eleição de políticas sociais com a adoção de um for-
indireta de Tancredo Neves para a Presi- mato neoliberal agressivo para as políticas
dência da República, pelo governo de José públicas voltadas para o campo é o que se
Sarney e pela promulgação da Constituição pode depreender da leitura dos relatórios da
Federal de 1988. Após o golpe midiático-ju- CPT elaborados após 2015.
rídico-parlamentar de 2016, o significado
desse termo passou a ser ampliado para se As lutas de classes no campo brasileiro pas-
referir também aos governos Collor, Itamar, saram, portanto, por essa “história conjun-
FHC, Lula e Dilma. A “Nova República” pas- tural” que se conecta à “história estrutural”
sou a significar o período dos governos civis de mais de 500 anos de latifúndio e colonia-
que orbitaram em torno da Carta Constitu- lidade, de quase 400 anos de escravidão e
cional de 1988. todos os seus legados, de uma violência fí-
sica e simbólica que tem aspectos de classe,
Os relatórios de conflitos no campo da CPT raça, gênero e sexualidade que estão interli-
passam por todo esse período histórico. gados e que são atualizados a cada conflito
Mais que um retrato do campo brasileiro, agrário registrado nos relatórios da CPT. O
esses estudos são uma leitura da realidade desafio de um estudo sistemático dessas 35
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
edições, realizado pela equipe de pesquisa censo que se seguiu nos anos 2000 a 2002
ao longo de 2020, é captar a historicidade é interpretado nos relatórios da CPT desse
desses conflitos, tentando compreendê-los a período como fruto da brutal repressão do
partir das especificidades de cada grupo so- Estado e da falta de perspectivas de con-
cial, das diferenças espaciais/regionais de quistas para os povos do campo, sob a égide
conflitos que ocorrem em partes diferentes do governo neoliberal de Fernando Henri-
de um país de dimensão continental. Sem que Cardoso (FHC).
esse esforço, qualquer interpretação sobre
os massacres no campo brasileiro nesse pe- Com a eleição de Lula, em 2002, ocorreu um
ríodo se reduziria a microanálises que não ascenso das lutas de classes no campo bra-
integram as partes no todo. sileiro sem precedentes na história da Nova
República. Se o relatório de 2002 da CPT
O conjunto de registros de conflitos no cam- registrou 925 conflitos, o relatório de 2003
po apresentado nos relatórios da CPT de marcou 1690, e, nos dois anos seguintes,
1985 a 2019 permite identificar as tempo- assinalaram-se números ainda maiores.
ralidades das lutas de classes e alguns pa- Além do ascenso dos movimentos de luta
drões históricos relevantes. Se a repressão pela terra (mobilizados sob a expectativa da
no campo imposta pela ditadura nos anos retomada das políticas de reforma agrária),
1970 resultou em baixos índices de confli- os relatórios da CPT desse período retratam
tos, a partir do fim dessa década e do início a entrada em cena de novos movimentos
dos anos 1980, ocorre uma retomada por sociais do campo (caso dos atingidos por
parte das organizações populares no cam- barragens, por exemplo) e o fortalecimento
po. Junto com elas, avançam as lutas por de movimentos dos povos e comunidades
terra, território e outros direitos, por con- tradicionais (indígenas, quilombolas, ribei-
seguinte, a repressão armada do Estado e rinhos, pescadores etc.).
dos agentes do latifúndio como resposta. O
primeiro relatório de conflitos no campo da Ainda que tenham ocorrido avanços nas po-
CPT, editado em 1985, traz um retrato des- líticas de reforma agrária, na titulação de
se ano que representou uma ascensão das territórios quilombolas, na demarcação de
lutas no campo no período que vai de 1979 terras indígenas, na introdução de políticas
a 19893. sociais conquistadas pelos povos do campo,
é possível verificar o início de um descen-
Após um período de descenso das lutas e so dos conflitos a partir de 2008, manten-
também dos registros de conflitos no cam- do-se em padrões de relativa estabilidade
po, ocorre uma retomada a partir de 1996 até 2015. As interpretações desse fenôme-
(ano do massacre de Eldorado dos Carajás) no que podemos observar nos relatórios da
e vai até 1999, período relativamente cur- CPT deste período remetem a fatores como
to, mas significativo na história dos movi- a insuficiência das políticas implementadas
mentos sociais do campo. Foi nesse período para a reforma agrária e o reconhecimento
que o Movimento dos Trabalhadores e Tra- de terras indígenas e territórios quilombo-
balhadoras Rurais Sem Terra (MST) ganhou las; à ambiguidade dos governos Lula e Dil-
maior visibilidade nacional e internacional, ma, ao também assimilarem as demandas
mediante denúncias e pressões para a im- do agronegócio; aos impactos de políticas
plementação do projeto de Reforma Agrária como “Bolsa Família”, “Programa Universi-
no Brasil, e que muitos outros movimentos dade para Todos” – Prouni –, ou o Programa
sociais passaram a ser constituídos. O des- Nacional de Fortalecimento da Agricultura
3
Em 1985 os relatórios registraram um total de 712 conflitos no campo; em 1986 foram 729; a partir de 1987 registrou-se
uma redução gradual (691 em 1987; 680 em 1988; 566 em 1989; 448 em 1990).
205
Familiar – Pronaf – na pauta de reivindica- despejos, expulsões, assassinatos etc) que
ção coletiva dos povos do campo, que tam- marcaram a trajetória dos povos do campo:
bém teriam contribuído para a desmobiliza- um ciclo de alta conflitividade entre 1979
ção. e 1989 (redemocratização), diminuição dos
conflitos entre 1990 e 1995 (início dos go-
Esse relativo descenso das lutas de massas vernos neoliberais), novo ciclo de conflitos
não significa, no entanto, que os conflitos entre 1996 e 1999 (reação aos impactos do
no campo tenham regredido ao mesmo pa- neoliberalismo), redução dos registros entre
tamar dos anos 1990. Na verdade, se a mé- 2000 e 2002 (intensificação da repressão
dia de conflitos do período de 1990-1995 no campo no 2º governo FHC), ascenso das
era de 550 conflitos por ano, o período de lutas no campo entre 2003 e 2007 (sob a
“descenso” entre 2008 e 2015 teve uma mé- expectativa de retomada da reforma agrária
dia de 1254 conflitos por ano registrados no 1º governo Lula); descenso das lutas en-
nos relatórios da CPT. Tais dados destoam tre 2008 e 2015 (desmobilização dada pelos
de todas as análises que propugnam pela limites dos governos Lula e Dilma); ofensiva
redução das lutas dos povos do campo dos do latifúndio e consequente aumento dos
anos 1990 em diante, como suposto produ- registros de conflitos a partir de 2016 (golpe
to da “modernização agrícola” e da mudança e nova coalizão neoliberal).
de expectativas gerada pelas políticas “pró-
-mercado”. Mas é importante deixar nítido que esses
padrões não são homogêneos em todas as
A partir de 2016, os relatórios da CPT re- regiões do país e que os conflitos ocorreram
gistram um aumento dos conflitos no cam- sob maior intensidade nas regiões Norte
po, que se intensificam no ano de 2019. e Nordeste durante a Nova República. Se-
Grande parte desses conflitos foi gerada gundo estudo de Helaine Saraiva Matos,
não pela ação dos movimentos sociais do Gabriela Bento Cunha e Francisco Amaro
campo, mas por ataques desferidos pelo la- Gomes de Alencar (publicado no relatório
tifúndio, pela grilagem, pelo agronegócio e 2014 da CPT), entre 1985 e 2014, a região
pelo próprio Estado. Os relatórios da CPT Nordeste concentrou 36% do total de con-
desse período retratam as lutas defensivas flitos e 33% das pessoas envolvidas neles,
dos povos do campo, atacados das mais di- enquanto a região Norte concentrou 27% do
ferentes formas em seus direitos à terra e ao total de conflitos e 18% das pessoas envol-
território, em suas liberdades fundamentais vidas. Se tomarmos um outro critério para
de reunião, auto-organização, manifestação distinguir o Brasil em 3 regiões (Amazônia,
e expressão, em seus direitos sociais mais Nordeste e Centro-Sul), como fez a equipe
básicos, que eram garantidos pela legisla- do LEMTO-UFF (coordenada pelo professor
ção (trabalhista, previdenciária etc.) e por Carlos Walter Porto-Gonçalves), em estu-
políticas públicas que foram rapidamente do publicado no relatório de 2015 da CPT,
desmanteladas. vemos que, entre 2000 e 2015, o total de
conflitos na Amazônia representou 44% do
É possível perceber que os registros de con- total de registros, enquanto Nordeste (27%)
flitos nos relatórios da CPT ao longo desses e Centro-Sul (29%) representaram a outra
35 anos são coerentes com os próprios ci- metade dos conflitos registrados.
clos políticos que compõem a Nova Repú-
blica, caracterizados pelo aumento ou pela Esses dados levam pesquisadores e pesqui-
diminuição dos registros gerais de confli- sadoras a afirmar, em diversos relatórios da
tos (ocupações/retomadas, manifestações, CPT, que há um processo de avanço da cha-
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
mada “fronteira agrícola” em direção à Ama- fazer” os relatórios da CPT ao longo de todo
zônia, após a consolidação do agronegócio esse período, especificamente perceber suas
nas regiões Sul e Sudeste nos anos 1950-60 mudanças e permanências. Longe de ser
e na região Centro-Oeste nos anos 1970-80. uma mera publicação informativa (com toda
Se entre 2000-2007 a Amazônia representa- a sua importância para os estudos acadê-
va 40% do total de conflitos no campo regis- micos sobre a questão agrária brasileira), os
trado, no período 2008-2015, a região teve relatórios da CPT adotam uma perspectiva
50% do total de conflitos. pastoral e leitura bíblica centrada na defesa
dos povos do campo e na convocação à prá-
Os graus de violência dos conflitos também xis de libertação dos oprimidos.
são variáveis conforme cada região. En-
tre 1985 e 2014, 40% dos assassinatos no É possível perceber, como método subjacen-
campo no Brasil ocorreram na região Norte, te a todas as edições dos relatórios, a pers-
e 25% na região Nordeste. Os modos como pectiva de “ver, julgar e agir”, que foi sendo
esses crimes são perpetuados também são desenvolvida ao longo de todo este período
distintos conforme cada região, visto que, para que lutadoras e lutadores, antes “in-
de cinquenta e um massacres ocorridos en- visíveis”, se mostrem, sejam evidenciados:
tre 1985-2019, somente dois ocorreram na não apenas como “dados estatísticos”, mas
região Nordeste. Trinta e nove ocorreram na como sujeitos históricos que lutam por di-
região Norte (sobretudo nos estados do Pará reitos.
e Rondônia). Essas informações são signifi-
cativas para as reflexões que pretende pro- Os relatórios só são possíveis porque a CPT,
duzir no decorrer da pesquisa, mas há ain- criada em 1975, logrou constituir uma re-
da outras especificidades sobre o tema dos lação de fortalecimento dos movimentos
assassinatos no campo de que se tratará na sociais do campo a partir do seu trabalho
parte final destas reflexões. pastoral. Após dez anos consolidando uma
vasta rede de apoio aos povos do campo
Como se disse, um estudo sistemático dos em todas as regiões do país, já no auge
relatórios da CPT permite construir uma vi- do primeiro ciclo de ascenso de lutas dos
são de conjunto dos conflitos agrários brasi- movimentos sociais do campo na Nova Re-
leiros durante o período da Nova República, pública, a CPT lançou em 1985 o primeiro
seja sob a perspectiva totalizante e historici- relatório de conflitos no campo para denun-
zada, seja quanto às singularidades de cada ciar a onda de violência que o latifúndio per-
“parte” desse todo, como ocorre quanto às petuava em todo o país4.
suas especificidades regionais. Além disso,
contribui para compreender a metodologia O contato “em campo” dos agentes pasto-
dos próprios relatórios e reforça a importân- rais com lideranças, trabalhadoras/es, in-
cia dessa ferramenta para análise da rea- dígenas, quilombolas, ribeirinhos e tantos
lidade agrária brasileira e para a luta dos outros grupos oprimidos pelo latifúndio é
povos do campo no Brasil. o que permite à CPT vivenciar e organizar
informações, que são então encaminhadas
A importância dos relatórios da CPT, no ao Cedoc. Ao invés de apenas “registrar”
marco dos seus 35 anos os conflitos, a CPT passa a monitorá-los
e construir um acervo de informações so-
A leitura sistemática dos 35 relatórios tam- bre a evolução dos acontecimentos, a par-
bém nos permite compreender os “modos de tir de fontes primárias e secundárias5. Em
4
1985 foi o ano com o maior número de assassinatos no campo na Nova República, com 139 mortos.
5
As fontes primárias do CEDOC são os depoimentos de sujeitos envolvidos ou que testemunharam um dado conflito,
207
alguns casos, promove o acompanhamento do campo, nas suas pautas de reivindicação
por meio de sua assessoria jurídica. É por e nas formas de organização e de luta.
isso que, quanto aos massacres no campo,
a CPT possui registros também anteriores a Isso também explica o surgimento, desde
esses crimes, pois geralmente estão relacio- a década de 2000, de novos indicadores
nados a conflitos agrários em andamento. além daqueles que permeiam todas as pu-
blicações (que são os casos das categorias
Os próprios agentes da CPT chamam a aten- “assassinatos”, “tentativas de assassinato”,
ção para não tomar os dados dos relatórios “ameaças de morte”, “expulsões”, “despejos”
como um “espelho” dos conflitos no campo etc). O tema do trabalho escravo surge des-
brasileiro: o que consta nas publicações é de 1985 e, a partir de então, a CPT regis-
apenas a “ponta do iceberg” ou os conflitos tra sistematicamente os casos denunciados
mais visíveis entre muitos outros que os e os resgates de trabalhadores e trabalha-
agentes pastorais não têm ainda conheci- doras. Os registros por água, em separado,
mento. Apesar disso, é possível perceber o surgem no ano de 2002, e passam a abarcar
conjunto de cuidados que são tomados pela atingidos/as por barragens, pescadores/as,
entidade para retratar de forma fidedigna as ribeirinhos etc. Inicialmente, eram regis-
situações de conflito e os dados estatísticos trados como Terra-Barragem. As reflexões
sistematizados em cada publicação. A che- sobre gênero e direitos das mulheres, bem
cagem dos fatos, sua interpretação e catego- como sobre o tema racial, ganham espaço
rização, a proteção às vítimas, testemunhas cada vez maior nas últimas edições.
e outras fontes vulneráveis são atividades
constantes para garantir a confiabilidade Os relatórios também vão aprofundando
das informações, e também a proteção das sua densidade analítica ao convocar na aca-
vítimas na ação da CPT. demia, a partir dos anos 2000, diversos pes-
quisadores e diversas pesquisadoras para
A voz dos povos do campo está presente na interpretar os dados estatísticos produzidos
própria metodologia de elaboração dos re- pelo Cedoc. É possível compreender melhor
latórios, por exemplo na categorização dos não apenas a questão agrária brasileira pela
sujeitos envolvidos nos conflitos. É possível leitura sistemática dos relatórios, mas tam-
perceber, comparando relatórios dos anos bém a própria conjuntura social, política e
1980 com os relatórios mais recentes, que econômica do Brasil da Nova República.
um conjunto de “novos sujeitos” e de novas
categorias sociais emerge: os “lavradores” Por ter essa capilaridade nacional com seus
e “boias-frias” praticamente desaparecem, agentes pastorais; por nutrir uma relação
enquanto “sem terras”, “atingidos por bar- de confiança com os movimentos sociais e
ragens”, “ribeirinhos”, “pescadores” e outras os povos do campo e assim obter informa-
formas de autoidentificação são retratadas ções de fontes primárias; por manter de for-
nos relatórios. É que, ao invés de a própria ma sistemática o monitoramento dos con-
CPT ou seus colaboradores e colaborado- flitos e a catalogação de informações; por
ras acadêmicos realizarem essas categori- adotar procedimentos e padrões referentes
zações, os relatórios reproduzem os modos à checagem de fatos e à classificação das in-
de autoidentificação dos próprios sujeitos, o formações; por respeitar os dados que emer-
que permite ver ao longo dessas décadas as gem das fontes primárias e secundárias,
transformações nas identidades dos povos incluindo a autoidentificação dos sujeitos
manifestações dos movimentos sociais envolvidos, além de documentos e outras formas de registro referentes ao caso. Fon-
tes secundárias são as notícias jornalísticas, notas de imprensa e outras formas de veiculação pública de informações sobre
o caso que não tenham sido emitidas pelos próprios sujeitos envolvidos no conflito.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
envolvidos nos conflitos; e, por mobilizar poderão nos permitir conhecer ainda mais
uma ampla rede composta pelos mais re- fatos que aqueles que temos hoje a dispo-
conhecidos pesquisadores e pesquisadoras sição.
sobre a questão agrária brasileira, é possível
dizer que os relatórios da CPT, ainda que Reflexões sobre a violência no campo,
não representem um “espelho” dos confli- impunidade e a atuação do poder público
tos agrários no Brasil, certamente se cons-
tituem como a interpretação realizada des- É grande o desafio de pesquisar a forma
de um “ponto de vista superior”, invocando mais grave de violência no campo que se
aqui os debates clássicos da sociologia do possa imaginar: os massacres. De um total
conhecimento. de 1970 pessoas executadas em conflitos
por terra, água e trabalho no Brasil entre
Não por acaso, há muitas décadas, os rela- 1985 e 2019, 12,43% delas foram mortas
tórios da CPT sofrem ataques de represen- em massacres no campo.
tantes do latifúndio, que procuram pôr em
dúvida os dados que são veiculados. Já que Definidas pela CPT como situações em que
não podem “invisibilizar” o que foi tornado três ou mais pessoas são assassinadas em
visível, procuram legitimar a ideia de que os um mesmo contexto, os massacres no cam-
dados retratados representariam uma “dis- po representam uma forma específica de
torção da realidade”. O que ocorre é que a violência, pois, além de operar o extermí-
CPT, ao assumir a posição social dos gru- nio físico das vítimas, também se constitui
pos oprimidos, consegue “ver” (para então como forma de “recado” aos povos do cam-
“julgar” e “agir”) um conjunto de fatos que o po. Em outras palavras, na violência física
latifúndio não pode e/ou não quer ver: que dos massacres, há uma evidente violência
assassinatos, tentativas de assassinato e simbólica. Afinal, veicula uma “pedagogia
ameaças de morte não ocorrem por ques- do terror”, como caracteriza a CPT, entre
tões corriqueiras, mas por estarem situadas seus destinatários.
dentro de conflitos agrários; que trabalho
escravo não é uma mera inobservância de Situar os massacres como um capítulo es-
normas trabalhistas ou previdenciárias; que pecial da violência no campo também per-
a violência contra ocupações, acampamen- mite compreender alguns padrões históri-
tos ou manifestações não representa uma cos que devem ser considerados. Como dito
forma de legítima defesa e assim por diante. anteriormente, o ano de 1985 registrou a
maior quantidade de assassinatos no campo
O fortalecimento das pastorais sociais a registrados nos relatórios da CPT. São 139
partir do pontificado do Papa Francisco, vítimas, 57 delas foram mortas nos onze
o aprimoramento do trabalho do Cedoc e massacres que ocorreram naquele ano (dez
a ampliação do trabalho colaborativo com deles se deram no estado do Pará). Nos anos
pesquisadores e pesquisadoras nos permite seguintes, viu-se uma redução gradual dos
olhar para o futuro dos relatórios da CPT assassinatos no campo e uma estabilização
com esperança e otimismo. A leitura sis- desses índices, que podem ser decorrentes
temática desses 35 anos de relatórios nos da edificação da nova ordem constitucional
permite dizer que o aprimoramento das in- e também do ciclo de descenso dos conflitos
terpretações sobre os conflitos agrários é agrários do início dos anos 19906.
sempre possível e o avanço dos meios de co-
municação e das tecnologias de informação A redução dos índices de assassinatos de-
6
122 em 1986, 133 em 1987, 102 em 1988, 65 em 1989. Entre 1990-1995, a média anual foi de 52,5 vítimas.
209
correntes de conflitos no campo é conver- micídios nesse período. Ocorre que, quanto
gente com a redução do número de casos de aos modos de vitimização, aparentemen-
massacres. Se entre 1985 e 1990 ocorreram te os agentes do latifúndio optaram nessa
vinte e três massacres, entre 1993 e 1996, região por executar suas vítimas de forma
ocorreram sete casos7 e, entre 2001 e 2012, mais seletiva e espaçada no tempo. Com
ocorreram onze casos. A partir de 2015, o isso, assassinatos vinculados a um mesmo
número de assassinatos no campo retoma conflito agrário podem ser tratados como se
uma tendência de alta, e um novo “ciclo de fossem casos sem ligação entre si e tampou-
massacres” se inicia: são nove casos entre co são considerados como “massacres” por
2015 e 2019. estarem diferidos no tempo.
Assim, pode-se desde logo afirmar que o au- Chama ainda mais atenção o tema da im-
mento/redução da incidência de massacres punidade e da atuação do poder público.
está ligado diretamente ao aumento/redu- Segundo dados da CPT, das 1938 pessoas
ção dos índices de assassinatos no campo executadas em conflitos por terra, água e
de um modo geral. E também podem-se trabalho no Brasil entre 1985 e 2018, em
identificar correlações entre esses dados e 1789 desses casos (92%) não houve qual-
os diferentes ciclos históricos de conflitos quer responsável julgado ou preso. No caso
agrários durante a Nova República, aponta- dos massacres no campo, por serem crimes
dos anteriormente. que atraem maior atenção da opinião públi-
ca, os índices de impunidade são relativa-
Dos 51 massacres no campo registrados mente menores, mas dos poucos casos que
pela CPT entre 1985 e 2020, 29 ocorreram ensejaram prisões e condenações criminais,
apenas no estado do Pará e sete ocorreram raros foram aqueles que implicaram execu-
no estado de Rondônia. Apenas esse dado tores e seus mandantes.
nos mostra a especificidade regional que
marca o tema dos massacres no campo na Uma das possíveis chaves interpretativas
Nova República, ocorridos em regiões que que serão avaliadas ao longo da pesquisa
o professor José de Souza Martins (1997) remete à ideia de que a impunidade nos
identificou como “frentes pioneiras” ou como crimes de massacres não é mero produto
“frentes de expansão”. Ambas estão dialeti- da precariedade das ferramentas de inves-
camente ligadas e constituem o cenário da tigação criminal, mas resulta dos vínculos
“fronteira”, região de contato entre formas profundos, no mínimo, por omissão, entre
camponesas e tradicionais de ocupação da agentes do Estado e os agentes do latifún-
terra ou do território e as diferentes formas dio implicados nessas mortes. Ao longo do
de personificação do capital (madeireiro, pe- inquérito policial e do processo criminal,
cuário, agrícola, minerário, etc.). há muitos “atores com poder de veto” que
podem agir na perspectiva de afastar a im-
Chama atenção, ainda sob uma análise re- putação desses delitos a seus respectivos
gionalizada dos conflitos, o fato de a região mandantes e executores: policiais civis e
Nordeste apresentar menos registros de militares, investigadores, peritos, delega-
massacres durante a Nova República (dois dos, promotores, juízes, desembargadores,
casos ocorridos no estado da Bahia). Como advogados etc.
vimos, o Nordeste é a região com os maio-
res índices de conflitos agrários entre 1985- O tema da impunidade gera, portanto, uma
2014, incluindo centenas de vítimas de ho- série de perplexidades que terão de ser en-
7
Importante ainda mencionar que os anos de 1991-92 e 1997-2000 não tiveram registros de massacres no campo.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Flávio Lazzarin1
1
Padre, Agente Pastoral da CPT-MA.
213
inútil poder de confirmar contratos ideoló- Em suma, acho que é cada vez mais difí-
gicos e políticos, que também são escravos cil, da mesma maneira que o poeta Thiago
da conjuração a repetir, quando é banida a de Mello, cantar apesar da escuridão, como
busca de novas práxis e novas leituras da fizemos no último Congresso de Porto Ve-
realidade. lho. Parece que conseguiram envenenar as
fontes da esperança e fechar toda porta e
Gostaria, também, que esse meu sentimen- caminho do futuro.
to não nascesse do desejo hipermoderno da
novidade, mas do anseio de fazer ressoar A reedição de ideologias e políticas fascis-
palavras cada vez mais poderosas e perigo- tas surpreende hoje somente quem, inge-
sas. nuamente, acreditava que estávamos num
processo democrático irreversível. Diante
É evidente, porém, que a questão funda- do ódio e da violência, que não moram ape-
mental não é a das palavras ritualmente va- nas no Planalto, mas controlam e orientam
zias, mas a da ausência de práticas políticas mentes e corações de milhões de brasileiros,
autenticamente anticapitalistas. Em suma, acreditar no pacifismo radical significaria
o capitalismo aparece como um sistema de apostar na mera sobrevivência, ignorando
morte só em discursos e nas encíclicas de irresponsavelmente as exigências da vida.
Papa Francisco, mas, na realidade, acaba-
mos parados, sem ação e sem reação, diante Nestes tempos sombrios, penso numa figu-
da multidão dos sacrificados e crucificados. ra importante do século passado: Dietrich
E diante da própria vida que está morrendo Bonhoeffer, pastor e teólogo – o protagonis-
de morte matada. ta da revolução teológica do século XX – da
Igreja Confessante, um movimento luterano
Com relação a isso, uma lembrança do pas- minoritário de resistência ao Partido Nazis-
sado retorna aos meus pensamentos: devo ta.
confessar que não fui indulgente e compre-
ensivo com meu pai. Um dia, mais de 50 Bonhoeffer enfrentou o nazismo desde o
anos atrás, encarei o velho e, filho novo sem começo, em 1933. A sua oposição se dá a
experiência e sem coração, perguntei: “Por partir da fé em Jesus e em sua Palavra. E é
que o senhor foi tão covarde diante do fas- em nome do Evangelho, aceitando a culpa
cismo? Por que simplesmente quis viver e da desobediência à Lei, que colaborou com
sobreviver?” E hoje devo repetir o mea-cul- o grupo do almirante Canaris e participou,
pa, pois, olhando para mim e para minha em 1944, do atentado falido à vida de Hitler.
geração, apesar de tudo, não encontro des- Acusado do crime de alta traição, foi proces-
culpas para a nossa ausência no enfrenta- sado e condenado à morte. Foi justiçado em
mento, cada vez mais urgente e necessário, 9 de abril de 1945, no campo de concentra-
do sistema de morte. E, assim, devo fazer ção de Flossenbürg.
minhas as palavras de Belchior:
A um prisioneiro italiano, companheiro de
detenção, que perguntou a Bonhoeffer como
pode um cristão, um pastor, participar de
“Feito tudo, tudo, tudo o que fizemos uma conspiração que comporta a transgres-
são do mandamento “não matarás”, ele res-
Ainda somos os mesmos
pondeu: “Quando um louco joga o seu carro
E vivemos em alta velocidade em cima da calçada, não
posso, como pastor, simplesmente ficar sa-
Como os nossos pais”.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
tisfeito com o enterro das vítimas e a con- sinato e praticamente ignorei a iniciativa e a
solação das famílias enlutadas. Eu devo, se luta dos povos originários e das comunida-
estiver presente naquele lugar, pular e blo- des camponesas nesta conjuntura. De fato,
quear o motorista na direção.” os processos de organização, articulação e
mobilização tiveram uma inevitável flexão.
Em 1965, 20 anos depois, padre Lorenzo A pandemia, até sem o planejamento geno-
Milani, ele mesmo de descendência judaica, cida governamental, comporta, apesar das
dizia: “Se não tivesse existido a profecia da irresponsabilidades presentes em todos os
Igreja Confessante, nós, cristãos, não te- territórios, a drástica diminuição dos con-
ríamos algum direito de olhar um hebreu, tatos presenciais, a suspensão das viagens
olhos nos olhos.”2 Com efeito, a Igreja Cató- de articulação e a ausência de mobilizações
lica, ao longo dos anos do nazi-fascismo, se significativas até em nível municipal.
revestiu de uma não inocente neutralidade,
enquanto a Igreja Evangélica institucional É bom começar a entender que a pandemia,
fez uma aliança explícita com o nazismo. também quando enfrentada de forma mais
adequada, como aconteceu em outros pa-
A violência contra os pobres no nosso país íses, propicia a morte da política e o risco
aumentou exponencialmente pela pande- da radicalização do Estado de exceção, feito
mia pilotada por governo, Forças Armadas de proibições, controles, disciplinamentos,
e elites genocidas, chegando a estatísticas especialistas, cientistas, médicos e tem-
estarrecedoras. No contexto dessa hecatom- perado por medo, paranoia, depressão e o
be, podem aparentar mínimos e irrelevantes surgimento de aprendizes de ditadores. Em
os dados sobre a violência no campo, mas suma, a luta por terra e territórios também
seria errada essa blasfema comparação es- foi atingida; inicialmente, pela pandemia e,
tatística, porque, nos dois casos, é evidente junto com ela, pela continuidade acelerada
que estamos enfrentando o mesmo projeto das agressões das empresas, do Executivo e
de negação e extermínio dos povos indíge- do Poder Judiciário.
nas, camponeses e pobres, instaurado no
começo da tragédia colonial na Abya Yala. Guiados pela Palavra, parece que somos
convidados a ler e viver esse tempo como
Além disso, é bom repetir o que muitos cien- tempo de Exílio, tempo de Lamentações,
tistas afirmam: a pandemia evidencia a re- uma Sexta-feira Santa em que não conse-
lação estrita entre a difusão dos vírus e a guimos ver, com João, a Glória escondida
destruição das florestas tropicais e savanas, na ignomínia da Cruz.
como o cerrado. Isso já tinha acontecido
com os vírus do ebola, SARS e HIV. Portan- Não podemos fugir das lágrimas quando dia-
to, parece evidente que o agronegócio não é riamente, além das frias estatísticas e das
somente um atentado à estabilidade climá- identidades desconhecidas, somos interpe-
tica e à vida dos biomas e do campesinato, lados pelo sofrimento e a morte de quem é
mas também uma ameaça à saúde pública carne da nossa carne. E choramos também
e à sobrevivência da humanidade. por Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga,
Mata Atlântica, Pampas, os biomas violados
Não deveria surpreender que, refletindo e mortalmente feridos, terra e águas, que
sobre os conflitos de 2020, até este ponto são também carne da nossa carne.
acentuei somente a trágica relevância da
violência pública e privada contra o campe- Sem dúvida, esses tempos de pandemia re-
2
Mario Di Stefano, La perla dai mille riflessi, in Fede Laica 2, 26 marzo 2015, p. 115. URL consultato il 21.01.2021.
215
comendam, sobretudo, para nós, os mais culturas populares da Ásia Menor, que ga-
velhos, os exercícios espirituais para a boa rantem o controle e a manutenção da so-
morte. Não devemos esquecer que esse mor- ciedade submetida à dominação. Trata-se
rer nunca é fatalidade. É assassinato; é ge- de um projeto de dominação com carac-
nocídio. terísticas religiosas, sacrais3. Inevitável a
atualização desse imundo projeto sagrado
Apesar de tudo, acreditamos que a espe- feita por Walter Benjamin, que define o ca-
rança possa ser iluminada pelas palavras pitalismo como uma religião. Para combater
de Paulo aos Efésios. Estamos em guerra e, essa guerra contra essa religião mortífera,
ironicamente equipados com as armas de- devemos nos armar com a verdade e a justi-
fensivas e ofensivas do legionário romano – ça, empunhar a espada do Espírito, que é a
símbolo da inimizade de todas as polícias e palavra de Deus, e acolher a companhia de
forças armadas –, enfrentamos as potências Jesus, com o cortejo dos Encantados e das
inimigas que inspiram e conduzem os donos Encantadas, dos Orixás, dos Santos, San-
deste mundo tenebroso. Paulo escreve em tas, das forças espirituais, que derrotam os
Roma onde está preso aguardando o proces- espíritos do mal e acompanham a resistên-
so em que será condenado à morte. É o tem- cia e a luta dos pobres, dos povos indígenas,
po da perseguição de Nero e o conflito com dos quilombolas, das comunidades tradicio-
o Império é apresentado como um embate nais, dos pequeninos, pequeninas, irmãos e
com as forças do mal, os espíritos malignos, irmãs de Quem derrotou a morte e restau-
as diabólicas entidades características das rou a vida.
3
Conversando com Sandro Gallazzi e Anna Maria Rizzante, em 7 de fevereiro de 2021.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Manifestações
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Introdução
nero5 para permanecerem vivas. O impacto
O Brasil é o país que lidera os números de político e simbólico da omissão do Estado,
assassinatos relacionados à LGBTfobia4 no sobretudo das suas instituições de Justi-
mundo. Segundo as Nações Unidas, o bra- ça, sela um pacto de silêncio e impunidade,
sileiro tem, em média, uma expectativa de que reproduz as cadeias de violência social
vida de 75 anos. Entretanto, para uma pes- e institucional contra esses sujeitos. Por
soa trans, essa expectativa raramente ultra- sua vez, a omissão de algumas organizações
passa os 35 anos. Só em 2020, foram assas- sociais também é indignante, pois poucos
sinadas 175 travestis e transexuais (Antra, se solidarizam com as mortes de travestis,
2021). Em seu site Quem a homofobia ma- gays, lésbicas e bissexuais.
tou hoje?, o Grupo Gay da Bahia (GGB) de-
nuncia a triste estatística de 2.178 LGBTI+ As violências LGBTfóbicas não estão tão
assassinadas entre 2014 e 2019. Em 2019, distantes das organizações camponesas e
foram mortas 329 LGBTI+ (GGB, 2020). Os da vida no campo. Em 19 de agosto 2019,
índices indicam que, a cada 26 horas, uma Aline da Silva, militante trans do Movimento
pessoa LGBTI+ é vítima de assassinato ou dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
suicídio. foi degolada por dois desconhecidos na sa-
ída de uma festa no município de Arcover-
Os dados demonstram o crescimento da vio- de, em Pernambuco. No dia 5 de junho de
lência explícita contra as pessoas LGBTI+. 2020, Safira Nunes, mulher trans militante
A crueldade com que são realizados esses do Movimento dos Pequenos Agricultores
assassinatos (facada, tiro a queima-roupa, (MPA), sofreu agressão transfóbica no mu-
pauladas, dentre outras formas de violência nicípio de Cedro, também em Pernambu-
exacerbada) parece retratar uma mensagem co. No início deste ano, em 26 de janeiro de
macabra, de apagamento e aniquilação das 2021, no município de Pau D’Arco, no Es-
pessoas LGBTI+, que se veem forçadas a es- tado do Pará, Fernando dos Santos Araújo,
conder sua sexualidade e identidade de gê- gay sem-terra, foi barbaramente executado.
1
Neste texto, vamos utilizar a terminologia LGBTI+, que significa pessoas que se reconhecem como lésbicas, gays, bissexu-
ais, travestis, transexuais e intersexos. Ao utilizar essa sigla, consideramos as existências de outras identidades e orienta-
ções sexuais, tais como queer, pansexual e assexual.
2
Doutorando em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp e membro do Coletivo LGBTI da Via campesina Bra-
sil.
3
Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora associada da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Campus Universitário Rio das Ostras.
4
Usamos a terminologia LGBTIfobia para nos referir à lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia. Elas sugerem práticas e
posturas de aversão, repugnância, ódio e preconceito que algumas pessoas ou grupos nutrem contra as LGBTI+.
5
A identidade de gênero diz respeito à forma como cada sujeito se reconhece e deseja ser reconhecido socialmente (envolve
um processo de autodefinição, de identificação), independe do seu sexo biológico, podendo se identificar como sendo do
gênero feminino, masculino, ou ainda, como uma combinação dos dois. Uma das identidades de gênero é a de transexual
e refere-se a homens ou mulheres que possuem uma identidade de gênero diferente da definida no nascimento pelo sexo
biológico. As lutas das pessoas transsexuais e das pessoas LGBTI+ têm pautado o seu direito a viverem, serem aceitas e
reconhecidas como são.
223
Ele era testemunha e um dos sobreviven- da sua participação política ou reconheci-
tes do massacre de Pau D’Arco, que matou mento da legitimidade da sua vivência, e o
dez sem-terra em 24 de maio de 2017. Nes- seu direito de ter acesso a terra, ao territó-
se traumático episódio, Fernando tinha fi- rio, de ser LGBTI+ e amar livremente outro
cado 36 horas escondido dentro do mato, ser humano. Por isso, não é casual que uma
enquanto ouvia os gritos dos amigos, e do grande maioria tenha sido levada a sair do
seu próprio companheiro, Bruno Henrique campo e migrar para as grandes cidades
Pereira Gomes, um dos torturados e mortos em busca de trabalho e “liberdade” para vi-
pela polícia no massacre. Fernando foi exe- ver a sua sexualidade. Mas as cidades nem
cutado como queima de arquivo, com um sempre são espaços seguros. Em muitas
tiro na nuca, dentro da sua casa no acam- oportunidades, novas discriminações e vio-
pamento. lências marcam suas novas trajetórias de
vida. As que continuam vivendo nas comu-
Nessas situações de violência LGBTfóbica, nidades camponesas têm pelo menos duas
confluem e se reproduzem também as vio- opções cruéis: viverem presas no armário,
lências do latifúndio, da repressão e crimi- não expressando a sua identidade ou orien-
nalização dos e das trabalhadores/as do tação sexual – o que ajuda a explicar os ca-
campo, da fome e da pobreza pela inexis- sos de depressão e suicídios de LGBTI+ no
tência da Reforma Agrária, da invisibilidade campo –, ou assumir ser LGBTI+ e viver de
e o preconceito nas próprias comunidades forma isolada da comunidade, ser motivo de
camponesas. Não é por casualidade que “chacota”, alvo de piadas, agressões físicas
neste período de pandemia da COVID-19, e verbais (LA VIA CAMPESINA, 2020).
têm aumentado os índices de depressão,
suicídio e solidão dentro da comunidade Os homens gays efeminados6, junto com
LGBTI+, segmento particularmente afeta- as transexuais e as lésbicas não efemina-
do por essa realidade (#VOTELGBT, 2020). das ou com expressão de gênero masculina
Notemos que os dados sobre violência LGB- são os principais alvos do preconceito e da
Tfóbica analisados neste artigo são fruto da violência, pois seus comportamentos e suas
inciativa autônoma e da auto-organização existências colidem com os padrões e papéis
desses sujeitos, pois os registros oficiais de sociais de gênero moldados pela sociedade
violência contra essa população no campo capitalista, racista e patriarcal7. Em tempos
reproduzem o mesmo padrão de invisibili- de barbárie e regressão social, as diversas
dade e silêncio. expressões de gênero, como a transexuali-
dade ou não binaridade de gênero, encon-
Não poderíamos deixar de mencionar a in- tram a resposta brutal dos mecanismos
visibilidade da existência das LGBTI+ nas da dominação que esta sociedade põe em
lutas camponesas. Historicamente, as LGB- funcionamento. Reforçar a sangue e fogo
TI+ não encontraram nas organizações so- os binarismos de gênero ou papéis sociais,
ciais e sindicais espaço seguro; acolhimento delimitados a partir de uma disciplinadora
6
Efeminado é um termo usado para descrever um padrão de comportamento social que é definido pela presença de carac-
terís
7
O patriarcado é um sistema de opressão, exploração e dominação do sexo/gênero masculino sobre o sexo/gênero feminino,
que atravessa diversas sociedades e modos de produção. No contexto das relações capitalistas de produção, o patriarcado e
o racismo se reorganizam, configurando uma particular divisão sexual e racial do trabalho, um modelo especifico de família
nuclear e heterossexual (caracterizada como um núcleo privado formado pela mulher, o marido e os filhos). Dentro desse
núcleo caberá à mulher (primeiro como propriedade do pai, e após o casamento, como propriedade do marido), a responsa-
bilidade pela realização do trabalho doméstico (não remunerado), o cuidado com a casa, a criação dos filhos, o cuidado com
os idosos etc. Já ao homem, é garantida a posse dos tipos privados de propriedade, o privilégio da vida pública, o poder de
decidir a respeito da forma como esses sistemas se perpetuam, ou seja, o poder de decidir a respeito do tempo, do trabalho,
do corpo e da sexualidade da mulher.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
quentemente estimulada a prática entre os minação das pessoas LGBTI+, inclusive nas
sexos opostos e em relações matrimoniais. próprias organizações como sindicatos e
Ao mesmo tempo, no caso dos homens, a movimentos sociais. Em algumas oportuni-
prática sexual é a afirmação da virilidade: dades, é abordado como um assunto pouco
para esses, fazer sexo antes do casamento relevante para os espaços da organização,
com várias parceiras é sinônimo de dar es- ou tendo como base a “moralidade”. O pre-
paço a uma suposta natureza do “ser ma- conceito é reproduzido, legitimando percep-
cho, pegador”. Entretanto, as mulheres que ções individuais negativas, pré-julgamentos
fazem sexo antes de se casar correm o risco de pessoas transexuais ou daquelas que
de serem consideradas impuras e indecen- sentem atração afetiva e sexual por pessoas
tes. Ao observarmos a vivência da sexuali- do mesmo sexo, culminando, muitas vezes,
dade no campo, identificamos a reprodução em atitudes de inferiorização e desumani-
de um discurso padrão, que tem um ob- zação.
jetivo disciplinatório dos corpos e que fixa
papéis de gênero, pautados numa cultura Quando as organizações camponesas e sin-
heterossexista13. Tal ideia se expressa nos dicais são permissivas ou omissas frente
discursos das pessoas, sendo incorporada à violência física, verbal e moral contra as
como modo de ser e viver do camponês. Por pessoas LGBTI+, de uma certa forma, elas
isso, afirmamos que essa ideologia violenta, assumem essas práticas LGBTIfóbicas. Se
invisibiliza, aprisiona e/ou limita a diversi- essas organizações institucionalizam o pre-
dade sexual que existe no campo em razão conceito, contribuindo com a sua reprodu-
do sexo biológico e dos papéis sociais de gê- ção no plano concreto das relações sociais
nero (LA VIA CAMPESINA, 2020). dentro das organizações, impedindo ou vio-
lando o direito da participação política, es-
Dessa forma, as relações de produção e de ses espaços não se tornam seguros e aco-
poder no campo tomam como base essas lhedores para a existência desses sujeitos.
referências construídas a partir de uma es-
sencialização do sexo biológico e de papéis É evidente que não é a condição de “ser he-
sociais de gênero, em que o homem desem- terossexual” o que garante a permanência
penha o papel sobreposto ao da mulher e ao na terra ou no campo, mas oferece privilé-
de seus filhos, e como chefe da família, é o gios e possibilidades que incluem direitos
dono da propriedade e dos bens materiais civis para casamentos, direito de proprie-
produzidos pelo trabalho familiar. Já a mu- dade, tratamento social não estigmatizado
lher vai desempenhar o trabalho doméstico, em razão de sua sexualidade ou garantia de
de cuidado dos filhos e dos idosos, da pro- acesso às políticas públicas para si e para
dução nos quintais, não sendo considera- seu cônjuge, que não se tornam acessíveis
do trabalho produtivo, pois não gera renda. de forma igualitária para quem não se iden-
Entretanto, todos os ganhos com essa pro- tifica dessa forma. Ser LGBTI+ no campo é
dução pertencem ao homem, que, muitas ser renegado a uma possível inexistência,
vezes, vende essa produção nas feiras livres pois opera uma imposição da heterossexu-
e fica com os rendimentos. alidade, não apenas para ser respeitado e
acolhido como parte da comunidade, mas
No campo, também se naturaliza a discri- também para ter acesso igualitário a recur-
13
O heterossexismo reproduz uma padronização da vivência da sexualidade e da afetividade, colocando a heterossexualidade
como norma e parâmetro, que promove atitudes de preconceito, discriminação, negação, estigmatização ou ódio contra toda
orientação sexual que não seja a heterossexual.
227
sos que impactam nas condições socioeco- trar os casos através dos noticiários, estu-
nômicas e materiais. Ter uma orientação dos e denúncias feitas, constatando que ao
sexual como homossexual14, bissexual15, não haver notícia, há grandes chances de
transexual16 ou ser pessoa intersexo pode não contabilização.
ser, com frequência, sinônimo de rejeição
pela família, comunidade ou organizações Nesse contexto de pandemia, a pesquisa
camponesas. “Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, orga-
nizada pelo #VoteLGBT (2020), mostra que
Se há em curso um processo de negação dos 28% da população LGBT já foi diagnostica-
direitos sociais para a população do cam- da com depressão, sendo que desse número,
po, nos casos em que esses camponeses/ 47% das pessoas foram classificadas com o
as não se encaixam nos padrões de gênero risco de depressão mais severa. A compa-
normatizados, os inacessos se intensificam. ração com a população geral brasileira, na
A população LGBTI+ tem acesso vetado ou qual 5,8% são diagnosticados com depres-
limitado à saúde, ao trabalho e à educação, são, revela que, mesmo antes da pandemia,
marcando profundas desigualdades em re- uma série de fatores provocam efeitos ne-
lação à população cisgênero17 e heterosse- gativos na saúde mental desta população.
xual. As LGBTI+ camponesas, muitas vezes, Dentre eles, destacam-se a não aceitação
são relegadas às margens sociais, por não por familiares e amigos próximos, o precon-
terem direito à posse da terra, ao nome so- ceito e a dificuldade de inserção no mercado
cial em seus documentos (no caso das pes- formal de trabalho.
soas trans), por não participarem de asso-
ciações comunitárias e cooperativas, tendo Com a pandemia da COVID-19, 42,72% das
inúmeras dificuldades para ter acesso a LGBTI+ relataram o aumento de problemas
crédito, renda, moradia de qualidade. In- e dificuldades relacionadas à saúde mental.
visíveis no campo, migram para as cidades Em um contexto em que 40% da popula-
em busca de mais oportunidades e melho- ção LGBT em geral e 53,35% da população
res condições de vida. trans em específico não conseguem sobre-
viver sem renda por um período superior a
LGBTI+ na pandemia e o aumento de vio- um mês, se tornam evidentes os impactos
lências na saúde mental quando se experimenta
a exclusão do mercado de trabalho, o des-
Não existem estatísticas que quantifiquem monte dos direitos trabalhistas, a ausência
as violências e mortes de LGBTI+ no campo. de auxílios assistenciais que atendam às
Em relação aos dados que existem sobre as necessidades básicas ou de políticas sociais
LGBTI+ nas cidades, há uma grande proba- mais abrangentes que contemplem as es-
bilidade de que as violências e mortes es- pecificidades dessa população. Segundo o
tejam subnotificadas e invisibilizadas pelos “Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, 16,58%
órgãos de segurança pública. O GGB (2020) das LGBTs estão sob novas regras de con-
e Antra (2021) conseguem localizar e regis- vívio social, 11,74% declaram estar na so-
14
Homossexualidade refere-se à característica, condição ou qualidade de um ser que sente atração física, estética e/ou
emocional por outro ser do mesmo sexo ou gênero.
15
A bissexualidade é uma orientação sexual caracterizada pela capacidade de atração, seja sexual ou romântica, por mais
de um sexo, não necessariamente ao mesmo tempo.
16
Refere-se a pessoas que nasceram com uma determinada genitália, mas cujo gênero não corresponde a genitália, ou seja,
se identificam com gênero oposto ao sexo biológico (mulheres e homens trans, travestis).
17
A cisgeneridade é a condição da pessoa cuja identidade de gênero coincide com o gênero atribuído no nascimento em
função da sua genitália. Por exemplo, alguém que se identifica como mulher e foi designada como mulher ao nascer é uma
mulher cisgênera. O termo cisgênero é o oposto da palavra transgênero.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
lidão e 10,91% estão no convívio familiar. masculina. Não é por casualidade que a
Apesar das rejeições familiar e social serem mesma aceitação não se observa ao amor
questões marcantes entre as pessoas des- e à afetividade lésbica, que são alvos de re-
sa população, a necessidade de isolamento provação e violência em muitas oportunida-
associada à falta de renda leva, em muitos des. Tais situações explicitam que no campo
casos, à convivência forçada em dinâmicas o trabalho é tido como “pena” para os gays
familiares marcadas pelo preconceito e a e travestis ou também como compensação
violência (#VOTELGBT, 2020). para o fato de lésbicas ou homens trans se-
rem “boas” no trabalho agrícola.
Se voltarmos novamente para o âmbito ru-
ral, podemos observar situações de extremo O patriarcado também estrutura as relações
sofrimento nos casos de suicídio de LGBTI+ sociais e de produção no campo e, na maio-
indígenas, podendo encontrar raízes que se ria das vezes, as atividades produtivas são
relacionam ao preconceito dentro e fora das familiares e conduzidas pela figura paterna,
comunidades, ou à ausência de um espaço masculina, assumindo a responsabilidade
seguro e acolhedor, quando se trata dos ca- de ser uma espécie de “patrão” e espelho
sos de homicídio. Há dados que comprovam de virilidade para os filhos homens. Para a
que a taxa de suicídio entre jovens indíge- figura materna, sobram responsabilidades
nas é três vezes superior à média nacional do serviço doméstico e o cuidado dos/as fi-
(CAMPELO, 2021). lhos/as, sendo o modelo feminino para as
meninas e mulheres seguirem. Claro que
Outro elemento é a situação de solidão, que também há casos de mães que reproduzem
deriva também da incompreensão que os/as o machismo advindo dos homens, fruto de
adolescentes e jovens passam ao se desco- uma ideologia patriarcal que ninguém está
brirem LGBTI+, pois, na maioria das vezes, isento de reproduzir (LA VIA CAMPESINA,
estão fragilizados/as em vários aspectos, 2020).
sem o apoio da família, da comunidade e da
escola. Fatores como as longas distâncias Um estudo produzido nos Estados Uni-
entre os/as vizinhos/as, a falta de telefone dos pela Universidade da Columbia apon-
e internet, a ausência de serviços de saúde ta que os jovens LGBTI+ estão cinco vezes
e a falta de conhecimento sobre o debate da mais propensos às tentativas e realizações
diversidade sexual podem favorecer situa- do suicídio que os jovens heterossexuais.
ções de depressão e suicídio (LA VIA CAM- Esse mesmo estudo considera que quanto
PESINA, 2020). mais espaços seguros para acolhimento das
LGBTI+, ou seja, quanto mais as comunida-
Há relatos de LGBTI+ do campo que, ao se- des, escolas, organizações sociais avancem
rem percebidos num comportamento efe- na compreensão da diversidade sexual e de
minado pelos pais, são obrigados a fazer gênero, menor é a chance de jovens LGBTI+
trabalhos pesados para se “transformarem se suicidarem. Infelizmente, o cenário social
em homens”, como se existisse uma única brasileiro é completamente hostil com as
forma de ser e se sentir homem. Em algu- LGBTI+. Daí a necessidade dos movimen-
mas oportunidades, quando as mulheres tos camponeses avançarem na dimensão
lésbicas com expressão de gênero masculi- de serem espaços seguros para a participa-
na executam um trabalho pesado na roça, ção das LGBTI+, mas também incluírem em
conseguem certo “respeito”, como se, pelo suas lutas o respeito às existências e todas
trabalho ou pela força, compensassem ou as formas de ser e amar das LGBTI+.
legitimassem a sua expressão de gênero
229
Auto-organização das LGBTI+ e a luta zindo alimentos e relações humanas saudá-
contra a LGBTIfobia no campo veis.
CAMPELO, Lilian. Taxa de suicídios entre in- de. MOTT, Luiz. (orgs); 1. ed. – Salvador: Editora
dígenas é três vezes superior à média do País. Grupo Gay da Bahia, 2020.
Acesso no link: https://www.brasildefato.com.
br/2018/09/24/taxa-de-suicidios-entre-indige- LA VIA CAMPESINA. Diversidade sexual e
nas-e-tres-vezes-superior-a-media-do-pais, data de gênero na Via Campesina: rompendo o
19/03/2021. silêncio sobre a existência das LGBTI no
campo. Caderno de formação da Via Cam-
FERNANDES, Estevão Rafael. Decolonizando se- pesina Brasil, São Paulo: outubro de 2020.
xualidades: enquadramentos coloniais e homos-
sexualidade indígena no Brasil e nos Estados SAFFIOTI, Heleieth I. B. A mulher na sociedade
Unidos. Tese (Doutorado em Ciências Sociais)— de classes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular,
Universidade de Brasília, Brasília, 2015. 2013.
No de
UF Pessoas
Ocorrências
Centro-Oeste
Distrito Federal 30 4170
Goiás 54 1015
Mato Grosso do Sul 44 3257
Mato Grosso 55 490
Subtotal 183 8932
Nordeste
Alagoas 69 5673
Bahia 63 8049
Ceará 17 2756
Maranhão 54 531
Paraíba 86 7980
Pernambuco 99 1728
Piauí 7
Rio Grande do Norte 16 3081
Sergipe 9 2550
Subtotal 420 32348
Norte
Acre 19 400
Amazonas 85 1058
Amapá 6 545
Pará 37 3243
Rondônia 40 772
Roraima 40 300000
Tocantins 14 150
Subtotal 241 306168
Sudeste
Espírito Santo 20 160
Minas Gerais 55 13970
Rio de Janeiro 30 8982
São Paulo 87 19137
Subtotal 192 42249
Sul
Paraná 144 2046
Rio Grande do Sul 140 16163
Santa Catarina 28 270
Subtotal 312 18479
Brasil 1348 408176
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Foto: Genilson Guajajara, da T.I. Araribóia, Maranhão
Notas Públicas
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de rando que a Justiça possa fazer valer o direito
Mato Grosso e a Comissão Pastoral da Terra constitucional. Contudo, mesmo frente a esta
(CPT-MT) vêm, a público, esclarecer sobre fatos realidade, nunca desistiram de lutar, sempre
noticiados nos últimos dias na imprensa sobre a buscando e cobrando seus direitos. Insta salien-
possibilidade de criação de novos assentamen- tar que a maioria das famílias hoje acampadas é
tos em parte da área de terra da Gleba Gama, moradora do município de Nova Guarita.
município de Nova Guarita (MT), área perten-
cente à União. O direito de estar organizado e lutar pela Refor-
ma Agrária está garantido em nossa Constitui-
Desde 2009, a União, através da Advocacia-Ge- ção Federal, portanto as famílias que hoje reivin-
ral da União (AGU), propôs Ações Reivindicató- dicam o direito de serem assentadas em áreas
rias na Justiça Federal de Sinop (MT) visando a da União não estão cometendo nenhum crime,
retomada de várias áreas da Gleba Gama, ocu- mas sim lutando por uma vida digna para suas
padas ilegalmente. Após longo período e, res- famílias e lutando pela construção de um mun-
peitando todo o direito de defesa dos ocupantes do mais justo e solidário.
irregulares, em dezembro de 2019 o juiz da 2ª
Vara da Justiça Federal de Sinop sentenciou 10 O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de
destes processos, reconhecendo que as áreas Mato Grosso e a Comissão Pastoral da Terra
são de propriedade da União, antecipando a tu- acompanham e apoiam a luta destas famílias
tela para imitir a União na posse das mesmas no acampadas, pois sabemos que o acesso à terra é
prazo de 120 dias. sinal de liberdade e vida digna. Ainda, a criação
de assentamentos contribui com o desenvolvi-
As Ações Reivindicatórias foram propostas ten- mento da economia do município, além da pro-
do em vista que o INCRA – Instituto Nacional dução de alimentos saudáveis, livres de agrotó-
de Colonização e Reforma Agrária desde o ano xicos, e baratos para o povo que vive na cidade.
de 2008 declarou interesse público nas áreas da
Gleba Gama para serem destinadas à criação de Exemplo disso é o Projeto de Desenvolvimento
assentamentos, para que as mesmas cumpram Sustentável (PDS) Nova Conquista II, localiza-
efetivamente sua função social. do no município de Novo Mundo (MT), onde em
2018, após a retomada de área pertencente à
A luta das famílias acampadas para serem as- União, também por decisão da Justiça, 96 famí-
sentadas nestas áreas pertencentes à União, lias foram assentadas, e hoje produzem alimen-
e, consequentemente, ao povo brasileiro, teve tos saudáveis que são vendidos na feira duas
início em 2003, sendo as primeiras famílias as- vezes por semana.
sentadas em 2005, a exemplo do Assentamento
Raimundo Vieira. Desde então, as famílias que Na esperança e coragem desse povo, alimen-
não foram assentadas continuaram acampadas, tamos a nossa missão de acreditar numa
no Acampamento Renascer, às margens da MT- sociedade mais justa e igualitária. ‘Senhor,
410. dai Pão a quem tem fome, e fome de Justiça
Estas famílias vivem há mais de 15 anos debai- a quem tem Pão!’
xo de barracos de lona, sofrendo todo tipo de
violência e abandono por parte do Estado, espe- Cuiabá (MT), 29 de janeiro de 2020.
235
NOTA PÚBLICA - 15 anos sem irmã
Dorothy Stang
A direção nacional e coordenação executiva da da ruralista, sem orçamento suficiente, o INCRA
CPT divulgam Nota pelos 15 anos do assassi- arrastou, por anos, processos capazes de resol-
nato de irmã Dorothy Stang, em que destacam: ver as tensões que resultaram nas mortes de
“O exemplo de Dorothy nos comove e nos inci- camponeses em Anapu e outros municípios da
ta à continuidade de sua luta, como tem feito região. O órgão não recuperou as terras da União
o Pe. Amaro Lopes, seu sucessor, perseguido e alienadas a terceiros nos anos 1970-1980, via
acusado injustamente. Dizia Ir. Dorothy pouco Contratos de Alienação de Terras Públicas (CA-
antes de ser assassinada: “Não vou fugir nem TPs) descumpridos, para destiná-las à Reforma
abandonar a luta desses agricultores que es- Agrária; não superou os empecilhos para a de-
tão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm sapropriação de lotes nas Glebas Bacajá e Belo
o sagrado direito a uma vida melhor numa ter- Monte, deixando acontecer a lei do mais forte.
ra onde possam viver e produzir com dignidade Assim, fica impedida a viabilidade dos Projetos
sem devastar”. Sejamos fiéis a ela, como ela foi de Desenvolvimento Sustentável idealizados por
no Caminho de Jesus”. Confira: Dorothy e seus companheiros, que combinavam
agricultura familiar com preservação ambiental.
No dia de hoje, há 15 anos, foi assassinada Ir. Trata-se de estratégia decisiva para salvar a flo-
Dorothy Stang, da Comissão Pastoral da Terra- resta e sua gente que a salva.
-CPT em Anapu, na Prelazia do Xingu, no Pará.
Missionária estadunidense, da Congregação das Estratégia ainda mais prejudicada hoje, com as
Irmãs de Notre Dame de Namur, naturalizada políticas do atual governo federal, apátrida e en-
brasileira, foi pioneira da Pastoral da Terra, nos treguista, de abertura da Amazônia à exploração
anos 1970, dedicada de corpo e alma aos cam- sem freios das riquezas da floresta, inclusive em
poneses na luta por um modo de vida em con- terras indígenas. O INCRA entregue à famigera-
vivência com o bioma amazônico. Por isso foi da União Democrática Ruralista (UDR) significa
morta, por contrariar poderosos interesses na o fim de qualquer programa viável de reforma
devastação da floresta e expulsão de suas gen- agrária, como sonhava Dorothy.
tes tradicionais.
Não é outra razão para que o Papa Francisco te-
Desde então, ainda que estejam presos man- nha escolhido o dia de hoje para lançar a sua
dante e executor do crime, a situação na região, Exortação Apostólica “Querida Amazônia” com
como de resto em todo o campo brasileiro, mui- as decisões pastorais do Sínodo da Amazônia,
to se agravou. Fazer memória de Dorothy e sua ocorrido em outubro de 2019, no Vaticano. O
luta só é possível denunciando esta situação e exemplo de Dorothy nos comove e nos incita à
retomando seu ideal de vida e missão. continuidade de sua luta, como tem feito o Pe.
Amaro Lopes, seu sucessor, perseguido e acusa-
De 2015 a 2019, foram registrados 19 assassi- do injustamente. Dizia Ir. Dorothy pouco antes
natos em Anapu, sete apenas no ano de 2015, de ser assassinada: “Não vou fugir nem abando-
em conflitos nas terras sem lei do município de nar a luta desses agricultores que estão despro-
Anapu-PA, vítimas da sanha devastadora do Ca- tegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado
pital e da omissão do Estado. O acervo da CPT direito a uma vida melhor numa terra onde pos-
contém dezenas de documentos, cópias de de- sam viver e produzir com dignidade sem devas-
núncias encaminhadas aos órgãos públicos pe- tar”. Sejamos fiéis a ela, como ela foi no Cami-
los camponeses e suas organizações, nesses 15 nho de Jesus.
anos, de violências sofridas a mando de grileiros.
Ir. Dorothy Presente! Presente! Presente!
A partir dos anos 1980, o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA) tinha Diretoria e Coordenação da CPT
uma série de atribuições e desafios que depen-
diam da vontade política dos governantes e de Goiânia, 12 de fevereiro de 2020.
que quem estava à frente do órgão para resolver
os litígios existentes. Refém de retrocessos legis-
lativos no Congresso, hegemonizado pela banca-
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Em uma ação para verificar uma placa de licen- A CPT tem como missão manter viva a memó-
ciamento para desmatamento, que estava ven- ria do evangelho da vida e da esperança, sendo
cida em agosto de 2019, o padre Dennis Koltz sempre fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus
foi violentamente atacado pelo suposto dono da e aos pobres da terra, ouvindo e atendendo o
fazenda, no local onde estava a placa. Foram clamor que vem do povo do campo e das flores-
socos desferidos em seu tórax, assim como vá- tas, como ensina Jesus.
rias ameaças contra sua vida, por uma pessoa
de nome Mario Junior Rocha, que não satisfeito Neste sentido, em solidariedade com a Diocese
com a tamanha violência, ainda jogou seu carro do Macapá, repudiamos toda a violência cometi-
contra o carro do Padre Dennis Koltz, o carro da contra o povo de Deus, bem como as ameaças
tinha como segundo ocupante o Padre Sisto Ma- contra toda a comunidade de Campina do São
gro. Benedito, e a violência cometida contra o padre
Dennis Koltz. A CPT acredita que a justiça, ain-
Para descaracterizar a violência, o agressor, Má- da é a esperança de dias melhores. Exigimos que
rio Junior, foi até a delegacia de polícia registrar todos os instrumentos legais sejam usados para
Boletim de Ocorrência contra o Padre Dennis impedir o desmatamento ilegal, a usurpação de
Koltz, na tentativa de inverter a origem da vio- terras das comunidades tradicionais e a escala-
lência. da de violência.
Vários estados da Amazônia estão sendo toma- Amazônia Legal, 27 de fevereiro de 2020.
dos por produtores de soja, em geral, vindos do
Articulação das CPT’s da Amazônia
237
NOTA PÚBLICA - PELO RESPEITO AO ESTA-
DO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
A construção do Estado Democrático de Direito Ataques à democracia e à estabilidade social
se faz com o fortalecimento da democracia e das vindas da maior autoridade do país não podem
instituições democráticas, com a garantia dos ser minimizadas como sendo de “cunho pes-
direitos humanos, com o enfrentamento das de- soal”. Urge que as instituições democráticas
sigualdades e com a participação popular com reajam com veemência a este tipo de atitude e
liberdade de expressão e de organização. Todas promovam a responsabilização constitucional.
as instituições e todos/as os/as cidadãos e cida- Também confiamos que as organizações popu-
dãs estão convocados/as a se comprometer e a lares da sociedade civil se engajem na formação
se engajar na promoção e defesa desses valores, de uma ampla frente de luta conjunta para de-
de modo permanente. fender a democracia e a liberdade, o Estado De-
mocrático de Direito e a garantia da realização
Inaceitável que o Presidente da República pro- de todos os direitos humanos para todos/as os/
mova ações que ataquem estes pilares, replican- as brasileiros/as.
do convocações de manifestações públicas con-
tra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Brasília, 27 de fevereiro de 2020.
Federal. Uma atitude que ataca frontalmente
os princípios constitucionais por afrontar o in- Entidades que assinam e a nota na íntegra no
ciso II, artigo 85, da Constituição Federal, que link abaixo.
diz: “São crimes de responsabilidade os atos do
Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra: II
– o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder https://www.cptnacional.org.br/publicacoes/
Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes noticias/geral/5107-cpt-endossa-nota-publica-
constitucionais das unidades da Federação”. -pelo-respeito-ao-estado-democratico-de-direito
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
A COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – CPT MA São números preocupantes, mas que não indi-
vem a público apresentar esclarecimentos quan- cam o total de conflitos fundiários ocorridos no
to a notícia publicada na tarde do último dia período. Não há sequer o que comemorar com
07.04 no site oficial do Governo do Estado, cujo os números anuais mais baixos apresentados no
título afirma: “MARANHÃO REDUZ PELA META- gráfico (menor quantidade nos anos anteriores a
DE O NÚMERO DE CONFLITOS FUNDIÁRIOS E 2011 e posteriores a 2017), pois expressam algo
AGRÁRIOS COM A COECV” (matéria disponível grave: muitas decisões de despejo já tinham sido
no link: https://www.ma.gov.br/agenciadenoti- cumpridas antes da instalação da COECV, ou-
cias/?p=274392. Acesso em 08.04.2020, às 8h). tras ainda serão concedidas, mesmo em proces-
sos judiciais iniciados antes de 2020.
A matéria apresenta dados de um relatório de
atividades administrativas da Comissão Estadu- Reviravolta no Cajueiro (MA): anulado Decreto
al de Combate à Violência no Campo e na Cida- do Governo do Estado que gerou despejos no
de (COECV), instância de mediação de conflitos território
fundiários, coordenada pela Secretaria de Esta-
do de Direitos Humanos e Participação Popular A verdade é que o número de conflitos fundi-
(SEDIHPOP) ários nesse intervalo de quase três décadas é
alto. Conforme dados dos Cadernos de Conflitos
OS CONFLITOS FUNDIÁRIOS NO MARANHÃO da CPT, de 1990 a 2018 foram 2.539 conflitos
NÃO FORAM REDUZIDOS PELA METADE. no campo ocorridos no Estado do Maranhão. Se
houvesse a contabilização dos conflitos fundiá-
Permanece grave a realidade dos povos que vi- rios em áreas urbanas, esse número poderia du-
vem a terra como canto e alimento terno. plicar.
De acordo com levantamento constante no re- Portanto, o que está sendo chamado de “redução
latório Conflitos no Campo Brasil, da CPT (anu- de conflitos fundiários” na matéria do governo
almente publicado desde 1985), o Maranhão estadual é na realidade a redução dos casos que
apresentou em 2018, 196 casos de conflitos no estavam sob apreciação da comissão de media-
campo, sendo o primeiro lugar do país nesse ter- ção. É uma atuação importante da COECV, mas
rível indicador. O Pará, com 114, ficou em se- não se pode confundir os dados.
gundo lugar. Os dados referentes a 2019 devem
ser publicados ainda neste mês de abril. CPT no Maranhão renuncia à Comissão Estadu-
al de Prevenção à Violência no Campo e na Cida-
239
de e denuncia ações autoritárias da Secretaria É inaceitável que a realidade trágica que se
de Direitos Humanos abate cotidianamente sobre milhares de cam-
poneses, quilombolas, indígenas, quebradeiras
A conclusão da fase de mediação nem sempre é de coco babaçu, ribeirinhos, pescadores, seja
positiva, podendo até resultar na realização de subdimensionada com a apresentação de dados
despejos forçados contra coletividades. A violen- administrativos voltada para ocultar a dimensão
ta reintegração de posse ocorrida no Cajueiro real do sofrimento humano.
(São Luís), em agosto de 2019, foi um dos 645
casos que tramitaram na COECV. Ele consta na- As comunidades no Maranhão continuam vio-
quela comissão como caso concluído, por cum- lentadas, pelos despejos forçados, intimidações,
primento da decisão. Mas a eliminação de uma ameaças de morte e assassinatos por encomen-
coletividade não pode ser contabilizada como da.
“redução de conflitos fundiários”. O “fim do con-
flito” foi a destruição da comunidade afetada. Essa continua sendo a terrível realidade.
Regional Maranhão
3. Histórico de violência de Marcello Bassan con- Diante das diversas denúncias realizadas, resta
tra as famílias do Acampamento Boa Esperança: evidente que, o atual cenário político fortalece a
negação do acesso à terra, direito este garantido
Essa atuação do INCRA, responsável por resol- pela CF/88 e demais dispositivos legais, e ga-
ver o conflito histórico da Gleba Nhandú, está rante a perpetuação de ações violentas contra o
potencializando a violência contra as mais de povo do campo, fortalecendo o modus operandi
100 famílias do Acampamento Boa Esperança. dos fazendeiros para garantir a permanente gri-
O histórico de violência praticada por Marcello lagem das terras e a expropriação das famílias
Bassan contra estas famílias vem de longa data, camponesas no estado de Mato Grosso, que con-
que vão desde expulsão das famílias por jagun- tinua tendo um dos maiores índices de violência
ços, queima de casas, carros e moto, destruição no campo.
de plantações, tentativa de assassinato, como já
denunciado pela CPT e pelo FDHT, em notas (No Diante disso, mais uma vez afirmamos a respon-
Mato Grosso, a Esperança não é Boa e o Mundo sabilidade do estado do Mato Grosso, do INCRA
não é Novo), bem como no Relatório Estadual e do Poder Judiciário, tanto na esfera estadual
de Direitos Humanos 2015 (p. 57/59), realizado como na federal, pela perpetuação dessa violên-
pelo FDHT (https://direitoshumanosmt.blogs- cia, e cobramos medidas URGENTES para ga-
pot.com/2016/02/). rantir o assentamento das mais de 100 famílias
do Acampamento Boa Esperança, expostas há
4. Atuação da Polícia Militar no contexto do con- anos à violência, para com isso cessar um dos
flito: conflitos mais graves dos últimos anos no Mato
Grosso.
As violências sofridas pelas famílias têm a omis-
são, conivência, quando não a atuação direta da Que a entrega de Jesus de Nazaré, perseguido e
Polícia Militar dos municípios de Novo Mundo e sacrificado na Cruz, possa ser, também, o anún-
Guarantã do Norte, como já denunciado diver- cio de Vida nova, da Ressurreição, do fim da
sas vezes aos governos de MT e ouvidoria de po- maldade, da terra partilhada e dignidade para
lícias. Isso se dá de diversas formas, desde fazer tantas famílias pobres que lutam e esperam jus-
a segurança da área para o grileiro, à negativa tiça.
em lavrar BO`s quando solicitado pelas famílias,
não fornecimento de cópia dos BO`s, inclusão de Cuiabá - MT, 14 de abril de 2020.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Já no oeste do Pará também os indígenas da et- Diante dessa realidade, as CPTs da Articulação
nia Munduruku, denunciam invasão de madei- da Amazônia vem ao público denunciar o au-
reiros no território Sawré Muybu, localizado no mento do desmatamento, das queimadas e da
médio Tapajós, onde os madeireiros ameaçam violência nos Estados da Amazônia Brasileira,
as lideranças indígenas, a invasão do território bem como, a constante presença de madeireiros,
já vem sendo uma realidade constante e diver- grileiros, garimpeiros e de empresas do agrone-
sas denúncias aos órgãos competentes já foram gócio e de mineração, que continuam avançan-
feitas. do nos territórios indígenas e das comunidades
tradicionais. E assim, pelo contágio, colocam
No Amazonas, desmentindo a crença que o Coro- gravemente em risco a vida dos povos; daqueles
navirus não iria proliferar com o calor das áreas e daquelas que já se encontram em situação de
tropicais, a pandemia já desbordou as limitadas vulnerabilidade, e já são ameaçados, por defen-
capacidades médicas da metrópole de Manaus, der a vida e a floresta.
que concentra a maior parte da população do
estado. Porém a maior letalidade corresponde Repudiamos a forma como o Estado, tem se omi-
às mortes no interior do estado, por falta de re- tido nos diversos casos de violência no campo
cursos suficientes de atendimento, enquanto a nesse contexto de pandemia, e conclamamos a
doença se expande seguindo os principais rios: retomada de ações de fiscalização ambiental,
o Solimões, o Rio Negro, o Purus e o Madeira. É de segurança pública e de proteção a lideran-
no Amazonas onde o coronavírus está vitimando ças em situação de ameaças, tanto de medidas
mais indígenas no Brasil: Nas aldeias Tikuna, que sejam capazes de colaborar com a garan-
na cidade de Manaus e em Parintins. tia do isolamento social dos povos da Amazônia
contra o coronavírus, como também na garantia
O estado do Amapá vai apenas atrás do Amazo- da integridade da vida e da dignidade da pessoa
nas no pior índice de contaminação da Região humana.
Norte. E há notícias de que muitos sojeiros apro-
veitam a ausência das autoridades para invadir ARTICULAÇÃO DA AMAZÔNIA - CPT
áreas de pequenos agricultores.
22 de abril de 2020.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
O território Melancias é impactado pela Fazenda As Famílias do território são impactadas pela
Alvorada, a Fazenda Paraíba, Fazenda Roda de Fazenda Alvorada que está dentro da área da co-
Ferro e por grileiros locais. Nesta quinta-feira, munidade e tem privado as famílias do uso das
07 de maio as famílias foram surpreendidas com veredas para criação do gado, inclusive cercaram
duas Retroescavadeiras desmatando próximo a uma das veredas existentes no território. Além
Passaginha, uma das comunidades que compõe da Alvorada, a Fazenda Passaginha tem desma-
o território. Segundo os moradores, o proprietá- tado e destruído parte da mata ciliar do Uru-
rio da suposta Fazenda Paraíba conhecido por çuí Preto e de sua nascente. E ainda a Fazenda
Celso Constantino, comentou que iria desmatar Paraíba que tem apresentado recorrentes episó-
uma área na comunidade e nesta quinta-feira o dios de violência contra as famílias residentes
maquinário já estava trabalhando nesta região. no território. Além disso, O uso do veneno nas
lavouras do Cerrados tem alterado a coloração e
Importante destacar que este não é o primeiro a qualidade da água do Rio Uruçuí Preto, tanto
episódio de violação de direitos ocasionado pelo que no início da temporada de chuvas o rio fica
Senhor Celso pois, o mesmo já vem derruban- com uma coloração alaranjada, pois o veneno
do cercas, fazendo aceiros, expulsando famílias aplicado na lavoura é carreado para dentro dele.
de suas áreas coletivas e afirmando que cercará
toda a região em que vivem e trabalham estas No dia 04 de Agosto de 2019, um dos Grileiros
famílias. Não o bastante, no dia 04 de Agosto de de Terra que afirma ser dono da Fazenda Para-
2019, o mesmo ameaçou o morador do território, íba ordenou que a cerca da comunidade fosse
Valdim Alves, ordenando que retirasse uma das retirada, abriu um aceiro próximo à comunidade
cercas construídas pela comunidade e caso não e ameaçou “pinicar com um facão” o trabalhador
fizesse, Celso afirmou que iria “Pinicá-lo com um rural Valdim Alves, morador do território, caso
facão”. As famílias registraram boletim de ocor- não retirasse a cerca. No mesmo mês a Fazenda
rência no 10º DRPC de Corrente no Piauí, mas Alvorada enviou dois agrimensores no território
até o incidente do dia 07 de Maio de 2020, não para medir pontos geográficos dentro da área da
se sabe que encaminhamentos foram tomados comunidade, a equipe identificou-se como sendo
em relação ao registro. da Secretaria de Meio Ambiente do Estado, mas
não houve mais explicações à comunidade.
Destaca-se que a comunidade está incluída do
projeto de Regularização Fundiária do Governo Em novembro de 2019 a Fazenda Alvorada ex-
do Estado do Piauí financiado pelo Banco Mun- pulsou as famílias da sua área coletiva de solta
dial, através do Projeto: Piauí Pilares do Cresci- do gado e das roças. Com auxílio da polícia e
mento e Inclusão Social. Nesse processo o Insti- jagunços da fazenda, chegaram à comunidade
tuto de Terras do Piauí – INTERPI em agosto de ribeirinha do território Melancias e colocaram
2018 realizou o estudo antropológico e o levan- uma parte do gado das famílias para o outro
tamento do território, mas até então não houve lado do rio. A ação foi realizada durante toda
nenhum retorno por parte do instituto. parte da tarde com a presença da polícia militar
249
de Gilbués-PI. é constituído por 38 famílias que vivem as mar-
gens do Rio Uruçuí-preto. As famílias vivem da
Vale ressaltar que não foi apresentado nenhum extração do buriti, mangaba, pequi e do cultivo
documento oficial que justificasse a ação, sendo da mandioca, do feijão, do arroz e milho. Além
ela assim, arbitrária, autoritária e violenta. de frutas como manga, acerola, limão, laranja,
goiaba e melancia. Também criam gados no sis-
Conhecendo o Território Melancias tema de solta em áreas coletivas, porcos, ove-
lhas e galinhas caipiras.
O Território Melancias é composto por seis co-
munidades, Passagem da Nega (Passaginha), As famílias do Território Melancias resistem pro-
Sumidouro, Brejo das Éguas, Riacho dos Cava- tegendo a floresta e as águas na defesa do rio
los e Melancias I e II. Situado a 94km da sede Uruçuí Preto e do seu território para a manuten-
do Município de Gilbués no Sul do Piauí, Brasil, ção do seu modo de vida, assegurando vida dig-
na e em abundância para as presentes e futuras
gerações.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
1
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
2
Ao longo do Rio São Francisco já existem 9 barragens/hidrelétricas sacrificando toda a vida do Velho Chico. O Complexo Hi-
drelétrico de Paulo Afonso é um conjunto de hidrelétricas, localizado na cidade de Paulo Afonso, formado pelas hidrelétricas
de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), que produz 4.000 megawatts de energia, gerada a partir do desnível
natural de 80 metros da cachoeira de Paulo Afonso, no rio São Francisco. A barragem e Usina Hidrelétrica de Sobradinho
está localizada nos municípios de Sobradinho e Casa Nova, estado da Bahia, a 40 km das cidades de Juazeiro (Bahia) e
Petrolina (Pernambuco) e distante, aproximadamente 470 km do complexo hidroenergético de Paulo Afonso. A barragem/
hidrelétrica de Sobradinho tem uma potência instalada de 1.050.000 KW (1.050 MW) e conta com 6 máquinas geradoras.
Outras usinas hidrelétricas construídas ao longo do rio são a de Xingó, Itaparica (Luiz Gonzaga) e a de Três Marias, no Alto
São Francisco, em Minas Gerais.
3
Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado de Minas Gerais.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
toda a bacia, como povos indígenas, comunida- que o Brasil se preocupa com a pandemia do
des quilombolas, pescadoras, vazanteiras e pe- novo coronavírus/COVID-19, tentam instalar
quenos agricultores. em nosso amado Rio, que é vital à existência de
nossa gente. Somos povos tradicionais, quilom-
Há ainda uma falsa impressão que o empreendi- bolas, indígenas, comunidades pesqueiras, va-
mento da UHE Formoso trará desenvolvimento zanteiras, geraizeiras, entre outras, que vivem
para a região, por meio da geração de empregos e preservam o Rio, “nosso pai”! Somos movi-
e de incremento na economia. Isso é mentira! mentos sociais, pastorais sociais, organizações
O projeto é insustentável do ponto de vista eco- populares, artistas, jornalistas, pescadores/as
nômico, social e ambiental, e também incapaz professoras/es, advogadas/os, ribeirinhos/as,
de beneficiar as comunidades locais como vem estudantes, pesquisadores/as, trabalhadores,
sendo idealizado por alguns interlocutores. Esse ativistas da causa ambiental e movimentos or-
tipo de obra traz a migração sazonal de trabalha- ganizados. Mais de 60 entidades na luta em de-
dores ocasionando o aumento da violência social fesa do Rio São Francisco.
e exploração sexual, pressão sobre os serviços
públicos, elevação do custo de vida e outros es- Não à UHE Formoso! O Velho Chico Vive! São
torvos. Assim, bons salários para os sócios das Francisco Vivo! Terra Água Rio e Povo!
empresas e para a mão de obra especializada.
Entretanto, para a população, problemas socio-
ambientais, empobrecimento e miséria. Entidades que assinam e a nota na íntegra no
link abaixo.
Desse modo, nós, povos do São Francisco ma-
nifestamos nosso total repúdio à construção da
Usina Hidrelétrica do Formoso. Estamos mobi-
https://www.cptnacional.org.br/publica-
lizando toda a sociedade para lutar contra este coes/noticias/geral/5263-nota-publica-so-
projeto que, sorrateiramente, no momento em bre-a-uhe-formoso-em-minas-gerais
decisão anterior, deixei de ponderar quanto às Na decisão o magistrado alega que “é fato notó-
questões humanitárias, a vida dos trabalhado- rio a truculência costumeiramente empreendida
res da fazenda que lá já encontravam com suas pelos integrantes do MST”, revelando a predispo-
famílias, inclusive com crianças, que estão so- sição em criminalizar a luta pela terra feita pelo
frendo frequentes ameaças e violência”, fatos movimento social. Ocorre que nos autos existe
que não condizem com a realidade encontrada petição da Comissão Pastoral da Terra-MT e do
no local, posto que as 100 famílias acompanha- Fórum de Direitos Humanos e da Terra-FDHT-
das pela CPT-MT e pelo FDHT/MT, não ocupa- -MT, afirmando que as 100 famílias do Pré-As-
ram a sede da área e não estão ameaçando a vida sentamento Boa Esperança são acompanhadas
dos trabalhadores como alegado, mesmo porque por estas entidades há mais de 15 anos.
na sede da área não existem famílias, mas um
única família, e com uma criança, no mais são Ainda, esta decisão de despejar as famílias, con-
jagunços contratados pelo grileiro. Mais do que traria parecer do Ministério Público Estadual de
mandar despejar as famílias o Douto Julgador, Mato Grosso, de Primeiro Grau e de Segundo
que deveria fazer valer a Justiça, mandou que Grau, posto que ambos, opinaram pelo INDE-
o despejo seja efetuado IMEDIATAMENTE, des- FERIMENTO do revigoramento da liminar. Esta
considerando toda a situação de pandemia vi- mesma decisão do TJ MT revoga a decisão do
venciada pela população brasileira, não obser- juízo da Vara Agrária, que indeferiu o revigora-
vando as orientações do Conselho Nacional de mento da liminar, para com isso não despejar as
Justiça (CNJ) e as próprias determinações do famílias.
Tribunal de Justiça de MT, da Portaria Conjunta
nº 399, de 26 junho de 2020, que prorroga até Esperamos e apelamos ao Judiciário de Mato
o dia 17 de julho de 2020, data esta que deve Grosso que reveja esta decisão, para manter as
sofrer nova prorrogação frente à gravidade da si- famílias em suas casas, e ao governo do esta-
tuação de pandemia no estado, a decisão de não do que tenha o bom senso de não disponibilizar
serem praticados atos presenciais, mais ainda meios para que esta decisão INJUSTA e total-
quando envolve aglomeração de pessoas em si- mente contrária ao que determina o ordenamen-
tuação de vulnerabilidade, como é o caso das to jurídico vigente, caso seja mantida, não seja
100 famílias. cumprida enquanto perdurar a situação de pan-
demia que assola severamente todo país.
Questionamos o que mudou na situação de
pandemia nos últimos dias? É fato notório que Diante disso, mais uma vez reafirmamos a res-
a situação se agravou, e isso não foi levado em ponsabilidade do Tribunal de Justiça de MT, do
consideração pelo julgador ao reconsiderar sua Estado de Mato Grosso e do Incra, pela perpetu-
decisão inicial e determinar o despejo das famí- ação da grilagem de terras no estado e a conse-
lias. quente violência contra as famílias e cobramos
medidas URGENTES para garantir a permanên-
Quanto à realização de despejos em tempos de cia das famílias na área ocupada e de direito,
pandemia, o relator da ONU para o direito à mo- bem como que esta decisão seja revista pelo De-
radia adequada, Balakrishnan Rajagopal, pediu sembargador e o processo enviado para a Justi-
no último dia 9 de julho, que o Brasil acabe com ça Federal de Sinop, que tem competência para
todos os despejos durante a crise da COVID-19, julgar ações que versam sobre bens da União,
afirmando que “O Brasil tem o dever de proteger como no caso da Fazenda Araúna.
urgentemente todos, especialmente as comuni-
dades em risco, da ameaça do COVID-19”, e que Goiânia - Brasília, 15 de julho de 2020.
“Despejar as pessoas de suas casas nessa situ-
ação, independentemente do status legal de sua Comissão Pastoral da Terra (CPT)
moradia, é uma violação de seus direitos huma-
nos”. Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM)
2 – Nota do Relator pelo direito à Moradia ade- 10 – Decisão monocrática proferida pelo minis-
quada da ONU-Habitat “Brasil deve acabar com tro Edson Fachin, no RE 1.017.365, que, com
os despejos durante a crise do COVID-19” (ht- base no artigo 1.035, § 5º, do Código de Proces-
tps://nacoesunidas.org/especialista-da-onu- so Civil, determinou a suspensão nacional dos
-pede-fim-dos-despejos-no-brasil-durante-a-cri- processos judiciais, notadamente ações posses-
se-da-covid-19/ ); sórias, anulatórias de processos administrativos
de demarcação, bem como os recursos vincu-
3 – Recomendação da Procuradoria Federal dos lados a essas ações, sem prejuízo dos direitos
Direitos do Cidadão para a suspensão por tem- territoriais dos povos indígenas, modulando o
po indeterminado do cumprimento de manda- termo final dessa determinação até a ocorrência
dos coletivos de reintegração de posse, despejos do término da pandemia da COVID-19 ou do jul-
e remoções judiciais ou mesmo extrajudiciais gamento final da Repercussão Geral no Recurso
motivadas por reintegração, entre outros, com o Extraordinário.
fim de evitar o agravamento da situação de ex-
posição ao vírus; Ressaltamos que houve suspensão das reinte-
grações de posse e despejos em diversos paí-
4 – Recomendação Conjunta n° 01/2020, da ses em razão da crise pandêmica de covid-19,
Rede Nacional de Conselhos de Direitos Hu- dentre eles: Portugal, Espanha, Itália e até os
manos, que recomenda, “ao Poder Judiciário, a EUA. Contudo, no Brasil, o Presidente Jair Bol-
suspensão por tempo indeterminado do cumpri- sonaro vetou um dispositivo aprovado na Lei
mento de mandados de reintegração de posse, nº14.010/2020, aprovada pelo Congresso Na-
despejos e remoções determinadas em processos cional, que previa a suspensão de tais atos até o
judiciais, pois os processos de remoção, além de dia 30 de outubro de 2020. O relator da ONU so-
gerar deslocamentos de famílias e pessoas que bre o direito à moradia, Balakrishnan Rajagopal,
foram impactadas, também as obrigam a entrar criticou o presidente Jair Bolsonaro no último
em situações de maior precariedade e exposição dia 09 de julho, durante o Conselho de Direitos
ao vírus, como compartilhar habitação com ou- Humanos, acusando o brasileiro de não estar
tras famílias e, em casos extremos, a morarem agindo para impedir despejos em meio à pan-
na rua” (item da recomendação 3); demia. Não obstante, os diversos atos referidos,
demonstram que o Judiciário detém responsa-
5 – Decreto Judiciário 244/2020-D.M do TJPR bilidade e competência constitucional para pro-
que fundamenta e dispõe sobre a suspensão do mover os atos necessários para a garantia de
cumprimento dos mandados de reintegração de direitos fundamentais, especialmente diante da
posse por invasões coletivas urbanas ou rurais situação excepcional.
(art. 5º);
Esperamos que as recomendações e argumen-
6 – Recomendação Conjunta n° 02 de tos, elencados acima, possam subsidiar o TJMG
03/07/2020 do TJPE sobre o não encaminha- para a tomada de decisão, de forma a promo-
mento para cumprimento de mandados de rein- ver a garantia dos direitos das populações em
tegração ou imissão na posse individuais e cole- situação de vulnerabilidade social no contexto
tivas durante a pandemia; da pandemia e evitar o agravamento da vulne-
rabilidade pelo despejo e remoção de pessoas,
7 – Resolução nº 10, de 17 de outubro de 2018, famílias e comunidades durante a pandemia.
do Conselho Nacional de Direitos Humanos, que
dispõe sobre soluções garantidoras de direitos
humanos e medidas preventivas em situações
de conflitos fundiários rurais e urbanos;
de. Em todo o município, um ícone do agrone- 2019, que levou à morte 259 moradores e 11 de-
gócio, somam 9.751 casos, com 140 óbitos, até saparecidos, dizia-se: “A covid-19 mata e Vale
06/08/2020. Em Rondônia, 60% dos casos de também, lutem contra esses males”. No final
Covid-19 em São Miguel do Guaporé são de fun- daquele mês, o complexo minerador da Vale em
cionários da JBS; entre eles, dois quilombolas, Itabira - MG, a 105 km de Belo Horizonte, foi
que levaram a doença para sua comunidade. interditado após fiscais do trabalho terem iden-
tificado 200 trabalhadores infectados – 10% do
A infecção comunitária é um problema em vários total de funcionários que atuam na empresa.
Estados, e vem se agravando principalmente em
pequenas comunidades e nos povos originários Constatamos também que os impactos e efeitos
e tradicionais. A Articulação dos Povos Indíge- da Covid-19 têm diferenças de classe, de etnia e
nas do Brasil (APIB) afirma que até o dia 13 de de modos de vida. A forma com que o vírus vem
agosto foram registrados 667 óbitos entre os 146 se espalhando na sociedade brasileira evidencia
povos afetados. Segundo a Coordenação Nacio- os problemas estruturais oriundos da explora-
nal de Articulação das Comunidades Negras Ru- ção secular do capitalismo agrário, neocolonial,
rais Quilombolas (CONAQ), foram registrados agroindustrial, financeiro.
até 12 de agosto 152 óbitos de quilombolas em
15 estados. Diante disso, a CPT vem alertar a sociedade
brasileira para a gravidade dessa situação que
As comunidades do campo têm sido contamina- atinge trabalhadores, trabalhadoras e as comu-
das também pela atuação do setor da construção nidades onde vivem, isso consequência da irres-
civil. Na Bahia, trabalhadores foram contamina- ponsabilidade das empresas e omissão ou coni-
dos em canteiros de obras da Andrade Gutierrez, vência das autoridades.
que ali constrói linhas de transmissão de ener-
gia: 34 em Nova Holanda, no município de Pi- Para a CPT essa situação alarmante deve ser de-
lão Arcado, e 28 em Angico, município de Cam- nunciada aos órgãos nacionais e internacionais
po Alegre de Lourdes; neste, o alojamento dos de Direitos Humanos. Juntamo-nos às denún-
trabalhadores contaminados foi incendiado por cias em curso no âmbito nacional e internacional
moradores. Empresas construtoras de parques sobre o assunto e, de modo especial, saudamos
eólicos são focos principais de contaminação dos a postura corajosa e profética da Carta ao Povo
mais de 100 casos ocorridos em Pindaí e Palmas de Deus assinada por 152 bispos da Igreja Cató-
de Monte Alto, também na Bahia. Em Minas Ge- lica, divulgada no dia 26/07/2020 e apoiada por
rais, trabalhadores da empreiteira Cobra Brasil, 1.543 sacerdotes em 05/08/2020. A carta afir-
em Jaboticatubas, a 60 km de Belo Horizonte, ma que o Brasil atravessa um dos períodos mais
estavam contaminados. A empresa que perten- difíceis de sua história, fruto da “combinação de
cente ao Consórcio Mantiqueira Transmissora uma crise de saúde sem precedentes, com um
de Energia S/A, do grupo Brookfield, instala li- avassalador colapso da economia e com a tensão
nhas de transmissão por vários municípios do que se abate sobre os fundamentos da Repúbli-
estado, inclusive o Vale das Cancelas, distrito de ca, provocada em grande medida pelo Presidente
Grão Mogol, no norte do estado, local em que os da República e outros setores da sociedade, re-
direitos territoriais tradicionais da comunidade sultando numa profunda crise política e de go-
geraizeira não estão sendo respeitados. vernança.” Completam os bispos que “não cabe
omissão, inércia e nem conivência diante dos
Na mineração, o quadro não é diferente. Núme- desmandos do Governo Federal”.
ros oficiais falam em 20.362 casos confirmados
e 152 mortes por Covid-19 em Parauapebas - No momento atual, até por razões humanitá-
PA até 05/08/2020, números superiores aos de rias, os esforços do Estado, das empresas e de
muitas capitais. A cidade, que se formou e cres- toda a sociedade devem priorizar a solidarieda-
ceu em função da mineradora Vale, enfrenta um de concreta com os cidadãos e cidadãs, famílias,
colapso no sistema de saúde que torna ainda comunidades e povos em situação de vulnera-
pior o quadro. A Vale, uma das três maiores mi- bilidade social, alimentar e sanitária. Ao cabo,
neradoras do mundo, campeã de doações para porém, impõe-se inexorável a questão: até quan-
combate à Covid-19 no Brasil, em competentes do nossa sociedade vai suportar a tragédia em
ações de marketing, não dispõe de outra forma andamento sem agir à altura exigida para uma
de apoio aos municípios que perderam valores mudança real?
da Compensação Financeira pela Exploração de
Recursos Minerais – CFEM. Num protesto de Goiânia, 13 de agosto de 2020.
rua, em maio, na cidade de Brumadinho – MG,
local da tragédia criminosa do rompimento da Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da
barragem de rejeitos da empresa, em janeiro de CPT.
269
NOTA PÚBLICA — CPT apoia a aprovação do
FUNDEB com o CAQ
A CPT – Comissão Pastoral da Terra, por meio escola” e “ VII – garantia de padrão de qualida-
de sua Diretoria e Coordenação Nacional Execu- de”. E um obstáculo decisivo às investidas de
tiva, junta-se à Campanha Nacional pelo Direito precarização e privatização de serviços públicos
à Educação pela aprovação integral, no Senado essenciais, como a educação, ameaçada de ter
Federal, do relatório do senador Flávio Arns à menos recursos que gastos militares em 2021.
PEC – Propostas de Emenda Constitucional no
26/2020, que estabelece o novo FUNDEB – Fun- Escolas rurais que precisam ser reabertas e re-
do de Manutenção e Desenvolvimento da Edu- qualificadas e iniciativas de Educação do Cam-
cação Básica e de Valorização dos Profissionais po precisam urgentemente ter do Estado, em to-
da Educação e constitucionaliza o CAQ – Custo dos os níveis, a atenção que merecem, em vista
Aluno-Qualidade, mecanismo que obriga o Esta-
de uma vida digna no campo, que promova a
do a garantir os insumos necessários para uma
educação pública universal de qualidade. agricultura familiar e camponesa, a produção
alimentar agroecológica e a proteção dos bens
Trata-se de uma chance histórica, mais que naturais, do que todos e todas dependemos cada
oportuna, de materializar, entre outros, dois dos vez mais.
princípios fundamentais da educação nacional
previstos na Constituição Federal de 1988, Art. Goiânia, 19 de agosto de 2020.
206: “I – igualdade de condições para o acesso e
permanência na Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da
CPT.
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
NOTA DE SOLIDARIEDADE
A Comissão Pastoral da Terra do Baixo Amazo- o nosso povo com honestidade, com justiça, com
nas se solidariza com os povos indígenas Sate- respeito. É isso, que nós indígenas Sateré-Mawé
ré-Mawé da Terra Indígena Andirá Marau, do queremos. Aqui não tem irregularidade e nem
município de Maués, com os tuxauas e demais abuso de poder e exigimos que as autoridades
lideranças indígenas que fiscalizam a entrada de competentes investiguem essa ação policial que
pessoas não indígena nas suas terras. No dia 1º houve na Terra Indígena Andirá Marau e venha
de agosto de 2020, por ocasião de uma assem- em nossa área ouvir o nosso povo”.
bleia dos povos indígenas na área, foram surpre-
endidos pela presença de um destacamento da A CPT do Baixo Amazonas esteve na região e
Polícia Militar do Estado do Amazonas altamen- pede apoio das autoridades, do Ministério Publi-
te armado – com fuzil, metralhadora, armas pe- co Federal e da impressa para que garantam a
sadas – justificando que estavam ali para averi- manutenção da Barreira Sanitária na sua terra
guar denúncia de abuso de autoridade e uso de para proteger os indígenas do Covid 19, da en-
arma de fogo na Barreira Sanitária que existe na trada de drogas e cachaça na área indígena.
entrada da Terra Indígena do povo Sateré-Mawé,
criada para proteger os indígenas da Pandemia Nós, da Comissão Pastoral da Terra do Baixo
do Covid 19. Amazonas, nos solidarizamos com as lideranças
indígenas que estão na linha de frente em de-
Segundo o subtenente responsável pela opera- fesa do povo indígena Sateré- Mawé e pedimos
ção, estavam ali para averiguar as referidas de- apoio das autoridades e da impressa nessa luta
núncias. Em resposta, as lideranças indígenas pela existência desse povo no seu território de
disseram que não havia necessidade de todo origem.
esse aparato policial e armamento de alto calibre
como se fossem para um combate contra “mar- Parintins (AM), 04 de setembro de 2020.
ginas”. As denúncias não procedem, “nós povos
indígenas da Terra Indígena Andirá Marau, que- Comissão Pastoral da Terra do Baixo Amazonas
remos que as autoridades cuidem e protejam
271
Entidades exigem ações concretas contra
violação de direitos humanos de indígenas
e comunidades tradicionais na região do rio
abacaxis
As entidades que abaixo-assinam o presente do- ça Pública e o Governo do Estado do Amazonas
cumento, preocupadas com a falta de garantias não demonstram qualquer disposição para in-
constitucionais, como as torturas e os assassi- vestigar e também não oferecem qualquer ga-
natos, de ribeirinhos e indígenas, entre os rios rantia de que trarão ao público a verdade, tendo
Abacaxis e Marimari, nos municípios de Borba em vista que as denúncias atingem inclusive o
e Nova Olinda no Norte (AM), bem como com a Secretário de Segurança e o Comandante Geral
falta de segurança em geral, e ante o posicio- da Polícia Militar, que ainda permanecem nos
namento da Secretaria de Segurança Pública do cargos de chefia.
Amazonas, manifestam que continuarão denun-
ciando o atual estado de violência instaurado Com a violação dos direitos e garantias funda-
na região dos conflitos junto às instâncias na- mentais previstos na legislação nacional e inter-
cionais e internacionais de defesa dos Direitos nacional, utilizada como meio de apuração e res-
Humanos. ponsabilização de investigados de crimes, não
se faz justiça. Ao contrário, permite que ações
Em clima crescente de abusos realizados por po- policiais se transformem em inaceitáveis atos de
liciais durante a ocupação da região onde ocor- vingança e injustiça.
reram os assassinatos dos policiais militares, as
entidades destacam a importância de que tais Nós, representantes das entidades queremos
ações respeitem os direitos individuais e coleti- que os responsáveis pelos assassinatos dos po-
vos das comunidades ribeirinhas e indígenas. liciais militares sejam punidos, com aplicação
da legislação penal brasileira. Todos os crimes
Nesta semana, com base na matéria divulgada devem ser elucidados. Portanto, também EXI-
à sociedade, o governo do Amazonas, por meio GIMOS DAS AUTORIDADES A APURAÇÃO E
da Secretaria de Segurança Pública, informou PUNIÇÃO DOS MANDANTES E EXECUTORES
que a Polícia Civil indiciou nove pessoas supos- DE RIBEIRINHOS E INDÍGENA MORTOS. Bem
tamente envolvidas na morte dos policiais mili- como a APURAÇÃO DAS TORTURAS E TODOS
tares. Estes fatos devem ser elucidados ante as OS OUTROS CRIMES COMETIDOS.
autoridades competentes, e em processos judi-
ciais determinados pela existência de um Estado Destacamos a relevante ação do Ministério Pú-
de Direito, pelo que exigimos sejam respeitados blico Federal, desde o início do conflito, que tem
todos os direitos processuais já reconhecidos no trabalhado com empenho pela proteção e garan-
ordenamento jurídico brasileiro. tia dos direitos fundamentais das comunidades
Munduruku, Maraguá e ribeirinhas. Sem essa
Contudo, na ação policial, violências foram co- atuação, os habitantes da região seguiriam invi-
metidas. Conforme relato de moradores de di- sibilizados à sombra do confronto, e a tragédia
versas comunidades Maraguá, Munduruku e do Abacaxis seria ainda maior. Nesse sentido,
ribeirinhas da região, casas foram invadidas repudiamos os ataques que vêm sendo direcio-
sem autorização judicial, ameaças de mortes nados ao MPF, numa tentativa de intimidação
foram feitas, torturas foram praticadas, corpos do seu papel nas investigações em curso.
de pessoas apareceram boiando no rio com pe-
dras amarradas nos pês e com marcas de tortu- Apoiamos a atuação dos/as Procuradores/as,
ra, crianças e outros inocentes foram feridos e Promotores/as, Defensores/as, Policiais que
a fome se instaurou com a impossibilidade dos atuam na apuração de mais este caso de extre-
moradores buscarem alimentos nas roças e nos ma violência policial no Amazonas e pedimos
rios. que NÃO recuem frente a uma parte apodreci-
da e doente de agentes públicos. NÃO recuem
Sobre essas violências, a Secretaria de Seguran- diante de parcela cruel da polícia que assassina
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
e tortura. NÃO recuem diante desse estado de 15. Comissão Pastoral da Terra Regional Rorai-
exceção que se instaurou no Estado do Amazo- ma
nas e se acoberta por trás do discurso de crimi-
nalização dos mais vulneráveis socialmente para 16. Comitê Estadual de Direito à Verdade, à Me-
mória e à Justiça do Amazonas.
justificar suas atrocidades.
17. Conselho do Laicato da Prelazia de Itacoa-
Por fim, exigimos a imediata exoneração do tiara
Secretário de Segurança Pública do Estado do
Amazonas e do Comandante Geral da Polícia Mi- 18. Conselho Indigenista Missionário - CIMI Re-
litar do Amazonas, para garantir que as investi- gional Norte I
gações cheguem aos reais autores das atrocida-
des praticadas e aos seus mandantes. 19. Conselho Nacional das Populações Extrati-
vistas - CNS
Manaus, 25 de setembro de 2020. 20. Frente Amazônica de Mobilização em Defesa
dos Direitos Indígenas - FAMDDI
1. Arquidiocese de Manaus
21. Fórum de Educação Escolar e Saúde Indíge-
2. Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio na do Amazonas - FOREEIA
Negro Residentes em Manaus -AMARN
22. Grupo de Pesquisa Dabukuri Planejamento
3. Associação dos Docentes da UFAM - ADUA e Gestão do Território na Amazônia
4. Casa da Cultura do Urubuí - CACUI 23. Jubileu Sul Brasil
5. Central Sindical Popular - CSP CONLUTAS 24. Mandato Popular do Deputado Federal José
Nacional Ricardo
6. Central CSP - Conlutas AM 25. Movimento dos Trabalhadores Cristãos
7. Centro Burnier Fé e Justiça - Cuiabá/ MT 26. Movimento Mulheres em Luta - AM
8. Centro de Promoção de Agentes de Transfor- 27. Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Edu-
mação - CEPAT - Curitiba/ PR cação Socioambiental - SARES
9. Coletivo Mulheres da Educação 28. Sindicato dos Advogados do estado de São
Paulo - SASP
10. Comissão de Defesa dos Direitos Humanos
de Parintins. 29. Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do
Petróleo PA/AM/MA/AP - SINDIPETRO
11. Comissão Pastoral da Terra Arquidiocesana
de Manaus 30. Pastorais Sociais da Arquidiocese de Santa-
rém
12. Comissão Pastoral da Terra - Prelazia de Ita-
coatiara 31. Prelazia Apostólica de Borba
13. Comissão Pastoral da Terra Regional Acre 32. União dos Povos Indígenas do Vale do Javari
- UNIVAJA
14. Comissão Pastoral da Terra Regional Ama-
zonas 33. Sindicato dos Sociólogos do Amazonas
273
NOTA PÚBLICA - Não à violência e à crimi-
nalização da luta pela terra!
No último dia 02 de outubro de 2020, lamen- criminosas às ações legítimas dos movimentos
tavelmente, dois policiais da Polícia Militar de sociais de luta pela terra.
Rondônia perderam suas vidas no distrito de
Mutum Paraná, localizado a 160 quilômetros de Diante da gravidade da situação, o momento é
Porto Velho (RO), próximo a área do Acampa- de extrema e necessária cautela, uma vez que os
mento Tiago dos Santos, vinculado a Liga dos conflitos agrários no campo brasileiro e rondo-
Camponeses Pobres (LCP). A Comissão Pastoral niense não cessaram, mesmo durante a quaren-
da Terra Regional Rondônia (CPT-RO) se solida- tena imposta pela pandemia da Covid-19, com
riza com os familiares dos dois policiais neste contágios e mortes que não cessam. Campone-
momento de dor. Ao mesmo tempo, salienta que ses, indígenas e demais povos da floresta conti-
não concorda com qualquer tipo de violência nuam sendo perseguidos e mortos. Uma situa-
e espera o esclarecimento dos fatos e a devida ção que pode tomar proporções ainda maiores,
identificação dos responsáveis. se alimentada por uma “sede de vingança”, que
nada mais é do que o ódio dominante histórico
O Acampamento Tiago dos Santos, segundo in- e atual da sociedade brasileira, neocapitalista
formações veiculadas pela LCP, é constituído por dominada pela necropolítica, difundida a partir
mais de 2 mil pessoas, entre homens, mulheres do Palácio do Planalto. Rondônia não pode ser,
e crianças, que lutam por uma porção da ter- mais uma vez, palco de um massacre vergonho-
ra pública, de mais de 57 mil hectares, grilada so, como há 25 anos, em Corumbiara, numa
pelo latifundiário Antônio Martins dos Santos, reintegração de posse pela PM que resultou na
também conhecido como “Galo Velho”, preso em morte de 12 sem-terra e muitos desaparecimen-
julho de 2020, na operação “Amicus Regem”, re- tos.
alizada pela Polícia Federal. Ele era o chefe da
organização criminosa especializada em grila- Para evitar que outro massacre aconteça, im-
gem e superfaturamento de terras, que atuou põe-se uma ágil apuração dos fatos e identifica-
em Rondônia, entre 2011 e 2015, e contava com ção dos autores dos crimes contra os PMs, para
a participação de empresários, advogados e ser- que sejam julgados e recebam a penalização ca-
vidores públicos, inclusive no judiciário federal. bível conforme a lei. Tal apuração, no entanto,
Tornou-se o maior grileiro de terras do Estado, deve ser feita de forma imparcial, sendo esse um
com área de 1 milhão de hectares em latifúndios trabalho da Polícia Civil, com atenção aos proto-
mantidos nos municípios de Cujubim, Machadi- colos de respeito aos direitos humanos, ouvin-
nho D’Oeste, Alto Paraíso e Porto Velho. do todos os implicados. Só assim teremos uma
apuração justa, com a individualização das con-
A CPT-RO vem denunciando, desde 2005, as dutas responsáveis, que não podem recair sobre
ações deste grileiro e a conivência e a impuni- o coletivo ou movimento social.
dade do judiciário. Para nós o crime de grilagem
de terras merece a devida apuração, seguida do Dos anos 2000 a 2020, a CPT registrou 107 ví-
retorno destas terras ao Estado para que este timas camponesas assassinadas em conflitos no
cumpra o seu dever legal de tutela sobre o patri- campo em Rondônia. Tais casos também me-
mônio público. Dever que é também destiná-las recem a devida apuração e identificação, julga-
à Reforma Agrária (art. 188 da CF/1988), demar- mento e punição de seus autores.
cação das terras indígenas (art. 231 da CF1988)
e titulação das terras de comunidades remanes- Mesmo não tendo a CPT-RO agentes pastorais
centes de quilombos (artigo 68 da ADTC). atuantes na área onde o fato ocorreu, nós nos
colocamos em sintonia com a Igreja Local, em
Advindas de imprensa reacionária e de organi- busca de soluções pacíficas e eficazes para que
zações ligadas a Polícia Militar, acusações, não possamos trilhar os caminhos da justiça social
confirmadas, de que integrantes do acampa- no campo.
mento ligado a LCP estavam entre os responsá-
veis pelas mortes dos PMs. Por meio de notas
de repúdio, matérias e áudios em redes sociais,
esses meios de comunicação escancaram seu Porto Velho, 07 de outubro de 2020.
objetivo: criminalizar a luta pela terra, estigma-
tizando como terroristas e criminosos movimen-
tos sociais e defensores dos Direitos Humanos. Comissão Pastoral da Terra - Regional Rondô-
O que se espera é que esse triste acontecimento nia
não fomente o equívoco de igualar essas ações
Conflitos
no 2020
Campo Brasil
Fontes de Pesquisa
CPTs Koinonia
Paróquias
Comissão Pastoral da Terra - AC Pastoral da Criança (Past da Criança)
Comissão Pastoral da Terra - AL Pastoral da Juventude Rural (PJR)
Comissão Pastoral da Terra - AM Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP)
Comissão Pastoral da Terra - AP Serviço Pastoral do Migrante (SPM)
Comissão Pastoral da Terra - AR/TO
Comissão Pastoral da Terra - BA
Comissão Pastoral da Terra - ES/RJ ONGs
Comissão Pastoral da Terra - GO
Comissão Pastoral da Terra - MA Ecoa - Ecologia e Ação
Comissão Pastoral da Terra - MG Greenpeace
Comissão Pastoral da Terra - MS Justiça nos Trilhos
Comissão Pastoral da Terra - MT Repórter Brasil
Comissão Pastoral da Terra - NE2 Terra de Direitos
Comissão Pastoral da Terra - PA
Comissão Pastoral da Terra - PB Outras Fontes
Comissão Pastoral da Terra - PE
Comissão Pastoral da Terra - PI 350.org
Comissão Pastoral da Terra - PR A Crítica de Campo Grande - MS - acritica.net
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Quilombolas DPU - Defensoria Pública da União
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