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3 - Por que os regenerados não conseguem

deixar de pecar?

3.1 Os crentes não estão sob o domínio do pecado,


mas ainda existe a presença dele.

Levados pela tentação de Satanás e do mundo, pela


prevalência da corrupção que ainda permanece dentro deles,
ou pela negligência aos meios para a sua própria preservação, os
santos podem incorrer em tristes pecados, e continuar em tais
pecados, por algum tempo. (9) Desse modo, eles caem em
desagrado perante Deus e entristecem o seu Santo Espírito; (10)
vêm-se privados de bênçãos e confortos; (11) têm os seus
corações endurecidos e ferida a consciência; (12) ofendem e
escandalizam outras pessoas; e fazem vir sobre si mesmos os
juízos de Deus, ainda neste mundo. (13). Não obstante, eles
renovarão o seu arrependimento, e serão preservados através da
fé em Cristo Jesus, até o fim. (14). (CFBL 1689, Cap. 17, 3).

9 Mt.26.70,72,74: Ele, porém, o negou diante de todos, dizendo:


Não sei o que dizes. E ele negou outra vez, com juramento: Não
conheço tal homem. Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não
conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo.
10 Is.64.5,9: Sais ao encontro daquele que com alegria pratica
justiça. daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que
te iraste, porque pecamos; por muito tempo temos pecado, e
havemos de ser salvos? Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem
perpetuamente te lembres da nossa iniquidade; olha, pois, nós te
pedimos, todos nós somos o teu povo.
Ef.4.30: E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção.
11 Sl.51.10,12: Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova
em mim um espírito inabalável. Restitui-me a alegria da tua
salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário.
12 Sl.32.3,4: Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os
meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a
tua mão pesava dia e noite sobre mim; o meu vigor se tornou em
sequidão de estio.
13 2Sm.12.14: Mas, posto que com isto deste motivo a que
blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te
nasceu morrerá.
14 Lc.22.32,61,62: Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus
irmãos. Então, voltando-se o Senhor fixou os olhos em Pedro, e
Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje
três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então Pedro,
saindo dali, chorou amargamente.

3.2 O “livre arbítrio” dos regenerados não é pleno.


Observação: O termo “livre arbítrio” não é definido nesse material
como a capacidade de fazer todas as coisas sem influência interna
ou externa (como na física, por exemplo, que quando
desconsideramos a influência de algo dizemos que está livre desse
fator). O real conceito de “livre arbítrio” é o de liberdade de escolha
sem coação, sem ser forçado a fazer algo que não quer.
Em resumo, “livre arbítrio” é a capacidade de fazer algo
conforme a sua natureza (sendo influenciada por ela, mas não
coagido por algo externo), conforme o seu querer. Alguns
podem usar o termo “livre agência” ou simplesmente
“liberdade”. O termo “livre arbítrio” por si só não é errado, assim
como os demais, desde que a definição seja claramente e
corretamente apresentada (por exemplo, muitos aplicam “livre
arbítrio” em um sentido pelagiano, uma aplicação herética, por
considerarem que o ser humano não é totalmente corrompido e
que não necessita da graça de Deus todo o tempo).
Outros também aplicam o termo “livre arbítrio” como a
capacidade de querer fazer ou deixar de fazer algo, ou ainda, a
capacidade de querer fazer A ou B. Nesse último caso, nem Deus
teria “livre arbítrio”, pois Deus não tem o querer para cometer
pecado (aspecto B), pois somente pode querer o bem (aspecto A).
Logo, a definição de “liberdade” que utilizamos é a de fazer algo
conforme a sua natureza, ou seja, no caso divino a liberdade é
descrita em somente fazer o bem sem poder fazer o mal, já que a
natureza divina é plenamente santa, sem ter qualquer coação ou
violentação do querer.
Quando Deus converte um pecador, e o transfere para o estado
de graça, Ele o liberta da sua escravidão natural do pecado, (7) e,
somente pela graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo
que é espiritualmente bom. (8) Mesmo assim, por causa de
certas corrupções que permanecem, o homem redimido não faz
o bem perfeitamente e nem deseja somente aquilo que é bom,
mas também o que é mau. (9). (CFBL 1689, Cap. 9, 4).

7 Cl.1.13: Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou


para o reino do Filho do seu amor, ...
Jo.8.36: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres.
8 Fl.2.13: ... porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade.
9 Rm.7.15,18,19,21,23: Porque nem mesmo compreendo o meu
próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim o que
detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem nenhum: pois o querer o bem está em mim, não,
porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal
que não quero, esse faço. Então, ao querer fazer o bem, encontro
a lei de que o mal reside em mim. ... mas vejo nos meus membros
outra lei que, guerreando contra a minha mente, me faz prisioneiro
da lei do pecado que está nos meus membros.

Quais são os poderes dos regenerados, e de que modo é livre


o seu arbítrio.

Finalmente, devemos ver se os regenerados têm e até que ponto


têm livre arbítrio. Na regeneração, o entendimento é iluminado
pelo Espírito Santo, para que compreenda os mistérios e a
vontade de Deus. E a própria vontade não é somente mudada
pelo Espírito, mas é também equipado com poderes, de modo,
que ela espontaneamente deseje o bem e seja capaz de
praticá-la (Rom 8.1 ss).

Se não concedermos isso, negaremos a liberdade cristã e


introduziremos uma servidão geral. Mas também o profeta registra
o que Deus diz: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei” (Jer 31.33; Ez 36.26 ss). E o Senhor
também diz no Evangelho: “Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres” (João 8.36). E São Paulo também
escreve aos filipenses: “Porque vos foi concedida a graça de
padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele” (Fil 1.29).
E outra vez: “Estou plenamente certo de que aquele que começou
boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (v.
6). E ainda: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade” (2.13). (2° Confissão
Helvética de 1562).

O ponto central aqui é a transformação realizada pelo


Espírito Santo nos crentes verdadeiros, regenerados, que
habilita a eles a poderem decidir (possibilidade, cogitação)
entre o bem e o mal e quererem (realidade da decisão)
entre bem e mal. O crente verdadeiro deixa de ter uma
vontade só para o mal e passa a ter uma vontade que não
age sob o domínio do pecado, entretanto ainda com a
presença dele.

Os regenerados operam não só passiva, mas ativamente.

Entretanto, ensinamos que há duas coisas a serem observadas:


Primeiro, que os regenerados, na sua eleição e operação, não
agem só passiva mas ativamente. São levados por Deus a
fazer por si mesmos o que fazem. Santo Agostinho muito bem
afirma que “Deus é nosso ajudador. Mas ninguém pode ser
ajudado, se não aquele que faz alguma coisa”. Os maniqueus
despojavam o homem de toda ação e o faziam semelhante a uma
pedra ou a um pedaço de pau. (2° Confissão Helvética de 1562).

Veja que são levados por Deus a fazer o bem que


fazem, pela sua graça, entretanto isso não é por coação,
mas por persuasão eficaz, fruto da regeneração operada
em seus corações. Os Maniqueus possuíam um ensino
falso quanto a esse ponto.
O livre arbítrio é fraco nos regenerados.

Segundo, nos regenerados permanece a fraqueza. Desde que o


pecado permanece em nós, e nos regenerados a carne luta
contra o espírito até o fim de nossa vida, eles não conseguem
realizar livremente tudo o que. Isso é confirmado pelo apóstolo
em Rom 7 e Gal 5. Portanto, é fraco em nós o livre arbítrio por
causa dos remanescentes do velho Adão e da corrupção humana
inata, que permanece em nós até o fim de nossa vida. Entretanto,
desde que os poderes da carne e os remanescentes do velho
homem não são tão eficazes que extingam totalmente a
operação do Espírito, os fiéis são por isso considerados livres,
mas de modo tal que reconhecem a própria fraqueza e não se
gloriam de modo algum em seu livre arbítrio. Os fiéis devem ter
sempre em mente o que Santo Agostinho tantas vezes inculca,
segundo o apóstolo: “o que tendes que não recebestes? Se, pois,
o recebestes, por que vos vangloriais, como se não fosse um
dom?” A isso ele acrescenta que aquilo que planejamos não
acontece imediatamente, pois os resultados das coisas estão nas
mãos de Deus. Esta a razão por que São Paulo ora ao Senhor
para promover sua viagem (Rom 1.10). E esta é também a razão
pela qual o livre arbítrio é fraco. (2° Confissão Helvética de
1562).

Não conseguem fazer tudo, mas algumas coisas.


Pois, mesmo com o poder de fazer (possibilidade) eles
algumas vezes não terão o querer de fazer (realidade da
decisão positiva) e, com isso, cometerão pecados ao
longo da caminhada, sendo responsáveis por isso, já que
poderiam escolher o bem, mas quiseram o mal.

3.3 A libertação completa do pecado só acontece com


a glorificação.

Somente na glorificação os crentes poderão desfrutar da ausência


completa do pecado. As suas decisões serão sem corrupção
alguma e verdadeiramente livres no Senhor, ou seja, conforme a
natureza sem pecado, sem mácula.
Somente no estado de glória a vontade do homem será
transformada, perfeita e imutavelmente; 10 e então será livre
para fazer apenas o bem. (CFBL 1689, Cap. 9, 5).

10 Ef.4.13: ... até que todos cheguemos à unidade da fé e do


pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo, ...

Considerações Finais

 O Senhor que nos escolheu garantiu que toda nossa


caminhada fosse certa por causa dEle (Rm 8:29-20).
 Nessa caminhada existe a presença do pecado e não
somos completamente livres para fazer o bem.
 Nossa liberdade é existente, porém é limitada e
justamente por isso é que nossa permanência em
Deus não depende dela, mas da preservação divina.
 Os pecados cometidos pelos já regenerados são
acompanhados de uma tristeza e um arrependimento
genuínos e pela busca em não cair de novo nesses
erros.
 Quando regenerados temos o poder (a possibilidade)
de escolhermos o bem e o mal, entretanto o nosso
querer (realidade da escolha) não será totalmente
voltado ao bem, sendo em algumas escolhas
envolvido pelos enganos malignos.
 Nosso querer será totalmente pleno ao bem com a
glorificação, etapa certa para aqueles que, mesmo
tendo cometido erros na vida terrena, foram
alcançados pela graça divina e creram no Senhor
Jesus.

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