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São Paulo
2008
UBIRATAN NELSON CRIVELARI
São Paulo
2008
UBIRATAN NELSON CRIVELARI
BANCA EXAMINADORA
Péricles
RESUMO
This work aims to investigate the military chaplain’s work in the Brazilian Army.
This ministry has been seen since the Portuguese arrival to Brazil and as the time
pass it ripens and became a well developed structure. It is obvious that it has a
conspicuous work in the men’s hands who have the interest in giving spiritual and
emotional support to the militaries as well as to their families. The religious work has
a vital importance in military life since the soldier will have the chance to have a more
balanced life. We can also realize through this work that besides the job carried out
by the Catholic Roman Church, a great job has been done by the Evangelical
chaplains. According to the statistics, the number of evangelical soldiers has been
growing in an outstanding way. This research is based on parts of interviews with two
Brazilian Army chaplains, a priest and a pastor who will mention the gigantic work
done in this Army. The chaplain is vital in the consolidation of Brazilian Army.
Figuras
Figuras 18 e 19 – Cel. Capelão Antonio Emídio Gomes Neto Chefe do SAREx ......84
Figura 22 – Cel. Cap. Antonio Emídio Gomes Neto e Ten. Cel. Cap. Walter Mello ..91
Figura 23 – Ten. Cel. Capl. Walter Mello e mestrando Ubiratan Nelson Crivelari.....94
QUADROS
INTRODUÇÃO ..........................................................................................13
1. O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA SOBRE A CAPELANIA MILITAR .....................17
1.1. O Patrono da Assistência Religiosa do Exército Brasileiro......................................20
1.2. A Assistência Religiosa Dentro da História do Exército Brasileiro...........................25
1.3. A Assistência Religiosa na História do Exército Brasileiro a Partir de 1939 ..........266
2. A CAPELANIA MILITAR E SUA ESTRUTURA ........................................................29
2.1. A Capelania Militar ..................................................................................................29
2.1.1. A Legislação Brasileira .........................................................................................29
2.1.2. A Capelania Militar Católica .................................................................................30
2.1.3. A Capelania Militar Evangélica.............................................................................35
2.1.4. Processo Seletivo do Capelão .............................................................................44
2.1.5. O que é SAREx e qual sua finalidade ................................................................466
2.1.6. Sobre a Instrução Religiosa .................................................................................49
2.1.7. A Estrutura Organizacional do SAREx .................................................................50
2.1.8. Um Pouco de Estatística ......................................................................................53
3. O MINISTÉRIO PASTORAL DO CAPELÃO .............................................................58
3.1. O Capelão Como Modelo ........................................................................................58
3.2. O Psicoterapeuta Verde-Oliva.................................................................................62
3.2.1. Drogas e Álcool ....................................................................................................64
3.2.2. Doença .................................................................................................................66
3.2.3 A Morte..................................................................................................................71
3.2.4 O cuidado consigo mesmo, a saúde do psicoteraupa verde-oliva ........................78
4. A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA RELIGIÃO ...................................................83
4.1. A Ética do Capelão..................................................................................................83
4.2. A Importância da Religião .......................................................................................84
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................92
REFERÊNCIAS..............................................................................................................96
ANEXOS ........................................................................................................................99
13
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre a importância que o capelão
tem dentro do Exército Brasileiro. No decorrer de sua explanação demonstrar-se-á
que o capelão não é apenas um militar, com sua patente e evolução dentro da
hierarquia, mas alguém que tem um papel fundamental para consolidar a opção do
soldado em ser um militar melhor como também firmar a fé em Deus.
CAPÍTULO 1
Antes dos tempos contemporâneos esse ofício incluía homens que serviam à
realeza e nobres. Na era contemporânea esses homens, clérigos passaram a ser
nomeados para servirem em quartéis, hospitais, prisões e instituições de ensino.
Quando se fala de Capelania militar, entende-se que esse ofício é antigo.
Antiqüíssimo é o ofício do capelão em hospitais. Quando se refere ao trabalho do
capelão em instituições de ensino usualmente fazem parte deste trabalho ministros
evangélicos, rabinos ou padres católicos romanos, que tomam conta de uma capela
centralizada no campus onde a instituição cuja denominação religiosa é fundadora.
A sociedade moderna gerou um outro tipo de capelão, aquele que trabalha em
indústrias (CHAMPLIN & BENTES, 1999, p. 625):
Oficiais Generais
Marechal
General-de-Exército
General-de-Divisão
General-de-Brigada
Oficiais Intermediários
Capitão
Oficiais Subalternos
1º Tenente
2º Tenente
Aspirante-a-Oficial
Graduados
Subtenente
1º Sargento
2º Sargento
3º Sargento
Taifeiro-Mor
Cabo
Taifeiro de 1ª classe
Taifeiro de 2ª classe
Quadro 1- Disponível em: http://www.oragoo.net/qual-e-a-hierarquia-do-
exercito-brasileiro/. Acesso em: 22 out.2008
20
Figura primorosa e digna de ser citada foi o Frei Orlando. Nasceu num
pequeno povoado no interior de Minas Gerais, à margem do Rio São Francisco, de
nome Morada Nova, em 13 de fevereiro de 1913. Seu nome de batismo foi Antonio
Álvares da Silva. Desde a infância tinha prazer pela fé católica, tendo um apreço
pelas coisas da Igreja e pelos humildes.
Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror, fosse pela frieza da
guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no campo de batalha,
companheiras aliadas que lutavam contra os pracinhas, necessitados de um alento
espiritual e um ombro amigo para fortalecer não só o coração como a alma.
1
PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército,
1982, p. 91
22
Em sua última carta à mãe, relatou sobre a visita feita em Roma, da visita feita
ao Papa, um terço bento que ganhara do Santo Padre e a bênção que recebera da
maior autoridade da Igreja Católica. Narrou também a visita feita à prisão de São
Pedro, às catacumbas de São Sebastião, à Igreja de Santa Inês e seu retorno ao
Vaticano. Nesta mesma carta, agora Capitão Frei Orlando, fez promessas de viajar
com a mãe.
Viveu tempos difíceis na tomada do Monte Castelo. Durante uma visita feita à
linha de frente, Frei Orlando foi vítima de um tiro acidental de um partisam (membro
da Resistência italiana ao nazifascismo). A carta enviada à sua mãe datada de 2 de
fevereiro de 1945 chegou às mãos de D. Emirena no dia 21 do mesmo mês. Para a
tristeza do 11º RI, neste dia, na Itália, o Capelão Frei Orlando estava sendo
sepultado em Pistóia. O boletim n° 52, do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945,
impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão:
Frei Orlando
Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército
Figura 2. Capelão Católico, Patrono do SAREx.
Fonte- Sarex - Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em: 15 jan.2008
24
Mesmo sendo uma portaria atual, cinqüenta e sete anos entre sua publicação
e a vida de Frei Orlando na II Guerra mundial, via-se neste Capelão um espírito
forte, dinâmico, determinado a estimular coragem em seus companheiros de
batalha. Frei Orlando cumpria algo que ainda não tinha sido estabelecido. Este
mesmo espírito será visto mais adiante com o Capelão Evangélico Pastor João
Filson Soren. Atitudes proféticas na eleboração da portaria.
Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, não teve como o Brasil ficar fora de
tão grande crise. O país ingressou nas linhas aliadas depois dos alemães terem
torpedeado trinta e um navios da nossa marinha Mercante, com a perda de 971
vidas brasileiras. O território pátrio fora ameaçado e ultrajado. A partir desse ato
beligerante o Brasil rompeu relações com a Alemanha, Japão e a Itália. O ato de
guerra declarado contra as três nações elencadas veio com o decreto nº 10.358 de
31 de agosto de 1942.
27
2
PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército,
1982, p. 197
28
CAPÍTULO 2
3
Castrense- Relativo à classe militar; pertencente ou relativo a acampamento militar. Pequeno
Dicionário Brasileiro da língua Portuguesa
30
A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso VII que
«é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.» A lei
6.923, de 29/6/1981, alterada pela lei 7.672, de 23/9/1988, organizou
o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas. A partir
desta legislação temos definido que: 1) «O Serviço de Assistência
Religiosa tem por finalidade prestar assistência religiosa e espiritual
aos militares, aos civis das organizações militares e às suas famílias,
bem como atender a encargos relacionados com as atividades de
educação moral realizadas nas Forças Armadas.» (Lei 6.923, art. 2º)
2) «O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Capelães
Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros religiosos ou
pastores, pertencentes a qualquer religião que não atente contra a
disciplina, a moral e as leis em vigor.» (Lei 6.923, art. 4º) 3) «Cada
Ministério Militar atentará para que, no posto inicial de Capelão
Militar, seja mantida a devida proporcionalidade entre os Capelães
das diversas regiões e as religiões professadas na respectiva
Força.» (Lei 6.923, art. 10) Disponível em: http://pt.wkipedia.org/wiki/
capelania_militar. Acesso em: 1 abr.2008.
nomeado por Roma e sustentado pela União. A sede da Arquidiocese e sua Cúria
localizam-se em Brasília-DF, numa repartição do Estado Maior das Forças Armadas.
Este Ordinariado Militar é canonicamente assimilado às dioceses e é dirigido por um
Ordinário Militar. Este prelado goza de todos os direitos e está sujeito a todos os
deveres dos bispos diocesanos. O Ordinário Militar deve ser brasileiro nato, ter a
dignidade de Arcebispo e estar vinculado administrativamente ao Estado-Maior das
Forças Armadas, sendo nomeado pela Santa Sé, após consulta ao Governo
brasileiro. O Estatuto do Ordinariado Militar foi homologado pelo decreto Cum
Apostolicam Sedem6, de 02/01/1990, da Congregação dos Bispos. O cargo é
ocupado por um arcebispo nomeado pelo Papa que tem jurisdição sobre todo
trabalho das Capelanias militares em território nacional, sejam das FFAA (Forças
Armadas) ou da Forças Auxiliares, sejam de Capelania católicas ou evangélicas.
A(s) história(s) da(s) capelania(s) teve início com a Igreja Católica Romana.
Ao olhar para a história, seja por meio de quaisquer óculos (livros históricos),
notaremos a presença da Igreja Romana em 90% dos setores relacionados com o
estado, governos, assembléias e outras. Não há como negar essa realidade, já que
6
Traduz-se por Com Sede Apostólica
7
Fonte Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em 27 mar.2008
32
a igreja católica ainda possui o maior número de fiéis. Ela sempre teve um poder
imensurável na Idade Média, hoje um pouco ofuscada, mas mesmo assim tem
grande poder de decisão e influência no meio onde age.
[...] o ato Oficial de posse de nossa terra para a Coroa Portuguesa foi
a missa do dia 1º de maio de 1500. Este ato religioso caracterizou a
primeira atividade de assistência religiosa aos militares. Integrando
as Entradas e Bandeiras, prestando assistência espiritual, apoio e
orientação moral aos grupamentos que as integravam, estavam os
sacerdotes: Jesuítas, Franciscanos e Carmelitas. A História do Brasil
por VALTAIRE. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/
500br/missa1.htm. Acesso em: 27 mar. 2008.
Mesmo tendo uma dominação católica romana, não se pode fechar os olhos
para os trabalhos realizados por jesuítas, franciscanos e outras ordens em solo
pátrio. O trabalho de assistência religiosa cresceu com a chegada de outros barcos
advindos de Portugal como, por exemplo, nos barcos de Tomé de Souza que
aportaram em 1549, quando chegaram “os soldados de Cristo, os homens-de-preto
da recém fundada ordem de Santo Inácio de Loyola”8. Esses soldados de Cristo
eram quatro: o Padre Manoel da Nóbrega e o Padre Aspicuelta Navarro foram os
mais famosos, depois, é claro, do Padre José de Anchieta que arribou mais tarde. A
eles juntaram-se mais dois: Antônio Rodrigues, um ex-soldado mestre nos idiomas
nativos, e Pêro Correia, um ricaço que decidira-se pelo hábito talar, e que, para
Nóbrega, "era a melhor língua do Brasil". O trabalho era gigantesco, pois, consistia
em evangelizar, visitar, catequizar, educar aquela gente, oferecer um pouco de
cultura (eles tinham cultura, mas não aquela que pudesse gerar comunicação) para
aquela massa de gentios, com mil falas, que se espalhava por aquele território com
dimensões continentais. Era uma tarefa para gigantes, de pessoas comprometidas
com a disseminação da religião em prol dos homens.
8
SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/
missa1.htm: Acesso em : 4 abr.2008.
9
Padre ANTONIO VIEIRA- (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um
religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do
século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta
qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua
exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Wikipédia,
a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira. Acesso em: 22
out.2008.
10
SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/
missa1.htm. Acesso em: 4 abr.2008.
35
11
Huguenote é a denominação dada aos protestantes franceses (quase sempre calvinistas), pelos
seus inimigos, nos séculos XVI e XVII. O antagonismo entre católicos e protestantes resultou nas
guerras religiosas, que dilaceraram a França do século XVI. Wikipédia. Disponível em: http://
pt.wikipedia.org/wiki/Huguenote. Acesso em: 22 out.2008.
36
12
As Batalhas dos Guararapes foram duas batalhas travadas entre as tropas invasoras holandesas e
os defensores portugueses, nos Montes Guararapes, actual município de Jaboatão dos Guararapes,
ao Sul do Recife, no Estado de Pernambuco, no Brasil. A primeira batalha ocorreu em 19 de Abril de
1648, e a segunda em 19 de Fevereiro de 1649. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Batalha_dos_Guararapes. Acesso em: 23 out.2008.
37
O Pastor João Filson Soren, homem notável, bom caráter, serviu por mais de
cinqüenta anos como pastor à frente da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro
(1935 – 1985). Nascido em 21 de junho de 1908 e falecendo no dia 2 de janeiro de
2002 o tempo que esteve à frente da Primeira Igreja Batista na cidade do Rio de
Janeiro, batizou cerca de 3.345 novos membros. Faleceu aos 93 anos, após
comemorar seu 67º aniversário de ordenação ao sagrado ministério. Seu histórico
como ministro do evangelho demonstra que sua preocupação era ensinar a Palavra
de Deus bem como a educação moral. O currículo do Pastor Soren se torna estímulo
para todo ministro evangélico a seguir seus passos para que seja feita a diferença
no seio da sociedade.
Completando o currículo:
13
AZEVEDO, Israel Belo de: João Filson Soren O Combatente de Cristo. Rio de Janeiro: Primeira
Igreja Batista do Rio de Janeiro, 1995, p.63.
41
Foi organizado pelo Capelão Soren um coro com cerca de quarenta militares.
Foi o primeiro coro Militar Evangélico no Brasil, dirigido pelo Sargento Júlio
Andermann. Esse coro ficou parado durante as operações de guerra, voltou a se
apresentar no fim da guerra no Brasil e em solo europeu. Uma das apresentações
ocorreu em Francolise, nas proximidades de Nápoles quando estavam aguardando
a volta para o Brasil.
Figura 8 Figura 9
14
Quanto ao SAREx será discutido mais adiante, mencionando sua finalidade a partir da pagina 38.
44
aprovado permanecerá por mais um ano. Os requisitos necessários não são tão
rígidos como o Capelão de Carreira, ele tem que ter trinta e oito anos de idade
completos em 31 de dezembro do ano da incorporação nesse estágio. Seguem
anexos os itens necessários para se adentrar ao QCM:
Estribilho
15
Fonte- Sarex - Disponível em:http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em:24 mar.2008
16
Militar Cristão. Disponível em: http://www.militarcristao.com.br/dmus.php. Acesso em: 1 dez.2008.
48
Estribilho
Estribilho
Estribilho
A relação completa dos Capelães do SAREx, os postos que lhes cabem, bem
como onde estão lotados, encontram-se no final deste trabalho. (ANEXO II) Deve-se
observar que no quadro anexado o número de Capelães é de cinqüenta e quatro no
total, isto é, faltam sete nomes que ainda não foram inseridos no quadro atual.
TOTAL DO EFETIVO
143.787 100%
RECENSEADO
CATÓLICOS 98.301 68,37%
EVANGÉLICOS 33.387 23,22%
ESPÍRITAS 5.674 3,95%
ORTODOXOS 126 0,09%
IGREJAS BRASILEIRAS 191 0,13%
IGREJAS LIVRES 527 0,37%
AFRO-BRASILEIRAS 567 0,39%
OUTRAS RELIGIÕES 719 0,50%
ATEUS 1.491 1,04%
SEM RELIGIÃO 2.804 1,95%
CAPITULO 3
Vale definir o termo modelo para que possa entender não só com mais afinco
o trabalho do capelão, bem como a importância que o mesmo tem na formação do
caráter de um soldado como criar conceitos que possam ser valorizados e imitados
pela tropa. Conforme o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Ed
GAMMA, em sua 11ª edição, o termo “modelo” significa:
Tanto Frei Orlando como o Pastor Soren foram homens notáveis que
desempenharam muito bem suas missões. Ambos tiveram uma influência muito
grande e marcante entre os militares. A empatia é percebida nos relatos sobre estes
capelães. Dentro do campo religioso como do psicológico a empatia é a identificação
emocional de uma pessoa com outra ou situações, isto é alguém que participa nos
problemas, tristezas, frustrações e etc. não só para se compadecer como para tentar
trazer um resultado eficiente à pessoa. O capelão tem essa missão dentro de seu
campo de ação. Ele não vai eliminar os problemas, mas sim levar seu “paciente” a
um fortalecimento emocional, ocorrendo uma reestruturação em pensamentos e
atitudes.
[...] viver num mundo social é viver uma vida ordenada e significativa.
A sociedade é guardiã da ordem e do sentido não só objetivamente,
nas estruturas institucionais, mas também subjetivamente, na sua
estruturação da consciência individual.
Este relacionamento pode ser visto na vida de Frei Orlando. Além de culto,
piedoso, inteligente e exemplar, sempre gozou de alta estima e confiança dos
Chefes Militares.
Calvino (2003, p. 31, 32), comentando sobre como se deve tratar as pessoas
e buscar o bem de todas sem distinção de cultura e religião disse:
A crise é tão grande no meio religioso que BERGER (2004, p. 149) retrata a
religião como algo a ser vendido como um grande mercado:
Hoje o mercado oferece não vocação e sim cargos. Antes os líderes religiosos
eram vistos como sacerdotes (pastores e padres), hoje o que voga é o cargo. Pastor
de ovelhas não é mais visto como sacerdote, pois não dá status. Hoje tem
autoridade o bispo, apóstolo, autoridades máximas nos milagres e experiências
transcendentais. Cremos que este tipo de líder não serve para ser capelão dentro
das Forças Armadas, pois não tem mostrado ao longo dos anos vocação religiosa.
João Calvino sempre teve em mente que a vocação, o chamado divino ocorre
com a pessoa que tem uma larga experiência com Deus e preocupado com este
assunto como se fosse uma profecia recomenda que tais homens não deveriam
ultrapassar os limites da vocação.
Ninguém deve ser tentado por sua própria jactância a levar acabo
nada que não seja compatível com o seu chamamento, porque tem
que saber que é incorreto ultrapassar os limites impostos por
Deus. (CALVINO, 2003, p.76, grifo nosso).
E mais, LOTUFO NETO (1984 apud, p. 36) citando Bonhoeffer disse que
“devemos ouvir com os ouvidos de Deus, para que possamos falar com suas
palavras”.
Esta é uma das situações que além de trazer problemas de saúde traz
transtornos para a vida militar. Não há nada de novo neste assunto. Historicamente
falando, este problema sempre existiu. O assunto é tão amplo que quase seria
impossível apresentar estatísticas concretas, pois os números não param de crescer
e praticamente seriam obsoletos no término deste trabalho caso fixássemos
qualquer estatística. Algumas pessoas têm dificuldades de relacionar-se com outras
pessoas, com Deus e consigo mesmas e precisam ligar-se a alguma coisa
colocando alguns objetos em seu lugar e isto se torna vício. Apegar-se ao objeto
sempre que algo está errado é ter posse de algo que traz satisfação momentânea.
Esta é a questão do álcool. Ele vem ou tenta compensar algo que está
perdido e que precisa ser resgatado. Entendemos que em muitos casos é
necessária medicação o que foge às mãos do capelão, mas ele pode trabalhar para
trazer equilíbrio ao paciente.
Muito mais que penalidades, o álcool faz o ser humano perder a dignidade, o
equilíbrio e a sensatez. Neste ponto o capelão faz a diferença, pois não é a
medicação que trará o paciente à dignidade; ela ajuda, mas é o auxílio do
psicoterapeuta verde-oliva que servirá de instrumento para a recuperação da
pessoa. O motivo pelo qual as pessoas não conseguem deixar os vícios é que elas
66
sempre podem voltar para eles, pois dão ao dependente prazer momentâneo.
Sempre existirá volta se a pessoa não se libertar totalmente. O vício é a satisfação
na hora da dor, da tristeza e como ele, o vício se torna uma roda viva, a pessoa
sempre necessitará de uma dose maior ou uma droga mais forte. A cada círculo ela
fica mais deprimida, mais fraca para si mesma e mais forte para uma nova
experiência. No caso de drogas ilícitas, isto é “Tráfico, Posse ou uso de
entorpecentes ou Substância de Efeito Similar” o “Manual do Soldado” em seu Artigo
290 :
Crime militar que pode ser cometido por militar ou civil, desde que
seja praticado em local sob administração militar. Pelo entendimento
do Superior Tribunal Militar não se leva em conta a quantidade de
substância entorpecente em posse do agente, pode ser um
decigrama ou até mesmo um centigrama de substância que irá
configurar o delito. É importante ressaltar que não existe no CPM
distinção entre traficante e usuário, tratando-se assim as duas
modalidades com o mesmo rigor. Não se considera o princípio da
bagatela (insignificância) existente na lei penal comum. Manual do
Soldado. Disponível em: http://www. militar.cristao.nom.br/ - Acesso
em: 8 set. 2008.
3.2.2. Doença
O corpo não vive para sempre neste mundo. Ele é composto de tecidos,
músculos, variedade de órgãos que vão se enfraquecendo ou com o passar dos
67
Essa mesma idéia nos transmite ELENY VASSÃO em seu Manual Técnico de
Capelania Hospitalar (1997) relatando o bom trabalho do capelão dentro do hospital
e reconhecido pelos médicos onde os mesmos defendem o papel curador cuidando
da vida espiritual dos enfermos. O enfermo que tem seu espírito fortalecido tende a
uma recuperação mais rápida em sua doença física e caso seja uma paciente
terminal entenderá que a vida tem um fim.
Para que se mantenha uma boa discrição e tenha respeito pelos médicos, é
necessária uma integração entre o capelão e os profissionais da saúde (médicos,
enfermeiros, atendentes e etc.). Existem pastores, ministros e obreiros religiosos que
pelo fato de serem líderes acham que podem agir de acordo com a idéia que tem de
conselheiros e adentrar a um hospital só porque a lei lhe dá permissão para tal –
“Entrada em Hospitais e Presídios: Art. 5º - VII – É assegurada, nos termos da lei, a
prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação
coletiva” (CONSTITUIÇÃO – 1998 – República Federativa do Brasil). Por outro lado
outros acham que a Bíblia lhe dá tal autoridade, ocorrendo certos conflitos,
prejudicando outros conselheiros, tudo por falta de conhecimento e discernimento
sobre como agir como pastor. Existem regras básicas de visitação hospitalar,
retiradas do Manual prático de Capelania contido no livro “No Leito da Enfermidade”
- Normas para Visitação Hospitalar (VASSÃO, 2006, p.115):
3.2.3 A Morte
A maioria dos dicionários define morte como o fim a vida. De forma sintética é
17
o “Ato de morrer; fim da vida” . Analiticamente a Enciclopédia EDIPE define:
17
FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Gamma,
11º Edição.
72
Este trecho é parte de uma carta que Sigmund Freud19 enviou para o Dr.
Frederik Eeden revelando sua visão da morte. Muitos ao se depararem com a morte,
tentam afastar-se dela para amenizar um pouco os sofrimentos. Seja qual for a
melhor definição que possamos ter ou fazer da morte, ela não aliviará o sofrimento
do moribundo, pelo contrário, mais próximos dela estaremos.
18
EDIPE. Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. São Paulo: livraria Editora
Iracema LTDA, 1987. p. 2428.
19
Nota. Sigmund Freud (Príbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939) foi um
médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Interessou-se inicialmente pela
histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais
tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e
Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases
da psicanálise. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Sigmund_freud. Acesso em: 18 set.2008.
73
Ao reportar os olhos para a guerra a morte se torna mais real para o soldado.
Ele se vê apequenado diante da imensidão da batalha. A guerra se torna
onipresente, para onde o soldado se mover lá estará ela e ele desprotegido,
impotente mesmo tendo sido treinado para viver.
A morte não pode mais ser negada; somos forçados a crer nela. As
pessoas realmente morrem, não mais uma a uma, mas muitas, às
vezes dezenas de milhares num só dia. A morte não é mais um
evento casual. (FREUD, 1984, p.202).
O homem por melhor preparado que esteja para o combate existe um aspecto
em sua vida que não há nada que lhe possa preparar para morte. Ela sempre
desestabiliza o combatente. O medo do sofrimento se torna um inimigo patente. A
guerra ameaça o soldado de morte e sofrimento. “Se o exército não é capaz de
persuadir um homem a se preparar para a morte, que série de imaginável de
circunstâncias poderia fazê-lo?” (LEWIS, 2005, p.332).
Infelizmente as guerras ocorrem e muitas delas não têm como evitar. Ela por
natureza é desanimadora e ao mesmo tempo desafiadora para os soldados.
Tratando-se de religião sempre se questiona até que ponto a guerra é válida ou
como deve se portar um soldado entre matar ou morrer. A guerra em determinados
casos deve ser declarada especialmente quando ela for justa.
Platão faz pelo menos três colocações e mais duas subtendidas sobre que o
homem não deve negar-se participar da guerra. Nas penas de Platão os itens abaixo
têm como pano de fundo a prisão e morte de Sócrates tendo sido acusado de
impiedade e sentenciado a beber veneno:
[...] pois quando um homem vai para a batalha com uma consciência
boa e bem instruída, ele vai lutar bem, uma vez que uma consciência
tranqüila nunca deixa de provocar uma grande coragem e um
coração cheio de ousadia; mas quando o coração está cheio de
ousadia e o espírito confiante, a força está toda no pulso, cavalo e
homem se aceleram; tudo sai melhor, e todas as chances sustentam
melhor a vitória que Deus dá em seguida. (Ibid p.2).
Pelo simples fato de ter sido instituída a espada de Deus para punir o
mal, proteger os bons e preservar a paz [...] é que se prova, de modo
vigoroso e suficiente, que lutar, matar e praticar outros atos, que o
tempo de guerra e a lei marcial trazem consigo, foram instituídos por
Deus. Que mais é a guerra do que o castigo daquilo que é mal e
errado? [...] De maneira que, se a espada não estivesse em guarda
para preservar a paz, tudo no mundo iria à ruína, em virtude da falta
de paz. (Ibid, p. 5,6).
Mesmo que não pareça um ato de amor matar, um cristão deve assim fazê-lo,
pois estará protegendo sua família e as demais. “A paz queremos com fervor, a
guerra só nos causa a dor. Porém, se a Pátria amada for um dia ultrajada lutaremos
20
Nota: Martinho Lutero (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi
um teólogo alemão. É considerado o pai espiritual da Reforma Protestante. Precursor da Reforma
Protestante na Europa, fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele foi ordenado padre, mas
devido as suas idéias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado.
Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Martinho_lutero. Acesso em: 19 set.2008.
76
Por isso mesmo Deus honra a espada de modo tão elevado que Ele
a chama de Seu próprio decreto22. [...] Certamente a mão que detém
esta espada, e com ela mata, não é mais a mão do homem, mas de
Deus, que enforca, tortura, degola, mata e combate. Tudo isso é obra
e julgamento de Deus. (LUTERO, 2008, p.6).
Na visão de Lutero quem abusa de seu ofício, mata e degola pela própria
desnecessariamente vontade se torna culpado pelo ato. A culpa não recai sobre o
Estado e sim sobre o soldado.
A guerra justa:
21
Canção do Exército – Letra: Ten. Cel. Alberto Augusto Martins / Música: T. de Magalhães .
Disponível em: http:// www.militar.cristao.nom.br/letra.php?id=5. Acesso em: 17 ago.2008.
22
Romanos 13:1
77
espírito solitário terá duas batalhas a travar: o inimigo próximo e o medo de não
voltar para os seus. Lutar sozinho com a morte é desesperador.
Figuras 10 e 11 - Visita do Ten. Coronel Capelão Walter Mello1º RCGd – Regimento de Cavalaria de
Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF - .
Fotos de propriedade do pesquisador (2008)
Figuras 12 e 13. Fotos Capelão Walter Mello– Instrução Religiosa no 1º RCGd – Regimento de
Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF .
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).
O trabalho do capelão não se limita aos quartéis. Ele visita hospitais, presos e
também as famílias dos militares. No caso do Capelão Walter Mello o trabalho com
as famílias são realizados de duas maneiras: 1- Assiste a UMCEB – União de
Militares Cristãos do Brasil – trabalho realizado com as mulheres dos militares, isto
80
é, apoio que ocorre nas várias vilas militares ou na área de concentração das
residência dos militares. Este trabalho é realizado semanalmente no período da
tarde e a noite ocorre reuniões com as famílias dos militares feitas através de
agendamento.
Figuras 14 e 15. Fotos – UMCEB- União de Militares Cristãos Evangélicos – Grupo de apoio às
mulheres Brasília DF. - Fotos de propriedade do pesquisador (2008).
Além destes trabalhos mencionados o capelão também tem suas ovelhas nas
igrejas onde congregam assistindo-as em seus trabalhos semanais. Nas fotos,
abaixo, pode-se notar o Capelão Walter Mello dando assistência a um dos grupos de
senhoras da Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília onde é Pastor e ao mesmo
tempo Capelão, pois não tem como separar uma função da outra. Neste grupo
também há mulheres de oficiais militares. Nas fotos acima nota-se a ausência do
Capelão Walter Mello, pois, o mesmo estava dando assistência a um outro grupo
(abaixo) no mesmo horário.
Figuras 16 e 17. Fotos – Grupo de Senhoras Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília – Brasília DF.
Reunião ocorrida na residência do Coronel André Buarque.
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).
81
Pelos dados acima elencados e comentados pelo Capelão Walter Mello pode-
se observar que o trabalho é grande, mas o número de capelães é insuficiente.
Segundo o Capelão Walter as visitas aos quartéis se repetem após dois meses pela
extensão do território e número de quartéis. Essa carga horária e o desejo de
realizar os trabalhos somados aos problemas existentes nos quartéis e questões
individuais podem levar o capelão a um stress muito grande. O número reduzido
desses capelães leva-os a uma jornada maior, por isso é necessário que os mesmos
tenham cuidado com a saúde. No ensejo de cuidar da saúde espiritual dos militares
e de suas famílias, presos e outros ele mesmo pode acabar tendo um desgaste
físico, mental e até espiritual. O próprio Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes
Neto Chefe do SAREx (Serviço de Assistência Religiosa do Exército) em entrevista
declarou a sua própria dificuldade em atender os capelães:
CAPITULO 4
Mesmo sendo Sócarates (470–399 a.C.) o pai da ética é com Aristóteles ( 384
– 322 AC) que ela toma corpo: “Ética, fim último do homem é a felicidade. A
felicidade resulta do desenvolvimento harmônico das tendências de um ser, do
exercício da atctividade que o especifica. Ora, a actividade especifica do homem é a
razão, a inteligência” (S.J. FRANCA, 1921, p.42).
Figuras 18 e 19. Fotos – Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto Chefe do SAREx e
Juntamente com o mestrando Ubiratan Nelson Crivelari – Brasília DF
Fotos de propriedade do pesquisador (2008)
23
Segundo o Dicionário Brasileiro, Numinoso, qualificativo dado, na filosofia da religião de R. Otto, a
estado religioso da alma inspirados pelas qualidades transcendentais da divindade.
24
Biéler, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana S/C, 1990, p.265.
25
Carl Gustav Jung, psicólogo e pensador suíço. Nasceu em Kesswil em 1875 e morreu a 6 de junho
de 1961, aos 86 anos, em Zurique. Médico aos 25 anos, na exploração psicológica do Inconsciente
descobriu os chamados “complexos afetivos”, quando da realização de várias experiências sobre as
“associações verbais”. Conheceu Sigmund Freud em 1907 de quem se tornou amigo e devoto
colaborador. Em 1911 publicou “Transformações e símbolos da libido” – obra que marcou a ruptura
definitiva com Freud. (EDIPE, 1987, p.2042).
86
domina o sujeito humano, mais sua vítima do que seu criador (JUNG,
1983, p.3).
Para Jung a religião era uma atitude da mente, uma observação cuidadosa
em relação a certos poderes espirituais, demoníacos, deificados, com a capacidade
de atrair a atenção, subjugar, ser objeto de reverência ou de passiva obediência e
incondicional amor. Pode-se dizer então entender religião como a atitude peculiar a
uma consciência, que foi transformada pela experiência obtida com o numinoso.
Pode-se compreender que o conceito que Jung tem de religião não é daquela forma
dogmática, teológica como qualquer ministro do evangelho tem, mas como
experiência religiosa do divino ou transcendental.
Por outro lado Sigmund Freud (1856-1950) faz várias críticas à religião. Ele
acusa a religião de três grandes males:
1 – Nela os homens são mantidos na imaturidade. Como crianças com medo que
procuram proteção junto a seus pais (ZIRKER, 2007). Elas ainda não são
responsáveis, só se tornarão quando libertarem-se de seus progenitores, tornando-
se autônomas e livres. Na visão de Freud, Deus é que aparentemente faculta aos
87
homens que eles posam permanecer como crianças e não precisem tornar-se
adultos. Perigos e misérias não podem ser afastados da religião; ele entende que a
religião tem sua parcela, mas que o homem não deve depender dela para todo
sempre. Só poderá se libertar de suas teias se ele se desenvolver racionalmente - a
religião é “útil para diversas pessoas, mas que está destinada a desaparecer no
futuro, com o advento de maior consciência crítica, sobre bases racionais”.26
26
Cipriani, Roberto. Manual de sociologia da religião. São Paulo: Paulus, 2007. p.138
27
Zirker, Hans. A Crítica de Freud à religião. Entrevista a IHU On-line:Revista do Instituto Humanista
Unisinos. 2006. edição 2007, www.unisinos.br/ihu. Acesso em: 25 out. 2007.
28
Ibid
88
ascese para que ele possa cogitar suas convicções religiosas? Merval Rosa em seu
livro “Psicologia da Religião” (1979) faz várias colocações citando John Drakeford
declarando que a religião é de suma importância na vida do indivíduo oferecendo-lhe
tanto saúde mental como espiritual:
O homem necessita de algo que possa lhe oferecer segurança para que se
sinta bem neste mundo cheio de crises. A religião deve dar ao homem o sentido de
unidade com o universo, isto é, tudo aquilo que está ao seu redor. O soldado que
deixa sua família a quilômetros de distância encontrará na religião e na instrução
religiosa uma fonte de equilíbrio emocional, resistência física quanto ao trabalho
que terá que realizar no quartel bem como desenvolvimento de amizades saudáveis,
criando-se assim um corpo forte de soldados, pois nos próximos anos serão eles
mesmos suas famílias.
29
“A religião pode oferecer motivação para a vida” . A religião é criticada por
levar o homem a se preocupar com a vida futura. Essa é a crítica por excelência feita
pelos marxistas. Dizem que a religião, preocupando-se com a vida além, tende a
negligenciar a vida do lado de cá. Neste sentido ela é uma espécie de ópio30.
29
ROSA, Merval. Psicologia da Religião. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1979. p.235.
30
Ibid. p. 235
89
A instrução religiosa leva o homem a uma reflexão interior em que ele chega
a conclusão que necessita de Deus levando-o a ter uma segurança no futuro. A
ansiedade quebra qualquer vinculo seja de amizade, serviço, profissão levando o
homem a uma neurose. A religião conduz o homem a um controle dessa ansiedade,
levando-o a consciência de que ele é limitado fazendo dele um ser melhor em todas
as área da vida. “A religião oferece estabilidade emocional para os tempos de crises
na vida. Todo homem normal tem crises na vida”31. Quase todo comportamento é
aprendido como resultado da experiência pessoal, ensino dos pais e de outras
pessoas influentes. Quando as experiências pessoais excedem o ensino adquirido
ela entra em crise e como ROSA disse, todo mundo tem crises na vida. A religião
tem um papel importante na vida das pessoas, pois elas, através da instrução
religiosa podem resistir melhor às pressões emocionais.
31
ROSA, Merval. Psicologia da Religião. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1979. p.236.
90
Esta é a missão do capelão, oferecer aquilo que ele tem de melhor. Como
portador da graça, oferecer concórdia ao coração aflito.
A religião cumpre seu papel social como agente terapêutica através do poder
que tem em ajuntar um grupo de pessoas debaixo de uma mesma crença onde elas
se relacionam, convivem, aprendem e discutem assuntos diversos. A religião tem
uma característica forte que é de melhorar os relacionamentos, muito mais do que
um clube ou associação. Na religião as pessoas se envolvem participando dos
problemas de seus amigos na tentativa de ajudá-los. A religião é instrumento de
empatia entre seus seguidores, bem como auxilia a comunicação entre os membros.
A riqueza da religião, da igreja é que mesmo havendo diferenças entre as pessoas,
elas podem viver em harmonia objetivando um aprimoramento da qualidade de vida,
seja ela social, emocional e espiritual.
91
Figura -22 - Cel. Capl. Antonio Emídio Gomes Neto e Ten. Cel. Capl. Walter Mello - Brasília-DF.
Figura 23 – Ten.Cel. Capl. Walter Mello e mestrando Ubiratan Nelson Crivelari - Brasília-DF.
Fotos de propriedade do pesquisador (2008).
32
Emile Durkheim: (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um
dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a
Mafuso, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente
como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim. Acesso em: 30 set. 2008.
92
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve por objetivo discorrer sobre a importância que o capelão
tem dentro do Exército Brasileiro. No decorrer de sua explanação foi demonstrado
que o capelão não é apenas um militar, com sua patente e evolução dentro da
hierarquia, mas alguém que tem um papel fundamental dentro da instituição para
consolidar a opção do soldado em ser um bom militar bem como firmar a sua crença
em Deus.
dessa Fora Armada, o capelão também tem outras ovelhas, aquelas que participam
em suas igrejas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ROSA, Merval. Psicologia da Religião. Rio de Janeiro: JUERP, 1979.
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5 abr. 2008.
SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponívell em: http://educaterra.
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_____. Carta de Caminha a El-Rei, 1º de maio de 1500. Ibid.
VASSÃO, Eleny. No Leito da Enfermidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. [inclui
Manual técnico de Capelania hospitalar].
WIKIPÉDIA. A Enciclopédia Livre. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
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_____.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rcito_Brasileiro#Antecedentes. Acesso
21 out. 2008.
_____. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_militar_(Brasil).Acesso em: 22 out.2008
_____. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordinariado_Militar_do_Brasil. Acesso em: 20 jan.
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_____. pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimento_do_Brasil. Acesso em: 27 mar.2008.
_____. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica. Acesso em: 6. out.2008
Zirker, Hans. A Crítica de Freud à Religião. Entrevista a IHU On-line:Revista do
Instituto Humanista Unisinos. 2006. edição 2007. Disponível em:
www.unisinos.br/ihu. Acesso em: 25 out.2007.
99
ANEXOS
ANEXO I
ORGANOGRAMA DO SAREx
Ten Cel Capl LINDENBERG Ten Cel Capl VALENTIM Ten Cel Capl ESTEVÃO
Subchefe do SAREx
Subchefe do Sarex Subchefe do Sarex
CLM CMSE CMS
Maj Capl XAVIER 2º Ten Capl CHRISTIAN 1º Ten Capl RONALDO
Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia Adjunto da Subchefia
Ten Cel Capl EUDES Ten Cel Capl CELSO Cap Capl ÁLVARO
Subchefe do SAREx Subchefe do SAREx Subchefe do SAREx
CMNE CMA CMO
Cap Capl MESQUITA Vacante Ten Capl Carvalho Lima
Fonte SAREx
100
ANEXO II
ANEXO III
ANEXO IV
Era um pregador notável, aliava erudição à simplicidade. Ocupou por onze vezes o
cargo de presidente da Convenção Batista Brasileira e presidente da Ordem dos Pastores do
Distrito Federal (hoje Rio de Janeiro), foi reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil,
orador e presidente da Aliança Batista Mundial, fundador da Sociedade Bíblica do Brasil,
pertenceu a Academia Brasileira Evangélica de Letras e foi membro do Conselho de
Administração do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. A Faculdade Georgetown, em
Kentucky – USA lhe conferiu o Doutorado em Divindade, em 1955 e a Faculdade Batista
William Jewell, em Missouri – USA, o Doutorado em Letras, em 1960. Por sua incomum
capacidade de tradução simultânea, serviu como interprete, no Estádio do Maracanã, do
grande pregador norte-americano Billy Graham, em 1960.
Foi casado durante 55 anos com a profª Nicéa Miranda Soren com quem teve três filhos,
104
Esse admirável espírito de sacerdote, que, pela incansável dedicação e assistência que
vem prestando aos praças, já havia conquistado o respeito, a admiração e a amizade dos
oficiais e praças do Regimento Sampaio, assim como de outras pessoas não pertencentes
àquele Regimento, porém sabedoras do seu proceder, tão logo soube da existência de corpos
insepultos de praças nossos que o estado adiantado de decomposição indicava haverem
tombado em combates anteriores, foi, tocado em seus elevados sentimentos de
humanidade e caridade cristã, procurá-los e localizá-los, de moto próprio, tendo, por isto
recebido do Comandante do Regimento Sampaio a missão de os recolher também, para o
que lhe foi dado o auxílio de alguns praças da Companhia de Comando, que se
apresentaram voluntariamente.
Trinta e três famílias brasileiras deverão a esse sacerdote, pela nítida compreensão dos
seus deveres e exemplar cumprimento dos mesmos, o saberem onde jazem os corpos desses
entes queridos. E, pois, com grande satisfação que elogio o Capelão Soren e lhe dou o meu
muito obrigado."
Fazendo público tão nobre procedimento, elogio o Capelão Soren, já tão estimado pelos
oficiais e praças do Regimento, pela sua bondade e prestimosidade, e por sua cooperação
constante a este Comando mesmo fora a assistência religiosa, sempre que se fez mister,
não olhando sacrifícios de qualquer natureza. Em todas as ações que o Regimento tem
se empenhado o Capelão Soren não se descuidou da assistência religiosa aos
seus camaradas, indo constantemente às companhias empenhado em levar o conforto
moral e religioso indistintamente a todos os soldados.
Dá agora mais uma prova de suas qualidades morais e alta compreensão de seus
deveres e belo exemplo digno de um sacerdote cristão. Elogio, pois, o Capelão Soren, pelo
seu louvável procedimento, o que permitiu dar digno e respeitoso destino aos restos mortais
dos heróicos soldados do Brasil."
CAIDADO DE CASTRO
Comandante do Regimento Sampaio,
da Força Expedicionária Brasileira (FEB),
durante a Segunda Guerra Mundial.
Este elogio foi escrito em 5 de março de 1945.
Capela da Vila Militar – Disponível em: http://www.cevm.com.br/personalidades.php. Acesso em: 01
dez.2008.
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