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SENTIMENTO DE CULPA

“Bem aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto.


Bem aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade.” Sl 32.1, 2

A culpa gerou medo no coração do homem no Jardim do Éden, e continua


hoje a afligir muitos corações a ponto de se autoafirmar: “a culpa é a doença
que causa mais aleijões no mundo de hoje”.
Mas será que a culpa é, de fato, uma “doença” que só traz dano e destrui-
ção? Biblicamente, a resposta é não. Embora seja verdade que ninguém pode
viver com a culpa e que o homem luta desesperadamente por evitá-la, justificá-
la e encobri-la, Deus nunca tencionou que a culpa o levasse ao desespero, e
sim, ao arrependimento.
O apóstolo Paulo escreveu uma forte repreensão na primeira carta aos
Coríntios – carta esta que provocou um profundo senso de culpa e de tristeza
em seus leitores. Mas os Coríntios reagiram e corrigiram o erro. A nova carta de
Paulo muito nos instrui sobre a função correta da culpa:
“Agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes
contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus,
para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo
Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a
tristeza do mundo produz morte. ” II Co 7.9,10
Imprimir sentimento de culpa na mente e no coração humano é uma pode-
rosa estratégia de Satanás. Ele sabe que os que são dominados por essas coi-
sas, não raro, deixam de se relacionar com Deus de forma plena. Isso acontece
também com cristãos! Alguns já foram tão intensos na comunhão com o Pai, na
missão de servir, mas por algum motivo, chegaram a cair e, desde então, nunca
mais foram os mesmos: o fardo da culpa os reduziu à condição de infelicidade.
Consequentemente, é importante que eu verifique qual a causa de minha
culpa, para distinguir entre culpa “segundo Deus”, que me leva ao arrependi-
mento, e a culpa que não é “segundo Deus” e que pode produzir consequências
desastrosas.
Alguns especialistas distinguem entre “culpa real” e “culpa falsa”. A “culpa
falsa” não é menos dolorosa que a “culpa real”. Isso porque, quando falamos de
culpa, referimo-nos a um sentimento (ou emoção), produzido pela nossa cons-

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ciência ao violarmos algum padrão. O sentimento é sempre real. Mas é o padrão


que pode ser “verdadeiro” ou “falso”.
Para compreender melhor esse sentimento tão comum no coração do ho-
mem, dividiremos o estudo nos dois tipos de culpa: a culpa verdadeira e a culpa
falsa. Veremos quais as implicações de ambas na vida das pessoas e os passos
para sair dessa condição que aflige o coração de muitos.

Culpa Falsa

A falsa culpa, em primeiro lugar, é a que resulta dos julgamentos dos ho-
mens e de suas sugestões.
No dia a dia, somos continuamente envolvidos em uma atmosfera doentia
de críticas mútuas, a ponto de nem sempre nos apercebermos disso. Ficamos
aprisionados em um implacável círculo vicioso: toda censura suscita um senti-
mento de culpa.
De fato, uma alma culpada é acometida de vários sintomas: tristeza, ver-
gonha, medo, fuga, raiva, ansiedade, angústia, depressão, autocomiseração, re-
lativização e racionalização da culpa.
Talvez, uma das mais cruéis consequências provenientes da culpa, seja o
medo (fobia). “O medo e a culpa andam juntos. São companheiros insepará-
veis. A culpa traz o medo. Nada pode tornar uma pessoa mais insegura que o
sentimento de culpa. Aonde vai a culpa vai o medo. Pela primeira vez, o homem
estava sentindo culpa e medo. “tive medo”, disse Adão. A cobrança da culpa é
o medo. ”
A falsa culpa está baseada no fato de que a pessoa deve ser punida eter-
namente por algo que ela fez ou até mesmo por aquilo que ela não tenha feito.
Existe um peso emocional muito grande, um fardo duro de carregar e que im-
pede a pessoa de crescer e amadurecer na fé.
A maneira mais comum de receber no coração essa culpa falsa é através dos
relacionamentos interpessoais. Pai, mãe, irmãos, líder, amigos.... Basta uma suges-
tão e essa semente poderosa cai no coração, trazendo a dor desse sentimento. Um
silêncio reprovador, um olhar de desprezo ou zombaria, uma frase pronunciada,
não raro impensadamente, podem construir uma poderosa sugestão.
Podemos exemplificar a citação acima da seguinte maneira: uma filha que
chora a morte do pai e a mãe insinua “não chore por seu pai; ele morreu por-
que você não era boazinha! ”. Essa afirmação cresce no coração da filha e dá a
ideia de que ela é culpada pela morte do pai e que a morte é uma punição pela

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sua provável desobediência. Talvez, certo nervosismo ou um acentuado grau
de pesar dos pais tenha contribuído para sugerir tal ideia; mas, qualquer que
seja a razão, uma vez enraizada na alma, aí permanece, com uma incrível pro-
fundidade e um sentimento de culpa aterrador.
As pessoas que são concebidas fora da aliança do casamento (debaixo do
legado de bastardia) também se sentem culpadas por sua condição. Sentem-se
um peso na vida dos pais, pois creem que têm culpa por atrapalhar a vida dos
seus genitores.
Devemos procurar compreender a origem dos sentimentos de culpa. Esse
sentimento normalmente nasce na alma da criança quando os pais, ou as pes-
soas que tem uma importância significativa na sua vida, trabalham com ela de
maneira ríspida ou as pune com atitudes, com olhares, transmitindo para o
seu coração um sentimento de perda do amor. Pessoas importantes do nosso
passado (pais, parentes, professores) influenciam grandemente na formação do
padrão de nossa consciência. Filhos de pais críticos e exageradamente exigen-
tes podem experimentar um sentimento constante de culpa. Mesmo certos de
que “já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”, e que “Ele
é fiel e justo para nos perdoar os pecados” confessados, eles lutam para se livra-
rem de um sentimento de culpa.
Diante disso, podemos afirmar que a falsa culpa normalmente surge
no coração diante de uma reprovação do homem. De fato, toda culpa sugerida
pelo julgamento dos homens é uma falsa culpa. Além disso, esse sentimento
destrói relacionamentos trazendo rupturas terríveis e difíceis de restaurar.
Somos “bombardeados” pelo dedo do acusador. Ele sabe atacar nossos
pontos fracos, sabe que uma vida envolvida pela culpa pode ser mais facilmente
dominada. Mas Deus nos deu o maravilhoso dom da graça e em Cristo Jesus
somos agradáveis a Ele: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus
Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. Para louvor e gló-
ria da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. Em quem temos a
redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua
graça.”. Efésios 1:5-7

Quais os Desdobramentos da Culpa?

a) Medo: Gn 3:10.
b) Sofrimento generalizado: Sl. 32:3-5.
c) Tendência a auto punição.

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d) Afastamento de Deus.
e) Perfeccionismo.
f) Autoimagem negativa.
g) Colocar-se como o “juiz” da sua própria vida, tomando, assim, o
lugar de Deus.

Culpa Verdadeira

A verdadeira culpa dos homens surge em relação às coisas que Deus lhes
reprova no secreto do seu coração. Só eles mesmos podem saber quais são es-
sas coisas. Geralmente, são coisas totalmente diferentes daquelas que os ho-
mens reprovam. A verdadeira culpa é a que resulta no julgamento divino.
À luz da Bíblia, a verdadeira culpa nos aparece como culpa em relação a
Deus, uma ruptura da ordem da dependência do homem em relação a Deus.
Está relacionado ao fato de saber se a conduta foi contrária à vontade de Deus
ou conforme ela. Deus, portanto, tencionava que a culpa levasse o homem ao
reconhecimento do seu pecado, ao arrependimento, e à confissão que restaura
a comunhão com Ele.
Não há nenhum justo (Rm 3.10), todos os homens são culpados, todos
sabem disso e o sentem mais ou menos claramente. A culpa não é uma inven-
ção da Bíblia ou da igreja. Ela é uma presença universal na alma humana.
Davi experimentou a culpa verdadeira. Consequentemente, se arrependeu do
pecado que cometeu com Bate-Seba e foi perdoado pelo Senhor (II Sm 11.1-24; Sl 32).

Livres da Culpa

Quando me sinto culpado, portanto, devo examinar a “causa” - devo avaliar


o padrão que tenho violado. Se eu descobrir que o padrão violado é bíblico, devo
confessar meu pecado ao Senhor (I Jo 1:9), ciente de que Ele não só perdoará os
pecados específicos confessados, mas também purificar-me-á “de toda injus-
tiça, ” i.é., das ofensas das quais eu não estava ciente.
Às vezes, mesmo reconhecendo que o padrão é errado, o sentimento de
culpa continua a perturbar-me. Preciso “banhar-me” na Palavra de Deus e me-
morizar versículos pertinentes ao caso. Aos poucos, minha consciência deixará
de acusar-me, à medida que ela esteja absorvendo e assumindo o novo padrão.
Se existiu, de fato, um erro cometido, é necessário liberar perdão para mim
mesmo.
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Conclusão

O sentimento de culpa constitui um sério problema psicológico e espiritual.


É o sentido acusador de fracasso pessoal e interpessoal. Assim, sob a tensão da
culpa que se volta contra o irmão, podem ser desenvolvidos padrões neuróticos,
ansiedades, temores, auto rejeição, atitudes defensivas que se expressam em
agressão, e outras mazelas. A culpa pode ser um distúrbio, um fardo insuportá-
vel, machucando quem é sensível, e prejudicando as relações pessoais; pode ser
uma prisão de ansiedade e hostilidade.
O fato é que nós vivemos com mais ou menos sentimentos de culpa. E nem
sempre esses sentimentos são maus e mesquinhos, pois eles podem nos estimu-
lar a mudar o comportamento, e buscar o perdão de Deus e de outros. Podem,
no entanto, ser destrutivos e inibidores.
Ao homem esmagado pela culpa, a Bíblia oferece a certeza do perdão e da
graça. Entretanto, com um padrão de consciência forjado pela Palavra de Deus,
a culpa pode tornar-se uma grande amiga, alertando-nos quanto às violações
da vontade do nosso Pai, trazendo-nos de volta a uma íntima comunhão com
Ele através de arrependimento e confissão sinceros.

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