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Estudo de Domingo dia 16 de abril de 2024

Tema: Perdão
Texto:
Introdução:
Já tem um tempo que quero pregar sobre esse assunto.
O texto de Mateus 18:15-22 é luz para espantar toda a escuridão do pecado da falta de
perdão.
Nesse texto nós

Primeiro passo: vai tu, e confronta. Não houve arrependimento? Volta com outro. Não
houve mudança? Leva-o a igreja. Não houve acerto? A disciplina, então, é o 4º passo.
Parece que Jesus está ensinando que além da segunda há, uma terceira e uma quarta
milhas na relação entre os irmãos na comunidade.

Quando nós nos confrontamos com a necessidade de perdoar alguém devemos ter em
mente seis realidades sobre o padrão divino de perdoar.
1. Devemos ter em mente que todos nós somos devedores. Todos devemos ao rei, todos
devemos a Deus, todos devemos mais do que valemos. Nossa capacidade de dever é
muito maior que a nossa capacidade de ser. O que somos não paga nem o que devemos.
Somos eternos devedores: nosso pecado, nossa culpa, nossa condenação, nossa dívida é
maior do que a nossa capacidade de pagá-la.
2. Você e eu precisamos saber, sempre que estivermos confrontados com a necessidade
de perdoar alguém, que todos nós recebemos graça (26,27). Quando nos ajoelhamos,
quando clamamos, quando suplicamos, quando dizemos: Tem piedade de mim, Senhor,
Ele já perdoou toda a dívida. A dívida está paga, está consumada não há mais o que
pagar, Deus cancelou todo o débito, usou de graça para comigo e para com você.
3. Tudo quanto nosso próximo nos deve é infinitamente menos do que aquilo que devemos
a Deus. Quando alguém houver feito alguma coisa contra você, quando alguém houver
tomado emprestado e não tiver restituído, quando alguém o tiver magoado, iludido, traído,
esfaqueado psicológica e moralmente, saiba que sua dívida com Deus é infinitamente
maior do que a dívida do seu próximo para com você. A dívida de qualquer pessoa para
comigo é infinitamente menor do que a minha dívida para com Deus.
Vejam a comparação que a Bíblia faz dos valores perante Deus. Ao rei, ele devia 10 mil
talentos, 60 milhões de denários. Já o outro ele devia 100 denários.
Observem a diferença de 60 milhões para 100. O que meu próximo deve a mim não se
compara com o que eu devo a Deus.
4. Não perdoar ao próximo é tratá-lo como Deus não nos tratou (28 e 30). É jogar o meu
próximo no cárcere psicológico, existencial, moral e espiritual. É lançá-lo num inferno
temporal. E Deus não nos lançou no inferno eterno.
5. Todos os que recebem o perdão de Deus têm perante Ele o compromisso perpétuo de
repetir o mesmo gesto com os outros tantas vezes quantas sejam necessárias. Então o
seu Senhor, Chamou-o, disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda, porque tu
pediste, tu me suplicaste; não devias tu igualmente, ou como eu fiz contigo, compadecer-te
do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? (32,25).
Quem recebeu o perdão de Deus tem um compromisso perene, perpétuo, definitivo,
repetível tantas vezes quantas sejam necessárias de dar aos outros o mesmo perdão que
Deus lhe deu.
Você recebeu graça? Você recebeu perdão? Então você está eternamente comprometido
a ser uma miniatura de Deus nas relações com o seu próximo! Você está eternamente
obrigado a repetir o mesmo gesto na relação com os outros. Sois deuses, como disse
Jesus, nessa pequena relação de indulgência, de perdão, de misericórdia perpétua para
com o outro, para com o próximo, na família, no trabalho, na igreja, na sociedade lugares
onde diariamente esses reclamos nos são feitos pela própria realidade.
6. Quem não perdoa coloca a si mesmo debaixo do juízo de Deus outra vez: Indignando-
se o Senhor o entregou aos verdugos até que pagassem toda a dívida. E Jesus não
brinca, diz: Assim também da mesma maneira (sem tirar nem pôr), meu Pai Celeste vos
fará, se no íntimo, (não só na fachada, não; na plasticidade do rosto, no faz-de-conta, mas
no íntimo) não perdoardes cada um ao seu irmão (34, 35).

O PROCESSO DO PERDÃO

Vamos agora estudar o processo do perdão: como ele acontece e quais são os passos
psicológicos, comportamentais e espirituais que eu e você temos que dar nesse caminho
do 70x7.
1º Passo: Jesus inicia dizendo que o 1º passo que eu preciso dar quando penso em
perdoar a alguém é o da cautela. Ele diz: acautelai-vos (Lc. 17:3).
Cautela para não ser injusto, para não ser duro, para não ser motivo de tropeço
(Lc.17:1,2). Pois às vezes, no desejo de consertar relações, nós esbagaçamos as pessoas
com a nossa falta de cautela, com a nossa falta de senso de justiça e de equilíbrio.
Julgamos conforme o nosso ouvido escutou, segundo a aparência, sem auscultar o
coração da pessoa, sem saber como as coisas de fato são. Julgamos sem critério de
justiça e verdade (I Co 4:5).
Por isso quando você partir para o caminho da reconciliação, cautela. Cautela para ouvir
mais e falar menos, cautela para realmente desenvolver um senso de justiça, caso
contrário ao invés de consertar a relação você virá a esbagaçar, estraçalhar o coração de
seu irmão prá sempre, ou fazê-lo vacilar, tropeçar. (Lc. 17:1,2).
2º Passo: Deve haver confrontação. Se o teu irmão pecar contra ti (...), que aconselha
Jesus? Repreende-o (Lc. 17:3). Jesus nega aqui três idéias mentirosas que correm em
nosso meio.
A primeira é a de que o silêncio é a voz do perdão. É mentira, no entanto, é exatamente
isso que a gente aprende: que o silêncio é a voz do perdão! Asseveramos: Não disse nada
porque está resolvido, está perdoado.
É mentira! O silêncio não é a voz do perdão, o silêncio é da raiz da amargura. O silêncio é
a voz maligna da acusação profunda, é muitas vezes a voz sem som de um coração cheio
de autopiedade.
Outra idéia falsa que Jesus desmistifica e destrói é a de que o tempo é um santo remédio
para curar as relações. Quantas pessoas estão ruminando um atrito dez, quinze anos?
Nas vidas de quantas pessoas a ruptura começou apenas com uma ferida, hoje
transformada em carne viva? O tempo não é um santo remédio. Talvez o tempo aja com
respeito às rejeições interpessoais não curadas tanto quanto um câncer não tratado age
no corpo humano. Ao invés de o debelar, produz metástase em todos os órgãos.
Jesus também acaba com a idéia de que sentir-se ofendido é perder a razão. Isto porque
ele admite que o irmão pecou contra você e que você sentiu ofendido com o que o irmão
falou. Ele não nega a humanidade de ninguém, não furta o amor-próprio de ninguém, não
arranca a dignidade inerente a ninguém, não transforma ninguém num amorfo, um
indivíduo sem sentimentos, num bambu. Jesus não é budista, Ele é o Cristo, o Senhor do
Cristianismo. O Budismo é que diz que você se torna maior na medida em deixa de ser
pessoa, na medida em que mata a sua personalidade. Dizem os budistas que você é feliz
não pelo acréscimo de felicidade, mas pela ausência de dor. Jesus não ensina isso. Ele diz
que você pode admitir o fato da ofensa, também a realidade de que aquilo que fizeram a
você doeu, que você ficou magoado, que você se sentiu mal. Em Cristo você pode dizer
ao seu irmão: O que você fez contra mim me humilhou. Ele não nega este fato da sua
humanidade. Ele foi um homem traído, não foi um traído glacial. Disse ao seu traidor:
Judas, se tens que fazer, faze-o logo porque para mim está sendo difícil conviver com essa
morosidade da traição. Diz também: Vem, Judas, beija-me. Após isso Ele afirma: Com um
beijo tu trais o Filho do Homem. Ele é gente, é Deus feito gente. Desse modo acabamos
com essa idéia de que se sentir ofendido é perder a razão. Perder a razão é não se sentir
ofendido mas achar que os fins justificam os meios e agir com os meios carnais.
Mas atenção! este confronto, deve ser cauteloso, manso, educado e sincero. Jesus instrui
o confronto, mas esse repreende- o não inclui a falsa dialética de que os fins justificam os
meios. Repreende-o com brandura, é o que o Novo Testamento manda, é o que o livro de
Provérbios ensina. Em Romanos 12 há exortações à repreensão branda (Rm. 12:19 a 21).
II Timóteo 2:25 aconselha que o pastor repreenda a ovelha com brandura. Repreensão
pode ser branda, mas deve ser confrontação.
Em Colossenses, 1:28 usa-se a palavra grega nautetesis para a palavra advertindo, que
significa ficar cara a cara. Paulo diz: Eu fico cara a cara com cada homem, confrontando
cada homem, tentando levar cada homem a se tornar perfeito em Cristo Jesus.
Então não fujas do face a face, do rosto no rosto, não se furte a fazer como Eliseu fez com
o menino (II Reis 4:34). Nessa ressurreição do irmão morto tem que haver esse cara a
cara, esse corpo a corpo. Não fujas disso.
Muitas vezes a gente adia sine die esse enfrentamento do amor. Mas quanto antes ele
puder acontecer em brandura, em amor e mansidão, tanto mais cedo virá a cura.
3º passo: Deve haver arrependimento (Lc. 17:3).
Jesus diz que se o irmão se arrepender, ótimo. Deve haver uma mudança de mente. Não é
apenas um vamos conversar, quando cada um diz ao outro um punhado de malquerenças.
Depois saímos ousadamente dizendo aos outros: Nós somos transparentes. Conosco a
coisa é resolvida assim. Ele me diz desaforo eu digo também, e acabou. Não é assim, mas
ao contrário: o seu irmão deve se arrepender, ou você deve se arrepender, ou os dois
devem se arrepender. Arrependimento tem que ser o grand finale dessa tentativa de fazer
a orquestra tocar essa harmonia (Mt. 18:19). Tem que haver mudança de mente e de
atitude, e na medida do possível de forma verbalizada, com palavras, com a língua que
feriu, que magoou e que destruiu. Deve ser a mesma língua que feriu a que passa o
bálsamo de Gileade na ferida do irmão.
Só que há alguns que têm uma dificuldade tumular para abrirem a boca. São
psicologicamente uns sarcófagos faraônicos. Gente fechada e que desde criança em casa
aprendeu a receber o perdão do pai apenas com uma passada de mão na cabeça. Tem
pai que quando perdoa faz assim, passa a mão na cabeça. Há pessoas que aprenderam a
se reconciliar com o irmão dizendo sucintamente: Você quer jogar o meu jogo agora? Mas
há outros que aprenderam com o pai a fazer diferente. O pai ensinou com gestos e
palavras o seguinte: Filho, eu bati em você injustamente. Perdão, filho. Ou então: Olhe, a
gente se desentendeu, mas vamos nos entender agora?. Ajoelham-se juntos e ele diz: Pai,
perdão.
Mas infelizmente nem todas as famílias são assim. Algumas criam as pessoas como um
parque aberto, outras as criam como um sarcófago fechado. Mas eu não devo estuprar o
meu irmão. Se o meu irmão pode verbalizar isso em termos de um perdão com palavras,
ótimo. Mas eu devo ser suficientemente sensível para ler as atitudes do meu irmão, para
ler os olhos, a face ou a mão, sem ser cigano. É fácil ler a mão sem ser cigano. Quando a
mão suspende e o caído pega com carinho o rosto do irmão. Ás vezes não se sabe pedir
desculpa, mas tá na cara, ou na mão.
4º Passo: Deve haver perdão. (Lc. 17:3,4). Até aí não houve perdão. Primeiro vem a
cautela, depois a confrontação, em seguida o arrependimento. Mas agora entra essa
palavra divina na história na história de dois homens, de um homem e uma mulher a
palavra perdão. Perdão que é na minha pobre definição, o oferecimento de uma mente
sem memória, o resultado da amnésia do amor.
Uma vez eu estava num programa de televisão em Manaus e o entrevistador me pegou de
chofre, pois virou-se para mim e falou: O que é perdão?. Eu tomei um susto, pois não
dava tempo de elaborar uma resposta. Mas falei baixinho: Socorro, Jesus. E me veio a
seguinte idéia: Perdão é uma mente sem memória, é dar chance para o irmão nascer de
novo na minha história, como se ele não tivesse história nenhuma. É deixar ele brotar aqui
no coração, é oferecer a ele um porto na minha vida. Perdão é esquecer. Entendam o que
eu vou tentar dizer: Perdoar é ser um pouco Deus, na relação horizontal entre homem e
homem. Lembram-se de que o padrão desse perdão é divino? Deus não é aquele que
esquece os nossos pecados? Hebreus, 10:17 diz: Dos teus pecados eu já não me lembro
mais. O amor encobre multidão de pecados. Deus sepulta os nossos pecados no Oceano
Pacífico a 11.000 metros de profundidade. No fundo dos mares, não é isso que o profeta
diz? Ele afasta as nossas transgressões como o oriente está afastado do ocidente. Deus
nos oferece uma mente sem memória.
Isso é perdão.
Perdão que daqui a 5 anos repete tudo que foi feito contra nós a 6 anos não é perdão, é
ilusão, é tapeação. Perdão só trata do daqui prá frente, esquece o ontem, não tem
passado, não tem história, é futurista, é otimista, só vê além. Como o padrão do perdão é
o padrão divino, então devemos ser capazes de perdoar até as pessoas não arrependidas.
Quando há arrependimento existe cura nas relações, mas ainda que o irmão não se
arrependa eu tenho que perdoar-lhe, porque o padrão do meu perdão é o padrão do
perdão de Cristo. E o que Cristo disse? Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que
fazem. Perdoa até os não arrependidos, perdoa até aos ignorantes, foi o Ele pediu ao Pai.

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