prevalência da corrupção que ainda permanece dentro deles, ou pela negligência aos meios para a sua própria preservação, os santos podem incorrer em tristes pecados, e continuar em tais pecados, por algum tempo. (9) Desse modo, eles caem em desagrado perante Deus e entristecem o seu Santo Espírito; (10) vêm-se privados de bênçãos e confortos; (11) têm os seus corações endurecidos e ferida a consciência; (12) ofendem e escandalizam outras pessoas; e fazem vir sobre si mesmos os juízos de Deus, ainda neste mundo. (13). Não obstante, eles renovarão o seu arrependimento, e serão preservados através da fé em Cristo Jesus, até o fim. (14). (CFBL 1689, Cap. 17, 3).
9 Mt.26.70,72,74: Ele, porém, o negou diante de todos, dizendo:
Não sei o que dizes. E ele negou outra vez, com juramento: Não conheço tal homem. Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo. 10 Is.64.5,9: Sais ao encontro daquele que com alegria pratica justiça. daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos; eis que te iraste, porque pecamos; por muito tempo temos pecado, e havemos de ser salvos? Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da nossa iniquidade; olha, pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo. Ef.4.30: E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. 11 Sl.51.10,12: Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito inabalável. Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário. 12 Sl.32.3,4: Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim; o meu vigor se tornou em sequidão de estio. 13 2Sm.12.14: Mas, posto que com isto deste motivo a que blasfemassem os inimigos do Senhor, também o filho que te nasceu morrerá. 14 Lc.22.32,61,62: Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos. Então, voltando-se o Senhor fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então Pedro, saindo dali, chorou amargamente.
3.2 O “livre arbítrio” dos regenerados não é pleno.
Observação: O termo “livre arbítrio” não é definido nesse material como a capacidade de fazer todas as coisas sem influência interna ou externa (como na física, por exemplo, que quando desconsideramos a influência de algo dizemos que está livre desse fator). O real conceito de “livre arbítrio” é o de liberdade de escolha sem coação, sem ser forçado a fazer algo que não quer. Em resumo, “livre arbítrio” é a capacidade de fazer algo conforme a sua natureza (sendo influenciada por ela, mas não coagido por algo externo), conforme o seu querer. Alguns podem usar o termo “livre agência” ou simplesmente “liberdade”. O termo “livre arbítrio” por si só não é errado, assim como os demais, desde que a definição seja claramente e corretamente apresentada (por exemplo, muitos aplicam “livre arbítrio” em um sentido pelagiano, uma aplicação herética, por considerarem que o ser humano não é totalmente corrompido e que não necessita da graça de Deus todo o tempo). Outros também aplicam o termo “livre arbítrio” como a capacidade de querer fazer ou deixar de fazer algo, ou ainda, a capacidade de querer fazer A ou B. Nesse último caso, nem Deus teria “livre arbítrio”, pois Deus não tem o querer para cometer pecado (aspecto B), pois somente pode querer o bem (aspecto A). Logo, a definição de “liberdade” que utilizamos é a de fazer algo conforme a sua natureza, ou seja, no caso divino a liberdade é descrita em somente fazer o bem sem poder fazer o mal, já que a natureza divina é plenamente santa, sem ter qualquer coação ou violentação do querer. Quando Deus converte um pecador, e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta da sua escravidão natural do pecado, (7) e, somente pela graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom. (8) Mesmo assim, por causa de certas corrupções que permanecem, o homem redimido não faz o bem perfeitamente e nem deseja somente aquilo que é bom, mas também o que é mau. (9). (CFBL 1689, Cap. 9, 4).
7 Cl.1.13: Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou
para o reino do Filho do seu amor, ... Jo.8.36: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. 8 Fl.2.13: ... porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. 9 Rm.7.15,18,19,21,23: Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim o que detesto. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum: pois o querer o bem está em mim, não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. ... mas vejo nos meus membros outra lei que, guerreando contra a minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Quais são os poderes dos regenerados, e de que modo é livre
o seu arbítrio.
Finalmente, devemos ver se os regenerados têm e até que ponto
têm livre arbítrio. Na regeneração, o entendimento é iluminado pelo Espírito Santo, para que compreenda os mistérios e a vontade de Deus. E a própria vontade não é somente mudada pelo Espírito, mas é também equipado com poderes, de modo, que ela espontaneamente deseje o bem e seja capaz de praticá-la (Rom 8.1 ss).
Se não concedermos isso, negaremos a liberdade cristã e
introduziremos uma servidão geral. Mas também o profeta registra o que Deus diz: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jer 31.33; Ez 36.26 ss). E o Senhor também diz no Evangelho: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36). E São Paulo também escreve aos filipenses: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele” (Fil 1.29). E outra vez: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (v. 6). E ainda: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (2.13). (2° Confissão Helvética de 1562).
O ponto central aqui é a transformação realizada pelo
Espírito Santo nos crentes verdadeiros, regenerados, que habilita a eles a poderem decidir (possibilidade, cogitação) entre o bem e o mal e quererem (realidade da decisão) entre bem e mal. O crente verdadeiro deixa de ter uma vontade só para o mal e passa a ter uma vontade que não age sob o domínio do pecado, entretanto ainda com a presença dele.
Os regenerados operam não só passiva, mas ativamente.
Entretanto, ensinamos que há duas coisas a serem observadas:
Primeiro, que os regenerados, na sua eleição e operação, não agem só passiva mas ativamente. São levados por Deus a fazer por si mesmos o que fazem. Santo Agostinho muito bem afirma que “Deus é nosso ajudador. Mas ninguém pode ser ajudado, se não aquele que faz alguma coisa”. Os maniqueus despojavam o homem de toda ação e o faziam semelhante a uma pedra ou a um pedaço de pau. (2° Confissão Helvética de 1562).
Veja que são levados por Deus a fazer o bem que
fazem, pela sua graça, entretanto isso não é por coação, mas por persuasão eficaz, fruto da regeneração operada em seus corações. Os Maniqueus possuíam um ensino falso quanto a esse ponto. O livre arbítrio é fraco nos regenerados.
Segundo, nos regenerados permanece a fraqueza. Desde que o
pecado permanece em nós, e nos regenerados a carne luta contra o espírito até o fim de nossa vida, eles não conseguem realizar livremente tudo o que. Isso é confirmado pelo apóstolo em Rom 7 e Gal 5. Portanto, é fraco em nós o livre arbítrio por causa dos remanescentes do velho Adão e da corrupção humana inata, que permanece em nós até o fim de nossa vida. Entretanto, desde que os poderes da carne e os remanescentes do velho homem não são tão eficazes que extingam totalmente a operação do Espírito, os fiéis são por isso considerados livres, mas de modo tal que reconhecem a própria fraqueza e não se gloriam de modo algum em seu livre arbítrio. Os fiéis devem ter sempre em mente o que Santo Agostinho tantas vezes inculca, segundo o apóstolo: “o que tendes que não recebestes? Se, pois, o recebestes, por que vos vangloriais, como se não fosse um dom?” A isso ele acrescenta que aquilo que planejamos não acontece imediatamente, pois os resultados das coisas estão nas mãos de Deus. Esta a razão por que São Paulo ora ao Senhor para promover sua viagem (Rom 1.10). E esta é também a razão pela qual o livre arbítrio é fraco. (2° Confissão Helvética de 1562).
Não conseguem fazer tudo, mas algumas coisas.
Pois, mesmo com o poder de fazer (possibilidade) eles algumas vezes não terão o querer de fazer (realidade da decisão positiva) e, com isso, cometerão pecados ao longo da caminhada, sendo responsáveis por isso, já que poderiam escolher o bem, mas quiseram o mal.
3.3 A libertação completa do pecado só acontece com
a glorificação.
Somente na glorificação os crentes poderão desfrutar da ausência
completa do pecado. As suas decisões serão sem corrupção alguma e verdadeiramente livres no Senhor, ou seja, conforme a natureza sem pecado, sem mácula. Somente no estado de glória a vontade do homem será transformada, perfeita e imutavelmente; 10 e então será livre para fazer apenas o bem. (CFBL 1689, Cap. 9, 5).
10 Ef.4.13: ... até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, ...
Considerações Finais
O Senhor que nos escolheu garantiu que toda nossa
caminhada fosse certa por causa dEle (Rm 8:29-20). Nessa caminhada existe a presença do pecado e não somos completamente livres para fazer o bem. Nossa liberdade é existente, porém é limitada e justamente por isso é que nossa permanência em Deus não depende dela, mas da preservação divina. Os pecados cometidos pelos já regenerados são acompanhados de uma tristeza e um arrependimento genuínos e pela busca em não cair de novo nesses erros. Quando regenerados temos o poder (a possibilidade) de escolhermos o bem e o mal, entretanto o nosso querer (realidade da escolha) não será totalmente voltado ao bem, sendo em algumas escolhas envolvido pelos enganos malignos. Nosso querer será totalmente pleno ao bem com a glorificação, etapa certa para aqueles que, mesmo tendo cometido erros na vida terrena, foram alcançados pela graça divina e creram no Senhor Jesus.