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Editora responsável
Ione Valadares
Conselho Editorial
Adriano Naves de Brito, Anita C. Azevedo Resende,
Denize Elena Garcia da Silva, Lisandro Nogueira,
Maria Zaira Turchi, Noé Freire Sandes
Copyright © 2017 Tadeu Alencar Arrais
1. edição
Projeto gráfico
Marcus Lisita Rotoli
Tadeu Alencar Arrais
Diagramação
Marcus Lisita Rotoli
Capa
Alanna Oliva
Revisão de textos
Gisele Dionísio da Silva
Ilustração de capa
Litografia de Balzac por Benjamin Roubaud
introdução................................................................10
o mapa.......................................................................16
a morfologia............................................................28
a ecologia..................................................................44
a técnica....................................................................66
a paisagem...............................................................82
o cotidiano............................................................104
conclusão...............................................................152
referências............................................................156
anexos.....................................................................172
introdução
A
ideia de escrever um livro sobre os modos de ver a cidade
nasceu diante de um filme futurista. Filmado em preto
e branco e lançado em 1927, Metropolis, de Fritz Lang,
impressiona pela inflação de imagens típicas do cinema mudo. A
primeira imagem é topográfica, e é a partir dela que Lang constrói
seu roteiro piramidal. A técnica comanda a vida em Metropolis.
Há um sincronismo proposital entre a repetição das engrenagens
e o cotidiano programado dos operários do mundo subterrâneo.
O enredo de conflitos é construído no encontro entre a base e o
cume da pirâmide. A imagem final, demasiadamente romântica,
sugere um projeto urbano só possível, considerando-se o nosso
horizonte temporal, no cinema ou mesmo na literatura.
A ideia que gerou este livro, motivada por um filme vi-
sionário, tornou-se possível em virtude da junção de três outras
experiências. A primeira tem data específica, registrada em um
documento conhecido como CTPS (Carteira de Trabalho e Pre-
vidência Social). Em 18 de janeiro de 1988, ainda sem completar
15 anos de idade, ingressei no mundo do trabalho formal pelas
portas da construção civil. Certo dia, no espremido intervalo para
o almoço, subi ao décimo andar da obra – um edifício de quatorze
andares, localizado na área central da cidade. A sensação de estar
nas entranhas daquele edifício, dentro de sua anatomia, entre co-
lunas de concreto, com a brisa vazando entre as lajes que subiam
vagarosamente, ofereceu-me uma visão diferente da cidade. A ci-
dade era aquilo. Mistura de tijolos, argamassa, aço, cobre, alumí-
nio, azulejos, tubulações e muita gente se ocupando em preencher
os espaços vazios daquele esqueleto. Hoje se constrói em maior
velocidade e com menos operários. O avanço tecnológico resultou
em maior produtividade, por meio da incorporação de novos ma-
teriais e técnicas construtivas, o que acarretou um novo gerencia-
mento do canteiro de obras. Hoje, resido no décimo oitavo andar
de um edifício na mesma região. Do alto, a paisagem da cidade
pode ser diferente, mas sua natureza não mudou muito. Continua
avançando para cima, repaginando o velho sonho de Babel.
A segunda experiência foi acadêmica. A geografia urbana,
como um ponto de partida, sempre ambicionou uma visão sis-
têmica da cidade. O sítio urbano é a primeira referência, lição
metodológica do geógrafo Pierre Monbeig. No ambiente acadê-
mico, o contato com as obras de David Harvey, Mike Davis e Jane
Jacobs modificou aquela visão, ainda ingênua, do décimo andar
da obra.
Harvey oferece um conceito relativamente simples de ci-
dade como forma de concentração dos excedentes socialmente
produzidos. Isso revela muito do seu significado histórico, de
suas articulações com os sistemas regionais e, principalmente,
do seu propósito político. A obra de Davis, por sua vez, deve ter
lugar obrigatório nas estantes de qualquer um que deseja estudar
a cidade. A mistura de história, ecologia e política garante o efei-
to apocalíptico de sua narrativa. Jacobs, por sua vez, certamente
oferece aquele cadinho de esperança de um cotidiano renova-
seis modos dor, especialmente nas grandes cidades. Gosto de imaginar que a
de ver a cidade simpática militante subiu vários décimos andares na tentativa de
12 compreender o funcionamento das cidades.
A terceira experiência brotou, vagarosamente, de meu in-
teresse pela literatura. A compreensão do desenvolvimento de ci-
dades como Paris e Londres, especialmente no século XIX, não
seria a mesma sem o olhar perspicaz de Honoré de Balzac e de
Charles Dickens. Balzac (2013a, p. 108) não foi modesto quando
escreveu que o plano de sua obra A comédia humana consistia em
“fazer o inventário dos vícios e das virtudes” da sociedade fran-
cesa. O escritor admitia uma relação quase determinista entre o
ambiente físico de Paris, representado pela paisagem urbana, e o
aspecto moral dos seus habitantes burgueses, representado pela
obsessão pelos salões requintados da planície do Sena.
Dickens, contemporâneo de Balzac, tinha em comum o
profundo interesse pelas cenas londrinas, pelos tipos que povoa-
vam as margens do Tâmisa. Esse quadro de interesse pelos tipos
urbanos, pelas transformações na paisagem urbana e pelos tu-
multos políticos gerados pelas revoluções influenciou, igualmen-
te, a literatura de Victor Hugo e de Émile Zola. Poucas descrições
sobre o sítio urbano de Paris são carregadas de tanta sensibilidade
como aquela de Victor Hugo (2014) em Os miseráveis. No Bra-
sil, Aluísio Azevedo (2012), em O cortiço, conseguiu demonstrar
como o Rio de Janeiro, não obstante um centro decrépito e reple-
to de moradias precárias, esteve envolto no circuito da locação e
no consequente rentismo. Enfim, a literatura do século XIX, na
Europa ou no Brasil, já demonstrava a globalidade das formas de
produção do espaço urbano, afinal as semelhanças entre o Rio de
Janeiro e as principais cidades europeias não se limitavam à im-
portação dos modos urbanos aristocráticos, especialmente os fi-
gurinos, para as faixas tropicais. A literatura, como uma forma de
comunicação, traduzida em crônicas, contos, romances ou ficção
policial, oferece um olhar mais prosaico sobre o universo urbano.
A cidade é lugar privilegiado para a construção de personagens e
enredos que marcaram a história da humanidade.
Mapa, morfologia, ecologia, técnica, paisagem e cotidiano introdução
seis modos
de ver a cidade
14
o mapa
o mapa
27
a morfologia
e em Uganda. 35
É curioso que a mesma representação sobre a presença da
água em relação à cidade do Cairo, Paris ou Londres, não tenha
ocorrido com Bagdá, cidade quase sempre retratada no cinema
como um ambiente inóspito. Na tradição popular, representa-
da pelas magníficas histórias de As mil e uma noites (Antoine
Galland, 2010), é comum a referência aos jardins de Bagdá que
impressionam visitantes e mercadores, imagem distinta daquela
do cinema hegemônico contemporâneo. Toda a importância do
rio Tigre não foi suficiente, especialmente na cinematografia dos
conflitos, para contrapor a metonímia árida da capital do Iraque.
Para Hollywood, parece não haver diferença no enredo morfoló-
gico das cidades do Oriente Médio, especialmente aquelas envol-
vidas em conflitos geopolíticos. O Tigre, com seus meandros e
ilhas, auxiliado pelo afluente Diyala, secciona o espaço urbano de
Bagdá, fato negligenciado pelos roteiros cinematográficos, como
pode ser ilustrado em Zona Verde e Guerra ao terror. O primei-
ro filme, protagonizado por Matt Damon, traz no título a marca
territorial de uma área controlada pelo exército norte-america-
no. Localizada no centro de Bagdá, a Zona Verde é demarcada, a
oeste, por uma faixa de aproximadamente 6 km lineares da calha
do Tigre. A largura da calha pode variar de 140 m, no extremo
sul, até mais de 400 m na divisa norte da Zona Verde. A escolha
do sítio não foi aleatória. O rio Tigre, no entanto, só aparece em
minúsculas tomadas, indicadas por flashes de imagens em mapas
nas perseguições militares.
O filme Guerra ao terror, por sua vez, apresenta roteiro
similar. Muito embora as incursões por Bagdá sejam frequentes
no filme, não há nenhuma tomada que mostre o rio Tigre, a não
ser na cena que exibe um mapa fincado na parede, no tenso diá-
logo entre o soldado Owen, interpretado por Brian Geraghty, e
o coronel-médico John Cambridge, interpretado por Christian
Camargo. Mais que Zona Verde, Guerra ao terror eleva ao extre-
seis modos mo a aridez do espaço urbano. Água, só engarrafada. Sabemos
de ver a cidade que nenhum dos dois filmes foi filmado em Bagdá. A Jordânia e
36 o Marrocos são locações escolhidas com muita frequência para
representar a capital iraquiana ou qualquer que seja o ambiente
de conflito envolvendo cidades do Oriente Médio. Mas a loca-
ção importa menos que a intenção de reproduzir, como imagem
geral, um ambiente árido, ilhado por desertos e habitado por
uma população que se comunica a partir de gestos excêntricos.
Edward Said (1990, p. 222), em seu estudo sobre o orientalismo,
ensina que a geografia sempre foi um dos “sustentáculos mate-
riais do conhecimento sobre o Oriente”. Há um perfeito encaixe
entre a metonímia espacial, com um sítio urbano sempre árido, e
a gramática dos bárbaros, representada pela estratégia discursiva
de homogeneização dos grupos. A morfologia urbana intimida o
telespectador tanto quanto os grupos humanos ali representados.
Afirma Said (1990, p. 291):
Nos filmes ou nas fotos de notícias, o árabe é sempre visto em
grandes números. Nenhuma individualidade, nenhuma caracte-
rística ou experiência pessoal. A maior parte das imagens apre-
senta massas enraivecidas ou miseráveis, ou gestos irracionais
(logo, desesperadoramente excêntricos). À espreita, por trás de
todas as imagens, está a ameaça da jihad. Resultado: um temor
de que os muçulmanos (ou árabes) tomem conta do mundo.
seis modos Há, por assim dizer, uma relação íntima, por vezes ro-
de ver a cidade mântica, entre os rios e as cidades, tanto quanto com o mar. O
38 Mediterrâneo, como lugar de chegada e contato entre Europa,
África e Ásia, permitiu trocas perenes entre cidades europeias,
africanas e asiáticas. As condições geográficas, com a presença
das penínsulas, inúmeras ilhas cerceadas por montanhas, tor-
naram o Mediterrâneo conhecido de mercadores e turistas que,
muito cedo, descobriram as vantagens das trocas comerciais e o
veraneio como opção de lazer. Braudel, que dedicou energia a
decifrar seus segredos, escreve que esse mar é “devorado pelas
montanhas”. Sua opinião sobre as montanhas que circundam o
Mediterrâneo é definitiva:
Elas encontram-se presentes até a orla marítima, abusivas,
encostadas umas às outras, inevitáveis, esqueleto e pano de fundo
da paisagem. Dificultam a circulação, torturam as estradas,
limitam o espaço reservado aos campos felizes, às cidades,
ao trigo, à vinha, até mesmo às oliveiras; a altitude domina as
atividades dos homens. (Braudel, 1988, p. 19)
do Nilo, era diferente da de hoje, uma vez que suas margens não 39
eram tomadas pela urbanização. A apropriação do relevo para
a segurança, tanto quanto para a localização de templos, é uma
característica marcante das cidades da Antiguidade. E isso vale
tanto para cidades no Mediterrâneo quanto para aquelas que se
localizam na interlândia do continente europeu, uma vez que o
“bárbaro” poderia chegar tanto pelo mar quanto por terra.
No modo de ver morfológico, o relevo plano aparece como
ambição, e, não por acaso, as chamadas cidades planejadas foram
assentadas em sítios de relevo pouco movimentado. Um encaixe
perfeito entre o plano do papel e o plano do terreno. Juscelino
Kubitschek, presidente do Brasil de 1956 a 1961, cita em suas me-
mórias as arriscadas aventuras sobre o céu brasileiro a bordo de
um velho DC-3. Ao sobrevoar o local da nova capital na década
de 1950, no Planalto Central, lembra:
Era um descampado infinito, com suaves ondulações no terreno,
que não ultrapassavam a altura de 200 metros. Tudo era chato e
amplo – a vastidão desconcertante do vazio. (Kubitschek, 1975,
p. 45)
a morfologia
43
a ecologia
59
As epidemias causaram mais medo nas cidades medievais,
e nisso discordamos de Tuan (2005), uma vez que enterraram
mais vítimas que o fogo ou qualquer outro evento de ordem na-
tural ou social. A Peste Negra, por exemplo, atingiu a jugular da
Europa no início do século XIV, deixando dois ensinamentos. O
primeiro era que as comunicações, consequência das trocas co-
merciais, começavam a despertar desconfiança, afinal, a peste era
trazida por pulgas acomodadas nos pelos dos roedores, a bordo
das galeras; tais pulgas portavam a bactéria yersinia pestis. A se-
gunda era que as condições ecológicas das cidades, caracterizadas
pelo acúmulo de lixo em todos os cantos, não exigiram muito
esforço para a adaptação dos roedores, o que, por consequência,
favoreceu a disseminação das pulgas. É possível imaginar, nas
noites congelantes, em casebres insalubres, com muita palha, ani-
mais e panos crus, como era fácil a interação entre as pulgas e a
pele humana.
John Kelly (2011), no livro A grande mortandade, descreve
o percurso evolutivo da doença a partir dos portos mediterrâneos.
Chegando à Sicília, em 1347, a onda de contaminação alastrou-se
para Gênova, Veneza, Roma, Florença, Pisa, Nápoles, apontando
para o norte até atingir Paris e Londres. A mortandade, mesmo
para os padrões demográficos contemporâneos, impressiona. Es-
tima-se a redução, em algumas cidades europeias, de até metade
da população. Segundo Kelly (2011), em cidades como Bolonha,
a peste vitimou entre 35% e 40% dos habitantes. Florença regis-
trou as taxas mais altas de mortalidade. Naquele tempo, na falta
de antibióticos, entre as soluções apontadas em algumas cidades
estava a eliminação dos gatos, especialmente os pretos, sempre
caracterizados pelo aspecto demoníaco. A eliminação dos felinos
implicou a quebra da cadeia alimentar, deixando os ratos, com
suas pulgas, livres para sobreviver do lixo humano. Morrer, no
seis modos entanto, não resolvia o problema ecológico nas principais cidades
de ver a cidade da Idade Média. Os mortos, enterrados em valas comuns, assom-
60 brariam durante muito tempo a ecologia das cidades europeias.
A carne humana, putrefata, pode-se dizer, ajudou a compor os Dedicação do
monsenhor de
horizontes mais férteis do solo urbano das cidades europeias da Belzunce aos
Idade Média. acometidos pela peste,
em Marselha, França,
Os temores contemporâneos das epidemias não são mais em 1720. Essa não
representados em pinturas a óleo, com anjos anunciando a sal- foi a primeira onda de
peste que atingiu a
vação, mas na tela do cinema. Duas imagens são comuns nos cidade.
filmes cujos roteiros gravitam em torno das epidemias globais. Fonte: Monsiau
([201-]).
A primeira é a de um gráfico evolutivo sobre o número de con-
tagiados, geralmente apresentado, em primeira mão, aos altos es-
calões do governo norte-americano. A segunda é a projeção do
planisfério destacando as cidades mundiais. Irremediavelmente
há uma coincidência entre as manchas de contágio e as manchas
de urbanização. É assim em Contágio, protagonizado por Matt a ecologia
a ecologia
65
a técnica
(Gênesis, 11:8.)
E
m O ventre de Paris, de Émile Zola (1956), a personagem
Florêncio estranha as transformações no Les Halles, o
mais tradicional mercado da cidade. Sua grande abóbo-
da e suas estruturas de ferro, funcionalmente zoneadas em pa-
vilhões, traduzem as transformações de ordem técnica que dei-
xaram marcas em toda a cidade. Paris, tanto quanto Londres,
constituiu um centro de realização e difusão das técnicas. Técni-
cas para garantir maior produtividade. Técnicas para permitir o
adensamento do solo urbano. Técnicas para estimular e celebrar
o consumo. Técnicas para ordenar as cidades. Não é por acaso
que sediaram as grandes exposições universais do século XIX. A
primeira delas ocorreu em Londres, em 1851, conforme descreve
Pesavento (1997, p. 73):
Londres, 1º de maio de 1851. A capital inglesa amanhecera
em festa para a inauguração da primeira exposição universal.
Multidões acorreram ao Hyde Park, e a chuva fina que ameaçara
cair cessou para dar lugar ao sol, fazendo brilhar o imenso
palácio de vidro e ferro, construído especialmente para abrigar
todos os inventos que o engenho humano fora capaz de produzir.
Em 1889 foi a vez de Paris celebrar os 100 anos da Revolu-
ção Francesa com uma boa dose de técnica. Paris já havia sediado
outras Exposições Universais, mas nada igual àquela de 1889 que
fincou no Campo de Marte uma torre de mais de trezentos me-
tros de altura que ficaria mais conhecida que a própria Revolução
Francesa. Daí em diante, sob a tutela das Exposições Universais,
inaugurou-se, na escala global, uma genuína “guerra dos lugares”.
A Exposição Universal de Chicago, em 1893, não apenas celebrou
os avanços técnicos e a nova arquitetura da cidade, mas também a
rivalidade disfarçada de patriotismo. França versus Estados Uni-
dos. Paris versus Chicago. Os 100 anos da Revolução Francesa
versus os 400 anos da chegada de Colombo. O rio Sena versus o
lago de Michigan. A Torre Eiffel versus a Roda de Ferris.
Mas por que a técnica desperta tanto interesse e como as
cidades se enquadram nesse conjunto de interesses? Segundo Mil-
ton Santos (1997, p. 25), as técnicas “são um conjunto de meios
instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida,
produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”. Esse argumento aplica-se
de forma exemplar ao movimento de surgimento e expansão das
cidades. A sedentarização, razão primeira do surgimento das cida-
des, pressupôs algum grau de transformação daquela primeira na-
tureza. Transformação para garantir a reprodução da vida diária, o
que implicou, principalmente, estabelecer condições perenes para
a alimentação, além da construção de abrigos. Tem sido assim
desde os primeiros assentamentos nos vales do Eufrates, do Tigre
ou mesmo do Nilo. Não é por acaso que as cerâmicas, objetos or-
dinários para a reprodução da vida doméstica, sejam testemunhas
das descobertas arqueológicas de sítios urbanos.
Na cidade, a técnica assume a função de artefato (ferra-
menta e utensílio), sistema (rede) e relação (expertise de uso).
Mumford (1992), em Técnica e civilização, lembra que a técni-
seis modos ca não é autônoma, pois resulta do acúmulo de experiências do
de ver a cidade conjunto da sociedade. Podemos dizer que a cidade, ao longo da
68 história, tornou-se, por excelência, um meio de produção, di-
vulgação e celebração da técnica. Houve um período em que se
acreditava que o destino de toda cidade era transformar-se em
uma tecnópole. O filósofo Henri Lefebvre (1991) advoga que, no
mundo moderno, a técnica invade toda prática social. A própria
cidade torna-se, em sua opinião, um “objeto técnico”.
Todo período histórico produziu um conjunto de artefatos
que serviram como uma extensão do corpo humano. Uma pá,
nesse sentido, é tanto artefato quanto um facão ou uma pane-
la de pressão, muito embora o sentido arqueológico da palavra
não autorize tal analogia. Mesmo antes das máquinas, a cidade
centralizou a produção em oficinas. Machados, facas, ferraduras,
utensílios domésticos e todo um conjunto de ferramentas utili-
zadas para a criação dos mais variados objetos e monumentos.
As oficinas responderam por uma ordem hierárquica e por uma
ordem de aprendizagem dos ofícios.
Enxergamos a presença de artefatos em cada monumento
histórico assentado nas cidades. Na catedral de Notre Dame (Pa-
ris), em Pisa (Roma) ou Al-Aqsa (Jerusalém), os artefatos técni-
cos ajudaram a levantar paredes, esculpir o mármore e talhar as
madeiras. Na Idade Média, a cidade era um espaço caracteriza-
do por agrupamentos profissionais, como ensina Le Goff (1998).
Ferreiros, pedreiros, curtidores, carpinteiros, tipógrafos, tecelões,
sem esquecer dos ourives e dos alfaiates ou mesmo dos açou-
gueiros, formavam classes de prestígio na cidade. Alguns deles
produziam artefatos que, por sua vez, facilitavam a produção de
outros artefatos. Em comum entre esses agrupamentos podemos
citar sua localização em cidades, a formação de comunidades de
compromisso laboral e o domínio das técnicas produtivas – as
habilidades manuais, resultantes de sistemas de cooperação e
aprendizagem, eram valorizadas.
Já a fábrica, preenchida pela maquinaria, ditou um ritmo
diferente de funcionamento das cidades sem substituir as ofici-
nas, cuja natureza gradualmente mudou. O aparecimento da fá- a técnica
a técnica
81
a paisagem
seis modos
de ver a cidade
102
o cotidiano
tenha noção da diferença entre o que seja uma proprietária e uma 125
mutuária endividada. O bem imóvel é tão alienado quanto sua
pseudoproprietária.
Donos de tudo. Donos de nada. A crise hipotecária apenas
reforçou a crise habitacional norte-americana, levando as pessoas
a buscar alternativas para moradia, dentre as quais ruas, bosques
e praças. Apenas na Califórnia, Hunter et al. (2014) registraram
treze assentamentos caracterizados como tent cities, ou cidades
de tendas. Em comum uma paisagem formada por barracas de
lona ou plástico, em áreas públicas, às margens de rios ou em
bosques e parques. A política de despejos, juros e execuções hi-
potecárias piorou esse cenário. Trata-se de cidades nômades,
formadas por uma legião cada vez maior de sem-tetos, que mais
lembram a tradicional floresta de Sherwood, onde Robin Hood
desafiava a aristocracia inglesa. O que distingue as situações é a
ausência do frade gordo, agora substituído por pastores a tentar
convencer suas ovelhas dos desígnios do Senhor.
Situação correlata também é registrada em Buenos Aires.
Em tempos de desemprego, inflação galopante e generalização da
pobreza, a rua transformou-se em refúgio para aqueles que per-
deram empregos e, portanto, não conseguem mais saldar as dívi-
das do aluguel. A solução para a ausência de renda, como aconte-
ce em várias cidades do planeta, é a locação de imóveis precários
ou, em último caso, a moradia nas ruas. Paisagem social igual é
registrada em cidades brasileiras como Goiânia, Recife, Belo Ho-
rizonte e São Paulo. O Censo da População em Situação de Rua
da Cidade de São Paulo contabilizou 15.905 pessoas nessa situa-
ção em 2015 (Fundação..., 2015). Para fins comparativos, mais
de trezentas cidades do estado de São Paulo registraram popu-
lação inferior a quinze mil habitantes em 2010 (Brasil, 2010). Já
em Nova York, estudo divulgado pela organização Coalition for
the Homeless apontou a existência de 59.568 pessoas vivendo nas
seis modos ruas da Big Apple em 2015 (Coalition..., 2016). Em 2005, o núme-
de ver a cidade ro era de 35.505 pessoas. Do total de sem-tetos em 2015, 23.858
126 eram crianças. O estudo compara essa situação à paisagem social
registrada na Grande Depressão, na década de 1930. O novo in-
grediente, mais perverso, é o crescimento da população de rua
com transtornos mentais, resultado da ausência ou inoperância
das políticas de assistência social. À luz das comparações objeti-
vas, nem sempre exatas, a população em situação de rua em São
Paulo é inferior àquela registrada em Nova York. Considerando
‑se os dados do censo dos Estados Unidos (City-Data, 2016), a
população nova-iorquina, em 2014, era de 8.791.079 habitantes e
a de São Paulo, em 2015, de 11.964.825.
A partir dos dados sobre os sem-teto, é possível calcular a
proporção por habitante em cada uma dessas cidades. Em Nova
York, há um sem-teto para cada 142 habitantes e, em São Paulo,
um para cada 752 habitantes. Seria pertinente, ainda, considerar
a densidade populacional, já que a capital paulista tem o dobro
da área da cidade de Nova York. As opções para invisibilidade,
nesse caso, aumentam. Na metrópole norte-americana, seria ne-
cessário ainda compreender a distribuição dos sem-teto nos cin-
co distritos tradicionais (Bronx, Brooklyn, Manhattan, Queens e
Staten Island). Outro componente para a compreensão do coti-
diano seria o clima, pois o inverno em Nova York pode regis-
trar temperaturas abaixo de zero. Viver em parques ou calçadas,
transportando pertences em carrinhos de supermercado, ima-
gem frequentemente reproduzida no cinema, é a representação
mais clássica dos sem-teto nas cidades norte-americanas. Não
flanam pela cidade. Não há nada de romântico em seu cotidiano,
marcado pela vulnerabilidade e violência. Sua mobilidade muitas
vezes restringe-se às áreas centrais. Não apenas vivem em espaços
públicos, mas também dos espaços públicos, apostando na visibi-
lidade como estratégia de segurança.
É difícil imaginar, em cidades demasiadamente fragmenta-
das, que a mobilidade e a experiência com os lugares da cidade
ocorra da mesma forma para os distintos grupos sociais. Essa é uma
característica do cotidiano das cidades contemporâneas. Vivencia- o cotidiano
mos, cada vez mais, a cidade por partes. Um bairro ou uma região, 127
em muitos casos, pode resumir o contexto da experiência espacial
de uma pessoa ou de determinado grupo social. No entanto, o que
ocorre no conjunto da cidade ou até mesmo de uma região afeta os
lugares das cidades de maneira sistemática. A política de segurança
pública, por exemplo, responde por ações diferenciadas, a depen-
der da localização dos grupos sociais no espaço urbano.
Assim como existem diferentes formas de morar e de tra-
balhar, também existe uma mobilidade diferencial pautada, fun-
damentalmente, em condições econômicas. A mancha urbana
da aglomeração de Lisboa, no sentido norte-sul, pode ser me-
dida por uma distância, em linha reta, de aproximadamente 10
km. Em Santiago, a mancha da aglomeração urbana, no mesmo
sentido, ultrapassa os 25 km, nada comparado à aglomeração de
Tóquio, cuja mancha urbana, no sentido leste-oeste, ultrapassa
50 km. Em pouco mais de uma hora, um trabalhador desloca-se
das estações de Nischi-Funabaschi e Wakoshi, em pontos extre-
mos da capital japonesa. Percorre todo um sítio urbano, trocando
de linhas e estações de maneira confortável e com pontualidade
(Tokyo Metro, 2016).
O mesmo não se pode dizer a respeito de muitas outras ci-
dades, em que trabalhadores deslocam-se de bicicleta mais de 40
km diariamente, arriscando a vida em vias expressas e rodovias,
para trabalhar na construção civil ou em empregos que exigem
pouca qualificação profissional. A distância entre local de traba-
lho e moradia é uma das formas mais perversas de condiciona-
mento do cotidiano. Nesses casos, as forças que movem o coti-
diano entram em contato direto com as forças que fragmentam o
espaço, uma vez que a oferta e a qualidade das redes de transporte
é seletiva. O deslocamento cotidiano nas aglomerações urbanas,
no entanto, não é variável apenas pela distância física. Depende
da disposição de redes de transporte e, principalmente, de renda,
uma vez que a mobilidade no interior das cidades não é gratui-
seis modos ta. Como ensina o geógrafo Jacques Lévy (2001), a mobilidade
de ver a cidade transformou-se em capital social e, portanto, exige condições téc-
128 nicas, financeiras e até mesmo culturais para sua realização.
No Brasil, segundo pesquisa do IBGE, 5.924.107 pessoas
levam mais de uma hora para se deslocar ao trabalho (Brasil,
2010). Trata-se do primeiro deslocamento, não incluindo o retor-
no, o que torna o dado ainda mais dramático. É comum, especial-
mente nos ambientes metropolitanos, que milhares de pessoas
gastem mais de quatro horas do seu dia apenas em deslocamen-
tos. Outras 4.301.914 pessoas frequentam escolas ou creches fora
do seu município. Os números, quando tratamos de cotidiano,
devem ser qualificados. São seis milhões de sujeitos, diferentes
em idade, gênero e condições motoras, deslocando-se nas cidades
ou de uma cidade para outra diariamente, em movimento adje-
tivado de “pendular”. Tradicionalmente, o movimento pendular
fez par com a ideia de cidade-dormitório. Essa é uma caracterís-
tica global de nossas cidades. Os que mais precisam se locomover
moram mais distantes dos locais de trabalho e, comumente, em
cidades de uma mesma aglomeração urbana.
Gehl (2013) relata que a maior parte dos centros urbanos
agrupa um quilômetro quadrado, o que, na sua argumentação,
facilita o uso, especialmente para caminhadas. Esse padrão, mui-
to embora correto quando se pensa nas áreas centrais das cidades
europeias, ainda reproduz um modelo parecido com aquele da
Idade Média. Uma vez que a cidade concentrava-se em um pe-
queno espaço, o controle do tempo e da circulação era a chave do
modelo de urbanização medieval. Mumford (1998) lembra que,
mesmo nas maiores cidades medievais, a área ocupada não se ex-
pandia em faixa superior a 800 m a partir do centro. A dispersão
das atividades da vida cotidiana e a valorização imobiliária em-
purraram para a periferia uma parte significativa da população
urbana do planeta, agora não mais separada por muros físicos. A
história das cidades contemporâneas é a história do rompimento
do frágil equilíbrio entre centralidade (capacidade de aglomerar
serviços e bens de consumo em um determinado espaço) e mo-
bilidade (condições de deslocamento para acessar as centralida-
des). O sociólogo Patrick Geddes (1994) percebeu esse processo o cotidiano
uma das justificativas das elites para apoiar a chamada “tolerân- 139
cia zero” ancorou-se na ideia de “recuperar” os espaços públicos,
excluindo a legião de indesejados. A gentrificação, no caso de
Nova York, fez par com a criminalização da miséria, alterando
o cotidiano da cidade. A retomada das áreas centrais das cidades
pressupôs o entendimento de um direito nato, como se, histori-
camente, tais áreas fossem reservadas apenas para as elites locais
e globais. Há, na verdade, uma luta silenciosa pelos espaços cen-
trais que opera entre o mercado imobiliário em associação com o
Estado, de um lado, e grupos sociais excluídos, de outro. Espaços
com vantagens locacionais não podem ser ocupados por grupos
sociais marginalizados, afinal quem duvidaria que o interesse
imobiliário coordena o processo de reformulação das áreas cen-
trais de Nova York ou de São Paulo?
Essa sensação de insegurança ainda pode, no caso de vá-
rias cidades, ser acrescida de um cotidiano de medo produzido
pelo terrorismo. Um cotidiano parecido com aquele das cidades
envoltas nas batalhas dos cruzados do século XII. Tomada ora
por muçulmanos, ora por católicos, Jerusalém, como outras cida-
des do Vale do Jordão, permaneceu sitiada por longos períodos.
As cidades contemporâneas, na condição de espaços públicos que
abrigam os ícones da engenharia urbana, também convivem com
um cotidiano de tensão. São constantemente ameaçadas ou até
mesmo atingidas por atentados terroristas, a exemplo de Nova
York, Londres, Boston e, mais recentemente, Paris. Se o cotidiano
dessas cidades, em função do terrorismo, é atingido nas veias, o
mesmo ocorre, de forma ainda mais violenta, nas cidades sírias,
para citar um exemplo correlato. Em muitas delas, os conflitos
não são pontuais, mas sistêmicos e perenes. A paisagem de Koba-
ne, pequeno assentamento sírio que não viu sua população che-
gar a setenta mil pessoas, em um sítio localizado no vale do rio
Eufrates, foi totalmente devastada pela guerra civil. Aos olhos da
seis modos guerra não há inocentes. O smog urbano não tem natureza climá-
de ver a cidade tica. É produto da poeira emergente do concreto armado, depois
140 de ser atingido por bombas e artilharia pesada.
Os conflitos armados nas cidades acarretam, sempre, uma
interferência radical na ordem cotidiana. A cada conflito, a cada
ocupação estrangeira, o cotidiano é afetado em várias escalas.
Providência comum, na Paris ocupada durante os anos da Se-
gunda Guerra Mundial, foi a inclusão do idioma alemão nas pla-
cas de sinalização da cidade. O racionamento também foi uma
consequência inevitável, assim como, no caso das cidades bom-
bardeadas, o aniquilamento da infraestrutura urbana. A área cen-
tral de Paris livrou-se das bombas, mais pela desobediência da
linha de comando militar do que pelo desejo de Hitler. Situações
aparentemente banais como o roubo de bicicletas atingiram índi-
ces alarmantes, talvez porque esse veículo não demandasse com-
bustível e não comprometesse, assim, o esforço de guerra. Jones
(2013), citando Paris, aponta que cerca de 22 mil bicicletas foram
roubadas nos primeiros meses da ocupação. A evolução do rou-
bo, igualmente registrado em cidades como Roma e Amsterdã, é
um sintoma das restrições da mobilidade cotidiana em tempos
de guerra.
A história contemporânea de cidades como Berlim, Tó-
quio, Londres, Stalingrado e Bagdá enquadra-se no exemplo de
reconfiguração do espaço urbano provocada pela guerra. A Se-
gunda Guerra Mundial teve uma epiderme, inegavelmente, urba-
na. Os conflitos destruíram várias cidades francesas, polonesas,
inglesas, alemãs, russas etc. Segundo Werth (2015), entre 1942 e
1943 aproximadamente 140 mil alemães morreram em combate,
de fome ou de doenças no conhecido cerco de Stalingrado. No
rigoroso inverno russo, anunciado pelo congelamento do rio Vol-
ga, não restou outra opção para os combatentes de Hitler, antes
da rendição, a não ser incluir no seu cardápio diário gatos, cães e
cavalos (Werth, 2015). A 1.600 km a noroeste de Stalingrado, nos
Bálcãs, outra cidade russa resistiria ao cerco alemão por quase
três anos: Leningrado, atual São Petersburgo. Vallaud (2012) es-
tima em um milhão o número de mortes durante o cerco, sendo o cotidiano
seis modos
de ver a cidade
150
conclusão
H
avia, em 2014, 83 aglomerações urbanas no planeta
que agrupavam, cada uma, mais de cinco milhões de
habitantes. Residiam, nesses espaços, 971 milhões de
pessoas. No final do século XVIII a população mundial não che-
gava, segundo estimativas popularizadas, a novecentos milhões
de pessoas. Nenhuma cidade ou aglomerado de cidades alçou,
até o século XIX, a dimensão demográfica de uma dessas aglo-
merações contemporâneas. O mapa do mundo é, cada vez mais,
urbano. Um mapa não com uma mancha vermelha uniforme,
mas pontilhado por formas geométricas aparentemente aleató-
rias. Os contextos ecológicos e a história regional particularizam
cada cidade. A política, demonstrada por um modo hegemônico
de produzir o espaço e de se inserir na ordem econômica hege-
mônica, para recorrer ao filósofo Henri Lefebvre (2000), é o que
dá universalidade ao fenômeno urbano contemporâneo.
Em certa medida, o mundo sempre foi urbano. Em todos
os períodos históricos identificamos o protagonismo político,
econômico ou cultural de alguma cidade ou conjunto de cida-
des. Babilônia, representação dos pecados humanos, ou Atenas,
modelo ovacionado pelo ideal democrático. A partir do ideal ro-
mano, passou-se a construir cidades à semelhança, mesmo em
escalas menores, de Roma. Paris e Veneza despertaram desejos e
ambições na Idade Média. Jerusalém rompeu cada período histó-
rico com sangue e vinho. Londres anunciou a modernidade, sen-
do considerada não o coração, mas o cérebro do mundo coloni-
zador. Em torno da palavra “cidade”, transformada em metrópole,
gravitou uma aura de dominação, de uma ordem geopolítica hie-
rárquica. O século XX viu Nova York celebrar sua hegemonia,
alçando voos em edifícios que seriam vencidos por outros em
cidades como Dubai. “Babilônia” voltou para sua região, agora no
outro extremo do Golfo Pérsico, representada por Burj Khalifa,
escalado com expertise por Ethan Hunter, no filme Missão Impos-
sível – Protocolo fantasma.
O que não deve escapar desta análise é que a cidade nun
ca foi um assentamento qualquer, mas um repositório de vida
e de criatividade, ambiente de conflito. Mumford, mesmo com
sua carga de ceticismo diante da grande cidade, nunca deixou de
reconhecer que ela exala energia transformativa. A megalópole
está na sala de estar da necrópole. A primeira tem, de acordo
com o historiador, muito da tradição romana, fundada, nas suas
palavras, em “tolices efêmeras”. Da cidade romana, aberta ao
mundo por intermédio das conquistas, erodida por sua própria
ambição colonizadora, emergiu uma sociedade fundada no
claustro, com fundamentos religiosos que ordenaram, durante
séculos, a forma e o cotidiano urbano. Mas, como dissemos, a
cidade não é um assentamento qualquer. A reprodução da vida,
mesmo no interior das muralhas, pressupôs uma socialização
sem precedentes de experiências as mais diversas. Na periferia da
Idade Média, nos becos, nas pontes, nos pátios das igrejas, entre
seis modos muralhas e portões, nas margens dos rios, emergia não somente
de ver a cidade uma opinião pública, mas também uma ação pública, no sentido
154 de Arendt (2014).
Arte, técnica, cultura, religião, rebelião e política são ati-
vidades que necessitam, para o seu pleno desenvolvimento, do
agrupamento de pessoas. Do olhar público. Quando percebe-
mos que tudo isso, somado às necessidades de reprodução da
vida diária, é feito em um sítio comum, começamos a entender
o significado da palavra “cidade”. Um conceito polissêmico. Mas
a polissemia não deve nos desviar da ambição de pensar sobre
ele, submetendo-o à nossa experiência cotidiana. Se a cidade não
é só pedra, concreto e madeira, é justamente porque o homem
não é apenas carne, sangue e suor. Foi isso, talvez, que comecei a
perceber quando olhei a cidade a partir do décimo andar daquele
edifício que ajudei a construir.
conclusão
155
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Blade Runner – o caçador de androides. Direção: Ridley Scott. Estados
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Cortina de fumaça. Direção: Wayne Wang. Alemanha/Estados Unidos,
1995.
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Crash: no limite. Direção: Paul Haggis. Estados Unidos, 2004.
As crônicas de Nárnia: o leão, a feiticeira e o guarda-roupa. Direção:
Andrew Adamson. Estados Unidos, 2005.
Batman - o cavaleiro das trevas. Direção: Chistopher Nolan, EUA/Reino
Unido, 2008.
Foi apenas um sonho. Direção: Sam Mendes. Estados Unidos/Reino
Unido, 2009. referências
Séries citadas
seis modos
de ver a cidade
170
anexos
Localização das cidades citadas no livro