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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:


FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

São Paulo
2008
UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:


FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade


Presbiteriana Mackenzie, como um dos
requisitos para obtenção do título de mestre no
curso de pós-graduação em Ciências da
Religião.

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Mello Costa De Liberal

São Paulo
2008
UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:


FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade


Presbiteriana Mackenzie, como um dos
requisitos para obtenção do título de mestre no
curso de pós-graduação em Ciências da
Religião.

Aprovada em ________ de _______________ de 2009

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Márcia Mello Costa De Liberal


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro


Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Roberto de Camargo


Pontifícia Universidade Católica – PUCSP
Dedicatória

À minha esposa, Eliane Aparecida Matheus


Crivelari, mais que um braço direito em minha
vida, e aos meus filhos Léa Matheus Crivelari,
Rúben Matheus Crivelari e Lívia Matheus
Crivelari, que completam minha felicidade, pois,
sem eles minha vida seria vazia.

À minha cunhada Maria Rosa Matheus, pessoa


de quilate imensurável que ajudou em minha
estada em São Paulo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que me sustentou até aqui, pois, dEle


procede toda vida e inteligência dando-me capacidade para concluir este Curso de
Mestrado.
À UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie, que pela história marcante
que tem em nosso país proporcionou-me uma bolsa de estudos viabilizando minha
conclusão no Curso de Mestrado em Ciências da Religião.
À Professora e Doutora Márcia Mello Casta De Liberal, uma profissional de
alto gabarito que tem demonstrado pelo trabalho que exerce junto à Universidade
Mackenzie (pessoa que é impossível não ter afeto após a primeira conversa), pelos
profícuos conselhos dados e pela amizade, minha eterna gratidão por ter sido minha
orientadora.
À Igreja Presbiteriana Filadélfia de Ribeirão Preto, que entendeu meu desejo
de dar um passo a mais em minha vida acadêmica. Permitiu que subisse nas costas
de um gigante para enxergar mais longe.
Ao Reverendo, Mestre e amigo Silas Daniel dos Santos que me incentivou e
apoiou a realizar o Curso de Mestrado em Ciências da Religião. Sem seu apoio não
poderia escrever tal agradecimento. “Vosso caráter é o resultado do vosso
procedimento” (Aristóteles).
Ao Tenente Coronel Capelão do Exército Brasileiro Walter Pereira Mello,
subchefe do SAREx no Comando Militar do Planalto, Brasília-DF, permitindo-me
acompanhá-lo em visitas aos quartéis, reuniões e, especialmente, no encontro com
o Chefe do SAREx o Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto. Um
comandante a serviço do general Jesus Cristo. Um Capelão digno da insígnia que
leva na farda.
Ao Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto que me recebeu para uma
entrevista de forma cordial.
À minha família, Eliane, Léa, Rúben e Lívia, que me auxiliaram em todos os
momentos, compreendendo a importância deste passo dado, não medindo esforços
para que pudéssemos chegar até o final do Mestrado. E você, Rosa, que me
acolheu em seu lar, me auxiliando de todas as maneiras para a conclusão do Curso.
“Imolando-se pela pátria, adquiriram uma glória
imortal e tiveram soberbo mausoléu, não na
sepultura em que repousam, mas na lembrança
sempre viva de seus feitos. Os homens ilustres
têm como túmulo a terra inteira”.

Péricles
RESUMO

Este trabalho visa investigar o trabalho do capelão Militar junto ao Exército


Brasileiro. Este ministério pode ser visto desde a chegada dos portugueses ao Brasil
e com o passar do tempo ele amadurece chegando hoje como uma estruturação
bem desenvolvida em que fica patente que é um trabalho conspícuo nas mãos de
homens que têm o interesse em apoiar espiritual e emocionalmente os militares bem
como suas famílias. O trabalho religioso é de vital importância dentro da vida militar,
pois, possibilitará ao soldado ter uma vida mais equilibrada. Percebe-se no decorrer
desta obra que, além do trabalho realizado pela Igreja Católica Romana, tem-se
realizado um ótimo trabalho pelos capelães Evangélicos, pois, segundo estatísticas
levantadas o número de soldados evangélicos vem crescendo de forma acentuada.
Esta pesquisa consta de partes de entrevistas feitas com dois capelães do Exército
Brasileiro, um padre e um pastor que mencionarão o gigantesco trabalho exercido
nesta Força Armada. O Capelão é vital na consolidação do Exército Brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Capelão, Capelania Militar, Exército Brasileiro, Assistência


Religiosa.
ABSTRACT

This work aims to investigate the military chaplain’s work in the Brazilian Army.
This ministry has been seen since the Portuguese arrival to Brazil and as the time
pass it ripens and became a well developed structure. It is obvious that it has a
conspicuous work in the men’s hands who have the interest in giving spiritual and
emotional support to the militaries as well as to their families. The religious work has
a vital importance in military life since the soldier will have the chance to have a more
balanced life. We can also realize through this work that besides the job carried out
by the Catholic Roman Church, a great job has been done by the Evangelical
chaplains. According to the statistics, the number of evangelical soldiers has been
growing in an outstanding way. This research is based on parts of interviews with two
Brazilian Army chaplains, a priest and a pastor who will mention the gigantic work
done in this Army. The chaplain is vital in the consolidation of Brazilian Army.

KEY WORDS: Chaplain, Chaplain, Brazilian Army, Religious Assistance.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1 – Símbolo do Exército Brasileiro .................................................................19

Figura 2 – Frei Orlando – Patrono do SAREx ...........................................................23

Figura 3 – Frei Orlando ministrando a Comunhão em pleno Front ...........................24

Figura 4 – Frei Orlando Pregando .............................................................................24

Figura 5 – Fragmento do quadro "A Primeira Missa no Brasil" .................................33

Figura 7 – Pastor João Filson Soren – Capelão Evangélico .....................................39

Figuras 8 e 9 – Distintivos dos Capelães...................................................................43

Figuras 10 e 11 – Visita do Ten. Coronel Capelão Walter Mello ao 1º RCGd –


Regimento de Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência) – DF ...................79

Figuras 12 e 13 – Instrução Religiosa Ten.Cel. Capelão Walter Mello Guarda


(Dragões da Independência) – Brasília – DF.............................................................79

Figuras 14 e 15 – UMCEB – União de Militares Cristãos Evangélicos .....................80

Figuras 16 e 17 – Grupo de Senhoras da I.Presbiteriana Nacional de Brasília ........80

Figuras 18 e 19 – Cel. Capelão Antonio Emídio Gomes Neto Chefe do SAREx ......84

Figuras 20 e 21 – Templo Ecumênico do Soldado – Brasília-DF ..............................90

Figura 22 – Cel. Cap. Antonio Emídio Gomes Neto e Ten. Cel. Cap. Walter Mello ..91

Figura 23 – Ten. Cel. Capl. Walter Mello e mestrando Ubiratan Nelson Crivelari.....94
QUADROS

Quadro 1 – Hierarquia do Exército Brasileiro ............................................................19


Quadro 2 – Requisitos – Quadro de Capelães Militares (Capelão Temporário) .......45
Quadro 3 – Requisitos – Quadro de Capelães Militares (Capelão Militar de
Carreira).....................................................................................................................46
Quadro 4 – Temas utilizados para as atividades de Instrução Religiosa ................. 50
Quadro 5 – Estrutura do SAREx .............................................................................. 51
Quadro 6 – Censo Religioso do SAREx ................................................................... 55
Quadro 7 – Crescimento Evangélico no Brasil ......................................................... 55
ABREVIATURAS

11º RI: Décimo Primeiro Regimento de Infantaria


1º RCGd: Primeiro Regimento de Cavalaria de Guarda
Asp: Aspirante
Capl: Capelão
Cel: Coronel
CMA: Comando da Amazônia
CML: Comando do Leste
CMNE: Comando do Nordeste
CMO: Comando do Oeste
CMP: Comando do planalto
CMS: Comando do Sul
CMSE: Comando do Sudeste
Cmt Mil A: Comandante Militar da Área
DEP: Departamento de Ensino e Pesquisa
EDIPE: Enciclopédia Didática de informação e Pesquisa Educacional
EIA: Estágio de Instrução e Adaptação
EME: Estado Maior do Exército
EsPCEx: Escola de Preparação de Cadetes do Exército
FEB: Força Expedicionária Brasileira
FFAA: Forças Armadas
MG: Minas Gerais
OM: Organização Militar
QCM: Quadro de Capelães Militares
SAREx: Serviço de Assistência religiosa do Exército
Ten. Coronel: Tenente Coronel
TO: Tocantins
UMCEB: União de Militares Cristãos do Brasil
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................13
1. O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA SOBRE A CAPELANIA MILITAR .....................17
1.1. O Patrono da Assistência Religiosa do Exército Brasileiro......................................20
1.2. A Assistência Religiosa Dentro da História do Exército Brasileiro...........................25
1.3. A Assistência Religiosa na História do Exército Brasileiro a Partir de 1939 ..........266
2. A CAPELANIA MILITAR E SUA ESTRUTURA ........................................................29
2.1. A Capelania Militar ..................................................................................................29
2.1.1. A Legislação Brasileira .........................................................................................29
2.1.2. A Capelania Militar Católica .................................................................................30
2.1.3. A Capelania Militar Evangélica.............................................................................35
2.1.4. Processo Seletivo do Capelão .............................................................................44
2.1.5. O que é SAREx e qual sua finalidade ................................................................466
2.1.6. Sobre a Instrução Religiosa .................................................................................49
2.1.7. A Estrutura Organizacional do SAREx .................................................................50
2.1.8. Um Pouco de Estatística ......................................................................................53
3. O MINISTÉRIO PASTORAL DO CAPELÃO .............................................................58
3.1. O Capelão Como Modelo ........................................................................................58
3.2. O Psicoterapeuta Verde-Oliva.................................................................................62
3.2.1. Drogas e Álcool ....................................................................................................64
3.2.2. Doença .................................................................................................................66
3.2.3 A Morte..................................................................................................................71
3.2.4 O cuidado consigo mesmo, a saúde do psicoteraupa verde-oliva ........................78
4. A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA RELIGIÃO ...................................................83
4.1. A Ética do Capelão..................................................................................................83
4.2. A Importância da Religião .......................................................................................84
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................92
REFERÊNCIAS..............................................................................................................96
ANEXOS ........................................................................................................................99
13

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre a importância que o capelão
tem dentro do Exército Brasileiro. No decorrer de sua explanação demonstrar-se-á
que o capelão não é apenas um militar, com sua patente e evolução dentro da
hierarquia, mas alguém que tem um papel fundamental para consolidar a opção do
soldado em ser um militar melhor como também firmar a fé em Deus.

Pela historicidade da matéria que é muito ampla, a presença do capelão


sempre foi notória entre os exércitos bem como oferecendo auxílio em hospitais,
enfermos e famílias. A presença do capelão no Brasil tem início com a chegada dos
portugueses em 22 de abril de 1500, pois, junto com Pedro Álvares Cabral vieram os
padres representantes da Igreja Católica e de Deus para abençoar a viagem, bem
como, as futuras terras que seriam descobertas. A missa oficial em terras brasileiras
se deu no dia 1 de maio do mesmo ano.

Pela imensidão do território brasileiro foi necessário formar um exército para


proteger a colônia de invasores. No século XVII, pela primeira vez mobilizou-se
grandes efetivos no país e, particularmente, começou a haver um sentimento de
defesa nacional, independentemente, da influência da coroa. A primeira Batalha de
Guararapes (19 de abril de 1648) marca o início da organização do exército como
força genuinamente brasileira e, no decorrer da história, as forças de defesas foram
apoiadas pela Igreja Católica.

Após um bom desenvolvimento do Exército Brasileiro surgindo praticamente


na época do Brasil Colônia, passando pela época do imperio até aos dias de hoje
onde pode-se observar uma estrutura muito bem organizada em todas as áreas. A
presença do capelão é de suma relevância, além do auxilio pretado na área religiosa
a social não fica aquem, visto ser um homem capaz de gerar amizades e influenciar
a irmandade dentro das Forças Armadas.
14

A presente dissertação responderá a problematização central da pesquisa: Há


relevância no trabalho exercido pelo capelão dentro do EB? A visão de vida e o
preparo teológico somados à preparação militar chegar-se-á a conclusão de que no
corpo do Exército Brasileiro sem a figura do capelão o mesmo ficaria sem um de
seus membros caso a Capelania não existisse.

A pesquisa contribuirá de forma positiva, relatando a importância dos


capelães dentro do Exército Brasileiro. Na verdade, muito pouco se sabe sobre a
importância deste trabalho visto não ser divulgado na sociedade. Após a divulgação
crê-se poder despertar não só a curiosidade mas, também, criar interesse em
pessoas habilitadas e capacitadas a concorrer pela Capelania dentro desta Arma.

Num mundo de tantas tragédias, guerras e instabilidade social, os soldados


se vêem numa situação em que não só a área moral, mas também espiritual se
encontram desgastadas. É imprescindível para as Forças Armadas, especialmente
para o Exército Brasileiro, possuir um grupo de soldados não só preparados para a
guerra, mas também fortalecidos espiritualmente. Estar preparado para a guerra e
suas conseqüências é uma situação, estar preparado espiritualmente para encarar
tanto a vida como a morte, é outra.

Neste trabalho observar-se-á que a Capelania consiste em preparar o homem


a ter uma vida moral decente, proporcionando-lhe o entendimento do que é ser um
soldado melhor e espiritualmente fortalecido para não temer a vida e o que ela
poderá gerar em sua alma. Se o espírito do soldado for forte, a sua motivação e
desempenho aumentarão consideravelmente.

Capelania é o trabalho que pode ser realizado em hospitais, asilos, orfanatos,


fábricas e empresas. O capelão visita hospitais, enfermos, sejam eles militares ou
seus familiares, oferece apoio espiritual e religioso ostensivo nas campanhas
militares e em treinamentos para todos os níveis, fortalecendo as almas para que os
mesmos sejam homens de verdade e que estejam espiritualmente preparados para
tratar com qualquer problema que lhe sobrevenha, seja ele no campo de batalha ou
na vida cotidiana.
15

Ao longo da história muitas cortes e famílias nobres tiveram também o seu


capelão. O apoio religioso concedido ao ser humano através do capelão, somados
ao tratamento psicológico, conduzirá o soldado a uma vida bem mais preparada seja
ele atuando numa guerra bem como participando de uma tropa de elite em tempos
de crises dentro do próprio país. Uma vitória em campo de batalha não dependerá
somente de armas e preparos, mas de homens totalmente equilibrados.

O procedimento utilizado para o desenvolvimento do trabalho discorreu sobre


artigos, livros que relataram os fatos, história e trabalho do capelão. Foram
pesquisados, também, editais, portarias e normas que regem a vida não só do
capelão mas, também, do militar em geral. Entrevistas foram realizadas e visitas
feitas em companhia de um capelão a Comandos do Exército, em reuniões de apoio
às famílias bem como um encontro com o Comandante Chefe do SAREx objetivando
uma aproximação maior com a Capelania, lugares, soldados e comandantes, pois o
autor desta obra não é militar.

Para um maior esclarecimento foi desenvolvida no primeiro capítulo a


historicidade da Capelania tendo como marco desta história a vida do patrono da
Capelania Militar Antonio Álvares da Silva, o Frei Orlando, homem notável pelo
carinho que tinha em tudo o que realizava. Verdadeiro amparo aos pracinhas que
lutaram na Itália.

Em seguida, verifica-se a estruturação da Capelania por meio de normas,


editais e portarias tendo como pano de fundo o SAREx que coordena o trablaho do
capelão nos quartéis. Levantamentos estatísticos e um Censo Religioso são
regisrados com o objetivo de uma visão ampla e concreta do número dos militares
bem como a porcentagem das religiões que compõe Exército. Além da Capelania
Militar Católica, destaca-se a Capelania Militar Evangélica, tendo como seu maior
representante o Pastor João Filson Soren, homem notável que trabalhou,
incansavelmente, atuando também na Segunda Guerra Mundial como verdadeiro
amparos aos pracinhas.

Na sequência trata-se do trabalho do capelão como um homem modelo para


os militares, isto é, que trata a todos com empatia, respeitando a instituição, agindo
16

como um psicoterapeuta visitando enfermos, presos, amparando na hora do medo


especilamente diante da morte de um militar.

Por fim, retrata-se a importãncia da religião e da ética do capelão ao ministrar


a Instrução Religiosa, trabalho realizado frequentemente nos quartéis. Neste
momento levanta-se a questão da situação do homem diante do “numinoso” tendo a
religião como forma de conscientiar o homem diante de Deus e os resultados
benéficos que a religião causa no ser humano.

O objetivo da pesquisa foi levantar dados que comprovem a importância do


capelão dentro do âmbito militar, pois este ministério jamais poderia ficar fora do
Exército Brasileiro. Historicamente, a presença da capelania entre os militares
sempre trouxe resultados práticos, pois ao logo dos anos a assistência espiritual
elevou o moral dos soldados do EB, possibilitando o homem viver de forma
harmônica e fraternal em sua comunidade, lapidando-o a uma vida mais equilibrada
seja em combate seja dentro de seu próprio lar.
17

CAPÍTULO 1

O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA SOBRE A CAPELANIA MILITAR

O termo capelão vem do latim “capellanus”, isto é, cabo. Dentro do nosso


contexto moderno, usualmente, refere-se a um tipo de ministro religioso que serve
as forças armadas com o objetivo primário de orientação espiritual aos homens.
Além de ser conselheiro religioso é responsável pela vida religiosa de todos aqueles
que estão debaixo de seu comando. “Parece que o termo foi aplicado, pela primeira
vez, ao padre que tomava conta da capa (cappela) de São Martinho de Tour”
(CHAMPLIN & BENTES, 1999, p.625). Com o crescimento e desenvolvimento de
vários tipos de capela, o ofício de capelão também cresceu e se fortaleceu,
tornando-se um grande líder com poderes eclesiásticos.

Antes dos tempos contemporâneos esse ofício incluía homens que serviam à
realeza e nobres. Na era contemporânea esses homens, clérigos passaram a ser
nomeados para servirem em quartéis, hospitais, prisões e instituições de ensino.
Quando se fala de Capelania militar, entende-se que esse ofício é antigo.
Antiqüíssimo é o ofício do capelão em hospitais. Quando se refere ao trabalho do
capelão em instituições de ensino usualmente fazem parte deste trabalho ministros
evangélicos, rabinos ou padres católicos romanos, que tomam conta de uma capela
centralizada no campus onde a instituição cuja denominação religiosa é fundadora.
A sociedade moderna gerou um outro tipo de capelão, aquele que trabalha em
indústrias (CHAMPLIN & BENTES, 1999, p. 625):

Na sociedade moderna, encontramos o aparecimento dos capelães


industriais. Os sacerdotes operários da França servem de exemplo
desse conceito. Esses ministravam enquanto trabalhavam, mantendo
alguma posição de respeito na indústria onde servem.

Para enriquecer este trabalho, faz-se necessário conhecer um pouco sobre a


história do Exército Brasileiro:
18

No período colonial o rei D. Manuel I, mandou organizar expedições


militares com a finalidade de proteger os domínios portugueses na
América, então recém-descobertos. À medida em que colonização
avançou em Pernambuco e São Vicente, as autoridades militares
nativas e bases da organização defensiva da colônia começaram a
ser construídas para fazer frente às ambições dos franceses,
ingleses e holandeses. Basicamente a História do exército brasileiro
se iniciou em 1548 quando D. João III resolveu criar um governo-
geral com sede na Bahia. As primeiras intervenções de vulto
ocorridas foram a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, no
século do descobrimento, e do Maranhão, em 1615. À medida em
que avançou a interiorização através do amplo movimento de
expansão territorial no século XVII e do início do século XVIII, as
Entradas e Bandeiras forçaram a organização da defesa do território
recém conquistado. As forças expedicionárias de caráter
eminentemente militar iniciaram a utilização da população local,
particularmente de São Paulo, pelos capitães-mór, em busca de
riquezas ou da escravização dos índios. A guerra contra os
holandeses, no século XVII, pela primeira vez mobilizou grandes
efetivos no país, e particularmente começou a haver um sentimento
de defesa nacional, independentemente da influência da coroa. A
primeira Batalha de Guararapes (19 de abril de 1648) marca o início
da organização do exército como força genuinamente brasileira
formada por brancos locais, liderados por André Vidal de Negreiros,
índios, liderados por Felipe Camarão e negros/mulatos, liderados por
Henrique Dias. Esta data é comemorada como o aniversário do
Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro (EB) é uma das três Forças
Armadas responsável, no plano externo, pela defesa do país em
operações eminentemente terrestres, e, no interno, pela garantia
da lei, da ordem e dos poderes constitucionais. O seu
comandante é supremo o Presidente da República. Wikipédia, a
enciclopédia livre Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%
C3%A9rcito_ Brasileiro #Antecedentes. Acesso em: 21 out. 2008.

O Exercito Brasileiro é regido por uma hierarquia, isto é, um cadeia de


comando que pode-se chamar de coluna vertebral. Cada posto tem suas
prerrogativas, atividades e objetivos sejam eles burocráticos ou não. A força do
Exército Brasileiro e toda sua estrutura está na forçao de comando.

A hierarquia militar é a base da organização das Forças Armadas e


compõe a cadeia de comando a ser seguida por todos os integrantes
das forças em sua estrutura organizacional. No Brasil, a constituição
preve que o Presidente da República é o posto mais alto da
hierarquia das forças armadas. A hierarquia se divide entre os
postos, denominação dada às diversas categorias de oficiais, e as
graduações, como são chamadas as categorias de praças.
Disponível em: http://pt. wikipedia.org/wiki/Hierarquia_militar_(Brasil).
Acesso em: 22 out. 2008.
19

Complementando a história do Exército Brasileiro, há mais de 120 (cento e


vinte anos) o Brasil vive em paz com seus vizinhos de fronteiras. É o pais da paz, da
tranquilidade onde todos os habitantes se sentem seguros, pois além da presença
do EB em todo território nacional, o Brasil é um pais pacificador. Se porventura a
paz nacional for colocada em risco o pais estará preparado para agir prontamente.
Caso ocorra uma guerra o que muda na hierarquia do EB é o surgimento da patente
de Marechal como segue:

O cargo mais alto na hierarquia do Exército brasileiro é o de


Marechal que, segundo a lei, só existirá no caso de o Brasil entrar
em guerra. Assim, a patente mais alta em tempos de paz é a de
General-de-Exército, nível no qual está Enzo Martins Peri, atual
comandante do Exército, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em 8 de março de 2007. Veja abaixo toda a hierarquia do
Exército:

Oficiais Generais
Marechal
General-de-Exército
General-de-Divisão
General-de-Brigada

Figura 1 - Símbolo do Oficiais Superiores


Exército Brasileiro Coronel
Tenente-Coronel
Major

Oficiais Intermediários
Capitão

Oficiais Subalternos
1º Tenente
2º Tenente
Aspirante-a-Oficial

Graduados
Subtenente
1º Sargento
2º Sargento
3º Sargento
Taifeiro-Mor
Cabo
Taifeiro de 1ª classe
Taifeiro de 2ª classe
Quadro 1- Disponível em: http://www.oragoo.net/qual-e-a-hierarquia-do-
exercito-brasileiro/. Acesso em: 22 out.2008
20

1.1. O Patrono da Assistência Religiosa do Exército Brasileiro

O termo patrono, conforme o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Ed Nova


Fronteira, em sua 1ª edição, significa:

Patrono. [Do lat. patronu] S.m. 5. Bras. Chefe militar ou


personalidade civil escolhida como figura tutelar de uma força
armada, de uma arma, de uma unidade, etc., cujo nome mantém viva
as tradições militares e o culto cívico dos heróis.

Figura primorosa e digna de ser citada foi o Frei Orlando. Nasceu num
pequeno povoado no interior de Minas Gerais, à margem do Rio São Francisco, de
nome Morada Nova, em 13 de fevereiro de 1913. Seu nome de batismo foi Antonio
Álvares da Silva. Desde a infância tinha prazer pela fé católica, tendo um apreço
pelas coisas da Igreja e pelos humildes.

Freqüentava assiduamente o catecismo, ao qual – afirmam seus


irmãos – comparecia sob intenso fervor religioso, vocação que lhe
era inerente. Às vezes, ao ser procurado pelo pai, era encontrando
no alto da torre da Igreja Matriz de Abaeté para, dizia ele, aprender a
repicar e dobrar os sinos. É que, à medida que ia tomando idade,
notavam todos, também ia-se-lhe desabrochando uma visível
inclinação para as coisas da Igreja, acentuado pendor para a vida
clerical, lampejos para um destino que seria, mais tarde,
concretizado. (PALHARES, 1982, p. 11)

Iniciou seus estudos em Divinópolis (MG), seguiu para Holanda, de onde


retornou para a sua ordenação como sacerdote. Não era mais Antonio Álvares da
Silva e sim Frei Orlando. Aos 24 anos de idade foi para São João Del Rei, onde
lecionou no Colégio de Santo Antônio, estabelecimento dirigido pela Ordem dos
Franciscanos Menores. Preocupado com os pobres, o jovem padre instituiu a “Sopa
dos Pobres”. Desenvolveu trabalho árduo, difícil, pois possuía trezentos pratos, mas
o número era de quinhentos dos que lhe batiam à porta e os mesmos trezentos se
alimentavam pela misericórdia de Deus, como um milagre devido a falta de material.
Neste trabalho honroso, recebeu grande apoio de voluntários dos integrantes do 11º
Regimento de Infantaria (11º RI) após uma conversa com o comandante deste
regimento. Foi seu primeiro contato com a caserna e ali se deparou com os
21

preparativos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Segunda Guerra


Mundial.

A guerra gerou seus efeitos fora e dentro do Brasil. Em costas brasileiras


embarcações foram afundadas pelos alemães. Frei Orlando passou a se preocupar
com a situação beligerante, deixando de lado, em certo ponto a “Sopa dos Pobres”.
São João Del Rei se tornara uma praça de guerra, especialmente quando seus
habitantes escutavam canhões e metralhadores rugindo nas alturas dos campos em
torno do Quartel. Diante de tais fatos, Frei Orlando não se conformava em
permanecer impassível ante a situação nacional. Certo dia recebeu um convite do
Cel. Delmiro Pereira de Andrade, Comandante do 11º RI para comparecer ao
Quartel e ali foi convidado a integrar-se na Expedição Brasileira. Jubiloso,
providenciou com rapidez autorização de seus superiores para seguir em uma
missão nobre: o de ser missionário sem fronteiras, ir a qualquer parte do mundo para
multiplicar os discípulos de Deus. “Estava, pois, o filho de Morada Nova incluído no
Estado Efetivo do nosso regimento, no posto de 1º Tenente, consoante Decreto-lei
nº 6.535, de 26 de maio de 1944” 1. Ingressou à FEB e sua primeira missa foi na
Catedral de Pisa para os pracinhas brasileiros.

Diante do front, em meio ao fogo de inimigos, Freio Orlando fazia questão


absoluta de se posicionar nas primeiras linhas. Os amigos e companheiros
necessitavam de auxílio espiritual.

Todo encapotado, galochões contra a neve, capacete enterrado na


cabeça, saía ele pelos campos, deitando-se aqui e ali, para ocultar-
se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas
posições avançadas e o estado moral dos soldados, animando-
os com o seu idealismo sempre posto à prova. (PALHARES,
1982, p. 131-132, grifo nosso)

Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror, fosse pela frieza da
guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no campo de batalha,
companheiras aliadas que lutavam contra os pracinhas, necessitados de um alento
espiritual e um ombro amigo para fortalecer não só o coração como a alma.

1
PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército,
1982, p. 91
22

Estavam numa temperatura de 25 graus abaixo de zero, somados o sangue,


gemidos, dores, lágrimas e confusão.

Em sua última carta à mãe, relatou sobre a visita feita em Roma, da visita feita
ao Papa, um terço bento que ganhara do Santo Padre e a bênção que recebera da
maior autoridade da Igreja Católica. Narrou também a visita feita à prisão de São
Pedro, às catacumbas de São Sebastião, à Igreja de Santa Inês e seu retorno ao
Vaticano. Nesta mesma carta, agora Capitão Frei Orlando, fez promessas de viajar
com a mãe.

Viveu tempos difíceis na tomada do Monte Castelo. Durante uma visita feita à
linha de frente, Frei Orlando foi vítima de um tiro acidental de um partisam (membro
da Resistência italiana ao nazifascismo). A carta enviada à sua mãe datada de 2 de
fevereiro de 1945 chegou às mãos de D. Emirena no dia 21 do mesmo mês. Para a
tristeza do 11º RI, neste dia, na Itália, o Capelão Frei Orlando estava sendo
sepultado em Pistóia. O boletim n° 52, do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945,
impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão:

Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do


capelão capitão Antônio Álvares da Silva (Frei Orlando), vítima de um
tiro, quando se dirigia de Docce para Bombiana, a fim de levar sua
assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do
ataque ao Monte Castelo. O sacerdote, que desapareceu da face da
Terra após ter servido com a sua pureza de sentimento à religião e à
Pátria, deixa imensa saudade no seio da organização católica a que
pertencia. (...) No 11o Regimento de Infantaria, como chefe da
Capelania, conquistou a todos pelas qualidades apostolares.
Convidado por este Comando para presta serviços religiosos nessa
Unidade, quando ainda em São João del-Rei, não demorou a
acompanhá-lo para a guerra, e uma vez no teatro de operações, nos
dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o seu
conforto espiritual ou o santo sacrifício da missa em qualquer
circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte, um bravo,
um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo. (PALHARES, 1982, p. 171-
172)

A galeria do Exército Brasileiro ficaria incompleta se faltasse a figura desse


capelão, que levou uma vida simples, mas cheia de atividades voltadas para o ser
23

humano, demonstrando sua fé na pessoa de Jesus. Um homem, conforme o


General-de-Divisão Octávio Pereira da Costa relatou:

[...] não apenas por estar completando a galeria dos Patronos do


Exército, mas porque a vida de um homem simples e puro, como a
de Antonio Álvares da Silva, é fonte permanente de edificação.
Poderá servir-nos, a todos nós – e aos que virão depois de nós –
pois a vida consagrada a um ideal, a uma causa, a uma fé, amar e
servir a Deus ao próximo é uma vida que vale a pena ser vivida.”
(PALHARES,1982, p.VII)

O Decreto nº. 20.680, de 28 de janeiro de 1946, concedeu a Frei Orlando, o


título de Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, em virtude de sua
morte em plena guerra e pelos serviços inestimáveis prestados à Força
Expedicionária Brasileira, nas fileiras do regimento Tiradentes. Em 22 de dezembro
de 1960 o Patrono do SAREx e seus restos mortais foram trasladados para
Monumento aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro.

Frei Orlando
Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército
Figura 2. Capelão Católico, Patrono do SAREx.
Fonte- Sarex - Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em: 15 jan.2008
24

Figura 3 – Frei Orlando ministrando a Comunhão em pleno Front.


Fonte: Frei Orlando – O Capelão que Não Voltou – (PALHARES, p. 125).

Figura 4: Frei Orlando Pregando


Fonte: Frei Orlando – O Capelão que Não Voltou – (PALHARES, p. 125).

No Artigo 1º, parágrafo II, da Portaria nº 211, de 03 de maio de 2001, o


Comandante do Exército relata que:

A assistência espiritual visa a elevar o moral individual dos


integrantes do Exército e a possibilitar um convívio fraternal e
harmônico do homem em sua comunidade, de forma a desenvolver e
estimular, particularmente no militar, a determinação, a coragem, o
25

equilíbrio emocional e o espírito de corpo, atributos imprescindíveis


em operações de combate.

Mesmo sendo uma portaria atual, cinqüenta e sete anos entre sua publicação
e a vida de Frei Orlando na II Guerra mundial, via-se neste Capelão um espírito
forte, dinâmico, determinado a estimular coragem em seus companheiros de
batalha. Frei Orlando cumpria algo que ainda não tinha sido estabelecido. Este
mesmo espírito será visto mais adiante com o Capelão Evangélico Pastor João
Filson Soren. Atitudes proféticas na eleboração da portaria.

1.2. A Assistência Religiosa Dentro da História do Exército Brasileiro

O assunto em epígrafe remete-se para os anos de 1850, mais precisamente


no dia 24 de dezembro, quando, por decreto, o de nº 747, o Governo Imperial
aprovou o Regulamento da Repartição Eclesiástica do Exército. Foram efetivadas
quatro classes de capelães: os da Ativa, os Agregados, os Avulsos e os
Reformados. Esses capelães tiveram uma importante missão e atuação destacada
na Guerra contra o Paraguai. Dentre eles podemos citar Frei Fidelis D´Avola, Frei
Salvador de Nápoles e outros.

O Visconde de Taunay comenta em suas “Memórias” sobre a atuação dos


capelães na Guerra do Paraguai, como no caso do Frei Fidelis D´Avola:

“... tinha grande coragem e sangue frio e ar eminentemente


caridoso e abnegado. Digno de grande respeito, distinguia-se
pelo espírito cristão e sacerdotal, quer no campo de ação, que na
prática da dedicação hospitalar. E com ele, se apontavam
diversos...”(apud PALHARES, 1982, p.193, grifo do autor)

Quando o General Luís Alves de Lima e Silva, (Caxias) deixou o


comando das Armas Brasileiras, na ordem do dia, a de nº 272, referindo-se aos
capelães, externou sua gratidão ao trabalho desempenhado por estes eclesiásticos.
Enalteceu a fibra, o caráter, bem como o amor à pátria no cumprimento da missão
quando os mesmos abnegaram-se nos hospitais e até mesmo no campo de batalha.
26

Finda a Guerra, o Serviço Religioso do Exército conhecido como Repartição


Eclesiástica do Exército passa ser chamado pelo Decreto nº 5.679 de 27 de junho de
1874 de Corpo Eclesiástico do Exército. Esse corpo era composto por: um Capelão-
mor com a graduação de Coronel, um Capelão tenente-coronel, um capelão major,
dezesseis capelães capitães e sessenta capelães tenentes. Além dos trabalhos
dentro do Exército deveriam catequizar os índios, os presidiários e os militares que
trabalhavam nas fronteiras. Os capelães tinham suas promoções de duas maneiras:
metade por merecimento e metade por tempo de serviço.

Catorze meses após a proclamação da República, os positivistas


separaram a Igreja do Estado e automaticamente veio a extinção do Corpo
Eclesiástico do Exército. Preocupados em manter a unidade religiosa, na primeira
década do Século XX, um grupo de cadetes católicos, na Escola Militar do
Realengo, liderados por Juarez Távora, Francisco José Pinto e outros, fundaram a
Conferência Vicentina de São Maurício sobre as bênçãos do Padre Miguel de Santa
Maria Mouchon. Já oficiais fundaram a União Católica dos Militares. Os cadetes
foram corajosos em criar o Serviço Religioso numa época de espírito liberal como
declara Palhares (1982, p.195):

Não seria demais dizer que o atual Serviço de Assistência Religiosa


nas Forças Armadas nasceu da fé inerente daqueles abnegados e
corajosos cadetes que, em meio ao espírito liberal da época,
souberam guardar, incólume, a formação religiosa que lhes fora
plasmada n´alma.

1.3. A Assistência Religiosa na História do Exército Brasileiro a Partir de 1939

Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, não teve como o Brasil ficar fora de
tão grande crise. O país ingressou nas linhas aliadas depois dos alemães terem
torpedeado trinta e um navios da nossa marinha Mercante, com a perda de 971
vidas brasileiras. O território pátrio fora ameaçado e ultrajado. A partir desse ato
beligerante o Brasil rompeu relações com a Alemanha, Japão e a Itália. O ato de
guerra declarado contra as três nações elencadas veio com o decreto nº 10.358 de
31 de agosto de 1942.
27

O Brasil tentou de várias formas manter-se na neutralidade, mas diante da


felonia do inimigo, acarretando reflexos para a economia, nasce em 9 de agosto de
1943 a FEB, a Força Expedicionária Brasileira. Antes dos pracinhas se dirigirem à
Europa, ocorreu um desfile na cidade do Rio de Janeiro e diante de milhares de
brasileiros, os futuros combatentes desfilam encerrando com as enfermeiras. Após
gritos, palmas e vivas à tropa, no palanque presidencial o Chefe de Estado, doutor
Getúlio Dornelles Vargas, questionou o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de
Barros Câmara, que estivera ao seu lado, se gostara do desfile. Dom Jayne, diante
do Chefe do Brasil, disse que faltavam os capelães. No dia seguinte, 25 de maio de
1944, Getúlio Vargas cria o Corpo de Capelães tendo em mente o que disse Rui
Barbosa em um de seus discursos: “Não pode haver disciplina na terra sem a do
céu”2.

Assim, em 26 de maio de 1944, foi assinado o Decreto-lei nº 5.573 que criava


o Serviço de Assistência Religiosa. Dentre os capelães destacamos o Frei Orlando
supracitado. A assistência religiosa foi de tamanha relevância que terminada a
guerra foi assinado o Decreto-lei nº 8.921, de 26 de janeiro de 1946, estendendo a
Assistência Religiosa à Marinha e à Força Aérea.

Para que o Quadro de Assistência Religiosa pudesse ter um corpo de Serviço


Militar, foi necessário criar uma escala hierárquica que servisse de estrutura, ter
princípios e dar fundamento ético. Todos esses aspectos supracitados foram
regulamentados com a promulgação da Lei nº 6.923 de junho de 1981. Com a nova
legislação, o Serviço Religioso determinava: 1 Coronel Capelão-Chefe, 6 Tenentes-
Coronéis Capelães para as subchefias dos Comandos de Exércitos e Militares de
Área, 7 Majores Capelães, 16 Capitães Capelães e 1º e 2º Tenentes Capelães – 20.
De acordo com a Lei acima citada, Palhares (1982, p. 198) a resume devido a sua
complexidade:

Os candidatos à Capelania Militar serão submetidos a um estágio de


instrução e adaptação, com duração de até 10 meses. Este estágio
contará de: a) um período de instrução militar geral na Escola de
Formação de Oficiais da Ativa da Força Singular respectiva (AMAN);
b) um período como observador em uma Escola de Formação de

2
PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército,
1982, p. 197
28

Sargentos da Ativa da Força Singular (ErSA); c) um período de


adaptação num Corpo de tropa, durante o qual, o candidato será
observado no desempenho de suas atividades pastorais. Durante o
estágio, o candidato será equiparado a Aspirante-a-Oficial, e fará jus,
somente, à remuneração correspondente. [...] Pelo artigo 10, da nova
Lei [...] cada Ministério Militar atentará para que o exercício de
religiões seja proporcional ao número de praticantes na área a
ser atendida pela assistência religiosa. (grifo nosso)

A Assistência Religiosa não só leva o homem a ter amor à pátria, mas


também a sua religião de origem.

Para que fique marcada na história da Capelania Militar, o Exército Brasileiro


comemora, no dia 13 de fevereiro, o Dia do Serviço de Assistência Religiosa e, com
respeito e admiração profundos, homenageia a pessoa do Capitão Capelão Antônio
Álvares da Silva, Frei Orlando, seu patrono.
29

CAPÍTULO 2

A CAPELANIA MILITAR E SUA ESTRUTURA

2.1. A Capelania Militar

Também chamada de capelania castrense3. O capelão militar é um ministro


religioso encarregado de prestar assistência religiosa a alguma corporação militar
(exército, marinha, aeronáutica, Polícias Militares e aos Corpos de Bombeiros
Militares). Nas instituições militares existem as capelanias evangélicas e católicas,
as quais desenvolvem suas atividades buscando assisitir aos integrantes das Forças
nas diversas situações da vida. O atendimento é extendido também aos familiares. A
atividade de capelania é importante no meio militar, pois contribui na formação
moral, ética e social dos integrantes das Unidades Militares em todo o Brasil. Para
tornar-se um Capelão Militar, o interessado deve ser Ministro Religioso - Padre,
Pastor etc, com experiência comprovada no Ministério Cristão, e ainda ser aprovado
em concurso público de provas e títulos. Ao ser aprovado no concurso específico, o
militar capelão é matriculado em curso militar de Estágio e Adaptação de Oficial
Capelão.

2.1.1. A Legislação Brasileira

Segundo a Constituição Federal / 1988 – artigo 5º e inciso VII:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: é assegurada, nos termos da
lei, a prestação de assistência nas entidades civis e militares de
internação coletiva.

3
Castrense- Relativo à classe militar; pertencente ou relativo a acampamento militar. Pequeno
Dicionário Brasileiro da língua Portuguesa
30

A Carta Magna, (Constituição Federal de 1988), prevê e assegura a prestação


do Serviço de Assistência Religiosa:

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso VII que
«é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.» A lei
6.923, de 29/6/1981, alterada pela lei 7.672, de 23/9/1988, organizou
o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas. A partir
desta legislação temos definido que: 1) «O Serviço de Assistência
Religiosa tem por finalidade prestar assistência religiosa e espiritual
aos militares, aos civis das organizações militares e às suas famílias,
bem como atender a encargos relacionados com as atividades de
educação moral realizadas nas Forças Armadas.» (Lei 6.923, art. 2º)
2) «O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Capelães
Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros religiosos ou
pastores, pertencentes a qualquer religião que não atente contra a
disciplina, a moral e as leis em vigor.» (Lei 6.923, art. 4º) 3) «Cada
Ministério Militar atentará para que, no posto inicial de Capelão
Militar, seja mantida a devida proporcionalidade entre os Capelães
das diversas regiões e as religiões professadas na respectiva
Força.» (Lei 6.923, art. 10) Disponível em: http://pt.wkipedia.org/wiki/
capelania_militar. Acesso em: 1 abr.2008.

2.1.2. A Capelania Militar Católica

A Capelania Militar Católica no Brasil é garantida por força do acordo


diplomático celebrado entre o Brasil e a Santa Sé, assinado no dia 23/10/1989.
Segue transcrito apenas o Artigo 1º do Estatuto do Ordinariado Militar do Brasil que
menciona o acordo feito entre a Santa Sé e a República Federativa do Brasil:

Art. 1 - O Vicariato Castrense no Brasil, ereto canonicamente, em 6


de novembro de 1950 e que, por força da Constituição Apostólica
“Spirituali Militum Curae”4 de 21 de Abril de 1986, passou a ser
Ordinariado Militar, depois do Acordo entre a Santa Sé e a República
Federativa do Brasil, assinado em 23 de outubro de 1989, recebeu
nova estrutura homologada pelo Decreto “ Cum Apostolicam
Sedem”5, de 2 de Janeiro de 1990, da Congregação dos Bispos.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordinariado_Militar_do_
Brasil. Acesso em: 20 jan.2008.

Criou-se então um Ordinariado Militar para dar assistência religiosa aos


membros das Forças Armadas Brasileiras de confissão católica. Ordinariado Militar é
4
Traduz-se por Cúria da espiritualidade (capelania) militar.
5
Traduzir-se por Com Sede Apostólica
31

nomeado por Roma e sustentado pela União. A sede da Arquidiocese e sua Cúria
localizam-se em Brasília-DF, numa repartição do Estado Maior das Forças Armadas.
Este Ordinariado Militar é canonicamente assimilado às dioceses e é dirigido por um
Ordinário Militar. Este prelado goza de todos os direitos e está sujeito a todos os
deveres dos bispos diocesanos. O Ordinário Militar deve ser brasileiro nato, ter a
dignidade de Arcebispo e estar vinculado administrativamente ao Estado-Maior das
Forças Armadas, sendo nomeado pela Santa Sé, após consulta ao Governo
brasileiro. O Estatuto do Ordinariado Militar foi homologado pelo decreto Cum
Apostolicam Sedem6, de 02/01/1990, da Congregação dos Bispos. O cargo é
ocupado por um arcebispo nomeado pelo Papa que tem jurisdição sobre todo
trabalho das Capelanias militares em território nacional, sejam das FFAA (Forças
Armadas) ou da Forças Auxiliares, sejam de Capelania católicas ou evangélicas.

A partir do acordo diplomático realizado três Arcebispos já chegaram a este


posto de maior autoridade eclesiástica militar no Brasil. O atual Ordinário Militar é
dom Osvino José Both, que assumiu suas atribuições em agosto de 2006. Além do
Ordinário Militar, a arquidiocese militar conta ainda com a presença de um bispo
auxiliar para exercer suas funções episcopais em apoio ao arcebispo nas suas
obrigações pastorais pelo país afora. De acordo com o censo de 1990 dos atuais
efetivos das Forças Armadas e Forças Auxiliares, constata-se um grande percentual
de católicos e evangélicos. Destaca-se que só dentro do Exército Brasileiro a
“porcentagem do efetivo é de 68.3% de católicos e 23,22% de evangélicos”7. Se
também forem considerados os familiares desses militares e os funcionários civis
dos Ministérios, Policiais Militares Estaduais e Corpo de Bombeiros, chega-se ao
universo de cerca de três milhões de pessoas (tabulação ainda do censo de 1990).
Estes fiéis são atendidos por cento e setenta e duas Capelania militares, segundo
dados de Macedo (1994).

A(s) história(s) da(s) capelania(s) teve início com a Igreja Católica Romana.
Ao olhar para a história, seja por meio de quaisquer óculos (livros históricos),
notaremos a presença da Igreja Romana em 90% dos setores relacionados com o
estado, governos, assembléias e outras. Não há como negar essa realidade, já que

6
Traduz-se por Com Sede Apostólica
7
Fonte Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em 27 mar.2008
32

a igreja católica ainda possui o maior número de fiéis. Ela sempre teve um poder
imensurável na Idade Média, hoje um pouco ofuscada, mas mesmo assim tem
grande poder de decisão e influência no meio onde age.

Embora seja difícil datar precisamente a história de quando começou a


assistência religiosa, moral e espiritual em terras brasileiras, pode-se dizer que:

[...] o ato Oficial de posse de nossa terra para a Coroa Portuguesa foi
a missa do dia 1º de maio de 1500. Este ato religioso caracterizou a
primeira atividade de assistência religiosa aos militares. Integrando
as Entradas e Bandeiras, prestando assistência espiritual, apoio e
orientação moral aos grupamentos que as integravam, estavam os
sacerdotes: Jesuítas, Franciscanos e Carmelitas. A História do Brasil
por VALTAIRE. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/
500br/missa1.htm. Acesso em: 27 mar. 2008.

Conforme registros, a carta enviada por Pero Vaz de Caminha ao Rei de


Portugal retrata a oficialização deste ato sagrado como prova da assistência
religiosa em nosso país:

E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com


as mãos levantadas, eles (os índios) se levantaram conosco e
alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado: e então tornaram-
se a assentar como nós... e em tal maneira sossegados, que,
certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção. - Carta de Caminha
a El-Rei, 1º de maio de 1500. Ibid.

Embora o objetivo não seja discutir a oficialização da primeira missa no


Brasil, como já foi dito, segundo os registros, a primeira bênção dada em terras
brasileiras ocorreu em:

No dia 26 de abril de 1500, num banco de coral na praia da Coroa


Vermelha no litoral sul da Bahia, foi rezada uma missa de Páscoa, a
primeira de tantas que desde então foram celebradas naquele que
veio a tornar-se o maior país católico do mundo. Acompanhe os
passos iniciais dos padres evangelizadores e as etapas das missões
católicas no Brasil Colonial. A História do Brasil por VALTAIRE.
Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/missa1.
htm. Acesso em: 27 mar.2008.
33

A bênção ocorreu no dia 26 de abril de 1500, mas a oficialização foi em 1º de


maio de 1.500, após esse ato Cabral tomou posse da terra. Desembarcados nas
terras batizadas de Vera Cruz, acompanhava os descobridores a ampla assistência
da Igreja Romana, como forma de abençoar não só o trajeto que seria percorrido
pelos mares, mas também as terras descobertas; assim, junto com as possíveis
descobertas, além de expandir o império português em conjunto, a igreja expandia
também suas tendências religiosas.

[...] esta é a razão porque as caravelas de Portugal que zarpavam


para mares nunca dantes navegados, conduziam em suas brancas
velas, de direito e de fato, a cruz da Ordem de Cristo, pintada de
vermelho vivo, cor original da Entidade, cujas finalidades maiores
eram a expansão do Império e a propagação da fé-teológica entre
infiéis. (apud MACEDO, 1994, p.55).

Assim o estado português dependia da bênção da Deus, tendo a igreja


católica como mediadora dessa graça e, ao mesmo tempo, a igreja dependia do
crescimento do estado para estender suas tendas religiosas.

Quando Pedro Álvares Cabral aportou na Ilha, logo batizada de Ilha


de Vera Cruz ordenou a celebração, em 26 de abril de 1500, de uma
missa como ato de posse da nova terra. Esta missa foi oficiada por
Frei Henrique Soares de Coimbra, superior dos Franciscanos
missionários que compunham a frota Cabralina. Vale notar que esses
religiosos eram Capelães da Armada de Pedro Álvares Cabral.
Sendo assim,o ato religioso da Primeira Missa pode ser considerado
como o primeiro serviço de assistência religiosa prestada a militares
da Ordem de Cristo em nosso país. (COELHO, 2006, p.20 – 21)

Figura 5 - Fragmento do quadro "A Primeira Missa no Brasil"- Disponível em:


pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimento_do_Brasil. Acesso em: 27 mar.2008.
34

Mesmo tendo uma dominação católica romana, não se pode fechar os olhos
para os trabalhos realizados por jesuítas, franciscanos e outras ordens em solo
pátrio. O trabalho de assistência religiosa cresceu com a chegada de outros barcos
advindos de Portugal como, por exemplo, nos barcos de Tomé de Souza que
aportaram em 1549, quando chegaram “os soldados de Cristo, os homens-de-preto
da recém fundada ordem de Santo Inácio de Loyola”8. Esses soldados de Cristo
eram quatro: o Padre Manoel da Nóbrega e o Padre Aspicuelta Navarro foram os
mais famosos, depois, é claro, do Padre José de Anchieta que arribou mais tarde. A
eles juntaram-se mais dois: Antônio Rodrigues, um ex-soldado mestre nos idiomas
nativos, e Pêro Correia, um ricaço que decidira-se pelo hábito talar, e que, para
Nóbrega, "era a melhor língua do Brasil". O trabalho era gigantesco, pois, consistia
em evangelizar, visitar, catequizar, educar aquela gente, oferecer um pouco de
cultura (eles tinham cultura, mas não aquela que pudesse gerar comunicação) para
aquela massa de gentios, com mil falas, que se espalhava por aquele território com
dimensões continentais. Era uma tarefa para gigantes, de pessoas comprometidas
com a disseminação da religião em prol dos homens.

No trabalho árduo conquistas foram alcançadas. Depois de muita luta,


capelas, santuários e igrejas foram erguidos. Junto às construções, escolas e
instituições de ensino surgiram. A fé católica cresceu necessitando de mais padres
de várias ordens (carmelitas, franciscanos e beneditinos). Junto à educação veio a
doutrinação, os batismos e “uma Santa Casa aqui, um Colégio acolá, uma cama de
lençóis para um doente, [...] somados aos oceânicos sermões do Padre Vieira9,
fizeram com que se mantivesse em mãos católicas uma das maiores extensões de
terras do mundo ocidental”10.

8
SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/
missa1.htm: Acesso em : 4 abr.2008.
9
Padre ANTONIO VIEIRA- (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um
religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do
século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta
qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua
exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Wikipédia,
a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira. Acesso em: 22
out.2008.
10
SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/
missa1.htm. Acesso em: 4 abr.2008.
35

2.1.3. A Capelania Militar Evangélica

A história da capelania no Brasil nem sempre foi marcada pela presença


católica. Embora seu patrono tenha sido o Frei Orlando, pode-se noticiar um pouco
da vida de capelães evangélicos que fizeram também diferença, marcando a
história, dando início à mesma e fincando suas raízes em solo pátrio para servir de
esteio aos soldados que não eram de confissão católica romana.

A chegada da Igreja Católica Romana em terras brasileiras ocorreu de


imediato, fincando bandeiras junto com o colonizador Pedro Alvares Cabral no
momento em que colocaram os pés em uma terra desconhecida logo batizada de
Ilha de Vera Cruz com a celebração, em 26 de abril de 1500, de uma missa como
ato de posse da nova terra. Por outro lado a inserção do protestantismo foi de forma
bem pausada devido a preocupação da igreja oficial na manutenção da fé
precavendo-se da dissiminação de heresias que poderiam criar divisões e
rachaduras dentro da igreja, fato ocorrido em vários países da Europa.

A palavra protestantismo é um termo coletivo, usado para aludir


àquele movimemnto religioso e aqueles grupos que vieram a fazer
oposição à Igreja Católica Romana, o que produziu um séro cisma na
Igreja Católica, no século XVI. O grupos que mantêm essa atitude
cismática são chamado de “protestantes. (CHAMPLIN; BENTES,
1999, p.475).

A resistência portuguesa se deu, além de questões comerciais, mas tamtém


de soberania política e religiosa. Antes do protestantismo fincar raizes em difinitivo
no Brasil, algumas tentatias foram realizadas no curso da história do Brasil Colônia e
Império. A primeira tentativa deu-se com a “expedição de Villegaignon em 1555, que,
sob o amparo de Coligny, pretendia fundar a França Antártica e constlrurir refúgio
onde os hugenotes11 pudessem praticar livremente o culto reformado” (MENDONÇA,
1995, p.23). Associavam à nova terra a idéia de paraíso onde poderiam pregar e
viver o evangelho genuinamente. O primeiro culto protestante realizado no Brasil foi

11
Huguenote é a denominação dada aos protestantes franceses (quase sempre calvinistas), pelos
seus inimigos, nos séculos XVI e XVII. O antagonismo entre católicos e protestantes resultou nas
guerras religiosas, que dilaceraram a França do século XVI. Wikipédia. Disponível em: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Huguenote. Acesso em: 22 out.2008.
36

em 10 de março de 1557, mas com a expulsão de Villegaignon e a destrução da


colônia da Guanabara em 1560, expira o intento dos huguenotes.

Outra tentavia ocorreu que durou quinze anos (1630-1645) com os


holandeses no nordeste do Brasil. Não há indicios de que o objetivo era de ordem
religosa no sentido de terra prometida. “O mais simples, no entanto, é ver no grande
empreendimento holandês na época do Brasil filípico a expansão colonialista e
capitalsita da Companhia das Índias, visando o comércio do açucar” (Ibid).

Mesmo ocorendo o comércio do açucar, aproveitaram neste tempo todo de


colonia no Brasil, pregar a fé reformada. Houve um êxito muito grande por parte dos
holandeses como narra Mendonça (1995, p.25):

Consoante às normas refromadas foram organizadas duas classes


(presbitérios), uma no Recife e outra na Paraíba, e, unindo ambas, o
Sínodo, o primeiro a ser instituído no Brasil. Com os consistórios
(conselhos) das congregações locais, estava implantada, de modo
completo, a organização eclesiástica calvinista.

A diferença de resultados entre franceses e holandeses está no fato de


aqueles vieram com o objetivo de criar um paraíso em solo brasileiro e estes como
comerciantes, se instalaram primeiro e depois com o passar do tempo implantaram o
protestantismo no nordeste. Todo trabalho realizado ao longo dos quinze anos
desapareceu em 1645 com a extinção do domínio holandês após a segunda batalha
dos Guararapes12 .

O tema liberdade religiosa foi motivo de grandes debates na Constituinte de


1823. Era inevitável acordos políticos entre o Brasil católico com países protestantes
por exemplo Inglaterra para o estreitamento comercial. A partir deste momento
ocorre uma tolerância aos protestantes, claro com algumas restrinções como por
exemplo a proselitismo e constlrução de templos.

12
As Batalhas dos Guararapes foram duas batalhas travadas entre as tropas invasoras holandesas e
os defensores portugueses, nos Montes Guararapes, actual município de Jaboatão dos Guararapes,
ao Sul do Recife, no Estado de Pernambuco, no Brasil. A primeira batalha ocorreu em 19 de Abril de
1648, e a segunda em 19 de Fevereiro de 1649. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Batalha_dos_Guararapes. Acesso em: 23 out.2008.
37

É certo, portanto, que foram os prostestantes aproveitando as


oportunidades que o clima de tolerância oferecia e, no final do século
XIX, já estavam praticamente implantadas no Brasil todas as
denominações clássicas do protestantismo. (MENDONÇA, 1995, p.
27)

A partir de 1810 chegam ao Brasil Anglicanos e Alemães que tinham em suas


igrejas capelães. “Em 1835, chegou o primeiro missionário metodista ao Rio de
Janeiro o rev. Foutaim E. Pitts [...] em 1937 chegou Daniel P. Kidder, o distribuidor
de Bíblias. [...] Mas, em 1835, chega ao Rio de Janeiro o médico escocês Robert
Reid Kalley” (Ibid). Os anos se passaram e outros missionários chegaram no Brasil
com o objetivo de estabecer suas igrejas. Pode-se destacar o missionário, o Rev.
Ashbel Green Simonton. “Enviado ao Brasil pela grande Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos, a 12 de outubro [sic] de 1859 desembarcou no Rio o primeiro
desses missionários, o Rev. Ashbel Green Simonton, de Dauphin (Pen)” (LÉONARD,
1963, p.54). O trabalho foi tomando corpo; igrejas foram formadas no Rio de Janeiro,
São Paulo e em cidades de seu interior como Brotas.

Entre a chegada de Simonton (1859) e o fim do Império, já tinham os


presbiterianos mais de cinquenta igrejas, quatro presbitérios
(unidades regionais eclesiásticas), um seminário para preparar
pastores nacionais, dois colégios e diversos periódicos.
(MENDONÇA, 1995, p. 31)

O primeiro registro que se tem de um pastor protestante que serviu entre os


militares brasileiros foi Friedrich Christian Klingelhöffer, pastor luterano, de
nacionalidade alemã. O Pastor Friedrich foi líder da Comunidade Evangélica Alemã
na cidade de Campo Bom, no Rio Grade do Sul. Veio para o Brasil em 1825 para dar
assistência ao alemães enraizados no sul e substituiu o pastor Carl Leopold Voges,
quando este se transferiu para Três Forquilhas em outubro de 1826, passando a
atender Campo Bom e arredores. Foi em Campo Bom, em 1827, que construiu a
primeira igreja evangélica do sul do Brasil, tornando-se seu primeiro pastor. Cerca
de dez anos depois, Klingelhöffer aderiu ao movimento “Farroupilhas”, integrando-se
aos “Farrapos”, pois achava que a revolução seria melhor para os luteranos.
38

Por ocasião da Revolução Farroupilha o Pastor Klingelhoefer aderiu


ao movimento ao lado dos revoltosos, por achá-la vantajosa aos
protestantes. O projeto de constituição farroupilha previa igualdade e
liberdade religiosa, ao contrário do Governo Imperial que prometia
liberdade religiosa aos evangélicos, mas a constituição determinava
que a religião oficial era a católica-romana. Por isso ficou conhecido
como "o Pastor farrapo". O Governo Imperial ao tomar conhecimento
do seu apoio aos farrapos suspendeu o pagamento dos seus
subsídios. IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL E RIO GRANDE DO
SUL Disponível em: http://www.mluther.org.br/Imigracao/ imigracao_
i.htm. Acesso em: 4 abr.2008.

O “Pastor Farrapo”, como era conhecido, caiu em combate diante de um


conflito sanguinário contra a colônia alemã, após tentativa de dar segurança à sua
família, levando-a para Rio Pardo, cidade refúgio dos rebeldes. Foi morto quando se
envolveu contra as tropas imperiais na localidade de Arroio dos Ratos, sendo
sepultado ali mesmo no dia 6 de novembro de 1838. Segundo Boanerges Ribeiro
(1973, p.80) Klingelhöffer morreu como capelão do exército legalista. Mais tarde
seus restos mortais foram levados para Porto Alegre e sepultados no Cemitério
Evangélico.

Os dois primeiros capelães evangélicos do Brasil foram o pastor metodista


Juvenal Ernesto da Silva e o batista João Filson Soren (1908-2002), ambos atuaram
na Segunda Guerra Mundial, servindo a Força Expedicionária Brasileira (FEB) entre
1944 e 1945. A Capelania Militar Evangélica foi organizada pela extinta
Confederação Evangélica do Brasil em conjunto com o governo brasileiro para
assistir os militares protestantes.

Entre os dois capelães elencados que participaram da Segunda Guerra


Mundial, destaca-se o Pastor Batista João Filson Sorem, pois seu trabalho foi tão
majestoso em campos de batalha, marcando um período de 341 dias, participando
do 1º Regimento de Infantaria – “Regimento Sampaio” , levando a vereadora do Rio
de Janeiro, Liliam Sá, a entrar com um projeto de lei para instituir uma data para que
se comemorasse o “Dia do Capelão”.

A data escolhida foi 21 de junho, Lei Municipal nº 3983/2005, em memória ao


nascimento do ilustre Combatente de Cristo, o Pastor João Filson Sorem, primeiro
39

Capelão Militar Evangélico do Brasil. Disponível em: http://www.revife.com.br/?


dinamico/745//1663 Revifé. Acesso em: 7 abr.2008.

Figura 7 - Pastor João Filson Soren


Disponível em: http://www.revife.com.br/?dinamico/745//1663
Revifé. Acesso em: 7 abr.2008.

O Pastor João Filson Soren, homem notável, bom caráter, serviu por mais de
cinqüenta anos como pastor à frente da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro
(1935 – 1985). Nascido em 21 de junho de 1908 e falecendo no dia 2 de janeiro de
2002 o tempo que esteve à frente da Primeira Igreja Batista na cidade do Rio de
Janeiro, batizou cerca de 3.345 novos membros. Faleceu aos 93 anos, após
comemorar seu 67º aniversário de ordenação ao sagrado ministério. Seu histórico
como ministro do evangelho demonstra que sua preocupação era ensinar a Palavra
de Deus bem como a educação moral. O currículo do Pastor Soren se torna estímulo
para todo ministro evangélico a seguir seus passos para que seja feita a diferença
no seio da sociedade.

Ocupou por onze vezes o cargo de presidente da Convenção Batista


Brasileira e presidente da Ordem dos Pastores do Distrito Federal
(hoje Rio de Janeiro), foi reitor do Seminário Teológico Batista do Sul
do Brasil, orador e presidente da Aliança Batista Mundial, fundador
da Sociedade Bíblica do Brasil, pertenceu a Academia Brasileira
Evangélica de Letras e foi membro do Conselho de Administração do
Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. A Faculdade Georgetown, em
Kentucky – USA lhe conferiu o Doutorado em Divindade, em 1955 e
a Faculdade Batista William Jewell, em Missouri - USA, o Doutorado
40

em Letras, em 1960. Por sua incomum capacidade de tradução


simultânea, serviu como interprete no Estádio do Maracanã, do
grande pregador norte-americano Billy Graham, em 1960. Disponível
em: http:// www. revife.com.br/?dinamico/745//1663 Revifé . Acesso
em: 7 abr.2008.

Completando o currículo:

Foi professor do Colégio Batista do Rio de janeiro, nos anos de 1933


e 1934 das seguintes disciplinas: Inglês, História da Civilização,
Química e Física. Foi também instrutor de Educação Física. Militar
Cristão. Disponível em: http://militarcristao.nom.br/casernait php?id=.
351.Acesso em: 21 mar.2008.

Diante da beligerante situação da Segunda Guerra Mundial ofereceu-se como


voluntário para servir no front como Capelão, sendo convidado para estruturar o
Serviço de Capelania Evangélica, que até o momento não existia dentro das Forças
Armadas Brasileiras. Somente um homem de visão, conforme sua vida nos conta
poderia estar à frente de tamanha missão. Era corajoso, não perdeu o azo que lhe
fora oferecido. Foi nomeado Capelão Militar em 13 de julho de 1944. Além de
Capelão, foi combatente, cumprindo sua missão de soldado diante de um caos
mundial. “Se não fosse como capelão, iria como um outro tipo de voluntário...”13
Podemos notar que embora a guerra seja um mal para a nação, ela se torna um
ofício divino para se manter a paz. Todo soldado de boa consciência tem por
objetivo lutar para salvar o maior número de civis possível, conforme pode-se ler nas
palavras de Martinho Lutero (2008, p. 6):

Em poucas palavras, ao pensar no ofício do soldado, não se deve


levar em conta o assassinato, a queima, a violência física, o saque
etc.:[...] Desse modo, é preciso também olhar para o ofício do
soldado, ou para a espada, com olhos maduros, e ver o porquê dela
agir e matar com tanta crueldade. Assim esse ofício vai provar por si
que ele, em si mesmo, é piedoso, tão necessário e útil para o mundo
quanto comer, beber ou qualquer outro trabalho.

O Capelão Soren partiu para a Itália no 2º escalão da FEB no dia 22 de


setembro de 1944, retornando ao Brasil somente após o término da Guerra, no dia

13
AZEVEDO, Israel Belo de: João Filson Soren O Combatente de Cristo. Rio de Janeiro: Primeira
Igreja Batista do Rio de Janeiro, 1995, p.63.
41

22 de agosto de 1945. Cerca de 600 soldados de confissão evangélica integraram a


FEB. Para atender, pastorear, animar, fortalecer as almas daqueles homens e tantos
outros que com certeza participavam dos cultos, o Pastor Soren preparou um hinário
do expedicionário, tendo como título propício à fase difícil em que estavam vivendo
de “O Cantor Cristão do Soldado”, hinos que começaram a ser cantados no quartel
do Regimento Sampaio, em agosto de 1944, antes mesmo de seguirem para o
combate. Com certeza, o Capelão Soren sabia da importância da música como
estímulo para o combatente, levando-o a confiar em Deus como em seus irmãos de
armas.

Foi organizado pelo Capelão Soren um coro com cerca de quarenta militares.
Foi o primeiro coro Militar Evangélico no Brasil, dirigido pelo Sargento Júlio
Andermann. Esse coro ficou parado durante as operações de guerra, voltou a se
apresentar no fim da guerra no Brasil e em solo europeu. Uma das apresentações
ocorreu em Francolise, nas proximidades de Nápoles quando estavam aguardando
a volta para o Brasil.

Nesse local realizou-se a cerimônia de encerramento formal do


serviço religioso da FEB em solo italiano, era domingo, 5 de agosto
de 1945, nesta oportunidade a [sic] Coral Evangélico do Regimento
Sampaio entoou [sic] pala primeira vez o Hino da Vitória, preparado
pelo seu capelão, pastor João Soren. Militar Cristão. Disponível em:
http://militarcristao.nom.br/casernait.php?id=351. Acesso em: 21 mar.
2008.

Os cultos eram realizados geralmente todos os dias. Dependendo das


circunstâncias eram formados pequenos grupos que se reuniam nos pelotões. Os
cultos aos domingos eram dirigidos pelos capelães dos regimentos. Por esses fatos
é que se pode notar a importância do Capelão dentro das Forças Armadas.
Entende-se que um soldado não é só forjado pela preparação e instrução militar
para poder ter sucesso em combate. Crê-se que a instrução religiosa, seja ela
católica ou protestante, tem um valor inestimável na preparação psicológica e
emocional do soldado. A presença do Capelão, assistindo suas ovelhas, cria e
desenvolve nelas a coragem e a força para se chegar à vitória. A instrução militar só
será autêntica com a presença do capelão dentro e fora da batalha.
42

Diante desses fatos praticados pelo Capelão Soren, seguem registradas as


condecorações recebidas pelo esforço, coragem e fé transmitidas a todos os
soldados que lutaram ao seu lado independente da confissão religiosa:

A contribuição cívica com que ele honrou sua pátria na condição de


Capelão Evangélico das Forças Expedicionárias Brasileiras lhe
rendeu as seguintes condecorações militares: `Medalha do Esforço
de Guerra´, `Medalha da Campanha da FEB´, `Cruz de Combate
Primeira Classe´, e a `Silver Star´ (do Exército Norte Americano).
Posteriormente, receberia ainda as seguintes medalhas, pelos
mesmo motivos: `Mascarenhas de Moraes´, `Monumento aos Mortos
da Segunda Guerra Mundial´, Amigos da Marinha´ e `Monte
Castelo´, entre outras. O trabalho do Capelão Soren no front de
batalha foi tão importante, que o General Mascarenhas de Moraes,
comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a
Segunda Guerra Mundial, lhe prestou um elogio, publicado no
`Boletim da Divisão´, de 28 de fevereirode1945. Revifé. Disponível
em: http://www.revife. com.br/? dinamico/745// 1663. Acesso em: 7
abr.2008.

Diante de tantos feitos realizados em vida e condecorações recebidas por


causa de uma vida dedicada a Deus e de presteza ao próximo, dificilmente na
história da Capelania Militar Evangélica será encontrado alguém tão marcante como
foi o Capelão João Filson Soren. Como já existe uma Lei Municipal na cidade do Rio
de Janeiro, a de nº 3983/2005, em que se comemora no dia 21 de junho o Dia do
Capelão Evangélico, seria de grande avanço na abertura dos horizontes brasileiros a
instituição do referido Ministro do Evangelho como Capelão dos Evangélicos no
Exército Brasileiro.

Encontra-se nos registros do SAREx que no ano de 2004 (números


defasados) evangélicos correspondiam a 23,22% dos 143.787 soldados
recenseados, isto é, 33.387 militares eram evangélicos. Comparados aos militares
católicos, 98.301 soldados são a segunda força religiosa dentro do exército
brasileiro. Segundo fonte do IBGE (também defasada) que enquanto o número de
evangélicos cresceu entre os anos de 1940 – 2000 o de católicos reduziu:

Quanto à religião, nesses 60 anos de pesquisas realizadas pelo


IBGE, enquanto os evangélicos cresceram para 15,4% da população,
os católicos apostólicos romanos registraram uma expressiva
redução entre seus adeptos - de 95% para 73,6% da população no
43

período 1940/2000. Junta de Missões Mundiais – JMM. Disponível


em: http:// www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task=
view&id=1191&Itemid=275. Acesso em: 5 abr. 2008.

Como é notória nos uniformes, em que há diferenças de patentes


determinando a ascensão dentro do quadro dos militares, há também distintivos que
denotam o tipo de Armas. No caso dos Capelães também não fogem as regras. O
Capelão Militar Católico usa o distintivo de uma “Cruz Latina” (figura 8) e o Capelão
Militar Protestante utiliza o distintivo “Livro aberto com um facho em chamas” (figura
9):

Figura 8 Figura 9

Como existe distinção de distintivos, deveria haver distinção de “Patronos”,


mesmo havendo um só Chefe do SAREx.14

Hoje no Brasil os evangélicos perfazem cerca de 40 milhões, número


considerado alto, com poderes quase que plenos para escolher um presidente da
república e que poderiam ser lembrados nas Forças Armadas por um Capelão
Patrono próprio. Segundo o crescimento dos evangélicos e a proporção como se
desenvolvem dentro da sociedade brasileira, há uma estimativa de que em 2010
eles chegarão a aproximadamente 55 milhões e em 2022 poderão chegar a 50% da

14
Quanto ao SAREx será discutido mais adiante, mencionando sua finalidade a partir da pagina 38.
44

população brasileira. As autoridades militares precisam pensar desde já sobre a


questão apontada. Outras estatísticas serão exibidas com maior minúcia no decorrer
do trabalho.

2.1.4. Processo Seletivo do Capelão

Segundo fonte SAREx (disponível em: dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html,


Acesso em: 1/04/2008), o Capelão Militar é um Sacerdote, tanto de confissão
Católica Romana como Protestante, responsável destinado a oferecer assistência
religiosa, espiritual e moral à tropa. Essa assistência é prestada aos integrantes do
Exército em sua área de atuação conforme organograma elaborado pelo Chefe
Comandante do SAREx. As atividades religiosas não ficam confinadas somente ao
quartel, mas estendem-se aos presos pela Justiça Militar, aos enfermos em hospitais
das Forças Armadas, aos necessitados, bem como às famílias de militares
residentes ou não nas vilas militares.

Quanto ao processo utilizado para a admissão de um sacerdote, seja ele de


confissão católica ou protestante, ao Quadro de Capelães Militares do Exército, dá-
se por intermédio de concursos públicos regulamentado por edital próprio para cada
processo seletivo. Existem duas maneiras para se adentrar ao Quadro de Capelães
Militares via concurso: 1) Para Capelão Militar Temporário; 2) Capelão Militar de
Carreira. Mesmo ambos prestando assistência religiosa igualmente, há diferenças no
que diz respeito aos requisitos para o concurso e como o próprio termo já diferencia,
o Capelão Temporário tem um período curto no trabalho que exerce dentro do
Exército.

Os Capelães Militares temporários do Exército são admitidos por análise de


currículo e são contratados por período determinado. Ao adentrar ao Quadro de
Capelães Militares (QCM) ingressa com o posto de Segundo Tenente, podendo
chegar ao máximo a Tenente-Coronel. O Capelão Militar temporário é aquele
sacerdote de confissão católica ou protestante selecionado por títulos e que pode
exercer a sua função dentro do Exército Brasileiro até, no máximo, sete anos. Este
capelão é avaliado anualmente quanto ao seu desempenho na função e se for
45

aprovado permanecerá por mais um ano. Os requisitos necessários não são tão
rígidos como o Capelão de Carreira, ele tem que ter trinta e oito anos de idade
completos em 31 de dezembro do ano da incorporação nesse estágio. Seguem
anexos os itens necessários para se adentrar ao QCM:

a) Ser brasileiro nato;


b) ser voluntário;
c) ter menos de 38 (trinta e oito) anos de idade, em 31 de dezembro do ano da incorporação
nesse estágio;
d) ser sacerdote ou pastor;
e) ter curso de formação teológica regular de nível universitário, reconhecido pela
autoridade eclesiástica de sua religião;
f) possuir pelo menos 3 (três) anos de atividades pastorais;
g) ter consentimento expresso da autoridade eclesiástica da respectiva religião;
h) ser julgado apto em inspeção de saúde;
i) no caso dos Católicos, deverá ser obtida, anteriormente, a aprovação eclesiástica do
Bispo de origem e daquele em cuja Diocese estiver atuando ou do Superior Provincial, no
caso dos sacerdotes pertencentes às Ordens Religiosas.

Quadro 2 - Fonte- Sarex - Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 1


abr.2008.

O Capelão Militar de Carreira adentra ao Quadro de Capelães Militares


mediante concurso. Como a admissão é por concurso, independente se o sacerdote
é de confissão católica ou protestante, o mesmo adentra ao QCM com a patente de
Segundo Tenente podendo chegar até o posto de Coronel. Seguem abaixo os
requisitos necessários para aspirante à Capelania Militar no Exército:
46

a) Ser brasileiro nato;


b) ser voluntário;
c) completar, até 31 de dezembro do ano da matrícula, no mínimo, 30 (trinta) anos e, no
máximo, 40 (quarenta) anos de acordo com o inciso I do art. 37 e o inciso X do parágrafo
3º do art. 142 da Constituição Federal, combinado com os artigos 10 e 11 da Lei 6.880, de
09 Dez 80 (Estatuto dos Militares) e com o inciso III do art. 18 da Lei nº 6.923, de 29 Jun
81;
d) possuir o curso de formação teológica regular, de nível universitário, reconhecido pela
autoridade eclesiástica de sua religião;
e) ter sido ordenado sacerdote católico romano ou consagrado pastor evangélico;
f) possuir pelo menos 3 anos de atividade pastoral como padre ou pastor, comprovada por
documento expedido pela autoridade eclesiástica do candidato;
g) ter sua conduta abonada pela autoridade eclesiástica de sua religião;
h) ter o consentimento expresso da autoridade eclesiástica competente da respectiva
religião;
i) o documento da autoridade eclesiástica, abonando a conduta do candidato católico
romano deve constar de:
- para o clero secular, uma via assinada pelo Bispo que ordenou o candidato, e outra
assinada pelo Bispo, em cuja diocese o candidato estiver trabalhando.
- para o clero religioso, uma via assinada pelo Superior Provincial do candidato;
j) estar em dia com as suas obrigações militares e eleitorais. Se reservista, ter sido
excluído da última Organização Militar (OM) em que serviu, no mínimo, no comportamento
“BOM”;
l) não estar “subjudice”;
m) ter, no mínimo, 1,60 m de altura;
n) ter pago a taxa de inscrição;
o) não ter sido reprovado em Estágio de Instrução e Adaptação (EIA/QCM) anteriores por
insuficiência de grau, de conceito ou por haver incorrido em falta disciplinar incompatível
com o oficialato;
p) não ser ex-integrante do Quadro de Capelães Militares (QCM);
q) se militar da ativa do Exército, deve possuir parecer favorável do seu Comandante,
Chefe ou Diretor; e
r) se militar de outra Força Singular, Corpo de Bombeiros Militar ou Polícia Militar, ter
autorização das respectivas autoridades competentes para prestar o concurso.

Quadro 3 - Fonte- Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 1


abr. 2008

2.1.5. O que é SAREx e qual sua finalidade

O SAREx, Serviço de Assistência Religiosa do Exército, tem por finalidade


assistir espiritualmente os militares e os civis em serviço nas Organizações militares,
bem como as famílias, atendendo também os encargos relacionados às atividades
de educação moral realizadas no Exército. Os capelães dão assistência em hospitais
e em prisões levando alento e força ao necessitado. Cada capelão em sua ordem
religiosa, além das funções citadas, possibilita através de sua assistência, criar e
possibilitar um clima de convívio fraternal e harmônico entre os soldados bem como
47

na sociedade, levando-os também a ter coragem, equilíbrio emocional e amor à


pátria, atributos imprescindíveis em operações de combate (SAREx, 2008).

É difícil datar com precisão o momento que surge a Capelania religiosa em


terras brasileiras. Toma-se como ponto de partida o descobrimento do Brasil em 22
de abril de 1.500 e a primeira missa realizada em nossa terra, 1º de maio do mesmo
ano, pelos descobridores enviados pela Coroa Portuguesa. Este ato religioso
caracterizou a primeira atividade de assistência espiritual, pois nas embarcações
estavam presentes jesuítas, franciscanos e carmelitas.

“Oficialmente, a assistência religiosa às Forças Armadas foi criada no


Império, pelo Decreto nº 747, de 24 de dezembro de 1850”.15. Com o advento da
República o corpo eclesiástico criado por D. Pedro II foi instinto, sendo restabelecido
na 2ª Guerra Mundial com o Decreto Lei nº 5.573 de 26 de maio de 1964. Era
necessário que os Pracinhas que lutariam em regiões tão distantes tivessem não só
o amparo do Estado como armamento, alimentação etc, mas também a presença de
homens de Deus para auxiliar espiritualmente a tropa bem como trazer paz de
espírito diante da guerra tão fria. A bravura foi uma arma que aqueceu aqueles
corações tão distantes da terra calorosa – Brasil, como diz a Canção do
Expedicionário16 (Letra Guilherme de Alemeida / Música: Spartaco Rossi):

Você sabe de onde eu venho ?


Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Estribilho

15
Fonte- Sarex - Disponível em:http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em:24 mar.2008
16
Militar Cristão. Disponível em: http://www.militarcristao.com.br/dmus.php. Acesso em: 1 dez.2008.
48

Por mais terras que eu percorra,


Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Estribilho

Eu venho da minha terra,


Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Estribilho

Você sabe de onde eu venho ?


É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Estribilho

Venho do além desse monte


Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
49

Cheio de estrelas prateadas


Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !

Compartilhar a fé cristã tanto em tempos de paz como em guerra sempre foi


um serviço prestado pela Assistência Religiosa do Exército.

Foram assim integrados à FEB, em seus diversos escalões, trinta


padres católicos e dois pastores protestantes. Desde então, o
Serviço de Assistência Religiosa do Exército vem prestando os mais
relevantes serviços ao bem-estar espiritual da Força Terrestre.
Compartilhando a fé divina com os militares que professam outras
crenças religiosas, os capelães militares têm acompanhado e
confortado nossas tropas em todas as situações em que se fazem
necessários. Fonte Sarex. Disponível em: dgp.eb.milbr/sarex/html.
http:dapnet. Acesso em: 24 mar.2008.

A história do SAREx é complementada pelos seguintes decretos:

A Lei nº 5.711, de 08 out 71 reestrutura o Serviço de Assistência


Religiosa nas Forças Armadas (SARFA). A Portaria Ministerial
nº 995, de 09 out 72 cria o Serviço de Assistência Religiosa do
Exército (SAREx). Finalmente, a Lei nº 6.923, de 29 de junho de
1981, dispõe sobre o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças
Armadas. Fonte- Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.
br/sarex/sarex.html. Acesso em: 24 mar.2008.

A partir do último decreto, Lei nº 6.923, dentro das Forças Armadas, os


Capelães Militares passaram a integrar a oficialidade a carreira dentro das
respectivas Forças, que regulamentam através de portarias específicas seus
Quadros de Capelães militares.

2.1.6. Sobre a Instrução Religiosa

Todo Capelão em sua preparação para assistir à tropa em seu comando


segue diretrizes que não ofendem os princípios cristãos e religiosos dos soldados.
Para isso foi estabelecido, conforme quadro abaixo, um parâmetro de como o
Capelão deve se portar ante os homens, tendo ética pastoral, respeito aos colegas
de ordens diferentes, aos seus superiores, bem como aos subalternos.
50

De acordo com as determinações contidas nas IG 10–50 “Instruções Gerais para o


Funcionamento do Serviço de Assistência Religiosa do Exército”, aprovadas pela Port nº
211–EME, de 03 Mai 01, nas “Diretrizes Gerais para Prestação da Assistência Religiosa
nas Capelanias do Exército” e na regulamentação da “Admissão de Candidatos ao
Quadro de Capelães Militares da Reserva do Exército”, aprovadas pela Port nº 075–DGP,
de 24 Jun 02, os seguintes temas gerais serão utilizados para as atividades de instrução
religiosa:
a. Deus – a importância da crença e da fé;
b. Jesus Cristo – sob o enfoque ecumênico, apresentar a importância vital do
conhecimento da pessoa e da doutrina do Mestre para os cristãos;
c. família – levar o militar a conscientizar-se sobre a responsabilidade de bem se preparar
para que a família seja solidamente constituída; mostrar que a educação mais
conveniente é a da família, e a sua melhor escola, a casa materna; ensinar a cultivar, na
família, a afeição, a convivência feliz, a união, o respeito, o bom relacionamento e a
responsabilidade recíproca entre pais, mães e filhos na manutenção da integridade do lar;
d. relacionamento humano – expor aos militares os vários ângulos do relacionamento
humano que levam à maturidade psicológica, à convivência harmônica e à sadia
camaradagem;
e. vocação e trabalho – explicar aos militares como também é vital ter uma habilitação,
um trabalho e(ou) uma profissão que se ajustem ao indivíduo e permitam uma boa
remuneração para a sua subsistência e para o estabelecimento de uma família bem
estruturada;
f. a fé cristã e a vida militar – sob enfoque ecumênico, explicar aos militares que não há
oposição entre ser um bom militar e um bom cristão;
g. o militar e a religião nos dias atuais – esclarecer os militares, com enfoque
ecumênico, sobre a importância da prática religiosa como fator atenuante das tensões do
mundo moderno;
h. virtudes militares e virtudes cristãs – sob um prisma ecumênico, apresentar aos
militares como muitas das virtudes militares que enobrecem a carreira militar encontram
correspondência nas virtudes cristãs; e
i. drogas lícitas e ilícitas – conscientizar os militares sobre os grandes malefícios que
elas trazem para a saúde física e mental e, também, que elas se constituem numa das
maiores causas de desajustes familiares; mostrar os princípios religiosos que as
condenam e a força da fé para combater e afastar os vícios. (SAREx, 2008, grifo nosso)

Quadro 4 –Fonte SAREx. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 24


mar. 2008.

As diretrizes acima elencadas resumem praticamente todas as áreas em que


o Capelão irá trabalhar.

2.1.7. A Estrutura Organizacional do SAREx

É de praxe dentro das Forças Armadas, que o trabalho exercido pelos


Capelães dentro do Exército, orientado pelo SAREx, segue uma estrutura bem
elaborada e dinâmica que mesmo se houver deficiência na execução ou assistência
51

dos Capelães, todas as Ordens Militares receberão auxílio pastoral. A estrutura é


rígida, inicialmente, por causa da visão militar em que todos cumprem seus deveres
e, segundo, para que todos sejam beneficiados.

Segue abaixo um quadro resumido da Estrutura do SAREx demonstrando


sua coluna vertebral e suas ramificações até as Ordens Militares (OM). (SAREx,
2008)

O SAREx é constituído de:


I - Chefia;
II - Subchefias; e
III - Capelanias Militares.

A Chefia é o órgão de Direção do SAREx, subordinada à Diretoria de Assistência ao


Pessoal (DAP), exercida por um Coronel Capelão, tendo por auxiliar um Capelão-Adjunto do
posto de Capitão ou Major.
As Subchefias, denominadas “Subchefias de Assistência Religiosa”, são órgãos de
coordenação das atividades do SAREx, exercidas por Tenentes-Coronéis Capelães ou
Major Capelães, subordinadas aos Comandos Militares de Área, sob a supervisão e a
orientação técnicas da Chefia do SAREx.
As Capelanias Militares são órgãos de execução das atividades do SAREx, criadas pelo
Estado-Maior do Exército (EME), mediante proposta do DGP, e subordinadas aos Grandes
Comandos e Grandes Unidades, bem como a outras OM a critério do Chefe do EME. As
Capelanias Militares prestarão assistência religiosa a todas as OM subordinadas aos
Grandes Comandos e Grandes Unidades a que pertencem.
Nos Grandes Comandos, Grandes Unidades e outras OM, não assistidos por Capelães
Militares, será autorizado o apoio religioso-pastoral da Capelania Militar mais próxima, após
entendimento direto entre os Comandantes interessados.
Nas guarnições desses Comandos, se necessário, será autorizada a utilização, sem ônus
para o Exército, dos serviços de assistência religiosas de sacerdotes, ministros religiosos ou
pastores da localidade, por proposta dos Comandantes, através dos canais de comando, e
aprovação do Comandante Militar de Área (Cmt Mil A).

Quadro 5 – Estrutura do SAREx – Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html -


Acesso em: 24 mar.2008.

Esta Estrutura Organizacional é patente num só olhar quando se toma ciência


do Organograma do SAREx (ANEXO I). Este quadro dá-nos uma visão global de
onde estão as subchefias, bem como seus Comandantes e Adjuntos em todo o
território nacional. Pelo Organograma somam-se no total sete subchefias.
52

Até o presente momento as subchefias do SAREx estão sob comando dos


seguintes oficiais: COMANDO DO LESTE (CML) Ten. Coronel Capelão Lindenberg
Freitas Muniz (Padre) – Adjunto da Subchefia - Major Capelão Ivan Xavier (Pastor);
COMANDO DO SUDESTE (CMSE) Tem. Coronel Vanderlei Valentin da Silva
(Padre) – Adjunto da Subchefia – 2º Ten. Capelão Christian David Soares Bitencout
(Pastor); COMANDO SO SUL (CMS) Ten. Coronel Capelão Estevão Rosa do
Espírito Santo (Padre) - Adjunto da Subchefia – 1º Ten. Capelão Ronaldo Hasse
(Pastor); COMANDO DO NORDENSTE (CMNE) Ten. Coronel Capelão José Eudes
da Cunha (Padre) – Adjunto da Subchefia – Capitão Capelão James V. Mesquita
(Pastor); COMANDO DA AMAZÓNIA (CMA) Ten, Coronel Capelão Celso Boerger
Rohling (Padre) – Adjunto da Subchefia – (Vacante); COMANDO DO OEST (CMO)
Capitão Capelão Gilberto Álvaro (Padre) – Adjunto da Subchefia – 1º Ten. Capelão
Rogério de Carvalho Lima (Pastor); COMANDO DO PLANALTO (CMP) Ten.
Coronel Capelão Walter Pereira Mello (Pastor) – Adjunto da Subchefia – Major
Capelão Hércules Antonio de Lima (Padre). Fonte – SAREx. Disponível em:
http://dapnet.dgp.eb.mil. br/sarex/organograma_sarex.php. Acesso em: 24 mar.
2008.– (grifo nosso).

Conforme se encontra a situação dos Capelães do SAREX nos dias atuais,


divididos entre Capelães de Carreira e Temporários temos o seguinte quadro: 1)
Total Previstos – 67; 2) Total de Capelães Existentes – 54; 3) Total de Capelães
de Carreira – 39; 4) Padres de Carreira – 30; 5) Pastores de Carreira – 09;
Capelães Temporários – 15. Fonte-SAREx. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.
br/sarex/ situacao_sarex.php. Acesso em: 27 mar.2008. Não se tem conhecimento
dos quinze capelães temporários, quantos deles são padres ou pastores.

Abaixo seguem somente os nomes dos Capelães Evangélicos, seus


respectivos postos, bem como, as igrejas a que pertencem:

1. Ten Cel Capl. WALTER PEREIRA DE MELLO (Igreja Presbiteriana do Brasil)


2. Maj Capl. IVAN XAVIER (Convenção Batista Brasileira)
3. Cap Capl. JOÃO LUÍS BOLLA (Igreja de Confissão Luterana no Brasil)
4. Cap Capl. JAMES V. MESQUITA (Igreja Assembléia de Deus)
5. 1º Ten Capl. DANIEL PEDRO DA SILVA (Igreja Assembléia de Deus)
53

6. 1º Ten Capl. RONALDO HASSE (Igreja Luterana do Brasil)


7. 2º Ten Capl. ROGÉRIO DE CARVALHO LIMA (Igreja Assembléia de Deus)
8. 2º Ten Capl. EDNALDO DA COSTA PEREIRA (Convenção Batista Brasileira)
9. 2º Ten Capl. CHRISTIAN DAVID SOARES BITENCOURT (Igreja Presbiteriana do
Brasil).
10. Asp.Capl. YURE SOUZA GOMES (Igreja Assembléia de Deus)

A relação completa dos Capelães do SAREx, os postos que lhes cabem, bem
como onde estão lotados, encontram-se no final deste trabalho. (ANEXO II) Deve-se
observar que no quadro anexado o número de Capelães é de cinqüenta e quatro no
total, isto é, faltam sete nomes que ainda não foram inseridos no quadro atual.

Analisando o Organograma do SAREx (ANEXO I) pode-se notar que dos


cinqüenta e quatro sacerdotes que compõem o Quadro de Capelães Militares (QCM)
somente um Capelão Evangélico o Pastor Walter Pereira Mello é subchefe do
SAREx no Comando do Planalto, na cidade de Brasília; 5 (cinco) estão no posto de
adjuntos das Subchefias, exceto o Comando da Amazônia (CMA) que está em
vacância e o Comando do Planalto que é um Padre. Os outros três Capelães estão
lotados em grandes centros como na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e
Manaus.

Diante do quadro exposto fica uma pergunta: Por que os capelães


evangélicos são destacados apenas para os Grandes Comandos? Qual o objetivo
de não deixá-los nos quartéis onde o trabalho de assistência é bem maior do que ser
adjunto de chefias? Essas perguntas e outras mais serão feitas ao Comandante
Chefe do SAREx, Cel. Capelão Antonio Emídio Gomes Neto em entrevista
agendada para o mês de outubro/2008.

2.1.8. Um Pouco de Estatística

A Constituição Federal / 1988 – artigo 5º e inciso VII afirma:


54

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes: é assegurada, nos termos da
lei, a prestação de assistência nas entidades civis e militares de
internação coletiva.

Ressalta-se que a Força Aérea Brasileira e a Polícia Militar do Estado de São


Paulo possuem um quadro de capelães evangélicos bem reduzido, fato que causa
até indignação por parte da liderança da Igreja Presbiteriana (ANEXO III),
desrespeitando a própria Constituição Federal acima citada. Por outro lado o
Exército Brasileiro, ainda que tímido em seus concursos, tem dado uma atenção
maior aos militares evangélicos, abrindo concursos nesta área. Ao fazer referência
ao termo “tímido”, recorre-se aos editais para os concursos de Capelães do Exército,
de 1994 a 2006 houve pouca evolução e ainda há uma abertura maior para os
Sacerdotes Católicos. A média sempre é de três para um, isto é, para cada vaga
aberta para um pastor evangélico abrem-se três vagas para padres.

Os editais abaixo relacionados dão as seguintes informações sobre os


concursos para a formação do Quadro de Capelães Militares:

A Portaria Ministerial nº 033-DEP (Departamento de Ensino e Pesquisa), de


17 de novembro de 1994: O Manual dos Candidatos não menciona o número de
vagas tanto para pastores e padres. O mesmo fato ocorre com as Portarias: Número
72-DEP de 9 de setembro de 2002; Número 94-DEP de 24 de dezembro de 2003;
Número 183 de 2 de julho de 2005; Regulamentado pelas Portarias 110 e 111- DEP
de 14 de agosto de 2006. Ao deixarem de mencionar o número de vagas tanto para
sacerdotes católicos como evangélicos tais portarias deixam de expressar a verdade
e a igualdade conforme prescreve a Lei Federal de 1988. As duas portarias que
mencionam o número de vagas são: Números 05 e 06 DEP de 14 de abril de 1998
que abrem 14 (catorze) vagas para Sacerdotes Católicos Romanos e apenas uma
vaga para Pastor Evangélico e as Portarias números 72-73-DEP, de 9 de setembro
de 2002 que abrem 3 (três) vagas para Sacerdotes Católicos e apenas uma vaga
para Pastor Evangélico. O quadro abaixo, revela o censo religioso dentro do Exército
Brasileiro no ano de 2004:
55

CENSO RELIGIOSO DO SAREX

Censo religioso do militar da ativa, por prática religiosa, em 2004:

TOTAL DO EFETIVO
143.787 100%
RECENSEADO
CATÓLICOS 98.301 68,37%
EVANGÉLICOS 33.387 23,22%
ESPÍRITAS 5.674 3,95%
ORTODOXOS 126 0,09%
IGREJAS BRASILEIRAS 191 0,13%
IGREJAS LIVRES 527 0,37%
AFRO-BRASILEIRAS 567 0,39%
OUTRAS RELIGIÕES 719 0,50%
ATEUS 1.491 1,04%
SEM RELIGIÃO 2.804 1,95%

Quadro 6 – Fonte SAREx – Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso


em: 1 abr. 2008

O mesmo está defasado já que o número de evangélicos no Brasil aumentou


desde a formulação do censo dentro desta Força Armada. Segue gráfico que ilustra
o aumento do número de cidadãos evangélicos no Brasil e sua projeção:

Quadro 7 – Disponível em: http://www.semipa.org.br/brasil/censo2000/index.php. Acesso em: 5 abr. 2008.


56

Segundo a projeção, praticamente no ano de 2022, o Brasil terá uma


população de 50% de evangélicos.

Colocando todos esses dados num gráfico, como mostra o modelo


acima, iremos perceber que o crescimento dos Evangélicos no Brasil
não segue uma trajetória linear, mas faz uma curva em ascensão.
[...] Somando-se a isso, verifica-se que os novos crentes têm cada
vez mais conduzido outras pessoas a conhecerem o Evangelho e
estes, por sua vez, também levam outros, como uma multiplicação
em larga escala. Esse fator é que provoca a curva em ascensão do
gráfico. A linha escura do gráfico mostra o ritmo de crescimento ano-
após-ano entre 1980 e 2000. A linha branca mostra a projeção de
crescimento até 2010, quando deverá atingir aproximadamente 55
milhões de evangélicos. Se a igreja continuar a crescer nesse ritmo,
alcançará 50% da população no ano de 2022. Disponível em:
http://www.semipa.org.br/brasil/censo2000/index.php. Acesso em: 5 abr.
2008.

Os evangélicos no Brasil tiveram um crescimento de 2,5 vezes maior que a


população na década de oitenta e mais de 4 vezes acima da taxa do crescimento
populacional na década de 90 e, pelo último censo realizado pelo IBGE, no ano de
2002, os evangélicos somam 26 milhões, 184 mil e 977 pessoas. Atualmente os
evangélicos representam aproximadamente 18% da população brasileira. Somados
a esta estatística temos que lembrar que as responsabilidades do Capelão vão além
do quartel, pois como já foi mencionado, sua área de atuação se estende aos
familiares dos militares, o que representa um aumento considerável de ovelhas a
pastorear. Com isto, podemos perceber um crescimento grande nas atividades do
Capelão e quando mencionamos que a evolução dos concursos para o Quadro de
Admissão de Capelães no Exército é tímida é porque nos concursos realizados a
média sempre foi de três por um, isto é, para cada três vagas abertas para os
Padres só uma é para Pastor.

O mesmo censo mostra que se houve uma evolução no crescimento


evangélico, por outro lado, nos últimos 20 anos o número de adeptos da
Religião Católica caiu 14 pontos percentuais e a cada década a chance de
um brasileiro se tornar católico cai 28%. Disponível em: Jornal Zero Hora–
21/04/2005.

Com esses dados patentes entende-se que se automaticamente cresce o


57

número de Evangélicos no País, automaticamente cresce dentro da Força Armada


em questão. O Exército Brasileiro precisa, na atual conjuntura, repensar em como
solucionar tal questão, pois em momento azado deverá se pronunciar, visto que não
tem mais como se fazer de mouco para a realidade nacional. Acredita-se que
além de concursos com vagas reais cumprindo a Legislação Federal supracitada,
com o passar do tempo será necessário estabelecer um novo capelão dentro do
Exército Brasileiro para os evangélicos. As leis, concursos e estrutura do SAREx
são imprescindíveis para o bom andamento do trabalho da capelania. Não haveria
como alcançar os objetivos se não fosse desta forma. Se existe uma instituição que
caminha coordenamente, ela é o Exército Brasileiro.

Mas, há um outro lado importante desta história de capelania é a vida do


capelão diante de situações que o levam a uma vida de dedicação ao ministério que
desenvolve e somente tendo contato com eles pode-se ver a riqueza e a beleza
deste ministério, fato que será tratado no próximo capítulo.
58

CAPITULO 3

O MINISTÉRIO PASTORAL DO CAPELÃO

3.1. O Capelão Como Modelo

Vale definir o termo modelo para que possa entender não só com mais afinco
o trabalho do capelão, bem como a importância que o mesmo tem na formação do
caráter de um soldado como criar conceitos que possam ser valorizados e imitados
pela tropa. Conforme o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Ed
GAMMA, em sua 11ª edição, o termo “modelo” significa:

Objeto para ser reproduzido por imitação; molde; representação, em


pequena escala, de um objeto que se pretende executar em grande
´[...] tipo (fig) aquilo que serve de exemplo ou norma; pessoa
exemplar.

Como um tipo de arquétipo, o capelão tem o dever de se comportar como


padrão a ser imitado dentro e fora do quartel. Como um homem divinamente
chamado tem um poder grande para modelar indivíduos e para isso precisa ser
patente em seus conceitos. Todo capelão deve olhar o indivíduo como alguém que
tem capacidade e desenvolver nele potencialidades. Para tal não só utilizará a
comunicação como a própria vida.

O indivíduo não é modelado como uma coisa passiva, inerte. Ao


contrário, ele é formado no curso de uma prolongada conversação
(uma dialética, na acepção literal da palavra) em que ele é
participante. Ou seja, o mundo social (com suas instituições, papéis e
identidades apropriados) não é passivamente absorvido pelo
indivíduo, e sim apropriado ativamente por ele. (BERGER, 2004,
p.31)

Fica expresso que o Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército,


Frei Orlando, tinha essa qualidade. Dias antes do embarque do 11º Regimento de
Infantaria para a Itália, após realizar atos religiosos ensinava juntamente com outros
59

capelães cantos religiosos, patrióticos e canções populares com grande entusiasmo,


alimentando os ânimos dos soldados num clima de fé, segurança, paz e otimismo.
Pela experiência de vida, sabia que aqueles militares necessitavam ser modelados
por alguém que cria que poderia voltar à pátria mãe. Antes mesmo da viagem longa,
difícil às plagas européias, sobretudo amenizava os corações que já estavam cheios
de saudades.

E Frei Orlando, alma jovem, sacerdote alegre e modelar, não se


cabia de contente, diante da alegria, quase celeste naquelas plagas
do Rio. Diante dele ninguém ficava triste. (PALHARES, 1982, p. 204).

Tanto Frei Orlando como o Pastor Soren foram homens notáveis que
desempenharam muito bem suas missões. Ambos tiveram uma influência muito
grande e marcante entre os militares. A empatia é percebida nos relatos sobre estes
capelães. Dentro do campo religioso como do psicológico a empatia é a identificação
emocional de uma pessoa com outra ou situações, isto é alguém que participa nos
problemas, tristezas, frustrações e etc. não só para se compadecer como para tentar
trazer um resultado eficiente à pessoa. O capelão tem essa missão dentro de seu
campo de ação. Ele não vai eliminar os problemas, mas sim levar seu “paciente” a
um fortalecimento emocional, ocorrendo uma reestruturação em pensamentos e
atitudes.

Exige-se do capelão ter um bom desenvolvimento nos relacionamentos


interpessoais. Os relacionamentos sociais aperfeiçoam e amadurecem o homem
mesmo havendo diferenças de pensamentos. O ser humano é diferente no modo de
pensar, de sentir e de agir. As diferenças existem e o capelão deverá reconhecê-las
e lidar melhor com elas, especialmente no ambiente de seu trabalho. Quando se
respeita as diferenças se conquista grandes amizades bem como relacionamentos.

No que diz respeito aos relacionamentos, sabe-se que as diferenças existem,


sejam elas de cunho cultural, normas e religiosas. Como o capelão tratará com
vários militares de confissões diferenciadas é necessário que o faça sem acepção ou
diferença. O bom relacionamento dos capelães de confissões diferentes trará
estabilidade tanto à tropa como a eles mesmos. Com a troca de experiências e as
diferenças de cada um os capelães aprendem e crescem.
60

As vezes as diferenças no ambiente de trabalho podem gerar conflitos. Diante


deste fato, é necessário todo cuidado para que isto não ocorra. Esses conflitos
produzem em muitos casos atitudes preconceituosas ou até mesmo intolerância
criando barreiras para a comunicação e a troca de ideais.

Nas relações interpessoais o ser humano influencia e recebe influência, por


isso, o bom relacionamento entre os capelães é de fundamental importância para
própria unidade entre os militares. PETER BERGER (2004, p.34) retrata a sociedade
como guardiã das estruturas:

[...] viver num mundo social é viver uma vida ordenada e significativa.
A sociedade é guardiã da ordem e do sentido não só objetivamente,
nas estruturas institucionais, mas também subjetivamente, na sua
estruturação da consciência individual.

Este relacionamento pode ser visto na vida de Frei Orlando. Além de culto,
piedoso, inteligente e exemplar, sempre gozou de alta estima e confiança dos
Chefes Militares.

Impressionante era a atuação de Frei Orlando, como Capelão-Chefe,


no Regimento Tiradentes; conhecia pelo nome a quase todos,
graduados ou não [...] Sempre brincalhão e bem-humorado, de todos
se fazia amigo, ganhando-os como militar e como sacerdote, para
Deus, o Senhor dos Exércitos (PALHARES, 1982, p. 206).

Calvino (2003, p. 31, 32), comentando sobre como se deve tratar as pessoas
e buscar o bem de todas sem distinção de cultura e religião disse:

Ademais, nós que formamos parte da família da fé, somos os que


mais podemos apreciar a imagem de Deus [...] De modo que se
alguém aparece diante de vocês necessitando de seus amáveis
serviços, não há razão alguma em recusar-lhes tal ajuda.
Suponhamos que seja um estranho que necessita de nossa ajuda;
mesmo por ser estranho, o Senhor tem posto nele Seu próprio selo e
lhe tem feito como alguém de tua própria família; portanto, te proíbe
de desprezar tua própria carne e sangue.

Essa é a formação do verdadeiro capelão, independentemente de qualquer


situação sempre está pronto a atender a todos.
61

O capelão é alguém que se relaciona com as pessoas servindo de modelo e


modelando vidas, mas há outra questão de suma importância: a vocação religiosa.
Num Brasil plural, onde vários seguimentos religiosos surgem a cada dia, questiona-
se muito sobre a vocação religiosa dessas lideranças. Deve-se questionar tais
lideranças, pois, segundo BERGER a religião está em crise, pois devido a
pluralidade ocorreu a secularização e automaticamente a própria teologia entrou em
crise:

A crise de credibilidade na religião demonstra o quanto ela se


secularizou. O homem por natureza não costuma ser seguro em
questões religiosas. Assediado por vários conceitos religiosos gerou-
se o fenômeno da pluralidade e com isso a secularização. O palco
original da secularização é o econômico. A crise da teologia na
situação religiosa contemporânea tem base na pluralidade. A religião
tradicional tem sido questionada por pessoas sem nenhum
conhecimento de teologia. A crise da teologia cresce na mesma
proporção que o pluralismo e a secularização. (BERGER, 2004)

A crise é tão grande no meio religioso que BERGER (2004, p. 149) retrata a
religião como algo a ser vendido como um grande mercado:

A situação pluralista é, acima de tudo, uma situação de mercado.


Nela, as instituições religiosas tornam-se agências de mercado e as
tradições religiosas tornam-se comodidades de consumo. (grifo do
autor).

Hoje o mercado oferece não vocação e sim cargos. Antes os líderes religiosos
eram vistos como sacerdotes (pastores e padres), hoje o que voga é o cargo. Pastor
de ovelhas não é mais visto como sacerdote, pois não dá status. Hoje tem
autoridade o bispo, apóstolo, autoridades máximas nos milagres e experiências
transcendentais. Cremos que este tipo de líder não serve para ser capelão dentro
das Forças Armadas, pois não tem mostrado ao longo dos anos vocação religiosa.

MERVAL ROSA (1979, p.211) citando o Professor Henlee H. Barnette, retrata


o que é uma vocação religiosa, bem como sua importância dentro da sociedade:

Uma vocação cristã é aquela em que se presta genuíno serviço à


humanidade. [...] A vocação cristã é aquela que atende a uma real
necessidade da sociedade. [...] A vocação cristã é aquela que está
em harmonia com o amor e a justiça humana. É a vocação que exige
62

do homem o senso de integridade, criatividade, imaginação e


utilidade social. Finalmente, uma vocação cristã é aquela em que há
um senso de propósito naquele que a pratica ou segue.

A vocação é para pessoas compromissadas com Deus e com o social.


Vocação não é promoção, marketing, mas é para pessoas maduras visto que é um
trabalho interminável. Na vida religiosa ninguém pode ou tem autonomia para se
autonomear. “O que torna válido um ofício é a vocação de modo que ninguém pode
exercê-lo correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus” (Apud
HERMISTEM, 2005, p. 20).

João Calvino sempre teve em mente que a vocação, o chamado divino ocorre
com a pessoa que tem uma larga experiência com Deus e preocupado com este
assunto como se fosse uma profecia recomenda que tais homens não deveriam
ultrapassar os limites da vocação.

Ninguém deve ser tentado por sua própria jactância a levar acabo
nada que não seja compatível com o seu chamamento, porque tem
que saber que é incorreto ultrapassar os limites impostos por
Deus. (CALVINO, 2003, p.76, grifo nosso).

Para o cristianismo a vocação tem uma imensurável significação e ela deve


ser desenvolvida com seriedade porque ela reflete a experiência entre o
vocacionado com aquele que vocacionou.

Na Epístola de Diagoneto, escrita, aproximadamente, no ano 130


da nossa era, a doutrina da vocação é apresentada em termos de
uma dupla cidadania. O cristão deve ser bom cidadão da pátria
terrena, porque é bom cidadão do Reino de Deus. (ROSA, 1979, p.
210, grifo do autor).

3.2. O Psicoterapeuta Verde-Oliva

O homem não é um ser acabado. Ele nasce necessitando de todos


os que estão ao seu redor e com isso o faz adaptar-se a qualquer
lugar onde for. Seu mundo é aberto e não fechado como a dos
animais irracionais. (BERGER 2004)
63

Existem muitas possibilidades em se conceituar o termo aconselhamento


partindo do pressuposto que no geral significa uma série de contatos entre um
profissional, seja ele da área psicológica como religiosa que tem por objetivo
oferecer auxílio com vistas a mudança de comportamentos e atitudes daqueles que
os buscam. O capelão não é um médico (a não ser que seja formado) que presta
assistência religiosa oferecendo saúde espiritual aos militares bem como oferecer
um nível de ajustamento mais elevado, conduzindo pessoas a uma estruturação
emocional interior como exterior.

Na visão de BERGER olhando para dentro do Exército Brasileiro, o capelão


tem uma missão importante, pois ele será o instrumento para fazer com que alguns
consigam se adaptar melhor dentro dessa nova vida bem como servirá de ombro
amigo quando surgir algum infortúnio.

[...] o aconselhamento procura estimular o crescimento da


personalidade, desenvolvê-la, ajudando-as a lidar com mais eficácia
com os problemas da vida, com seus conflitos interiores, com as
emoções e sofrimento [sic], encorajando e orientado a todos que
sofrem perdas e desapontamentos, dando assistência aos que têm
padrões de vida que conduzem à derrota e infelicidade. (LOTUFO
NETO, 1984, p. 36).

O capelão psicoterapeuta é aquele que exerce sua missão de acordo com a


visão de LOTUFO NETO e produz uma terapia bem sucedida por desenvolver
qualificações básicas para tal. Entende-se por básico aquele conselheiro que tem: a)
Cordialidade, isto é respeito, cuidado e preocupação sincera pelas pessoas; b)
Sinceridade, uma pessoa aberta, franca e honesta em suas colocações; c) Empatia,
se coloca no lugar do aconselhado para tentar sentir o que o paciente sente e
mostrar-se sensível a todas as questões que são colocadas pelos aconselhados; d)
Saber ouvir, esta qualidade é a mais importante de todas, pois se o conselheiro não
a desenvolver bem e ter ouvidos clínicos ele não alcançará seus objetivos.

Aquele que não é capaz de prestar atenção longa e pacientemente,


acabará falando fora de propósito e nunca falará realmente a outros,
embora disso não esteja consciente. (VASSÃO, 2006, p. 99)
64

E mais, LOTUFO NETO (1984 apud, p. 36) citando Bonhoeffer disse que
“devemos ouvir com os ouvidos de Deus, para que possamos falar com suas
palavras”.

O pscoterapeuta verde-oliva deve ter em mente que quando um indivíduo


vem buscar auxílio para um determinado problema, ao apresentá-lo, ele apresenta a
si mesmo. Ele está preocupado com sua qualidade de vida, em como desenvolver
melhor sua personalidade, crescer como indivíduo, saber tomar decisões. Feliz do
capelão quando o soldado faz as colocações de forma patente. Quando não se torna
tão evidente terá que interpretar a situação por meio dos temores, frustrações,
dúvidas e ansiedade que ele traz.

Por muitas maneiras um militar pode demonstrar suas crises e há certos


casos que o capelão apenas será um instrumento para detecção de situações em
que terá que enviar a pessoa a um profissional especializado. Em muitos casos o
paciente não busca um profissional da área por medo ou lassidão. A busca pelo
auxilio do capelão é devido a sua proximidade e o bom relacionamento que tem com
a tropa.

3.2.1. Drogas e Álcool

Esta é uma das situações que além de trazer problemas de saúde traz
transtornos para a vida militar. Não há nada de novo neste assunto. Historicamente
falando, este problema sempre existiu. O assunto é tão amplo que quase seria
impossível apresentar estatísticas concretas, pois os números não param de crescer
e praticamente seriam obsoletos no término deste trabalho caso fixássemos
qualquer estatística. Algumas pessoas têm dificuldades de relacionar-se com outras
pessoas, com Deus e consigo mesmas e precisam ligar-se a alguma coisa
colocando alguns objetos em seu lugar e isto se torna vício. Apegar-se ao objeto
sempre que algo está errado é ter posse de algo que traz satisfação momentânea.

Apegar-se a um objeto para compensar a nossa necessidade de


amor insatisfeita pode funcionar, mas temporariamente. A euforia
65

que extraímos da posse de certos objetos pode nos fazer esquecer


que na verdade precisamos de algo mais profundo. No entanto,
como o objeto é apenas um substituto do amor que trocamos nos
relacionamentos, essa satisfação nunca é duradoura. Precisamos
retornar repetidas vezes ao objeto para afastar os sentimentos de
vazio e insatisfação. (BAKER, 2005, p. 101)

Esta é a questão do álcool. Ele vem ou tenta compensar algo que está
perdido e que precisa ser resgatado. Entendemos que em muitos casos é
necessária medicação o que foge às mãos do capelão, mas ele pode trabalhar para
trazer equilíbrio ao paciente.

Preocupados com este problema, o “Manual do Soldado” que trata de varias


questões tem seu artigo próprio que menciona a questão do álcool. Ele é incisivo,
claro para que o militar possa andar com dignidade e ser modelo para colegas como
para subalternos. Em relação à embriaguez no serviço, em seu Artigo 202 ele diz:
“Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para
prestá-lo: PENA – detenção, de seis meses a dois anos”. O mesmo manual explica
sobre algumas situações que ocorrem nesta questão e como o militar deve portar-
se e suas conseqüências caso um soldado seja pego infringido as normas :

A punição por embriaguez em serviço faz-se necessária porque,


além de preservar a integridade física e psíquica do militar, procura
também resguardá-lo de acidentes consigo mesmo, como em
terceiros, ferindo ou até podendo tirar a vida de um companheiro ou
colocar em perigo a estabilidade da Organização Militar. Essa
modalidade de delito divide-se em duas formas: na primeira o militar
já se encontra de serviço e embriaga-se; (se após a ingestão de
bebida alcoólica o agente não ficar embriagado não existe crime e
responderá disciplinarmente). Na segunda forma o militar apresenta-
se embriagado para prestar o serviço. (cabe ressaltar que o militar
tem que ter ciência de estar escalado para tal). Manual do
Soldado – Disponível em: http: //www. militar.cristao.nom.br/. Acesso
em: 8 set.2008.

Muito mais que penalidades, o álcool faz o ser humano perder a dignidade, o
equilíbrio e a sensatez. Neste ponto o capelão faz a diferença, pois não é a
medicação que trará o paciente à dignidade; ela ajuda, mas é o auxílio do
psicoterapeuta verde-oliva que servirá de instrumento para a recuperação da
pessoa. O motivo pelo qual as pessoas não conseguem deixar os vícios é que elas
66

sempre podem voltar para eles, pois dão ao dependente prazer momentâneo.
Sempre existirá volta se a pessoa não se libertar totalmente. O vício é a satisfação
na hora da dor, da tristeza e como ele, o vício se torna uma roda viva, a pessoa
sempre necessitará de uma dose maior ou uma droga mais forte. A cada círculo ela
fica mais deprimida, mais fraca para si mesma e mais forte para uma nova
experiência. No caso de drogas ilícitas, isto é “Tráfico, Posse ou uso de
entorpecentes ou Substância de Efeito Similar” o “Manual do Soldado” em seu Artigo
290 :

TRÁFICO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU


SUBSTÂNCIA DE EFEITO SIMILAR - Art. 290 CPM
– Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que
gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que
para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a
consumo substância entorpecente, ou que determine dependência
física ou psíquica, em lugar sujeito ‘a administração militar, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, até cinco anos. Ibid.

Comentando o artigo elencado o Manual esclarece:

Crime militar que pode ser cometido por militar ou civil, desde que
seja praticado em local sob administração militar. Pelo entendimento
do Superior Tribunal Militar não se leva em conta a quantidade de
substância entorpecente em posse do agente, pode ser um
decigrama ou até mesmo um centigrama de substância que irá
configurar o delito. É importante ressaltar que não existe no CPM
distinção entre traficante e usuário, tratando-se assim as duas
modalidades com o mesmo rigor. Não se considera o princípio da
bagatela (insignificância) existente na lei penal comum. Manual do
Soldado. Disponível em: http://www. militar.cristao.nom.br/ - Acesso
em: 8 set. 2008.

Em casos de dependência deve-se tentar conduzir o dependente a um


tratamento médico.

3.2.2. Doença

O corpo não vive para sempre neste mundo. Ele é composto de tecidos,
músculos, variedade de órgãos que vão se enfraquecendo ou com o passar dos
67

anos ou se a pessoa é acometida de uma enfermidade determinada. Só lembra-se


da saúde quando se fica doente, especialmente quando ela se torna séria.
Eventualmente o corpo se desgasta e tenta-se repor as forças quando se passa por
tais momentos.

A doença, escreve um capelão, é mais do que falta de saúde. Trata-


se de uma expressão de nossas limitações físicas, emocionais e
espirituais. Ela é uma indicação viva de que somos seres humanos,
habitando um corpo destinado a morrer. (COLLINS, 1995, p. 329)

Com relação ao paciente terminal a impotência contra a enfermidade bem


como a importância do capelão dentro do hospital assistindo o enfermo objetivando
auxílio para a alma em muito enriquece o trabalho do capelão. A enfermidade seja
ela causada por um acidente ou por qualquer alteração do estado físico da pessoa
sempre provoca e provocará no ser humano uma surpresa desagradável,
perturbadora, desanimadora que extrai do homem suas forças com poder imenso de
mudar os planos e sonhos.

Entende-se que o trabalho com o paciente terminal difere do tipo de


psicoterapia tradicional, isto é, dependendo do alto grau da evolução do quadro do
enfermo o capelão terá que visitar o moribundo no hospital ou na residência. Há
casos em que o enfermo poderá se deslocar para o ambulatório ou mesmo para
uma clínica.

As entrevistas são realizadas no próprio leito do doente ou em uma


sala do ambulatório, quando o paciente pode se deslocar. Elas
duram tanto quanto o paciente quiser conversar ou suas condições
físicas o permitirem. De preferência não devem ser muito longas para
não cansar o paciente. Podem durar alguns minutos, ou podem ser
de quase uma hora. (KLAFKE, 1984, p. 9)

“A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra”


(PROVÉRBIOS, 12:25). “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a
alma e medicina para o corpo. (PROVÉRBIOS, 16:24). A medicina tem um poder
muito grande para a reabilitação da saúde física dos pacientes, mas em certos casos
é a palavra do capelão que irá tranqüilizar, amenizar o momento traumático vivido
68

pelo paciente. Dependendo do paciente, isto é de seu histórico de vida, saúde e


militar sempre ativo o grau de intranqüilidade pode ser maior, pois aprendeu a
suportar a dor, o medo e dificuldades encontra-se no atual momento diante da maior
batalha: a luta contra a morte em favor da vida. “...a língua dos sábios é medicina”
(PROVÉRBIOS, 12:18).

TERESINHA E. KLAFKE (1984, p. 9) em sua palestra “O Paciente à Morte”


apresentada no I Congresso Brasileiro de Evangelização Belo Horizonte – Minas
Gerais, dissertando sobre momentos que um psicoterapeuta passa com um paciente
em fase terminal relatou:

Conversamos sobre o que o paciente quiser conversar, procurando


criar um clima de aceitação, onde ele possa colocar suas dúvidas,
medos, raivas e esperanças. Enfatizamos sempre a qualidade de
vida, tentando descobrir com ele o que pode fazer para viver melhor
o tempo que lhe resta. [...] Se ele quiser falar sobre a sua morte
conversamos sobre isso, se quiser fazer planos para o futuro, o
ouvimos. Temos o cuidado de não forçar a negação, mas
respeitamos o momento em que a usa. Às vezes o paciente passa
muito tempo sem falar sobre a gravidade de sua doença e muitas
vezes parece-nos que não está consciente do que está acontecendo.
Notamos que quando o estado físico piora, ele entra em depressão e
então fala mais livremente de suas angústias.

O trabalho do capelão não se limita ao paciente seja ele em estado terminal


ou não. Atrás desse enfermo sempre existe uma família que sofre junto com o
paciente, que as vezes não se conformando com a situação. A rotina da família se
interrompe, as finanças ficam abaladas e muitas vezes ela terá que enfrentar a
realidade da morte. Diante deste fato, o Capelão tem uma missão importantíssima,
pois será necessário trabalhar com a família do enfermo, aconselhando-a a entender
o momento presente. Assistindo a família do paciente, o mesmo poderá enfrentar
melhor a sua enfermidade. Outro aspecto do valor do Capelão é o auxílio que presta
a junta médica quando assiste o enfermo.

[...] é importante lembrar que o pessoal do hospital talvez se


beneficie através do aconselhamento periódico. Não é fácil lidar com
o sofrimento ou a morte e os empregados do hospital, inclusive os
médicos, podem tirar proveito de aconselhamento casual, de apoio,
que os auxilie a tratar com suas emoções e perguntas não
respondidas. (COLLINS, 1995, p. 339).
69

Essa mesma idéia nos transmite ELENY VASSÃO em seu Manual Técnico de
Capelania Hospitalar (1997) relatando o bom trabalho do capelão dentro do hospital
e reconhecido pelos médicos onde os mesmos defendem o papel curador cuidando
da vida espiritual dos enfermos. O enfermo que tem seu espírito fortalecido tende a
uma recuperação mais rápida em sua doença física e caso seja uma paciente
terminal entenderá que a vida tem um fim.

A obra do capelão de hospital tem muito em comum com a obra


do psiquiatra do hospital. Foi Platão quem disse: ‘Nenhuma tentativa
se deve fazer para curar o corpo sem a alma, e se a cabeça e o
corpo devem ser sadios, tereis que começar, curando a mente’. O
hospital moderno é um estabelecimento impressivo e dispendioso.
Há uma média de nove pessoas e meia cuidando de cada paciente,
mas a maioria não tem contato com ele. Entretanto, malgrado todas
as pessoas que correm para cá e para lá a fazer o bem, o paciente,
que é quem recebe o benefício de todos estes esforços, pode julgar
que o grande hospital moderno deve ser para ele um dos locais mais
solitários e infelizes do mundo! Em primeiro lugar porque se acha
separado do lar, da família e dos amigos. Em segundo lugar, porque
sofre dores ou virá a sofrê-las. Em terceiro lugar, todos os temores
básicos, que ele pode controlar quando sadio, despertam-se ao
internar-se no hospital. Estes são os temores da morte ou de tornar-
se mutilado fisicamente ou de perder o controle emocional. Num
hospital, estes temores têm muito mais probabilidade de sobrevir do
que fora dele. Há grande ligação entre doença emocional física e
espiritual. Consideremos, por exemplo, a depressão. É uma doença
emocional comum. A pessoa deprimida pode ter várias queixas
quanto a males físicos, que podem envolver qualquer órgão do
corpo. Estas pessoas não têm apetite, sofrem de prisão de ventre ou
de diarréia, podem sentir dor no peito ou palpitação, não têm sono,
perdem o interesse em tudo e retraem-se do mundo, muitas vezes
sentindo-se desprezadas por todos. Muitas vezes lhes sobrevém
uma mórbida sensação de ter agido mal ou cometido o pecado
imperdoável, e que Deus as abandonou, e que a doença seja castigo
por seus pecados passados. Penso que nós, os que trabalhamos em
hospitais de clínicas, temos nos desviado muito do alvo de Rahere,
que era prover hospitalidade aos doentes. O hospital de clínicas
moderno não é lugar muito hospitaleiro. Nossos empenhos dirigem-
se mais no sentido da doença da pessoa do que da pessoa do
doente. Interessando-nos mais pelos rins do que pelos donos dos
rins, mais no coração como uma bomba do que no coração como
sede das emoções, mais pelo cérebro como um computador do que
órgão que aloja a consciência. Temos levado longe demais a
especialização. Agora temos que restaurar o toque pessoal – a
hospitalidade – aos nossos hospitais. Temos de tratar a pessoa
toda– corpo, espírito e alma, e não apenas alguns órgãos que
funcionam mal. Ministros e psiquiatras, enfim, todos os que assistem
os doentes têm singular oportunidade de servir ao homem todo. E o
homem hospitalizado aí está porque chegou a uma encruzilhada na
vida. Pode ele estar enfrentando a morte ou uma mutilação cirúrgica,
70

ou pode ter perdido temporariamente o contato com a realidade, ou


perdido o controle de suas emoções. O doente está extremamente
necessitado de ajuda não somente de remédios, cirurgias, curativos
[...] mas, ele precisa de alguém que seja usado por Deus para curar
a sua alma: o capelão, o visitador evangélico. Oliver Wendell Holmes
disse: “é privilégio do médico curar às vezes, aliviar muitas vezes,
confortar sempre”. Nós, médicos, nos empolgamos tanto com a
primeira parte que muitas vezes passamos por alto a última. O
capelão eficiente pode ajudar-nos a tratar do indivíduo todo, corpo,
espírito e alma. Ele pode ajudar-nos a tornar o hospital mais uma
vez, um lugar onde se encontra a hospitalidade. (Souza Lima apud
VASSÃO, 1997, p.51).

Para que se mantenha uma boa discrição e tenha respeito pelos médicos, é
necessária uma integração entre o capelão e os profissionais da saúde (médicos,
enfermeiros, atendentes e etc.). Existem pastores, ministros e obreiros religiosos que
pelo fato de serem líderes acham que podem agir de acordo com a idéia que tem de
conselheiros e adentrar a um hospital só porque a lei lhe dá permissão para tal –
“Entrada em Hospitais e Presídios: Art. 5º - VII – É assegurada, nos termos da lei, a
prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva” (CONSTITUIÇÃO – 1998 – República Federativa do Brasil). Por outro lado
outros acham que a Bíblia lhe dá tal autoridade, ocorrendo certos conflitos,
prejudicando outros conselheiros, tudo por falta de conhecimento e discernimento
sobre como agir como pastor. Existem regras básicas de visitação hospitalar,
retiradas do Manual prático de Capelania contido no livro “No Leito da Enfermidade”
- Normas para Visitação Hospitalar (VASSÃO, 2006, p.115):

1. Não entre em qualquer quarto sem antes bater na porta.


2. Verifique se há qualquer sinal expresso proibindo visitas.
3. Tome cuidado com qualquer aparelhagem ao redor dacama.
4. Evite esbarrar na cama ou sentar-se nela.
5. Avalie a situação logo ao entrar, a fim de poder agir objetivamente
quanto ao tipo e duração da visita.
6. Procure colocar-se numa posição confortável para o paciente, ao
seu nível visual, para que ele possa conversar com você sem se
esforçar.
7. Se a pessoa não o conhece, apresente-se com clareza.
8. Não pergunte sobre a gravidade da doença.
9. Não leve qualquer tipo de alimento.
10. Não dê água ao paciente sem a permissão da enfermagem.
11. Não apresente fisionomia emotiva ou de comiseração (piedade).
12. Não manifeste nojo de suas feridas, nem medo de contágio.
13. Não lhe estenda a mão (só se o paciente tomar a iniciativa).
71

14. Não aceite pedido do paciente para obter resultados de exame


médico, ou dar-lhe notícia de diagnósticos.
15. Fale num tom de voz normal. Não cochiche com outras pessoas
no quarto. Ore em tom normal.
16. Dê prioridade ao atendimento dos médicos e enfermeiras, assim
como ao horário de refeições. Ceda sua vez.
17. Concentre-se em atender as necessidades daquela pessoa
diante de você. Não adianta falar de outros enfermeiros nem de si
mesmo.
18. Não tente movimentar o doente sem a autorização da
enfermagem.
19. Saiba que a dor e a medicação podem alterar o humor do
paciente.
20. Não queira forçar o doente a sentir-se alegre, nem o desanime.
Aja com naturalidade, pois se você se sentir à vontade, ele terá maior
probabilidade de sentir-se também.
21. Não dê a impressão de estar com pressa, nem demore até
cansar o enfermo. Com bom senso, encontre a duração ideal para
cada situação.
22. Se você estiver doente, não faça visitas.
23. Não use perfume.
24. Sapatos de tecido e sandálias não devem ser usados no hospital.
25. Se gostar de usar jóias ou bijuterias que elas sejam discretas.
26. Use sempre um jaleco ou roupas brancas para fazer as visitas.
27. Se estiver visitando áreas infectadas, lave o jaleco separado das
outras roupas.
28. Nunca se esqueça do seu crachá.
29. Use uma Bíblia pequena, de bolso.

Tais requisitos são imprescindíveis para uma boa visitação e atendimento


hospitalar. Um capelão agindo desta forma além de ser útil ao paciente levando ao
mesmo humanização, solidariedade e conforto, apóia o trabalho dos profissionais do
hospital e serve de modelo para os demais conselheiros.

3.2.3 A Morte

A maioria dos dicionários define morte como o fim a vida. De forma sintética é
17
o “Ato de morrer; fim da vida” . Analiticamente a Enciclopédia EDIPE define:

17
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Gamma,
11º Edição.
72

“Simplesmente definida, a morte é a quebra do equilíbrio físico-químico que mantém


vivo o organismo animal ou vegetal”18.

[...] Para quem nos escutava, estávamos preparados para afirmar


que a morte era o final necessário e inevitável da vida, uma dívida
natural que todos temos que um dia pagar. Todavia, na realidade,
estávamos acostumados a agir com se assim não fosse.
Mostrávamos uma tendência inconfundível a colocar a morte de lado,
eliminando-a de nosso pensamento. (FREUD, 1984, p.202)

Este trecho é parte de uma carta que Sigmund Freud19 enviou para o Dr.
Frederik Eeden revelando sua visão da morte. Muitos ao se depararem com a morte,
tentam afastar-se dela para amenizar um pouco os sofrimentos. Seja qual for a
melhor definição que possamos ter ou fazer da morte, ela não aliviará o sofrimento
do moribundo, pelo contrário, mais próximos dela estaremos.

A morte de um líder pode comover toda uma nação trazendo um sentimento


de pesar, mas será totalmente diferente experimentada por uma viúva ou pela perda
de um filho. A dor será maior se ela chegar inesperadamente, isto é, de forma súbita
(acidente, uma bala perdida e etc.) o que difere se a pessoa for idosa e se estiver
num leito, doente há muito tempo. O desenvolvimento da medicina não alterou a
realidade da morte, apenas tenta prolongar a vida, estabilizar o quadro clínico do
paciente. Para o moribundo esse prolongar é imprescindível por dois motivos:
primeiro por causa do medo que a morte produz a todos e segundo o medo que o
doente tem nas conseqüências de sua morte, isto é, da instabilidade seja ela
financeira ou emocional que sua família passará. A morte mata, é algoz; neste
momento azado que a presença do capelão verde-oliva fará diferença. A morte é
feroz, mas o acompanhamento do capelão trará à família e ao enfermo certa
tranqüilidade que todos necessitam.

18
EDIPE. Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. São Paulo: livraria Editora
Iracema LTDA, 1987. p. 2428.
19
Nota. Sigmund Freud (Príbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939) foi um
médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Interessou-se inicialmente pela
histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais
tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e
Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases
da psicanálise. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Sigmund_freud. Acesso em: 18 set.2008.
73

Ao reportar os olhos para a guerra a morte se torna mais real para o soldado.
Ele se vê apequenado diante da imensidão da batalha. A guerra se torna
onipresente, para onde o soldado se mover lá estará ela e ele desprotegido,
impotente mesmo tendo sido treinado para viver.

A morte não pode mais ser negada; somos forçados a crer nela. As
pessoas realmente morrem, não mais uma a uma, mas muitas, às
vezes dezenas de milhares num só dia. A morte não é mais um
evento casual. (FREUD, 1984, p.202).

O homem por melhor preparado que esteja para o combate existe um aspecto
em sua vida que não há nada que lhe possa preparar para morte. Ela sempre
desestabiliza o combatente. O medo do sofrimento se torna um inimigo patente. A
guerra ameaça o soldado de morte e sofrimento. “Se o exército não é capaz de
persuadir um homem a se preparar para a morte, que série de imaginável de
circunstâncias poderia fazê-lo?” (LEWIS, 2005, p.332).

Nem o “homem animal ou instintivo” e muito menos o “homem


psicológico ou intelectual” aceitam a morte. Quando estamos
correndo risco de vida, seja por uma dor, um ferimento, a ameaça de
uma arma, um acidente, o “homem animal” surge com intensidade:
os instintos são aguçados, o coração acelera, a freqüência
respiratória aumenta e surge uma série de mecanismos. Quando o
homem animal aparece, o homem intelectual diminui [...] (CURY,
2006, p.104)

Na guerra diante da iminente morte não é só a preparação do soldado que


fará diferença no campo de batalha. Além do seu conhecimento intelectual, terá que
obter uma motivação a mais para que medo seja amortizado. Daí a presença
marcante do capelão neste preparo. A presença do ministro de Deus fortalece a
alma do militar seja ele de qualquer patente. O respeito pelo sacerdote é muito
grande. Nesta pesquisa verificou-se que os capelães militares são respeitados e
admirados pelos membros da caserna. Segundo o 1º Tenente Capelão João Batista
Alves de Almeida Júnior, de Confissão Católica, lotado na (EsPCEx) Escola de
Preparação de Cadetes do Exército, na cidade de Campinas-SP, até os oficiais
superiores têm pelos Capelães respeito, não só pela patente, mas pelo ofício
sacerdotal. Os homens da caserna vêem nos capelães os representantes de Deus.
74

A presença do sacerdote em meio aos homens traz paz em meio a guerra,


tranqüilidade na execução da missão, coragem frente ao medo e esperança para a
vida. Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror, fosse pela frieza da
guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no campo de batalha,
companheiras aliadas que lutavam contra os pracinhas, necessitados de um alento
espiritual e um ombro amigo para fortalecer não só o coração como a alma.

Todo encapotado, galochões contra a neve, capacete enterrado na


cabeça, saía ele pelos campos, deitando-se aqui e ali, para ocultar-
se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas
posições avançadas e o estado moral dos soldados, animando-
os com o seu idealismo sempre posto à prova. (PALHARES,
1982, p. 131-132, grifo nosso).
.

Infelizmente as guerras ocorrem e muitas delas não têm como evitar. Ela por
natureza é desanimadora e ao mesmo tempo desafiadora para os soldados.
Tratando-se de religião sempre se questiona até que ponto a guerra é válida ou
como deve se portar um soldado entre matar ou morrer. A guerra em determinados
casos deve ser declarada especialmente quando ela for justa.

Platão faz pelo menos três colocações e mais duas subtendidas sobre que o
homem não deve negar-se participar da guerra. Nas penas de Platão os itens abaixo
têm como pano de fundo a prisão e morte de Sócrates tendo sido acusado de
impiedade e sentenciado a beber veneno:

1 – O Governo é o Pai do Homem – foi sob o patrocínio do governo


que o indivíduo veio ao mundo; 2 – O Governo é o Educador do
Homem – O governo é o autor da educação do homem, o que leva o
homem ser o que é hoje, especialmente seu conhecimento da justiça
e injustiça; 3 – O Cidadão Comprometeu-se a Obedecer ao Seu
Governo – Há um acordo do governando obedecer as leis
estabelecidas pelo governo, devendo-lhe fidelidade e caso não o
faça que se responsabilize pelas conseqüências; 4 – O Governado
Não Está Compelido a Permanecer Sob Seu Governo – isto é, se
alguém não estiver disposto a obedecer a Pátria , deve achar outra
que possa obedecer; 5 – Sem Governo Haveria Caos Social –
Qualquer governo é melhor do que nenhum governo e se os homens
não obedecerem seu governo será instaurado um caos social . Onde
se estabelece a anomia reina-se a desordem. (GEISLER, 1991,
p.139-141).
75

Numa guerra o soldado não deve se preocupar sobre a morte do inimigo


como sendo ele culpado por matar alguém. O Estado é responsável pelo sangue
dos inimigos, por isso, num combate a função do soldado não é morrer pelo seu país
e sim matar por ele. O grande reformador Martinho Lutero20 em seu livro “Os
Soldados Podem ser Salvos Também” retrata uma série de textos que faz menção
sobre vários assuntos relacionados à guerra. Sobre o fato dela ser justificável, na
apresentação deste trabalho Charles M. Jacobs disse:

Lutero era da opinião de que a guerra é um mal necessário. Ela tem


um lugar próprio no mundo, mas apenas como um meio para a
repressão do que é errado: quando utilizada para se obter esse
efeito, é justificável. (LUTERO, 2008, p. V).

Sobre a consciência da batalha:

[...] pois quando um homem vai para a batalha com uma consciência
boa e bem instruída, ele vai lutar bem, uma vez que uma consciência
tranqüila nunca deixa de provocar uma grande coragem e um
coração cheio de ousadia; mas quando o coração está cheio de
ousadia e o espírito confiante, a força está toda no pulso, cavalo e
homem se aceleram; tudo sai melhor, e todas as chances sustentam
melhor a vitória que Deus dá em seguida. (Ibid p.2).

A guerra como um ato de amor em busca da paz:

Pelo simples fato de ter sido instituída a espada de Deus para punir o
mal, proteger os bons e preservar a paz [...] é que se prova, de modo
vigoroso e suficiente, que lutar, matar e praticar outros atos, que o
tempo de guerra e a lei marcial trazem consigo, foram instituídos por
Deus. Que mais é a guerra do que o castigo daquilo que é mal e
errado? [...] De maneira que, se a espada não estivesse em guarda
para preservar a paz, tudo no mundo iria à ruína, em virtude da falta
de paz. (Ibid, p. 5,6).

Mesmo que não pareça um ato de amor matar, um cristão deve assim fazê-lo,
pois estará protegendo sua família e as demais. “A paz queremos com fervor, a
guerra só nos causa a dor. Porém, se a Pátria amada for um dia ultrajada lutaremos
20
Nota: Martinho Lutero (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi
um teólogo alemão. É considerado o pai espiritual da Reforma Protestante. Precursor da Reforma
Protestante na Europa, fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele foi ordenado padre, mas
devido as suas idéias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado.
Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Martinho_lutero. Acesso em: 19 set.2008.
76

sem temor” (CANÇÃO DO EXÉRCITO).21 Este espírito de luta, consciência, amor se


vê no comandante não só de armas, mas pela motivação dada pelo Capelão verde-
oliva. A idéia daquilo que é justificável terá uma influência maior no espírito do
guerreiro.

A guerra é a espada de Deus, seu julgamento:

Por isso mesmo Deus honra a espada de modo tão elevado que Ele
a chama de Seu próprio decreto22. [...] Certamente a mão que detém
esta espada, e com ela mata, não é mais a mão do homem, mas de
Deus, que enforca, tortura, degola, mata e combate. Tudo isso é obra
e julgamento de Deus. (LUTERO, 2008, p.6).

Na visão de Lutero quem abusa de seu ofício, mata e degola pela própria
desnecessariamente vontade se torna culpado pelo ato. A culpa não recai sobre o
Estado e sim sobre o soldado.

A guerra justa:

Pois o que é a guerra justa, senão o castigo dos iníquos e a


manutenção da paz? Se alguém castiga um ladrão, ou um
assassino, ou uma adúltera, isso é castigo infligido a um único dos
iníquos, mas numa guerra justa alguém castiga, ao mesmo tempo,
toda uma grande multidão dos iníquos, que estão a causar danos em
proporção ao tamanho da multidão. Se, portanto, um trabalho de
espada é bom e direito, todos os demais também o são, pois a
espada é uma espada e não um canivete, e é chamada, em
Romanos 13:4, de “a ira de Deus”. (Ibid, p.8).

Antes de irem para a guerra, na visão do Reformador Lutero os soldados não


deveriam conduzir-se com fraqueza sentimental. O posicionamento era de alguém
confiante. Deveriam ter em mente a família, esposa, o lar, o país. Este espírito
deveria estar enraizado no coração, pois em combate sempre lembrariam que nunca
estariam sozinhos. Um soldado mesmo estando com seus companheiros tiver um

21
Canção do Exército – Letra: Ten. Cel. Alberto Augusto Martins / Música: T. de Magalhães .
Disponível em: http:// www.militar.cristao.nom.br/letra.php?id=5. Acesso em: 17 ago.2008.
22
Romanos 13:1
77

espírito solitário terá duas batalhas a travar: o inimigo próximo e o medo de não
voltar para os seus. Lutar sozinho com a morte é desesperador.

Ao tratar sobre a Capelania católica e evangélica pude-se observar a


presença marcante daquela com o Frei Orlando e desta com o Pastor João Filson
Soren nos campos de batalha em meio a rajadas de balas, frio e morte. Tanto um
como o outro sempre aqueceram o moral dos soldados. O Frei Orlando ministrou o
sacramento da eucaristia, visitou as linhas de frente, encorajando os soldados. Por
outro lado o Pastor Soren sabia da importância da música como estímulo para o
combatente, levando-o a confiar em Deus como em seus irmãos de armas. O fazer
relembrar da família, lar, pátria fez com que os pracinhas desempenhassem bem a
missão.

O espírito narrado é próprio do capelão, do pastor que cuida das ovelhas, do


conselheiro que abraça na hora da dor, que ministra os sacramentos no momento da
morte e como psicoterapeuta verde-oliva incentiva os homens a cumprirem a missão
seja ela dolorida ou não. Lutero era um homem que tinha esse proceder. Além da
preparação que teve como soldado
e o pensamento na família, ele os exortavam a depender da graça divina e
confeccionou uma oração para que fizessem antes da batalha e orienta após a
mesma, caso quisessem proferir o Credo e o Pai-Nosso.

Pai Celestial, aqui estou de acordo com a Tua divina vontade, no


trabalho externo e serviço de meu senhor, que eu devo primeiro a Ti
e, em seguida, ao meu senhor pelo Teu amor. Agradeço a Tua graça
e misericórdia que tens por mim, em um trabalho do qual tenho a
certeza que não há pecado, mas é reto e cuja obediência é
agradável à Tua vontade. Mas sei e aprendi a partir da Tua graciosa
Palavra que nenhuma das nossas boas obras pode nos ajudar e
ninguém é salvo como soldado, mas apenas como um cristão, por
isso, não vou contar a todos sobre esta obediência como um trabalho
meu, mas vou me colocar livremente a serviço da tua vontade e crer
de todo coração que só o sangue inocente de Teu Filho querido, o
meu Senhor Jesus Cristo, me redime e me salva, e que Ele
derramou por mim em obediência à Tua santa vontade. Nisso me
fundamento; sobre isso vou viver e morrer; por isso luto, e tudo faço.
Querido Senhor Deus e Pai, preserva e fortaleça essa confiança em
mim pelo Teu Espírito. Amém. (LUTERO, 2008, p. 48).
78

3.2.4 O cuidado consigo mesmo, a saúde do psicoteraupa verde-oliva.

O trabalho dos capelães é gigantesco. Em visita aos quartéis (unidades


militares) os mesmos precisam passar a “instrução religiosa”, isto é, não podem falar
das doutrinas de sua confissão. Tal permissão só ocorre quando ocorrem as missas
(Igreja Católica) onde os sacramentos são ministrados e da mesma forma nos cultos
(evangélicos) quando a assistência é oferecida diretamente a eles. No geral o
capelão em tais visitas dá assistência, conversa com os soldados e toda essa rotina
traz um desgaste muito grande. De acordo com o Pastor Walter Pereira de Mello
Tenente Coronel Capelão do Exército Brasileiro lotado em Brasília-DF em entrevista
dada a este mestrando o mesmo revelou que “a maior dificuldade é o pequeno
número de capelães para atender a um rebanho tão grande. Hoje, há cerca de 200
mil militares no Exército Brasileiro assistidos por 57 capelães (10 pastores e 47
padres)”.

O Capelão Walter Mello revela o seu imenso trabalho e a extensão que o


mesmo tem que percorrer para assistir os militares:

“42 Quartéis (Unidades Militares) dispostos geograficamente no


Distrito Federal, Goiás, Tocantins e Triângulo Mineiro. Assim
distribuídos:
- O Comando Militar do Planalto, com sede em Brasília e 6 Quartéis
diretamente subordinados;
- O Comando da 11ª Região Militar, com sede em Brasília e 6
Quartéis diretamente subordinados;
- O Comando da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada, com sede em
Cristalina, GO, e 11 Quartéis diretamente subordinados;
- O Comando de Operações Especiais, com sede em Goiânia e 8
Quartéis diretamente subordinados; e
- Mais 7 quartéis em Brasília vinculados ao Comando Militar do
Planalto”.

O Capelão Walter ao ser questionado sobre o número de soldados sob sua


responsabilidade e a maior distância que percorria para visitar os comandos disse:

- “ Cerca de 13 mil militares.


- Cerca de 900 Km, em Palmas, TO, o que é feito via aérea ou
terrestre”.
79

Figuras 10 e 11 - Visita do Ten. Coronel Capelão Walter Mello1º RCGd – Regimento de Cavalaria de
Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF - .
Fotos de propriedade do pesquisador (2008)

Conforme Organograma do SAREx (Anexo I) o Tenente Coronel Capelão


Walter Mello é Subchefe do SAREx no Comando do Planalto. Nas fotos, abaixo,
pode-se notar o referido Capelão ministrando instrução religiosa a um grupo de
soldados. Nas instruções religiosas os capelães não podem falar sobre doutrinas,
igreja ou religião, somente orientações espirituais.

Figuras 12 e 13. Fotos Capelão Walter Mello– Instrução Religiosa no 1º RCGd – Regimento de
Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF .
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

O trabalho do capelão não se limita aos quartéis. Ele visita hospitais, presos e
também as famílias dos militares. No caso do Capelão Walter Mello o trabalho com
as famílias são realizados de duas maneiras: 1- Assiste a UMCEB – União de
Militares Cristãos do Brasil – trabalho realizado com as mulheres dos militares, isto
80

é, apoio que ocorre nas várias vilas militares ou na área de concentração das
residência dos militares. Este trabalho é realizado semanalmente no período da
tarde e a noite ocorre reuniões com as famílias dos militares feitas através de
agendamento.

Figuras 14 e 15. Fotos – UMCEB- União de Militares Cristãos Evangélicos – Grupo de apoio às
mulheres Brasília DF. - Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

Além destes trabalhos mencionados o capelão também tem suas ovelhas nas
igrejas onde congregam assistindo-as em seus trabalhos semanais. Nas fotos,
abaixo, pode-se notar o Capelão Walter Mello dando assistência a um dos grupos de
senhoras da Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília onde é Pastor e ao mesmo
tempo Capelão, pois não tem como separar uma função da outra. Neste grupo
também há mulheres de oficiais militares. Nas fotos acima nota-se a ausência do
Capelão Walter Mello, pois, o mesmo estava dando assistência a um outro grupo
(abaixo) no mesmo horário.

Figuras 16 e 17. Fotos – Grupo de Senhoras Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília – Brasília DF.
Reunião ocorrida na residência do Coronel André Buarque.
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).
81

Pelos dados acima elencados e comentados pelo Capelão Walter Mello pode-
se observar que o trabalho é grande, mas o número de capelães é insuficiente.
Segundo o Capelão Walter as visitas aos quartéis se repetem após dois meses pela
extensão do território e número de quartéis. Essa carga horária e o desejo de
realizar os trabalhos somados aos problemas existentes nos quartéis e questões
individuais podem levar o capelão a um stress muito grande. O número reduzido
desses capelães leva-os a uma jornada maior, por isso é necessário que os mesmos
tenham cuidado com a saúde. No ensejo de cuidar da saúde espiritual dos militares
e de suas famílias, presos e outros ele mesmo pode acabar tendo um desgaste
físico, mental e até espiritual. O próprio Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes
Neto Chefe do SAREx (Serviço de Assistência Religiosa do Exército) em entrevista
declarou a sua própria dificuldade em atender os capelães:

“As dificuldades encontradas são: as distâncias para visitar os


capelães, de estar presentes com eles para orientá-los quanto a vida
pastoral castrense e a outra dificuldade está na questão da
transferência do capelão para outra localidade, pois ele cria um certo
apego, vínculo ao lugar onde está lotado e terá que começar tudo de
novo em outro quartel. Outra dificuldade que encontramos também
está na relação de temperamento de cada um. Eu tenho que
entender o temperamento de cada um. (entrevista: Coronel Capelão
Emídio – 26/10/08 – SAREx – Brasília-DF)

As dificuldades encontradas pelo capelão são muitas se tornando em


condições adversas para ministrar seu próprio trabalho. Além do que já foi descrito o
anuncio da morte de um soldado à família requer do capelão uma atitude de
sabedoria para notificá-la.

Após ser informado do fato, tomar conhecimento aprofundado da


situação em que ocorreu o acidente, dos procedimentos já adotados
e, se possível, procurar se fazer acompanhar de algum conhecido da
família, daí então comparecer à casa do falecido e agir de acordo
com a situação local, sempre sob a orientação de Deus. Não há nada
diferente de um Pastor na vida civil. (entrevista: Capelão Walter
Mello, Brasília-DF, 2008)

São situações que vão se somando e o que realmente pode acontecer é o


stress levando assim o psicoterapeuta verde-oliva a ter um desgaste generalizado.
82

O stress intenso rouba energia do córtex cerebral, energia esta que


será usada nos órgãos da economia do corpo, por exemplo, a
musculatura. O resultado desse roubo de energia é um cansaço
físico exagerado e inexplicável. Grande parte das pessoas [...] ou
que tem trabalho intelectual intensivo vive essa sintomatologia. Por
pensarem e se estressarem muito, estão sempre roubando energia
do cérebro, por isso estão continuamente fatigadas e não sabem o
motivo. [...] Quando a fadiga é intensa, gera-se uma sonolência, que
é um recurso de defesa cerebral, pois dormindo repomos a energia
biopsíquica. (CURY, 2006, p.118)

O número defasado de capelães não só no Exército Brasileiro como nas


Forças Armadas no geral deixa a desejar a importância do trabalho dos capelães,
isso ocorre por falta de visão dos comandantes das referidas forças. Mesmo
havendo um número aquém de sacerdotes diante da imensidão do trabalho, a
presente dissertação não é arranhada, pois a insuficiência do número de capelães
não altera a importância da missão. Se houvesse um empenho maior pelos
comandantes das três forças o trabalho de assistência religiosa seria muito mais
eficaz especialmente aos soldados, pois muitos deixam suas casas longínquas,
passando muito tempo longe da família. A presença da pessoa do capelão faz muita
diferença.
83

CAPITULO 4

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA RELIGIÃO

4.1. A Ética do Capelão

O objetivo da dissertação não é discutir ética. Definições do termo existem


várias. Filósofos a definiram de acordo com seu ponto de vista tendo como pano de
fundo suas épocas. Embora seja um assunto que foi criado há muito tempo e
desenvolvido ao longo dos anos ela é de uma contemporaneidade patente.

A palavra Ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter)


através do latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se
derivou a palavra moral). Em Filosofia, Ética significa o que é bom
para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para
estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo -
sociedade. WIKIPÉDIA, a enciclopéida Livre. Disponível em:
http://pt.wikipedia. org/wiki/%C3%89tica. Acesso em: 6. out.2008
(grifo do autor)

Mesmo sendo Sócarates (470–399 a.C.) o pai da ética é com Aristóteles ( 384
– 322 AC) que ela toma corpo: “Ética, fim último do homem é a felicidade. A
felicidade resulta do desenvolvimento harmônico das tendências de um ser, do
exercício da atctividade que o especifica. Ora, a actividade especifica do homem é a
razão, a inteligência” (S.J. FRANCA, 1921, p.42).

Dentro do trabalho do capelão há liberdade para desenvolver a instrução


religiosa de forma que não interfira ou desmereça a instrução de outro capelão. Se a
ética leva o indivíduo a um bom relacionamento com a sociedade o capelão é o
instrumento (modo de ser, bons costumes), se tornando o maior exemplo dentro do
Exército Brasileiro como força consolidadora que aprimora as energias morais
através da instrução religiosa. O capelão deve ter consciência de que o importante
não é pregar religião, conceitos doutrinários e liturgicos, mas fortalecer as almas dos
militares, pois conforme Capelão Walter Mello “quanto maior a preparação religiosa
84

(espiritual) qualquer ser humano e em quaisquer situações sempre estará, também,


melhor preparado para enfrentar as intempéries da vida”. (entrevista: Capelão Walter
Mello, Brasília-DF, 2008)

É vedado ao capelão fazer proselitismo dentro do quartel. Quando este fato


ocorrer o chefe maior do quartel pode interferir no trabalho do capelão. Conforme
entrevista com o Cel. Capelão Emídio “o chefe do quartel só poderá interferir se
houver um problema de relacionamento entre capelão e a tropa, por exemplo o
proselitismo [...] em todo trabalho no quartel tem que ter a anuência do comandante”.
(entrevista: Coronel Capelão Emídio – 26/10/08 – SAREx – Brasília-DF). Através da
ética, do modo de ser e viver do capelão é que inspirará os homens a uma vida de
compromisso com Deus e com o Estado.

Figuras 18 e 19. Fotos – Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto Chefe do SAREx e
Juntamente com o mestrando Ubiratan Nelson Crivelari – Brasília DF
Fotos de propriedade do pesquisador (2008)

4.2. A Importância da Religião

Quando se reporta à religião observa-se o que diz uma portaria do Exército


Brasileiro, quanto à finalidade do trabalho de Capelania:

A assistência religiosa tem por objetivo a elevação do moral


individual dos integrantes do Exército e um convívio fraternal e
harmonioso do homem, tanto em sua organização militar como em
seu ambiente familiar e comunitário. (PORTARIA n. º 115 § 1º). DGP,
10 de junho de 2003.
85

Um dos meios que promove a integração social, o relacionamento


interpessoal e também o desenvolvimento do homem psíquico e emocionalmente é
a religião, razão tal para que o Exército Brasileiro tenha uma portaria que define tal
relevância. Embora pareça trágica a declaração de Santo Agostinho quando ele trata
da situação do homem “Confessa que tudo quanto tens de bom em ti mesmo vem de
Deus; tudo quanto de mal, de ti mesmo. Nada é nosso, senão o pecado” (1995, p.
234), e reforçado pela visão de Rudolf Otto (1869-1927) que quanto maior é o
contato da criatura com o numinoso23 mas o homem chega a conclusão de que é
nada explorando o conceito de Schleiermacher de “sentimento do estado de
criatura”:

Dependência, no sentido do que disse Schleiermacher: “sentimento


do estado de criatura”. O sentimento da criatura que se abisma no
seu próprio nada e desaparece perante o que está acima de toda a
criatura. (OTTO, 1985, p.19).

As citações elencadas demonstram uma realidade que é fria e séria. Há de


fato uma distância entre o criador e a criatura. As Escrituras demonstram tal
situação. Sobre essa abissal distância Calvino disse sobre o homem: “É ele um ser
desnaturado, privado de sua majestade primitiva, desfigurado pelo pecado”24 Na
visão de Rudolf Otto (1869-1927), em seu livro O Sagrado (1985) quanto mais se
busca pelo numinoso, mais consciente o homem fica da distância existente entre ele
e criador e a necessidade de dependência.

Jung25 entendia religião como:

diz o vocábulo latino religere – uma acurada e conscienciosa


observação daquilo que Rudolf Otto acertadamente chamou de
`numinoso`, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não
causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e

23
Segundo o Dicionário Brasileiro, Numinoso, qualificativo dado, na filosofia da religião de R. Otto, a
estado religioso da alma inspirados pelas qualidades transcendentais da divindade.
24
Biéler, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana S/C, 1990, p.265.
25
Carl Gustav Jung, psicólogo e pensador suíço. Nasceu em Kesswil em 1875 e morreu a 6 de junho
de 1961, aos 86 anos, em Zurique. Médico aos 25 anos, na exploração psicológica do Inconsciente
descobriu os chamados “complexos afetivos”, quando da realização de várias experiências sobre as
“associações verbais”. Conheceu Sigmund Freud em 1907 de quem se tornou amigo e devoto
colaborador. Em 1911 publicou “Transformações e símbolos da libido” – obra que marcou a ruptura
definitiva com Freud. (EDIPE, 1987, p.2042).
86

domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador (JUNG,
1983, p.3).

Entende-se então que qualquer que seja a causa o numinoso constitui do


sujeito uma condição, sendo independente de sua vontade. A religião é algo real e
que está ligada a uma causa externa ao indivíduo, pois a religião além de ser
fenômeno, sociológico ou histórico, é um assunto importante para um grande
número de pessoas. Registra-se aqui uma tentativa de definição e conceito (tentativa
porque o próprio Rudolf Otto diz em seu livro “O Sagrado” não pode ser
desenvolvido por conceitos) para o termo “numinoso” com vistas a um
esclarecimento melhor da definição de Jung, a saber:

Com base no termo latino “numem”, referindo-se à qualidade


misteriosa, terrível, aterrorizadora e sagrada da deidade [...] ele
associava esse termo ao Mysterium Tremendum et Fascinans. E
mediante o uso de tais termos, procurava enfatizar quão pouco
realmente sabemos sobre a natureza de Deus. (CHAMPLIN;
BENTES, 1991, p.555).

Para Jung a religião era uma atitude da mente, uma observação cuidadosa
em relação a certos poderes espirituais, demoníacos, deificados, com a capacidade
de atrair a atenção, subjugar, ser objeto de reverência ou de passiva obediência e
incondicional amor. Pode-se dizer então entender religião como a atitude peculiar a
uma consciência, que foi transformada pela experiência obtida com o numinoso.
Pode-se compreender que o conceito que Jung tem de religião não é daquela forma
dogmática, teológica como qualquer ministro do evangelho tem, mas como
experiência religiosa do divino ou transcendental.

Por outro lado Sigmund Freud (1856-1950) faz várias críticas à religião. Ele
acusa a religião de três grandes males:

1 – Nela os homens são mantidos na imaturidade. Como crianças com medo que
procuram proteção junto a seus pais (ZIRKER, 2007). Elas ainda não são
responsáveis, só se tornarão quando libertarem-se de seus progenitores, tornando-
se autônomas e livres. Na visão de Freud, Deus é que aparentemente faculta aos
87

homens que eles posam permanecer como crianças e não precisem tornar-se
adultos. Perigos e misérias não podem ser afastados da religião; ele entende que a
religião tem sua parcela, mas que o homem não deve depender dela para todo
sempre. Só poderá se libertar de suas teias se ele se desenvolver racionalmente - a
religião é “útil para diversas pessoas, mas que está destinada a desaparecer no
futuro, com o advento de maior consciência crítica, sobre bases racionais”.26

2 – A religião significa para Freud o mais extremo domínio do pensamento desejoso,


isto é, as pessoas “imaginam coisas divinas, para não posicionar-se ante seu
mundo. Elas se entregam à ilusão, elas recorrem à religião como a um ópio”27.

3 – Freud vê a religião comparando-a a uma enfermidade psíquica – a neurose –


pessoas quando estão perturbadas procuram uma proteção perigosa: vão a um
lugar estável as coisas que as circundam, submetendo-se a regras estranhas com
pessoas perturbadas. Fazem isso por não ter aprendido a entender-se com seu
mundo. A religião teria promessas de consolo solução para todo tipo de problemas.
Se o homem buscar solução e recursos religiosos, haverá de receber um consolo
ilusório, mesmo que tenha acabado de sair da neurose individual, apenas para cair
na neurose coletiva28.

Segundo Freud todas as doutrinas religiosas:

São ilusões e insuscetíveis de prova. Ninguém pode ser compelido a


achá-las verdadeiras, a acreditar nelas. Algumas são tão improváveis
[...] que podemos compará-las – se considerarmos de forma
apropriada as diferenças psicológicas – a delírios. (FREUD, 1978,
p.108).

São tantas as interpretações e definições sobre religião, seus significados,


algumas difíceis de entender e outras dependendo do contexto parecem não ter
sentido. Mas como entender religião tendo como instrumento o capelão para que o
militar, seja ele até mesmo de pouco entendimento possa desenvolver uma vida

26
Cipriani, Roberto. Manual de sociologia da religião. São Paulo: Paulus, 2007. p.138
27
Zirker, Hans. A Crítica de Freud à religião. Entrevista a IHU On-line:Revista do Instituto Humanista
Unisinos. 2006. edição 2007, www.unisinos.br/ihu. Acesso em: 25 out. 2007.
28
Ibid
88

ascese para que ele possa cogitar suas convicções religiosas? Merval Rosa em seu
livro “Psicologia da Religião” (1979) faz várias colocações citando John Drakeford
declarando que a religião é de suma importância na vida do indivíduo oferecendo-lhe
tanto saúde mental como espiritual:

A religião pode oferecer ao homem um sentido de segurança


cósmica. O homem moderno sente-se isolado no mundo. Essa
isolação faz com que ele veja o universo em que vive como
essencialmente hostil. (ROSA, 1979, p. 234)

O homem necessita de algo que possa lhe oferecer segurança para que se
sinta bem neste mundo cheio de crises. A religião deve dar ao homem o sentido de
unidade com o universo, isto é, tudo aquilo que está ao seu redor. O soldado que
deixa sua família a quilômetros de distância encontrará na religião e na instrução
religiosa uma fonte de equilíbrio emocional, resistência física quanto ao trabalho
que terá que realizar no quartel bem como desenvolvimento de amizades saudáveis,
criando-se assim um corpo forte de soldados, pois nos próximos anos serão eles
mesmos suas famílias.

29
“A religião pode oferecer motivação para a vida” . A religião é criticada por
levar o homem a se preocupar com a vida futura. Essa é a crítica por excelência feita
pelos marxistas. Dizem que a religião, preocupando-se com a vida além, tende a
negligenciar a vida do lado de cá. Neste sentido ela é uma espécie de ópio30.

Na visão dos marxistas o homem na incapacidade de resolver seus


problemas, lança todos seus problemas e frustrações nas mãos de Deus.
Reforçando tal idéia como vimos acima, a religião para Freud mantém os homens na
imaturidade. Como crianças com medo que procuram proteção junto a seus pais.
Chegam à conclusão que a religião se torna um escapismo para o homem. Cremos
que uma forma imatura de religião pode produzir tal efeito. Mas, cremos também que
uma boa experiência religiosa pode mudar o curso da existência do ser humano. Se

29
ROSA, Merval. Psicologia da Religião. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1979. p.235.
30
Ibid. p. 235
89

a instrução religiosa for bem desenvolvida o capelão levará a consciência o militar a


uma vida madura no que tange a vida espiritual.

A religião ajuda o homem a aceitar-se a si mesmo [...] Uma profunda


experiência religiosa leva o homem a aceitar sua própria finitude e
esta aceitação é capaz de levá-lo a evitar suas ansiedades
irracionais. (ROSA, 1979, p. 235).

A instrução religiosa leva o homem a uma reflexão interior em que ele chega
a conclusão que necessita de Deus levando-o a ter uma segurança no futuro. A
ansiedade quebra qualquer vinculo seja de amizade, serviço, profissão levando o
homem a uma neurose. A religião conduz o homem a um controle dessa ansiedade,
levando-o a consciência de que ele é limitado fazendo dele um ser melhor em todas
as área da vida. “A religião oferece estabilidade emocional para os tempos de crises
na vida. Todo homem normal tem crises na vida”31. Quase todo comportamento é
aprendido como resultado da experiência pessoal, ensino dos pais e de outras
pessoas influentes. Quando as experiências pessoais excedem o ensino adquirido
ela entra em crise e como ROSA disse, todo mundo tem crises na vida. A religião
tem um papel importante na vida das pessoas, pois elas, através da instrução
religiosa podem resistir melhor às pressões emocionais.

O capelão, preparado, consciente em sua instrução não depositará fé na


instituição que pertence como instrumento de auxílio àqueles que estão em crise. O
militar em crise é auxiliado pela instrumentalidade do capelão que deverá expor a
graça divina. A pessoa em crise precisa sentir-se protegida, amada, amparada e
isto só pode acorrer por um Ser maior, Deus, e não pelo capelão. Segundo Romeiro
(2005), em seu livro “Decepcionados com a Graça”, ele faz uma abordagem preciosa
comentando sobre o termo “graça” no Antigo Testamento (no hebraico hçn) em que
cita R. Laird Harris:

Um outro autor observa que o uso da palavra hçn esclarece o sentido


da “graça na história e nas ações”. O termo graça é usado quando o
mais forte socorre o mais fraco que precisa de ajuda por causa das
circunstâncias ou de sua fraqueza. Segundo ele, a graça age pela

31
ROSA, Merval. Psicologia da Religião. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1979. p.236.
90

decisão voluntária (não pode ser forçada), impulsionada pela


dependência ou súplica da parte fraca. (ROMEIRO, 2005, p. 167).

Esta é a missão do capelão, oferecer aquilo que ele tem de melhor. Como
portador da graça, oferecer concórdia ao coração aflito.

A religião oferece ao homem uma comunidade terapêutica [...] O


homem precisa pertencer a um grupo de seres humanos com os
quais possa comunicar-se no nível profundamente pessoal. (ROSA,
1979, p. 236).

Figuras -20 e 21 -Templo Ecumênico do Soldado – Brasília-DF.


Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

A religião cumpre seu papel social como agente terapêutica através do poder
que tem em ajuntar um grupo de pessoas debaixo de uma mesma crença onde elas
se relacionam, convivem, aprendem e discutem assuntos diversos. A religião tem
uma característica forte que é de melhorar os relacionamentos, muito mais do que
um clube ou associação. Na religião as pessoas se envolvem participando dos
problemas de seus amigos na tentativa de ajudá-los. A religião é instrumento de
empatia entre seus seguidores, bem como auxilia a comunicação entre os membros.
A riqueza da religião, da igreja é que mesmo havendo diferenças entre as pessoas,
elas podem viver em harmonia objetivando um aprimoramento da qualidade de vida,
seja ela social, emocional e espiritual.
91

Ruben Alves, explanando as idéias do sociólogo Francês Émile Durkheim32


sobre a religião, disse:

Sua certeza de que a religião era o centro da sociedade era tão


grande que ele não podia imaginar uma sociedade totalmente
profana e secularizada. Onde estiver a sociedade ali estarão os
deuses e as experiências sagradas. E chegou mesmo a afirmar que
“existe algo de eterno na religião que está destinado a sobreviver a
todos os símbolos particulares nos quais o pensamento religioso
sucessivamente se envolveu. Não pode existir uma sociedade que
não sinta a necessidade de manter e reafirmar, a intervalos, os
sentimentos coletivos e idéias coletivas que constituem sua unidade
e personalidade”. A religião pode se transformar. Mas nunca
desaparecerá. (ALVES, 1986, p.66).

Como parte fundamental da vida e formação da personalidade humana,


observa-se que é imprescindível a religião dentro do quartel bem como o trabalho do
capelão que se instrumentalisa na cosmovisão do militar. O soldado ao adentrar na
carreira militar passará a ter uma vida nova, diferente de outrora, com muito mais
rigor, disciplina e compromissos aferidos pela atual carreira e a religião através de
seu capelão fará através da instrução que o soldado aquilate a importância sobre
Deus.

Figura -22 - Cel. Capl. Antonio Emídio Gomes Neto e Ten. Cel. Capl. Walter Mello - Brasília-DF.
Figura 23 – Ten.Cel. Capl. Walter Mello e mestrando Ubiratan Nelson Crivelari - Brasília-DF.
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

32
Emile Durkheim: (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um
dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a
Mafuso, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente
como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim. Acesso em: 30 set. 2008.
92

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve por objetivo discorrer sobre a importância que o capelão
tem dentro do Exército Brasileiro. No decorrer de sua explanação foi demonstrado
que o capelão não é apenas um militar, com sua patente e evolução dentro da
hierarquia, mas alguém que tem um papel fundamental dentro da instituição para
consolidar a opção do soldado em ser um bom militar bem como firmar a sua crença
em Deus.

Após levantamentos históricos sobre a Capelania Militar, começando com a


chegada dos portugueses ao Brasil, a formação do Exército que surgiu com um
sentimento de defesa nacional, tendo como a primeira Batalha de Guararapes (19
de abril de 1648), onde marca o início da organização do exército como força
genuinamente brasileira, até os dias atuais em que o EB atua não somente em solo
pátrio mas, também, em campanhas de paz como o faz atualmente no Haiti.

O capelão é aquele que assiste em hospitais, asilos, prisões, áreas militares


bem como diretamente ao quartel em que está lotado, oferecendo apoio espiritual e
religioso ostensivo nas campanhas militares e em treinamentos para todos os níveis.
Assiste também as famílias destes militares dando conforto nas horas mais críticas
da vida.

O objetivo central é dar assistência religiosa visando elevar o moral dos


integrantes do Exército Brasileiro tornado-se um elo fundamental na formação de um
convívio fraternal entre os militares.

No início deste trabalho levantou-se a questão da relevância do trabalho do


capelão entre os militares no Exército Brasileiro e, após levantamentos de dados
bibliográficos, boletins, portarias, artigos e entrevistas chega-se à conclusão de que
o presente tema desta dissertação é propriamente adequado e que ficou
comprovado o gigantesco trabalho exercido pelos capelães.
93

No primeiro capítulo partindo da definição do termo capelão foi exposto a


formação do Exército Brasileiro e toda sua hierarquia destacando a vida de seu
patrono, Frei Orlando, que pela própria vida caracterizou a relevância do capelão
dentro EB. A participação deste capelão na II Guerra Mundial especialmente na Itália
foi de um valor inestimável e indizível. Mesmo havendo outros capelães Frei Orlando
é o marco da assistência religiosa dentro da história das Forças Armadas. A
presente dissertação em seu primeiro capítulo abriu o leque da relevância do
trabalho da Capelania.

No segundo capítulo foi retratada a história da chegada dos portugueses ao


Brasil e a inserção automática do capelão dentro desta Força Armada. Mencionou-
se a formação legal das Capelania, tanto Católica como a Evangélica. Através de
decretos e portarias foi criado o SAREx órgão que comanda toda Capelania dentro
do EB. Comentou-se sobre a estrutura, a finalidade e o objetivo deste órgão
importantíssimo no auxílio aos capelães. Define-se neste momento através da
Legislação Brasileira a formação das Capelania Militares Católica e Evangélica,
como é o processo para se tornar um capelão e como deve ser o trabalho destes
junto aos militares.

No capítulo um destaca-se o trabalho do Frei Orlando representante maior na


Capelania Católica e neste retratamos a vida do Capelão Pastor João Filson Soren
que, pelo próprio currículo, desempenhou um trabalho excepcional dentro do EB
especialmente quando esteve na II Guerra Mundial assistindo os pracinhas em
combate. O capítulo em questão faz um levantamento de todas as Capelania, quais
são os capelães e onde estão lotados e por fim um censo religioso registrando a
porcentagem das religiões que compõe o Exército Brasileiro.

O capítulo três demonstrou-se que o capelão não é só mais um militar dentro


de uma ordem Inserido numa hierarquia. Ele é um instrumento de consolidação,
analisou-se o valor de sua pessoa, ministério e patente agindo como modelo para os
soldados, fortalecendo os ânimos dos militares através da instrução religiosa.
Registrou-se a visita do Tenente Coronel Capelão Walter Pereira de Mello em uma
das corporações do EB e ministrando instrução religiosa a um grupo de mulheres.
Parte destas mulheres são esposas de militares. Além do trabalho exercido dentro
94

dessa Fora Armada, o capelão também tem outras ovelhas, aquelas que participam
em suas igrejas.

Como um psicoterapeuta verde-oliva tendo acesso aos hospitais, presos e


vilas militares o seu papel se aprofunda no contato com todos aqueles que estão ao
redor do soldado. Este capítulo é de suma importância, pois ele revela um pouco do
imensurável trabalho do capelão e os passos que segue quanto à visitação para
doentes em hospitais, como tratar com enfermos diante da morte, a assistência às
famílias enlutadas. Este é o momento em que a instituição, EB, desaparece,
surgindo o personagem central, ser humano tanto para quem assiste como para
quem é assistido.

Finalizando, o último capítulo tratou-se da importância da ética e da religião.


Quanto a ética é imprescindível que o capelão tenha consciência que o seu objetivo
é realizar a instrução religiosa sem ofender a religião do outro capelão. Também, se
levantou a questão da proibição de se fazer proselitismo. A liberdade religiosa existe
para fortalecer o espírito do soldado. No que diz respeito a doutrinárias como, por
exemplo, os sacramentos, as missas (para os católicos) e cultos (para os
evangélicos), são realizadas a parte e em locais apropriados onde cada capelão
exercerá seu ministério mais profundamente com suas ovelhas. Para tal a liberdade
é total.

Quanto à religião, mesmo havendo diferença de pensamentos entre escritores


conceituadíssimos no decorrer da história, chegou-se a conclusão que ela é
essencial não só na vida do militar, mas para todas as pessoas. Esta é a razão que
levou Exército Brasileiro a criar o SAREx.

O trabalho apresentado não esgota o assunto em pauta. Há muito que se


pesquisar nesta área. Entende-se que foi apenas um pequeno passo dado para que
no futuro outros pesquisadores possam aquilatar o assunto proposto. Os resultados
obtidos no levantamento da questão poderiam ter sido melhores. A autocrítica que
este autor faz é que, mesmo utilizando-se de material bibliográfico pesquisado, de
entrevistas e visitas realizadas em locais onde o capelão exerce seu trabalho,
comprovando que a Capelania exerce um papel de consolidação dentro do Exército
95

Brasileiro, nota-se que a presente pesquisa possui limitações. Somando-se à essa


percepção o fato do autor não ser capelão militar, o que seria de suma importância
para um abissal estudo da questão.

Nossa expectativa é para que o leque em pauta seja aberto e apreciado,


incentivando um estudo mais profundo e despertando o interesse em ministros e
sacerdotes para comporem tamanha obra que ainda é pequena.
96

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98

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Instituto Humanista Unisinos. 2006. edição 2007. Disponível em:
www.unisinos.br/ihu. Acesso em: 25 out.2007.
99

ANEXOS

ANEXO I

ORGANOGRAMA DO SAREx

Gen Div FACIOLI


Direitor de Assistencia ao
Pessoal

Ten Cel Capl JOAQUIM


Adjunto do SAREx

Cel Capl EMIDIO


Chefe do SAREx
Cap Capl MÖNACO
Adjunto do Arcebispo
Militar

Ten Cel Capl LINDENBERG Ten Cel Capl VALENTIM Ten Cel Capl ESTEVÃO
Subchefe do SAREx
Subchefe do Sarex Subchefe do Sarex
CLM CMSE CMS
Maj Capl XAVIER 2º Ten Capl CHRISTIAN 1º Ten Capl RONALDO
Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia

Ten Cel Capl EUDES Ten Cel Capl CELSO Cap Capl ÁLVARO
Subchefe do SAREx Subchefe do SAREx Subchefe do SAREx
CMNE CMA CMO
Cap Capl MESQUITA Vacante Ten Capl Carvalho Lima

Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia

Ten Cel Capl Walter Mello


Subchefe do SAREx
CMP
Maj Capl HÉRCULES
Adjunto da Subchefia

Fonte SAREx
100

ANEXO II

RELAÇÃO DOS CAPELÃES DO SAREX

SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA RELIGIOSA DO EXÉRCITO


01 Cel Capl ANTONIO EMIDIO GOMES NETO Chefe do SAREx BRASÍLIA - DF
02 Ten Cel Capl JOAQUIM BENEDITO DA SILVA Subchefe do SAREx/CMP BRASÍLIA - DF
03 Ten Cel Capl VANDERLEI VALENTIM DA SILVA Subchefe do SAREx /CMSE SAO PAULO – SP
04 Ten Cel Capl LINDENBERG FREITAS MUNIZ Subchefe do SAREx /CML RIO DE JANEIRO - RJ
05 Ten Cel Capl ESTEVÃO ROSA DO ESPÍRITO SANTO Subchefe do SAREx /CMS PORTO ALEGRE - RS
06 Ten Cel Capl CELSO BOEGER ROHLING Subchefe do SAREx /CMA MANAUS - AM
Ten Cel Capl WALTER PEREIRA DE MELLO
07
(PASTOR) Cmdo 11ª RM BRASILIA – DF
08 Ten Cel Capl JOSÉ EUDES DA CUNHA Subchefe do SAREx/ CMNE RECIFE-PE
09 Maj Capl LUIS NORONHA PINTO Cmdo 10ª RM FORTALEZA - CE
10 Maj Capl HÉRCULES ANTÔNIO DE LIMA CMB BRASÍLIA - DF
11 Maj Capl JOSÉ NORBERTO DA SILVA Cmdo 4ª Bda Inf Mtz JUIZ DE FORA - MG
12 Maj Capl JOÃO JUSTINO FERREIRA Cmdo 6ª RM SALVADOR-BA
13 Maj Capl ALEXANDRE RAMOS TEIXEIRA Cmdo 4ª RM / 4ª DE BELO HORIZONTE -MG
Maj Capl IVAN XAVIER (PASTOR) Adj da Subchefia do RIO DE JANEIRO - RJ
14
SAR/CML
15 Maj Capl MANOEL VALTER F. DA SILVA CMRJ (a disposição) RIO DE JANEIRO - RJ
16 Cap Capl JULIO CÉSAR SILVA MÔNACO Adj do Arcebispo Militar BRASÍLIA – DF
17 Cap Capl CLÁUDIO JOSÉ KIRST Cmdo 5 a RM/5 a DE CURITIBA - PR
18 Cap Capl ADEMAR PEDRO DE SOUZA Cmdo 1ª Gpt E JOÃO PESSOA – PB
19 Cap Capl IVAN DE MEDEIROS JÚNIOR Cmdo 7ª RM / 7ª DE RECIFE – PE
20 Cap Capl MARCOS DA COSTA RAMOS Cmdo Cmdo Av Ex TAUBATÉ – SP
Cap Capl JOÃO LUÍS BOLLA (PASTOR) Adj da Subchefia do BRASÍLIA-DF
21
SAR/CMP
22 Cap Capl GERALDO RIBEIRO FERREIRA CMRJ RIO DE JANEIRO – RJ
23 Cap Capl MARCELO JOSÉ DE SOUSA Cmdo 15ª Bda Inf Mtz CASCAVEL – PR
24 Cap Capl CLÓVIS SANTOS DE HIPÓLITO HCE RIO DE JANEIRO - RJ
25 Cap Capl GILBERTO ÁLVARO Subchefe do SAREx/CMO CAMPO GRANDE - MS
26 Cap Capl LÁZARO TEODORO MENDES EsSA TRÊS CORAÇÕES -MG
Cap Capl JAMES V. MESQUITA (PASTOR) Adj da Subchefia do RECIFE – PE
27
SAR/CMNE
1º Ten Capl OTT JOSÉ PAULO MOURA ANTUNES Cmdo 1ª DE RIO DE JANEIRO - RJ
28
(PASTOR)
1º Ten Capl JOÃO BATISTA ALVES DE ALMEIDA Cmdo 11ª Bda Inf L(GLO) - CAMPINAS - SP
29
JUNIOR EsPCEx
30 1º Ten Capl DANIEL PEDRO DA SILVA (PASTOR) Cmdo GUES/9ª Bda Inf Mtz RIO DE JANEIRO – RJ
31 1º Ten Capl VALMOR PASTRE Cmdo 3ª DE (HAITI) SANTA MARIA - RS
32 1º Ten Capl PAULO CESAR RODRIGUES MAGALHÃES Cmdo 23ª Bda Inf Sl MARABÁ – PA
1º Ten Capl RONALDO HASSE (PASTOR) Adj da Subchefia do PORTO ALEGRE - RS
33
SAR/CMS
34 1º Ten Capl ROGÉRIO CARVALHO DE OLIVEIRA AMAN RESENDE – RJ
2º Ten Capl CLÁUDIO MÁRCIO CASSIANO CORDOVIL Cmdo 1ª Bda Inf Sl BOA VISTA – RR
35
36 2º Ten Capl JOSÉ RICARDO ESTEVES PEREIRA Cmdo 13ª Bda Inf Mtz CUIABÁ - MT
101

2º Ten Capl ROGÉRIO DE CARVALHO LIMA Adj da Subchefia do CAMPO GRANDE - MS


37 (PASTOR) SAR/CMO
2º Ten Capl OTT MARCOS ANTONIO DE CAMPOS DOURADOS - MS
38 SILVA
Cmdo 4ª Bda C Mec
2º Ten Capl OTT LINCON DE ALMEIDA GONÇALVES
39
Cmdo AD/1 NITEROI – RJ
2º Ten Capl OTT SERGIO VITORINO DA SILVA Cmdo 1ª DE RIO DE JANEIRO - RJ
40
41 2º Ten Capl JOSÉ CARLOS DE FREITAS B Adm Bda Op Esp GOIANIA – GO
2º Ten Capl EDNALDO DA COSTA PEREIRA
42 (PASTOR)
Cmdo 12ª RM MANAUS – AM
2º Ten Capl OTT VANDERSON DE OLIVEIRA Cmdo Bda Inf Pqdt RIO DE JANEIRO - RJ
43
44 2º Ten Capl OTT RODRIGO DIONÍSIO Cmdo 12ª Bda Inf L (AMV) CAÇAPAVA – SP
2º Ten Capl OTT FÁBIO RENATO B. DE CARVALHO Cmdo 1ª Bda AAAe GUARUJA - SP
45
2º Ten Capl OTT LOURENIR GERALDO NASCIMENTO Cmdo 3ª Bda C Mec BAGÉ – RS
46
47 2º Ten Capl OTT GENÉSIO PEREIRA DA SILVA Cmdo 18ª Bda Inf Fron CORUMBÁ – MS
Asp Of Capl CHRISTIAN DAVID SOARES Adj da Subchefia do
SAO PAULO – SP
48 BITENCOURT Pr SAR/CMSE
49 Cmdo 2ª Bda C Mec URUGUAIANA - RS
50 Cmdo 1 a RM RIO DE JANEIRO- RJ
51 Cmdo 2 a RM SÃO PAULO – SP
52 Cmdo AD/3 CRUZ ALTA – RS
53 Cmdo 8 a Bda Inf Mtz PELOTAS – RS
54 Cmdo 1 a Bda C Mec SANTIAGO – RS

55 Cmdo 14 a Bda Inf Mtz FLÖRIANOPOLIS – SC


56 Cmdo 5 a Bda Cav Bld PONTA GROSSA – PR
57 Cmdo 7 a Bda Inf Mtz NATAL – RN
58 Cmdo Fron AMAPA/34º BIS MACAPA - AP
Adj da Subchefia do MANAUS – AM
59 SAR/CMA
60 Cmdo 17 a Bda Inf Sl PORTO VELHO – RO
61 Cmdo Fron ACRE/4º BIS RIO BRANCO – AC

62 Cmdo 2 a Bda Inf Sl S. G. CACHOEIRA - AM


63 Cmdo 16 a Bda Inf Sl TEFE – AM
64 CMM MANAUS - AM
65 Adj Chefe SAREx BRASILIA – DF
66 Cmdo 3ª Bda Inf Mtz CRISTALINA - GO
Cmdo 9ª RM CAMPO GRANDE - MS
67
68 1º Ten Capl VALMOR PASTRE Cmdo Bda F Paz HAITI

Fonte SAREx- Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/relacao_capelaes_sarex.php. Acesso


em: 14 mar.2008
102

ANEXO III

DECISÃO DO SUPREMO CONCILIO - XXXVI RO/IPB

SOBRE CAPELANIA NAS FORÇAS ARMADAS E POLICIA MILITAR DO


ESTADO DE SÃO PAULO

SC-IPB-2006 Doe. V - Quanto do Doe. 308 - Ementa: APONTA QUEBRA DOS


PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA IGUALDADE E DA IMPESSOALIDADE NO
PROVIMENTO DE CARGOS DE CAPELÃES EVANGÉLICOS PELA FORÇA AÉREA
BRASILEIRA E PELA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO E ADOTA
PROVIDÊNCIAS. O SC-IPB-2006: Quanto ao documento n° 168, encaminhado pelo
Presbitério de Pirituba, através do Sínodo Unido de São Paulo, noticiando suposta quebra
de princípio constitucional pela Força Aérea Brasileira e pela Polícia Militar do Estado de
São Paulo no provimento de cargo de Capelão Evangélico, cf. documento n° XVII, relatório
sobre a matéria oriundo da CE-SC/IPB-2006, 1. Considerando que, por contar com 39
(trinta e nove) Capelães da Igreja Católica Apostólica Romana em seu efeíivo e no
Quadro Permanente de Oficiais e apenas 03 (três) Capelães Evangélicos, assim mesmo
no Quadro de Oficiais Temporários, a Força Aérea Brasileira, segundo nos parece pelos
documentos e informações recebidas, tem desconsiderado os princípios constitucionais de
igualdade e impessoalidade; 2. Considerando que a Polícia Militar do Estado de São Paulo,
tendo realizado concurso público para Capelão Evangélico e classificado um Pastor
Presbiteriano, está deixando fluir o prazo de validade do concurso sem a devida nomeação,
não apresentando qualquer justificativa que revista de legitimidade e legalidade essa
conduta administrativa, poderá estar ferindo os princípios constitucionais da
impessoalidade e da moralidade administrativa, RESOLVE: 1°) encaminhar expediente ao
Congresso Nacional, através de suas Casas Legislativas, solicitando a adoção de ato
administrativo de competência daquele Poder da República para estabelecer o
tratamento isonômico entre as Capelanias Católica Romana e Evangélica, no âmbito
da Força Aérea Brasileira, guardando os princípios constitucionais da igualdade, da
impessoalidade e da moralidade administrativa, a exemplo do que já acontece no
Exército Brasileiro e na Marinha do Brasil; 2°) enc aminhar expediente ao Exm° Sr.
Ministro de Estado da Defesa, solicitando a adoção de medida administrativa de sua
competência no mesmo sentido; 3°) encaminhar expedi ente ao Exm° Sr. Governador do
Estado de São Paulo e ao Exm° Sr. Presidente da Ass embleia Legislativa do Estado de
São Paulo, solicitando a adoção de atos administrativos que importem na nomeação do
Capelão Evangélico aprovado e classificado em concurso público, realizado pela Polícia
Militar do Estado de São Paulo, para o Cargo de Capelão Evangélico Militar; 4°) solicitar
ao Exm° Sr. Governador do Estado de São Paulo que d etermine a realização de estudos
para modificação do Quadro de Organização de Efetivos da Polícia Militar, a fim de criar
cargos de Oficiais Capelães Evangélicos em proporcionalidade com necessidade de
assistência religiosa ao efetivo da Corporação que professa a fé evangélica; 5°) delegar
competência Políticos nas esferas Estadual e Federal, levar os pleitos acima determinados
à sua compleição ao Presidente do SC-IPB para, com apoio e colaboração de Agentes.
103

ANEXO IV

(Homenagem ao Capelão João Filson Soren)

Pastor João Filson Soren


O Combatente de Cristo
(Capelão Militar Evangélico na 2ª Guerra Mundial)

Foto disponível no livro João Filson Soren – O Combatente de Cristo

Nascido em 21 de junho de 1908, no Rio de Janeiro e filho do Pastor Francisco


Fulgêncio Soren e Jane Filson Soren, começou sua formação no Colégio Batista Shepard. Ali
ele concluiu o bacharelado em Ciências e Letras, enquanto estudava matérias teológicas no
Seminário Batista do Sul do Brasil. Em 1928, embarcou para os Estados Unidos, onde fez
mestrado em Teologia e Artes, voltando ao Brasil em 1933. Com a morte de seu pai naquele
mesmo ano, a Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, depois de um ano de oração e busca,
chamou-o para ser seu pastor. Foi consagrado em 1935 e durante cinqüenta anos (1935-1985)
a pastoreou com rara eficiência, onde batizou 3.345 pessoas.

Era um pregador notável, aliava erudição à simplicidade. Ocupou por onze vezes o
cargo de presidente da Convenção Batista Brasileira e presidente da Ordem dos Pastores do
Distrito Federal (hoje Rio de Janeiro), foi reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
orador e presidente da Aliança Batista Mundial, fundador da Sociedade Bíblica do Brasil,
pertenceu a Academia Brasileira Evangélica de Letras e foi membro do Conselho de
Administração do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. A Faculdade Georgetown, em
Kentucky – USA lhe conferiu o Doutorado em Divindade, em 1955 e a Faculdade Batista
William Jewell, em Missouri – USA, o Doutorado em Letras, em 1960. Por sua incomum
capacidade de tradução simultânea, serviu como interprete, no Estádio do Maracanã, do
grande pregador norte-americano Billy Graham, em 1960.

Foi casado durante 55 anos com a profª Nicéa Miranda Soren com quem teve três filhos,
104

quatro netos e três bisnetos. Ficou viúvo em 14 de maio de 1990.

Em 1944 emocionou o Brasil ao apresentar-se como voluntário para servir como


Capelão na II Guerra Mundial sendo convidado então para estruturar o Serviço de Capelania
Evangélica que ainda não existia nas Forças Armadas brasileiras. Foi nomeado Capelão Militar
em 13 de julho de 1944 e classificado no 1º Regimento de Infantaria, (Regimento Sampaio).
No dia 20 de setembro do mesmo ano embarcou com destino ao teatro de operações da
Europa, onde permaneceu por 341 dias. A contribuição cívica com que ele honrou sua pátria
na condição de Capelão Evangélico das Forças Expedicionárias Brasileiras lhe rendeu as
seguintes condecorações militares: “Medalha do Esforço de Guerra”, “Medalha da Campanha
da FEB”, “Cruz de Combate Primeira Classe” e a “Silver Star” (do Exército Norte Americano).
Posteriormente, receberia ainda as seguintes medalhas, pelos mesmos motivos:
“Mascarenhas de Moraes”, “Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial”, “Amigos da
Marinha” e “Monte Castelo”, entre outras. O trabalho do Capelão Soren no front de batalha foi
tão importante, que o General Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária
Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, lhe prestou um elogio, publicado no
“Boletim da Divisão”, de 28 de fevereiro de 1945 (vide verso).

De volta ao Brasil, participou ativamente das atividades dos ex-combatentes, vindo a


presidir, a partir de 1978, a Confraternização dos Ex-Combatentes e Veteranos Evangélicos da
FEB (CONFRATEX-FEB), de que foi o idealizador. João Filson Soren – O Combatente de
Cristo, faleceu às 21 horas do dia 2 de janeiro de 2002, aos 93 anos de idade. Sua vida nos
deixa um legado de dedicação e amor ao Senhor da seara. “Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé”. (II Tm 4.7). Deus seja louvado!

ELOGIOS AO CAPELÃO MILITAR PASTOR JOÃO FILSON SOREN

"Em investigação procedida pelo Inspetor Geral da Divisão foram confirmadas as


informações chegadas a este comando sobre o Capelão Militar Evangélico João Filson Soren.

Esse admirável espírito de sacerdote, que, pela incansável dedicação e assistência que
vem prestando aos praças, já havia conquistado o respeito, a admiração e a amizade dos
oficiais e praças do Regimento Sampaio, assim como de outras pessoas não pertencentes
àquele Regimento, porém sabedoras do seu proceder, tão logo soube da existência de corpos
insepultos de praças nossos que o estado adiantado de decomposição indicava haverem
tombado em combates anteriores, foi, tocado em seus elevados sentimentos de
humanidade e caridade cristã, procurá-los e localizá-los, de moto próprio, tendo, por isto
recebido do Comandante do Regimento Sampaio a missão de os recolher também, para o
que lhe foi dado o auxílio de alguns praças da Companhia de Comando, que se
apresentaram voluntariamente.

Durante três dias e meio, o Capelão Soren, sempre incansável e extraordinariamente


dedicado nessa nobilidade missão, vasculhou os terrenos de Viteline e Abetaia (Monte
Castelo), ainda semeados de minas e sujeitos ao bombardeio inimigo tendo
recolhidos os corpos de 33 companheiros tombados bravamente nos ataques de 29
de novembro e 12 de dezembro e talvez em algumas ações de patrulha.

Trinta e três famílias brasileiras deverão a esse sacerdote, pela nítida compreensão dos
seus deveres e exemplar cumprimento dos mesmos, o saberem onde jazem os corpos desses
entes queridos. E, pois, com grande satisfação que elogio o Capelão Soren e lhe dou o meu
muito obrigado."

JOÃO BATISTA MASCARENHAS DE MORAIS


Comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
durante a Segunda Guerra Mundial.
O elogio transcrito foi publicado no
“Boletim da Divisão”, de 28 de fevereiro de 1945.
105

"Após o ataque vitorioso ao Monte Castelo, no dia 21 de fevereiro findo, o Capelão


Soren, por iniciativa própria, auxiliado por oficiais e por abnegados soldados voluntários,
percorreu toda a região do Castelo, onde foram feitos os ataques anteriores de 29
de novembro e 12 de dezembro, visando o recolhimento e identificação de cadáveres
de nossos bravos soldados que tombaram no cumprimento do dever e que não
puderam ser recolhidos em tempo pelo hostilidade do inimigo.

Desse nobre altruístico gesto de solidariedade humana do Capelão Soren, resultou o


piedoso recolhimento de 46 cadáveres, sendo identificados por ele próprio 22. Os demais
corpos foram recolhidos ao Pelotão de Sepultamento, para identificação posterior

Fazendo público tão nobre procedimento, elogio o Capelão Soren, já tão estimado pelos
oficiais e praças do Regimento, pela sua bondade e prestimosidade, e por sua cooperação
constante a este Comando mesmo fora a assistência religiosa, sempre que se fez mister,
não olhando sacrifícios de qualquer natureza. Em todas as ações que o Regimento tem
se empenhado o Capelão Soren não se descuidou da assistência religiosa aos
seus camaradas, indo constantemente às companhias empenhado em levar o conforto
moral e religioso indistintamente a todos os soldados.

Dá agora mais uma prova de suas qualidades morais e alta compreensão de seus
deveres e belo exemplo digno de um sacerdote cristão. Elogio, pois, o Capelão Soren, pelo
seu louvável procedimento, o que permitiu dar digno e respeitoso destino aos restos mortais
dos heróicos soldados do Brasil."

CAIDADO DE CASTRO
Comandante do Regimento Sampaio,
da Força Expedicionária Brasileira (FEB),
durante a Segunda Guerra Mundial.
Este elogio foi escrito em 5 de março de 1945.
Capela da Vila Militar – Disponível em: http://www.cevm.com.br/personalidades.php. Acesso em: 01
dez.2008.
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