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MORESP - I

MORESP - I
ESTUDO SINTÉTICO DOS POSTULADOS
MORAIS DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
TEMAS SELECIONADOS:

REFERÊNCIA MORAL 2
O MESTRE 2
MORAL CRISTÃ 2
BEM E MAL 3
RELATIVIDADE DO MAL 4
PAIXÕES 5
LIVRE-ARBÍTRIO 8
ABSTER-SE DO MAL NÃO BASTA 9
O ÓBOLO DA VIÚVA 9
LEI DE ADORAÇÃO 10
ELEVAÇÃO DO PENSAMENTO 10
ADORAÇÃO INERTE 11
A PRECE 11
LEI DO TRABALHO 13

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE

O presente estudo destina-se apenas e tão-somente


ao exame de temas relevantes da Doutrina Espírita,
não substituindo em hipótese alguma o estudo
direto das Obras da Codificação integralmente.
Marco Aurélio Leite da Silva --- 2
MORESP - I

Marco Aurélio Leite da Silva --- 2


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REFERÊNCIA MORAL

O MESTRE

O paradigma de conduta a ser seguido é Jesus Cristo.

625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe
servir de guia e modelo?
– Vede Jesus.
Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar
a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito
modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de
sua lei, porque ele estava animado do Espírito divino e foi o ser mais
puro que já apareceu na Terra.
Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus
algumas vezes os desviavam para falsos princípios, foi por se deixarem
dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as
leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida
do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas
leis humanas, instituídas para servir às paixões e dominar os homens.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

No entanto, as verdades espirituais foram semeadas desde sempre na


humanidade, ainda que incompletas.

626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus
e antes dele s6 foram conhecidas por intuição?
– Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os
homens que meditaram sobre a sabedoria puderam
compreendê-las e ensiná-las desde os séculos mais distantes. Por
seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno
para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da
Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou
procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos
os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os
seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie,
mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

MORAL CRISTÃ

A Moral Cristã constitui a mais completa revelação dos valores magnos da


alma que a Humanidade deve cultivar. Ainda assim, a complementação trazida
como o Ensinamento dos Espíritos foi uma necessidade para que as parábolas
do Mestre não caíssem em interpretações eivadas de vícios consoante
interesses oportunistas.

627. Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a


utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Têm eles mais alguma

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coisa para nos ensinar?


– O ensino de Jesus era freqüentemente alegórico e em forma de
parábolas, porque ele falava de acordo com a época e os lugares.
Faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. É
preciso, pois, explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que
as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a
de despertar os olhos e os ouvidos, para confundir os orgulhosos e
desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a
religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve
ser claro e sem equívocos, a fim de que ninguém possa pretextar
ignorância e cada um possa julgá-la e apreciá-lo com a sua própria
razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado
por Jesus, e por isso é necessário que ninguém venha a interpretar a lei
de Deus ao sabor das suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei
que é toda amor e caridade.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

BEM E MAL

Iniciemos com a conceituação.

629. Que definição se pode dar da moral?


“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal.
Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem
quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”
(O Livro dos Espíritos)

Como regra básica, portanto, procede bem quem procura o bem comum. A
noção de Bem e Mal está no homem como atributo de sua inteligência para
discernir.

630. Como se pode distinguir o bem do mal?


“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é
contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus.
Fazer o mal é infringi-la.”

631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do


que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência
para distinguir um do outro.”

632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na


apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em
realidade pratica o mal?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos
fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”
(O Livro dos Espíritos)

O homem tem a tendência de se autocorromper com falsas explicações para si

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mesmo acerca de seus abusos. O erro escusável é sempre aquele


eventualmente cometido sem que se tenha (de verdade) noção da ilicitude,
situação rara em que o elemento volitivo do ser parte de uma falsa percepção
da realidade. Na grande maioria das vezes, o homem deixa de atender ao
bom-senso e à voz interior que lhe aponta a limitação de sua conduta.

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade


ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do
homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta
conduta e um guia seguro?
– Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem: é Deus que vos
dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, saís punidos. O
mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite
das suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo
sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que
diz: Chega! evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.
(O Livro dos Espíritos – grifos originais)

Talvez uma das normas de conduta mais importantes: fazer ao próximo o que
desejamos que nos façam. A distinção entre várias situações limítrofes e
confusas tem aí o seu fundamento.

Uma abordagem muito importante foi feita por Kardec quanto à existência do
Mal na natureza das coisas. A resposta dada pelos Espíritos é muito
significativa, apontando expressamente a necessidade de experiência do ser
tanto no Bem como no Mal.

634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não
podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115).
Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se
toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não
existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir
e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos
duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso,
portanto, que conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao
corpo.” (119) (Grifei)
(O Livro dos Espíritos)

Disso advém a necessidade de um maior questionamento acerca da origem do


Mal. Kardec volta a abordar o tema em A Gênese (pág. 69):

Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria,todo


bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus
atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode
produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos
não pode ter nele a sua origem.

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RELATIVIDADE DO MAL

Após apontar a existência de dois tipos de Mal, (os evitáveis e os inevitáveis),


Kardec propõe que o conceito em si de Mal é relativo. Uma circunstância
muitas vezes pode aparentar ser um mal, quando, na verdade, se conhecidos
fossem a causa, o objetivo e o resultado definitivo, seria tida como um bem.

O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem


abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto
de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais
que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da
Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto
aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o
objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade
de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se
dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja
compreensível.
(A Gênese – pág. 70)

É bem nesse contexto que podemos entender, pois, que a experiência no Mal
leva ao Bem: dir-se-ia que circunstâncias tidas como males leva a um
bem. Mesmo no que se refere à livres opções do ser, que freqüentemente o
relega à dor por sua própria escolha, temos fatos e circunstâncias de
aprendizado pela experiência. Muitos são os aspectos da vida em que o
aprendizado não se opera senão à conta do treinamento inafastável e o
respectivo esforço e dedicação. Vejamos adiante:

Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável


e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela
experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio,
sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é
por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A
necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser
mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições
materiais da sua existência. (Grifei)
(A Gênese – pág. 72)

Tanto é verdade, que Kardec pronuncia uma das pedras basilares da


conceituação espírita: o mal é a ausência do bem. Esse aspecto é de grande
relevância por evidenciar que o Mal não é um atributo distinto do Bem.

Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência


do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não
é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem,
forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem.
Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação
houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo
o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o
livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.

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(A Gênese – pág. 72)

PAIXÕES

Ainda mais compreensível se torna a referida necessidade de experiência do


ser tanto no Bem como no Mal quando verificamos o que Kardec fala das
paixões e dos vícios:

Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que


as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação,
instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres
primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente
domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser
nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a
inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito
tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua
existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre
satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma
necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos
indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse
período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais
e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito
exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda
providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final.
Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se
identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem,
porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num
mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque
se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é
qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo
e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento.
(A Gênese – pág. 73). (Grifei)

Eis que o mal (ou, melhor dizendo, muito do que é tido como mal) é uma
fase do desenvolvimento do ser. O que outrora era um bem, torna-se um mal,
conforme o ser deixa a animalidade e adentra à noção de si conforme o seu
grau de adiantamento.

Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a


não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas. No abuso é
que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais
tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o
bem e o mal.
(A Gênese – pág. 74)

A situação do ser enquanto ainda nos limites mais primitivos é destacada por
Kardec em O Céu e o Inferno:

Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos

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extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é,


sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se
aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto,
como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens
contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que
exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais,
mesmo porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente
morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem
também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o
corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas
evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade! Por
quantas existências não deve ela passar!
(O Céu e o Inferno – pág. 115) (Grifei)

Mais adiante:

Se nos remontarmos a estes últimos (homens primitivos), então,


surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a
satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste
mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo dessas
necessidades.
(O Céu e o Inferno – pág. 116)

Assim Kardec identifica a causa de prevalecer no homem primitivo, conforme


ganha mais responsabilidade por seu adiantamento, uma tendência ao mal.

Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe
parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão
se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas
em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
(O Céu e o Inferno – fl. 117)

É o grau de responsabilidade que vai definir se a conduta assumida pelo ser


será tida à conta de bem ou mal.

636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?


– A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende,
sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem
e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença
está no grau de responsabilidade.

637. O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é


culpado?
– Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: o homem é
tanto mais culpado, quanto melhor sabe o que faz.
As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O
homem comete, freqüentemente, faltas que, sendo embora decorrentes
da posição em que a sociedade o colocou, não são menos

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repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele


tiver para compreender o bem e o mal. E assim que o homem
esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável, aos olhos
de Deus, que o selvagem que se entrega aos instintos.
(O Livro dos Espíritos - grifei)

Isso remete ao exame da questão do livre-arbítrio.

LIVRE-ARBÍTRIO

É muito difícil entender exatamente em que ponto o ser adquire discernimento


suficiente para identificar o caráter ilícito de uma conduta, deixando de se
arrastar pelos instintos para decidir sobre o que deve ou não ser feito. Kardec
denomina paixões os impulsos que advêm do instinto de conservação, paixões
cujo exercício constituem uma necessidade para o atendimento das
necessidades materiais das primeiras fases da existência corpórea do
Espírito. Em um dado momento, o ser entende que deve atender a essas
necessidades ao mesmo tempo em que se vai estabelecendo uma escala de
valores em sua incipiente capacidade de avaliação. O ser passa a considerar,
desde os rudimentos mais simples, a idéia de certo e errado. Para cada
aumento na capacidade de valorar entre certo e errado, aumenta-lhe
simetricamente a responsabilidade pela decisão que tomar.

Essa responsabilidade progressiva a partir de certo grau traz a plena


imputabilidade do ser humano como sujeito de acertos e desacertos,
tornando-o o legítimo destinatário das conseqüências de seus atos.

O ensinamento ministrado no Capítulo VI de A Gênese foi assinado por Galileu


(esse capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à
Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos
uranográficos e assinadas GALILEU – nota à página 103). Ele revelou a
temeridade de ofertar uma exposição clara e pretensamente completa acerca
da conquista do livre-arbítrio pelos Espíritos. Ainda assim é um ensinamento
profundo e que não podemos ignorar:

Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que
também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as
augustas prescrições do Senhor.
Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso
ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha
própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no
que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado
aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes
perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema
prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não
chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente
com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos,
sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres

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inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua


individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe
imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio
das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos
raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu
preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das
nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de
meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do
deísmo ou do fatalismo.
(A Gênese – pág. 117)

ABSTER-SE DO MAL NÃO BASTA

Considerando que a experiência do ser nos evos da evolução o faz progredir,


uma vez atingida a noção de si mesmo e a consciência plena da do acerto ou
desacerto das atitudes, nasce para ele a responsabilidade por tudo o que faz
ou que deixa de fazer.

642. Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e
assegurar uma situação futura?
– Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um
responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que
deixou de fazer.
(O Livro dos Espíritos)

Ainda mais rigorosa é a Lei, porquanto assevera que o mérito pelo bem que se
faça mede-se pela dificuldade de realizá-lo.

646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições,


ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?
– O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-la sem
penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que
reparte o seu único pedaço de pão, que o rico que só dá do seu
supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.
(O Livro dos Espíritos)

O ÓBOLO DA VIÚVA
E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que
modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga.
E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam
um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais
deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque
todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua
mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento.
(MARCOS, XI l: 41-44-LUCAS, XXI: 1-4).

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem


consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que
desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá
privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o

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ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria


realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga
escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se
e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se
podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha
dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus
irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as
e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque
ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar
um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um
sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos,
à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para
de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do
pobre, o óbolo da viúva.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – págs. 216/217 – grifei).

LEI DE ADORAÇÃO

ELEVAÇÃO DO PENSAMENTO

A busca do Pai Eterno. A elevação do pensamento nos momentos de prece


sentida e sincera. São momentos assim que ensaiam o ser humano nas
vibrações mais elevadas que no porvir hão de constituir-lhe a Paz e Serenidade
da bem-aventurança.

649. Em que consiste a adoração?


– E a elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem
aproxima dEle a sua alma.
(O Livro dos Espíritos)

O templo fundamental da cada ser humano é o seu coração. A prece


sentida não exige locais ou liturgias obrigatórias. Mais vale a oração feita no
recinto da consciência do que o culto ostensivo e desprovido de sinceridade.
Seja no templo, seja consigo mesmo, o homem deve orar sempre com a
verdade de seu coração.

Por outro lado, pouco importa qual a religião que o homem siga, desde que
busque aplicar os ensinamentos elevados semeados para todos com
sinceridade e dedicação.

653. A adoração necessita de manifestações exteriores?


– A verdadeira adoração é a do coração. Em todas as vossas ações,
pensai sempre que o Senhor vos observa.

653-a. A adoração exterior é útil?


– Sim, se não for um fingimento. É sempre útil dar um bom exemplo;
mas os que o fazem só por afetação e amor próprio, e cuja conduta
desmente a sua aparente piedade, dão um exemplo antes mau do que
bom, e fazem maior mal do que supõem.

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654. Deus tem preferência pelos que o adoram desta ou daquela


maneira?
– Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com
sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que pensam
honrá-Lo através de cerimônias que não os tornam melhores para os
seus semelhantes.
– Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama
para Ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma
pela qual se exprimam.
– Aquele que só tem a aparência da piedade é um hipócrita; aquele para
quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com a
própria conduta, dá um mau exemplo.
– Aquele que se vangloria de adorar o Cristo mas que é orgulhoso,
invejoso e ciumento, que é duro e implacável para com os outros ou
ambicioso de bens mundanos, eu vos declaro que só tem a religião nos
lábios e não no coração. Deus, que tudo vê, dirá: aquele que conhece a
verdade é cem vezes mais culpável do mal que faz do que o selvagem
ignorante e será tratado de maneira conseqüente, no dia do juízo. Se um
cego vos derruba ao passar, vós o desculpais, mas se é um homem que
enxerga bem, vós o censurais e com razão.
– Não pergunteis, pois, se há uma forma de adoração mais conveniente,
porque isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado
numa língua do que em outra. Digo-vos ainda uma vez: os cânticos não
chegam a Ele senão pela porta do coração.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

ADORAÇÃO INERTE

A adoração, enquanto elevação do pensamento, pressupõe que o ser esteja


no enfrentamento de sua Vida cumprindo com o bom combate, lutando em
seu dia-a-dia na edificação de seu aperfeiçoamento, cumprimento de suas
tarefas, bem suportando as vicissitudes que lhe surjam no caminho.

A inércia de uma vida contemplativa, sem realizações e sem o esforço de


aprimoramento perante a humanidade não tem maior valia para a alma.

657. Os homens que se entregam à vida contemplativa, não fazendo


nenhum mal e só pensando em Deus, têm algum mérito aos seus olhos?
– Não, pois se não fazem o mal, também não fazem o bem e são
inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense
nEle, mas não que se pense apenas nEle, pois deu ao homem deveres
a serem cumpridos na Terra. Aquele que se consome na meditação e
na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque sua
vida é toda pessoal e inútil para a Humanidade. Deus lhe pedirá contas
do bem que não tenha feito.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

A PRECE

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Como já destacado, a Lei da Adoração pressupõe a elevação do


pensamento, a busca de Deus mesmo nas limitações do homem. O meio mais
eficaz do homem elevar suas vibrações é a prece sentida, sincera e
meditada com o coração. Sempre e sempre a intenção é o elemento
fundamental da prece, pouco importando fórmulas ou sacramentos. Quando o
homem ora com o coração, com sinceridade, põe em movimento a sua
preciosa capacidade de ter fé, de confiar, de firmar na busca do Altíssimo a
convicção de que o Pai a todos ouve.

658. A prece é agradável a Deus?


– A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração,
porque a intenção é tudo para Ele. A prece do coração é preferível a
que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do
que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida
com fé, com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja
tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece
represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira
humildade.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

[...] A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é


necessário que se apoie numa fé ardente na bondade de Deus. [...]
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – pág. 108 - grifei)

[...] Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom
resultado. [...]
(O Livro dos Médiuns – pág. 111 – grifei)

8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?


"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem
do doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa
prece não foi ouvida."
(O Livro dos Médiuns – pág. 218 – grifei)

9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que


outras?
"Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas
palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar
semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer
que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de
compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada
fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é
na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da
idéia ligada ao uso da fórmula."
(O Livro dos Médiuns – pág. 219 – grifei)

A prece pode permite louvar, pedir e agradecer, mas fundamentalmente a


prece traz ao homem mais força interior na sedimentação de suas

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convicções pela conduta correta a ser tomada em cada momento da vida.

659. Qual o caráter geral da prece?


– A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nEle,
aproximar-se dEle, pôr-se em comunicação com Ele. Pela prece
podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

660. A prece torna o homem melhor?


– Sim, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna
mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons
Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o
pedimos com sinceridade.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

LEI DO TRABALHO

Simetricamente ao quanto afirmado pelos Espíritos quanto à inutilidade da


adoração inerte, a Lei do Trabalho pressupõe que todos necessitam buscar o
seu aperfeiçoamento no exercício e burilamento de suas aptidões, tanto
quanto na conquista da disciplina e no senso de dever que advêm do
imperativo de manter ocupação útil no transcorrer da vida.

674. A necessidade do trabalho é uma lei da Natureza?


– O trabalho é uma lei da Natureza e por isso mesmo é uma
necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque
aumenta as suas necessidades e os seus prazeres.

675. Só devemos entender por trabalho as ocupações materiais?


– Não; o Espírito também trabalha, como o corpo. Toda ocupação útil é
trabalho.
(O Livro dos Espíritos – grifei)

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