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LEI E GRAÇA

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Apresentação

A Escola Teológica Raízes surgiu com o propósito de promover um


ambiente próprio para a investigação acadêmica e a reflexão teoló-
gica.

Nossa missão envolve a construção de uma cosmovisão que des-


perte a erudição, a piedade, o caráter e o serviço, com vistas a uma
vida integral que contribua para o avanço e futura consumação do
Reino de Deus.

Queremos ser um lugar de raízes, um ambiente onde cristãos, con-


victos de sua fé, desenvolvam uma teologia sadia nas práticas
diárias.

Tudo começou com uma escola dominical de doutrinas básicas, e


assim como toda boa semente, que cai na terra e cria raízes, esta-
mos em processo de crescimento e produção de frutos.
RAÍZES
Curso Bíblico
Volume 3
DIREÇÃO ESCOLA TEOLÓGICA RAÍZES
Adriel de Sá Monteiro, Lucas Felicio Da Rolt, Telmo Martinello, Thia-
go de Jesus Inacio e Vilmar Samuel Abreu

REDAÇÃO TEXTUAL e REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA


Adriel de Sá Monteiro e Vilmar Samuel Abreu

PROFESSORES CONTEUDISTAS
Adriel de Sá Monteiro, Diego Raupp, Douglas Juliano Almeida, Filipe
Emerencio Rocha, Gabriel dos Santos Loch, José Moncris Eugenio,
Izabel Cristina Costa da Silva Oliveira de Souza, Lucas Felicio Da
Rolt, Ricardo Goulart, Tamiris Regina Torquato Da Rolt, Telmo Marti-
nello, Thiago de Jesus Inacio, Vitor Afonso Cardoso e Vilmar Samuel
Abreu

PROJETO GRÁFICO
Thiago de Jesus Inacio

Todos os direitos reservados à Escola Teológica Raízes


ESCOLA RAÍZES- Volume 03
Sumário

Capítulo 01 - Lei e Graça • 07

Capítulo 02 - História de Israel • 13

Capítulo 03 - Autoridade e submissão • 23

Capítulo 04 - Criação divina • 31

Capítulo 05 - Introdução ao AT • 41

Capítulo 06 - Introdução ao NT • 49

Capítulo 07 - Segunda Vinda e Milênio • 61

SUMÁRIO
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LEI E GRAÇA

Introdução

Atualmente, no meio evangélico, utiliza-se


Lei
muito a frase “Ainda bem que não estamos no
tempo da Lei, e sim no tempo da Graça”. Acre-
ditar que a responsabilidade de uma vida cris- A revelação da Lei de Deus ao seu povo co-
tã séria não existe, ou afirmar algo do tipo “Eu meçou com Moisés e tinha como objetivo dar
posso viver da minha maneira, pois a Graça de direção e instruir o povo a viver de modo digno
Jesus irá me perdoar de todos os erros” não diante do Senhor.
condiz com a verdade bíblica!
Por exemplo, antes da Lei não havia nada
É bastante comum a associação da Lei ex- dizendo ao povo que o adultério era pecado
clusivamente ao Antigo Testamento e a Graça diante de Deus. Assim, a Lei tinha a função de
como um elemento restrito ao Novo Testa- trazer o pleno conhecimento de todos sobre o
mento. Nesse caso, a Lei é totalmente des- pecado. Ou seja, a Lei veio para mostrar o pe-
considerada em função da Graça. Esse enten- cado (Romanos 3:20; 5:20)
dimento equivocado conclui que a Lei não tem
nenhum papel sobre a vida do cristão. Nesse contexto, quando pensamos na Lei,
logo nos vêm à mente os 10 mandamentos,
Por outro lado, há o oposto disso, onde a não é mesmo? De fato, essas leis foram dadas
tendência é enfatizar a Lei em detrimento da por Deus a Moisés, escritas em tábuas de pe-
Graça. Nesse caso, o equívoco está em dizer dra (Êxodo 31:18). Mas, esses 10 mandamen-
que a obediência não é um fruto da Graça de tos contêm as ideias principais de um conjun-
Deus, mas uma tentativa de agradar a Deus e to bem maior de leis detalhadas na Torah1 .
se adquirir méritos diante Dele.
Frequentemente, o número 613 é citado
No entanto, entender corretamente a relação como o número total de mandamentos da Lei
entre Lei e Graça vai muito além do aspecto do Antigo Testamento; no entanto, surgem di-
puramente intelectual. Na verdade, vai deter- ficuldades em qualquer cálculo do número de
minar toda a forma de enxergarmos a vida mandamentos da Lei mosaica. Por exemplo,

O
cristã e o tipo de ética que vamos assumir em se um mandamento mencionado em Êxodo e
nossa caminhada com Cristo. é repetido em Deuteronômio, isso conta como
um ou dois mandamentos?

1ATorah, nome dado ao conjunto dos 5 primeiros livros da Bíblia judaica, é um termo que possui o significado de
ensinamento, instrução ou lei. 7
ESCOLA RAÍZES

Além disso, alguns mandamentos podem ser entendidos como esclarecimentos de outros
mandamentos, em vez de mandamentos adicionais. Biblicamente falando, se 613 é ou não a
contagem correta não é importante, pois a Lei tinha o propósito de nos apontar a Cristo, como
veremos mais adiante.

Alguns estudiosos dividem esse conjunto de leis em três aspectos:

Diante de tudo isso, se considerarmos essas distinções, podemos afirmar que:

• Não vivemos sob a Lei cívica de Israel, mas debaixo da Graça de Deus, que alcança todos os
povos, raças, tribos e nações.

• Não vivemos sob a Lei litúrgica de Israel, uma vez que, pela Graça, temos acesso direto a
Deus, sem a intermediação de sacerdotes ou ordenanças cerimoniais.

No entanto:

• Vivemos sob a Lei moral de Deus, no sentido de que ela, sem nos condenar, continua repre-
sentando nossa maneira de agir em relação a Deus e aos nossos semelhantes. A Lei moral é a
própria expressão de Graça de Deus, revelando a Sua vontade de forma objetiva e proposicional.

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LEI E GRAÇA

Graça

Certamente, você já leu ou pronunciou que a Graça é um favor imerecido. Vamos entender o
que isso significa?

A salvação do homem é vista pelas religiões do mundo apenas de dois modos: (1) somos
salvos pelos nossos méritos ou (2) somos salvo pela graça de Deus. Ou seja, o homem constrói
sua própria salvação pelo seu esforço ou recebe a salvação como dádiva imerecida da graça
divina. Não existe um caminho alternativo nem uma conexão que funde esses dois caminhos.

Nós cremos que a soberana graça de Deus é o único meio pelo qual podemos ser salvos. A
causa da salvação não está no homem, mas em Deus; não está no mérito do homem, mas na
graça de Deus; não está naquilo que fazemos para Deus, mas no que Deus já fez por nós.

A graça de Deus é concedida não àqueles que se julgam merecedores, mas àqueles que re-
conhecem que são pecadores. A graça de Deus é recebida pela fé, e não por meio das obras. Da
mesma forma, a graça de Deus não é o resultado das obras, mas as obras são o resultado da
graça.

Muito bem! Como vimos, o ser humano, pela Lei, estava em situação desfavorável. Mas a Gra-
ça veio tornar o desfavorável em favorável; a salvação, que estava distante, agora, pela Graça,
está perto, alcançável a qualquer pessoa!

Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira ne-
nhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?
Romanos 6:1,2

E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De ma-
neira nenhuma! Romanos 6:15

Não podemos confundir a Graça de Deus com algo banal, barato, e usarmos esse tão gran-
de amor como desculpa para termos uma vida leviana e sem preocupações com nossa alma.
A Graça não é algo que me autoriza a viver uma vida de pecados, sem mudanças e renúncias
diárias.

Pelo contrário, a verdadeira Graça nos mostra o quão miseráveis somos, e que não merecí-
amos este favor; por meio disso, seremos gratos em nossas atitudes, resplandecendo a luz do
Evangelho de Cristo. Graça é Graça! Não existe “hipergraça”!

E quem nos apresentou essa Graça maravilhosa? Jesus, quando veio à terra, como ser huma-
no, cumpriu toda a exigência da lei, não pecou em nenhum mandamento, tornando-se, assim, o
mediador de uma nova aliança.

Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renun-
ciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta
era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso
grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Tito 2:11-13

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ESCOLA RAÍZES

A graça é esse favor inexplicável de Deus para o ser humano; nós, como seres humanos, pres-
tamos favores uns aos outros, e isso, geralmente, está ligado à uma troca, algo do tipo “uma
mão lava a outra”. Porém, o favor de Deus em muito se difere do nosso; há um abismo infinita-
mente gigantesco entre o nosso favor e o favor de Deus.

O favor de Deus não envolve troca de favores; Ele simplesmente nos amou, dando-nos esse
favor, sem esperar nada em troca. Nós éramos pecadores, e mesmo assim, Ele ofereceu Seu Fi-
lho como sacrifício em nosso favor. A graça de Deus não muda nosso passado, mas muda nosso
presente e futuro!

A Graça aboliu a Lei?

Sim e não! Calma que vamos explicar...

Primeiramente, precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a Lei de forma plena e
completa, sendo obediente até a morte. Seu sacrifício foi todo suficiente para pagar a nossa
dívida de pecado:

Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Mateus 5:17

Cristo, ao cumprir a Lei, anula a sua maldição, mas não a sua perfeição. Os que creem em Je-
sus, agora entendem aspectos necessários da Lei para uma vida de santificação. A Lei continua
com o seu papel de nos ensinar, por meio da obra do Espírito Santo.

Não somos mais condenados pela Lei, nem servos dela. Mas, porque a Lei expressa a vontade
e a verdade de Deus, torna-se para nós um prazer, e não um fardo. A Lei, pela Graça, nos traz
vida e luz para o nosso caminho.

Conclusão

O que seria de nós sem a Lei moral de Deus para nos orientar? Como conheceríamos a von-
tade de Deus? Estaríamos perdidos, buscando respostas em nosso próprio coração enganoso.
Mas, pela Graça temos a Lei, que expressa o desejo de Deus por nós, tal qual o desejo do Pai
para os seus filhos!

Pela Graça, a Lei de Deus nos oferece proteção, funcionando como espelho e mostrando a
nossa transgressão. Agora entendemos que a finalidade da Lei de Deus não serve para nos
trazer salvação, mas para preservar entre nós o amor, uma consciência santa e uma fé sem
fingimento.

Entendemos que, embora a Lei não tenha o papel de nos salvar, ela é o grande código de amor
relacional. Ou seja, aquele que através da Graça é salvo, ajusta-se à Lei, não de forma perfeita,
mas de forma natural e progressiva.

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LEI E GRAÇA

Da mesma forma, percebemos que sem a Lei não haveria a transgressão. Não poderia haver
pecado se não houvesse um parâmetro moral. E se não existisse pecado, para que serviria a
Graça e o perdão de Deus? A Lei aponta o erro na nossa luta contra o mal!

Que possamos nos lembrar do relato do encontro de Jesus com a mulher adúltera (João 8:1-
11). Na interpretação da Lei sem o Espírito da Graça, não havia misericórdia, mas tão somente
a punição, onde todos eram juízes dos pecados dos outros.

Mas, a mulher foi levada diante de Jesus, que com suas palavras coloca todos em igualdade
diante de Deus: “Quem não tem pecado, atire a primeira pedra!”.

Ouvindo a Lei da própria Graça em pessoa, todos largaram as pedras de suas mãos e foram
embora, pois olharam para si mesmos e viram que em nada eram melhores que aquela mulher.
Apenas com a Lei, eram melhores que a mulher em pecado, mas perante a Lei sob o poder da
Graça todos eram iguais pecadores e careciam da mesma misericórdia.

Mapa mental

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ESCOLA RAÍZES

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Lei e Graça:

• A Graça me autoriza a
viver uma de vida de
pecados?

Anotações

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HISTÓRIA DE ISRAEL

Introdução

Os judeus fazem parte de um dos povos Abraão: o início da árvore


mais antigos do mundo. Sua história está re-
gistrada na Bíblia, é mencionada por historia-
genealógica judaica
dores fora da Bíblia e também encontra fun-
damentos na Arqueologia. Temos mais fatos
Abraão inicia essa sequência cronológica,
acerca do povo judeu do que qualquer outra
sendo o primeiro patriarca que recebeu a pro-
nação.
messa de que dele se originariam povos que
abençoariam todas as famílias da terra.
Assim, vamos utilizar estas informações
para que, numa ordem cronológica, possamos
Abraão ouviu Deus claramente, sendo cha-
entender o início e o atual momento da nação
mado de o pai da fé. Sua obediência teve como
de Israel.
ápice o sacrifício simbólico de seu filho Isa-
que, um sinal apontando para o Messias, ao
marcar o futuro local onde Jesus seria sacri-
ficado.

Seguindo a nossa linha do tempo (sinalizada


na cor verde), temos a representação dos des-
cendentes de Isaque. Esse período de tempo
começou quando José, neto de Isaque, condu-
ziu os israelitas ao Egito, onde posteriormente
eles se tornariam escravos.

Povo judeu orando para a parede ocidental


de jerusalém

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ESCOLA RAÍZES

Moisés: os israelitas se tornam uma nação sob Deus

Moisés liderou os israelitas para fora do Egito após a décima praga (que iniciou a cultura da
páscoa), permitindo o êxodo israelita do Egito para a terra de Israel.

A páscoa judaica é conhecida pelos judeus como Pessach, palavra do hebraico que significa
passagem. Essa primeira páscoa aconteceu pouco antes da execução da décima praga, na qual
o anjo da morte desceu ao Egito e matou todos os primogênitos daquela terra.

O anjo da morte só não passou pelas casas daqueles que haviam seguido as ordens de Deus,
passando o sangue de cordeiro nos umbrais de suas portas. Após a décima praga, os israelitas
foram libertos da escravidão.

Por várias centenas de anos, depois de tomarem posse da terra prometida, os israelitas não
tinham um rei, nem tinham uma cidade importante como capital (Jerusalém, à época, pertencia
a outro povo).

Nesse período, surgiram líderes conhecidos por “juízes”, levantados por Deus após a morte
de Josué. A geração dos juízes durou um período aproximado de 410 anos.

A instituição da monarquia em Israel marcou o fim do período dos juízes. Isso aconteceu nos
dias do profeta Samuel, o último juiz de Israel. Saul foi dado ao povo israelita como seu primeiro
rei.

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HISTÓRIA DE ISRAEL

O rei Saul fracassou, transgredindo ordenanças divinas e acabou sendo rejeitado pelo Senhor
(1Samuel 13:15). Assim, Deus ordenou que o profeta Samuel ungisse aquele que seria o segun-
do rei de Israel: Davi.

Davi estabelece a dinastia real em Jerusalém

Davi conquistou Jerusalém e a transformou em sua capital. Ele recebeu a promessa de um


Cristo2 que viria e, daquele tempo em diante, o povo de Israel passou a esperar esse redentor.

Salomão, filho de Davi, sucedeu seu pai no trono e construiu o primeiro templo em Jerusalém.
Os descendentes do rei Davi continuaram a governar por cerca de 400 anos (período mostrado
na cor azul-água, entre 1000 a.C a 600 a.C.).

Esse foi um tempo de glória para Israel, que alcança o seu auge com o rei Salomão, onde mui-
tas bênçãos prometidas foram alcançadas.

Eles eram uma nação poderosa, com uma sociedade, cultura e economia avançada e um
grande centro de adoração (templo). No entanto, o Antigo Testamento também descreve cres-
cente corrupção e adoração a ídolos durante essa fase.

2A palavra Cristo significa redentor, Messias. Do latim “Christu”, derivado do grego “Khristós”, que significa “ungido”,
que por sua vez deriva do hebraico “Mashiach”, que significa “Messias”. 15
ESCOLA RAÍZES

O primeiro exílio para a Babilônia

Por volta de 600 a.C., a nação de Israel é levada cativa pelo rei babilônico Nabucodonosor.
Importante destacar que esse destino já havia sido predito por Deus:

O Senhor trará, de um lugar longínquo, dos confins da terra, uma nação que virá contra vo-
cês como a águia em mergulho, nação cujo idioma não compreenderão, nação de aparência
feroz, sem respeito pelos idosos nem piedade para com os moços. Ela devorará as crias dos
seus animais e as plantações da sua terra até que vocês sejam destruídos. Ela não lhes deixa-
rá cereal, vinho, azeite, como também nenhum bezerro ou cordeiro dos seus rebanhos, até
que vocês sejam arruinados. Ela sitiará todas as cidades da sua terra, até que caiam os altos
muros fortificados em que vocês confiam. Sitiará todas as suas cidades, em toda a terra que
o Senhor, o seu Deus, lhe dá. Deuteronômio 28:49-52

Nabucodonosor conquistou Jerusalém, queimou-a, destruiu o templo que Salomão havia


construído e exilou os israelitas para a Babilônia por 70 anos (período sinalizado na cor verme-
lha). Somente os israelitas pobres ficaram para trás:

Assim como foi agradável ao Senhor fazê-los prosperar e aumentar em número, também
lhe será agradável arruiná-los e destruí-los. Vocês serão desarraigados da terra em que
estão entrando para dela tomar posse. Então o Senhor os espalhará pelas nações, de um
lado ao outro da terra. Ali vocês adorarão outros deuses; deuses de madeira e de pedra, que
vocês e os seus antepassados nunca conheceram. Deuteronômio 28:63,64

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HISTÓRIA DE ISRAEL

Retorno do exílio sob os persas

Depois de um tempo, o imperador persa Ciro conquistou a Babilônia e tornou-se a pessoa


mais poderosa do mundo. Ele, então, permitiu que os israelitas retornassem a sua terra.

Contudo, o povo de Israel já não era mais um país independente, mantendo-se por 200 anos
como, apenas, uma província do Império Persa (destacado na cor rosa).

Durante este tempo, o templo (conhecido como o segundo templo) e a cidade de Jerusalém
foram reconstruídos.

O período dos gregos

Depois de aproximadamente dois séculos, Alexandre, o Grande, conquista o Império Persa e


transforma os israelitas em uma província do império grego por mais 200 anos (período marca-
do na cor azul escuro).

O período dos gregos

Algum tempo depois, os romanos derrotam o império grego e se tornam a potência mundial
dominante. Os israelitas novamente se tornaram uma província nesse império (sinalizado na
cor amarelo claro).

Esse é o período em que Jesus viveu e o Novo testamento é escrito. Isto explica porque exis-
tem soldados romanos nos evangelhos (os romanos dominavam os judeus na terra de Israel
durante a vida de Jesus).

17
ESCOLA RAÍZES

O segundo exílio judaico sob os romanos

A partir do tempo dos babilônios (600 a.C.), os israelitas (ou judeus, como eles eram chama-
dos agora) sempre foram governados por outros impérios.

Os judeus ressentiram tal fato e se revoltaram contra o governo romano. Os romanos vieram
e destruíram Jerusalém (70 a.C.), destruíram o segundo templo e deportaram os judeus como
escravos por todo o império (marcado pela seta na cor vermelha).

Esse foi o segundo exílio judaico. Uma vez que o território de dominação romana era muito
grande, os judeus foram espalhados por todo o mundo.

18
HISTÓRIA DE ISRAEL

E foi assim que o povo judeu viveu por quase 2000 anos: dispersos em terras estrangeiras
e jamais aceitos nestas terras. Nessas diferentes nações, eles comumente sofreram grandes
perseguições.

Desde a Espanha, na Europa ocidental, à Rússia, os judeus viveram frequentemente em situ-


ações perigosas nestes reinos cristãos. As maldições de Moisés, preditas cerca de 1500 anos
antes, foram descrições acuradas de como Israel viveu:

No meio daquelas nações vocês não encontrarão repouso, nem mesmo um lugar de des-
canso para a sola dos pés. Lá o Senhor lhes dará coração desesperado, olhos exaustos de
tanto esperar, e alma ansiosa. Deuteronômio 28:65

A linha do tempo mostra esse período na longa barra de cor vermelha. Percebe-se que, em
sua história, o povo judeu experimentou dois períodos de exílio, mas o segundo exílio foi muito
maior que o primeiro.

Conclusão

Depois de o povo de Israel ter sido espalhado por todas as nações, em 1948, os judeus, por
intermédio da Organização das Nações Unidas, viram o impressionante renascimento do esta-
do de Israel.

Também é impressionante o fato que esse Estado foi construído apesar de grande oposição.
A maioria das nações circunvizinhas fez guerra contra Israel em 1948, 1956, 1967 e em 1973.

Na guerra de 1967, os judeus reconquistaram Jerusalém, sua capital histórica que Davi havia
fundado 3000 anos atrás. Contudo, o resultado da criação do Estado de Israel e as consequên-
cias dessas guerras criaram os problemas políticos mais difíceis de nosso tempo.

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ESCOLA RAÍZES

Mapa mental

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


História de Israel:

• De que forma a família


de Israel se tornou o povo
de Israel?

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HISTÓRIA DE ISRAEL

Anotações

21
ESCOLA RAÍZES

Anotações

22
AUTORIDADE E SUBMISSÃO

Introdução

Você conhece alguma pessoa que não tem


nome? Todos têm um nome! Inclusive, os no-
Princípio da autoridade
mes dos tempos bíblicos representam ca-
racterísticas e realidades de cada pessoa.
E é assim para que todos estejam sujeitos à
autoridade do Nome sobre todo nome, Jesus
Cristo:
Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade
está se colocando contra o que Deus instituiu, e
aqueles que assim procedem trazem condenação
sobre si mesmos. Romanos 13:2
Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe
deu o nome que está acima de todo nome, para que Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade
ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na constituída entre os homens; seja ao rei, como auto-
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que ridade suprema, seja aos governantes, como por ele
Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. enviados para punir os que praticam o mal e honrar
Filipenses 2:9-11 os que praticam o bem. 1Pedro 2:13,14

Da mesmas forma, o próprio Deus implan-


E aí, será que os apóstolos Paulo e Pedro es-
tou em nós a consciência da necessidade da
tão dizendo que devemos ter uma obediência
submissão; do contrário, viveríamos todos
ilimitada, mesmo quando a ordem dessas au-
num completo caos. É por isso que temos
toridades esteja em conflito direto com a von-
condições de vivermos em grupo e debaixo de
tade revelada de Deus?
lideranças:
Primeiramente, é preciso entender que tan-
to Paulo quanto Pedro estão considerando as
autoridades que estão executando seu dever
de preservar a ordem e encorajar a prática do
Todos devem sujeitar-se às autoridades governa- bem.
mentais, pois não há autoridade que não venha de
Deus; as autoridades que existem foram por ele
estabelecidas. Romanos 13:1
23
ESCOLA RAÍZES

E isso se explica pelos próprios contextos das passagens (releia os versículos 2 e 14, respec-
tivamente), onde fica evidente que ambos os apóstolos estavam se referindo à ação governa-
mental normal, ou seja, aquela que não extrapola os poderes legalmente instituídos.

Paulo e Pedro tinham em mente o fato de que a cadeia de autoridade foi estabelecida por
Deus com o propósito de organizar, proteger e manter a ordem. Isso porque todo lugar sem uma
autoridade se torna propício à anarquia3 .

Assim, nós entendemos que não há crescimento sadio sem organização e, da mesma forma,
não existe organização sem autoridade (ora, o corpo se sujeita à cabeça, não é mesmo?).

Ele é a cabeça do corpo, que


é a igreja. Cl 1:18

Como já vimos, todos estamos sujeitos ao princípio da autoridade. Perceba que nós já nasce-
mos com uma autoridade sobre nós: nossos pais. No próprio relato da criação, em Gênesis, já
fica claro a autoridade delegada a partir do relacionamento entre Adão e Eva.

A ordem caminha de mãos dadas com o princípio da autoridade. Você já deve ter visto por aí
pessoas que pensam agir corretamente, ao dizer em alto e bom som: “Não me submeto a ho-
mens, só a Deus!”. Possivelmente, essas mesmas pessoas, assim como o filho pródigo, vivem
em certos lugares e situações de desordem.

Cabe enfatizar que o princípio da autoridade está acima do estilo de liderança. Ou seja, eu até
posso discordar ou não gostar da forma de alguém liderar, mas isso não me dá o direito de me
rebelar contra esta autoridade/liderança. Se não conseguirmos separar a “pessoa da autorida-
de” do “princípio de autoridade”, podemos trocar os pés pelas mãos.

Por outro lado, por mais que uma posição conceda poder, a autoridade legítima vem do exem-
plo e do caráter. Quando crescemos em caráter e santidade, crescemos em autoridade. Todo
líder deve constantemente buscar vencer tentações, superar provas, perseverar e falar a verda-
de. Essas ações forjarão o nosso caráter, pois as palavras convencem, mas o exemplo arrasta!

Assim, é claro que algumas características são esperadas e exigidas dos que alcançam esse
lugar de autoridade. Mas, se buscarmos a sabedoria que vem de Deus, ela nos levará a buscar
primeiramente um caráter aprovado e, só depois, uma autoridade legítima. Lembre-se das pa-
lavras de Jesus: a quem muito é dado, muito é cobrado! (Lucas 12:48)

Autoridade bíblica?

24 3 Situação ou sistema sem governo, sem liderança.


AUTORIDADE E SUBMISSÃO

Abuso de autoridade

As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. João 10:27

Todo líder deve ensinar seus discípulos a discernir a voz de Jesus, e não a ouvir Jesus por
meio de uma liderança. O líder não deve decidir e determinar a vida dos outros; antes, deve en-
corajar seus discípulos a tomarem decisões corretas à luz das Escrituras.

Sem a voz de Deus inspirando e dirigindo a vida devocional de cada um, abrimos brechas para
a corrupção:

Onde não há revelação divina, o povo se desvia; mas como é feliz quem obedece à lei! Pro-
vérbios 29:16

Muitas vezes, um novo convertido transfere a responsabilidade de ouvir a Deus para um


“mentor espiritual”. Não devemos gerar pessoas dependentes espirituais, mas incentivar cada
um a ter suas próprias experiências com Deus e com a Sua Palavra.

Da mesma forma, não podemos admitir carências do líder sendo supridas pela idolatria do
liderado e a insegurança do liderado sendo suprida pelo controle do líder. Devemos fugir da
manipulação!

Como já vimos, é papel do líder incentivar seu liderado a ser submisso e honrar às suas auto-
ridades; mas, isso não anula o ensinamento de que devemos depender totalmente de Deus. Ou
seja, toda autoridade é derivada e limitada pela fidelidade à Palavra de Deus.

A diferença-chave entre autoridade e o autoritarismo está no coração daqueles que agem


com autoridade e também no coração daqueles que estão sujeitos à autoridade. Assim, o ques-
tionamento honesto faz parte do processo do ensino e do discipulado. Dar espaços a questio-
namentos demonstra a maturidade e a segurança do líder e, ao mesmo tempo, o interesse e o
respeito do liderado.

25
ESCOLA RAÍZES

A autoridade do mundo envolve, geralmente, considerar um mestre terreno como absoluto. A


autoridade do evangelho, de modo geral, celebra a pluralidade de mestres humanos, porque ela
confia num único Mestre.

Cada um de nós deve agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo.
Romanos 15:2

O líder é como um irmão mais velho que se prontifica a ajudar os irmãos mais novos. Ainda
assim, o líder sempre deve agir com paternidade, nunca com paternalismo! Discípulos precisam
de fortalecimento, e não apenas de acomodação!

Um outro cuidado necessário diz respeito ao perfeccionismo. Quando caminhamos no per-


feccionismo somos demasiadamente críticos. Nada está bom e dificilmente elogiamos. Esse
é o caso de pessoas que foram muito cobradas e tinham que tirar sempre “nota 10”. A conse-
quência é inevitável: ou elas se rebelam e vivem uma anarquia, ou elas se tornam legalistas e
perfeccionistas!

O perfeccionismo impede de delegar e faz a pessoa ser centralizadora. Um líder perfeccionis-


ta tem dificuldade de ser corrigido, ofende-se quando alguém o confronta e está condicionado
em se auto afirmar constantemente.

Da mesma forma, um líder perfeccionista tem dificuldades em aceitar ajuda dos outros e está
sempre insatisfeito. É extremamente falante e sente dificuldade ao ser superado. Um líder não
deve ter a si mesmo como parâmetro; antes, deve analisar as Escrituras.

Então, Jesus disse à multidão e aos seus discípulos: “Os mestres da lei e os fariseus se as-
sentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não
façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Eles atam fardos pesados e os
colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um
só dedo para movê-los. Mateus 23:1-4

‘Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, é o senhor os igualou
a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia’. “Mas ele respondeu a um de-
les: ‘Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um
denário? Receba o que é seu vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo
que lhe dei. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está
com inveja porque sou generoso?’ “Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão
últimos”. Mateus 20:12-16.

Cuidado com o legalismo. Um líder não deve impor coisas a pessoas as quais elas deveriam
fazer de forma espontânea e relacional. O legalismo anda de mãos dadas com a hipocrisia!

26
AUTORIDADE E SUBMISSÃO

Mas, antes de saber o que é, precisamos sa-


Disse, porém, Moisés ao Senhor: “Ó Senhor! Nunca ber o que não é submissão:
tive facilidade para falar, nem no passado nem ago-
ra que falaste a teu servo. Não consigo falar bem!”
Disse-lhe o Senhor: “Quem deu boca ao homem?
Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede
vista ou o torna cego? Não sou eu, o Senhor? Ago-
ra, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o
que dizer”. Êxodo 4:10-12

Por fim, é interessante perceber que, ape-


sar de nossas deficiências, ainda assim Deus
nos chama para um propósito. Por exemplo, A submissão bíblica significa um compro-
o Deus que fez a boca de Moisés também o misso alegre, de todo o coração. Por isso o
condicionou àquela deficiência. Moisés preci- conceito de autoridade está vinculado ao
sou entender que, em virtude de sua limitação, conceito de submissão. Aliás, a submissão é
Deus levantaria Arão para ajudá-lo a cumprir um fundamento para a autoridade! Aquilo que
um propósito maior. plantamos em nossa submissão, colhemos
em nossa autoridade.
Por isso, um alerta: desconfie de quem não
manca! A maneira que nos portamos como filhos,
alunos e discípulos, vai refletir em nosso de-
sempenho como pais, professores e líderes.
Princípio da submissão
Percebeu que a submissão é a própria es-
sência da fé e discipulado cristão?

E, mesmo que a submissão seja um com-


promisso, isso não quer dizer que ela não nos
permite questionar. É claro que é melhor ser
Já não os chamo servos, porque o servo não sabe
alguém transparente que saiba questionar e
o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho até discordar, do que alguém que encobre a in-
chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu! satisfação e fere o relacionamento. Mas, ainda
Pai eu lhes tornei conhecido. João 15:15 assim, situações exigirão de nós momentos de
obediência sem concordância total!
Quando um superior ordena que se faça
isto ou aquilo, geralmente o servo não recebe E é aqui que entra uma relação muito impor-
explicações quanto ao porquê. Mas, com um tante entre dois termos: honra e obediência.
amigo é diferente! Isso porque um dos princi- A honra é um atributo incondicional, indepen-
pais ingredientes da liderança é a amizade. A dente das circunstâncias, enquanto a obedi-
amizade gera cooperação voluntária. ência, quase sempre, é condicional. A honra dá
qualidade à obediência; assim, a obediência,
Já entendemos o conceito de autoridade. como fruto da honra, é mais valiosa que ape-
Agora, é necessário que entendamos o prin- nas o resultado de uma ordem.
cípio da submissão. Não existe liderança sem
submissão e, por consequência, não existe
submissão sem respeito, voluntariedade, pa-
ciência e transparência.

27
ESCOLA RAÍZES

Conclusão

A submissão alivia a sobrecarga da liderança. Quando respondemos de modo favorável aos


nossos líderes, o trabalho deles se torna muito mais alegre. Quando andamos em submissão,
andamos protegidos por um princípio de Deus, e não de um líder.

Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como
quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não
um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. Hebreus 13:17

É muito importante incentivar pessoas que vieram de outros ministérios a fecharem todas as
portas que ficaram abertas, seja ela perdoar uma liderança opressora ou até pedir perdão por in-
submissão. Situações mal resolvidas são “bombas relógio” prontas a explodir em nossas mãos.
Devemos sempre sair com gratidão!

Dentro desse processo de autoridade e submissão, podemos estabelecer alguns pontos im-
portantes:

• Compreensão, respeito e empatia - colocar-se no lugar do outro, buscar entender real-


mente o que o levou a agir dessa ou daquela forma.

• Pequenas gentilezas - um “por favor”, um “muito obrigado”, um presente ou até mesmo


uma mensagem, fazem toda a diferença.

• Esclareça objetivos - a falta de esclarecimentos faz surgir equívocos, desconfortos e


mal-entendidos.

• Integridade pessoal - quem fala mal de alguém para mim, fala de mim para alguém. Nun-
ca denigra ninguém. Seja sempre um pacificador. Tenha foco nas virtudes das pessoas.

28
AUTORIDADE E SUBMISSÃO

Mapa mental

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Autoridade e submissão:

•Devo me submeter a
toda autoridade?

29
ESCOLA RAÍZES

Anotações

30
CRIAÇÃO DIVINA

Introdução
tendimento contextual adequado na intenção
O processo pelo qual Deus se revelou a nós, original da Escritura. Por exemplo, se quiser-
exigiu que Ele se expressasse em uma lingua- mos analisar com maior propriedade o valor
gem conhecida e por meio de metáforas fami- dos sacrifícios em Israel, é muito útil compa-
liares a nós. Aliás, para haver qualquer tipo de rarmos e contrastarmos com os sacrifícios do
comunicação, é preciso compartilhar signifi- mundo antigo.
cados e entendimentos comuns, não é mes-
mo? O fato é que a Bíblia não chegou até nós de
uma vez só, mas ao longo de um período de
Por exemplo, pense num bate-papo entre aproximadamente 1.400 anos, pelas mãos de
um advogado e um agricultor. Se o advogado muitos seres humanos, alguns até de origens
começar a usar termos como “sucumbência” desconhecidas.
ou “bis in idem”, provavelmente o homem do
campo ficará sem entender muita coisa. Da Logo, a Bíblia está profundamente arraigada
mesma forma, se o agricultor começar a citar na história; ou seja, os vários autores huma-
expressões do tipo “hardiá” ou “breganhar”, o nos representam culturas, idiomas, aconte-
homem das leis se sentirá isolado na comuni- cimentos históricos, pressuposições, dentre
cação. outros fatores.

Assim, não devemos nos surpreender pelo


fato de muitos elementos comuns da cultura
da época terem sido adotados na Bíblia, al-
gumas vezes adaptados, outras vezes total-
mente modificados, mas sempre usados para
cumprir os propósitos de Deus!

Pois bem! Um dos princípios de interpreta-


ção bíblica é o princípio histórico, que signi-
fica interpretar dentro do contexto histórico;
em outras palavras, devemos perguntar o que
o texto significava para as pessoas a quem ele
foi escrito.

Desse modo, podemos desenvolver um en-


31
ESCOLA RAÍZES

Ainda, convém destacarmos que a Bíblia é de autoria divina, mas comunicada por seres hu-
manos. Ou seja, é a revelação de Deus por meio de um registro humano. A mensagem, incluindo
as próprias palavras de Deus, é divina, tendo o Deus eterno como origem. No entanto, a Bíblia
inclui não apenas a graciosa autorrevelação de Deus a nós, mas também o testemunho humano
sobre Deus e como esses humanos O entenderam.

Finalmente, devemos reconhecer que a Bíblia é constituída de muitos gêneros literários, tais
como poesia, narrativa, discurso, lamento, parábola, genealogia, literatura apocalíptica, provér-
bio, salmo, evangelho, carta, literatura de sabedoria, relatório, sermão, e muitos outros.

Contextos imediatos e contextos mais distantes

Dentre os princípios básicos de interpretação bíblica, está o fato de reconhecer que o contexto
imediato tem prioridade sobre o contexto distante e outros paralelos. Assim, por existirem tan-
tas referências históricas no texto bíblico, é importante buscar aquelas informações relevantes
de “pano de fundo” que eram partilhadas pelo autor humano e os seus primeiros leitores.

O relato da criação está na Bíblia! E ponto final! Mas, cabe ressaltar que o registro escrito dos
textos bíblicos se iniciaram na parte do mundo onde a própria civilização humana começou.
Assim, é bastante comum relatos bíblicos encontrarem paralelos em histórias de outras civili-
zações.

Relatos da criação e dilúvio, por exemplo, eram também importantes na vida e no pensamento
de antigos vizinhos de Israel. Portanto, o esboço básico da história da criação do mundo é bem
semelhante, quando comparamos a Bíblia com outros documentos do mundo antigo.

No entanto, a Bíblia difere dos demais relatos antigos na sua compreensão sobre o único
Deus, como veremos a seguir.

O livro de Gênesis

O título Gênesis procede da tradução grega do Antigo Testamento (AT), a Septuaginta, e sig-
nifica “origem, fonte, criação”, ao passo que o nome hebraico significa “no princípio”.

O livro de Gênesis divide-se em duas partes: os caps. 1-11 se concentram nas origens da raça
humana e os caps. 12-50 se concentram nas origens do povo de Israel.

À semelhança dos demais livros da Bíblia, Gênesis é fundamentalmente teológico, ou seja,


está interessado em descrever quem é Deus, como e por que ele age e como lida com a huma-
nidade. Ou seja, a Bíblia não é um livro de Química, Biologia ou História.

Da mesma forma, precisamos ter em mente que a história de Gênesis contada no livro acon-
tece milhares de anos antes, ou seja, o autor de Gênesis está num futuro bem distante dos
acontecimentos registrados.

Os registros de Gênesis dizem respeito a pessoas específicas, suas famílias em particular,

32
CRIAÇÃO DIVINA

como por exemplo, relatos de nascimento e morte, disputas de famílias, direitos de pastagem,
relatos de sepultamento, dentre outros. Ou seja, para o autor de Gênesis, a grande maioria dos
personagens que descreveu foram indivíduos reais e históricos.

No entanto, quando nos deparamos com os caps. 1-11, precisamos considerar outras pers-
pectivas, como por exemplo, os registros das crenças existentes no Antigo Oriente Próximo
(AOP)4 .

Como já dissemos, o relato de Gênesis 1-11 é quase sempre entendido como narrativa histó-
rica. No entanto, a discussão sobre a historicidade da narrativa é imensa. Muitos atestam que
se trata de um mito, ou seja, um relato fictício, enquanto outros falam de mito no sentido antro-
pológico, em que a historicidade do relato não é a ênfase principal, mas o fato de dar significado
para a história do povo de Israel.

Os estudiosos mais conservadores consideram que essa passagem é histórica, mesmo que
apresente árvores misteriosas, uma espada com vida, uma serpente falando e uma mulher que
não se espanta com uma serpente falando.

De fato, mesmo que alguns aspectos dos relatos soem estranhos para os ouvidos contempo-
râneos, isso, por si só, ainda não é motivo para serem considerados como mitos.

Devemos considerar, também, a ideia de que, para os israelitas que ouviram Gênesis pela
primeira vez, os relatos eram verdadeiros, embora eles não esperassem experimentar as coisas
da mesma maneira.

Adão e Eva eram considerados personagens reais, mas qualquer mulher israelita que afirmas-
se ter conversado com uma serpente seria considerada excêntrica.

Um dos maiores problemas relacionados à questão histórica dessas narrativas está relacio-
nado à mente contemporânea que insiste na existência de “fatos” narrados de maneira neutra,
sem qualquer ideologia por trás deles. E precisamos ser sinceros em considerar que a Bíblia não
foi escrita dentro desses conceitos.

Portanto, para o nosso ambiente acadêmico, acreditamos ser muito útil analisarmos o texto
de Gênesis 1-11 tanto como escrito histórico, mas também com a característica de mito no
sentido antropológico, que nos ajuda a explicar elementos fundamentais para toda a Bíblia.

4 Oriente
Próximo é um termo que se refere ao nome de uma região geográfica que abrange diferentes partes do
sudoeste asiático, como Iraque, Turquia, Síria, Líbano, Egito e Israel. 33
ESCOLA RAÍZES

Trechos comparativos de Gênesis com textos mitológicos doAntigo Oriente


Próximo

Para compreender os capítulos iniciais de Gênesis, vamos nos colocar na situação de alguém
vivendo há 3.000 anos no antigo Oriente Próximo. Certamente, estaríamos bem familiarizados
com muitas histórias, provenientes da Babilônia e do Egito, acerca das origens do mundo.

Assim, por exemplo, se um babilônico de 3.000 atrás estivesse lendo Gênesis pela primeira
vez, teria ficado surpreso. Ele certamente ficaria boquiaberto com a descrição do poder e do
interesse moral de um único Deus todo-poderoso. Isso porque os babilônicos antigos tinham a
crença muito firme numa multidão de deuses e deusas.

Da mesma forma, se um hebreu antigo, tendo já conhecimento das histórias de outros povos
pagãos, ao ler Gênesis pela primeira vez, iria observar várias histórias semelhantes.

Isso porque tanto a mitologia mesopotâmica como a egípcia fornecem uma grande quanti-
dade de material referente à criação do mundo e dos seres humanos. Essas obras incluem o
Enyuma Elish, e a Epopeia de Atrahasis, mitos sumérios da região da Mesopotâmia. Do Egito,
temos três textos sobre a criação: um de Mênfis, outro de Heliópolis (Textos das Pirâmides) e
mais um de Hermópolis (Textos dos Sarcófagos).

Além desses, existem diversas narrativas sobre o dilúvio na região da Mesopotâmia, encon-
tradas na Epopeia de Gilgamesh e na Epopeia de Atrahasis.

Por vezes, as semelhanças estão nos detalhes da narrativa (como por exemplo, soltar pás-
saros da arca) ou em aspectos do texto que passam despercebidos (como dar nomes às coisas
em combinação com criá-las).

Vamos ver algumas comparações que enfatizam a ideia de que os vários povos do Antigo
Oriente Próximo tinham diversos entendimentos semelhantes ao que os capítulos 1-11 de Gê-
nesis relatam, no tocante aos eventos de criação do mundo e do homem:

34
CRIAÇÃO DIVINA

35
ESCOLA RAÍZES

O livro de Gênesis

Nesse livro de princípios, Deus revelou a si mesmo, assim como revelou aos filhos de Israel
uma nova forma de ver o mundo, que contrastava, às vezes bastante intensamente, com a dos
vizinhos de Israel.

O autor de Gênesis não faz nenhuma tentativa de defender a existência de Deus, nem de apre-
sentar uma explicação detalhada de sua pessoa e de suas obras. No entanto, o Deus de Israel
que é apresentado se distinguia claramente dos deuses de seus vizinhos.

Percebemos que o relato da criação é um fato teológico que nem sempre pode ser esclarecido
ou interpretado à luz das ciências naturais. As ciências naturais possuem suas esferas de com-
petência, mas nem sempre justificam ou explicam a fé cristã.

De uma perspectiva mais específica, Gênesis 1-11 revelou as origens do universo, isto é, o
início do tempo e do espaço, bem como muitas das primeiras experiências humanas, tais como
o casamento, a família, a queda, o pecado, a redenção, o juízo e as nações.

Numa perspectiva maior, Gênesis 1-11 anunciou uma mensagem singular a respeito do ca-
ráter e da obra de Deus. Na sequência dos relatos que compõem esses capítulos, emerge um
padrão que revela a graça transbordante de Deus com relação à deliberada desobediência da
humanidade.

Em cada relato, Deus aumentou a manifestação da sua graça, porém, o ser humano respondeu
com maior rebeldia pecaminosa.

Vimos também que a atividade divina nos acontecimentos humanos nem sempre é de fácil
percepção, seja em nossa vida cotidiana, seja até mesmo em algumas partes da Bíblia. No en-
tanto, em Gênesis, especialmente nos capítulos iniciais, temos a certeza e a convicção de que
Deus é o ator principal; Ele fala e age constantemente, mostrando seu poder e caráter.

O Deus de Gênesis não é um dos muitos deuses locais de conhecimento e poder limitados,
mas o todo-poderoso Criador de todo o universo e Senhor e juiz de tudo! É esse Deus que criou
a humanidade, cuida dela e julga suas transgressões.

36
CRIAÇÃO DIVINA

É essa revelação divina que dá sentido ao livro. Gênesis não está preocupado em aconteci-
mentos por si só, mas naquilo que revela a natureza e os propósitos de Deus.

Os capítulos iniciais de Gênesis definem o modo como Israel enxergava Deus em contraste
com as crenças em muitos deuses, as quais prevaleciam no Antigo Oriente. Observamos que,
de fato, a história bíblica da criação da humanidade possui paralelos com outros textos antigos.

Mas, o mais significativo é a maneira como Gênesis apresenta para o povo de Israel um novo
ponto de vista acerca do Deus verdadeiro e seu relacionamento com o mundo e a humanidade.

No mundo antigo, a mitologia ocupava o lugar hoje ocupado pela ciência, ou seja, fornecia a
explicação sobre a criação e o funcionamento do mundo. Isso não quer dizer que o Antigo Tes-
tamento deva ser considerado simplesmente como mais um exemplo de mitologia antiga ou
derivado daquela literatura.

Ainda assim, podemos entender que muitos relatos encontrados no Antigo Testamento de-
sempenharam na cultura israelita a mesma função exercida pela mitologia em outras culturas,
ou seja, forneceram mecanismo literário de preservação e transmissão de sua cosmovisão e
valores.

Israel fazia parte de um amplo complexo cultural existente no antigo Oriente Próximo e mui-
tos aspectos desse complexo cultural eram compartilhados com as nações vizinhas, embora
cada cultura tivesse suas características distintas.

Dito isso, a comunidade cristã não precisa temer pelo uso desses métodos que nos informam
a respeito da herança cultural do Oriente Próximo. Nem a mensagem teológica do texto bíblico,
nem seu status como Palavra de Deus são ameaçados por esses estudos comparativos.

Mas, de fato, visto que a revelação envolve uma comunicação efetiva, era de se esperar que,
sempre que possível, Deus usasse elementos conhecidos e familiares para se comunicar com
seu povo.

Por fim, é de se destacar que Gênesis está relacionado de forma bem próxima a Apocalipse, o
último livro da Escritura. O paraíso perdido em Gênesis - o último tema teológico significativo -
será recuperado em Apocalipse.

O apóstolo João representou claramente os acontecimentos registrados no seu livro como


soluções futuras de problemas que começaram em consequência da maldição de Gênesis 3.

João focaliza os efeitos da queda, a destruição da criação e a maneira pela qual Deus elimina
da sua criação o efeito da maldição. Nas próprias palavras de João: “Já não haverá maldição
nenhuma” (Apocalipse 22:3).

Enfim, não é de admirar que, no último capítulo da Palavra de Deus, os cristãos estarão de vol-
ta ao Jardim do Éden, o eterno paraíso de Deus, alimentando-se da árvore da vida (Apocalipse
22:1-14).

37
ESCOLA RAÍZES

Mapa mental

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Criação Divina:

• Uma leitura de Gênesis


com outros textos antigos
da criação:

38
CRIAÇÃO DIVINA

Anotações

39
ESCOLA RAÍZES

Anotações

40
INTRODUÇÃO AO AT

Introdução
discípulos vivam, não há como deixar de lado
Primeiramente, por que chamamos a pri- a importância do Antigo Testamento para a
meira parte da Bíblia de Antigo Testamento? É formação do cristão bem preparado.
comum também ouvirmos a expressão “Alian-
ça”. O que isso quer dizer? Por isso, quando alguém disser que só po-
demos compreender o Antigo Testamento à
luz do Novo Testamento, devemos pensar na
seguinte relação:

No Antigo Testamento, a palavra “aliança” é origi-


nária do termo hebraico bêrith. Já no Novo Tes-
tamento, aliança e testamento são traduções do
mesmo termo grego diathêkê.

O cânon do Antigo Testamento


Diante disso, usamos o termo “Antigo Tes-
tamento” ou “Antiga Aliança” para a primeira
parte ou primeiro conjunto de livros da Bíblia Etimologicamente, cânon é o empréstimo
para diferenciar da segunda parte, chamada de uma palavra semítica5 que originalmen-
de “Novo Testamento” ou “Nova Aliança”. te significa “junco”, mas que depois passou
a significar “vara de medir” e, mais pra frente,
Talvez, um título mais apropriado seria passou a ser entendida como “regra, padrão
“Aliança Anterior”, pois, para alguns, a palavra ou norma”.
“Antigo” dá a impressão de algo que perdeu
seu valor e, portanto, não precisa ser aprendi- Assim, o cânon do AT é a compilação de
do. Considerar o AT desse modo, porém, seria livros divinamente inspirados e, portanto, in-
um erro espiritual, histórico e cultural grave. vestidos de autoridade, reconhecidos pelos lí-
deres espirituais de Israel na antiguidade.
Os dois Testamentos são inspirados por
Deus e, portanto, proveitosos para todos os
cristãos. Apesar de ser comum o cristão fo-
calizar com mais frequência a parte da Bíblia
que fala especificamente de nosso Senhor,
sua igreja e o modo como ele deseja que seus
5Relativo ao grupo de línguas que inclui o aramaico, o amárico, o árabe, o hebraico, o maltês ou o tigrínia, entre
outras línguas faladas do Norte de África ao Médio Oriente e Península Arábica. 41
ESCOLA RAÍZES

Agora, como podemos afirmar que esses são os únicos livros que devem constituir o cânon?
Uma vez que desde tempos remotos havia outros escritos religiosos (inclusive heréticos), como
ter certeza de que os livros corretos foram selecionados?

Contrário ao que muitas pessoas acreditam, o cânon do Antigo Testamento não foi decidido
em um dado momento histórico ou por meio de uma decisão monocrática. Judeus piedosos e
com discernimento reconheceram aquilo que era Escritura inspirada desde o princípio.

Entretanto, por algum tempo, houve controvérsias acerca de certos livros, como por exemplo,
os livros de Ester, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

Ainda assim, o fato é que existem várias evidências que revelam que, antes da época de Jesus
Cristo, o cânon hebraico já estava fixado, com os livros das três partes da Bíblia Hebraica (Torá
ou Lei de Moisés, Profetas e Escritos) sendo usados nas atividades religiosas do povo judaico.

Observe a comparação das divisões do Antigo Testamento entre a Bíblia Hebraica, o Antigo
Testamento Protestante e o Antigo Testamento Católico Romano:

42
Lei de Moisés INTRODUÇÃO AO AT

A Lei de Moisés inclui os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, comumente conheci-
dos como Pentateuco. Tradicionalmente, a autoria desses livros é atribuída a Moisés. No entan-
to, é comum a conclusão de que algumas adições possam ter sido feitas por outras pessoas,
também inspiradas por Deus, tal como o relato da morte de Moisés, inserido no Pentateuco por
um editor posterior.

Durante toda a história de Israel, a Lei de Moisés foi considerada como divinamente autori-
tativa. Davi exortou Salomão para que obedecesse. Jeraboão foi denunciado por desobedecer
aos mandamentos de Deus.

Alguns dos reis de Judá foram particularmente louvados por causa de sua aderência à Lei,
enquanto outros foram condenados por não se terem apegado à ela. O próprio exílio é conside-
rado, pelos escritores sagrados, como consequência das infrações à Lei de Moisés.

Profetas

Não era só a Lei de Moisés que os israelitas consideravam Palavra de Deus, mas as palavras
e escritos dos profetas eram igualmente considerados. Os próprios profetas falavam em Nome
do Senhor e transmitiam Sua própria Palavra aos homens.

Os profetas exigiam a mesma obediência às suas palavras que era dada à Lei de Deus. Não
hesitavam em afirmar a Israel que suas calamidades e desgraças tinham sobrevindo à nação,
não só por causa de sua desobediência à Lei, mas igualmente porque o povo transgredia contra
as palavras dos profetas (Isaías 8:5; 31:4; Jeremias 3:6; 13:1; Ezequiel 21:1; 25:1; Amós 3:1;
7:1 etc.).

Todos os autores desses livros, de diferentes lugares, épocas e contextos, foram homens que
ocuparam o ofício profético. No antigo Israel, esse era um ofício especial e sem paralelo.

O profeta era um israelita que agia corno mediador entre Deus e o homem. Tal como o sacer-
dote representava o povo perante Deus, semelhantemente o profeta representava Deus perante
o povo.

Em sentido especial, o profeta era o receptor da revelação. Deus de tal modo implantava suas
palavras na boca do profeta que a mensagem transmitida resultante era a verdadeira Palavra
de Deus.

Ainda assim, nem todos os profetas registraram as suas mensagens de forma escrita. Israel
reuniu e preservou as palavras daqueles profetas que registraram suas mensagens em forma
escrita. E, por causa da preservação do texto escrito, essas mensagens chegaram até nós.

43
ESCOLA RAÍZES

Escritos

A Bíblia não esclarece quem reuniu esses livros nem em que época eles foram colecionados.
Alguns entendem que esses livros foram agrupados por Esdras e por aqueles que se seguiram
imediatamente a ele.

Os livros pertencentes aos Escritos foram redigidos por homens inspirados por Deus, mas
que não ocuparam o ofício profético. No entanto, alguns de seus autores, como por exemplo
Davi e Daniel, possuíam o dom profético, ainda que não tivessem ocupado o ofício profético.
Isso explicaria o fato de um livro como o de Daniel não estar entre os Profetas, e sim, entre os
Escritos.

Os apócrifos

Já percebemos que os protestantes e judeus concordam quanto ao conteúdo do Antigo Tes-


tamento. No entanto, católicos e ortodoxos aceitam vários livros históricos e poéticos, chama-
dos por eles de “deuterocanônicos” (do grego, “segundo cânon”), mas que são chamados pelos
protestantes e judeus de “apócrifos” (do grego, “ocultos”).

Vamos entender um pouquinho dessa diferença entre católicos e ortodoxos. Após a queda
do Império Romano no Ocidente, as diferenças entre o cristianismo praticado no Ocidente e no
Oriente foram se acentuando.

As distinções culturais e lutas por poder levaram ao rompimento das duas vertentes. A dife-
rença na língua e o questionamento da autoridade papal culminaram na separação das igrejas
em 1054, em um episódio conhecido como “Cisma do Oriente”.

Assim, enquanto a Igreja Católica Romana se firmou na Europa Ocidental, os católicos orto-
doxos se concentraram na Europa Oriental e Oriente Médio. A diferença mais evidente nessa
cisão do Cristianismo seria a questão da liderança da Igreja.

O Papa Francisco (Igreja Católica Romana) e o Patriarca Bartolomeu I


(Igreja Ortodoxa), respectivamente.

44 6 Representa algo ou alguém que ocupa um nível ou categoria de superioridade em relação aos demais.
INTRODUÇÃO AO AT

A Igreja Católica Romana acredita na primazia6 de um dos bispos, o Bispo de Roma, que é o
papa e a autoridade máxima nessa igreja. Por sua vez, os ortodoxos não creem na supremacia
de nenhum bispo, sendo todos eles iguais. Apenas o Patriarca de Constantinopla tem uma res-
peito especial, sendo considerado “primus inter pares” (do latim, o primeiro entre seus iguais).

Devido a essa divisão ocorrida no ano 1054, alguns de seus rituais, crenças e símbolos são
diferentes. Vamos resumir essas divergências:.

Pois bem! Agora que vimos essa diferença, vamos retornar à questão dos livros deuteroca-
nônicos ou apócrifos. Os judeus escreveram muitos outros livros religiosos, e alguns acabaram
por aceitar um cânon mais amplo que abrangia alguns desses livros. E assim ficou...

A Igreja Católica só reconheceu oficialmente a canonicidade desses livros no período da Con-


trarreforma (século XVI). Entre outros motivos, o Vaticano tomou essa decisão porque alguns de
seus ensinamentos, como a oração pelos mortos, aparecem nos apócrifos.
45
ESCOLA RAÍZES

Na verdade, em sua maior parte, os apócrifos são textos judaicos e históricos sem relevância
direta para a doutrina cristã. Apesar de não serem inspirados, alguns são interessantes quando
lidos do ponto de vista cultural e histórico.

Datas e línguas

Acredita-se que o Antigo Testamento tenha levado, pelo menos, um milênio para ser con-
cluído (aproximadamente, entre 1400 a 400 a.C.). Os primeiros livros a serem escritos incluem
o conteúdo do Pentateuco (mais ou menos 1400 a.C.) ou Jó (de data desconhecida, mas seu
conteúdo sugere um período anterior à entrega da Lei).

Livros posteriores foram redigidos antes do exílio (600 a.C.), como Josué até Samuel; durante
o exílio, como Lamentações e Ezequiel; e depois do exílio, como Crônicas, Ageu, Zacarias e Ma-
laquias (400 a.C.).

Com relação às línguas, exceto algumas seções em aramaico, o Antigo Testamento foi escrito
em hebraico.

O hebraico é escrito da direita para a esquerda e antigamente apenas com consoantes. A


pessoa que lia em voz alta fornecia os sons de vogais apropriados de acordo com seu conhe-
cimento da língua.

Nos primeiros séculos da era cristã, entraram em cena os estudiosos judeus conhecidos
como massoretas (do termo hebraico para “tradição”). Cientes de que o hebraico havia se tor-
nado uma língua obsoleta e desejosos de preservar a leitura correta do texto sagrado do An-
tigo Testamento, criaram um sistema fonético sofisticado de pontos e traços acima, dentro e,
principalmente, abaixo das 22 consoantes hebraicas para indicar as vocalizações aceitas das
palavras.

O texto consonantal dá margem para interpretações controversas, uma vez que um conjunto
de consoantes pode, por vezes, ser lido com diferentes vogais e, portanto, com diferentes sen-
tidos. Em geral, porém, o texto tradicional ou Texto Massorético, é extraordinariamente bem
preservado e dá testemunho claro da grande reverência dos judeus pela palavra de Deus.

Conclusão

O Antigo Testamento (assim como o Novo) é a própria palavra do Deus da verdade. Mas é
também obra humana. Pois “homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo”
(2Pedro 1:21).

Em sua inatingível sabedoria, Deus escolheu e preparou, para a tarefa da escrituração dos
livros sagrados, agentes humanos aos quais desejava transmitir Sua vontade.

Então, de modo que não entendemos por completo, o Espírito de Deus operou sobre tais ho-
mens, de tal maneira que aquilo que escreveram, num sentido verdadeiro, é produção sua, e
apesar disso, o resultado foi exatamente aquele desejado pelo Espírito de Deus.

46
INTRODUÇÃO AO AT

Aparentemente nenhum concilio religioso da antiga nação de Israel elaborou uma lista dos
livros divinos. Pelo contrário, na providência singular de Deus, o Seu povo reconheceu a Sua
Palavra e lhe deu honra desde o momento em que cada porção foi aparecendo.

É dessa maneira que entendemos que foi formada a coleção dos escritos inspirados conhe-
cidos como livros canônicos do Antigo Testamento.

Mapa mental

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Introdução ao AT:

• A linha do tempo do
antigo testamento.

47
ESCOLA RAÍZES

Anotações

48
INTRODUÇÃO AO NT

Introdução
gar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais
O Novo Testamento (ou Nova Aliança) for- longa das epístolas de Paulo. Entre os evange-
ma a segunda parte da Bíblia. Trata-se de um lhos, provavelmente o de Marcos deve ter sido
conjunto de vinte e sete livros, com aproxima- o primeiro a ser escrito.
damente um terço do volume do Antigo Testa-
mento (ou Velha Aliança). Portanto, a ordem em que esses livros apa-
recem é uma ordem lógica, derivada da tradi-
Enquanto o Antigo Testamento cobre um ção cristã. Os evangelhos foram colocados em
período de milhares de anos de história, o primeiro lugar porque descrevem os eventos
Novo Testamento refere-se a acontecimentos principais do ministério terreno de Jesus.
que ocorrem no século I da Era Cristã.
Na sequência da vida de Jesus, temos o livro
O Novo Testamento foi escrito originalmente de Atos dos Apóstolos, uma narrativa envol-
em língua grega, provavelmente entre 45 d.C. vente do surgimento e da expansão da Igreja
e 95 d.C., com autorias atribuídas aos após- na Palestina e, daí, por toda a Síria, Ásia Me-
tolos Pedro, João, Mateus e Paulo, bem como nor, Macedônia, Grécia e até lugares distantes
a outros antigos autores, como João Marcos, como Roma, na Itália.
Lucas, Tiago e Judas.
Entre as epístolas paulinas, a ordem em que
Em nossas Bíblias modernas, os livros do foram arranjadas segue a ideia da extensão
Novo Testamento não estão arranjados na or- decrescente, levando-se em conta a exceção
dem cronológica em que foram escritos. Acre- formada pelas epístolas pastorais (1 e 2Timó-
dita-se, por exemplo, que os primeiros livros teo e Tito), as quais antecedem a Filemom, a
do Novo Testamento a serem escritos foram mais breve das epístolas paulinas.
as epístolas de Paulo (com a única exceção
possível da epístola de Tiago), e não os evan- A mais longa das epístolas não-paulinas,
gelhos. aos Hebreus (cuja autoria ainda é desconhe-
cida, mas que alguns teólogos consideram-na
E mesmo assim, a organização das epísto- como de Paulo), aparece em seguida; depois
las paulinas não segue a sua ordem cronológi- dela vêm as epístolas católicas ou gerais, es-
ca. Por exemplo, Gálatas (ou talvez 1Tessalo- critas por Tiago, Pedro, Judas e João. E por
nicenses) foram epístolas escritas bem antes fim, temos o livro que leva para o futuro retor-
de Romanos, mas que aparece em primeiro lu- no de Cristo: o Apocalipse.

49
ESCOLA RAÍZES

O cânon do Novo Testamento

O cânon do Novo Testamento é formado pelos livros aceitos pela Igreja primitiva como Escri-
turas divinamente inspiradas.

Mas, no início, os cristãos não possuíam nenhum dos livros que temos em nosso Novo Testa-
mento. Assim, eles dependiam do Antigo Testamento, de uma tradição oral acerca dos ensina-
mentos e da obra de Jesus, além de revelações diretas da parte de Deus, por meio dos profetas
cristãos.

Mesmo depois de já terem sido escritos os livros do Novo Testamento, muitos desses textos
ainda não haviam sido distribuídos por toda a Igreja.

As epístolas de Paulo e os evangelhos, por exemplo, receberam reconhecimento canônico de


imediato. Mas outros livros, como Hebreus e 2Pedro, levaram um tempo maior para serem re-
conhecidos como divinamente inspirados, às vezes, pela própria brevidade e circulação limitada
desses escritos.

Cremos que Deus guiou a Igreja primitiva em sua avaliação de vários livros. O processo de
seleção precisou de algum tempo, passando pelo crivo de diferentes opiniões. Porém, podemos
estar gratos porque a Igreja primitiva não aceitou certos livros sem a devida avaliação e deba-
tes.

Diversos critérios de canonicidade podem ser citados, como a conformidade com a doutrina
oral apostólica do primeiro século. Outro critério adotado foi o de não contrariar as doutrinas
Antigo Testamento.

No entanto, uma das marcas do processo de canonicidade do Novo Testamento foi o critério
apostolicidade, ou seja, a autoria do texto por parte de um apóstolo ou de um seguidor próximo
de em dos apóstolos.

Marcos foi companheiro tanto do apóstolo Pedro quanto do apóstolo Paulo. Lucas foi compa-
nheiro de Paulo. E quem quer que tenha sido o autor da epístola aos Hebreus, possuía conheci-
mentos teológicos bem próximos de Paulo.

Tiago e Judas eram irmãos de Jesus, seguidores dos apóstolos na Igreja primitiva de Jerusa-
lém. Tradicionalmente, todos os demais autores cujas obras fazem parte do Novo Testamento
eram apóstolos - Mateus, João, Paulo e Pedro.

Aparentemente nenhum concilio religioso da antiga nação de Israel elaborou uma lista dos
livros divinos. Pelo contrário, na providência singular de Deus, o Seu povo reconheceu a Sua
Palavra e lhe deu honra desde o momento em que cada porção foi aparecendo.

É dessa maneira que entendemos que foi formada a coleção dos escritos inspirados conhe-
cidos como livros canônicos do Antigo Testamento.

50
INTRODUÇÃO AO NT

Os quatro evangelhos

A palavra “evangelho” significa “boas-novas”. Os evangelhos são relatos da vida de Jesus, es-
critos pelos apóstolos ou pessoas próximas dos apóstolos. Temos quatro evangelhos na Bíblia,
cada um contando a história de Jesus de uma perspectiva um pouco diferente.

Durante seu tempo na terra, Jesus não escreveu nada sobre sua vida nem sobre seus ensina-
mentos. Mas, depois que Ele subiu ao Céu, alguns dos seus discípulos começaram a registrar o
que tinham visto e ouvido. Foi assim que surgiram os quatro evangelhos.

Temos os chamados evangelhos sinóticos, denominação dada aos escritos de Mateus, Mar-
cos e Lucas, por conterem uma grande quantidade de histórias em comum e na mesma sequ-
ência e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras.

Já o evangelho de João relata a história de Jesus de um modo substancialmente diferente.


Desta maneira, há quatro evangelhos canônicos, dos quais três são sinópticos.

Mateus foi um dos 12 apóstolos, que fez parte do ministério de Jesus. Em seu evangelho,
Mateus mostrou como Jesus cumpriu as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias, o
Salvador prometido. Ele também registrou vários dos ensinamentos morais de Jesus, incluindo
o famoso sermão do monte.

Marcos foi um companheiro dos apóstolos Pedro e Paulo. Ele provavelmente escreveu seu
evangelho a partir de tudo que ouviu de Pedro. O evangelho de Marcos enfatiza, principalmente,
as ações de Jesus e seu poder para realizar milagres.

Lucas foi um médico, amigo de Paulo. Ele escreveu seu evangelho para um senhor chamado
Teófilo. Por isso, ele pesquisou tudo com cuidado e rigor, procurando fontes seguras (Lucas
1:3-4). O evangelho de Lucas contém vários detalhes sobre a família e as origens de Jesus.

João foi outro apóstolo e um dos discípulos mais próximos de Jesus. Seu evangelho é bas-
tante diferente dos outros três porque procura contar outras partes do mistérios e da vida de
Jesus, talvez menos conhecidas. João escreveu seu evangelho com o objetivo de ajudar as
pessoas a crerem em Jesus (João 20:31).

51
ESCOLA RAÍZES

Atos dos Apóstolos

O livro de Atos dos Apóstolos foi escrito por Lucas, como continuação do Evangelho de Lucas.
Atos dos Apóstolos foi escrito para um homem chamado Teófilo, relatando o início da igreja e
da expansão do evangelho.

Lucas foi um médico que acompanhou Paulo em algumas de suas viagens. Provavelmente,
ele era um gentio convertido, que não viu Jesus, mas conheceu pessoas que tiveram contato
direto com Jesus.

O autor queria registrar como a igreja começou. O Cristianismo estava crescendo rapidamen-
te e havia muitas histórias diferentes circulando sobre o seu início (Lucas 1:1,2). Assim, ele
investigou tudo com cuidado, recolheu os relatos de pessoas que viram o que realmente acon-
teceu e organizou a informação.

No seu primeiro livro, o Evangelho de Lucas, ele relata a vida e o ministério de Jesus. Atos dos
Apóstolos continua a história, mostrando como os discípulos de Jesus iniciaram a Igreja a partir
de Jerusalém e começaram a pregar o evangelho para todo o mundo.

Lucas também escreveu Atos dos Apóstolos para mostrar que o evangelho é para todos, não
só para os judeus (Atos 10:34,35). Pessoas de várias nacionalidades e origens se converteram
e receberam o Espírito Santo nos primeiros tempos da Igreja.

Quanto à datação, Atos dos Apóstolos provavelmente tenha sido escrito antes da destruição
do templo de Jerusalém, em 70 d.C. Anteriormente a esse evento, a Igreja primitiva estava es-
tabelecida em Jerusalém.

Quando os romanos destruíram o templo e arrasaram Jerusalém, isso afetou a dinâmica da


Igreja; no entanto, o livro de Atos não faz nenhuma referência a esse evento importante, o que
seria estranho se tivesse sido escrito depois de 70 d.C.

Epístolas ou cartas paulinas

As epístolas ou cartas paulinas são treze: Romanos, 1 e 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipen-
ses, Colossenses, 1 e 2Tessalonicenses, 1 e 2Timóteo, Tito e Filemom.

As cartas de Paulo falam sobre questões centrais da fé, trazendo instruções teológicas in-
dispensáveis à doutrina cristã. Muitos estudiosos classificam as cartas de Paulo em quatro
categorias, com base em seus conteúdos ou na ocasião em que foram escritas:

52
INTRODUÇÃO AO NT

As cartas de Paulo foram escritas ao longo do seu ministério de apóstolo. Por isso, não é tão
fácil determinar quando exatamente as suas cartas foram escritas. Seria preciso ter muitos de-
talhes sobre a cronologia da sua vida.

Um pergunta interessa é: “Existem outras cartas de Paulo?” Primeiramente, temos que en-
tender que o apóstolo era uma pessoa extremamente ativa e dedicada à obra de Deus, sempre
envolvido com a propagação do Evangelho e com o zelo pela pureza das doutrinas centrais da
fé cristã. Então, é certo que o apóstolo Paulo tenha escrito outras cartas, mas que essas cartas
se perderam no tempo.

O próprio Paulo menciona duas dessas cartas perdidas. Uma delas seria uma provável epís-
tola dirigida aos laodicenses (Colossenses 4:16). Parece que a epístola à igreja de Laodiceia
também deveria ser repassada à igreja de Colossos, bem como a carta aos Colossenses igual-
mente deveria ser lida em Laodiceia.

Uma outra carta parece ter sido escrita aos crentes de Corinto antes de o apóstolo ter escrito
1Coríntios. Parece que o conteúdo principal dessa carta era uma exortação para que os cren-
tes coríntios se apartassem de cristãos nominais que continuavam praticando imoralidades (1
Coríntios 5:9).

Por algum motivo, Deus não permitiu que essas cartas de Paulo chegassem até nós. No en-
tanto, devemos estar satisfeitos porque tudo o que precisávamos saber está preservado de for-
ma completa e inerrante no cânon bíblico. Inclusive, do próprio apóstolo Paulo, Deus permitiu
que treze de suas cartas fossem preservadas para servir de bênção para os cristãos de todos
os lugares e de todas as gerações.

Epístolas gerais, católicas ou universais

As epístolas gerais são escritos de vários autores, entre eles o apóstolo João (1, 2 e 3João), o
apóstolo Pedro (1 e 2Pedro), e Judas e Tiago (irmãos de Jesus), que escreveram as cartas que
levam os seus respectivos nomes. Apenas o autor da carta aos Hebreus ainda é desconhecido
(ainda que a tradição atribua a autoria a Paulo).
7 A escatologia é a doutrina das coisas que devem acontecer no fim do mundo.
8 A soteriologia é a parte da Teologia que trata da salvação do homem. 53
ESCOLA RAÍZES

As epístolas gerais recebem esse nome porque foram escritas para públicos mais universais.
Isso significa que, em comparação às cartas de Paulo, as epístolas gerais são mais abrangen-
tes e a maioria delas não possui destinatários específicos.

Essas cartas tratam de questões que são comuns a todos os crentes de todas as épocas. Elas
exortam os cristãos acerca do problema do sofrimento; encoraja-os a viver em obediência ao
Senhor; e ensinam os crentes sobre como eles devem perseverar na fé e ser zelosos com a pu-
reza do Evangelho, inclusive na oposição aos falsos mestres e suas doutrinas.

Combinadas às epístolas paulinas, as epístolas gerais formam um conjunto teológico-doutri-


nário que fornece uma perspectiva completa acerca dos fundamentos da fé cristã.

Apocalipse

A palavra “apocalipse” tem origem no grego e significa “revelação” ou “descoberta”. Apoca-


lipse é o último livro do Novo Testamento, encerrando toda a revelação escrita de Deus para o
homem. Ele traz a revelação acerca dos tempos do fim e foi escrito pelo apóstolo João, prova-
velmente entre os anos 93 e 96 d.C., enquanto esteve exilado na ilha de Patmos.

O livro de Apocalipse é considerado por muitos como o livro bíblico mais difícil de interpretar.
De fato, um estudo do livro revela que seu autor usa uma linguagem predominantemente sim-
bólica. Por isso, algumas pessoas dizem descobrir códigos e enigmas dentro do livro.

Mas ao contrário do que muita gente pensa, há muito mais no livro do Apocalipse do que
apenas um tipo de manual sobre o futuro. O objetivo do livro do Apocalipse é revelar ao invés de
esconder. Quando ao uso de elementos simbólicos em sua narrativa, o mesmo também acon-
tece com outros livros bíblicos, como Ezequiel, Daniel e Zacarias.

Para compreender melhor o Apocalipse, precisamos lê-lo à luz dos outros livros da Bíblia.
Além disso, é preciso considerar o tipo de texto e o contexto no qual foi escrito para entender-
mos melhor o seu propósito.

Outro ponto importante é que precisamos entender que o Apocalipse retrata o desfecho final
da revelação de Deus ao homem. Não é sobre como nós queremos que seja, mas sobre o que
Deus permitiu que soubéssemos.

Em geral, importa saber que:

• O Apocalipse, tal como toda a Bíblia, é centralizado em Jesus Cristo.

• O propósito do livro é mostrar a soberania de Cristo e trazer uma resposta de esperança


e consolo ao povo de Deus.

• Há um alerta real aos incrédulos sobre julgamento e condenação eterna (para quem não
crê e nem se arrepende).

• O livro traz aos leitores (em todos os tempos) uma última advertência ao arrependimento
e perseverança em Cristo.

54
INTRODUÇÃO AO NT

• As profecias estão se cumprindo e o tempo do fim se aproxima.

Os evangelhos apócrifos

“Apócrifo” vem de uma palavra grega que significa “oculto”. Vários evangelhos foram escritos
ao longo do tempo. Esses outros relatos da vida de Jesus são conhecidos como os evangelhos
apócrifos.

Como vimos, os quatro evangelhos da Bíblia foram escritos por pessoas que eram muito pró-
ximos de Jesus ou tiveram acesso direto a pessoas próximas de Jesus. Porém, esses outros
evangelhos, que surgiram mais tarde, foram escritos por pessoas que não conheceram nem
Jesus, nem os apóstolos. Logo, apenas relatam lendas e rumores, e não testemunhos oculares.

Os livros apócrifos podem ter informação interessante e útil, mas também têm ensinamentos
duvidosos, que contradizem o resto da Bíblia. Alguns têm histórias fantasiosas e erros históri-
cos. Por isso, seus ensinamentos não têm o mesmo valor que a palavra de Deus (2Pedro 1:16).

Vejamos alguns evangelhos apócrifos e do que tratam em suas narrativas:

• Evangelho Armênio da Infância de Jesus: narrativa da infância de Jesus dos 5 aos 12


anos. Dentre as narrativas deste apócrifo, encontramos um texto onde o menino Jesus, após ser
ofendido, ordena que o filho de Anás, o escriba, ficasse seco como uma árvore, matando-o sem
piedade.

• Evangelho de Tomé: uma lista de 114 ditos atribuídos a Jesus. Quase dois terços desses
ditos se assemelham aos encontrados nos evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e
João, mas outros eram desconhecidos até a descoberta desse manuscrito em 1945.

• Evangelho de Pedro: chegou a ser utilizado em algumas igrejas cristãs primitivas, sendo
inclusive citado por diversos pais da Igreja (Serapião de Antioquia, Orígenes, Eusébio de Cesa-
reia, Jerônimo de Estridão e Teodoreto de Ciro. No entanto, seu texto continha diversas men-
ções ao docetismo (doutrina que nega a existência do corpo físico de Jesus).

• Atos de Pilatos: relato por escrito feito por Pilatos ao imperador romano Cláudio, con-
tendo uma descrição da crucificação, assim como um relato da ressurreição, ambos como se
estivessem de fato num relatório oficial.

• Evangelho de Judas Iscariotes: conta a versão de Judas Iscariotes sobre a crucificação


de Jesus. Pelo livro, Judas supostamente traiu Jesus apenas para cumprir um mandamento do
próprio Mestre.

• Evangelho de Maria Madalena: narra o diálogo entre Maria e os discípulos, onde Maria é
a pessoa que responde às perguntas. Após a partida de Jesus, conforme o texto, a autoridade
da igreja foi dada a Maria Madalena, indicando que o texto tenha se originado em uma corrente
que tinha em Maria sua fundadora e a considerava mais importante que os outros apóstolos.

55
ESCOLA RAÍZES

Conclusão

Os 39 livros do Antigo Testamento contam a história da aliança feita por Deus com a humani-
dade e a promessa da vinda de um Messias, com o objetivo de salvar o mundo da condenação
do pecado.

Os 27 livros do Novo Testamento tratam dessa aliança concretizada, cumprida através da


vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O Antigo Testamento era a Bíblia usada por Jesus e pelos apóstolos. Foi diversas vezes ci-
tado e tem uma forte relação com o Novo Testamento, por sempre apontar a vinda do Messias,
prometido por Deus.

No entanto, o Novo Testamento registra a plenitude dos tempos com o nascimento, vida e
obra de Jesus Cristo, que ressignificou o relacionamento de Deus com a humanidade. A mensa-
gem central do Novo Testamento é o Evangelho do Senhor Jesus Cristo e os desdobramentos
do seu ensino para a sua Igreja.

Por fim, vale a pena termos um panorama geral dos livros do Novo Testamento, seus autores,
prováveis datas, locais, destinatários e temas:

56
INTRODUÇÃO AO NT

57
ESCOLA RAÍZES

Mapa mental

58
INTRODUÇÃO AO NT

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Introdução ao NT:

• O NT encerra a revelação
da Palavra de Deus ao
homem.

Anotações

59
ESCOLA RAÍZES

Anotações

60
SEGUNDA VINDA E MILÊNIO

Introdução

A segunda vinda de Cristo é, sem dúvidas, o Segunda vinda


assunto mais enfatizado em toda a Bíblia, com
mais de 2.400 referências. No entanto, muitos
falsos mestres negam que Jesus voltará; ou- A segunda vinda de Cristo será um dos
tros tentam enganar as pessoas marcando maiores eventos da história e possui vários
datas; outros, ainda, dizem crer na segunda pontos convergentes entre as diversas linhas
vinda de Cristo, mas vivem como se Ele jamais de interpretação:
fosse voltar.
(1) A vinda final de Cristo será pessoal (Ma-
Da mesma forma, com base em Apocalipse teus 24:30; 1Tessalonicenses 4:16)
20.1-6, a maioria dos cristãos creem que ha-
verá um reino milenar de Jesus Cristo, antes Em Jesus Cristo, toda a plenitude da divin-
ou depois de sua segunda vinda. dade será corporalmente revelada (Colossen-
ses 2:9).
Diante dessas perspectivas, surgem vários
questionamentos, tais como: “A Segunda Vin- (2) Sua vinda final também será visível (Atos
da de Cristo envolverá vários estágios?”; “Qual 1:11)
o relacionamento desses estágios com o pe-
ríodo da tribulação?”; “Qual a distinção entre Na sua vinda final todo olho o verá, até mes-
Israel e a Igreja no plano de Deus?” mo aqueles que o transpassaram (Apocalipse
1:7). Sua aparição será seguida pela ressur-
Vamos percorrer as principais linhas esca- reição dos mortos.
tológicas9 , que tratam das várias interpreta-
ções sobre os eventos que antecedem e suce- (3) A vinda de Cristo no final de todas as
dem o retorno de Cristo. coisas será com poder e glória (Mateus 24:30;
25:31)
Meu Feedback está
quase... Neste aspecto, esse retorno será diferente
da sua primeira vinda, quando ele veio na for-
ma de um servo e em semelhança do homem
pecador (Romanos 8:3; Filipenses 2:7).

Escatologia é a doutrina das coisas que devem acontecer no fim do mundo.


7
61
ESCOLA RAÍZES

Milênio

A escatologia, como vimos, é o estudo das últimas coisas. Alguns entendem essas “últimas
coisas” como “coisas futuras”, apenas; outros observam que já estamos vivendo na era do
cumprimento inicial das promessas referentes ao Messias.

Dentro do estudo da escatologia, encontramos a questão do milênio, que diz respeito a um


futuro reino terrestre intermediário de mil anos, no qual Cristo reinará, antes de os novos céus e
a nova terra serem estabelecidos.

Nesse sentido, temos três visões sobre esse período:

• Pré-milenistas ou pré-milenaristas: argumentam que Cristo voltará antes da fundação


desse Reino.

• Pós-milenistas ou pós-milenaristas: veem a Igreja rumo ao completo cumprimento da


promessa do Reino, a qual gradualmente se dirige para a vitória até o surgimento de Cristo.

• Amilenistas ou amilenaristas: sustentam que não existe um futuro milênio literal, mas,
quando Cristo retornar, seremos imediatamente conduzidos ao novo céu e à nova terra. A Igreja
será libertada das pressões e das perseguições de um mundo decaído quando Jesus voltar.

O ponto de vista pré-milenista ou pré-milenarista

O pré-milenismo afirma que, após a segunda vinda de Cristo, Ele reinará por mil anos sobre
a terra antes da consumação final do propósito redentivo de Deus nos novos céus e nova terra
na era vindoura.

A primeira convicção pré-milenista é de que Jesus está voltando. Todas as esperanças e


expectativas futuras estão focalizadas em seu retorno. Sua vinda será pré, isto é, antes de um
reino milenar.

A segunda convicção fundamental destaca que, depois que Jesus vier, estabelecerá e gover-
nará sobre a terra durante um milênio; alguns acham que esse período é literal, isto é, de mil
anos, enquanto outros não são tão literais e acreditam ser um período extenso de tempo.

Os pré-milenaristas também acreditam que, quando Jesus vier, ressuscitará os mortos em


duas fases:

 1ª) O Senhor trará dentre os mortos alguns para participarem com ele do reino milenar.

 2ª) Após o término do milênio (o período de mil anos), chamará à vida o restante dos
mortos e instituirá o juízo final. Então, o destino de salvos e perdidos será fixado.

62
SEGUNDA VINDA E MILÊNIO

O ponto de vista pós-milenista ou pós-milenarista

O pós-milenismo prevê a proclamação do evangelho de Jesus Cristo para ganhar a grande


maioria dos seres humanos para a salvação no tempo presente.

Essa linha escatológica diz que a intensificação da pregação do evangelho produzirá, gradu-
almente, um tempo na história precedente ao retorno de Cristo, no qual a fé, a justiça, a paz e a
prosperidade prevalecerão na vida diária do povo de Deus e das nações.

Após uma longa era de paz e prosperidade, então o Senhor voltará visível, corporalmente e
em grande glória, e dará fim à história, com a ressurreição de todos e o julgamento final da hu-
manidade.

Assim, o pós-milenarismo espera que a grande maioria da população mundial se converta a


Cristo como consequência da proclamação do evangelho pelo poder do Espírito.

63
ESCOLA RAÍZES

O ponto de vista amilenista ou amilenarista

O termo amilenismo, segundo os próprios amilenistas, não é muito adequado, já que sugere
a crença da inexistência de qualquer tipo de milênio ou simplesmente que se ignore passagens
da Escritura que falam de um reino milenar.

Apesar de ser verdade que os amilenistas não creem em um reino terreno literal de mil anos
que se seguirá ao retorno de Cristo, eles creem que o milênio de Apocalipse não é exclusiva-
mente futuro, mas está hoje em processo de realização, em especial, nos céus.

Conclusão

Todos os eventos relacionados ao fim dos tempos são tratados em uma disciplina da teologia
chamada de escatologia bíblica. Por se tratar de muitos eventos que ainda ocorrerão, natural-
mente existem diferentes interpretações escatológicas.

Devido a essas diferentes interpretações, os cristãos respondem a pergunta sobre como será
a segunda vinda de Cristo de formas diferentes.

Alguns defendem que a segunda vinda de Cristo será um único evento visível a todos. Outros
defendem que a segunda vinda de Cristo ocorrerá em duas etapas. A primeira etapa será secre-
ta e invisível, reservada apenas aos salvos. Já a segunda etapa será pública e visível a todos,
e ocorrerá depois de um período de grande tribulação. Quem adota essa última interpretação
geralmente entende que esse período será de sete anos.

Ainda que tenhamos todas essas diferentes interpretações, a Bíblia fala muito claramente
sobre a realidade da segunda vinda de Jesus Cristo. O próprio Jesus falou explicitamente sobre
o seu retorno e garantiu que esse dia em breve chegaria (Mateus 24:30; João 14:3; Apocalipse
3:11).

O mundo não resistirá ao momento do glorioso retorno de Jesus. O apóstolo João também
ressalta que a segunda vinda de Cristo será tão impactante que todo olho o verá quando Ele
estiver vindo com as nuvens (Apocalipse 1:6). Na verdade, o próprio Jesus disse que os homens
“verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória” (Marcos 13:26).

Embora existam diferentes interpretações sobre a segunda vinda de Cristo e o período mile-
nar, todos os cristãos verdadeiros concordam que esse grande dia chegará. O mais importante
é que para todo sempre a Igreja redimida estará ao lado de seu Senhor.

Enfim, vivamos o dia de hoje como se Cristo voltasse amanhã!

64
SEGUNDA VINDA E MILÊNIO

Mapa mental

Saiba mais

• Ouça nosso Rcast sobre


Segunda Vinda e Milênio:

• Quais as teorias sobre o


arrebatamento?

Anotações

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ESCOLA RAÍZES

Anotações

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SEGUNDA VINDA E MILÊNIO

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ESCOLA RAÍZES

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