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I SEMINÁRIO NACIONAL: FAMÍLIA E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL - UFV

I SEMINÁRIO NACIONAL: FAMÍLIA E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL

GT 5 – FAMÍLIA, GERAÇÃO E TRABALHO

Famílias monoparentais: um enfoque demográfico a partir dos dados


da PNAD 2015
Leiliane Souza Bhering 1

Márcia Barroso Fontes 2


Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar o perfil dos domicílios monoparentais
brasileiros, no ano de 2015, a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios - PNAD. Para isso, examinam-se os dados da incidência das famílias
monoparentais femininas e masculinas, suas características de idade, número de filhos,
escolaridade, renda, entre outras. Os resultados indicam que a maioria dos domicílios
monoparentais ainda são chefiados pelas mulheres. Apesar de apresentarem mais anos de
estudo, a diferença de rendimento e de ocupação entre os sexos ainda persiste.

Palavras-chave: Famílias Monoparentais; Dados Demográficos; Arranjos Domiciliares

Abstract: This article aims to analyze the profile of single - parent Brazilian households, in
the year 2015, based on the microdata of the National Survey by Household Sample - PNAD.
For this, we examine data on the incidence of female and male single parent families, their
characteristics of age, number of children, schooling, income, among others. The results
indicate that most single-parent households are still headed by women. Although they have
more years of education, the difference in income and occupation between the sexes still
persists.
Key-words: Single Parent families; Demographic data; Home Arrangements

1. INTRODUÇÃO
A família é uma instituição muito antiga e foi (e vem) sofrendo diversas mudanças ao
longo do tempo, tanto em relação ao seu papel social quanto a suas funções internas referentes
a cada integrante (GIRALDI e WAIDEMAN, 2010). A cada período histórico as
transformações ocorridas na família estiveram relacionadas às transformações sociais,
culturais, econômicas e políticas.

1
Mestranda em Economia Doméstica pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Geógrafa. Viçosa, MG-
Brasil. E-mail: leilibhering@gmail.com
2
Doutora em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora do Departamento de Economia
Doméstica da Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG, Brasil. E-mail: marciabfontes@gmail.com

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Entende-se que há sempre uma desconstrução das tradições e alteração das


mentalidades, que sempre estão modificando as forças normativas de padrões hegemônicos
presentes na família. Assim, esse movimento de transformações permite pensar na ampliação
das configurações familiares existente em nossa sociedade.

Nessa perspectiva, falar da família na contemporaneidade requer o reconhecimento de


tais transformações atreladas a sua pluralidade de formas, a partir de diversos contextos e
condições distintas. Para Trad (2010, p.108), “a família contemporânea se caracteriza pela
multiplicidade na sua composição e dinâmica relacional”.

Para tanto, entende-se que a família monoparental é uma realidade concreta posta pela
própria sociedade e vem sendo organizada e assumida por homens e mulheres, de diferentes
classes sociais, que se responsabilizam integralmente pelos cuidados dos seus filhos. De
acordo com Sousa (2008, p. 14), “por questões históricas e culturais, na maioria dos casos, as
mulheres detêm a guarda da prole, contudo, a incidência de homens que obtém a
responsabilidade total dos descendentes torna um acontecimento mais comum na
contemporaneidade”.

Pode-se dizer que “a família monoparental da atualidade é uma das representantes da


família contemporânea, não por sua singularidade ou vanguardismo e sim porque se apresenta
legitimamente à sociedade como uma alternativa viável de vida familiar” (VERZA,
SATTLER e STREY, 2015, p. 47).

Nesse sentido, usaremos os dados demográficos da Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios - PNAD 2015, para analisar a estrutura familiar monoparental brasileira, ou seja,
arranjos que não há a presença do cônjuge.

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar aspectos da estrutura familiar


monoparental de responsabilidade feminina e masculina, mostrando as principais diferenças
entre elas em relação às características de educação, trabalho, rendimento, entre outras. Para
isso, esse trabalho está organizado por esta introdução, a segunda parte apresenta um
levantamento bibliográfico sobre a família monoparental, a terceira parte apresenta a
metodologia utilizada, na quarta parte é realizada uma análise descritiva dos dados da PNAD
2015 e por fim, na última parte, estão as considerações finais.

2. FAMÍLIA MONOPARENTAL: UMA REALIDADE EM EXPANSÃO

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A terminologia “família monoparental” surge na França a partir de um estudo


realizado pelo em 1981 pelo Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos
(INSEE) 3, e a partir de então, o conceito se espalha por toda a Europa (SOUZA, 2008).

A monoparentalidade não deve ser observada como um fenômeno novo no ocidente,


pois, ela sempre existiu. “Sempre existiram pessoas que criaram e educaram seus filhos
sozinhas, no entanto, a partir dos anos 60, ocorreu um aumento considerável de divórcios e
este tipo familiar saltou aos olhos da sociedade” (SANTOS e SANTOS, 2009, p.8). Na
sociedade brasileira a família monoparental tem ganhado cada vez mais expressividade e
visibilidade.

Para Alves e Cavenaghi (2012) a primeira grande mudança na família brasileira, de


acordo com o Censo Demográfico de 2010, foi a redução do arranjo majoritário formado por
casais com filhos. Em números aproximados, esse tipo de família estava presente em cerca de
dois terços (66%) dos domicílios, em 1980, mas caiu para algo próximo de 50% em 2010.
“Ou seja, o tipo de arranjo familiar que sempre foi hegemônico na sociedade brasileira está
prestes a perder a maioria absoluta e a tendência é continuar perdendo participação relativa no
conjunto dos arranjos familiares” (ALVES e CAVENAGHI, 2012, p.26). Essas mudanças
estão relacionadas ao aumento da esperança de vida associado à queda das taxas de
fecundidade e também ao aumento do número de separações.

A segunda mudança, que de certa forma complementa a primeira, foi o aumento do


arranjo formado por casais sem filhos e sem outros parentes, que passou de 12% em 1980
para 15% em 2010. Esse arranjo reúne os casais que não tiveram filhos com aqueles que os
filhos já cresceram e saíram de casa (ninho vazio).

O aumento dos arranjos monoparentais também ganhou destaque nessa análise. A


terceira alteração foi o aumento do arranjo monoparental feminino, que passou de 11,5% em
1980 para 15, 5% em 2010. O arranjo monoparental masculino, ainda que de uma base menor,
passou de 0,8% em 1980 para 2,2% em 2010.

Percebe-se com tais dados, que hoje, a monoparentalidade é efetivada e pode ser
conhecida a partir do momento que um dos pais convive com seus filhos. Ela pode ser
desencadeada por diferente motivos, entre eles o aumento da incidência de divórcio, a viuvez,

3
O L’Institut national de la statistique et des études économiques (INSEE), produz, analisa e divulga
informações sobre a economia e a sociedade francesa. É semelhante ao Instituto Brasileiro de Geografia
Estatística (IBGE) no Brasil.

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o abandono, adoção ou por mudanças de valores sociais em relação ao casamento, o


que evidencia a monoparentalidade por uma questão de opção.

A expressividade das famílias monoparentais como um fenômeno social da


contemporaneidade, entre as outras formas familiares, “desencadeia questionamentos que
levam inclusive a ordem jurídica a reconsiderar o parâmetro tradicional de família; com isso,
progressivamente tais famílias conquistam legitimidade” (SOUSA, 2008, p.40).

A família monoparental é conhecida como entidade familiar pela Constituição Federal


Brasileira de 1988, no seu artigo 226, §4º. Em que, “entende-se, também, como entidade
familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.

Compreende-se a importância dessa positivação, pois, através dela a família


monoparental ganhou a “especial proteção do Estado” (SANTOS e SANTOS, 2009). Assim,
o conceito de família, que antes era restrita ao casamento, foi ampliado para abarcar a família
monoparental.

Outra questão levantada refere-se a guarda dos filhos. Embora há uma parcela
considerável de homens que requerem a responsabilidade integral dos filhos, na maioria das
vezes, a prole fica sob tutela da mulher.

A ideia materna de cuidado inato ainda é muito forte no imaginário social, ou seja, as
crianças ou os adolescentes vivem melhores com a mãe. Isso explica a expressividade das
famílias monoparentais femininas constituídas após o divórcio ou separação judicial (LEITE,
1997).

A realidade das famílias monoparentais femininas, apesar de não ser algo novo, tem
sido a mais expressiva. Por isso, para entender a complexidade acerca destas é preciso ir além
dos dados demográficos. Essas famílias precisam ser vistas como um resultado de um
conjunto de fatores econômicos, culturais e sociais que influenciam diretamente na trajetória
dessas mulheres, fazendo com que essa chefia tenha múltiplos significados, como: a situação
da mulher solteira, viúva, separada com filhos, ou encontrar-se nessa mesma condição e ainda
estar vivendo com parente e outros agregados (MACÊDO, 2007).

Em relação à monoparentalidade masculina, se comparamos o percentual com a


feminina, proporcionalmente ela é bem menor. No entanto, evidencia-se que muitos homens
estão quebrando padrões de gênero relacionados ao convívio familiar, às novas formas de
exercer a paternidade, sobretudo, com os cuidados dos filhos.

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Nesse sentido, aumenta cada vez mais o número de pais que recorrem à justiça
solicitando a guarda dos filhos e assumem sozinhos a responsabilidade de criarem os filhos.
Assim, a tarefa de conciliar trabalho e família pode ser vista como uma mudança social
simbólica e de gênero, da vida familiar do homem.

Assim, compreender a famílias monoparentais, seja ela feminina ou masculina, é de


fundamental importância para entender que a família está em permanente transformação. Seja
reformulando novas formas de organização, de relacionamento, das relações de gênero, ou do
papel de cada um de seus membros. Por isso, julga-se relevante um maior entendimento sobre
as famílias monoparentais em nossa sociedade.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho utiliza a base de dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), do ano de 2015. A PNAD é uma pesquisa que produz informações contínuas
para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do país, a partir de um sistema de
pesquisas por amostra de domicílios que investiga diversas características socioeconômicas e
demográficas (PNAD, 2016). Elegeu-se a PNAD deste ano por obter as informações mais
recente até então divulgadas.

Assim, as variáveis selecionadas para este trabalho foram: sexo (masculino e


feminino); Condição da unidade doméstica (definida como pessoa de referência, cônjuge,
filho, outro parente, agregado, pensionista, empregado doméstico e parente do empregado
doméstico); Idade (definida como a idade dos responsáveis pelos domicílios e dos filhos);
Idade (calculada com base no ano de nascimento e medida em anos completos); Escolaridade
do responsável pelo domicílio (definidas pelos anos de estudo que variam de 1 a 15 anos ou
mais); Grupamento de atividades (definida por Agrícola, construção, comércio e reparação,
administração pública, serviços domésticos, entre outros); Rendimento mensal domiciliar para
todas as pessoas.

A partir dessas variáveis optou-se por uma análise descritiva com os dados
secundários da PNAD 2015. A extração dos dados e todo o processo de tratamento e análise
foram feitos por meio do programa estatístico STATA – Data Analysis and Statistical
Software, versão 12.0.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

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Segundo os dados da PNAD, a população residente no Brasil foi estimada em


204,9 milhões de pessoas em 2015. Comparando com o ano de 2014, houve um crescimento
de 0,8%, o que representou um aumento de 1,7 milhões de pessoas.

No que se refere a distribuição da população segundo o tipo de domicílio, a PNAD


pesquisou 356.904 pessoas, presentes em diferentes tipos de domicílios. Desse total, verifica-
se que os domicílios monoparentais foram representados por 36.578 pessoas, 10,25% em
relação aos demais.

Esta relação pode ser constatada na Tabela 1, a qual apresenta os tipos de domicílios
particulares de acordo com as possibilidades de arranjos domiciliares existente no Brasil. Esta
classificação é feita pelo IBGE e pode ser entendida como: Unipessoal, Casal sem filho, Casal
com filhos, Família estendida, Domicílio Composto e Outros.
Tabela 1 - Distribuição da População segundo o Tipo de Domicílio, PNAD 2015

Tipo Frequência %
Outros 12 0,00%
Unipessoal 17.756 4,98%
Casal sem Filhos 37.024 10,37%
Casal com Filhos 162.886 45,64%
Monoparental 36.578 10,25%
Família Estendida 93.938 26,32%
Domicílio Composto 8.710 2,44%
TOTAL 356.904 100,00%
Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE - 2015

Conforme análise da Tabela 1, a maioria das pessoas (45, 64%) está presente em
unidades domésticas formadas por casal com filho, e a menor proporção (2,44%) está presente
em domicílios composto, ou seja, família que reside com pessoas sem laços de sangue.

No que se se refere à família, a PNAD 2015, “considerou-se o conjunto de pessoas


ligadas por laços de parentescos, dependência doméstica ou normas de convivência, que
residissem na mesma unidade domiciliar e, também, a pessoa que morasse só em uma unidade
domiciliar” (PNAD, 2016, p.15) 4.

4
Entendeu-se por dependência doméstica a relação estabelecida entre a pessoa de referência e os empregados
domésticos e agregados da família, e por normas de convivência as regras estabelecidas para o convívio de
pessoas que morassem juntas sem estarem ligadas por laços de parentesco ou dependência doméstica. Definiram-
se como famílias conviventes aquelas constituídas por, no mínimo, duas pessoas cada uma, que residissem na
mesma unidade domiciliar (PNAD, 2016, p.15).

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Vale esclarecer, que para operacionalizar o conceito de família, os institutos de


pesquisa, como o IBGE, restringem o escopo de família ao grupo domiciliar. Ou seja, “o
alcance máximo de uma família vai até os limites físicos da moradia” (ALVES, “s.d.”).
Assim, difere-se do conceito sociológico de família, em que os laços familiares extrapolam o
domicílio.

Nesse sentido, no que se refere aos arranjos familiares residentes em domicílios


particulares, os domicílios monoparentais representam 13.866, o que corresponde a 11, 76%
do total de domicílios do país. Como mostra a Tabela 2, o número de domicílios de casal com
filhos ainda é superior, e corresponde a 43.154 domicílios, o que corresponde 36.59 %.
Tabela 2 - Distribuição dos domicílios segundo o tipo de domicilio

Tipo Frequência %
Outros 12 0,01%
Unipessoal 17.756 15,06%
Casal sem Filhos 18.521 15,70%
Casal com Filhos 43.154 36,59%
Monoparental 13.866 11,76%
Família Estendida 22.552 19,12%
Domicílio Composto 2.078 1,76%
Total 117.939 100,00%
Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE - 2015

Conforme os dados da Tabela 2, 13.866 domicílios são monoparentais. Destes, os


domicílios monoparentais femininos totalizam 12.114, representando cerca de 87,36% do
total de famílias monoparentais. Já o número de domicílios monoparentais masculinos é de
1.752 pessoas, cerca de 12,63% do total. Em relação à idade dos responsáveis o maior
percentual está na faixa de 40 a 44 anos para os domicílios monoparentais femininos e entre
os masculinos, a faixa de idade é de 50 a 54, como mostra o Gráfico 1.
Gráfico 1 – Distribuição dos domicílios monoparentais por sexo e grupo de idade

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15,00%
Pessoa de Referência
Homem Mulher
10,00%

5,00%

0,00%

Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE - 2015


No que tange às famílias monoparentais e o número de filhos menores que 16 anos,
verifica-se que a maior proporção (27,10%) possui um filho. Seguido de domicílios que
possuem dois filhos (13,02%). No entanto, verifica-se um maior número de domicílios com
filhos acima de 16 anos (53,56%).

Esses dados são apresentados na Tabela 3, inclusive, pela divisão entre domicílios
monoparentais femininos e masculinos. É interessante destacar a idade dos filhos com até 16
anos, pois, a partir dessa idade já existe a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho e
também já ter terminado o ensino fundamental. Essa situação é de extrema importância para
se analisar a renda total do domicílio monoparental, pois, com a ajuda financeira dos filhos as
famílias estariam menos vulneráveis às dificuldades econômicas, diferente daquelas em que
os filhos ainda são crianças e possui apenas uma pessoa como principal provedora da renda
familiar.
Tabela 3 - Distribuição dos domicílios monoparentais por número de filhos e por
sexo
TOTAL DOS DOMICILIOS
Homem Mulher
Número de Filhos MONOPARENTAIS
Frequência % Frequência % (dos homens) % (do Total) Frequência % (das mulheres) % (do Total)
0* 7426 53,56% 1015 57,93% 7,32% 6411 52,92% 46,24%
1 3758 27,10% 514 29,34% 3,71% 3244 26,78% 23,40%
2 1805 13,02% 155 8,85% 1,12% 1650 13,62% 11,90%
3 631 4,55% 52 2,97% 0,38% 579 4,78% 4,18%
4 171 1,23% 12 0,68% 0,09% 159 1,31% 1,15%
5 53 0,38% 3 0,17% 0,02% 50 0,41% 0,36%
6 18 0,13% 1 0,06% 0,01% 17 0,14% 0,12%
7 3 0,02% - - - 3 0,02% 0,02%
8 1 0,01% - - - 1 0,01% 0,01%
Total 13866 100,00% 1752 100,00% 12,64% 12114 100,00% 87,36%
* domicílios com filhos maiores que 16 anos
Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2015

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Em relação aos rendimentos das famílias monoparentais, verificou-se que a


renda média dos domicílios investigados é de R$ 1.018,74. Considerando os domicílios
monoparentais masculinos, a renda média domiciliar é de R$ 2.070,56 e dos domicílios
monoparentais femininos é de R$ 1.479,44. Os dados evidenciam que ainda existe uma
grande desigualdade de gênero quanto ao rendimento entre homens e mulheres. Isso pode ser
explicado em grande medida, por uma inserção diferenciada por sexo no mercado de trabalho,
por uma maior presença feminina em ocupações precárias, de baixa qualificação, pouca
formalizada, entre outros aspectos sociais que dificultam o desenvolvimento das mulheres no
mercado de trabalho.

Nesse sentido, a escolaridade dos responsáveis dos domicílios monoparentais é um


fator importante para a geração de renda e pelo desenvolvimento dessas famílias. A Tabela 4
apresenta os anos de escolaridade dos responsáveis pelos domicílios e mostra que os anos de
estudo das mulheres é maior do que dos homens. Para as famílias monoparentais femininas, a
maior proporção, 29,17%, tem 5 anos de estudo, enquanto a maior proporção das famílias
monoparentais masculinas, 26,54%, possuem 3 anos de estudo.

Tabela 4 – Anos de estudo em percentual das famílias Monoparentais por sexo


Homem Mulher
Anos de estudo
Frequência % Frequência %
1 301 17,18% 1.431 11,81%
2 227 12,96% 1.098 9,06%
3 465 26,54% 2.763 22,81%
4 229 13,07% 1.930 15,93%
5 375 21,40% 3.534 29,17%
6 154 8,79% 1.337 11,04%
7 1 0,06% 21 0,17%
Total 1.752 100,00% 12.114 100,00%
Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2015

No que tange ao trabalho principal, observa-se no Gráfico 2, que entre as famílias


monoparentais masculinas, o maior percentual pode ser representado pela atividade da
construção (18,27%) seguido pelo comércio e reparação (18,52%). As atividades das famílias
monoparentais femininas apresentam maior percentual nos serviços domésticos (22,89%) e
Educação, saúde e serviços sociais (18,02%).

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Gráfico 2 – Grupamento do trabalho principal da semana de referência dos


domicílios monoparentais por sexo

25,00%

20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%

Pessoa de Referência:
Homem Mulher
Fonte: Elaboração própria, a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2015

Observa-se que os serviços domésticos ainda é uma atividade com maior ocupação
feminina. Como bem salientou Bruschini (2007), o emprego doméstico remunerado tornou-se
um nicho ocupacional por excelência e se configura como uma grande oportunidade de
trabalho para milhões de mulheres. No entanto, ainda revela a informalidade, a precariedade
na ocupação, baixos salários, longas jornadas de trabalho, entre outros aspectos negativos.

Portanto, ao verificar os dados apresentados, as mulheres ainda são a grande maioria


como pessoa de referência nas famílias monoparentais. Apesar de apresentarem mais anos de
estudo, continuam recebendo menos que os homens. Supõe-se que elas têm menores salários
por estarem mais presentes em trabalhos mais precários e com remuneração baixa, como os
serviços domésticos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou aspectos de famílias monoparentais femininas e masculinas a
partir da PNAD 2015. Os resultados apresentados evidenciam mudanças na família brasileira
em termos demográficos e indicam grandes desafios para entender a complexidade e a
diversidade das relações familiares.

As famílias monoparentais vêm ganhando visibilidade diante dos outros tipos de


arranjos domiciliares. E não só pelos números apresentados nas pesquisas, mas também pelo
interesse que tem gerado em especialistas de diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido,

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a monoparentalidade, como fenômeno da sociedade contemporânea, deve instigar


trabalhos sociais, econômicos, psicológicos, jurídicos, entre outros.

Assim, observou-se com os dados apresentados, que as famílias monoparentais


femininas representam o maior número dos domicílios investigados. Em relação aos filhos, a
maior parte dos domicílios monoparentais femininos está representado pela presença de uma
ou duas crianças menores do que 16 anos. Esse fato evidencia uma quebra de paradigmas em
relação à mudança de gênero na manutenção da família.

De forma sucinta, pode-se dizer que as mulheres tidas como pessoa de referência,
possuem mais anos de estudos do que os homens que estão nessa mesma condição, e são mais
novas. No entanto, se tratando do mercado de trabalho, observou-se que as famílias
monoparentais masculinas possuem maior rendimento do que as femininas. Atrelada a essa
questão, evidenciou-se que o maior percentual das atividades das famílias monoparentais
femininas está associado aos serviços domésticos. Assim, tanto o rendimento quanto o tipo de
ocupação, evidencia que as relações de gênero constroem valores diferentes para homens e
mulheres no mercado de trabalho.

Por fim, espera-se que os dados apresentados neste trabalho abram caminho para
discutir conceitos específicos e mais profundos sobre o desenvolvimento (social, econômico,
psicológico) da família monoparental feminina e masculina.

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